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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
HOSANA LARISSA GUIMARÃES OLIVEIRA
POLÍTICAS PÚBLICAS EM ESPORTE E LAZER EM ALAGOINHAS:
maneiras de ver e fazer da gestão 2001-2008
ALAGOINHAS 2009
1
HOSANA LARISSA GUIMARÃES OLIVEIRA
POLÍTICAS PÚBLICAS EM ESPORTE E LAZER EM ALAGOINHAS: maneiras de ver, maneiras de fazer da gestão 2001-2008
Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade do Estado da Bahia - UNEB, Campus II, Alagoinhas, como requisito parcial para obtenção de grau de Licenciado em Educação Física, sob orientação do Prof.º Ms. Luiz Carlos Rocha.
ALAGOINHAS 2009
2
Ao meu orientador vitae Luiz Carlos Rocha.
3
AGRADECIMENTOS
Aos responsáveis pela minha existência, carinhosamente painho e mainha, que
nutriram meu sonho desde sempre e que fizeram de um tudo para que eu chegasse
aqui.
Também a minha irmã querida, Tássia Laís, que não permitiu que o meu vazio
em casa fosse tão doloroso.
Ao meu porto seguro, Milton Galdino, que além de namorado, noivo e melhor
amigo foi a solução de todos os meus problemas, tornando-se essencial em minha
vida.
A toda a minha família que esteve presente, apoiando e torcendo pelas minhas
conquistas.
Ao meu orientador para toda vida, Luiz Carlos Rocha, cuja dedicação,
compromisso e competência são indizíveis. E a ele pertencem muitos dos méritos
deste estudo.
A todos os meus professores, que se dispuseram a compartilhar e a construir
conhecimentos, e que sem a contribuição deles seria impossível chegar até aqui.
Aos colegas da Universidade, em especial a equipe inseparável de todo o curso,
Anne, Bete, Leidiane e Suelen.
A todos os funcionários da UNEB, em particular Monalisa e Dejane,
companheiras do pós-aula na Universidade.
E aos velhos e novos amigos, em especial Véu, Cássio e Leidinha, a quem eu
tenho muito a agradecer pela acolhida, pela disponibilidade, pelo carinho, pela amizade
e pelos sorrisos que colocaram em meu rosto.
4
A utopia é uma tensão permanente daquilo que é posto como medida final, como imutável. É para isso que serve a utopia. A utopia é que nos ajuda a afirmar os princípios da igualdade, solidariedade e a gene-rosidade humana.
Frigotto (1999, s/p)
5
RESUMO
O presente trabalho se propôs a estudar a concepção de políticas públicas que norteou a ação dos gestores públicos em Alagoinhas, entre 2001-2008. Tendo como objetivos discutir quais os parâmetros que guiaram a gestão do esporte e lazer na cidade, analisar os dados acerca do Ordenamento Legal municipal, estabelecendo relações com a legislação nacional vigente e o Sistema Nacional de Esporte e Lazer e suas implicações nas ações do poder público e mapear os projetos e programas existentes neste campo. Trata-se de uma pesquisa que tomou a dialética como referência para o entendimento da realidade, utilizando como instrumento de levantamento de dados a entrevista semiestruturada e a análise documental, valendo-se da análise do discurso para interpretação dos dados. Ficou evidenciado que na gestão investigada os ideais estiveram bem distantes da realidade concreta, assim como, as ações do esporte e lazer na cidade estiveram para o Sistema Nacional do Esporte e Lazer, trazendo problemas na elaboração e execução de políticas públicas para efetivação deste direito social. Palavras chave: Políticas Públicas, Esporte, Lazer, Gestão.
6
LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS
BA - Bahia
CMEL- Conselho Municipal de Esporte e Lazer
CNPq -
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico
FAPESB - Fundação de Amparo ao Pesquisador da Bahia
FFPA - Faculdade de Formação de Professores de Alagoinhas
GEPEFEL -
Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Física Esporte
e Lazer
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
OP - Orçamento Participativo
PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
SECEL - Secretária Municipal de Cultura, Esporte e Lazer
SESC - Serviço Social do Comércio
SESI - Serviço Social da Indústria
UFBA - Universidade Federal da Bahia
UNEB - Universidade do Estado da Bahia
7
LISTA DE QUADROS
Quadro I - Ações da SECEL voltadas ao esporte e lazer, em 2005
Quadro II - Ações da SECEL voltadas ao esporte e lazer, em 2006
Quadro III - Ações da SECEL voltadas ao esporte e lazer, em 2008
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 10
2 O ESPORTE MODELADO PELOS CONTEXTOS SOCIAIS 14
3 LAZER: Ocorrências Históricas, Concepções e Educação 20
4 POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER: Um caminho em
construção
27
4.1 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER FRENTE AO
ORDENAMENTO LEGAL
33
4.2 A GESTÃO MUNICIPAL DO ESPORTE E LAZER 38
4.3 PARTICIPAÇÃO CIDADÃ: Legitimidade nas ações 45
5 O CAMINHO PERCORRIDO 54
6 DISCUTINDO A GESTÃO DO ESPORTE E LAZER EM ALAGOINHAS 58
6.1 ANALISANDO O DISCURSO 59
6.1.1 A concepção de políticas públicas na visão da gestão municipal 60
6.1.2 Projetos e Programas: desafios e limites da cidadania 62
6.1.3 Ordenamento Legal: implicações para realização de políticas
públicas de esporte e lazer
65
6.1.4 A política de financiamento para o esporte e lazer em foco 66
6.1.5 A política de formação de quadros para atuação no esporte e lazer 69
6.1.6 Possibilidades e Desafios da Gestão no âmbito do esporte e lazer 71
6.2 O QUE OS DOCUMENTOS REVELAM 73
6.3 A CIDADE E SUAS LEIS 79
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 83
9
REFERÊNCIAS
APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista – Poder Executivo
ANEXO A – Lei Orgânica do Município de Alagoinhas
10
1 INTRODUÇÃO
A relação com a temática deste estudo surge a partir da criação do Grupo de
Estudos e Pesquisas em Educação Física Esporte e Lazer – GEPEFEL/ CNPq, da
Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus II, Alagoinhas, quando fomos
oportunizados a iniciar nossa trajetória científica dentro da linha de pesquisa
Ordenamento Legal e Políticas Públicas de Esporte e Lazer e da aprovação do projeto
de pesquisa “A „CIDADE ILEGAL‟: O ordenamento Legal no âmbito do lazer e esporte”,
que possibilitou a Iniciação Científica pela FAPESB.
Ao mesmo passo em que as experiências vividas iam fortalecendo nossa
formação acadêmica e humana, o maior contato com a literatura permitia-nos a
ampliação do olhar sobre as políticas públicas de esporte e lazer. E então,
começávamos a perceber lacunas, tanto no que diz respeito ao estudo sobre a nossa
realidade local, quanto nas ações referentes ao cenário nacional.
Uma dessas inquietações diz respeito à concepção de políticas públicas de
Esporte e Lazer que nortearam as ações dos gestores públicos do período de 2001 -
2008 no município de Alagoinhas – BA, e constitui-se como objeto de estudo do
presente trabalho.
A cidade de Alagoinhas está situada a 120 km de Salvador, possui uma
população de 132.725 habitantes (IBGE, 2007), em uma área de 734 km². Sendo a
maior e mais desenvolvida cidade do Território 18, Agreste de Alagoinhas/Litoral Norte,
tornou-se não somente um pólo comercial e industrial, mas também a referência em
saúde e educação: possui os maiores hospitais e clínicas da região, várias faculdades
particulares e o segundo maior campus universitário da UNEB, o Campus II, instalado
desde 1979, ainda com a denominação de Faculdade de Formação de Professores de
Alagoinhas - FFPA. O município também tem relevância política, não somente pela sua
estrutura sócioeconômica e acadêmica, mas, sobretudo, pelo que representa para a
região por ter o maior colégio eleitoral do território. A cidade também veio
experimentado novas práticas, no sentido da consulta à sociedade para o
direcionamento de ações do poder público, e desta forma, passa a ser, além de um
pólo político, um espaço privilegiado de políticas públicas com amplas possibilidades de
11
irradiação de suas experiências bem sucedidas para os municípios circunvizinhos.
Sabe-se, portanto, que a partir da implantação das políticas neoliberais no país,
há uma menor participação do Estado na sociedade e uma minimização na esfera dos
direitos sociais, comprometendo as ações no campo da educação, da saúde, da
segurança pública e também do esporte e lazer.
Com isso, percebe-se que a importância que o esporte e lazer estão ganhando
nas últimas décadas, enquanto objeto de reivindicação e problema social, não vem
sendo acompanhado de uma ação ativa e positiva do poder público (MARCELLINO,
1996), o que acaba deixando lacunas nessa área.
Deste modo, esta pesquisa justifica-se pela crescente demanda evidenciada no
esporte e lazer no âmbito das cidades, sobretudo como forma de assegurar o direito
constitucional de acesso a essas práticas.
E sendo o município o espaço onde essas atividades se materializam é de
grande relevância identificar como anda este processo na própria cidade. Além disso, o
levantamento de dados através da pesquisa também abre a possibilidade de
discutirmos de maneira mais aprofundada a necessidade de criação de um Sistema
Estadual de Esporte e Lazer, que articulado com o sistema nacional, possa dar conta
das demandas que estão colocadas para os poderes executivos e legislativos, além de
permitir o estabelecimento de diretrizes norteadoras para as políticas públicas de
esporte e lazer no município estudado.
Tomando como base o exposto, buscaremos na presente investigação
responder alguns questionamentos referentes a nossa realidade: Qual a concepção de
políticas públicas de Esporte e Lazer que nortearam as ações dos gestores públicos em
Alagoinhas no período 2001-2008? Como está configurado o aparato legal municipal
de esporte e lazer e quais as relações estabelecidas com a Política Nacional do
Esporte?
Partimos do princípio de que o Esporte e o Lazer são direitos sociais previstos na
Constituição Federal de 1988, que deve ser garantido pelo poder público local, através
da organização legislativa e da elaboração e execução de políticas públicas, e de que a
maioria dos municípios do Estado da Bahia vem sofrendo com a falta de oportunidades
no âmbito das práticas corporais, sobretudo, as relacionadas ao esporte e lazer, pela
12
ausência de ações do poder público.
Presume-se também, que a concepção de políticas públicas de esporte e lazer
ainda é restrita, resultando em ações centralizadas e distantes da realidade local; os
recursos humanos não são devidamente preparados para desempenhar suas
atividades e logo, para o desenvolvimento de projetos e programas; o orçamento
destinado ao esporte e lazer é limitado e, portanto, dificulta o atendimento as
demandas da população; e que no âmbito municipal não existe um ordenamento legal
que esteja vinculado ao Sistema Nacional de Esporte e Lazer.
Sabe-se, portanto, que para as políticas públicas alcançarem seu verdadeiro
papel dentro da sociedade precisam estar pautadas em princípios como a democracia,
a participação cidadã, a transparência e a sustentabilidade, para que desta forma
consigam atender as reais necessidades sociais.
Este trabalho tem como objetivos discutir quais os parâmetros que nortearam as
ações do poder público no âmbito do esporte e lazer da gestão pesquisada; analisar os
dados acerca do Ordenamento Legal municipal, estabelecendo relações e discussões
com a legislação nacional vigente e o Sistema Nacional de Esporte e Lazer e suas
implicações nas ações do poder público e mapear os projetos e programas existentes
no campo do esporte e lazer na cidade investigada.
Para tanto, estabelecemos diálogos com os gestores públicos vinculados às
Políticas Públicas de Esporte e Lazer do município de Alagoinhas, realizamos o
mapeamento e análise de projetos e programas existentes no âmbito do esporte e lazer
dessa gestão, e fizemos o levantamento dos dados acerca do Ordenamento Legal
municipal, estabelecendo análises e discussões com a legislação nacional vigente e o
Sistema Nacional de Esporte e Lazer.
No intuito de trazer respostas às questões colocadas, foram desenvolvidos seis
capítulos. O primeiro, O Esporte modelado pelos contextos sociais, discorremos sobre
a gênese do esporte, sua mercadorização a partir do capitalismo, e sua hegemonia
enquanto atividade de lazer.
No segundo, intitulado Lazer: Ocorrências Históricas, Concepções e Educação,
diz respeito as ocorrências do Lazer numa perspectiva histórica e social, as diferentes
abordagens e conceitos do mesmo, e algumas visões da sua relação com a educação.
13
O terceiro capítulo, Políticas Públicas de Esporte e Lazer: um caminho em
construção, as políticas públicas de esporte e lazer são discutidas de uma forma mais
geral, sendo criados mais três subcapítulos, para abordar questões mais específicas:
As Políticas Públicas de Esporte e Lazer frente ao Ordenamento Legal, no
qual se procura fazer um apanhado do aparato legal nacional de esporte e
lazer e entender como está sistematizada a atual Política Nacional do Esporte;
A Gestão Municipal do Esporte e Lazer, discutindo como estão configuradas
as gestões, a necessidade de inovações e as novas tendências de gestão
colocadas pelas Resoluções da II Conferência Nacional de Esporte;
Participação Cidadã: legitimidade nas ações, onde é abordada a importância
da gestão democrática e participativa para a efetividade e legitimidade das
ações do poder público.
No quarto capítulo, O Caminho Percorrido, estão colocados os referenciais
metodológicos adotados, e os procedimentos utilizados para o desenvolvimento do
estudo.
O quinto, se dedica a apresentação e discussão dos dados pesquisados. E por
fim, trazemos as Considerações Finais acerca das políticas públicas de esporte e lazer
na gestão investigada, apontando seus avanços, limitações e indicando algumas
proposições para mudança da realidade encontrada.
14
2 O ESPORTE MODELADO PELOS CONTEXTOS SOCIAIS
Quando se trata da gênese do esporte, encontramos na literatura duas
tendências que indicam a sua origem, teses as quais Bracht (2002) chamou de
continuidade e descontinuidade.
Para a primeira, tal manifestação cultural já existia desde a Antiguidade,
podendo ser identificada em jogos praticados por diferentes povos, desta forma, o
esporte não havia sido inventado, apenas ia ganhando novas características de acordo
com os diferentes contextos e momentos históricos. Os defensores dessa tese
acreditam que houve uma continuidade entre as práticas corporais antigas e as que
hoje identificamos como esporte, já que para os mesmos, as características essenciais
deste já estavam presentes nos jogos antigos, porém, as justificativas dessa afirmação
ainda configuram-se como superficiais.
A outra tendência que segundo Melo (2004) não necessariamente se contrapõe1
a esse entendimento da gênese do esporte, é a da descontinuidade, e atualmente a
mais aceita entre aqueles que estudam o fenômeno esportivo em seus aspectos
históricos e socioculturais. Nesta perspectiva, procura-se concebê-lo enquanto
fenômeno da modernidade, no qual aconteceram tantas transformações, que mesmo
ainda apresentando semelhanças com algumas práticas corporais antigas, tornou-se
possuidor de sentidos e significados suficientes para diferenciá-lo.
Para melhor entender como o “esporte moderno”2 se constituiu e como se tornou
um dos maiores fenômenos da atualidade, faz-se necessário discorrer sobre seu
processo de desenvolvimento e expansão a partir da sociedade capitalista inglesa.
Diferente das sociedades tradicionais, na qual as práticas corporais sempre
estavam ligadas a outras instituições como a religiosa e a militar, e eram realizados sob
a lógica destas, a partir do século XVIII, em consonância com o advento da própria
1 Sobre isto, Bracht (2005, p.96) afirma que “Isso não quer significar ausência absoluta de continuidade e, sim, que aspectos centrais dessa prática são novos”.
2 A expressão “esporte moderno” é utilizada, segundo Stigger (2005), por ambos os grupos, tanto os que defendem a tese da continuidade, quanto da descontinuidade. Ela é empregada para se referir ao esporte que teria surgido na Inglaterra e a partir dela se expandido para o mundo inteiro. Para aqueles que o defendem como uma criação a partir da sociedade moderna, a expressão é utilizada como forma de evidenciar o que estão se referindo.
15
sociedade moderna, iniciam-se dentro das escolas públicas inglesas, práticas corporais
que vão se constituir numa instituição própria e autônoma.
Tomando como base Bourdieu (1983), Stigger (2005) desenvolve um estudo
sobre a participação da instituição escolar, as public schools3, na mudança de papel e
sentido dos jogos da sociedade pré-capitalista. Explica que eram comuns as escolas
serem conhecidas pelos transtornos que possuíam, o que estava ligado também aos
jogos realizados de forma desordenada. Mas que a partir da introdução de um sistema
educacional rígido e escolarizado, os mesmos passaram a ser utilizados como forma
de controle da violência e formação de lideranças. Desta busca pela disciplina, foram
criadas as primeiras regras escritas.
Com isso, essas atividades deixam de estar relacionadas e dependentes de
outras, para assumir função própria, o que possibilitou a autonomização e
racionalização dessas práticas, tornando-se fatores cruciais para a difusão do esporte.
Pois, foi a partir da constituição de regulamentos específicos e mais tarde universais, e
de dirigentes e organismos especializados, que este processo pôde avançar. Outro
acontecimento que Bracht (2005) também considera importante para a
institucionalização do esporte, foi a formação de ligas e clubes esportivos, por parte
daqueles que queriam continuar vivenciando essas práticas, mesmo depois de terem
passado pelas escolas e universidades.
Como a origem do esporte moderno está intimamente ligada com a consolidação
do modo de produção capitalista e de um Estado burguês, ele também carregou os
conflitos sociais básicos deste tipo de sociedade, a do capital x trabalho. A classe
média emergente da época buscava o status social, pretendendo se aproximar da
classe mais alta e se distanciar das camadas populares. Essa tentativa se dava por
meio de diversas estratégias, merecendo destaque a educação escolar e os esportes
amadores, na qual as atividades eram realizadas pelo simples prazer de fazê-las, e
caracterizadas por certo desinteresse em seus fins. Desta forma, o ideário amadorista
era confrontado com o profissionalismo, e logo com a classe trabalhadora, já que este
3 Sobre este termo, Stigger (2005, p.17-18) esclarece que não convêm à tradução para o português, já que não significam escolas públicas, e sim “tipos peculiares de escolas em que estudavam jovens das classes altas, cujos pais pagavam pela sua educação, na maior parte das vezes, em regime de internato”.
16
último era considerado o esporte da classe social baixa, por necessitarem compensar
aquilo que deixavam de ganhar por se dedicarem àquelas práticas (BRACHT, 2005;
PRONI, 2002; STIGGER, 2005).
Se para a classe burguesa a prática do esporte a partir do amadorismo significou
a identificação como classe social, o acesso do esporte pelas camadas mais populares
expressou, para alguns autores como Walvin (1994 apud STIGGER, 2005), a conquista
do aumento do tempo livre pelos trabalhadores, que passou a ser ocupado pela
recreação organizada. Já para Melo (2004), esta foi uma forma de controle das
diversões desta classe, que viu suas manifestações populares perseguidas por uma
aliança estabelecida entre Estado, poder jurídico e religião, mas que não se consolidou
sem a resistência dessa camada da sociedade, e objetivou a criação de uma nova
cultura necessária ao estabelecimento do sistema fabril de produção, incorporando um
conjunto de valores e sensibilidades.
Com isso, à medida que o modo de produção capitalista ia se instalando e
consolidando no continente europeu e se expandindo para outros, estavam
estabelecidas as bases para a também concretização e difusão do sistema esportivo.
Brohm identifica alguns fatores que considera essenciais para o desenvolvimento do
esporte moderno, dentre eles:
(a) o aumento do tempo livre e o desenvolvimento do ócio (que ocupa um lugar de destaque na civilização do lazer);
(b) a universalização dos intercâmbios mediante os transportes e os meios de comunicação de massa (o esporte converte-se em “mercadoria cultural” graças à sua natureza cosmopolita);
(c) a revolução técnico-científica (que reflete-se na busca de eficiência corporal, nos novos materiais e equipamentos, inclusive no surgimento de novas modalidades esportivas);
(d) E a revolução democrática burguesa e o enfrentamento das nações no plano internacional (isto é, a dinâmica política ideológica) (BROHM,1976 apud PRONI, 2002, p. 39).
A partir dessa perspectiva, tem-se o esporte moderno como produto da
sociedade industrial, e que como Bracht (2005) ressalta, acaba incorporado as
características da mesma: o princípio do rendimento e da competição, a cientifização
do treinamento, a burocratização e especialização dos papéis, a pedagogização e o
17
nacionalismo. Desta forma, estavam estruturados os elementos para a
mercadorização4 do esporte, o qual este mesmo autor define como “a extensão da
lógica da mercadoria para o âmbito das práticas corporais (de lazer), tanto no sentido
do consumo de prestação de serviços (serviços e equipamentos) quanto na produção e
no consumo do espetáculo esportivo e de seus subprodutos” (BRACHT, 2005, p. 196).
A partir disso, este sistema passa a ser regido pela mesma lógica do capital: o
lucro. Ficando claro, a relação que o seu surgimento, desenvolvimento e expansão,
tiveram com o contexto da sociedade inglesa, que pela sua prosperidade, passava a
ser um modelo para as demais.
Não se pode desconsiderar também, o papel que os meios de comunicação
exerceram sobre este processo, notadamente a televisão, sendo fator essencial para a
expressão do esporte enquanto produto a ser consumido, o que o tornou mais tarde
numa verdadeira indústria. Segundo Melo (2004), se obtinha lucros por diversas
formas, com a venda dos ingressos, as apostas e a venda dos objetos esportivos. A
imprensa também lucrava vendendo espaços para propagandas e anúncios, e tinha
sua audiência aumentada durante a transmissão das competições, entre outros. O
objetivo, segundo Gebara (2002), estava na produção e no controle de eventos e
imagens do contexto do espetáculo. Seria um novo tipo de mercadoria, não mais
produzidas pelo trabalhador assalariado, mas pela mercantilização de símbolos e
signos de um fenômeno cultural possuidor de várias dimensões.
A constituição do campo esportivo enquanto mercadoria, trouxe mudanças
institucionais profundas dentro deste sistema, o que influenciou decisivamente na
forma como está configurado na atualidade. Bracht (2005) identifica algumas dessas
alterações: a diferenciação entre o esporte de alto rendimento ou espetáculo e o
esporte enquanto forma de lazer, e a sobrepujança da organização inicial em forma de
associativismo, para a forma empresarial. Alguns desses aspectos também são citados
por Gebara (2002, p.13), quando coloca que é evidente nesse processo, que a
instituição esportiva passou pelo “deslocamento da área do saber articuladas pelo lazer
4 Bracht (2005, p. 96) traz que normalmente se discute ou se entende esse processo, como sendo apenas no plano do esporte-espetáculo, advindo do aprofundamento do esporte profissional com sua vinculação aos meios de comunicação de massa.
18
e tempo livre, para aproximar-se do mundo do trabalho e da mercantilização”.
Desta forma, percebe-se uma desvalorização das práticas esportivas articuladas
com a dimensão comunitária e de integração social, enquanto que uma maior
importância é dada ao esporte como produto de consumo, cujos valores iam de
encontro ao seu entendimento como espaço de fortalecimento das relações sociais e
de questionamentos da ordem vigente, mas sendo condizentes com os ideais da
sociedade capitalista.
Por meio dessa dinâmica, e reforçado pelos ideais neoliberais, houve um
aprofundamento das privatizações dos serviços e espaços públicos que constituíam o
esporte como direito do cidadão, passando a ser direito do consumidor, superando a
visão antes instalada, na qual o mesmo era visto muito mais como programa de saúde.
Sendo a tendência mais geral, sob a justificativa do Estado Mínimo, o oferecimento de
equipamentos e programas esportivos por parte da iniciativa privada, deixando de ser
tarefa do próprio Estado (BRACHT, 2002), reforçando assim, a indústria do
entretenimento ou do lazer.
Sabe-se também, que o esporte é uma das principais formas de lazer da
população em geral, e dentro destas práticas é notável a hegemonia do futebol entre as
atividades de lazer. Este fato tem íntima relação com as articulações estabelecidas
entre a mídia e o sistema esportivo, pois o que se observa na grade de programação
dos meios de comunicação, é uma predominância de tempo destinada ao futebol,
ficando reservado um mínimo de tempo para outros esportes, ou até mesmo sendo
inexistente este espaço.
Neste sentido, Melo (2004) alerta para um dos problemas notáveis nessa
relação, que está no consumo pouco crítico deste fenômeno, tido como uma
manifestação supostamente ingênua, sendo necessário a superação dessa visão
estritamente ligada a um consumo despercebido, por uma que o traga em sua
complexidade de representações que devem ser identificáveis pelo público.
Esta discussão nos remete ainda a alguns questionamentos quanto a
“democratização” do esporte. Pois até que ponto podemos afirmar que este é acessado
por todos, quando é muito mais comum o seu consumo pelas mídias do que a sua
prática por parte da população? O outro, se refere a distribuição de bens e
19
equipamentos de esporte pela cidade, como garantir a amplitude de tais possibilidades
se normalmente o que temos são as ofertas restritas de quadras? Para Melo (2004)
cabe estarmos atentos para a necessidade de estimular a sociedade, a não só assistir
o espetáculo esportivo, mas também se permitir a vivenciar corporalmente as suas
diversas possibilidades de benefícios. Assim como, questionar as restrições e o
entendimento de que existiram práticas adequadas para cada classe social, sendo
necessário ampliar as possibilidades de vivência da população. E estimular para o
desenvolvimento de um senso, no qual as atividades esportivas no lazer devem adquirir
sentido e significados próprios, deixando de serem reféns do esporte espetáculo ou de
alto rendimento.
Levantado alguns pontos da relação existente entre esporte e lazer, faz-se
necessário ampliar as discussões deste último, já que também se constitui em um dos
nossos objetos de estudo. Para tanto, traremos a seguir algumas questões
relacionadas aos aspectos históricos do lazer, as diferentes concepções do mesmo e
sua relação com a educação, enquanto prática social.
20
3 LAZER: Ocorrências históricas, Concepções e Educação.
Os estudos relacionados as ocorrências históricas do lazer também diferem em
posições quanto ao seu surgimento, sendo perceptível nas duas visões, proximidades
com as discussões voltadas para a gênese do esporte.
Na análise que Gomes (2004a) desenvolve sobre as abordagens que discutem a
origem do lazer, tem-se o grupo que defende a sua existência desde as sociedades
antigas, evidenciando sua presença na vida social dos filósofos gregos, na meditação
dos romanos e na política do “pão e circo”, e até mesmo na Idade Média, quando os
poderes procuraram controlar as festas e os divertimentos do povo, tinha-se como
forma de protesto alguns ritos e espetáculos cômicos.
Do outro lado, estão os autores que defendem o lazer como um fenômeno típico
da sociedade moderna, que surge a partir das tensões presentes no contexto urbano e
industrial, sendo fruto da conquista dos trabalhadores pela diminuição da jornada de
trabalho.
Não há necessariamente uma rejeição entre essas visões, a contradição está no
enfoque de cada uma delas: “a primeira aborda a „necessidade de lazer‟, sempre
presente, e a segunda se detém nas características que essa necessidade assume na
sociedade moderna” (MARCELLINO, 2002, p. 54).
O que não se pode negar, é que as características que configuram o lazer como
o conhecemos na atualidade e que deram ao mesmo significação própria, são
atribuídas a mudança do modelo social e econômico tradicional para o moderno.
Em seu livro “Lazer, Trabalho e Educação”, Werneck (2000) faz um estudo sobre
o lazer, a partir de seu entendimento numa perspectiva histórica e social. Deste ponto
de vista, o lazer foi fruto das reivindicações da classe trabalhadora européia no
contexto da Revolução Industrial, quando só poderia ser experimentado se os
assalariados tivessem oportunidade para tais vivências, através da redução da jornada
de trabalho, das férias, feriados, etc. Foi neste momento que surgiram as
reivindicações por um tempo livre, e o lazer ganha um significado enquanto direito de
todos, por meio do estabelecimento de leis que garantissem o “tempo do não trabalho”.
Com isso, a questão do lazer passa a ter grande relevância social para a
21
burguesia. Mas a preocupação não estava em garantir os direitos adquiridos pelos
trabalhadores, e sim, em ofertar atividades de lazer como forma de compensar os
desgastes das jornadas de trabalho e principalmente, como meio de controle do tempo
livre da classe operária, para que esse tempo conquistado não viesse a fortalecer a luta
política por melhores condições de vida dessa camada da população. Desta forma,
Werneck (2000) coloca que o tempo do não trabalho reivindicado pelos assalariados
como um direito passou a ser não uma contraposição ao trabalho, mas uma
continuação do mesmo, sendo essencial para a manutenção dos interesses políticos,
econômicos e sociais vigentes.
Atualmente, o que se percebe, é que se o acesso ao trabalho e a educação se
encontram restritos, quando se trata do lazer, a limitação torna-se maior, pois
equivocadamente, passou a ser concebido enquanto um produto a ser consumido e
privilégio de poucos. Esta visão passou a ser difundida e ampliada pela descoberta de
um grande mercado promissor, tendo o lazer como essência, é a famosa indústria do
entretenimento, capaz de gerar lucros altíssimos para aqueles que detêm o poder. Daí
a importância de se buscar o sentido social do lazer, enquanto exercício de cidadania e
alternativas para o enfrentamento dos limites de nossa realidade (WERNECK 2000).
Assim como os diferentes enfoques dados aos seus aspectos históricos, no que
diz respeito as concepções de lazer, também não se percebe um acordo sobre seus
conceitos, que vão desde as definições mais restritas, até aquelas mais críticas e
abrangentes.
Tomando como base os estudos de Gomes (2004b) e Maffei (2004), traremos
algumas concepções de lazer na busca de conhecer suas proximidades e
particularidades. Começaremos com a perspectiva do estudioso Joffre Dumazedier,
sociólogo francês que mais influenciou as concepções brasileiras, definindo o lazer
como:
[...] um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais (DUMAZEDIER, 1983 apud MAFFEI, 2004, p. 13).
22
Essa concepção reduz o lazer à prática de determinadas atividades e coloca-o
como uma oposição ao trabalho. Como Gomes (2004b) afirma, nem sempre existem
fronteiras absolutas entre trabalho e lazer, assim como com as obrigações
profissionais, sociais, políticas, e religiosas. Estes possuem relações dialéticas e
também não vivemos numa sociedade neutra, desconectada umas das outras como
este conceito propõe.
Próximo ao conceito de lazer discutido, Maffei traz o de Camargo, que o define
como qualquer atividade que não seja profissional ou doméstica:
[...] um conjunto de atividades gratuitas, prazerosas, voluntárias e liberatórias, centradas em interesses culturais, físicos, manuais, intelectuais, artísticos e associativos, realizadas num tempo livre roubado ou conquistado historicamente sobre a jornada de trabalho profissional e doméstica e que interferem no desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos (CAMARGO, 1989 apud MAFFEI, 2004, p.47).
É uma visão bem generalista de lazer, porque engloba inúmeras atividades, visto
que exclui apenas as domésticas e as relativas ao trabalho, mas avança ao considerar
a conquista histórica do tempo livre pela redução da jornada de trabalho, apontando
relações hegemônicas envolvidas neste processo e ao considerar a influência dessas
práticas no desenvolvimento pessoal e social.
E, fundamentando-se nesse mesmo autor, assim como em Dumazedier, Requixa
(1980 apud GOMES, 2004b, 121-122) entende o lazer como “ocupação não
obrigatória, de livre escolha do indivíduo que a vive, e cujos valores propiciam
condições de recuperação psicossomática e de desenvolvimento pessoal e social”.
Percebe-se aqui a atribuição de um caráter funcionalista dado ao lazer, ao colocá-lo
como forma de recuperação, como compensação do desgaste físico e psicológico
proveniente das horas de trabalho.
Outro nome que atualmente tem sido muito citado nos estudos do Lazer é o de
Nelson Marcellino que o entende como:
[...] a cultura - compreendida no seu sentido mais amplo – vivenciada (praticada ou fruída) no tempo disponível. O importante como traço definidor é o caráter "desinteressado" dessa vivência. Não se busca, pelo menos fundamentalmente, outra recompensa além da satisfação
23
provocada pela situação. A "disponibilidade de tempo" significa possibilidade de opção pela atividade contemplativa (MARCELLINO, 1987 apud GOMES, 2004b, p.122. Grifos do autor).
Nesse aspecto da atividade contemplativa, o conceito de Marcellino é diferente
do de Dumazedier. Para o primeiro, o lazer é cultura, e não necessariamente precisa
ter uma intencionalidade. Para o segundo, o lazer é caracterizado pela atividade-fim,
pela ocupação com a intenção de recrear, de entreter. Mas ambos defendem a
necessidade de um tempo dedicado ao lazer, apesar de Marcellino defender que o
tempo social do lazer é caracterizado como tempo disponível e Dumazedier o definir
como tempo livre.
E um pouco mais recente, temos a concepção de Mascarenhas (2001 apud
GOMES, 2004b, p. 123-124) que entende o lazer como um “fenômeno tipicamente
moderno, resultantes das tensões entre capital e trabalho que se materializa como um
tempo e espaço de vivências lúdicas, lugar de organização da cultura, perpassando por
relações hegemônicas”. Apesar de trazer um aspecto predominante em quase todas as
definições de lazer, o caráter lúdico, Mascarenhas o traz numa perspectiva muito mais
revolucionária, no momento que o entende como espaço de organização da cultura, no
qual as relações sociais estabelecidas permitem o debate e questionamento da ordem
social vigente.
E a partir dessa visão, tem-se o lazer como um instrumento de transformação
social, como uma possibilidade de contestamento da realidade encontrada. O que nos
remete as discussões de Marcellino (2002), no que diz respeito às potencialidades que
o lazer possui para o desenvolvimento pessoal e social, devido ao seu caráter
educativo.
Para entendermos melhor os meios e fins do lazer-educação na construção de
uma nova sociedade, faremos uma análise dos estudos de Marcassa (2004) e
Marcellino (2003), sobre esta relação.
A primeira proposta de Lazer e Educação segundo Marcassa (2004, p.127), é
desenvolvida pela recreação, no século XX e surge como uma alternativa no cotidiano
da grande cidade, que já vivia os problemas relacionados à industrialização e
urbanização, colaborando para a criação de novos comportamentos e a formação da
24
subjetividade de que a sociedade burguesa precisava.
Na escola, à recreação coube a função de disciplinar as mentes e cultivar os
corpos das crianças de acordo com a educação moral, higiênica e física. Fora da
escola – nos chamados Centros de Recreio – a recreação assume a feição de uma
formação essencial aos setores populares, sobretudo aos operários, como um reforço à
insuficiente educação praticada no ambiente doméstico. Percebe-se a predominância
de uma visão instrumental e de controle social sobre a relação entre lazer e educação,
que infelizmente pode ser vista até os dias atuais.
Uma outra perspectiva, que segundo a mesma autora, configura-se como mais
complexa. Vê no lazer um espaço de educação constante, que permite aos indivíduos o
descanso e a recuperação das suas forças físicas e mentais para o retorno ao trabalho,
alivia as tensões, mantêm as pessoas ocupadas em atividades que lhes dão prazer.
Além de promover o desenvolvimento pessoal e social, possibilitando ao homem
equilíbrio e inteligência para resolução de problemas, assim como, criação de
respostas ajustadas às mudanças rápidas e emergentes da vida moderna, dando sua
contribuição para o bem-estar de todo o país.
Têm-se então, uma crença no enriquecimento da personalidade humana por
meio do lazer, como possibilidade de liberação das padronizações e facilidade de
adaptação a quaisquer circunstâncias adversas. Tornando essa posição, dotada de
conteúdos psicológicos, no momento que pensa a compensação e estabilização
individual e de conteúdo social, na readaptação e manutenção da ordem. Trazendo
assim, uma visão funcionalista da relação entre lazer e educação.
Existem perspectivas que buscam mudanças e rompimentos no plano social,
como a de Marcellino (2003) e de Mascarenhas (2003 apud MARCASSA, 2004). O
primeiro vê o lazer como possível instrumento contra-hegemônico, revestindo sua
relação com a educação de conteúdo crítico, acreditando na união da sociedade em
direção a mudanças culturais, capazes de fazer com que a experiência do lazer se
torne mais rica e promotora do ser humano, possibilitando mais prazer de viver. Sendo
assim, afirma que só faz sentido falar nos aspectos educativos do lazer, se este for
considerado como um dos possíveis canais de atuação no plano cultural, na busca de
contribuir para uma nova ordem moral e intelectual, que traga mudanças no plano
25
social. O mesmo autor destaca ainda o duplo aspecto educativo do lazer:
Trata-se de um posicionamento baseado em duas constatações: a primeira, que o lazer é um veículo privilegiado de educação; e a segunda, que para a prática positiva das atividades de lazer é necessário o aprendizado, o estímulo, a iniciação, que possibilitem a passagem de níveis menos elaborados, simples, para níveis mais elaborados, complexos, com o enriquecimento do espírito crítico, na prática ou na observação. Verifica-se, assim, um duplo processo educativo – o lazer como veículo e como objeto de educação (MARCELLINO, 2003, p.58-59. Grifo do autor).
Já Mascarenhas (2003) traz uma proposta socioeducativa do lazer
sistematizada contemporaneamente, ressaltando que a intervenção pedagógica do
lazer deve ultrapassar os limites da ação cultural, devendo se articular à realidade
socioeconômica e a conscientização da situação histórica de classe, já que se trata de
uma proposição que visa à superação das atuais condições materiais de existência.
Nesse sentido, o mesmo entende o lazer-educação como “posição político
pedagógica de compromisso com os grupos ou movimentos sociais mediante sua
resistência e luta cotidiana por sobrevivência, por emancipação e pela conquista de um
mundo mais justo e melhor para se viver” (MASCARENHAS, 2003 apud MARCASSA,
2004, 132). Com isso, o autor propõe que mediante uma experiência lúdica e
educativa, possa se refletir sobre a realidade que nos cerca e praticar a liberdade como
um exercício de cidadania e participação social.
Próximo a esse pensamento, temos o de Leiro, que acredita:
Num lazer que vá além da constatação da realidade, do relaxamento e das práticas recreo-esportivas. Para tanto, é preciso ações que favoreçam a coletividade ao invés do individualismo, a solidariedade ao invés da barbárie e a organização ao invés das ações acríticas referentes dos problemas sócio-ambientais (LEIRO, 2006, p. 51).
O mesmo autor aponta que tal caminho dever ser potencializado, através do
estabelecimento de políticas públicas, que assegurem um maior número de sujeitos,
diversas experiências culturais que colaborem para a reflexão crítica dos interesses de
ordem global, mobilizando, discutindo e organizando os interesses de ordem local.
Portanto, para que sejam garantidas a todos os cidadãos as vivências das
diversas potencialidades e possibilidades do lazer e também do esporte, é necessária a
26
intervenção ativa e positiva do poder público, por meio do estabelecimento de políticas
públicas, já que os mesmos estão dentro do quadro de direitos sociais e, portanto, são
responsabilidades da ação governamental. Essas questões serão o eixo norteador das
abordagens a seguir.
27
4 POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER: Um caminho em construção
Antes de adentrarmos nas discussões específicas sobre políticas públicas de
esporte e lazer, torna-se imprescindível levantar alguns pontos conceituais sobre
política e políticas públicas e assim, tornar explícitos elementos que são fundamentais
para análise do universo em questão.
Para Ribeiro (1998), a “política”, independente do seu emprego, sempre está se
referindo a algum tipo de exercício de poder e das conseqüências múltiplas desse
exercício, mas não considera que esta definição seja satisfatória, até mesmo, porque
existem dificuldades para que se entenda o que é poder. E este só pode ser analisado,
sentido e avaliado em sua ação. A partir dessa consideração e da identificação de que
o ato político possui determinados aspectos como interesse e decisão, este autor
passa a entender a política “como um processo através do qual, interesses são
transformados em objetivos e os objetivos são conduzidos à formulação e tomada de
decisões efetivas, decisões que „vinguem‟ ” (RIBEIRO, 1998, p. 8).
Sobre as características do exercício de poder ou da definição de política,
Amaral (2004a) levanta quatro pontos:
O primeiro está na consideração de que a definição de objetivos, por parte de
um grupo sempre implica em opiniões divergentes. Desta forma, a política
aparece quando há uma mediação pacífica desses conflitos.
Em segundo, destaca a relação que a mesma possui com a maneira pelas
quais as decisões de um grupo são tomadas, seja pela persuasão,
negociação, imposição, ou estabelecimento de um mecanismo que leve as
decisões finais.
O terceiro diz respeito que uma vez tomada a decisão, esta será considerada
como legítima pelo grupo em questão, distanciando-se do sentido de
dominação.
Por último, a necessidade de imposição dessas regras para aqueles que não
as aceitam, fazendo com que estas sejam cumpridas.
Traz ainda, que diante dessas características, pode-se concluir, que no mundo
moderno, o contexto onde esse tipo de exercício de poder acontece é no Estado, “já
28
que ele é a autoridade mais compreensiva que podemos encontrar e, certamente, a
instituição com maior capacidade de influenciar pela persuasão ou pela negociação, ou
de estabelecer mecanismos de tomada de decisão final” (AMARAL, 2004a, p.182).
Dentre as diversas formas de ações do Estado, tem-se as políticas públicas, que
segundo essa mesma autora, objetiva assegurar, o funcionamento em harmonia da
sociedade, através da superação de conflitos e da garantia da manutenção do sistema
vigente. Já Menicucci (2006) afirma ser os atos e não atos das autoridades públicas,
neste caso o Estado, diante de um problema ou setor da sociedade, caracterizando-se
como públicas, por envolverem um conjunto de decisões que afetam a todos,
justamente por tratarem de coisas públicas.
Outro autor que também se propôs a discutir as políticas públicas, foi o professor
Teixeira (2002), que trazendo um conceito claro da mesma, assim como elementos que
as constituem, tornou seu estudo fundamental para o entendimento das políticas
públicas em nossa realidade local. Define-as como:
[...] diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e a sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado. São, nesse caso, políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de financiamento) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos. Nem sempre, porém, há compatibilidade entre as intervenções e declarações de vontade e as ações desenvolvidas. Devem ser consideradas também as “não-ações”, as omissões, como formas de manifestação política, pois representam opções e orientações dos que ocupam cargos (TEIXEIRA, 2002, p. 02).
Aponta ainda, os objetivos das políticas públicas, sendo eles: a) atender as
demandas, especialmente das classes menos favorecidas, mais urgentes; b) garantir e
ampliar direitos dos cidadãos; c) gerar o desenvolvimento, através de alternativas de
emprego e renda, para tentar compensar as lacunas deixadas por outros tipos de
políticas, como as de estratégia econômica; d) mediar conflitos entre atores sociais,
pela contradição de interesses que possuem.
Desta forma, as políticas públicas estão colocadas como um instrumento de
extrema importância para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, sendo um
significativo mediador das relações entre Estado e sociedade, e como afirma Rocha
29
(2004, p. 194), “um verdadeiro espaço de fortalecimento da cidadania”.
É baseado nessa lógica, que faremos uma análise do atual cenário das políticas
públicas de esporte e lazer em nosso país, relatando antes, como estas políticas
vinham se configurando em contexto anterior, quando eram constituídas a partir dos
ideais do Estado de bem-estar social, e objetivavam a ampliação e garantia de direitos
de cidadania.
Segundo Frigotto (1999), após a Segunda Guerra Mundial o capitalismo assume
o ideário do industrial Henry Ford, no qual para que este sistema prosperasse era
necessário criar uma sociedade integrada pela produção e consumo de massa e pleno
emprego, sendo preciso regular o mercado por um Estado interventor e planejador.
Passa a existir um enorme esforço na construção de políticas para o pleno emprego e
de direitos sociais, sob a perspectiva de uma sociedade capitalista integradora.
É quando vinga a idéia do Estado de bem-estar social e o capitalismo vive a sua
Era de Ouro, nesse período a população consegue atingir níveis mínimos de bem-
estar, tendo assegurados o direito a educação, a saúde, habitação, emprego, esporte,
lazer, entre outros. No entanto, vale ressaltar que essa não foi a realidade do Brasil,
pois esse “bem-estar” não chegou a existir na América Latina, mas as ideologias dessa
política difundidas nos países periféricos, representavam promessas de melhoria de
condições de vida para as pessoas (MASCARENHAS, 2007).
A criação desses direitos também representou as conquistas da classe
trabalhadora, ao passo que favoreceram a convivência pacífica por um tempo, entre
crescimento econômico, ampliação do consumo dos assalariados e com isso a
recomposição da estabilidade do sistema.
As políticas de Esporte e Lazer implementadas no Brasil naquela época, também
tiveram influências dos ideais do Estado de bem-estar social, pois como afirma
Mascarenhas (2007), o Esporte e lazer acabaram sendo tratados como uma
antimercadoria, e ao lado dos outros serviços sociais, contribuíam com o capital, ao
passo que serviam para subsidiar os custos com a reprodução da força de trabalho,
otimizava a produção e ainda preservava o salário para ser gasto em outros setores.
Destaca a criação do Serviço Social da Indústria (SESI) e do Serviço Social do
Comércio (SESC), em 1946, como principais responsáveis pela expansão e
30
implementação das ações de lazer desenvolvidas no país, e mais tarde, a criação dos
Centros Sociais Urbanos, na década de 1970, que foram distribuídos pelas periferias
das grandes cidades.
Nestes casos, respectivamente, foi dado ao lazer um caráter funcionalista, que
segundo Pinto (2008a, p.82) “tinham o objetivo explícito de promover a recreação como
distração, descanso e recomposição da força de trabalho”; e outro compensatório,
quando buscou compensar as mínimas condições de vida da população mais pobre,
que sofria e sofre as conseqüências do desenvolvimento urbano e industrial, através
das práticas de lazer nesses centros (MASCARENHAS, 2007).
Mas, para Frigotto (1999, s/p) “Um capitalismo que regula o mercado e o capital
não deixa de ser capitalismo e, portanto, não supera a existência das classes sociais, e
portanto, das desigualdades”. O capitalismo mais uma vez entra em crise, que segundo
os neoliberais a mesma pode ser explicada pela ineficiência do Estado em gerir as
políticas públicas, sendo a crise um produto da difusão da noção de cidadania, pois,
acabou gerando falsas promessas e orientando as ações coletivas e individuais
caracterizadas pela improdutividade e falta de reconhecimento no valor individual da
competição (GENTILI, 1996).
E a partir da década de 1990, começam as reformas do Estado sobre a tríade da
desregulamentação, descentralização e privatizações e logo, os investimentos em
políticas sociais deveriam ser reduzidos. Já que, o ideal neoliberal entende a
democracia como liberdade de escolha dos serviços que estão disponíveis no mercado,
e que a qualidade dos mesmos seria melhorada a partir da livre concorrência.
Como Rocha (2004, p. 192) afirma:
A implementação do projeto neoliberal trouxe conseqüências às propostas de desenvolvimento do país. Em parte, isso se deve ao fato de o mercado ser concebido como definidor das relações humanas, tornando princípios como democracia, justiça social, cidadania, nocivos ao projeto hegemônico da eficiência econômica. Esse projeto contraria os interesses do sistema que, centrado na ideologia dominante, propõe uma globalização de cima para baixo, promovendo um crescente processo de naturalização da exclusão, que se dá em todos os campos, alargando ainda mais as desigualdades sociais pela transferência das responsabilidades do Estado para o capital privado.
31
O mesmo autor traz ainda que o agravamento dos problemas sociais é
caracterizado principalmente pela participação mínima do Estado na sociedade, em
relação às áreas consideradas essenciais, como a educação, saúde, segurança
pública, esporte e lazer.
Com isso, percebe-se um recuo da intervenção estatal, tanto no que diz respeito
a economia, quanto no gerenciamento das políticas sociais, dando lugar a um mercado
livre de interferência e que cada vez mais tem domínio sobre a vida social.
Mascarenhas (2004) aponta que se antes o esporte e lazer eram caracterizados como
uma antimercadoria, tratados como direitos e fazendo parte do conjunto das políticas
sociais como elementos integrantes da estratégia de financiamento público como
incremento da reprodução da força de trabalho e da produtividade, para preservar o
salário para o consumo com bem duráveis, agora assume uma posição muito mais de
subordinação real ao capital.
Essa subordinação acaba dificultando o acesso as práticas corporais de
qualidade, principalmente as relacionadas ao esporte e lazer, no momento em que há
uma tendência cada vez maior a privatização das mesmas, passando a ser
consideradas como mercadoria, ficando assegurado apenas para aqueles que podem
pagar por esses serviços, tornando-se um “direito” de poucos. Têm-se então, uma
realidade cruel: apesar de assegurados por um conjunto de direitos, só usufruem
aqueles que conseguem permanecer na condição de consumidores e não apenas de
cidadãos.
Sobre este aspecto, Pinto (2008a, p. 85) traz que:
O capitalismo provocou a disseminação do lazer veiculado pela indústria cultural, trazendo os indivíduos como potenciais consumidores de mercadorias lúdico-culturais. E com o aumento do acesso diferenciado a esses bens, devido a diferenças de condições socioeconômicas e educativas entre as camadas da população, alargam-se as desigualdades quanto ao acesso à produção cultural disponível no lazer.
A conformidade do esporte e lazer à lógica da sociedade de consumo, através
da chamada indústria do entretenimento, acaba reproduzindo também seus valores, e
com isso a exclusão e o distanciamento entre as classes terminam alargando-se por
mais uma via, pela mercantilização das manifestações culturais. Para Castellani Filho
32
(2006), essa é a síntese de uma concepção de organização social, que exprime a
cidadania pela capacidade consumidora do cidadão e entende as manifestações
culturais como produtos susceptíveis ao mercado.
Sabe-se também, que as políticas públicas influenciadas pela concepção
neoliberal continuam trazendo um viés assistencialista e servindo para amenizar vários
problemas sociais oriundos da disseminação da ideia de Estado Mínimo, e desta forma
torna-se comum o “lazer e” e “esporte e”, violência, promoção social, segurança, entre
outros. Desta forma, como Paulino (2007) afirma, no meio de outras intenções, as
políticas públicas de esporte e lazer, acabam perdendo o foco, que deveria ser a sua
fruição enquanto direito social, vivência de experiências humanizadoras para nossas
relações, indicativo de qualidade de vida e do desenvolvimento individual e coletivo.
A falta de reconhecimento destas funções sociais do esporte e lazer gera
políticas que atribuem outra função aos mesmos. Pinto (2003) aponta que ainda
prevalecem as concepções moralistas, quando o esporte e lazer são tidos como forma
de atenuar ou reduzir problemas sociais; as utilitaristas, sendo utilizados como meio de
elevar lucros pelo aumento de produção da indústria cultural; e as compensatórias, no
qual são valorizados como tempo de descanso para repor energias da jornada de
trabalho.
Além disso, como colocado por Zingoni (2003) a falta de definição e clareza dos
princípios políticos e de mecanismos de controle populacional das ações voltadas para
as políticas públicas de esporte e lazer, denunciam a vulnerabilidade do setor dentro do
Estado capitalista democrático. A questão é ainda agravada, na medida em que a
maior parte da população convive com diversos problemas socioeconômicos, os
mesmo se tornam o centro de suas reivindicações por condições de vida melhores, e
desta forma, o atendimento adequado às demandas de esporte e lazer, ficam
dificultadas, ou não acontecem.
Outro aspecto que tem contribuído de forma negativa e decisiva nas políticas
públicas de esporte e lazer, está em que, no geral, as secretarias de esporte e lazer,
são as que recebem a menor parte do orçamento das prefeituras, o que acaba
induzindo a espetacularização do mesmo, de forma a atrair o maior número de
patrocinadores possíveis, para financiarem as ações voltadas para esse campo.
33
Também é comum que a partir do processo burocrático de formulação dessas
políticas, sejam geradas ações sem a menor explicitação e sem identidade,
constituindo-se em “Calendários de eventos”, e “pacotes” que são baixados de
gabinetes técnicos (MARCELLINO, 2007). Têm-se então as ações centradas em datas
festivas, como Micareta, São João, Natal, e projetos que acontecem em determinados
períodos do ano e que são comuns em algumas cidades, a exemplo dos projetos de
ginástica na praça, durante alguns meses do verão.
A contradição que vem acontecendo nas experiências cotidianas é apontada por
Rocha (2004), quando, de um lado, tem-se a estruturação dos ideais neoliberais
representados pelo Estado mínimo e, de outro, a ampliação dos direitos políticos e
sociais, o que vem acompanhado da pressão aos poderes públicos municipais, para
atenderem as reivindicações da população em suas agendas públicas. Dentre essas
demandas da sociedade, percebe-se uma crescente busca pelas ações voltadas para o
esporte e lazer, que segundo Marcellino (2007) infelizmente não vem sendo
acompanhado por respostas ativas e positivas por parte do poder público, e pelo
grande avanço do esporte e lazer enquanto mercadoria, através da indústria cultural, o
oferecimento dessas oportunidades em uma outra perspectiva, vem se tornando uma
questão de exercício de cidadania.
Para que as políticas públicas de esporte e lazer, sejam efetivamente voltadas
para o exercício da cidadania, torna-se preciso o estabelecimento de um ordenamento
legal consistente nas esferas do governo federal, estadual e municipal, que venham
estabelecer as bases para uma gestão democrática, participativa e verdadeiramente
cidadã.
4.1 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER FRENTE AO
ORDENAMENTO LEGAL
Quando se trata de temas relacionados ao direito social ao esporte e lazer, é
imprescindível que se traga questões referentes a cidadania e seu conjunto de direitos
como ponto central da discussão. É partindo deste princípio, que buscaremos levantar
alguns autores que estudam tais elementos.
34
Para Manzini-Covre (2001) as pessoas tendem a associar a cidadania apenas
aos direitos a receber, esquecendo que também são parte do governo, sendo preciso
lutar para conquistar os mesmos, descartando o fato de que elas mesmas podem ser
atores da existência de seus próprios direitos. Desta forma, entende a cidadania como
o próprio direito à vida em sua plenitude, construída coletivamente, não apenas no que
diz respeito as necessidades básicas, mas em todos os níveis da existência.
Tomando como base os estudos de Marshall (1967)5, tanto Menicucci (2006)
quanto Vieira (2004) e Manzini-Covre (2001) desdobram a cidadania em três conjuntos
de direitos, no qual os direitos civis e políticos estariam dentro dos direitos de primeira
geração e os direitos sociais, seriam os direitos de segunda geração. Os direitos civis
correspondem a liberdade individual, igualdade, propriedade, a justiça, etc. Eles
dependem da existência dos direitos políticos, que por sua vez, estão relacionados a
participação no exercício do poder político, seja ele qual for, associação, organização
política e sindical, participação eleitoral, etc. E os direitos sociais, dizem respeitos ao
atendimento das necessidades básicas humanas, participação por completo na
herança social.
Sobre a realidade brasileira Amaral (2004b) alerta que diferente do caso inglês,
teve os direitos sociais e políticos concedidos num momento em que o Estado
encontrava-se num regime autoritário, não sendo uma conquista exclusiva da classe
trabalhadora, mas concedidos pelo poder estatal.
Os direitos sociais surgiram para reduzir a crescente desigualdade oriunda da
sociedade capitalista, buscando garantir um mínimo de bem estar para todo cidadão.
Eles estão relacionados ao acesso a bens e serviços públicos, e segundo Menicucci,
(2006), a partir de sua disponibilidade, reduzem a dependência do mercado, num
processo de desmercantilização, tornando o bem estar das pessoas independentes das
relações monetárias. Apresentam também, a capacidade de serem expandidos e
redefinidos de acordo com as mudanças na sociedade, e dependem da construção
política da noção de cidadania social.
A partir disso, eles se configuram como uma participação na riqueza produzida
5 Marshall (1967), analisando o caso inglês, acabou generalizando a noção de cidadania e de seus elementos constitutivos, sem a pretensão de fazê-la, e tornando sua concepção uma das mais clássicas quando se trata de cidadania (VIEIRA, 2004).
35
pela sociedade, e acabam impondo modificações nas experiências das classes sociais,
que dificilmente seria acessada a partir das reais condições que condicionam as
próprias classes.
Dentro do conjunto de direitos sociais previstos na Constituição Brasileira
promulgada em 1988, temos previsto o lazer no título II, Dos Direitos e Garantias
Fundamentais, capítulo II, Dos Direitos Sociais, artº. 6º. E no título VIII Da Ordem
Social, capítulo III, Da Educação, da Cultura e do Desporto, Na sessão III, Do desporto,
art. 217 garantem que “É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não
formais, como direito de cada um”, e no § 3º, desse mesmo artigo, colocam que “O
Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social”. Ficando claro, que
a concretização destes, depende da ação governamental ativa e positiva, através de
políticas públicas. Porém, neste caso específico, não foram definidas as diretrizes,
objetivos ou regras institucionais que devem orientar à efetivação do esporte e lazer
enquanto direito do cidadão.
Este fato acaba sendo refletido nas Leis Orgânicas Municipais, no que diz
respeito ao âmbito do esporte e lazer, no qual também é perceptível a falta de
profundidade dada a esses temas, o que acaba consequentemente dificultando a
definição e criação de mecanismos para sua consolidação.
Vale ressaltar também, que os setores de esporte e lazer, são os de menor
importância nos planos de governos, e como Bramante (2004) afirma, na maioria das
vezes em que as políticas de lazer são formuladas, não são implementadas e quando o
são, geralmente não resistem aos mínimos critérios de perenidade, particularmente
quando da transição de governo, mesmo quando um mesmo partido se mantém no
poder.
Além da falta de uma Política Nacional já consolidada, existem outros motivos
para o descrédito do esporte e lazer. Zingoni (2003) aponta diversas razões que
contribuem para a concretização deste fato como: ausência de meios legais para
controle populacional nas ações nesse âmbito; carência de espaços para debates na
busca de dimensionar as problemáticas e estabelecer possíveis soluções para o
esporte e lazer, assim como fixar metas e prazos, além de definir um processo para
prestação de contas; falta na formação política dos dirigentes responsáveis pelo
36
esporte e lazer; lacunas nas definições e clareza de princípios políticos e pedagógicos
que guiem as ações democráticas na área; falha na eficiência, eficácia e efetividade
social na implementação dos programas sociais desenvolvidos pelas secretarias de
esporte e lazer, estruturados em critérios objetivos em defesa da cidadania e por
último, a pouca existência, ou até mesmo ausência, do esporte e lazer nas peças
orçamentárias de projetos e atividades configurados e escolhidos de forma
democrática.
Segundo a mesma autora, a análise deste contexto revela que ainda é pequena
a aproximação e o comprometimento do Legislativo com o esporte e o lazer, pois à
medida que o processo de participação nesses setores é reduzido, ele não provoca no
Poder Executivo o desvelamento de suas informações e propósitos, com o
assumimento prévio e público de compromissos, assim como não oferece ao próprio
Poder Legislativo que exerça com mais critério, a defesa dos interesses do esporte e
lazer na cidade e o compromisso das condições estabelecidas publicamente.
Sobre a indefinição constitucional Menicucci (2006) traz uma observação
importante, apontando fortalezas e debilidades no fato de estar em aberto a
regulamentação do direito ao lazer. Pois ao passo em que pode gerar ambiguidades e
diferenciações nas ações governamentais voltadas para o lazer, também pode se
constituir num espaço de edificação de políticas de lazer criativas e inovadoras.
É importante destacar, que somente a partir da criação do Ministério do Esporte
em 2003, as questões relacionadas às políticas públicas de esporte e lazer passaram a
ser discutidas de forma mais ampliada e sistematizada, a partir das Conferências
Nacionais do Esporte6, que possibilitaram a construção do Sistema Nacional do
Esporte e Lazer.
De acordo com as Resoluções da II Conferência Nacional do Esporte, realizada
em 2007, o objetivo deste sistema está em consolidar a Política Nacional do Esporte,
criar mecanismos que assegurem a execução e acessibilidade da mesma em todos os
âmbitos da federação, e determinar os papéis das entidades dirigentes do esporte e
lazer. O mesmo compreende o esporte educacional, esporte participação e esporte de
6 As realizações das Conferências Nacionais de Esporte deram-se a partir de conferências municipais e estaduais, envolvendo governo, organizações e instituições sociais, assim como o cidadão comum.
37
alto rendimento7, que não são excludentes entre si, mas estão articulados numa
estrutura democrática e descentralizada, envolvendo município, estado e federação,
nos setores públicos e privados, tendo como escopo a participação da sociedade como
um todo.
Já a Política Nacional do Esporte traz explicitados os objetivos, princípios,
diretrizes e ações estratégicas para a efetivação de políticas públicas, e tem como
pontos fundamentais a democratização do esporte, a formulação de uma rede de
cooperação entre governo e sociedade, objetivando a diversificação do financiamento
do esporte em todas as suas dimensões. Além de valorizar a sistematização e
atualização da informação e legislação esportiva, como também, do conhecimento
científico e tecnológico para as políticas públicas e para o diálogo e participação da
sociedade, e da comunidade esportiva, tendo como valor principal a democracia.
São colocadas oito diretrizes como norteadoras das ações voltadas para o
esporte e lazer, sendo elas a universalização do acesso e promoção da inclusão social,
o desenvolvimento humano, a ciência e tecnologia do esporte, a promoção da saúde, a
paz e o desenvolvimento da nação, o desenvolvimento econômico, a gestão
democrática pela participação e controle social e a descentralização da política
esportiva e de lazer (BRASIL, 2005).
O Ministro de Estado do Esporte (2005, p. 05), neste mesmo documento, afirma
que o maior desafio é “tornar o esporte uma política pública essencial, em sintonia com
todos os setores, que transponha os limites de um governo e consolide-se como uma
política de Estado”.
Muito ainda precisa ser feito para que o esporte e o lazer sejam vividos
plenamente como um direito social, e para que o Sistema Nacional de Esporte e Lazer
esteja consolidado e efetivamente funcione enquanto sistema, pois como Marcellino
7 Essa classificação das dimensões sociais do esporte tem como base os estudos de Tubino (1999), no qual ele define o esporte educacional como aquele que ao invés de reproduzir o esporte de alto rendimento, deve ser muito mais um processo educativo para o exercício da cidadania, devendo ter como princípios a participação, a cooperação, a integração e a responsabilidade. Já o esporte participação, tem como base o prazer e o lúdico, sendo praticado no tempo livre, como uma utilização construtiva do mesmo, pelo envolvimento das pessoas neste tipo de esporte, ele pode desenvolver o espírito comunitário e a integração social, servindo de fortalecimento das relações sociais. E o esporte de alto rendimento é a manifestação esportiva voltada para a competição, obedecendo rigidamente a regras e normas institucionalizadas.
38
(2007) comenta, as discussões no âmbito federal ainda são embrionárias e necessitam
de tempo para que se tornem consistentes e se configurem como tal, nas esferas
estaduais e municipais. Como exemplo desta fragilidade, coloca a falta de clareza
ainda presente nas propostas aprovadas na II Conferência Nacional do Esporte, quanto
ao papel atribuído a cada uma das esferas governamentais na formulação, execução e
avaliação das políticas públicas voltadas para o esporte e lazer.
Todavia, tudo depende da construção do sentido e significado do lazer na
sociedade. Dele enquanto direito e necessidade social específica, que se justifica nele
mesmo e não como instrumento para suprir outras demandas. Do seu reconhecimento
como problema político, que exige uma intervenção governamental ativa e positiva, na
busca de assegurar a todos os cidadãos condições básicas para sua fruição
(MENICUCCI, 2006).
Para tanto, faz-se necessário mudanças urgentes nas gestões municipais de
esporte e lazer, sendo a descentralização e a participação cidadã, um dos meios
eficazes para a reversão do quadro existente. Nesse sentido, Zingoni (2003) alerta para
a implementação de ações e intervenções que venham ampliar o diálogo entre a
sociedade civil e os agentes públicos, que ministrem os recursos e as oportunidades
com responsabilidade e sob a perspectiva de um desenvolvimento auto-sustentável,
assim como a adoção de processos de avaliação interna e externa, além de
diagnósticos da realidade do esporte e lazer nas cidades.
Estas questões voltadas a administração das políticas públicas de esporte e
lazer e os desafios colocados para as gestões públicas na tentativa de estabelecer um
governo democrático e que venha a tender de forma satisfatória estas demandas,
serão levantadas e discutidas a seguir.
4.2 A GESTÃO MUNICIPAL DO ESPORTE E LAZER
Apesar das noções de gestão terem surgido dentro do contexto empresarial,
muitos de seus princípios foram transferidos para diversos segmentos, quando se trata
de administração, e dentre eles, estão as gestões dos serviços públicos.
Para Santos (1992) citado por Zingoni (2004), a gestão implica na coordenação
39
de ações coletivas através de instrumentos racionais, na promoção de desejos e na
realização individual e coletiva objetivando principalmente o cumprimento das metas
estabelecidas. São várias as formas de gestões, elas variam de acordo com a
complexidade das instituições, àquelas que estão mais voltadas para as formalidades e
tem pouco compromisso com os resultados, se atribui o caráter burocrático, mas as
que são mais flexíveis em suas tomadas de decisões e parte da negociação coletiva
pode ser considerada uma gestão integrada e mais flexível (ZINGONI, 2004).
A partir da Constituição de 1988, a gestão municipal ganha uma nova
configuração, sendo assegurado ao município sua autonomia política, sob a justificativa
da descentralização, e desta forma, passa a ter como responsabilidade a organização e
prestação dos serviços públicos voltados para a qualidade de vida nas cidades, como
explicitado no Art. 30, do Capítulo IV, Dos Municípios, do Título III, Da Organização do
Estado: “V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou
permissão, os serviços públicos de interesse local, incluindo o de transporte coletivo
que tem caráter essencial”.
Sobre este ponto, Teixeira (2002) alerta para o problema dos recursos, pois
entende a descentralização como um processo desordenado, no qual as
responsabilidades são transferidas sem os recursos, por este motivo a autonomia de
realizar políticas próprias sem vinculação com os programas federais ou estaduais se
tornam mínimas, já que esses repasses dependem muito de negociações que são
levadas em consideração a posição política, a vinculação partidária dos prefeitos, pelos
interesses eleitoreiros e clientelistas, além, das distribuições terem como critérios a
concentração de renda tributária, sendo privilegiados os poucos municípios que
possuem um considerável desenvolvimento econômico.
O mesmo autor traz, ainda, a significação da descentralização dentro da Política
Neoliberal, que objetivamente é, a transferência de responsabilidades do financiamento
e implementação das políticas para a sociedade e a família. Com isso alerta, que a
proposição, a formulação e a participação na gestão de alternativas de políticas
públicas tornam-se um enorme desafio para a sociedade civil, sendo possível apenas
quando se trata da distribuição dos recursos públicos e na constituição do poder
público.
40
Com esta redefinição das competências dos governos, incluindo o repasse de
recursos, passa a ser questionado o modelo de desenvolvimento antes adotado, e
surgem cobranças de atuação do governo municipal, tomando-o como espaço
privilegiado para a construção de uma nova ordem democrática. Com isso, a gestão
das políticas públicas na atualidade, implica a necessidade de inovação dos processos
burocráticos e a adoção de modelos mais flexíveis e integrados de gestão, envolvendo
a participação de diversos atores sociais nas tomadas de decisões e nas ações
desenvolvidas, apontando para mudanças nas relações entre Estado e sociedade civil
(ROCHA, 2003).
Sobre estas mudanças, Pinto (2008b) aponta que no âmbito das políticas sociais
elas estão surgindo, e apesar de algumas administrações fazerem de conta que nada
está acontecendo, muitos municípios estão percebendo que a complexidade dos
sistemas sociais modernos implica novos caminhos.
Quanto às gestões que não reconhecem a necessidade de inovar, Zingoni
(2003) levanta algumas características comuns nas administrações burocráticas, no
que diz respeito ao esporte e Lazer no Brasil, sendo a primeira delas o discurso
puramente técnico, desconsiderando as crenças científicas e os valores culturais; a
centralidade nas decisões e a sobreposição da dimensão econômica sobre a social. A
mesma autora traz ainda um outro estilo de governar, ao qual caracteriza enquanto
tradicional, sendo comum as políticas públicas marcadas pela fidelidade e pela troca de
favores, a ausência de planejamento nas ações, utilização da intuição e o
assistencialismo.
As gestões burocráticas e tradicionais acabam tornando a sociedade distante do
governo, e com isso, a administração das políticas públicas não são tão eficientes e
eficazes, por entenderem que o público alvo das mesmas são apenas espectadores
das ações, desconsiderando que estes são parte fundamental na elaboração,
execução e avaliação destas políticas.
No entanto, sabe-se que o esporte e o lazer estão em pauta nos últimos anos,
enquanto demandas sociais e passando a exercer um novo papel nos programas de
governo e na própria organização da cidade e dos serviços relacionados ao bem estar
do cidadão. Para Rodrigues (2008) as modificações na gestão dessas políticas, são
41
motivadas pelo compromisso da atual administração do país com os movimentos
populares e com os setores excluídos historicamente de seus direitos. Podemos
acrescentar ainda, o já citado Sistema Nacional do Esporte e Lazer, que iniciou seu
processo de implantação a partir desse mesmo governo, o que sinaliza um grande
avanço para as inovações nas políticas públicas de esporte e lazer.
As Resoluções da II Conferência Nacional do Esporte são divididas em quatro
eixos centrais, o primeiro diz respeito a Estrutura: Organização, Agentes,
Competências. O segundo aos Recursos humanos e Formação. O terceiro a Gestão e
Controle Social e o quarto ao Financiamento. Para efeito desta discussão traremos o
enfoque voltado ao terceiro eixo, quando é colocado como princípio do Sistema
Nacional do Esporte e Lazer a gestão democrática da esfera pública, cujo objetivo está
no exercício da cidadania, por meio da participação e da inclusão social. E sendo
atribuído especificamente as Secretarias e aos órgãos vinculados ao campo do esporte
e lazer, sejam eles municipais, estaduais ou federais, quanto a gestão:
a) Garantir, por meio de concursos públicos, espaço para profissionais de educação física e demais trabalhadores do esporte e do lazer, em suas respectivas áreas de atuação, com plano de carreira definido; b) desenvolver o esporte e o lazer em todas as suas dimensões, garantindo o acesso às pessoas com deficiência e idosos; c) planejar e realizar eventos de esporte e lazer baseado em calendário aprovado junto aos respectivos conselhos, com a elaboração de relatórios que possam subsidiar e difundir futuros avanços, bem como a produção do conhecimento na área; d) garantir a interface setorial e transversal com outras áreas afins (saúde, educação, meio ambiente, turismo, cultura, segurança, entre outras); e) descentralizar o poder garantindo a representatividade dos segmentos comunitários e sociais, prioritariamente àqueles envolvidos com o esporte e com o lazer; f) utilizar-se do planejamento participativo e fundar-se no controle social caracterizados pelo trabalho em conjunto com os conselhos de esporte, tanto no repasse de recursos quanto na construção da política, pautando-se no planejamento estratégico; g) participar na construção e consolidação dos Planos Diretores Municipais (BRASIL, 2007, s/p).
A partir dessas atribuições colocadas aos órgãos vinculados ao lazer, podemos
levantar discussões relacionadas aos vários aspectos que aí estão embutidos. O
primeiro deles, está relacionado ao lugar onde o esporte e o lazer devem ficar na
42
administração municipal, se numa secretaria específica, ou num departamento
vinculado a uma outra Secretaria. Sobre isto, Marcellino (2007) afirma que onde deve
ficar não tem muita importância, defende apenas que o lazer seja um programa de
governo, que não fique apenas nas propostas da Campanha, mas que se efetive.
Aponta que o Lazer não pode ser tratado de forma isolada da questão sociocultural,
mas que também devem ser consideradas as possibilidades das ações. Afirma ainda,
que a experiência tem demonstrado que o “status” de secretaria, em termo de estrutura
para a esfera estadual e municipal é mais adequada, e quando vinculados à Cultura,
tende-se a valorizar apenas artes e espetáculos, ficando o Lazer em último plano.
Outro aspectos que este fragmento da referida Resolução nos remete, são aos
quadros de atuação, um dos elementos essenciais, já que muito dos problemas
encontrados nas políticas públicas de esporte e lazer são atribuídos a falta de
qualificação dos gestores desse setor e a consequente dificuldade em inovar e gerir
ações que realmente atendam as demandas da população.
Como é dada menor importância aos setores de esporte e lazer, segundo
Zingoni (2003) as indicações de cargos dos seus gestores, normalmente não seguem
os mesmo critérios que os outros setores, daí a importância de se estimular a
contratação de profissionais preparados para atuarem na área e da escolha mais
criteriosa para seus gestores, assim como de implantação de programas de formação e
renovação de quadros. Como apontado por Marcellino (2007), além de dar vida aos
projetos e programas, o pessoal que desenvolve a animação dessas políticas, é
fundamental, no caso de alguns municípios, para garantirem a continuação das
mesmas, tornano-as não apenas políticas de governo, mas de Estado.
É colocado também como atribuição aos órgãos em questão o desenvolvimento
do esporte e do lazer em todas as suas dimensões. Isso implica no entendimento dos
mesmos de forma ampliada, perpassando também pela questão da qualificação dos
quadros, superando aquilo que foi diagnosticado por Marcellino (2007), na qual as
políticas públicas de esporte e lazer vêm se manifestando, pela ausência de
explicitação, sendo substituída por calendários festivos ou por pacotes baixados de
gabinetes técnicos.
Nesta perspectiva, para o esporte, cabe a sua abrangência nas três dimensões
43
sociais já mencionadas anteriormente a partir de Tubino (1999): o esporte educacional,
esporte participação e esporte de alto rendimento. E com relação ao lazer deve-se
considerar seu duplo aspecto educativo, considerando as possibilidades de descanso e
divertimento, e de desenvolvimento pessoal e social, como instrumento de mobilização
cultural e os impasses socioculturais para seu acesso (MARCELLINO, 2007).
São colocadas também novas tendências para a gestão das políticas públicas de
esporte e lazer como a intersetorialidade e a transversalidade, visando a substituição
da forma verticalizada e tradicional de gerir as políticas públicas de esporte e lazer, que
além da centralidade nas ações, desconsideram a complexidade das mesmas,
reduzindo suas dimensões a apenas um setor específico e negando as relações que
estas políticas devem estabelecer com os diversos segmentos do governo, dada a sua
necessidade de articulação com os mesmos, pelas questões envolvidas neste
processo, que acabam ultrapassando as responsabilidades de um órgão específico,
pela sua integração com setores como os de educação, saúde, segurança pública,
transportes, entre outros.
Segundo Menicucci (2006), a intersetorialidade tem sido definida pela nova
lógica de abordar os problemas sociais, onde se entende o cidadão em sua totalidade,
superando o estilo segmentado e desarticulado em que geralmente as políticas
públicas são elaboradas e implementadas. Pinto (2008b) sugere que as ações devem
ser articuladas interdisciplinarmente, envolvendo profissionais e funções diversificadas
dos equipamentos que articulam múltiplos serviços e atividades. Enquanto Zingoni
(2003) coloca que sua aplicação implica na superação da fragmentação existente na
construção dos planejamentos e execuções das políticas setoriais e para garantir uma
gestão mais equalizadora, superando as “superposições” e “competições” dos
programas e ações municipais.
Essa proposta traz desafios para a administração, na medida em que, torna-se
necessário uma compreensão coletiva das finalidades, objetivos, ações, indicadores e
o compromisso de solucionar os problemas de maneira integrada e articulada. Outra
implicação da intersetorialidade está na organização para o trabalho e o planejamento
que passam a ser definidos a partir da territorialidade e não mais pela setorialidade. A
base territorial objetiva a atuação em grupos populacionais específicos, cujas
44
características desses conglomerados tendem a ser similares. Com isso, a focalização
das ações estão na atuação em regiões homogenias, no que diz respeito as questões
socioeconômicas, espaciais e pela identidade criadas a partir do sentimento de
pertencimento e identificação com o lugar. O que requer mudanças nas estruturas
organizacionais tradicionais de governo como a substituição das estruturas funcionais e
piramidais por outras mais matriciais e flexíveis, dos órgãos segmentados por área do
conhecimento por órgãos de corte regional, buscando a melhoria da qualidade de vida
de áreas geograficamente específicas. Desta forma, a territorialidade permite que os
planos particulares dos setores se integrem em uma única rede territorial (MENICUCCI,
2006).
Quanto a transversalidade, Marcellino (2007) expõe a necessidade de trabalhar
a política de lazer, a partir de uma integração entre os setores, já que a mesma requer
atenção de diversas outras áreas, como o transporte urbano, as questões espaciais, a
promoção social, perpassando pela educação, saúde e até mesmo habitação. Para
Menicucci (2006) essa perspectiva de trabalho possibilita também uma maior
efetividade nas ações, quando se pensa num trabalho governamental integrado.
A mesma autora expõe que a função da transversalidade está em facilitar a
intervenção nas questões que não se ajustam em apenas uma das estruturas
organizativas verticais, dando a cada uma delas a cumplicidade de alcançar um
objetivo comum. No caso do Lazer, como colocado por Marcellino (2007) e Castellani
Filho (2006) pode-se considerá-lo enquanto uma questão de caráter transversal, pelas
próprias implicações que traz para vários setores.
Dentro destas propostas ficam as questões já colocadas pela própria Menicucci
(2006, p. 159): “Uma política de Lazer deve ser pensada da perspectiva da
transversalidade ou da intersetorialidade? Quais as formas de integração com outros
setores?”. Cabe a cada administração, a discussão entre atores individuais e coletivos,
trazendo consensos mínimos para estes e outros questionamentos, que podem trazer
definições cruciais para a elaboração e efetividade das políticas de esporte e lazer,
levando em consideração as particularidades, os limites e os potenciais de cada
governo.
As outras orientações se referem às estratégias para a descentralização das
45
gestões. Este princípio baseia-se no pressuposto de que tudo que for possível deve ser
realizado numa gestão o mais próximo do cidadão. Os desafios que são colocados
para a equalização social, ultrapassam hoje, a atuação do poder estatal. Com isso, nas
sociedades modernas têm-se uma crença muito forte na democracia, na qual acredita-
se que as coisas podem ser melhoradas através da ação planejada por uma rede que
envolve diferentes atores e segmentos da sociedade (PINTO, 2008; ZINGONI, 2003).
Têm-se como uma das estratégias de descentralização a participação cidadã. E
dada a grande relevância desse instrumento para a configuração de um governo
democrático, fizemos a opção de trazer estas discussões de forma mais detalhada na
sessão seguinte.
4.3 PARTICIPAÇÃO CIDADÃ: Legitimidade nas ações
Fazendo uma análise etimológica da palavra participação, Bordenave (1994),
define-a em três ações a partir da sua palavra de origem, “parte”. Ela significaria fazer
parte, tomar parte, e ter parte. Indica que muitas pessoas podem fazer parte, sem
tomar parte, e que a segunda expressão é bem mais intensa que a primeira. Estando
aí, a diferença entre a participação passiva e a ativa.
Essa “parte” implica pensar no todo, na sociedade, no Estado e nas relações que
são estabelecidas dentro destas, e delas com o todo, e não sendo este homogêneo,
também diz respeito as contradições de interesses, valores e utilizações do poder
(TEIXEIRA, 2001).
Ainda sobre definições, Demo levanta pontos fundamentais em seu conceito:
Participação é o processo histórico de conquista das condições de autodeterminação. Participação não pode ser dada, outorgada, imposta. Também nunca é suficiente, nem é prévia. Participação existe, se e quando for conquistada. Porque é processo e não produto acabado (DEMO, 1994, p. 97).
Desta forma, temos a participação como conquista, como algo contínuo, como
processo. Teixeira (2001) coloca que esse entendimento significa perceber a interação
ininterrupta entre os diversos atores que são “parte”, estando aí o Estado, outras
46
instituições políticas e a própria sociedade.
O mesmo autor comenta que historicamente o sistema participativo se ateve em
lutar pelo aumento do sufrágio e pela conquista de outros direitos no final do século
passado, e que com a criação do Estado de Bem-Estar Social, a participação política
se desloca para partidos e grupos de pressão, no qual eram articulados interesses
privados na tentativa de influenciar as decisões do Estado, já que ele tornara-se mais
interventor. Com a crise desse Estado, a burocratização e desprestigio dos sistemas de
participação, e a crescente conscientização de vários segmentos da sociedade, foram
desenvolvidas novas formas de participar, mais amplas, sendo construída uma nova
cultura política, na qual se valoriza a solidariedade, a ação coletiva, a criação de
identidades e o enfrentamentos dos problemas habituais.
Para Teixeira (2001) a combinação dos diferentes tipos de mediação e a criação
de espaços múltiplos de participação, aliados a mudança de alguns regimes políticos
que se tornaram mais abertos, leva-o a redefinição da participação como exercício de
cidadania. É o que ele conceitua de participação cidadã8, seria o processo complexo
que envolve sociedade civil, Estado e mercado, no qual os papéis são redefinidos pelo
fortalecimento da sociedade civil, através da organização de indivíduos grupos e
associações. Esse fortalecimento estaria relacionado com a criação e exercício de
alguns direitos e também com assunção de deveres e responsabilidades políticas.
Fica explícita a necessidade de tomarmos a participação não apenas como um
direito, mas também como um dever. Temos a obrigação de participar da vida social,
buscando trazer influências nas decisões de interesse coletivo. Segundo Dallari (1991),
a participação possui dois fundamentos: o primeiro está na vida social, sendo
necessidade básica do homem de troca de bens e serviços, e o segundo, está em que,
se a passividade predominar e as decisões forem tomadas por minorias, um pequeno
grupo, mais ativo, dominará sem que haja resistências e limites. Com isso, a omissão
se configura como um dos maiores impasses para que um sistema se torne
8 “A participação cidadã é o processo social em construção hoje, com demandas específicas de grupos sociais, expressas e debatidas nos espaços públicos e não reivindicadas nos gabinetes do poder, articulando-se com reivindicações coletivas e gerais, combinando o uso de mecanismos institucionais com sociais, inventados no cotidiano das lutas, e superando a já clássica dicotomia entre representação
e participação” (TEIXEIRA, 2001, p. 32-33).
47
democrático.
Ainda é comum que muitas pessoas entendam a democracia apenas como o ato
de votar, como o direito a escolher seus governantes e representantes, assim como, há
aqueles que mesmo entendendo-a como o governo feito pelo povo e por ele
controlado, desconhecem, ou até desprezam as diversas formas de exercê-la.
Para Dallari (1991), um sistema político só pode ser democrático se as decisões
são tomadas com liberdade e respeitando a vontade da maioria. Dado que todos os
problemas que afetam a convivência social, são problemas de toda a sociedade, e
portanto, as decisões devem ser tomadas pela coletividade, levando em consideração
o interesse de todos. A partir dessa colocação, o autor traz a participação como
instrumento central para a concretização da democracia.
Sobre os canais de participação, Demo (1994) distingue cinco que considera
mais palpáveis:
a) Organização da sociedade civil: está relacionado a competência dos grupos,
estando sua qualidade vinculada a representação das lideranças, legitimidade do
processo, planejamento participativo e participação da base. As organizações sindicais,
políticas e de cooperativas, são de extrema importância para tornarmos a democracia
algo cotidiano e normal, principalmente as que atingem a sustentabilidade autônoma,
pois a medida que participamos destes grupos, vivemos direitos e deveres de forma
mais constante e comum.
A sociedade civil organizada tem o potencial de discutir e definir soluções para
problemas de ordem coletiva, assim como exercer papel importante dentro dos
governos, desde que sejam estabelecidos mecanismos para tal, no momento em que
possibilita a ampliação do olhar sobre as questões sociais, podendo contribuir de
maneira significativa não apenas na distribuição dos recursos, mas na construção,
implementação, execução e avaliação de políticas sociais, tornando-as mais eficazes e
legítimas.
b) Planejamento participativo: diz respeito ao planejamento e administração a
partir da co-gestão. Sendo necessário a criação de canais de participação dentro dos
governos, desde que haja qualidade política das partes envolvidas.
c) Educação Básica: dada a sua importância política, já que a educação
48
possibilita perceber o mundo melhor, reconhecer os problemas sociais e outras
informações importantes sobre a realidade, ela traz condições mínimas para a
qualificação política do povo. E mesmo o ensino básico não dando conta das questões
de sobrevivência, ele fornece, ou deveria fornecer, informações importantes para que o
cidadão tenha consciência de seu papel dentro da sociedade.
d) Identidade cultural comunitária: o cidadão necessita de identidade para
deixar a sua própria condição de objeto, e esta é construída historicamente na cultura
da comunidade, por isso, dá esperanças ao grupo para seu futuro, a partir do passado
vivido.
e) Conquista de direitos: por mais que tenhamos a garantia dos mesmos por
lei, na prática eles precisam ser conquistados. Tomar consciência de nossos direitos é
essencial para que a cidadania seja estabelecida, e assim, as pessoas se tornam
capazes de serem sujeitos do seu próprio destino.
A ampliação gradativa dos direitos, segundo Dallari (1991) vem ocorrendo
através de lutas, a exemplo da extensão dos direitos políticos às mulheres. E alerta
para a necessidade de continuar lutando, pois apesar da extensão atual dos direitos a
grandes camadas da população, estamos longe da plena igualdade de participação.
No que se refere à legalidade do direito a participação, além da garantia de
instrumentos democráticos na Constituição de 1988, como o voto, plebiscitos,
referendos, e conselhos de gestões, temos mais recente, o Estatuto da Cidade,
definido por Castellani Filho (2006, p.121) como o “marco regulatório da
instrumentalização do município para o exercício do pleno desenvolvimento das
funções sociais da cidade. Ao estabelecer princípios e diretrizes de gestão
democrática”. Em seu Capítulo I, Diretrizes Gerais, Art.2º, II, está explicitado o objetivo
em garantir a participação da sociedade em todas as decisões de interesse público,
através de associações representativas, na construção, implantação e
acompanhamento de planos, programas e projetos que estejam ligados ao
desenvolvimento urbano.
Com isso, tem-se garantido a participação da sociedade nos governos para
muito além das eleições, sendo uma participação permanente, capaz de exercer o
controle público do poder, através da criação de mecanismos que garantam esse
49
exercício. Para Teixeira (2001), trata-se de uma noção de soberania popular, no
sentido de não apenas eleger mandatários, mas de também poder exercer o controle
sobrre os mesmos, de forma permanente, e não só por eleições.
Sabe-se ainda, que apesar da luta histórica pelo estabelecimento da
democracia, ainda existem fatores que segundo Bonalume (2007; 2008) são nocivos a
mesma, como a burocratização, o clientelismo, a instrumentalização partidária e a
manipulação de pessoas e instituições. Essas barreiras impendem a acessibilidade a
participação, principalmente as camadas populares mais carentes e menos
organizadas, sendo preciso o investimento no próprio cidadão para a superação dessa
realidade, construindo formas de ação participativa que possibilite a inclusão daqueles
que mais necessitam dela.
A democratização da informação e do conhecimento é uma dessas vias, visto
que, participar requer oportunidades igualitárias de informação e capacitação, pois,
para que as discussões possam avançar e dar resultados significativos para a
coletividade, devem ser realizadas entre pessoas que possuam um entendimento das
questões de interesse comum, como o conhecimento da própria realidade, a definição
dos papéis, os interesses que estão em jogo, as limitações, as possibilidades, etc.
No que diz respeito aos fatores que dificultam o estabelecimento da democracia,
e logo da participação, Teixeira (2001, p. 28-29) alerta que:
Se alguns requisitos podem ser apontados como necessários para que se efetive a participação, estes não podem ser tomados de modo absoluto e sua eventual ausência vista como impedimento, mas, no máximo, como obstáculo à sua qualidade e eficácia.
O autor acrescenta que quando a ausência desses requisitos são tomados como
impedimentos a participação, pode-se cair num círculo vicioso em que determinadas
condições impedem a mesma, e ao mesmo tempo, as mudanças não acontecem
porque não há participação.
Com a intensificação das discussões a respeito das políticas públicas de esporte
e lazer no Brasil, surgiram questionamentos da forma como estas historicamente foram
formuladas e executadas, notadamente marcadas por fatores que também são
considerados prejudiciais a democracia, como a seleção, a fragmentação, a exclusão e
50
o caráter setorizado. Bonalume (2007) aponta que entre as alternativas de superação
desse quadro, está a participação da sociedade nos processos envolvidos para o
estabelecimento dessas políticas.
Como pode ser observado no aparato legal que trata especificamente da
participação nas políticas públicas de Espore e Lazer, a já citada Política Nacional do
Esporte, merecendo destaque a Diretriz 7. Gestão democrática: participação e
controle social, na qual é colocada a necessidade de se estabelecer uma rede de
intervenção, por meio dos diversos segmentos sociais, com vista em ampliar o foco de
atuação; e a Diretriz 8. Descentralização da Política esportiva e de lazer, quando é
apontado a importância de ampliação dos canais de diálogo entre governo, entidades
esportivas e sociedade, em favorecimento das possibilidades de participação, interação
e colaboração, assim como, a criação dos Conselhos e Conferências do Esporte.
O que aponta para mudanças nos modelos tradicionais e burocráticos de
organização dos órgãos responsáveis pelo esporte e lazer, pois através da participação
torna-se viável a substituição das hierarquias centralizadas por uma administração
inclusiva e democrática, ao passo em que, possibilita que a sociedade faça parte de
todo o processo de construção das políticas, e tenham firmados mecanismos de
controle social, garantido assim, tanto a legitimidade, quanto a eficiência e eficácia das
ações.
São apontados por Teixeira (2003) alguns momentos que precisam ser
devidamente acompanhados para uma participação efetiva e eficaz da sociedade civil,
a construção de um diagnóstico participativo, identificando limites e possibilidades;
identificação de experiências bem sucedidas, servindo de base para criação de novas
alternativas; o debate público em torno das alternativas; definição em torno das
possibilidades, dos papéis das esferas públicas envolvidas, recursos, cronograma e
parâmetros avaliativos; detalhamento dos projetos e identificação das fontes de
recursos; na execução, transparência e fiscalização; avaliação dos resultados e
redefinição das ações.
É de extrema importância participar do processo de construção das políticas
públicas, desde o início de sua elaboração, no qual as prioridades são definidas dentro
do interesse comum, levando em consideração limites e possibilidades, numa relação
51
de diálogo entre sociedade civil e poder público, perpassando pelo acompanhamento
da execução e avaliação das mesmas, onde estas políticas são rediscutidas para
redefinição de alguns pontos que precisam ser melhorados, na busca de que seus
objetivos sejam atingidos com qualidade.
A construção de uma política pública de esporte e lazer mais transparente e
democrática, na visão de Zingoni (2003), só pode avançar se estiver combinada com a
descentralização administrativa, a criação de alguns mecanismos que ampliem a
participação cidadã. Os mesmos serão discutidos a seguir, a partir das considerações
de Bonalume (2007; 2008):
Conselhos de Políticas e de Direitos: constitui-se num espaço de disputa,
discussão negociação e conflito, combinando participação direta e por representação.
É uma forma de controle exercida pela sociedade civil através da ação organizada,
permitindo a ampliação de mecanismos de soberania e diminuição de delegação de
poder.
Conferências: são eventos realizados para que as políticas públicas sejam
discutidas periodicamente, nas três esferas de governo, para que sejam proposta
diretrizes e princípios de ação, definidas em formas de resoluções, para serem
implementadas pelo poder executivo e pela sociedade.
Orçamento Participativo: tem como princípio básico a decisão coletiva dos
investimentos públicos, sendo considerado uma das principais formas de democracia
direta. Configura-se num modelo de co-gestão, que para se concretizar precisa que o
governo abra mão do poder de decisão que até então, era de exclusividade sua, em
lugar da participação.
No Orçamento Participativo (OP) os problemas da coletividade são colocados,
discutidos e são definidas em conjunto as prioridades na direção do orçamento. Muitas
experiências demonstram sua eficácia não só pela inversão de prioridades na
destinação dos recursos, mas pela instalação de uma cultura, que segundo Teixeira
(2001) responsabiliza o cidadão pelo controle dos atos políticos do Estado, tornando
mais ampla a participação da sociedade civil na tomada de decisões do poder. O autor
alerta, que não se pode esquecer que essa é uma metodologia que pode ser utilizada
por qualquer grupo político que esteja no poder, e portanto, pode ser empregada para
52
diversos fins, como o marketing eleitoral, e correndo risco de dirigismo, em certos
casos, quando são implantados de cima para baixo, em municípios onde a sociedade
civil é pouco organizada.
No geral, estes espaços públicos têm papel politizadores, normativos e
fiscalizadores, desta forma, podem potencializar a quantidade e a qualidade da
participação cidadã, ao mesmo passo em que, trazem uma maior legitimidade,
sustentabilidade e eficácia nas políticas sociais. Menicucci (2006) cita que por estas
políticas trazerem impacto na vida das pessoas, não podem ser efetivas se não forem
aderidas pelo público alvo, e no caso das políticas de esporte e lazer essa participação
torna-se essencial, dada a inserção das mesmas no campo cultural. Portanto,
relacionando-se com valores, representações e sentidos atribuídos a certas práticas e
atividades por pessoas, grupos e sociedade. Com isso, jamais podemos entender a
população como meros espectadores, mas como parte fundamental deste processo, e
ter sempre claro, que a gestão democrática de políticas públicas torna as instituições
públicas mais eficazes.
Segundo Marcellino (2008) a ação comunitária serve como uma alternativa
operacional, principalmente por permitir a Organização que dote suas políticas de
características próprias, evitando que ela seja confundida ou reduzida a “indústria
cultural”. Contribui também, para minimizar os riscos de atuação de especialistas que
direcionam programas e projetos na configuração dos chamados “pacotes de lazer”,
prevalecendo sempre suas preferências. Além de alguns problemas advindos da
institucionalização, como a participação pela persuasão, quando não são apresentadas
alternativas de ação comunitária em atividades e projetos de cunho institucional, nestes
casos, não são cumprido os objetivos dos grupos envolvidos, mas o da instituição que
orienta as ações.
Sabe-se também, que em tempos de globalização e de princípios neoliberais
aflorados como o individualismo, desenvolver uma cultura de participação na
população, está colocado como um grande desafio. Daí a importância de transformar
as práticas democráticas, como colocado por Bonalume (2007), por mais simples que
sejam, em redes mais amplas, na qual as aprendizagens e trocas recíprocas ajudam na
qualificação e efetividade do processo.
53
Fica explícito nestas discussões a importância das inovações, aquelas
conceituada por Pinto (2003, p. 257) como a “educação conscientizadora de todos para
políticas públicas de esporte e lazer, considerando sua formulação, implementação e
avaliação”. A autora acrescenta que a maior inovação é a ação comunitária fundada na
cultura do diálogo, o que implica o compartilhamento de idéias e objetivos, respeitando
o outro e a identidade da própria comunidade.
Desta forma, a participação cidadã nas políticas públicas de esporte e lazer,
desde que aconteçam com qualidade, acabam criando maiores possibilidades para que
a realidade seja contestada e que se caminhe em direção da superação das
desigualdades sociais.
54
5 O CAMINHO PERCORRIDO
Na tentativa de superação do entendimento da realidade, a partir do primado do
sujeito ou do primado do objeto, tomamos como base epistemológica para o
desenvolvimento da presente investigação o materialismo dialético, cuja relação entre
homem e sociedade não é reduzido a um ou outro pólo.
Segundo Sell (2002), na perspectiva dialética9 existe uma eterna relação entre o
indivíduo e a sociedade, e isto possibilita que tanto o homem como a sociedade se
modifiquem, o que desencadeia o processo histórico-social.
Reportamos-nos a Marx (apud Shell 2002, p. 164) no momento em que ele
coloca que “os homens fazem a história, mas não a fazem como a querem. Eles a
fazem sob condições herdadas do passado”. Nesta fala, Marx traz a influência que as
estruturas sociais exercem sobre os homens e, através da dialética, demonstra que os
mesmo partem delas para modificá-las através de sua própria ação.
É baseado nesta lógica que buscaremos interpretar os parâmetros que
nortearam as ações do poder público no âmbito do esporte e lazer da gestão
pesquisada, trazendo análises a partir dos contextos que as modelaram, tanto no que
diz respeito as estruturas sociais que a influenciaram, quanto dos sujeitos responsáveis
por estas ações, e portanto, das relações dialéticas estabelecidas dentro deste
processo.
Adotamos como técnica de levantamento de dados a entrevista semiestruturada,
definida por Trivinos e Molina Neto (1999, p. 74), como a entrevista que é:
[...] pensada para obter informações de questões concretas, previamente definidas pelo pesquisador, e, ao mesmo tempo, permite que se realize exploração não-prevista, oferecendo liberdade ao entrevistado para dissertar sobre o tema ou abordar aspectos que sejam relevantes sobre o que pensa.
O roteiro de entrevista foi elaborado tendo como referência o Estatuto da
Cidade, que estabelece diretrizes gerais para a política urbana, e a Política Nacional do
9 Em Hegel a dialética tem a ideia como elemento fundante das coisas. Marx se apropria deste método, que entende a realidade como um movimento constante, mas altera seu fundamento, colocando no lugar do pensamento a matéria.
55
Esporte, que traça diretrizes específicas para a política de esporte e lazer.
Identificados os sujeitos da pesquisa, fizemos os contatos necessários, e depois
de marcada a data e local da entrevista, a mesma foi realizada de forma individual, com
cada um dos gestores vinculados as políticas públicas de Esporte e Lazer, que se
disponibilizaram a fazê-la. A saber, o prefeito que exerceu mandato durante os oito
anos de governo estudados, o vice-prefeito também secretário de Cultura, Esporte e
Lazer (2005-2006) e o coordenador de projeto da Secretaria Municipal de Cultura,
Esporte e Lazer - SECEL (2001-2008) gestor desta secretaria (2003-2004 e 2007-
2008).
A investigação direta e sistemática com os gestores públicos da cidade de
Alagoinhas teve extrema significância para o atendimento dos objetivos da pesquisa,
ao passo em que possibilitou explorar o espectro de opiniões e as diferentes
representações sobre o objeto em questão.
No intuito de qualificar o trabalho e ampliar as fontes de dados, utilizamos a
análise documental que, segundo Duarte e Barros (2005), consiste na extração
científica e informativa, propondo-se a identificar as novas mensagens subjacentes no
documento, conseguindo trazer novas perspectivas, sem deixar de respeitar a
substância original dos documentos.
Para tanto, solicitamos ao último gestor da Secretaria Municipal de Cultura,
Esporte e Lazer – SECEL e coordenador de projeto deste mesmo órgão, projetos,
programas, relatórios, ou qualquer outro documento relativo às políticas públicas de
Esporte e Lazer no município, sendo disponibilizado através de e-mail, o
“Levantamento de Ações do Governo Municipal”, referente a SECEL, do ano de 2005,
2006 e 2008.
No momento da entrevista, foi fornecido o relatório sobre o trabalho desenvolvido
por esta secretaria, que foi entregue a gestão seguinte, intitulado de “Breve abordagem
do conceito de Cultura que norteou a construção e alinhamento com a Política Pública
de Cultura nacional”. Além de também termos analisado a Lei Orgânica do município,
disponível no site oficial da prefeitura, sobre a responsabilidade desta mesma gestão.
Para efeito da análise de dados, apoiamo-nos na Análise do Discurso (AD), a
partir dos estudos de Orlandi (2005), que segue a linha francesa, da qual Michel
56
Pêcheux é o percussor. Ela tem como filiações teóricas a Lingüística, o Marxismo e a
Psicanálise. E a partir destas influências:
Concebe a linguagem como mediação necessária entre o homem e a realidade natural e social. Essa mediação, que é o discurso, torna possível tanto a permanência e a continuidade quanto o deslocamento e a transformação do homem e da realidade em que ele vive (ORLANDI, 2005, p. 15).
Nesta perspectiva, a língua não é entendida como um sistema abstrato, mas em
sua materialidade, levando em consideração o homem dentro de sua história, o
processo e as condições de produção da linguagem.
Sobre o discurso, Pêcheux (1975), citado por Orlandi (2005), afirma que ele não
pode existir sem o sujeito e que não há sujeito sem ideologia10
. Com isso, parte-se do
princípio de que a materialidade específica da ideologia é o discurso e que a
materialidade específica do discurso é a língua, trabalhando a relação entre língua,
discurso e ideologia.
Desta forma, a noção de discurso se distancia da linearidade na disposição dos
elementos da comunicação, na qual alguém fala, refere alguma coisa, baseando-se em
um código, e o receptor capta a mensagem (informação). Na AD, não se trata apenas
da transmissão de uma informação, mas sim de um discurso. Portanto, não há esta
separação entre emissor e receptor e necessariamente não acontece esta lógica de
que primeiro alguém fala e depois o outro decodifica. Orlandi (2005) aponta que o
funcionamento da linguagem põe em relação sujeitos e sentidos que são afetados pela
língua e pela história, dotando de complexidade os processos de constituição dos
sujeitos e a produção dos sentidos, por isso ela define o discurso como o “efeito de
sentidos entre locutores”.
Sendo assim, temos que todo discurso é fruto de tudo o que já foi dito,
carregando em si uma ideologia, a partir de concepções já existentes. Desse modo, é
impossível estar totalmente livre de influências.
10
Nesta perspectiva de AD, a ideologia não é entendida como conjunto de representações, como visão de mundo ou ocultação da realidade. Para Orlandi (2005, p.48), não há realidade sem ideologia, “enquanto prática significante, a ideologia aparece como efeito da relação necessária do sujeito com a língua e com a história para que haja sentido”.
57
Para a autora (2005, p. 9), a contribuição da AD está em nos colocar “em estado
de reflexão e, sem cairmos na ilusão de sermos conscientes de tudo, permite-nos ao
menos sermos capazes de uma relação menos ingênua com a linguagem”.
É a partir dessas considerações que temos o desafio de captar os sentidos dos
discursos que permearam nossa fonte de dados e trazê-los dentro das condições em
que foram produzidos e dos contextos que os condicionaram.
58
6 DISCUTINDO A GESTÃO DO ESPORTE E LAZER EM ALAGOINHAS
Dado o estabelecimento das políticas neoliberais no país, sobre a tríade da
descentralização, desregulamentação, privatização e logo, do Estado mínimo, os
investimentos em políticas sociais acabaram sendo reduzidos. Em consequência disto,
há um recuo nas ações voltadas ao esporte e lazer, e é estabelecida uma crescente
tendência pela mercadorização dos mesmos, quando o acesso a essas práticas passa
a ser definido pela condição de consumidor de cada um, e não apenas de cidadão.
A partir dessa subordinação do esporte e lazer à lógica do capital, as lacunas
nesse campo iam se alargando, ao passo em que, não existia uma preocupação por
parte dos governos em sistematizar uma Política e um Sistema Nacional de Esporte e
Lazer. Com a entrada do Governo Lula, em 2003, quando é criado o Ministério do
Esporte, inicia-se a preocupação em pensar uma política nacional para este campo,
tendo a dimensão de sua importância enquanto problema político que necessita da
intervenção do poder público. Esta política é pensada a partir de debates envolvendo a
sociedade, concretizado na I Conferência Nacional do Esporte em 2004, que
impulsionou a publicação do documento referente à Política Nacional do Esporte, em
2005, na qual são explicitados os objetivos, princípios e diretrizes para a efetivação das
políticas públicas nesse âmbito.
Também é realizada a II Conferência Nacional do Esporte, em 2006, gerando
resoluções que objetivam consolidar a Política Nacional, assim como, criar mecanismos
que venham garantir a execução e acessibilidade da mesma em todas as dimensões
de governo, e definir os papéis das entidades dirigentes do esporte e lazer.
Apesar deste sistema ainda está em processo de consolidação, para que se
efetive como tal e possa ultrapassar a esfera do governo, tornando-se uma política de
Estado, ele é o que temos de mais concreto atualmente, servindo de referência para as
gestões das políticas públicas de esporte e lazer, principalmente no espaço onde elas
se concretizam, a cidade.
Em Alagoinhas - BA, a Prefeitura Municipal, no período de 2001-2008 foi
administrada pela Frente Popular. E sabendo que as administrações conduzidas por
governos de esquerda priorizam as questões sociais, seu modelo de gestão pública
59
buscou ser democrático e participativo, manifestando-se, principalmente, na consulta à
sociedade para o direcionamento de ações do governo em espaços de debates
públicos, como o OP.
Com isso, a cidade experimentou novas práticas de gestão, através da
negociação democrática, tornando-se um espaço privilegiado de políticas públicas com
amplas possibilidades de irradiação de suas experiências bem sucedidas para os
municípios circunvizinhos.
A discussão sobre a situação do esporte e lazer dentro deste processo e a sua
articulação com o cenário nacional, será realizada a seguir, a partir das entrevistas com
os gestores públicos e da análise de documentos que também serviram de base para
entender a realidade investigada.
No primeiro momento, faremos a análise das entrevistas, através do
estabelecimento de algumas categorias que se configuram como subsídios importantes
para uma administração efetiva, eficaz, e legítima das políticas públicas de esporte e
lazer, tomando como referência a Política Nacional do Esporte e o Estatuto da cidade.
Sendo elas a concepção de políticas públicas dos gestores, os projetos e programas, o
aparato legal municipal, a política de financiamento, a formação de quadros e as
possibilidades e desafios da gestão.
O segundo momento se dedicará aos documentos disponibilizados para o
estudo, a saber: “Breve abordagem do conceito de Cultura que norteou a construção e
alinhamento com a Política Pública de Cultura nacional”, o “Levantamento de Ações do
Governo Municipal”, referente a SECEL, do ano de 2005, 2006 e 2008 e a Lei Orgânica
do Município de Alagoinhas. As análises dos mesmos serão realizadas buscando
articulações com os discursos e com o Sistema Nacional de Esporte e Lazer.
6.1 ANALISANDO O DISCURSO
Antes de qualquer coisa, é essencial tornar explícito quais são os sujeitos da
pesquisas e de onde eles falam, para que algumas questões levantadas sejam
esclarecidas durante a discussão. Dentre os que se disponibilizaram a fazer parte deste
estudo, temos:
60
Prefeito - o gestor que exerceu mandato durante os oito anos de governo
estudados;
Secretário 01 - o vice-prefeito, também secretário de Cultura, Esporte e Lazer
(2005-2006), pertencente a um outro partido político, participando desta
administração pelo estabelecimento de coligação, que é rompida com a
candidatura do mesmo a prefeitura, em oposição ao candidato de sucessão
do governo;
Secretário 02 - o coordenador de projeto da SECEL (2001-2008) gestor desta
secretaria (2003-2004 e 2007-2008), artista visual e historiador.
Dado os gestores públicos que fizeram parte desta investigação, faremos então
a análise dos discursos, a partir das categorias já citadas. As mesmas serão o ponto de
partida para identificar os elementos que modelaram a situação do esporte e lazer em
Alagoinhas – BA, na gestão pesquisada.
6.1.1 A concepção de políticas públicas na visão da gestão municipal
Nesta seção temos o foco nos parâmetros que nortearam as ações do poder
público voltadas ao esporte e lazer no município.
Quando questionamos ao prefeito a concepção de políticas públicas que
orientou sua gestão, ele nos apontou que primeiro se tinha a dimensão que trabalhar
nesse campo exigia a criação de uma secretaria para o mesmo, a partir disso a SECEL
foi institucionalizada. Depois que era preciso entender o esporte com uma visão de
massa, de comunidade e não apenas ligado às competições. E trazendo a falta de uma
política nacional nesse âmbito, as dificuldades de orçamento pela própria hierarquia de
necessidades, na qual os níveis de saneamento deviam ser priorizados, justifica as
barreiras enfrentadas. Neste contexto, foi decidido que iriam descentralizar os locais do
esporte e introduziram a perspectiva de ter nos concursos públicos, vagas para
professores de Educação Física. Comenta que apenas no segundo mandato
conseguem aprofundar suas intervenções:
[...disciplinando campeonatos, estando próximo a algumas modalidades que
historicamente nunca aconteceram aqui, como a parte de ciclismo, a parte de
61
MotoCross, também outros esportes considerados de aventura e uma série de outras
modalidades, principalmente estimulando e envolvendo a juventude].
Fica claro que na visão do prefeito a prioridade de sua administração estava na
construção do saneamento básico para o município, e por este motivo, a parte do
esporte e lazer enfrentou dificuldades, principalmente financeiras. Concretizando a fala
de Bramante (2004) quando afirma que os setores de esporte e lazer, são os de menor
importância nos planos de governos. Quando na verdade, este setor deveria estar no
mesmo patamar das outras políticas. Ele avança quando entende que é importante a
criação de uma secretaria e ao sinalizar a preocupação em trazer pessoas qualificadas
para atuarem na mesma. Entretanto, na prática não verificamos uma escolha mais
criteriosa para a nomeação dos gestores do esporte e lazer, assim como, com a
formação de quadros de atuação para esta área.
O gestor traz uma concepção de esporte em sua fala que se aproxima do
esporte participação definido por Tubino (1999) como aquele ligado ao espírito
comunitário e a integração social, servindo de fortalecimento das relações sociais. Mas
contradiz esse entendimento, ao trazer exemplos das intervenções em seu segundo
mandato, através de campeonatos (mesmo no amadorismo, os valores da sociedade
capitalista são reproduzidos: seleção, exclusão, competição) e esportes de aventura
(sempre exigem determinados equipamentos, e portanto, nem todos tem acesso ao
mesmo), além de explicitar apenas os jovens como público alvo dessas práticas.
Para os secretários, a centralidade das ações estava voltada para aquilo que era
demandado no OP, como cita o Secretário 01:
[Era um governo popular, que ouvia a população, todas as ações desenvolvidas,
levavam em conta as assembléias temáticas do orçamento participativo, portanto, tudo
que foi feito lá, não saiu da cabeça de ninguém isoladamente].
O gestor acrescenta que construíram um planejamento estratégico e que todas
as secretarias trabalhavam numa visão sistêmica. Buscaram também, estabelecer uma
política e um sistema de cultura, esporte e lazer, quando realizaram a I Conferência
Municipal de Esporte e Lazer, e Alagoinhas passa a fazer parte do Sistema Nacional de
Esporte. Além da tentativa de estabelecer relações com a universidade, assim como, a
luta pelo aumento do orçamento para a esse âmbito.
62
O Secretário 02 comenta que quando assumiram, tinham a consciência histórica,
[...com uma responsabilidade própria, de todo partido de esquerda, de ter uma visão
materialista da história], criticando as práticas clientelistas, que são comuns no campo
do esporte e lazer, utilizadas para fins políticos, de manipulação do voto.
Como se tratava de um governo que se propôs a ser democrático, com visão
materialista da sociedade, a consulta a população foi um elemento muito forte dentro
dessa gestão, sempre presente no discurso dos entrevistados. Mas devemos estar
atentos, as diretrizes e princípios da gestão democrática, explicitado no Estatuto da
Cidade, Em seu Capítulo I, Diretrizes Gerais, Art.2º, II, que visa garantir a participação
da sociedade não apenas na consulta, mas em todas as decisões de interesse público,
na construção, implantação e acompanhamento de planos, programas e projetos que
estejam ligados ao desenvolvimento urbano.
A busca por estabelecer um sistema de esporte e lazer para o município, foi um
ponto de extrema relevância. Através dele seria possível criar diretrizes, princípios e
parâmetros claros e explicitados para nortear as políticas públicas nessa área. Assim
como, a luta pelo aumento do orçamento é de grande significância para fortalecer e
viabilizar os programas e projetos.
Para entender como essas questões aconteceram na prática, e de que forma as
idéias se concretizaram, traremos a seguir discussões relacionadas aos projetos e
programas elaborados e implementados nessa administração.
6.1.2 Projetos e Programas: desafios e limites da cidadania
Nesta categoria, fizemos questionamentos referentes à elaboração e critérios
determinantes na construção dos projetos e programas, sobre os implementados,
assim como, sobre normas de utilização dos equipamentos.
Segundo os gestores, os critérios que direcionavam a construção dos programas
e projetos, vinham da discussão com a comunidade, reforçando mais uma vez, o
discurso da participação. O prefeito afirmou que:
[...partimos da discussão plural com a comunidade para que a gente pudesse
alinhavar as intervenções que considerávamos prioritárias, a luz do entendimento da
63
própria comunidade].
O Secretário 01 coloca ainda, que levaram em conta que o esporte não era algo
secundário e que precisa estar no patamar das outras políticas públicas municipais,
tendo o mesmo grau de importância dentro do governo. Posição que se contrapõe a do
prefeito, já que este deixa claro que diante de tantos problemas de saneamento, as
ações no setor do esporte e lazer acabavam sendo dificultadas.
Quanto à elaboração, este dirigente traz que a SECEL era divida em
departamentos: o de cultura, o de esporte e o de lazer, e no caso específico do
esporte, o diretor, que tinha formação em Educação Física, era quem estava à frente
desses projetos assessorado por outros funcionários.
Já o Secretário 02, afirma que em cada setor da gestão pública quem priorizava
era a comunidade, mas [...nós, enquanto servidor do executivo, nós tínhamos o papel
do técnico de elaboração, encaminhamento e execução. Quem senta para elaborar o
projeto de cultura sou eu].
A divergência nas informações pode ser atribuída às diferenças na gestão de
cada um. Enquanto o primeiro diz que tinha um diretor atuando em sua área de
formação e por isso era responsável pelos projetos deste campo, assessorado por
outros funcionários, o segundo secretário, quando traz em sua fala [sou eu], dá indícios
da centralidade presente nas etapas por ele mesmo colocado: elaboração,
encaminhamento e execução.
Menicucci (2006) cita que por estas políticas trazerem impacto na vida das
pessoas, elas não podem ser efetivas se não forem aderidas pelo público alvo, em
todas as suas etapas. E no caso das políticas de esporte e lazer essa participação
torna-se essencial, dada a inserção da mesma no campo cultural. Portanto,
relacionando-se com valores, representações e sentidos atribuídos a certas práticas e
atividades por pessoas, grupos e sociedade.
Sobre os Projetos e Programas elaborados e implementados, o Secretário 01
nos apresenta as propostas aprovadas junto a comunidade na I Conferência Municipal
de Esporte e Lazer em Alagoinhas. Nesse espaço foi discutida a sistematização de
uma política de esporte consistente, que teria reflexos positivos na saúde, no lazer, na
economia local. Nesta perspectiva, o gestor afirma que seria imprescindível trabalhar
64
através da intersetorialidade. Foi pensado também, em levar essa política, para os
diversos espaços da cidade, tendo em cada bairro oficinas de esporte com ações
orientadas, para todas as faixas etárias.
Acrescenta a criação de um Fórum Municipal dos Gestores do Lazer, no qual
essas políticas anualmente, pudessem ser repensadas e reelaboradas, sendo
executadas em consonância com as diversas entidades ligadas ao esporte na cidade, e
finaliza sorrindo: [...enfim, foi muito sonho].
Questionamos então se essas oficinas e fóruns aconteceram, ele então
esclarece, que estava falando daquilo que havia sido pensado na conferência: [...essas
idéias perpassaram a conferência, ficou tudo aprovado, discutido com a comunidade, a
partir daí eu me afastei. Mas acho que muita coisa foi adiante e outras não…].
A perspectiva de pensar na sistematização de uma Política Municipal de Esporte
e Lazer, de ter realizado conferência, de programar a realização de Fóruns para avaliar
e reelaborar as políticas públicas de esporte e lazer da cidade, seria uma experiência
inovadora, e que certamente tornaria as ações mais eficientes e legítimas, como
também, traria mais consistência e solidez ao sistema e a política municipal do esporte,
que haviam pensado.
Mas, como o próprio secretário traz: [Foi muito sonho], e diz isso com um sorriso
transparecendo a esperança que tudo aquilo ainda se concretize. Já que, logo após a
realização da conferência, onde tudo isso foi pensado, precisou se afastar do cargo.
Com o Secretário 02 é possível ter uma noção daquilo que ultrapassou as idéias.
Coloca que primeiro se priorizou trazer a infraestrutura necessária para que os projetos
e programas acontecessem, citando a construção e reformas de quadras
poliesportivas, a construção da pista de skate, a reforma do Estádio e por fim a vinda
do Projeto Segundo Tempo, que só foi possível, segundo ele, por terem conseguido
tais equipamentos.
Além da pista de skates, não são mencionados nenhum outro equipamento de
esporte pela cidade que não seja quadras e o estádio, utilizado apenas pelo esporte de
alto rendimento, e, portanto, a participação da sociedade está no consumo do
espetáculo. É o que Melo (2004) chama de “monocultura do futebol”, dentro das
práticas esportivas e de lazer. Temos então, uma restrição de ofertas, que
65
consequentemente reduzem as possibilidades das vivências do esporte e do lazer.
No que diz respeito as normas de utilização do espaço, tanto o prefeito, quanto o
Secretário 01, afirmam que isso nunca existiu, estava pensado para uma etapa futura
que não foi possível depois do processo eleitoral. O secretário afirma que:
[...em poucas cidades brasileiras existe essa preocupação em como se utiliza o
espaço, como se garante a manutenção e conservação desse equipamento público,
que responsabilidade teria quem está usando].
Com isso, ele toma como parâmetro uma referência negativa da realidade
brasileira, até mesmo para justificar esta lacuna em sua gestão.
Segundo o Secretário 02, quando o espaço é institucionalizado, ele passa a ter
normas construídas pela própria comunidade, [...que tutela aquilo ali, que foi prioridade
dela enquanto comunidade...], e, portanto, os equipamentos são de responsabilidade
de cada associação de bairro, que reivindicou por aquele espaço, aquele equipamento.
E desta reforma, transfere essa responsabilidade à própria sociedade, negando seu
papel de gestor, também responsável por cuidar do espaço público.
A análise deste cenário dos projetos e programas de esporte e lazer em
Alagoinhas demonstra que os ideais estiveram muito distantes da realidade concreta,
revelando a superficialidade das ações voltadas para esse âmbito, nesta administração.
6.1.3 Ordenamento Legal: implicações para realização de políticas públicas de
esporte e lazer
As leis servem de referência para nortear as ações do poder público, assim
como, para garantir que a sociedade civil também participe deste processo. Daí a
importância de trazer o ordenamento legal municipal para a discussão com os gestores.
Perguntamos aos entrevistados sobre as leis que organizam o esporte e lazer na
cidade, o prefeito afirma que elas não estão organizadas em conjunto, sendo
necessário organizar melhor essa parte, não apenas para o esporte e lazer, mas para
outras áreas.
Na fala do Secretário 02, a inexistência de um aparato legal bem sistematizado,
é justificado pelas lacunas existentes na legislação das outras esferas de governo, pois
66
segundo ele [..., ordenamento jurídico de qualquer país parte de uma lei maior, que são
as leis federais, depois vêm as leis estaduais e as leis municipais. Se não existia
legislação federal, nem estadual como é que agente fala de legislação municipal?...].
O dirigente justifica a falta de um ordenamento legal voltado para o esporte e
lazer, de forma mais coerente e sistematizado, a partir da fragilidade da própria
Constituição Federal. Para Menicucci (2006) esta indefinição constitucional, pode gerar
ambiguidades e diferenciações nas ações governamentais voltadas para o esporte e
lazer, mas também pode se constituir num espaço de edificação de políticas de lazer
criativas e inovadoras.
Segundo o Secretário 01, no nível de leis se tinha a criação da SECEL e a
proposta de criação do Conselho Municipal de Esporte e Lazer - CMEL, que estaria
aguardando aprovação pela câmara, assim como foi deixado em elaboração o decreto
para disciplinar a lei de incentivo ao esporte.
Entre os motivos para o descrédito das políticas públicas de esporte e lazer
Zingoni (2003) aponta a ausência de meios legais para controle populacional das ações
nesse âmbito. Tornando também a gestão distante daquilo que é recomendado nas
Resoluções da II Conferência Nacional do Esporte: “fundar-se no controle social
caracterizados pelo trabalho em conjunto com os conselhos de esporte, tanto no
repasse de recursos quanto na construção da política, pautando-se no planejamento
estratégico” (BRASIL, 2007, s/p). Com isso, a inexistência do CMEL em Alagoinhas,
não permite que a participação nestas políticas avance como deveriam.
A partir do exposto, verificamos a falta de compromisso do legislativo com o
esporte e lazer no município e do seu entendimento enquanto problema político, pela
ineficiência do cumprimento de seus papéis no cenário das políticas públicas,
dificultando avanços nessa área.
6.1.4 A política de financiamento para o esporte e lazer em foco
O orçamento destinado ao esporte e lazer é um dos fatores que mais dificultam
o trabalho nesse campo, pois não é dada a mesma importância que os outros setores,
sendo comum que eles recebam a menor parte dos recursos municipais. Com isso, a
67
busca por parcerias com órgãos públicos e privados, tem se mostrado como uma das
soluções viáveis para superar essas questões, assim como a luta para que o mesmo
seja aumentado.
Em Alagoinhas, ainda se tem um outro aspecto a ser considerado, a junção do
esporte e lazer à cultura. Segundo o Secretário 01, essa questão foi uma luta, sendo
aprovado na Conferência Municipal de Esporte e Lazer no mínimo 1% para o esporte, e
que a meta era que chegasse a 1,5% do recurso total do município. Alerta ainda para
um ponto importante, como a secretaria abriga cultura, esporte e lazer esse orçamento
era único para todas as ações desenvolvidas pela SECEL, e portanto:
[...quando acabava a Micareta, o São João, nós estávamos praticamente sem
recursos pra tocar os programas da secretaria, mas estava sendo resolvido quando eu
saí. (...) essa é uma luta que deve prosseguir, inclusive vocês de Educação Física,
porque nada no poder público acontece sem pressão...].
É comum ainda, que em muitas gestões a ênfase esteja nos eventos e ações
que dão mais visibilidade ao governo, e com isso, os investimentos nas atividades que
possibilitam a vivência do esporte e lazer como prática social, que contribuem para o
desenvolvimento dos cidadãos são deixados de lado. Marcellino (2007), também
aponta essa evidência, ao afirmar que as políticas públicas de esporte e lazer vêm se
manifestando pela ausência de explicitação de seus objetivos e princípios, sendo
substituída por calendários festivos ou por pacotes baixados de gabinetes técnicos.
O gestor coloca que a busca por melhorias no orçamento deve continuar,
alertando que esse é um papel que também diz respeito a comunidade acadêmica,
quando se refere a [vocês de Educação Física], e que sem a organização da sociedade
civil em prol dessa questão não será possível alcançar ganhos nesse sentido.
As discussões sobre orçamento perpassam pela questão da descentralização.
Nesta perspectiva a responsabilidade é passada para as prefeituras, mas nem sempre
vem acompanhado dos recursos necessários, dificultando o atendimento a muitas
demandas.
Por este motivo a autonomia de realizar políticas próprias sem vinculação com
os programas federais ou estaduais se tornam mínimas, já que esses repasses
dependem muito de negociações que são levadas em consideração a posição política,
68
além da concentração de renda tributária, sendo privilegiados os poucos municípios
que possuem um considerável desenvolvimento econômico (TEIXEIRA, 2002).
Esta dificuldade em realizar políticas de forma autônoma, aparece na fala do
Secretário 02 ao trazer que a prioridade era definida pela sociedade, e [...se o governo
tem condição de fazer enquanto governo municipal, com orçamento próprio, faz, se não
tem, vamos correr atrás dentro do processo de planejamento...].
Quanto as parcerias com órgãos públicos, o Prefeito coloca a grande dificuldade
enfrentada nos seis primeiros anos de seu governo em fazer interlocução com o
governo estadual, o que implicava em barreiras para a gestão do esporte e lazer na
cidade:
[Estruturalmente é muito difícil que o município responda pelas demandas
específicas, de áreas como essa área do esporte, sem o concurso, sem a presença,
sem a mediação dos outros entes federados. O governo federal sim, apontou a partir
do governo Lula, com a perspectiva de cuidar nacionalmente dessa dimensão ligada ao
esporte, mas infelizmente isso não era verticalizado com a presença do estado].
Por causa desta barreira de cunho político, as parcerias se deram na maioria das
vezes a nível federal, pelo Ministério do Esporte. Os secretários citam essas parcerias,
através de editais, elaborando os projetos para captar os recursos almejados,
exemplificando com a reforma do Estádio Antônio Carneiro e com a implantação do
Projeto Segundo Tempo na cidade.
No caso dos órgãos privados foi unânime entre os entrevistados, as dificuldades
enfrentadas para o estabelecimento dessas parcerias, já que os grandes
conglomerados só têm interesse em patrocinar aqueles projetos e eventos que deem
visibilidade a sua empresa, e mesmo nesses casos a resposta não era tão positiva.
Desta forma, a política de financiamento do esporte e lazer em Alagoinhas, está
colocada como uma das maiores barreiras parta efetivação destas políticas na cidade,
as parcerias com o estado e com órgão privados são quase inexistentes e com os
órgãos federais não são suficientes. Assim como, não são perceptíveis, por parte do
poder público municipal, muitos esforços para reversão desta situação.
69
6.1.5 A política de formação de quadros para atuação no esporte e lazer
A qualificação dos quadros na gestão do esporte e lazer tem papel fundamental
dentro dessas políticas, pois são aqueles que dão vida aos projetos e programas.
Sendo uma das recomendações das Resoluções da II Conferência do Esporte às
secretarias, a garantia, por meio de concurso público, de espaço para profissionais de
Educação Física e outros trabalhadores vinculados ao esporte e lazer, com plano de
carreira definido.
Quando questionado sobre a formação do quadro de profissionais que atuavam
na área do esporte, recebemos informações controvérsias. Primeiro o Prefeito afirma
que nenhum dos secretários tinha formação específica em Educação Física, mas que
havia profissionais assessorando o trabalho, pois [...vários profissionais da EF
passaram no concurso e alguns foram chamados]. O Secretário 01 assegura que havia
poucos profissionais concursados dentro da secretaria, que a maioria era proveniente
de cargos de confiança, e portanto, sujeitos as intempéries políticas. Destacando que:
[...até hoje não tem nenhum profissional de educação física no quadro efetivo,
contratado executando políticas de elaboração e execução. Essa é uma reclamação
que nós fizemos, precisamos avançar nesse sentido ter o corpo técnico, qualificado,
concursado, mas não tínhamos].
Segundo Zingoni (2003) este é um fato comum, pois como é dada menor
importância aos setores de esporte e lazer, as indicações de cargos dos seus gestores
e de outros profissionais normalmente não seguem os mesmo critérios que os outros
setores, daí a importância de se estimular a contratação de profissionais preparados
para atuarem na área e da escolha mais criteriosa para seus gestores, assim como de
implantação de programas de formação e renovação de quadros.
O Secretário 02, que mais tempo passou a frente da SECEL, comenta que em
relação ao que encontrou, deixou a secretaria mais enxuta, mas com qualidade, tinha
um secretário, três coordenadores e um diretor. Sobre a formação destes afirma: [O
diretor é necessário que tenha uma formação intelectual, um nível superior, quanto ao
coordenador era muito mais técnico de campo]. Apontando que um dos diretores de
esporte que passou pela secretaria tinha formação em Educação Física.
70
Os quadros de atuação, são um dos elementos essenciais, já que muito dos
problemas encontrados nas políticas públicas de esporte e lazer são atribuídos a falta
de qualificação dos gestores desse setor e a consequente dificuldade em inovar e gerir
ações que realmente atendam as demandas da população. Desta forma, não basta ter
um nível superior, é preciso que esteja qualificado para tal função.
No que diz respeito a programas de qualificação, o Prefeito diz que não existia,
mas que essa era uma preocupação a ser estruturada e implantada. Já o Secretário
01, aponta como programa de qualificação os cursos desenvolvidos em parceria com a
UFBA para árbitros de futebol e para os gestores, que seriam técnicos de clube
amadores. Acrescenta que a ideia era prosseguir nisso estabelecendo parceria com a
UNEB, mas isso não avançou, [...como eu era vice-prefeito na época e era estudante,
tentei ser esse elo para que houvesse uma maior interação entre a universidade e a
cidade e o poder público e não consegui, houve muita dificuldade de parte a parte].
Nesta colocação do gestor, fica perceptível um entendimento restrito do que
seria programas de qualificação de quadros, já que o mesmo aponta cursos de
formação de árbitros e de dirigentes, que são técnicos de times de futebol, quando na
verdade esses programas deveriam estar voltados a formação política e administrativa
dos gestores, e de todo quadro efetivo, quando seriam discutidos novas formas de
gestão, princípios políticos e pedagógicos que guiariam as ações democráticas na área,
entre outros.
A parceria com a universidade, segundo o secretário não avançou por haver
[dificuldade de parte a parte]. Seria importante a participação da comunidade científica
na organização e planejamento desse programas de qualificação, para que se pudesse
socializar o conhecimento construído dentro da universidade, não apenas com os
gestores, mas com todos os profissionais envolvidos com as políticas públicas de
esporte e lazer.
A implantação de programas de formação de quadros é um fator determinante
tanto na qualidade das políticas desenvolvidas, quanto para continuação das mesmas.
Como apontado por Marcellino (2007), além de dar vida aos projetos e programas, o
pessoal que desenvolve a animação dessas políticas, é fundamental, no caso de
alguns municípios, para garantirem a continuação das mesmas, tornando-as não
71
apenas políticas de governo, mas de Estado.
Daí a necessidade de que sejam estabelecidos critérios mais rigorosos quanto a
qualificação dos gestores do esporte e lazer e da criação de programas para formação
dos quadros que desenvolvem as atividades neste âmbito.
6.1.6 Possibilidades e Desafios da Gestão no âmbito do esporte e lazer
Pedimos aos gestores que fizessem uma avaliação geral de sua administração e
que apontassem quais os fatores positivos e quais as maiores dificuldades enfrentadas
na gestão das políticas públicas de esporte e lazer no município.
Com unanimidade colocam que o maior ganho esteve no envolvimento da
comunidade na discussão sobre o que deveria ser prioridade de ação.
O Secretário 01 acrescenta:
[Nós deixamos uma proposta que é de longo prazo, que também insere
Alagoinhas na Política Nacional de Esporte. Precisamos ter essa visão, de que não dá
pra pensar políticas isoladas, tudo que nós fizemos foi no sentido de inserir a cidade no
Sistema Nacional].
Sobre o envolvimento com a comunidade, mais uma vez alertamos que ele deve
ultrapassar a participação no OP, o que não desconsidera a sua importância, apenas
queremos deixar claro a necessidade do envolvimento da sociedade civil em outros
momentos.
Zingoni (2003) alerta para a implementação de ações e intervenções que
venham ampliar o diálogo entre a sociedade civil e os agentes públicos, que ministrem
os recursos e as oportunidades com responsabilidade e sob a perspectiva de um
desenvolvimento auto-sustentável, que é o que se busca com o OP, mas acrescenta
que é essencial a adoção de processos de avaliação interna e externa, além de
diagnósticos da realidade do esporte e lazer nas cidades.
Quanto aos desafios, são apontadas dificuldades a partir de diferentes olhares.
O prefeito coloca a desigualdade no país como a maior barreira para se trabalhar a
dimensão do esporte, já que é preciso hierarquizar por onde começar dentro das
necessidades básicas da própria sociedade:
72
[... a maior dificuldade é a desigualdade do país, porque existem questões muito
presentes na vida de um administrador que elas precisam ser olhadas de uma forma
diferenciada e você na hora que vai hierarquizar por onde começar, (...) então isso é
uma barreira terrível, para que você possa interiorizar, estruturar, trabalhar o esporte
como o esporte merece].
O discurso que mais uma vez coloca a prioridade a outras demandas como
barreira para estabelecer as políticas voltadas ao esporte e lazer, nos remete a uma
questão já identificada por Menicucci (2006), para a urgência da construção política do
sentido e significado do esporte e lazer na sociedade e mais especificamente deles
enquanto direito e necessidade social.
Portanto, as questões voltadas ao esporte e lazer devem ser encaradas de outra
forma, como um direito que deve ser garantido a todo cidadão, e que também faz parte
do conjunto de elementos que melhoram a qualidade de vida nas cidades.
Na visão do Secretário 01, os recursos e as parcerias constituíram um problema
considerável, pois não permitiam que se fizesse o trabalho desejado, assim como
comenta a relação com a universidade, seja ela pública ou privada, que não cumpre a
sua função social. Acrescentando ainda as dificuldades políticas:
[Dificuldades políticas, de o êxito de uma política dessa ser atribuído e
capitalizado por um partido, e você não se desprende para entender que aquilo é uma
política da cidade, seja lá quem for que esteja tocando. Mas existe uma certa
dificuldade de você tocar isso, porque se essa secretaria está muito visível, está com
muito êxito, isso está atrapalhando o projeto político de alguém ou ajudando o projeto
político de alguém...].
O entrevistado reflete antes de discorrer sobre o assunto, já que se trata de uma
questão tão delicada e que envolve divergências políticas. Neste caso, a
Intersetorialidade é apontada por Zingoni (2003) como uma das saídas para situações
semelhantes, pois essa forma de gerir implica na superação da fragmentação existente
na construção dos planejamentos e execuções das políticas setoriais e garante uma
gestão mais equalizadora, superando as “superposições” e “competições” dos
programas e ações municipais.
O Secretário 02 destaca [...a manipulação da opinião pública...], trazendo que
73
era comum esse acontecimento, pelo fato dos setores da mídia na cidade, serem de
propriedade da oposição, [... e a quantidade de distorções, calúnias e mentiras,
construídas diretamente, todos os dias, de manhã, de tarde e de noite, é um baque
extremamente desgastante].
Fazendo uma análise geral das possibilidades e dos desafios colocados pelos
gestores, têm-se como maior conquista a participação da comunidade na definição de
prioridades através do OP, que não conseguiu ultrapassar a dimensão da consulta.
E como desafios, a política de financiamento é colocada como um dos principais
impasses para garantia do direito ao esporte lazer, desconsiderando a possibilidade do
próprio município demandar ao Estado a necessidade de aumento do orçamento para
essa área, trazendo uma inversão na perspectiva verticalizada existente entre as
esferas de governo. Além dos conflitos políticos que não permitem avanços nas
gestões, sendo abandonado o verdadeiro sentido e significado de se fazer política em
nome da politicagem, e com isso, têm-se a sobrepujança dos interesses individuais
sobre os coletivos.
6.2 O QUE OS DOCUMENTOS REVELAM
Os documentos também se constituíram numa fonte significante para que o
dizível fosse analisado a partir de sua concretude. Isso foi possível através do
levantamento de programas, projetos, relatórios e tudo mais que fosse referente a
gestão do esporte e lazer em Alagoinhas.
Dentre os documentos que conseguimos ter acesso e que serviram de base à
nossa pesquisa, temos o relatório referente ao trabalho desenvolvido pela SECEL,
entre 2001 e 2008 disponibilizados pelo coordenador de projeto da secretaria e
também gestor de esporte e lazer (2003-2004 e 2007-2008) no momento da entrevista.
Este documento foi elaborado, para dar conhecimento à nova administração municipal
de como estava sendo desenvolvido o trabalho dentro da secretaria, e é intitulado de
“Breve abordagem do conceito de Cultura que norteou a construção e alinhamento com
a Política Pública de Cultura nacional”. O mesmo é composto por três partes: a primeira
diz respeito ao entendimento de cultura que norteou as ações. Na segunda parte, trata
74
da preocupação com a Estação São Francisco, que resultou na captação de recursos
para obras de recuperação das suas estruturas, e por fim, são trazidos alguns projetos
e ações realizados pela SECEL, para fundamentar as falas anteriores.
Fazendo uma análise minuciosa deste relatório, é possível identificar alguns
pontos relevantes para nossa discussão. O primeiro deles diz respeito à concepção de
política pública explicitada neste documento:
[Adotamos o conceito de política pública, que foi uma mudança importantíssima.
É você passar a ver como nossa clientela privilegia as demandas e necessidades da
população a partir do Orçamento Participativo e de suas assembléias temáticas].
O OP na gestão estudada é colocado como ponto central na mudança do
cenário político anterior, a partir da instalação de um governo democrático e popular. E
por este mesmo motivo, ao mencionar a adoção do conceito de política pública, torna-
se essencial explicitar a utilização do OP, como estratégia para concretização de um
governo que se propôs a ser participativo.
Levando em consideração alguns momentos essenciais que são apontados por
Teixeira (2003) para uma participação efetiva e eficaz da sociedade civil nas políticas
públicas: a construção de um diagnóstico participativo, identificando limites e
possibilidades; identificação de experiências bem sucedidas, servindo de base para
criação de novas alternativas; debate público em torno das alternativas; definição em
torno das possibilidades, dos papeis das esferas públicas envolvidas, recursos,
cronograma e parâmetros avaliativos; detalhamento dos projetos e identificação das
fontes de recursos; na execução, transparência e fiscalização; avaliação dos resultados
e redefinição das ações.
E tomado como base as questões já discutidas sobre as peculiaridades do
esporte e lazer nesta administração (não são prioridades dentro do OP, até mesmo
porque a centralidade das intenções do governo e da própria reivindicação da
população esteve voltado para o saneamento básico do município, além da inexistência
do CMEL, cuja intenção ficou apenas no papel), podemos afirmar que neste caso
específico o OP não garantiu que esses objetivos fossem atingidos. Por entendermos
que na construção de uma política pública de esporte e lazer, além da participação na
destinação dos recursos públicos, é essencial o estabelecimento de relações entre o
75
poder público e a sociedade civil em diversos momentos que ultrapassam a consulta
popular, e vão desde o diagnóstico da realidade, passando pela definição de
prioridades a partir da consideração das limitações e possibilidades, até a elaboração,
implementação e fiscalização dessas políticas.
O outro ponto diz respeito a ausência de sinalização da situação do esporte e
lazer no município no documento, bem como, das diretrizes e princípios que nortearam
as ações nesse âmbito. Apenas são citadas as Conferências Municipais de Cultura,
apesar de ter sido realizada a I Conferência Municipal de Esporte e Lazer, nos dias 17
e 18 de março de 2006, para a construção de uma Política Municipal de Esporte e
Lazer e de um Sistema Municipal de Esporte e Lazer, que gerou na formulação de um
documento de Intenções relacionadas ao Esporte e ao Lazer enviado ao Ministério do
Esporte11
. O que nos remete a discussão de Marcellino (2007), quando afirma que a
experiência tem demonstrado que o “status” de secretaria para o esporte e lazer, em
termo de estrutura para a esfera municipal é mais adequada, pois quando vinculados à
Cultura, tende-se a valorizar apenas artes e espetáculos, ficando o esporte e lazer em
último plano.
Esta evidência pode ser comprovada também, quando são mencionados no
relatório já citado, alguns projetos e ações da SECEL, sob a justificativa de subsidiar o
que fora exposto. Verificamos a ênfase que foi dada nesta secretaria para a
organização e realização de eventos provenientes do Calendário Festivo e que dão
mais visibilidade ao trabalho do governo, como a Micareta de Alagoinhas – Alafolia;
Festa de Santo Antônio, padroeiro da cidade; decoração natalina e outros projetos
ligado as artes. Como ações e projetos de esporte e lazer é citada a construção e
reforma de quadras poliesportivas, a reforma do Estádio Antônio Carneiro, a realização
de campeonatos de futebol, torneios de vôlei, alguns projetos denominados enquanto
incentivo a esportes radicais, que se resumem em corridas de mountain bike e a
implantação do Projeto Segundo Tempo do Governo Federal.
Além da questão colocada por Marcelino, quando o esporte e lazer são atrelados
a cultura, estes fatos podem estar ligados a diversos fatores: a formação voltada para
11
Estas informações relacionadas à realização da I Conferência Municipal de Esporte, foram extraídas do “Levantamento de Ações do Governo Municipal”, no que diz respeito à SECEL, do ano de 2006, não sendo disponibilizado qualquer material referente à mesma.
76
artes do secretário 02 que mais tempo passou a frente da SECEL, e que também
coordenou os projetos; ao orçamento que além de ser reduzido, tinha demandas altas
como as festas que atendem o calendário festivo da cidade; e a falta do entendimento
do esporte e lazer, como demanda social que requer importância no mesmo patamar
das outras políticas, pois também são indicativos de qualidade de vida da população.
Outro documento que fez parte de nossa fonte de dados foi o “Levantamento de
Ações do Governo Municipal”, referente a SECEL, do ano de 2005, 2006 e 2008, que
foram fornecidos através de e-mail, pelo gestor mencionado acima.
Para uma melhor compreensão de como o esporte e lazer vinham se
concretizando na cidade, traremos a seguir os projetos e atividades desenvolvidas por
esta secretaria, acompanhadas de seus respectivos objetivos e duração.
Os quadros abaixo foram organizados na busca de trazer as ações da SECEL
voltadas para o esporte e lazer, sendo desconsiderados, para efeito desta análise, os
projetos e atividades ligados ao departamento de cultura desta mesma secretaria.
QUADRO I – Ações da SECEL voltadas ao esporte e lazer, em 2005.
PROJETOS/ATIVIDADES DURAÇÃO OBJETIVOS
1º Encontro de Cultura Esporte e Lazer
01 dia Apresentação da proposta de trabalho da SECEL para o ano de 2005.
50º Campeonato da Suburbana 06 meses Promover e divulgar a prática esportiva no nosso município.
3º torneio de voleibol intermunicipal masculino e feminino
02 dias Promover e divulgar a prática esportiva no nosso município.
Marathom Byke
01 dia Promover e divulgar a prática esportiva no nosso município.
Seminário de esporte MovimentAlagoinhas
03 dias Despertar e esclarecer o esporte na comunidade.
Jogos Abertos 03 dias Despertar o espírito competitivo nas equipes esportivas da cidade.
Gincana da Primavera 02 dias Lazer e integração entre a comunidade. Fonte: Arquivo pessoal do coordenador do projeto da SECEL.
No ano de 2005, quando em cenário nacional, já estavam em tramite a
sistematização de uma Política Nacional do Esporte, impulsionada pela criação do
Ministério do Esporte em 2003 e pela realização da I Conferência Nacional do Esporte
em 2004, é publicado o documento oficial desta política.
77
Em Alagoinhas, o que se percebe através da análise das ações da SECEL neste
mesmo ano, é que, apesar de estarem no primeiro ano da segunda gestão
consecutiva, ainda não se tem uma política pública voltada para o esporte e lazer de
forma sólida, que traga consistência nas ações. Têm-se na verdade, a realização de
algumas atividades isoladas e descontínuas, cujos objetivos não demonstram uma
articulação com o que é sugerido pela política nacional, fato que pode ser atribuído ao
pouco tempo de estabelecimento da mesma.
QUADRO I – Ações da SECEL voltadas ao esporte e lazer, em 2006.
PROJETOS/ATIVIDADES DURAÇÃO OBJETIVOS
Passeio Ciclístico dos Morcegos 02 dias Realizar o percurso de bicicleta de Alagoinhas a Subaúna.
Projeto Bairro a Bairro
01 mês Levantamento das áreas culturais, esportivas e de lazer no Distrito de Riacho da Guia; Projeção de filmes nas comunidades do distrito.
I Conferência Municipal de Esporte e Lazer
02 dias Ciclo de palestras e discussões em torno da construção de uma Política Municipal de Esporte e da Construção de um Sistema Municipal de Esporte.
4º torneio de voleibol intermunicipal masculino e feminino
02 dias Promover e divulgar a prática esportiva no nosso município.
Marathom Byke 01 dia Promover e divulgar a prática esportiva no nosso município.
Jogos Escolares sub 17 - Local 03 dias Promover e divulgar a prática esportiva no nosso município.
Jogos Escolares da Bahia – Sub 17 – Etapa Regional
03 dias Promover e divulgar a prática esportiva no nosso município.
Inauguração de três Quadras Poliesportivas
01 dia Oferecer à comunidade um novo espaço esportivo.
Apoio à Seleção de Voleibol de Alagoinhas
03 meses Pagamento da Taxa de Inscrição no Campeonato Baiano.
51º Campeonato da Suburbana 01 mês Promover e divulgar a prática esportiva no nosso município.
Fonte: Arquivo pessoal do coordenador do projeto da SECEL.
Em 2006, ano em que a II Conferência Nacional do Esporte acontece, a cidade
de Alagoinhas também participa deste processo, pelo envio de um documento de
intenções relacionadas ao esporte e lazer, construído na Conferência Municipal de
78
Esporte e Lazer, na qual foram discutidos a criação de uma Política e de um Sistema
Municipal de Esporte e Lazer, que envolveu toda a sociedade civil.
Com isso, têm-se um avanço a partir do momento em que se começa a pensar
na sistematização de uma política municipal voltada a esse campo, e que é discutida
pelo seu público alvo, a sociedade. Mas na prática, fica explícito neste levantamento
que as atividades continuam seguindo a mesma lógica, na qual os objetivos se
repetem, assim como sua superficialidade.
QUADRO I – Ações da SECEL voltadas ao esporte e lazer, em 2008.
PROJETOS/ATIVIDADES DURAÇÃO OBJETIVOS
Passeio Ciclístico dos Morcegos 02 dias Realizar o percurso de bicicleta de Alagoinhas a Subaúna.
Melhorias no Estádio Antônio Carneiro
03 meses Manutenção do gramado, atender normas de segurança.
Apoio à Fanfarra e ao Esporte Amador
03 meses Apoiar a Tradicional Fanfarra e ao esporte amador com transporte, hospedagem em competições e campeonatos.
Apoio ao Esporte Profissional e Amador
03 meses Apoiar o esporte amador com transporte, hospedagem em competições e campeonatos, melhorias nas quadras poliesportivas (sistema elétrico) e no Estádio Antonio Carneiro (substituição de grama, marcação do campo, aquisição de utensílios para banheiros e vestiários), aquisição de uniformes para as seleções municipais de futsal, voleibol e basquete.
Marathom Byke 01 dia Corrida ciclística por ruas do município com largada e chegada na Praça J.J. Seabra.
Incentivo ao Esporte 04 meses Apoio ao esporte amador com a participação das seleções nos Jogos Abertos do Interior 2008.
Incentivo ao Esporte indefinido Iluminação do Campo do Buri, apoio ao "Batizado Coletivo de Moto Grupos de Alagoinhas” no dia 09/11/08 e apoio à Seleção Municipal de Basquete Masculino para participar da 2ª Copa Feirense de Basquete.
Fonte: Arquivo pessoal do coordenador do projeto da SECEL.
Dois anos mais tarde, quando além da Política Nacional do Esporte, que traz
explicitados os objetivos, princípios e diretrizes para a efetivação de políticas públicas,
temos as Resoluções da II Conferência Nacional do Esporte, a realidade local ainda
79
permanece como se esses documentos não existissem, pois, não demonstram
articulação com o Sistema Nacional de Esporte e Lazer, que tem como um dos seus
pontos fundamentais a democratização do esporte.
Como podemos falar em democratização, se o incentivo ao esporte profissional,
está unicamente na melhoria do Estádio Antônio Carneiro, cuja reforma teve recurso
proveniente do Ministério do Esporte e o incentivo ao esporte amador, em viabilizar a
participação em campeonatos, com hospedagem, transporte e até mesmo pagando
taxa de inscrição? Temos na verdade, uma restrição nas possibilidades de vivência do
esporte e lazer e concordamos com Melo (2004), quando alerta para o
desenvolvimento de um senso, no qual as atividades esportivas no esporte e lazer
devem adquirir sentido e significados próprios, deixando de serem reféns do esporte
espetáculo ou de alto rendimento.
Nesta perspectiva, para o esporte, cabe a sua abrangência nas três dimensões
sociais já mencionadas anteriormente a partir de Tubino (1999): o esporte educacional,
esporte participação e esporte de alto rendimento, que estão explicitados na Política
Nacional do Esporte. E com relação ao lazer, segundo Marcellino (2007) deve-se
considerar seu duplo aspecto educativo, considerando as possibilidades de descanso e
divertimento, e de desenvolvimento pessoal e social, como instrumento de mobilização
cultural e os impasses socioculturais para seu acesso.
Esses dados também reforçam uma questão já identificada por Menicucci
(2006), para a urgência da construção política do sentido e significado do esporte e
lazer na sociedade e mais especificamente deles enquanto direito e necessidade
social. Do seu reconhecimento como problema político, que exige uma intervenção
governamental ativa e positiva, na busca de assegurar a todos os cidadãos condições
básicas para sua fruição. Garantindo que sejam vivenciados como prática de
liberdade, exercício de cidadania e participação social.
6.3 A CIDADE E SUAS LEIS
As leis são instrumentos importantes para nortear as ações do poder público,
assim como, para garantir que a sociedade civil também participe deste processo.
80
Partindo disto, procuramos analisar os dados acerca do Ordenamento Legal municipal,
estabelecendo relações e discussões com a legislação nacional vigente e o Sistema
Nacional de Esporte e Lazer, buscando apontar suas implicações na administração
estudada.
A Lei Orgânica do Município de Alagoinhas foi disponibilizada através do site
oficial da cidade, na configuração da gestão estudada. O documento é datado de 23 de
dezembro de 2003, entrando em vigor em 01 de março de 2004.
O ordenamento legal municipal que se destina ao âmbito do esporte e lazer
encontra-se no Capítulo VI, Da Cultura, Do Desporto e Lazer, sendo tratado em
específico no artigo 203, quando define prioridades nas ações do poder público para
destinação dos recursos orçamentários para o esporte e lazer:
I. ao esporte educacional e ao esporte comunitário, na forma da lei; II. ao lazer popular; III. à construção e manutenção de espaços devidamente equipados para as
práticas esportivas e o lazer; IV. à promoção, estímulo e orientação à prática e difusão da educação física V. promoção de intercâmbio sócio-cultural desportivo com outros Municípios; VI. prioridade às organizações amadorísticas e colegiais no uso de estádios,
praças, ginásios de esporte e instalações de propriedades do Município (ALAGOINHAS, 2004).
E no artigo 206, que também prevê a destinação de recursos para subvencionar
entidades esportivas amadoras ou não, por parte do poder executivo.
Levando em consideração que nesse período ainda não existia uma Política
Nacional sistematizada de esporte e lazer, já que as ações voltadas para esse fim
tiveram início a partir da criação do Ministério do Esporte em 2003, com a realização da
I e II Conferência Nacional do Esporte (2004 e 2006) e a criação da Política Nacional
do Esporte (2005), o que se percebe é a reprodução da superficialidade e fragilidade
encontrada na Constituição de 1988, no que tange a esse âmbito, onde o esporte e o
lazer são colocados como direito, mas não são explicitados os meios que levariam a
concretização dos mesmos.
Esta indefinição constitucional pode ter seus aspectos negativos, como no caso
investigado, mas também pode servir como um laboratório de inovações como afirma
Menicucci (2003), e constituir-se num espaço de edificação de políticas de lazer
81
criativas e inovadoras.
Outro fato analisado foi a ausência de leis criando o CMEL, conforme sugere o
Sistema Nacional de Esporte e Lazer. Verificou-se que não há este tipo de
regulamentação, confirmando os dados encontrados no Censo Esportivo do IBGE
(2003), que apontam para a existência de apenas 25 conselhos em todo o estado da
Bahia.
Sabe-se também, que não basta apenas criar os conselhos, essa questão
perpassa pela discussão da democratização do conhecimento, pois dado o papel
político da educação, ela deve possibilitar uma melhor percepção do mundo, e da
própria realidade, trazendo mínimas condições na qualificação política do povo (DEMO,
1994).
Visto que, participar requer oportunidades igualitárias de informação e
capacitação, para que as discussões possam avançar e dar resultados significativos
para a coletividade, torna-se fundamental pensar mecanismos de controle dentro dos
governos, considerando a importância da articulação de políticas voltadas para uma
educação de qualidade. Na busca de superar os quadros atuais de analfabetismo que
hoje encontramos em nosso país, que segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios - PNAD de 2007 do IBGE são 14 milhões de analfabetos hoje no Brasil,
representando um contingente de 9,9% da população com mais de 15 anos.
A análise deste contexto também nos revela que ainda é pequena a
aproximação e o comprometimento do Legislativo com o esporte e o lazer, pois à
medida que o processo de participação nesses setores é reduzido, ele não provoca no
Poder Executivo o desvelamento de suas informações e propósitos, com o
assumimento prévio e público de compromissos, assim como não oferece ao próprio
Poder Legislativo que exerça com mais critério, a defesa dos interesses do esporte e
lazer na cidade e o compromisso das condições estabelecidas publicamente (ZINGONI,
2003).
Ficando perceptível o quanto é frágil o aparato legal do esporte e lazer em
Alagoinhas, também se torna explícito a necessidade de reversão deste quadro para
assegurarmos o direito social ao esporte e lazer. Já que, a falta de meios legais para o
controle populacional, impede que a sociedade civil seja capaz de alterar os padrões de
82
administração nesse âmbito (ZINGONI, 2003).
Estes fatos constituem-se em fatores que dificultam a participação na
identificação dos problemas e na busca das possíveis soluções efetivas e eficazes para
os mesmos. Através da participação cidadã torna-se mais palpável a legitimidade e
sustentabilidade das políticas sociais, não sendo também diferente com as políticas
públicas voltadas para o esporte e lazer.
83
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentro da gestão estudada, as políticas públicas de esporte e lazer em
Alagoinhas se concretizaram num contexto consideravelmente favorável para práticas
inovadoras neste campo, ao considerar as mobilizações a nível nacional para a criação
de uma política para o esporte e lazer, na qual o próprio município participou; o ideal
político dos governantes dessa administração, que se propôs a ser participativo e
democrático, assim como, por terem estabelecido um espaço de interlocução com a
sociedade, através do OP.
No entanto, não conseguem avançar como deveriam, pois não superam a
concepção restrita do esporte e lazer comumente presente nas gestões públicas, de
caráter assistencialista, utilitarista e que tendem a reproduzir os valores da sociedade
capitalista, no lugar do seu entendimento enquanto problema político que exige
intervenção do poder público, no mesmo patamar das outras políticas.
Com isso, nas ações identificamos um distanciamento entre os ideais e aquilo
que se concretiza. Não existindo uma preocupação em colocar em prática as propostas
aprovadas na I Conferência Municipal de Esporte e Lazer, que se levadas em
consideração, trariam conquistas consideráveis para a garantia desses direitos e
consequentemente para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
Também é possível visualizar a influência da falta de definição mais precisa do
esporte e lazer enquanto direito pela Constituição Federal, na produção das leis
municipais que definem as ações neste campo e a conseqüente dificuldade na
construção de políticas públicas para sua efetivação. Este fato denuncia o descaso do
poder legislativo para que sejam assegurados o esporte e lazer na cidade, pela
ineficiência do cumprimento de seus papéis no cenário das políticas em questão.
Nas relações com o Sistema Nacional de Esporte e Lazer, ficou explícito a
ausência de articulação entre as diretrizes da Política Nacional do Esporte e as
políticas e ações da secretaria municipal. Bem como, fragilidade, ou ausência de
documentos que orientassem a elaboração e execução destas políticas no município,
refletida na fragilidade dos projetos desenvolvidos, que se resumem em atividades
isoladas e descontínuas, restringindo a possibilidade de vivências do esporte e lazer.
84
Retomando algumas das diretrizes colocadas no documento da Política Nacional
do Esporte, como a universalização do acesso e promoção da inclusão social e o
desenvolvimento humano, questionamos como tais elementos poderiam ser
promovidos diante dos objetivos e da duração dos projetos desenvolvidos pela SECEL.
E como poderia ser assegurada a Gestão Democrática: participação e controle
social e a Descentralização da política esportiva e de lazer, se ainda eram
presentes práticas centralizadas dentro desta secretaria e se não existiam mecanismos
de controle populacional, pois a participação neste governo não ultrapassou a
consulta?
Portanto, fazem-se necessárias intervenções urgentes nesse campo, para
reversão da realidade encontrada. Como proposições de mudanças sugerimos a
elaboração de proposta de alteração da Lei Orgânica do município e dos demais
documentos legais, cabendo ao legislativo o entendimento do esporte e lazer enquanto
problema político, direito do cidadão e indicativo de qualidade de vida nas cidades.
A criação de uma secretaria específica de esporte e lazer, também seria uma
estratégia importante para que as barreiras enfrentadas pela sua junção à cultura
fossem superadas. Assim como, a continuação da luta pelo aumento do orçamento
destinado a essa área por parte do próprio município, trazendo a possibilidade de
inversão das hierarquias verticalizadas existente entre as esferas de governo.
Cabe também a administração municipal, estabelecer critérios mais rigorosos
para escolha dos seus dirigentes, e a criação de programas de qualificação para
formação e capacitação dos recursos humanos. A fim de possibilitar um aumento na
capacidade de captar recursos públicos de maneira mais eficiente, e do gerenciamento
de ações mais consistentes e eficazes.
Pensando na ampliação dos canais de participação, a implantação do CMEL
torna-se imprescindível, além da realização de Fóruns com os setores envolvidos com
o esporte e lazer da cidade para sensibilização do confronto e transformação da
realidade encontrada. E por fim, a elaboração das diretrizes norteadoras de um
programa democrático e descentralizado de esporte e lazer, no sentido de contribuir
para que o poder público abra tais canais de interlocução junto à população, com a
finalidade de discutir, elaborar, executar, fiscalizar e avaliar os projetos e programas
85
nessa área, ultrapassando a dimensão da consulta, e garantindo uma gestão
democrática, participativa e cidadã, atendendo assim, as demandas sociais.
86
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91
APÊNDICE A
Roteiro de Entrevista – Poder Executivo
1. Qual a concepção de políticas públicas de esporte e lazer que orienta os projetos e
programas da cidade?
2. Quem participa da elaboração dos projetos e programas e como se dá esta
participação?
3. Quais são os critérios determinantes na elaboração e execução de projetos e
programas de esporte e lazer no município?
4. Quais são os projetos e programas de esporte e lazer elaborados e implementados
no município? Como se estabelecem as parcerias com os órgãos públicos e privados?
5. A política de esporte e lazer do município estabelece normas de utilização do espaço
urbano? Existe uma política de distribuição e implantação de equipamentos de esporte
e lazer? Quais são os critérios?
6. Quantos e qual a formação dos profissionais que atuaram na área do esporte e lazer
no município? Existem programas de qualificação direcionadas para estes?
7. Quais as leis que organizam o esporte e lazer no município? Como estas tratam a
questão do esporte e lazer?
8. Como se dá a política de financiamento para o esporte e lazer?
9. Quais os fatores positivos e as dificuldades enfrentadas na implementação das
políticas públicas de esporte e lazer?
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ANEXO A
Lei Orgânica do Município de Alagoinhas
CAPÍTULO VI
DA CULTURA, DO ESPORTE E LAZER
Art. 202 – Todo cidadão é um agente cultural e o poder público o incentivará, por meio da política de ação cultural do Município, democraticamente elaborada, a qual deverá proteger as manifestações das culturas populares, garantindo à população o acesso, produção, distribuição e consumo de bens culturais, viabilizando:
I. a criação e manutenção de órgãos específicos voltados para a área de cultura e preservação do patrimônio;
II. o funcionamento de entidades ligadas à cultura do Município com o estudo da
memória do Município na área de bens culturais e patrimoniais;
III. a divulgação da produção artística na programação de empresas de rádio e televisão sediadas na cidade;
IV. a dinamização dos espaços culturais já existentes como as praças esportivas e
criação de outras, especialmente nos bairros, para possibilitar a prática do esporte e do lazer pela comunidade mais carente, bem como as manifestações culturais populares, tradicionais e contemporâneas dessas mesmas comunidades;
V. apoio e incentivo prioritário à produção artística local;
VI. a prioridade de participação artística locais nas promoções do Município;
VII. fomentar atividades que tenham por objetivo a busca da autosustentabilidade no
setor de cultura; VIII. captação de recursos em todos os seguimentos nacionais e estrangeiros para
proporcionar a expansão das atividades produtoras de bens culturais do município.
IX. participação do Município em eventos de porte promovidos na esfera municipal,
estadual e federal, em áreas literais, esportivas, religiosas, musicais, culturais, sempre no interesse de engrandecimento do Município.
Art. 203 – As ações do Poder Público na destinação de recursos orçamentários para o esporte e o lazer, darão prioridade:
I. ao esporte educacional e ao esporte comunitário, na forma da lei;
93
II. ao lazer popular;
III. à construção e manutenção de espaços devidamente equipados para as práticas esportivas e o lazer;
IV. à promoção, estímulo e orientação à prática e difusão da educação física.
IV. promoção de intercâmbio sócio-cultural desportivo com
outros Municípios;
V. prioridade às organizações amadorísticas e colegiais no uso de estádios, praças, ginásios de esporte e instalações de propriedades do Município;
Art. 204– Fica assegurado o pagamento de metade do valor cobrado, ainda que em caráter promocional, para ingresso em casa de diversões, cinemas, espetáculos, praças esportivas e similares, ao estudante regularmente matriculado em estabelecimento de ensino público ou particular, municipal, estadual ou federal, na forma da Lei.
Art. 205- Para usufruir o benefício, o estudante deverá comprovar a condição referida, através de carteira de estudante expedida pelo Diretório Acadêmico dos Estudantes ou União Nacional dos Estudantes, para estudantes do 3º grau e pela Entidade Municipal para estudantes do ensino fundamental e médio.
Art. 206– Cabe ao Executivo Municipal, subvencionar entidades desportivas amadoras ou não, de acordo com as suas disponibilidades financeiras, promovendo a destinação de recursos públicos, para a prática do desporto, educação e lazer.
Art. 207 – O Município deve garantir o funcionamento da Biblioteca Pública sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer, providenciando:
I. corpo técnico-administrativo especializado;
II. composição do acervo necessário e indispensável;
III. aquisição de materiais permanentes exigidos para o funcionamento dos setores.
Art. 208 – É dever do Município preservar os valores da cultura afro-brasileira, cabendo-lhe:
Parágrafo único – Inventariar, restaurar e proteger documentos, obras e quaisquer outros bens de valor artístico da cultura afro-brasileira.
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Art. 209 – O Município deve promover eventos que contribuam para a prática de esporte pelas crianças e jovens a partir dos bairros periféricos, considerando a educação física como meio de trabalhar o homem concreto e integralmente, através de:
I. organização de um calendário de eventos;
II. promoção de cursos de aperfeiçoamento e orientação para monitores profissionais responsáveis pela aplicação dos exercícios;
III. participação de entidades civis e filantrópica que cuidem de atividades esportivas
com crianças, adolescentes, jovens e adultos.
IV. a organização de atividades festivas, apoiando ou estimulando o que for programado por entidades locais;
Parágrafo único - Cabe exclusivamente à Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer, após ouvidas as entidades interessadas, coordenar este trabalho.
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