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Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Relatório de Pesquisa
[versão com gráficos e figuras]
< Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir
da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia >
Edital MCT/CNPq/SPM-PR/MDA Nº 57/2008
< Coordenadora: Anatália Saraiva Martins Ramos >
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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RESUMO
O campo de conhecimento sobre a adoção de tecnologia de informação (TI) e
sistemas de informação (SI) configura-se como um desafio importante para a gestão de
tecnologia nas organizações e uma área relevante para pesquisas em Administração.
Diversos temas sobre mulher e TI, sob a influência ou não do feminismo, têm sido
investigados, tais como a divisão social do trabalho, a cultura de gênero da TI e as suas
esferas de atuação. Os estudos existentes vão desde um foco mais computacional,
psicológico e de gestão, mas ainda há pouca teorização sobre gênero na pesquisa em TI/SI.
A revisão da literatura mostrou que homens e mulheres possuem comportamentos
diferentes diante da tecnologia. Entretanto, estas diferenças de comportamento nem sempre
são as mesmas, variando de uma TI e cultura para outra. Além disso, ainda não há um
consenso se as diferenças de gênero são provenientes da formação biológica ou de
influências sociais. À luz dessa problemática, a pesquisa teve como objetivo investigar o
processo de adoção de TI sob a perspectiva de pressupostos teóricos da UTAUT,
abordagem teórica sobre aceitação de tecnologias e de difusão de inovações, na percepção
de gênero. Através de construtos comportamentais, intrínsecos e extrínsecos, buscou-se
entender os fatores influenciadores da intenção de continuar a usar FLOSS (Free Libre
Open Source Software), que são softwares livres e abertos (SL). Quanto aos aspectos
estruturais da investigação, a pesquisa é de natureza exploratória e descritiva. Em relação à
lógica de interpretação, a investigação teve uma abordagem quanti-qualitativa. Foram
empregados métodos estatísticos, tais como análises descritivas, teste de qui-quadrado e
de Mann-Whitney e modelagem de equações estruturais (SEM) por estimativa por mínimos
quadrados parciais (PLS). Quanto aos métodos de pesquisa qualitativa, foi realizada a
análise de conteúdo, especificamente a análise categorial. Para auxiliar a análise qualitativa
dos dados, foi utilizado o software Atlas/ti. Como procedimento de coleta de dados, foram
aplicados dois instrumentos do tipo websurvey. No caso da análise quantitativa, foi aplicado
um questionário estruturado com questões fechadas, o qual foi respondido por 406
participantes, com 257 respondentes tendo sido selecionados, de acordo com o critério
adotado para a amostra. Na pesquisa qualitativa, fez-se uso de um segundo questionário
contendo perguntas abertas, com 217 respondentes. Ambos os questionários foram
aplicados através da Internet, utilizando a ferramenta de pesquisa do surveymonkey.com.
As respostas foram realizadas com o livre consentimento prévio dos participantes, de forma
a garantir que questões éticas fossem observadas no processo da pesquisa. Como universo
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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da pesquisa, foram escolhidos prioritariamente participantes de comunidades de software
livre atuantes no Brasil, e o critério de amostra foi não probabilístico. Ambos os resultados
das pesquisas quantitativa e qualitativa corroboraram os pressupostos teóricos, concluindo
que fatores cognitivos, sociais, organizacionais e técnicos, como expectativa de
desempenho, expectativa de esforço, influência social e condições facilitadoras, foram
importantes preditivos da intenção de continuar a utilizar SL, embora não indistintamente
impactando homens e mulheres. A inclusão de um construto novo no modelo teórico de
adoção de TI, relacionado com o engajamento político e ideológico, também se mostrou
relevante e apto a futuros avanços rumo a uma nova teorização. As contribuições derivadas
do estudo poderão auxiliar na conscientização das diferenças substantivas de gênero na
adoção de TI, especialmente para sistemas abertos e livres. Espera-se que a compreensão
dos fatores que afetam a adoção de SL possa favorecer políticas públicas e ações
empresariais, notadamente quanto ao objetivo de maior difusão do uso de tecnologias livres
pelas mulheres, usuárias crescentes de tecnologias de informação tanto no ambiente de
trabalho quanto no seu lazer.
PALAVRAS-CHAVE: ADOÇÃO DE TECNOLOGIA; ACEITAÇÃO DE TECNOLOGIA
DE INFORMAÇÃO; UTAUT; SOFTWARE LIVRE; FLOSS; GÊNERO; MULHERES.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Distribuição da faixa etária por sexo ........................................................................ 76
Tabela 2: Distribuição da amostra por ocupação profissional ................................................. 78
Tabela 3: Experiência com TI ................................................................................................... 79
Tabela 4: Experiência com instalação de SO livres ................................................................. 80
Tabela 5: Níveis de experiência com TI e SL por gênero ........................................................ 80
Tabela 6: Resultados descritivos da Expectativa de desempenho pelo uso do SL ................. 84
Tabela 7: Expectativa de desempenho entre gêneros ............................................................. 86
Tabela 8: Resultados descritivos da expectativa de esforço pelo uso do SL .......................... 87
Tabela 9: Expectativa de esforço entre gêneros ...................................................................... 89
Tabela 10: Resultados descritivos da Influência social pelo uso do SL .................................. 90
Tabela 11: Percepção da influência social entre gêneros ....................................................... 92
Tabela 12: Condições facilitadoras e visão ideológica sobre SL ............................................. 93
Tabela 13: Comparação de condições facilitadoras e visão ideológica entre os sexos .......... 93
Tabela 14: Intenção de uso futuro de SL ................................................................................. 93
Tabela 15: Comparação de intenção de uso por sexo ............................................................ 94
Tabela 16: Fatores determinantes para maior utilização de SL ............................................... 95
Tabela 17: Fatores influenciadores do uso de SL por sexo ..................................................... 97
Tabela 18: Fatores influenciadores do uso de SL entre usuários de SL mais experientes ..... 98
Tabela 19: Resultados do modelo de mensuração (amostra de homens) ............................ 100
Tabela 20: Resultados do modelo de mensuração (amostra de mulheres) .......................... 100
Tabela 21: Matriz de cargas cruzadas – amostra de homens .............................................. 101
Tabela 22: Matriz de cargas cruzadas – amostra de mulheres ............................................ 102
Tabela 23: Matriz da variância média explicada (AVE) – amostra homens .......................... 103
Tabela 24: Matriz da variância média explicada (AVE) – amostra mulheres ........................ 103
Tabela 25: Preditores da Intenção de continuar o uso de SL (homens) ................................ 106
Tabela 26: Preditores da Intenção de continuar o uso de SL (mulheres) .............................. 106
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Tabela 27: Distribuições de SL mais citados ......................................................................... 109
Tabela 28: Distribuições de SL citadas por mulheres e homens ........................................... 113
Tabela 29: Códigos gerados da atratividade de mulheres para o SL .................................... 115
Tabela 30: Motivos que levam os usuários a não adotarem integralmente o SL .................. 122
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LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Comparação da faixa etária por sexo ...................................................................... 77
Gráfico 2: Comparação do tipo de ocupação profissional por sexo ........................................ 79
Gráfico 3: Comparação da experiência no uso de TI por sexo ................................................ 81
Gráfico 4: Comparação do nível de experiência com SL por sexo .......................................... 82
Gráfico 5: Expectativas de performance agrupadas por gênero através de Box plot.............. 85
Gráfico 6: Expectativas de esforço agrupadas por gênero através de Box plot ...................... 88
Gráfico 7: Influência social (Box plot) ....................................................................................... 91
Gráfico 8: Fatores determinantes do uso de SL por sexo ........................................................ 96
Gráfico 9: Motivadores de não adoção de SL segmentado por sexo .................................... 124
Gráfico 10: Fatores influenciadores da não adoção de SL exclusivo .................................... 125
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Campos de estudo para o assunto Gênero e Tecnologia ...................................... 23
Quadro 2: Modelos teóricos presentes na UTAUT .................................................................. 30
Quadro 3: Construtos, definições e fonte bibliográfica da UTAUT .......................................... 32
Quadro 4: Construtos e significados da TRA ........................................................................... 34
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT) ................................ 31
Figura 2: Teoria da Ação Racionalizada .................................................................................. 34
Figura 3: Teoria do Comportamento Planejado (TPB) ............................................................. 35
Figura 4: Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM) .............................................................. 37
Figura 5: Extensão do TAM (TAM2) ......................................................................................... 38
Figura 6: Cálculo do poder estatístico (teste post hoc) ............................................................ 74
Figura 7: Tamanho do efeito do R2 (teste de sensibilidade) .................................................... 75
Figura 8: Modelo de Mensuração dos dados da amostra dos homens ................................. 104
Figura 9: Modelo de Mensuração dos dados da amostra de mulheres ................................. 105
Figura 10: Expectativa de desempenho como fator de atratividade para o SL ..................... 116
Figura 11: Expectativa de Esforço como fator de atratividade para o SL .............................. 119
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇAO ....................................................................................................................... 11
1.1 OBJETIVOS ..................................................................................................................................... 14
2. REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................................... 16
2.1 QUESTÃO DO GÊNERO EM PESQUISAS SOBRE TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO .................................................. 16
2.1.1 Conceito de gênero ............................................................................................................... 16
2.1.2 Gênero e tecnologia .............................................................................................................. 19
2.1.3 Estudos sobre adoção de SI abordando gênero .................................................................... 23
2.2 ADOÇÃO DE TECNOLOGIA E A TEORIA UNIFICADA DE ACEITAÇÃO E USO DA TECNOLOGIA (UTAUT) .................. 28
2.2.1 As bases teóricas da UTAUT .................................................................................................. 29
2.2.1.1 Teoria da Ação Racionalizada (TRA) ............................................................................................... 33 2.2.1.2 Teoria do Comportamento Planejado (TPB) .................................................................................. 35 2.2.1.3 Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM) ................................................................................... 36 2.2.1.4 Extensão do TAM ........................................................................................................................... 37 2.2.1.5 Modelo Motivacional (MM) ........................................................................................................... 40 2.2.1.6 Teoria da Difusão da Inovação (IDT) .............................................................................................. 41 2.2.1.7 Modelo de Utilização do PC (MPCU) .............................................................................................. 42 2.2.1.8 Teoria Social Cognitiva (SCT) .......................................................................................................... 42
2.3 SOFTWARE LIVRE ............................................................................................................................... 43
2.3.1 Histórico e conceito ............................................................................................................... 44
2.3.2 Software livre no Brasil ......................................................................................................... 49
2.3.3 Estudos sobre Adoção do software livre ............................................................................... 50
3. METODOLOGIA ..................................................................................................................... 57
3.1 TIPOLOGIA DO ESTUDO ....................................................................................................................... 57
3.2 ETAPAS DO ESTUDO ............................................................................................................................ 57
3.3 UNIVERSO E AMOSTA .......................................................................................................................... 60
3.4 MATERIAIS E MÉTODOS DA PESQUISA QUANTITATIVA ................................................................................ 60
3.4.1 Análise descritiva dos dados ................................................................................................. 61
3.4.2 Análise inferencial dos dados ................................................................................................ 62
3.5 MATERIAIS E MÉTODOS DA PESQUISA QUALITATIVA .................................................................................. 64
3.5.1 Análise de conteúdo .............................................................................................................. 64
3.5.2 Aplicação da informática na análise qualitativa de dados (CAQDAS) .................................. 65
3.5.3 Software Atlas/ti ................................................................................................................... 66
3.5.4 Operacionalização da análise qualitativa ............................................................................. 68
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4. RESULTADOS DA ANÁLISE QUANTITATIVA .................................................................................. 72
4.1 ANÁLISES PRELIMINARES ..................................................................................................................... 72
4.1.1 Preparação dos dados ........................................................................................................... 72
4.1.2 Verificação do poder estatístico e tamanho do efeito .......................................................... 73
4.2 PERFIL DEMOGRÁFICO DA AMOSTRA ...................................................................................................... 76
4.3 PERFIL DE EXPERIÊNCIA COMPUTACIONAL DE TI E SL ................................................................................. 79
4.4 PERCEPÇÕES SOBRE A UTILIZAÇÃO DE SOFTWARES LIVRES ........................................................................... 84
4.4.1 Expectativa de desempenho ................................................................................................. 84
4.4.2 Expectativa de esforço .......................................................................................................... 86
4.4.3 Influência social .................................................................................................................... 89
4.4.4 Outros fatores antecedentes ................................................................................................ 92
4.4.5 Intenção de uso futuro de SL ................................................................................................. 93
4.5 FATORES DETERMINANTES PARA MAIOR USO DE SOFTWARE LIVRE ................................................................ 94
4.6 ANÁLISE POR MODELAGEM DE EQUAÇÕES ESTRUTURAIS POR ESTIMAÇÃO POR MÍNIMOS QUADRADOS PARCIAIS .... 99
4.6.1 Verificação do modelo de mensuração ................................................................................. 99
4.6.2 Avaliação do modelo estrutural .......................................................................................... 103
5. RESULTADOS DA ANÁLISE QUALITATIVA ............................................................................. 108
5.1 SISTEMAS OPERACIONAIS BASEADOS EM SOFTWARES LIVRES MAIS UTILIZADOS ............................................. 108
5.2 FATORES DE ATRATIVIDADE DE MULHERES PARA A COMUNIDADE DE SL ....................................................... 114
5.2.1 Expectativa de desempenho ............................................................................................... 116
5.2.2 Expectativa de esforço ........................................................................................................ 118
5.3 FATORES INFLUENCIADORES DA NÃO ADOÇÃO EXCLUSIVA DE SL ................................................................ 120
6. CONCLUSÕES DO ESTUDO ................................................................................................... 127
7. BENEFÍCIOS ALCANÇADOS ................................................................................................... 130
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 131
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO 1 – QUESTÕES FECHADAS .............................................................. 146
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO 2 – QUESTÕES ABERTAS ................................................................ 150
APÊNDICE C – GRÁFICOS E TABELAS DESCRITIVOS ........................................................................ 153
APÊNDICE D – TESTE DE KOLMOGOROV‐SMIRNOV NAS VARIÁVEIS DE INTERESSE ........................ 157
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1. INTRODUÇAO
As tecnologias de informação e comunicação (TIC) têm transformado as
atividades e as práticas organizacionais. Embora haja um intenso e contínuo
desenvolvimento tecnológico impulsionando o mercado, as novas tecnologias nem
sempre são adotadas de imediato. O campo do conhecimento que se preocupa com
estas questões é o da Adoção de Tecnologia de Informação (TI).
Em termos de TI, tem sido identificada uma paulatina difusão de softwares
livres (SL) no cotidiano das organizações e usuários domésticos. O SL é aquele
software disponibilizado, de forma gratuita ou não, com as premissas de liberdade
de instalação, plena utilização e acesso ao código fonte (Pinheiro, 2003). Seja em
forma de aplicativos gráficos, utilitários, multimídia, sistemas operacionais para
computadores pessoais, finanças, gestão de projetos, desenvolvimento de
softwares, internet, educação e muitos outros, o fato é que hoje, aqueles que
possuem algum contato com a tecnologia da informação (TI), muitas vezes utilizam
sistemas baseados em SL, mesmo sem saber que estão utilizando.
No campo de Sistemas de Informação (SI) e na área de educação
computacional, as diferenças de gênero com relação às crenças, atitudes, intenções,
comportamentos frente à adoção de sistemas tecnológicos e expectativas de auto-
eficácia para com a TI representam um assunto relevante.
Buscar compreender os fatores que poderão influenciar os indivíduos e as
organizações quanto ao processo de tomada de decisão de adotar ferramentas
tecnológicas e, ao mesmo tempo, difundi-las, pode auxiliar em estratégias
organizacionais que visem, por exemplo, aumentar o interesse das mulheres, em
especial, por assuntos computacionais, participação em ambientes virtuais de
aprendizagem (AVA), escolha por carreiras centradas em ciências exatas e até
mesmo o uso de computadores em um ambiente de trabalho futuro.
Na literatura de Sistemas de Informação, vários estudos têm proposto
modelos que ajudam a predizer qual comportamento é esperado por partes dos
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indivíduos frente à gama de tecnologias hoje ofertadas. A produção científica
mundial neste campo é muito vasta, pois tem evoluído ao longo de quatro décadas.
Os estudos sobre adoção, aceitação e difusão de tecnologia têm sido focados tanto
no campo organizacional como em nível de indivíduo, além de serem aplicados nas
mais diferentes tecnologias e ambientes organizacionais por pesquisadores de
diferentes nacionalidades. Há uma grande variedade de modelos e variantes de
modelos comportamentais que buscam entender este fenômeno.
A pesquisa utilizou a Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia
(UTAUT) o mais recente modelo teórico na área de SI para explicar o processo de
adoção de novas tecnologias, em particular os softwares baseados em código
aberto – conhecido como software livre. Esta abordagem foi escolhida por sua
integração metodológica e por ser mais recente sobre a adoção de tecnologia e
sistemas de informação. Sendo assim, entende-que a UTAUT poderá responder às
questões de pesquisa com mais propriedade, poder explicativo e relevância
acadêmica que os demais modelos encontrados na literatura de sistemas de
informação.
A Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT) foi criada por
Venkatesh, Morris, Davis e Davis (2003) e contribuiu para o avanço da pesquisa
sobre a aceitação individual da TI, unificando as perspectivas teóricas mais
difundidas na literatura e incorporando moderadores para controlar as influências do
contexto organizacional, a experiência do usuário e as características demográficas,
em particular a questão do gênero. A UTAUT está sendo gradativamente validada e
aceita no meio acadêmico.
Seu framework é constituído por alguns elementos presentes em oito modelos
que trabalham com a aceitação da tecnologia: a Teoria da Ação Racionalizada
(TRA); o Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM); o Modelo Motivacional (MM); a
Teoria do Comportamento Planejado (TPB); a combinação entre a TAM e TPB; o
Modelo de Utilização do PC (MPCU), a Teoria da Difusão da Inovação (IDT) e a
Teoria Social Cognitiva (SCT).
A pesquisa buscou entender o processo de adoção de plataformas
tecnológicas baseadas em linguagens de código aberto e software livre,
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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especialmente quanto à atitude e comportamento do(a) usuário(a) com relação a
esta tecnologia e sua relação com gênero. Esse estudo utilizou os pressupostos da
UTAUT, buscando uma convergência e sistematização teórica. Além disso,
incorporou novos construtos e relações, a fim de tentar explicar as limitações
encontradas nesse modelo teórico aplicado no contexto do uso de software livre.
Apesar de sua rica bibliografia, nas pesquisas nacionais em SI praticamente
não se tem sido investigado o fenômeno da aceitação e uso de tecnologia sob a
ótica das questões de gênero. Desta maneira, o fenômeno da aceitação de TI e sua
relação com a variável ‘gênero’ é merecedor de esforços de investigação e de
extensão dos construtos originais. Além do fato de haver pouca publicação que
aborde a questão de diferença entre gêneros na adoção de TI, um estudo desta
natureza justifica-se, tanto pelo aspecto da lacuna a ser preenchida no âmbito
nacional, como pelo fato de que é necessário comprovar a totalidade do referido
modelo em ambientes e culturas diversas aos de estudos internacionais.
Por conseqüência, o campo de conhecimento sobre a adoção de software
livre e os impactos para as mulheres, em especial, configura-se como um desafio
para a gestão de tecnologia nas organizações e uma área relevante para pesquisas
acadêmicas em Administração, visto que a compreensão dos fatores que afetam
esta adoção facilitará políticas públicas e ações empresariais, no sentido de obter
uma maior difusão de seu uso pelas mulheres, usuárias crescentes de tecnologias
de informação tanto no ambiente de trabalho quanto no seu lazer.
À luz deste contexto, o problema de pesquisa investigado foi: Quais são as
diferenças entre gêneros em relação à adoção do software livre (SL) à luz da teoria
unificada de aceitação e uso da tecnologia?
A pesquisa contribuiu para preencher uma lacuna acadêmica, já que são
poucos os estudos com características metodológicas mais explanatórias,
especialmente testando modelos teóricos em pesquisas na área de sistemas de
informação e sua relação com o gênero. Sua relevância científica reside em seu
caráter incremental, por adicionar novas informações e avançar o conhecimento na
área, principalmente no contexto nacional. Os resultados da pesquisa proposta
poderão contribuir para o avanço da pesquisa sobre a aceitação individual da TI,
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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unificando as perspectivas teóricas mais difundidas na literatura e incorporando
moderadores para controlar as influências do contexto organizacional, a experiência
do usuário e as características de gênero na adoção de SL.
Outra razão da realização da presente pesquisa é a sua aplicação em um
campo econômico da indústria de software, valorizado pelas instâncias decisórias
nas esferas executivas do setor público federal, que é o open source ou software
livre. Quanto aos benefícios potenciais para a sociedade brasileira, estudos que
visem compreender os fatores intervenientes da adoção de TI baseadas em
plataformas abertas (open source based) e as diferenças de percepção e
estratégias de uso desenvolvidas pelos indivíduos permitirão potencialmente um
melhor aproveitamento dos recursos desta tecnologia, fornecendo subsídios para
formulação de estratégias de difusão do software livre. O estudo terá, portanto,
sintonia com as novas diretrizes do atual governo federal sobre a adoção de
sistemas de código aberto, colaborando para a redução de custos de aquisição, o
acesso ao código fonte, a redução da dependência tecnológica e o favorecimento de
cultura de colaboração e de conhecimento livre.
1.1 OBJETIVOS
Esta pesquisa testou construtos que explicam a adoção das tecnologias de
informação, na percepção de mulheres e homens, buscando aplicar um modelo de
pesquisa que integre os pressupostos teóricos sobre adoção, uso e aceitação de
tecnologias e de difusão de inovações. A fim de responder ao problema da pesquisa,
os objetivos específicos são:
Realizar uma revisão de literatura exaustiva, sistemática e abrangente sobre
modelos teóricos de adoção, aceitação e uso de TI, para desenho do estado
da arte sobre o assunto;
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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Compreender as especificidades do processo de adoção e uso de software
livre e sistemas abertos por parte dos indivíduos, tendo em vista a
identificação de fatores comportamentais, organizacionais, intrínsecos e
extrínsecos e suas características de adotantes e não adotantes;
Propor e implementar um modelo que busca integrar os fatores que afetam a
adoção do software livre segundo as diferenças de gênero e outras variáveis
preditivas e/ou moderadoras, relativas às características demográficas e
cognitivas.
A pesquisa está delimitada ao nível do usuário doméstico e não focalizou o
contexto organizacional da adoção de tecnologias livres.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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2. REFERENCIAL TEÓRICO
A seguir são abordados os tópicos principais relacionados ao estudo,
iniciando com o conceito de gênero e as relações de gênero e tecnologia. Em
seguida, é apresentada a Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia
(UTAUT), a qual foi utilizada como um framework que identifica os fatores que
afetam a adoção do software livre. São discutidos alguns aspectos contextuais e
teóricos sobre o software livre e, ao final desse capítulo, é apresentado o modelo de
pesquisa.
2.1 Questão do gênero em pesquisas sobre tecnologia de informação
Este tópico está dividido em três seções. A primeira discute o conceito de
gênero e traça um breve histórico da sua presença nos estudos sociais, aborda a
questão do gênero no campo dos estudos sociais da tecnologia e finaliza com a
apresentação de uma revisão de literatura sobre estudos onde a problemática de
gênero está presente na adoção de sistemas e tecnologia de informação.
2.1.1 Conceito de gênero
A diferença de comportamento entre homens e mulheres e sua relação com a
tecnologia tem sido ao longo do tempo objeto de investigação por parte de
pesquisadores de diversas áreas de conhecimento. Para Bevacqua et al. (1995),
pode-se considerar gênero como uma forma primária de dar significado às relações
de poder e, assim sendo, fornece um meio de decodificar o significado das
complexas conexões entre as várias formas de interação humana.
Scott (1995) apresenta um panorama de como a palavra ‘gênero’ vem
sofrendo modificações na sua definição, concluindo que a codificação de gênero de
certos termos estabelecia e naturalizava seus significados, reproduzindo-se e
integrando-se na sociedade, em contextos historicamente específicos.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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Rocha (2006), falando sobre a retrospectiva da palavra “gênero”, diz que esta
encontra espaço próprio e amplo nos contextos acadêmicos, principalmente a partir
das décadas de 1960 e 1970, de forma mais intensa, como tentativa de terminologia
alternativa ao invés de se utilizar “sexo”, palavra que está atrelada historicamente
aos primórdios do movimento feminista e suas perspectivas teóricas.
Os estudos sobre gênero têm sido desenvolvidos em duas divergentes
abordagens explicativas. Na abordagem essencialista, os cientistas atribuem as
diversidades à questão biológica, afirmam que os comportamentos diferentes são
reflexos da formação cerebral do indivíduo. Uma das explicações dada é que como
os feixes de nervos que ligam os dois lados do cérebro masculino são mais finos, os
homens utilizam normalmente um hemisfério cerebral na resolução de problemas,
empregando, portanto, uma abordagem linear. Nas mulheres, a conexão entre o
hemisfério direito e esquerdo não é estreita, o que faz com que suas respostas
sejam mais holísticas (ADAM, 2005). Este é tradicionalmente o discurso biológico.
Para Haraway (1991, apud PISCITELLI, 1997), na distinção sexo/gênero, o sexo
seria um "recurso" para sua re-(a)presentação como gênero, integrando-se, assim,
na linhagem generativa do binômio natureza/cultura e embasado pela mesma lógica
de apropriação da dominação.
O pensamento feminista entende que as diferenças entre os gêneros teriam
sido construídas por uma sociedade cujos principais papéis foram reservados aos
homens. Esta dominação masculina terminou por instituir convenções que deveriam
ser seguidas pelos membros do sexo feminino, as quais eram perpetuadas pelos
sistemas jurídico e educacional (ADAM, 2005). Assim, as identidades de gênero são
consideradas construtos sociais e recebem influências culturais e/ou contingências
históricas. Esta visão defende que as desigualdades entre homens e mulheres
existem em muitos aspectos da vida, e há possibilidade de mudança pela atuação
da política. Ainda conforme Adam (2005), a esperança de mudança existe na
medida em que se compreendam as estruturas opressoras e alienantes que levaram
ou levam a esta situação de desigualdade ou de diferença entre gêneros.
Não cabe aqui neste breve espaço toda uma discussão aprofundada do
conceito de gênero, tanto pela sua complexidade como por ainda não haver um
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consenso sobre o mesmo. Na produção teórica feminista contemporânea há muita
ambivalência sobre os conceitos de gênero. As posturas de algumas autoras que
discutem o conceito de gênero são extremamente variadas, segundo Piscitelli (1997,
p. 50-51):
Elas oscilam entre realizar uma crítica a várias das ideias associadas à
distinção sexo/gênero, procurando saídas sem abandonar, porém,
princípios associados à noção de gênero, ou, ao contrário, desistir dele,
pensando-o como par inseparável numa distinção binária. Este movimento,
que questiona o conceito de gênero, está, por seu lado, associado a uma
reelaboração, muitas vezes conflitiva, dos pressupostos teóricos e políticos
feministas.
No entendimento de Rocha (2005), as mulheres (assim como os homens) são
múltiplas; têm interesses distintos e diferenciados; não têm necessariamente
valores, antecedentes, comportamentos e/ou hábitos em comum; provêem de
diversas camadas sociais, raças, etnias, orientações e opções sexuais, gerações,
países, o que implica em variadas e diversificadas histórias de vida, e lhes
proporciona conhecimentos situados sócio-historicamente. Suas experiências de
vida, através de suas inúmeras relações pessoais, sociais, culturais e políticas
expressam sua diversidade.
Harding (1986 apud BALKA, 2009), estudando o papel da mulher na Ciência,
distingue três aspectos de gênero: a) estrutura do gênero, que significa a divisão
sexual do trabalho; b) identidade de gênero é igualmente uma projeção, ou seja,
como individualmente nos vemos e como outros nos percebem, seja um ‘retrato’
real, potencial ou desejado, como também uma subjetividade, visto que nossa
identidade é criada e vivenciada como um indivíduo; e c) gênero simbólico, que
envolve representações e significados, podendo ser visto duplamente como relação
e processo. A autora alerta que não se deve negligenciar essas facetas do gênero.
Essa articulação sobre o conceito de gênero que Sandra Harding desenvolveu
no lócus do meio científico pode servir apropriadamente para o nosso contexto do
software livre. Desde a década de setenta, os estudos que abordam a mulher na
ciência são um paralelo importante para os que estudam a mulher e a tecnologia e
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
19
vice-versa, visto que ambos os campos compreendem a questão de gênero como
construções sociais.
Por fim, duas delimitações conceituais assumidas no contexto desta pesquisa.
Como alerta Wilson (2004), gênero é uma questão presente ainda quando as
mulheres estão ausentes, ou seja, falar de gênero não deve ser igualado a falar de
mulheres. No presente estudo, no entanto, as mulheres estão no foco principal da
análise de gênero. Além disso, ressaltamos que na apresentação dos resultados o
conceito de gênero assume conteúdo específico, neste caso, nos valemos do termo
sexo para ser trabalhado como categoria empírica para gênero. Acreditamos que
estamos amparadas na visão de Piscitelli (1997, p.65) quando afirma: “não importa
como o sexo, a Biologia e a natureza sejam pensados localmente, o gênero sempre
mantém sua relação com a referência sexual”.
2.1.2 Gênero e tecnologia
No que refere à perspectiva feminista na tecnologia, esta tem sido
frequentemente problematizada. Nos anos 80, de acordo com Wood (2005), as
feministas dirigiram sua atenção para o caráter de gênero da tecnologia.
A partir das contribuições do campo de Estudos Sociais da Tecnologia (EST),
as feministas desenvolvem um novo marco analítico que permite compreender as
complexas relações entre gênero e tecnologia e suas inevitáveis contradições,
fugindo dos limites colocados pelo determinismo tecnológico (VASCONCELLOS;
VELHO, 2010).
Bush (1983) possibilitou a compreensão de como as mulheres perdem terreno
em relação aos homens com a introdução de novas tecnologias, atribuindo como
razões para tal as forças macrossociais, como a ideologia patriarcal e o capitalismo.
Como comprovou Wajcman (1991, apud WOOD, 2005), em vez de indagar como
conseguir que as mulheres recebam um tratamento mais eqüitativo dentro e por
parte de uma tecnologia neutra, muitas feministas sabem que a tecnologia ocidental
em si mesma encarna os valores patriarcais.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
20
Todavia, segundo Balka (2009), essa abordagem macro dá poucas pistas
sobre como essas relações sociais são promulgadas a um nível micro, ou seja, no
cotidiano, em múltiplos contextos organizacionais, em relação a tecnologias
específicas e em diferentes épocas e lugares.
Dentro da literatura de gênero dentro do campo de sistemas de informação
(SI), de acordo com Adam (2005), muitos trabalhos focam na proporção de homens
e mulheres que atuam neste campo. Outros ainda têm interesse em focar na pouca
presença de mulheres na indústria da TI, especialmente nos cargos mais elevados.
Adam (2005) salienta que deve-se ir além de discutir as estatísticas sobre a
igualdade, e ir na direção de construir melhores análises e explicações sobre as
diferenças entre homens e mulheres na área de tecnologia de informação.
Faulkner (2001) nos mostra que há várias expressões que as feministas se
reportam quando abordam o tema tecnologia. Uma delas é a “mulheres na
tecnologia”, que se preocupa com a escassez de mulheres no setor; a outra é
“mulheres e tecnologia”, onde são observadas as influências das tecnologias na vida
das mulheres, com duas posições divergentes, uma mais otimista e outra
pessimista, a qual mostra frequentemente a tecnologia como ligada ao patriarcado e
aos valores masculinos; e, mais recentemente, a corrente que denomina-se “gênero
e tecnologia”. Esta última entende ambos os conceitos como sendo socialmente
construídos e pode, em consequência, ser reconstruídos. Desta forma, por
concordamos com a pertinência do termo, a adotamos na presente pesquisa.
Faulkner (2001) buscou elaborar um amplo framework desenvolvido nos
estudos feministas sobre tecnologia, para tentar responder, de forma teórica, como a
tecnologia é permeada pelo gênero. Foram cinco as conclusões da autora:
1. A tecnologia é mergulhada em gênero porque os atores-chave,
especialmente na concepção de novos artefatos tecnológicos e sistemas, são
predominantemente homens;
2. Existem divisões de trabalho em torno da tecnologia guiada pelo gênero,
baseada em parte numa equação entre masculinidade e habilidade técnica;
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
21
3. Os artefatos tecnológicos são ligados a gênero, tanto a nível material como
simbólico, embora muitas vezes haja uma considerável flexibilidade
interpretativa na sua utilização;
4. As imagens culturais de tecnologia estão fortemente associadas com a
masculinidade hegemônica, embora haja um descompasso enorme entre a
imagem e a prática;
5. O menor detalhe de conhecimento técnico e prático é de gênero, embora
de maneiras complexas e contraditórias;
6. Estilos de trabalho técnico podem ser um pouco de gênero, embora haja
fortes pressões normativas para moldá-lo;
7. A tecnologia é um elemento importante na identidade de gênero de homens
que trabalham e se divertem com as tecnologias.
Kelan (2009) defende uma abordagem construtivista para gênero, tecnologia
e trabalho. Através dos resultados da sua pesquisa, elucidou que gênero pode ser
algo flexível, dinâmico e fluido. Para a autora, embora ainda exista um abismo entre
as mulheres e a tecnologia, os estereótipos sobre mulheres e tecnologia têm sido
redefinidos e a tendência é que este relacionamento mude cada vez mais. Ela
exemplifica esta mudança de paradigma com alguns fatos, como por exemplo, o
número de internautas do sexo feminino não estar mais atrás do de homens, e as
mulheres serem presenças mais freqüentes nas redes sociais.
Outro aspecto importante é a análise cultural da tecnologia. Para Wood (2005,
p.46):
Existe uma diferença fundamental entre a perspectiva de “tecnologia como
cultura” e os numerosos estudos sobre a tecnologia e a mulher que falam
da cultura masculina da tecnologia e insistem nas formas como os homens
e meninos dominam o desenho e o uso das tecnologias, na linguagem
utilizada, que reflete seus interesses e prioridades, e no modo em que se
excluem as mulheres, limitando sua participação no âmbito da tecnologia.
Na análise cultural da tecnologia, as tecnologias são “produtos culturais”,
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
22
“objetos” ou “processos” que adquirem significado através da
experimentação cotidiana.
A visão da tecnologia como cultura se coaduna com a construção social da
tecnologia (CST), onde os significados tecnológicos são construídos, rechaçando o
determinismo tecnológico. Para Wilson (2004), a perspectiva cultura entende que
gênero e tecnologia são ambos construções sociais. Henwood (1993 apud WOOD,
2005) conclama a continuar pesquisando nessa perspectiva para compreender as
experiências subjetivas e as práticas das mulheres com a tecnologia, tomando-as
como ponto de partida para formular definições de “tecnologia”, “trabalho
tecnológico” e “especialidade”.
Em uma perspectiva feminista e crítica, Wilson (2004) assume que relações
de gênero envolvem diferença, desigualdade e poder. Uma outra vertente recente do
pensamento feminista aborda a questão política e ideológica da tecnologia. Para
Wood (2005), a tecnologia e a ciência são percebidas como atividades
extremamente envolvidas no projeto masculino de dominação e controle sobre a
mulher e a natureza. A proposta, nessa perspectiva, é chegar a uma tecnologia
fundada nos valores das mulheres. Nesse aspecto, destacam-se principalmente as
críticas das ecofeministas à tecnologia militar e aos efeitos das tecnologias
modernas, que consideram produto da cultura patriarcal sobre a ecologia (Rothchild,
1983 apud WOOD, 2005).
Por seu turno, Shiva (1993, apud WOOD, 2005) reclama uma tecnologia
alternativa, baseada na comunidade e uma redefinição do conhecimento em que se
legitime o local e o diverso. Conseqüentemente, a perspectiva da democratização do
conhecimento e da tecnologia está relacionada com as liberdades dos seres
humanos, por libertar o conhecimento da dependência dos regimes de pensamento
estabelecidos, tornando-o, ao mesmo tempo, mais autônomo e autêntico.
Este ponto de vista das feministas Rothchild e Shiva muito nos inspirou, a
ponto de termos colocado a filosofia e política pró-software livre como um fator que
tem contribuído para que muitas mulheres tenham um grande engajamento político
no movimento do software livre e aberto, conhecido mundialmente pela sigla FLOSS
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
23
(Free Libre Open Source Software), por seu caráter libertário, justo, promotor do
conhecimento compartilhado, ao contrário da ideologia capitalista do software
proprietário de código fechado.
2.1.3 Estudos sobre adoção de SI abordando gênero
O assunto gênero e tecnologia deve merecer mais atenção na academia. No
recente estudo de Howcroft e Trauth (2008), foi colocado que se deve ter uma
agenda crítica para as questões que envolvem gênero no campo da pesquisa em
tecnologia e sistemas de informação, da mesma forma como argumenta Wilson
(2004) no Quadro 1.
Campo de estudo
Influência teórica
Tema de estudo Aspectos a considerar
Áreas potenciais para aplicação de pesquisa
em SI
Gênero e computação Feminismo Mulher e
TIC’s
Baixa representação da mulher nas TIC’s
Baixa teorização de gênero na pesquisa em SI
Investigação estatística na profissões de TI
Gênero e sociedade
Feminismo
Construti-vismo Social
Existência de esferas de
gênero
Cultura da dicotomia
Socialização e aquisição de habilidades
Simetria da socialização
Desenvolvimento da competência de TI
Comparação de interações de homens e
mulheres
Gênero e organizações
Estudos críticos de
administração
Divisão social do trabalho
Conflito, contradição e poder
Esferas de gênero no local
de trabalho
Empregos vinculados a gênero
Contexto de desenvolvimento de
sistemas
Interação de usuários com SI
Gênero e tecnologia
Construção social da
tecnologia
Cultura de gênero da tecnologia
Aportes interpretativistas da tecnologia
Construção social de gênero e tecnologia
Divisão sexual e social do trabalho
Organização do trabalho pela administração
Alocação de atributos de habilidade
Fonte: WILSON, 2004, p.83
Quadro 1: Campos de estudo para o assunto Gênero e Tecnologia
Wilson (2004) a preconiza que o marco conceitual para os estudos de gênero
e SI devem ser construídos através da combinação de insights provenientes de: i)
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
24
gênero e informática, no que concerne com as diferenças e as desigualdades no
desenvolvimento e no uso de SI; ii) gênero e sociedade, sobre a existência de
esferas de gênero, iii) estudos de gênero e organizações, que diz respeito à divisão
social do trabalho, e iv) gênero e tecnologia, sobre a masculinidade da cultura
tecnológica. A autora considera muito relevante que a academia incorpore na sua
agenda de pesquisa assuntos relacionados com gênero, tendo como campo de
estudo a sociedade, as organizações, a tecnologia em si e a computação. Diversos
temas, sob a influência ou não do feminismo, deveriam ser estimulados, tais como
mulher e tecnologia de informação, esferas de gênero, divisão social do trabalho e
cultura de gênero da tecnologia. Tais temas deveriam incluir aspectos que elucidem
a baixa representação da mulher nas TIC’s, a baixa teorização de gênero na
pesquisa em SI, a cultura da dicotomia, a socialização e aquisição de habilidades, a
simetria da socialização, as esferas de gênero no local de trabalho, empregos
vinculados a gênero, dentre outros. Os aportes mais indicados para estudar estes
fenômenos no campo organizacional deveriam ser interpretativistas e críticos.
As contribuições derivadas de estudos dessa natureza servirão, sem dúvida,
para melhorar a prática de sistemas de informação através de maior conscientização
dos problemas sociais (especialmente de gênero). Além disso, a capacidade de
assimilação de novas tecnologias no nível individual e no ambiente profissional pode
determinar um maior sucesso e condições de competitividade no mercado de
trabalho para as mulheres.
Quanto às pesquisas que testaram como as relações de gênero, encontram-
se trabalhos com os mais diversos resultados, e os veículos de divulgação científica
de estudos neste campo vão desde um foco mais computacional, psicológico, até os
de gestão (BUSCH, 1995; VENKATESH, V.; MORRIS, M. G.; ACKERMAN. 2000;
ATAN et al., 2002; ONG, 2004; AHUJA; THATCHER, 2005; BRYNIN, 2006).
Brynin (2006) alerta para a importância de se investigar se a tecnologia
acentua as desigualdades e segregações entre homens e mulheres como são
encontrados em termos de salário e cargos. Estudos na área de SI têm mostrado
que os homens tendem a serem mais fortemente orientados para tarefas e interesse
em tecnologia (Minton e Schneider, 1980 apud YUEN; MA, 2002). Se os homens
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
25
adquirem mais capacidade e autoeficácia no domínio das ferramentas tecnológicas
vão obter mais produtividade por conta desse uso da TI. Para o autor, isso pode
remeter a uma diferença entre homens e mulheres ainda maior no mercado de
trabalho.
Especificamente quanto à adoção de tecnologia, o estudo de Venkatesh e
Morris (2000) foi um dos primeiros a focar a diferença de gênero em local de
trabalho, adotando uma posição essencialista (CHEUNG, LEE e CHEN, 2002). Os
autores consideraram que a diferença de comportamento entre homens e mulheres
está relacionada a aspectos intrínsecos a cada um. Em outras palavras, as
características e comportamento de homens e mulheres seriam fixos, pré-
determinados e naturais (HOWCROFT; TRAUTH, 2008).
Para a adoção de TI, especificamente, a pesquisa de Venkatesh e Morris
(2000), teoricamente apoiada no TAM, pretendeu identificar a diferença entre os
gêneros no que refere ao processo de introdução de uma tecnologia nova e de uso
voluntário no local de trabalho. Para tanto, a literatura que motivou as hipóteses do
trabalho dizia que: o homem tende a ser mais orientado a tarefa do que a mulher,
então a Facilidade de Uso influenciaria a Utilidade Percebida mais fortemente em
homens do que em mulheres (h2b); quando se trata de computadores a mulher
geralmente tem aptidão inferior ao homem, porém é mais ansiosa que este, o que
faria com que a Facilidade de Uso Percebida tivesse um impacto mais forte em
mulheres do que em homens (h2a); o homem tende a ter um comportamento mais
assertivo e lógico do que as mulheres, então o impacto da Utilidade Percebida na
Intenção Comportamental seria mais forte em homens do que em mulheres (h1); por
fim, as mulheres possuem maior sensibilização em relação a sentimentos do que
homens, o que implica que a Norma Subjetiva teria maior impacto na Intenção
Comportamental nelas do que neles (h3). De fato, as hipóteses h1, h2a e h3 foram
confirmadas, o que reforça a importância que os gestores de TI devem ter em
relação às diferenças de comportamento.
Outro trabalho que aborda gênero e adoção de TI, especificamente o sistema
de e-mail, foi realizado por Gefen e Straub (1997). A pesquisa contou com a
participação de 392 trabalhadores de três empresas cada uma pertencente a
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
26
indústria aérea dos Estados Unidos, Suiça e Japão. As variáveis utilizadas foram
Percepção de Presença Social, Utilidade Percebida, Facilidade de Uso, Gênero e
Uso. Os resultados indicaram que as mulheres percebem o e-mail como mais útil e
com maior presença social do que os homens, no entanto, estes estão mais
inclinados a achar a utilização do sistema mais fácil. Por fim, embora os resultados
tenham mostrado que há diferença entre homens e mulheres, verificou-se que tais
diferenças não afetam o uso do e-mail. Conforme Gefen e Straub (1997, p. 15) na
medida em que o sexo tem uma influência sobre a eficácia dos padrões de
comunicação, os gestores também precisam ser informados sobre como criar um
ambiente de comunicação mais favorável, que não dependa apenas da organização
dos fatores contextuais, mas também do sexo de seus usuários.
Ao utilizar o TAM no contexto da adoção de tecnologia de ensino a distância,
Ong e Lai (2006) constataram em seis empresas internacionais em Taiwan,
diferenças entre gêneros no que se refere a adoção do e-learning. Os resultados
obtidos revelaram que as notas de autoeficácia computacional, percepção de
utilidade, percepção de facilidade de uso e intenção para usar o e-learning são
maiores em homens do que em mulheres. As variáveis mais salientes nas mulheres
foram autoeficácia e a facilidade de uso, enquanto a utilidade percebida foi mais
saliente nos homens (ONG; LAI, 2006). Além disso, a utilidade percebida dos
homens foi mais significante e saliente na intenção comportamental de uso, do que
nas mulheres. Já a facilidade de uso percebida teve efeitos na intenção
comportamental para uso tanto em homens como em mulheres.
Um trabalho recente de Dong e Zhang (2010) analisa a questão do gênero a
partir da perspectiva cultural. Para os autores, a adoção de TI está intimamente
relacionada com as características culturais do país do indivíduo. A pesquisa
envolveu 496 chineses de quatro universidades e uma empresa, e concluiu que os
resultados que envolvem as variáveis da TPB, Atitude, Percepção do Controle de
Comportamento e Norma Subjetiva, encontrados na China e nos Estados Unidos,
são divergentes no que se refere a adoção de TI. Nos EUA a Atitude frente a adoção
da TI é maior em homens do que em mulheres, já na China é o contrário; a
Percepção do Controle de Comportamento nos EUA é maior em mulheres do que
em homens, já na China homens e mulheres tem percepções iguais; a Norma
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
27
Subjetiva influencia as mulheres mais que os homens nos EUA e mais os homens
do que as mulheres na China.
A resposta para as diferenças de resultados estão pautadas nas diferenças
culturais. Em relação a Atitude, por exemplo, o fato da cultura chinesa revelar à
mulher suas obrigações familiares logo cedo, faz com que elas tenham um senso de
tensão e urgência de se superar o mais cedo possível, enquanto ainda estão na
universidade e não são casadas. Isto faz com que sejam mais orientadas a tarefa e
tenham atitudes positivas a computadores mais que os homens (DONG; ZHANG,
2010).
Outros estudos têm dado continuidade ao problema de pesquisa sobre a
compreensão de atitudes para com a tecnologia. Dois exemplos focados em
ambiente educacional são a pesquisa de Roca e Gagné (2007), os quais
propuseram uma extensão do TAM baseado na Teoria da Auto-Determinação (SDT)
e a de Ong e Lai (2004) onde contatou-se que a autoeficácia computacional foi
determinante na utilidade percebida e facilidade de uso percebida tanto para
homens como para mulheres. A percepção de autonomia, percepção de
competência e percepção de familiaridade exercem um efeito direto na percepção de
utilidade, percepção de facilidade de uso e na percepção de satisfação que, por sua
vez, determinam a intenção de continuar o uso de uma tecnologia, no caso, o e-
learning (ROCA; GAGNÉ, 2007).
Em uma revisão de literatura em 26 artigos sobre a teoria de Venkatesh et al
(2003), Visentini, Bobsin e Rech (2008) concluíram que há algumas divergências de
resultados nas pesquisas que utilizaram o modelo UTAUT. Foi identificado que nem
todas as pesquisas abordam o modelo UTAUT por completo, com várias
configurações de pesquisa, pela incorporação ou retirada de variáveis do desenho
original do mesmo. Além disso, há outros construtos que também serão agregados
no modelo de pesquisa UTAUT que serão incorporados ao modelo de pesquisa a
ser proposto e implementado nesta pesquisa, dando-se ênfase à variável Gênero.
Para alguns autores, como Venkatesh et al (2003), o gênero é um importante
moderador que influencia o uso e aceitação de um SI. Para estes autores, algumas
variáveis, como a Facilidade de uso de TI e as influências de Normas subjetivas
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
28
afetariam mais as mulheres, enquanto que a Utilidade percebida foi uma variável
que demonstrou maior efeito entre os homens. No caso das normas subjetivas,
quando as mulheres adquirem mais experiência computacional, estas ficam menos
sujeitas às influências das normas subjetivas.
No caso do estudo de Atan et al. (2002), ficou comprovado que não havia
diferença entre alunos e alunos do ensino secundário em termos de acesso à
educação à distância em casa e na escola. O acesso ao computador em casa seria
um reflexo de que as alunas de cursos à distância estão conscientes da importância
do computador e isso efetivamente tem reduzido o ‘gap’ entre meninos e meninas no
contexto de adoção de TI.
Na área de sistemas de informação, foco do presente estudo, novos estudos
devem ser feitos a fim de aprofundar o conhecimento sobre as diferenças entre
gêneros, no que diz respeito às percepções de expectativas de desempenho,
expectativa de esforço, influência social e as condições facilitadoras na utilização e
incremento de uso de ferramentas computacionais.
2.2 Adoção de Tecnologia e a Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
Pesquisas teóricas e empíricas ao longo do tempo têm tentado entender os
motivadores mais importantes para a implantação e uso da tecnologia de
informação, principalmente nos ambientes de trabalho. As questões de pesquisa
principais elegem o “como” e o “porquê” os indivíduos adotam novas tecnologias de
informação, resultando, desta maneira, em modelos teóricos com raízes nos
sistemas de informação, psicologia e sociologia (VENKATESH et al., 2003).
Para referenciar alguns dos trabalhos sobre este assunto, foram consultados
autores clássicos e pioneiros até os mais recentes. São referências importantes os
trabalhos de Brooksbank, Kirby e Kane (1998); Chau e Tam (1997); Cheung, Chang
e Lai (2000); Davis (1989), Davis (1993); Taylor e Todd (1995), Igbaria, Iivari e
Maragahh (1995); Igbaria, Parasuraman e Baroudi (1996); Fink (1998); Jeong e
Lambert (2001); King e Sabherwal (1992); Lakhanpal (1994); Lederer et al (2000);
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
29
Liao et al (1999); Pavlou (2003), Premkumar e Roberts (1999); Ramos (1997);
Rogers (1995); Teo, Lim e Lai (1999) e Zmud (1982) e vários outros que serão
objeto de revisão bibliográfica posterior, para confirmar a genealogia dessas teorias.
Os mais recentes são os artigos de Gyampah e Salam (2004), Burton-Jones e
Hubona (2006), Seymor, Makanya e Berrangé (2007), Chang e Tung (2008), Rezai
et al. (2008), Roca e Gagné (2008).
Esses estudos trazem diversas contribuições de fatores que influenciam os
indivíduos ou usuários a adotarem uma tecnologia e são comumente consideradas
para aplicações específicas de TI (como por exemplo, sistemas integrados de gestão
- ERP, sistemas especialistas, troca eletrônica de dados - EDI, e-procurement,
planilhas eletrônicas, World Wide Web, correio eletrônico, Intranet etc), mas os
mesmos podem ser generalizados para outras tecnologias e sistemas.
À despeito da ampla difusão mundial de estudos sobre adoção e aceitação de
TI, há relativamente poucas referências nacionais explícitas aos modelos de
aceitação de tecnologia, a maior parte publicadas em congressos (ALMEIDA et al.,
2002; BUENO et al. 2004; SILVA; DIAS, 2004; COSTA FILHO; PIRES, 2004;
OLIVEIRA; JOIA, 2004; ALMEIDA; SOBRAL, 2005; CARVALHO; FERREIRA, 2005;
COSTA FILHO; PIRES, 2005; DIAS et al., 2005; PIRES et al., 2006; OLIVEIRA
JUNIOR, 2007). Há ainda poucos trabalhos em revistas científicas de autores
nacionais sendo encontrados os artigos de Dias et al. (2003), Hernandez e Mazzon
(2007) e Trindade (2008).
A seguir, é apresentada a fundamentação teórica dos construtos utilizados
nesta pesquisa e suas raízes teóricas.
2.2.1 As bases teóricas da UTAUT
A UTAUT é o resultado de compilação realizada por Venkatesh, Morris, Davis
e Davis (2003) dos oito modelos com maior influência na aceitação de tecnologia,
provenientes da psicologia, sociologia e da área de sistema de informação (SI): a
Teoria da Ação Racionalizada (TRA); a Teoria do Comportamento Planejado (TPB);
o Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM); a combinação entre a TAM e TPB
(TAM2); o Modelo Motivacional (MM); a Teoria da Difusão da Inovação (IDT);
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
30
Modelo de Utilização do PC (MPCU) e a Teoria Social Cognitiva (SCT). Os autores
analisaram as similaridades empíricas e conceituais entre os oito modelos e
selecionaram tanto os construtos que apresentaram maior poder de explicação,
como os moderadores mais influentes.
A intenção de Venkatesh et al. (2003) foi a de criar um modelo que unificasse
os principais estudos sobre comportamento individual frente a uma nova tecnologia
de informação, visto que já se contabiliza centenas de pesquisas na literatura de SI.
O estudo longitudinal que culminou na UTAUT teve abordagem quantitativa, a coleta
de dados foi realizada três vezes em um período de seis meses, em quatro
organizações. Cada das contribuições teóricas aproveitadas por Venkatesh et al.
(2003) são elencadas no quadro 2, com seus respectivos autores.
Modelos teóricos Autores e ano
Theory of Reasoned Action (TRA) – Teoria da Ação Racionalizada FISCHBEIN; AZJEN, 1975
Theory of Planned Behavior (TPB) - Teoria do Comportamento Planejado AJZEN, 1991
Technology Acceptance Model, (TAM) – Modelo de Aceitação de Tecnologia DAVIS, 1989
Extensão do TAM (TAM2) TAYLOR; TODD, 1995
Model of PC Utilization, (MPCU) – Modelo de Utilização do PC THOMPSON et al.. 1991
Innovation Diffusion Theory (IDT) – Teoria da Difusão da Inovação ROGERS, 1995
Social Cognitive Theory (SCT) – Teoria Social Cognitiva COMPEAU; HIGGINS, 1995
Motivational Model (MM) – Modelo Motivacional DAVIS et al.. 1992
Quadro 2: Modelos teóricos presentes na UTAUT
Os construtos da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia
(UTAUT) têm um papel significante como preditores diretos da intenção de
comportamento, estruturando um modelo de pesquisa que considera: a expectativa
de desempenho (performance expectancy); a expectativa de esforço (effort
expectancy); influência social (social influence); as condições facilitadoras
(facilitating conditions), e atitudes em relação à intenção de adoção (behavioral
intention) que, por sua vez, afetam o uso real de um determinado sistema (figura 1).
Os autores identificaram que o modelo explica 70% da variância da intenção de uso.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
31
Figura 1: Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
A seguir, é possível observar, no quadro 3, uma síntese dos construtos da
UTAUT, suas definições e autoria. O construto Expectativa de Desempenho, de
acordo com Venkatesh et al. (2003, p. 447), é definido como “o grau no qual o
indivíduo acredita que o uso do sistema ajudará ele/ela no desempenho do seu
trabalho”. É composto pela Utilidade Percebida, Motivação extrínseca, Adaptação ao
trabalho, Vantagem relativa e Expectativas de resultado, e é considerada uma forte
preditora da intenção do comportamento.
A Expectativa de Esforço está ligada a facilidade que o indivíduo acredita
que pode utilizar o sistema (VENKATESH et al., 2003). Faz parte deste construto a
Facilidade de uso percebida (TAM/TAM2), Complexidade (MPCU) e Facilidade de
Uso (IDT).
Construtos Definição Modelo/autoria
Expectativa de Desempenho
Utilidade percebida
O grau em que uma pessoa acredita que usando um determinado sistema irá melhorar seu desempenho no trabalho.
TAM (DAVIS, 1989; DAVIS et al.., 1989)
Motivação extrínseca
A percepção que os usuários possuem que realizando uma determinada atividade terão como conseqüência benefícios pessoais, tais como melhora do desempenho nas tarefas, pagamentos ou promoções.
MM (DAVIS et al., 1992)
Adaptação ao Como as funcionalidades de um sistema MPCU (THOMPSON et
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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trabalho aperfeiçoam o desempenho individual no trabalho.
al., 1991)
Vantagem relativa O grau em que usar uma inovação é percebido como sendo melhor do que usar o seu precursor.
IDT (MOORE; BENBASAT, 1991)
Expectativas de resultado
Relaciona-se às consequências do comportamento. Baseado em evidência empírica foram separados em expectativa de desempenho (relacionado ao trabalho) e expectativas pessoais (metas individuais)
SCT (COMPEAU; HIGGINS, 1995b;
COMPEAU et al., 1999)
Expectativa de Esforço
Facilidade de uso percebida
O grau em que uma pessoa acredita que usando um determinado sistema estará livre de esforço.
TAM (DAVIS, 1989; DAVIS et al., 1989) e TAM2 (VENKATESH;
DAVIS, 2000)
Complexidade O grau em que um sistema é percebido como relativamente difícil de entender e usar.
MPCU (THOMPSON, et al., 1991)
Facilidade de uso O grau em que usando uma inovação é percebida a existência de dificuldade no uso.
IDT (MOORE; BENBASAT, 1991)
Influência Social
Norma subjetiva É a percepção pessoal de que as pessoas que são mais importantes que ele acreditam que ele deve ou não ter o comportamento em questão.
TRA, TAM2, TPB/ DTPB, and C-TAM-TPB
(AJZEN, 1991; DAVIS et al.,
1989; FISHBEIN; AZJEN 1975; MATHIESON
1991; TAYLOR; TODD 1995a, 1995b)
Fatores sociais
É a internalização individual da referência grupal da cultura subjetiva, e dos acordos interpessoais específicos que o indivíduo fez com outros, em situações sociais específicas.
MPCU (THOMPSON et al.,1991)
Imagem O grau em que o uso da inovação é percebido pelo indivíduo como algo que possa melhorar a sua imagem ou sua posição no seu sistema social.
IDT (MOORE; BENBASAT,1991)
Condições Facilitadoras
Percepção de controle
comportamental
Reflete a percepção de coação externa ou interna a um comportamento e a restrição da auto-eficácia, condições facilitadas de recursos e de tecnologia.
TPB/DTPB, C-TAM-TPB (AJZEN, 1991; TAYLOR;
TODD 1995a, 1995b)
Condições facilitadoras
Fatores no ambiente em que observadores concordem que uma ação é fácil de fazer, incluindo o provimento de suporte computacional.
MPCU (THOMPSON et al., 1991)
Compatibilidade O grau em que o uma inovação é percebida como consistente com valores, necessidades e experiências pré-existentes dos potenciais adotantes.
IDT (MOORE; BENBASAT, 1991)
Quadro 3: Construtos, definições e fonte bibliográfica da UTAUT
O terceiro construto é a Influência Social. Conforme Venkatesh et al. (2003,
p.451), “a influência social é definida como o grau para o qual o indivíduo percebe
quão importante os outros acreditam que ele ou ela deveria usar o novo sistema”.
Este construto é representado pela norma subjetiva, presente no TRA, TAM2,
TPB/DTPB e C-TAM-TPB; fatores sociais, contido no MPCU; e imagem, presente no
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
33
IDT (VENKATESH et al., 2003). Antes da UTAUT, a norma subjetiva, os fatores
sociais e a imagem eram variáveis isoladas em seus respectivos modelos.
Venkatesh et al.. (2003) as reuniram e nomearam de Influência Social. Apesar de
algumas diferenciações, cada um dos componentes usados contém explicita ou
implicitamente a noção que o comportamento dos indivíduos é influenciado pelo
modo dos quais acreditam que os outros os vejam como um resultado de ter usado a
tecnologia (PIRES; YAMAMOTO; COSTA FILHO, 2006).
O último construto são as Condições Facilitadoras, que se refere ao grau
que indivíduo acredita que existe uma infraestrutura organizacional e técnica para
dar apoio ao uso do sistema (VENKATESH et al., 2003). A formação deste construto
foi baseada na Percepção de controle comportamental, Condições facilitadoras e
Compatibilidade, advindas do TAM, MPCU e IDT.
O desenvolvimento da UTAUT, unificando as perspectivas teóricas mais
difundidas na literatura e incorporando moderadores para controlar as influências do
contexto organizacional, a experiência do usuário e as características demográficas
organizacional, a experiência do usuário e as características demográficas
contribuíram para o avanço da pesquisa sobre a aceitação individual da TI
(KAUFFMAN, 2005). Além disto, o modelo pode ser uma ferramenta útil para os
gestores que necessitam avaliar a probabilidade de sucesso de uma nova tecnologia
e auxiliar na compreensão dos fatores determinantes da aceitação do uso e auxilia
no desenho de intervenções nas tecnologias (VENKATESHH et al., 2003).
A fim de compreender o que fundamenta a construção da UTAUT, é realizada
uma breve descrição das diversas abordagens que foram aproveitadas por
Venkatesh et al (2003).
2.2.1.1 Teoria da Ação Racionalizada (TRA)
A teoria da ação racionalizada (Theory of Reasoned Action – TRA), também
conhecida por Teoria da Ação Refletida, foi criada por Fishbein e Ajzen (1975) e é
advinda da área da psicologia social. Ela procura estabelecer uma relação entre
atitude e comportamento, tendo por base os construtos: Crenças, que são
componentes relativos às Normas subjetivas (o que se deve ou não deve fazer);
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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Atitude frente ao comportamento (a forma como é encarado o comportamento em
si); Intenção comportamental (uma declaração interna para agir); e o próprio
Comportamento em si. Os principais construtos do modelo são conceituados no
quadro 4.
Construtos Significado operacional
Atitude em relação ao comportamento
Sentimento positivo ou negativo do indivíduo (efeito avaliativo) sobre a realização do comportamento alvo
Norma subjetiva Percepção do indivíduo de que a maioria das pessoas que lhe são importantes acha que ele deve ou não realizar o comportamento em questão
Intenção comportamental
É uma medida da força da intenção de alguém em realizar um determinado comportamento
Crenças e avaliações São as crenças relevantes sobre as conseqüências da realização do comportamento em questão multiplicado pela avaliação dessas conseqüências”
Crenças normativas e motivação para cumprir
Refere-se a função multiplicativa, a partir da percepção do indivíduo, das crenças normativas, percepção de expectativas específicas referentes a indivíduos ou grupos, e a motivação para cumprir com estas expectativas
Quadro 4: Construtos e significados da TRA
Na teoria, se as normas subjetivas e as atitudes frente ao comportamento são
favoráveis, estas conduzem a uma intenção. Por isso, os autores defendem que o
fator que melhor permite prever o comportamento é a intenção da pessoa em
realizar um comportamento. A figura 2 demonstra visualmente essas relações.
Figura 2: Teoria da Ação Racionalizada
Dito por Santos e Amaral (2004), na TRA, o comportamento é determinado
diretamente pela intenção de o desempenhar, porque as pessoas, em geral, agem
de forma a obter os seus intentos, dentro do contexto e do tempo disponíveis.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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2.2.1.2 Teoria do Comportamento Planejado (TPB)
A Teoria do Comportamento Planejado (TPB – Theory of Planned Behavior),
proposta por Ajzen (1991), conforme Figura 3, é uma arcabouço que não pode ser
testado nesta pesquisa. Ajzen (1991) modificou a TRA, incluindo-se a percepção
sobre o controle do comportamento (Perceived Behavioral Control - PBC) como um
construto adicional com capacidade para prever tanto a intenção para o
comportamento quanto a própria ação/comportamento.
A TPB postula que a intenção de um indivíduo para ter um determinado
comportamento pode ser explicada pela atitude desse indivíduo, por um conjunto de
normas subjetivas e pelo controle que o indivíduo percebe em relação a este
determinado comportamento (AJZEN, 1991). Como proposição geral, quanto mais
favoráveis forem a atitude e a norma subjetiva e quanto maior for o controle
percebido pelo indivíduo, maior deve ser a intenção pessoal de realizar o
comportamento efetivo ou a ação planejada.
Figura 3: Teoria do Comportamento Planejado (TPB)
A TPB foi preditor essencial ao modelo TAM. As atitudes, intenções e
comportamentos dos indivíduos em relação ao uso da tecnologia em geral e de
novas tecnologias de informação em particular, como é o caso do software livre,
foram variáveis reportadas na presente pesquisa.
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36
2.2.1.3 Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM)
Onze anos após a publicação do trabalho que apresentou o TRA, Davis
(1986) propôs o TAM. Este modelo é uma adaptação da TRA, mas se volta para a
área de tecnologia da informação com a intenção de explicar o que determina uma
pessoa a aceitar ou rejeitar um sistema de informação. Segundo Costa Filho e Pires
(2005, p.4), o propósito essencial do TAM é prover uma base para mapear o impacto
de fatores externos sobre aqueles internos do indivíduo, como as crenças, atitudes e
intenções de uso. Tais fatores externos, conhecidos também como variáveis
externas, são, por exemplo, as características do sistemas, processo de
desenvolvimento e treinamento (DIAS, ZWICKER e VICENTIN, 2003; SANTOS,
2004).
O TAM foi originalmente desenvolvido por Davis (1986) para predizer o uso
de um sistema ou aplicativo de usuário final. Pouco depois, o autor aprofundou as
análises e publicou dois artigos (DAVIS, 1989; DAVIS, BAGOZZI, WARSHAW, 1989;
DAVIS, 1993), que obtiveram grande impacto para a área. Várias outras pesquisas
foram posteriormente replicadas ou validadas, quase sempre apontando na direção
daqueles construtos como preditores de uso.
Os dois construtos básicos do modelo TAM são a “facilidade de uso”, definida
como a maneira através da qual o usuário percebe que interage com o serviço virtual
empregando um mínimo de esforço e a “utilidade de uso percebida”, que mede o
grau de benefício percebido do seu uso.
A Figura 4 mostra o desenho do modelo e a relação entre as variáveis como
originalmente proposta pelos autores. Vemos então como a facilidade de uso
percebida exerce uma influência direta na utilidade percebida, e ambas influenciam
a atitude que uma pessoa terá em relação a um determinado sistema. Esta atitude
refere-se ao nível de sentimento, favorável ou não, do usuário em relação ao uso do
sistema. Na sequência, a intenção comportamental de uso, que nada mais é que a
intenção de usar o sistema no futuro, é influenciada pela utilidade percebida e pela
atitude em relação ao uso. Por fim, a intenção determinará o uso real do sistema.
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Figura 4: Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM)
Silva e Dias (2006, p. 4) dizem que o TAM tem recebido extenso apoio
empírico através de validações, aplicações e replicações realizadas por
pesquisadores e profissionais, o que sugere que ele é robusto através do tempo,
ambientes, populações e tecnologias. O valor deste modelo para os envolvidos com
a área de TI no âmbito organizacional, por exemplo, reside na possibilidade dos
gestores responsáveis pela implentação de sistemas de informação conseguirem
prever se o novo sistema será aceitável para os usuários, diagnosticar as razões
pelas quais um sistema planejado pode não ser totalmente aceitável e tomar
medidas corretivas para aumentar a aceitabilidade do SI, de modo a aumentar o
impacto sobre os grandes investimentos de tempo e dinheiro com a introdução de
novas tecnologias de informação (DAVIS, BAGOZZI e WARSHAW, 1989)
Uma meta-análise feita por Lee, Kozar e Larsen (2003) demonstrou que os
vários estudos que utilizam o TAM como base teórica acrescentam novos fatores
que são úteis para entender o processo de adoção de tecnologia por um indivíduo.
Tais estudos foram aplicados para diferentes sistemas de informação, como o e-
mail, groupware, processadores de texto, planilha, internet, e-commerce, entre
outros; e utilizando-se de variáveis externas como acessibilidade, experiência
anterior, percepção de prazer, visibilidade, qualidade do sistema, normas subjetivas,
entre outros.
2.2.1.4 Extensão do TAM
O avanço da teoria e suas limitações percebidas fizeram com que o modelo
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
38
TAM ganhasse extensões. Entre essas está o TAM 2 proposto por Venkatesh e
Davis (2000) e podemos observar seu modelo relacional através da figura 5. Foram
acrescentados os construtos voltados para a influência social, tais como a norma
subjetiva, a voluntariedade e a imagem.
Figura 5: Extensão do TAM (TAM2)
Oliveira Júnior (2007) afirma que esta influência se dá tanto através do
processo de internalização em que as pessoas incorporam influências sociais em
suas próprias percepções de utilidade, como do processo de identificação, no qual
as pessoas usam um sistema pelo status e pela influência adquiridos no ambiente
de trabalho. Descrevendo os construtos de influência social, conforme Venkatesh et
al. (2000, p.187-192), pode-se especificar:
Norma Subjetiva é um determinante direto da intenção de uso, tendo em vista
que se apresenta a ideia de que a percepção de uma pessoa sobre o que indivíduos
importantes para ela pensam em relação a realizar ou não um comportamento
influencia diretamente a intenção de uso.
Por sua vez, Voluntariedade é a “extensão pela qual os potenciais adotantes
percebem que a decisão de adoção não é obrigatória”. Tal construto é influenciador
da norma subjetiva e da intenção de uso, compreendendo-se que este tipo de
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
39
influência social é importante para entender que a utilização de um novo sistema –
mesmo quando obrigatório na organização – pode variar, visto que há possibilidades
de alguns usuários não estarem dispostos a utilizá-lo.
A Imagem é o “grau em que o uso de uma inovação é percebido como forma
de melhorar [...] o status de do indivíduo em seu sistema social”. Desta maneira, a
imagem é positivamente influenciada pela norma subjetiva, pois se os membros
importantes do grupo social em que está inserido o indivíduo entendem que este
deve ter um determinado comportamento, isso significa que uma conduta condizente
com aquilo que lhe é esperado aumentará a sua posição no grupo, num processo
definido como identificação.
Além da influência social, foram adicionadas ao TAM original variáveis
relativas ao instrumental cognitivo, que se referem à relevância do trabalho,
qualidade do resultado, demonstrabilidade do resultado e facilidade de uso
percebida. Em torno dos construtos relacionados ao instrumental cognitivo, se
recorda que a Relevância para o trabalho é a “percepção do indivíduo em relação ao
grau em que o sistema em questão é aplicável em sua função”, influenciado
diretamente a utilidade percebida; depreende-se a Qualidade das saídas como “a
qualidade com que o sistema realiza as tarefas”, também influenciadora da utilidade
percebida; a Demonstrabilidade dos resultados, que influencia o mesmo construto
que o anterior, pode ser conceituada como a “tangibilidade dos resultados obtidos
com o uso da inovação; por fim, a Facilidade de uso percebida influencia
diretamente a intenção de uso, bem como a utilidade percebida, e significa que
“quanto menos trabalhoso é o uso do sistema, mais seu uso pode aumentar o
desempenho da tarefa”.
Ao TAM2 foi acrescida a variável Experiência, visto que esta influencia o
impacto da norma subjetiva na utilidade percebida e da norma subjetiva na intenção
de uso. De acordo com as pesquisas, quanto maior a experiência em torno do
sistema, isto é, o conhecimento do usuário acerca dele, menor a influência da norma
subjetiva.
O modelo foi testado pelos seus criadores em quatro estudos longitudinais
acerca de quatro organizações que estavam por iniciar a instalação de novos
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
40
sistemas. Em duas, o uso sistema era de caráter obrigatório; nas outras, era de
caráter voluntário. A coleta dos dados ocorreu a partir da aplicação de questionários
a aproximadamente 50 usuários potenciais, em três momentos diferentes: 1) após o
treinamento inicial; 2) um mês após a implantação; 3) três meses após a
implantação.
De acordo com os resultados, o TAM2 possibilita identificar os fatores que
influenciam a percepção de utilidade (explicando até 60% da variância deste
importante direcionador das intenções de uso da tecnologia em questão). Em
consonância com pesquisas anteriores, considerou-se a utilidade percebida como
uma forte determinante da intenção de uso, mediante os efeitos das demais
variáveis em relação à intenção de uso.
Além disso, destaca-se que, em ambientes cujo uso do sistema era de caráter
obrigatório, no primeiro e no segundo momentos da pesquisa, a norma subjetiva
apresentou efeito direto sobre a intenção de uso, enquanto no terceiro o seu efeito
foi insignificante. Já nos ambientes com uso voluntário, a norma subjetiva não se
mostrou influenciadora direta sobre a intenção de uso para além do que já havia sido
explicado pela utilidade percebida e facilidade de uso.
Outro aspecto a ser referido está em torno dos efeitos de influência social,
tendo em vista que estes demonstraram ser consistentes no TAM2, uma vez que a
norma subjetiva influencia a utilidade percebida, seja pela internalização –
incorporação pelo indivíduo das influências sociais em sua própria utilidade
percebida – ou identificação, cuja definição já foi descrita alhures.
Por fim, segundo Venkatesh e Davis (2000, p.199), “diferentemente da
influência social, os efeitos do instrumental cognitivo permaneceram significativos ao
longo do tempo”.
2.2.1.5 Modelo Motivacional (MM)
O Modelo Motivacional (MM) trabalha com as teorias motivacionais para
explicar o comportamento dos indivíduos, tendo como base os construtos motivação
intrínseca e motivação extrínseca. Os componentes desse modelo são considerados
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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construtos distintos e medem a força motivacional dos indivíduos em relação a
determinados comportamentos, sendo eles: Valência, Instrumentalidade e
Expectância. O construto Valência se refere ao desejo do indivíduo de uma
recompensa ou uma escolha ou preferência em relação a um resultado particular; a
Instrumentalidade está relacionada com a avaliação subjetiva que a pessoa faz de
que seu desempenho o levará a atingir os resultados esperados; e a Expectância
refere-se à estimativa de que o esforço individual resultará em um desempenho bem
sucedido ou a chance de que esse desempenho produza o resultado esperado
(VROOM, 1964, apud WALTER; ABBAD, 2008). A lógica do modelo de Vroom tem
grande relevância para aplicação no contexto de adoção de tecnologias e sistemas,
em particular a aceitação do software livre.
2.2.1.6 Teoria da Difusão da Inovação (IDT)
Quanto à Teoria de Difusão da Inovação (Innovation Diffusion Theory - IDT),
os principais construtos são: Vantagem relativa (utilidade percebida),
Compatibilidade, Complexidade (reversa de Facilidade de uso), Observabilidade e
Experimentação (trialability). Rogers (1995) afirmou que uma variação de 49% a
87% na taxa de adoção pode ser explicada pela percepção de que o potencial
adotante avalia positivamente essas cinco características. Sobre diferentes
categorias de adotantes, Rogers (1995, p.75) afirmava que os indivíduos, no
contexto social a que pertencem, adotam inovações numa seqüência de tempo, de
tal modo que podem ser classificados em diversas categorias de adoção de acordo
com o momento em que começam a usar uma nova idéia. São elas: Inovadores,
Adotantes, Maioria inicial adotante, Maioria tardia e Retardatários. No contexto da
presente pesquisa, a adoção de software livre por parte do indivíduo também deve
ser compreendida no bojo dos construtos da teoria da difusão de inovação.
Moore e Benbasat (1991) adaptaram as características de inovação
apresentadas por Rogers (1995) e refinaram os construtos para que pudessem ser
usados em estudos de aceitação individual da tecnologia. Estes autores
acrescentaram mais dois construtos (Imagem e Voluntariado na utilização). Quando
mais positiva for a percepção acerca dos atributos ou construtos de uma inovação,
maior será a possibilidade da mesma ser adotada. Outra variável importante que
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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pode afetar a taxa de adoção de uma inovação foi definida por Yi et al. (2006) como
“personalidade inovadora”, isto é, as diferentes reações que os possíveis adotantes
têm diante de uma nova tecnologia. A partir desse conceito é possível classificar os
indivíduos ou grupos em categorias de acordo com sua maior ou menor
predisposição para adotar novas idéias.
Confirmando a IDT, Trindade (2008) encontrou que a adoção de tecnologias
no setor saúde pode ser determinada por uma ampla gama de fatores, alguns
determinados pela natureza da própria tecnologia ou do problema relevante, e
outros pelas ações e interesses dos diversos grupos envolvidos. No estudo sobre
fatores que afetam a adoção de uma inovação tecnológica em Sistemas de
Informações (SI) para o ensino na área de saúde, Perez, Zwicker e Mascarenhas
(2007) indicaram que a adoção da ferramenta pesquisada foi influenciada por
características percebidas pelo uso dessa inovação que acarretaram reflexos na
percepção de novas possibilidades de inovação no ensino da área de saúde. Dentre
outras, as características percebidas que se destacaram na pesquisa foram a
Demonstração de Resultado e a Vantagem relativa. Esses achados reforçam a
necessidade de testar as variáveis dessa teoria no âmbito da adoção de software
livre e a investigação das diferenças entre gêneros.
2.2.1.7 Modelo de Utilização do PC (MPCU)
O Modelo de Utilização do PC (personal computer) analisa a aceitação e o
uso da tecnologia com base em construtos como: ajuste ao trabalho (Task Fit),
complexidade, conseqüências de longo prazo, efeitos devido ao uso, fatores sociais
e condições facilitadoras. Thompson, Higgins e Howell (1991) analisaram os efeitos
desses construtos na intenção de uso dos PC.
2.2.1.8 Teoria Social Cognitiva (SCT)
Na Teoria Social Cognitiva (SCT), a UTAUT pode aproveitar os construtos
provenientes da Teoria da mudança comportamental, desenvolvida por Bandura
(1977). A auto-eficácia pode remover ou diminuir o medo disfuncional por algo.
Desempenhos bem sucedidos fortalecem a auto-eficácia.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
43
Compeau, Higgins e Huff (1999), ao utilizarem os achados de Bandura,
basearam-se em construtos como expectativas de resultados de performance e
pessoais, auto-eficácia, afeto e ansiedade, para estudar o uso dos computadores,
mas a natureza do modelo permite que sejam analisados a aceitação e o uso de
tecnologias da informação em geral. Os autores ampliaram o modelo teórico que
avalia as reações dos indivíduos à tecnologia de informação. Para Santos e Amaral
(2004), esta investigação tem produzido valiosos contributos nas reações individuais
comportamentais, afetivas e cognitivas para com as TI e nos fatores que influenciam
essas reações.
A ansiedade é um construto importante advindo desta teoria, o qual pode
representar o lado negativo do uso de computadores, sentimentos de apreensão que
se experimenta quando do se utiliza sistemas informatizados (PIRES et al, 2006). No
entanto, quanto mais experiente for a pessoa, menos episódios de ansiedade são
esperados de acontecer.
Além dos construtos clássicos apresentados anteriormente, identificam-se
outros fatores que têm influenciado a intenção de adoção e a aceitação de uma
determinada tecnologia. São variáveis ligadas às características individuais e
demográficas (como gênero, idade, escolaridade), comportamentais do uso
(atitudes, intenções), experiência do usuário, prazer, qualidade percebida do serviço,
confiança, segurança, características tecnológicas, habilidades do consumidor,
recursos de tempo e dinheiro, cultura, satisfação (SZAJNA, 1996; STRAUB e
BRENNER, 1997; DIAS, 1998; WEBER e ROEHL, 1999; VENKATESH; DAVIS,
2000; LEDERER et al., 2000; HEIJDEN, 2004; WANG, LIN e LUARN, 2006;
PAVLOU; FYGENSON, 2006).) dentre várias outras características investigadas por
pesquisadores da área.
.
2.3 Software Livre
Este tópico aborda os conceitos envolvidos com Software Livre, resgatando o
histórico do movimento ligado à filosofia e conceito de SL, a trajetória da difusão do
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
44
SL no Brasil, finalizando com o levantamento de estudos sobre adoção e uso de
software.
2.3.1 Histórico e conceito
O software livre existe desde o início do desenvolvimento da informática
(STALLMAN,1999). As discussões acerca do compartilhamento do software foram
se intensificando à medida que o seu uso passou a ser voltado para diferentes
áreas, até que o modelo econômico vigente optou pelo controle dos códigos sociais
e das licenças do uso do software.
Perens (1999) elucida que o conceito do software livre não é novo e a sua
utilização não é recente. Assim que os computadores emergiram no ambiente
acadêmico, seu uso era disposto para ferramentas de pesquisas, os programadores
eram remunerados pelo ato de programar e o software era livremente distribuído no
ambiente acadêmico, a fins de estudo e aperfeiçoamento, como esses programas
não tinham ainda um valor comercial definido, existia um grande intercâmbio de
informações entre universidades, pesquisadores, desenvolvedores que utilizam
esses softwares como instrumento de pesquisa não se preocupando com registros
de autorias. No momento em que essas ferramentas de programação, de
desenvolvimento e aperfeiçoamento chegam ao ambiente corporativo, a forma de
distribuição começa a ser mudada e o aspecto capitalista da questão vêem a tona, a
aquisição de um software e o direito de uso passa a ter um custo significativo.
A partir da década de 70, o surgimento da possibilidade e efetividade de
comercialização desses softwares motivou o inicio do movimento de comoção
mundial pela defesa do software livre. O movimento devidamente organizado em
favor do software livre teve início em 1983 quando se iniciou o projeto GNU esse
movimento foi concretizado em 1985, quando Richard Stallman fundou a Free
Software Foundation, essa instituição é hoje a principal organização dedicada a
produção e à divulgação do software livre, ela foi criada com o objetivo de promover
na comunidade de informática o espírito cooperativo que prevalecia em seus
primórdios, onde as informações, códigos e métodos de trabalhos eram livremente
compartilhados (STALLMAN, 2001). O principal idealizador desse movimento
acreditava que o software proprietário representava um sistema impulsionador da
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
45
competição ao invés da colaboração, na visão dele todo software deveria ser livre.
Um do seus principais argumentos é que tornar um software proprietário é negar o
acesso a informação e ao conhecimento, os quais são elementos essenciais para o
desenvolvimento de uma sociedade justa e democrática.
O projeto GNU, consistia na criação de um software livre o qual apresentasse
as mesmas características e funcionalidades do sistema Unix, um software
proprietário. Segundo Saleh (2004), no início do projeto, Stallman procurou
colaboradores entre os profissionais da área, pedindo que utilizassem as
ferramentas que ele próprio já tinha desenvolvido, e que se juntassem ao projeto
doando equipamentos,dinheiro e reescrevendo os programas do Unix sob forma de
software livre. O projeto foi consolidado com a criação do GNU, o nome do sistema é
uma ironia ao Unix, significando “Gnu is not Unix”, o desenvolvimento desse sistema
necessitou de anos de trabalho com a colaboração de centenas de trabalhadores.
Na acepção do próprio Stallman(1991), tecnicamente o GNU é como Unix, no
entanto diferentemente do Unix, o GNU dá liberdade aos seus usuários.
No ano de 1992, Linus Torvald realizou a grande faceta de copilar todos os
programas e ferramentas do GNU em um núcleo central, chamado de kernel, esse
núcleo viabilizou e efetivou a criação final do sistema operacional essa outra
plataforma foi denominada Linux e foi promovida a integração com o GNU, dando
origem ao GNU/Linux, um sistema operacional livre, completo e multifuncional.
Uma das grandes contribuições do projeto GNU, além do software em sua
essência, foi o desenvolvimento da General Public License (GPL), a licença de
software mais utilizada em projetos de software livre, que dá amparo legal e
formaliza a ideologia que permeia o movimento.(SALEH,2004). Essa licença
representa uma garantia de que os esforços coletivos não serão indevidamente
considerados propriedade de um indivíduo, mas se de todo empenho e contribuição
coletiva, consolidando assim o movimento e conquistando adeptos em todo o
mundo.
Software Livre (free software) é o software disponibilizado com as premissas
de liberdade de instalação, plena utilização e acesso ao código fonte (PINHEIRO,
2003). A filosofia do free software estabelece um direito de cópia que pode proteger
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o proprietário pela “propriedade intelectual”. Ele passa a possuir alguns direitos
sobre o bem e pode consignar, vender ou doar tais direitos para outrem. A licença é
o documento que autoriza a utilização de sua propriedade intelectual.
O Software Livre é basicamente um princípio de compartilhamento do
conhecimento e da solidariedade praticada pela inteligência coletiva de usuários
universais os quais estão conectados na rede mundial de computadores. Na era
informacional, o conhecimento é um verdadeiro trunfo, então quanto mais se
compartilha o conhecimento mais ele cresce e se difunde livremente pela
comunidade. A filosofia adotada pelo software livre é justamente essa, agir de
maneira que haja uma intermediação da inteligência humana na era da informação,
garantindo a construção de uma sociedade livre, justa e democrática.
Inicialmente, não havia distinção entre software livre e software proprietário,
uma vez que a importância comercial era centrada no hardware. Com a difusão da
computação, barateamento do hardware e aumento do número de usuários de
software, este passou a conquistar espaço no ambiente comercial e empresarial.
Neste momento, o que antes era distribuído como parte integrante do hardware, o
software, passou a ser vendido. Além disso, os fabricantes começaram a não
fornecer o código fonte dos programas e a impor restrições quanto à sua
redistribuição (HEXSEL, 2002). Em essência, foi assim que nasceu o software
proprietário.
Segundo a definição criada pela Free Software Foundation, o software livre
pode ser usado, copiado, estudado, modificado e redistribuído sem restrição. Essa
mesma instituição estabelece os quatro tipos de liberdade para os usuários do
software livre, sendo elas:
● Liberdade de poder executar o programa, para qualquer propósito (liberdade nº
0);
● Liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para as suas
necessidades (liberdade nº1);
● Liberdade de redistribuir cópias de modo que o próximo possa ser ajudado
(liberdade nº2);
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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● Liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos, de
modo que toa da comunidade se beneficie (liberdade nº3).
Desse modo, software livre é qualquer software cuja licença garanta ao seu
usuário liberdades relacionadas ao uso, alteração e redistribuição. Seu aspecto
fundamental é o fato do código-fonte estar livremente disponível para ser lido,
estudado ou modificado por qualquer pessoa interessada. (REIS, 2003, p.14).
A Free Software Fundation possibilitou a conhecida copyleft (livre), em
oposição ao copyright (proprietário) e enfatizou que as liberdades
supramencionadas só serão possíveis se o código fonte dos programas for aberto
para estudo e modificação.
Para Saleh (2004), a diferença entre o software proprietário e o SL é que
enquanto no primeiro apenas uma empresa ou indivíduo tem controle sobre as
funcionalidades correções e melhoramentos, no segundo, qualquer pessoa pode ter
acesso ao código fonte e exercer o direito de livremente utilizar, redistribuir ou alterar
o programa.
A utilização desse software é livre para qualquer usuário, e a disponibilidade
de modificações no software não é obrigatória, para utilizá-lo um usuário não precisa
fazer modificações ou gerar contribuições, isso é uma questão de escolha.
O software livre não deixa de ser um software comercial, é caracterizado por
ser um programa livre que está disponível para uso, distribuição e desenvolvimento
comercial, no entanto diferentemente do software proprietário ele nasce e se
desenvolve num contexto de pesquisa e aprofundamentos e no momento em que é
entendida a sua importância, é ampliado o seu uso para área comercial.
Uma das principais características do software livre é a disponibilização do
seu código fonte, o qual pode ser acessado por qualquer usuário. No entanto, esse
movimento diferencia-se do movimento open source (código aberto), esses dois
movimentos apresentam filosofias parecidas mais objetivos diferentes, o “Open
Source” refere-se apenas ao acesso ao código fonte, esse é um das características
do software livre, o que o torna mais abrangente e complexo.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
48
Assim, enquanto o software livre está ligado à filosofia de desenvolvimento,
referindo-se a questões econômicas, políticas e sociais, indo além da garantia dos
direitos de uso e acesso ao código fonte; o código aberto se concentra em
determinar regras que possibilitem que o código fonte; o código aberto se concentra
em determinar regras que possibilitem o código fonte do software e o acompanhe
quando este for distribuído. (CAMPOS,2005)
Segundo Reis (2003), é importante destacar algumas características
importantes as quais estão diretamente associadas ao software livre,são elas:
• O uso da internet para distribuir o software e promover o desenvolvimento do
software de forma descentralizada;
• Os desenvolvedores são também usuários dos produtos que ajudam a
desenvolver;
• Existência de interesse individual e pessoal do desenvolvedor;
• Forte presença do individualismo, com desenvolvedores e usuários que se
tratam pessoalmente;
• Uso de ferramentas de comunicação e desenvolvimento distribuído.
Com isso, percebe-se que o software livre possui um grande valor agregado,
representando um instrumento motivacional da crescente utilidade social.
Existem vários projetos de software livre nas mais variadas aplicações:
empresarial, finanças, gestão de projetos, desenvolvimento de software, internet,
educação, editores de texto etc., além de tecnologias do mundo empresarial, tais
como: CRM (sistema de gestão do relacionamento com cliente), ERP (sistema
integrado de gestão), Data warehouse e OLAP (online analytical processing)
(OLIVEIRA JUNIOR, 2006).
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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Para Humes (2004), a forma peculiar de distribuição e disseminação de SL
tem se mostrado um desafio ao mercado, pois todas as regras estabelecidas de
preços, incentivos à produção, custos de mão-de-obra e outras variáveis estudadas
pela economia não conseguem explicar o novo fenômeno: o desenvolvimento de um
produto que conta com atualizações freqüentes, com características de excelência
técnica, de fácil obtenção e sem custos.
2.3.2 Software livre no Brasil
O movimento “Software livre” tem ganhado força no governo brasileiro nos
últimos anos. São muitos os documentos disponibilizados via Internet versando
sobre o Software Livre no governo brasileiro. Um exemplo disso é a publicação, em
outubro de 2003, das diretrizes da implementação do Software Livre no Governo
Brasileiro (BRASIL, 2003).
Esse assunto tem merecido amplas discussões e apoio nas esferas do setor
público, Além do Portal Software Livre [http://www.softwarelivre.gov.br/], há também
dois subdomínios: colaborar.softwarelivre.gov.br e interagir.softwarelivre.gov.br
apoiados pelo governo brasileiro. O atual governo federal dá apoio aos ambientes de
desenvolvimento colaborativo de código. As ações governamentais têm como
objetivo integrar comunidades de software livre, facilitando a comunicação entre
usuários, através de fóruns de discussão, compartilhamento de documentos, dentre
outros.
No Brasil, o governo federal tem apoiado iniciativas voltadas ao SL, como a
análise e estudo de uso de padrões abertos, licenciamento livre dos softwares e a
formação de comunidades de apoio ao movimento, em especial de usuários e
desenvolvedores. Diante disso, estão sendo publicados documentos oficiais, portais
e subdomínios, os quais validam o incentivo do governo. Um exemplo é o decreto de
29 de outubro de 2003 que institui a criação de comitês técnicos com a finalidade de
coordenar e articular o planejamento e a implementação de projetos e ações na área
de TI, sendo uma das vertentes a implementação do software livre.
Várias instituições públicas migraram do software proprietário para o SL e
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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obtiveram sucesso, a exemplo do Banco do Brasil o qual implantou o SL GNU/Linux
em sua infra-estrutura de internet/intranet e obteve inovação no processo de
evolução e manutenção das soluções. Hoje o Banco do Brasil é considerado o maior
caso de soluções em software livre na América Latina. Outras instituições como o
Detran-CE e Aeronáutica também utilizam o SL em seus processos organizacionais.
O apoio do governo federal dado à corrente dos adeptos ao código aberto
alcançou também a esfera privada seja de pequeno ou grande porte. Uma pesquisa
feita pelo CGI BR (Comitê Gestor da Internet no Brasil) revelou que apesar de
apenas 28% das empresas brasileiras utilizarem SL, esta utilização aumenta
conforme o aumento do porte. Àquelas consideradas menores (10 a 49 funcionários)
optam pelo SL enquanto que, a porcentagem aumenta para 61% quando se trata de
empresas com mais de 250 pessoas (CGI BR, 2008).
2.3.3 Estudos sobre Adoção do software livre
Quanto aos estudos sobre software livre na ótica de gestão, também muito
pouco de pesquisa na literatura brasileira, destacando-se as dissertações de
mestrado de Augusto (2003), Saleh (2004) e Humes (2004) e os artigos
(GONÇALVES NETO; AUGUSTO, 2004; RAMOS; OLIVEIRA, 2006; AGUIAR, 2008;
FUENTES; TAVARES, 2008).
O estudo proposto por Gwebu e Wang,2009 identificou e testou seis variáveis
que atuam diretamente na intenção de uso do SL. Além das variáveis previstas pelo
TAM, a utilidade percebida (PU) e a facilidade de uso (PEOU), pesquisadores
recentes estão realizando estudos científicos e identificando outros fatores como
influenciadores da adoção de uma tecnologia, Im et al., 2008 afirmou que o risco
percebido(PR) é o grau de incerteza associado com o uso de uma tecnologia,quanto
maior esse risco, menos usuários provavelmente irão utilizar a tecnologia. Rogers
(1985) elucidou, que a compatibilidade percebida também é um fator determinante
na percepção dos usuários na adoção de uma nova tecnologia, esse construto
considera os valores existentes, crenças, experiências passadas e necessidades
dos potenciais adotantes. Karahanna et al., 2006, realizaram estudos aprimorando
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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essa temática e agregando uma definição conceitual mais abrangente, constatando
que esse construto é um forte determinante na intenção de utilização.
Diante disso Gwebu e Wang (2009), a partir do construto compatibilidade
percebida, testaram duas variáveis no seu estudo a qual relacionou diretamente a
adoção e uso do SL, sendo elas: compatibilidade com a filosofia do SL(CWSP) e a
compatibilidade com a experiência do SL (CWSE) juntamente com essas variáveis
também foram consideradas a satisfação dos usuários com o SL (SAT) e os
construtos descritos acima, tais quais:a utilidade percebida (PU),a facilidade de uso
(PEOU) e os riscos percebidos (PR). Foi constatado que esses construtos
representam uma influência significativa de uso entre a percepção de diferentes
usuários do software livre.
Gwebu e Wang,2009 elaboraram no seu estudo, a segmentação dos
usuários do SL, visto que cada usuário apresenta um perfil diferente e isso
influenciará na sua percepção de uso, esse conhecimento de diferentes percepções
de uso deve fornecer informações úteis sobre as características de software livre
que precisam ser alteradas para atender as necessidades de tais segmentos de
mercado, a compressão da existência de tais diferenças também pode ajudar a
comunidade do software livre e as empresas a não apenas evitar falhas, mas
também aproveitar as discrepâncias para obter ganhos em conjunto com os usuários
e alcançar aqueles que ainda não são usuários mas apresentam um potencial de
penetração nesse mercado. Foi estabelecida uma tipologia, a qual segmentou esse
mercado sob duas variáveis, a experiência profissional e a filiação social, diante
disso foi evidenciado quatro tipos de usuários: os desenvolvedores e membros da
comunidade do SL, os desenvolvedores e não membros da comunidade de SL, os
não desenvolvedores e membros da comunidade do SL e os não desenvolvedores e
não membros da comunidade do SL.
Miralles et . al . 2006 evidenciaram no seu estudo a importância de entender a
adoção da tecnologia voltada para o processo de difusão do software livre sob outra
ótica, além das formas tradicionais foram consideradas relevantes dimensões para
adoção de uma nova tecnologia no contexto empresarial. A primeira dimensão é a
tomada de decisão racional, a qual é baseada em experiências práticas de
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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pesquisadores com a adoção TI nas organizações como Bozman et al.,2002 e
Wang, 2001 e envolve três dimensões a nível individual para adoção de TI nas
empresas, o custo total de propriedade, o qual influencia na decisão de adoção de
uma software de código aberto visto que são mensurados custos de obtenção e
manutenção de software, hardware etc; os atributos tecnológicos e o lock- in, o qual
é a prática que torna o cliente dependente dos produtos de um determinado
fornecedor.
Outra dimensão considerada foi a difusão de tecnologia, a qual engloba a
capacidade organizacional de experimentar inovações culturais, de financiar novas
tecnologias e externalidades da rede, as quais tem como referência a avaliação de
complementos externos e a existência de habilidosos profissionais . A última
dimensão considerada foi os aspectos psicológicos que envolvem a tomada de
decisão, a qual subdivide em informações em cascata de outros grupos que já
adotaram a tecnologia e foram bem sucedidos e as preocupações com a reputação
do gestor de TI.
Diante disso, Miralles et al. 2006 constataram que cada empresa entrevistada
citou razões diferentes para a decisão de adoção de softwares de código aberto,
então foi feito uma classificação dessas empresas em categorias observadas
durante as entrevistas, sendo elas: empresas não- usuárias de plataformas de
código aberto, empresas especializadas em adoção de sistemas de código aberto,
empresas dispostas a usar sistemas de código aberto e as empresas que utilizam
intensivamente sistemas de código aberto. Entender o processo de adoção de
softwares de código aberto nas empresas é um tanto quanto complexo, os gerentes
de TI são conduzidos sob vários fatores, foi constatado que a tomada de decisão
racional, a difusão de tecnologia e os aspectos psicológicos do tomador de decisão
são critérios relevantes para a adoção de tecnologia, verificou-se também que
somente o custo não é suficiente para entender a decisão de adoção de TI , outros
fatores também precisam ser considerados, como o lock-in, a marca, a tendência os
quais podem atuar de maneira determinante na adoção de uma nova tecnologia. Foi
evidenciado também que os CIOs tendem a ser mais influenciados por informações
em cascatas, as quais estão sujeitas à racionalidade limitada, pois as decisões são
tomadas segundo evidências superficiais, sem pleno conhecimento das razões pelas
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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quais essas decisões são tomadas. O efeito da comunidade de usuários do software
livre estão influenciando os CIOs em adotar novas tecnologias, esse efeito discorre a
cerca das práticas de programação, de considerações de responsabilidade social
corporativa e tende a ser cada vez mais comum no futuro.
Segundo Ven e Verelst, 2008 a decisão de adoção do software livre pode ter
características ideológicas ou pragmáticas. A tomada de decisão com características
ideológicas ocorre quando, há um compartilhamento com as crenças e princípios do
movimento do SL e não é avaliado a relevância dessa adoção para a organização, já
a tomada de decisão com características pragmáticas acontece quando a
organização não apresenta os princípios da ideologia do SL nem sofre influência
deles, é feita uma examinação cuidadosa das implicações dessa decisão no
contexto da organização. No estudo de Ven e Verelst, 2008 foi exposto que na
prática, a maioria das organizações utilizam um processo pragmático na tomada de
decisão de adoção de SL, sete organizações não apresentaram os princípios da
ideologia do SL e realizaram tomadas de decisões com características pragmáticas,
enquanto que três organizações foram influenciadas pelo fator ideológico na tomada
de decisão de adoção do SL, nessas empresas os dirigentes apresentaram um claro
favoritismo pelo SL, isso ocorreu porque eles eram adeptos do movimento do SL e
queriam usá-lo dento do ambiente profissional, nesse caso a experiência pessoal
agiu como motivador determinante para adoção do SL, nessas organizações, os
princípios de SL mais proeminentes foram a liberdade de software, a liberdade de
conhecimento e a cooperação.
Essas três organizações, as quais são adeptas da ideologia do SL, foram as
únicas que iniciaram os seus próprios projetos em SL. Geralmente, se as
organizações não estiverem convencidas das vantagens do SL, elas não iniciarão
projetos próprios de criação e desenvolvimento de sistemas de código aberto. Essas
empresas também citaram o lock-in, elas tinham tido experiências ruins com
fornecedores de software proprietário, pretendiam minimizar a dependência de
fornecedores e optaram pela adoção do SL.
Oliveira (2010) analisou os fatores que influenciam a adoção do software livre
em algumas empresas públicas brasileiras e delimitou importantes achados. O
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
54
pesquisador constatou que segundo a dimensão cultural, o fato de uma organização
ser pública influencia positivamente a escolha pelo SL, visto que nas organizações
públicas existem fatores que incentivam esse uso, como a prestação de contas a
sociedade, nesse tipo de organização também é comum o surgimento natural de
resistência às mudanças tecnológicas, mas a informação e capacitação diminuem as
resistências ao SL.
Os usuários de organizações públicas, em geral, ainda têm um conhecimento
superficial sobre o software livre, incluindo também o corpo gerencial. A existência
de centros internos de especialização e pesquisa dentro das organizações públicas
pode funcionar como indutores da disseminação do conhecimento sobre o SL,
dentro da escala global da organização. A influência externa serve de entusiasma
para adoção de SL nas empresas públicas, o setor público tem se tornado um
grande indutor de tecnologias. No entanto, atualmente existem poucas leis sobre o
tema SL, os governos, principalmente, o Governo Federal ainda não dispõe de leis
efetivas que regulamente o uso do SL no Brasil, o que existem são normativos os
quais tratam da contratação de TI e do uso do SL.
O esquema de licenciamento do SL é considerado positivo por parte das
organizações públicas, as quais estão se esforçando para o desenvolvimento de
licenças especiais que atendam às suas peculiaridades. O modelo de negócios do
SL é considerado, pelos seus defensores, como sendo estrategicamente mais
vantajoso do que o tradicional modelo de negócios do software proprietário. Os
aspectos técnicos do SL são relevantes para justificar a escolha do SL nas
empresas públicas, mas sozinhos não são capaz de justificá-la. A questão financeira
é a que inicialmente chama mais atenção dos gestores para a adoção do SL, sendo
relevante para justificar essa escolha, no entanto sozinha também não consegue
justificá-la. Diante disso, os motivos de caráter político e ideológicos são os mais
relevantes na decisão de adoção do SL em organizações públicas.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
55
Para Araújo (2007), uma análise preliminar do objeto sugere a existência de
lacunas conceituais que desencadeiam uma limitação sobre a percepção da
totalidade dos efeitos da adoção de tecnologias baseadas em software livre nas
organizações. Reforçando este argumento, Fuentes e Tavares (2008) afirmam que
estudos devem ser conduzidos no sentido de entender de forma mais precisa o setor
de software livre, uma vez que existem indicações de que o mesmo ainda deve ter
um desenvolvimento bastante expressivo e de importância destacada para o
ambiente competitivo, apesar de não se apoiar na propriedade intelectual.
Analisando o modelo americano de sucesso de desenvolvimento de
comunidades de software livre, Parreiras et al. (2004) avaliam o impacto destas no
cenário brasileiro e propõem adequações sob a perspectiva do fluxo da informação e
da criação do conhecimento colaborativo. No entanto, o papel do usuário comum e
sua ligação com o software livre não foi investigado.
Particularmente quanto à adoção de linguagem de programação, Chan et al.
(2005) pesquisaram os fatores intrínsecos e extrínsecos que afetam a decisão de
adoção. Os fatores intrínsecos são aqueles que descrevem critérios de design geral
das linguagens de programação e os fatores extrínsecos: caracterizam o contexto
histórico no qual a linguagem surgiu e evoluiu, são relacionados com o tempo. Os
fatores intrínsecos pesquisados por Chan et. al (2005, p. 74) foram ‘generalidade’,
‘confiança’, ‘manutenibilidade’, ‘eficiência’, ‘simplicidade’ dentre outros. Por outro
lado, foram testados os fatores extrínsecos, tais como ‘suporte institucional’, ‘suporte
governamental’, ‘suporte organizacional’, ‘suporte de aprendizado’ e ‘suporte
tecnológico’.
No contexto da adoção de SL, alguns construtos de adoção de TI podem ser
adaptados de Koufaris (2002), pois se relacionam com as respostas emocionais e
cognitivas do indivíduo. A principal variável a ser testada é a que mede o grau de
envolvimento com o produto. Outros construtos são o ‘risco percebido’, a
‘privacidade’, a ‘segurança’ (PAVLOU, 2003). O construto ‘risco percebido’ foi
encontrado na literatura (WEBER; ROEHL, 1999) e o ‘risco relacionado com a
performance’ não foi explorado na presente pesquisa.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
56
Neste referencial teórico, a pesquisa não pretendeu analisar toda a literatura e
o cenário de adoção de SL, mas apresentar um panorama teórico breve e básico no
qual algumas importantes conclusões pudessem ser feitas quanto às diferenças de
gênero.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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3. METODOLOGIA
Esta seção descreve o processo de feitura do trabalho, tendo como objetivo
esclarecer a lógica, as escolhas metodológicas e os procedimentos adotados na
pesquisa.
3.1 Tipologia do estudo
Segundo os critérios que representam aspectos estruturais da investigação, a
pesquisa é de natureza descritiva, pois descrevem-se o padrão, a experiência de
adoção, as relações existentes e a verificação de diferenças de gênero quanto ao
uso de ferramentas de software livre (variável dependente) e variáveis
independentes, concebidas como fatores, originadas de estudos correlatos com o
assunto. Também se pode caracterizá-la como exploratória, tendo em vista a
inserção de um construto novo na teorização sobre adoção de tecnologia,
especialmente considerando que há poucos estudos sobre o fenômeno da adoção
de softwares livres focando a questão das diferenças de gênero.
No que se refere à lógica de interpretação, a investigação teve uma
abordagem quali-quantitativa. Quando da utilização de métodos estatísticos, devido
à análise dos dados coletados em questionário estruturado, o raciocínio adotado foi
o hipotético-dedutivo. No caso da metodologia qualitativa, a análise de conteúdo e a
modelagem das respostas abertas tiveram como pressupostos a abordagem
interpretativista.
3.2 Etapas do estudo
Um conjunto de procedimentos metodológicos foi empreendido em seis fases.
A seguir, as atividades e os procedimentos metodológicos previstos na pesquisa são
brevemente descritos.
A primeira etapa da pesquisa foi constituída da obtenção de dados
secundários através de pesquisa bibliográfica. Nessa fase da pesquisa, foram
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
58
consultados bases de dados de periódicos, teses e dissertações, livros, Internet e
anais eletrônicos de eventos científicos, com vista a documentar uma revisão da
literatura em adoção de TI e gênero.
Como mencionado, a importância dos fatores que influenciam a adoção e
difusão de uma determinada tecnologia tem sido amplamente documentada na
literatura, por isso há muitos estudos bibliográficos internacionais sobre este
assunto. Apesar disso, ainda não se tem encontrado na literatura nacional um
levantamento exaustivo focado nos assuntos desse projeto, menos ainda levando-se
em conta a trilogia: gênero, adoção de TI e software livre.
Os periódicos científicos que mais têm publicado o assunto deste projeto são
os prestigiados Management Science, MIS Quarterly, Decision Sciences, Information
Systems Research, Information and Management, Journal of Management
Information Systems, Organizational Behavior and Human Decision Processes,
Academy of Management Journal dentre outros. Especialmente relacionada com os
assuntos Aceitação de TI, há referências internacionais importantes em mais de três
centenas de artigos científicos. Para a realização da revisão de literatura, foi
realizado um trabalho de leitura e releitura crítica, fichamento e montagem da
agenda de pesquisa. Esta revisão está sendo aproveitada para edição de um livro, e
portanto não se encontra na íntegra aqui neste relatório técnico.
A segunda etapa refere-se à pesquisa exploratória mediante uma abordagem
qualitativa. As atividades desenvolvidas abrangeram a organização, realização de
discussão dos grupos focados, amostrando-se os participantes por cotas de gênero.
A partir de um roteiro semi-estruturado de questões envolvendo questões sobre
gênero e adoção de tecnologias, foi desenvolvido uma pesquisa de campo com
usuários e não usuários de software livre, de forma a captar conhecimento e
aprendizado do contexto do uso de ferramentas de tecnologias de informação.
Esta fase teve como objetivo ter um conhecimento da realidade de algumas
mulheres e homens que usam recursos tecnológicos, para conhece de forma
exploratória os diversos fatores que se relacionam com o uso de SL, tais como a
falta de capacitação em operar e/ou interagir com sistemas em SL, a necessidade de
trocar conhecimento sobre o assunto com outras pessoas etc.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
59
Além disso, essa pesquisa exploratória serviu para coletar elementos para a
construção dos instrumentos de coleta de dados para as websurveys, nas suas
vertentes quantitativa e qualitativa.
Após a pesquisa bibliográfica e a fase exploratória da pesquisa, foram
construídos e validados dois instrumentos de coleta dos dados, constituindo-se as
atividades da terceira etapa da pesquisa. Ambos os questionários tiveram como
parâmetros as variáveis identificadas a partir de aspectos contidos na literatura
sobre UTAUT e Gênero.
Após revisões e aperfeiçoamentos, os questionários foram avaliados por
especialistas e aprovados em termos de validação de face, interna e externa, de
conteúdo e de construto. O pré-teste constituiu-se da atividade principal da quarta etapa da pesquisa. Após a consolidação dos questionários e suas respectivas
versões finais pré-testadas, foi necessário o desenvolvimento e posterior teste dos
questionários disponibilizados pela Internet (websurvey). Após os ajustes, os
questionários foram colocados na Internet, onde eram acessados através de links.
Para tanto, utilizamos um sistema automatizado de coleta de dados (versão
profissional) denominado surveymonkey (www.surveymonkey.com).
Digitados e testados os questionários online, a quinta etapa da pesquisa
referiu-se à coleta de dados diretamente na fonte, ou seja, dados primários, tendo
como coleta de dados a aplicação de dois questionários online. Esta fase de
levantamento de dados foi feita via websurvey. As respostas aos questionários foram
realizadas com o livre consentimento prévio dos participantes, de forma a garantir
que questões éticas fossem observadas no processo da pesquisa. Dessa forma,
conforme pode ser verificado nos textos que introduzem as pesquisas (Apêndices 1
e 2), comunicamos os objetivos do estudo aos participantes, bem como o órgão
patrocinador, não os expusemos ao risco, explicitamos a garantia do sigilo e
anonimato dos dados pessoais dos pesquisados, dentre outras salvaguardas de
caráter ético. Demos a alternativa do participante de sair do questionário a qualquer
momento, bem como informávamos do seu progresso, com um percentual de
questões já respondidas, a fim de dar mais tranqüilidade ao participante do quanto
foi feito e quanto faltava para chegar ao final do questionário. Na conclusão da
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
60
pesquisa online, agradecemos e colocamos a possibilidade do resultado final da
pesquisa (cópia dos resultados) ser disponibilizado mediante a informação do email
do respondente. Após a fase de coleta de dados via websurvey, foi desenvolvida a
sexta etapa da pesquisa, o qual abrangeu a preparação e as análises dos dados.
Tendo em vista que a pesquisa tem duas vertentes de análise, faremos
separadamente a exposição dos métodos empregados.
3.3 Universo e amosta
Escolheu-se prioritariamente, como universo da pesquisa, participantes de
comunidades de software livre. Portanto, a amostra foi não probabilística. A principal
razão da escolha desse público alvo deveu-se ao fato de que têm perfil de usuário
de computador e potencialmente são adotantes de software livre em aplicações
utilizadas em casa, no trabalho e/ou na universidade.
Foi enviado um convite por email para as comunidades encontradas pela
Internet. Também houve colaboração de coordenadores e militantes de projetos
envolvendo SL que enviaram para suas listas de distribuição mensagens convidando
os participantes a se engajarem na pesquisa. Nos emails e/ou scraps, eram
informados o teor da pesquisa e os links para os questionários online.
3.4 Materiais e métodos da pesquisa quantitativa
Como procedimento de coleta de dados da pesquisa de natureza quantitativa,
utilizou-se um questionário estruturado, com nove questões, sendo 8 fechadas e
uma aberta. Para medir as variáveis relacionadas com o UTAUT, foi utilizado o
escalonamento do tipo Likert, que consiste em um conjunto de afirmações sobre
adoção de SL, ante os quais se pedia aos indivíduos que os julgassem de acordo
com suas percepções e reações a respeito desses, escolhendo em uma escala que
varia do 1-Discordo totalmente ao 10-Concordo totalmente. O questionário contém
duas partes, a primeira com as assertivas relacionadas com percepção de adoção
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
61
do SL e padrão de uso e a segunda indagando sobre o perfil do(a) respondente. O
apêndice 1 contém o modelo desse questionário aplicado no websurvey.
A amostra que constituiu essa pesquisa foi de natureza não aleatória, por
conveniência e teve como e teve como critério de inclusão ser um usuário ou
desenvolvedor de software livre. O questionário ficou disponível na Internet,
hospedado no www.surveymonkey.com durante 15 dias.
Após o término do período de coleta de dados, procedemos à importação dos
dados em planilha eletrônica, gerada pelo programa do surveymonkey. Os dados
foram condensados em um banco de dados, a fim de atingir os objetivos propostos,
isto é, descrever quantitativamente a aceitação (ou rejeição) do software livre em
relação às variáveis, tais como expectativa de desempenho, expectativa de esforço,
influência social, condições facilitadoras e ideologia no uso do SL. Em todos os
testes, buscamos enxergar a mediação do gênero, com a finalidade de descobrir se
havia diferenças estatísticas.
3.4.1 Análise descritiva dos dados
As técnicas estatísticas que foram empregadas nas análises descritivas dos
dados foram: distribuição de freqüência das variáveis, cálculos uni e bivariados,
como a média, desvio-padrão, curtose, amplitude e tabulações cruzadas.
Para a questão sobre adoção de SL entre homens e mulheres, foram
utilizados os testes não-paramétricos de Mann-Whitney e qui-quadrado, escolhidos
pela natureza da escala, que possibilitou examinar as associações entre os grupos
por gênero e outras variáveis demográficas.
O teste não paramétrico de Mann-Whitney avalia se existe uma diferença
estatística significativa entre as médias dos postos (mean rank) das duas condições.
O teste Mann-Whitney é usado quando há participantes diferentes em cada
condição. Esse teste estatístico exige que os escores das duas condições sejam
ordenados a fim de que o teste estatístico seja calculado a partir dessas ordenações
(DANCEY; REIDY, 2006).
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
62
O programa utilizado nas análises de estatísticas descritivas e nos testes de
hipótese de diferença através de Mann-Whitney e Qui-quadrado entre grupos foi o
SPSS®, versão 18.0.
3.4.2 Análise inferencial dos dados
A última parte da análise quantitativa envolveu a Modelagem de Equações
Estruturais, mostrando os cálculos do modelo proposto no software SMARTPLS®
(versão 2.0). Este software foi utilizado devido à escolha do método de Mínimos
Quadrados Parciais (Partial Least Square – PLS).
A utilização da modelagem de equações estruturais como método estatístico
permitiu a generalização sobre as percepções de uso SL, através da adoção de
procedimentos de análise quantitativa. Considerou-se essa técnica de análise como
a mais indicada em razão de seu caráter confirmatório (PILATI; LAROS, 2007). De
acordo com Hair et al (2005), a diferença entre outras técnicas multivariadas e a
MEE é que, através desta última, pode-se realizar uma série de relações de
dependência interrelacionadas simultaneamente, pois combina “aspectos de
regressão múltipla (examinando relações de dependência) e análise fatorial
(representando conceitos não medidos – fatores – com múltiplas variáveis)” (HAIR et
al., 2005, p.468-9).
A MEE tem várias abordagens. A escolhida nesta pesquisa é a técnica de
análise do mínimo quadrado parcial (Partial Least Square), por modelagem de
caminhos (path modeling) – PLS-PM. Segundo Chin (2010), o PLS-PM é uma
metodologia baseada em componentes que provê a determinação de escores dos
construtos para fins preditivos. Seu principal objetivo é estimar a variância de
construtos endógenos e por sua vez suas variáveis manifestas (se reflexivas).
Justifica-se a utilização da técnica baseada em mínimos quadrados parciais
(PLS) em virtude da sua aplicabilidade em teste de hipóteses, onde tanto o modelo
estrutural (inner model) quanto o modelo de mensuração (outer model) são tratados
conjuntamente para testar relações entre os conceitos não observáveis (variáveis
latentes) do modelo proposto (BUENO; SALMERON, 2008).
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
63
Além disso, o PLS proporciona algumas vantagens para o presente estudo
como a possibilidade de ser utilizada em amostras menores e com dados não
normais. O algoritmo Partial Least Squares (PLS) foi usado para estimar o modelo
MEE, o qual leva a melhores estimativas quando se está lidando com pequenas
amostras e distribuição não normal, comparado com outras metodologias baseadas
na Máxima Verossimilhança (CHIN; TODD, 1995).
O PLS foi utilizado através do software livre SMARTPLS (RINGLE, WENDE,
WILL, 2005). Os dados foram importados depois da conversão dos dados para o
formato “csv” (separado por vírgula).
Para o processamento dos dados através do PLS algorithm, foi configurado
para rodar o path weighting scheme (ou structural scheme) que usa a correlação ou
regressão múltipla para prever a variável latente e que esta possa ser uma boa
preditora da variável latente subseqüente (TENENHAUS et al., 2005, p.170-171).
Após verificado o modelo de mensuração e o modelo estrutural, procedeu-se
à avaliação da significância estatística. Para tanto, efetuou-se o teste de
significância com bootstrapping, com 500 reamostras, de acordo com
recomendações de Chin (1998 apud BIDO et al., 2010) no software SMARTPLS.
Nesse método, é descartada a distribuição amostral assumida de um
parâmetro e calculada uma reamostragem empírica, tida como a real distribuição do
parâmetro, ao longo de centenas ou milhares de amostras (HAIR et al., 2005). De
acordo com Hair et al. (2005), esse procedimento é um tipo de reamostragem
aleatória em que os dados originais são repetidamente processados com
substituição para estimação do modelo.
Para esse procedimento, seguiu-se o recomendado por Tenenhaus et at
(2005), ou seja, a opção escolhida foi construct level changes, pois o vetor das
cargas de cada variável latente é comparada em cada reamostragem ao vetor
correspondente das cargas da amostra original. Além disso, os autores não
recomendam as opções no sign changes e individual changes.
O nível de significância utilizado nas decisões dos testes estatísticos foi de
5% e 95% para o nível de confiança nos intervalos.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
64
3.5 Materiais e métodos da pesquisa qualitativa
Da mesma forma que a quantitativa, a amostra que constituiu a pesquisa
qualitativa foi de natureza não aleatória, por conveniência e teve como e teve como
critério de inclusão ser um usuário ou desenvolvedor de software livre. O
questionário ficou disponível na Internet, hospedado no www.surveymonkey.com
durante 15 dias.
Como mencionado, a pesquisa se propôs a compreender os aspectos que
envolvem a adoção de SL, buscando evidenciar possíveis diferenças de gênero.
Como procedimento para coleta dos dados primários, optou-se pelo questionário
online, com questões semi-estruturadas. Foram endereçadas 17 questões abertas,
algumas contendo um ninho de perguntas, cuja conseqüência foi um aumento da
quantidade efetiva de perguntas do questionário, embutindo uma maior
complexidade na interpretação dos dados. O questionário qualitativo encontra-se no
apêndice 2. Para o escopo dessa versão do relatório de pesquisa, optou-se por
descrever os resultados da análise qualitativa de três questões, apenas. A riqueza
do material qualitativo levantado na pesquisa online vai permitir dar continuidade à
produção acadêmica sobre este tema em nossas investigações futuras.
Para atender ao objetivo principal da pesquisa, complementamos a análise
quantitativa, de natureza neopositivista (apresentada na seção 3.1), com uma
abordagem qualitativa, em particular com o emprego da técnica de análise de
conteúdo, cuja aplicação se presta para o estudo das motivações, atitudes, valores,
crenças, tendências (BARDIN, 2009), melhor se adequando à nossa pesquisa.
3.5.1 Análise de conteúdo
Para Chizzotti (2001, p.98), “o objetivo da análise de conteúdo é compreender
criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as
significações explícitas ou ocultas.” Segundo o autor, a decodificação de um
documento pode utilizar-se de diferentes procedimentos para alcançar o significado
profundo das comunicações nele cifradas, tais como análise léxica, análise segundo
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
65
categorias, análise da enunciação no momento do discurso, análise de conotações
ou qualquer outra forma inovadora de decodificação de comunicações (Chizzotti,
2006, p.98).
Para Minayo (1999), do ponto de vista operacional, a análise de conteúdo
parte de uma literatura de primeiro plano para atingir um nível mais aprofundado:
aquele que ultrapassa os significados mais manifestos. Na busca de atingir os
significados manifestos e latentes no material qualitativo, têm sido desenvolvidas
várias técnicas como Análise de Expressão, Análise de Relações, Análise Temática,
e Análise de Enunciação (MINAYO, 1999).
Como técnica de análise de conteúdo, nesta etapa do estudo proposto,
adotou-se a análise temática ou categorial, que é descrita por Bardin (2009) como o
processo de análise do texto, a partir de unidades categorizadas e (re)agrupadas
analogicamente em relação aos eixos temáticos. A escolha dessa técnica é
particularmente útil para a etapa de análise das categorias propostas, em função da
possibilidade de otimizar a organização das diversas informações contidas nas
respostas abertas.
A análise de conteúdo constitui-se de um método de tratamento de
comunicações que pode ser bastante amplo conforme os objetivos e delineamento
metodológico de uma pesquisa. Logo, conforme Mozzato (2010), emerge a
necessidade do emprego de técnicas computacionais, as quais podem ser
estatísticas ou não.
3.5.2 Aplicação da informática na análise qualitativa de dados (CAQDAS)
Desde a década de 1980, uma ampla variedade de softwares tem sido criada
para auxiliar na análise de dados qualitativos. Para referir-se a eles, é comum a
utilização da sigla CAQDAS – Computer Aided Qualitative Data Analysis Software.
Muitos autores classificam como “aplicação da informática na análise de dados”
LAGE; GODOY (2008). Uma notória vantagem da informática é ser um recurso
poderoso para armazenar e indexar dados de forma rápida e precisa, com facilidade
de recuperação e verificação do processo de análise. Mas há várias outras
vantagens no uso de ferramentas CAQDAS na análise qualitativa. Lage e Godoy
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
66
(2008, p. 80) citam: a possibilidade de armazenar como dados codificáveis as teorias
que suportam a pesquisa, assim como novos resultados encontrados, facilita a
elaboração de correlações complexas entre dados-resultados-aspectos teóricos,
permitindo testar idéias e hipóteses.
Para Kelle (2002 apud PINTO; SANTOS 2010), esses softwares contêm uma
variedade de propriedades, como: mecanizar tarefas de organização e arquivamento
de dados; facilidade para armazenar os comentários dos pesquisadores que podem
ser ligados a palavras-índices ou segmentos de textos; propriedades para definir
ligações entre palavras-índices, utilização de filtros, de tal modo que a busca de
segmentos de textos possa ser restringida por certas exigências.
No que se refere às pesquisas no campo de Sistemas de Informação, em
particular, tem ocorrido um deslocamento das pesquisas de questões tecnológicas e
gerenciais para questões organizacionais, levando a um maior interesse na
aplicação de métodos de pesquisa qualitativa. Pozzebon e Freitas (1998) haviam
constatado este movimento no final da década de noventa. De uma forma geral, o
prestígio das pesquisas que se utilizam de métodos qualitativos tem crescido de
forma consistente no universo acadêmico da área de Administração.
Por isso, nesta pesquisa, investimos na análise qualitativa através da adoção
do software Atlas.ti@ (versão 5.0), desenvolvido pela Scientific Software
Development. A seguir, descrevemos brevemente esta ferramenta computacional de
apoio às pesquisas que se utilizam de fontes textuais como banco de dados.
3.5.3 Software Atlas/ti
No processo de escolha de uma ferramenta de auxílio à pesquisa qualitativa,
optamos pelo ATLAS.ti, basicamente por constatar que o referido software ainda é,
atualmente, considerado por vários pesquisadores como benchmarking em
CAQDAS (SCHRÖEDER, 2009). Conforme Friese (2009), o software Atlas.ti é um
dos mais complexos programas CAQDAS e oferece uma gama de funcionalidades
para a análise de conteúdo. O Atlas.ti ajuda no processo de codificação dos dados
textuais, gráficos, áudio e vídeo e sua organização, permitindo um maior rigor no
processo de análise qualitativa.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
67
O primeiro desenvolvimento remonta aos anos 1989-1992. Como parte de um
projeto de pesquisa na Universidade Técnica de Berlim, na Alemanha (ATLAS.TI,
2006), era preciso ter uma ferramenta que pudesse auxiliar na análise qualitativa dos
dados. Como havia nenhum pacote àquela época que satisfizesse as necessidades
dos pesquisadores, a solução foi criar um protótipo que evoluiu até sua primeira
versão comercial, em 1993. O criador foi um psicólogo e cientista computacional,
Thomas Muhr.
O Atlas.ti possui a habilidade de gerenciar o conhecimento, de forma
sistemática e organizada, por meio da transformação de dados soltos em
informações úteis e flexíveis. Friese (2009) aponta duas influências na filosofia do
Atlas.ti. A primeira é a tradição alemã e europeia da análise hermenêutica e a
segunda tem a ver com o método americano de análise qualitativa fundamentada
em dados ou teorização embasada, a Grounded Theory, originalmente desenvolvida
por Glaser e Strauss na década de sessenta. O próprio Muhr (1991, p. 351) atesta
esta influência metodológica quando afirma: “durante o desenvolvimento do
programa nós fomos estimulados pelas ideias, terminologia e processos
metodológicos associados com a grounded theory”. O autor do Atlas.ti pontua que
as funções desse pacote são genéricas, no sentido de que é compatível com outras
abordagens metodológicas, como é o caso do método de análise qualitativa de
conteúdo.
Na explanação de Lima (2010, p.92), esse aplicativo é “especialmente útil
para a teorização a partir da codificação, separação e identificação das relações de
unidades de significação identificadas no conjunto dos dados”.
O Atlas.ti desenvolve-se a partir da criação de uma Unidade Hermenêutica
(hermeneutic units - HU), onde se agrupam os Documentos Primários (primary
documents - PD), que são fragmentados em citações, que levam códigos (codes) e
anotações (memos), compõem famílias (families) e desenham redes de relações
(networks).
Na presente pesquisa, deu-se preferência em analisar o conteúdo manifesto
dos documentos, visto que não seria possível desvendar p conteúdo latente que eles
possuem apenas com o registro das respostas do questionário. No entanto,
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
68
corroborando com Mozzato (2010), a utilização de softwares apenas serviu para
facilitar a análise e a interpretação, não eximindo nossa atuação ativa na adoção de
um método de análise coerente e pertinente ao tema e à orientação epistemológica.
3.5.4 Operacionalização da análise qualitativa
Em termos dos procedimentos da análise qualitativa através da ferramenta
computacional, os dados contendo as questões abertas foram inseridos em um
único documento no software Atlas.ti, denominado de unidade hermenêutica, a qual
constitui o nosso corpus. A partir daí, procuramos seguir as três etapas operacionais
apresentadas por Bardin (2009): 1a) pré-análise; 2a) exploração do material; 3a)
tratamento dos resultados e interpretação.
A primeira etapa teve o objetivo de se efetuar uma análise de conteúdo para
verificar os significados das colocações, os termos e citações, na busca de padrões
recorrentes de respostas. Fez-se uma leitura flutuante dos documentos, com base
na seleção prévia das questões do questionário aberto (Apêndice 2). Tendo em
mãos, as respostas impressas, fazia-se o cotejamento das respostas ante as
hipóteses do modelo teórico a ser testado e, por fim, a demarcação e referenciação
dos códigos (ou índices) por meio de trechos ou recortes das ‘falas’ dos
respondentes nos documentos de análise, de forma manual. Conforme Freitas e
Janissek (2000), tal procedimento requer que a análise léxica esteja concluída, de
forma que os textos dos respondentes sejam confrontados com as listas de palavras
obtidas anteriormente. Para tanto, aqui tivemos o apoio da funcionalidade do conta-
palavras (Word Cruncher), do Atlas/ti.
Após a fase “pré-analítica”, foi feita a exploração do material, realizando a
operação de codificação. Conforme Freitas e Janissek (2000), para a análise dos
dados qualitativos, o primeiro desafio a ser enfrentado é a adequada codificação das
informações. Miles e Huberman (1994) afirmam “codificar é analisar”. Eles
acrescentam que essa parte da análise envolve como diferenciar e combinar os
dados recuperados e a geração de reflexões sobre essa informação.
Strauss e Corbin (2008) destacam três processos de codificação para a
análise e construção de teoria a partir de dados qualitativos os quais ocorrem
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
69
concomitantemente: codificação aberta, que consiste em um processo analítico dos
dados para identificação dos conceitos, de suas propriedades e dimensões;
codificação axial a qual relaciona categorias e suas subcategorias, associando as
categorias às suas propriedades e dimensões; e a codificação seletiva que se refere
ao processo de integrar e refinar a análise. Embora a presente pesquisa tenha sido
realizada com base em um protocolo assumido a priori, diferente da grounded theory
(GT) de Strauss e Corbin (2008), que se baseia em análise indutiva, lançamos mão
das técnicas de codificação da GT: codificações aberta e axial.
A codificação aberta se deu pela realização da releitura do texto das
respostas às questões abertas, ou seja, eram estabelecidas as categorias
conceituais (que são os ‘códigos’, no Atlas/ti), a partir de cada resposta individual,
em cada uma das questões em foco. Para Freitas e Janissek (2000, p.109), esse
processo é uma “tentativa de ‘fechar’ a questão, ou seja, dispor da questão aberta e
espontânea, mas também criar uma nova, fechada ou com categorias de respostas
correspondentes”. Então, para cada uma das respostas, se analisava a temática
subjacente e procedia-se à codificação. O Atlas/ti oferece dois tipos de codificação
aberta: criação de códigos por temática prévia ou por manifestação “in vivo”.
Nesta etapa, os códigos eram agrupados em unidades de registros, para
facilitar a visualização dos temas principais e o padrão de significados dos dados
atribuídos. Foi adotada, como unidade de análise, um trecho de uma frase, uma
frase inteira ou orações inteiras das respostas à questão aberta.
Quando pertinente, também se buscou identificar as unidades de contexto
através de anotações (os chamados ‘memos’, no Atlas/ti), para entendimento da
significação (compreensão semântica) da unidade de registro, na etapa de
codificação axial. Essas anotações sobre o conteúdo lido e linkado, aumentava a
possibilidade de enriquecimento da interpretação.
Certamente este processo, por ser qualitativo, exigiu leitura e releitura de
forma a validar as categorias que foram criadas. Além disso, como este tipo de
método é subjetivo, baseado no ‘olho clínico’ e experiência do(a) pesquisador(a), a
busca da melhor definição de categorias (ou códigos), é necessário um algoritmo
que executa ações sequenciais e recorrentes no processo de análise qualitativa.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
70
Assumiu-se, para o estabelecimento das categorias do corpus, o atendimento
aos critérios de qualidade propostos por Bardin (2009, p. 147-8) como: i) Exclusão
mútua, onde cada elemento não pode existir em mais de uma divisão; ii) Pertinência,
se as regras estiveram adaptadas ao material de análise escolhido e ao objetivo; iii)
Homogeneidade, com temas semelhantes agrupados na mesma categoria; iv)
Objetividade, em que diferentes partes de um mesmo material devem ser
codificadas da mesma maneira; e iv) Produtividade, a fim de que das categorias
derivem resultados férteis.
No caso da codificação axial, as ações eram realizadas tiveram a seguinte
sequência: i) definir a lógica de associação entre as categorias conceituais; ii)
desenvolver categorias semânticas com a comparação constante e iii) identificar
dimensões dentro dos documentos analisados.
Uma vez que havia uma quantidade suficiente de códigos, direcionamos
nossos esforços para sintetizar o que tinha sido mais relevante nos dados. Essa foi a
última etapa, de tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Portanto,
foi necessário um trabalho de abstração para condensação e o destaque das
informações para análise, a fim de realizar as inferências de forma interpretativista.
Nesse processo, foram feitas comparações teóricas, através de codificação axial
sistematizada anteriormente. Como afirma Bardin (2009), esse é o momento da
intuição, da análise reflexiva e crítica. O software Atlas/ti também permite a geração
de esquemas gráficos das redes de relações entre as codificações e o agrupamento
de codificações em famílias os quais permitem uma visualização dos resultados,
facilitando a convergência ou não com o quadro teórico escolhido a priori.
Ainda na etapa de tratamento dos resultados obtidos e interpretação, se teve
o apoio da informática, como quando da realização de algumas análises léxicas dos
termos empregados pelos participantes, realização de operações estatísticas
simples (percentagens) para colocar em relevo os achados obtidos.
Como forma de testar a confiabilidade das categorias, realizamos dois
procedimentos: a) reteste – repetimos o processo de codificação; b) confrontação –
os resultados foram confrontados com os padrões estabelecidos. Esse processo de
verificação foi assistida por uma segunda analista.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
71
Como mencionado, todo este processo se deu com o auxílio do Atlas/ti e que
os temas ou categoriais conceituais que nos guiaram foram os quatro antecedentes
teóricos da UTAUT e o construto adicional que introduzimos nesta pesquisa
(ideologia).
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
72
4. RESULTADOS DA ANÁLISE QUANTITATIVA
4.1 Análises preliminares
Neste item, apresentamos o resultado da análise exploratória, cujos objetivos
estão direcionados ao conhecimento das características dos dados e verificação de
violações em pressupostos estatísticos que promovam problemas na interpretação e
análise dos resultados.
4.1.1 Preparação dos dados
O tratamento dos dados envolveu análises univariadas, bivariadas e
multivariadas, com o objetivo de um conhecimento preliminar dos dados, bem como
para verificar eventuais erros de digitação na entrada do banco de dados, seguindo
as recomendações de Hair Jr et al. (2009). Na etapa de preparação dos dados,
procedeu-se a inversão de um item e a limpeza do banco de dados, a fim de
prepará-lo para a análise estatística.
A pesquisa teve um total de 406 participantes, segundo os dados
disponibilizados no link específico do site www.surveymonkey.com, a qual esteve
aberta para coleta por 15 dias. O critério de inclusão no banco de dados era o de
selecionar respondentes que fossem usuários de software livre, bem como os que
responderam a pergunta sobre o seu gênero. Desta forma, restaram 257 respostas
aptas para a análise quantitativa, ou seja, aproximadamente 1/3 do total coletado
teve que ser descartado por não atender a esse critério determinado na pesquisa.
Em seguida, foi feita uma inspeção para identificar os dados faltantes ou
ausentes (missing values), o qual se constatou uma baixa frequência de omissão de
dados, distribuídos aleatoriamente entre os casos e variáveis, possibilitando, assim,
sua substituição pela média do item (Hair Jr. et al. (2009). A ausência de dados não
foi fonte de viés nessa pesquisa devido o próprio software utilizado no questionário
online avisar ao respondente quanto havia dados ausentes, que tinha a partir desta
informação a opção de complementar suas respostas.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
73
Quanto aos outliers (dados extremos) univariados, esses não excederam a
referência proposta por Hair Jr. et al. (2009) e, por este motivo, optou-se por mantê-
los no banco de dados.
Após esta fase de limpeza dos dados, foi feita a análise da natureza dos
dados, para verificação de adequação do(s) tipo(s) de testes estatísticos que seriam
empregados. Para Corrar, Paulo e Dias Filho (2009, p.41), devem ser sempre
usados pelo pesquisador testes gráficos e estatísticos “para avaliar o real grau de
desvio da normalidade”. Por isso, foi realizada uma inspeção visual a partir da
análise dos histogramas (Apêndice 3) e do teste de Kolmogorov-Smirnov (Apêndice
4). O resultado mostra que, em todas as escalas e nas dimensões dos construtos ou
nas variáveis de interesse, o teste de Kolgomorov-Smirnov constatou a não normalidade da distribuição dos dados.
Quanto à curtose, também foi identificada positivamente na distribuição das
variáveis em todos os constructos. Considerando-se ser esta uma pesquisa de
opinião onde utilizamos uma escala progressiva, é plausível que os dados não se
distribuam normalmente, e até mesmo que as respostas se concentrem mais em
uma extremidade da curva de distribuição. Sendo assim, seguimos a recomendação
existente para os casos de não-normalidade dos dados, empregando testes
estatísticos não paramétricos.
Concluindo esta fase de preparação, será apresentada a validação da
amostra.
4.1.2 Verificação do poder estatístico e tamanho do efeito
Como não havia sido calculado o tamanho da amostra a priori, foi então
necessário testar a validade da amostra obtida, após a coleta de dados. Conforme
sugerido por Chin e Newsted (1999, p. 314, 326-327), em estudos que utilizam a
modelagem de equações estruturais com a estimação Partial Least Squares – Path
Modeling (PLS-PM), deve ser calculado o poder estatístico e o tamanho do efeito
(effect-size), a priori ou a posteriori.
Para Cohen (1992), o poder de um teste estatístico de uma hipótese nula (Ho)
é a probabilidade de que Ho seja rejeitado quando de fato ela é falsa, isto é, a
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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probabilidade de obter um resultado estatisticamente significante. O autor afirma que
o poder estatístico depende do critério de significância (α), o tamanho da amostra
(N) e o tamanho do efeito para a população.
Para verificar o poder estatístico e o tamanho do efeito, foi utilizado o software
G*Power versão 3.1.2 (FAUL et al., 2009). Calculou-se, na modalidade ‘a posteriori’,
qual seria o poder estatístico permitido pela amostra coletada. Optou-se pelo teste F,
análise do poder do tipo “post hoc” - computer achieved power – para um dado alfa,
tamanho da amostra e tamanho o efeito e teste estatístico “Linear multiple
regression: Fixed model, R² deviation from zero”, por ser o mais adequado para o
uso do PLS. A figura 6 ilustra o resultado do poder estatístico que o G*Power
calculou para uma amostra de 257 casos e alfa de 5%.
Figura 6: Cálculo do poder estatístico (teste post hoc)
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
75
O valor encontrado foi de 0.9994. Isso significa que, se houver um efeito
médio (f² = 0,15) na população, e testarmos cinco preditores no modelo estrutural,
tem-se 99,9% de chance de inferir como significante um relacionamento que, de
fato, o seja.
Após o cálculo do poder estatístico, a partir da informação do tamanho da
amostra obtido e o poder estatístico calculado no teste post hoc, foi realizado
também o teste de sensibilidade para detectar qual o R2 mínimo para se inferir que
há relacionamento estatisticamente significante (FAUL et al., 2007, p.181).
Figura 7: Tamanho do efeito do R2 (teste de sensibilidade)
O resultado mostrou que, para a probabilidade de erro alfa de 5%, poder de
99,9%, amostra de 257 casos e 5 preditores, o tamanho do efeito (f²) obtido foi de
0,1499 (Figura 7). Portanto, um f2 igual ou superior a 0,1499 já seria suficiente para
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76
detectar como significante a regressão. Convertendo o f² em R², significa dizer que,
se na população houver um R² igual ou superior a 14,99%, a amostra o detectará
como significante.
Portanto, mesmo sem ter calculado a priori o tamanho da amostra, é correto
afirmar que a amostra obtida na pesquisa possui poder estatístico para detectar a
existência de uma suposta relação entre variáveis latentes quando ela realmente
existe, pois ambos os testes post hoc e sensibility tiveram como resultado valores
acima de 80% de poder estatístico e tamanho do efeito médio de 0,15, conforme
recomendado por Hair et al. (2005) e efeito médio de 0,15% convencionado por
Cohen (1992).
4.2 Perfil demográfico da Amostra
A amostra da pesquisa é constituída de 257 respondentes, sendo 122
mulheres e 135 homens. Em relação ao gênero do respondente, não foi vista
diferença estatística significante (p<0,05) na quantidade de respondentes da
pesquisa.
Com relação ao perfil etário, a amostra concentrou-se na faixa etária
considerada ‘adulta’ pelo IBGE (15 – 65 anos), visto que a amplitude total variou de
15 a 72 anos. As medidas de tendência central foram as seguintes: média de 27,9
anos, moda de 22 anos e desvio padrão de 8,2 anos.
Para efeito de teste de hipótese, foram criadas três faixas etárias: a primeira,
com idade até 23 anos, que são os mais jovens, correspondendo a 33,1%; a
segunda, de 24 a 29 anos, retratando a faixa intermediária, com 36,6%; e a terceira,
que são os respondentes com 30 ou mais anos, que se encaixam no perfil de
adultos mais maduros, para os restantes 30,4% da amostra, conforme se
apresentam na tabela 1. O cruzamento das variáveis sexo e faixa etária comprovou
que não há diferença na distribuição das três faixas etárias da amostra como um
todo (Chi =2,8, df=2, Sig=0,24).
Tabela 1: Distribuição da faixa etária por sexo
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Faixas etárias Homens Mulheres Total Percentual Percentual acumulado
Até 23 anos 51 34 85 33,1 33,1
De 24 a 29 anos 46 48 94 36,6 69,6
Acima de 29 anos 38 40 78 30,4 100,0
Total 135 122 257 100,0
Assim, na distribuição da faixa etária por sexo (gráfico 1), embora exista uma
maior concentração de homens do que de mulheres com idade até 23 anos, esta
diferença não foi o suficientemente significante (p<0,05) para apontar diferença
estatística entre estas duas variáveis.
Gráfico 1: Comparação da faixa etária por sexo
No que se refere à ocupação profissional, a Tabela 2 indica que a amostra é
composta, sobretudo, por pessoas que atuam profissionalmente, seja em tempo
integral (41,2%), tempo parcial (12,5%) ou por conta própria (16%). Os estudantes
responderam por apenas 27,2% da amostra.
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Tabela 2: Distribuição da amostra por ocupação profissional
Ocupação Frequência Percentual Percentual acumulado
Empregado tempo integral 106 41,2 41,2
Empregado tempo parcial 32 12,5 53,7
Trabalho por conta própria 41 16,0 69,6
Não está trabalhando 8 3,1 72,8
Estudante 70 27,2 100,0
Total 257 100,0 41,2
Quanto confrontamos o perfil profissional por gênero, o gráfico 2 revela que
há homogeneidade na distribuição das ocupação entre homens e mulheres, com
uma leve predominância de mulheres sem um trabalho no momento. Esta diferença,
no entanto, não se confirma do ponto de vista estatístico (Chi=5,78, Sig=0,22).
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Gráfico 2: Comparação do tipo de ocupação profissional por sexo
Ao cruzar ocupação profissional com sexo, chegamos a conclusão que a
amostra está bem distribuída, refletindo um momento econômico positivo, e a
entrada cada vez mais das mulheres no mercado de trabalho. Não se explorou a
variável renda, nesta pesquisa.
4.3 Perfil de experiência computacional de TI e SL
Quanto ao perfil de experiência de tecnologia de informação (TI), a maior
parte considera-se um usuário com uma boa experiência no uso de computadores e
tecnologias em geral, conforme a Tabela 3. No entanto, apenas 21,8% enquadram-
se na categoria de usuários muito experientes.
Tabela 3: Experiência com TI
Nível de experiência em TI Frequência Percentual Percentual acumulado
Muito pouco experiente 2 0,8 0,8
Pouco experiente 10 3,9 4,7
Razoavelmente experiente 76 29,6 34,2
Experiente 113 44,0 78,2
Muito experiente 56 21,8 100,0
Total 257 100,0
Com relação à experiência de instalar/desenvolver sistemas de código aberto
(por exemplo, Linux), a Tabela 4 revela que os respondentes se consideram um tipo
de usuário razoavelmente experiente (37,7%). Quando comparada com o grau de
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80
experiência em TI apresentada na tabela 3 anterior, notamos que os usuários
consideram-se bem menos experientes com relação às tecnologias livres.
Tabela 4: Experiência com instalação de SO livres
Nível de experiência com sistemas livre Frequência Percentual Percentual acumulado
Sem experiência 21 8,2 8,2
Muito pouco experiente 18 7,0 15,2
Pouco experiente 47 18,3 33,5
Razoavelmente experiente 97 37,7 71,2
Experiente 50 19,5 90,7
Muito experiente 24 9,3 100,0
Total 257 100,0
O nível de pouca experiência alcança apenas 4,7% no uso de TI, enquanto
que para as tecnologias livres o percentual acumulado é de 33,7%. Esse resultado
era esperado, devido às tecnologias que usam software livre não serem tão
difundidas quanto às tecnologias de informação em geral e com aplicação mais
recente no mercado.As respostas de homens e mulheres com relação aos níveis de
experiência com a utilização de sistemas de código aberto foram comparadas
através do teste não-paramétrico de Mann-Whitney. A tabela 5 apresenta esses
resultados.
Tabela 5: Níveis de experiência com TI e SL por gênero
Níveis de experiência Sexo Média dos postos
Mann-Whitney U
Sig. (bicaudal)
Experiência com TI Masculino 139,69 6792,0 0,010
Feminino 117,17
Experiência com SL Masculino 143,46 6283,5 0,001
Feminino 113,00
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No tocante à exploração de diferenças de gênero relativamente às
experiências computacionais, os percentuais mais elevados dos níveis de
experiência mais avançados são de homens. Portanto, as percepções no que diz
respeito ao seu nível de experiência não são equivalentes. Os gráficos 3 e 4 nos
permitem visualizar os resultados da diferença de percepção de nível de experiência
com TI em geral e com software livre entre os gêneros, respectivamente.
Verifica-se que, quanto mais a autoindicação de grau de experiência com as
tecnologias vai aumentando, mais fica evidenciado que as mulheres se julgam
menos experientes que os homens. Desse modo, há uma clara vantagem de
experiência declarada por parte dos homens, em relação às mulheres, o que pode
ser indicativo da autoeficácia percebida.
Gráfico 3: Comparação da experiência no uso de TI por sexo
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Na Teoria Social Cognitiva (SCT) de Bandura (1977), assume-se que pessoas
com uma forte percepção de autoeficácia possam experimentar menos estresse em
situações que demandam mais esforço pessoal. O SL é classicamente um software
mais demandante de esforços cognitivos.
Gráfico 4: Comparação do nível de experiência com SL por sexo
Mas deve-se ter precaução quanto ao resultado estritamente quantitativo
denotativo da crença de maior experiência computacional significativamente maior
entre os homens. Segundo Smith, Caputi e Rawstorne (2000), há que se fazer a
distinção entre a experiência computacional objetiva da experiência subjetiva. A
experiência computacional objetiva (ECO) é a medição do conhecimento real
enquanto a experiência computacional subjetiva (ECS) é definida por Smith (1999
apud Smith et al. 2000) como um estado psicológico particular que reflete o
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83
pensamento e o sentimento que uma pessoa atribui a ela própria com relação a
algum evento computacional existente.
Nesse conceito de Smith, está latente a idéia de que eventos psicológicos
influenciam o autoconceito de um indivíduo. Sendo assim, os pesquisadores
precisam considerar a natureza direta e/ou indireta da experiência adquirida e os
processos afetivos e cognitivos associados com essa experiência. Dito de outra
maneira, a medida isolada do grau de experiência computacional objetiva não dá
conta da natureza subjetiva da experiência. Por outro lado, apenas a percepção do
grau de experiência computacional (subjetiva) pode não corresponder de fato ao que
uma pessoa tem de experiência com computadores, havendo a possibilidade de
subestimação ou superestimação dessa experiência.
O nível de experiência ‘percebida’ (i.e, subjetivo) com computadores pode
estar associado a questões de gênero. Algumas pesquisas têm mostrado que
mulheres tendem a subestimar seu conhecimento e experiência real com
computadores. Henwood et al. (2001 apud WILSON, 2002) sugerem que as
mulheres continuam a subestimar suas habilidades ou no máximo equiparar sua
competência técnica e habilidade com a dos homens.
O estudo de Smith, Caputi e Rawstorne (2000), que buscou medir a fluência
dos alunos com relação ao uso de computadores, web e email, comprovou que não
havia diferenças entre homens e mulheres quanto à ECO, entretanto, foi identificada
uma diferença significante com relação à ECS, ou seja, as mulheres perceberam sua
fluência ser menor do que elas realmente tinham, ao contrário dos homens.
Esse resultado é importante de ser debatido e deve ser mais aprofundado em
pesquisas futuras sobre gênero e tecnologia. Ao permanecer este tipo de avaliação
autodepreciativa das mulheres, veremos um aumento cada vez maior da exclusão
digital das mulheres. É preciso ressaltar a importância de iniciativas para aumentar a
autoconfiança das mulheres para com a tecnologia.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
84
4.4 Percepções sobre a utilização de softwares livres
A fim de discutir os resultados, foram utilizadas ferramentas estatísticas
descritivas de dados, como média, mediana, desvio-padrão, coeficiente de variação
e assimetria em relação à curva normal, dos níveis de concordância com relação aos
itens que avaliam aspectos da UTAUT.
4.4.1 Expectativa de desempenho
Este fator é definido como a medida na qual se acredita que o uso do SL
ajudará ele/ela no desempenho do seu trabalho. Os resultados descritivos das
percepções da expectativa de desempenho na utilização de software livre,
ordenados da maior para a menor média, estão mostrados na tabela 6.
Tabela 6: Resultados descritivos da Expectativa de desempenho pelo uso do SL
Expectativa de desempenho Média Mediana Desvio-padrão
CV
% Assimetria
Acredito que o SL é muito útil para o meu trabalho 8,11 9,0 2,51 30,95 -1,35
O SL me permite realizar tarefas mais rapidamente 7,73 8,0 2,45 31,69 -1,00
Utilizar SL aumenta minha produtividade pessoal 7,66 8,0 2,61 34,07 -0,94
O SL melhora meu desempenho no trabalho 7,58 8,0 2,66 35,09 -0,94
Média 7,77 8,25 2,56 32,95
CV=Coeficiente de variação
O benefício do uso de tecnologias livres foi considerado o item que obteve
maior média, mediana, o mais homogêneo em termos de resposta, ou seja, menor
dispersão em relação à media e o de maior assimetria à direita. Assim, a crença de
que o SL é muito útil para o trabalho das pessoas foi o item mais destacado neste
construto.
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85
O gráfico 5 apresenta visualmente a distribuição das opiniões com relação à
dimensão de expectativa de desempenho, na escala de 1 a 10. Através do Box Plot,
podemos ver a distribuição assimétrica e a posição e dispersão dos dados, para
homens e mulheres.
Na interpretação do box plot (Gráfico 5), temos que a linha que separa as
caixas identifica a média obtida e a extensão da caixa representa a amplitude
encontrada nas respostas, sendo uma forma de visualização da dispersão dos
dados. Logo, em três dos quatro itens, as mulheres atribuíram níveis de
concordância mais baixos que os dos homens, no que diz respeito à dimensão de
expectativa de desempenho.
Gráfico 5: Expectativas de performance agrupadas por gênero através de Box plot
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Na tabela 7, os dados do teste de hipóteses dos itens de expectativa de
desempenho em relação aos respondentes do sexo masculino e feminino são
apresentados.
Tabela 7: Expectativa de desempenho entre gêneros
Expectativa de desempenho Sexo Média dos postos
Mann-Whitney U
Sig. (bicaudal)
Utilizar SL aumenta minha produtividade pessoal
Masculino 135,28 7387,5 0,14
Feminino 122,05
O SL melhora meu desempenho no trabalho Masculino 134,19 7534,0 0,23
Feminino 123,25
O SL me permite realizar tarefas mais rapidamente
Masculino 139,87 6767,5 0,01
Feminino 116,97
Acredito que o SL é muito útil para o meu trabalho
Masculino 130,39 8047,0 0,73
Feminino 127,46
Embora as médias femininas sejam numericamente inferiores aos dos
homens em todos os itens quanto às opiniões sobre o desempenho e utilidade do
SL, vemos que há diferença em apenas um item dessa dimensão, referente à
percepção de que o SL permite realizar tarefas mais rapidamente. Nos demais, não
há diferença estatística suficiente ao nível de significância de 95%, embora em todos
os itens haja uma pontuação mais baixa para as mulheres para a média dos ranks.
4.4.2 Expectativa de esforço
Os dados mostrados na tabela 8 indicam que os itens acima da média são os
que se relacionam com a aprendizagem de SL. No entanto, ficaram abaixo da média
e mediana os itens que se reportam à instalação e na familiarização no uso do SL.
Os itens com maiores desvios-padrão quanto ao nível de concordância do
esforço despendido no uso do SL são relativos à facilidade de instalação de software
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livre e aquisição de familiaridade no uso do SL. Desta forma, os participantes se
dividiram bastante quanto a estes itens, ao contrário das respostas sobre o esforço
de aprendizagem.
Tabela 8: Resultados descritivos da expectativa de esforço pelo uso do SL
Indicadores de expectativa de esforço Média Mediana Desvio-padrão
CV % Assimetria
Aprender a utilizar o SL é fácil para mim 8,32 9,0 1,96 23,59 -1,47
Não sinto dificuldade em aprender a utilizar SL 8,29 9,0 2,05 24,67 -1,19
Tenho conhecimento necessário para usar SL 8,26 9,0 2,20 26,61 -1,30
Instalar software livre é uma tarefa fácil 7,66 8,0 2,45 31,93 -0,99
Há facilidade em se adquirir familiaridade no uso do SL 6,89 8,0 3,01 43,70 -0,55
Média 7,88 8,6 2,33 30,10 CV=Coeficiente de variação
O gráfico 6 nos apresenta os resultados do ponto de vista dessas opiniões,
separadas por gênero.
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Gráfico 6: Expectativas de esforço agrupadas por gênero através de Box plot
A percepção de esforço relativo ao uso do software livre entre homens e
mulheres foi testada através do teste estatístico não-paramétrico Mann-Whitney
(Tabela 9). Há muitas divergências de opiniões entre homens e mulheres. Podemos
afirmar que está muito longe de haver um consenso entre eles nessa questão do
esforço percebido. Este resultado confirma os achados de Gefen e Straub (1997) e
Yuen e Ma (2002), onde a facilidade de uso percebida foi mais fortemente
influenciável para mulheres do que para homens, com relação à adoção de SI.
Os aspectos cognitivos envolvidos na tarefa de utilizar um sistema ou
aplicativo em SL parecem ter mais impacto no público feminino. Uma possível razão
pode ser a perpetuação de que computadores e tecnologia são de domínio mais
masculino.
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Tabela 9: Expectativa de esforço entre gêneros
Indicadores de Expectativa de esforço Sexo Média dos
postos Mann-
Whitney U Sig.
(bicaudal)
Instalar software livre é uma tarefa fácil Masculino 131,07 7955,50 0,631
Feminino 126,71
Aprender a utilizar o SL é fácil para mim Masculino 137,59 7076,00 0,044
Feminino 119,50
Não sinto dificuldade em aprender a utilizar SL
Masculino 138,47 6956,00 0,025
Feminino 118,52
Há facilidade em se adquirir familiaridade no uso do SL
Masculino 116,46 6542,00 0,004
Feminino 142,88
Tenho conhecimento necessário para usar SLMasculino 143,96 6215,50 0,000
Feminino 112,45
Como forma de mudar estas crenças, seria interessante que as organizações
destinassem uma atenção especial para o treinamento e desenvolvimento das
capacidades e habilidades das mulheres no aprendizado de SL. Uma ação relevante
seria oferecer seminários, palestras e cursos de treinamento.
Cabe salientar que essas diferenças apontadas na tabela 9 podem ser um
pouco ‘mascaradas’ devido a uma certa tendência de autoconfiança masculina,
considerando que os homens parecem responder de forma mais incisiva e afirmativa
às questões de natureza cognitiva do que as mulheres, muito mais comedidas nas
respostas, até mesmo subestimando as expectativas de esforço e suas capacidades
reais de aprendizado computacional (SMITH; CAPUTI; RAWSTORNE, 2000),
conforme se mencionou anteriormente.
4.4.3 Influência social
Esta dimensão busca identificar a percepção pessoal de que as pessoas que
são mais importantes para estas acreditam que se deva ou não ter o comportamento
em questão. No caso da pesquisa, focalizamos os amigos e os colegas e o chefe, no
âmbito organizacional. A tabela 10 traz alguns resultados interessantes. O primeiro é
que foram coletadas as menos médias no geral. Os participantes de fato não se
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90
sentem pressionados pelos colegas em utilizar o SL, com uma média muito baixa
(3,3) e uma tendência de resposta discordante, pela assimetria à esquerda, na
escala de 1 a 10. Outro comentário é quanto ao item que se refere ao apoio dos
amigos no uso do SL, o qual recebeu a maior média neste construto (6,4), mas
mesmo assim não se destaca como uma das maiores médias no conjunto de todos
os itens.
Tabela 10: Resultados descritivos da Influência social pelo uso do SL
Indicadores de Influência social Média Mediana Desvio-padrão
CV
% Assimetria
As pessoas do meu círculo de amizade me dão apoio para utilizar SL 6,37 7,0 3,05 47,93 -0,38
Meu chefe me incentiva a usar o SL 4,76 4,0 3,66 76,95 0,34
Sinto pressão do meu círculo de colegas para usar SL 3,29 2,0 2,95 89,73 1,06
Média 4,81 4,33 3,22 71,54 CV=Coeficiente de variação
O gráfico 7 apresenta os dados do ponto de vista das variações e médias
entre os itens de influência social.
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Gráfico 7: Influência social (Box plot)
Visualmente, os boxes plots se desenham de forma diferente conforme a
categoria de gênero. Apenas no terceiro item, influência do chefe, vemos uma leve
equivalência no resultado. Logo, apresenta-se a tabela 11 com o resultado do teste
de Mann-Whitney para avaliar se existem diferenças estatísticas.
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Tabela 11: Percepção da influência social entre gêneros
Influência social Sexo Média dos postos
Mann-Whitney U
Sig. (bicaudal)
Sinto pressão do meu círculo de
colegas para usar SL
Masculino 116,14 6498,500 0,002 Feminino 143,23
As pessoas do meu círculo de amizade
me dão apoio para utilizar SL
Masculino 114,65 6298,000 0,001 Feminino 144,88
Meu chefe me incentiva a usar o SL Masculino 121,09 7166,500 0,064
Feminino 137,76
De fato, todas as médias de postos das mulheres são mais altas que as dos
homens, comprovando-se que há diferenças de opiniões entre homens e mulheres
em dois itens, corroborando com Venkatesh e Morris (2000). O gênero se confirmou
como um importante mediador quando se quer medir o impacto da norma subjetiva
na decisão de usar uma TI, particularmente as mulheres sendo mais sensibilizadas
aos apelos de amigos do que os homens.
No entanto, esta questão não é consensual. Dong e Zhang (2010), por
exemplo, descobriram que a influência social era fator importante para as
americanas mas não para as chinesas, levando-os a concluir que a discrepância de
resultados fosse pautada pelas diferenças culturais entre os países.
Assim, mais pesquisas devem ser empreendidas a fim de investigar com mais
profundidade os impactos da influência social entre os gêneros e em contextos e
culturas diferenciadas.
4.4.4 Outros fatores antecedentes
Agrupamos dois indicadores neste subtópico: a variável proxy de condições
facilitadoras do uso de sistemas baseados em software livre, que é o suporte ao SL
e um indicador que avalia a concordância da atitude política a favor do software livre.
Está bem visível, pelos dados da tabela 12, que o apoio político ao SL é bem
disseminado na amostra, com uma larga demonstração de concordância neste item.
Em contrapartida, a percepção de eficácia do suporte oferecido para quem adota o
SL não mereceu média tão alta.
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93
Tabela 12: Condições facilitadoras e visão ideológica sobre SL
Outros indicadores Média Mediana Desvio-padrão
CV % Assimetria
O SL representa uma atitude política a favor da liberdade
8,67 10,00 2,27 26,16 -1,93
O SL oferece um suporte eficaz 6,89 7,00 2,65 38,46 -0,66
Como se nota na tabela 13, independentemente do sexo do respondente, as
opiniões se equiparam no nível estatístico.
Tabela 13: Comparação de condições facilitadoras e visão ideológica entre os sexos
Outros indicadores Sexo Média dos
postos Mann-
Whitney U Sig.
(bicaudal)
O SL representa uma atitude política a favor da liberdade
Masculino 124,36 7609,000 0,22
Feminino 134,13
O SL oferece um suporte eficaz Masculino 124,34 7606,500 0,29
Feminino 134,15
Destarte possuírem médias de postos mais altas, indicativo de maior
concordância com os indicadores, não se comprovou diferenças substantivas entre
homens e mulheres participantes da pesquisa.
4.4.5 Intenção de uso futuro de SL
A intenção de uso futuro foi o fator com mais homogeneidade de opinião e
concordância, dentre todos os itens investigados nos demais fatores. A tabela 14
detalha esse resultado descritivo.
Tabela 14: Intenção de uso futuro de SL
Fatores Média Mediana Desvio-padrão
CV % Assimetria
Planejo continuar usando SL 8,95 10,0 2,00 22,32 -2,29
Pretendo utilizar SL cada vez mais 8,87 10,0 1,97 22,19 -2,15
Média 8,91 10,0 1,98 22,26
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94
No tocante ao teste de Mann-Whitney, o fator de intenção de uso futuro do SL
se manteve igualmente alto tanto para mulheres como para os homens, sem
distinção de opinião. Logo, a hipótese nula de que não havia diferenças não pode
ser rejeitada, como observa-se na tabela 15.
Tabela 15: Comparação de intenção de uso por sexo
Intenção de uso futuro Sexo Média dos postos
Mann-Whitney U
Sig. (bicaudal)
Planejo continuar usando SL Masculino 131.87 7847,500 0,434
Feminino 125.82
Pretendo utilizar SL cada vez mais Masculino 132.37 7779,500 0,381
Feminino 125.27
Do ponto de vista estatístico, as intenções de uso são as mesmas, entre
homens e mulheres.
4.5 Fatores determinantes para maior uso de software livre
Foi perguntado aos participantes quais foram os fatores que mais
influenciaram na sua utilização de sistemas operacionais de código aberto (por
exemplo, GNU/Linux, Ubuntu, Mandriva) de acordo com o grau de importância
desses fatores. As sete opções de fatores disponibilizados na pergunta fechada
foram: a percepção da sua utilidade, a facilidade do seu uso, o fato de outros amigos
já utilizarem, o fato de ser obrigatório na empresa ou universidade, recebimento de
treinamento para utilizar o software livre, possuir ideologia a favor do SL, a afeição
por computadores. A maior parte das opções foi baseada nos quatro constructos do
modelo UTAUT e o construto testado nessa pesquisa, sendo eles: a expectativa de
desempenho; expectativa de esforço; influência social e condições facilitadoras; e
ideologia a favor do SL.
Na opinião dos participantes apresentada na tabela 16, o fator mais eficaz
para terem adotado sistemas operacionais baseados em software livre foi a
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95
expectativa de desempenho, que mede a utilidade ou vantagem percebida. O item
“perceber o SL como útil ou vantajoso” obteve as estatísticas mais expressivas:
média 3,5 e 4,0 de mediana, na escala de 1 a 4, menor desvio-padrão (0,6), menor
coeficiente de variação (17%) e com assimetria -1,03, onde a maioria respondeu
mais à direita na escala. Esse dado confirma o modelo de aceitação da tecnologia
(TAM), onde o construto de percepção de utilidade é o mais robusto e determinante
para a adoção de SI/TI. A condição de obrigatoriedade de uso, ao lado do item
recebimento de treinamento, foram os itens com menores médias, indicando sua
menor importância no processo de adoção, na visão dos participantes em geral.
Tabela 16: Fatores determinantes para maior utilização de SL
Fatores Média Mediana Desvio-padrão
CV
% Assimetria
Percebê-lo como útil ou vantajoso 3,53 4,0 0,61 17,17 -1,03
Não achar que é difícil utilizá-lo 3,01 3,0 0,90 30,00 -0,60
A pessoa gostar de usar computadores 2,98 3,0 0,91 30,54 -0,50
Possuir ideologia a favor do SL 2,88 3,0 1,02 35,42 -0,45
O fato de outros amigos já utilizarem SL 2,53 3,0 0,93 36,64 -0,16
A pessoa receber treinamento para utilizá-lo 2,46 2,0 1,04 42,36 0,03
Ser obrigatório seu uso no trabalho ou
universidade 2,07 2,0 1,02 49,32 0,48
Média 2,78 2,86 0,92 34,49 Escala varia de 1-Nenhuma importância; 2-Pouco importante; 3-Importante; 4- Extremamente importante CV=Coeficiente de variação
Para responder ao objetivo da pesquisa, foi realizado o cruzamento dos
fatores estimuladores da adoção de SL por sexo. Neste caso, fica visualmente
evidente, no gráfico 8 de Box plot, que as opiniões não são semelhantes entre
gêneros em três dos sete fatores.
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Gráfico 8: Fatores determinantes do uso de SL por sexo
Mas é preciso testar se estas diferenças de fato são estatisticamente
significantes. Neste caso, o teste de Mann-Whitney comprovou que três itens são
significativamente diferentes comparando as opiniões de homens e mulheres (tabela
17).
As mulheres disseram que valorizaram mais a influência dos amigos na
decisão de adoção de SO de código aberto, mostraram-se absolutamente mais
adeptas de que a ideologia tenha sido um fator determinante para que ela viesse a
adotar o SL e acreditaram que a facilidade de uso influenciou sua decisão pelo SO
de código aberto. Nos demais itens, independentemente do gênero, as opiniões são
equivalentes do ponto de vista estatístico. Os dados das diferenças na influência
social e na expectativa de esforço ratificam a literatura.
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Tabela 17: Fatores influenciadores do uso de SL por sexo
Fatores Sexo Média dos
postos
Mann-Whitney U
Sig. (bicaudal)
Não achar que é difícil utilizar SL Masculino 120,97 7150,500 0,053
Feminino 137,89
O fato de outros amigos já utilizarem SL Masculino 108,57 5476,500 0,000
Feminino 151,61
A pessoa receber treinamento para
utilizar SL
Masculino 125,76 7798,000 0,447
Feminino 132,58
Perceber o SL como útil ou vantajoso Masculino 134,56 7484,500 0,145
Feminino 122,85
A pessoa gostar de usar computadores Masculino 128,51 8169,000 0,907
Feminino 129,54
Possuir ideologia a favor do SL Masculino 117,06 6622,500 0,005
Feminino 142,22
Ser obrigatório utilizar SL no trabalho ou
universidade
Masculino 123,85 7540,000 0,221
Feminino 134,70
Uma outra exploração de dados foi feita no sentido de identificar se havia
diferenças entre gêneros, filtrando o banco de dados pelos respondentes com nível mais avançado de experiência com uso de sistemas de código aberto (ex.Linux),
ou seja, os que assinalaram 5 ou 6 na sua autoindicação de experiência
computacional subjetiva (ECS) em SL.
Neste caso, dois indicadores emergiram como fatores que mais impactavam
homens e mulheres mais experientes quanto ao uso avançado de SL (tabela 18): a
influência social e a percepção de utilidade.
O primeiro achado interessante é que as mulheres com maior nível de
experiência com SL acharam que o fato de possuir amigos que já utilizam SL ter sido
o mais determinante da diferença de opinião com relação aos homens. Dessa
maneira, o fator Influência Social (medida através do grau de influência do círculo de
amizade) foi o principal fator antecedente para a adoção de SL.
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Tabela 18: Fatores influenciadores do uso de SL entre usuários de SL mais experientes
Fatores Sexo Média dos
postos
Mann-Whitney
U
Sig. (bicaudal)
Não achar que é difícil utilizá-lo Masculino 35,37 546,000 0,247
Feminino 41,00
O fato de outros amigos já utilizarem Masculino 33,00 437,000 0,014 Feminino 44,89
A pessoa receber treinamento para utilizá-loMasculino 38,61 593,000 0,555
Feminino 35,68
Percebê-lo como útil ou vantajoso Masculino 41,15 476,000 0,022 Feminino 31,50
A pessoa gostar de usar computadores Masculino 38,75 586,500 0,498
Feminino 35,45
Possuir ideologia a favor do SL Masculino 36,25 586,500 0,506
Feminino 39,55
Ser obrigatório seu uso no trabalho ou universidade
Masculino 35,55 554,500 0,287
Feminino 40,70
Esta diferença relevante entre a condição de mulheres com experiência mais
avançada em SL acharem que a norma subjetiva é o fator mais importante para
usar SL vai de encontro com a suposição de que, quando as mulheres adquirem
mais experiência computacional, estas ficam menos sujeitas às influências das
normas subjetivas, defendida por Venkatesh et al (2003). No caso da nossa
pesquisa, a influência social permaneceu como relevante na escolha de adoção de
SO baseado em software livre na amostra de mulheres mais experientes.
O segundo achado é que os homens mais experientes em computação
sentiram-se mais influenciados do que as mulheres com respeito à percepção de
utilidade do SL, denotando uma visão mais utilitarista e “task oriented” na decisão
de escolha por um sistema operacional de código aberto do que as mulheres. Este
resultado corrobora as conclusões de Ong e Lai (2006) e de Minton e Schneider
(1980 apud YUEN; MA, 2002).
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99
O fator ideológico não apareceu como determinante para as mulheres mais
experientes no uso de SL, ao contrário do resultado mostrado na tabela 17 para as
mulheres com variados níveis de experiência.
Certamente, serão necessárias mais pesquisas para melhor entender estas
diferenças de opiniões e seus desdobramentos no campo profissional e na vida
pessoal.
4.6 Análise por modelagem de equações estruturais por estimação por mínimos quadrados parciais
A seguir, será apresentada a análise inferencial, o qual permitirá verificar os
relacionamentos entre os construtos e os fatores que influenciam a adoção do
software livre, testando as diferenças entre mulheres e homens. Nesta seção, é
apresentado o procedimento de verificação do poder estatístico, tamanho do efeito,
modelo de mensuração e modelo estrutural, finalizando com a análise das hipóteses.
4.6.1 Verificação do modelo de mensuração
Para atender aos objetivos da pesquisa, foi feita uma aplicação da
modelagem de equações estruturais com a técnica Partial Least Square (PLS).
Foram analisados o modelo de mensuração e o modelo estrutural a partir do banco
de dados importado do SPSS, que já não continham dados faltantes. Conforme
mencionado no tópico específico da metodologia, o PLS é uma técnica apropriada
para a presente pesquisa tendo em vista que ela não tem muitas assunções sobre a
população ou escala das medidas e se justa bem para a amostra.
Para a verificação do ajuste do modelo de mensuração, foi feita a preparação
dos dados para rodar o algoritmo no software SmartPLS (RINGLE, WENDE, WILL,
2005). Iniciou-se a análise verificando a validade convergente e discriminante, de
acordo o procedimento recomendado por Hair et al.(2005).
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100
Para análise da validade convergente, foram levadas em consideração as
cargas fatoriais dos indicadores (ou variável manifesta) em seus respectivos
construtos (ou variáveis latentes) que tivessem valores adequados.
Assim, procedeu-se na eliminação dos itens que não estavam contribuindo
com a dimensão/construto ou que estavam fora do padrão aceitável para este tipo
de análise. O construto expectativa de esforço apresentou um indicador não
adequado (carregamento do indicador abaixo de 0,60). Estes foram deletados do
modelo de mensuração, havendo a necessidade do modelo ser recalculado
repetidas vezes. Na última rodada, todas as cargas fatoriais ficaram acima de 0,70,
verificando-se a validade convergente do modelo de mensuração, conforme se
observa nas tabelas correspondentes, mais adiante, para cada amostra de mulheres
e homens. A tabela 19 apresenta resultados da variância média explicada (Average
Variance Extracted - AVE), da confiabilidade composta (Reliability Composite) de
cada construto, a variância explicada de cada construto (R2) e o alpha de Cronbach
dos dados de mulheres.
Tabela 19: Resultados do modelo de mensuração (amostra de homens)
Construto AVE Confiabilidade
composta R2 Alpha de Cronbach Comunalidade Redundância
ExpDesemp_M 0,774 0,932 0,559 0,902 0,774 0,417 ExpEsforco_M 0,656 0,884 0,161 0,824 0,656 0,105 Ideologia_M 1 1 0 1 1 0 InfSoc_M 1 1 0 1 1 0 CondFac_M 1 1 0 1 1 0 IntContinuar_M 0,912 0,954 0,595 0,903 0,912 0,039
Tabela 20: Resultados do modelo de mensuração (amostra de mulheres)
Construto AVE Confiabilidade
composta R2 Alpha de Cronbach Comunalidade Redundância
ExpDesemp_F 0,754 0,924 0,560 0,891 0,754 0,300 ExpEsforco_F 0,687 0,897 0,315 0,847 0,687 0,214 Ideologia_F 1 1 0 1 1 0 InfSoc_F 1 1 0 1 1 0 CondFac_F 1 1 0 1 1 0 IntContinuar_F 0,900 0,948 0,613 0,889 0,900 0,190
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
101
Observa-se que todas as variáveis latentes (VL) apresentaram variância
média extraída (AVE) maior que 50%, indicando, portanto a existência de validade
convergente, uma vez que os índices atingiram os critérios de Chin (CHIN,1998
apud BIDO et al., 2010 ) e Hair. et al. (2005, p.507-508).
Em relação à confiabilidade, que indica a consistência das mensurações de
um conjunto de indicadores de construtos latentes (HAIR et al., 2005), sua avaliação
foi feita através do alpha de Crombach, por ser a medida mais comumente usada de
um conjunto de dois ou mais indicadores de construtos (HAIR et al., 2005), e da
análise da confiabilidade composta, por ser recomendada por Chin (CHIN,1998 apud
BIDO et al, 2010) para estudos que utilizam a MEE.
Ao ser avaliado o alfa de Cronbach dos construtos tanto da amostra feminina
quanto a masculina, observou-se que todos obtiveram índice maior que 0,7, estando
de acordo com Hair et al. (2005), devido os valores estarem acima de 0,80. Os
construtos Influência Social, Condições Facilitadoras e Ideologia, por terem restado
apenas um indicador, não tiveram sua confiabilidade calculada nos dois modelos de
mensuração.
Percebe-se, ainda, que os índices de confiabilidade compostas estão todos
acima ou próximos de 0,7, o que não contraria de todo o recomendado por
recomendado por Chin (apud BIDO et al, 2010).
Quanto à validade discriminante, um dos indicativos de que ela ocorre é o
fato dos indicadores possuírem cargas mais altas em suas variáveis latentes (VL) do
que em qualquer outra VL (CHIN,1998 apud BIDO et al, 2010). Constata-se, nas
tabelas 21 e 22, que há validade discriminante considerando este critério. Apenas
um indicador teve uma carga próxima, mas optou-se por deixar no modelo.
Tabela 21: Matriz de cargas cruzadas – amostra de homens
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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ExpDesemp_M ExpEsforco_M Ideologia_M InfSoc_M CondFac_M IntContinuar_MCONDF1_SupTec 0,438 0,401 0,412 0,048 1 0,418 EOU1_FacInstal 0,561 0,748 0,173 0,191 0,313 0,478 EOU2_UtilFac 0,686 0,844 0,180 0,259 0,266 0,588 EOU3_FacAprend 0,541 0,842 0,185 0,243 0,318 0,431 EOU5_Conhec 0,583 0,803 0,139 0,259 0,403 0,522 IC1_ContUso 0,727 0,609 0,190 0,201 0,298 0,953 IC2_Continuar 0,712 0,593 0,402 0,186 0,497 0,957 IDEOL1_PolitLiberd 0,274 0,208 1 0,100 0,412 0,312 INF3_IncentChefe 0,313 0,295 0,100 1 0,048 0,202 PU1_AumProdut 0,894 0,720 0,230 0,278 0,400 0,719 PU2_MelhDesemp 0,910 0,657 0,201 0,261 0,362 0,648 PU3_TarefRapid 0,881 0,662 0,261 0,242 0,400 0,655 PU4_UtilTrab 0,832 0,540 0,279 0,326 0,381 0,622
Tabela 22: Matriz de cargas cruzadas – amostra de mulheres
ExpDesemp_M ExpEsforco_M Ideologia_M InfSoc_M CondFac_M IntContinuar_MCONDF1_SupTec 0,588 0,561 0,474 0,243 1 0,602
EOU1_FacInstal 0,536 0,737 0,276 0,288 0,388 0,361
EOU2_UtilFac 0,567 0,879 0,230 0,284 0,531 0,462
EOU3_FacAprend 0,525 0,875 0,259 0,259 0,565 0,407
EOU5_Conhec 0,516 0,817 0,154 0,264 0,351 0,399
IC1_ContUso 0,700 0,518 0,453 0,306 0,550 0,945
IC2_Continuar 0,686 0,421 0,650 0,321 0,591 0,953
IDEOL1_PolitLiberd 0,542 0,278 1 0,178 0,474 0,586
INF3_IncentChefe 0,412 0,329 0,178 1 0,243 0,331
PU1_AumProdut 0,905 0,544 0,494 0,332 0,496 0,644
PU2_MelhDesemp 0,891 0,539 0,450 0,326 0,436 0,662
PU3_TarefRapid 0,874 0,721 0,528 0,341 0,606 0,626
PU4_UtilTrab 0,799 0,406 0,396 0,448 0,496 0,602
Outro critério adotado para confirmação da validade discriminante é quando
a raiz quadrada da AVE for maior que as correlações entre as demais VL
(CHIN,1998 apud BIDO et al, 2010). Considerando essa definição, compararam-se
os valores da raiz quadrada da AVE de cada construto com o seu índice de
correlação com todos os construtos, conforme demonstrado nas Tabelas 23 e 24.
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Tabela 23: Matriz da variância média explicada (AVE) – amostra homens
ExpDesemp_M ExpEsforço_M Ideologia_M InfSoc_M CondFac_M IntContinuar_MExpDesemp_M 0,880 ExpEsforço_M 0,737 0,810 Ideologia_M 0,274 0,208 1 InfSoc_M 0,313 0,295 0,100 1 CondFac_M 0,438 0,401 0,412 0,048 1 IntContinuar_M 0,753 0,629 0,312 0,202 0,418 0,955
Tabela 24: Matriz da variância média explicada (AVE) – amostra mulheres
ExpDesemp_F ExpEsforco_F Ideologia_F InfSoc_F CondFac_F IntContinuar_FExpDesemp_F 0,868 ExpEsforco_F 0,647 0,829 Ideologia_F 0,542 0,278 1 InfSoc_F 0,412 0,329 0,178 1 CondFac_F 0,588 0,561 0,474 0,243 1 IntContinuar_F 0,730 0,493 0,586 0,331 0,602 0,949
Percebe-se, então, que ocorre a validade discriminante em ambas as
amostras, uma vez que as correlações entre as variáveis latentes são menores que
a raiz quadrada da AVE.
4.6.2 Avaliação do modelo estrutural
Verificamos os valores de R2, “que indicam o percentual da variância da
variável dependente que é explicado pelas variáveis independentes” (BIDO et al.,
2010), que podem ser visualizados nas figuras 8 e 9. Ambos os modelos obtiveram
índices de explicação da variância do construto Intenção de Continuar próximos de
60%, superior ao indicado por Venkatesh et al. (2003), para quem 40% seria o valor
normalmente encontrado para explicar a variância em modelos de intenção para o
uso de uma tecnologia específica.
No caso da amostra dos homens, os valores de R2 foram 0,60 para a
variável latente Intenção de Continuar, de 0,56 para Expectativa de Desempenho e
apenas 0,16 para a variável latente Expectativa de Esforço.
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104
Figura 8: Modelo de Mensuração dos dados da amostra dos homens
No caso da amostra de mulheres, a figura 9 mostra que os valores de R2
foram similares aos obtidos na amostra dos homens, os quais foram 0,60 para a
variável latente Intenção de Continuar, de 0,56 para Expectativa de Desempenho.
No entanto, identificamos uma diferença significativa na variável latente Expectativa de Esforço que obteve um valor de R2 de 0,36, bem acima ao calculado para os
homens.
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Figura 9: Modelo de Mensuração dos dados da amostra de mulheres
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No entanto, foi preciso verificar a significância estatística desses
relacionamentos e verificar a confirmação das hipóteses da pesquisa. Para obter
esta estimativa, utilizou-se a abordagem não paramétrica de reamostragem
bootstrapping, pois, de acordo com Hair et al. (2005), tem sido apoiada como uma
alternativa aos métodos clássicos de inferência paramétrica, conforme se
caracterizou no capítulo de Metodologia. Consideramos três valores críticos para t,
sendo os níveis de erro Tipo I, que indica o nível de probabilidade de rejeitar a
hipótese nula quando na verdade ela não é (HAIR et al., 2005), de 5%, de 1% e de
0,1%. Os resultados obtidos através da execução do algoritmo de bootstrapping
podem ser verificados na Tabela 25, para a amostra dos homens.
Tabela 25: Preditores da Intenção de continuar o uso de SL (homens)
Relacionamentos Amostra original Erro padrão Teste t Hipóteses
ExpDesemp_M -> IntContinuar_M 0,601 0,089 6,717**** Rejeita Ho
ExpEsforço_M -> ExpDesemp_M 0,711 0,041 17,176**** Rejeita Ho
ExpEsforço_M -> IntContinuar_M 0,158 0,101 1,554 Não rejeita Ho
Ideologia_M -> ExpDesemp_M 0,126 0,060 2,092** Rejeita Ho
Ideologia_M -> IntContinuar_M 0,097 0,058 1,670* Rejeita Ho
InfSoc_M -> IntContinuar_M -0,044 0,027 1,641* Rejeita Ho
CondFac_M -> ExpEsforço_M 0,401 0,060 6,657**** Rejeita Ho
CondFac_M -> IntContinuar_M 0,054 0,048 1,131 Não rejeita Ho Nota: *p<0,10, **p<0,05, ***p<0,01, ****p<0,001
Os resultados obtidos através da execução do algoritmo de bootstrapping
podem ser verificados na Tabela 26, para a amostra de mulheres.
Tabela 26: Preditores da Intenção de continuar o uso de SL (mulheres)
Relacionamentos Amostra original Erro padrão Teste t Hipóteses
ExpDesemp_F -> IntContinuar_F 0,467 0,086 5,422**** Rejeita Ho
ExpEsforço_F -> ExpDesemp_F 0,538 0,048 11,151**** Rejeita Ho
ExpEsforço_F -> IntContinuar_F -0,007 0,084 0,087 Não rejeita Ho
Ideologia_F -> ExpDesemp_F 0,392 0,055 7,100**** Rejeita Ho
Ideologia_F -> IntContinuar_F 0,225 0,080 2,807** Rejeita Ho
InfSoc_F -> IntContinuar_F 0,050 0,045 1,097 Não rejeita Ho
CondFac_F -> ExpEsforço_F 0,561 0,044 12,760**** Rejeita Ho
CondFac_F -> IntContinuar_F 0,213 0,060 3,547**** Rejeita Ho Nota: *p<0,10, **p<0,05, ***p<0,01, ****p<0,001
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107
Podemos verificar que o construto da UTAUT Expectativa de Desempenho
influencia positivamente na Intenção de Continuar a utilizar softwares livres, assim
como o construto Ideologia, em ambas as amostras. Neste caso,
independentemente do gênero, a percepção de utilidade do SL e o engajamento
político do usuário a favor do SL predispõem em grande medida para a continuidade
do uso de softwares livres, sendo que os homens relativamente são mais afetados
pela expectativa de desempenho que as mulheres, e em contrapartida, as mulheres
são mais impelidas pelo apelo ideológico da causa do SL do que eles.
Os resultados também evidenciam outras similaridades entre as duas
amostras. Para o relacionamento entre a expectativa de esforço e a expectativa de
desempenho, ambos os gêneros rejeitam a hipótese de que a facilidade de uso
venha a influenciar a intenção de continuar usuário de SL. Este achado pode ser
explicado pela disposição das pessoas em superar possíveis dificuldades na
utilização de SL. Dessa forma, há percepção de que as vantagens do SL são
maiores do que eventuais dificuldades na sua utilização.
Mas há algumas diferenças notáveis a destacar. A variável latente Influência
Social não foi confirmada como antecedente da intenção de continuar a utilizar o SL
entre as mulheres, ao contrário do que hipotetizamos. Mais estudos deverão ser
realizados, a fim de verificar este relacionamento em outros domínios de sistemas e
tecnologia e em particular para o universo de SL. Uma precaução para a conclusão
é que os itens originais desse construto não tiveram um coeficiente alfa satisfatório e
utilizamos apenas um item como variável proxy da influência social. Isso de certa
forma pode enfraquecer a inferência estatística.
Por fim, o item que mediu as condições facilitadoras, no que se refere à
disponibilidade de suporte técnico, não teve relacionamento estatisticamente
significante entre os homens, mas foi fortemente efetado pelas mulheres com
cãoação às mesmas desejarem continuar a utilizar os softwares livres.
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108
5. RESULTADOS DA ANÁLISE QUALITATIVA
Os dados analisados foram classificados em função dos tipos de conteúdo
relevantes para atender aos objetivos da pesquisa, mas salientamos que esta
análise é uma primeira aproximação de estudo do fenômeno da adoção do software
livre a partir de uma abordagem qualitativa. Sobre a mesma temática não foram
encontrados outros estudos anteriores à presente pesquisa, assim como também
não foram encontrados trabalhos nesta área que tivessem utilizado alguma
ferramenta CAQDAS, como o software Atlas.ti. Portanto, justifica-se uma análise
exploratória.
A amostra dessa pesquisa constituiu-se de 217 participantes. Para o
tratamento dos dados coletados, aplicou-se a Análise de Conteúdo de acordo com
os procedimentos indicados por Bardin (2009). Para ordenamento dos dados e
auxílio nas análises, foi utilizada a ferramenta de software ATLAS.ti 5.0, conforme
especificado na metodologia. As tabelas com dados quantitativos, gerados pela
análise qualitativa, foram confeccionadas com o auxílio de planilha eletrônica.
5.1 Sistemas operacionais baseados em softwares livres mais utilizados
Nesta seção, são apresentados os resultados sobre as distribuições mais
utilizadas pelos participantes, advindos da análise da questão aberta “Quais(is)
sistema(s) operacional(is) de código aberto e livre você utiliza no Computador?”.
Antes de tudo, convém definir o termo Distribuição. Para Campos (2006), é um
sistema operacional (SO) Unix-like, incluindo o kernel Linux e outros softwares de
aplicação, formando um conjunto. Distribuições (ou “distros”) mantidas por
organizações comerciais, como a Red Hat, Ubuntu, SUSE e Mandriva, bem como
projetos comunitários como Debian e Gentoo, montam e testam seus conjuntos de
software antes de disponibilizá-los ao público.
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A maior parte dos softwares incluídos em distribuições são livres, assim,
qualquer organização ou indivíduo suficientemente motivado pode criar e
disponibilizar (comercialmente ou não) a sua própria distribuição. Isso faz com que
hoje haja registro de mais de 300 distribuições ativamente mantidas, embora menos
de 20 delas sejam largamente conhecidas (CAMPOS, 2006).
A tabela 26 elucida os aplicativos mais utilizados usuários de SL da pesquisa.
Optamos por listar as SO livres classificadas por ordem alfabética para facilitar a
localização porque é muito diversificado e variado o universo das distribuições.
DISTRIBUIÇÕES Quantidade de
ocorrência % ARCH LINUX 7 2,66% BIG LINUX 1 0,38% BSD 1 0,38% CENTOS 6 2,28% DEBIAN 27 10,27% Eeebuntu 1 11,11% EPIDEMIC LINUX 1 0,38% FEDORA 14 5,32% FREEBSD 5 1,90% GENTOO 3 1,14% GNOME 8 3,04% GNU/kFreeBSD 1 0,38% KUBUNTU 6 2,28% KURUMIN 3 1,14% LINUX 52 19,77% LINUX MINT 4 1,52% MANDRIVA/MANDRAKE 13 4,94% OPENBSD 2 0,76% OPENSUSE 6 2,28% PANDORGA 1 11,11% PCLinuxOS 1 0,38% SLACKWARE 9 3,42% TUQUITO 1 11,11% UBUNTU 92 34,98% Ubuntu 10.10 Maverick 1 11,11% XUBUNTU 1 0,38% TOTAL 263 100,00%
Tabela 27: Distribuições de SL mais citados
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Como observa-se na tabela 26, em meio a imensa diversidade de opções de
SO baseadas em código aberto, destaca-se a distribuição o Ubuntu, com a maior
freqüência de ocorrência tanto por homens quanto por mulheres, com um total de 92
referências.
Na análise comparada, as mulheres citaram mais vezes o Ubuntu do que os
homens (52 referências feitas pelas mulheres contra 40 dos homens). Uma possível
explicação é que o ubuntu (SL construído em volta do núcleo GNU/Linux) é
considerado no mercado especializado como sendo o sistema mais popular devido a
sua facilidade de uso, a existência de um assistente de migração para usuários do
Windows e o suporte para as tecnologias mais recentes. Além disso, o ubuntu é
oferecido com diversos programas pré-instalados que atendem às funcionalidades
básicas, com interface prática e suporte oferecido pela comunidade. A literatura
técnica em vários sites pesquisados apresenta-o como um software de qualidade,
indicado para ser usado principalmente por iniciantes no SL. Tecnicamente, o
sistema não tem um suporte adequado para softwares e ferramentas mais
avançadas. Desta forma, por seus atributos de simplicidade, funcionalidade prática e
de facilidade de uso, o Ubuntu configura-se como SO mais apreciado pelas
mulheres.
O segundo sistema mais citado é o Linux, com 52 referências. Esse sistema
operacional foi o primeiro software livre desenvolvido no mundo, por Linus Torvalds,
tendo estimulado o desenvolvimento de outras distribuições. Do ponto de vista
técnico, o linux é conhecido pela sua estabilidade, robustez, e suporte a softwares e
ferramentas mais avançadas. Sua difusão é maior em computadores de grande
porte e usuários intermediários e avançados. A evolução da comunidade de
desenvolvedores e a propagação do movimento do SL fizeram com que várias
versões do linux fossem rapidamente lançadas.
Submetendo uma análise de acordo com o fator gênero, verificou-se que os
homens fizeram uma maior referência a esse sistema do que as mulheres, 38
homens utilizam o linux como seu sistema padrão, enquanto que 14 mulheres fazem
o uso do sistema. Um dos motivos que poderia justifica esse fato é que os homens
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estão há mais tempo em contato com esse sistema, inclusive foram eles que mais
impulsionaram o movimento do SL, desenvolvendo e aprimorando o software.
Portanto, têm um conhecimento mais avançado do SL do que as mulheres, o que
leva-os a adotarem versões mais avançadas de SO livre.
O terceiro SO livre mais citado pela amostra da pesquisa é o Debian, o qual é
utilizado por 27 respondentes. Com relação a esse sistema, existe um certo
equilíbrio entre homens e mulheres, 15 homens o utilizam e 12 mulheres também
fazem o uso do mesmo. O Debian é um sistema operacional livre que usa o kernel
como núcleo central, vem com vários softwares instalados e pré-compilados em um
bom formato. Segundo a publicação técnica consultada, essa distribuição utiliza
todos os componentes de código aberto, mas em contrapartida apresenta problemas
de compatibilidade com programas de código proprietário. Geralmente, a adoção do
Debian é mais adequada para usuários que já tenham experiência com linux.
Com 14 frequências de ocorrência, o Fedora é o quarto sistema mais
utilizado pelos respondentes, tanto homens, quanto mulheres usam esse sistema
quase que na mesma proporção, nove homens e duas mulheres utilizam o sistema.
O Fedora também é um sistema operacional que contém o kernel do Linux como
núcleo central. Uma das principais características desse sistema é a segurança, o
qual tem recursos de segurança modernos e avançados.
A quinta distribuição mais utilizada é o Mandriva, onde 13 respondentes o
utilizam. Os homens utilizam mais esse software do que as mulheres, apresentando
10 usuários contra apenas três usuárias. O mandriva também é um sistema
operacional livre que antes era conhecido por Mandrake. A empresa francesa
Mandriva se dedica à distribuição e suporte do sistema operacional Mandriva Linux,
o qual contém softwares atualizados e de última geração e foi o primeiro SL com
disponibilidade para instalação em netbooks.
Esse sistema atende tanto a usuários iniciantes como avançados, com uma
funcionalidade de customização, ou seja, se adequa ao nível do usuário, que o torna
mais versátil em termos de configuração. O motivo responsável pela disparidade
entre homens e mulheres talvez possa ser atribuído pela necessidade de
configuração, diminuindo a praticidade, atributo mais valorizado pelas mulheres.
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112
A sexta distribuição mais utilizada é o Slackware, com nove usuários. A
relação entre homens e mulheres apresenta um equilíbrio, cinco homens o utilizam e
quatro mulheres também. O Slackware é uma das mais conhecidas e mais antigas
distribuições do GNU/Linux, a qual contém um padrão de estabilidade, usabilidade,
personalização mais avançada, é considerada também uma distribuição de nível
acadêmico, geralmente é utilizada por usuários mais avançados que detém certo
conhecimento de linux.
Apresentando oito usuários, o Gnome é a sétima distribuição mais usada. Os
homens, sendo representados seis usuários, utilizam mais o Gnome do que as
mulheres, com apenas duas usuárias. O Gnome também faz parte do projeto
GNU/Linux, e conta com ferramentas, aplicativos e componentes disponível, tanto
para usuários como para desenvolvedores. Pode-se dizer que o Gnome é um SO
acessível, simples e de fácil utilização.
A oitava distribuição mais utilizada é o Arch Linux, com sete usuários, dentre
eles cinco homens e duas mulheres. O Arch Linux também é uma das distribuições
do linux, a qual tem um grande valor agregado, pelo fato das suas atualizações
contínuas, existe um gerenciador de pacotes que facilita a tarefa dos usuários na
atualização de programas e aplicativos. Assim como o Linux, ele é indicado para
usuários experientes que tenham facilidade e interesse em otimizar seus sistemas,
justificando talvez a adesão maior por parte dos homens.
Em nono lugar, aparecem três distribuições, ambas com seis usuários: o
Kubuntu, o Centos e o OpenSuse. O Kubuntu, apresenta uma maior freqüência de
utilização por parte das mulheres, existem quatro usuárias contra dois usuários, esse
sistema é um projeto derivado do Ubuntu os quais mantém como base, a facilidade
de uso, qualquer pessoa pode utilizá-lo, sem dificuldades, independente de
nacionalidade, nível de conhecimento ou limitações físicas, a facilidade de uso mais
uma vez impulsiona as mulheres a utilizar esse sistema. O Centos é uma
distribuição do linux direcionada para no ambiente empresarial. Com relação a esse
sistema, os homens o utilizam mais do que as mulheres, cinco homens são usuários
contra apenas um mulher, isso pode ser justificado pelo interesse na área
empresarial por parte dos homens. O Open Suse também é um software de código
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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aberto de qualidade, destinado a usuários intermediários, que tenham um nível
médio de conhecimento em SL. Nesse caso, os homens também são mais adeptos,
pois cinco homens são usuários do Open Suse contra apenas uma mulher.
A décima distribuição mais utilizada é o FreeBsd, o qual obtém cinco
usuários, sendo todos eles homens. O FreeBsd é um sistema operacional livre do
projeto GNU/Linux, o qual fornece compatibilidade binária com outras variações do
Unix, é um sistema mais estável, robusto e também mais avançado disponível para
servidores e computadores modernos.
Evidenciando ainda mais a diferença de gênero, a tabela 27 apresenta as
distribuições mais citadas pelas mulheres e homens, respectivamente.
DISTRIBUIÇÕES (mulheres)
Ocorrên-cias %
DISTRIBUIÇÕES (homens)
Quant. de ocorrências %
UBUNTU 52 49,06% UBUNTU 40 24,84% LINUX 14 13,21% LINUX 38 23,60% DEBIAN 12 11,32% DEBIAN 15 9,32% FEDORA 5 4,72% MANDRIVA/MANDRAKE 10 6,21% KUBUNTU 4 3,77% FEDORA 9 5,59% SLACKWARE 4 3,77% GNOME 6 3,73% MANDRIVA 3 2,83% ARCH Linux 5 3,11% ARCH Linux 2 1,89% FREEBSD 5 3,11% GNOME 2 1,89% OPENSUSE 5 3,11% OPEN SUSE 1 0,94% SLACKWARE 5 3,11% CENTOS 1 0,94% CENTOS 5 3,11% Eeebuntu 1 0,94% GENTOO 3 1,86% KURUMIN 1 0,94% LINUX MINT 3 1,86% PANDORGA 1 0,94% KUBUNTU 2 1,24% LINUX MINT 1 0,94% KURUMIN 2 1,24% TUQUITO 1 0,94% OPENBSD 2 1,24% Ubuntu 10.10 Maverick 1 0,94% BIG LINUX 1 0,62%
TOTAL 106 100,00% BSD 1 0,62% Epidemic Linux 1 0,62% GNU/kFreeBSD 1 0,62% PCLinuxOS 1 0,62% XUBUNTU 1 0,62%
TOTAL 161 100,00%
Tabela 28: Distribuições de SL citadas por mulheres e homens
Verifica-se que os homens fazem referências a mais distribuições que não
são citadas pelas mulheres, tais como: Big Linux, BSD, GNU/kFreeBSD, OPENBSD,
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PCLinuxOS, Gentoo FREEBSD e OPENBSD, que é multiplataforma, do tipo UNIX,
baseado na segurança pró-ativa e criptografia integrada, sendo destinado mais
comumente à servidores.
Ainda observando a tabela 27, as mulheres fizeram referência a três SL,
ambos não foram mencionados pelos homens e aparecem com uma freqüência de
utilização, o Pandorga, uma distribuição educacional do linux, desenvolvida para
crianças, pré-adolescentes e escolas de ensino infantil e fundamental; o EeeUbuntu,
também conhecido por EasyPeasy, uma versão do ubuntu direcionada para
netbooks; e o Tuquito, o qual é uma distribuição que contém uma interface gráfica
atrativa e pode ser facilmente configurado por usuários.
De uma forma geral, dentro do universo das diversas distribuições do SL, os
homens conhecem mais versões de SL do que as mulheres, sendo que essas
distribuições são as mais avançadas, exceto o Ubuntu. Desta forma, como os SO
livres mais avançados tem maior utilização por parte dos homens, a intervenção do
fator expectativa de desempenho na decisão masculina de adoção de um sistema
operacional livre é mais pronunciada.
Ao mesmo tempo, confirmam-se as expectativas teóricas, as mulheres
tendem a adotar um sistema operacional livre que tenha um nível de dificuldade
menor e uma maior facilidade de uso, expressa no fator expectativa de esforço.
5.2 Fatores de atratividade de mulheres para a comunidade de SL
A realização da análise dos fatores que dificultam a difusão e adoção do SL
no universo feminino foi feita sob as perspectivas apresentadas na seção 3.2 do
relatório. Foram lidos os textos correspondentes a cada um dos participantes e,
utilizando o Atlas ti, analisamos e interpretamos gradativa e recursivamente o seu
conteúdo.
As categorias utilizadas nesta análise são trazidas do referencial teórico
baseadas nos modelos que são o arcabouço do estudo, mas também
complementada por uma codificação aberta de informações observadas na coleta de
dados. (STRAUSS; CORBIN, 2008). Os pilares da categorização teórica do
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
115
protocolo prévio são os quatro construtos da UTAUT (DESEMP, ESFOR, INFSOC,
CONDFAC) e o nosso construto ENGAJ relacionado com o engajamento político
e/ou ideológico relacionado com a adoção de SL. Para facilitar a apresentação,
nomeamos as categorias em dois grupos: codificação teórica e aberta e codificação axial.
Após a varredura de todos os textos das respostas dessa questão a
verificação da associação e links com apoio do Atlas ti, chegou-se à lista completa
dos códigos derivados da análise temática (Tabela 29), no total de 38 códigos e 227
ocorrências. Cabe informar que o ‘primary doc’ 5 é a coluna das mulheres e o
‘primary doc’ 6 , contendo a totalização de ocorrências de acordo com o sexo.
Tabela 29: Códigos gerados da atratividade de mulheres para o SL
Agilidade 1 0Aproveitamento do te 1 0Capacitação 13 4Causar boa impressão 0 1Compatibilidade dos 0 2Condições facilitado 3 3Conscientização sobr 3 4Debate na sociedade 1 0Desempenho 0 1Divulgação/Populariz 20 18Economicidade 0 1Educação dos pais 2 2Eficácia 1 2Eficiência 1 0Erradicar o windows 1 0Expectativa de Desem 0 0Expectativa de esfor 1 0Experimentabilidade 1 1Facilidade 4 2Ideologia 9 8Influência social 1 5Iniciativas de ONGs 1 1 Institucionalização 7 1Interesse 4 12Interesse pela Ciênc 0 2Marketing feminino 0 3Mulheres na tecnolog 8 8Não ideologização 6 3Paciência 0 1Paradigma 6 7Personalização 0 1Praticidade 1 1
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116
Remuneração 1 2Sistema de ensino 4 3Usabilidade 10 8Uso nas lan-houses 0 1Versatilidade 0 1Versões mais fáceis 4 4
A seguir, detalharemos os principais achados e seus desdobramentos.
5.2.1 Expectativa de desempenho
Este fator avalia a percepção que os indivíduos possuem de que utilizando SL terão como conseqüência benefícios ou vantagens. É composto pela utilidade percebida, motivação extrínseca, adaptação ao trabalho, vantagem relativa e expectativas de resultado. Para esse fator, que investiga o esforço dispendido pelo indivíduo na adoção de um SL, foram gerados 10 códigos e 19 citações, conforme a figura 10..
Figura 10: Expectativa de desempenho como fator de atratividade para o SL
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117
Comparativamente às alternativas existentes de soluções proprietárias, os
sistemas e aplicações FLOSS têm várias maneiras de ajudar os usuários no
desempenho do trabalho. O custo praticamente zero ou com preços acessíveis
tornou possível a aquisição de licenças de uso de variados softwares livres de
qualidade. A economia de custo torna-se, assim, um grande diferencial desse
sistema.
Os benefícios que podem ser auferidos na adoção de sistemas baseados em
SL são que fornecem um ambiente de TI menos sujeitos às limitações de sistemas
proprietários, utilizam melhor os recursos, promovem integração e flexibilidade e
transparência no acesso aos dados (CHAU; TAM, 1997).
Gwebu e Wang (2011, p. 222 ) assim defendem a utilidade potencial do SL:
“A flexibilidade do acesso livre ao código-fonte fornece aos usuários
tecnicamente qualificados a oportunidade de auditoria e/ou personalização
do software para atender aos requisitos de segurança e adequar às
funcionalidades específicas de seu trabalho”.
Uma outra característica marcante que é considerada vantajosa no SL é a
sua robustez , pelo fato de seu desenvolvimento ser feito pelos próprios usuários
isso garante boa qualidade, estabilidade e segurança do software, ou seja, o
conhecimento explícito pode ser facilmente distribuído o que impulsiona a difusão do
conhecimento.
Raymond (1998), em seu artigo que foi um divisor de águas no mundo do SL,
compara o modelo de desenvolvimento do software livre a um produto de bazar, o
qual é caracterizado por contribuições conjuntas de diversas pessoas. O método do
bazar é desenvolvido em um ambiente dinâmico, com intenso uso de ferramentas
colaborativas na internet, o líder do projeto não distribui tarefas e a dependência do
projeto com relação a ele é menor.
Já o modelo de software proprietário seria como a construção de uma
catedral. Este método baseia-se na concepção tradicional de desenvolvimento de
software, com um grande projeto mantido apenas por especialistas. Tem como
características ter uma forma controlada e centralizada de ser desenvolver software
e necessita de um ‘arquiteto’ central.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
118
Saleh (2004) a independência de tecnologia proprietária ou de fornecedor
único não foi citada na amostra. Ao lado das vantagens, também explanaram as
desvantagens, tais como: a dificuldade de uso, instalação e configuração do
software livre. Isso acontece porque os desenvolvedores do software são
programadores voluntários engajados no projeto de software livre, que têm um nível
de conhecimento muito acima da média de usuários comuns, e desenvolvem
ferramentas para o seu próprio uso, muitas vezes para atender uma necessidade
específica e pessoal, no entanto inexiste uma especificação formal sendo a ênfase
na funcionalidade do sistema.
Os critérios de facilidade de configuração e instalação são definidos pelos
programadores, tornando mais difícil a instalação por usuários experientes. Segundo
Hexsel (2002), esse fato está mudando à medida que os usuários menos
experientes têm procurado utilizar estes aplicativos e contribuído com solicitações de
funcionalidades de instalação e configuração que para eles são interessantes.
Os benefícios pessoais e tecnológicos gerados pelo software livre
compensam os custos gerados por seu estudo, implantação e treinamento. Os
respondentes perceberam tal fato e citaram que a contribuição conjunta do software
livre agrega mais valor ao sistema e tende a ser mais vantajosa do que um software
que é desenvolvido por apenas alguns programadores
5.2.2 Expectativa de esforço
Foi feita uma análise recursiva dos dados, buscando descobrir e validar as
categorias e seus interrelacionamentos, de acordo com o que já conhecíamos da
literatura sobre esse construto. Para esse fator, que investiga o esforço dispendido
pelo indivíduo na adoção de um SL, foram gerados sete códigos e 31 citações, como
vemos na figura 11.
Esse fator está relacionado com o construto ‘percepção de facilidade de uso’
dos modelos de aceitação da tecnologia de Davis - TAM e TAM2 e foi aqui definido
como a extensão do esforço despendido para adotar o software livre. Muitos
softwares livres são distribuídos mesmo possuindo um estágio de desenvolvimento
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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pré-alfa, alfa e beta e, algumas vezes, ainda não totalmente testado. Tais aplicações
tendem a ser instáveis e não possuir um design intuitivo e usabilidade avançada.
Assim, é natural esperar que a instalação de tais SLs demande do usuário algumas
dificuldades que acarretem um esforço cognitivo maior.
Figura 11: Expectativa de Esforço como fator de atratividade para o SL
Segundo Gwebua e Wanglow (2011), nas instalações mais complicadas, os
usuários de sistemas operacionais baseados em SL necessitam ter um know-how
técnico mais avançado para poder baixar, compilar, configurar e/ou instalar o
software antes de usar.
Do ponto de vista tecnológico, ainda existe um outro aspecto que influencia
esta percepção de esforço. São os freqüentes lançamentos de patches e versões do
software que podem sobrecarregar alguns usuários. A manutenção de aplicações de
SL pode também ser difícil.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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No caso do SL, ainda há outros dois aspectos a considerar: menor
disponibilidade de treinamento e falta de suporte técnico local, logo, os usuários têm
que aprender a manuseá-lo através de interfaces e funcionalidades muitas vezes
desconhecidas, solucionar problemas quando necessário, além de obter suporte e
documentação por si mesmos.
Tendo em vista os desafios que são colocados para o usuário de SL, a
hipótese é a de que quanto mais fácil os usuários percebam que é usar uma
aplicação de SL, mais provável será a adoção da aplicação.
5.3 Fatores influenciadores da não adoção exclusiva de SL
Esta seção descreve a análise da questão “Você utiliza o software livre no seu
cotidiano? Em casa ou no trabalho? Sua máquina possui 'dual boot'? Por quê?” Esta
indagação busca entender como homens e mulheres internalizam a adoção de SL
na sua integralidade.
A adoção pode ser entendida como a decisão de usar uma inovação que se
tornou conhecida por meio de um processo de difusão. Existem vários fatores que
influenciam a decisão de adoção de uma inovação (HUMES, 2004). A decisão de
uso do SL é uma questão de escolha da parte do adotante, a qual é composta por
uma série de outras decisões consecutivas que irão inferir como será o
desenvolvimento do processo de adoção do SL.
Os respondentes relataram a maneira como se utilizam de SL no seu
cotidiano. Observamos e classificamos dois tipos de usuários de SL:
Usuários exclusivos, aqui definidos como aqueles que utilizam total e
exclusivamente o SL no seu cotidiano, seja em casa ou no trabalho, ou seja, são
indivíduos que não possuem softwares proprietários instalados no seu computador;
Usuários não-exclusivos, consistindo de usuários que possuem outros
softwares proprietários instalados no computador, seja por meio do sistema dual
boot, o qual permite a escolha de um entre vários sistemas operacionais instalados
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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num mesmo computador, ou através da virtualização, desta maneira, por motivos
específicos, não utilizam apenas o software livre no seu cotidiano.
Dentre a amostra de 162 questionários validados, 51 respondentes foram
considerados usuários exclusivos de SL, enquanto que 102 foram classificados
como usuários não-exclusivos de SL e nove usuários apresentaram respostas
incompletas ou não responderam à questão, não sendo possível classificá-los.
Verificou-se, ainda, que os homens são mais propensos a adotar
integralmente o SL, 32 deles são usuários exclusivos do SL, enquanto que apenas
19 mulheres são usuárias exclusivas. Como conseqüência, o número de mulheres
usuárias não-exclusivas é maior do que os homens, isto é, 55 mulheres são usuárias
não-exclusivas, contra 47 usuários não-exclusivos. Este dado parece indicar uma
maior ponderação por parte das mulheres no processo de adoção integral do SL.
O número de usuários não-exclusivos representa o dobro do número de
usuários exclusivos. Esse resultado indica que, na amostra de usuários de software
livre da pesquisa, a maioria utiliza o SL em paralelo com aplicativos, programas ou
sistemas operacionais proprietários. Tendo em vista este dado, procuramos levantar
de forma qualitativa os motivos que podem justificar essa ocorrência. Dos 102
usuários não-exclusivos, foram excluídos 26 participantes dessa análise, por não ter
sido possível identificar claramente as suas motivações ou por conter uma resposta
incompleta.
Através da análise de conteúdo, foram categorizadas as razões apresentadas
pelos 76 usuários não-exclusivos de SL que justificaram adequadamente sua
escolha de não adoção integral do SL no cotidiano (Tabela 30). Ao lado de cada
temática codificada, associamos um fator pertencente ao modelo teórico da
pesquisa. Como pode ser observado, o motivo mais citado pelos usuários foi o fato
de que o ambiente em que eles estão inseridos seja o trabalho ou a faculdade só
usarem software proprietário e isso acaba bloqueando o uso exclusivo do SL no
cotidiano, com 14 das 76 citações. São fatores relacionados com condições externas
ao indivíduo, fora do seu controle comportamental que impulsionam à adesão
obrigatória de software proprietário.
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Tabela 30: Motivos que levam os usuários a não adotarem integralmente o SL
Fatores UTAUT Razões alegadas por homens e mulheres Contagem Homens Mulheres Total
CONDFAC Faculdade/trabalho usa software proprietário observada 9 5 14 esperada 7,7 6,3 14,0DESEMP Falta de compatibilidade de programas
proprietários no SL observada 7 2 9
esperada 5,0 4,0 9,0 INFSOC Outras pessoas usam o PC observada 4 5 9 esperada 5,0 4,0 9,0 DESEMP Desejar conhecer o funcionamento de outros
sistemas e ferramentas observada 4 5 9
esperada 5,0 4,0 9,0 DESEMP Outros programas têm melhor desempenho no
software proprietário observada 5 2 7
esperada 3,9 3,1 7,0 DESEMP Oferta de jogos para SL observada 6 1 7 esperada 3,9 3,1 7,0 DESEMP Programas específicos que não têm no SL observada 1 6 7 esperada 3,9 3,1 7,0 CONDFAC O computador já veio instalado com outro sistema observada 2 3 5 esperada 2,8 2,2 5,0 ESFOR O usuário ainda está aprendendo a usar o SL,
estando num processo de transição observada 2 2 4
esperada 2,2 1,8 4,0 ESFOR Dificuldade no uso de alguns programas do
SL observada 0 3 3
esperada 1,7 1,3 3,0 DESEMP Outros softwares proporcionarem uma melhor
segurança nos dados observada 1 0 1
esperada 0,6 0,4 1,0 CONDFAC O usuário desenvolve em outros softwares observada 1 0 1 esperada 0,6 0,4 1,0 Total observada 42 34 76
esperada 42,0 34,0 76,0Legenda: CONDFAC = Condições facilitadoras; ESFOR = Expectativa de esforço; DESEMP = Expectativa de desempenho; INFSOL = influência social
O segundo motivo se divide igualmente entre três razões, com nove citações
cada um: i) a questão da compatibilidade de alguns programas ou aplicativos
proprietários no SL, uma importante barreira a ser quebrada pela comunidade do SL;
ii) outras pessoas utilizam o computador desses usuários e elas têm dificuldades ou
não estão adaptadas com o SL, por isso é preciso que o software proprietário esteja
instalado no computador; e iii) curiosidade de testar e conhecer outras ferramentas
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que não são baseadas em software livre, muitas vezes intimamente ligado com a
profissão ou linha de pesquisa do usuário.
Em terceiro lugar, com sete citações dos usuários, também aparecem
empatados três motivos, os quais são: i) o fato de que alguns programas do SL têm
um desempenho melhor no software proprietário, que se explica pela exigência de
qualidade do software, seja no software livre, ou proprietário; ii); o uso de jogos que
não estão disponíveis para SL; e iii) o uso de programas específicos que não são
encontrados ainda no SL.
O quarto motivo mais citado foi o fato de que, no computador desses
usuários, já veio instalado o software proprietário, então eles têm receio da máquina
apresentar problemas devido à exclusão desse software. O quinto motivo mais
citado está relacionado ao processo de transição em que esses usuários se
encontram, eles ainda estão aprendendo a usar o SL e por isso não conseguem
deixar de utilizar o software proprietário. Em ambos fatores, no processo de adoção
do SL esbarra-se no estabelecimento de uma dependência de padrões proprietários
ou de baixa compatibilidade com os de outros fornecedores existentes no mercado
gerando o aprisionamento tecnológico (SANTOS, 2002), uma estratégia de manter o
usuário dependente de um determinado sistema ou programa, ocasionando um alto
custo de mudança.
Uma segunda análise feita neste quesito consistiu em segmentar os usuários
a partir do gênero a fim de investigar se havia diferenças de opiniões, conforme o
cruzamento das variáveis sexo e motivadores. De fato, homens e mulheres
apresentando heterogeneidade de motivos que fazem com que não utilizem apenas
o SL, no seu cotidiano. A tabela 30 mostra os motivos citados pelas mulheres e
homens, respectivamente, confrontando a contagem das motivações por valores
observados e esperados.
São basicamente três maiores divergências de opinião entre homens e
mulheres. No caso das mulheres, dois motivos se sobressaem em relação aos
homens: o primeiro é o uso de programas específicos não existentes em SL (a
maioria alegando que há poucos programas de edição de imagens e vídeos em SL),
enquanto que essa motivação é citada por apenas um homem. O segundo motivo
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citado somente por mulheres é a dificuldade de utilizar alguns programas ou
aplicativos do software livre, fazendo com que elas utilizem aplicativos do software
proprietário que tenham uma maior facilidade de uso. Este dado corrobora com os
achados de Venkatesh et. al (2003).
Do lado masculino, a diferença mais expressiva é que eles citaram o fato de
que não existir grande oferta de jogos para SL, de forma que este item foi de grande
relevância para os homens, mas não para as mulheres. Embora necessitemos de
mais evidências empíricas, sobre este resultado pode-se inferir que os homens se
opõem a adotar integralmente o SL por razões mais hedonistas (jogos) e as
mulheres por razões mais utilitaristas e cognitivas.
O gráfico 9 ilustra as diferenciações das opiniões dos respondentes, com
relação aos aspectos que mais consideram quando optam por utilizar ambos
softwares livres e proprietários.
Gráfico 9: Motivadores de não adoção de SL segmentado por sexo
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Por fim, procedemos essa análise por fatores da UTAUT, atribuindo para cada
motivador de não adoção de SL exclusivo um construto que mais se relacione com
aquele. O gráfico 10 mostra o resultado dessa análise.
Gráfico 10: Fatores influenciadores da não adoção de SL exclusivo
O fator expectativa de desempenho é responsável por 52,6% das razões
citadas pela não adoção de SL de modo integral. Os resultados vêm a comprovar a
literatura, onde o antecedente mais robusto da adoção real de um SI é o construto
expectativa de desempenho.
O segundo fator mais impactante para essa não adoção exclusiva de SL, com
26,3% da distribuição, são as condições facilitadoras, neste caso, barreiras que
impedem ou dificultam a plena adoção do SL. Na sequência, os outros itens se
dividem praticamente da mesma forma entre o construto influência social, com
11,8% das menções e expectativa de esforço, com apenas 9,2% das indicações.
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6. CONCLUSÕES DO ESTUDO
Os objetivos do estudo puderam ser alcançados, tanto empregando técnicas
quantitativas como qualitativas na análise dos dados. Os fatores teóricos como
expectativa de desempenho, expectativa de esforço, influência social e condições
facilitadoras foram importantes preditivos da intenção de continuar a utilizar
softwares livres e sistemas abertos, embora não indistintamente impactando homens
e mulheres.
A inclusão de um construto novo no modelo teórico de adoção de TI,
relacionado com o engajamento político e ideológico, também se mostrou relevante
e apto a futuros avanços rumo a uma nova teorização. No universo do SL, este valor
pessoal de defesa das liberdades foi observado e realçado nas falas femininas.
Podemos pensar em desdobramentos para diversos campos do saber e do agir
político-social, reforçando a importância da difusão do movimento pelo software livre
entre as mulheres.
No caso da pesquisa quantitativa, pudemos observar que há algumas
diferenças com relação ao comportamento de adoção e de intenção de continuidade
de uso de SL entre homens e mulheres. A análise do conteúdo das respostas
permitiu a identificação de um conjunto de fatores representativos dos elementos
que afetam a adoção de uma tecnologia de informação.
O Atlas.ti foi uma ferramenta de muita valia para esta pesquisa, tendo
permitido confirmar os múltiplos fatores visualizados pelos participantes como
influenciadores da adoção de SL. Foi possível estabelecer-se um quadro de análise
sobre o conjunto de relações e percepções envolvidas na adoção de SL, que se
mostram significativas no que concerne ao modo como homens e mulheres se
posicionam diferentemente com relação à essa adoção.
A análise descortina uma série de possibilidades para o estudo dos
fenômenos que envolvem adoção de TI, de modo a se promover uma maior
integração entre as diferentes áreas científicas interessadas na investigação dos
fenômenos sociais e, particularmente, das questões relativas à gênero. Os
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questionamentos poderão guiar os estudos futuros. Será que as diferenças de
gênero apontadas na literatura não se devem ao papel dados às mulheres no
contexto mais machista da TI? Será que as mulheres mais jovens, já terão mais
expectativa de esforço no uso da TI, na atualidade? Qual o nível percebido de auto-
eficácia das mulheres em relação aos homens? São questões que são importantes
de ser pesquisadas, pois interferem na capacidade de assimilação de novas
tecnologias no ambiente profissional, os quais podem determinar um maior sucesso
e condições de competitividade no mercado de trabalho para as mulheres.
A interpretação sugere a necessidade de se construir uma agenda de
pesquisas relativas à questão das resistências humanas à adoção de novas
tecnologias, colocando a questão das diferenças entre gênero, seja no âmbito
individual, organizacional quanto no contexto macrossocial.
Com base no que foi exposto, verifica-se que a revisão da literatura confirma
que homens e mulheres possuem comportamentos diferentes diante de um sistema
de informação. Entretanto, estas diferenças de comportamento nem sempre são as
mesmas, variando de uma pesquisa para outra. Além disso, ainda não há um
consenso se as diferenças de gênero são provenientes da formação biológica ou de
influências sociais.
As linhas que definem o comportamento masculino e feminino são difíceis de
ser demarcadas, pois é complicado separar o que pode ser biológico e o que pode
ser fruto da herança cultural, a qual pode criar e reproduzir estereótipos na
sociedade, no trabalho e na vida doméstica. Esta pesquisa não teve como objetivo
aprofundar esta questão, que está longe de ser totalmente esclarecida.
De qualquer maneira, na atual conjuntura, onde a TI se faz presente em todas
as esferas da atividade humana, compreender o porquê homens e mulheres tem
reações diferentes frente a ela é um passo para que sua utilização seja ainda mais
eficaz e eficiente. Isto porque uma política de adoção de TI levando em
consideração as diferenças entre gêneros poderá ter mais sucesso do que
simplesmente um incentivo à utilização ou um bom desenvolvimento de um software,
seja ele de código aberto/livre ou fechado/proprietário.
Podemos vislumbrar a possibilidade de continuidade de estudos , com
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direcionamentos futuros para a análise desta problemática à luz da Teoria do Ator-
Rede (actor network theory - ANT) de Callon (1986) e Latour (1987) e da teoria da
Construção Social da Tecnologia (social construction of technology - SCOT) de
Pinch e Bijker (1987). A conceituação foucaultiana também poderá ajudar nos
estudos de gênero, para elucidar a obstinação da relação entre homens e
tecnologia.
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7. BENEFÍCIOS ALCANÇADOS
Os resultados decorrentes da pesquisa foram:
Consolidação da linha de pesquisa junto ao Programa de Pós-graduação em
Administração e a construção de uma referência em pesquisas sobre adoção de
software livre e sua relação com gênero.
Produção científica, através de publicação em uma revista portuguesa, onde
testamos as variáveis do modelo UTAUT, comparando os resultados entre
mulheres e homens adotantes do E-learning.
Produção de material didático, com a preparação de um livro didático intitulado
"Adoção de tecnologia de informação na perspectiva das relações de gênero”.
Formação de Recursos Humanos, pela orientação de duas alunas de graduação
e de iniciação científica (PIBIC), em temas relacionados com os da pesquisa.
Participação em bancas de trabalhos de conclusão e de mestrado, focalizando
modelos de adoção de tecnologia, congêneres com o modelo UTAUT.
Cursos de curta duração ministrados, abordando os temas Adoção de Tecnologia
e Difusão de Inovações, Gestão da Mudança com a TI; e Tecnologia da
Informação e Qualidade de Vida.
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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∗ Esta minha tese de doutorado foi um estudo pioneiro sobre a adoção e difusão de inovações
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Apêndice A – Questionário 1 – Questões fechadas
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
147
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
148
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
149
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
150
Apêndice B – Questionário 2 – Questões abertas
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
151
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
152
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
153
Apêndice C – Gráficos e tabelas descritivos
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
154
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
155
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
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Estatística descritiva das assertivas da UTAUT
ITENS Média Mediana
Desvio‐padrão CV Assime‐
tria Pretendo utilizar SL cada vez mais 8,87 10,0 2,0 22,19 -2,15 Planejo continuar usando SL 8,95 10,0 2,0 22,32 -2,29 Aprender a utilizar o SL é fácil para mim 8,32 9,0 2,0 23,59 -1,47 Não sinto dificuldade em aprender a utilizar SL 8,29 9,0 2,0 24,67 -1,12 O SL representa uma atitude política a favor da liberdade 8,67 10,0 2,3 26,16 -1,93
Tenho conhecimento necessário para usar SL 8,26 9,0 2,2 26,61 -1,30 Acredito que o SL é muito útil para o meu trabalho 8,11 9,0 2,5 30,95 -0,94
O SL me permite realizar tarefas mais rapidamente 7,73 8,0 2,5 31,69 -0,94
Instalar software livre é uma tarefa fácil 7,66 8,0 2,4 31,93 -0,99 Utilizar SL aumenta minha produtividade pessoal 7,66 8,0 2,6 34,07 -1,00
O SL melhora meu desempenho no trabalho 7,58 8,0 2,7 35,09 -1,35 O SL oferece um suporte técnico eficaz 6,89 7,0 2,7 38,46 -0,66 Há facilidade em se adquirir familiaridade no uso do SL 6,89 8,0 3,0 43,70 -0,55
As pessoas do meu círculo de amizade me dão apoio para utilizar SL 6,37 7,0 3,1 47,93 -0,38
Meu chefe me incentiva a usar o SL 4,76 4,0 3,7 76,95 0,34 Sinto pressão do meu círculo de colegas para usar SL 3,29 2,0 3,0 89,73 1,06
7,4 7,9 2,5 37,9 1,2
Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)
157
Apêndice D – Teste de Kolmogorov-Smirnov nas variáveis de interesse
Assertivas
Normal Parametersa,b Most Extreme Differences
Kolmogorov-Smirnov Z
Asymp. Sig. (2-tailed) Mean Std.
Deviation Absolute Positive Negative
Utilizar SL aumenta minha produtividade pessoal 7,66 2,611 ,216 ,185 -,216 3,461 ,000
O SL melhora meu desempenho no trabalho 7,58 2,662 ,209 ,182 -,209 3,344 ,000
O SL me permite realizar tarefas mais rapidamente 7,73 2,453 ,185 ,177 -,185 2,961 ,000
Acredito que o SL é muito útil para o meu trabalho 8,11 2,514 ,249 ,226 -,249 3,995 ,000
Instalar software livre é uma tarefa fácil 7,66 2,446 ,181 ,170 -,181 2,910 ,000
Aprender a utilizar o SL é fácil para mim 8,32 1,963 ,199 ,196 -,199 3,192 ,000
Não sinto dificuldade em aprender a utilizar SL 8,29 2,045 ,224 ,201 -,224 3,586 ,000
Há facilidade em se adquirir familiaridade no uso do SL 6,89 3,011 ,183 ,151 -,183 2,941 ,000
Tenho conhecimento necessário para usar SL 8,26 2,198 ,251 ,214 -,251 4,024 ,000
Sinto pressão do meu círculo de colegas para usar SL 3,29 2,952 ,275 ,275 -,219 4,415 ,000
As pessoas do meu círculo de amizade me dão apoio para utilizar SL
6,37 3,053 ,163 ,117 -,163 2,616 ,000
Meu chefe me incentiva a usar o SL 4,76 3,663 ,210 ,210 -,153 3,374 ,000
Planejo continuar usando SL 8,95 1,998 ,374 ,300 -,374 5,989 ,000 Pretendo utilizar SL cada vez mais 8,87 1,968 ,332 ,283 -,332 5,327 ,000
O SL representa uma atitude política a favor da liberdade 8,67 2,267 ,337 ,278 -,337 5,399 ,000
O SL oferece um suporte técnico eficaz 6,89 2,652 ,156 ,121 -,156 2,496 ,000
a. Test distribution is Normal. b. Calculated from data.
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