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PERCEPÇÕES DE STRESS E OPTIMISMO
EM PROFISSIONAIS DA DIVISÃO DA
POLÍCIA DE SEGURANÇA PÚBLICA DE
ALMADA Licenciatura em Psicologia Clínica e de Aconselhamento
“A população em geral desconhece o
contexto e as condicionantes sociais da
atividade policial. Esta classe forma uma
subcultura muito própria em que apenas
algumas das experiências vividas pelos
elementos, são partilhadas com os seus
colegas e apenas com estes.”
António Castanho
2007
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
1
ÍNDICE
1. Introdução .......................................................................................................................... 2
1.1. A função policial .......................................................................................................... 4
1.2. Stress ........................................................................................................................... 9
1.3. O stress e a função policial ........................................................................................ 14
2. Método............................................................................................................................. 31
2.1. Objectivos e pertinência do estudo .......................................................................... 32
2.2. Questões de investigação ......................................................................................... 32
2.3. Participantes ............................................................................................................. 33
2.4. Desenho .................................................................................................................... 33
2.5. Medidas ..................................................................................................................... 33
2.6. BPOS - Boston Police Officer Survey .......................................................................... 33
2.7. (LOT-R) - Life Orientation Test ................................................................................... 34
2.8. Procedimento ............................................................................................................ 35
3. Resultados ........................................................................................................................ 36
3.1. Caracterização da amostra ....................................................................................... 37
3.2. Estudo psicométrico da escala de stress (BPOS) ...................................................... 38
3.3. Teste-reteste ............................................................................................................. 42
3.4. Estudo psicométrico da escala de optimismo – LOT-R ............................................. 43
3.5. Estudos diferenciais .................................................................................................. 44
3.6. Relação entre optimismo e stress ............................................................................. 52
3.7. Estatísticas descritivas das medidas em função das restantes variáveis de caracterização sócio-demográfica. .................................................................................. 54
4. Análise e discussão dos resultados .................................................................................. 56
Objectivo 1 ....................................................................................................................... 57
Objectivo 2 ....................................................................................................................... 61
Objectivo 3 ....................................................................................................................... 63
Objectivo 4 ....................................................................................................................... 64
5. Conclusões ....................................................................................................................... 66
5.1. Contribuição para a abordagem clínica .................................................................... 68
5.2. Limitações ................................................................................................................. 69
5.3. Sugestões e Futuras investigações ........................................................................... 69
Referências: ......................................................................................................................... 70
Anexos .................................................................................................................................. 76
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
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“It was like walking in a cloud. My uniform was covered with white dust; my eyes were stinging from the flying debris. Papers were blowing around in the windstorm produced by the building fallout. It reminded me of pictures I had seen of a nuclear winter. People were walking around aimlessly, looking for friends or family. Firefighters were digging up body parts, child toys, photographs. Hell had come to earth, and I was right in the middle of it.”
NYPD Police Officer
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
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1. INTRODUÇÃO
A função policial é uma actividade profissional distinta das restantes. Nesta actividade os
sujeitos deparam-se diariamente como uma quantidade de stressores que são únicos do
desempenho da profissão. Para além dos stressores presentes noutras profissões,
nomeadamente de origem organizacional e acontecimentos de vida que todas as pessoas
experienciam durante o decorrer da sua vida, os polícias são também expostos a situações
críticas que os colocam em risco.
Têm sido realizados inúmeros estudos sobre Stress, Coping, Burnout e Optimismo nas
forças policiais de vários países, nomeadamente nos países anglo-saxónicos, tendo sido
obtidas diversas conclusões da relação entre o Stress e a função policial, nomeadamente na
forma como o Stress tem impacto nos profissionais de Polícia, nas famílias destes
elementos, nas instituições e na sociedade em geral.
Em Portugal ainda se cultiva a vergonha do homem que chora, e a dicotomia
homem/polícia condiciona sobremaneira o comportamento dos sujeitos conferindo-lhes
uma aura imaginária de falsos heróis sem sentimentos e supostamente inquebráveis perante
qualquer adversidade.
Até ao presente momento não existe em Portugal nenhum estudo efectuado, que tenha por
base um instrumento com itens representando situações de Stress vivido essencialmente
por estes profissionais. Por outro lado, os estudos efectuados em Portugal nas forças de
segurança tendo como objectos o Stress e o Optimismo é pouco significativa.
Assim pareceu-nos oportuno investigar, de forma exploratória com a aplicação dos
instrumentos seleccionados as Percepções de Stress - (BPOS) e Optimismo - (LOT) nesta
população específica.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
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Um dos objectivos deste estudo foi também aferir até que ponto as percepções de
elementos stressores dos estudos realizados, principalmente nos Estados Unidos da
América, são semelhantes e replicáveis em Portugal.
O presente estudo pretende assim caracterizar a PSP de Almada, no que se refere aos
aspectos acima referidos.
1.1. A FUNÇÃO POLICIAL
As fontes de Stress, percepções e impactos da actividade policial têm sido o alvo
preferencial por parte de psicólogos, sociólogos e criminologistas um pouco por todo o
mundo, é, contudo, nos países anglo-saxónicos e do Norte da Europa estes estudos têm
sido mais frequentes.
É aceite de forma unânime que, a actividade policial é uma das ocupações profissionais
que envolve mais Stress. Tal é devido à natureza específica da profissão e ao contexto
social envolvente (Anshell, 2000).
A criminalidade do século XXI, é cada vez mais globalizada e as polícias têm necessidade
de colaborarem intensamente para a resolução de fenómenos transversais que se deslocam
e afetam a sociedade, sendo o terrorismo o exemplo mais visível. O 11 de Setembro de
2001 mudou substancialmente as sociedades ocidentais e consequentemente a atividade
policial em alguns países dinamizando as investigações em torno do Stress e das
consequências ao nível das populações e dos elementos das forças de segurança. Nestes
países, as Instituições Policiais têm desenvolvido através dos estudos realizados,
programas de orientação e de aconselhamento psicológico para que os efeitos destes
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
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stressores sejam manuseados pelos profissionais com clareza e objectividade, de forma a
minorar o seu impacto.
A população em geral desconhece o contexto e as condicionantes sociais da actividade
policial. Esta classe forma uma subcultura muito própria em que apenas algumas das
experiências vividas pelos elementos, são partilhadas com os seus colegas e apenas com
estes. Segundo Fisher (2003), o uso do uniforme em alguns destes profissionais, projecta
nestes uma grande carga por parte de franjas da população, que reagem com hostilidade à
farda, alheando-se do indivíduo que a enverga. Desta forma são por vezes alvo de
estereótipos, estigmas e julgamentos negativos. Ao nível exclusivamente psicológico estes
factores representam: Stress, problemas de identidade, isolamento, alienação e
estigmatização.
Esta complexa teia de factores de risco coloca estes sujeitos ao alcance de uma grande
variedade de efeitos negativos, de ordem fisiológica, saúde mental, comportamental e de
relações interpessoais. Relativamente a questões de ordem psicológica estes profissionais
têm elevados níveis de depressão, perturbações da ansiedade, baixa autoestima,
perturbação de Stress pós-traumático, ideações suicidas, abuso de álcool e outras drogas,
tentativas de suicídio e suicídios consumados (Fisher, 2003). Ao nível do comportamento e
das relações interpessoais os efeitos são essencialmente o isolamento social, conflitos
interpessoais, relações disfuncionais e divórcio. Ao nível institucional estes efeitos são
notados essencialmente na taxa de absentismo elevada, faltas por doença e das relações
interpessoais (McCraty et al. 1999).
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
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Fisher, (2003) refere que estes efeitos são notados no ambiente laboral e reflectem-se no
baixo moral, baixo nível de satisfação, baixa performance, aumento de queixas por
questões de atendimento e problemas relacionais com o público. Segundo o mesmo autor,
outros factores causadores de Stress são, os relacionados com as relações interpessoais e
organizacionais dentro da Instituição sendo os stressores sistémicos mais comuns as horas
extraordinárias, o excesso de trabalho, os turnos de serviço, os meios humanos e materiais
escassos.
Por outro lado, os profissionais de Polícia estão expostos de forma contínua e sistemática a
tarefas e missões de elevada intensidade emocional, muitas das quais envolvem ameaças
directas à sua integridade física e à própria vida. Nos últimos anos, o número de agressões
a elementos das forças de segurança em Portugal tem vindo a aumentar dia-a-dia (ver
Relatório de Segurança Interna de 2005, M.A.I.). No entanto existem outros riscos
envolvidos na rotina diária destes profissionais tais como: as perseguições automóveis a
alta velocidade, a intervenção em incidentes críticos como a presença em acidentes de
trânsito, muitos deles com vítimas graves, lidar com pessoas traumatizadas, a exposição
por contacto directo ou indirecto a doenças infectocontagiosas (intervenção com detidos ou
suspeitos) tais como a HIV, a Hepatite B e C e a Tuberculose.
Além disto, os elementos das forças de segurança são ainda expostos a factores
secundários que necessariamente são de forte impacto emocional e que elevam
significativamente o Stress tais como, a exposição continua à miséria humana, a agressões
e à morte de colegas, a investigação de casos relacionados com agressões, abusos sexuais
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
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de adultos e crianças, homicídios e suicídios. Estes episódios são sempre revestidos de
grande intensidade emocional e configuram situações de Stress agudo.
Serra (2003) diz “Stress agudo, corresponde a um transtorno transitório de gravidade
significativa, que se desenvolve num indivíduo como resposta a um acontecimento grave,
indutor de Stress, de natureza física ou psicológica”. Segundo o mesmo autor, o
diagnóstico só pode ser feito se existir uma relação clara, de ordem temporal entre o
acontecimento e o transtorno subsequente. O distúrbio desenvolve-se imediatamente ou
poucos minutos após o aparecimento da ocorrência traumática e regra geral atenua-se e
desaparece no período de horas ou de poucos dias. Segundo o mesmo autor, o
acontecimento traumático pode representar uma ameaça grave para a integridade ou
segurança de um indivíduo ou de alguém muito estimado por ele. Englobam-se nestes
casos as situações de catástrofes naturais, acidentes graves, combate em teatro de guerra ou
similar, violação ou agressão criminosa.
Estes eventos podem conduzir a perturbações de ordem diversa, entre as quais a
Perturbação de Stress Pós-Traumático. A Perturbação de Stress Pós-Traumático surge
como uma resposta adiada a um acontecimento traumático de particular gravidade, que é
admissível ser perturbador para qualquer pessoa. Quando as manifestações clínicas se
situam entre 1 a 3 meses corresponde a uma forma aguda de Distúrbio de Stress Pós-
Traumático. Se os sintomas se mantêm por mais de 3 meses então o Distúrbio de Stress
Pós-Traumático deve ser considerado crónico (Serra, 2003). Segundo o mesmo autor, um
Distúrbio de Stress Pós-Traumático é considerado um transtorno mediado pela ansiedade
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
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que surge, tal como está implícito na sua designação, após um indivíduo ter estado exposto
a um trauma psicológico por exemplo, violência doméstica ou um acto de terrorismo.
O factor precipitante pode afectar uma só pessoa (por exemplo, um acto de violação sexual
ou de agressão física) ou um grupo (situações de combate ou desastres naturais).
Um exemplo de uma situação destas é a intervenção de um elemento policial numa
situação de homicídio violento, após este evento o agente pode experienciar pesadelos ou
flashbacks durante vários dias após o acontecimento. Meses depois, o mesmo agente
poderá responder a uma situação de suicídio. Esta nova ocorrência far-lhe-á recordar as
memórias anteriores, relacionadas com o homicídio (MacCraty et al. 1999).
Segundo Van der Kolk (in Serra, 2003), a memória de um acontecimento traumático,
domina a consciência das vítimas e depriva as suas vidas de significado e prazer. Em
muitas destas ocasiões e ao longo de toda a sua carreira os elementos policiais são
intervenientes em ocorrências em que é posta em causa a sua integridade física ou
eventualmente a sua própria vida. Contudo estes episódios são muitas vezes remetidos para
o esquecimento e considerados “ossos do ofício”. No entanto, novos eventos de elevada
intensidade emocional despertam novos traumas e memórias que supostamente estavam
enterradas.
Embora os elementos policiais não vivam situações traumáticas, de medo ou de impotência
num ritmo diário, estas são sentidas e acumuladas ao longo de toda a carreira (Violanti,
1996, in Garcia, Gu & Nesbary, 2004). Esta exposição contínua a acontecimentos
traumáticos fragiliza emocional e psicologicamente os elementos policiais e limita
substancialmente as suas estratégias de coping conduzindo eventualmente a situações de
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
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Stress crónico. Em comparação com soldados que experienciam situações de combate
numa missão de seis meses a um ano, os elementos policiais vivem in loco, combates de
rua ao longo de muitos anos, em que o inimigo não é sempre identificável (Sewell, 1998).
Segundo Serra (2003), a forma como ocorrem e são processados os acontecimentos
determinam as suas consequências em termos individuais, quer sejam fisicamente quer
psiquicamente variando desde: problemas diários de resolução imediata com efeitos
considerados benignos; situações pontuais indutoras de Stress as quais provocam um
desgaste psicológico delimitado até se resolver o problema; situações indutoras de Stress
crónico cujo desgaste psicológico se prolonga no tempo, até a situação ficar resolvida.
1.2. STRESS
Lazarus e Cohen (1977) consideram que o Stress constitui uma importante área de estudo
por três razões. A primeira está relacionada com o facto das emoções e efeitos do Stress
serem de grande importância para a compreensão da satisfação e da moral. A segunda,
porque as emoções provocadas pelo stress influenciam fortemente todos os aspectos do
funcionamento adaptativo, por exemplo, a resolução de problemas e a competência social.
A terceira está relacionada com a ocorrência da transacção entre o indivíduo e o meio
envolvente.
Walter Cannon, 1932 (in Carlson, 1995), introduziu o termo Stress para referir as reacções
fisiológicas provocadas pelas situações percepcionadas como aversivas ou ameaçadoras
para o indivíduo. Hans Selye, 1936, (in Lazarus & Folkman, 1984), referia-se ao Stress,
como sendo uma forma orquestrada de as defesas do organismo se confrontarem com
quaisquer estímulos nocivos (incluindo ameaças psicológicas). Efectivamente, o Stress não
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resultava da exigência do ambiente (stressor), mas de um conjunto de reacções fisiológicas
e processos provocados pela exigência.
Com base no “estado dinâmico “de Wolff, 1953 (in Lazarus & Folkman, 1984), ou seja,
envolvendo uma determinada adaptação às exigências, e o orquestramento das respostas
fisiológicas de Selye, estavam criadas condições muito importantes para o entendimento do
Stress.
Primeiro porque refutava a ideia de que o termo stress estava relacionado com a
inactividade ou passividade do organismo (constrangido) perante as exigências do
ambiente. Numa perspectiva biológica, defende que o Stress é um processo activo, onde o
organismo reúne esforços adaptacionais para a manutenção ou restauração do equilíbrio.
Segundo, o Stress passa a ser entendido com o processo psicológico (coping), onde o
indivíduo entra em confronto para gerir o Stress psicológico. Terceiro, porque o conceito
de estado dinâmico aponta para alguns aspectos importantes do processo de Stress, como a
avaliação das reservas para “coping”, os seus custos, o aumento dos índices de
competência e a satisfação do triunfo perante a adversidade. Finalmente, esta perspectiva
atende à relação existente entre o organismo e o ambiente, assim como à sua interacção e
processo de re-alimentação (feedback).
Selye (1956) descreve a teoria fisiológica do Stress, baseando-se no conceito de organismo
humano, descrevendo-o como um sistema em equilíbrio. Assim, se o equilíbrio for
perturbado, o sistema desencadeará um processo de auto-regulação (adaptação). Numa
perspectiva teórica, estes mecanismos de auto-regulação, poderão ser concebidos com base
num sistema de controlo (feedback).
Para Selye, 1978, (cit. por Hackfort & Schwenkmezger, In Singer et al., 1993), quando as
respostas de compensação e adaptação falham no processo de regulação o organismo
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responde através de uma reacção ao Stress. Apesar de ocorrerem respostas específicas para
situações específicas da tensão, existe uma sequência típica de ocorrência de respostas –
Sindroma Geral de Adaptação. Neste processo distinguem-se três etapas:
- A resposta-alarme. Esta etapa consiste num “choque inicial” (primeira fase) e num
“choque” posterior onde são desencadeados os mecanismos de defesa, envolvendo
activações fisiológicas (aumento das hormonas adrenocorticais e hiperactividade);
- A etapa da resistência. Nesta fase os sintomas estimulam o processo de regulação
(adaptação);
- A etapa de exaustão ocorre quando o estímulo-stress é longo.
Nos anos sessenta, deu-se um crescimento no reconhecimento do Stress como sendo um
aspecto inevitável da condição humana, onde os mecanismos de confronto (coping) fariam
a grande diferença relativamente ao processo de adaptação.
Sarason, 1960, 1972, 1975, (in Lazarus & Folkman, 1984), começou a considerar e a
atribuir importância aos possíveis efeitos das variáveis mediadoras e as suas interacções no
processo de Stress. Entre elas, destacavam-se as variáveis de personalidade (motivação,
coping), do ambiente, e a avaliação cognitiva. Estas variáveis mediadoras poderiam
influenciar as diferentes reacções dos indivíduos.
Lazarus, 1966, (in Lazarus & Folkman, 1984), sugere que o termo Stress deverá ser
considerado como um conceito organizado, de forma a tornar este fenómeno mais
abrangente e de grande importância para o processo de adaptação humana. O Stress não
representa uma variável, mas sim, um conjunto de variáveis e processos.
Lazarus & Folkman (1984), definem o Stress psicológico como sendo uma relação
particular entre o indivíduo e o ambiente, onde a avaliação do sujeito determina se esta
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relação excede, ou não as suas capacidades (reservas) e coloca, ou não, em causa o seu
bem-estar.
Lazarus & Folkman (1984) destacam três versões da relação entre o indivíduo e a
sociedade. Na primeira, a sociedade é encarada como a forma de servir as necessidades
básicas adaptacionais das pessoas. A segunda, traduz o seu papel na questão da moldagem
das pessoas ou grupos, ou seja, as regras sociais e instituições são responsáveis pela
regulação das relações e condicionamento dos comportamentos e emoções. Por exemplo,
através da cultura podemos interpretar com maior facilidade o que é mais importante,
desejável, perigoso, ignorável, e como é que os comportamentos deverão ser expressos e
geridos. A terceira perspectiva está relacionada com a forma que as pessoas influenciam o
sistema social.
Assim, a relação entre o indivíduo e a sociedade é bidireccional, um influência o outro.
Deste modo, o stress, o coping e o processo de avaliação deverão ser perspectivados no
contexto do indivíduo na sociedade. O sistema social desenvolve exigências e recursos
para o indivíduo. As exigências sociais ou as expectativas normativas sobre o
comportamento podem influenciar os pensamentos, sentimentos e acções das pessoas. No
entanto, estas exigências não são necessariamente fonte de stress. O stress resulta quando
estas exigências sociais são geradoras de conflitos, quando são ambíguas e quando
constituem uma sobrecarga para o individuo.
Hackfort & Spielberger (1989) referem-se ao stress como um processo psicofisiológico
complexo que consiste em três elementos: os stressores, a percepção ou a avaliação da
ameaça, e as respostas emocionais. Geralmente, este processo é iniciado por situações ou
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
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circunstâncias (stressores) que são percepcionadas ou interpretadas (avaliadas) como sendo
perigosas ou frustrantes.
O stress é um processo normal, mas pode ser um precursor de doenças físicas e psíquicas,
não só devido à sua intensidade como também à frequência.
Segundo MacGrath, 1970, em Weinberg e Gould, 1995, o stress é um processo, uma
sequência de eventos rumo a um fim particular. Este processo é definido como: um
desequilíbrio substancial entre a exigência (física e/ou psicológica) e a capacidade de
resposta, em condições onde o insucesso rumo a essa exigência tem consequências
importantes. Segundo o mesmo autor as fontes de stress são variadas e contextuais tendo
origens multicausais (situacionais e pessoais).
Para Martens, 1987, em Weinberg & Gould, 1995, todas as diferentes fontes de stress
generalizam-se a dois tipos de fontes situacionais de stress: a) a importância atribuída a um
evento e b) a incerteza que rodeia o evento.
Relativamente à importância do evento, geralmente, quanto for a importância do
acontecimento, maior será o stress provocado por ele. A importância atribuída a um
acontecimento nem sempre é a mesma, ou seja, um acontecimento que possa ser
insignificante para a maioria das pessoas, não quer dizer que não é importante para uma
pessoa em particular.
A incerteza é a segunda fonte situacional de maior importância para a promoção do stress.
Quanto maior for o nível de incerteza sobre o futuro maior será o stress provocado por ela.
Assim, quanto maior for o grau de incerteza do individuo sobre o que irá acontecer ou
sobre os sentimentos dos outros, maior será os estados de stress e ansiedade.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
14
Scalan, 1986, em Weinberg & Gould, 1995, relativamente às fontes pessoais do stress,
aponta duas disposições da personalidade: a) o traço de ansiedade e b) a auto-estima. O
traço de ansiedade é um factor da personalidade que predispõe o individuo a encarar a
competição e a avaliação social como algo muito ou pouco ameaçador. A auto-estima está
relacionada com as percepções de ameaça, avaliação cognitiva e correspondentes
alterações no estado de ansiedade.
1.3. O STRESS E A FUNÇÃO POLICIAL
Os estudos indicam que os níveis de stress (agudo e crónico) sentidos pelos profissionais
de polícia podem originar efeitos físicos e psicológicos adversos e indesejáveis que podem
afectar as suas vidas pessoais e profissionais.
A origem do stress policial está intrinsecamente associada às características específicas da
profissão. As questões relacionadas com o desempenho da actividade, pela sua natureza
podem colocar estes profissionais em situações de ameaça iminente à sua segurança física,
em que as decisões tomadas no momento podem significar a diferença entre o sucesso e o
drama. (McCraty et al., 1999). Segundo o mesmo autor, os profissionais deste sector lidam
com a violência numa base diária e são expostos a um nível de stress muito acima do
cidadão normal. Esta profissão, onde o que separa a vida da morte é por vezes apenas uma
linha ténue, caracteriza-se como poucas outras profissões por ser um permanente desafio às
condições psicológicas e físicas destes profissionais.
Segundo o relatório de Segurança Interna de 2005 (Ministério da Administração Interna),
as agressões a agentes de segurança aumentaram 9,6 por cento, causando quatro mortes, o
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
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mesmo número de 2004. Os números apontam para 16 feridos graves e 564 feridos ligeiros
e 1.243 feridos sem necessidade de tratamento médico (+ 438 do que em 2004), em
resultado das operações e intervenções policiais efectuadas.
No Reino Unido cerca de 14% dos agentes são agredidos todos os anos, essencialmente em
intervenções relacionadas com alterações da ordem pública, operações de trânsito, na
detenção de suspeitos (Budd 1999 in Mayhew 2001). Swanton & Walker (in Mayhew
2001) num estudo realizado na Austrália referem que cerca de 10% dos agentes policiais
são vítimas de agressões todos os anos, essencialmente através da força física, com a
utilização de seringas e garrafas. A percentagem de elementos do sexo masculino agredida
é substancialmente superior, sendo que o número de agentes deste sexo é também
substancialmente superior em relação aos do sexo feminino, no efectivo policial.
Contudo, existem outras dimensões associadas a esta questão da exposição a situações de
vida ou morte e que funcionam como factores cumulativos de stress, nomeadamente de
natureza organizacional, da natureza da função e de natureza externa.
A insatisfação laboral, a fraca performance laboral, as exigências familiares, o abuso de
substâncias, problemas de saúde e suicídio são as consequências mais expressivas do stress
ocupacional sentido pelos polícias (Anshel, 2000).
O stress ocupacional segundo Carochinho (1999), pode ser definido como um conjunto
singular de vivências de grande pressão sobre o indivíduo em determinado posto de
trabalho. As duas características principais do stress no trabalho podem ser delimitadas
como: i) as dimensões ou características da pessoa e ii) as fontes potenciais de stress no
ambiente de trabalho. A interacção entre estes dois factores poderá originar
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
16
comportamentos atípicos e desadaptados para uma situação de trabalho, com repercussões
para a saúde do indivíduo e perdas para a organização.
Alguns departamentos policiais actualmente fornecem algum tipo de apoio ou
aconselhamento psicológico no sentido de fornecer aos profissionais mecanismos
estratégicos para enfrentarem os stressores específicos da profissão.
Os problemas resultantes do stress permanecem uma preocupação para estes
departamentos, em parte porque muitos profissionais permanecem enclausurados e não
partilham nem procuram ajuda por recearem o juízo estereotipado de que apenas os fracos
o fazem (Biggam, Power, MacDonald, Carcary, & Moddie, 1997 in McCraty et al., 1999).
Segundo McCraty et al. (1999), a função policial é uma das profissões onde o efeito do
stress experienciado é menos valorizado. Segundo o mesmo autor, a ausência de apoio
adequado aos agentes que sofrem os efeitos do stress pode ser uma ameaça a estes
profissionais e à comunidade em geral.
Existem inúmeras variáveis que condicionam a percepção de stress e a sua manifestação.
Segundo Garcia, Gu & Nesbary (2004), a percepção de stress entre os sujeitos policiais,
pode variar consoante o posto, raça, experiência, turnos de serviço e áreas de actuação
estando relacionado intrinsecamente com questões organizacionais. Viollanti & Aron
(1995) in Garcia, Gu & Nesbary (2004) referem, que os anos de experiência policial
podem afectar as percepções de stress durante os vários estádios dessa mesma carreira. A
função desempenhada por sua vez, também pode contribuir para alterações nas percepções
de stress.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
17
Os estudos referem que os elementos policiais que exercem funções operacionais lidam
com níveis de stress mais elevado (Mayhew, 2001). A ocorrência de homicídios
envolvendo agentes policiais é substancialmente superior em agentes operacionais,
envolvidos em investigações, na sequência da detenção de suspeitos, na realização de
buscas domiciliárias em operações anti-droga ou em perseguição a veículos suspeitos
(Clarke & Zak, 1999; Knight 1999; Flannery, 1996 in Mayhew 2001)
O trabalho por turnos, exercido essencialmente por elementos operacionais, é também
determinante para os níveis de stress sentido pelos elementos policiais (Alexander e
Walker 1996; O´Neill e Cushing, 1991).
A forma como a experiência na profissão determina e influência as percepções de stress
sentido pelos polícias, tem sido também um dos factores estudados.
Segundo (Neiderhoffer 1967 in Cimbura 1999), a carreira policial passa por diferentes
estágios. Estes estágios são relevantes nos estudos acerca do stress policial na medida em
que revelaram um impacto nos níveis de stress detectado.
De acordo com o mesmo autor o percurso na carreira é repartido em 4 estádios: Alarme,
Desencantamento, Personalização e Introspecção.
O estádio de Alarme ocorre nos primeiros 5 anos de carreira e é resultado do contacto
directo com a realidade, ou seja, o que o profissional aprendeu na academia/escola é
substancialmente diferente no contacto com essa mesma realidade. Neiderhoffer (1967) diz
que é expectável que os níveis de stress subam bastante nesta fase, devido à adaptação ao
papel e à realidade.
Duas fontes de stress são identificadas neste período. Uma corresponde ao contacto directo
do agente inexperiente “noviço”, com a realidade policial onde são comuns os contactos
com situações desagradáveis tais como, o contacto com pessoas mortas e feridas.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
18
A segunda fonte de stress corresponde à percepção por parte do agente policial que este
contacto com o trabalho lhe está a diminuir os recursos, surgindo a noção de que não é
capaz nem tem capacidade para executar a tarefa.
O segundo estádio, Desencantamento, surge entre os 6 anos e os 12/14 e é caracterizada
pela noção de que o treino e aprendizagem na academia não correspondem em nada ao que
encontraram na realidade, existindo um sentimento de desilusão. Os agentes policiais ficam
“desencantados” pela forma como são tratados pela população e pela organização.
O terceiro estádio, Personalização, corresponde ao que Niederhoffer define como a
assimilação do papel policial e a possibilidade de reforma em breve, o que ocorre muitas
vezes por volta dos vinte anos de serviço. À medida que o profissional de polícia se
aproxima do fim da carreira as preocupações com o papel vão-se atenuando. As suas
prioridades deixam de ser apenas a carreira para se centrarem noutros interesses ou
objectivos.
Como resultado, o receio de maus desempenhos profissionais ou fracasso atenuam-se o que
significa um decréscimo dos níveis de stress.
O estágio final, Introspecção, ocorre após os vinte anos de serviço. Neste estágio segundo
Neiderhoffer (1967), os níveis de stress continuam a diminuir à medida que os agentes
policiais se sentem cada vez mais internalizados no seu papel e a reforma se aproxima.
No estudo de Garcia, Nesbary & Gu (2004) foi encontrada uma diferença significativa nas
percepções de stress entre elementos policiais com mais de 20 anos e os de 5 a 20 anos de
serviço.
Os elementos com mais 20 anos tiveram resultados superiores relativamente ao stress
organizacional, enquanto os com menos de 20 anos tiveram maiores níveis de stress nas
outras duas dimensões.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
19
Segundo Garcia, Nesbary & Gu (2004) as questões relacionadas com assuntos de natureza
organizacional são percepcionadas como menos stressantes entre os elementos com menos
de 5 anos de carreira, e mais nos com mais de 20 anos de carreira.
Os agentes policiais com mais de 20 anos de funções são menos susceptíveis ao Stress
relacionado com a função desempenhada comparando com os indivíduos com menos
experiência profissional.
No estudo de Garcia, Nesbary & Gu (2004) relativamente ao stress de natureza externa,
verificou-se que os elementos policiais entre os 5 e 20 anos de serviço têm scores mais
elevados ao nível do Stress percepcionado.
No mesmo estudo, foram ainda encontradas diferenças significativas nos níveis de Stress
de natureza externa entre elementos da patrulha e da investigação.
Relativamente aos turnos, foram também encontradas diferenças significativas nos níveis
de Stress relacionados com o desempenho da função entre pessoal policial que trabalha por
turnos e os que trabalham em horário de expediente.
Em resultado de diversos estudos (Bain, 1988; O`Neill & Cushing, 1991; Viollanti, 1984),
conclui-se que o trabalho efectuado por turnos, está directamente associado a maiores
níveis de Stress do que o trabalho diurno. Segundo os autores, isto é resultado de uma
alteração do ritmo circadiano o que conduz a alterações do sono, fadiga etc.
Em Garcia, Gu & Nesbary (2004) e relativamente aos stressores de natureza
organizacional foram encontradas diferenças significativas entre elementos não
operacionais e elementos operacionais.
Entre géneros não foram encontradas diferenças significativas. Segundo os autores, este
resultado é encarado com alguma surpresa em virtude de as mulheres na Polícia nos
Estados Unidos da América serem uma minoria, e por isso estarem sujeitas a pressões
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
20
inerentes a essa condição. Refira-se que as mulheres são também uma minoria nas forças
policiais em Portugal, representando cerca de 10 por cento do efectivo total.
Austin (1996) cita Balkin (1988) “num estudo realizado numa amostra de 86 polícias do
sexo masculino e 86 do sexo feminino, acabados de se formar e tendo o mesmo tipo de
treino, foi constatado que os dois grupos realizavam as funções atribuídas com o mesmo
empenho, contudo os agentes do sexo feminino realizavam menor número de detenções e
passavam menos multas de trânsito. As agentes do sexo feminino pareciam ser mais
eficientes em serenar ânimos mais exaltados”
Segundo Van de Poel (in Austin, 1981), uma das maiores fontes de stress sentida pelas
agentes do sexo feminino é a atitude em relação a elas, por parte dos seus colegas do sexo
masculino. Segundo Swan em (1990) e Aberdeen em (1987), as mulheres sofrem um risco
acrescido de agentes stressores porque têm a necessidade de se adaptar a um meio
maioritariamente masculino.
No estudo de Garcia, Gu & Nesbary (2004) o item que pontuou mais alto, o item concern
for a fellow officer being injured or killed, o qual foi consistente com anteriores conclusões
(Spielberger et al., 1981; Viollanti e Aron, 1995) e reforça a noção de tendência para a
percepção de situações de crise nesta profissão, o que a diferencia de a maior parte das
outras profissões.
A preocupação pelos colegas de profissão é de certa forma lógica, tendo em conta os laços
que se estabelecem e o receio de fracasso perante uma situação, ou seja, a acção ou
omissão perante determinada ocorrência possa resultar em fracasso e situações de
fragilidade e ansiedade perante os pares.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
21
Neste estudo, a preocupação com o colega(s) parece resultar em mais Stress do que a
preocupação com ele próprio (sustaining a serious personal injury to themselves). Os sete
itens que mais pontuaram são os relativos a colegas ou relações de trabalho.
A crítica pública é um elemento stressor da sociedade actual, relacionado com o acesso do
público à informação, a cobertura intensa dos média das ocorrências, dos profissionais do
Direito e da população em geral.
A crítica pública à Polícia é algumas vezes usada como forma de ganhos políticos ou
pessoais, contudo, são também por vezes preocupações legítimas essencialmente no que
diz respeito ao mau uso do poder policial e da qualidade de serviço prestado (Garcia, Gu &
Nesbary, 2004).
As exigências familiares, nomeadamente no que diz respeito à disponibilidade e lazer com
a família, é também um stressor para os agentes policiais. Este aspecto, combinado com a
retracção emocional dos agentes policiais em partilhar as suas experiências com a família
pode contaminar as relações familiares. (Alexander e Walker, 1996; Territo e Vetter, 1981
in Garcia, Gu & Nesbary, 2004).
Num estudo realizado por Deschamps et al (2003), foi avaliado o nível de Stress da
actividade policial, elementos potencialmente causadores de Stress e níveis de Stress
sentido numa amostra de polícias franceses. A amostra consistiu num grupo da Polícia
Metropolitana (n = 617), incluindo toda a hierarquia.
Foram efectuadas comparações entre os elementos que denotavam elevados níveis de
Stress e a restante população policial tendo-se verificado que os elementos que
apresentavam maiores níveis de Stress pertenciam aos grupos com mais de 15 anos de
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
22
serviço, dos postos de sargento e oficial, divorciados, acima dos trinta anos de idade e sem
actividades de lazer.
Marshall (2002), efectuou uma investigação em agentes policiais do Estado de Delaware –
EUA, onde se pretendia avaliar a existência de sintomatologia relacionada com Stress
Traumático. Neste estudo, foi demonstrado que efectivamente os elementos policiais são
expostos a uma continuidade de experiências traumáticas ao longo das suas carreiras. Por
exemplo, 100% dos elementos já tinham tido pelo menos uma intervenção com uma pessoa
armada, 98% tinham sacado da arma para uma pessoa, 50% haviam sido agredidos no
desempenho das funções e 31% haviam sido alvo de agressão física passível de os ferir
gravemente ou matar. Além disto, o estudo demonstrou também que a maioria dos
elementos denotou sintomatologia relacionada com Stress Traumático, directamente
relacionado com as ocorrências policiais. 74% relataram terem memórias recorrentes dos
episódios vividos, 62% descreveram ter tido pensamentos ou imagens recorrentes
relacionadas com os eventos, 54% relataram ter evitado pensar nos factos e 47%
experienciaram flashbacks associados ao incidente. O estudo revelou que, os profissionais
revelavam sintomas de trauma ao fim da carreira. Foi ainda concluído que os sintomas
eram de manifestação rápida mesmo naqueles indivíduos com menos experiência. A
maioria dos respondentes revelou sintomas relacionados com PSPT, embora o questionário
não fosse orientado para quantificar sintomas por respondente ou quantificar os incidentes
por indivíduo durante a sua experiência profissional. Este estudo provou ainda, ser um
instrumento de avaliação benéfico, resultando na recolha de alguns resultados preliminares
no que diz respeito ao efeito da exposição dos elementos policiais a acontecimentos
traumáticos. Provou ainda que os elementos policiais sofrem alterações significativas no
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
23
que diz respeito à sua visão do mundo quando comparado com a sua visão anterior (pré-
profissional).
McCraty et al. (1999) num estudo realizado, referem que a função policial é geralmente
aceite como ocupação extremamente stressante, e que os profissionais desta área sofrem
usualmente de uma variedade de problemas fisiológicos, psicológicos e comportamentais
associados ao Stress. Os elementos policiais que trabalham sob o efeito de altos níveis de
Stress podem cometer erros profissionais com uma elevada gravidade, terem reacções
exacerbadas, prejudicar a segurança pública e a própria Instituição.
Contudo, muito raramente os elementos policiais são acompanhados e ajudados a lidar com
estes níveis de Stress. Neste estudo de McCraty et al. (1999), é explorado o impacto do
HeartMath Stress and Emotional Self-Management Training, num grupo de elementos
policiais do condado Santa Clara, Califórnia – EUA, o qual proporciona técnicas de
redução de Stress, de melhoramento do equilíbrio emocional e fisiológico, aumento da
performance e qualidade de vida. As áreas de intervenção deste estudo foram: a parte
física, equilíbrio emocional, estratégias de coping, performance laboral, relações
interpessoais e familiares, e reequilíbrio fisiológico e psicológico, após um incidente
causador de Stress agudo.
Os resultados deste estudo mostraram, que através do treino HeartMath, foram obtidas
respostas mais satisfatórias ao Stress, o qual passou a ser reconhecido e estrategicamente
diminuído. Como resultado principal verificou-se uma diminuição dos níveis de Stress no
grupo experimental e um aumento das estratégias de coping por parte do mesmo grupo.
Num estudo efectuado por Roberg et al. (2000) foi verificado que os elementos policiais
com menos de 5 anos de serviço são geralmente mais optimistas e concentram os seus
esforços na melhoria do desempenho e na aquisição de conhecimentos. Nos anos
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
24
subsequentes, a acumulação de experiências de rua, com os restantes colegas, com o
sistema judicial, os média e a própria organização, tende a refrear o idealismo e o
optimismo e como consequência tendem a aumentar os níveis de stress.
Carver, et al (1993), verificaram que, estratégias de coping negativas podem impedir o
ajustamento após um evento traumático enquanto um coping positivo pode favorecer
respostas de ajustamento positivo ao trauma.
(Dougal et al. 2001), num estudo efectuado após a queda do voo 427 da US Air Flight, a
158 profissionais de serviços de emergência que estiveram presentes no local, verificaram
que níveis de optimismo mais elevados estavam directamente relacionados com níveis de
stress mais baixos, menor evitamento, melhor utilização das estratégias de coping. Neste
estudo foi utilizado o LOT (de oito itens) com o objectivo de determinar o nível de
optimismo e a sua relação com o nível de Stress.
1.4. OPTIMISMO
O Optimismo pode ser considerado uma crença inerente a cada indivíduo que antevê ou
espera do futuro mais acontecimentos bons que maus. O Optimismo é um tópico de estudo
bastante popular no campo da Psicologia, nomeadamente no que diz respeito ao optimismo
disposicional, estilo explicativo e esperança.
Independentemente da forma como este conceito é medido os investigadores referem que
este está associado a resultados desejáveis, com a excepção de que os indivíduos optimistas
subestimam a probabilidade do acontecimento de situações de risco ou não desejadas.
O Optimismo representa o posicionamento emocional, cognitivo e motivacional como o
sujeito se coloca relativamente ao futuro. O pensamento futuro, os eventos desejados, os
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
25
resultados e expectativas criadas acontecerão mais provavelmente se acção ocorrer e for
executada de forma a favorecer a ocorrência desses acontecimentos. A confiança de que os
esforços em torno de um objectivo, determinam um resultado e galvanizam os sujeitos a
intensificar as suas acções em torno de um determinado objectivo.
Com este pressuposto, o optimismo refere-se a uma crença de que no futuro,
acontecimentos positivos associados a pensamentos positivos terão como resultado a
diminuição de acontecimentos adversos associados a pensamentos negativos.
Scheier & Carver (1992) referem que o optimismo “confere benefícios nas acções e no que
as pessoas podem alcançar em tempos adversos.” Estes autores defendem que “os
indivíduos são fortemente influenciados pelas expectativas que geram mediante
determinada acção.” As pessoas que desejam resultados positivos e que consideram ser
possível alcançá-los tendem a lutar por eles apesar das dificuldades encontradas”, por outro
lado os indivíduos que percepcionam o que desejam como algo impossível de alcançar
tendem a desistir dos objectivos.
Tendo como referência autores anteriores (i.e., Bandura, 1977; Seligman, 1975) Scheier &
Carver (1992) advogam que as expectativas criadas são o factor que determina a forma
como o indivíduo persegue ou desiste de um determinado objectivo.
O trabalho destes autores teve início com temas relacionados com as expectativas criadas
perante determinadas situações efectuando estudos relativamente a expectativas gerais e
globais (Scheier & Carver, 1985).
Estes autores definem expectativas globais como “sendo relativamente estáveis ao longo
do tempo e dos contextos” sendo umas das características da personalidade do indivíduo.
Scheier e Carver (1985) definem este tipo de optimismo como, Expectativa Global de
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
26
Optimismo Disposicional e definem este como “a tendência para se acreditar que
geralmente ocorrem situações boas na vida vs. más.”
O Optimismo Disposicional é medido através Life Orientation Test (LOT; Scheier &
Carver, 1985) o qual é uma medida de expectativas que conduz à crença de que os
objectivos podem ser atingidos.
Carver e Scheier referem em termos centrais que a forma como as pessoas perseguem os
seus objectivos, definidos como valores desejados, determina o seu comportamento ou
posicionamento perante a vida.
Seligman (1991) refere o optimismo como uma atitude que pode ser aprendida e acredita
que os indivíduos podem ser treinados através de técnicas comportamentais de forma a
substituírem respostas pessimistas por respostas optimistas quando confrontados com
eventos stressantes.0
Martin Seligman et al. (1995) referem-se ao optimismo como uma característica individual.
Os autores referem que os sujeitos que explicam os maus eventos, de forma circunscrita
recorrendo a factores externos, instáveis e com causas específicas são descritos como
optimistas. Por outro lado, os indivíduos que explicam a ocorrência de factores negativos
como tendo origem em factores internos, estáveis e com causas globais são descritos como
pessimistas.
Nos anos 60 e 70, as investigações demonstraram que grande parte dos indivíduos não são
objectivos nem realistas nas suas cognições. Beck (1976) desenvolveu as suas pesquisas na
depressão e caracterizou esta como uma perturbação da imagem do Self, dos outros e do
futuro, em outras palavras como ausência de esperança no futuro e pessimismo.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
27
Lazarus & DeLongis (1983) referem que muitos indivíduos demonstram uma negação
positiva associada ao bem-estar face às situações adversas. Taylor & Brown (1988) nos
estudos acerca das ilusões positivas, verificaram que os indivíduos tinham percepções
enviesadas relativamente às atitudes positivas, sendo excepções, os sujeitos deprimidos ou
ansiosos. Estes estudos foram precursores no estudo do conceito de optimismo.
Subsequentemente o Optimismo foi explorado na psicologia social, clínica da saúde e da
personalidade.
Num estudo longitudinal, Peterson et al. (1988) referem que indivíduos com 25 anos e
traços pessimistas têm forte de probabilidade de sofrerem de doenças físicas e perturbações
psicológicas 25 anos mais tarde. Esta relação foi significante mesmo depois do controle
inicial do ajustamento psicológico e físico.
Aspinwall e Taylor (1992) examinaram a relação entre a percepção de Stress e o
Optimismo numa amostra de estudantes universitários o Life Orientation Test (LOT;
Scheier & Carver, 1985) e o Perceived Stress Scale (PSS; Cohen, Kamarck, &
Mermelstein, 1983. As características da Personalidade tais como o optimismo, auto-
estima, locus de controlo e estratégias de coping foram avaliadas.
Após três meses a foram reavaliados, o bem-estar psicológico e físico. Um elevado
optimismo foi associado a nível mais baixo de stress.
Scheier e Carver (1991) conduziram um estudo semelhante ao de Aspinwall e Taylor
(1992). Os participantes foram submetidos a duas medições em dois períodos distintos
onde foi medido o optimismo. Os resultados revelaram que o optimismo está associado ao
stress percebido, depressão, sentimento de solidão e rede de suporte social. Mais
concretamente, durante o primeiro semestre na Universidade os “optimistas” estavam com
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
28
níveis de stress significativamente baixos, com menores níveis depressão, menos
sentimentos de solidão e com maiores redes sociais de suporte do que os sujeitos
“pessimistas”
Carver & Gaines (1987) conduziram um estudo em mulheres grávidas, as participantes
foram submetidas ao Life Orientation Test (LOT; Scheier e Carver, 1985) e ao Inventário
de Depressão de Beck (BID; Beck, 1967) no terceiro semestre de gravidez e ao BID
novamente, três semanas após o parto. Relativamente aos níveis de depressão medidos no
início e no fim dos estudos foi observada uma correlação negativa entre o optimismo
medido no terceiro trimestre e a depressão medida após as três semanas do parto.
Scheier et al., (1989) efectuaram um estudo para avaliar os efeitos benéficos do optimismo
disposicional no bem-estar físico e psicológico em homens submetidos a cirurgia coronária
para implantação de bypass. Os participantes foram entrevistados um dia antes da cirurgia
e 6 a 8 dias após a cirurgia e novamente 6 meses após a intervenção. Os indivíduos
optimistas revelaram menores níveis de hostilidade e depressão do que os pessimistas.
Na semana imediatamente a seguir à intervenção cirúrgica os optimistas referiram “estar
bastante aliviados e felizes com a intervenção”. Os indivíduos com maiores níveis de
optimismo referiram estar bastante satisfeitos com os cuidados médicos e com o suporte
emocional prestado pelos amigos. Ainda neste estudo, Scheier et al. (1989) referem que os
indivíduos optimistas manifestavam menos sintomas relacionados com a patologia
descrita. O estudo sugere que os optimistas têm vantagens significativas relativamente aos
pessimistas após seis meses de follow-up, retomando a actividades recreativas e físicas
mais cedo.
Um estudo adicional foi efectuado nos mesmos pacientes cinco anos depois (Scheier,
Matthews, Owens, Magovern & Carver, 1990). Os indivíduos optimistas referiram sonos
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
29
mais repousantes e menos perturbações do sono (e.g., insónia matinal). Os optimistas
referiram com mais frequência que as suas vidas eram “interessantes, não rotineiras, livres
de pressões e preocupações.” Os optimistas também referiram elevada satisfação com as
relações de amizade e com as questões laborais. Finalmente, os optimistas referiram maior
qualidade de vida do que os pessimistas.
Como conclusão, Scheier e Carver (1985) definem optimismo, como uma disposição geral
para esperar bons resultados ou acontecimentos.
Vários estudos sugerem que o optimismo está associado e conduz a bons resultados físicos
e psicológicos.
As investigações realizadas na área do optimismo examinaram a forma como os sujeitos
perseguem os objectivos em face de dificuldades. Nestes é sugerido que o optimismo
conduz à persistência para alcançar um determinado objectivo. Os estudos estabeleceram
que os optimistas tendem a desenvolver menos sintomas físicos, a desenvolver melhores
hábitos alimentares e a desenvolver melhores estratégias de coping. O optimismo foi
também associado a uma menor incidência de perturbações do humor associadas e em
resposta a situações de saúde adversas tais como: cancro da mama e cirurgia coronária
(Carver et al., 1993; Scheier et al., 1989).
Noutro estudo (Johnson, 1996), realizado entre homens diagnosticados com neoplasia da
próstata, foi verificado que quanto mais optimistas eram os sujeitos, menos vulneráveis
eram a sentimentos negativos durante e após o tratamento.
Este estudo pretende ser um contributo importante para caracterizar o contexto policial
português e fornecer indicadores sobre a percepção de Stress e Optimismo nesta população
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
30
específica. O presente estudo pretende ainda atingir os seguintes objectivos e responder às
questões de investigação que se seguem.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
31
2. MÉTODO
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
32
2.1. OBJECTIVOS E PERTINÊNCIA DO ESTUDO
O Stress tem sido um objecto de estudo amplamente pesquisado. Inúmeros autores se têm
dedicado a esta temática em diferentes contextos e cenários (O´Neill e Cushing, 1991;
Alexander e Walker 1996; McCraty et al., 1999; Anshel, 2000; Mayhew, 2001) contudo
em Portugal relativamente ao contexto da Polícia de Segurança Pública pouco foi
realizado.
Nos estudos efectuados em Portugal nunca foi utilizada uma escala avaliadora de Stress
específico para a profissão em associação com uma escala avaliadora de Optimismo.
Assim pretendemos atingir os seguintes objectivos: O estudo psicométrico das medidas
utilizadas; caracterizar a amostra em termos sócio-demográficos e em relação às variáveis
estudadas.
2.2. QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO
No presente estudo elaboraram-se as seguintes as questões de investigação:
1. Quais os níveis de Stress específico nos profissionais de Polícia, nas três
dimensões? (Prevalência de aspectos de natureza externa; Situações criticas da
natureza da função; Situações percepcionadas como injustas)
2. Existem diferenças significativas nos níveis de percepção das fontes Stress:
a) Entre os elementos mais jovens e os mais velhos?
b) Em diferentes grupos de elementos operacionais, (Investigação
Criminal, Esquadra (Patrulha) e Trânsito)?
3. Existem diferenças significativas na percepção de Stress de acordo com a
antiguidade?
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
33
4. De que forma o optimismo se relaciona com a percepção de Stress?
2.3. PARTICIPANTES
Os participantes deste estudo foram elementos operacionais da Polícia de Segurança
Pública do efectivo da Divisão de Almada do Comando de Setúbal.
2.4. DESENHO
Este é um estudo comparativo e correlacional, de carácter exploratório.
2.5. MEDIDAS
As variáveis dependentes são as dimensões que emergem da análise factorial nos 21 itens
da escala Boston Police Officer Survey - (BPOS); a média do somatório dos itens da escala
BPOS (Stress global) e a média dos 10 itens que compõem a Life Orientation Test - LOT.
As variáveis independentes são: o género, a antiguidade, a idade e o departamento onde os
elementos exercem funções.
Na recolha de informação foi utilizado um inquérito constituído por 2 escalas (BPOS e
LOT-R) e ainda um conjunto de questões sócio-demográficas.
2.6. BPOS - Boston Police Officer Survey
A (BPOS) - Boston Police Officer Survey de Garcia, Gu & Nesbary (2004), é uma escala
destinada a avaliar o Stress em meio policial. É constituído por 21 itens referentes a outras
tantas situações que habitualmente são consideradas como indutoras de Stress em meio
policial.
Os itens são respondidos mediante uma escala tipo Likert de 7 posicionamentos possíveis
em que 1 corresponde a “nenhum Stress” e 7 a “máximo Stress”.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
34
A versão original agrupa os itens em 3 dimensões (Stress de natureza Externa, Stress de
natureza organizacional e Stress da natureza da função). Preconiza-se ainda uma medida
geral de Stress, correspondente à média dos somatórios dos 21 itens que compõem a
escala. A consistência interna da versão original foi de 0,89.
Por não existir uma versão portuguesa da mesma, procedemos previamente a uma
adaptação experimental desta escala para a língua portuguesa. A tradução e retroversão, foi
efectuada por 3 especialistas que dominam a língua Inglesa e Portuguesa.
Posteriormente a BPOS foi submetida a uma análise crítica por parte de 5 profissionais de
Polícia, os quais se pronunciaram sobre a adequabilidade dos itens e da forma como os
mesmos se apresentam redigidos.
2.7. (LOT-R) - Life Orientation Test
O Life Orientation Test - (LOT) de Scheier e Carver (1985), é um questionário de auto-
administração com 10 itens e que mede as expectativas gerais relativamente a
acontecimentos positivos futuros. O LOT-R inclui 3 itens com afirmações referentes ao
optimismo; 3 itens com afirmações referentes ao pessimismo e 4 itens distractores. Os
respondentes indicam a sua concordância ou discordância indicando numa escala tipo
Likert de cinco pontos que variam de (0) “discordo totalmente” a (4) “concordo
totalmente”, três dos itens são cotados de forma inversa (Pais-Ribeiro, 2006).
No presente caso optou-se por trabalhar apenas uma medida geral de optimismo,
correspondente à média do somatório dos itens (após inversão de pontuação de 3 deles).
No entanto os autores preconizam ainda um outro formato de resposta considerando 2
medidas: uma referente ao optimismo e outra ao pessimismo (nesta segunda opção os itens
não devem invertidos).
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
35
2.8. PROCEDIMENTO A amostra deste estudo foi de conveniência porque não houve à partida nenhum tipo de
preocupação com critérios probabilísticos. Considerando as particularidades do meio
policial, foi, no entanto, formulado um pedido de autorização verbal ao Comandante da
Divisão Policial de Almada para a aplicação dos questionários aos elementos policiais,
tendo este acedido sem quaisquer objecções.
Os inquéritos foram entregues pessoalmente tendo sido explicado genericamente: o
propósito dos mesmos; as instruções relativas ao preenchimento; explicação da utilização
que será dada à informação obtida; objectivos do estudo em questão e garantia de
confidencialidade das respostas.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
36
3. RESULTADOS
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
37
Neste capítulo, procuraremos apresentar os resultados quer no estudo psicométrico das
escalas utilizadas, quer nas estatísticas efectuadas tendentes à verificação dos
objectivos por nós propostos.
A análise dos resultados foi efectuado mediante recurso ao Statistic Package SPSS
14.0.
Em termos de exposição num primeiro momento apresentam-se: a caracterização da
amostra, as validações das duas escalas utilizadas e num segundo momento, os estudos
diferenciais relativamente às questões de partida formuladas.
3.1. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
A amostra foi constituída por 123 elementos da Polícia de Segurança Pública de
Almada, sendo que 86,2 % são do sexo masculino (n=106) e 13,8 % do sexo feminino
(n=17).
Quanto à função desempenhada, 26,8 % eram elementos da Investigação Criminal
(n=33), 56,1% elementos da Esquadra (n=69) e 17,1% elementos do Trânsito (n=21),
(ver Tabela 3).
Tabela 3 – Caracterização da amostra
N %
Género Homens
106 86,2
Mulheres
17 13,8
Grupo
Investigação
33 26,8
Esquadra
69 56,1
Trânsito 21 17,1
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
38
No que se refere à antiguidade, a maioria dos sujeitos pertencem ao grupo entre os 11 e 15
anos de serviço (26,8%) seguidos pelo grupo entre os 16 e 20 anos de serviço (26%), (ver
Gráfico 1).
Gráfico 1 – Distribuição sujeitos por antiguidade
0
5
10
15
20
25
30
35
> 5 anos 6 a 10 anos 11 a 15anos
16 a 20anos
21 a 25anos
Relativamente à idade, 13% dos elementos têm entre 21 e 30 anos, 61,8% têm entre 31
e 40 anos, 24,4% entre 41 e 50 anos e 0,8% mais de 51 anos, com uma idade média de
37,17 anos (desvio-padrão=6,78).
3.2. ESTUDO PSICOMÉTRICO DA ESCALA DE STRESS (BPOS)
a) Validade
Um teste ou escala só deve ser aplicado se for detentor de validade. Esta característica
psicométrica refere-se ao facto de o teste (ou escala) medir efectivamente aquilo a que se
destina. No presente caso procedeu-se à determinação da validade de constructo (ou de
conceito). Segundo Almeida e Freire (2003, p.176) um método que tem granjeado maior
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
39
uso e reconhecimento entre os diversos autores para o cálculo deste tipo de validade, é a
análise factorial dos itens.
Como já referimos, o cálculo da validade desta escala incidiu no estudo da validade
factorial ou de constructo, com recurso a uma análise factorial de componentes principais
com rotação de factores tendo sido obtida uma estrutura tetrafactorial que explica 60,98%
da variância dos resultados, (ver Tabela 1).
Tabela 1 – Matriz tetrafactorial, Análise de componentes principais da BPOS e α de
Cronbach para cada factor (N = 123)
Fontes de stress Extracção de factores
I II III IV
16 - Concurso para progressão ,754
20 - Trabalho à paisana/sob disfarce ,729
17 - Conflitos raciais ,725
14 - Transferência outra área de trabalho ,708
11 - Ameaça processo judicial ,707
18 - Ser objecto investigação interna (processo) ,655
12- Situações que requerem o uso da força ,616
9 - Exposição à morte 587
15 - Reorganização departamento/unidade ,569
19 - Serviço por turnos ,565
21 - Pensamentos íntimos/pessoais sobre suicídio ,497
1 - Colegas serem feridos ou mortos ,713
10 - Sofrer uma grave agressão física no trabalho ,641
7 - Parceiro/colega incompatível ,582
4 - Tomar decisões importantes na hora ,791
3 - Exigências familiares ,573
6 - Dar resposta a um crime em curso ,554
13 - Tarefa com/de responsabilidade acrescida ,524
2 - Crítica da opinião pública à Polícia ,765
5 - Colegas que não fazem o trabalho ,700
8 - Conflito de trabalho por causa de regras (ou seja, regulamento
VS situação
,648
Eigenvalue 5,49 2,51 2,48 2,31
Variância 26,14% 11,97% 11,85% 11,01%
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
40
No entanto, considerando o estudo original Garcia, Gu & Nesbary (2004) forçou-se a
matriz a três factores tendo-se obtido uma matriz interpretável explicativa de 56,11% da
variância dos resultados, Tabela 2.
Tabela 2 – Matriz forçada a três factores, Análise de componentes principais da BPOS e α
de Cronbach para cada factor (N = 123)
A 1ª dimensão tem um peso próprio de 5,81 e explica 27,66% da variância dos
resultados e satura nos itens: 9 – (exposição à morte), 10 – (sofrer grave agressão física
no trabalho), 11 – (ameaça de processo judicial), 12 – (situações que requerem o uso
Fontes de Stress Extracção de factores
I II III
16 -Concurso para progressão ,775
11 -Ameaça de processo judicial ,753
17 - Conflitos raciais ,728
20 - Trabalho à paisana/sob disfarce ,723
14 - Transferência outra área de trabalho ,702
18 - Ser objecto de investigação interna (processo) ,663
9 - Exposição à morte ,654
12 - Situações que requerem o uso da força ,639
10 - Sofrer grave agressão física no trabalho ,639
19 - Serviço por turnos ,566
15 - Reorganização do Departamento/Unidade ,513
21 - Pensamentos íntimos/pessoais sobre o suicídio ,510
6 - Dar resposta a um crime em curso ,686
3 - Exigências familiares ,636
7 - Parceiro/colega incompatível ,627
4 - Tomar decisões importantes na hora ,598
1 - Colegas serem feridos ou mortos ,564
2 - Crítica da opinião pública à Polícia ,744
5 - Colegas que não fazem o seu trabalho ,668
8 - Conflito de trabalho por causa de regras (ou seja, regulamento VS
situação)
,617
13 - Tarefa com/de responsabilidade acrescida ,507
Eigenvalue 5,81 3,34 2,59
Variância 27,66% 15,93% 12,51%
α de Cronbach .91 .74 .73
α de Cronbach total .92
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
41
da força), 14 – (transferência para outra área de trabalho), 15 – (reorganização do
departamento/unidade), 16 – (concurso para progressão), 17 – (conflitos raciais), 18 –
(ser objecto de investigação interna/processo), 19 – (serviço por turnos), 20 – (trabalho
à paisana sob disfarce), 21 –(pensamentos íntimos/pessoais sobre o suicídio) e toma a
designação “prevalência de aspectos de natureza externa”.
A 2ª dimensão com um peso próprio de 3,34 e explica 15,93% da variância do
resultado e aparece saturado nos itens: 1 – (colegas serem feridos ou mortos), 3 –
(exigências familiares), 4 – (tomar decisões importantes na hora), 6 – (dar resposta a
um crime em curso), 7 – (parceiro/colega incompatível) e toma a designação de
“situações críticas da natureza da função”.
Por fim a terceira dimensão com um peso próprio de 2,59 explica 12,51% da variância
dos resultados e aparece saturada nos itens 2 – (crítica da opinião pública à Polícia), 5 –
(parceiro/colega incompatível), 8 – (conflito de trabalho por causa de regras) e 13 –
(tarefa com/de responsabilidade acrescida) e toma a designação de “situações
percepcionadas como injustas”.
b) Fidelidade
A fidelidade dos resultados numa prova diz-nos algo sobre o grau de confiança ou
exactidão que podemos ter na informação obtida (Almeida e Freire, 2003, p.158).
O conceito apresenta duas significações: por um lado poderá referir-se à consistência
interna ou homogeneidade dos itens, por outro a estabilidade ou constância dos
resultados.
No presente caso recorreu-se à determinação da fidelidade da escala considerando os 2
pressupostos atrás mencionados.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
42
Para o cálculo da fidelidade, recorreu-se ao método da consistência interna com
recurso ao coeficiente do Alpha de Cronbach sendo o valor obtido de .92 para os 21
itens e para as dimensões “prevalência de aspectos de natureza externa” um valor de
.91, “situações críticas da natureza da função” um valor de .74 e “situações
percepcionadas como injustas” um valor de .73, respectivamente a 1ª, 2ª e 3ª dimensão.
3.3. TESTE-RETESTE
Para Kline (1986), a aplicação do teste-reteste é essencial para garantir a fidelidade do
questionário. Esta estratégia é bastante simples e consiste na aplicação do mesmo teste
(aos mesmos indivíduos) e em momentos diferentes. Se existir uma correlação (mínimo
de 0.7) entre a pontuação obtida nos dois momentos, então a fidelidade do teste é
reforçada.
No entanto Pestana e Gageiro (2000) consideram que, por vezes, o recurso ao teste-
reteste é inconveniente, porque não existe um controlo dos acontecimentos que medeiam
entre os dois momentos de aplicação mesmo questionário às mesmas pessoas.
O resultado do teste-reteste deste estudo foi contraditório o que poderá ter ocorrido por
variadas situações.
No período que mediou os dois momentos de aplicação do instrumento BPOS,
ocorreram factos que poderão ter influenciado a percepção de stress e alterado o
desempenho dos profissionais de Polícia.
O tempo entre as duas aplicações foi de 25 dias, o que poderá ter sido excessivo. Neste
lapso de tempo, ocorreu um suicídio de um dos elementos da Divisão, sendo este facto
per si um acontecimento de elevada carga emocional e suficiente para contagiar não só
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
43
os elementos que conviviam com o suicida, mas também todos aqueles que o
conheciam. Saliente-se o facto de que a divisão de Almada perdeu dois elementos (um
do efectivo e outro que havia pertencido ao efectivo num curto espaço de tempo).
No nosso entender este(s) factos poderão ter contaminado o processo e determinado o
seu resultado.
3.4. ESTUDO PSICOMÉTRICO DA ESCALA DE OPTIMISMO – LOT-R
a) Validade
Para o cálculo da validade foi efectuado um procedimento idêntico ao da escala
anterior, análise factorial de componentes principais de rotação varimax, tendo-se
obtido uma matriz bi-factorial, (ver Tabela 4).
Tabela 4 – Matriz Factorial da Escala
Itens Factores
I II
8 - Raramente espero que aconteçam coisas boas ,809
5 - Quase nunca espero que as coisas vão correr como eu quero ,763
3 - Se houver a mínima hipótese de alguma coisa de mal me acontecer, tenho a certeza
que acontecerá
,748
10 - Em geral espero que me aconteçam mais coisas boas do que más 520
1 - Sinto-me sempre optimista acerca do meu futuro ,843
2 - Em momentos de incerteza espero, eu espero sempre o melhor ,836
Eigenvalue 2,13 1,58
Variância 35,52% 26,38%
α de Cronbach .66 .72
α de Cronbach total .74
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
44
O primeiro factor com peso próprio de 2,13 explica 35,52% da variância dos resultados e
aparecem saturados os itens do pessimismo, conjuntamente com um item referente ao
optimismo “Em geral espero que me aconteçam mais coisas boas que más”.
O segundo factor toma um peso próprio de 1,58 e explica 26,38% da variância dos
resultados e agrupa 2 itens do optimismo.
No seu conjunto esta matriz explica 61,90% da variabilidade dos resultados. (Pais-Ribeiro,
2006)
b) Fidelidade
Para o cálculo da fidelidade recorreu-se ao método da consistência interna com recurso ao
coeficiente de Alpha de Cronbach. O valor para os seis itens foi de .74 (escala global) e
considerando os factores isoladamente o coeficiente do Alpha de Cronbach foi de .66 e de
.72, respectivamente para o 1º e o 2º factor.
3.5. ESTUDOS DIFERENCIAIS
Relativamente ao segundo objectivo – que preconizava a existência de diferenças
significativas nos níveis de percepção das fontes Stress:
a) Entre os elementos mais jovens e os mais velhos.
b) Nos 3 grupos de elementos operacionais.
Foram efectuados tratamentos estatísticos que a seguir se descrevem tendentes à sua
verificação.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
45
IDADE E STRESS
Para analisar a diferença entre idade e Stress foi previamente efectuado uma recodificação
da variável Grupo Etário para 3 categorias.
A estatística utilizada foi a análise de variância Anova One-way tendo sido encontrado um
rácio não significativo (F=0,68, p = 0,50).
Tabela 5 - Estatísticas descritivas da escala BPOS em função do grupo etário
Grupos etários N Média DP
21 – 30 anos 16 4,09 0,91
31 – 40 anos 76 3,95 0,97
>40 anos 31 3,74 1,32
Total 123 3,92 1,06
No entanto procuramos averiguar a relação entre o grupo etário e cada uma das dimensões
obtidas com a análise factorial da escala de Stress (BPOS): “Prevalência de aspectos da
natureza externa”, “Situação críticas da natureza da função” e “Situações percepcionadas
como injustas”.
Foi utilizado mais uma vez a análise de variância Anova One-way, tendo-se constatado que
em nenhuma das dimensões se encontram diferenças significativas.
STRESS E GRUPOS PROFISSIONAIS
Para analisar a diferença entre o Stress e os grupos profissionais (função), o procedimento
estatístico foi semelhante ao anteriormente descrito, tendo os resultados obtidos sido
idênticos, ou seja, não significativos (F=2,19; p=0,11).
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
46
Analisando as diferenças entre os grupos profissionais e as 3 dimensões da escala de Stress
(BPOS), verificamos que o rácio F da análise de variância Anova Oneway apenas se
mostrou significativo para a dimensão 2 (Situações críticas da natureza da função).
A comparação à post hoc das medidas mediante teste Sheffe indica-nos que essa diferença
se verifica entre os polícias pertencentes ao grupo da Investigação Criminal e do grupo do
Trânsito sendo estes últimos os que percepcionam maiores níveis de Stress nesta dimensão.
A 2ª dimensão “Situações críticas da natureza da função” relaciona-se com situações
imediatas e que são caracterizadas pela sua imprevisibilidade e pela forte carga emocional
associada. (ver Tabela 6).
Tabela 6 – Diferenças entre grupos profissionais e as 3 dimensões da BPOS e médias das
dimensões da escala BPOS em cada um dos grupos considerados (N=123)
a/b – As médias que partilham a mesma letra não são significativamente diferentes de
acordo com o teste de contraste Tukey Alpha
Investigação
(n=33)
Esquadra
(n=69)
Trânsito
(n=21)
Variação
1-7
M (Dp) M (Dp) M (Dp) F p
Factor 1. Prevalência de aspectos de
natureza externa
3,30
(1,22)a
3,76
(1,33)a
3,80 (1,18)a 1,62 0,20
Factor 2. Situações críticas da natureza da
função
4,07
(0,98)a 4,41
(1,16)a
5,05
(1,00)b
5,17 <0.00**
Factor 3. Situações percepcionadas como
injustas
3,96
(1,11)a 4,10
(1,10)a
4,25
(1,07)a
0,44 0,64
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
47
ANTIGUIDADE E STRESS
Pretendeu-se neste momento avaliar as diferenças entre a antiguidade e a intensidade de
Stress sentido. Antes de se iniciar a análise estatística correspondente à variável
antiguidade, procedemos à recodificação desta variável para 4 categorias, em virtude de
existirem apenas 4 indivíduos no grupo entre os 0 e os 5 anos de serviço. A análise
estatística utilizada foi a análise de variância Anova Oneway não tendo sido observadas
diferenças significativas entre os grupos (F=0,52; p=0,66).
Procuramos igualmente analisar a diferença existente entre a antiguidade e as 3 dimensões
da escala de Stress. O processo estatístico foi o mesmo das situações anteriores, tendo-se
igualmente encontrado diferenças significativas na 2ª dimensão (Situações críticas da
natureza da função).
Através da comparação à Post Hoc das médias para a 2ª dimensão, verificamos que
existem diferenças significativas entre os sujeitos pertencentes ao grupo de antiguidade de
11/15 anos e os pertencentes ao grupo de antiguidade entre os 16/20 anos sendo os mais
novos os que percepcionam maiores níveis de Stress. A segunda dimensão “Situações
Críticas da Natureza da Função” como já anteriormente foi referido, é composta por itens
de elevado impacto emocional. Os elementos com mais tempo de serviço têm mais
experiência na profissão o que pressupõe uma visão mais adaptada à realidade policial.
(ver Tabela 7).
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
48
Tabela 7 – Médias das três dimensões Stress em função da antiguidade e relação entre
antiguidade e BPOS - Variação 1- 7, (N=123)
Antiguidade M DP F p
Factor 1. Prevalência de aspectos de natureza externa 1– 10 anos 3,64 1,07 a
0,18
0,91
11– 15 anos 3,74 1,16 a
16- 20 anos 3,63 1,49 a
>20 anos 3,44 1,75 a
Factor 2. Situações críticas da natureza da função 1– 10 anos 4,53 1,05 a
2,73
0,04*
11 – 15 anos 4,76 0,96
a/b
16 - 20 anos 4,01 1,22
a/c
>20 anos 4,28 1,29 a
Factor 3. Situações percepcionadas como injustas 1– 10 anos 4,11 1,02 a
0,32
0,80
11– 15 anos 4,20 1,07 a
16- 20 anos 4,01 1,00 a
>20 anos 3,89 1,56 a
a/b/c – As médias que partilham a mesma letra não são significativamente diferentes de
acordo com o teste de contraste Tukey Alpha
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
49
GÉNERO E STRESS
Apesar de não ser objectivo deste trabalho, entendemos que seria pertinente analisar as
diferentes percepções das dimensões de Stress em função do género do agente. Para o
efeito foi efectuado um teste t de Student para cada uma das dimensões de Stress tendo-se
encontrado diferenças significativas para a 3ª dimensão (Situações percepcionadas como
injustas), sendo o valor mais elevado obtido nos agentes do sexo feminino.
O quadro seguinte ilustra os valores das médias das dimensões da escala de Stress para
cada um dos sexos, Tabela 8.
Tabela 8 – Teste de diferenças de médias (Stress em função do género) e estatísticas
descritivas das 3 dimensões da escala BPOS em função do género
a/b – as médias que partilham a mesma letra não são significativamente diferentes de
acordo com o teste t de Student
Masculino
(n=106)
Feminino
(n=17)
Variação
1-7
M (Dp) M (Dp) F p
Factor 1. Prevalência de aspectos de
natureza externa
3,57
(1,26)a
4.08
(1,35)a
-1,53 0,12
Factor 2. Situações críticas da natureza da
função
4,37
(1,15)a 4,76
(0,92)a
-1,31 0.19
Factor 3. Situações percepcionadas como
injustas
4,00
(1,08)a 4,58
(1,04)b
-2,04 0,04*
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
50
3.6. ANÁLISE DESCRITIVA DO STRESS - Diferenças no tipo de stress em cada
indivíduo por dimensões
Relativamente ao Stress por dimensões percepcionado em cada indivíduo verifica-se que a
2ª dimensão “Situações críticas da natureza da função” é aquela que é percepcionada
como causadora de maiores níveis de Stress pela amostra (M=4,43; D.P=1,12), variando
entre um mínimo de 1,60 e um máximo de 6,40; a segunda dimensão percepcionada como
causadora de maiores níveis de Stress é a 3ª dimensão “Situações percepcionadas como
injustas” (M=4,08; D.P.=1,09) variando entre um mínimo 1,00 e um máximo de 7,00; a
dimensão percepcionada como a causadora de menores níveis de Stress é 1ª Dimensão
“Prevalência de aspectos de natureza externa” (M=3,64; D.P. 1,28), variando entre um
mínimo 1,00 e um máximo de 6,00.
Na tabela seguinte são apresentados os valores obtidos dos itens referentes ao stress de
acordo com a percepção da população deste estudo. Os inquiridos consideraram os 4 itens:
“Colegas serem feridos ou mortos” (M=5,40), “Parceiro/colega incompatível” (M=4,80),
“Sofrer grave agressão física no trabalho” (M=4,70) e “Exposição à morte” (M=,63), como
sendo os mais stressantes. Os 4 itens percepcionados como menos stressantes foram
“Trabalho à paisana/sob disfarce” (M=2,24), “Pensamentos íntimos/pessoais sobre o
suicídio” (M=2,67), “Conflitos raciais” (M=3,06) e “Reorganização do
Departamento/Unidade” (M=3,13). Tabela 10.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
51
Tabela 10. Análise descritiva da média de Stress por itens de forma decrescente; variação -
(1 -7).
Itens Dimensão I Dimensão II Dimensão III DP
Item 1. Colegas serem feridos ou mortos 5,40 1,54
Item7. Parceiro/colega incompatível 4,80 1,83
Item 10. Sofrer grave agressão física no trabalho 4,70 1,89
Item 9. Exposição à morte 4,63 1,96
Item 5. Colegas que não fazem o seu trabalho 4,38 1,51
Item 11. Ameaça de processo judicial 4,33 1,94
Item 12. Situações que requerem o uso da força 4,18 1,63
Item 8. Conflito de trabalho por causa de regras (ou seja,
regulamento VS situação)
4,17 1,40
Item 2. Crítica da opinião pública à Policia 4,08 1,60
Item 6. Dar resposta a um crime em curso 4,08 1,51
Item 3. Exigências familiares 4,01 1,66
Item 18. Ser objecto de investigação interna (processo) 3,99 1,96
Item 4. Tomar decisões importantes na hora 3,88 1,41
Item 13. Tarefa com/de responsabilidade acrescida 3,72 1,33
Item 19. Serviço por turnos 3,64 1,88
Item 14. Transferência para outra área de trabalho 3,63 1,74
Item 16. Concurso para progressão 3,55 1,75
Item 15. Reorganização do Departamento/Unidade 3,13 1,45
Item 17. Conflitos raciais 3,06 1,76
Item 21. Pensamentos íntimos/pessoais sobre o suicídio 2,67 2,13
Item 20. Trabalho à paisana/sob disfarce 2,24 1,36
Média total/dimensão 3,64 4,43 4,08
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
52
3.6. RELAÇÃO ENTRE OPTIMISMO E STRESS
De forma a averiguar a associação entre as variáveis, foi efectuada uma matriz de
correlações, tal como se verifica na tabela 8, utilizando o Coeficiente de Correlação de
Pearson e de seguida serão descritos os valores significativos mais relevantes.
O optimismo apresenta uma correlação negativa com o Stress total, (r = -,178; p<0,05), ou
seja, quanto menor o optimismo, maior o Stress total; revelando que também neste caso um
menor optimismo implica uma maior percepção deste tipo de Stress, o mesmo acontecendo
com o Stress_2 “Situações Críticas da Natureza da Função”, (r = -,188; p<0,05) e com o
Stress_3 “Situações Percepcionadas como Injustas”, (r = -,111; p<0,05). O optimismo
correlacionou-se também negativamente com o Stress_1” Prevalência de aspectos de
natureza externa”, (r = - 158; p>0,05).
O Stress total correlacionou-se de forma positiva com o Stress_1” Prevalência de aspectos
de natureza externa”, (r = ,953; p<0,01); com o Stress_2 “Situações Críticas da Natureza
da Função” (r = ,793; p<0,01) e com o Stress_3 “Situações Percepcionadas como Injustas”
(r = ,717; p<0,01), o que se torna óbvio tendo em conta que o Stress total reflecte a soma
das três dimensões de Stress.
O Stress_1, correlacionou-se de forma positiva com o Stress_2, (r = ,617; p<0,01) e com o
Stress_3 (r = ,541; p<0,01) respectivamente, significando que este aumenta quando as duas
dimensões também aumentam, respectivamente.
O Stress_2 correlacionou-se de forma positiva com o Stress_3, (r = ,583; p<0,01), ou seja,
à medida que o Stress_2 “Situações Críticas da Natureza da Função” aumenta também o
Stress_3 “Situações Percepcionadas como Injustas”. Tabela 9.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
53
Tabela 9 – Tabela de correlações de Pearson entre o optimismo, o Stress total, as 3
dimensões de Stress da BPOS (N = 123)
* p<0.05
** p<0.01
Legenda: optimism = Optimismo; Stresstotal = Stress; total Stress_1 = Prevalência de
aspectos de natureza externa; Stress_2 = Situações críticas da natureza da função; Stress_3
= Situações percepcionadas como injustas
Optimism Stresstotal Stress_1 Stress_2 Stress_3
Optimism Pearson
Correlatio
n
1 -,178(*) -,158 -,188(*) -,111(*)
Sig. (2-
tailed)
,049 ,082 ,038 ,222
N 123 123 123 123 123
Stresstotal Pearson
Correlatio
n
1 ,953(**) ,793(**) ,717(**)
Sig. (2-
tailed)
,000 ,000 ,000
N 123 123 123 123
Stress_1 Pearson
Correlatio
n
1 ,617(**) ,541(**)
Sig. (2-
tailed)
000 ,000
N 123 123 123
Stress_2 Pearson
Correlatio
n
1 ,583(**)
Sig. (2-
tailed)
,000
N 123 123
Stress_3 Pearson
Correlatio
n
1
Sig. (2-
tailed)
N 123
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
54
3.7. ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS DAS MEDIDAS EM FUNÇÃO DAS
RESTANTES VARIÁVEIS DE CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-DEMOGRÁFICA.
No que diz respeito às médias numa perspectiva meramente descritiva os dados confirmam
os dados anteriormente obtidos.
No entanto e apesar de não ser objectivo deste trabalho verifica-se que ao nível das
variáveis Stress total e optimismo total, o seguinte:
As mulheres apresentam uma percepção de Stress total mais elevada que os homens,
apresentando também maior optimismo total.
Relativamente à antiguidade/tempo de serviço, verifica-se que os sujeitos que têm entre 11
e 15 anos de serviço revelam maior percepção de Stress total, os com mais de 40 anos os
que percepcionam menores níveis de Stress total. Relativamente ao optimismo o grupo
mais optimista é os com 16/20 anos de serviço e o menos optimista o grupo com mais de
20 anos de serviço.
Em relação à idade os sujeitos que percepcionam maiores níveis de stress são os com idade
entre os 21/30 anos de idade, sendo também os menos “optimistas”. Os sujeitos com mais
de 40 anos, são os com menores níveis de Stress total percepcionado. Os mais optimistas
são os com sujeitos com idade entre os 31/40 anos.
Tendo em conta a função desempenhada os elementos que desempenham funções de
trânsito são os com maior percepção de Stress total e menos “optimistas”. Os que
apresentam menores níveis de Stress total percepcionado são os sujeitos do grupo da
Investigação Criminal sendo também estes os mais optimistas, (ver Tabela 11).
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
55
Tabela 11 - Descritivas das medidas em função das restantes variáveis de caracterização
sócio-demográfica (N=123)
Média de Stress total DP Média do Optimismo DP
Variação 1-7 Variação 1-7
Género N
Homens 106 3,85 ,10 2,64 0,61
Mulheres 17 4,34 ,26 2,86 0,60
Tempo de serviço
20 anos 14 3,73 1,47 2,40 0,61
16/20 anos 32 3,80 1,21 2,83 0,54
11/15 anos 33 4,08 ,96 2,77 0,54
1/10 anos 44 3,95 ,87 2,57 0,67
Idade
21/30 anos 16 4,09 ,91 2,57 0,75
31/40 anos 76 3,95 ,97 2,73 0,71
40 anos 31 3,74 1,32 2,59 0,53
Função
Investigação 33 3,61 ,98 2,97 0,53
Esquadra 69 3,98 1,12 2,58 0,59
Trânsito 21 4,19 ,93 2,51 0,63
N total 123
Média 3,92 1,06 2,67 0,61
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
56
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
57
No nosso estudo tínhamos como objectivos gerais: (1) estudo psicométrico das medidas
utilizadas BPOS (Boston Police Officer Survey) e LOT-R (Life Orientation Test), no
contexto policial português; (2) Avaliar se existiam diferenças significativas nos níveis de
percepção das fontes Stress: Entre os elementos policiais mais jovens e os mais velhos e
em diferentes grupos de elementos operacionais, (Investigação Criminal, Patrulha e
Trânsito); (3) Existem diferenças significativas na percepção de Stress de acordo com a
antiguidade ; (4) Investigar de que forma o optimismo se relaciona a percepção de Stress:
Objectivo 1 Por não existir em Portugal, uma escala com itens específicos relacionados com o Stress de
aplicação à população Policial, tivemos, num primeiro momento, de proceder à tradução e
adaptação exploratória da escala BPOS, constituída por 21 itens divididos por 3 dimensões
(Stress de natureza profissional; Stress da natureza da função e Stress de natureza
organizacional).
Na análise exploratória de componentes principais identificámos quatro factores da escala
BPOS. No entanto, considerando o estudo original (Garcia, Gu & Nesbary, 2004) forçou-
se a matriz a três factores tendo sido atribuídas novas designações de acordo com a
interpretação subjacente: (Prevalência de aspectos de natureza externa; Situações críticas
da natureza da função e Situações percepcionadas como injustas). A estrutura da escala
Portuguesa diverge algo da escala Americana. Estas diferenças podem estar directamente
relacionadas com questões culturais entre estes os dois países e na forma como os sujeitos
interpretam a informação relacionada com o stress policial e os stressores (é sabido, por
exemplo, o peso dos media americanos na sociedade).
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
58
A estas hipóteses, acrescenta-se a da evidência de que a polícia portuguesa é quase
homogénea relativamente ao contexto étnico, ao contrário da norte-americana que nos seus
quadros e nos seus aspectos sociais é constituída por uma grande variedade étnica e
cultural. Nos EUA os comandos das polícias são eleitos, tal não acontece em Portugal, este
factor altera a percepção de Stress causada pelos media e pela opinião pública nos dois
contextos culturais.
No entanto, os resultados sugerem que a escala BPOS é uma medida com muito boa
consistência interna, sensibilidade, validade concorrente e factorial, que pode ser usada em
futuros estudos que visem explorar o papel destes stressores específicos da actividade
policial nas diversas Polícias portuguesas.
É provável que estes stressores variem entre as diferentes forças de segurança pela
especificidade e competência atribuída a cada uma destas Polícias. Esta escala poderá vir a
ser útil para investigar essas diferenças. Pode também ser útil para examinar o impacto
destes stressores de acordo com a implantação territorial da força policial, ou seja, em
contexto urbano ou em contexto rural e de que forma estes stressores (em associação com
outros instrumentos) condicionam a saúde dos sujeitos, nomeadamente em níveis de
depressão, perturbações da ansiedade, auto-estima, perturbação de Stress pós-traumático,
ideações suicidas, abuso de álcool e outras drogas, tentativas de suicídio e suicídios
consumados.
Também a escala de optimismo LOT apresenta boa consistência interna, sensibilidade,
validade factorial e concorrente. Na análise confirmatória de componentes principais
identificámos os 2 factores da escala LOT: optimismo e pessimismo. Verificamos que a
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
59
estrutura subjacente desta escala é similar à original (Scheier & Carver, 1985) in (Pais
Ribeiro, 2006).
Com este tipo de instrumentos, é possível conhecer a forma como a população policial em
Portugal percepciona o Stress e de que forma o optimismo pode influenciar esta percepção.
Deste modo pode-se contribuir para a identificação e implementação de estratégias de
coping adequadas para lidar com os stressores específicos desta profissão. No mesmo
sentido a escala BPOS (Garcia, Gu & Nesbary, 2004) pode ser um contributo para
identificar o Stress policial na sua especificidade, no contexto Policial português.
Neste estudo verificámos que os itens: “colegas serem feridos ou mortos”; “sofrer grave
agressão física no trabalho” e “Exposição à morte” são percepcionados pelos sujeitos como
os acontecimentos que envolvem mais Stress, respectivamente o 1º, 3º e 4ºs maiores
stressores, o que é consistente com os estudos revistos na literatura (Sewell, 1998;
MacCraty et al. 1999; Mayew 2001; Garcia, Gu & Nesbary, 2004). Estes dados reforçam a
ideia de que existe uma percepção forte entre os sujeitos das elevadas probabilidades destes
acontecimentos ocorrerem.
Em Portugal e segundo o Relatório de Segurança Interna de 2005, as agressões a agentes
policiais aumentaram 9,6%. Tal como no estudo de Garcia, Gu & Nesbary (2004), no
nosso estudo os itens que pontuaram mais alto na percepção de Stress dos sujeitos foram os
relativos a colegas ou a situações críticas no exercício das funções policiais.
A possibilidade de morrer ou sofrer uma agressão física no exercício das funções,
diferencia a função policial de todas as outras profissões. Por outro lado, é significativa a
diferença nos EUA e em Portugal da percepção de Stress face à “exposição à morte”. Esta
diferença pode estar relacionada com diferenças culturais face à representação da morte.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
60
Este stressor aparece no nosso estudo colocado em 3º lugar como item causador de Stress,
no estudo original ficou posicionado no 9º lugar.
Segundo Serra (2003) após a exposição do sujeito a um acontecimento traumático desta
natureza, pode ocorrer um distúrbio de Stress Pós-Traumático. A forma como ocorrem e
são processados os acontecimentos, determinam as consequências no sujeito ao nível
psicológico e físico. Estes acontecimentos podem ser: problemas diários considerados
benignos e de resolução imediata; situações pontuais indutoras de Stress, as quais
provocam um desgaste psicológico delimitado até o problema ser resolvido; situações
indutoras de Stress crónico cujo desgaste psicológico se prolonga no tempo, até ficarem
resolvidas.
A função policial é rodeada de grande incerteza no dia-a-dia, sendo verdade que um dia
nunca é igual a outro para os sujeitos que desempenham funções operacionais. Para os
elementos policiais muitas das decisões são “tomadas na hora”, normalmente quando as
questões estão num grau de elevada conflitualidade ou em situações de crise pode muitas
das vezes haver necessidade do uso a força. A decisão tomada na hora é um dos stressores
típicos da actividade policial. O grau de incerteza que rodeia estes eventos, segundo
Martens (1987) in Weinberg & Gould (1995) pode exponenciar o Stress e a ansiedade.
Segundo o mesmo autor, cada sujeito responde de maneira distinta aos estímulos sendo
para isso determinante a personalidade do sujeito nomeadamente, o traço de ansiedade, a
auto-estima e optimismo.
Relativamente à “crítica da opinião pública à Polícia” este stressor surge no nosso estudo
colocado em 9º lugar entre os 21 itens da escala. A crítica pública é um elemento stressor
da sociedade actual, relacionado com o acesso público à informação sendo algumas vezes
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
61
usado como forma de ganhos políticos ou pessoais. No estudo de Garcia, Gu & Nesbary
(2004), a crítica pública à Polícia surge como o segundo maior stressor, o que denota a
importância que os media têm na actividade policial nos EUA e a pouca agressividade
comparativa dos media portugueses em relação às Polícias. Contudo, os media e outros
stressores, tais como outros grupos sociais têm vindo a desempenhar um crescente
escrutínio face à função Policial em todas as sociedades ocidentais e estão cada vez mais
presentes.
O horário de “trabalho por turnos” representa um stressor indissociável das “exigências
familiares”. Para além do trabalho por turnos, os polícias portugueses na sua grande
maioria, desempenham também serviços remunerados (i.e., actividade policial paga por
entidades externas à PSP) de forma a colmatar os ordenados. Estes serviços representam
uma maior ausência do seio familiar além de um acréscimo de cansaço dos agentes,
coincidindo muitas vezes com horários nocturnos, com períodos de descanso de apenas 4
horas. Segundo McCraty et al. (1999), a alteração do ritmo circadiano resulta muitas das
vezes em alterações alimentares (com implicações nos níveis de colesterol e glicemia),
perturbações do sono e fisiológicas, fadiga, irritabilidade, diminuição dos índices de
atenção e de concentração.
Objectivo 2 Relativamente à diferença entre os grupos etários e Stress não foram verificadas diferenças
significativas nos grupos etários. O grupo etário entre os 21/30 anos foi o que apresentou
um nível de Stress percepcionado mais elevado, e o grupo etário com mais de 40 anos foi o
que apresentou um nível de Stress percepcionado menos elevado o que é consistente com
os estudos revistos. Segundo Niederhoffer (1967) in Cimbura (1999) nos primeiros anos de
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
62
carreira, quando os sujeitos são mais novos, é expectável que os níveis de Stress sejam
mais elevados. Os elementos policiais nesta fase contactam com uma realidade muito
diferente da que estavam habituados e o que aprenderam na academia/escola de Polícia é
diferente no contacto com essa mesma realidade. De acordo com o mesmo autor, os
agentes deparam com situações de elevado impacto emocional a que não estavam
habituados tais como, o contacto com pessoas feridas ou mortas, motivando muitas vezes a
percepção de que o contacto com o trabalho lhe está a diminuir os recursos, surgindo a
noção de que não é capaz nem tem capacidade para executar as tarefas.
Niederhoffer (1967) refere que nos agentes policiais com mais de 20 anos de carreira (mais
velhos) o papel profissional está completamente internalizado e consequentemente as
preocupações vão-se atenuando com a aproximação da reforma. Como resultado, o receio
de maus desempenhos ou de fracasso profissional são mínimos implicando um decréscimo
dos níveis de Stress.
No que diz respeito à relação Stress/grupos profissionais (função desempenhada) foram
verificadas diferenças significativas entre os elementos adstritos ao Trânsito e os elementos
da Investigação Criminal, sendo os primeiros os que percepcionam níveis mais elevados de
Stress na 2ª Dimensão “Situações críticas da natureza da função”. Os elementos da
Investigação Criminal são o grupo profissional com os níveis de percepção Stress mais
baixo nas três dimensões, e os elementos do Trânsito são o grupo profissional com os
níveis de percepção de Stress mais elevados. Segundo Garcia, Gu & Nesbary (2004), a
percepção de Stress varia por diversos factores sendo a área de actuação, uma dessas
variáveis. No contexto português e no que diz respeito ao nosso estudo, os três grupos
profissionais distinguem-se em termos de actuação, sendo o de Investigação o que mais
diverge dos outros grupos. O processo de selecção é mais criterioso e usualmente os
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
63
elementos que ocupam estes lugares são tidos como os mais aptos para situações de
elevado stress e de competência técnica, o que poderá resultar num aumento da auto-estima
destes em relação aos seus pares.
Objectivo 3 Relativamente à antiguidade/Stress verificou-se que os elementos que percepcionam
maiores níveis de Stress são os sujeitos entre os 11/15 anos de serviço, sendo seguidos
pelos mais novos, entre os 1/10 anos de serviço e por último colocam-se os sujeitos com
mais de 20 anos. Existem diferenças significativas nos sujeitos entre os 11/15 anos e os
sujeitos entre os 16/20 anos no que diz respeito à 2ª Dimensão “Situações críticas da
natureza da função”. Segundo Niederhoffer (1967) in Cimbura (1999), entre os 1 e 15 anos
de serviço, nos elementos policiais ocorre a adaptação do agente ao papel e à realidade
com elevados níveis de insegurança relativamente às capacidades técnicas e pessoais para
lidar com as ocorrências. Já na fase final deste período ocorre o que o autor denomina de
“Desencantamento” que se caracteriza pela noção de que o treino e aprendizagem na
academia/escola não correspondem em nada ao que encontraram na realidade. Surge ainda
a decepção e a angústia pela forma como são tratados pela população e pela organização.
Os sujeitos mais velhos, segundo o mesmo autor, internalizaram o papel policial e os níveis
de Stress diminuem à medida que a reforma se aproxima. Refira-se que no contexto
português e em regra após o curso de formação os elementos policiais não praticam
desporto ou defesa pessoal, a não ser por sua iniciativa. Relativamente ao tiro, realizam
esta prática apenas uma vez por ano, existindo muitas situações em que estão vários anos
sem praticar. Estes défices de formação são condições favoráveis à quebra do sentimento
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
64
de competência e capacidade para intervenções de risco, aumentando os níveis de
ansiedade nestes acontecimentos e prejudicando o resultado final.
Em relação ao género/Stress, verificamos que as mulheres têm maiores níveis de Stress
percepcionado, existindo diferenças significativas na 3ª Dimensão “Situações
percepcionadas como injustas”. Segundo Van de Poel in Austin (1981) uma das maiores
fontes de Stress sentidas pelos agentes do sexo feminino, é a atitude em relação a elas por
parte dos seus colegas do sexo masculino. De acordo com Aberdeen (1987) e Swan (1990),
as mulheres sofrem um risco acrescido de agentes stressores porque têm necessidade de se
adaptar a um meio essencialmente masculino.
Objectivo 4 No que diz respeito à relação optimismo/Stress verificamos que existe uma correlação
negativa entre o Stress total, as três dimensões de Stress da BPOS e o Optimismo, ou seja,
quanto maior o nível de optimismo menor o nível de Stress percepcionado. Estes
resultados são concordantes com os estudos revistos.
No nosso estudo constatamos que os sujeitos mais optimistas em relação ao género, são as
mulheres. Em relação ao tempo de serviço/antiguidade, são os sujeitos com 16/20 anos de
serviço, os que revelam maior optimismo e os que revelam menor optimismo os sujeitos
com mais de 20 anos. Em relação à idade os sujeitos mais optimistas são os com idade
entre 31/40 anos e os menos optimistas os do grupo etário 21/30 anos. Estes dados são
diferentes dos obtidos por outros estudos (Roberg et. al. 2000; Garcia, Gu & Nesbary,
2004) que referem ser os sujeitos mais novos os mais optimistas. Este contradição pode
estar fundamentada por várias hipóteses, uma delas reside no facto de que actualmente os
agentes em início de carreira na PSP viram defraudadas algumas expectativas de
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
65
progressão com a alteração do estatuto da PSP. Os agentes actualmente só ascendem ao
posto imediatamente a seguir (agente principal) através de concurso e disponibilidade, o
que não acontecia anteriormente podendo significar um atraso na progressão que pode
demorar muitos mais anos.
Na relação função/optimismo verificamos que, o grupo mais optimista é o da Investigação
Criminal e o menos Optimista o grupo com funções de Trânsito. Verifica-se também que
nestes dois grupos profissionais e como já havia sido descrito, o grupo da Investigação é o
que percepciona menores níveis de Stress. Estes dados são consistentes com os estudos
anteriores (Sheier & Carver, 1991; Aspinwall & Taylor, 1992) que referem que a um
elevado optimismo se associa um nível de Stress mais baixo. A um baixo optimismo está
associado segundo estes autores, maiores níveis de depressão, baixa auto-estima e maior
hostilidade.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
66
5. CONCLUSÕES
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
67
Os resultados do presente estudo indicam que a generalidade dos sujeitos tem a percepção
de que existem fortes probabilidades de ocorrerem incidentes críticos. A ocorrência destes
acontecimentos pode representar em muitos casos o desenvolvimento de quadros
patológicos, nomeadamente de Perturbações de Stress Pós-Traumático, Perturbações do
Sono, da Ansiedade e de Quadros Depressivos. Neste estudo, verificou-se que o optimismo
tem uma correlação negativa com a percepção de Stress e que desta forma a um baixo
optimismo estão associados maiores níveis de Stress.
Os dados obtidos têm implicações clínicas para os psicólogos que trabalham com as forças
policiais, mas também para os comandos da Policia e para as escolas/academias que são
responsáveis pela formação destes profissionais.
Torna-se necessário o desenvolvimento de um modelo mais integrativo entre a psicologia e
a população policial de forma a fornecer aos elementos policiais o acompanhamento que
estes sujeitos necessitam e merecem.
O trabalho conjunto representará: 1) a criação de estratégias de alerta para sintomas e
vulnerabilidades decorrentes da exposição a incidentes críticos 2) a redução do estigma
associado à necessidade de procurar ajuda e aconselhamento clínico quando existe
sofrimento psicológico 3) e finalmente a criação de estratégias de coping adequadas para
lidar com o Stress, nomeadamente ao nível: da prática de desporto, do treino policial (mais
regular), do aumento das competências interpessoais. Estas estratégias terão como
resultado um aumento dos níveis de auto-confiança.
Para os agentes policiais a percepção de controlo pode ser um elemento necessário e
indispensável para lidar com os acontecimentos do dia-a-dia no decorrer da actividade
policial. Se existir a percepção de que o treino para o desempenho da função e o
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
68
equipamento de que dispõem é o adequado para fazerem face às situações críticas com que
se deparam, provavelmente a percepção de Stress relativamente a situações ameaçadoras
da integridade física tenderá a diminuir. A exposição repetida a situações consideradas
difíceis onde exista uma sensação de controlo pode reforçar o sentimento de que os
acontecimentos podem ser mais facilmente resolvidos. Por outro lado, se os sujeitos não se
sentirem confiantes no desempenho da sua actividade e não existir um sentimento do
controlo da situação, o sujeito pode percepcionar muitas das ocorrências como
ameaçadoras da sua segurança e da própria vida, podendo significar o aumento da
ansiedade e o desenvolvimento de sintomas associados ao Stress patológico.
5.1. Contribuição para a abordagem clínica
Os resultados deste estudo não levantam questões clínicas de fundo, no entanto o mais
importante será o reconhecimento por parte dos departamentos clínicos e policiais da
percepção que os sujeitos têm dos stressores e a forma como se poderá intervir.
Como foi dito anteriormente, a cultura policial reforça a negação das emoções, mesmo na
presença da morte e do sofrimento. Muitos dos sujeitos em sofrimento não procuram
tratamento com receio de serem rotulados de fracos ou de incapazes para lidar com a
actividade policial. Segundo Gersons, (1989) muitos dos polícias admitem que a
manifestação de sintomas associados ao Stress é contraditória com a identidade e cultura
policial.
É da responsabilidade dos departamentos policiais o reconhecimento de que a exposição a
determinados stressores, nomeadamente os de elevada intensidade emocional, podem
conduzir a perturbações psicológicas graves e neste sentido encaminharem e encorajaram
os sujeitos para a utilização dos serviços de Psicologia. Isto significa não apenas a criação
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
69
de serviços acessíveis, disponíveis e confidenciais, mas também assegurar que os
psicólogos clínicos e de aconselhamento não são os mesmos que dão formação e efectuam
o recrutamento.
5.2. Limitações
Uma limitação deste estudo relaciona-se com o facto de os participantes não serem
representativos da população geral da PSP, uma vez que o estudo foi apenas efectuado na
PSP de Almada.
5.3. Sugestões e Futuras investigações
A tradução e aplicação exploratória da BPOS (Boston Police Officer Survey) numa amostra
de Polícias portugueses, permite alargar o leque de instrumentos que avaliam o stress
específico desta população. Futuras investigações deverão aprofundar a relação entre o
Stress e o Optimismo nas forças de Segurança, avaliando as diferenças e as relações entre
áreas de actuação geográfica, função desempenhada e outras variáveis como por exemplo:
a frequência de incidentes críticos, acontecimentos de vida negativos, estratégias de
coping, e prática de actividade física, como forma complementar de preparação para este
tipo de actividades.
Acreditamos, contudo, que o presente estudo contribui de forma significativa para a
abertura de novas linhas de investigação psicológica no contexto Policial português.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
70
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Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
75
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
76
ANEXOS
ANEXO I
(itens do questionário BPOS)
Police Officer Stressors Job-Organizational & External
1. Fellow officers being injured or killed
2. Public criticism of police
3. Family demands
4. Making important on-the-spot decisions
5. Fellow officers not doing their job
6. Responding to a felony in progress
7. Incompatible partner
8. Job conflict with rules (i.e., by the book vs.the situation)
9. Exposure to death
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
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10. Sustaining a serious physical injury on the job
11. Threat of lawsuit
12. Situations requiring use of force
13. Assignment of increased responsibility
14. Transfer to another assignment area
15. Department/unit reorganization
16. Promotion competition
17. Racial conflicts
18. Subject of internal affairs investigation
19. Shift work
20. Undercover work
21. Personal thoughts of suicide
ANEXO II
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
78
(questionário em português)
Quase tudo pode ser uma fonte de Stress (para alguém) num dado momento, e os
indivíduos apercebem-se das fontes potenciais de Stress de formas diferentes.
A pessoa que diz que está muito stressada, geralmente quer dizer que tem muito trabalho
ou que se sente muito agitado perante uma situação que o perturbou ou perturba. Mas isto é
só parte do cenário.
Os itens em baixo são potenciais geradores de Stress, relacionados com o exercício da sua
atividade profissional. É-lhe pedido que os classifique, relativamente ao grau de
intensidade sentido durante os últimos 12 meses, perante determinadas situações.
Por favor responda colocando um círculo no número correspondente à intensidade
de stress sentido perante a situação indicada. A escala de resposta varia entre 1 e 7, sendo
que a cada número corresponde o seguinte grau:
1 2 3 4 5 6 7
Nenhum Muito pouco Pouco stress Mais ou Algum Muito stress Máximo
Solicitamos a sua colaboração, para um trabalho que estamos a realizar no âmbito da
disciplina de Projecto Profissional sobre Percepções e Fontes de Stress em
profissionais de Polícia da PSP.
Não existem respostas erradas, apenas pedimos que seja o mais honesto possível nas
respostas.
As respostas dadas são anónimas (não terá que se identificar) e confidenciais
(não serão reveladas individualmente a ninguém) e destinam-se exclusivamente a fins
de investigação. Não existem respostas certas ou erradas, mas apenas pontos de
vista pessoais.
Por favor, certifique-se de que responde a todas as afirmações do questionário
assinalando uma só resposta por cada afirmação na folha de respostas, de forma a
validar a sua participação neste estudo.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
79
stress menos stress stress
Durante os últimos doze meses, perante esta(s) situação(es) senti a seguinte intensidade
de Stress:
Por favor indique o grau em que concorda ou discorda que cada uma das seguintes frases
representa a sua maneira de pensar
1.Colegas serem feridos ou mortos 1 2 3 4 5 6 7
2.Crítica da opinião pública à Polícia 1 2 3 4 5 6 7
3.Exigências familiares 1 2 3 4 5 6 7
4.Tomar decisões importante na hora 1 2 3 4 5 6 7
5.Colegas que não fazem o seu trabalho 1 2 3 4 5 6 7
6.Dar resposta a um crime em curso 1 2 3 4 5 6 7
7.Parceiro/colega incompatível 1 2 3 4 5 6 7
8.Conflito de trabalho por causa de regras (ou seja,
regulamento vs situação)
1 2 3 4 5 6 7
9.Exposição à morte 1 2 3 4 5 6 7
10.Sofrer uma grave agressão física no trabalho 1 2 3 4 5 6 7
11.Ameaça de processo judicial 1 2 3 4 5 6 7
12.Situações que requerem o uso da força 1 2 3 4 5 6 7
13.Tarefa com/de responsabilidade acrescida 1 2 3 4 5 6 7
14.Transferência para outra área de trabalho 1 2 3 4 5 6 7
15.Reorganização do Departamento/Unidade 1 2 3 4 5 6 7
16.Concurso para progressão 1 2 3 4 5 6 7
17.Conflitos raciais 1 2 3 4 5 6 7
18. Ser objecto de investigação interna (processo) 1 2 3 4 5 6 7
19.Serviço por turnos 1 2 3 4 5 6 7
20.Trabalho à paisana/sob disfarce 1 2 3 4 5 6 7
21.Pensamentos intímos/pessoais sobre o suicídio 1 2 3 4 5 6 7
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
80
Concordo
totalmente
concordo
neutro
discordo
Discordo
totalmente
Sinto-me sempre optimista
acerca do meu futuro(O)
Em momentos de incerteza,
eu espero sempre o melhor
(O)
Se houver a mínima hipótese
de alguma coisa de mal me
acontecer, tenho a certeza que
me acontecerá,(P)
Para mim é fácil relaxar (D)
Quase nunca espero que as
coisas vão correr como eu
quero(P)
Gosto muito de estar com os
meus amigos(D)
É importante para mim estar
ocupado(D)
Raramente espero que me
aconteçam coisas boas(P)
Não me chateio facilmente(D)
Em geral espero que me
aconteçam mais coisas boas
do que más(O)
DADOS PESSOAIS:
Por favor, responda a cada uma das opções, preenchendo na folha de respostas a resposta
que melhor se aplica a si.
Percepções de Stress e Optimismo em Profissionais da Polícia de Segurança Pública
81
1) Sexo:
Masculino Feminino
2) Serviço que desempenha:
Investigação Criminal
Esquadra
Trânsito
3) Idade ________
4) Tempo de serviço ________
OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO
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