95
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA HOSANA LARISSA GUIMARÃES OLIVEIRA POLÍTICAS PÚBLICAS EM ESPORTE E LAZER EM ALAGOINHAS: maneiras de ver e fazer da gestão 2001-2008 ALAGOINHAS 2009

Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

Embed Size (px)

DESCRIPTION

 

Citation preview

Page 1: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

0

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

HOSANA LARISSA GUIMARÃES OLIVEIRA

POLÍTICAS PÚBLICAS EM ESPORTE E LAZER EM ALAGOINHAS:

maneiras de ver e fazer da gestão 2001-2008

ALAGOINHAS 2009

Page 2: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

1

HOSANA LARISSA GUIMARÃES OLIVEIRA

POLÍTICAS PÚBLICAS EM ESPORTE E LAZER EM ALAGOINHAS: maneiras de ver, maneiras de fazer da gestão 2001-2008

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade do Estado da Bahia - UNEB, Campus II, Alagoinhas, como requisito parcial para obtenção de grau de Licenciado em Educação Física, sob orientação do Prof.º Ms. Luiz Carlos Rocha.

ALAGOINHAS 2009

Page 3: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

2

Ao meu orientador vitae Luiz Carlos Rocha.

Page 4: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

3

AGRADECIMENTOS

Aos responsáveis pela minha existência, carinhosamente painho e mainha, que

nutriram meu sonho desde sempre e que fizeram de um tudo para que eu chegasse

aqui.

Também a minha irmã querida, Tássia Laís, que não permitiu que o meu vazio

em casa fosse tão doloroso.

Ao meu porto seguro, Milton Galdino, que além de namorado, noivo e melhor

amigo foi a solução de todos os meus problemas, tornando-se essencial em minha

vida.

A toda a minha família que esteve presente, apoiando e torcendo pelas minhas

conquistas.

Ao meu orientador para toda vida, Luiz Carlos Rocha, cuja dedicação,

compromisso e competência são indizíveis. E a ele pertencem muitos dos méritos

deste estudo.

A todos os meus professores, que se dispuseram a compartilhar e a construir

conhecimentos, e que sem a contribuição deles seria impossível chegar até aqui.

Aos colegas da Universidade, em especial a equipe inseparável de todo o curso,

Anne, Bete, Leidiane e Suelen.

A todos os funcionários da UNEB, em particular Monalisa e Dejane,

companheiras do pós-aula na Universidade.

E aos velhos e novos amigos, em especial Véu, Cássio e Leidinha, a quem eu

tenho muito a agradecer pela acolhida, pela disponibilidade, pelo carinho, pela amizade

e pelos sorrisos que colocaram em meu rosto.

Page 5: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

4

A utopia é uma tensão permanente daquilo que é posto como medida final, como imutável. É para isso que serve a utopia. A utopia é que nos ajuda a afirmar os princípios da igualdade, solidariedade e a gene-rosidade humana.

Frigotto (1999, s/p)

Page 6: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

5

RESUMO

O presente trabalho se propôs a estudar a concepção de políticas públicas que norteou a ação dos gestores públicos em Alagoinhas, entre 2001-2008. Tendo como objetivos discutir quais os parâmetros que guiaram a gestão do esporte e lazer na cidade, analisar os dados acerca do Ordenamento Legal municipal, estabelecendo relações com a legislação nacional vigente e o Sistema Nacional de Esporte e Lazer e suas implicações nas ações do poder público e mapear os projetos e programas existentes neste campo. Trata-se de uma pesquisa que tomou a dialética como referência para o entendimento da realidade, utilizando como instrumento de levantamento de dados a entrevista semiestruturada e a análise documental, valendo-se da análise do discurso para interpretação dos dados. Ficou evidenciado que na gestão investigada os ideais estiveram bem distantes da realidade concreta, assim como, as ações do esporte e lazer na cidade estiveram para o Sistema Nacional do Esporte e Lazer, trazendo problemas na elaboração e execução de políticas públicas para efetivação deste direito social. Palavras chave: Políticas Públicas, Esporte, Lazer, Gestão.

Page 7: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

6

LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS

BA - Bahia

CMEL- Conselho Municipal de Esporte e Lazer

CNPq -

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico

FAPESB - Fundação de Amparo ao Pesquisador da Bahia

FFPA - Faculdade de Formação de Professores de Alagoinhas

GEPEFEL -

Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Física Esporte

e Lazer

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

OP - Orçamento Participativo

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

SECEL - Secretária Municipal de Cultura, Esporte e Lazer

SESC - Serviço Social do Comércio

SESI - Serviço Social da Indústria

UFBA - Universidade Federal da Bahia

UNEB - Universidade do Estado da Bahia

Page 8: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

7

LISTA DE QUADROS

Quadro I - Ações da SECEL voltadas ao esporte e lazer, em 2005

Quadro II - Ações da SECEL voltadas ao esporte e lazer, em 2006

Quadro III - Ações da SECEL voltadas ao esporte e lazer, em 2008

Page 9: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

8

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 10

2 O ESPORTE MODELADO PELOS CONTEXTOS SOCIAIS 14

3 LAZER: Ocorrências Históricas, Concepções e Educação 20

4 POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER: Um caminho em

construção

27

4.1 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER FRENTE AO

ORDENAMENTO LEGAL

33

4.2 A GESTÃO MUNICIPAL DO ESPORTE E LAZER 38

4.3 PARTICIPAÇÃO CIDADÃ: Legitimidade nas ações 45

5 O CAMINHO PERCORRIDO 54

6 DISCUTINDO A GESTÃO DO ESPORTE E LAZER EM ALAGOINHAS 58

6.1 ANALISANDO O DISCURSO 59

6.1.1 A concepção de políticas públicas na visão da gestão municipal 60

6.1.2 Projetos e Programas: desafios e limites da cidadania 62

6.1.3 Ordenamento Legal: implicações para realização de políticas

públicas de esporte e lazer

65

6.1.4 A política de financiamento para o esporte e lazer em foco 66

6.1.5 A política de formação de quadros para atuação no esporte e lazer 69

6.1.6 Possibilidades e Desafios da Gestão no âmbito do esporte e lazer 71

6.2 O QUE OS DOCUMENTOS REVELAM 73

6.3 A CIDADE E SUAS LEIS 79

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 83

Page 10: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

9

REFERÊNCIAS

APÊNDICE A – Roteiro de Entrevista – Poder Executivo

ANEXO A – Lei Orgânica do Município de Alagoinhas

Page 11: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

10

1 INTRODUÇÃO

A relação com a temática deste estudo surge a partir da criação do Grupo de

Estudos e Pesquisas em Educação Física Esporte e Lazer – GEPEFEL/ CNPq, da

Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus II, Alagoinhas, quando fomos

oportunizados a iniciar nossa trajetória científica dentro da linha de pesquisa

Ordenamento Legal e Políticas Públicas de Esporte e Lazer e da aprovação do projeto

de pesquisa “A „CIDADE ILEGAL‟: O ordenamento Legal no âmbito do lazer e esporte”,

que possibilitou a Iniciação Científica pela FAPESB.

Ao mesmo passo em que as experiências vividas iam fortalecendo nossa

formação acadêmica e humana, o maior contato com a literatura permitia-nos a

ampliação do olhar sobre as políticas públicas de esporte e lazer. E então,

começávamos a perceber lacunas, tanto no que diz respeito ao estudo sobre a nossa

realidade local, quanto nas ações referentes ao cenário nacional.

Uma dessas inquietações diz respeito à concepção de políticas públicas de

Esporte e Lazer que nortearam as ações dos gestores públicos do período de 2001 -

2008 no município de Alagoinhas – BA, e constitui-se como objeto de estudo do

presente trabalho.

A cidade de Alagoinhas está situada a 120 km de Salvador, possui uma

população de 132.725 habitantes (IBGE, 2007), em uma área de 734 km². Sendo a

maior e mais desenvolvida cidade do Território 18, Agreste de Alagoinhas/Litoral Norte,

tornou-se não somente um pólo comercial e industrial, mas também a referência em

saúde e educação: possui os maiores hospitais e clínicas da região, várias faculdades

particulares e o segundo maior campus universitário da UNEB, o Campus II, instalado

desde 1979, ainda com a denominação de Faculdade de Formação de Professores de

Alagoinhas - FFPA. O município também tem relevância política, não somente pela sua

estrutura sócioeconômica e acadêmica, mas, sobretudo, pelo que representa para a

região por ter o maior colégio eleitoral do território. A cidade também veio

experimentado novas práticas, no sentido da consulta à sociedade para o

direcionamento de ações do poder público, e desta forma, passa a ser, além de um

pólo político, um espaço privilegiado de políticas públicas com amplas possibilidades de

Page 12: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

11

irradiação de suas experiências bem sucedidas para os municípios circunvizinhos.

Sabe-se, portanto, que a partir da implantação das políticas neoliberais no país,

há uma menor participação do Estado na sociedade e uma minimização na esfera dos

direitos sociais, comprometendo as ações no campo da educação, da saúde, da

segurança pública e também do esporte e lazer.

Com isso, percebe-se que a importância que o esporte e lazer estão ganhando

nas últimas décadas, enquanto objeto de reivindicação e problema social, não vem

sendo acompanhado de uma ação ativa e positiva do poder público (MARCELLINO,

1996), o que acaba deixando lacunas nessa área.

Deste modo, esta pesquisa justifica-se pela crescente demanda evidenciada no

esporte e lazer no âmbito das cidades, sobretudo como forma de assegurar o direito

constitucional de acesso a essas práticas.

E sendo o município o espaço onde essas atividades se materializam é de

grande relevância identificar como anda este processo na própria cidade. Além disso, o

levantamento de dados através da pesquisa também abre a possibilidade de

discutirmos de maneira mais aprofundada a necessidade de criação de um Sistema

Estadual de Esporte e Lazer, que articulado com o sistema nacional, possa dar conta

das demandas que estão colocadas para os poderes executivos e legislativos, além de

permitir o estabelecimento de diretrizes norteadoras para as políticas públicas de

esporte e lazer no município estudado.

Tomando como base o exposto, buscaremos na presente investigação

responder alguns questionamentos referentes a nossa realidade: Qual a concepção de

políticas públicas de Esporte e Lazer que nortearam as ações dos gestores públicos em

Alagoinhas no período 2001-2008? Como está configurado o aparato legal municipal

de esporte e lazer e quais as relações estabelecidas com a Política Nacional do

Esporte?

Partimos do princípio de que o Esporte e o Lazer são direitos sociais previstos na

Constituição Federal de 1988, que deve ser garantido pelo poder público local, através

da organização legislativa e da elaboração e execução de políticas públicas, e de que a

maioria dos municípios do Estado da Bahia vem sofrendo com a falta de oportunidades

no âmbito das práticas corporais, sobretudo, as relacionadas ao esporte e lazer, pela

Page 13: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

12

ausência de ações do poder público.

Presume-se também, que a concepção de políticas públicas de esporte e lazer

ainda é restrita, resultando em ações centralizadas e distantes da realidade local; os

recursos humanos não são devidamente preparados para desempenhar suas

atividades e logo, para o desenvolvimento de projetos e programas; o orçamento

destinado ao esporte e lazer é limitado e, portanto, dificulta o atendimento as

demandas da população; e que no âmbito municipal não existe um ordenamento legal

que esteja vinculado ao Sistema Nacional de Esporte e Lazer.

Sabe-se, portanto, que para as políticas públicas alcançarem seu verdadeiro

papel dentro da sociedade precisam estar pautadas em princípios como a democracia,

a participação cidadã, a transparência e a sustentabilidade, para que desta forma

consigam atender as reais necessidades sociais.

Este trabalho tem como objetivos discutir quais os parâmetros que nortearam as

ações do poder público no âmbito do esporte e lazer da gestão pesquisada; analisar os

dados acerca do Ordenamento Legal municipal, estabelecendo relações e discussões

com a legislação nacional vigente e o Sistema Nacional de Esporte e Lazer e suas

implicações nas ações do poder público e mapear os projetos e programas existentes

no campo do esporte e lazer na cidade investigada.

Para tanto, estabelecemos diálogos com os gestores públicos vinculados às

Políticas Públicas de Esporte e Lazer do município de Alagoinhas, realizamos o

mapeamento e análise de projetos e programas existentes no âmbito do esporte e lazer

dessa gestão, e fizemos o levantamento dos dados acerca do Ordenamento Legal

municipal, estabelecendo análises e discussões com a legislação nacional vigente e o

Sistema Nacional de Esporte e Lazer.

No intuito de trazer respostas às questões colocadas, foram desenvolvidos seis

capítulos. O primeiro, O Esporte modelado pelos contextos sociais, discorremos sobre

a gênese do esporte, sua mercadorização a partir do capitalismo, e sua hegemonia

enquanto atividade de lazer.

No segundo, intitulado Lazer: Ocorrências Históricas, Concepções e Educação,

diz respeito as ocorrências do Lazer numa perspectiva histórica e social, as diferentes

abordagens e conceitos do mesmo, e algumas visões da sua relação com a educação.

Page 14: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

13

O terceiro capítulo, Políticas Públicas de Esporte e Lazer: um caminho em

construção, as políticas públicas de esporte e lazer são discutidas de uma forma mais

geral, sendo criados mais três subcapítulos, para abordar questões mais específicas:

As Políticas Públicas de Esporte e Lazer frente ao Ordenamento Legal, no

qual se procura fazer um apanhado do aparato legal nacional de esporte e

lazer e entender como está sistematizada a atual Política Nacional do Esporte;

A Gestão Municipal do Esporte e Lazer, discutindo como estão configuradas

as gestões, a necessidade de inovações e as novas tendências de gestão

colocadas pelas Resoluções da II Conferência Nacional de Esporte;

Participação Cidadã: legitimidade nas ações, onde é abordada a importância

da gestão democrática e participativa para a efetividade e legitimidade das

ações do poder público.

No quarto capítulo, O Caminho Percorrido, estão colocados os referenciais

metodológicos adotados, e os procedimentos utilizados para o desenvolvimento do

estudo.

O quinto, se dedica a apresentação e discussão dos dados pesquisados. E por

fim, trazemos as Considerações Finais acerca das políticas públicas de esporte e lazer

na gestão investigada, apontando seus avanços, limitações e indicando algumas

proposições para mudança da realidade encontrada.

Page 15: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

14

2 O ESPORTE MODELADO PELOS CONTEXTOS SOCIAIS

Quando se trata da gênese do esporte, encontramos na literatura duas

tendências que indicam a sua origem, teses as quais Bracht (2002) chamou de

continuidade e descontinuidade.

Para a primeira, tal manifestação cultural já existia desde a Antiguidade,

podendo ser identificada em jogos praticados por diferentes povos, desta forma, o

esporte não havia sido inventado, apenas ia ganhando novas características de acordo

com os diferentes contextos e momentos históricos. Os defensores dessa tese

acreditam que houve uma continuidade entre as práticas corporais antigas e as que

hoje identificamos como esporte, já que para os mesmos, as características essenciais

deste já estavam presentes nos jogos antigos, porém, as justificativas dessa afirmação

ainda configuram-se como superficiais.

A outra tendência que segundo Melo (2004) não necessariamente se contrapõe1

a esse entendimento da gênese do esporte, é a da descontinuidade, e atualmente a

mais aceita entre aqueles que estudam o fenômeno esportivo em seus aspectos

históricos e socioculturais. Nesta perspectiva, procura-se concebê-lo enquanto

fenômeno da modernidade, no qual aconteceram tantas transformações, que mesmo

ainda apresentando semelhanças com algumas práticas corporais antigas, tornou-se

possuidor de sentidos e significados suficientes para diferenciá-lo.

Para melhor entender como o “esporte moderno”2 se constituiu e como se tornou

um dos maiores fenômenos da atualidade, faz-se necessário discorrer sobre seu

processo de desenvolvimento e expansão a partir da sociedade capitalista inglesa.

Diferente das sociedades tradicionais, na qual as práticas corporais sempre

estavam ligadas a outras instituições como a religiosa e a militar, e eram realizados sob

a lógica destas, a partir do século XVIII, em consonância com o advento da própria

1 Sobre isto, Bracht (2005, p.96) afirma que “Isso não quer significar ausência absoluta de continuidade e, sim, que aspectos centrais dessa prática são novos”.

2 A expressão “esporte moderno” é utilizada, segundo Stigger (2005), por ambos os grupos, tanto os que defendem a tese da continuidade, quanto da descontinuidade. Ela é empregada para se referir ao esporte que teria surgido na Inglaterra e a partir dela se expandido para o mundo inteiro. Para aqueles que o defendem como uma criação a partir da sociedade moderna, a expressão é utilizada como forma de evidenciar o que estão se referindo.

Page 16: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

15

sociedade moderna, iniciam-se dentro das escolas públicas inglesas, práticas corporais

que vão se constituir numa instituição própria e autônoma.

Tomando como base Bourdieu (1983), Stigger (2005) desenvolve um estudo

sobre a participação da instituição escolar, as public schools3, na mudança de papel e

sentido dos jogos da sociedade pré-capitalista. Explica que eram comuns as escolas

serem conhecidas pelos transtornos que possuíam, o que estava ligado também aos

jogos realizados de forma desordenada. Mas que a partir da introdução de um sistema

educacional rígido e escolarizado, os mesmos passaram a ser utilizados como forma

de controle da violência e formação de lideranças. Desta busca pela disciplina, foram

criadas as primeiras regras escritas.

Com isso, essas atividades deixam de estar relacionadas e dependentes de

outras, para assumir função própria, o que possibilitou a autonomização e

racionalização dessas práticas, tornando-se fatores cruciais para a difusão do esporte.

Pois, foi a partir da constituição de regulamentos específicos e mais tarde universais, e

de dirigentes e organismos especializados, que este processo pôde avançar. Outro

acontecimento que Bracht (2005) também considera importante para a

institucionalização do esporte, foi a formação de ligas e clubes esportivos, por parte

daqueles que queriam continuar vivenciando essas práticas, mesmo depois de terem

passado pelas escolas e universidades.

Como a origem do esporte moderno está intimamente ligada com a consolidação

do modo de produção capitalista e de um Estado burguês, ele também carregou os

conflitos sociais básicos deste tipo de sociedade, a do capital x trabalho. A classe

média emergente da época buscava o status social, pretendendo se aproximar da

classe mais alta e se distanciar das camadas populares. Essa tentativa se dava por

meio de diversas estratégias, merecendo destaque a educação escolar e os esportes

amadores, na qual as atividades eram realizadas pelo simples prazer de fazê-las, e

caracterizadas por certo desinteresse em seus fins. Desta forma, o ideário amadorista

era confrontado com o profissionalismo, e logo com a classe trabalhadora, já que este

3 Sobre este termo, Stigger (2005, p.17-18) esclarece que não convêm à tradução para o português, já que não significam escolas públicas, e sim “tipos peculiares de escolas em que estudavam jovens das classes altas, cujos pais pagavam pela sua educação, na maior parte das vezes, em regime de internato”.

Page 17: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

16

último era considerado o esporte da classe social baixa, por necessitarem compensar

aquilo que deixavam de ganhar por se dedicarem àquelas práticas (BRACHT, 2005;

PRONI, 2002; STIGGER, 2005).

Se para a classe burguesa a prática do esporte a partir do amadorismo significou

a identificação como classe social, o acesso do esporte pelas camadas mais populares

expressou, para alguns autores como Walvin (1994 apud STIGGER, 2005), a conquista

do aumento do tempo livre pelos trabalhadores, que passou a ser ocupado pela

recreação organizada. Já para Melo (2004), esta foi uma forma de controle das

diversões desta classe, que viu suas manifestações populares perseguidas por uma

aliança estabelecida entre Estado, poder jurídico e religião, mas que não se consolidou

sem a resistência dessa camada da sociedade, e objetivou a criação de uma nova

cultura necessária ao estabelecimento do sistema fabril de produção, incorporando um

conjunto de valores e sensibilidades.

Com isso, à medida que o modo de produção capitalista ia se instalando e

consolidando no continente europeu e se expandindo para outros, estavam

estabelecidas as bases para a também concretização e difusão do sistema esportivo.

Brohm identifica alguns fatores que considera essenciais para o desenvolvimento do

esporte moderno, dentre eles:

(a) o aumento do tempo livre e o desenvolvimento do ócio (que ocupa um lugar de destaque na civilização do lazer);

(b) a universalização dos intercâmbios mediante os transportes e os meios de comunicação de massa (o esporte converte-se em “mercadoria cultural” graças à sua natureza cosmopolita);

(c) a revolução técnico-científica (que reflete-se na busca de eficiência corporal, nos novos materiais e equipamentos, inclusive no surgimento de novas modalidades esportivas);

(d) E a revolução democrática burguesa e o enfrentamento das nações no plano internacional (isto é, a dinâmica política ideológica) (BROHM,1976 apud PRONI, 2002, p. 39).

A partir dessa perspectiva, tem-se o esporte moderno como produto da

sociedade industrial, e que como Bracht (2005) ressalta, acaba incorporado as

características da mesma: o princípio do rendimento e da competição, a cientifização

do treinamento, a burocratização e especialização dos papéis, a pedagogização e o

Page 18: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

17

nacionalismo. Desta forma, estavam estruturados os elementos para a

mercadorização4 do esporte, o qual este mesmo autor define como “a extensão da

lógica da mercadoria para o âmbito das práticas corporais (de lazer), tanto no sentido

do consumo de prestação de serviços (serviços e equipamentos) quanto na produção e

no consumo do espetáculo esportivo e de seus subprodutos” (BRACHT, 2005, p. 196).

A partir disso, este sistema passa a ser regido pela mesma lógica do capital: o

lucro. Ficando claro, a relação que o seu surgimento, desenvolvimento e expansão,

tiveram com o contexto da sociedade inglesa, que pela sua prosperidade, passava a

ser um modelo para as demais.

Não se pode desconsiderar também, o papel que os meios de comunicação

exerceram sobre este processo, notadamente a televisão, sendo fator essencial para a

expressão do esporte enquanto produto a ser consumido, o que o tornou mais tarde

numa verdadeira indústria. Segundo Melo (2004), se obtinha lucros por diversas

formas, com a venda dos ingressos, as apostas e a venda dos objetos esportivos. A

imprensa também lucrava vendendo espaços para propagandas e anúncios, e tinha

sua audiência aumentada durante a transmissão das competições, entre outros. O

objetivo, segundo Gebara (2002), estava na produção e no controle de eventos e

imagens do contexto do espetáculo. Seria um novo tipo de mercadoria, não mais

produzidas pelo trabalhador assalariado, mas pela mercantilização de símbolos e

signos de um fenômeno cultural possuidor de várias dimensões.

A constituição do campo esportivo enquanto mercadoria, trouxe mudanças

institucionais profundas dentro deste sistema, o que influenciou decisivamente na

forma como está configurado na atualidade. Bracht (2005) identifica algumas dessas

alterações: a diferenciação entre o esporte de alto rendimento ou espetáculo e o

esporte enquanto forma de lazer, e a sobrepujança da organização inicial em forma de

associativismo, para a forma empresarial. Alguns desses aspectos também são citados

por Gebara (2002, p.13), quando coloca que é evidente nesse processo, que a

instituição esportiva passou pelo “deslocamento da área do saber articuladas pelo lazer

4 Bracht (2005, p. 96) traz que normalmente se discute ou se entende esse processo, como sendo apenas no plano do esporte-espetáculo, advindo do aprofundamento do esporte profissional com sua vinculação aos meios de comunicação de massa.

Page 19: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

18

e tempo livre, para aproximar-se do mundo do trabalho e da mercantilização”.

Desta forma, percebe-se uma desvalorização das práticas esportivas articuladas

com a dimensão comunitária e de integração social, enquanto que uma maior

importância é dada ao esporte como produto de consumo, cujos valores iam de

encontro ao seu entendimento como espaço de fortalecimento das relações sociais e

de questionamentos da ordem vigente, mas sendo condizentes com os ideais da

sociedade capitalista.

Por meio dessa dinâmica, e reforçado pelos ideais neoliberais, houve um

aprofundamento das privatizações dos serviços e espaços públicos que constituíam o

esporte como direito do cidadão, passando a ser direito do consumidor, superando a

visão antes instalada, na qual o mesmo era visto muito mais como programa de saúde.

Sendo a tendência mais geral, sob a justificativa do Estado Mínimo, o oferecimento de

equipamentos e programas esportivos por parte da iniciativa privada, deixando de ser

tarefa do próprio Estado (BRACHT, 2002), reforçando assim, a indústria do

entretenimento ou do lazer.

Sabe-se também, que o esporte é uma das principais formas de lazer da

população em geral, e dentro destas práticas é notável a hegemonia do futebol entre as

atividades de lazer. Este fato tem íntima relação com as articulações estabelecidas

entre a mídia e o sistema esportivo, pois o que se observa na grade de programação

dos meios de comunicação, é uma predominância de tempo destinada ao futebol,

ficando reservado um mínimo de tempo para outros esportes, ou até mesmo sendo

inexistente este espaço.

Neste sentido, Melo (2004) alerta para um dos problemas notáveis nessa

relação, que está no consumo pouco crítico deste fenômeno, tido como uma

manifestação supostamente ingênua, sendo necessário a superação dessa visão

estritamente ligada a um consumo despercebido, por uma que o traga em sua

complexidade de representações que devem ser identificáveis pelo público.

Esta discussão nos remete ainda a alguns questionamentos quanto a

“democratização” do esporte. Pois até que ponto podemos afirmar que este é acessado

por todos, quando é muito mais comum o seu consumo pelas mídias do que a sua

prática por parte da população? O outro, se refere a distribuição de bens e

Page 20: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

19

equipamentos de esporte pela cidade, como garantir a amplitude de tais possibilidades

se normalmente o que temos são as ofertas restritas de quadras? Para Melo (2004)

cabe estarmos atentos para a necessidade de estimular a sociedade, a não só assistir

o espetáculo esportivo, mas também se permitir a vivenciar corporalmente as suas

diversas possibilidades de benefícios. Assim como, questionar as restrições e o

entendimento de que existiram práticas adequadas para cada classe social, sendo

necessário ampliar as possibilidades de vivência da população. E estimular para o

desenvolvimento de um senso, no qual as atividades esportivas no lazer devem adquirir

sentido e significados próprios, deixando de serem reféns do esporte espetáculo ou de

alto rendimento.

Levantado alguns pontos da relação existente entre esporte e lazer, faz-se

necessário ampliar as discussões deste último, já que também se constitui em um dos

nossos objetos de estudo. Para tanto, traremos a seguir algumas questões

relacionadas aos aspectos históricos do lazer, as diferentes concepções do mesmo e

sua relação com a educação, enquanto prática social.

Page 21: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

20

3 LAZER: Ocorrências históricas, Concepções e Educação.

Os estudos relacionados as ocorrências históricas do lazer também diferem em

posições quanto ao seu surgimento, sendo perceptível nas duas visões, proximidades

com as discussões voltadas para a gênese do esporte.

Na análise que Gomes (2004a) desenvolve sobre as abordagens que discutem a

origem do lazer, tem-se o grupo que defende a sua existência desde as sociedades

antigas, evidenciando sua presença na vida social dos filósofos gregos, na meditação

dos romanos e na política do “pão e circo”, e até mesmo na Idade Média, quando os

poderes procuraram controlar as festas e os divertimentos do povo, tinha-se como

forma de protesto alguns ritos e espetáculos cômicos.

Do outro lado, estão os autores que defendem o lazer como um fenômeno típico

da sociedade moderna, que surge a partir das tensões presentes no contexto urbano e

industrial, sendo fruto da conquista dos trabalhadores pela diminuição da jornada de

trabalho.

Não há necessariamente uma rejeição entre essas visões, a contradição está no

enfoque de cada uma delas: “a primeira aborda a „necessidade de lazer‟, sempre

presente, e a segunda se detém nas características que essa necessidade assume na

sociedade moderna” (MARCELLINO, 2002, p. 54).

O que não se pode negar, é que as características que configuram o lazer como

o conhecemos na atualidade e que deram ao mesmo significação própria, são

atribuídas a mudança do modelo social e econômico tradicional para o moderno.

Em seu livro “Lazer, Trabalho e Educação”, Werneck (2000) faz um estudo sobre

o lazer, a partir de seu entendimento numa perspectiva histórica e social. Deste ponto

de vista, o lazer foi fruto das reivindicações da classe trabalhadora européia no

contexto da Revolução Industrial, quando só poderia ser experimentado se os

assalariados tivessem oportunidade para tais vivências, através da redução da jornada

de trabalho, das férias, feriados, etc. Foi neste momento que surgiram as

reivindicações por um tempo livre, e o lazer ganha um significado enquanto direito de

todos, por meio do estabelecimento de leis que garantissem o “tempo do não trabalho”.

Com isso, a questão do lazer passa a ter grande relevância social para a

Page 22: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

21

burguesia. Mas a preocupação não estava em garantir os direitos adquiridos pelos

trabalhadores, e sim, em ofertar atividades de lazer como forma de compensar os

desgastes das jornadas de trabalho e principalmente, como meio de controle do tempo

livre da classe operária, para que esse tempo conquistado não viesse a fortalecer a luta

política por melhores condições de vida dessa camada da população. Desta forma,

Werneck (2000) coloca que o tempo do não trabalho reivindicado pelos assalariados

como um direito passou a ser não uma contraposição ao trabalho, mas uma

continuação do mesmo, sendo essencial para a manutenção dos interesses políticos,

econômicos e sociais vigentes.

Atualmente, o que se percebe, é que se o acesso ao trabalho e a educação se

encontram restritos, quando se trata do lazer, a limitação torna-se maior, pois

equivocadamente, passou a ser concebido enquanto um produto a ser consumido e

privilégio de poucos. Esta visão passou a ser difundida e ampliada pela descoberta de

um grande mercado promissor, tendo o lazer como essência, é a famosa indústria do

entretenimento, capaz de gerar lucros altíssimos para aqueles que detêm o poder. Daí

a importância de se buscar o sentido social do lazer, enquanto exercício de cidadania e

alternativas para o enfrentamento dos limites de nossa realidade (WERNECK 2000).

Assim como os diferentes enfoques dados aos seus aspectos históricos, no que

diz respeito as concepções de lazer, também não se percebe um acordo sobre seus

conceitos, que vão desde as definições mais restritas, até aquelas mais críticas e

abrangentes.

Tomando como base os estudos de Gomes (2004b) e Maffei (2004), traremos

algumas concepções de lazer na busca de conhecer suas proximidades e

particularidades. Começaremos com a perspectiva do estudioso Joffre Dumazedier,

sociólogo francês que mais influenciou as concepções brasileiras, definindo o lazer

como:

[...] um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se, ou ainda, para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais (DUMAZEDIER, 1983 apud MAFFEI, 2004, p. 13).

Page 23: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

22

Essa concepção reduz o lazer à prática de determinadas atividades e coloca-o

como uma oposição ao trabalho. Como Gomes (2004b) afirma, nem sempre existem

fronteiras absolutas entre trabalho e lazer, assim como com as obrigações

profissionais, sociais, políticas, e religiosas. Estes possuem relações dialéticas e

também não vivemos numa sociedade neutra, desconectada umas das outras como

este conceito propõe.

Próximo ao conceito de lazer discutido, Maffei traz o de Camargo, que o define

como qualquer atividade que não seja profissional ou doméstica:

[...] um conjunto de atividades gratuitas, prazerosas, voluntárias e liberatórias, centradas em interesses culturais, físicos, manuais, intelectuais, artísticos e associativos, realizadas num tempo livre roubado ou conquistado historicamente sobre a jornada de trabalho profissional e doméstica e que interferem no desenvolvimento pessoal e social dos indivíduos (CAMARGO, 1989 apud MAFFEI, 2004, p.47).

É uma visão bem generalista de lazer, porque engloba inúmeras atividades, visto

que exclui apenas as domésticas e as relativas ao trabalho, mas avança ao considerar

a conquista histórica do tempo livre pela redução da jornada de trabalho, apontando

relações hegemônicas envolvidas neste processo e ao considerar a influência dessas

práticas no desenvolvimento pessoal e social.

E, fundamentando-se nesse mesmo autor, assim como em Dumazedier, Requixa

(1980 apud GOMES, 2004b, 121-122) entende o lazer como “ocupação não

obrigatória, de livre escolha do indivíduo que a vive, e cujos valores propiciam

condições de recuperação psicossomática e de desenvolvimento pessoal e social”.

Percebe-se aqui a atribuição de um caráter funcionalista dado ao lazer, ao colocá-lo

como forma de recuperação, como compensação do desgaste físico e psicológico

proveniente das horas de trabalho.

Outro nome que atualmente tem sido muito citado nos estudos do Lazer é o de

Nelson Marcellino que o entende como:

[...] a cultura - compreendida no seu sentido mais amplo – vivenciada (praticada ou fruída) no tempo disponível. O importante como traço definidor é o caráter "desinteressado" dessa vivência. Não se busca, pelo menos fundamentalmente, outra recompensa além da satisfação

Page 24: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

23

provocada pela situação. A "disponibilidade de tempo" significa possibilidade de opção pela atividade contemplativa (MARCELLINO, 1987 apud GOMES, 2004b, p.122. Grifos do autor).

Nesse aspecto da atividade contemplativa, o conceito de Marcellino é diferente

do de Dumazedier. Para o primeiro, o lazer é cultura, e não necessariamente precisa

ter uma intencionalidade. Para o segundo, o lazer é caracterizado pela atividade-fim,

pela ocupação com a intenção de recrear, de entreter. Mas ambos defendem a

necessidade de um tempo dedicado ao lazer, apesar de Marcellino defender que o

tempo social do lazer é caracterizado como tempo disponível e Dumazedier o definir

como tempo livre.

E um pouco mais recente, temos a concepção de Mascarenhas (2001 apud

GOMES, 2004b, p. 123-124) que entende o lazer como um “fenômeno tipicamente

moderno, resultantes das tensões entre capital e trabalho que se materializa como um

tempo e espaço de vivências lúdicas, lugar de organização da cultura, perpassando por

relações hegemônicas”. Apesar de trazer um aspecto predominante em quase todas as

definições de lazer, o caráter lúdico, Mascarenhas o traz numa perspectiva muito mais

revolucionária, no momento que o entende como espaço de organização da cultura, no

qual as relações sociais estabelecidas permitem o debate e questionamento da ordem

social vigente.

E a partir dessa visão, tem-se o lazer como um instrumento de transformação

social, como uma possibilidade de contestamento da realidade encontrada. O que nos

remete as discussões de Marcellino (2002), no que diz respeito às potencialidades que

o lazer possui para o desenvolvimento pessoal e social, devido ao seu caráter

educativo.

Para entendermos melhor os meios e fins do lazer-educação na construção de

uma nova sociedade, faremos uma análise dos estudos de Marcassa (2004) e

Marcellino (2003), sobre esta relação.

A primeira proposta de Lazer e Educação segundo Marcassa (2004, p.127), é

desenvolvida pela recreação, no século XX e surge como uma alternativa no cotidiano

da grande cidade, que já vivia os problemas relacionados à industrialização e

urbanização, colaborando para a criação de novos comportamentos e a formação da

Page 25: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

24

subjetividade de que a sociedade burguesa precisava.

Na escola, à recreação coube a função de disciplinar as mentes e cultivar os

corpos das crianças de acordo com a educação moral, higiênica e física. Fora da

escola – nos chamados Centros de Recreio – a recreação assume a feição de uma

formação essencial aos setores populares, sobretudo aos operários, como um reforço à

insuficiente educação praticada no ambiente doméstico. Percebe-se a predominância

de uma visão instrumental e de controle social sobre a relação entre lazer e educação,

que infelizmente pode ser vista até os dias atuais.

Uma outra perspectiva, que segundo a mesma autora, configura-se como mais

complexa. Vê no lazer um espaço de educação constante, que permite aos indivíduos o

descanso e a recuperação das suas forças físicas e mentais para o retorno ao trabalho,

alivia as tensões, mantêm as pessoas ocupadas em atividades que lhes dão prazer.

Além de promover o desenvolvimento pessoal e social, possibilitando ao homem

equilíbrio e inteligência para resolução de problemas, assim como, criação de

respostas ajustadas às mudanças rápidas e emergentes da vida moderna, dando sua

contribuição para o bem-estar de todo o país.

Têm-se então, uma crença no enriquecimento da personalidade humana por

meio do lazer, como possibilidade de liberação das padronizações e facilidade de

adaptação a quaisquer circunstâncias adversas. Tornando essa posição, dotada de

conteúdos psicológicos, no momento que pensa a compensação e estabilização

individual e de conteúdo social, na readaptação e manutenção da ordem. Trazendo

assim, uma visão funcionalista da relação entre lazer e educação.

Existem perspectivas que buscam mudanças e rompimentos no plano social,

como a de Marcellino (2003) e de Mascarenhas (2003 apud MARCASSA, 2004). O

primeiro vê o lazer como possível instrumento contra-hegemônico, revestindo sua

relação com a educação de conteúdo crítico, acreditando na união da sociedade em

direção a mudanças culturais, capazes de fazer com que a experiência do lazer se

torne mais rica e promotora do ser humano, possibilitando mais prazer de viver. Sendo

assim, afirma que só faz sentido falar nos aspectos educativos do lazer, se este for

considerado como um dos possíveis canais de atuação no plano cultural, na busca de

contribuir para uma nova ordem moral e intelectual, que traga mudanças no plano

Page 26: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

25

social. O mesmo autor destaca ainda o duplo aspecto educativo do lazer:

Trata-se de um posicionamento baseado em duas constatações: a primeira, que o lazer é um veículo privilegiado de educação; e a segunda, que para a prática positiva das atividades de lazer é necessário o aprendizado, o estímulo, a iniciação, que possibilitem a passagem de níveis menos elaborados, simples, para níveis mais elaborados, complexos, com o enriquecimento do espírito crítico, na prática ou na observação. Verifica-se, assim, um duplo processo educativo – o lazer como veículo e como objeto de educação (MARCELLINO, 2003, p.58-59. Grifo do autor).

Já Mascarenhas (2003) traz uma proposta socioeducativa do lazer

sistematizada contemporaneamente, ressaltando que a intervenção pedagógica do

lazer deve ultrapassar os limites da ação cultural, devendo se articular à realidade

socioeconômica e a conscientização da situação histórica de classe, já que se trata de

uma proposição que visa à superação das atuais condições materiais de existência.

Nesse sentido, o mesmo entende o lazer-educação como “posição político

pedagógica de compromisso com os grupos ou movimentos sociais mediante sua

resistência e luta cotidiana por sobrevivência, por emancipação e pela conquista de um

mundo mais justo e melhor para se viver” (MASCARENHAS, 2003 apud MARCASSA,

2004, 132). Com isso, o autor propõe que mediante uma experiência lúdica e

educativa, possa se refletir sobre a realidade que nos cerca e praticar a liberdade como

um exercício de cidadania e participação social.

Próximo a esse pensamento, temos o de Leiro, que acredita:

Num lazer que vá além da constatação da realidade, do relaxamento e das práticas recreo-esportivas. Para tanto, é preciso ações que favoreçam a coletividade ao invés do individualismo, a solidariedade ao invés da barbárie e a organização ao invés das ações acríticas referentes dos problemas sócio-ambientais (LEIRO, 2006, p. 51).

O mesmo autor aponta que tal caminho dever ser potencializado, através do

estabelecimento de políticas públicas, que assegurem um maior número de sujeitos,

diversas experiências culturais que colaborem para a reflexão crítica dos interesses de

ordem global, mobilizando, discutindo e organizando os interesses de ordem local.

Portanto, para que sejam garantidas a todos os cidadãos as vivências das

diversas potencialidades e possibilidades do lazer e também do esporte, é necessária a

Page 27: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

26

intervenção ativa e positiva do poder público, por meio do estabelecimento de políticas

públicas, já que os mesmos estão dentro do quadro de direitos sociais e, portanto, são

responsabilidades da ação governamental. Essas questões serão o eixo norteador das

abordagens a seguir.

Page 28: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

27

4 POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER: Um caminho em construção

Antes de adentrarmos nas discussões específicas sobre políticas públicas de

esporte e lazer, torna-se imprescindível levantar alguns pontos conceituais sobre

política e políticas públicas e assim, tornar explícitos elementos que são fundamentais

para análise do universo em questão.

Para Ribeiro (1998), a “política”, independente do seu emprego, sempre está se

referindo a algum tipo de exercício de poder e das conseqüências múltiplas desse

exercício, mas não considera que esta definição seja satisfatória, até mesmo, porque

existem dificuldades para que se entenda o que é poder. E este só pode ser analisado,

sentido e avaliado em sua ação. A partir dessa consideração e da identificação de que

o ato político possui determinados aspectos como interesse e decisão, este autor

passa a entender a política “como um processo através do qual, interesses são

transformados em objetivos e os objetivos são conduzidos à formulação e tomada de

decisões efetivas, decisões que „vinguem‟ ” (RIBEIRO, 1998, p. 8).

Sobre as características do exercício de poder ou da definição de política,

Amaral (2004a) levanta quatro pontos:

O primeiro está na consideração de que a definição de objetivos, por parte de

um grupo sempre implica em opiniões divergentes. Desta forma, a política

aparece quando há uma mediação pacífica desses conflitos.

Em segundo, destaca a relação que a mesma possui com a maneira pelas

quais as decisões de um grupo são tomadas, seja pela persuasão,

negociação, imposição, ou estabelecimento de um mecanismo que leve as

decisões finais.

O terceiro diz respeito que uma vez tomada a decisão, esta será considerada

como legítima pelo grupo em questão, distanciando-se do sentido de

dominação.

Por último, a necessidade de imposição dessas regras para aqueles que não

as aceitam, fazendo com que estas sejam cumpridas.

Traz ainda, que diante dessas características, pode-se concluir, que no mundo

moderno, o contexto onde esse tipo de exercício de poder acontece é no Estado, “já

Page 29: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

28

que ele é a autoridade mais compreensiva que podemos encontrar e, certamente, a

instituição com maior capacidade de influenciar pela persuasão ou pela negociação, ou

de estabelecer mecanismos de tomada de decisão final” (AMARAL, 2004a, p.182).

Dentre as diversas formas de ações do Estado, tem-se as políticas públicas, que

segundo essa mesma autora, objetiva assegurar, o funcionamento em harmonia da

sociedade, através da superação de conflitos e da garantia da manutenção do sistema

vigente. Já Menicucci (2006) afirma ser os atos e não atos das autoridades públicas,

neste caso o Estado, diante de um problema ou setor da sociedade, caracterizando-se

como públicas, por envolverem um conjunto de decisões que afetam a todos,

justamente por tratarem de coisas públicas.

Outro autor que também se propôs a discutir as políticas públicas, foi o professor

Teixeira (2002), que trazendo um conceito claro da mesma, assim como elementos que

as constituem, tornou seu estudo fundamental para o entendimento das políticas

públicas em nossa realidade local. Define-as como:

[...] diretrizes, princípios norteadores de ação do poder público; regras e procedimentos para as relações entre poder público e a sociedade, mediações entre atores da sociedade e do Estado. São, nesse caso, políticas explicitadas, sistematizadas ou formuladas em documentos (leis, programas, linhas de financiamento) que orientam ações que normalmente envolvem aplicações de recursos públicos. Nem sempre, porém, há compatibilidade entre as intervenções e declarações de vontade e as ações desenvolvidas. Devem ser consideradas também as “não-ações”, as omissões, como formas de manifestação política, pois representam opções e orientações dos que ocupam cargos (TEIXEIRA, 2002, p. 02).

Aponta ainda, os objetivos das políticas públicas, sendo eles: a) atender as

demandas, especialmente das classes menos favorecidas, mais urgentes; b) garantir e

ampliar direitos dos cidadãos; c) gerar o desenvolvimento, através de alternativas de

emprego e renda, para tentar compensar as lacunas deixadas por outros tipos de

políticas, como as de estratégia econômica; d) mediar conflitos entre atores sociais,

pela contradição de interesses que possuem.

Desta forma, as políticas públicas estão colocadas como um instrumento de

extrema importância para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, sendo um

significativo mediador das relações entre Estado e sociedade, e como afirma Rocha

Page 30: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

29

(2004, p. 194), “um verdadeiro espaço de fortalecimento da cidadania”.

É baseado nessa lógica, que faremos uma análise do atual cenário das políticas

públicas de esporte e lazer em nosso país, relatando antes, como estas políticas

vinham se configurando em contexto anterior, quando eram constituídas a partir dos

ideais do Estado de bem-estar social, e objetivavam a ampliação e garantia de direitos

de cidadania.

Segundo Frigotto (1999), após a Segunda Guerra Mundial o capitalismo assume

o ideário do industrial Henry Ford, no qual para que este sistema prosperasse era

necessário criar uma sociedade integrada pela produção e consumo de massa e pleno

emprego, sendo preciso regular o mercado por um Estado interventor e planejador.

Passa a existir um enorme esforço na construção de políticas para o pleno emprego e

de direitos sociais, sob a perspectiva de uma sociedade capitalista integradora.

É quando vinga a idéia do Estado de bem-estar social e o capitalismo vive a sua

Era de Ouro, nesse período a população consegue atingir níveis mínimos de bem-

estar, tendo assegurados o direito a educação, a saúde, habitação, emprego, esporte,

lazer, entre outros. No entanto, vale ressaltar que essa não foi a realidade do Brasil,

pois esse “bem-estar” não chegou a existir na América Latina, mas as ideologias dessa

política difundidas nos países periféricos, representavam promessas de melhoria de

condições de vida para as pessoas (MASCARENHAS, 2007).

A criação desses direitos também representou as conquistas da classe

trabalhadora, ao passo que favoreceram a convivência pacífica por um tempo, entre

crescimento econômico, ampliação do consumo dos assalariados e com isso a

recomposição da estabilidade do sistema.

As políticas de Esporte e Lazer implementadas no Brasil naquela época, também

tiveram influências dos ideais do Estado de bem-estar social, pois como afirma

Mascarenhas (2007), o Esporte e lazer acabaram sendo tratados como uma

antimercadoria, e ao lado dos outros serviços sociais, contribuíam com o capital, ao

passo que serviam para subsidiar os custos com a reprodução da força de trabalho,

otimizava a produção e ainda preservava o salário para ser gasto em outros setores.

Destaca a criação do Serviço Social da Indústria (SESI) e do Serviço Social do

Comércio (SESC), em 1946, como principais responsáveis pela expansão e

Page 31: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

30

implementação das ações de lazer desenvolvidas no país, e mais tarde, a criação dos

Centros Sociais Urbanos, na década de 1970, que foram distribuídos pelas periferias

das grandes cidades.

Nestes casos, respectivamente, foi dado ao lazer um caráter funcionalista, que

segundo Pinto (2008a, p.82) “tinham o objetivo explícito de promover a recreação como

distração, descanso e recomposição da força de trabalho”; e outro compensatório,

quando buscou compensar as mínimas condições de vida da população mais pobre,

que sofria e sofre as conseqüências do desenvolvimento urbano e industrial, através

das práticas de lazer nesses centros (MASCARENHAS, 2007).

Mas, para Frigotto (1999, s/p) “Um capitalismo que regula o mercado e o capital

não deixa de ser capitalismo e, portanto, não supera a existência das classes sociais, e

portanto, das desigualdades”. O capitalismo mais uma vez entra em crise, que segundo

os neoliberais a mesma pode ser explicada pela ineficiência do Estado em gerir as

políticas públicas, sendo a crise um produto da difusão da noção de cidadania, pois,

acabou gerando falsas promessas e orientando as ações coletivas e individuais

caracterizadas pela improdutividade e falta de reconhecimento no valor individual da

competição (GENTILI, 1996).

E a partir da década de 1990, começam as reformas do Estado sobre a tríade da

desregulamentação, descentralização e privatizações e logo, os investimentos em

políticas sociais deveriam ser reduzidos. Já que, o ideal neoliberal entende a

democracia como liberdade de escolha dos serviços que estão disponíveis no mercado,

e que a qualidade dos mesmos seria melhorada a partir da livre concorrência.

Como Rocha (2004, p. 192) afirma:

A implementação do projeto neoliberal trouxe conseqüências às propostas de desenvolvimento do país. Em parte, isso se deve ao fato de o mercado ser concebido como definidor das relações humanas, tornando princípios como democracia, justiça social, cidadania, nocivos ao projeto hegemônico da eficiência econômica. Esse projeto contraria os interesses do sistema que, centrado na ideologia dominante, propõe uma globalização de cima para baixo, promovendo um crescente processo de naturalização da exclusão, que se dá em todos os campos, alargando ainda mais as desigualdades sociais pela transferência das responsabilidades do Estado para o capital privado.

Page 32: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

31

O mesmo autor traz ainda que o agravamento dos problemas sociais é

caracterizado principalmente pela participação mínima do Estado na sociedade, em

relação às áreas consideradas essenciais, como a educação, saúde, segurança

pública, esporte e lazer.

Com isso, percebe-se um recuo da intervenção estatal, tanto no que diz respeito

a economia, quanto no gerenciamento das políticas sociais, dando lugar a um mercado

livre de interferência e que cada vez mais tem domínio sobre a vida social.

Mascarenhas (2004) aponta que se antes o esporte e lazer eram caracterizados como

uma antimercadoria, tratados como direitos e fazendo parte do conjunto das políticas

sociais como elementos integrantes da estratégia de financiamento público como

incremento da reprodução da força de trabalho e da produtividade, para preservar o

salário para o consumo com bem duráveis, agora assume uma posição muito mais de

subordinação real ao capital.

Essa subordinação acaba dificultando o acesso as práticas corporais de

qualidade, principalmente as relacionadas ao esporte e lazer, no momento em que há

uma tendência cada vez maior a privatização das mesmas, passando a ser

consideradas como mercadoria, ficando assegurado apenas para aqueles que podem

pagar por esses serviços, tornando-se um “direito” de poucos. Têm-se então, uma

realidade cruel: apesar de assegurados por um conjunto de direitos, só usufruem

aqueles que conseguem permanecer na condição de consumidores e não apenas de

cidadãos.

Sobre este aspecto, Pinto (2008a, p. 85) traz que:

O capitalismo provocou a disseminação do lazer veiculado pela indústria cultural, trazendo os indivíduos como potenciais consumidores de mercadorias lúdico-culturais. E com o aumento do acesso diferenciado a esses bens, devido a diferenças de condições socioeconômicas e educativas entre as camadas da população, alargam-se as desigualdades quanto ao acesso à produção cultural disponível no lazer.

A conformidade do esporte e lazer à lógica da sociedade de consumo, através

da chamada indústria do entretenimento, acaba reproduzindo também seus valores, e

com isso a exclusão e o distanciamento entre as classes terminam alargando-se por

mais uma via, pela mercantilização das manifestações culturais. Para Castellani Filho

Page 33: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

32

(2006), essa é a síntese de uma concepção de organização social, que exprime a

cidadania pela capacidade consumidora do cidadão e entende as manifestações

culturais como produtos susceptíveis ao mercado.

Sabe-se também, que as políticas públicas influenciadas pela concepção

neoliberal continuam trazendo um viés assistencialista e servindo para amenizar vários

problemas sociais oriundos da disseminação da ideia de Estado Mínimo, e desta forma

torna-se comum o “lazer e” e “esporte e”, violência, promoção social, segurança, entre

outros. Desta forma, como Paulino (2007) afirma, no meio de outras intenções, as

políticas públicas de esporte e lazer, acabam perdendo o foco, que deveria ser a sua

fruição enquanto direito social, vivência de experiências humanizadoras para nossas

relações, indicativo de qualidade de vida e do desenvolvimento individual e coletivo.

A falta de reconhecimento destas funções sociais do esporte e lazer gera

políticas que atribuem outra função aos mesmos. Pinto (2003) aponta que ainda

prevalecem as concepções moralistas, quando o esporte e lazer são tidos como forma

de atenuar ou reduzir problemas sociais; as utilitaristas, sendo utilizados como meio de

elevar lucros pelo aumento de produção da indústria cultural; e as compensatórias, no

qual são valorizados como tempo de descanso para repor energias da jornada de

trabalho.

Além disso, como colocado por Zingoni (2003) a falta de definição e clareza dos

princípios políticos e de mecanismos de controle populacional das ações voltadas para

as políticas públicas de esporte e lazer, denunciam a vulnerabilidade do setor dentro do

Estado capitalista democrático. A questão é ainda agravada, na medida em que a

maior parte da população convive com diversos problemas socioeconômicos, os

mesmo se tornam o centro de suas reivindicações por condições de vida melhores, e

desta forma, o atendimento adequado às demandas de esporte e lazer, ficam

dificultadas, ou não acontecem.

Outro aspecto que tem contribuído de forma negativa e decisiva nas políticas

públicas de esporte e lazer, está em que, no geral, as secretarias de esporte e lazer,

são as que recebem a menor parte do orçamento das prefeituras, o que acaba

induzindo a espetacularização do mesmo, de forma a atrair o maior número de

patrocinadores possíveis, para financiarem as ações voltadas para esse campo.

Page 34: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

33

Também é comum que a partir do processo burocrático de formulação dessas

políticas, sejam geradas ações sem a menor explicitação e sem identidade,

constituindo-se em “Calendários de eventos”, e “pacotes” que são baixados de

gabinetes técnicos (MARCELLINO, 2007). Têm-se então as ações centradas em datas

festivas, como Micareta, São João, Natal, e projetos que acontecem em determinados

períodos do ano e que são comuns em algumas cidades, a exemplo dos projetos de

ginástica na praça, durante alguns meses do verão.

A contradição que vem acontecendo nas experiências cotidianas é apontada por

Rocha (2004), quando, de um lado, tem-se a estruturação dos ideais neoliberais

representados pelo Estado mínimo e, de outro, a ampliação dos direitos políticos e

sociais, o que vem acompanhado da pressão aos poderes públicos municipais, para

atenderem as reivindicações da população em suas agendas públicas. Dentre essas

demandas da sociedade, percebe-se uma crescente busca pelas ações voltadas para o

esporte e lazer, que segundo Marcellino (2007) infelizmente não vem sendo

acompanhado por respostas ativas e positivas por parte do poder público, e pelo

grande avanço do esporte e lazer enquanto mercadoria, através da indústria cultural, o

oferecimento dessas oportunidades em uma outra perspectiva, vem se tornando uma

questão de exercício de cidadania.

Para que as políticas públicas de esporte e lazer, sejam efetivamente voltadas

para o exercício da cidadania, torna-se preciso o estabelecimento de um ordenamento

legal consistente nas esferas do governo federal, estadual e municipal, que venham

estabelecer as bases para uma gestão democrática, participativa e verdadeiramente

cidadã.

4.1 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE ESPORTE E LAZER FRENTE AO

ORDENAMENTO LEGAL

Quando se trata de temas relacionados ao direito social ao esporte e lazer, é

imprescindível que se traga questões referentes a cidadania e seu conjunto de direitos

como ponto central da discussão. É partindo deste princípio, que buscaremos levantar

alguns autores que estudam tais elementos.

Page 35: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

34

Para Manzini-Covre (2001) as pessoas tendem a associar a cidadania apenas

aos direitos a receber, esquecendo que também são parte do governo, sendo preciso

lutar para conquistar os mesmos, descartando o fato de que elas mesmas podem ser

atores da existência de seus próprios direitos. Desta forma, entende a cidadania como

o próprio direito à vida em sua plenitude, construída coletivamente, não apenas no que

diz respeito as necessidades básicas, mas em todos os níveis da existência.

Tomando como base os estudos de Marshall (1967)5, tanto Menicucci (2006)

quanto Vieira (2004) e Manzini-Covre (2001) desdobram a cidadania em três conjuntos

de direitos, no qual os direitos civis e políticos estariam dentro dos direitos de primeira

geração e os direitos sociais, seriam os direitos de segunda geração. Os direitos civis

correspondem a liberdade individual, igualdade, propriedade, a justiça, etc. Eles

dependem da existência dos direitos políticos, que por sua vez, estão relacionados a

participação no exercício do poder político, seja ele qual for, associação, organização

política e sindical, participação eleitoral, etc. E os direitos sociais, dizem respeitos ao

atendimento das necessidades básicas humanas, participação por completo na

herança social.

Sobre a realidade brasileira Amaral (2004b) alerta que diferente do caso inglês,

teve os direitos sociais e políticos concedidos num momento em que o Estado

encontrava-se num regime autoritário, não sendo uma conquista exclusiva da classe

trabalhadora, mas concedidos pelo poder estatal.

Os direitos sociais surgiram para reduzir a crescente desigualdade oriunda da

sociedade capitalista, buscando garantir um mínimo de bem estar para todo cidadão.

Eles estão relacionados ao acesso a bens e serviços públicos, e segundo Menicucci,

(2006), a partir de sua disponibilidade, reduzem a dependência do mercado, num

processo de desmercantilização, tornando o bem estar das pessoas independentes das

relações monetárias. Apresentam também, a capacidade de serem expandidos e

redefinidos de acordo com as mudanças na sociedade, e dependem da construção

política da noção de cidadania social.

A partir disso, eles se configuram como uma participação na riqueza produzida

5 Marshall (1967), analisando o caso inglês, acabou generalizando a noção de cidadania e de seus elementos constitutivos, sem a pretensão de fazê-la, e tornando sua concepção uma das mais clássicas quando se trata de cidadania (VIEIRA, 2004).

Page 36: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

35

pela sociedade, e acabam impondo modificações nas experiências das classes sociais,

que dificilmente seria acessada a partir das reais condições que condicionam as

próprias classes.

Dentro do conjunto de direitos sociais previstos na Constituição Brasileira

promulgada em 1988, temos previsto o lazer no título II, Dos Direitos e Garantias

Fundamentais, capítulo II, Dos Direitos Sociais, artº. 6º. E no título VIII Da Ordem

Social, capítulo III, Da Educação, da Cultura e do Desporto, Na sessão III, Do desporto,

art. 217 garantem que “É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não

formais, como direito de cada um”, e no § 3º, desse mesmo artigo, colocam que “O

Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social”. Ficando claro, que

a concretização destes, depende da ação governamental ativa e positiva, através de

políticas públicas. Porém, neste caso específico, não foram definidas as diretrizes,

objetivos ou regras institucionais que devem orientar à efetivação do esporte e lazer

enquanto direito do cidadão.

Este fato acaba sendo refletido nas Leis Orgânicas Municipais, no que diz

respeito ao âmbito do esporte e lazer, no qual também é perceptível a falta de

profundidade dada a esses temas, o que acaba consequentemente dificultando a

definição e criação de mecanismos para sua consolidação.

Vale ressaltar também, que os setores de esporte e lazer, são os de menor

importância nos planos de governos, e como Bramante (2004) afirma, na maioria das

vezes em que as políticas de lazer são formuladas, não são implementadas e quando o

são, geralmente não resistem aos mínimos critérios de perenidade, particularmente

quando da transição de governo, mesmo quando um mesmo partido se mantém no

poder.

Além da falta de uma Política Nacional já consolidada, existem outros motivos

para o descrédito do esporte e lazer. Zingoni (2003) aponta diversas razões que

contribuem para a concretização deste fato como: ausência de meios legais para

controle populacional nas ações nesse âmbito; carência de espaços para debates na

busca de dimensionar as problemáticas e estabelecer possíveis soluções para o

esporte e lazer, assim como fixar metas e prazos, além de definir um processo para

prestação de contas; falta na formação política dos dirigentes responsáveis pelo

Page 37: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

36

esporte e lazer; lacunas nas definições e clareza de princípios políticos e pedagógicos

que guiem as ações democráticas na área; falha na eficiência, eficácia e efetividade

social na implementação dos programas sociais desenvolvidos pelas secretarias de

esporte e lazer, estruturados em critérios objetivos em defesa da cidadania e por

último, a pouca existência, ou até mesmo ausência, do esporte e lazer nas peças

orçamentárias de projetos e atividades configurados e escolhidos de forma

democrática.

Segundo a mesma autora, a análise deste contexto revela que ainda é pequena

a aproximação e o comprometimento do Legislativo com o esporte e o lazer, pois à

medida que o processo de participação nesses setores é reduzido, ele não provoca no

Poder Executivo o desvelamento de suas informações e propósitos, com o

assumimento prévio e público de compromissos, assim como não oferece ao próprio

Poder Legislativo que exerça com mais critério, a defesa dos interesses do esporte e

lazer na cidade e o compromisso das condições estabelecidas publicamente.

Sobre a indefinição constitucional Menicucci (2006) traz uma observação

importante, apontando fortalezas e debilidades no fato de estar em aberto a

regulamentação do direito ao lazer. Pois ao passo em que pode gerar ambiguidades e

diferenciações nas ações governamentais voltadas para o lazer, também pode se

constituir num espaço de edificação de políticas de lazer criativas e inovadoras.

É importante destacar, que somente a partir da criação do Ministério do Esporte

em 2003, as questões relacionadas às políticas públicas de esporte e lazer passaram a

ser discutidas de forma mais ampliada e sistematizada, a partir das Conferências

Nacionais do Esporte6, que possibilitaram a construção do Sistema Nacional do

Esporte e Lazer.

De acordo com as Resoluções da II Conferência Nacional do Esporte, realizada

em 2007, o objetivo deste sistema está em consolidar a Política Nacional do Esporte,

criar mecanismos que assegurem a execução e acessibilidade da mesma em todos os

âmbitos da federação, e determinar os papéis das entidades dirigentes do esporte e

lazer. O mesmo compreende o esporte educacional, esporte participação e esporte de

6 As realizações das Conferências Nacionais de Esporte deram-se a partir de conferências municipais e estaduais, envolvendo governo, organizações e instituições sociais, assim como o cidadão comum.

Page 38: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

37

alto rendimento7, que não são excludentes entre si, mas estão articulados numa

estrutura democrática e descentralizada, envolvendo município, estado e federação,

nos setores públicos e privados, tendo como escopo a participação da sociedade como

um todo.

Já a Política Nacional do Esporte traz explicitados os objetivos, princípios,

diretrizes e ações estratégicas para a efetivação de políticas públicas, e tem como

pontos fundamentais a democratização do esporte, a formulação de uma rede de

cooperação entre governo e sociedade, objetivando a diversificação do financiamento

do esporte em todas as suas dimensões. Além de valorizar a sistematização e

atualização da informação e legislação esportiva, como também, do conhecimento

científico e tecnológico para as políticas públicas e para o diálogo e participação da

sociedade, e da comunidade esportiva, tendo como valor principal a democracia.

São colocadas oito diretrizes como norteadoras das ações voltadas para o

esporte e lazer, sendo elas a universalização do acesso e promoção da inclusão social,

o desenvolvimento humano, a ciência e tecnologia do esporte, a promoção da saúde, a

paz e o desenvolvimento da nação, o desenvolvimento econômico, a gestão

democrática pela participação e controle social e a descentralização da política

esportiva e de lazer (BRASIL, 2005).

O Ministro de Estado do Esporte (2005, p. 05), neste mesmo documento, afirma

que o maior desafio é “tornar o esporte uma política pública essencial, em sintonia com

todos os setores, que transponha os limites de um governo e consolide-se como uma

política de Estado”.

Muito ainda precisa ser feito para que o esporte e o lazer sejam vividos

plenamente como um direito social, e para que o Sistema Nacional de Esporte e Lazer

esteja consolidado e efetivamente funcione enquanto sistema, pois como Marcellino

7 Essa classificação das dimensões sociais do esporte tem como base os estudos de Tubino (1999), no qual ele define o esporte educacional como aquele que ao invés de reproduzir o esporte de alto rendimento, deve ser muito mais um processo educativo para o exercício da cidadania, devendo ter como princípios a participação, a cooperação, a integração e a responsabilidade. Já o esporte participação, tem como base o prazer e o lúdico, sendo praticado no tempo livre, como uma utilização construtiva do mesmo, pelo envolvimento das pessoas neste tipo de esporte, ele pode desenvolver o espírito comunitário e a integração social, servindo de fortalecimento das relações sociais. E o esporte de alto rendimento é a manifestação esportiva voltada para a competição, obedecendo rigidamente a regras e normas institucionalizadas.

Page 39: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

38

(2007) comenta, as discussões no âmbito federal ainda são embrionárias e necessitam

de tempo para que se tornem consistentes e se configurem como tal, nas esferas

estaduais e municipais. Como exemplo desta fragilidade, coloca a falta de clareza

ainda presente nas propostas aprovadas na II Conferência Nacional do Esporte, quanto

ao papel atribuído a cada uma das esferas governamentais na formulação, execução e

avaliação das políticas públicas voltadas para o esporte e lazer.

Todavia, tudo depende da construção do sentido e significado do lazer na

sociedade. Dele enquanto direito e necessidade social específica, que se justifica nele

mesmo e não como instrumento para suprir outras demandas. Do seu reconhecimento

como problema político, que exige uma intervenção governamental ativa e positiva, na

busca de assegurar a todos os cidadãos condições básicas para sua fruição

(MENICUCCI, 2006).

Para tanto, faz-se necessário mudanças urgentes nas gestões municipais de

esporte e lazer, sendo a descentralização e a participação cidadã, um dos meios

eficazes para a reversão do quadro existente. Nesse sentido, Zingoni (2003) alerta para

a implementação de ações e intervenções que venham ampliar o diálogo entre a

sociedade civil e os agentes públicos, que ministrem os recursos e as oportunidades

com responsabilidade e sob a perspectiva de um desenvolvimento auto-sustentável,

assim como a adoção de processos de avaliação interna e externa, além de

diagnósticos da realidade do esporte e lazer nas cidades.

Estas questões voltadas a administração das políticas públicas de esporte e

lazer e os desafios colocados para as gestões públicas na tentativa de estabelecer um

governo democrático e que venha a tender de forma satisfatória estas demandas,

serão levantadas e discutidas a seguir.

4.2 A GESTÃO MUNICIPAL DO ESPORTE E LAZER

Apesar das noções de gestão terem surgido dentro do contexto empresarial,

muitos de seus princípios foram transferidos para diversos segmentos, quando se trata

de administração, e dentre eles, estão as gestões dos serviços públicos.

Para Santos (1992) citado por Zingoni (2004), a gestão implica na coordenação

Page 40: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

39

de ações coletivas através de instrumentos racionais, na promoção de desejos e na

realização individual e coletiva objetivando principalmente o cumprimento das metas

estabelecidas. São várias as formas de gestões, elas variam de acordo com a

complexidade das instituições, àquelas que estão mais voltadas para as formalidades e

tem pouco compromisso com os resultados, se atribui o caráter burocrático, mas as

que são mais flexíveis em suas tomadas de decisões e parte da negociação coletiva

pode ser considerada uma gestão integrada e mais flexível (ZINGONI, 2004).

A partir da Constituição de 1988, a gestão municipal ganha uma nova

configuração, sendo assegurado ao município sua autonomia política, sob a justificativa

da descentralização, e desta forma, passa a ter como responsabilidade a organização e

prestação dos serviços públicos voltados para a qualidade de vida nas cidades, como

explicitado no Art. 30, do Capítulo IV, Dos Municípios, do Título III, Da Organização do

Estado: “V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou

permissão, os serviços públicos de interesse local, incluindo o de transporte coletivo

que tem caráter essencial”.

Sobre este ponto, Teixeira (2002) alerta para o problema dos recursos, pois

entende a descentralização como um processo desordenado, no qual as

responsabilidades são transferidas sem os recursos, por este motivo a autonomia de

realizar políticas próprias sem vinculação com os programas federais ou estaduais se

tornam mínimas, já que esses repasses dependem muito de negociações que são

levadas em consideração a posição política, a vinculação partidária dos prefeitos, pelos

interesses eleitoreiros e clientelistas, além, das distribuições terem como critérios a

concentração de renda tributária, sendo privilegiados os poucos municípios que

possuem um considerável desenvolvimento econômico.

O mesmo autor traz, ainda, a significação da descentralização dentro da Política

Neoliberal, que objetivamente é, a transferência de responsabilidades do financiamento

e implementação das políticas para a sociedade e a família. Com isso alerta, que a

proposição, a formulação e a participação na gestão de alternativas de políticas

públicas tornam-se um enorme desafio para a sociedade civil, sendo possível apenas

quando se trata da distribuição dos recursos públicos e na constituição do poder

público.

Page 41: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

40

Com esta redefinição das competências dos governos, incluindo o repasse de

recursos, passa a ser questionado o modelo de desenvolvimento antes adotado, e

surgem cobranças de atuação do governo municipal, tomando-o como espaço

privilegiado para a construção de uma nova ordem democrática. Com isso, a gestão

das políticas públicas na atualidade, implica a necessidade de inovação dos processos

burocráticos e a adoção de modelos mais flexíveis e integrados de gestão, envolvendo

a participação de diversos atores sociais nas tomadas de decisões e nas ações

desenvolvidas, apontando para mudanças nas relações entre Estado e sociedade civil

(ROCHA, 2003).

Sobre estas mudanças, Pinto (2008b) aponta que no âmbito das políticas sociais

elas estão surgindo, e apesar de algumas administrações fazerem de conta que nada

está acontecendo, muitos municípios estão percebendo que a complexidade dos

sistemas sociais modernos implica novos caminhos.

Quanto às gestões que não reconhecem a necessidade de inovar, Zingoni

(2003) levanta algumas características comuns nas administrações burocráticas, no

que diz respeito ao esporte e Lazer no Brasil, sendo a primeira delas o discurso

puramente técnico, desconsiderando as crenças científicas e os valores culturais; a

centralidade nas decisões e a sobreposição da dimensão econômica sobre a social. A

mesma autora traz ainda um outro estilo de governar, ao qual caracteriza enquanto

tradicional, sendo comum as políticas públicas marcadas pela fidelidade e pela troca de

favores, a ausência de planejamento nas ações, utilização da intuição e o

assistencialismo.

As gestões burocráticas e tradicionais acabam tornando a sociedade distante do

governo, e com isso, a administração das políticas públicas não são tão eficientes e

eficazes, por entenderem que o público alvo das mesmas são apenas espectadores

das ações, desconsiderando que estes são parte fundamental na elaboração,

execução e avaliação destas políticas.

No entanto, sabe-se que o esporte e o lazer estão em pauta nos últimos anos,

enquanto demandas sociais e passando a exercer um novo papel nos programas de

governo e na própria organização da cidade e dos serviços relacionados ao bem estar

do cidadão. Para Rodrigues (2008) as modificações na gestão dessas políticas, são

Page 42: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

41

motivadas pelo compromisso da atual administração do país com os movimentos

populares e com os setores excluídos historicamente de seus direitos. Podemos

acrescentar ainda, o já citado Sistema Nacional do Esporte e Lazer, que iniciou seu

processo de implantação a partir desse mesmo governo, o que sinaliza um grande

avanço para as inovações nas políticas públicas de esporte e lazer.

As Resoluções da II Conferência Nacional do Esporte são divididas em quatro

eixos centrais, o primeiro diz respeito a Estrutura: Organização, Agentes,

Competências. O segundo aos Recursos humanos e Formação. O terceiro a Gestão e

Controle Social e o quarto ao Financiamento. Para efeito desta discussão traremos o

enfoque voltado ao terceiro eixo, quando é colocado como princípio do Sistema

Nacional do Esporte e Lazer a gestão democrática da esfera pública, cujo objetivo está

no exercício da cidadania, por meio da participação e da inclusão social. E sendo

atribuído especificamente as Secretarias e aos órgãos vinculados ao campo do esporte

e lazer, sejam eles municipais, estaduais ou federais, quanto a gestão:

a) Garantir, por meio de concursos públicos, espaço para profissionais de educação física e demais trabalhadores do esporte e do lazer, em suas respectivas áreas de atuação, com plano de carreira definido; b) desenvolver o esporte e o lazer em todas as suas dimensões, garantindo o acesso às pessoas com deficiência e idosos; c) planejar e realizar eventos de esporte e lazer baseado em calendário aprovado junto aos respectivos conselhos, com a elaboração de relatórios que possam subsidiar e difundir futuros avanços, bem como a produção do conhecimento na área; d) garantir a interface setorial e transversal com outras áreas afins (saúde, educação, meio ambiente, turismo, cultura, segurança, entre outras); e) descentralizar o poder garantindo a representatividade dos segmentos comunitários e sociais, prioritariamente àqueles envolvidos com o esporte e com o lazer; f) utilizar-se do planejamento participativo e fundar-se no controle social caracterizados pelo trabalho em conjunto com os conselhos de esporte, tanto no repasse de recursos quanto na construção da política, pautando-se no planejamento estratégico; g) participar na construção e consolidação dos Planos Diretores Municipais (BRASIL, 2007, s/p).

A partir dessas atribuições colocadas aos órgãos vinculados ao lazer, podemos

levantar discussões relacionadas aos vários aspectos que aí estão embutidos. O

primeiro deles, está relacionado ao lugar onde o esporte e o lazer devem ficar na

Page 43: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

42

administração municipal, se numa secretaria específica, ou num departamento

vinculado a uma outra Secretaria. Sobre isto, Marcellino (2007) afirma que onde deve

ficar não tem muita importância, defende apenas que o lazer seja um programa de

governo, que não fique apenas nas propostas da Campanha, mas que se efetive.

Aponta que o Lazer não pode ser tratado de forma isolada da questão sociocultural,

mas que também devem ser consideradas as possibilidades das ações. Afirma ainda,

que a experiência tem demonstrado que o “status” de secretaria, em termo de estrutura

para a esfera estadual e municipal é mais adequada, e quando vinculados à Cultura,

tende-se a valorizar apenas artes e espetáculos, ficando o Lazer em último plano.

Outro aspectos que este fragmento da referida Resolução nos remete, são aos

quadros de atuação, um dos elementos essenciais, já que muito dos problemas

encontrados nas políticas públicas de esporte e lazer são atribuídos a falta de

qualificação dos gestores desse setor e a consequente dificuldade em inovar e gerir

ações que realmente atendam as demandas da população.

Como é dada menor importância aos setores de esporte e lazer, segundo

Zingoni (2003) as indicações de cargos dos seus gestores, normalmente não seguem

os mesmo critérios que os outros setores, daí a importância de se estimular a

contratação de profissionais preparados para atuarem na área e da escolha mais

criteriosa para seus gestores, assim como de implantação de programas de formação e

renovação de quadros. Como apontado por Marcellino (2007), além de dar vida aos

projetos e programas, o pessoal que desenvolve a animação dessas políticas, é

fundamental, no caso de alguns municípios, para garantirem a continuação das

mesmas, tornano-as não apenas políticas de governo, mas de Estado.

É colocado também como atribuição aos órgãos em questão o desenvolvimento

do esporte e do lazer em todas as suas dimensões. Isso implica no entendimento dos

mesmos de forma ampliada, perpassando também pela questão da qualificação dos

quadros, superando aquilo que foi diagnosticado por Marcellino (2007), na qual as

políticas públicas de esporte e lazer vêm se manifestando, pela ausência de

explicitação, sendo substituída por calendários festivos ou por pacotes baixados de

gabinetes técnicos.

Nesta perspectiva, para o esporte, cabe a sua abrangência nas três dimensões

Page 44: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

43

sociais já mencionadas anteriormente a partir de Tubino (1999): o esporte educacional,

esporte participação e esporte de alto rendimento. E com relação ao lazer deve-se

considerar seu duplo aspecto educativo, considerando as possibilidades de descanso e

divertimento, e de desenvolvimento pessoal e social, como instrumento de mobilização

cultural e os impasses socioculturais para seu acesso (MARCELLINO, 2007).

São colocadas também novas tendências para a gestão das políticas públicas de

esporte e lazer como a intersetorialidade e a transversalidade, visando a substituição

da forma verticalizada e tradicional de gerir as políticas públicas de esporte e lazer, que

além da centralidade nas ações, desconsideram a complexidade das mesmas,

reduzindo suas dimensões a apenas um setor específico e negando as relações que

estas políticas devem estabelecer com os diversos segmentos do governo, dada a sua

necessidade de articulação com os mesmos, pelas questões envolvidas neste

processo, que acabam ultrapassando as responsabilidades de um órgão específico,

pela sua integração com setores como os de educação, saúde, segurança pública,

transportes, entre outros.

Segundo Menicucci (2006), a intersetorialidade tem sido definida pela nova

lógica de abordar os problemas sociais, onde se entende o cidadão em sua totalidade,

superando o estilo segmentado e desarticulado em que geralmente as políticas

públicas são elaboradas e implementadas. Pinto (2008b) sugere que as ações devem

ser articuladas interdisciplinarmente, envolvendo profissionais e funções diversificadas

dos equipamentos que articulam múltiplos serviços e atividades. Enquanto Zingoni

(2003) coloca que sua aplicação implica na superação da fragmentação existente na

construção dos planejamentos e execuções das políticas setoriais e para garantir uma

gestão mais equalizadora, superando as “superposições” e “competições” dos

programas e ações municipais.

Essa proposta traz desafios para a administração, na medida em que, torna-se

necessário uma compreensão coletiva das finalidades, objetivos, ações, indicadores e

o compromisso de solucionar os problemas de maneira integrada e articulada. Outra

implicação da intersetorialidade está na organização para o trabalho e o planejamento

que passam a ser definidos a partir da territorialidade e não mais pela setorialidade. A

base territorial objetiva a atuação em grupos populacionais específicos, cujas

Page 45: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

44

características desses conglomerados tendem a ser similares. Com isso, a focalização

das ações estão na atuação em regiões homogenias, no que diz respeito as questões

socioeconômicas, espaciais e pela identidade criadas a partir do sentimento de

pertencimento e identificação com o lugar. O que requer mudanças nas estruturas

organizacionais tradicionais de governo como a substituição das estruturas funcionais e

piramidais por outras mais matriciais e flexíveis, dos órgãos segmentados por área do

conhecimento por órgãos de corte regional, buscando a melhoria da qualidade de vida

de áreas geograficamente específicas. Desta forma, a territorialidade permite que os

planos particulares dos setores se integrem em uma única rede territorial (MENICUCCI,

2006).

Quanto a transversalidade, Marcellino (2007) expõe a necessidade de trabalhar

a política de lazer, a partir de uma integração entre os setores, já que a mesma requer

atenção de diversas outras áreas, como o transporte urbano, as questões espaciais, a

promoção social, perpassando pela educação, saúde e até mesmo habitação. Para

Menicucci (2006) essa perspectiva de trabalho possibilita também uma maior

efetividade nas ações, quando se pensa num trabalho governamental integrado.

A mesma autora expõe que a função da transversalidade está em facilitar a

intervenção nas questões que não se ajustam em apenas uma das estruturas

organizativas verticais, dando a cada uma delas a cumplicidade de alcançar um

objetivo comum. No caso do Lazer, como colocado por Marcellino (2007) e Castellani

Filho (2006) pode-se considerá-lo enquanto uma questão de caráter transversal, pelas

próprias implicações que traz para vários setores.

Dentro destas propostas ficam as questões já colocadas pela própria Menicucci

(2006, p. 159): “Uma política de Lazer deve ser pensada da perspectiva da

transversalidade ou da intersetorialidade? Quais as formas de integração com outros

setores?”. Cabe a cada administração, a discussão entre atores individuais e coletivos,

trazendo consensos mínimos para estes e outros questionamentos, que podem trazer

definições cruciais para a elaboração e efetividade das políticas de esporte e lazer,

levando em consideração as particularidades, os limites e os potenciais de cada

governo.

As outras orientações se referem às estratégias para a descentralização das

Page 46: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

45

gestões. Este princípio baseia-se no pressuposto de que tudo que for possível deve ser

realizado numa gestão o mais próximo do cidadão. Os desafios que são colocados

para a equalização social, ultrapassam hoje, a atuação do poder estatal. Com isso, nas

sociedades modernas têm-se uma crença muito forte na democracia, na qual acredita-

se que as coisas podem ser melhoradas através da ação planejada por uma rede que

envolve diferentes atores e segmentos da sociedade (PINTO, 2008; ZINGONI, 2003).

Têm-se como uma das estratégias de descentralização a participação cidadã. E

dada a grande relevância desse instrumento para a configuração de um governo

democrático, fizemos a opção de trazer estas discussões de forma mais detalhada na

sessão seguinte.

4.3 PARTICIPAÇÃO CIDADÃ: Legitimidade nas ações

Fazendo uma análise etimológica da palavra participação, Bordenave (1994),

define-a em três ações a partir da sua palavra de origem, “parte”. Ela significaria fazer

parte, tomar parte, e ter parte. Indica que muitas pessoas podem fazer parte, sem

tomar parte, e que a segunda expressão é bem mais intensa que a primeira. Estando

aí, a diferença entre a participação passiva e a ativa.

Essa “parte” implica pensar no todo, na sociedade, no Estado e nas relações que

são estabelecidas dentro destas, e delas com o todo, e não sendo este homogêneo,

também diz respeito as contradições de interesses, valores e utilizações do poder

(TEIXEIRA, 2001).

Ainda sobre definições, Demo levanta pontos fundamentais em seu conceito:

Participação é o processo histórico de conquista das condições de autodeterminação. Participação não pode ser dada, outorgada, imposta. Também nunca é suficiente, nem é prévia. Participação existe, se e quando for conquistada. Porque é processo e não produto acabado (DEMO, 1994, p. 97).

Desta forma, temos a participação como conquista, como algo contínuo, como

processo. Teixeira (2001) coloca que esse entendimento significa perceber a interação

ininterrupta entre os diversos atores que são “parte”, estando aí o Estado, outras

Page 47: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

46

instituições políticas e a própria sociedade.

O mesmo autor comenta que historicamente o sistema participativo se ateve em

lutar pelo aumento do sufrágio e pela conquista de outros direitos no final do século

passado, e que com a criação do Estado de Bem-Estar Social, a participação política

se desloca para partidos e grupos de pressão, no qual eram articulados interesses

privados na tentativa de influenciar as decisões do Estado, já que ele tornara-se mais

interventor. Com a crise desse Estado, a burocratização e desprestigio dos sistemas de

participação, e a crescente conscientização de vários segmentos da sociedade, foram

desenvolvidas novas formas de participar, mais amplas, sendo construída uma nova

cultura política, na qual se valoriza a solidariedade, a ação coletiva, a criação de

identidades e o enfrentamentos dos problemas habituais.

Para Teixeira (2001) a combinação dos diferentes tipos de mediação e a criação

de espaços múltiplos de participação, aliados a mudança de alguns regimes políticos

que se tornaram mais abertos, leva-o a redefinição da participação como exercício de

cidadania. É o que ele conceitua de participação cidadã8, seria o processo complexo

que envolve sociedade civil, Estado e mercado, no qual os papéis são redefinidos pelo

fortalecimento da sociedade civil, através da organização de indivíduos grupos e

associações. Esse fortalecimento estaria relacionado com a criação e exercício de

alguns direitos e também com assunção de deveres e responsabilidades políticas.

Fica explícita a necessidade de tomarmos a participação não apenas como um

direito, mas também como um dever. Temos a obrigação de participar da vida social,

buscando trazer influências nas decisões de interesse coletivo. Segundo Dallari (1991),

a participação possui dois fundamentos: o primeiro está na vida social, sendo

necessidade básica do homem de troca de bens e serviços, e o segundo, está em que,

se a passividade predominar e as decisões forem tomadas por minorias, um pequeno

grupo, mais ativo, dominará sem que haja resistências e limites. Com isso, a omissão

se configura como um dos maiores impasses para que um sistema se torne

8 “A participação cidadã é o processo social em construção hoje, com demandas específicas de grupos sociais, expressas e debatidas nos espaços públicos e não reivindicadas nos gabinetes do poder, articulando-se com reivindicações coletivas e gerais, combinando o uso de mecanismos institucionais com sociais, inventados no cotidiano das lutas, e superando a já clássica dicotomia entre representação

e participação” (TEIXEIRA, 2001, p. 32-33).

Page 48: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

47

democrático.

Ainda é comum que muitas pessoas entendam a democracia apenas como o ato

de votar, como o direito a escolher seus governantes e representantes, assim como, há

aqueles que mesmo entendendo-a como o governo feito pelo povo e por ele

controlado, desconhecem, ou até desprezam as diversas formas de exercê-la.

Para Dallari (1991), um sistema político só pode ser democrático se as decisões

são tomadas com liberdade e respeitando a vontade da maioria. Dado que todos os

problemas que afetam a convivência social, são problemas de toda a sociedade, e

portanto, as decisões devem ser tomadas pela coletividade, levando em consideração

o interesse de todos. A partir dessa colocação, o autor traz a participação como

instrumento central para a concretização da democracia.

Sobre os canais de participação, Demo (1994) distingue cinco que considera

mais palpáveis:

a) Organização da sociedade civil: está relacionado a competência dos grupos,

estando sua qualidade vinculada a representação das lideranças, legitimidade do

processo, planejamento participativo e participação da base. As organizações sindicais,

políticas e de cooperativas, são de extrema importância para tornarmos a democracia

algo cotidiano e normal, principalmente as que atingem a sustentabilidade autônoma,

pois a medida que participamos destes grupos, vivemos direitos e deveres de forma

mais constante e comum.

A sociedade civil organizada tem o potencial de discutir e definir soluções para

problemas de ordem coletiva, assim como exercer papel importante dentro dos

governos, desde que sejam estabelecidos mecanismos para tal, no momento em que

possibilita a ampliação do olhar sobre as questões sociais, podendo contribuir de

maneira significativa não apenas na distribuição dos recursos, mas na construção,

implementação, execução e avaliação de políticas sociais, tornando-as mais eficazes e

legítimas.

b) Planejamento participativo: diz respeito ao planejamento e administração a

partir da co-gestão. Sendo necessário a criação de canais de participação dentro dos

governos, desde que haja qualidade política das partes envolvidas.

c) Educação Básica: dada a sua importância política, já que a educação

Page 49: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

48

possibilita perceber o mundo melhor, reconhecer os problemas sociais e outras

informações importantes sobre a realidade, ela traz condições mínimas para a

qualificação política do povo. E mesmo o ensino básico não dando conta das questões

de sobrevivência, ele fornece, ou deveria fornecer, informações importantes para que o

cidadão tenha consciência de seu papel dentro da sociedade.

d) Identidade cultural comunitária: o cidadão necessita de identidade para

deixar a sua própria condição de objeto, e esta é construída historicamente na cultura

da comunidade, por isso, dá esperanças ao grupo para seu futuro, a partir do passado

vivido.

e) Conquista de direitos: por mais que tenhamos a garantia dos mesmos por

lei, na prática eles precisam ser conquistados. Tomar consciência de nossos direitos é

essencial para que a cidadania seja estabelecida, e assim, as pessoas se tornam

capazes de serem sujeitos do seu próprio destino.

A ampliação gradativa dos direitos, segundo Dallari (1991) vem ocorrendo

através de lutas, a exemplo da extensão dos direitos políticos às mulheres. E alerta

para a necessidade de continuar lutando, pois apesar da extensão atual dos direitos a

grandes camadas da população, estamos longe da plena igualdade de participação.

No que se refere à legalidade do direito a participação, além da garantia de

instrumentos democráticos na Constituição de 1988, como o voto, plebiscitos,

referendos, e conselhos de gestões, temos mais recente, o Estatuto da Cidade,

definido por Castellani Filho (2006, p.121) como o “marco regulatório da

instrumentalização do município para o exercício do pleno desenvolvimento das

funções sociais da cidade. Ao estabelecer princípios e diretrizes de gestão

democrática”. Em seu Capítulo I, Diretrizes Gerais, Art.2º, II, está explicitado o objetivo

em garantir a participação da sociedade em todas as decisões de interesse público,

através de associações representativas, na construção, implantação e

acompanhamento de planos, programas e projetos que estejam ligados ao

desenvolvimento urbano.

Com isso, tem-se garantido a participação da sociedade nos governos para

muito além das eleições, sendo uma participação permanente, capaz de exercer o

controle público do poder, através da criação de mecanismos que garantam esse

Page 50: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

49

exercício. Para Teixeira (2001), trata-se de uma noção de soberania popular, no

sentido de não apenas eleger mandatários, mas de também poder exercer o controle

sobrre os mesmos, de forma permanente, e não só por eleições.

Sabe-se ainda, que apesar da luta histórica pelo estabelecimento da

democracia, ainda existem fatores que segundo Bonalume (2007; 2008) são nocivos a

mesma, como a burocratização, o clientelismo, a instrumentalização partidária e a

manipulação de pessoas e instituições. Essas barreiras impendem a acessibilidade a

participação, principalmente as camadas populares mais carentes e menos

organizadas, sendo preciso o investimento no próprio cidadão para a superação dessa

realidade, construindo formas de ação participativa que possibilite a inclusão daqueles

que mais necessitam dela.

A democratização da informação e do conhecimento é uma dessas vias, visto

que, participar requer oportunidades igualitárias de informação e capacitação, pois,

para que as discussões possam avançar e dar resultados significativos para a

coletividade, devem ser realizadas entre pessoas que possuam um entendimento das

questões de interesse comum, como o conhecimento da própria realidade, a definição

dos papéis, os interesses que estão em jogo, as limitações, as possibilidades, etc.

No que diz respeito aos fatores que dificultam o estabelecimento da democracia,

e logo da participação, Teixeira (2001, p. 28-29) alerta que:

Se alguns requisitos podem ser apontados como necessários para que se efetive a participação, estes não podem ser tomados de modo absoluto e sua eventual ausência vista como impedimento, mas, no máximo, como obstáculo à sua qualidade e eficácia.

O autor acrescenta que quando a ausência desses requisitos são tomados como

impedimentos a participação, pode-se cair num círculo vicioso em que determinadas

condições impedem a mesma, e ao mesmo tempo, as mudanças não acontecem

porque não há participação.

Com a intensificação das discussões a respeito das políticas públicas de esporte

e lazer no Brasil, surgiram questionamentos da forma como estas historicamente foram

formuladas e executadas, notadamente marcadas por fatores que também são

considerados prejudiciais a democracia, como a seleção, a fragmentação, a exclusão e

Page 51: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

50

o caráter setorizado. Bonalume (2007) aponta que entre as alternativas de superação

desse quadro, está a participação da sociedade nos processos envolvidos para o

estabelecimento dessas políticas.

Como pode ser observado no aparato legal que trata especificamente da

participação nas políticas públicas de Espore e Lazer, a já citada Política Nacional do

Esporte, merecendo destaque a Diretriz 7. Gestão democrática: participação e

controle social, na qual é colocada a necessidade de se estabelecer uma rede de

intervenção, por meio dos diversos segmentos sociais, com vista em ampliar o foco de

atuação; e a Diretriz 8. Descentralização da Política esportiva e de lazer, quando é

apontado a importância de ampliação dos canais de diálogo entre governo, entidades

esportivas e sociedade, em favorecimento das possibilidades de participação, interação

e colaboração, assim como, a criação dos Conselhos e Conferências do Esporte.

O que aponta para mudanças nos modelos tradicionais e burocráticos de

organização dos órgãos responsáveis pelo esporte e lazer, pois através da participação

torna-se viável a substituição das hierarquias centralizadas por uma administração

inclusiva e democrática, ao passo em que, possibilita que a sociedade faça parte de

todo o processo de construção das políticas, e tenham firmados mecanismos de

controle social, garantido assim, tanto a legitimidade, quanto a eficiência e eficácia das

ações.

São apontados por Teixeira (2003) alguns momentos que precisam ser

devidamente acompanhados para uma participação efetiva e eficaz da sociedade civil,

a construção de um diagnóstico participativo, identificando limites e possibilidades;

identificação de experiências bem sucedidas, servindo de base para criação de novas

alternativas; o debate público em torno das alternativas; definição em torno das

possibilidades, dos papéis das esferas públicas envolvidas, recursos, cronograma e

parâmetros avaliativos; detalhamento dos projetos e identificação das fontes de

recursos; na execução, transparência e fiscalização; avaliação dos resultados e

redefinição das ações.

É de extrema importância participar do processo de construção das políticas

públicas, desde o início de sua elaboração, no qual as prioridades são definidas dentro

do interesse comum, levando em consideração limites e possibilidades, numa relação

Page 52: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

51

de diálogo entre sociedade civil e poder público, perpassando pelo acompanhamento

da execução e avaliação das mesmas, onde estas políticas são rediscutidas para

redefinição de alguns pontos que precisam ser melhorados, na busca de que seus

objetivos sejam atingidos com qualidade.

A construção de uma política pública de esporte e lazer mais transparente e

democrática, na visão de Zingoni (2003), só pode avançar se estiver combinada com a

descentralização administrativa, a criação de alguns mecanismos que ampliem a

participação cidadã. Os mesmos serão discutidos a seguir, a partir das considerações

de Bonalume (2007; 2008):

Conselhos de Políticas e de Direitos: constitui-se num espaço de disputa,

discussão negociação e conflito, combinando participação direta e por representação.

É uma forma de controle exercida pela sociedade civil através da ação organizada,

permitindo a ampliação de mecanismos de soberania e diminuição de delegação de

poder.

Conferências: são eventos realizados para que as políticas públicas sejam

discutidas periodicamente, nas três esferas de governo, para que sejam proposta

diretrizes e princípios de ação, definidas em formas de resoluções, para serem

implementadas pelo poder executivo e pela sociedade.

Orçamento Participativo: tem como princípio básico a decisão coletiva dos

investimentos públicos, sendo considerado uma das principais formas de democracia

direta. Configura-se num modelo de co-gestão, que para se concretizar precisa que o

governo abra mão do poder de decisão que até então, era de exclusividade sua, em

lugar da participação.

No Orçamento Participativo (OP) os problemas da coletividade são colocados,

discutidos e são definidas em conjunto as prioridades na direção do orçamento. Muitas

experiências demonstram sua eficácia não só pela inversão de prioridades na

destinação dos recursos, mas pela instalação de uma cultura, que segundo Teixeira

(2001) responsabiliza o cidadão pelo controle dos atos políticos do Estado, tornando

mais ampla a participação da sociedade civil na tomada de decisões do poder. O autor

alerta, que não se pode esquecer que essa é uma metodologia que pode ser utilizada

por qualquer grupo político que esteja no poder, e portanto, pode ser empregada para

Page 53: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

52

diversos fins, como o marketing eleitoral, e correndo risco de dirigismo, em certos

casos, quando são implantados de cima para baixo, em municípios onde a sociedade

civil é pouco organizada.

No geral, estes espaços públicos têm papel politizadores, normativos e

fiscalizadores, desta forma, podem potencializar a quantidade e a qualidade da

participação cidadã, ao mesmo passo em que, trazem uma maior legitimidade,

sustentabilidade e eficácia nas políticas sociais. Menicucci (2006) cita que por estas

políticas trazerem impacto na vida das pessoas, não podem ser efetivas se não forem

aderidas pelo público alvo, e no caso das políticas de esporte e lazer essa participação

torna-se essencial, dada a inserção das mesmas no campo cultural. Portanto,

relacionando-se com valores, representações e sentidos atribuídos a certas práticas e

atividades por pessoas, grupos e sociedade. Com isso, jamais podemos entender a

população como meros espectadores, mas como parte fundamental deste processo, e

ter sempre claro, que a gestão democrática de políticas públicas torna as instituições

públicas mais eficazes.

Segundo Marcellino (2008) a ação comunitária serve como uma alternativa

operacional, principalmente por permitir a Organização que dote suas políticas de

características próprias, evitando que ela seja confundida ou reduzida a “indústria

cultural”. Contribui também, para minimizar os riscos de atuação de especialistas que

direcionam programas e projetos na configuração dos chamados “pacotes de lazer”,

prevalecendo sempre suas preferências. Além de alguns problemas advindos da

institucionalização, como a participação pela persuasão, quando não são apresentadas

alternativas de ação comunitária em atividades e projetos de cunho institucional, nestes

casos, não são cumprido os objetivos dos grupos envolvidos, mas o da instituição que

orienta as ações.

Sabe-se também, que em tempos de globalização e de princípios neoliberais

aflorados como o individualismo, desenvolver uma cultura de participação na

população, está colocado como um grande desafio. Daí a importância de transformar

as práticas democráticas, como colocado por Bonalume (2007), por mais simples que

sejam, em redes mais amplas, na qual as aprendizagens e trocas recíprocas ajudam na

qualificação e efetividade do processo.

Page 54: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

53

Fica explícito nestas discussões a importância das inovações, aquelas

conceituada por Pinto (2003, p. 257) como a “educação conscientizadora de todos para

políticas públicas de esporte e lazer, considerando sua formulação, implementação e

avaliação”. A autora acrescenta que a maior inovação é a ação comunitária fundada na

cultura do diálogo, o que implica o compartilhamento de idéias e objetivos, respeitando

o outro e a identidade da própria comunidade.

Desta forma, a participação cidadã nas políticas públicas de esporte e lazer,

desde que aconteçam com qualidade, acabam criando maiores possibilidades para que

a realidade seja contestada e que se caminhe em direção da superação das

desigualdades sociais.

Page 55: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

54

5 O CAMINHO PERCORRIDO

Na tentativa de superação do entendimento da realidade, a partir do primado do

sujeito ou do primado do objeto, tomamos como base epistemológica para o

desenvolvimento da presente investigação o materialismo dialético, cuja relação entre

homem e sociedade não é reduzido a um ou outro pólo.

Segundo Sell (2002), na perspectiva dialética9 existe uma eterna relação entre o

indivíduo e a sociedade, e isto possibilita que tanto o homem como a sociedade se

modifiquem, o que desencadeia o processo histórico-social.

Reportamos-nos a Marx (apud Shell 2002, p. 164) no momento em que ele

coloca que “os homens fazem a história, mas não a fazem como a querem. Eles a

fazem sob condições herdadas do passado”. Nesta fala, Marx traz a influência que as

estruturas sociais exercem sobre os homens e, através da dialética, demonstra que os

mesmo partem delas para modificá-las através de sua própria ação.

É baseado nesta lógica que buscaremos interpretar os parâmetros que

nortearam as ações do poder público no âmbito do esporte e lazer da gestão

pesquisada, trazendo análises a partir dos contextos que as modelaram, tanto no que

diz respeito as estruturas sociais que a influenciaram, quanto dos sujeitos responsáveis

por estas ações, e portanto, das relações dialéticas estabelecidas dentro deste

processo.

Adotamos como técnica de levantamento de dados a entrevista semiestruturada,

definida por Trivinos e Molina Neto (1999, p. 74), como a entrevista que é:

[...] pensada para obter informações de questões concretas, previamente definidas pelo pesquisador, e, ao mesmo tempo, permite que se realize exploração não-prevista, oferecendo liberdade ao entrevistado para dissertar sobre o tema ou abordar aspectos que sejam relevantes sobre o que pensa.

O roteiro de entrevista foi elaborado tendo como referência o Estatuto da

Cidade, que estabelece diretrizes gerais para a política urbana, e a Política Nacional do

9 Em Hegel a dialética tem a ideia como elemento fundante das coisas. Marx se apropria deste método, que entende a realidade como um movimento constante, mas altera seu fundamento, colocando no lugar do pensamento a matéria.

Page 56: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

55

Esporte, que traça diretrizes específicas para a política de esporte e lazer.

Identificados os sujeitos da pesquisa, fizemos os contatos necessários, e depois

de marcada a data e local da entrevista, a mesma foi realizada de forma individual, com

cada um dos gestores vinculados as políticas públicas de Esporte e Lazer, que se

disponibilizaram a fazê-la. A saber, o prefeito que exerceu mandato durante os oito

anos de governo estudados, o vice-prefeito também secretário de Cultura, Esporte e

Lazer (2005-2006) e o coordenador de projeto da Secretaria Municipal de Cultura,

Esporte e Lazer - SECEL (2001-2008) gestor desta secretaria (2003-2004 e 2007-

2008).

A investigação direta e sistemática com os gestores públicos da cidade de

Alagoinhas teve extrema significância para o atendimento dos objetivos da pesquisa,

ao passo em que possibilitou explorar o espectro de opiniões e as diferentes

representações sobre o objeto em questão.

No intuito de qualificar o trabalho e ampliar as fontes de dados, utilizamos a

análise documental que, segundo Duarte e Barros (2005), consiste na extração

científica e informativa, propondo-se a identificar as novas mensagens subjacentes no

documento, conseguindo trazer novas perspectivas, sem deixar de respeitar a

substância original dos documentos.

Para tanto, solicitamos ao último gestor da Secretaria Municipal de Cultura,

Esporte e Lazer – SECEL e coordenador de projeto deste mesmo órgão, projetos,

programas, relatórios, ou qualquer outro documento relativo às políticas públicas de

Esporte e Lazer no município, sendo disponibilizado através de e-mail, o

“Levantamento de Ações do Governo Municipal”, referente a SECEL, do ano de 2005,

2006 e 2008.

No momento da entrevista, foi fornecido o relatório sobre o trabalho desenvolvido

por esta secretaria, que foi entregue a gestão seguinte, intitulado de “Breve abordagem

do conceito de Cultura que norteou a construção e alinhamento com a Política Pública

de Cultura nacional”. Além de também termos analisado a Lei Orgânica do município,

disponível no site oficial da prefeitura, sobre a responsabilidade desta mesma gestão.

Para efeito da análise de dados, apoiamo-nos na Análise do Discurso (AD), a

partir dos estudos de Orlandi (2005), que segue a linha francesa, da qual Michel

Page 57: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

56

Pêcheux é o percussor. Ela tem como filiações teóricas a Lingüística, o Marxismo e a

Psicanálise. E a partir destas influências:

Concebe a linguagem como mediação necessária entre o homem e a realidade natural e social. Essa mediação, que é o discurso, torna possível tanto a permanência e a continuidade quanto o deslocamento e a transformação do homem e da realidade em que ele vive (ORLANDI, 2005, p. 15).

Nesta perspectiva, a língua não é entendida como um sistema abstrato, mas em

sua materialidade, levando em consideração o homem dentro de sua história, o

processo e as condições de produção da linguagem.

Sobre o discurso, Pêcheux (1975), citado por Orlandi (2005), afirma que ele não

pode existir sem o sujeito e que não há sujeito sem ideologia10

. Com isso, parte-se do

princípio de que a materialidade específica da ideologia é o discurso e que a

materialidade específica do discurso é a língua, trabalhando a relação entre língua,

discurso e ideologia.

Desta forma, a noção de discurso se distancia da linearidade na disposição dos

elementos da comunicação, na qual alguém fala, refere alguma coisa, baseando-se em

um código, e o receptor capta a mensagem (informação). Na AD, não se trata apenas

da transmissão de uma informação, mas sim de um discurso. Portanto, não há esta

separação entre emissor e receptor e necessariamente não acontece esta lógica de

que primeiro alguém fala e depois o outro decodifica. Orlandi (2005) aponta que o

funcionamento da linguagem põe em relação sujeitos e sentidos que são afetados pela

língua e pela história, dotando de complexidade os processos de constituição dos

sujeitos e a produção dos sentidos, por isso ela define o discurso como o “efeito de

sentidos entre locutores”.

Sendo assim, temos que todo discurso é fruto de tudo o que já foi dito,

carregando em si uma ideologia, a partir de concepções já existentes. Desse modo, é

impossível estar totalmente livre de influências.

10

Nesta perspectiva de AD, a ideologia não é entendida como conjunto de representações, como visão de mundo ou ocultação da realidade. Para Orlandi (2005, p.48), não há realidade sem ideologia, “enquanto prática significante, a ideologia aparece como efeito da relação necessária do sujeito com a língua e com a história para que haja sentido”.

Page 58: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

57

Para a autora (2005, p. 9), a contribuição da AD está em nos colocar “em estado

de reflexão e, sem cairmos na ilusão de sermos conscientes de tudo, permite-nos ao

menos sermos capazes de uma relação menos ingênua com a linguagem”.

É a partir dessas considerações que temos o desafio de captar os sentidos dos

discursos que permearam nossa fonte de dados e trazê-los dentro das condições em

que foram produzidos e dos contextos que os condicionaram.

Page 59: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

58

6 DISCUTINDO A GESTÃO DO ESPORTE E LAZER EM ALAGOINHAS

Dado o estabelecimento das políticas neoliberais no país, sobre a tríade da

descentralização, desregulamentação, privatização e logo, do Estado mínimo, os

investimentos em políticas sociais acabaram sendo reduzidos. Em consequência disto,

há um recuo nas ações voltadas ao esporte e lazer, e é estabelecida uma crescente

tendência pela mercadorização dos mesmos, quando o acesso a essas práticas passa

a ser definido pela condição de consumidor de cada um, e não apenas de cidadão.

A partir dessa subordinação do esporte e lazer à lógica do capital, as lacunas

nesse campo iam se alargando, ao passo em que, não existia uma preocupação por

parte dos governos em sistematizar uma Política e um Sistema Nacional de Esporte e

Lazer. Com a entrada do Governo Lula, em 2003, quando é criado o Ministério do

Esporte, inicia-se a preocupação em pensar uma política nacional para este campo,

tendo a dimensão de sua importância enquanto problema político que necessita da

intervenção do poder público. Esta política é pensada a partir de debates envolvendo a

sociedade, concretizado na I Conferência Nacional do Esporte em 2004, que

impulsionou a publicação do documento referente à Política Nacional do Esporte, em

2005, na qual são explicitados os objetivos, princípios e diretrizes para a efetivação das

políticas públicas nesse âmbito.

Também é realizada a II Conferência Nacional do Esporte, em 2006, gerando

resoluções que objetivam consolidar a Política Nacional, assim como, criar mecanismos

que venham garantir a execução e acessibilidade da mesma em todas as dimensões

de governo, e definir os papéis das entidades dirigentes do esporte e lazer.

Apesar deste sistema ainda está em processo de consolidação, para que se

efetive como tal e possa ultrapassar a esfera do governo, tornando-se uma política de

Estado, ele é o que temos de mais concreto atualmente, servindo de referência para as

gestões das políticas públicas de esporte e lazer, principalmente no espaço onde elas

se concretizam, a cidade.

Em Alagoinhas - BA, a Prefeitura Municipal, no período de 2001-2008 foi

administrada pela Frente Popular. E sabendo que as administrações conduzidas por

governos de esquerda priorizam as questões sociais, seu modelo de gestão pública

Page 60: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

59

buscou ser democrático e participativo, manifestando-se, principalmente, na consulta à

sociedade para o direcionamento de ações do governo em espaços de debates

públicos, como o OP.

Com isso, a cidade experimentou novas práticas de gestão, através da

negociação democrática, tornando-se um espaço privilegiado de políticas públicas com

amplas possibilidades de irradiação de suas experiências bem sucedidas para os

municípios circunvizinhos.

A discussão sobre a situação do esporte e lazer dentro deste processo e a sua

articulação com o cenário nacional, será realizada a seguir, a partir das entrevistas com

os gestores públicos e da análise de documentos que também serviram de base para

entender a realidade investigada.

No primeiro momento, faremos a análise das entrevistas, através do

estabelecimento de algumas categorias que se configuram como subsídios importantes

para uma administração efetiva, eficaz, e legítima das políticas públicas de esporte e

lazer, tomando como referência a Política Nacional do Esporte e o Estatuto da cidade.

Sendo elas a concepção de políticas públicas dos gestores, os projetos e programas, o

aparato legal municipal, a política de financiamento, a formação de quadros e as

possibilidades e desafios da gestão.

O segundo momento se dedicará aos documentos disponibilizados para o

estudo, a saber: “Breve abordagem do conceito de Cultura que norteou a construção e

alinhamento com a Política Pública de Cultura nacional”, o “Levantamento de Ações do

Governo Municipal”, referente a SECEL, do ano de 2005, 2006 e 2008 e a Lei Orgânica

do Município de Alagoinhas. As análises dos mesmos serão realizadas buscando

articulações com os discursos e com o Sistema Nacional de Esporte e Lazer.

6.1 ANALISANDO O DISCURSO

Antes de qualquer coisa, é essencial tornar explícito quais são os sujeitos da

pesquisas e de onde eles falam, para que algumas questões levantadas sejam

esclarecidas durante a discussão. Dentre os que se disponibilizaram a fazer parte deste

estudo, temos:

Page 61: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

60

Prefeito - o gestor que exerceu mandato durante os oito anos de governo

estudados;

Secretário 01 - o vice-prefeito, também secretário de Cultura, Esporte e Lazer

(2005-2006), pertencente a um outro partido político, participando desta

administração pelo estabelecimento de coligação, que é rompida com a

candidatura do mesmo a prefeitura, em oposição ao candidato de sucessão

do governo;

Secretário 02 - o coordenador de projeto da SECEL (2001-2008) gestor desta

secretaria (2003-2004 e 2007-2008), artista visual e historiador.

Dado os gestores públicos que fizeram parte desta investigação, faremos então

a análise dos discursos, a partir das categorias já citadas. As mesmas serão o ponto de

partida para identificar os elementos que modelaram a situação do esporte e lazer em

Alagoinhas – BA, na gestão pesquisada.

6.1.1 A concepção de políticas públicas na visão da gestão municipal

Nesta seção temos o foco nos parâmetros que nortearam as ações do poder

público voltadas ao esporte e lazer no município.

Quando questionamos ao prefeito a concepção de políticas públicas que

orientou sua gestão, ele nos apontou que primeiro se tinha a dimensão que trabalhar

nesse campo exigia a criação de uma secretaria para o mesmo, a partir disso a SECEL

foi institucionalizada. Depois que era preciso entender o esporte com uma visão de

massa, de comunidade e não apenas ligado às competições. E trazendo a falta de uma

política nacional nesse âmbito, as dificuldades de orçamento pela própria hierarquia de

necessidades, na qual os níveis de saneamento deviam ser priorizados, justifica as

barreiras enfrentadas. Neste contexto, foi decidido que iriam descentralizar os locais do

esporte e introduziram a perspectiva de ter nos concursos públicos, vagas para

professores de Educação Física. Comenta que apenas no segundo mandato

conseguem aprofundar suas intervenções:

[...disciplinando campeonatos, estando próximo a algumas modalidades que

historicamente nunca aconteceram aqui, como a parte de ciclismo, a parte de

Page 62: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

61

MotoCross, também outros esportes considerados de aventura e uma série de outras

modalidades, principalmente estimulando e envolvendo a juventude].

Fica claro que na visão do prefeito a prioridade de sua administração estava na

construção do saneamento básico para o município, e por este motivo, a parte do

esporte e lazer enfrentou dificuldades, principalmente financeiras. Concretizando a fala

de Bramante (2004) quando afirma que os setores de esporte e lazer, são os de menor

importância nos planos de governos. Quando na verdade, este setor deveria estar no

mesmo patamar das outras políticas. Ele avança quando entende que é importante a

criação de uma secretaria e ao sinalizar a preocupação em trazer pessoas qualificadas

para atuarem na mesma. Entretanto, na prática não verificamos uma escolha mais

criteriosa para a nomeação dos gestores do esporte e lazer, assim como, com a

formação de quadros de atuação para esta área.

O gestor traz uma concepção de esporte em sua fala que se aproxima do

esporte participação definido por Tubino (1999) como aquele ligado ao espírito

comunitário e a integração social, servindo de fortalecimento das relações sociais. Mas

contradiz esse entendimento, ao trazer exemplos das intervenções em seu segundo

mandato, através de campeonatos (mesmo no amadorismo, os valores da sociedade

capitalista são reproduzidos: seleção, exclusão, competição) e esportes de aventura

(sempre exigem determinados equipamentos, e portanto, nem todos tem acesso ao

mesmo), além de explicitar apenas os jovens como público alvo dessas práticas.

Para os secretários, a centralidade das ações estava voltada para aquilo que era

demandado no OP, como cita o Secretário 01:

[Era um governo popular, que ouvia a população, todas as ações desenvolvidas,

levavam em conta as assembléias temáticas do orçamento participativo, portanto, tudo

que foi feito lá, não saiu da cabeça de ninguém isoladamente].

O gestor acrescenta que construíram um planejamento estratégico e que todas

as secretarias trabalhavam numa visão sistêmica. Buscaram também, estabelecer uma

política e um sistema de cultura, esporte e lazer, quando realizaram a I Conferência

Municipal de Esporte e Lazer, e Alagoinhas passa a fazer parte do Sistema Nacional de

Esporte. Além da tentativa de estabelecer relações com a universidade, assim como, a

luta pelo aumento do orçamento para a esse âmbito.

Page 63: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

62

O Secretário 02 comenta que quando assumiram, tinham a consciência histórica,

[...com uma responsabilidade própria, de todo partido de esquerda, de ter uma visão

materialista da história], criticando as práticas clientelistas, que são comuns no campo

do esporte e lazer, utilizadas para fins políticos, de manipulação do voto.

Como se tratava de um governo que se propôs a ser democrático, com visão

materialista da sociedade, a consulta a população foi um elemento muito forte dentro

dessa gestão, sempre presente no discurso dos entrevistados. Mas devemos estar

atentos, as diretrizes e princípios da gestão democrática, explicitado no Estatuto da

Cidade, Em seu Capítulo I, Diretrizes Gerais, Art.2º, II, que visa garantir a participação

da sociedade não apenas na consulta, mas em todas as decisões de interesse público,

na construção, implantação e acompanhamento de planos, programas e projetos que

estejam ligados ao desenvolvimento urbano.

A busca por estabelecer um sistema de esporte e lazer para o município, foi um

ponto de extrema relevância. Através dele seria possível criar diretrizes, princípios e

parâmetros claros e explicitados para nortear as políticas públicas nessa área. Assim

como, a luta pelo aumento do orçamento é de grande significância para fortalecer e

viabilizar os programas e projetos.

Para entender como essas questões aconteceram na prática, e de que forma as

idéias se concretizaram, traremos a seguir discussões relacionadas aos projetos e

programas elaborados e implementados nessa administração.

6.1.2 Projetos e Programas: desafios e limites da cidadania

Nesta categoria, fizemos questionamentos referentes à elaboração e critérios

determinantes na construção dos projetos e programas, sobre os implementados,

assim como, sobre normas de utilização dos equipamentos.

Segundo os gestores, os critérios que direcionavam a construção dos programas

e projetos, vinham da discussão com a comunidade, reforçando mais uma vez, o

discurso da participação. O prefeito afirmou que:

[...partimos da discussão plural com a comunidade para que a gente pudesse

alinhavar as intervenções que considerávamos prioritárias, a luz do entendimento da

Page 64: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

63

própria comunidade].

O Secretário 01 coloca ainda, que levaram em conta que o esporte não era algo

secundário e que precisa estar no patamar das outras políticas públicas municipais,

tendo o mesmo grau de importância dentro do governo. Posição que se contrapõe a do

prefeito, já que este deixa claro que diante de tantos problemas de saneamento, as

ações no setor do esporte e lazer acabavam sendo dificultadas.

Quanto à elaboração, este dirigente traz que a SECEL era divida em

departamentos: o de cultura, o de esporte e o de lazer, e no caso específico do

esporte, o diretor, que tinha formação em Educação Física, era quem estava à frente

desses projetos assessorado por outros funcionários.

Já o Secretário 02, afirma que em cada setor da gestão pública quem priorizava

era a comunidade, mas [...nós, enquanto servidor do executivo, nós tínhamos o papel

do técnico de elaboração, encaminhamento e execução. Quem senta para elaborar o

projeto de cultura sou eu].

A divergência nas informações pode ser atribuída às diferenças na gestão de

cada um. Enquanto o primeiro diz que tinha um diretor atuando em sua área de

formação e por isso era responsável pelos projetos deste campo, assessorado por

outros funcionários, o segundo secretário, quando traz em sua fala [sou eu], dá indícios

da centralidade presente nas etapas por ele mesmo colocado: elaboração,

encaminhamento e execução.

Menicucci (2006) cita que por estas políticas trazerem impacto na vida das

pessoas, elas não podem ser efetivas se não forem aderidas pelo público alvo, em

todas as suas etapas. E no caso das políticas de esporte e lazer essa participação

torna-se essencial, dada a inserção da mesma no campo cultural. Portanto,

relacionando-se com valores, representações e sentidos atribuídos a certas práticas e

atividades por pessoas, grupos e sociedade.

Sobre os Projetos e Programas elaborados e implementados, o Secretário 01

nos apresenta as propostas aprovadas junto a comunidade na I Conferência Municipal

de Esporte e Lazer em Alagoinhas. Nesse espaço foi discutida a sistematização de

uma política de esporte consistente, que teria reflexos positivos na saúde, no lazer, na

economia local. Nesta perspectiva, o gestor afirma que seria imprescindível trabalhar

Page 65: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

64

através da intersetorialidade. Foi pensado também, em levar essa política, para os

diversos espaços da cidade, tendo em cada bairro oficinas de esporte com ações

orientadas, para todas as faixas etárias.

Acrescenta a criação de um Fórum Municipal dos Gestores do Lazer, no qual

essas políticas anualmente, pudessem ser repensadas e reelaboradas, sendo

executadas em consonância com as diversas entidades ligadas ao esporte na cidade, e

finaliza sorrindo: [...enfim, foi muito sonho].

Questionamos então se essas oficinas e fóruns aconteceram, ele então

esclarece, que estava falando daquilo que havia sido pensado na conferência: [...essas

idéias perpassaram a conferência, ficou tudo aprovado, discutido com a comunidade, a

partir daí eu me afastei. Mas acho que muita coisa foi adiante e outras não…].

A perspectiva de pensar na sistematização de uma Política Municipal de Esporte

e Lazer, de ter realizado conferência, de programar a realização de Fóruns para avaliar

e reelaborar as políticas públicas de esporte e lazer da cidade, seria uma experiência

inovadora, e que certamente tornaria as ações mais eficientes e legítimas, como

também, traria mais consistência e solidez ao sistema e a política municipal do esporte,

que haviam pensado.

Mas, como o próprio secretário traz: [Foi muito sonho], e diz isso com um sorriso

transparecendo a esperança que tudo aquilo ainda se concretize. Já que, logo após a

realização da conferência, onde tudo isso foi pensado, precisou se afastar do cargo.

Com o Secretário 02 é possível ter uma noção daquilo que ultrapassou as idéias.

Coloca que primeiro se priorizou trazer a infraestrutura necessária para que os projetos

e programas acontecessem, citando a construção e reformas de quadras

poliesportivas, a construção da pista de skate, a reforma do Estádio e por fim a vinda

do Projeto Segundo Tempo, que só foi possível, segundo ele, por terem conseguido

tais equipamentos.

Além da pista de skates, não são mencionados nenhum outro equipamento de

esporte pela cidade que não seja quadras e o estádio, utilizado apenas pelo esporte de

alto rendimento, e, portanto, a participação da sociedade está no consumo do

espetáculo. É o que Melo (2004) chama de “monocultura do futebol”, dentro das

práticas esportivas e de lazer. Temos então, uma restrição de ofertas, que

Page 66: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

65

consequentemente reduzem as possibilidades das vivências do esporte e do lazer.

No que diz respeito as normas de utilização do espaço, tanto o prefeito, quanto o

Secretário 01, afirmam que isso nunca existiu, estava pensado para uma etapa futura

que não foi possível depois do processo eleitoral. O secretário afirma que:

[...em poucas cidades brasileiras existe essa preocupação em como se utiliza o

espaço, como se garante a manutenção e conservação desse equipamento público,

que responsabilidade teria quem está usando].

Com isso, ele toma como parâmetro uma referência negativa da realidade

brasileira, até mesmo para justificar esta lacuna em sua gestão.

Segundo o Secretário 02, quando o espaço é institucionalizado, ele passa a ter

normas construídas pela própria comunidade, [...que tutela aquilo ali, que foi prioridade

dela enquanto comunidade...], e, portanto, os equipamentos são de responsabilidade

de cada associação de bairro, que reivindicou por aquele espaço, aquele equipamento.

E desta reforma, transfere essa responsabilidade à própria sociedade, negando seu

papel de gestor, também responsável por cuidar do espaço público.

A análise deste cenário dos projetos e programas de esporte e lazer em

Alagoinhas demonstra que os ideais estiveram muito distantes da realidade concreta,

revelando a superficialidade das ações voltadas para esse âmbito, nesta administração.

6.1.3 Ordenamento Legal: implicações para realização de políticas públicas de

esporte e lazer

As leis servem de referência para nortear as ações do poder público, assim

como, para garantir que a sociedade civil também participe deste processo. Daí a

importância de trazer o ordenamento legal municipal para a discussão com os gestores.

Perguntamos aos entrevistados sobre as leis que organizam o esporte e lazer na

cidade, o prefeito afirma que elas não estão organizadas em conjunto, sendo

necessário organizar melhor essa parte, não apenas para o esporte e lazer, mas para

outras áreas.

Na fala do Secretário 02, a inexistência de um aparato legal bem sistematizado,

é justificado pelas lacunas existentes na legislação das outras esferas de governo, pois

Page 67: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

66

segundo ele [..., ordenamento jurídico de qualquer país parte de uma lei maior, que são

as leis federais, depois vêm as leis estaduais e as leis municipais. Se não existia

legislação federal, nem estadual como é que agente fala de legislação municipal?...].

O dirigente justifica a falta de um ordenamento legal voltado para o esporte e

lazer, de forma mais coerente e sistematizado, a partir da fragilidade da própria

Constituição Federal. Para Menicucci (2006) esta indefinição constitucional, pode gerar

ambiguidades e diferenciações nas ações governamentais voltadas para o esporte e

lazer, mas também pode se constituir num espaço de edificação de políticas de lazer

criativas e inovadoras.

Segundo o Secretário 01, no nível de leis se tinha a criação da SECEL e a

proposta de criação do Conselho Municipal de Esporte e Lazer - CMEL, que estaria

aguardando aprovação pela câmara, assim como foi deixado em elaboração o decreto

para disciplinar a lei de incentivo ao esporte.

Entre os motivos para o descrédito das políticas públicas de esporte e lazer

Zingoni (2003) aponta a ausência de meios legais para controle populacional das ações

nesse âmbito. Tornando também a gestão distante daquilo que é recomendado nas

Resoluções da II Conferência Nacional do Esporte: “fundar-se no controle social

caracterizados pelo trabalho em conjunto com os conselhos de esporte, tanto no

repasse de recursos quanto na construção da política, pautando-se no planejamento

estratégico” (BRASIL, 2007, s/p). Com isso, a inexistência do CMEL em Alagoinhas,

não permite que a participação nestas políticas avance como deveriam.

A partir do exposto, verificamos a falta de compromisso do legislativo com o

esporte e lazer no município e do seu entendimento enquanto problema político, pela

ineficiência do cumprimento de seus papéis no cenário das políticas públicas,

dificultando avanços nessa área.

6.1.4 A política de financiamento para o esporte e lazer em foco

O orçamento destinado ao esporte e lazer é um dos fatores que mais dificultam

o trabalho nesse campo, pois não é dada a mesma importância que os outros setores,

sendo comum que eles recebam a menor parte dos recursos municipais. Com isso, a

Page 68: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

67

busca por parcerias com órgãos públicos e privados, tem se mostrado como uma das

soluções viáveis para superar essas questões, assim como a luta para que o mesmo

seja aumentado.

Em Alagoinhas, ainda se tem um outro aspecto a ser considerado, a junção do

esporte e lazer à cultura. Segundo o Secretário 01, essa questão foi uma luta, sendo

aprovado na Conferência Municipal de Esporte e Lazer no mínimo 1% para o esporte, e

que a meta era que chegasse a 1,5% do recurso total do município. Alerta ainda para

um ponto importante, como a secretaria abriga cultura, esporte e lazer esse orçamento

era único para todas as ações desenvolvidas pela SECEL, e portanto:

[...quando acabava a Micareta, o São João, nós estávamos praticamente sem

recursos pra tocar os programas da secretaria, mas estava sendo resolvido quando eu

saí. (...) essa é uma luta que deve prosseguir, inclusive vocês de Educação Física,

porque nada no poder público acontece sem pressão...].

É comum ainda, que em muitas gestões a ênfase esteja nos eventos e ações

que dão mais visibilidade ao governo, e com isso, os investimentos nas atividades que

possibilitam a vivência do esporte e lazer como prática social, que contribuem para o

desenvolvimento dos cidadãos são deixados de lado. Marcellino (2007), também

aponta essa evidência, ao afirmar que as políticas públicas de esporte e lazer vêm se

manifestando pela ausência de explicitação de seus objetivos e princípios, sendo

substituída por calendários festivos ou por pacotes baixados de gabinetes técnicos.

O gestor coloca que a busca por melhorias no orçamento deve continuar,

alertando que esse é um papel que também diz respeito a comunidade acadêmica,

quando se refere a [vocês de Educação Física], e que sem a organização da sociedade

civil em prol dessa questão não será possível alcançar ganhos nesse sentido.

As discussões sobre orçamento perpassam pela questão da descentralização.

Nesta perspectiva a responsabilidade é passada para as prefeituras, mas nem sempre

vem acompanhado dos recursos necessários, dificultando o atendimento a muitas

demandas.

Por este motivo a autonomia de realizar políticas próprias sem vinculação com

os programas federais ou estaduais se tornam mínimas, já que esses repasses

dependem muito de negociações que são levadas em consideração a posição política,

Page 69: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

68

além da concentração de renda tributária, sendo privilegiados os poucos municípios

que possuem um considerável desenvolvimento econômico (TEIXEIRA, 2002).

Esta dificuldade em realizar políticas de forma autônoma, aparece na fala do

Secretário 02 ao trazer que a prioridade era definida pela sociedade, e [...se o governo

tem condição de fazer enquanto governo municipal, com orçamento próprio, faz, se não

tem, vamos correr atrás dentro do processo de planejamento...].

Quanto as parcerias com órgãos públicos, o Prefeito coloca a grande dificuldade

enfrentada nos seis primeiros anos de seu governo em fazer interlocução com o

governo estadual, o que implicava em barreiras para a gestão do esporte e lazer na

cidade:

[Estruturalmente é muito difícil que o município responda pelas demandas

específicas, de áreas como essa área do esporte, sem o concurso, sem a presença,

sem a mediação dos outros entes federados. O governo federal sim, apontou a partir

do governo Lula, com a perspectiva de cuidar nacionalmente dessa dimensão ligada ao

esporte, mas infelizmente isso não era verticalizado com a presença do estado].

Por causa desta barreira de cunho político, as parcerias se deram na maioria das

vezes a nível federal, pelo Ministério do Esporte. Os secretários citam essas parcerias,

através de editais, elaborando os projetos para captar os recursos almejados,

exemplificando com a reforma do Estádio Antônio Carneiro e com a implantação do

Projeto Segundo Tempo na cidade.

No caso dos órgãos privados foi unânime entre os entrevistados, as dificuldades

enfrentadas para o estabelecimento dessas parcerias, já que os grandes

conglomerados só têm interesse em patrocinar aqueles projetos e eventos que deem

visibilidade a sua empresa, e mesmo nesses casos a resposta não era tão positiva.

Desta forma, a política de financiamento do esporte e lazer em Alagoinhas, está

colocada como uma das maiores barreiras parta efetivação destas políticas na cidade,

as parcerias com o estado e com órgão privados são quase inexistentes e com os

órgãos federais não são suficientes. Assim como, não são perceptíveis, por parte do

poder público municipal, muitos esforços para reversão desta situação.

Page 70: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

69

6.1.5 A política de formação de quadros para atuação no esporte e lazer

A qualificação dos quadros na gestão do esporte e lazer tem papel fundamental

dentro dessas políticas, pois são aqueles que dão vida aos projetos e programas.

Sendo uma das recomendações das Resoluções da II Conferência do Esporte às

secretarias, a garantia, por meio de concurso público, de espaço para profissionais de

Educação Física e outros trabalhadores vinculados ao esporte e lazer, com plano de

carreira definido.

Quando questionado sobre a formação do quadro de profissionais que atuavam

na área do esporte, recebemos informações controvérsias. Primeiro o Prefeito afirma

que nenhum dos secretários tinha formação específica em Educação Física, mas que

havia profissionais assessorando o trabalho, pois [...vários profissionais da EF

passaram no concurso e alguns foram chamados]. O Secretário 01 assegura que havia

poucos profissionais concursados dentro da secretaria, que a maioria era proveniente

de cargos de confiança, e portanto, sujeitos as intempéries políticas. Destacando que:

[...até hoje não tem nenhum profissional de educação física no quadro efetivo,

contratado executando políticas de elaboração e execução. Essa é uma reclamação

que nós fizemos, precisamos avançar nesse sentido ter o corpo técnico, qualificado,

concursado, mas não tínhamos].

Segundo Zingoni (2003) este é um fato comum, pois como é dada menor

importância aos setores de esporte e lazer, as indicações de cargos dos seus gestores

e de outros profissionais normalmente não seguem os mesmo critérios que os outros

setores, daí a importância de se estimular a contratação de profissionais preparados

para atuarem na área e da escolha mais criteriosa para seus gestores, assim como de

implantação de programas de formação e renovação de quadros.

O Secretário 02, que mais tempo passou a frente da SECEL, comenta que em

relação ao que encontrou, deixou a secretaria mais enxuta, mas com qualidade, tinha

um secretário, três coordenadores e um diretor. Sobre a formação destes afirma: [O

diretor é necessário que tenha uma formação intelectual, um nível superior, quanto ao

coordenador era muito mais técnico de campo]. Apontando que um dos diretores de

esporte que passou pela secretaria tinha formação em Educação Física.

Page 71: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

70

Os quadros de atuação, são um dos elementos essenciais, já que muito dos

problemas encontrados nas políticas públicas de esporte e lazer são atribuídos a falta

de qualificação dos gestores desse setor e a consequente dificuldade em inovar e gerir

ações que realmente atendam as demandas da população. Desta forma, não basta ter

um nível superior, é preciso que esteja qualificado para tal função.

No que diz respeito a programas de qualificação, o Prefeito diz que não existia,

mas que essa era uma preocupação a ser estruturada e implantada. Já o Secretário

01, aponta como programa de qualificação os cursos desenvolvidos em parceria com a

UFBA para árbitros de futebol e para os gestores, que seriam técnicos de clube

amadores. Acrescenta que a ideia era prosseguir nisso estabelecendo parceria com a

UNEB, mas isso não avançou, [...como eu era vice-prefeito na época e era estudante,

tentei ser esse elo para que houvesse uma maior interação entre a universidade e a

cidade e o poder público e não consegui, houve muita dificuldade de parte a parte].

Nesta colocação do gestor, fica perceptível um entendimento restrito do que

seria programas de qualificação de quadros, já que o mesmo aponta cursos de

formação de árbitros e de dirigentes, que são técnicos de times de futebol, quando na

verdade esses programas deveriam estar voltados a formação política e administrativa

dos gestores, e de todo quadro efetivo, quando seriam discutidos novas formas de

gestão, princípios políticos e pedagógicos que guiariam as ações democráticas na área,

entre outros.

A parceria com a universidade, segundo o secretário não avançou por haver

[dificuldade de parte a parte]. Seria importante a participação da comunidade científica

na organização e planejamento desse programas de qualificação, para que se pudesse

socializar o conhecimento construído dentro da universidade, não apenas com os

gestores, mas com todos os profissionais envolvidos com as políticas públicas de

esporte e lazer.

A implantação de programas de formação de quadros é um fator determinante

tanto na qualidade das políticas desenvolvidas, quanto para continuação das mesmas.

Como apontado por Marcellino (2007), além de dar vida aos projetos e programas, o

pessoal que desenvolve a animação dessas políticas, é fundamental, no caso de

alguns municípios, para garantirem a continuação das mesmas, tornando-as não

Page 72: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

71

apenas políticas de governo, mas de Estado.

Daí a necessidade de que sejam estabelecidos critérios mais rigorosos quanto a

qualificação dos gestores do esporte e lazer e da criação de programas para formação

dos quadros que desenvolvem as atividades neste âmbito.

6.1.6 Possibilidades e Desafios da Gestão no âmbito do esporte e lazer

Pedimos aos gestores que fizessem uma avaliação geral de sua administração e

que apontassem quais os fatores positivos e quais as maiores dificuldades enfrentadas

na gestão das políticas públicas de esporte e lazer no município.

Com unanimidade colocam que o maior ganho esteve no envolvimento da

comunidade na discussão sobre o que deveria ser prioridade de ação.

O Secretário 01 acrescenta:

[Nós deixamos uma proposta que é de longo prazo, que também insere

Alagoinhas na Política Nacional de Esporte. Precisamos ter essa visão, de que não dá

pra pensar políticas isoladas, tudo que nós fizemos foi no sentido de inserir a cidade no

Sistema Nacional].

Sobre o envolvimento com a comunidade, mais uma vez alertamos que ele deve

ultrapassar a participação no OP, o que não desconsidera a sua importância, apenas

queremos deixar claro a necessidade do envolvimento da sociedade civil em outros

momentos.

Zingoni (2003) alerta para a implementação de ações e intervenções que

venham ampliar o diálogo entre a sociedade civil e os agentes públicos, que ministrem

os recursos e as oportunidades com responsabilidade e sob a perspectiva de um

desenvolvimento auto-sustentável, que é o que se busca com o OP, mas acrescenta

que é essencial a adoção de processos de avaliação interna e externa, além de

diagnósticos da realidade do esporte e lazer nas cidades.

Quanto aos desafios, são apontadas dificuldades a partir de diferentes olhares.

O prefeito coloca a desigualdade no país como a maior barreira para se trabalhar a

dimensão do esporte, já que é preciso hierarquizar por onde começar dentro das

necessidades básicas da própria sociedade:

Page 73: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

72

[... a maior dificuldade é a desigualdade do país, porque existem questões muito

presentes na vida de um administrador que elas precisam ser olhadas de uma forma

diferenciada e você na hora que vai hierarquizar por onde começar, (...) então isso é

uma barreira terrível, para que você possa interiorizar, estruturar, trabalhar o esporte

como o esporte merece].

O discurso que mais uma vez coloca a prioridade a outras demandas como

barreira para estabelecer as políticas voltadas ao esporte e lazer, nos remete a uma

questão já identificada por Menicucci (2006), para a urgência da construção política do

sentido e significado do esporte e lazer na sociedade e mais especificamente deles

enquanto direito e necessidade social.

Portanto, as questões voltadas ao esporte e lazer devem ser encaradas de outra

forma, como um direito que deve ser garantido a todo cidadão, e que também faz parte

do conjunto de elementos que melhoram a qualidade de vida nas cidades.

Na visão do Secretário 01, os recursos e as parcerias constituíram um problema

considerável, pois não permitiam que se fizesse o trabalho desejado, assim como

comenta a relação com a universidade, seja ela pública ou privada, que não cumpre a

sua função social. Acrescentando ainda as dificuldades políticas:

[Dificuldades políticas, de o êxito de uma política dessa ser atribuído e

capitalizado por um partido, e você não se desprende para entender que aquilo é uma

política da cidade, seja lá quem for que esteja tocando. Mas existe uma certa

dificuldade de você tocar isso, porque se essa secretaria está muito visível, está com

muito êxito, isso está atrapalhando o projeto político de alguém ou ajudando o projeto

político de alguém...].

O entrevistado reflete antes de discorrer sobre o assunto, já que se trata de uma

questão tão delicada e que envolve divergências políticas. Neste caso, a

Intersetorialidade é apontada por Zingoni (2003) como uma das saídas para situações

semelhantes, pois essa forma de gerir implica na superação da fragmentação existente

na construção dos planejamentos e execuções das políticas setoriais e garante uma

gestão mais equalizadora, superando as “superposições” e “competições” dos

programas e ações municipais.

O Secretário 02 destaca [...a manipulação da opinião pública...], trazendo que

Page 74: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

73

era comum esse acontecimento, pelo fato dos setores da mídia na cidade, serem de

propriedade da oposição, [... e a quantidade de distorções, calúnias e mentiras,

construídas diretamente, todos os dias, de manhã, de tarde e de noite, é um baque

extremamente desgastante].

Fazendo uma análise geral das possibilidades e dos desafios colocados pelos

gestores, têm-se como maior conquista a participação da comunidade na definição de

prioridades através do OP, que não conseguiu ultrapassar a dimensão da consulta.

E como desafios, a política de financiamento é colocada como um dos principais

impasses para garantia do direito ao esporte lazer, desconsiderando a possibilidade do

próprio município demandar ao Estado a necessidade de aumento do orçamento para

essa área, trazendo uma inversão na perspectiva verticalizada existente entre as

esferas de governo. Além dos conflitos políticos que não permitem avanços nas

gestões, sendo abandonado o verdadeiro sentido e significado de se fazer política em

nome da politicagem, e com isso, têm-se a sobrepujança dos interesses individuais

sobre os coletivos.

6.2 O QUE OS DOCUMENTOS REVELAM

Os documentos também se constituíram numa fonte significante para que o

dizível fosse analisado a partir de sua concretude. Isso foi possível através do

levantamento de programas, projetos, relatórios e tudo mais que fosse referente a

gestão do esporte e lazer em Alagoinhas.

Dentre os documentos que conseguimos ter acesso e que serviram de base à

nossa pesquisa, temos o relatório referente ao trabalho desenvolvido pela SECEL,

entre 2001 e 2008 disponibilizados pelo coordenador de projeto da secretaria e

também gestor de esporte e lazer (2003-2004 e 2007-2008) no momento da entrevista.

Este documento foi elaborado, para dar conhecimento à nova administração municipal

de como estava sendo desenvolvido o trabalho dentro da secretaria, e é intitulado de

“Breve abordagem do conceito de Cultura que norteou a construção e alinhamento com

a Política Pública de Cultura nacional”. O mesmo é composto por três partes: a primeira

diz respeito ao entendimento de cultura que norteou as ações. Na segunda parte, trata

Page 75: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

74

da preocupação com a Estação São Francisco, que resultou na captação de recursos

para obras de recuperação das suas estruturas, e por fim, são trazidos alguns projetos

e ações realizados pela SECEL, para fundamentar as falas anteriores.

Fazendo uma análise minuciosa deste relatório, é possível identificar alguns

pontos relevantes para nossa discussão. O primeiro deles diz respeito à concepção de

política pública explicitada neste documento:

[Adotamos o conceito de política pública, que foi uma mudança importantíssima.

É você passar a ver como nossa clientela privilegia as demandas e necessidades da

população a partir do Orçamento Participativo e de suas assembléias temáticas].

O OP na gestão estudada é colocado como ponto central na mudança do

cenário político anterior, a partir da instalação de um governo democrático e popular. E

por este mesmo motivo, ao mencionar a adoção do conceito de política pública, torna-

se essencial explicitar a utilização do OP, como estratégia para concretização de um

governo que se propôs a ser participativo.

Levando em consideração alguns momentos essenciais que são apontados por

Teixeira (2003) para uma participação efetiva e eficaz da sociedade civil nas políticas

públicas: a construção de um diagnóstico participativo, identificando limites e

possibilidades; identificação de experiências bem sucedidas, servindo de base para

criação de novas alternativas; debate público em torno das alternativas; definição em

torno das possibilidades, dos papeis das esferas públicas envolvidas, recursos,

cronograma e parâmetros avaliativos; detalhamento dos projetos e identificação das

fontes de recursos; na execução, transparência e fiscalização; avaliação dos resultados

e redefinição das ações.

E tomado como base as questões já discutidas sobre as peculiaridades do

esporte e lazer nesta administração (não são prioridades dentro do OP, até mesmo

porque a centralidade das intenções do governo e da própria reivindicação da

população esteve voltado para o saneamento básico do município, além da inexistência

do CMEL, cuja intenção ficou apenas no papel), podemos afirmar que neste caso

específico o OP não garantiu que esses objetivos fossem atingidos. Por entendermos

que na construção de uma política pública de esporte e lazer, além da participação na

destinação dos recursos públicos, é essencial o estabelecimento de relações entre o

Page 76: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

75

poder público e a sociedade civil em diversos momentos que ultrapassam a consulta

popular, e vão desde o diagnóstico da realidade, passando pela definição de

prioridades a partir da consideração das limitações e possibilidades, até a elaboração,

implementação e fiscalização dessas políticas.

O outro ponto diz respeito a ausência de sinalização da situação do esporte e

lazer no município no documento, bem como, das diretrizes e princípios que nortearam

as ações nesse âmbito. Apenas são citadas as Conferências Municipais de Cultura,

apesar de ter sido realizada a I Conferência Municipal de Esporte e Lazer, nos dias 17

e 18 de março de 2006, para a construção de uma Política Municipal de Esporte e

Lazer e de um Sistema Municipal de Esporte e Lazer, que gerou na formulação de um

documento de Intenções relacionadas ao Esporte e ao Lazer enviado ao Ministério do

Esporte11

. O que nos remete a discussão de Marcellino (2007), quando afirma que a

experiência tem demonstrado que o “status” de secretaria para o esporte e lazer, em

termo de estrutura para a esfera municipal é mais adequada, pois quando vinculados à

Cultura, tende-se a valorizar apenas artes e espetáculos, ficando o esporte e lazer em

último plano.

Esta evidência pode ser comprovada também, quando são mencionados no

relatório já citado, alguns projetos e ações da SECEL, sob a justificativa de subsidiar o

que fora exposto. Verificamos a ênfase que foi dada nesta secretaria para a

organização e realização de eventos provenientes do Calendário Festivo e que dão

mais visibilidade ao trabalho do governo, como a Micareta de Alagoinhas – Alafolia;

Festa de Santo Antônio, padroeiro da cidade; decoração natalina e outros projetos

ligado as artes. Como ações e projetos de esporte e lazer é citada a construção e

reforma de quadras poliesportivas, a reforma do Estádio Antônio Carneiro, a realização

de campeonatos de futebol, torneios de vôlei, alguns projetos denominados enquanto

incentivo a esportes radicais, que se resumem em corridas de mountain bike e a

implantação do Projeto Segundo Tempo do Governo Federal.

Além da questão colocada por Marcelino, quando o esporte e lazer são atrelados

a cultura, estes fatos podem estar ligados a diversos fatores: a formação voltada para

11

Estas informações relacionadas à realização da I Conferência Municipal de Esporte, foram extraídas do “Levantamento de Ações do Governo Municipal”, no que diz respeito à SECEL, do ano de 2006, não sendo disponibilizado qualquer material referente à mesma.

Page 77: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

76

artes do secretário 02 que mais tempo passou a frente da SECEL, e que também

coordenou os projetos; ao orçamento que além de ser reduzido, tinha demandas altas

como as festas que atendem o calendário festivo da cidade; e a falta do entendimento

do esporte e lazer, como demanda social que requer importância no mesmo patamar

das outras políticas, pois também são indicativos de qualidade de vida da população.

Outro documento que fez parte de nossa fonte de dados foi o “Levantamento de

Ações do Governo Municipal”, referente a SECEL, do ano de 2005, 2006 e 2008, que

foram fornecidos através de e-mail, pelo gestor mencionado acima.

Para uma melhor compreensão de como o esporte e lazer vinham se

concretizando na cidade, traremos a seguir os projetos e atividades desenvolvidas por

esta secretaria, acompanhadas de seus respectivos objetivos e duração.

Os quadros abaixo foram organizados na busca de trazer as ações da SECEL

voltadas para o esporte e lazer, sendo desconsiderados, para efeito desta análise, os

projetos e atividades ligados ao departamento de cultura desta mesma secretaria.

QUADRO I – Ações da SECEL voltadas ao esporte e lazer, em 2005.

PROJETOS/ATIVIDADES DURAÇÃO OBJETIVOS

1º Encontro de Cultura Esporte e Lazer

01 dia Apresentação da proposta de trabalho da SECEL para o ano de 2005.

50º Campeonato da Suburbana 06 meses Promover e divulgar a prática esportiva no nosso município.

3º torneio de voleibol intermunicipal masculino e feminino

02 dias Promover e divulgar a prática esportiva no nosso município.

Marathom Byke

01 dia Promover e divulgar a prática esportiva no nosso município.

Seminário de esporte MovimentAlagoinhas

03 dias Despertar e esclarecer o esporte na comunidade.

Jogos Abertos 03 dias Despertar o espírito competitivo nas equipes esportivas da cidade.

Gincana da Primavera 02 dias Lazer e integração entre a comunidade. Fonte: Arquivo pessoal do coordenador do projeto da SECEL.

No ano de 2005, quando em cenário nacional, já estavam em tramite a

sistematização de uma Política Nacional do Esporte, impulsionada pela criação do

Ministério do Esporte em 2003 e pela realização da I Conferência Nacional do Esporte

em 2004, é publicado o documento oficial desta política.

Page 78: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

77

Em Alagoinhas, o que se percebe através da análise das ações da SECEL neste

mesmo ano, é que, apesar de estarem no primeiro ano da segunda gestão

consecutiva, ainda não se tem uma política pública voltada para o esporte e lazer de

forma sólida, que traga consistência nas ações. Têm-se na verdade, a realização de

algumas atividades isoladas e descontínuas, cujos objetivos não demonstram uma

articulação com o que é sugerido pela política nacional, fato que pode ser atribuído ao

pouco tempo de estabelecimento da mesma.

QUADRO I – Ações da SECEL voltadas ao esporte e lazer, em 2006.

PROJETOS/ATIVIDADES DURAÇÃO OBJETIVOS

Passeio Ciclístico dos Morcegos 02 dias Realizar o percurso de bicicleta de Alagoinhas a Subaúna.

Projeto Bairro a Bairro

01 mês Levantamento das áreas culturais, esportivas e de lazer no Distrito de Riacho da Guia; Projeção de filmes nas comunidades do distrito.

I Conferência Municipal de Esporte e Lazer

02 dias Ciclo de palestras e discussões em torno da construção de uma Política Municipal de Esporte e da Construção de um Sistema Municipal de Esporte.

4º torneio de voleibol intermunicipal masculino e feminino

02 dias Promover e divulgar a prática esportiva no nosso município.

Marathom Byke 01 dia Promover e divulgar a prática esportiva no nosso município.

Jogos Escolares sub 17 - Local 03 dias Promover e divulgar a prática esportiva no nosso município.

Jogos Escolares da Bahia – Sub 17 – Etapa Regional

03 dias Promover e divulgar a prática esportiva no nosso município.

Inauguração de três Quadras Poliesportivas

01 dia Oferecer à comunidade um novo espaço esportivo.

Apoio à Seleção de Voleibol de Alagoinhas

03 meses Pagamento da Taxa de Inscrição no Campeonato Baiano.

51º Campeonato da Suburbana 01 mês Promover e divulgar a prática esportiva no nosso município.

Fonte: Arquivo pessoal do coordenador do projeto da SECEL.

Em 2006, ano em que a II Conferência Nacional do Esporte acontece, a cidade

de Alagoinhas também participa deste processo, pelo envio de um documento de

intenções relacionadas ao esporte e lazer, construído na Conferência Municipal de

Page 79: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

78

Esporte e Lazer, na qual foram discutidos a criação de uma Política e de um Sistema

Municipal de Esporte e Lazer, que envolveu toda a sociedade civil.

Com isso, têm-se um avanço a partir do momento em que se começa a pensar

na sistematização de uma política municipal voltada a esse campo, e que é discutida

pelo seu público alvo, a sociedade. Mas na prática, fica explícito neste levantamento

que as atividades continuam seguindo a mesma lógica, na qual os objetivos se

repetem, assim como sua superficialidade.

QUADRO I – Ações da SECEL voltadas ao esporte e lazer, em 2008.

PROJETOS/ATIVIDADES DURAÇÃO OBJETIVOS

Passeio Ciclístico dos Morcegos 02 dias Realizar o percurso de bicicleta de Alagoinhas a Subaúna.

Melhorias no Estádio Antônio Carneiro

03 meses Manutenção do gramado, atender normas de segurança.

Apoio à Fanfarra e ao Esporte Amador

03 meses Apoiar a Tradicional Fanfarra e ao esporte amador com transporte, hospedagem em competições e campeonatos.

Apoio ao Esporte Profissional e Amador

03 meses Apoiar o esporte amador com transporte, hospedagem em competições e campeonatos, melhorias nas quadras poliesportivas (sistema elétrico) e no Estádio Antonio Carneiro (substituição de grama, marcação do campo, aquisição de utensílios para banheiros e vestiários), aquisição de uniformes para as seleções municipais de futsal, voleibol e basquete.

Marathom Byke 01 dia Corrida ciclística por ruas do município com largada e chegada na Praça J.J. Seabra.

Incentivo ao Esporte 04 meses Apoio ao esporte amador com a participação das seleções nos Jogos Abertos do Interior 2008.

Incentivo ao Esporte indefinido Iluminação do Campo do Buri, apoio ao "Batizado Coletivo de Moto Grupos de Alagoinhas” no dia 09/11/08 e apoio à Seleção Municipal de Basquete Masculino para participar da 2ª Copa Feirense de Basquete.

Fonte: Arquivo pessoal do coordenador do projeto da SECEL.

Dois anos mais tarde, quando além da Política Nacional do Esporte, que traz

explicitados os objetivos, princípios e diretrizes para a efetivação de políticas públicas,

temos as Resoluções da II Conferência Nacional do Esporte, a realidade local ainda

Page 80: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

79

permanece como se esses documentos não existissem, pois, não demonstram

articulação com o Sistema Nacional de Esporte e Lazer, que tem como um dos seus

pontos fundamentais a democratização do esporte.

Como podemos falar em democratização, se o incentivo ao esporte profissional,

está unicamente na melhoria do Estádio Antônio Carneiro, cuja reforma teve recurso

proveniente do Ministério do Esporte e o incentivo ao esporte amador, em viabilizar a

participação em campeonatos, com hospedagem, transporte e até mesmo pagando

taxa de inscrição? Temos na verdade, uma restrição nas possibilidades de vivência do

esporte e lazer e concordamos com Melo (2004), quando alerta para o

desenvolvimento de um senso, no qual as atividades esportivas no esporte e lazer

devem adquirir sentido e significados próprios, deixando de serem reféns do esporte

espetáculo ou de alto rendimento.

Nesta perspectiva, para o esporte, cabe a sua abrangência nas três dimensões

sociais já mencionadas anteriormente a partir de Tubino (1999): o esporte educacional,

esporte participação e esporte de alto rendimento, que estão explicitados na Política

Nacional do Esporte. E com relação ao lazer, segundo Marcellino (2007) deve-se

considerar seu duplo aspecto educativo, considerando as possibilidades de descanso e

divertimento, e de desenvolvimento pessoal e social, como instrumento de mobilização

cultural e os impasses socioculturais para seu acesso.

Esses dados também reforçam uma questão já identificada por Menicucci

(2006), para a urgência da construção política do sentido e significado do esporte e

lazer na sociedade e mais especificamente deles enquanto direito e necessidade

social. Do seu reconhecimento como problema político, que exige uma intervenção

governamental ativa e positiva, na busca de assegurar a todos os cidadãos condições

básicas para sua fruição. Garantindo que sejam vivenciados como prática de

liberdade, exercício de cidadania e participação social.

6.3 A CIDADE E SUAS LEIS

As leis são instrumentos importantes para nortear as ações do poder público,

assim como, para garantir que a sociedade civil também participe deste processo.

Page 81: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

80

Partindo disto, procuramos analisar os dados acerca do Ordenamento Legal municipal,

estabelecendo relações e discussões com a legislação nacional vigente e o Sistema

Nacional de Esporte e Lazer, buscando apontar suas implicações na administração

estudada.

A Lei Orgânica do Município de Alagoinhas foi disponibilizada através do site

oficial da cidade, na configuração da gestão estudada. O documento é datado de 23 de

dezembro de 2003, entrando em vigor em 01 de março de 2004.

O ordenamento legal municipal que se destina ao âmbito do esporte e lazer

encontra-se no Capítulo VI, Da Cultura, Do Desporto e Lazer, sendo tratado em

específico no artigo 203, quando define prioridades nas ações do poder público para

destinação dos recursos orçamentários para o esporte e lazer:

I. ao esporte educacional e ao esporte comunitário, na forma da lei; II. ao lazer popular; III. à construção e manutenção de espaços devidamente equipados para as

práticas esportivas e o lazer; IV. à promoção, estímulo e orientação à prática e difusão da educação física V. promoção de intercâmbio sócio-cultural desportivo com outros Municípios; VI. prioridade às organizações amadorísticas e colegiais no uso de estádios,

praças, ginásios de esporte e instalações de propriedades do Município (ALAGOINHAS, 2004).

E no artigo 206, que também prevê a destinação de recursos para subvencionar

entidades esportivas amadoras ou não, por parte do poder executivo.

Levando em consideração que nesse período ainda não existia uma Política

Nacional sistematizada de esporte e lazer, já que as ações voltadas para esse fim

tiveram início a partir da criação do Ministério do Esporte em 2003, com a realização da

I e II Conferência Nacional do Esporte (2004 e 2006) e a criação da Política Nacional

do Esporte (2005), o que se percebe é a reprodução da superficialidade e fragilidade

encontrada na Constituição de 1988, no que tange a esse âmbito, onde o esporte e o

lazer são colocados como direito, mas não são explicitados os meios que levariam a

concretização dos mesmos.

Esta indefinição constitucional pode ter seus aspectos negativos, como no caso

investigado, mas também pode servir como um laboratório de inovações como afirma

Menicucci (2003), e constituir-se num espaço de edificação de políticas de lazer

Page 82: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

81

criativas e inovadoras.

Outro fato analisado foi a ausência de leis criando o CMEL, conforme sugere o

Sistema Nacional de Esporte e Lazer. Verificou-se que não há este tipo de

regulamentação, confirmando os dados encontrados no Censo Esportivo do IBGE

(2003), que apontam para a existência de apenas 25 conselhos em todo o estado da

Bahia.

Sabe-se também, que não basta apenas criar os conselhos, essa questão

perpassa pela discussão da democratização do conhecimento, pois dado o papel

político da educação, ela deve possibilitar uma melhor percepção do mundo, e da

própria realidade, trazendo mínimas condições na qualificação política do povo (DEMO,

1994).

Visto que, participar requer oportunidades igualitárias de informação e

capacitação, para que as discussões possam avançar e dar resultados significativos

para a coletividade, torna-se fundamental pensar mecanismos de controle dentro dos

governos, considerando a importância da articulação de políticas voltadas para uma

educação de qualidade. Na busca de superar os quadros atuais de analfabetismo que

hoje encontramos em nosso país, que segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios - PNAD de 2007 do IBGE são 14 milhões de analfabetos hoje no Brasil,

representando um contingente de 9,9% da população com mais de 15 anos.

A análise deste contexto também nos revela que ainda é pequena a

aproximação e o comprometimento do Legislativo com o esporte e o lazer, pois à

medida que o processo de participação nesses setores é reduzido, ele não provoca no

Poder Executivo o desvelamento de suas informações e propósitos, com o

assumimento prévio e público de compromissos, assim como não oferece ao próprio

Poder Legislativo que exerça com mais critério, a defesa dos interesses do esporte e

lazer na cidade e o compromisso das condições estabelecidas publicamente (ZINGONI,

2003).

Ficando perceptível o quanto é frágil o aparato legal do esporte e lazer em

Alagoinhas, também se torna explícito a necessidade de reversão deste quadro para

assegurarmos o direito social ao esporte e lazer. Já que, a falta de meios legais para o

controle populacional, impede que a sociedade civil seja capaz de alterar os padrões de

Page 83: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

82

administração nesse âmbito (ZINGONI, 2003).

Estes fatos constituem-se em fatores que dificultam a participação na

identificação dos problemas e na busca das possíveis soluções efetivas e eficazes para

os mesmos. Através da participação cidadã torna-se mais palpável a legitimidade e

sustentabilidade das políticas sociais, não sendo também diferente com as políticas

públicas voltadas para o esporte e lazer.

Page 84: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

83

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentro da gestão estudada, as políticas públicas de esporte e lazer em

Alagoinhas se concretizaram num contexto consideravelmente favorável para práticas

inovadoras neste campo, ao considerar as mobilizações a nível nacional para a criação

de uma política para o esporte e lazer, na qual o próprio município participou; o ideal

político dos governantes dessa administração, que se propôs a ser participativo e

democrático, assim como, por terem estabelecido um espaço de interlocução com a

sociedade, através do OP.

No entanto, não conseguem avançar como deveriam, pois não superam a

concepção restrita do esporte e lazer comumente presente nas gestões públicas, de

caráter assistencialista, utilitarista e que tendem a reproduzir os valores da sociedade

capitalista, no lugar do seu entendimento enquanto problema político que exige

intervenção do poder público, no mesmo patamar das outras políticas.

Com isso, nas ações identificamos um distanciamento entre os ideais e aquilo

que se concretiza. Não existindo uma preocupação em colocar em prática as propostas

aprovadas na I Conferência Municipal de Esporte e Lazer, que se levadas em

consideração, trariam conquistas consideráveis para a garantia desses direitos e

consequentemente para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.

Também é possível visualizar a influência da falta de definição mais precisa do

esporte e lazer enquanto direito pela Constituição Federal, na produção das leis

municipais que definem as ações neste campo e a conseqüente dificuldade na

construção de políticas públicas para sua efetivação. Este fato denuncia o descaso do

poder legislativo para que sejam assegurados o esporte e lazer na cidade, pela

ineficiência do cumprimento de seus papéis no cenário das políticas em questão.

Nas relações com o Sistema Nacional de Esporte e Lazer, ficou explícito a

ausência de articulação entre as diretrizes da Política Nacional do Esporte e as

políticas e ações da secretaria municipal. Bem como, fragilidade, ou ausência de

documentos que orientassem a elaboração e execução destas políticas no município,

refletida na fragilidade dos projetos desenvolvidos, que se resumem em atividades

isoladas e descontínuas, restringindo a possibilidade de vivências do esporte e lazer.

Page 85: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

84

Retomando algumas das diretrizes colocadas no documento da Política Nacional

do Esporte, como a universalização do acesso e promoção da inclusão social e o

desenvolvimento humano, questionamos como tais elementos poderiam ser

promovidos diante dos objetivos e da duração dos projetos desenvolvidos pela SECEL.

E como poderia ser assegurada a Gestão Democrática: participação e controle

social e a Descentralização da política esportiva e de lazer, se ainda eram

presentes práticas centralizadas dentro desta secretaria e se não existiam mecanismos

de controle populacional, pois a participação neste governo não ultrapassou a

consulta?

Portanto, fazem-se necessárias intervenções urgentes nesse campo, para

reversão da realidade encontrada. Como proposições de mudanças sugerimos a

elaboração de proposta de alteração da Lei Orgânica do município e dos demais

documentos legais, cabendo ao legislativo o entendimento do esporte e lazer enquanto

problema político, direito do cidadão e indicativo de qualidade de vida nas cidades.

A criação de uma secretaria específica de esporte e lazer, também seria uma

estratégia importante para que as barreiras enfrentadas pela sua junção à cultura

fossem superadas. Assim como, a continuação da luta pelo aumento do orçamento

destinado a essa área por parte do próprio município, trazendo a possibilidade de

inversão das hierarquias verticalizadas existente entre as esferas de governo.

Cabe também a administração municipal, estabelecer critérios mais rigorosos

para escolha dos seus dirigentes, e a criação de programas de qualificação para

formação e capacitação dos recursos humanos. A fim de possibilitar um aumento na

capacidade de captar recursos públicos de maneira mais eficiente, e do gerenciamento

de ações mais consistentes e eficazes.

Pensando na ampliação dos canais de participação, a implantação do CMEL

torna-se imprescindível, além da realização de Fóruns com os setores envolvidos com

o esporte e lazer da cidade para sensibilização do confronto e transformação da

realidade encontrada. E por fim, a elaboração das diretrizes norteadoras de um

programa democrático e descentralizado de esporte e lazer, no sentido de contribuir

para que o poder público abra tais canais de interlocução junto à população, com a

finalidade de discutir, elaborar, executar, fiscalizar e avaliar os projetos e programas

Page 86: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

85

nessa área, ultrapassando a dimensão da consulta, e garantindo uma gestão

democrática, participativa e cidadã, atendendo assim, as demandas sociais.

Page 87: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

86

REFERÊNCIAS

AMARAL, Silvia Cristina Franco. Cidadania. In: GOMES, Christianne Luce (Org.)

Dicionário crítico do lazer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004b. AMARAL, Silvia Cristina Franco. Políticas Públicas. In: GOMES, Christianne Luce

(Org.) Dicionário crítico do lazer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004a. BONALUME, Cláudia Regina. Controle Social das Políticas de Esporte e Lazer. In: MAIA, Lerson Fernando dos Santos; OLIVEIRA, Marcus Vinicius de Faria; MENDES,

Maria Isabel Brandão de S (Orgs.). Poder público, terceiro setor e controle social: interfaces na construção de políticas de esporte e lazer. Natal: CEFET-RN, 2007. BONALUME, Cláudia Regina. Controle Social das Políticas de Esporte e Lazer. In:

MARCELLINO, Nelson Carvalho (Org.). Políticas púbicas de Lazer. Campinas: Alínea, 2008.

BORDENAVE, Juan E. Díaz. O que é Participação. 8. ed. SP: Brasiliense, 1994. BRACHT, Valter. Esporte, história e cultura. In: PRONI, Marcelo; LUCENA, Ricardo

(Orgs.). Esporte: história e sociedade. Campinas: Autores Associados, 2002.

BRACHT, Valter. Sociologia Crítica do Esporte: uma introdução. 3. ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2005. BRAMANTE, Antonio Carlos Bramante. Políticas de Lazer. In: GOMES, Christianne

Luce (Org.) Dicionário crítico do lazer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em: 20 de março de 2009.

BRASIL. Contagem da População. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (IBGE), 2007. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/contagem_final/tabela1_1_16.pdf>. Acesso em: 20 de março de 2009.

BRASIL. Estatuto da Cidade. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Brasília, DF, 10 jul. 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em: 20 de março de 2009.

BRASIL. Pesquisa do Esporte 2003. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (IBGE). Disponível em:

Page 88: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

87

<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/pesquisa_esporte2003/default.shtm>. Acesso em: 20 de março de 2009.

BRASIL. Política Nacional do Esporte. Brasília: Ministério do Esporte, 2005.

BRASIL. Resoluções da II Conferência Nacional do Esporte. Brasília: Ministério do Esporte, 2007. Disponível em: <http://portal.esporte.gov.br/conferencianacional/propostas_aprovadas.jsp> Acesso em: 20 de mar de 2009. CASTELLANI Filho, Lino. Gestão Municipal e Política de Lazer. In: ISAYAMA, Eldér

Ferreira (Org) Sobre Lazer e Política: maneiras de ver, maneiras de fazer. Belo Horizonte, Editora EFMG, 2006.

DALLARI, Dalmo de Abreu. O que é Participação Política. SP: Brasiliense, 1991.

DEMO, Pedro. Pobreza Política. 4. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 1994.

DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio. Métodos e técnicas de pesquisa em

comunicação. São Paulo: Atlas, 2005.

FRIGOTTO, Gaudêncio. Globalização e crise do emprego: mistificações e perspectivas

da formação técnico-profissional. In: Boletim Técnico do SENAC. v. 25, n. 02. mai/ago, 1999. GEBARA, Ademir. História do esporte: novas abordagens. In: PRONI, Marcelo;

LUCENA, Ricardo (Orgs.). Esporte: história e sociedade. Campinas: Autores Associados, 2002. GOMES, Christianne Luce. Lazer – Concepções. In: GOMES, Christianne Luce. (Org.)

Dicionário crítico do lazer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004b. GOMES, Christianne Luce. Lazer – Ocorrência histórica. In: GOMES, Christianne Luce.

(Org.). Dicionário crítico do lazer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004a. GOMES, Romeu. A análise de dados em pesquisa qualitativa. In: MINAYO, Maria

Cecília Souza (Org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 1994. GENTILI, Pablo. Neoliberalismo e Educação: o manual do usuário. In: GENTILI, Pablo;

SILVA, Tomaz Tadeu da (Orgs.). Escola S.A. Quem ganha e quem perde no mercado educacional do neoliberalismo. 2. ed. Brasília: CNTE, 1996.

LEIRO, Augusto César Rios. Educação, lazer e cultura corporal. In: Revista Presente, v. 53, p. 47-53, 2006.

Page 89: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

88

MAFFEI, João Júnior. Valores, lazer e recreação na sociedade contemporânea. 2004. 99f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção com ênfase em Tecnologia Educacional) – Setor de Ciências Exatas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.

MANZINI-COVRE, Maria de Lourdes. O que é cidadania. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 2001. MARCASSA, Luciana. Lazer - Educação. In: GOMES, Christianne Luce (Org.).

Dicionário crítico do lazer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

MARCELLINO, Nelson Carvalho. Estudos do lazer: uma introdução. 3. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2002.

MARCELLINO, Nelson Carvalho. Lazer e Educação. 10. ed. Campinas: Papirus, 2003. MARCELLINO, Nelson Carvalho. Políticas Públicas de Esporte e Lazer: O papel do poder público e do Terceiro Setor. In: MAIA, Lerson Fernando dos Santos; OLIVEIRA,

Marcus Vinicius de Faria; MENDES, Maria Isabel Brandão de S. Poder público,

terceiro setor e controle social: interfaces na construção de políticas de esporte e lazer. Natal: CEFET-RN, 2007. MARCELLINO, Nelson Carvalho. Pressupostos de ação comunitária: Estruturas e

canais de participação. In: MARCELLINO, Nelson Carvalho (Org.). Políticas púbicas

de Lazer. Campinas: Alínea, 2008. MARTINS, Sérgio. Lazer, urbanização e os limites da cidadania. In: ISAYAMA, Eldér

Ferreira (Org) Sobre Lazer e Política: maneiras de ver, maneiras de fazer. Belo Horizonte: Ed. EFMG, 2006. MASCARENHAS. Fernando. “Lazerania” também é conquista: tendências e desafios

na era do mercado. In: Movimento, Porto Alegre, v. 10, n. 2, 2004. MASCARENHAS. Fernando. Outro Lazer é possível! Desafio para o esporte e lazer da

cidade. In: CASTELLANI, Lino (Org.) Gestão Pública e política de Lazer: a formação de agentes ideais. Campinas: Autores Associados, 2007.

MELO, Victor Andrade de. Esporte. In: GOMES, Christianne Luce (Org.) Dicionário

crítico do lazer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. MENICUCCI, Telma. Políticas Públicas de Lazer: questões analíticas e desafios

políticos. In: ISAYAMA, Eldér Ferreira (Org). Sobre Lazer e Política: maneiras de ver, maneiras de fazer. Belo Horizonte: Ed. EFMG, 2006.

ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise do discurso: Princípios e procedimentos. 6. ed. Campinas: Pontes, 2005.

Page 90: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

89

PAULINO. Gabriela Dalila Bezerra. Lazer e Política Públicas: Conceito, Diálogo e um Recorte da realidade. In: MAIA, Lerson Fernando dos Santos; OLIVEIRA, Marcus

Vinicius de Faria; LIMA, Dália Maria Cavalcanti de. Políticas de Lazer e suas

múltiplas Interfaces no Cotidiano Urbano. Natal: CEFET-RN, 2007 PINTO, Leila Mirtes Santos de Magalhães. Estado e sociedade na construção de inovações nas políticas públicas de Lazer no Brasil. In: MARCELLINO, Nelson Carvalho

(Org.). Políticas púbicas de Lazer. Campinas, SP: Editora Alínea, 2008b. PINTO, Leila Mirtes Santos de Magalhães. Inovações e avaliação: desafios para as políticas públicas de esporte e lazer. WERNECK, Christianne Luce Gomes; ISAYAMA,

Eldér Ferreira (Org). Lazer, recreação e Educação Física. Belo Horizonte. Autêntica, 2003. PINTO, Leila Mirtes Santos de Magalhães. Políticas Públicas de Lazer no Brasil: Uma

história a contar. In: MARCELLINO, Nelson Carvalho (Org.). Políticas púbicas de

Lazer. Campinas: Alínea, 2008a. PRONI, Marcelo. Bronhm e organização capitalista do esporte. In: PRONI, Marcelo;

LUCENA, Ricardo (Orgs.). Esporte: história e sociedade. Campinas: Autores Associados, 2002.

REDAÇÃO TERRA. PNAD: Brasil tem queda na taxa do analfabetismo. Disponível em: http://noticias.terra.com.br/educacao/interna/0,,OI3192592-EI8266,00.html. Acesso em: 20 de junho de 2009

RIBEIRO, João Ubaldo. Política: Quem manda, por que manda, como manda. 3.ed. rev. por Lúcia Hipólito. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1998. ROCHA, Luiz Carlos. Políticas Públicas de Lazer: um olhar sobre a realidade brasileira.

In: Diálogos Possíveis. Salvador, V. 3, n.2, p. 191-199, 2004.

ROCHA, Luiz Carlos. Políticas públicas no subúrbio ferroviário: (in)visibilidade na dinâmica da cidade de Salvador. 2003. 127 f. Dissertação (Mestrado em Educação e Contemporaneidade) - Departamento de Educação, Universidade do Estado da Bahia, Salvador, 2003. RODRIGUES, Rejane Penna. O papel do Estado nas políticas sociais: elementos para discussão sobre gestão das políticas públicas de lazer no Brasil. In: MARCELLINO,

Nelson Carvalho (Org.). Políticas púbicas de Lazer. Campinas: Alínea, 2008.

SANTOS Filho, José Camilo; GAMBOA, Silvio Sánchez (org.). Pesquisa Educacional: quantidade-qualidade. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2000.

SELL, Carlos Eduardo. Sociologia clássica: Durkheim, Weber e Marx. 3. ed. Itajaí:

Page 91: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

90

UNIVALI, 2002

STIGGER, Marco Paulo. Educação Física, Esporte e Diversidade. Campinas: São Paulo: Autores Associados, 2005.

TEIXEIRA. Elenaldo Celso. O local e o global: Limites e desafios da participação cidadã. São Paulo: Cortez, 2001.

TEIXEIRA. Elenaldo Celso. O papel das Políticas Públicas no Desenvolvimento

Local e na transformação da realidade. Publicação AATR, Salvador, 2002.

TRIVINOS, Augusto Nibaldo Sila; MOLINA NETO, Vicente. (Org.). A pesquisa

qualitativa na educação física: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Ed. UFRGS, Sulina, 1999.

TUBINO, Manuel José Gomes. O que é esporte? São Paulo: Brasiliense, 1999.

VERNECK, Christianne Luce Gomes. Lazer, Trabalho e Educação: relações históricas, questões contemporâneas. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2000.

VIEIRA, Listz. Cidadania e globalização. 7. ed. RJ: Record, 2004. ZINGONI, Patrícia. Descentralização e participação em gestões de esporte e lazer. In:

WERNECK, Christianne Luce Gomes; ISAYAMA, Eldér Ferreira (Org). Lazer,

recreação e Educação Física. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

ZINGONI, Patrícia. Gestão. In: GOMES, Christianne Luce (Org.) Dicionário crítico do

lazer. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

Page 92: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

91

APÊNDICE A

Roteiro de Entrevista – Poder Executivo

1. Qual a concepção de políticas públicas de esporte e lazer que orienta os projetos e

programas da cidade?

2. Quem participa da elaboração dos projetos e programas e como se dá esta

participação?

3. Quais são os critérios determinantes na elaboração e execução de projetos e

programas de esporte e lazer no município?

4. Quais são os projetos e programas de esporte e lazer elaborados e implementados

no município? Como se estabelecem as parcerias com os órgãos públicos e privados?

5. A política de esporte e lazer do município estabelece normas de utilização do espaço

urbano? Existe uma política de distribuição e implantação de equipamentos de esporte

e lazer? Quais são os critérios?

6. Quantos e qual a formação dos profissionais que atuaram na área do esporte e lazer

no município? Existem programas de qualificação direcionadas para estes?

7. Quais as leis que organizam o esporte e lazer no município? Como estas tratam a

questão do esporte e lazer?

8. Como se dá a política de financiamento para o esporte e lazer?

9. Quais os fatores positivos e as dificuldades enfrentadas na implementação das

políticas públicas de esporte e lazer?

Page 93: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

92

ANEXO A

Lei Orgânica do Município de Alagoinhas

CAPÍTULO VI

DA CULTURA, DO ESPORTE E LAZER

Art. 202 – Todo cidadão é um agente cultural e o poder público o incentivará, por meio da política de ação cultural do Município, democraticamente elaborada, a qual deverá proteger as manifestações das culturas populares, garantindo à população o acesso, produção, distribuição e consumo de bens culturais, viabilizando:

I. a criação e manutenção de órgãos específicos voltados para a área de cultura e preservação do patrimônio;

II. o funcionamento de entidades ligadas à cultura do Município com o estudo da

memória do Município na área de bens culturais e patrimoniais;

III. a divulgação da produção artística na programação de empresas de rádio e televisão sediadas na cidade;

IV. a dinamização dos espaços culturais já existentes como as praças esportivas e

criação de outras, especialmente nos bairros, para possibilitar a prática do esporte e do lazer pela comunidade mais carente, bem como as manifestações culturais populares, tradicionais e contemporâneas dessas mesmas comunidades;

V. apoio e incentivo prioritário à produção artística local;

VI. a prioridade de participação artística locais nas promoções do Município;

VII. fomentar atividades que tenham por objetivo a busca da autosustentabilidade no

setor de cultura; VIII. captação de recursos em todos os seguimentos nacionais e estrangeiros para

proporcionar a expansão das atividades produtoras de bens culturais do município.

IX. participação do Município em eventos de porte promovidos na esfera municipal,

estadual e federal, em áreas literais, esportivas, religiosas, musicais, culturais, sempre no interesse de engrandecimento do Município.

Art. 203 – As ações do Poder Público na destinação de recursos orçamentários para o esporte e o lazer, darão prioridade:

I. ao esporte educacional e ao esporte comunitário, na forma da lei;

Page 94: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

93

II. ao lazer popular;

III. à construção e manutenção de espaços devidamente equipados para as práticas esportivas e o lazer;

IV. à promoção, estímulo e orientação à prática e difusão da educação física.

IV. promoção de intercâmbio sócio-cultural desportivo com

outros Municípios;

V. prioridade às organizações amadorísticas e colegiais no uso de estádios, praças, ginásios de esporte e instalações de propriedades do Município;

Art. 204– Fica assegurado o pagamento de metade do valor cobrado, ainda que em caráter promocional, para ingresso em casa de diversões, cinemas, espetáculos, praças esportivas e similares, ao estudante regularmente matriculado em estabelecimento de ensino público ou particular, municipal, estadual ou federal, na forma da Lei.

Art. 205- Para usufruir o benefício, o estudante deverá comprovar a condição referida, através de carteira de estudante expedida pelo Diretório Acadêmico dos Estudantes ou União Nacional dos Estudantes, para estudantes do 3º grau e pela Entidade Municipal para estudantes do ensino fundamental e médio.

Art. 206– Cabe ao Executivo Municipal, subvencionar entidades desportivas amadoras ou não, de acordo com as suas disponibilidades financeiras, promovendo a destinação de recursos públicos, para a prática do desporto, educação e lazer.

Art. 207 – O Município deve garantir o funcionamento da Biblioteca Pública sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer, providenciando:

I. corpo técnico-administrativo especializado;

II. composição do acervo necessário e indispensável;

III. aquisição de materiais permanentes exigidos para o funcionamento dos setores.

Art. 208 – É dever do Município preservar os valores da cultura afro-brasileira, cabendo-lhe:

Parágrafo único – Inventariar, restaurar e proteger documentos, obras e quaisquer outros bens de valor artístico da cultura afro-brasileira.

Page 95: Políticas públicas em esporte e lazer em alagoinhas

94

Art. 209 – O Município deve promover eventos que contribuam para a prática de esporte pelas crianças e jovens a partir dos bairros periféricos, considerando a educação física como meio de trabalhar o homem concreto e integralmente, através de:

I. organização de um calendário de eventos;

II. promoção de cursos de aperfeiçoamento e orientação para monitores profissionais responsáveis pela aplicação dos exercícios;

III. participação de entidades civis e filantrópica que cuidem de atividades esportivas

com crianças, adolescentes, jovens e adultos.

IV. a organização de atividades festivas, apoiando ou estimulando o que for programado por entidades locais;

Parágrafo único - Cabe exclusivamente à Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer, após ouvidas as entidades interessadas, coordenar este trabalho.