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psicodoidas
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
DISCIPLINA: Bases sociológicas da psicologia
SEMESTRE: 2014.1
PROFESSORA: Paula Galrão
DATA: 03/06/2014
ALUNO (A): Marcelo Gonzaga de Santana
1ª AVALIAÇÃO
Observações:
I. A prova deverá ser entregue impreterivelmente até o dia 10/06/2014II. A prova devera ter nó máximo 5 (cinco) páginas digitadas (só frente) ou 5
páginas de caderno (frente e verso). Nas páginas digitadas, deverá ser utilizada fonte nº 12, espaçamento 1,5 e corpo do texto justificado.
III. A prova deverá ser feita a partir dos textos de e sobre Émile Durkheim, Karl Marx e Friedrich Engels e Max Weber trabalhados e, também, a partir das discussões e aulas em realizadas sala.
IV. Para os alunos que queiram utilizar outros textos, estes devem ser artigos científicos, publicados em revistas científicas eletrônicas ou impressas, ou livros. Este material deve estar devidamente citado no corpo do texto e referido no final do texto. Caso contrário, o material e sua referida discussão não serão considerados.
V. Nas provas onde forem localizados plágios ou em casos de provas iguais, será anulada toda ela, e o aluno ficara com nota 0,0 (zero).
QUESTÃO
1ª) Disserte a respeito do objeto de estudo (aquilo que os autores acham que a sociologia deve estudar) da sociologia, salientado ao máximo as características deste objeto, e as referidas concepções de ciência sociológica (para Durkheim e Weber) e sociedade (para Marx), para os autores:
a) Durkheim
b) Marx
c) Weber
1
O objeto de estudo da Sociologia – Durkheim, Weber e Marx
Marcelo Gonzaga de Santana
Introdução
É incrível como o sociólogo da pós-modernidade ao confrontar-se com vertiginosa
transmutação das conexões transindividuais, ao observá-las sob o prisma da produção de
conhecimento científico, consubstancia ainda hoje sua sistematização e método experimental
nos moldes precursores, em teorias clássicas relacionadas à metodologia e delimitação do
objeto de pesquisa sociológica elaboradas no século XIX e início do XX. Dessa visita aos
clássicos sociológicos da modernidade, não somente o investigador, o sociólogo, mas todo e
qualquer indivíduo que percebe nas relações de seu cotidiano a influência dessas doutrinas
fundamentais, se apropria em parte desse legado, ainda que a resultante seja uma visão
reducionista, uma visão-de-mundo, resta inegável a influência dessas doutrinas na atualidade.
As formulações do método, das regras para a pesquisa e a definição do objeto, alçaram
a Sociologia, nesse contexto histórico de intensa fertilidade científica, da busca por respostas
aos questionamentos - Que interpretação o estudioso dá a seu tempo? Qual a sua teoria acerca
do conjunto social? Qual a sua visão da História? Qual a relação existente entre a Sociologia e
as demais ciências humanas? - que transcendiam sua natureza filosófica, ao tempo em que
exigiam uma resposta fundamentada na experimentação, ao patamar de ramo autônomo do
conhecimento.
Dentre os teóricos considerados fundadores da teoria sociológica moderna
(ARON:1999, p. 11)i é possível destacar Karl Marx (1818-1917), Émile Durkheim (1858-
1917) e Max Weber (1864-1920). Dentre eles Marx foi o que menos se preocupou em “fazer
sociologia” muito embora dissecasse minudentemente as estruturas sociais existentes e
percebesse, ainda que devido a inspiração hegeliana, a dinâmica social como resultado de uma
dimensão dialeticamente considerada (materialismo histórico dialético). Durkheim,
fortemente motivado em firmar bases científicas para a Sociologia, empenhou-se em delimitar
seu objeto de estudo: o Fato Social, enquanto Weber debruçou-se a analisar sistematicamente
as relações de poder, burocracia e a religião.
2
O Materialismo histórico de Marx
A influência da obra de Marx e sua sociologia-histórica baseada na perspectiva dialética
de Hegel deixou marcas profundas na história da humanidade. Muitos Estados modernos
passaram por processos revolucionários na primeira metade do século XX que culminaram na
concretização do regime socialista, da adoção do modelo econômico comunista. É cediço que a
experiência socialista/comunista soçobrou historicamente, restando, atualmente, poucas nações
que mantém o socialismo marxista (com ou sem razão, intitulam-se marxistas, como afirma como
justificador de seus Estados.
Karl Marx propôs o materialismo-histórico, expondo a perspectiva na qual a sociedade,
cerne da sua investigação, desenvolvia um permanente fluxo dialético, dinâmico, fundamentado
no conflito de classes sociais. Marx operava sua doutrina no campo da ruptura, da revolução, onde
a destruição da ordem anterior era necessária para o surgimento e instalação da nova ordem. Ele
considerava que as relações materiais travadas entre os indivíduos e as relações de produção
esteavam toda a conjuntura social. Marx pode ser considerado o grande teórico do capitalismo. Ao
iniciar com a premissa do materialismo histórico, a dissociação da sociedade em classes,
fundamentalmente determinadas em razão da posse de recursos econômicos (meios de produção)
originados da divisão social do trabalho, ou não. Surge a distinção entre proletariado e burguesia,
classes antagônicas, antitéticas que em conflito (revolução), colocarão fim ao Estado capitalista
dicotômico (burguesia/proletariado), ao regime de acumulação de capitais decorrente do
vilipêndio do trabalho proletário em virtude da mais valia (conceito derivado da análise do valor
seja de utilização ou troca do produto em relação ao valor pago ao trabalhador pela cessão de sua
força de trabalho).
Da relação entre fatores envolvidos nas relações de produção (modo de produção) decorre
o que Marx convencionou de “Estrutura” o que é possível convencionar e identificar sob a ótica
materialista. Pairando intangível sobre a “Estrutura” há o que Marx denominou de
“Superestrutura” que representa a reunião de toda produção imaterial dos atores envolvidos nas
relações de produção encerradas na estrutura e derivam, segundo ele, diretamente da forma como
estão estabelecidas as tais relações. Ao descrever as razões porque o Capitalismo estaria fadado ao
fracasso, Marx formula conceitos elementares relacionados com o processo de produção
capitalista: A alienação e o caráter fetichista da mercadoria ilustram o distanciamento entre o
trabalhador e a mercadoria produzida, e a impossibilidade da equivalência entre a mão-de-obra
despendida e o valor do produto.
3
O fato social de Durkheim
Para Émile Durkheim, era necessário delimitar o com precisão o objeto de estudo da
Sociologia - para que, sob uma ótica positivista, a sistematização empreendida a partir de então
fosse reconhecida perante à comunidade científica – ao elaborar “As regras do método
sociológico” estabelecendo as diretrizes basilares para a formulação das teorias sociológicas com
o mesmo rigor metodológico e em voga para a época dentre as ciências naturais.
Durkheim, muito embora previsse a imanência do método para o estabelecimento da
Sociologia, teceu vigorosas críticas ao trabalho de Spencer, afirmando que em toda sua obra
inexiste o rigor metodológico esperado na produção de conhecimento científico. Para Durkheim,
suas obras assentavam-se no campo da filosofia, e não das ciências sociais aplicadas. A
delimitação do objeto por Durkheim, o levou ao seguinte enunciado:
É fato social, toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior, ou ainda toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada e, ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independente de suas manifestações individuais.ii
Além de delimitar o fato social como objeto de estudo da Sociologia, Durkheim
estabeleceu em relação à sua observação requisitos formais que deveriam ser observados no
decurso da investigação científica sociológica. No segundo capítulo de sua obra, ele didaticamente
formulou a disciplina do método de observação dos fatos sociais: O fato social deve ser
considerado como coisa, onde novamente faz um paralelo entre a análise pré-sociológica de
Comte, acerca da observação do fato social, onde considera o fenômeno social como fato social, e
como tal reconhece seu estado de “coisa”, porém sua análise do fenômeno social partia do
pressuposto das ideias. A divisão do trabalho para Durkheim também é fato social que somente
pode ser compreendido por meio de outro fenômeno social, o da combinação do volume,
densidade material e moral da sociedade.
Durkheim vai na direção oposta, diferencia rigorosamente o fato social do campo das
ideias, para sua observação, o considerando exclusivamente como coisa; afastar as pré-noções iii é
também requisito essencial para que se proceda à observação do fato social, assim como deve-se
considerá-los por meio de suas características exteriores e independentemente de suas
manifestações individuais. O autor trata da dualidade dos fatos morais que, como fatos sociais,
podem ser analisados sob a perspectiva dualista do dever ou constrangimento e do bom ou
desejável. Durkheim observa ainda o fato social a partir da coesão social, onde ele vê a passagem
da solidariedade mecânica (sociedade por similaridade), para a solidariedade orgânica com
estrutura social mais apurada e mais coesa.
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Max Weber e os tipos ideais
A análise da perspectiva sociológica de Max Weber, em relação ao objeto de estudo da
sociologia pode ser percebido, ainda que não possa ser definido em termos de inversão total
ao materialismo histórico, em contraposição ao economista e filósofo Karl Marx, (alguns
autores apontam para os indícios de inspiração na filosofia de Nietzsche) e porque, para
Weber, os atores sociais não são mais pensados conforme a acepção de classes sociais
previstas por Marx, do contrário são considerados em sua individualidade, são fontes de
subjetividade ligadas a um tipo abstratamente considerado, puro.
Para Weber o objeto de estudo da sociologia é a compreensão das ações sociais, seus
antecedentes causais. Excluem-se das ações sociais, as ações imitativas, instintivas, ainda que
condicionadas por fatores exteriores correspondem à uma ação desprovida de nexo de
causalidade, e por tanto excluídas do conceito de ação social.
Nesse contexto, surge a construção teórica do "tipo ideal", que identifica
singularidades históricas, como o capitalista, o avarento, o político racional-legal ou o político
carismático. “Assim o personagem proporciona, enquanto tipo ideal, um conjunto articulado
de princípios racionais para a explicação das personalidades e ações”iv. É a partir dessa ação e
seus desmembramentos que Weber delimita o objeto de sua observação sociológica: a ação
social. Seja a ação permeada de conexões com sentido racional, ou não-racional.
A partir da delimitação do objeto de estudo, Weber aprofundou sistematicamente seus
estudos sobre poder, religiosidade e Estado. Com destaque para as reflexões críticas acerca da
burocracia. O capitalismo sob a ótica Weberiana era percebido por meio de uma ótica
racional, onde não era crível a decadência do capitalismo e sim seu aperfeiçoamento por meio
da burocracia racionalista, Weber previa, com suas reflexões impregnadas de
desencantamento do mundo, em decorrência da intensa racionalização do mundo, o
estabelecimento da burocracia racional como possibilidade de estabelecimento de uma
“ditadura” do funcionário público. Desse contexto exsurge a figura da liderança carismática,
de caráter político ou religioso, responsável por induzir comportamentos às camadas menos.
Ainda assim em termos de eficiência e racionalidade, Weber era defensor desse modelo
democrático.
A religiosidade também foi presente na temática weberiana como objeto de estudo.
Sua investigação da ética protestante resultou em um refinamento da abordagem
metodológica do estudo sociológico do fenômeno religioso. Weber buscava relacionar:
5
Max Weber quis demonstrar principalmente a afinidade intelectual e existencial entre uma interpretação do protestantismo e determinada conduta econômica. Esta afinidade entre o espírito do capitalismo e a ética protestante torna inteligível o modo como uma forma de conceber o mundo pode orientar a ação.
Considerações finais
Dos pontos de tangência entre a produção científica dos teóricos da sociologia
abordados, é relevante apontar na direção da importância histórica e epistemológica que esses
autores possuem na história da Sociologia no esforço travado em busca da delimitação do
objeto de estudo dessa ciência, ainda que cada um em seu viés.
Tanto Marx, Durkheim quanto Weber foram cientistas sociais que traduziram em suas
obras as influências dos referenciais teóricos dos seus antecessores assimiladas diante da
complexa conjuntura social, política, econômica e religiosa da transição entre os séculos XIX
e XX.
A insuficiência dos modelos apresentados, nessas doutrinas sociológicas consideradas
clássicas, representa para a sociologia moderna o ímpeto propulsor para a inovação, para a
criação de novos postulados, moduladores da evolução do conhecimento científico. Se Marx
não obteve sucesso em suas previsões de futuro, suas formulações teóricas são amplamente
debatidas na pós-modernidade, alvo de intensa investigação sociológica, possível graças ao
rigor metodológico introduzido por Durkheim para o estudo da Sociologia.
As dicotomias previstas nos modelos propostos tanto por Durkheim quanto por Marx,
são alvo de críticas de relevante valor para o desenvolvimento da ciência sociológica. Tanto
as polarizações aduzidas pelo materialismo histórico, quanto a dicotomia exaustivamente
verificada nas obras de Durkheim, onde indivíduo e sociedade correspondem a planos
distintos da análise científica, geraram modelos que não respondem aos questionamentos
propostos pela ciência social na atualidade.
Weber pode ser observado numa direção oposta à de Marx, quando fundamenta sua
doutrina no indivíduo como ponto de partida, suas ações impregnadas de sentido,
contextualizando a necessidade de investigar a sociedade a partir do indivíduo e das
incontáveis possibilidades de resultados advindos dessa observação. Weber não compreendia
as estruturas formuladas anteriormente aos indivíduos, e atribuía a ele o grande peso de agente
transformador da história, maior que as instituições e maior ainda que o próprio processo
histórico. Weber, ao contrário de Marx não apostou no fim do capitalismo, do contrário, suas
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teorias sobre a Burocracia são o veículo mais acessível para a compreensão sociológica do
Estado Moderno.
Notas.
7
i ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. 5. ed. São Paulo: Martin Fontes, 1999. p.11.ii DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. P.13.iii DURKHEIM, Émile. op.cit. p. 29.iv ARON, Raymond. op.cit.p.115.
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