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Universidade Federal do Rio Grande do Norte Relatório de Pesquisa [versão com gráficos e figuras] < Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia > Edital MCT/CNPq/SPM-PR/MDA Nº 57/2008 < Coordenadora: Anatália Saraiva Martins Ramos >

Projeto de Pesquisa Propesq - Adoção de Software Livre: pesquisa

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Relatório de Pesquisa

[versão com gráficos e figuras]

< Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir

da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia >

Edital MCT/CNPq/SPM-PR/MDA Nº 57/2008

< Coordenadora: Anatália Saraiva Martins Ramos >

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Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)

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RESUMO

O campo de conhecimento sobre a adoção de tecnologia de informação (TI) e

sistemas de informação (SI) configura-se como um desafio importante para a gestão de

tecnologia nas organizações e uma área relevante para pesquisas em Administração.

Diversos temas sobre mulher e TI, sob a influência ou não do feminismo, têm sido

investigados, tais como a divisão social do trabalho, a cultura de gênero da TI e as suas

esferas de atuação. Os estudos existentes vão desde um foco mais computacional,

psicológico e de gestão, mas ainda há pouca teorização sobre gênero na pesquisa em TI/SI.

A revisão da literatura mostrou que homens e mulheres possuem comportamentos

diferentes diante da tecnologia. Entretanto, estas diferenças de comportamento nem sempre

são as mesmas, variando de uma TI e cultura para outra. Além disso, ainda não há um

consenso se as diferenças de gênero são provenientes da formação biológica ou de

influências sociais. À luz dessa problemática, a pesquisa teve como objetivo investigar o

processo de adoção de TI sob a perspectiva de pressupostos teóricos da UTAUT,

abordagem teórica sobre aceitação de tecnologias e de difusão de inovações, na percepção

de gênero. Através de construtos comportamentais, intrínsecos e extrínsecos, buscou-se

entender os fatores influenciadores da intenção de continuar a usar FLOSS (Free Libre

Open Source Software), que são softwares livres e abertos (SL). Quanto aos aspectos

estruturais da investigação, a pesquisa é de natureza exploratória e descritiva. Em relação à

lógica de interpretação, a investigação teve uma abordagem quanti-qualitativa. Foram

empregados métodos estatísticos, tais como análises descritivas, teste de qui-quadrado e

de Mann-Whitney e modelagem de equações estruturais (SEM) por estimativa por mínimos

quadrados parciais (PLS). Quanto aos métodos de pesquisa qualitativa, foi realizada a

análise de conteúdo, especificamente a análise categorial. Para auxiliar a análise qualitativa

dos dados, foi utilizado o software Atlas/ti. Como procedimento de coleta de dados, foram

aplicados dois instrumentos do tipo websurvey. No caso da análise quantitativa, foi aplicado

um questionário estruturado com questões fechadas, o qual foi respondido por 406

participantes, com 257 respondentes tendo sido selecionados, de acordo com o critério

adotado para a amostra. Na pesquisa qualitativa, fez-se uso de um segundo questionário

contendo perguntas abertas, com 217 respondentes. Ambos os questionários foram

aplicados através da Internet, utilizando a ferramenta de pesquisa do surveymonkey.com.

As respostas foram realizadas com o livre consentimento prévio dos participantes, de forma

a garantir que questões éticas fossem observadas no processo da pesquisa. Como universo

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da pesquisa, foram escolhidos prioritariamente participantes de comunidades de software

livre atuantes no Brasil, e o critério de amostra foi não probabilístico. Ambos os resultados

das pesquisas quantitativa e qualitativa corroboraram os pressupostos teóricos, concluindo

que fatores cognitivos, sociais, organizacionais e técnicos, como expectativa de

desempenho, expectativa de esforço, influência social e condições facilitadoras, foram

importantes preditivos da intenção de continuar a utilizar SL, embora não indistintamente

impactando homens e mulheres. A inclusão de um construto novo no modelo teórico de

adoção de TI, relacionado com o engajamento político e ideológico, também se mostrou

relevante e apto a futuros avanços rumo a uma nova teorização. As contribuições derivadas

do estudo poderão auxiliar na conscientização das diferenças substantivas de gênero na

adoção de TI, especialmente para sistemas abertos e livres. Espera-se que a compreensão

dos fatores que afetam a adoção de SL possa favorecer políticas públicas e ações

empresariais, notadamente quanto ao objetivo de maior difusão do uso de tecnologias livres

pelas mulheres, usuárias crescentes de tecnologias de informação tanto no ambiente de

trabalho quanto no seu lazer.

PALAVRAS-CHAVE: ADOÇÃO DE TECNOLOGIA; ACEITAÇÃO DE TECNOLOGIA

DE INFORMAÇÃO; UTAUT; SOFTWARE LIVRE; FLOSS; GÊNERO; MULHERES.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Distribuição da faixa etária por sexo ........................................................................ 76 

Tabela 2: Distribuição da amostra por ocupação profissional ................................................. 78 

Tabela 3: Experiência com TI ................................................................................................... 79 

Tabela 4: Experiência com instalação de SO livres ................................................................. 80 

Tabela 5: Níveis de experiência com TI e SL por gênero ........................................................ 80 

Tabela 6: Resultados descritivos da Expectativa de desempenho pelo uso do SL ................. 84 

Tabela 7: Expectativa de desempenho entre gêneros ............................................................. 86 

Tabela 8: Resultados descritivos da expectativa de esforço pelo uso do SL .......................... 87 

Tabela 9: Expectativa de esforço entre gêneros ...................................................................... 89 

Tabela 10: Resultados descritivos da Influência social pelo uso do SL .................................. 90 

Tabela 11: Percepção da influência social entre gêneros ....................................................... 92 

Tabela 12: Condições facilitadoras e visão ideológica sobre SL ............................................. 93 

Tabela 13: Comparação de condições facilitadoras e visão ideológica entre os sexos .......... 93 

Tabela 14: Intenção de uso futuro de SL ................................................................................. 93 

Tabela 15: Comparação de intenção de uso por sexo ............................................................ 94 

Tabela 16: Fatores determinantes para maior utilização de SL ............................................... 95 

Tabela 17: Fatores influenciadores do uso de SL por sexo ..................................................... 97 

Tabela 18: Fatores influenciadores do uso de SL entre usuários de SL mais experientes ..... 98 

Tabela 19: Resultados do modelo de mensuração (amostra de homens) ............................ 100 

Tabela 20: Resultados do modelo de mensuração (amostra de mulheres) .......................... 100 

Tabela 21: Matriz de cargas cruzadas – amostra de homens .............................................. 101 

Tabela 22: Matriz de cargas cruzadas – amostra de mulheres ............................................ 102 

Tabela 23: Matriz da variância média explicada (AVE) – amostra homens .......................... 103 

Tabela 24: Matriz da variância média explicada (AVE) – amostra mulheres ........................ 103 

Tabela 25: Preditores da Intenção de continuar o uso de SL (homens) ................................ 106 

Tabela 26: Preditores da Intenção de continuar o uso de SL (mulheres) .............................. 106 

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Tabela 27: Distribuições de SL mais citados ......................................................................... 109 

Tabela 28: Distribuições de SL citadas por mulheres e homens ........................................... 113 

Tabela 29: Códigos gerados da atratividade de mulheres para o SL .................................... 115 

Tabela 30: Motivos que levam os usuários a não adotarem integralmente o SL .................. 122 

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Comparação da faixa etária por sexo ...................................................................... 77 

Gráfico 2: Comparação do tipo de ocupação profissional por sexo ........................................ 79 

Gráfico 3: Comparação da experiência no uso de TI por sexo ................................................ 81 

Gráfico 4: Comparação do nível de experiência com SL por sexo .......................................... 82 

Gráfico 5: Expectativas de performance agrupadas por gênero através de Box plot.............. 85 

Gráfico 6: Expectativas de esforço agrupadas por gênero através de Box plot ...................... 88 

Gráfico 7: Influência social (Box plot) ....................................................................................... 91 

Gráfico 8: Fatores determinantes do uso de SL por sexo ........................................................ 96 

Gráfico 9: Motivadores de não adoção de SL segmentado por sexo .................................... 124 

Gráfico 10: Fatores influenciadores da não adoção de SL exclusivo .................................... 125 

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Campos de estudo para o assunto Gênero e Tecnologia ...................................... 23 

Quadro 2: Modelos teóricos presentes na UTAUT .................................................................. 30 

Quadro 3: Construtos, definições e fonte bibliográfica da UTAUT .......................................... 32 

Quadro 4: Construtos e significados da TRA ........................................................................... 34 

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT) ................................ 31 

Figura 2: Teoria da Ação Racionalizada .................................................................................. 34 

Figura 3: Teoria do Comportamento Planejado (TPB) ............................................................. 35 

Figura 4: Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM) .............................................................. 37 

Figura 5: Extensão do TAM (TAM2) ......................................................................................... 38 

Figura 6: Cálculo do poder estatístico (teste post hoc) ............................................................ 74 

Figura 7: Tamanho do efeito do R2 (teste de sensibilidade) .................................................... 75 

Figura 8: Modelo de Mensuração dos dados da amostra dos homens ................................. 104 

Figura 9: Modelo de Mensuração dos dados da amostra de mulheres ................................. 105 

Figura 10: Expectativa de desempenho como fator de atratividade para o SL ..................... 116 

Figura 11: Expectativa de Esforço como fator de atratividade para o SL .............................. 119 

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SUMÁRIO

1.  INTRODUÇAO ....................................................................................................................... 11 

1.1 OBJETIVOS ..................................................................................................................................... 14 

2.  REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................................... 16 

2.1 QUESTÃO DO GÊNERO EM PESQUISAS SOBRE TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO .................................................. 16 

2.1.1 Conceito de gênero ............................................................................................................... 16 

2.1.2 Gênero e tecnologia .............................................................................................................. 19 

2.1.3 Estudos sobre adoção de SI abordando gênero .................................................................... 23 

2.2 ADOÇÃO DE TECNOLOGIA E A TEORIA UNIFICADA DE ACEITAÇÃO E USO DA TECNOLOGIA (UTAUT) .................. 28 

2.2.1 As bases teóricas da UTAUT .................................................................................................. 29 

2.2.1.1 Teoria da Ação Racionalizada (TRA) ............................................................................................... 33 2.2.1.2 Teoria do Comportamento Planejado (TPB) .................................................................................. 35 2.2.1.3 Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM) ................................................................................... 36 2.2.1.4 Extensão do TAM ........................................................................................................................... 37 2.2.1.5 Modelo Motivacional (MM) ........................................................................................................... 40 2.2.1.6 Teoria da Difusão da Inovação (IDT) .............................................................................................. 41 2.2.1.7 Modelo de Utilização do PC (MPCU) .............................................................................................. 42 2.2.1.8 Teoria Social Cognitiva (SCT) .......................................................................................................... 42 

2.3 SOFTWARE LIVRE ............................................................................................................................... 43 

2.3.1 Histórico e conceito ............................................................................................................... 44 

2.3.2 Software livre no Brasil ......................................................................................................... 49 

2.3.3 Estudos sobre Adoção do software livre ............................................................................... 50 

3.  METODOLOGIA ..................................................................................................................... 57 

3.1 TIPOLOGIA DO ESTUDO ....................................................................................................................... 57 

3.2 ETAPAS DO ESTUDO ............................................................................................................................ 57 

3.3 UNIVERSO E AMOSTA .......................................................................................................................... 60 

3.4 MATERIAIS E MÉTODOS DA PESQUISA QUANTITATIVA ................................................................................ 60 

3.4.1 Análise descritiva dos dados ................................................................................................. 61 

3.4.2 Análise inferencial dos dados ................................................................................................ 62 

3.5 MATERIAIS E MÉTODOS DA PESQUISA QUALITATIVA .................................................................................. 64 

3.5.1 Análise de conteúdo .............................................................................................................. 64 

3.5.2 Aplicação da informática na análise qualitativa de dados (CAQDAS) .................................. 65 

3.5.3 Software Atlas/ti ................................................................................................................... 66 

3.5.4 Operacionalização da análise qualitativa ............................................................................. 68 

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4. RESULTADOS DA ANÁLISE QUANTITATIVA .................................................................................. 72 

4.1 ANÁLISES PRELIMINARES ..................................................................................................................... 72 

4.1.1 Preparação dos dados ........................................................................................................... 72 

4.1.2 Verificação do poder estatístico e tamanho do efeito .......................................................... 73 

4.2 PERFIL DEMOGRÁFICO DA AMOSTRA ...................................................................................................... 76 

4.3 PERFIL DE EXPERIÊNCIA COMPUTACIONAL DE TI E SL ................................................................................. 79 

4.4 PERCEPÇÕES SOBRE A UTILIZAÇÃO DE SOFTWARES LIVRES ........................................................................... 84 

4.4.1 Expectativa de desempenho ................................................................................................. 84 

4.4.2 Expectativa de esforço .......................................................................................................... 86 

4.4.3 Influência social .................................................................................................................... 89 

4.4.4 Outros fatores antecedentes ................................................................................................ 92 

4.4.5 Intenção de uso futuro de SL ................................................................................................. 93 

4.5 FATORES DETERMINANTES PARA MAIOR USO DE SOFTWARE LIVRE ................................................................ 94 

4.6 ANÁLISE POR MODELAGEM DE EQUAÇÕES ESTRUTURAIS POR ESTIMAÇÃO POR MÍNIMOS QUADRADOS PARCIAIS .... 99 

4.6.1 Verificação do modelo de mensuração ................................................................................. 99 

4.6.2 Avaliação do modelo estrutural .......................................................................................... 103 

5.  RESULTADOS DA ANÁLISE QUALITATIVA ............................................................................. 108 

5.1 SISTEMAS OPERACIONAIS BASEADOS EM SOFTWARES LIVRES MAIS UTILIZADOS ............................................. 108 

5.2 FATORES DE ATRATIVIDADE DE MULHERES PARA A COMUNIDADE DE SL ....................................................... 114 

5.2.1 Expectativa de desempenho ............................................................................................... 116 

5.2.2 Expectativa de esforço ........................................................................................................ 118 

5.3 FATORES INFLUENCIADORES DA NÃO ADOÇÃO EXCLUSIVA DE SL ................................................................ 120 

6.  CONCLUSÕES DO ESTUDO ................................................................................................... 127 

7.  BENEFÍCIOS ALCANÇADOS ................................................................................................... 130 

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 131 

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO 1 – QUESTÕES FECHADAS .............................................................. 146 

APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO 2 – QUESTÕES ABERTAS ................................................................ 150 

APÊNDICE C – GRÁFICOS E TABELAS DESCRITIVOS ........................................................................ 153 

APÊNDICE D – TESTE DE KOLMOGOROV‐SMIRNOV NAS VARIÁVEIS DE INTERESSE ........................ 157 

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1. INTRODUÇAO

As tecnologias de informação e comunicação (TIC) têm transformado as

atividades e as práticas organizacionais. Embora haja um intenso e contínuo

desenvolvimento tecnológico impulsionando o mercado, as novas tecnologias nem

sempre são adotadas de imediato. O campo do conhecimento que se preocupa com

estas questões é o da Adoção de Tecnologia de Informação (TI).

Em termos de TI, tem sido identificada uma paulatina difusão de softwares

livres (SL) no cotidiano das organizações e usuários domésticos. O SL é aquele

software disponibilizado, de forma gratuita ou não, com as premissas de liberdade

de instalação, plena utilização e acesso ao código fonte (Pinheiro, 2003). Seja em

forma de aplicativos gráficos, utilitários, multimídia, sistemas operacionais para

computadores pessoais, finanças, gestão de projetos, desenvolvimento de

softwares, internet, educação e muitos outros, o fato é que hoje, aqueles que

possuem algum contato com a tecnologia da informação (TI), muitas vezes utilizam

sistemas baseados em SL, mesmo sem saber que estão utilizando.

No campo de Sistemas de Informação (SI) e na área de educação

computacional, as diferenças de gênero com relação às crenças, atitudes, intenções,

comportamentos frente à adoção de sistemas tecnológicos e expectativas de auto-

eficácia para com a TI representam um assunto relevante.

Buscar compreender os fatores que poderão influenciar os indivíduos e as

organizações quanto ao processo de tomada de decisão de adotar ferramentas

tecnológicas e, ao mesmo tempo, difundi-las, pode auxiliar em estratégias

organizacionais que visem, por exemplo, aumentar o interesse das mulheres, em

especial, por assuntos computacionais, participação em ambientes virtuais de

aprendizagem (AVA), escolha por carreiras centradas em ciências exatas e até

mesmo o uso de computadores em um ambiente de trabalho futuro.

Na literatura de Sistemas de Informação, vários estudos têm proposto

modelos que ajudam a predizer qual comportamento é esperado por partes dos

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indivíduos frente à gama de tecnologias hoje ofertadas. A produção científica

mundial neste campo é muito vasta, pois tem evoluído ao longo de quatro décadas.

Os estudos sobre adoção, aceitação e difusão de tecnologia têm sido focados tanto

no campo organizacional como em nível de indivíduo, além de serem aplicados nas

mais diferentes tecnologias e ambientes organizacionais por pesquisadores de

diferentes nacionalidades. Há uma grande variedade de modelos e variantes de

modelos comportamentais que buscam entender este fenômeno.

A pesquisa utilizou a Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia

(UTAUT) o mais recente modelo teórico na área de SI para explicar o processo de

adoção de novas tecnologias, em particular os softwares baseados em código

aberto – conhecido como software livre. Esta abordagem foi escolhida por sua

integração metodológica e por ser mais recente sobre a adoção de tecnologia e

sistemas de informação. Sendo assim, entende-que a UTAUT poderá responder às

questões de pesquisa com mais propriedade, poder explicativo e relevância

acadêmica que os demais modelos encontrados na literatura de sistemas de

informação.

A Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT) foi criada por

Venkatesh, Morris, Davis e Davis (2003) e contribuiu para o avanço da pesquisa

sobre a aceitação individual da TI, unificando as perspectivas teóricas mais

difundidas na literatura e incorporando moderadores para controlar as influências do

contexto organizacional, a experiência do usuário e as características demográficas,

em particular a questão do gênero. A UTAUT está sendo gradativamente validada e

aceita no meio acadêmico.

Seu framework é constituído por alguns elementos presentes em oito modelos

que trabalham com a aceitação da tecnologia: a Teoria da Ação Racionalizada

(TRA); o Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM); o Modelo Motivacional (MM); a

Teoria do Comportamento Planejado (TPB); a combinação entre a TAM e TPB; o

Modelo de Utilização do PC (MPCU), a Teoria da Difusão da Inovação (IDT) e a

Teoria Social Cognitiva (SCT).

A pesquisa buscou entender o processo de adoção de plataformas

tecnológicas baseadas em linguagens de código aberto e software livre,

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Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)

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especialmente quanto à atitude e comportamento do(a) usuário(a) com relação a

esta tecnologia e sua relação com gênero. Esse estudo utilizou os pressupostos da

UTAUT, buscando uma convergência e sistematização teórica. Além disso,

incorporou novos construtos e relações, a fim de tentar explicar as limitações

encontradas nesse modelo teórico aplicado no contexto do uso de software livre.

Apesar de sua rica bibliografia, nas pesquisas nacionais em SI praticamente

não se tem sido investigado o fenômeno da aceitação e uso de tecnologia sob a

ótica das questões de gênero. Desta maneira, o fenômeno da aceitação de TI e sua

relação com a variável ‘gênero’ é merecedor de esforços de investigação e de

extensão dos construtos originais. Além do fato de haver pouca publicação que

aborde a questão de diferença entre gêneros na adoção de TI, um estudo desta

natureza justifica-se, tanto pelo aspecto da lacuna a ser preenchida no âmbito

nacional, como pelo fato de que é necessário comprovar a totalidade do referido

modelo em ambientes e culturas diversas aos de estudos internacionais.

Por conseqüência, o campo de conhecimento sobre a adoção de software

livre e os impactos para as mulheres, em especial, configura-se como um desafio

para a gestão de tecnologia nas organizações e uma área relevante para pesquisas

acadêmicas em Administração, visto que a compreensão dos fatores que afetam

esta adoção facilitará políticas públicas e ações empresariais, no sentido de obter

uma maior difusão de seu uso pelas mulheres, usuárias crescentes de tecnologias

de informação tanto no ambiente de trabalho quanto no seu lazer.

À luz deste contexto, o problema de pesquisa investigado foi: Quais são as

diferenças entre gêneros em relação à adoção do software livre (SL) à luz da teoria

unificada de aceitação e uso da tecnologia?

A pesquisa contribuiu para preencher uma lacuna acadêmica, já que são

poucos os estudos com características metodológicas mais explanatórias,

especialmente testando modelos teóricos em pesquisas na área de sistemas de

informação e sua relação com o gênero. Sua relevância científica reside em seu

caráter incremental, por adicionar novas informações e avançar o conhecimento na

área, principalmente no contexto nacional. Os resultados da pesquisa proposta

poderão contribuir para o avanço da pesquisa sobre a aceitação individual da TI,

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Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)

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unificando as perspectivas teóricas mais difundidas na literatura e incorporando

moderadores para controlar as influências do contexto organizacional, a experiência

do usuário e as características de gênero na adoção de SL.

Outra razão da realização da presente pesquisa é a sua aplicação em um

campo econômico da indústria de software, valorizado pelas instâncias decisórias

nas esferas executivas do setor público federal, que é o open source ou software

livre. Quanto aos benefícios potenciais para a sociedade brasileira, estudos que

visem compreender os fatores intervenientes da adoção de TI baseadas em

plataformas abertas (open source based) e as diferenças de percepção e

estratégias de uso desenvolvidas pelos indivíduos permitirão potencialmente um

melhor aproveitamento dos recursos desta tecnologia, fornecendo subsídios para

formulação de estratégias de difusão do software livre. O estudo terá, portanto,

sintonia com as novas diretrizes do atual governo federal sobre a adoção de

sistemas de código aberto, colaborando para a redução de custos de aquisição, o

acesso ao código fonte, a redução da dependência tecnológica e o favorecimento de

cultura de colaboração e de conhecimento livre.

1.1 OBJETIVOS

Esta pesquisa testou construtos que explicam a adoção das tecnologias de

informação, na percepção de mulheres e homens, buscando aplicar um modelo de

pesquisa que integre os pressupostos teóricos sobre adoção, uso e aceitação de

tecnologias e de difusão de inovações. A fim de responder ao problema da pesquisa,

os objetivos específicos são:

Realizar uma revisão de literatura exaustiva, sistemática e abrangente sobre

modelos teóricos de adoção, aceitação e uso de TI, para desenho do estado

da arte sobre o assunto;

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Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)

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Compreender as especificidades do processo de adoção e uso de software

livre e sistemas abertos por parte dos indivíduos, tendo em vista a

identificação de fatores comportamentais, organizacionais, intrínsecos e

extrínsecos e suas características de adotantes e não adotantes;

Propor e implementar um modelo que busca integrar os fatores que afetam a

adoção do software livre segundo as diferenças de gênero e outras variáveis

preditivas e/ou moderadoras, relativas às características demográficas e

cognitivas.

A pesquisa está delimitada ao nível do usuário doméstico e não focalizou o

contexto organizacional da adoção de tecnologias livres.

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Relatório de Pesquisa CNPq – Um Estudo da Diferença entre Gêneros em relação à Adoção de Software Livre a partir da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

A seguir são abordados os tópicos principais relacionados ao estudo,

iniciando com o conceito de gênero e as relações de gênero e tecnologia. Em

seguida, é apresentada a Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia

(UTAUT), a qual foi utilizada como um framework que identifica os fatores que

afetam a adoção do software livre. São discutidos alguns aspectos contextuais e

teóricos sobre o software livre e, ao final desse capítulo, é apresentado o modelo de

pesquisa.

2.1 Questão do gênero em pesquisas sobre tecnologia de informação

Este tópico está dividido em três seções. A primeira discute o conceito de

gênero e traça um breve histórico da sua presença nos estudos sociais, aborda a

questão do gênero no campo dos estudos sociais da tecnologia e finaliza com a

apresentação de uma revisão de literatura sobre estudos onde a problemática de

gênero está presente na adoção de sistemas e tecnologia de informação.

2.1.1 Conceito de gênero

A diferença de comportamento entre homens e mulheres e sua relação com a

tecnologia tem sido ao longo do tempo objeto de investigação por parte de

pesquisadores de diversas áreas de conhecimento. Para Bevacqua et al. (1995),

pode-se considerar gênero como uma forma primária de dar significado às relações

de poder e, assim sendo, fornece um meio de decodificar o significado das

complexas conexões entre as várias formas de interação humana.

Scott (1995) apresenta um panorama de como a palavra ‘gênero’ vem

sofrendo modificações na sua definição, concluindo que a codificação de gênero de

certos termos estabelecia e naturalizava seus significados, reproduzindo-se e

integrando-se na sociedade, em contextos historicamente específicos.

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Rocha (2006), falando sobre a retrospectiva da palavra “gênero”, diz que esta

encontra espaço próprio e amplo nos contextos acadêmicos, principalmente a partir

das décadas de 1960 e 1970, de forma mais intensa, como tentativa de terminologia

alternativa ao invés de se utilizar “sexo”, palavra que está atrelada historicamente

aos primórdios do movimento feminista e suas perspectivas teóricas.

Os estudos sobre gênero têm sido desenvolvidos em duas divergentes

abordagens explicativas. Na abordagem essencialista, os cientistas atribuem as

diversidades à questão biológica, afirmam que os comportamentos diferentes são

reflexos da formação cerebral do indivíduo. Uma das explicações dada é que como

os feixes de nervos que ligam os dois lados do cérebro masculino são mais finos, os

homens utilizam normalmente um hemisfério cerebral na resolução de problemas,

empregando, portanto, uma abordagem linear. Nas mulheres, a conexão entre o

hemisfério direito e esquerdo não é estreita, o que faz com que suas respostas

sejam mais holísticas (ADAM, 2005). Este é tradicionalmente o discurso biológico.

Para Haraway (1991, apud PISCITELLI, 1997), na distinção sexo/gênero, o sexo

seria um "recurso" para sua re-(a)presentação como gênero, integrando-se, assim,

na linhagem generativa do binômio natureza/cultura e embasado pela mesma lógica

de apropriação da dominação.

O pensamento feminista entende que as diferenças entre os gêneros teriam

sido construídas por uma sociedade cujos principais papéis foram reservados aos

homens. Esta dominação masculina terminou por instituir convenções que deveriam

ser seguidas pelos membros do sexo feminino, as quais eram perpetuadas pelos

sistemas jurídico e educacional (ADAM, 2005). Assim, as identidades de gênero são

consideradas construtos sociais e recebem influências culturais e/ou contingências

históricas. Esta visão defende que as desigualdades entre homens e mulheres

existem em muitos aspectos da vida, e há possibilidade de mudança pela atuação

da política. Ainda conforme Adam (2005), a esperança de mudança existe na

medida em que se compreendam as estruturas opressoras e alienantes que levaram

ou levam a esta situação de desigualdade ou de diferença entre gêneros.

Não cabe aqui neste breve espaço toda uma discussão aprofundada do

conceito de gênero, tanto pela sua complexidade como por ainda não haver um

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consenso sobre o mesmo. Na produção teórica feminista contemporânea há muita

ambivalência sobre os conceitos de gênero. As posturas de algumas autoras que

discutem o conceito de gênero são extremamente variadas, segundo Piscitelli (1997,

p. 50-51):

Elas oscilam entre realizar uma crítica a várias das ideias associadas à

distinção sexo/gênero, procurando saídas sem abandonar, porém,

princípios associados à noção de gênero, ou, ao contrário, desistir dele,

pensando-o como par inseparável numa distinção binária. Este movimento,

que questiona o conceito de gênero, está, por seu lado, associado a uma

reelaboração, muitas vezes conflitiva, dos pressupostos teóricos e políticos

feministas.

No entendimento de Rocha (2005), as mulheres (assim como os homens) são

múltiplas; têm interesses distintos e diferenciados; não têm necessariamente

valores, antecedentes, comportamentos e/ou hábitos em comum; provêem de

diversas camadas sociais, raças, etnias, orientações e opções sexuais, gerações,

países, o que implica em variadas e diversificadas histórias de vida, e lhes

proporciona conhecimentos situados sócio-historicamente. Suas experiências de

vida, através de suas inúmeras relações pessoais, sociais, culturais e políticas

expressam sua diversidade.

Harding (1986 apud BALKA, 2009), estudando o papel da mulher na Ciência,

distingue três aspectos de gênero: a) estrutura do gênero, que significa a divisão

sexual do trabalho; b) identidade de gênero é igualmente uma projeção, ou seja,

como individualmente nos vemos e como outros nos percebem, seja um ‘retrato’

real, potencial ou desejado, como também uma subjetividade, visto que nossa

identidade é criada e vivenciada como um indivíduo; e c) gênero simbólico, que

envolve representações e significados, podendo ser visto duplamente como relação

e processo. A autora alerta que não se deve negligenciar essas facetas do gênero.

Essa articulação sobre o conceito de gênero que Sandra Harding desenvolveu

no lócus do meio científico pode servir apropriadamente para o nosso contexto do

software livre. Desde a década de setenta, os estudos que abordam a mulher na

ciência são um paralelo importante para os que estudam a mulher e a tecnologia e

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vice-versa, visto que ambos os campos compreendem a questão de gênero como

construções sociais.

Por fim, duas delimitações conceituais assumidas no contexto desta pesquisa.

Como alerta Wilson (2004), gênero é uma questão presente ainda quando as

mulheres estão ausentes, ou seja, falar de gênero não deve ser igualado a falar de

mulheres. No presente estudo, no entanto, as mulheres estão no foco principal da

análise de gênero. Além disso, ressaltamos que na apresentação dos resultados o

conceito de gênero assume conteúdo específico, neste caso, nos valemos do termo

sexo para ser trabalhado como categoria empírica para gênero. Acreditamos que

estamos amparadas na visão de Piscitelli (1997, p.65) quando afirma: “não importa

como o sexo, a Biologia e a natureza sejam pensados localmente, o gênero sempre

mantém sua relação com a referência sexual”.

2.1.2 Gênero e tecnologia

No que refere à perspectiva feminista na tecnologia, esta tem sido

frequentemente problematizada. Nos anos 80, de acordo com Wood (2005), as

feministas dirigiram sua atenção para o caráter de gênero da tecnologia.

A partir das contribuições do campo de Estudos Sociais da Tecnologia (EST),

as feministas desenvolvem um novo marco analítico que permite compreender as

complexas relações entre gênero e tecnologia e suas inevitáveis contradições,

fugindo dos limites colocados pelo determinismo tecnológico (VASCONCELLOS;

VELHO, 2010).

Bush (1983) possibilitou a compreensão de como as mulheres perdem terreno

em relação aos homens com a introdução de novas tecnologias, atribuindo como

razões para tal as forças macrossociais, como a ideologia patriarcal e o capitalismo.

Como comprovou Wajcman (1991, apud WOOD, 2005), em vez de indagar como

conseguir que as mulheres recebam um tratamento mais eqüitativo dentro e por

parte de uma tecnologia neutra, muitas feministas sabem que a tecnologia ocidental

em si mesma encarna os valores patriarcais.

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Todavia, segundo Balka (2009), essa abordagem macro dá poucas pistas

sobre como essas relações sociais são promulgadas a um nível micro, ou seja, no

cotidiano, em múltiplos contextos organizacionais, em relação a tecnologias

específicas e em diferentes épocas e lugares.

Dentro da literatura de gênero dentro do campo de sistemas de informação

(SI), de acordo com Adam (2005), muitos trabalhos focam na proporção de homens

e mulheres que atuam neste campo. Outros ainda têm interesse em focar na pouca

presença de mulheres na indústria da TI, especialmente nos cargos mais elevados.

Adam (2005) salienta que deve-se ir além de discutir as estatísticas sobre a

igualdade, e ir na direção de construir melhores análises e explicações sobre as

diferenças entre homens e mulheres na área de tecnologia de informação.

Faulkner (2001) nos mostra que há várias expressões que as feministas se

reportam quando abordam o tema tecnologia. Uma delas é a “mulheres na

tecnologia”, que se preocupa com a escassez de mulheres no setor; a outra é

“mulheres e tecnologia”, onde são observadas as influências das tecnologias na vida

das mulheres, com duas posições divergentes, uma mais otimista e outra

pessimista, a qual mostra frequentemente a tecnologia como ligada ao patriarcado e

aos valores masculinos; e, mais recentemente, a corrente que denomina-se “gênero

e tecnologia”. Esta última entende ambos os conceitos como sendo socialmente

construídos e pode, em consequência, ser reconstruídos. Desta forma, por

concordamos com a pertinência do termo, a adotamos na presente pesquisa.

Faulkner (2001) buscou elaborar um amplo framework desenvolvido nos

estudos feministas sobre tecnologia, para tentar responder, de forma teórica, como a

tecnologia é permeada pelo gênero. Foram cinco as conclusões da autora:

1. A tecnologia é mergulhada em gênero porque os atores-chave,

especialmente na concepção de novos artefatos tecnológicos e sistemas, são

predominantemente homens;

2. Existem divisões de trabalho em torno da tecnologia guiada pelo gênero,

baseada em parte numa equação entre masculinidade e habilidade técnica;

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3. Os artefatos tecnológicos são ligados a gênero, tanto a nível material como

simbólico, embora muitas vezes haja uma considerável flexibilidade

interpretativa na sua utilização;

4. As imagens culturais de tecnologia estão fortemente associadas com a

masculinidade hegemônica, embora haja um descompasso enorme entre a

imagem e a prática;

5. O menor detalhe de conhecimento técnico e prático é de gênero, embora

de maneiras complexas e contraditórias;

6. Estilos de trabalho técnico podem ser um pouco de gênero, embora haja

fortes pressões normativas para moldá-lo;

7. A tecnologia é um elemento importante na identidade de gênero de homens

que trabalham e se divertem com as tecnologias.

Kelan (2009) defende uma abordagem construtivista para gênero, tecnologia

e trabalho. Através dos resultados da sua pesquisa, elucidou que gênero pode ser

algo flexível, dinâmico e fluido. Para a autora, embora ainda exista um abismo entre

as mulheres e a tecnologia, os estereótipos sobre mulheres e tecnologia têm sido

redefinidos e a tendência é que este relacionamento mude cada vez mais. Ela

exemplifica esta mudança de paradigma com alguns fatos, como por exemplo, o

número de internautas do sexo feminino não estar mais atrás do de homens, e as

mulheres serem presenças mais freqüentes nas redes sociais.

Outro aspecto importante é a análise cultural da tecnologia. Para Wood (2005,

p.46):

Existe uma diferença fundamental entre a perspectiva de “tecnologia como

cultura” e os numerosos estudos sobre a tecnologia e a mulher que falam

da cultura masculina da tecnologia e insistem nas formas como os homens

e meninos dominam o desenho e o uso das tecnologias, na linguagem

utilizada, que reflete seus interesses e prioridades, e no modo em que se

excluem as mulheres, limitando sua participação no âmbito da tecnologia.

Na análise cultural da tecnologia, as tecnologias são “produtos culturais”,

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“objetos” ou “processos” que adquirem significado através da

experimentação cotidiana.

A visão da tecnologia como cultura se coaduna com a construção social da

tecnologia (CST), onde os significados tecnológicos são construídos, rechaçando o

determinismo tecnológico. Para Wilson (2004), a perspectiva cultura entende que

gênero e tecnologia são ambos construções sociais. Henwood (1993 apud WOOD,

2005) conclama a continuar pesquisando nessa perspectiva para compreender as

experiências subjetivas e as práticas das mulheres com a tecnologia, tomando-as

como ponto de partida para formular definições de “tecnologia”, “trabalho

tecnológico” e “especialidade”.

Em uma perspectiva feminista e crítica, Wilson (2004) assume que relações

de gênero envolvem diferença, desigualdade e poder. Uma outra vertente recente do

pensamento feminista aborda a questão política e ideológica da tecnologia. Para

Wood (2005), a tecnologia e a ciência são percebidas como atividades

extremamente envolvidas no projeto masculino de dominação e controle sobre a

mulher e a natureza. A proposta, nessa perspectiva, é chegar a uma tecnologia

fundada nos valores das mulheres. Nesse aspecto, destacam-se principalmente as

críticas das ecofeministas à tecnologia militar e aos efeitos das tecnologias

modernas, que consideram produto da cultura patriarcal sobre a ecologia (Rothchild,

1983 apud WOOD, 2005).

Por seu turno, Shiva (1993, apud WOOD, 2005) reclama uma tecnologia

alternativa, baseada na comunidade e uma redefinição do conhecimento em que se

legitime o local e o diverso. Conseqüentemente, a perspectiva da democratização do

conhecimento e da tecnologia está relacionada com as liberdades dos seres

humanos, por libertar o conhecimento da dependência dos regimes de pensamento

estabelecidos, tornando-o, ao mesmo tempo, mais autônomo e autêntico.

Este ponto de vista das feministas Rothchild e Shiva muito nos inspirou, a

ponto de termos colocado a filosofia e política pró-software livre como um fator que

tem contribuído para que muitas mulheres tenham um grande engajamento político

no movimento do software livre e aberto, conhecido mundialmente pela sigla FLOSS

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(Free Libre Open Source Software), por seu caráter libertário, justo, promotor do

conhecimento compartilhado, ao contrário da ideologia capitalista do software

proprietário de código fechado.

2.1.3 Estudos sobre adoção de SI abordando gênero

O assunto gênero e tecnologia deve merecer mais atenção na academia. No

recente estudo de Howcroft e Trauth (2008), foi colocado que se deve ter uma

agenda crítica para as questões que envolvem gênero no campo da pesquisa em

tecnologia e sistemas de informação, da mesma forma como argumenta Wilson

(2004) no Quadro 1.

Campo de estudo

Influência teórica

Tema de estudo Aspectos a considerar

Áreas potenciais para aplicação de pesquisa

em SI

Gênero e computação Feminismo Mulher e

TIC’s

Baixa representação da mulher nas TIC’s

Baixa teorização de gênero na pesquisa em SI

Investigação estatística na profissões de TI

Gênero e sociedade

Feminismo

Construti-vismo Social

Existência de esferas de

gênero

Cultura da dicotomia

Socialização e aquisição de habilidades

Simetria da socialização

Desenvolvimento da competência de TI

Comparação de interações de homens e

mulheres

Gênero e organizações

Estudos críticos de

administração

Divisão social do trabalho

Conflito, contradição e poder

Esferas de gênero no local

de trabalho

Empregos vinculados a gênero

Contexto de desenvolvimento de

sistemas

Interação de usuários com SI

Gênero e tecnologia

Construção social da

tecnologia

Cultura de gênero da tecnologia

Aportes interpretativistas da tecnologia

Construção social de gênero e tecnologia

Divisão sexual e social do trabalho

Organização do trabalho pela administração

Alocação de atributos de habilidade

Fonte: WILSON, 2004, p.83

Quadro 1: Campos de estudo para o assunto Gênero e Tecnologia

Wilson (2004) a preconiza que o marco conceitual para os estudos de gênero

e SI devem ser construídos através da combinação de insights provenientes de: i)

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gênero e informática, no que concerne com as diferenças e as desigualdades no

desenvolvimento e no uso de SI; ii) gênero e sociedade, sobre a existência de

esferas de gênero, iii) estudos de gênero e organizações, que diz respeito à divisão

social do trabalho, e iv) gênero e tecnologia, sobre a masculinidade da cultura

tecnológica. A autora considera muito relevante que a academia incorpore na sua

agenda de pesquisa assuntos relacionados com gênero, tendo como campo de

estudo a sociedade, as organizações, a tecnologia em si e a computação. Diversos

temas, sob a influência ou não do feminismo, deveriam ser estimulados, tais como

mulher e tecnologia de informação, esferas de gênero, divisão social do trabalho e

cultura de gênero da tecnologia. Tais temas deveriam incluir aspectos que elucidem

a baixa representação da mulher nas TIC’s, a baixa teorização de gênero na

pesquisa em SI, a cultura da dicotomia, a socialização e aquisição de habilidades, a

simetria da socialização, as esferas de gênero no local de trabalho, empregos

vinculados a gênero, dentre outros. Os aportes mais indicados para estudar estes

fenômenos no campo organizacional deveriam ser interpretativistas e críticos.

As contribuições derivadas de estudos dessa natureza servirão, sem dúvida,

para melhorar a prática de sistemas de informação através de maior conscientização

dos problemas sociais (especialmente de gênero). Além disso, a capacidade de

assimilação de novas tecnologias no nível individual e no ambiente profissional pode

determinar um maior sucesso e condições de competitividade no mercado de

trabalho para as mulheres.

Quanto às pesquisas que testaram como as relações de gênero, encontram-

se trabalhos com os mais diversos resultados, e os veículos de divulgação científica

de estudos neste campo vão desde um foco mais computacional, psicológico, até os

de gestão (BUSCH, 1995; VENKATESH, V.; MORRIS, M. G.; ACKERMAN. 2000;

ATAN et al., 2002; ONG, 2004; AHUJA; THATCHER, 2005; BRYNIN, 2006).

Brynin (2006) alerta para a importância de se investigar se a tecnologia

acentua as desigualdades e segregações entre homens e mulheres como são

encontrados em termos de salário e cargos. Estudos na área de SI têm mostrado

que os homens tendem a serem mais fortemente orientados para tarefas e interesse

em tecnologia (Minton e Schneider, 1980 apud YUEN; MA, 2002). Se os homens

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adquirem mais capacidade e autoeficácia no domínio das ferramentas tecnológicas

vão obter mais produtividade por conta desse uso da TI. Para o autor, isso pode

remeter a uma diferença entre homens e mulheres ainda maior no mercado de

trabalho.

Especificamente quanto à adoção de tecnologia, o estudo de Venkatesh e

Morris (2000) foi um dos primeiros a focar a diferença de gênero em local de

trabalho, adotando uma posição essencialista (CHEUNG, LEE e CHEN, 2002). Os

autores consideraram que a diferença de comportamento entre homens e mulheres

está relacionada a aspectos intrínsecos a cada um. Em outras palavras, as

características e comportamento de homens e mulheres seriam fixos, pré-

determinados e naturais (HOWCROFT; TRAUTH, 2008).

Para a adoção de TI, especificamente, a pesquisa de Venkatesh e Morris

(2000), teoricamente apoiada no TAM, pretendeu identificar a diferença entre os

gêneros no que refere ao processo de introdução de uma tecnologia nova e de uso

voluntário no local de trabalho. Para tanto, a literatura que motivou as hipóteses do

trabalho dizia que: o homem tende a ser mais orientado a tarefa do que a mulher,

então a Facilidade de Uso influenciaria a Utilidade Percebida mais fortemente em

homens do que em mulheres (h2b); quando se trata de computadores a mulher

geralmente tem aptidão inferior ao homem, porém é mais ansiosa que este, o que

faria com que a Facilidade de Uso Percebida tivesse um impacto mais forte em

mulheres do que em homens (h2a); o homem tende a ter um comportamento mais

assertivo e lógico do que as mulheres, então o impacto da Utilidade Percebida na

Intenção Comportamental seria mais forte em homens do que em mulheres (h1); por

fim, as mulheres possuem maior sensibilização em relação a sentimentos do que

homens, o que implica que a Norma Subjetiva teria maior impacto na Intenção

Comportamental nelas do que neles (h3). De fato, as hipóteses h1, h2a e h3 foram

confirmadas, o que reforça a importância que os gestores de TI devem ter em

relação às diferenças de comportamento.

Outro trabalho que aborda gênero e adoção de TI, especificamente o sistema

de e-mail, foi realizado por Gefen e Straub (1997). A pesquisa contou com a

participação de 392 trabalhadores de três empresas cada uma pertencente a

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indústria aérea dos Estados Unidos, Suiça e Japão. As variáveis utilizadas foram

Percepção de Presença Social, Utilidade Percebida, Facilidade de Uso, Gênero e

Uso. Os resultados indicaram que as mulheres percebem o e-mail como mais útil e

com maior presença social do que os homens, no entanto, estes estão mais

inclinados a achar a utilização do sistema mais fácil. Por fim, embora os resultados

tenham mostrado que há diferença entre homens e mulheres, verificou-se que tais

diferenças não afetam o uso do e-mail. Conforme Gefen e Straub (1997, p. 15) na

medida em que o sexo tem uma influência sobre a eficácia dos padrões de

comunicação, os gestores também precisam ser informados sobre como criar um

ambiente de comunicação mais favorável, que não dependa apenas da organização

dos fatores contextuais, mas também do sexo de seus usuários.

Ao utilizar o TAM no contexto da adoção de tecnologia de ensino a distância,

Ong e Lai (2006) constataram em seis empresas internacionais em Taiwan,

diferenças entre gêneros no que se refere a adoção do e-learning. Os resultados

obtidos revelaram que as notas de autoeficácia computacional, percepção de

utilidade, percepção de facilidade de uso e intenção para usar o e-learning são

maiores em homens do que em mulheres. As variáveis mais salientes nas mulheres

foram autoeficácia e a facilidade de uso, enquanto a utilidade percebida foi mais

saliente nos homens (ONG; LAI, 2006). Além disso, a utilidade percebida dos

homens foi mais significante e saliente na intenção comportamental de uso, do que

nas mulheres. Já a facilidade de uso percebida teve efeitos na intenção

comportamental para uso tanto em homens como em mulheres.

Um trabalho recente de Dong e Zhang (2010) analisa a questão do gênero a

partir da perspectiva cultural. Para os autores, a adoção de TI está intimamente

relacionada com as características culturais do país do indivíduo. A pesquisa

envolveu 496 chineses de quatro universidades e uma empresa, e concluiu que os

resultados que envolvem as variáveis da TPB, Atitude, Percepção do Controle de

Comportamento e Norma Subjetiva, encontrados na China e nos Estados Unidos,

são divergentes no que se refere a adoção de TI. Nos EUA a Atitude frente a adoção

da TI é maior em homens do que em mulheres, já na China é o contrário; a

Percepção do Controle de Comportamento nos EUA é maior em mulheres do que

em homens, já na China homens e mulheres tem percepções iguais; a Norma

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Subjetiva influencia as mulheres mais que os homens nos EUA e mais os homens

do que as mulheres na China.

A resposta para as diferenças de resultados estão pautadas nas diferenças

culturais. Em relação a Atitude, por exemplo, o fato da cultura chinesa revelar à

mulher suas obrigações familiares logo cedo, faz com que elas tenham um senso de

tensão e urgência de se superar o mais cedo possível, enquanto ainda estão na

universidade e não são casadas. Isto faz com que sejam mais orientadas a tarefa e

tenham atitudes positivas a computadores mais que os homens (DONG; ZHANG,

2010).

Outros estudos têm dado continuidade ao problema de pesquisa sobre a

compreensão de atitudes para com a tecnologia. Dois exemplos focados em

ambiente educacional são a pesquisa de Roca e Gagné (2007), os quais

propuseram uma extensão do TAM baseado na Teoria da Auto-Determinação (SDT)

e a de Ong e Lai (2004) onde contatou-se que a autoeficácia computacional foi

determinante na utilidade percebida e facilidade de uso percebida tanto para

homens como para mulheres. A percepção de autonomia, percepção de

competência e percepção de familiaridade exercem um efeito direto na percepção de

utilidade, percepção de facilidade de uso e na percepção de satisfação que, por sua

vez, determinam a intenção de continuar o uso de uma tecnologia, no caso, o e-

learning (ROCA; GAGNÉ, 2007).

Em uma revisão de literatura em 26 artigos sobre a teoria de Venkatesh et al

(2003), Visentini, Bobsin e Rech (2008) concluíram que há algumas divergências de

resultados nas pesquisas que utilizaram o modelo UTAUT. Foi identificado que nem

todas as pesquisas abordam o modelo UTAUT por completo, com várias

configurações de pesquisa, pela incorporação ou retirada de variáveis do desenho

original do mesmo. Além disso, há outros construtos que também serão agregados

no modelo de pesquisa UTAUT que serão incorporados ao modelo de pesquisa a

ser proposto e implementado nesta pesquisa, dando-se ênfase à variável Gênero.

Para alguns autores, como Venkatesh et al (2003), o gênero é um importante

moderador que influencia o uso e aceitação de um SI. Para estes autores, algumas

variáveis, como a Facilidade de uso de TI e as influências de Normas subjetivas

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afetariam mais as mulheres, enquanto que a Utilidade percebida foi uma variável

que demonstrou maior efeito entre os homens. No caso das normas subjetivas,

quando as mulheres adquirem mais experiência computacional, estas ficam menos

sujeitas às influências das normas subjetivas.

No caso do estudo de Atan et al. (2002), ficou comprovado que não havia

diferença entre alunos e alunos do ensino secundário em termos de acesso à

educação à distância em casa e na escola. O acesso ao computador em casa seria

um reflexo de que as alunas de cursos à distância estão conscientes da importância

do computador e isso efetivamente tem reduzido o ‘gap’ entre meninos e meninas no

contexto de adoção de TI.

Na área de sistemas de informação, foco do presente estudo, novos estudos

devem ser feitos a fim de aprofundar o conhecimento sobre as diferenças entre

gêneros, no que diz respeito às percepções de expectativas de desempenho,

expectativa de esforço, influência social e as condições facilitadoras na utilização e

incremento de uso de ferramentas computacionais.

2.2 Adoção de Tecnologia e a Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)

Pesquisas teóricas e empíricas ao longo do tempo têm tentado entender os

motivadores mais importantes para a implantação e uso da tecnologia de

informação, principalmente nos ambientes de trabalho. As questões de pesquisa

principais elegem o “como” e o “porquê” os indivíduos adotam novas tecnologias de

informação, resultando, desta maneira, em modelos teóricos com raízes nos

sistemas de informação, psicologia e sociologia (VENKATESH et al., 2003).

Para referenciar alguns dos trabalhos sobre este assunto, foram consultados

autores clássicos e pioneiros até os mais recentes. São referências importantes os

trabalhos de Brooksbank, Kirby e Kane (1998); Chau e Tam (1997); Cheung, Chang

e Lai (2000); Davis (1989), Davis (1993); Taylor e Todd (1995), Igbaria, Iivari e

Maragahh (1995); Igbaria, Parasuraman e Baroudi (1996); Fink (1998); Jeong e

Lambert (2001); King e Sabherwal (1992); Lakhanpal (1994); Lederer et al (2000);

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Liao et al (1999); Pavlou (2003), Premkumar e Roberts (1999); Ramos (1997);

Rogers (1995); Teo, Lim e Lai (1999) e Zmud (1982) e vários outros que serão

objeto de revisão bibliográfica posterior, para confirmar a genealogia dessas teorias.

Os mais recentes são os artigos de Gyampah e Salam (2004), Burton-Jones e

Hubona (2006), Seymor, Makanya e Berrangé (2007), Chang e Tung (2008), Rezai

et al. (2008), Roca e Gagné (2008).

Esses estudos trazem diversas contribuições de fatores que influenciam os

indivíduos ou usuários a adotarem uma tecnologia e são comumente consideradas

para aplicações específicas de TI (como por exemplo, sistemas integrados de gestão

- ERP, sistemas especialistas, troca eletrônica de dados - EDI, e-procurement,

planilhas eletrônicas, World Wide Web, correio eletrônico, Intranet etc), mas os

mesmos podem ser generalizados para outras tecnologias e sistemas.

À despeito da ampla difusão mundial de estudos sobre adoção e aceitação de

TI, há relativamente poucas referências nacionais explícitas aos modelos de

aceitação de tecnologia, a maior parte publicadas em congressos (ALMEIDA et al.,

2002; BUENO et al. 2004; SILVA; DIAS, 2004; COSTA FILHO; PIRES, 2004;

OLIVEIRA; JOIA, 2004; ALMEIDA; SOBRAL, 2005; CARVALHO; FERREIRA, 2005;

COSTA FILHO; PIRES, 2005; DIAS et al., 2005; PIRES et al., 2006; OLIVEIRA

JUNIOR, 2007). Há ainda poucos trabalhos em revistas científicas de autores

nacionais sendo encontrados os artigos de Dias et al. (2003), Hernandez e Mazzon

(2007) e Trindade (2008).

A seguir, é apresentada a fundamentação teórica dos construtos utilizados

nesta pesquisa e suas raízes teóricas.

2.2.1 As bases teóricas da UTAUT

A UTAUT é o resultado de compilação realizada por Venkatesh, Morris, Davis

e Davis (2003) dos oito modelos com maior influência na aceitação de tecnologia,

provenientes da psicologia, sociologia e da área de sistema de informação (SI): a

Teoria da Ação Racionalizada (TRA); a Teoria do Comportamento Planejado (TPB);

o Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM); a combinação entre a TAM e TPB

(TAM2); o Modelo Motivacional (MM); a Teoria da Difusão da Inovação (IDT);

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Modelo de Utilização do PC (MPCU) e a Teoria Social Cognitiva (SCT). Os autores

analisaram as similaridades empíricas e conceituais entre os oito modelos e

selecionaram tanto os construtos que apresentaram maior poder de explicação,

como os moderadores mais influentes.

A intenção de Venkatesh et al. (2003) foi a de criar um modelo que unificasse

os principais estudos sobre comportamento individual frente a uma nova tecnologia

de informação, visto que já se contabiliza centenas de pesquisas na literatura de SI.

O estudo longitudinal que culminou na UTAUT teve abordagem quantitativa, a coleta

de dados foi realizada três vezes em um período de seis meses, em quatro

organizações. Cada das contribuições teóricas aproveitadas por Venkatesh et al.

(2003) são elencadas no quadro 2, com seus respectivos autores.

Modelos teóricos Autores e ano

Theory of Reasoned Action (TRA) – Teoria da Ação Racionalizada FISCHBEIN; AZJEN, 1975

Theory of Planned Behavior (TPB) - Teoria do Comportamento Planejado AJZEN, 1991

Technology Acceptance Model, (TAM) – Modelo de Aceitação de Tecnologia DAVIS, 1989

Extensão do TAM (TAM2) TAYLOR; TODD, 1995

Model of PC Utilization, (MPCU) – Modelo de Utilização do PC THOMPSON et al.. 1991

Innovation Diffusion Theory (IDT) – Teoria da Difusão da Inovação ROGERS, 1995

Social Cognitive Theory (SCT) – Teoria Social Cognitiva COMPEAU; HIGGINS, 1995

Motivational Model (MM) – Modelo Motivacional DAVIS et al.. 1992

Quadro 2: Modelos teóricos presentes na UTAUT

Os construtos da Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia

(UTAUT) têm um papel significante como preditores diretos da intenção de

comportamento, estruturando um modelo de pesquisa que considera: a expectativa

de desempenho (performance expectancy); a expectativa de esforço (effort

expectancy); influência social (social influence); as condições facilitadoras

(facilitating conditions), e atitudes em relação à intenção de adoção (behavioral

intention) que, por sua vez, afetam o uso real de um determinado sistema (figura 1).

Os autores identificaram que o modelo explica 70% da variância da intenção de uso.

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Figura 1: Teoria Unificada de Aceitação e Uso da Tecnologia (UTAUT)

A seguir, é possível observar, no quadro 3, uma síntese dos construtos da

UTAUT, suas definições e autoria. O construto Expectativa de Desempenho, de

acordo com Venkatesh et al. (2003, p. 447), é definido como “o grau no qual o

indivíduo acredita que o uso do sistema ajudará ele/ela no desempenho do seu

trabalho”. É composto pela Utilidade Percebida, Motivação extrínseca, Adaptação ao

trabalho, Vantagem relativa e Expectativas de resultado, e é considerada uma forte

preditora da intenção do comportamento.

A Expectativa de Esforço está ligada a facilidade que o indivíduo acredita

que pode utilizar o sistema (VENKATESH et al., 2003). Faz parte deste construto a

Facilidade de uso percebida (TAM/TAM2), Complexidade (MPCU) e Facilidade de

Uso (IDT).

Construtos Definição Modelo/autoria

Expectativa de Desempenho

Utilidade percebida

O grau em que uma pessoa acredita que usando um determinado sistema irá melhorar seu desempenho no trabalho.

TAM (DAVIS, 1989; DAVIS et al.., 1989)

Motivação extrínseca

A percepção que os usuários possuem que realizando uma determinada atividade terão como conseqüência benefícios pessoais, tais como melhora do desempenho nas tarefas, pagamentos ou promoções.

MM (DAVIS et al., 1992)

Adaptação ao Como as funcionalidades de um sistema MPCU (THOMPSON et

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trabalho aperfeiçoam o desempenho individual no trabalho.

al., 1991)

Vantagem relativa O grau em que usar uma inovação é percebido como sendo melhor do que usar o seu precursor.

IDT (MOORE; BENBASAT, 1991)

Expectativas de resultado

Relaciona-se às consequências do comportamento. Baseado em evidência empírica foram separados em expectativa de desempenho (relacionado ao trabalho) e expectativas pessoais (metas individuais)

SCT (COMPEAU; HIGGINS, 1995b;

COMPEAU et al., 1999)

Expectativa de Esforço

Facilidade de uso percebida

O grau em que uma pessoa acredita que usando um determinado sistema estará livre de esforço.

TAM (DAVIS, 1989; DAVIS et al., 1989) e TAM2 (VENKATESH;

DAVIS, 2000)

Complexidade O grau em que um sistema é percebido como relativamente difícil de entender e usar.

MPCU (THOMPSON, et al., 1991)

Facilidade de uso O grau em que usando uma inovação é percebida a existência de dificuldade no uso.

IDT (MOORE; BENBASAT, 1991)

Influência Social

Norma subjetiva É a percepção pessoal de que as pessoas que são mais importantes que ele acreditam que ele deve ou não ter o comportamento em questão.

TRA, TAM2, TPB/ DTPB, and C-TAM-TPB

(AJZEN, 1991; DAVIS et al.,

1989; FISHBEIN; AZJEN 1975; MATHIESON

1991; TAYLOR; TODD 1995a, 1995b)

Fatores sociais

É a internalização individual da referência grupal da cultura subjetiva, e dos acordos interpessoais específicos que o indivíduo fez com outros, em situações sociais específicas.

MPCU (THOMPSON et al.,1991)

Imagem O grau em que o uso da inovação é percebido pelo indivíduo como algo que possa melhorar a sua imagem ou sua posição no seu sistema social.

IDT (MOORE; BENBASAT,1991)

Condições Facilitadoras

Percepção de controle

comportamental

Reflete a percepção de coação externa ou interna a um comportamento e a restrição da auto-eficácia, condições facilitadas de recursos e de tecnologia.

TPB/DTPB, C-TAM-TPB (AJZEN, 1991; TAYLOR;

TODD 1995a, 1995b)

Condições facilitadoras

Fatores no ambiente em que observadores concordem que uma ação é fácil de fazer, incluindo o provimento de suporte computacional.

MPCU (THOMPSON et al., 1991)

Compatibilidade O grau em que o uma inovação é percebida como consistente com valores, necessidades e experiências pré-existentes dos potenciais adotantes.

IDT (MOORE; BENBASAT, 1991)

Quadro 3: Construtos, definições e fonte bibliográfica da UTAUT

O terceiro construto é a Influência Social. Conforme Venkatesh et al. (2003,

p.451), “a influência social é definida como o grau para o qual o indivíduo percebe

quão importante os outros acreditam que ele ou ela deveria usar o novo sistema”.

Este construto é representado pela norma subjetiva, presente no TRA, TAM2,

TPB/DTPB e C-TAM-TPB; fatores sociais, contido no MPCU; e imagem, presente no

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IDT (VENKATESH et al., 2003). Antes da UTAUT, a norma subjetiva, os fatores

sociais e a imagem eram variáveis isoladas em seus respectivos modelos.

Venkatesh et al.. (2003) as reuniram e nomearam de Influência Social. Apesar de

algumas diferenciações, cada um dos componentes usados contém explicita ou

implicitamente a noção que o comportamento dos indivíduos é influenciado pelo

modo dos quais acreditam que os outros os vejam como um resultado de ter usado a

tecnologia (PIRES; YAMAMOTO; COSTA FILHO, 2006).

O último construto são as Condições Facilitadoras, que se refere ao grau

que indivíduo acredita que existe uma infraestrutura organizacional e técnica para

dar apoio ao uso do sistema (VENKATESH et al., 2003). A formação deste construto

foi baseada na Percepção de controle comportamental, Condições facilitadoras e

Compatibilidade, advindas do TAM, MPCU e IDT.

O desenvolvimento da UTAUT, unificando as perspectivas teóricas mais

difundidas na literatura e incorporando moderadores para controlar as influências do

contexto organizacional, a experiência do usuário e as características demográficas

organizacional, a experiência do usuário e as características demográficas

contribuíram para o avanço da pesquisa sobre a aceitação individual da TI

(KAUFFMAN, 2005). Além disto, o modelo pode ser uma ferramenta útil para os

gestores que necessitam avaliar a probabilidade de sucesso de uma nova tecnologia

e auxiliar na compreensão dos fatores determinantes da aceitação do uso e auxilia

no desenho de intervenções nas tecnologias (VENKATESHH et al., 2003).

A fim de compreender o que fundamenta a construção da UTAUT, é realizada

uma breve descrição das diversas abordagens que foram aproveitadas por

Venkatesh et al (2003).

2.2.1.1 Teoria da Ação Racionalizada (TRA)

A teoria da ação racionalizada (Theory of Reasoned Action – TRA), também

conhecida por Teoria da Ação Refletida, foi criada por Fishbein e Ajzen (1975) e é

advinda da área da psicologia social. Ela procura estabelecer uma relação entre

atitude e comportamento, tendo por base os construtos: Crenças, que são

componentes relativos às Normas subjetivas (o que se deve ou não deve fazer);

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Atitude frente ao comportamento (a forma como é encarado o comportamento em

si); Intenção comportamental (uma declaração interna para agir); e o próprio

Comportamento em si. Os principais construtos do modelo são conceituados no

quadro 4.

Construtos Significado operacional

Atitude em relação ao comportamento

Sentimento positivo ou negativo do indivíduo (efeito avaliativo) sobre a realização do comportamento alvo

Norma subjetiva Percepção do indivíduo de que a maioria das pessoas que lhe são importantes acha que ele deve ou não realizar o comportamento em questão

Intenção comportamental

É uma medida da força da intenção de alguém em realizar um determinado comportamento

Crenças e avaliações São as crenças relevantes sobre as conseqüências da realização do comportamento em questão multiplicado pela avaliação dessas conseqüências”

Crenças normativas e motivação para cumprir

Refere-se a função multiplicativa, a partir da percepção do indivíduo, das crenças normativas, percepção de expectativas específicas referentes a indivíduos ou grupos, e a motivação para cumprir com estas expectativas

Quadro 4: Construtos e significados da TRA

Na teoria, se as normas subjetivas e as atitudes frente ao comportamento são

favoráveis, estas conduzem a uma intenção. Por isso, os autores defendem que o

fator que melhor permite prever o comportamento é a intenção da pessoa em

realizar um comportamento. A figura 2 demonstra visualmente essas relações.

Figura 2: Teoria da Ação Racionalizada

Dito por Santos e Amaral (2004), na TRA, o comportamento é determinado

diretamente pela intenção de o desempenhar, porque as pessoas, em geral, agem

de forma a obter os seus intentos, dentro do contexto e do tempo disponíveis.

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2.2.1.2 Teoria do Comportamento Planejado (TPB)

A Teoria do Comportamento Planejado (TPB – Theory of Planned Behavior),

proposta por Ajzen (1991), conforme Figura 3, é uma arcabouço que não pode ser

testado nesta pesquisa. Ajzen (1991) modificou a TRA, incluindo-se a percepção

sobre o controle do comportamento (Perceived Behavioral Control - PBC) como um

construto adicional com capacidade para prever tanto a intenção para o

comportamento quanto a própria ação/comportamento.

A TPB postula que a intenção de um indivíduo para ter um determinado

comportamento pode ser explicada pela atitude desse indivíduo, por um conjunto de

normas subjetivas e pelo controle que o indivíduo percebe em relação a este

determinado comportamento (AJZEN, 1991). Como proposição geral, quanto mais

favoráveis forem a atitude e a norma subjetiva e quanto maior for o controle

percebido pelo indivíduo, maior deve ser a intenção pessoal de realizar o

comportamento efetivo ou a ação planejada.

Figura 3: Teoria do Comportamento Planejado (TPB)

A TPB foi preditor essencial ao modelo TAM. As atitudes, intenções e

comportamentos dos indivíduos em relação ao uso da tecnologia em geral e de

novas tecnologias de informação em particular, como é o caso do software livre,

foram variáveis reportadas na presente pesquisa.

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2.2.1.3 Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM)

Onze anos após a publicação do trabalho que apresentou o TRA, Davis

(1986) propôs o TAM. Este modelo é uma adaptação da TRA, mas se volta para a

área de tecnologia da informação com a intenção de explicar o que determina uma

pessoa a aceitar ou rejeitar um sistema de informação. Segundo Costa Filho e Pires

(2005, p.4), o propósito essencial do TAM é prover uma base para mapear o impacto

de fatores externos sobre aqueles internos do indivíduo, como as crenças, atitudes e

intenções de uso. Tais fatores externos, conhecidos também como variáveis

externas, são, por exemplo, as características do sistemas, processo de

desenvolvimento e treinamento (DIAS, ZWICKER e VICENTIN, 2003; SANTOS,

2004).

O TAM foi originalmente desenvolvido por Davis (1986) para predizer o uso

de um sistema ou aplicativo de usuário final. Pouco depois, o autor aprofundou as

análises e publicou dois artigos (DAVIS, 1989; DAVIS, BAGOZZI, WARSHAW, 1989;

DAVIS, 1993), que obtiveram grande impacto para a área. Várias outras pesquisas

foram posteriormente replicadas ou validadas, quase sempre apontando na direção

daqueles construtos como preditores de uso.

Os dois construtos básicos do modelo TAM são a “facilidade de uso”, definida

como a maneira através da qual o usuário percebe que interage com o serviço virtual

empregando um mínimo de esforço e a “utilidade de uso percebida”, que mede o

grau de benefício percebido do seu uso.

A Figura 4 mostra o desenho do modelo e a relação entre as variáveis como

originalmente proposta pelos autores. Vemos então como a facilidade de uso

percebida exerce uma influência direta na utilidade percebida, e ambas influenciam

a atitude que uma pessoa terá em relação a um determinado sistema. Esta atitude

refere-se ao nível de sentimento, favorável ou não, do usuário em relação ao uso do

sistema. Na sequência, a intenção comportamental de uso, que nada mais é que a

intenção de usar o sistema no futuro, é influenciada pela utilidade percebida e pela

atitude em relação ao uso. Por fim, a intenção determinará o uso real do sistema.

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Figura 4: Modelo de Aceitação da Tecnologia (TAM)

Silva e Dias (2006, p. 4) dizem que o TAM tem recebido extenso apoio

empírico através de validações, aplicações e replicações realizadas por

pesquisadores e profissionais, o que sugere que ele é robusto através do tempo,

ambientes, populações e tecnologias. O valor deste modelo para os envolvidos com

a área de TI no âmbito organizacional, por exemplo, reside na possibilidade dos

gestores responsáveis pela implentação de sistemas de informação conseguirem

prever se o novo sistema será aceitável para os usuários, diagnosticar as razões

pelas quais um sistema planejado pode não ser totalmente aceitável e tomar

medidas corretivas para aumentar a aceitabilidade do SI, de modo a aumentar o

impacto sobre os grandes investimentos de tempo e dinheiro com a introdução de

novas tecnologias de informação (DAVIS, BAGOZZI e WARSHAW, 1989)

Uma meta-análise feita por Lee, Kozar e Larsen (2003) demonstrou que os

vários estudos que utilizam o TAM como base teórica acrescentam novos fatores

que são úteis para entender o processo de adoção de tecnologia por um indivíduo.

Tais estudos foram aplicados para diferentes sistemas de informação, como o e-

mail, groupware, processadores de texto, planilha, internet, e-commerce, entre

outros; e utilizando-se de variáveis externas como acessibilidade, experiência

anterior, percepção de prazer, visibilidade, qualidade do sistema, normas subjetivas,

entre outros.

2.2.1.4 Extensão do TAM

O avanço da teoria e suas limitações percebidas fizeram com que o modelo

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TAM ganhasse extensões. Entre essas está o TAM 2 proposto por Venkatesh e

Davis (2000) e podemos observar seu modelo relacional através da figura 5. Foram

acrescentados os construtos voltados para a influência social, tais como a norma

subjetiva, a voluntariedade e a imagem.

Figura 5: Extensão do TAM (TAM2)

Oliveira Júnior (2007) afirma que esta influência se dá tanto através do

processo de internalização em que as pessoas incorporam influências sociais em

suas próprias percepções de utilidade, como do processo de identificação, no qual

as pessoas usam um sistema pelo status e pela influência adquiridos no ambiente

de trabalho. Descrevendo os construtos de influência social, conforme Venkatesh et

al. (2000, p.187-192), pode-se especificar:

Norma Subjetiva é um determinante direto da intenção de uso, tendo em vista

que se apresenta a ideia de que a percepção de uma pessoa sobre o que indivíduos

importantes para ela pensam em relação a realizar ou não um comportamento

influencia diretamente a intenção de uso.

Por sua vez, Voluntariedade é a “extensão pela qual os potenciais adotantes

percebem que a decisão de adoção não é obrigatória”. Tal construto é influenciador

da norma subjetiva e da intenção de uso, compreendendo-se que este tipo de

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influência social é importante para entender que a utilização de um novo sistema –

mesmo quando obrigatório na organização – pode variar, visto que há possibilidades

de alguns usuários não estarem dispostos a utilizá-lo.

A Imagem é o “grau em que o uso de uma inovação é percebido como forma

de melhorar [...] o status de do indivíduo em seu sistema social”. Desta maneira, a

imagem é positivamente influenciada pela norma subjetiva, pois se os membros

importantes do grupo social em que está inserido o indivíduo entendem que este

deve ter um determinado comportamento, isso significa que uma conduta condizente

com aquilo que lhe é esperado aumentará a sua posição no grupo, num processo

definido como identificação.

Além da influência social, foram adicionadas ao TAM original variáveis

relativas ao instrumental cognitivo, que se referem à relevância do trabalho,

qualidade do resultado, demonstrabilidade do resultado e facilidade de uso

percebida. Em torno dos construtos relacionados ao instrumental cognitivo, se

recorda que a Relevância para o trabalho é a “percepção do indivíduo em relação ao

grau em que o sistema em questão é aplicável em sua função”, influenciado

diretamente a utilidade percebida; depreende-se a Qualidade das saídas como “a

qualidade com que o sistema realiza as tarefas”, também influenciadora da utilidade

percebida; a Demonstrabilidade dos resultados, que influencia o mesmo construto

que o anterior, pode ser conceituada como a “tangibilidade dos resultados obtidos

com o uso da inovação; por fim, a Facilidade de uso percebida influencia

diretamente a intenção de uso, bem como a utilidade percebida, e significa que

“quanto menos trabalhoso é o uso do sistema, mais seu uso pode aumentar o

desempenho da tarefa”.

Ao TAM2 foi acrescida a variável Experiência, visto que esta influencia o

impacto da norma subjetiva na utilidade percebida e da norma subjetiva na intenção

de uso. De acordo com as pesquisas, quanto maior a experiência em torno do

sistema, isto é, o conhecimento do usuário acerca dele, menor a influência da norma

subjetiva.

O modelo foi testado pelos seus criadores em quatro estudos longitudinais

acerca de quatro organizações que estavam por iniciar a instalação de novos

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sistemas. Em duas, o uso sistema era de caráter obrigatório; nas outras, era de

caráter voluntário. A coleta dos dados ocorreu a partir da aplicação de questionários

a aproximadamente 50 usuários potenciais, em três momentos diferentes: 1) após o

treinamento inicial; 2) um mês após a implantação; 3) três meses após a

implantação.

De acordo com os resultados, o TAM2 possibilita identificar os fatores que

influenciam a percepção de utilidade (explicando até 60% da variância deste

importante direcionador das intenções de uso da tecnologia em questão). Em

consonância com pesquisas anteriores, considerou-se a utilidade percebida como

uma forte determinante da intenção de uso, mediante os efeitos das demais

variáveis em relação à intenção de uso.

Além disso, destaca-se que, em ambientes cujo uso do sistema era de caráter

obrigatório, no primeiro e no segundo momentos da pesquisa, a norma subjetiva

apresentou efeito direto sobre a intenção de uso, enquanto no terceiro o seu efeito

foi insignificante. Já nos ambientes com uso voluntário, a norma subjetiva não se

mostrou influenciadora direta sobre a intenção de uso para além do que já havia sido

explicado pela utilidade percebida e facilidade de uso.

Outro aspecto a ser referido está em torno dos efeitos de influência social,

tendo em vista que estes demonstraram ser consistentes no TAM2, uma vez que a

norma subjetiva influencia a utilidade percebida, seja pela internalização –

incorporação pelo indivíduo das influências sociais em sua própria utilidade

percebida – ou identificação, cuja definição já foi descrita alhures.

Por fim, segundo Venkatesh e Davis (2000, p.199), “diferentemente da

influência social, os efeitos do instrumental cognitivo permaneceram significativos ao

longo do tempo”.

2.2.1.5 Modelo Motivacional (MM)

O Modelo Motivacional (MM) trabalha com as teorias motivacionais para

explicar o comportamento dos indivíduos, tendo como base os construtos motivação

intrínseca e motivação extrínseca. Os componentes desse modelo são considerados

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construtos distintos e medem a força motivacional dos indivíduos em relação a

determinados comportamentos, sendo eles: Valência, Instrumentalidade e

Expectância. O construto Valência se refere ao desejo do indivíduo de uma

recompensa ou uma escolha ou preferência em relação a um resultado particular; a

Instrumentalidade está relacionada com a avaliação subjetiva que a pessoa faz de

que seu desempenho o levará a atingir os resultados esperados; e a Expectância

refere-se à estimativa de que o esforço individual resultará em um desempenho bem

sucedido ou a chance de que esse desempenho produza o resultado esperado

(VROOM, 1964, apud WALTER; ABBAD, 2008). A lógica do modelo de Vroom tem

grande relevância para aplicação no contexto de adoção de tecnologias e sistemas,

em particular a aceitação do software livre.

2.2.1.6 Teoria da Difusão da Inovação (IDT)

Quanto à Teoria de Difusão da Inovação (Innovation Diffusion Theory - IDT),

os principais construtos são: Vantagem relativa (utilidade percebida),

Compatibilidade, Complexidade (reversa de Facilidade de uso), Observabilidade e

Experimentação (trialability). Rogers (1995) afirmou que uma variação de 49% a

87% na taxa de adoção pode ser explicada pela percepção de que o potencial

adotante avalia positivamente essas cinco características. Sobre diferentes

categorias de adotantes, Rogers (1995, p.75) afirmava que os indivíduos, no

contexto social a que pertencem, adotam inovações numa seqüência de tempo, de

tal modo que podem ser classificados em diversas categorias de adoção de acordo

com o momento em que começam a usar uma nova idéia. São elas: Inovadores,

Adotantes, Maioria inicial adotante, Maioria tardia e Retardatários. No contexto da

presente pesquisa, a adoção de software livre por parte do indivíduo também deve

ser compreendida no bojo dos construtos da teoria da difusão de inovação.

Moore e Benbasat (1991) adaptaram as características de inovação

apresentadas por Rogers (1995) e refinaram os construtos para que pudessem ser

usados em estudos de aceitação individual da tecnologia. Estes autores

acrescentaram mais dois construtos (Imagem e Voluntariado na utilização). Quando

mais positiva for a percepção acerca dos atributos ou construtos de uma inovação,

maior será a possibilidade da mesma ser adotada. Outra variável importante que

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pode afetar a taxa de adoção de uma inovação foi definida por Yi et al. (2006) como

“personalidade inovadora”, isto é, as diferentes reações que os possíveis adotantes

têm diante de uma nova tecnologia. A partir desse conceito é possível classificar os

indivíduos ou grupos em categorias de acordo com sua maior ou menor

predisposição para adotar novas idéias.

Confirmando a IDT, Trindade (2008) encontrou que a adoção de tecnologias

no setor saúde pode ser determinada por uma ampla gama de fatores, alguns

determinados pela natureza da própria tecnologia ou do problema relevante, e

outros pelas ações e interesses dos diversos grupos envolvidos. No estudo sobre

fatores que afetam a adoção de uma inovação tecnológica em Sistemas de

Informações (SI) para o ensino na área de saúde, Perez, Zwicker e Mascarenhas

(2007) indicaram que a adoção da ferramenta pesquisada foi influenciada por

características percebidas pelo uso dessa inovação que acarretaram reflexos na

percepção de novas possibilidades de inovação no ensino da área de saúde. Dentre

outras, as características percebidas que se destacaram na pesquisa foram a

Demonstração de Resultado e a Vantagem relativa. Esses achados reforçam a

necessidade de testar as variáveis dessa teoria no âmbito da adoção de software

livre e a investigação das diferenças entre gêneros.

2.2.1.7 Modelo de Utilização do PC (MPCU)

O Modelo de Utilização do PC (personal computer) analisa a aceitação e o

uso da tecnologia com base em construtos como: ajuste ao trabalho (Task Fit),

complexidade, conseqüências de longo prazo, efeitos devido ao uso, fatores sociais

e condições facilitadoras. Thompson, Higgins e Howell (1991) analisaram os efeitos

desses construtos na intenção de uso dos PC.

2.2.1.8 Teoria Social Cognitiva (SCT)

Na Teoria Social Cognitiva (SCT), a UTAUT pode aproveitar os construtos

provenientes da Teoria da mudança comportamental, desenvolvida por Bandura

(1977). A auto-eficácia pode remover ou diminuir o medo disfuncional por algo.

Desempenhos bem sucedidos fortalecem a auto-eficácia.

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Compeau, Higgins e Huff (1999), ao utilizarem os achados de Bandura,

basearam-se em construtos como expectativas de resultados de performance e

pessoais, auto-eficácia, afeto e ansiedade, para estudar o uso dos computadores,

mas a natureza do modelo permite que sejam analisados a aceitação e o uso de

tecnologias da informação em geral. Os autores ampliaram o modelo teórico que

avalia as reações dos indivíduos à tecnologia de informação. Para Santos e Amaral

(2004), esta investigação tem produzido valiosos contributos nas reações individuais

comportamentais, afetivas e cognitivas para com as TI e nos fatores que influenciam

essas reações.

A ansiedade é um construto importante advindo desta teoria, o qual pode

representar o lado negativo do uso de computadores, sentimentos de apreensão que

se experimenta quando do se utiliza sistemas informatizados (PIRES et al, 2006). No

entanto, quanto mais experiente for a pessoa, menos episódios de ansiedade são

esperados de acontecer.

Além dos construtos clássicos apresentados anteriormente, identificam-se

outros fatores que têm influenciado a intenção de adoção e a aceitação de uma

determinada tecnologia. São variáveis ligadas às características individuais e

demográficas (como gênero, idade, escolaridade), comportamentais do uso

(atitudes, intenções), experiência do usuário, prazer, qualidade percebida do serviço,

confiança, segurança, características tecnológicas, habilidades do consumidor,

recursos de tempo e dinheiro, cultura, satisfação (SZAJNA, 1996; STRAUB e

BRENNER, 1997; DIAS, 1998; WEBER e ROEHL, 1999; VENKATESH; DAVIS,

2000; LEDERER et al., 2000; HEIJDEN, 2004; WANG, LIN e LUARN, 2006;

PAVLOU; FYGENSON, 2006).) dentre várias outras características investigadas por

pesquisadores da área.

.

2.3 Software Livre

Este tópico aborda os conceitos envolvidos com Software Livre, resgatando o

histórico do movimento ligado à filosofia e conceito de SL, a trajetória da difusão do

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SL no Brasil, finalizando com o levantamento de estudos sobre adoção e uso de

software.

2.3.1 Histórico e conceito

O software livre existe desde o início do desenvolvimento da informática

(STALLMAN,1999). As discussões acerca do compartilhamento do software foram

se intensificando à medida que o seu uso passou a ser voltado para diferentes

áreas, até que o modelo econômico vigente optou pelo controle dos códigos sociais

e das licenças do uso do software.

Perens (1999) elucida que o conceito do software livre não é novo e a sua

utilização não é recente. Assim que os computadores emergiram no ambiente

acadêmico, seu uso era disposto para ferramentas de pesquisas, os programadores

eram remunerados pelo ato de programar e o software era livremente distribuído no

ambiente acadêmico, a fins de estudo e aperfeiçoamento, como esses programas

não tinham ainda um valor comercial definido, existia um grande intercâmbio de

informações entre universidades, pesquisadores, desenvolvedores que utilizam

esses softwares como instrumento de pesquisa não se preocupando com registros

de autorias. No momento em que essas ferramentas de programação, de

desenvolvimento e aperfeiçoamento chegam ao ambiente corporativo, a forma de

distribuição começa a ser mudada e o aspecto capitalista da questão vêem a tona, a

aquisição de um software e o direito de uso passa a ter um custo significativo.

A partir da década de 70, o surgimento da possibilidade e efetividade de

comercialização desses softwares motivou o inicio do movimento de comoção

mundial pela defesa do software livre. O movimento devidamente organizado em

favor do software livre teve início em 1983 quando se iniciou o projeto GNU esse

movimento foi concretizado em 1985, quando Richard Stallman fundou a Free

Software Foundation, essa instituição é hoje a principal organização dedicada a

produção e à divulgação do software livre, ela foi criada com o objetivo de promover

na comunidade de informática o espírito cooperativo que prevalecia em seus

primórdios, onde as informações, códigos e métodos de trabalhos eram livremente

compartilhados (STALLMAN, 2001). O principal idealizador desse movimento

acreditava que o software proprietário representava um sistema impulsionador da

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competição ao invés da colaboração, na visão dele todo software deveria ser livre.

Um do seus principais argumentos é que tornar um software proprietário é negar o

acesso a informação e ao conhecimento, os quais são elementos essenciais para o

desenvolvimento de uma sociedade justa e democrática.

O projeto GNU, consistia na criação de um software livre o qual apresentasse

as mesmas características e funcionalidades do sistema Unix, um software

proprietário. Segundo Saleh (2004), no início do projeto, Stallman procurou

colaboradores entre os profissionais da área, pedindo que utilizassem as

ferramentas que ele próprio já tinha desenvolvido, e que se juntassem ao projeto

doando equipamentos,dinheiro e reescrevendo os programas do Unix sob forma de

software livre. O projeto foi consolidado com a criação do GNU, o nome do sistema é

uma ironia ao Unix, significando “Gnu is not Unix”, o desenvolvimento desse sistema

necessitou de anos de trabalho com a colaboração de centenas de trabalhadores.

Na acepção do próprio Stallman(1991), tecnicamente o GNU é como Unix, no

entanto diferentemente do Unix, o GNU dá liberdade aos seus usuários.

No ano de 1992, Linus Torvald realizou a grande faceta de copilar todos os

programas e ferramentas do GNU em um núcleo central, chamado de kernel, esse

núcleo viabilizou e efetivou a criação final do sistema operacional essa outra

plataforma foi denominada Linux e foi promovida a integração com o GNU, dando

origem ao GNU/Linux, um sistema operacional livre, completo e multifuncional.

Uma das grandes contribuições do projeto GNU, além do software em sua

essência, foi o desenvolvimento da General Public License (GPL), a licença de

software mais utilizada em projetos de software livre, que dá amparo legal e

formaliza a ideologia que permeia o movimento.(SALEH,2004). Essa licença

representa uma garantia de que os esforços coletivos não serão indevidamente

considerados propriedade de um indivíduo, mas se de todo empenho e contribuição

coletiva, consolidando assim o movimento e conquistando adeptos em todo o

mundo.

Software Livre (free software) é o software disponibilizado com as premissas

de liberdade de instalação, plena utilização e acesso ao código fonte (PINHEIRO,

2003). A filosofia do free software estabelece um direito de cópia que pode proteger

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o proprietário pela “propriedade intelectual”. Ele passa a possuir alguns direitos

sobre o bem e pode consignar, vender ou doar tais direitos para outrem. A licença é

o documento que autoriza a utilização de sua propriedade intelectual.

O Software Livre é basicamente um princípio de compartilhamento do

conhecimento e da solidariedade praticada pela inteligência coletiva de usuários

universais os quais estão conectados na rede mundial de computadores. Na era

informacional, o conhecimento é um verdadeiro trunfo, então quanto mais se

compartilha o conhecimento mais ele cresce e se difunde livremente pela

comunidade. A filosofia adotada pelo software livre é justamente essa, agir de

maneira que haja uma intermediação da inteligência humana na era da informação,

garantindo a construção de uma sociedade livre, justa e democrática.

Inicialmente, não havia distinção entre software livre e software proprietário,

uma vez que a importância comercial era centrada no hardware. Com a difusão da

computação, barateamento do hardware e aumento do número de usuários de

software, este passou a conquistar espaço no ambiente comercial e empresarial.

Neste momento, o que antes era distribuído como parte integrante do hardware, o

software, passou a ser vendido. Além disso, os fabricantes começaram a não

fornecer o código fonte dos programas e a impor restrições quanto à sua

redistribuição (HEXSEL, 2002). Em essência, foi assim que nasceu o software

proprietário.

Segundo a definição criada pela Free Software Foundation, o software livre

pode ser usado, copiado, estudado, modificado e redistribuído sem restrição. Essa

mesma instituição estabelece os quatro tipos de liberdade para os usuários do

software livre, sendo elas:

● Liberdade de poder executar o programa, para qualquer propósito (liberdade nº

0);

● Liberdade de estudar como o programa funciona, e adaptá-lo para as suas

necessidades (liberdade nº1);

● Liberdade de redistribuir cópias de modo que o próximo possa ser ajudado

(liberdade nº2);

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● Liberdade de aperfeiçoar o programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos, de

modo que toa da comunidade se beneficie (liberdade nº3).

Desse modo, software livre é qualquer software cuja licença garanta ao seu

usuário liberdades relacionadas ao uso, alteração e redistribuição. Seu aspecto

fundamental é o fato do código-fonte estar livremente disponível para ser lido,

estudado ou modificado por qualquer pessoa interessada. (REIS, 2003, p.14).

A Free Software Fundation possibilitou a conhecida copyleft (livre), em

oposição ao copyright (proprietário) e enfatizou que as liberdades

supramencionadas só serão possíveis se o código fonte dos programas for aberto

para estudo e modificação.

Para Saleh (2004), a diferença entre o software proprietário e o SL é que

enquanto no primeiro apenas uma empresa ou indivíduo tem controle sobre as

funcionalidades correções e melhoramentos, no segundo, qualquer pessoa pode ter

acesso ao código fonte e exercer o direito de livremente utilizar, redistribuir ou alterar

o programa.

A utilização desse software é livre para qualquer usuário, e a disponibilidade

de modificações no software não é obrigatória, para utilizá-lo um usuário não precisa

fazer modificações ou gerar contribuições, isso é uma questão de escolha.

O software livre não deixa de ser um software comercial, é caracterizado por

ser um programa livre que está disponível para uso, distribuição e desenvolvimento

comercial, no entanto diferentemente do software proprietário ele nasce e se

desenvolve num contexto de pesquisa e aprofundamentos e no momento em que é

entendida a sua importância, é ampliado o seu uso para área comercial.

Uma das principais características do software livre é a disponibilização do

seu código fonte, o qual pode ser acessado por qualquer usuário. No entanto, esse

movimento diferencia-se do movimento open source (código aberto), esses dois

movimentos apresentam filosofias parecidas mais objetivos diferentes, o “Open

Source” refere-se apenas ao acesso ao código fonte, esse é um das características

do software livre, o que o torna mais abrangente e complexo.

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Assim, enquanto o software livre está ligado à filosofia de desenvolvimento,

referindo-se a questões econômicas, políticas e sociais, indo além da garantia dos

direitos de uso e acesso ao código fonte; o código aberto se concentra em

determinar regras que possibilitem que o código fonte; o código aberto se concentra

em determinar regras que possibilitem o código fonte do software e o acompanhe

quando este for distribuído. (CAMPOS,2005)

Segundo Reis (2003), é importante destacar algumas características

importantes as quais estão diretamente associadas ao software livre,são elas:

• O uso da internet para distribuir o software e promover o desenvolvimento do

software de forma descentralizada;

• Os desenvolvedores são também usuários dos produtos que ajudam a

desenvolver;

• Existência de interesse individual e pessoal do desenvolvedor;

• Forte presença do individualismo, com desenvolvedores e usuários que se

tratam pessoalmente;

• Uso de ferramentas de comunicação e desenvolvimento distribuído.

Com isso, percebe-se que o software livre possui um grande valor agregado,

representando um instrumento motivacional da crescente utilidade social.

Existem vários projetos de software livre nas mais variadas aplicações:

empresarial, finanças, gestão de projetos, desenvolvimento de software, internet,

educação, editores de texto etc., além de tecnologias do mundo empresarial, tais

como: CRM (sistema de gestão do relacionamento com cliente), ERP (sistema

integrado de gestão), Data warehouse e OLAP (online analytical processing)

(OLIVEIRA JUNIOR, 2006).

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Para Humes (2004), a forma peculiar de distribuição e disseminação de SL

tem se mostrado um desafio ao mercado, pois todas as regras estabelecidas de

preços, incentivos à produção, custos de mão-de-obra e outras variáveis estudadas

pela economia não conseguem explicar o novo fenômeno: o desenvolvimento de um

produto que conta com atualizações freqüentes, com características de excelência

técnica, de fácil obtenção e sem custos.

2.3.2 Software livre no Brasil

O movimento “Software livre” tem ganhado força no governo brasileiro nos

últimos anos. São muitos os documentos disponibilizados via Internet versando

sobre o Software Livre no governo brasileiro. Um exemplo disso é a publicação, em

outubro de 2003, das diretrizes da implementação do Software Livre no Governo

Brasileiro (BRASIL, 2003).

Esse assunto tem merecido amplas discussões e apoio nas esferas do setor

público, Além do Portal Software Livre [http://www.softwarelivre.gov.br/], há também

dois subdomínios: colaborar.softwarelivre.gov.br e interagir.softwarelivre.gov.br

apoiados pelo governo brasileiro. O atual governo federal dá apoio aos ambientes de

desenvolvimento colaborativo de código. As ações governamentais têm como

objetivo integrar comunidades de software livre, facilitando a comunicação entre

usuários, através de fóruns de discussão, compartilhamento de documentos, dentre

outros.

No Brasil, o governo federal tem apoiado iniciativas voltadas ao SL, como a

análise e estudo de uso de padrões abertos, licenciamento livre dos softwares e a

formação de comunidades de apoio ao movimento, em especial de usuários e

desenvolvedores. Diante disso, estão sendo publicados documentos oficiais, portais

e subdomínios, os quais validam o incentivo do governo. Um exemplo é o decreto de

29 de outubro de 2003 que institui a criação de comitês técnicos com a finalidade de

coordenar e articular o planejamento e a implementação de projetos e ações na área

de TI, sendo uma das vertentes a implementação do software livre.

Várias instituições públicas migraram do software proprietário para o SL e

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obtiveram sucesso, a exemplo do Banco do Brasil o qual implantou o SL GNU/Linux

em sua infra-estrutura de internet/intranet e obteve inovação no processo de

evolução e manutenção das soluções. Hoje o Banco do Brasil é considerado o maior

caso de soluções em software livre na América Latina. Outras instituições como o

Detran-CE e Aeronáutica também utilizam o SL em seus processos organizacionais.

O apoio do governo federal dado à corrente dos adeptos ao código aberto

alcançou também a esfera privada seja de pequeno ou grande porte. Uma pesquisa

feita pelo CGI BR (Comitê Gestor da Internet no Brasil) revelou que apesar de

apenas 28% das empresas brasileiras utilizarem SL, esta utilização aumenta

conforme o aumento do porte. Àquelas consideradas menores (10 a 49 funcionários)

optam pelo SL enquanto que, a porcentagem aumenta para 61% quando se trata de

empresas com mais de 250 pessoas (CGI BR, 2008).

2.3.3 Estudos sobre Adoção do software livre

Quanto aos estudos sobre software livre na ótica de gestão, também muito

pouco de pesquisa na literatura brasileira, destacando-se as dissertações de

mestrado de Augusto (2003), Saleh (2004) e Humes (2004) e os artigos

(GONÇALVES NETO; AUGUSTO, 2004; RAMOS; OLIVEIRA, 2006; AGUIAR, 2008;

FUENTES; TAVARES, 2008).

O estudo proposto por Gwebu e Wang,2009 identificou e testou seis variáveis

que atuam diretamente na intenção de uso do SL. Além das variáveis previstas pelo

TAM, a utilidade percebida (PU) e a facilidade de uso (PEOU), pesquisadores

recentes estão realizando estudos científicos e identificando outros fatores como

influenciadores da adoção de uma tecnologia, Im et al., 2008 afirmou que o risco

percebido(PR) é o grau de incerteza associado com o uso de uma tecnologia,quanto

maior esse risco, menos usuários provavelmente irão utilizar a tecnologia. Rogers

(1985) elucidou, que a compatibilidade percebida também é um fator determinante

na percepção dos usuários na adoção de uma nova tecnologia, esse construto

considera os valores existentes, crenças, experiências passadas e necessidades

dos potenciais adotantes. Karahanna et al., 2006, realizaram estudos aprimorando

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essa temática e agregando uma definição conceitual mais abrangente, constatando

que esse construto é um forte determinante na intenção de utilização.

Diante disso Gwebu e Wang (2009), a partir do construto compatibilidade

percebida, testaram duas variáveis no seu estudo a qual relacionou diretamente a

adoção e uso do SL, sendo elas: compatibilidade com a filosofia do SL(CWSP) e a

compatibilidade com a experiência do SL (CWSE) juntamente com essas variáveis

também foram consideradas a satisfação dos usuários com o SL (SAT) e os

construtos descritos acima, tais quais:a utilidade percebida (PU),a facilidade de uso

(PEOU) e os riscos percebidos (PR). Foi constatado que esses construtos

representam uma influência significativa de uso entre a percepção de diferentes

usuários do software livre.

Gwebu e Wang,2009 elaboraram no seu estudo, a segmentação dos

usuários do SL, visto que cada usuário apresenta um perfil diferente e isso

influenciará na sua percepção de uso, esse conhecimento de diferentes percepções

de uso deve fornecer informações úteis sobre as características de software livre

que precisam ser alteradas para atender as necessidades de tais segmentos de

mercado, a compressão da existência de tais diferenças também pode ajudar a

comunidade do software livre e as empresas a não apenas evitar falhas, mas

também aproveitar as discrepâncias para obter ganhos em conjunto com os usuários

e alcançar aqueles que ainda não são usuários mas apresentam um potencial de

penetração nesse mercado. Foi estabelecida uma tipologia, a qual segmentou esse

mercado sob duas variáveis, a experiência profissional e a filiação social, diante

disso foi evidenciado quatro tipos de usuários: os desenvolvedores e membros da

comunidade do SL, os desenvolvedores e não membros da comunidade de SL, os

não desenvolvedores e membros da comunidade do SL e os não desenvolvedores e

não membros da comunidade do SL.

Miralles et . al . 2006 evidenciaram no seu estudo a importância de entender a

adoção da tecnologia voltada para o processo de difusão do software livre sob outra

ótica, além das formas tradicionais foram consideradas relevantes dimensões para

adoção de uma nova tecnologia no contexto empresarial. A primeira dimensão é a

tomada de decisão racional, a qual é baseada em experiências práticas de

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pesquisadores com a adoção TI nas organizações como Bozman et al.,2002 e

Wang, 2001 e envolve três dimensões a nível individual para adoção de TI nas

empresas, o custo total de propriedade, o qual influencia na decisão de adoção de

uma software de código aberto visto que são mensurados custos de obtenção e

manutenção de software, hardware etc; os atributos tecnológicos e o lock- in, o qual

é a prática que torna o cliente dependente dos produtos de um determinado

fornecedor.

Outra dimensão considerada foi a difusão de tecnologia, a qual engloba a

capacidade organizacional de experimentar inovações culturais, de financiar novas

tecnologias e externalidades da rede, as quais tem como referência a avaliação de

complementos externos e a existência de habilidosos profissionais . A última

dimensão considerada foi os aspectos psicológicos que envolvem a tomada de

decisão, a qual subdivide em informações em cascata de outros grupos que já

adotaram a tecnologia e foram bem sucedidos e as preocupações com a reputação

do gestor de TI.

Diante disso, Miralles et al. 2006 constataram que cada empresa entrevistada

citou razões diferentes para a decisão de adoção de softwares de código aberto,

então foi feito uma classificação dessas empresas em categorias observadas

durante as entrevistas, sendo elas: empresas não- usuárias de plataformas de

código aberto, empresas especializadas em adoção de sistemas de código aberto,

empresas dispostas a usar sistemas de código aberto e as empresas que utilizam

intensivamente sistemas de código aberto. Entender o processo de adoção de

softwares de código aberto nas empresas é um tanto quanto complexo, os gerentes

de TI são conduzidos sob vários fatores, foi constatado que a tomada de decisão

racional, a difusão de tecnologia e os aspectos psicológicos do tomador de decisão

são critérios relevantes para a adoção de tecnologia, verificou-se também que

somente o custo não é suficiente para entender a decisão de adoção de TI , outros

fatores também precisam ser considerados, como o lock-in, a marca, a tendência os

quais podem atuar de maneira determinante na adoção de uma nova tecnologia. Foi

evidenciado também que os CIOs tendem a ser mais influenciados por informações

em cascatas, as quais estão sujeitas à racionalidade limitada, pois as decisões são

tomadas segundo evidências superficiais, sem pleno conhecimento das razões pelas

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quais essas decisões são tomadas. O efeito da comunidade de usuários do software

livre estão influenciando os CIOs em adotar novas tecnologias, esse efeito discorre a

cerca das práticas de programação, de considerações de responsabilidade social

corporativa e tende a ser cada vez mais comum no futuro.

Segundo Ven e Verelst, 2008 a decisão de adoção do software livre pode ter

características ideológicas ou pragmáticas. A tomada de decisão com características

ideológicas ocorre quando, há um compartilhamento com as crenças e princípios do

movimento do SL e não é avaliado a relevância dessa adoção para a organização, já

a tomada de decisão com características pragmáticas acontece quando a

organização não apresenta os princípios da ideologia do SL nem sofre influência

deles, é feita uma examinação cuidadosa das implicações dessa decisão no

contexto da organização. No estudo de Ven e Verelst, 2008 foi exposto que na

prática, a maioria das organizações utilizam um processo pragmático na tomada de

decisão de adoção de SL, sete organizações não apresentaram os princípios da

ideologia do SL e realizaram tomadas de decisões com características pragmáticas,

enquanto que três organizações foram influenciadas pelo fator ideológico na tomada

de decisão de adoção do SL, nessas empresas os dirigentes apresentaram um claro

favoritismo pelo SL, isso ocorreu porque eles eram adeptos do movimento do SL e

queriam usá-lo dento do ambiente profissional, nesse caso a experiência pessoal

agiu como motivador determinante para adoção do SL, nessas organizações, os

princípios de SL mais proeminentes foram a liberdade de software, a liberdade de

conhecimento e a cooperação.

Essas três organizações, as quais são adeptas da ideologia do SL, foram as

únicas que iniciaram os seus próprios projetos em SL. Geralmente, se as

organizações não estiverem convencidas das vantagens do SL, elas não iniciarão

projetos próprios de criação e desenvolvimento de sistemas de código aberto. Essas

empresas também citaram o lock-in, elas tinham tido experiências ruins com

fornecedores de software proprietário, pretendiam minimizar a dependência de

fornecedores e optaram pela adoção do SL.

Oliveira (2010) analisou os fatores que influenciam a adoção do software livre

em algumas empresas públicas brasileiras e delimitou importantes achados. O

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pesquisador constatou que segundo a dimensão cultural, o fato de uma organização

ser pública influencia positivamente a escolha pelo SL, visto que nas organizações

públicas existem fatores que incentivam esse uso, como a prestação de contas a

sociedade, nesse tipo de organização também é comum o surgimento natural de

resistência às mudanças tecnológicas, mas a informação e capacitação diminuem as

resistências ao SL.

Os usuários de organizações públicas, em geral, ainda têm um conhecimento

superficial sobre o software livre, incluindo também o corpo gerencial. A existência

de centros internos de especialização e pesquisa dentro das organizações públicas

pode funcionar como indutores da disseminação do conhecimento sobre o SL,

dentro da escala global da organização. A influência externa serve de entusiasma

para adoção de SL nas empresas públicas, o setor público tem se tornado um

grande indutor de tecnologias. No entanto, atualmente existem poucas leis sobre o

tema SL, os governos, principalmente, o Governo Federal ainda não dispõe de leis

efetivas que regulamente o uso do SL no Brasil, o que existem são normativos os

quais tratam da contratação de TI e do uso do SL.

O esquema de licenciamento do SL é considerado positivo por parte das

organizações públicas, as quais estão se esforçando para o desenvolvimento de

licenças especiais que atendam às suas peculiaridades. O modelo de negócios do

SL é considerado, pelos seus defensores, como sendo estrategicamente mais

vantajoso do que o tradicional modelo de negócios do software proprietário. Os

aspectos técnicos do SL são relevantes para justificar a escolha do SL nas

empresas públicas, mas sozinhos não são capaz de justificá-la. A questão financeira

é a que inicialmente chama mais atenção dos gestores para a adoção do SL, sendo

relevante para justificar essa escolha, no entanto sozinha também não consegue

justificá-la. Diante disso, os motivos de caráter político e ideológicos são os mais

relevantes na decisão de adoção do SL em organizações públicas.

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Para Araújo (2007), uma análise preliminar do objeto sugere a existência de

lacunas conceituais que desencadeiam uma limitação sobre a percepção da

totalidade dos efeitos da adoção de tecnologias baseadas em software livre nas

organizações. Reforçando este argumento, Fuentes e Tavares (2008) afirmam que

estudos devem ser conduzidos no sentido de entender de forma mais precisa o setor

de software livre, uma vez que existem indicações de que o mesmo ainda deve ter

um desenvolvimento bastante expressivo e de importância destacada para o

ambiente competitivo, apesar de não se apoiar na propriedade intelectual.

Analisando o modelo americano de sucesso de desenvolvimento de

comunidades de software livre, Parreiras et al. (2004) avaliam o impacto destas no

cenário brasileiro e propõem adequações sob a perspectiva do fluxo da informação e

da criação do conhecimento colaborativo. No entanto, o papel do usuário comum e

sua ligação com o software livre não foi investigado.

Particularmente quanto à adoção de linguagem de programação, Chan et al.

(2005) pesquisaram os fatores intrínsecos e extrínsecos que afetam a decisão de

adoção. Os fatores intrínsecos são aqueles que descrevem critérios de design geral

das linguagens de programação e os fatores extrínsecos: caracterizam o contexto

histórico no qual a linguagem surgiu e evoluiu, são relacionados com o tempo. Os

fatores intrínsecos pesquisados por Chan et. al (2005, p. 74) foram ‘generalidade’,

‘confiança’, ‘manutenibilidade’, ‘eficiência’, ‘simplicidade’ dentre outros. Por outro

lado, foram testados os fatores extrínsecos, tais como ‘suporte institucional’, ‘suporte

governamental’, ‘suporte organizacional’, ‘suporte de aprendizado’ e ‘suporte

tecnológico’.

No contexto da adoção de SL, alguns construtos de adoção de TI podem ser

adaptados de Koufaris (2002), pois se relacionam com as respostas emocionais e

cognitivas do indivíduo. A principal variável a ser testada é a que mede o grau de

envolvimento com o produto. Outros construtos são o ‘risco percebido’, a

‘privacidade’, a ‘segurança’ (PAVLOU, 2003). O construto ‘risco percebido’ foi

encontrado na literatura (WEBER; ROEHL, 1999) e o ‘risco relacionado com a

performance’ não foi explorado na presente pesquisa.

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Neste referencial teórico, a pesquisa não pretendeu analisar toda a literatura e

o cenário de adoção de SL, mas apresentar um panorama teórico breve e básico no

qual algumas importantes conclusões pudessem ser feitas quanto às diferenças de

gênero.

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3. METODOLOGIA

Esta seção descreve o processo de feitura do trabalho, tendo como objetivo

esclarecer a lógica, as escolhas metodológicas e os procedimentos adotados na

pesquisa.

3.1 Tipologia do estudo

Segundo os critérios que representam aspectos estruturais da investigação, a

pesquisa é de natureza descritiva, pois descrevem-se o padrão, a experiência de

adoção, as relações existentes e a verificação de diferenças de gênero quanto ao

uso de ferramentas de software livre (variável dependente) e variáveis

independentes, concebidas como fatores, originadas de estudos correlatos com o

assunto. Também se pode caracterizá-la como exploratória, tendo em vista a

inserção de um construto novo na teorização sobre adoção de tecnologia,

especialmente considerando que há poucos estudos sobre o fenômeno da adoção

de softwares livres focando a questão das diferenças de gênero.

No que se refere à lógica de interpretação, a investigação teve uma

abordagem quali-quantitativa. Quando da utilização de métodos estatísticos, devido

à análise dos dados coletados em questionário estruturado, o raciocínio adotado foi

o hipotético-dedutivo. No caso da metodologia qualitativa, a análise de conteúdo e a

modelagem das respostas abertas tiveram como pressupostos a abordagem

interpretativista.

3.2 Etapas do estudo

Um conjunto de procedimentos metodológicos foi empreendido em seis fases.

A seguir, as atividades e os procedimentos metodológicos previstos na pesquisa são

brevemente descritos.

A primeira etapa da pesquisa foi constituída da obtenção de dados

secundários através de pesquisa bibliográfica. Nessa fase da pesquisa, foram

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consultados bases de dados de periódicos, teses e dissertações, livros, Internet e

anais eletrônicos de eventos científicos, com vista a documentar uma revisão da

literatura em adoção de TI e gênero.

Como mencionado, a importância dos fatores que influenciam a adoção e

difusão de uma determinada tecnologia tem sido amplamente documentada na

literatura, por isso há muitos estudos bibliográficos internacionais sobre este

assunto. Apesar disso, ainda não se tem encontrado na literatura nacional um

levantamento exaustivo focado nos assuntos desse projeto, menos ainda levando-se

em conta a trilogia: gênero, adoção de TI e software livre.

Os periódicos científicos que mais têm publicado o assunto deste projeto são

os prestigiados Management Science, MIS Quarterly, Decision Sciences, Information

Systems Research, Information and Management, Journal of Management

Information Systems, Organizational Behavior and Human Decision Processes,

Academy of Management Journal dentre outros. Especialmente relacionada com os

assuntos Aceitação de TI, há referências internacionais importantes em mais de três

centenas de artigos científicos. Para a realização da revisão de literatura, foi

realizado um trabalho de leitura e releitura crítica, fichamento e montagem da

agenda de pesquisa. Esta revisão está sendo aproveitada para edição de um livro, e

portanto não se encontra na íntegra aqui neste relatório técnico.

A segunda etapa refere-se à pesquisa exploratória mediante uma abordagem

qualitativa. As atividades desenvolvidas abrangeram a organização, realização de

discussão dos grupos focados, amostrando-se os participantes por cotas de gênero.

A partir de um roteiro semi-estruturado de questões envolvendo questões sobre

gênero e adoção de tecnologias, foi desenvolvido uma pesquisa de campo com

usuários e não usuários de software livre, de forma a captar conhecimento e

aprendizado do contexto do uso de ferramentas de tecnologias de informação.

Esta fase teve como objetivo ter um conhecimento da realidade de algumas

mulheres e homens que usam recursos tecnológicos, para conhece de forma

exploratória os diversos fatores que se relacionam com o uso de SL, tais como a

falta de capacitação em operar e/ou interagir com sistemas em SL, a necessidade de

trocar conhecimento sobre o assunto com outras pessoas etc.

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Além disso, essa pesquisa exploratória serviu para coletar elementos para a

construção dos instrumentos de coleta de dados para as websurveys, nas suas

vertentes quantitativa e qualitativa.

Após a pesquisa bibliográfica e a fase exploratória da pesquisa, foram

construídos e validados dois instrumentos de coleta dos dados, constituindo-se as

atividades da terceira etapa da pesquisa. Ambos os questionários tiveram como

parâmetros as variáveis identificadas a partir de aspectos contidos na literatura

sobre UTAUT e Gênero.

Após revisões e aperfeiçoamentos, os questionários foram avaliados por

especialistas e aprovados em termos de validação de face, interna e externa, de

conteúdo e de construto. O pré-teste constituiu-se da atividade principal da quarta etapa da pesquisa. Após a consolidação dos questionários e suas respectivas

versões finais pré-testadas, foi necessário o desenvolvimento e posterior teste dos

questionários disponibilizados pela Internet (websurvey). Após os ajustes, os

questionários foram colocados na Internet, onde eram acessados através de links.

Para tanto, utilizamos um sistema automatizado de coleta de dados (versão

profissional) denominado surveymonkey (www.surveymonkey.com).

Digitados e testados os questionários online, a quinta etapa da pesquisa

referiu-se à coleta de dados diretamente na fonte, ou seja, dados primários, tendo

como coleta de dados a aplicação de dois questionários online. Esta fase de

levantamento de dados foi feita via websurvey. As respostas aos questionários foram

realizadas com o livre consentimento prévio dos participantes, de forma a garantir

que questões éticas fossem observadas no processo da pesquisa. Dessa forma,

conforme pode ser verificado nos textos que introduzem as pesquisas (Apêndices 1

e 2), comunicamos os objetivos do estudo aos participantes, bem como o órgão

patrocinador, não os expusemos ao risco, explicitamos a garantia do sigilo e

anonimato dos dados pessoais dos pesquisados, dentre outras salvaguardas de

caráter ético. Demos a alternativa do participante de sair do questionário a qualquer

momento, bem como informávamos do seu progresso, com um percentual de

questões já respondidas, a fim de dar mais tranqüilidade ao participante do quanto

foi feito e quanto faltava para chegar ao final do questionário. Na conclusão da

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pesquisa online, agradecemos e colocamos a possibilidade do resultado final da

pesquisa (cópia dos resultados) ser disponibilizado mediante a informação do email

do respondente. Após a fase de coleta de dados via websurvey, foi desenvolvida a

sexta etapa da pesquisa, o qual abrangeu a preparação e as análises dos dados.

Tendo em vista que a pesquisa tem duas vertentes de análise, faremos

separadamente a exposição dos métodos empregados.

3.3 Universo e amosta

Escolheu-se prioritariamente, como universo da pesquisa, participantes de

comunidades de software livre. Portanto, a amostra foi não probabilística. A principal

razão da escolha desse público alvo deveu-se ao fato de que têm perfil de usuário

de computador e potencialmente são adotantes de software livre em aplicações

utilizadas em casa, no trabalho e/ou na universidade.

Foi enviado um convite por email para as comunidades encontradas pela

Internet. Também houve colaboração de coordenadores e militantes de projetos

envolvendo SL que enviaram para suas listas de distribuição mensagens convidando

os participantes a se engajarem na pesquisa. Nos emails e/ou scraps, eram

informados o teor da pesquisa e os links para os questionários online.

3.4 Materiais e métodos da pesquisa quantitativa

Como procedimento de coleta de dados da pesquisa de natureza quantitativa,

utilizou-se um questionário estruturado, com nove questões, sendo 8 fechadas e

uma aberta. Para medir as variáveis relacionadas com o UTAUT, foi utilizado o

escalonamento do tipo Likert, que consiste em um conjunto de afirmações sobre

adoção de SL, ante os quais se pedia aos indivíduos que os julgassem de acordo

com suas percepções e reações a respeito desses, escolhendo em uma escala que

varia do 1-Discordo totalmente ao 10-Concordo totalmente. O questionário contém

duas partes, a primeira com as assertivas relacionadas com percepção de adoção

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do SL e padrão de uso e a segunda indagando sobre o perfil do(a) respondente. O

apêndice 1 contém o modelo desse questionário aplicado no websurvey.

A amostra que constituiu essa pesquisa foi de natureza não aleatória, por

conveniência e teve como e teve como critério de inclusão ser um usuário ou

desenvolvedor de software livre. O questionário ficou disponível na Internet,

hospedado no www.surveymonkey.com durante 15 dias.

Após o término do período de coleta de dados, procedemos à importação dos

dados em planilha eletrônica, gerada pelo programa do surveymonkey. Os dados

foram condensados em um banco de dados, a fim de atingir os objetivos propostos,

isto é, descrever quantitativamente a aceitação (ou rejeição) do software livre em

relação às variáveis, tais como expectativa de desempenho, expectativa de esforço,

influência social, condições facilitadoras e ideologia no uso do SL. Em todos os

testes, buscamos enxergar a mediação do gênero, com a finalidade de descobrir se

havia diferenças estatísticas.

3.4.1 Análise descritiva dos dados

As técnicas estatísticas que foram empregadas nas análises descritivas dos

dados foram: distribuição de freqüência das variáveis, cálculos uni e bivariados,

como a média, desvio-padrão, curtose, amplitude e tabulações cruzadas.

Para a questão sobre adoção de SL entre homens e mulheres, foram

utilizados os testes não-paramétricos de Mann-Whitney e qui-quadrado, escolhidos

pela natureza da escala, que possibilitou examinar as associações entre os grupos

por gênero e outras variáveis demográficas.

O teste não paramétrico de Mann-Whitney avalia se existe uma diferença

estatística significativa entre as médias dos postos (mean rank) das duas condições.

O teste Mann-Whitney é usado quando há participantes diferentes em cada

condição. Esse teste estatístico exige que os escores das duas condições sejam

ordenados a fim de que o teste estatístico seja calculado a partir dessas ordenações

(DANCEY; REIDY, 2006).

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O programa utilizado nas análises de estatísticas descritivas e nos testes de

hipótese de diferença através de Mann-Whitney e Qui-quadrado entre grupos foi o

SPSS®, versão 18.0.

3.4.2 Análise inferencial dos dados

A última parte da análise quantitativa envolveu a Modelagem de Equações

Estruturais, mostrando os cálculos do modelo proposto no software SMARTPLS®

(versão 2.0). Este software foi utilizado devido à escolha do método de Mínimos

Quadrados Parciais (Partial Least Square – PLS).

A utilização da modelagem de equações estruturais como método estatístico

permitiu a generalização sobre as percepções de uso SL, através da adoção de

procedimentos de análise quantitativa. Considerou-se essa técnica de análise como

a mais indicada em razão de seu caráter confirmatório (PILATI; LAROS, 2007). De

acordo com Hair et al (2005), a diferença entre outras técnicas multivariadas e a

MEE é que, através desta última, pode-se realizar uma série de relações de

dependência interrelacionadas simultaneamente, pois combina “aspectos de

regressão múltipla (examinando relações de dependência) e análise fatorial

(representando conceitos não medidos – fatores – com múltiplas variáveis)” (HAIR et

al., 2005, p.468-9).

A MEE tem várias abordagens. A escolhida nesta pesquisa é a técnica de

análise do mínimo quadrado parcial (Partial Least Square), por modelagem de

caminhos (path modeling) – PLS-PM. Segundo Chin (2010), o PLS-PM é uma

metodologia baseada em componentes que provê a determinação de escores dos

construtos para fins preditivos. Seu principal objetivo é estimar a variância de

construtos endógenos e por sua vez suas variáveis manifestas (se reflexivas).

Justifica-se a utilização da técnica baseada em mínimos quadrados parciais

(PLS) em virtude da sua aplicabilidade em teste de hipóteses, onde tanto o modelo

estrutural (inner model) quanto o modelo de mensuração (outer model) são tratados

conjuntamente para testar relações entre os conceitos não observáveis (variáveis

latentes) do modelo proposto (BUENO; SALMERON, 2008).

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Além disso, o PLS proporciona algumas vantagens para o presente estudo

como a possibilidade de ser utilizada em amostras menores e com dados não

normais. O algoritmo Partial Least Squares (PLS) foi usado para estimar o modelo

MEE, o qual leva a melhores estimativas quando se está lidando com pequenas

amostras e distribuição não normal, comparado com outras metodologias baseadas

na Máxima Verossimilhança (CHIN; TODD, 1995).

O PLS foi utilizado através do software livre SMARTPLS (RINGLE, WENDE,

WILL, 2005). Os dados foram importados depois da conversão dos dados para o

formato “csv” (separado por vírgula).

Para o processamento dos dados através do PLS algorithm, foi configurado

para rodar o path weighting scheme (ou structural scheme) que usa a correlação ou

regressão múltipla para prever a variável latente e que esta possa ser uma boa

preditora da variável latente subseqüente (TENENHAUS et al., 2005, p.170-171).

Após verificado o modelo de mensuração e o modelo estrutural, procedeu-se

à avaliação da significância estatística. Para tanto, efetuou-se o teste de

significância com bootstrapping, com 500 reamostras, de acordo com

recomendações de Chin (1998 apud BIDO et al., 2010) no software SMARTPLS.

Nesse método, é descartada a distribuição amostral assumida de um

parâmetro e calculada uma reamostragem empírica, tida como a real distribuição do

parâmetro, ao longo de centenas ou milhares de amostras (HAIR et al., 2005). De

acordo com Hair et al. (2005), esse procedimento é um tipo de reamostragem

aleatória em que os dados originais são repetidamente processados com

substituição para estimação do modelo.

Para esse procedimento, seguiu-se o recomendado por Tenenhaus et at

(2005), ou seja, a opção escolhida foi construct level changes, pois o vetor das

cargas de cada variável latente é comparada em cada reamostragem ao vetor

correspondente das cargas da amostra original. Além disso, os autores não

recomendam as opções no sign changes e individual changes.

O nível de significância utilizado nas decisões dos testes estatísticos foi de

5% e 95% para o nível de confiança nos intervalos.

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3.5 Materiais e métodos da pesquisa qualitativa

Da mesma forma que a quantitativa, a amostra que constituiu a pesquisa

qualitativa foi de natureza não aleatória, por conveniência e teve como e teve como

critério de inclusão ser um usuário ou desenvolvedor de software livre. O

questionário ficou disponível na Internet, hospedado no www.surveymonkey.com

durante 15 dias.

Como mencionado, a pesquisa se propôs a compreender os aspectos que

envolvem a adoção de SL, buscando evidenciar possíveis diferenças de gênero.

Como procedimento para coleta dos dados primários, optou-se pelo questionário

online, com questões semi-estruturadas. Foram endereçadas 17 questões abertas,

algumas contendo um ninho de perguntas, cuja conseqüência foi um aumento da

quantidade efetiva de perguntas do questionário, embutindo uma maior

complexidade na interpretação dos dados. O questionário qualitativo encontra-se no

apêndice 2. Para o escopo dessa versão do relatório de pesquisa, optou-se por

descrever os resultados da análise qualitativa de três questões, apenas. A riqueza

do material qualitativo levantado na pesquisa online vai permitir dar continuidade à

produção acadêmica sobre este tema em nossas investigações futuras.

Para atender ao objetivo principal da pesquisa, complementamos a análise

quantitativa, de natureza neopositivista (apresentada na seção 3.1), com uma

abordagem qualitativa, em particular com o emprego da técnica de análise de

conteúdo, cuja aplicação se presta para o estudo das motivações, atitudes, valores,

crenças, tendências (BARDIN, 2009), melhor se adequando à nossa pesquisa.

3.5.1 Análise de conteúdo

Para Chizzotti (2001, p.98), “o objetivo da análise de conteúdo é compreender

criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as

significações explícitas ou ocultas.” Segundo o autor, a decodificação de um

documento pode utilizar-se de diferentes procedimentos para alcançar o significado

profundo das comunicações nele cifradas, tais como análise léxica, análise segundo

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categorias, análise da enunciação no momento do discurso, análise de conotações

ou qualquer outra forma inovadora de decodificação de comunicações (Chizzotti,

2006, p.98).

Para Minayo (1999), do ponto de vista operacional, a análise de conteúdo

parte de uma literatura de primeiro plano para atingir um nível mais aprofundado:

aquele que ultrapassa os significados mais manifestos. Na busca de atingir os

significados manifestos e latentes no material qualitativo, têm sido desenvolvidas

várias técnicas como Análise de Expressão, Análise de Relações, Análise Temática,

e Análise de Enunciação (MINAYO, 1999).

Como técnica de análise de conteúdo, nesta etapa do estudo proposto,

adotou-se a análise temática ou categorial, que é descrita por Bardin (2009) como o

processo de análise do texto, a partir de unidades categorizadas e (re)agrupadas

analogicamente em relação aos eixos temáticos. A escolha dessa técnica é

particularmente útil para a etapa de análise das categorias propostas, em função da

possibilidade de otimizar a organização das diversas informações contidas nas

respostas abertas.

A análise de conteúdo constitui-se de um método de tratamento de

comunicações que pode ser bastante amplo conforme os objetivos e delineamento

metodológico de uma pesquisa. Logo, conforme Mozzato (2010), emerge a

necessidade do emprego de técnicas computacionais, as quais podem ser

estatísticas ou não.

3.5.2 Aplicação da informática na análise qualitativa de dados (CAQDAS)

Desde a década de 1980, uma ampla variedade de softwares tem sido criada

para auxiliar na análise de dados qualitativos. Para referir-se a eles, é comum a

utilização da sigla CAQDAS – Computer Aided Qualitative Data Analysis Software.

Muitos autores classificam como “aplicação da informática na análise de dados”

LAGE; GODOY (2008). Uma notória vantagem da informática é ser um recurso

poderoso para armazenar e indexar dados de forma rápida e precisa, com facilidade

de recuperação e verificação do processo de análise. Mas há várias outras

vantagens no uso de ferramentas CAQDAS na análise qualitativa. Lage e Godoy

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(2008, p. 80) citam: a possibilidade de armazenar como dados codificáveis as teorias

que suportam a pesquisa, assim como novos resultados encontrados, facilita a

elaboração de correlações complexas entre dados-resultados-aspectos teóricos,

permitindo testar idéias e hipóteses.

Para Kelle (2002 apud PINTO; SANTOS 2010), esses softwares contêm uma

variedade de propriedades, como: mecanizar tarefas de organização e arquivamento

de dados; facilidade para armazenar os comentários dos pesquisadores que podem

ser ligados a palavras-índices ou segmentos de textos; propriedades para definir

ligações entre palavras-índices, utilização de filtros, de tal modo que a busca de

segmentos de textos possa ser restringida por certas exigências.

No que se refere às pesquisas no campo de Sistemas de Informação, em

particular, tem ocorrido um deslocamento das pesquisas de questões tecnológicas e

gerenciais para questões organizacionais, levando a um maior interesse na

aplicação de métodos de pesquisa qualitativa. Pozzebon e Freitas (1998) haviam

constatado este movimento no final da década de noventa. De uma forma geral, o

prestígio das pesquisas que se utilizam de métodos qualitativos tem crescido de

forma consistente no universo acadêmico da área de Administração.

Por isso, nesta pesquisa, investimos na análise qualitativa através da adoção

do software Atlas.ti@ (versão 5.0), desenvolvido pela Scientific Software

Development. A seguir, descrevemos brevemente esta ferramenta computacional de

apoio às pesquisas que se utilizam de fontes textuais como banco de dados.

3.5.3 Software Atlas/ti

No processo de escolha de uma ferramenta de auxílio à pesquisa qualitativa,

optamos pelo ATLAS.ti, basicamente por constatar que o referido software ainda é,

atualmente, considerado por vários pesquisadores como benchmarking em

CAQDAS (SCHRÖEDER, 2009). Conforme Friese (2009), o software Atlas.ti é um

dos mais complexos programas CAQDAS e oferece uma gama de funcionalidades

para a análise de conteúdo. O Atlas.ti ajuda no processo de codificação dos dados

textuais, gráficos, áudio e vídeo e sua organização, permitindo um maior rigor no

processo de análise qualitativa.

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O primeiro desenvolvimento remonta aos anos 1989-1992. Como parte de um

projeto de pesquisa na Universidade Técnica de Berlim, na Alemanha (ATLAS.TI,

2006), era preciso ter uma ferramenta que pudesse auxiliar na análise qualitativa dos

dados. Como havia nenhum pacote àquela época que satisfizesse as necessidades

dos pesquisadores, a solução foi criar um protótipo que evoluiu até sua primeira

versão comercial, em 1993. O criador foi um psicólogo e cientista computacional,

Thomas Muhr.

O Atlas.ti possui a habilidade de gerenciar o conhecimento, de forma

sistemática e organizada, por meio da transformação de dados soltos em

informações úteis e flexíveis. Friese (2009) aponta duas influências na filosofia do

Atlas.ti. A primeira é a tradição alemã e europeia da análise hermenêutica e a

segunda tem a ver com o método americano de análise qualitativa fundamentada

em dados ou teorização embasada, a Grounded Theory, originalmente desenvolvida

por Glaser e Strauss na década de sessenta. O próprio Muhr (1991, p. 351) atesta

esta influência metodológica quando afirma: “durante o desenvolvimento do

programa nós fomos estimulados pelas ideias, terminologia e processos

metodológicos associados com a grounded theory”. O autor do Atlas.ti pontua que

as funções desse pacote são genéricas, no sentido de que é compatível com outras

abordagens metodológicas, como é o caso do método de análise qualitativa de

conteúdo.

Na explanação de Lima (2010, p.92), esse aplicativo é “especialmente útil

para a teorização a partir da codificação, separação e identificação das relações de

unidades de significação identificadas no conjunto dos dados”.

O Atlas.ti desenvolve-se a partir da criação de uma Unidade Hermenêutica

(hermeneutic units - HU), onde se agrupam os Documentos Primários (primary

documents - PD), que são fragmentados em citações, que levam códigos (codes) e

anotações (memos), compõem famílias (families) e desenham redes de relações

(networks).

Na presente pesquisa, deu-se preferência em analisar o conteúdo manifesto

dos documentos, visto que não seria possível desvendar p conteúdo latente que eles

possuem apenas com o registro das respostas do questionário. No entanto,

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corroborando com Mozzato (2010), a utilização de softwares apenas serviu para

facilitar a análise e a interpretação, não eximindo nossa atuação ativa na adoção de

um método de análise coerente e pertinente ao tema e à orientação epistemológica.

3.5.4 Operacionalização da análise qualitativa

Em termos dos procedimentos da análise qualitativa através da ferramenta

computacional, os dados contendo as questões abertas foram inseridos em um

único documento no software Atlas.ti, denominado de unidade hermenêutica, a qual

constitui o nosso corpus. A partir daí, procuramos seguir as três etapas operacionais

apresentadas por Bardin (2009): 1a) pré-análise; 2a) exploração do material; 3a)

tratamento dos resultados e interpretação.

A primeira etapa teve o objetivo de se efetuar uma análise de conteúdo para

verificar os significados das colocações, os termos e citações, na busca de padrões

recorrentes de respostas. Fez-se uma leitura flutuante dos documentos, com base

na seleção prévia das questões do questionário aberto (Apêndice 2). Tendo em

mãos, as respostas impressas, fazia-se o cotejamento das respostas ante as

hipóteses do modelo teórico a ser testado e, por fim, a demarcação e referenciação

dos códigos (ou índices) por meio de trechos ou recortes das ‘falas’ dos

respondentes nos documentos de análise, de forma manual. Conforme Freitas e

Janissek (2000), tal procedimento requer que a análise léxica esteja concluída, de

forma que os textos dos respondentes sejam confrontados com as listas de palavras

obtidas anteriormente. Para tanto, aqui tivemos o apoio da funcionalidade do conta-

palavras (Word Cruncher), do Atlas/ti.

Após a fase “pré-analítica”, foi feita a exploração do material, realizando a

operação de codificação. Conforme Freitas e Janissek (2000), para a análise dos

dados qualitativos, o primeiro desafio a ser enfrentado é a adequada codificação das

informações. Miles e Huberman (1994) afirmam “codificar é analisar”. Eles

acrescentam que essa parte da análise envolve como diferenciar e combinar os

dados recuperados e a geração de reflexões sobre essa informação.

Strauss e Corbin (2008) destacam três processos de codificação para a

análise e construção de teoria a partir de dados qualitativos os quais ocorrem

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concomitantemente: codificação aberta, que consiste em um processo analítico dos

dados para identificação dos conceitos, de suas propriedades e dimensões;

codificação axial a qual relaciona categorias e suas subcategorias, associando as

categorias às suas propriedades e dimensões; e a codificação seletiva que se refere

ao processo de integrar e refinar a análise. Embora a presente pesquisa tenha sido

realizada com base em um protocolo assumido a priori, diferente da grounded theory

(GT) de Strauss e Corbin (2008), que se baseia em análise indutiva, lançamos mão

das técnicas de codificação da GT: codificações aberta e axial.

A codificação aberta se deu pela realização da releitura do texto das

respostas às questões abertas, ou seja, eram estabelecidas as categorias

conceituais (que são os ‘códigos’, no Atlas/ti), a partir de cada resposta individual,

em cada uma das questões em foco. Para Freitas e Janissek (2000, p.109), esse

processo é uma “tentativa de ‘fechar’ a questão, ou seja, dispor da questão aberta e

espontânea, mas também criar uma nova, fechada ou com categorias de respostas

correspondentes”. Então, para cada uma das respostas, se analisava a temática

subjacente e procedia-se à codificação. O Atlas/ti oferece dois tipos de codificação

aberta: criação de códigos por temática prévia ou por manifestação “in vivo”.

Nesta etapa, os códigos eram agrupados em unidades de registros, para

facilitar a visualização dos temas principais e o padrão de significados dos dados

atribuídos. Foi adotada, como unidade de análise, um trecho de uma frase, uma

frase inteira ou orações inteiras das respostas à questão aberta.

Quando pertinente, também se buscou identificar as unidades de contexto

através de anotações (os chamados ‘memos’, no Atlas/ti), para entendimento da

significação (compreensão semântica) da unidade de registro, na etapa de

codificação axial. Essas anotações sobre o conteúdo lido e linkado, aumentava a

possibilidade de enriquecimento da interpretação.

Certamente este processo, por ser qualitativo, exigiu leitura e releitura de

forma a validar as categorias que foram criadas. Além disso, como este tipo de

método é subjetivo, baseado no ‘olho clínico’ e experiência do(a) pesquisador(a), a

busca da melhor definição de categorias (ou códigos), é necessário um algoritmo

que executa ações sequenciais e recorrentes no processo de análise qualitativa.

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Assumiu-se, para o estabelecimento das categorias do corpus, o atendimento

aos critérios de qualidade propostos por Bardin (2009, p. 147-8) como: i) Exclusão

mútua, onde cada elemento não pode existir em mais de uma divisão; ii) Pertinência,

se as regras estiveram adaptadas ao material de análise escolhido e ao objetivo; iii)

Homogeneidade, com temas semelhantes agrupados na mesma categoria; iv)

Objetividade, em que diferentes partes de um mesmo material devem ser

codificadas da mesma maneira; e iv) Produtividade, a fim de que das categorias

derivem resultados férteis.

No caso da codificação axial, as ações eram realizadas tiveram a seguinte

sequência: i) definir a lógica de associação entre as categorias conceituais; ii)

desenvolver categorias semânticas com a comparação constante e iii) identificar

dimensões dentro dos documentos analisados.

Uma vez que havia uma quantidade suficiente de códigos, direcionamos

nossos esforços para sintetizar o que tinha sido mais relevante nos dados. Essa foi a

última etapa, de tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Portanto,

foi necessário um trabalho de abstração para condensação e o destaque das

informações para análise, a fim de realizar as inferências de forma interpretativista.

Nesse processo, foram feitas comparações teóricas, através de codificação axial

sistematizada anteriormente. Como afirma Bardin (2009), esse é o momento da

intuição, da análise reflexiva e crítica. O software Atlas/ti também permite a geração

de esquemas gráficos das redes de relações entre as codificações e o agrupamento

de codificações em famílias os quais permitem uma visualização dos resultados,

facilitando a convergência ou não com o quadro teórico escolhido a priori.

Ainda na etapa de tratamento dos resultados obtidos e interpretação, se teve

o apoio da informática, como quando da realização de algumas análises léxicas dos

termos empregados pelos participantes, realização de operações estatísticas

simples (percentagens) para colocar em relevo os achados obtidos.

Como forma de testar a confiabilidade das categorias, realizamos dois

procedimentos: a) reteste – repetimos o processo de codificação; b) confrontação –

os resultados foram confrontados com os padrões estabelecidos. Esse processo de

verificação foi assistida por uma segunda analista.

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Como mencionado, todo este processo se deu com o auxílio do Atlas/ti e que

os temas ou categoriais conceituais que nos guiaram foram os quatro antecedentes

teóricos da UTAUT e o construto adicional que introduzimos nesta pesquisa

(ideologia).

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4. RESULTADOS DA ANÁLISE QUANTITATIVA

4.1 Análises preliminares

Neste item, apresentamos o resultado da análise exploratória, cujos objetivos

estão direcionados ao conhecimento das características dos dados e verificação de

violações em pressupostos estatísticos que promovam problemas na interpretação e

análise dos resultados.

4.1.1 Preparação dos dados

O tratamento dos dados envolveu análises univariadas, bivariadas e

multivariadas, com o objetivo de um conhecimento preliminar dos dados, bem como

para verificar eventuais erros de digitação na entrada do banco de dados, seguindo

as recomendações de Hair Jr et al. (2009). Na etapa de preparação dos dados,

procedeu-se a inversão de um item e a limpeza do banco de dados, a fim de

prepará-lo para a análise estatística.

A pesquisa teve um total de 406 participantes, segundo os dados

disponibilizados no link específico do site www.surveymonkey.com, a qual esteve

aberta para coleta por 15 dias. O critério de inclusão no banco de dados era o de

selecionar respondentes que fossem usuários de software livre, bem como os que

responderam a pergunta sobre o seu gênero. Desta forma, restaram 257 respostas

aptas para a análise quantitativa, ou seja, aproximadamente 1/3 do total coletado

teve que ser descartado por não atender a esse critério determinado na pesquisa.

Em seguida, foi feita uma inspeção para identificar os dados faltantes ou

ausentes (missing values), o qual se constatou uma baixa frequência de omissão de

dados, distribuídos aleatoriamente entre os casos e variáveis, possibilitando, assim,

sua substituição pela média do item (Hair Jr. et al. (2009). A ausência de dados não

foi fonte de viés nessa pesquisa devido o próprio software utilizado no questionário

online avisar ao respondente quanto havia dados ausentes, que tinha a partir desta

informação a opção de complementar suas respostas.

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Quanto aos outliers (dados extremos) univariados, esses não excederam a

referência proposta por Hair Jr. et al. (2009) e, por este motivo, optou-se por mantê-

los no banco de dados.

Após esta fase de limpeza dos dados, foi feita a análise da natureza dos

dados, para verificação de adequação do(s) tipo(s) de testes estatísticos que seriam

empregados. Para Corrar, Paulo e Dias Filho (2009, p.41), devem ser sempre

usados pelo pesquisador testes gráficos e estatísticos “para avaliar o real grau de

desvio da normalidade”. Por isso, foi realizada uma inspeção visual a partir da

análise dos histogramas (Apêndice 3) e do teste de Kolmogorov-Smirnov (Apêndice

4). O resultado mostra que, em todas as escalas e nas dimensões dos construtos ou

nas variáveis de interesse, o teste de Kolgomorov-Smirnov constatou a não normalidade da distribuição dos dados.

Quanto à curtose, também foi identificada positivamente na distribuição das

variáveis em todos os constructos. Considerando-se ser esta uma pesquisa de

opinião onde utilizamos uma escala progressiva, é plausível que os dados não se

distribuam normalmente, e até mesmo que as respostas se concentrem mais em

uma extremidade da curva de distribuição. Sendo assim, seguimos a recomendação

existente para os casos de não-normalidade dos dados, empregando testes

estatísticos não paramétricos.

Concluindo esta fase de preparação, será apresentada a validação da

amostra.

4.1.2 Verificação do poder estatístico e tamanho do efeito

Como não havia sido calculado o tamanho da amostra a priori, foi então

necessário testar a validade da amostra obtida, após a coleta de dados. Conforme

sugerido por Chin e Newsted (1999, p. 314, 326-327), em estudos que utilizam a

modelagem de equações estruturais com a estimação Partial Least Squares – Path

Modeling (PLS-PM), deve ser calculado o poder estatístico e o tamanho do efeito

(effect-size), a priori ou a posteriori.

Para Cohen (1992), o poder de um teste estatístico de uma hipótese nula (Ho)

é a probabilidade de que Ho seja rejeitado quando de fato ela é falsa, isto é, a

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probabilidade de obter um resultado estatisticamente significante. O autor afirma que

o poder estatístico depende do critério de significância (α), o tamanho da amostra

(N) e o tamanho do efeito para a população.

Para verificar o poder estatístico e o tamanho do efeito, foi utilizado o software

G*Power versão 3.1.2 (FAUL et al., 2009). Calculou-se, na modalidade ‘a posteriori’,

qual seria o poder estatístico permitido pela amostra coletada. Optou-se pelo teste F,

análise do poder do tipo “post hoc” - computer achieved power – para um dado alfa,

tamanho da amostra e tamanho o efeito e teste estatístico “Linear multiple

regression: Fixed model, R² deviation from zero”, por ser o mais adequado para o

uso do PLS. A figura 6 ilustra o resultado do poder estatístico que o G*Power

calculou para uma amostra de 257 casos e alfa de 5%.

Figura 6: Cálculo do poder estatístico (teste post hoc)

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O valor encontrado foi de 0.9994. Isso significa que, se houver um efeito

médio (f² = 0,15) na população, e testarmos cinco preditores no modelo estrutural,

tem-se 99,9% de chance de inferir como significante um relacionamento que, de

fato, o seja.

Após o cálculo do poder estatístico, a partir da informação do tamanho da

amostra obtido e o poder estatístico calculado no teste post hoc, foi realizado

também o teste de sensibilidade para detectar qual o R2 mínimo para se inferir que

há relacionamento estatisticamente significante (FAUL et al., 2007, p.181).

Figura 7: Tamanho do efeito do R2 (teste de sensibilidade)

O resultado mostrou que, para a probabilidade de erro alfa de 5%, poder de

99,9%, amostra de 257 casos e 5 preditores, o tamanho do efeito (f²) obtido foi de

0,1499 (Figura 7). Portanto, um f2 igual ou superior a 0,1499 já seria suficiente para

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detectar como significante a regressão. Convertendo o f² em R², significa dizer que,

se na população houver um R² igual ou superior a 14,99%, a amostra o detectará

como significante.

Portanto, mesmo sem ter calculado a priori o tamanho da amostra, é correto

afirmar que a amostra obtida na pesquisa possui poder estatístico para detectar a

existência de uma suposta relação entre variáveis latentes quando ela realmente

existe, pois ambos os testes post hoc e sensibility tiveram como resultado valores

acima de 80% de poder estatístico e tamanho do efeito médio de 0,15, conforme

recomendado por Hair et al. (2005) e efeito médio de 0,15% convencionado por

Cohen (1992).

4.2 Perfil demográfico da Amostra

A amostra da pesquisa é constituída de 257 respondentes, sendo 122

mulheres e 135 homens. Em relação ao gênero do respondente, não foi vista

diferença estatística significante (p<0,05) na quantidade de respondentes da

pesquisa.

Com relação ao perfil etário, a amostra concentrou-se na faixa etária

considerada ‘adulta’ pelo IBGE (15 – 65 anos), visto que a amplitude total variou de

15 a 72 anos. As medidas de tendência central foram as seguintes: média de 27,9

anos, moda de 22 anos e desvio padrão de 8,2 anos.

Para efeito de teste de hipótese, foram criadas três faixas etárias: a primeira,

com idade até 23 anos, que são os mais jovens, correspondendo a 33,1%; a

segunda, de 24 a 29 anos, retratando a faixa intermediária, com 36,6%; e a terceira,

que são os respondentes com 30 ou mais anos, que se encaixam no perfil de

adultos mais maduros, para os restantes 30,4% da amostra, conforme se

apresentam na tabela 1. O cruzamento das variáveis sexo e faixa etária comprovou

que não há diferença na distribuição das três faixas etárias da amostra como um

todo (Chi =2,8, df=2, Sig=0,24).

Tabela 1: Distribuição da faixa etária por sexo

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Faixas etárias Homens Mulheres Total Percentual Percentual acumulado

Até 23 anos 51 34 85 33,1 33,1

De 24 a 29 anos 46 48 94 36,6 69,6

Acima de 29 anos 38 40 78 30,4 100,0

Total 135 122 257 100,0

Assim, na distribuição da faixa etária por sexo (gráfico 1), embora exista uma

maior concentração de homens do que de mulheres com idade até 23 anos, esta

diferença não foi o suficientemente significante (p<0,05) para apontar diferença

estatística entre estas duas variáveis.

Gráfico 1: Comparação da faixa etária por sexo

No que se refere à ocupação profissional, a Tabela 2 indica que a amostra é

composta, sobretudo, por pessoas que atuam profissionalmente, seja em tempo

integral (41,2%), tempo parcial (12,5%) ou por conta própria (16%). Os estudantes

responderam por apenas 27,2% da amostra.

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Tabela 2: Distribuição da amostra por ocupação profissional

Ocupação Frequência Percentual Percentual acumulado

Empregado tempo integral 106 41,2 41,2

Empregado tempo parcial 32 12,5 53,7

Trabalho por conta própria 41 16,0 69,6

Não está trabalhando 8 3,1 72,8

Estudante 70 27,2 100,0

Total 257 100,0 41,2

Quanto confrontamos o perfil profissional por gênero, o gráfico 2 revela que

há homogeneidade na distribuição das ocupação entre homens e mulheres, com

uma leve predominância de mulheres sem um trabalho no momento. Esta diferença,

no entanto, não se confirma do ponto de vista estatístico (Chi=5,78, Sig=0,22).

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Gráfico 2: Comparação do tipo de ocupação profissional por sexo

Ao cruzar ocupação profissional com sexo, chegamos a conclusão que a

amostra está bem distribuída, refletindo um momento econômico positivo, e a

entrada cada vez mais das mulheres no mercado de trabalho. Não se explorou a

variável renda, nesta pesquisa.

4.3 Perfil de experiência computacional de TI e SL

Quanto ao perfil de experiência de tecnologia de informação (TI), a maior

parte considera-se um usuário com uma boa experiência no uso de computadores e

tecnologias em geral, conforme a Tabela 3. No entanto, apenas 21,8% enquadram-

se na categoria de usuários muito experientes.

Tabela 3: Experiência com TI

Nível de experiência em TI Frequência Percentual Percentual acumulado

Muito pouco experiente 2 0,8 0,8

Pouco experiente 10 3,9 4,7

Razoavelmente experiente 76 29,6 34,2

Experiente 113 44,0 78,2

Muito experiente 56 21,8 100,0

Total 257 100,0

Com relação à experiência de instalar/desenvolver sistemas de código aberto

(por exemplo, Linux), a Tabela 4 revela que os respondentes se consideram um tipo

de usuário razoavelmente experiente (37,7%). Quando comparada com o grau de

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experiência em TI apresentada na tabela 3 anterior, notamos que os usuários

consideram-se bem menos experientes com relação às tecnologias livres.

Tabela 4: Experiência com instalação de SO livres

Nível de experiência com sistemas livre Frequência Percentual Percentual acumulado

Sem experiência 21 8,2 8,2

Muito pouco experiente 18 7,0 15,2

Pouco experiente 47 18,3 33,5

Razoavelmente experiente 97 37,7 71,2

Experiente 50 19,5 90,7

Muito experiente 24 9,3 100,0

Total 257 100,0

O nível de pouca experiência alcança apenas 4,7% no uso de TI, enquanto

que para as tecnologias livres o percentual acumulado é de 33,7%. Esse resultado

era esperado, devido às tecnologias que usam software livre não serem tão

difundidas quanto às tecnologias de informação em geral e com aplicação mais

recente no mercado.As respostas de homens e mulheres com relação aos níveis de

experiência com a utilização de sistemas de código aberto foram comparadas

através do teste não-paramétrico de Mann-Whitney. A tabela 5 apresenta esses

resultados.

Tabela 5: Níveis de experiência com TI e SL por gênero

Níveis de experiência Sexo Média dos postos

Mann-Whitney U

Sig. (bicaudal)

Experiência com TI Masculino 139,69 6792,0 0,010

Feminino 117,17

Experiência com SL Masculino 143,46 6283,5 0,001

Feminino 113,00

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No tocante à exploração de diferenças de gênero relativamente às

experiências computacionais, os percentuais mais elevados dos níveis de

experiência mais avançados são de homens. Portanto, as percepções no que diz

respeito ao seu nível de experiência não são equivalentes. Os gráficos 3 e 4 nos

permitem visualizar os resultados da diferença de percepção de nível de experiência

com TI em geral e com software livre entre os gêneros, respectivamente.

Verifica-se que, quanto mais a autoindicação de grau de experiência com as

tecnologias vai aumentando, mais fica evidenciado que as mulheres se julgam

menos experientes que os homens. Desse modo, há uma clara vantagem de

experiência declarada por parte dos homens, em relação às mulheres, o que pode

ser indicativo da autoeficácia percebida.

Gráfico 3: Comparação da experiência no uso de TI por sexo

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Na Teoria Social Cognitiva (SCT) de Bandura (1977), assume-se que pessoas

com uma forte percepção de autoeficácia possam experimentar menos estresse em

situações que demandam mais esforço pessoal. O SL é classicamente um software

mais demandante de esforços cognitivos.

Gráfico 4: Comparação do nível de experiência com SL por sexo

Mas deve-se ter precaução quanto ao resultado estritamente quantitativo

denotativo da crença de maior experiência computacional significativamente maior

entre os homens. Segundo Smith, Caputi e Rawstorne (2000), há que se fazer a

distinção entre a experiência computacional objetiva da experiência subjetiva. A

experiência computacional objetiva (ECO) é a medição do conhecimento real

enquanto a experiência computacional subjetiva (ECS) é definida por Smith (1999

apud Smith et al. 2000) como um estado psicológico particular que reflete o

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pensamento e o sentimento que uma pessoa atribui a ela própria com relação a

algum evento computacional existente.

Nesse conceito de Smith, está latente a idéia de que eventos psicológicos

influenciam o autoconceito de um indivíduo. Sendo assim, os pesquisadores

precisam considerar a natureza direta e/ou indireta da experiência adquirida e os

processos afetivos e cognitivos associados com essa experiência. Dito de outra

maneira, a medida isolada do grau de experiência computacional objetiva não dá

conta da natureza subjetiva da experiência. Por outro lado, apenas a percepção do

grau de experiência computacional (subjetiva) pode não corresponder de fato ao que

uma pessoa tem de experiência com computadores, havendo a possibilidade de

subestimação ou superestimação dessa experiência.

O nível de experiência ‘percebida’ (i.e, subjetivo) com computadores pode

estar associado a questões de gênero. Algumas pesquisas têm mostrado que

mulheres tendem a subestimar seu conhecimento e experiência real com

computadores. Henwood et al. (2001 apud WILSON, 2002) sugerem que as

mulheres continuam a subestimar suas habilidades ou no máximo equiparar sua

competência técnica e habilidade com a dos homens.

O estudo de Smith, Caputi e Rawstorne (2000), que buscou medir a fluência

dos alunos com relação ao uso de computadores, web e email, comprovou que não

havia diferenças entre homens e mulheres quanto à ECO, entretanto, foi identificada

uma diferença significante com relação à ECS, ou seja, as mulheres perceberam sua

fluência ser menor do que elas realmente tinham, ao contrário dos homens.

Esse resultado é importante de ser debatido e deve ser mais aprofundado em

pesquisas futuras sobre gênero e tecnologia. Ao permanecer este tipo de avaliação

autodepreciativa das mulheres, veremos um aumento cada vez maior da exclusão

digital das mulheres. É preciso ressaltar a importância de iniciativas para aumentar a

autoconfiança das mulheres para com a tecnologia.

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4.4 Percepções sobre a utilização de softwares livres

A fim de discutir os resultados, foram utilizadas ferramentas estatísticas

descritivas de dados, como média, mediana, desvio-padrão, coeficiente de variação

e assimetria em relação à curva normal, dos níveis de concordância com relação aos

itens que avaliam aspectos da UTAUT.

4.4.1 Expectativa de desempenho

Este fator é definido como a medida na qual se acredita que o uso do SL

ajudará ele/ela no desempenho do seu trabalho. Os resultados descritivos das

percepções da expectativa de desempenho na utilização de software livre,

ordenados da maior para a menor média, estão mostrados na tabela 6.

Tabela 6: Resultados descritivos da Expectativa de desempenho pelo uso do SL

Expectativa de desempenho Média Mediana Desvio-padrão

CV

% Assimetria

Acredito que o SL é muito útil para o meu trabalho 8,11 9,0 2,51 30,95 -1,35

O SL me permite realizar tarefas mais rapidamente 7,73 8,0 2,45 31,69 -1,00

Utilizar SL aumenta minha produtividade pessoal 7,66 8,0 2,61 34,07 -0,94

O SL melhora meu desempenho no trabalho 7,58 8,0 2,66 35,09 -0,94

Média 7,77 8,25 2,56 32,95

CV=Coeficiente de variação

O benefício do uso de tecnologias livres foi considerado o item que obteve

maior média, mediana, o mais homogêneo em termos de resposta, ou seja, menor

dispersão em relação à media e o de maior assimetria à direita. Assim, a crença de

que o SL é muito útil para o trabalho das pessoas foi o item mais destacado neste

construto.

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O gráfico 5 apresenta visualmente a distribuição das opiniões com relação à

dimensão de expectativa de desempenho, na escala de 1 a 10. Através do Box Plot,

podemos ver a distribuição assimétrica e a posição e dispersão dos dados, para

homens e mulheres.

Na interpretação do box plot (Gráfico 5), temos que a linha que separa as

caixas identifica a média obtida e a extensão da caixa representa a amplitude

encontrada nas respostas, sendo uma forma de visualização da dispersão dos

dados. Logo, em três dos quatro itens, as mulheres atribuíram níveis de

concordância mais baixos que os dos homens, no que diz respeito à dimensão de

expectativa de desempenho.

Gráfico 5: Expectativas de performance agrupadas por gênero através de Box plot

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Na tabela 7, os dados do teste de hipóteses dos itens de expectativa de

desempenho em relação aos respondentes do sexo masculino e feminino são

apresentados.

Tabela 7: Expectativa de desempenho entre gêneros

Expectativa de desempenho Sexo Média dos postos

Mann-Whitney U

Sig. (bicaudal)

Utilizar SL aumenta minha produtividade pessoal

Masculino 135,28 7387,5 0,14

Feminino 122,05

O SL melhora meu desempenho no trabalho Masculino 134,19 7534,0 0,23

Feminino 123,25

O SL me permite realizar tarefas mais rapidamente

Masculino 139,87 6767,5 0,01

Feminino 116,97

Acredito que o SL é muito útil para o meu trabalho

Masculino 130,39 8047,0 0,73

Feminino 127,46

Embora as médias femininas sejam numericamente inferiores aos dos

homens em todos os itens quanto às opiniões sobre o desempenho e utilidade do

SL, vemos que há diferença em apenas um item dessa dimensão, referente à

percepção de que o SL permite realizar tarefas mais rapidamente. Nos demais, não

há diferença estatística suficiente ao nível de significância de 95%, embora em todos

os itens haja uma pontuação mais baixa para as mulheres para a média dos ranks.

4.4.2 Expectativa de esforço

Os dados mostrados na tabela 8 indicam que os itens acima da média são os

que se relacionam com a aprendizagem de SL. No entanto, ficaram abaixo da média

e mediana os itens que se reportam à instalação e na familiarização no uso do SL.

Os itens com maiores desvios-padrão quanto ao nível de concordância do

esforço despendido no uso do SL são relativos à facilidade de instalação de software

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livre e aquisição de familiaridade no uso do SL. Desta forma, os participantes se

dividiram bastante quanto a estes itens, ao contrário das respostas sobre o esforço

de aprendizagem.

Tabela 8: Resultados descritivos da expectativa de esforço pelo uso do SL

Indicadores de expectativa de esforço Média Mediana Desvio-padrão

CV % Assimetria

Aprender a utilizar o SL é fácil para mim 8,32 9,0 1,96 23,59 -1,47

Não sinto dificuldade em aprender a utilizar SL 8,29 9,0 2,05 24,67 -1,19

Tenho conhecimento necessário para usar SL 8,26 9,0 2,20 26,61 -1,30

Instalar software livre é uma tarefa fácil 7,66 8,0 2,45 31,93 -0,99

Há facilidade em se adquirir familiaridade no uso do SL 6,89 8,0 3,01 43,70 -0,55

Média 7,88 8,6 2,33 30,10 CV=Coeficiente de variação

O gráfico 6 nos apresenta os resultados do ponto de vista dessas opiniões,

separadas por gênero.

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Gráfico 6: Expectativas de esforço agrupadas por gênero através de Box plot

A percepção de esforço relativo ao uso do software livre entre homens e

mulheres foi testada através do teste estatístico não-paramétrico Mann-Whitney

(Tabela 9). Há muitas divergências de opiniões entre homens e mulheres. Podemos

afirmar que está muito longe de haver um consenso entre eles nessa questão do

esforço percebido. Este resultado confirma os achados de Gefen e Straub (1997) e

Yuen e Ma (2002), onde a facilidade de uso percebida foi mais fortemente

influenciável para mulheres do que para homens, com relação à adoção de SI.

Os aspectos cognitivos envolvidos na tarefa de utilizar um sistema ou

aplicativo em SL parecem ter mais impacto no público feminino. Uma possível razão

pode ser a perpetuação de que computadores e tecnologia são de domínio mais

masculino.

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Tabela 9: Expectativa de esforço entre gêneros

Indicadores de Expectativa de esforço Sexo Média dos

postos Mann-

Whitney U Sig.

(bicaudal)

Instalar software livre é uma tarefa fácil Masculino 131,07 7955,50 0,631

Feminino 126,71

Aprender a utilizar o SL é fácil para mim Masculino 137,59 7076,00 0,044

Feminino 119,50

Não sinto dificuldade em aprender a utilizar SL

Masculino 138,47 6956,00 0,025

Feminino 118,52

Há facilidade em se adquirir familiaridade no uso do SL

Masculino 116,46 6542,00 0,004

Feminino 142,88

Tenho conhecimento necessário para usar SLMasculino 143,96 6215,50 0,000

Feminino 112,45

Como forma de mudar estas crenças, seria interessante que as organizações

destinassem uma atenção especial para o treinamento e desenvolvimento das

capacidades e habilidades das mulheres no aprendizado de SL. Uma ação relevante

seria oferecer seminários, palestras e cursos de treinamento.

Cabe salientar que essas diferenças apontadas na tabela 9 podem ser um

pouco ‘mascaradas’ devido a uma certa tendência de autoconfiança masculina,

considerando que os homens parecem responder de forma mais incisiva e afirmativa

às questões de natureza cognitiva do que as mulheres, muito mais comedidas nas

respostas, até mesmo subestimando as expectativas de esforço e suas capacidades

reais de aprendizado computacional (SMITH; CAPUTI; RAWSTORNE, 2000),

conforme se mencionou anteriormente.

4.4.3 Influência social

Esta dimensão busca identificar a percepção pessoal de que as pessoas que

são mais importantes para estas acreditam que se deva ou não ter o comportamento

em questão. No caso da pesquisa, focalizamos os amigos e os colegas e o chefe, no

âmbito organizacional. A tabela 10 traz alguns resultados interessantes. O primeiro é

que foram coletadas as menos médias no geral. Os participantes de fato não se

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sentem pressionados pelos colegas em utilizar o SL, com uma média muito baixa

(3,3) e uma tendência de resposta discordante, pela assimetria à esquerda, na

escala de 1 a 10. Outro comentário é quanto ao item que se refere ao apoio dos

amigos no uso do SL, o qual recebeu a maior média neste construto (6,4), mas

mesmo assim não se destaca como uma das maiores médias no conjunto de todos

os itens.

Tabela 10: Resultados descritivos da Influência social pelo uso do SL

Indicadores de Influência social Média Mediana Desvio-padrão

CV

% Assimetria

As pessoas do meu círculo de amizade me dão apoio para utilizar SL 6,37 7,0 3,05 47,93 -0,38

Meu chefe me incentiva a usar o SL 4,76 4,0 3,66 76,95 0,34

Sinto pressão do meu círculo de colegas para usar SL 3,29 2,0 2,95 89,73 1,06

Média 4,81 4,33 3,22 71,54 CV=Coeficiente de variação

O gráfico 7 apresenta os dados do ponto de vista das variações e médias

entre os itens de influência social.

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Gráfico 7: Influência social (Box plot)

Visualmente, os boxes plots se desenham de forma diferente conforme a

categoria de gênero. Apenas no terceiro item, influência do chefe, vemos uma leve

equivalência no resultado. Logo, apresenta-se a tabela 11 com o resultado do teste

de Mann-Whitney para avaliar se existem diferenças estatísticas.

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Tabela 11: Percepção da influência social entre gêneros

Influência social Sexo Média dos postos

Mann-Whitney U

Sig. (bicaudal)

Sinto pressão do meu círculo de

colegas para usar SL

Masculino 116,14 6498,500 0,002 Feminino 143,23

As pessoas do meu círculo de amizade

me dão apoio para utilizar SL

Masculino 114,65 6298,000 0,001 Feminino 144,88

Meu chefe me incentiva a usar o SL Masculino 121,09 7166,500 0,064

Feminino 137,76

De fato, todas as médias de postos das mulheres são mais altas que as dos

homens, comprovando-se que há diferenças de opiniões entre homens e mulheres

em dois itens, corroborando com Venkatesh e Morris (2000). O gênero se confirmou

como um importante mediador quando se quer medir o impacto da norma subjetiva

na decisão de usar uma TI, particularmente as mulheres sendo mais sensibilizadas

aos apelos de amigos do que os homens.

No entanto, esta questão não é consensual. Dong e Zhang (2010), por

exemplo, descobriram que a influência social era fator importante para as

americanas mas não para as chinesas, levando-os a concluir que a discrepância de

resultados fosse pautada pelas diferenças culturais entre os países.

Assim, mais pesquisas devem ser empreendidas a fim de investigar com mais

profundidade os impactos da influência social entre os gêneros e em contextos e

culturas diferenciadas.

4.4.4 Outros fatores antecedentes

Agrupamos dois indicadores neste subtópico: a variável proxy de condições

facilitadoras do uso de sistemas baseados em software livre, que é o suporte ao SL

e um indicador que avalia a concordância da atitude política a favor do software livre.

Está bem visível, pelos dados da tabela 12, que o apoio político ao SL é bem

disseminado na amostra, com uma larga demonstração de concordância neste item.

Em contrapartida, a percepção de eficácia do suporte oferecido para quem adota o

SL não mereceu média tão alta.

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Tabela 12: Condições facilitadoras e visão ideológica sobre SL

Outros indicadores Média Mediana Desvio-padrão

CV % Assimetria

O SL representa uma atitude política a favor da liberdade

8,67 10,00 2,27 26,16 -1,93

O SL oferece um suporte eficaz 6,89 7,00 2,65 38,46 -0,66

Como se nota na tabela 13, independentemente do sexo do respondente, as

opiniões se equiparam no nível estatístico.

Tabela 13: Comparação de condições facilitadoras e visão ideológica entre os sexos

Outros indicadores Sexo Média dos

postos Mann-

Whitney U Sig.

(bicaudal)

O SL representa uma atitude política a favor da liberdade

Masculino 124,36 7609,000 0,22

Feminino 134,13

O SL oferece um suporte eficaz Masculino 124,34 7606,500 0,29

Feminino 134,15

Destarte possuírem médias de postos mais altas, indicativo de maior

concordância com os indicadores, não se comprovou diferenças substantivas entre

homens e mulheres participantes da pesquisa.

4.4.5 Intenção de uso futuro de SL

A intenção de uso futuro foi o fator com mais homogeneidade de opinião e

concordância, dentre todos os itens investigados nos demais fatores. A tabela 14

detalha esse resultado descritivo.

Tabela 14: Intenção de uso futuro de SL

Fatores Média Mediana Desvio-padrão

CV % Assimetria

Planejo continuar usando SL 8,95 10,0 2,00 22,32 -2,29

Pretendo utilizar SL cada vez mais 8,87 10,0 1,97 22,19 -2,15

Média 8,91 10,0 1,98 22,26

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No tocante ao teste de Mann-Whitney, o fator de intenção de uso futuro do SL

se manteve igualmente alto tanto para mulheres como para os homens, sem

distinção de opinião. Logo, a hipótese nula de que não havia diferenças não pode

ser rejeitada, como observa-se na tabela 15.

Tabela 15: Comparação de intenção de uso por sexo

Intenção de uso futuro Sexo Média dos postos

Mann-Whitney U

Sig. (bicaudal)

Planejo continuar usando SL Masculino 131.87 7847,500 0,434

Feminino 125.82

Pretendo utilizar SL cada vez mais Masculino 132.37 7779,500 0,381

Feminino 125.27

Do ponto de vista estatístico, as intenções de uso são as mesmas, entre

homens e mulheres.

4.5 Fatores determinantes para maior uso de software livre

Foi perguntado aos participantes quais foram os fatores que mais

influenciaram na sua utilização de sistemas operacionais de código aberto (por

exemplo, GNU/Linux, Ubuntu, Mandriva) de acordo com o grau de importância

desses fatores. As sete opções de fatores disponibilizados na pergunta fechada

foram: a percepção da sua utilidade, a facilidade do seu uso, o fato de outros amigos

já utilizarem, o fato de ser obrigatório na empresa ou universidade, recebimento de

treinamento para utilizar o software livre, possuir ideologia a favor do SL, a afeição

por computadores. A maior parte das opções foi baseada nos quatro constructos do

modelo UTAUT e o construto testado nessa pesquisa, sendo eles: a expectativa de

desempenho; expectativa de esforço; influência social e condições facilitadoras; e

ideologia a favor do SL.

Na opinião dos participantes apresentada na tabela 16, o fator mais eficaz

para terem adotado sistemas operacionais baseados em software livre foi a

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expectativa de desempenho, que mede a utilidade ou vantagem percebida. O item

“perceber o SL como útil ou vantajoso” obteve as estatísticas mais expressivas:

média 3,5 e 4,0 de mediana, na escala de 1 a 4, menor desvio-padrão (0,6), menor

coeficiente de variação (17%) e com assimetria -1,03, onde a maioria respondeu

mais à direita na escala. Esse dado confirma o modelo de aceitação da tecnologia

(TAM), onde o construto de percepção de utilidade é o mais robusto e determinante

para a adoção de SI/TI. A condição de obrigatoriedade de uso, ao lado do item

recebimento de treinamento, foram os itens com menores médias, indicando sua

menor importância no processo de adoção, na visão dos participantes em geral.

Tabela 16: Fatores determinantes para maior utilização de SL

Fatores Média Mediana Desvio-padrão

CV

% Assimetria

Percebê-lo como útil ou vantajoso 3,53 4,0 0,61 17,17 -1,03

Não achar que é difícil utilizá-lo 3,01 3,0 0,90 30,00 -0,60

A pessoa gostar de usar computadores 2,98 3,0 0,91 30,54 -0,50

Possuir ideologia a favor do SL 2,88 3,0 1,02 35,42 -0,45

O fato de outros amigos já utilizarem SL 2,53 3,0 0,93 36,64 -0,16

A pessoa receber treinamento para utilizá-lo 2,46 2,0 1,04 42,36 0,03

Ser obrigatório seu uso no trabalho ou

universidade 2,07 2,0 1,02 49,32 0,48

Média 2,78 2,86 0,92 34,49 Escala varia de 1-Nenhuma importância; 2-Pouco importante; 3-Importante; 4- Extremamente importante CV=Coeficiente de variação

Para responder ao objetivo da pesquisa, foi realizado o cruzamento dos

fatores estimuladores da adoção de SL por sexo. Neste caso, fica visualmente

evidente, no gráfico 8 de Box plot, que as opiniões não são semelhantes entre

gêneros em três dos sete fatores.

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Gráfico 8: Fatores determinantes do uso de SL por sexo

Mas é preciso testar se estas diferenças de fato são estatisticamente

significantes. Neste caso, o teste de Mann-Whitney comprovou que três itens são

significativamente diferentes comparando as opiniões de homens e mulheres (tabela

17).

As mulheres disseram que valorizaram mais a influência dos amigos na

decisão de adoção de SO de código aberto, mostraram-se absolutamente mais

adeptas de que a ideologia tenha sido um fator determinante para que ela viesse a

adotar o SL e acreditaram que a facilidade de uso influenciou sua decisão pelo SO

de código aberto. Nos demais itens, independentemente do gênero, as opiniões são

equivalentes do ponto de vista estatístico. Os dados das diferenças na influência

social e na expectativa de esforço ratificam a literatura.

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Tabela 17: Fatores influenciadores do uso de SL por sexo

Fatores Sexo Média dos

postos

Mann-Whitney U

Sig. (bicaudal)

Não achar que é difícil utilizar SL Masculino 120,97 7150,500 0,053

Feminino 137,89

O fato de outros amigos já utilizarem SL Masculino 108,57 5476,500 0,000

Feminino 151,61

A pessoa receber treinamento para

utilizar SL

Masculino 125,76 7798,000 0,447

Feminino 132,58

Perceber o SL como útil ou vantajoso Masculino 134,56 7484,500 0,145

Feminino 122,85

A pessoa gostar de usar computadores Masculino 128,51 8169,000 0,907

Feminino 129,54

Possuir ideologia a favor do SL Masculino 117,06 6622,500 0,005

Feminino 142,22

Ser obrigatório utilizar SL no trabalho ou

universidade

Masculino 123,85 7540,000 0,221

Feminino 134,70

Uma outra exploração de dados foi feita no sentido de identificar se havia

diferenças entre gêneros, filtrando o banco de dados pelos respondentes com nível mais avançado de experiência com uso de sistemas de código aberto (ex.Linux),

ou seja, os que assinalaram 5 ou 6 na sua autoindicação de experiência

computacional subjetiva (ECS) em SL.

Neste caso, dois indicadores emergiram como fatores que mais impactavam

homens e mulheres mais experientes quanto ao uso avançado de SL (tabela 18): a

influência social e a percepção de utilidade.

O primeiro achado interessante é que as mulheres com maior nível de

experiência com SL acharam que o fato de possuir amigos que já utilizam SL ter sido

o mais determinante da diferença de opinião com relação aos homens. Dessa

maneira, o fator Influência Social (medida através do grau de influência do círculo de

amizade) foi o principal fator antecedente para a adoção de SL.

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Tabela 18: Fatores influenciadores do uso de SL entre usuários de SL mais experientes

Fatores Sexo Média dos

postos

Mann-Whitney

U

Sig. (bicaudal)

Não achar que é difícil utilizá-lo Masculino 35,37 546,000 0,247

Feminino 41,00

O fato de outros amigos já utilizarem Masculino 33,00 437,000 0,014 Feminino 44,89

A pessoa receber treinamento para utilizá-loMasculino 38,61 593,000 0,555

Feminino 35,68

Percebê-lo como útil ou vantajoso Masculino 41,15 476,000 0,022 Feminino 31,50

A pessoa gostar de usar computadores Masculino 38,75 586,500 0,498

Feminino 35,45

Possuir ideologia a favor do SL Masculino 36,25 586,500 0,506

Feminino 39,55

Ser obrigatório seu uso no trabalho ou universidade

Masculino 35,55 554,500 0,287

Feminino 40,70

Esta diferença relevante entre a condição de mulheres com experiência mais

avançada em SL acharem que a norma subjetiva é o fator mais importante para

usar SL vai de encontro com a suposição de que, quando as mulheres adquirem

mais experiência computacional, estas ficam menos sujeitas às influências das

normas subjetivas, defendida por Venkatesh et al (2003). No caso da nossa

pesquisa, a influência social permaneceu como relevante na escolha de adoção de

SO baseado em software livre na amostra de mulheres mais experientes.

O segundo achado é que os homens mais experientes em computação

sentiram-se mais influenciados do que as mulheres com respeito à percepção de

utilidade do SL, denotando uma visão mais utilitarista e “task oriented” na decisão

de escolha por um sistema operacional de código aberto do que as mulheres. Este

resultado corrobora as conclusões de Ong e Lai (2006) e de Minton e Schneider

(1980 apud YUEN; MA, 2002).

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O fator ideológico não apareceu como determinante para as mulheres mais

experientes no uso de SL, ao contrário do resultado mostrado na tabela 17 para as

mulheres com variados níveis de experiência.

Certamente, serão necessárias mais pesquisas para melhor entender estas

diferenças de opiniões e seus desdobramentos no campo profissional e na vida

pessoal.

4.6 Análise por modelagem de equações estruturais por estimação por mínimos quadrados parciais

A seguir, será apresentada a análise inferencial, o qual permitirá verificar os

relacionamentos entre os construtos e os fatores que influenciam a adoção do

software livre, testando as diferenças entre mulheres e homens. Nesta seção, é

apresentado o procedimento de verificação do poder estatístico, tamanho do efeito,

modelo de mensuração e modelo estrutural, finalizando com a análise das hipóteses.

4.6.1 Verificação do modelo de mensuração

Para atender aos objetivos da pesquisa, foi feita uma aplicação da

modelagem de equações estruturais com a técnica Partial Least Square (PLS).

Foram analisados o modelo de mensuração e o modelo estrutural a partir do banco

de dados importado do SPSS, que já não continham dados faltantes. Conforme

mencionado no tópico específico da metodologia, o PLS é uma técnica apropriada

para a presente pesquisa tendo em vista que ela não tem muitas assunções sobre a

população ou escala das medidas e se justa bem para a amostra.

Para a verificação do ajuste do modelo de mensuração, foi feita a preparação

dos dados para rodar o algoritmo no software SmartPLS (RINGLE, WENDE, WILL,

2005). Iniciou-se a análise verificando a validade convergente e discriminante, de

acordo o procedimento recomendado por Hair et al.(2005).

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Para análise da validade convergente, foram levadas em consideração as

cargas fatoriais dos indicadores (ou variável manifesta) em seus respectivos

construtos (ou variáveis latentes) que tivessem valores adequados.

Assim, procedeu-se na eliminação dos itens que não estavam contribuindo

com a dimensão/construto ou que estavam fora do padrão aceitável para este tipo

de análise. O construto expectativa de esforço apresentou um indicador não

adequado (carregamento do indicador abaixo de 0,60). Estes foram deletados do

modelo de mensuração, havendo a necessidade do modelo ser recalculado

repetidas vezes. Na última rodada, todas as cargas fatoriais ficaram acima de 0,70,

verificando-se a validade convergente do modelo de mensuração, conforme se

observa nas tabelas correspondentes, mais adiante, para cada amostra de mulheres

e homens. A tabela 19 apresenta resultados da variância média explicada (Average

Variance Extracted - AVE), da confiabilidade composta (Reliability Composite) de

cada construto, a variância explicada de cada construto (R2) e o alpha de Cronbach

dos dados de mulheres.

Tabela 19: Resultados do modelo de mensuração (amostra de homens)

Construto AVE Confiabilidade

composta R2 Alpha de Cronbach Comunalidade Redundância

ExpDesemp_M 0,774 0,932 0,559 0,902 0,774 0,417 ExpEsforco_M 0,656 0,884 0,161 0,824 0,656 0,105 Ideologia_M 1 1 0 1 1 0 InfSoc_M 1 1 0 1 1 0 CondFac_M 1 1 0 1 1 0 IntContinuar_M 0,912 0,954 0,595 0,903 0,912 0,039

Tabela 20: Resultados do modelo de mensuração (amostra de mulheres)

Construto AVE Confiabilidade

composta R2 Alpha de Cronbach Comunalidade Redundância

ExpDesemp_F 0,754 0,924 0,560 0,891 0,754 0,300 ExpEsforco_F 0,687 0,897 0,315 0,847 0,687 0,214 Ideologia_F 1 1 0 1 1 0 InfSoc_F 1 1 0 1 1 0 CondFac_F 1 1 0 1 1 0 IntContinuar_F 0,900 0,948 0,613 0,889 0,900 0,190

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Observa-se que todas as variáveis latentes (VL) apresentaram variância

média extraída (AVE) maior que 50%, indicando, portanto a existência de validade

convergente, uma vez que os índices atingiram os critérios de Chin (CHIN,1998

apud BIDO et al., 2010 ) e Hair. et al. (2005, p.507-508).

Em relação à confiabilidade, que indica a consistência das mensurações de

um conjunto de indicadores de construtos latentes (HAIR et al., 2005), sua avaliação

foi feita através do alpha de Crombach, por ser a medida mais comumente usada de

um conjunto de dois ou mais indicadores de construtos (HAIR et al., 2005), e da

análise da confiabilidade composta, por ser recomendada por Chin (CHIN,1998 apud

BIDO et al, 2010) para estudos que utilizam a MEE.

Ao ser avaliado o alfa de Cronbach dos construtos tanto da amostra feminina

quanto a masculina, observou-se que todos obtiveram índice maior que 0,7, estando

de acordo com Hair et al. (2005), devido os valores estarem acima de 0,80. Os

construtos Influência Social, Condições Facilitadoras e Ideologia, por terem restado

apenas um indicador, não tiveram sua confiabilidade calculada nos dois modelos de

mensuração.

Percebe-se, ainda, que os índices de confiabilidade compostas estão todos

acima ou próximos de 0,7, o que não contraria de todo o recomendado por

recomendado por Chin (apud BIDO et al, 2010).

Quanto à validade discriminante, um dos indicativos de que ela ocorre é o

fato dos indicadores possuírem cargas mais altas em suas variáveis latentes (VL) do

que em qualquer outra VL (CHIN,1998 apud BIDO et al, 2010). Constata-se, nas

tabelas 21 e 22, que há validade discriminante considerando este critério. Apenas

um indicador teve uma carga próxima, mas optou-se por deixar no modelo.

Tabela 21: Matriz de cargas cruzadas – amostra de homens

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ExpDesemp_M ExpEsforco_M Ideologia_M InfSoc_M CondFac_M IntContinuar_MCONDF1_SupTec 0,438 0,401 0,412 0,048 1 0,418 EOU1_FacInstal 0,561 0,748 0,173 0,191 0,313 0,478 EOU2_UtilFac 0,686 0,844 0,180 0,259 0,266 0,588 EOU3_FacAprend 0,541 0,842 0,185 0,243 0,318 0,431 EOU5_Conhec 0,583 0,803 0,139 0,259 0,403 0,522 IC1_ContUso 0,727 0,609 0,190 0,201 0,298 0,953 IC2_Continuar 0,712 0,593 0,402 0,186 0,497 0,957 IDEOL1_PolitLiberd 0,274 0,208 1 0,100 0,412 0,312 INF3_IncentChefe 0,313 0,295 0,100 1 0,048 0,202 PU1_AumProdut 0,894 0,720 0,230 0,278 0,400 0,719 PU2_MelhDesemp 0,910 0,657 0,201 0,261 0,362 0,648 PU3_TarefRapid 0,881 0,662 0,261 0,242 0,400 0,655 PU4_UtilTrab 0,832 0,540 0,279 0,326 0,381 0,622

Tabela 22: Matriz de cargas cruzadas – amostra de mulheres

ExpDesemp_M ExpEsforco_M Ideologia_M InfSoc_M CondFac_M IntContinuar_MCONDF1_SupTec 0,588 0,561 0,474 0,243 1 0,602

EOU1_FacInstal 0,536 0,737 0,276 0,288 0,388 0,361

EOU2_UtilFac 0,567 0,879 0,230 0,284 0,531 0,462

EOU3_FacAprend 0,525 0,875 0,259 0,259 0,565 0,407

EOU5_Conhec 0,516 0,817 0,154 0,264 0,351 0,399

IC1_ContUso 0,700 0,518 0,453 0,306 0,550 0,945

IC2_Continuar 0,686 0,421 0,650 0,321 0,591 0,953

IDEOL1_PolitLiberd 0,542 0,278 1 0,178 0,474 0,586

INF3_IncentChefe 0,412 0,329 0,178 1 0,243 0,331

PU1_AumProdut 0,905 0,544 0,494 0,332 0,496 0,644

PU2_MelhDesemp 0,891 0,539 0,450 0,326 0,436 0,662

PU3_TarefRapid 0,874 0,721 0,528 0,341 0,606 0,626

PU4_UtilTrab 0,799 0,406 0,396 0,448 0,496 0,602

Outro critério adotado para confirmação da validade discriminante é quando

a raiz quadrada da AVE for maior que as correlações entre as demais VL

(CHIN,1998 apud BIDO et al, 2010). Considerando essa definição, compararam-se

os valores da raiz quadrada da AVE de cada construto com o seu índice de

correlação com todos os construtos, conforme demonstrado nas Tabelas 23 e 24.

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Tabela 23: Matriz da variância média explicada (AVE) – amostra homens

ExpDesemp_M ExpEsforço_M Ideologia_M InfSoc_M CondFac_M IntContinuar_MExpDesemp_M 0,880 ExpEsforço_M 0,737 0,810 Ideologia_M 0,274 0,208 1 InfSoc_M 0,313 0,295 0,100 1 CondFac_M 0,438 0,401 0,412 0,048 1 IntContinuar_M 0,753 0,629 0,312 0,202 0,418 0,955

Tabela 24: Matriz da variância média explicada (AVE) – amostra mulheres

ExpDesemp_F ExpEsforco_F Ideologia_F InfSoc_F CondFac_F IntContinuar_FExpDesemp_F 0,868 ExpEsforco_F 0,647 0,829 Ideologia_F 0,542 0,278 1 InfSoc_F 0,412 0,329 0,178 1 CondFac_F 0,588 0,561 0,474 0,243 1 IntContinuar_F 0,730 0,493 0,586 0,331 0,602 0,949

Percebe-se, então, que ocorre a validade discriminante em ambas as

amostras, uma vez que as correlações entre as variáveis latentes são menores que

a raiz quadrada da AVE.

4.6.2 Avaliação do modelo estrutural

Verificamos os valores de R2, “que indicam o percentual da variância da

variável dependente que é explicado pelas variáveis independentes” (BIDO et al.,

2010), que podem ser visualizados nas figuras 8 e 9. Ambos os modelos obtiveram

índices de explicação da variância do construto Intenção de Continuar próximos de

60%, superior ao indicado por Venkatesh et al. (2003), para quem 40% seria o valor

normalmente encontrado para explicar a variância em modelos de intenção para o

uso de uma tecnologia específica.

No caso da amostra dos homens, os valores de R2 foram 0,60 para a

variável latente Intenção de Continuar, de 0,56 para Expectativa de Desempenho e

apenas 0,16 para a variável latente Expectativa de Esforço.

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Figura 8: Modelo de Mensuração dos dados da amostra dos homens

No caso da amostra de mulheres, a figura 9 mostra que os valores de R2

foram similares aos obtidos na amostra dos homens, os quais foram 0,60 para a

variável latente Intenção de Continuar, de 0,56 para Expectativa de Desempenho.

No entanto, identificamos uma diferença significativa na variável latente Expectativa de Esforço que obteve um valor de R2 de 0,36, bem acima ao calculado para os

homens.

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Figura 9: Modelo de Mensuração dos dados da amostra de mulheres

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No entanto, foi preciso verificar a significância estatística desses

relacionamentos e verificar a confirmação das hipóteses da pesquisa. Para obter

esta estimativa, utilizou-se a abordagem não paramétrica de reamostragem

bootstrapping, pois, de acordo com Hair et al. (2005), tem sido apoiada como uma

alternativa aos métodos clássicos de inferência paramétrica, conforme se

caracterizou no capítulo de Metodologia. Consideramos três valores críticos para t,

sendo os níveis de erro Tipo I, que indica o nível de probabilidade de rejeitar a

hipótese nula quando na verdade ela não é (HAIR et al., 2005), de 5%, de 1% e de

0,1%. Os resultados obtidos através da execução do algoritmo de bootstrapping

podem ser verificados na Tabela 25, para a amostra dos homens.

Tabela 25: Preditores da Intenção de continuar o uso de SL (homens)

Relacionamentos Amostra original Erro padrão Teste t Hipóteses

ExpDesemp_M -> IntContinuar_M 0,601 0,089 6,717**** Rejeita Ho

ExpEsforço_M -> ExpDesemp_M 0,711 0,041 17,176**** Rejeita Ho

ExpEsforço_M -> IntContinuar_M 0,158 0,101 1,554 Não rejeita Ho

Ideologia_M -> ExpDesemp_M 0,126 0,060 2,092** Rejeita Ho

Ideologia_M -> IntContinuar_M 0,097 0,058 1,670* Rejeita Ho

InfSoc_M -> IntContinuar_M -0,044 0,027 1,641* Rejeita Ho

CondFac_M -> ExpEsforço_M 0,401 0,060 6,657**** Rejeita Ho

CondFac_M -> IntContinuar_M 0,054 0,048 1,131 Não rejeita Ho Nota: *p<0,10, **p<0,05, ***p<0,01, ****p<0,001

Os resultados obtidos através da execução do algoritmo de bootstrapping

podem ser verificados na Tabela 26, para a amostra de mulheres.

Tabela 26: Preditores da Intenção de continuar o uso de SL (mulheres)

Relacionamentos Amostra original Erro padrão Teste t Hipóteses

ExpDesemp_F -> IntContinuar_F 0,467 0,086 5,422**** Rejeita Ho

ExpEsforço_F -> ExpDesemp_F 0,538 0,048 11,151**** Rejeita Ho

ExpEsforço_F -> IntContinuar_F -0,007 0,084 0,087 Não rejeita Ho

Ideologia_F -> ExpDesemp_F 0,392 0,055 7,100**** Rejeita Ho

Ideologia_F -> IntContinuar_F 0,225 0,080 2,807** Rejeita Ho

InfSoc_F -> IntContinuar_F 0,050 0,045 1,097 Não rejeita Ho

CondFac_F -> ExpEsforço_F 0,561 0,044 12,760**** Rejeita Ho

CondFac_F -> IntContinuar_F 0,213 0,060 3,547**** Rejeita Ho Nota: *p<0,10, **p<0,05, ***p<0,01, ****p<0,001

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Podemos verificar que o construto da UTAUT Expectativa de Desempenho

influencia positivamente na Intenção de Continuar a utilizar softwares livres, assim

como o construto Ideologia, em ambas as amostras. Neste caso,

independentemente do gênero, a percepção de utilidade do SL e o engajamento

político do usuário a favor do SL predispõem em grande medida para a continuidade

do uso de softwares livres, sendo que os homens relativamente são mais afetados

pela expectativa de desempenho que as mulheres, e em contrapartida, as mulheres

são mais impelidas pelo apelo ideológico da causa do SL do que eles.

Os resultados também evidenciam outras similaridades entre as duas

amostras. Para o relacionamento entre a expectativa de esforço e a expectativa de

desempenho, ambos os gêneros rejeitam a hipótese de que a facilidade de uso

venha a influenciar a intenção de continuar usuário de SL. Este achado pode ser

explicado pela disposição das pessoas em superar possíveis dificuldades na

utilização de SL. Dessa forma, há percepção de que as vantagens do SL são

maiores do que eventuais dificuldades na sua utilização.

Mas há algumas diferenças notáveis a destacar. A variável latente Influência

Social não foi confirmada como antecedente da intenção de continuar a utilizar o SL

entre as mulheres, ao contrário do que hipotetizamos. Mais estudos deverão ser

realizados, a fim de verificar este relacionamento em outros domínios de sistemas e

tecnologia e em particular para o universo de SL. Uma precaução para a conclusão

é que os itens originais desse construto não tiveram um coeficiente alfa satisfatório e

utilizamos apenas um item como variável proxy da influência social. Isso de certa

forma pode enfraquecer a inferência estatística.

Por fim, o item que mediu as condições facilitadoras, no que se refere à

disponibilidade de suporte técnico, não teve relacionamento estatisticamente

significante entre os homens, mas foi fortemente efetado pelas mulheres com

cãoação às mesmas desejarem continuar a utilizar os softwares livres.

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5. RESULTADOS DA ANÁLISE QUALITATIVA

Os dados analisados foram classificados em função dos tipos de conteúdo

relevantes para atender aos objetivos da pesquisa, mas salientamos que esta

análise é uma primeira aproximação de estudo do fenômeno da adoção do software

livre a partir de uma abordagem qualitativa. Sobre a mesma temática não foram

encontrados outros estudos anteriores à presente pesquisa, assim como também

não foram encontrados trabalhos nesta área que tivessem utilizado alguma

ferramenta CAQDAS, como o software Atlas.ti. Portanto, justifica-se uma análise

exploratória.

A amostra dessa pesquisa constituiu-se de 217 participantes. Para o

tratamento dos dados coletados, aplicou-se a Análise de Conteúdo de acordo com

os procedimentos indicados por Bardin (2009). Para ordenamento dos dados e

auxílio nas análises, foi utilizada a ferramenta de software ATLAS.ti 5.0, conforme

especificado na metodologia. As tabelas com dados quantitativos, gerados pela

análise qualitativa, foram confeccionadas com o auxílio de planilha eletrônica.

5.1 Sistemas operacionais baseados em softwares livres mais utilizados

Nesta seção, são apresentados os resultados sobre as distribuições mais

utilizadas pelos participantes, advindos da análise da questão aberta “Quais(is)

sistema(s) operacional(is) de código aberto e livre você utiliza no Computador?”.

Antes de tudo, convém definir o termo Distribuição. Para Campos (2006), é um

sistema operacional (SO) Unix-like, incluindo o kernel Linux e outros softwares de

aplicação, formando um conjunto. Distribuições (ou “distros”) mantidas por

organizações comerciais, como a Red Hat, Ubuntu, SUSE e Mandriva, bem como

projetos comunitários como Debian e Gentoo, montam e testam seus conjuntos de

software antes de disponibilizá-los ao público.

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A maior parte dos softwares incluídos em distribuições são livres, assim,

qualquer organização ou indivíduo suficientemente motivado pode criar e

disponibilizar (comercialmente ou não) a sua própria distribuição. Isso faz com que

hoje haja registro de mais de 300 distribuições ativamente mantidas, embora menos

de 20 delas sejam largamente conhecidas (CAMPOS, 2006).

A tabela 26 elucida os aplicativos mais utilizados usuários de SL da pesquisa.

Optamos por listar as SO livres classificadas por ordem alfabética para facilitar a

localização porque é muito diversificado e variado o universo das distribuições.

DISTRIBUIÇÕES Quantidade de

ocorrência % ARCH LINUX 7 2,66% BIG LINUX 1 0,38% BSD 1 0,38% CENTOS 6 2,28% DEBIAN 27 10,27% Eeebuntu 1 11,11% EPIDEMIC LINUX 1 0,38% FEDORA 14 5,32% FREEBSD 5 1,90% GENTOO 3 1,14% GNOME 8 3,04% GNU/kFreeBSD 1 0,38% KUBUNTU 6 2,28% KURUMIN 3 1,14% LINUX 52 19,77% LINUX MINT 4 1,52% MANDRIVA/MANDRAKE 13 4,94% OPENBSD 2 0,76% OPENSUSE 6 2,28% PANDORGA 1 11,11% PCLinuxOS 1 0,38% SLACKWARE 9 3,42% TUQUITO 1 11,11% UBUNTU 92 34,98% Ubuntu 10.10 Maverick 1 11,11% XUBUNTU 1 0,38% TOTAL 263 100,00%

Tabela 27: Distribuições de SL mais citados

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Como observa-se na tabela 26, em meio a imensa diversidade de opções de

SO baseadas em código aberto, destaca-se a distribuição o Ubuntu, com a maior

freqüência de ocorrência tanto por homens quanto por mulheres, com um total de 92

referências.

Na análise comparada, as mulheres citaram mais vezes o Ubuntu do que os

homens (52 referências feitas pelas mulheres contra 40 dos homens). Uma possível

explicação é que o ubuntu (SL construído em volta do núcleo GNU/Linux) é

considerado no mercado especializado como sendo o sistema mais popular devido a

sua facilidade de uso, a existência de um assistente de migração para usuários do

Windows e o suporte para as tecnologias mais recentes. Além disso, o ubuntu é

oferecido com diversos programas pré-instalados que atendem às funcionalidades

básicas, com interface prática e suporte oferecido pela comunidade. A literatura

técnica em vários sites pesquisados apresenta-o como um software de qualidade,

indicado para ser usado principalmente por iniciantes no SL. Tecnicamente, o

sistema não tem um suporte adequado para softwares e ferramentas mais

avançadas. Desta forma, por seus atributos de simplicidade, funcionalidade prática e

de facilidade de uso, o Ubuntu configura-se como SO mais apreciado pelas

mulheres.

O segundo sistema mais citado é o Linux, com 52 referências. Esse sistema

operacional foi o primeiro software livre desenvolvido no mundo, por Linus Torvalds,

tendo estimulado o desenvolvimento de outras distribuições. Do ponto de vista

técnico, o linux é conhecido pela sua estabilidade, robustez, e suporte a softwares e

ferramentas mais avançadas. Sua difusão é maior em computadores de grande

porte e usuários intermediários e avançados. A evolução da comunidade de

desenvolvedores e a propagação do movimento do SL fizeram com que várias

versões do linux fossem rapidamente lançadas.

Submetendo uma análise de acordo com o fator gênero, verificou-se que os

homens fizeram uma maior referência a esse sistema do que as mulheres, 38

homens utilizam o linux como seu sistema padrão, enquanto que 14 mulheres fazem

o uso do sistema. Um dos motivos que poderia justifica esse fato é que os homens

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estão há mais tempo em contato com esse sistema, inclusive foram eles que mais

impulsionaram o movimento do SL, desenvolvendo e aprimorando o software.

Portanto, têm um conhecimento mais avançado do SL do que as mulheres, o que

leva-os a adotarem versões mais avançadas de SO livre.

O terceiro SO livre mais citado pela amostra da pesquisa é o Debian, o qual é

utilizado por 27 respondentes. Com relação a esse sistema, existe um certo

equilíbrio entre homens e mulheres, 15 homens o utilizam e 12 mulheres também

fazem o uso do mesmo. O Debian é um sistema operacional livre que usa o kernel

como núcleo central, vem com vários softwares instalados e pré-compilados em um

bom formato. Segundo a publicação técnica consultada, essa distribuição utiliza

todos os componentes de código aberto, mas em contrapartida apresenta problemas

de compatibilidade com programas de código proprietário. Geralmente, a adoção do

Debian é mais adequada para usuários que já tenham experiência com linux.

Com 14 frequências de ocorrência, o Fedora é o quarto sistema mais

utilizado pelos respondentes, tanto homens, quanto mulheres usam esse sistema

quase que na mesma proporção, nove homens e duas mulheres utilizam o sistema.

O Fedora também é um sistema operacional que contém o kernel do Linux como

núcleo central. Uma das principais características desse sistema é a segurança, o

qual tem recursos de segurança modernos e avançados.

A quinta distribuição mais utilizada é o Mandriva, onde 13 respondentes o

utilizam. Os homens utilizam mais esse software do que as mulheres, apresentando

10 usuários contra apenas três usuárias. O mandriva também é um sistema

operacional livre que antes era conhecido por Mandrake. A empresa francesa

Mandriva se dedica à distribuição e suporte do sistema operacional Mandriva Linux,

o qual contém softwares atualizados e de última geração e foi o primeiro SL com

disponibilidade para instalação em netbooks.

Esse sistema atende tanto a usuários iniciantes como avançados, com uma

funcionalidade de customização, ou seja, se adequa ao nível do usuário, que o torna

mais versátil em termos de configuração. O motivo responsável pela disparidade

entre homens e mulheres talvez possa ser atribuído pela necessidade de

configuração, diminuindo a praticidade, atributo mais valorizado pelas mulheres.

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A sexta distribuição mais utilizada é o Slackware, com nove usuários. A

relação entre homens e mulheres apresenta um equilíbrio, cinco homens o utilizam e

quatro mulheres também. O Slackware é uma das mais conhecidas e mais antigas

distribuições do GNU/Linux, a qual contém um padrão de estabilidade, usabilidade,

personalização mais avançada, é considerada também uma distribuição de nível

acadêmico, geralmente é utilizada por usuários mais avançados que detém certo

conhecimento de linux.

Apresentando oito usuários, o Gnome é a sétima distribuição mais usada. Os

homens, sendo representados seis usuários, utilizam mais o Gnome do que as

mulheres, com apenas duas usuárias. O Gnome também faz parte do projeto

GNU/Linux, e conta com ferramentas, aplicativos e componentes disponível, tanto

para usuários como para desenvolvedores. Pode-se dizer que o Gnome é um SO

acessível, simples e de fácil utilização.

A oitava distribuição mais utilizada é o Arch Linux, com sete usuários, dentre

eles cinco homens e duas mulheres. O Arch Linux também é uma das distribuições

do linux, a qual tem um grande valor agregado, pelo fato das suas atualizações

contínuas, existe um gerenciador de pacotes que facilita a tarefa dos usuários na

atualização de programas e aplicativos. Assim como o Linux, ele é indicado para

usuários experientes que tenham facilidade e interesse em otimizar seus sistemas,

justificando talvez a adesão maior por parte dos homens.

Em nono lugar, aparecem três distribuições, ambas com seis usuários: o

Kubuntu, o Centos e o OpenSuse. O Kubuntu, apresenta uma maior freqüência de

utilização por parte das mulheres, existem quatro usuárias contra dois usuários, esse

sistema é um projeto derivado do Ubuntu os quais mantém como base, a facilidade

de uso, qualquer pessoa pode utilizá-lo, sem dificuldades, independente de

nacionalidade, nível de conhecimento ou limitações físicas, a facilidade de uso mais

uma vez impulsiona as mulheres a utilizar esse sistema. O Centos é uma

distribuição do linux direcionada para no ambiente empresarial. Com relação a esse

sistema, os homens o utilizam mais do que as mulheres, cinco homens são usuários

contra apenas um mulher, isso pode ser justificado pelo interesse na área

empresarial por parte dos homens. O Open Suse também é um software de código

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aberto de qualidade, destinado a usuários intermediários, que tenham um nível

médio de conhecimento em SL. Nesse caso, os homens também são mais adeptos,

pois cinco homens são usuários do Open Suse contra apenas uma mulher.

A décima distribuição mais utilizada é o FreeBsd, o qual obtém cinco

usuários, sendo todos eles homens. O FreeBsd é um sistema operacional livre do

projeto GNU/Linux, o qual fornece compatibilidade binária com outras variações do

Unix, é um sistema mais estável, robusto e também mais avançado disponível para

servidores e computadores modernos.

Evidenciando ainda mais a diferença de gênero, a tabela 27 apresenta as

distribuições mais citadas pelas mulheres e homens, respectivamente.

DISTRIBUIÇÕES (mulheres)

Ocorrên-cias %

DISTRIBUIÇÕES (homens)

Quant. de ocorrências %

UBUNTU 52 49,06% UBUNTU 40 24,84% LINUX 14 13,21% LINUX 38 23,60% DEBIAN 12 11,32% DEBIAN 15 9,32% FEDORA 5 4,72% MANDRIVA/MANDRAKE 10 6,21% KUBUNTU 4 3,77% FEDORA 9 5,59% SLACKWARE 4 3,77% GNOME 6 3,73% MANDRIVA 3 2,83% ARCH Linux 5 3,11% ARCH Linux 2 1,89% FREEBSD 5 3,11% GNOME 2 1,89% OPENSUSE 5 3,11% OPEN SUSE 1 0,94% SLACKWARE 5 3,11% CENTOS 1 0,94% CENTOS 5 3,11% Eeebuntu 1 0,94% GENTOO 3 1,86% KURUMIN 1 0,94% LINUX MINT 3 1,86% PANDORGA 1 0,94% KUBUNTU 2 1,24% LINUX MINT 1 0,94% KURUMIN 2 1,24% TUQUITO 1 0,94% OPENBSD 2 1,24% Ubuntu 10.10 Maverick 1 0,94% BIG LINUX 1 0,62%

TOTAL 106 100,00% BSD 1 0,62% Epidemic Linux 1 0,62% GNU/kFreeBSD 1 0,62% PCLinuxOS 1 0,62% XUBUNTU 1 0,62%

TOTAL 161 100,00%

Tabela 28: Distribuições de SL citadas por mulheres e homens

Verifica-se que os homens fazem referências a mais distribuições que não

são citadas pelas mulheres, tais como: Big Linux, BSD, GNU/kFreeBSD, OPENBSD,

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PCLinuxOS, Gentoo FREEBSD e OPENBSD, que é multiplataforma, do tipo UNIX,

baseado na segurança pró-ativa e criptografia integrada, sendo destinado mais

comumente à servidores.

Ainda observando a tabela 27, as mulheres fizeram referência a três SL,

ambos não foram mencionados pelos homens e aparecem com uma freqüência de

utilização, o Pandorga, uma distribuição educacional do linux, desenvolvida para

crianças, pré-adolescentes e escolas de ensino infantil e fundamental; o EeeUbuntu,

também conhecido por EasyPeasy, uma versão do ubuntu direcionada para

netbooks; e o Tuquito, o qual é uma distribuição que contém uma interface gráfica

atrativa e pode ser facilmente configurado por usuários.

De uma forma geral, dentro do universo das diversas distribuições do SL, os

homens conhecem mais versões de SL do que as mulheres, sendo que essas

distribuições são as mais avançadas, exceto o Ubuntu. Desta forma, como os SO

livres mais avançados tem maior utilização por parte dos homens, a intervenção do

fator expectativa de desempenho na decisão masculina de adoção de um sistema

operacional livre é mais pronunciada.

Ao mesmo tempo, confirmam-se as expectativas teóricas, as mulheres

tendem a adotar um sistema operacional livre que tenha um nível de dificuldade

menor e uma maior facilidade de uso, expressa no fator expectativa de esforço.

5.2 Fatores de atratividade de mulheres para a comunidade de SL

A realização da análise dos fatores que dificultam a difusão e adoção do SL

no universo feminino foi feita sob as perspectivas apresentadas na seção 3.2 do

relatório. Foram lidos os textos correspondentes a cada um dos participantes e,

utilizando o Atlas ti, analisamos e interpretamos gradativa e recursivamente o seu

conteúdo.

As categorias utilizadas nesta análise são trazidas do referencial teórico

baseadas nos modelos que são o arcabouço do estudo, mas também

complementada por uma codificação aberta de informações observadas na coleta de

dados. (STRAUSS; CORBIN, 2008). Os pilares da categorização teórica do

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protocolo prévio são os quatro construtos da UTAUT (DESEMP, ESFOR, INFSOC,

CONDFAC) e o nosso construto ENGAJ relacionado com o engajamento político

e/ou ideológico relacionado com a adoção de SL. Para facilitar a apresentação,

nomeamos as categorias em dois grupos: codificação teórica e aberta e codificação axial.

Após a varredura de todos os textos das respostas dessa questão a

verificação da associação e links com apoio do Atlas ti, chegou-se à lista completa

dos códigos derivados da análise temática (Tabela 29), no total de 38 códigos e 227

ocorrências. Cabe informar que o ‘primary doc’ 5 é a coluna das mulheres e o

‘primary doc’ 6 , contendo a totalização de ocorrências de acordo com o sexo.

Tabela 29: Códigos gerados da atratividade de mulheres para o SL

Agilidade 1 0Aproveitamento do te 1 0Capacitação 13 4Causar boa impressão 0 1Compatibilidade dos 0 2Condições facilitado 3 3Conscientização sobr 3 4Debate na sociedade 1 0Desempenho 0 1Divulgação/Populariz 20 18Economicidade 0 1Educação dos pais 2 2Eficácia 1 2Eficiência 1 0Erradicar o windows 1 0Expectativa de Desem 0 0Expectativa de esfor 1 0Experimentabilidade 1 1Facilidade 4 2Ideologia 9 8Influência social 1 5Iniciativas de ONGs 1 1 Institucionalização 7 1Interesse 4 12Interesse pela Ciênc 0 2Marketing feminino 0 3Mulheres na tecnolog 8 8Não ideologização 6 3Paciência 0 1Paradigma 6 7Personalização 0 1Praticidade 1 1

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Remuneração 1 2Sistema de ensino 4 3Usabilidade 10 8Uso nas lan-houses 0 1Versatilidade 0 1Versões mais fáceis 4 4

A seguir, detalharemos os principais achados e seus desdobramentos.

5.2.1 Expectativa de desempenho

Este fator avalia a percepção que os indivíduos possuem de que utilizando SL terão como conseqüência benefícios ou vantagens. É composto pela utilidade percebida, motivação extrínseca, adaptação ao trabalho, vantagem relativa e expectativas de resultado. Para esse fator, que investiga o esforço dispendido pelo indivíduo na adoção de um SL, foram gerados 10 códigos e 19 citações, conforme a figura 10..

Figura 10: Expectativa de desempenho como fator de atratividade para o SL

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Comparativamente às alternativas existentes de soluções proprietárias, os

sistemas e aplicações FLOSS têm várias maneiras de ajudar os usuários no

desempenho do trabalho. O custo praticamente zero ou com preços acessíveis

tornou possível a aquisição de licenças de uso de variados softwares livres de

qualidade. A economia de custo torna-se, assim, um grande diferencial desse

sistema.

Os benefícios que podem ser auferidos na adoção de sistemas baseados em

SL são que fornecem um ambiente de TI menos sujeitos às limitações de sistemas

proprietários, utilizam melhor os recursos, promovem integração e flexibilidade e

transparência no acesso aos dados (CHAU; TAM, 1997).

Gwebu e Wang (2011, p. 222 ) assim defendem a utilidade potencial do SL:

“A flexibilidade do acesso livre ao código-fonte fornece aos usuários

tecnicamente qualificados a oportunidade de auditoria e/ou personalização

do software para atender aos requisitos de segurança e adequar às

funcionalidades específicas de seu trabalho”.

Uma outra característica marcante que é considerada vantajosa no SL é a

sua robustez , pelo fato de seu desenvolvimento ser feito pelos próprios usuários

isso garante boa qualidade, estabilidade e segurança do software, ou seja, o

conhecimento explícito pode ser facilmente distribuído o que impulsiona a difusão do

conhecimento.

Raymond (1998), em seu artigo que foi um divisor de águas no mundo do SL,

compara o modelo de desenvolvimento do software livre a um produto de bazar, o

qual é caracterizado por contribuições conjuntas de diversas pessoas. O método do

bazar é desenvolvido em um ambiente dinâmico, com intenso uso de ferramentas

colaborativas na internet, o líder do projeto não distribui tarefas e a dependência do

projeto com relação a ele é menor.

Já o modelo de software proprietário seria como a construção de uma

catedral. Este método baseia-se na concepção tradicional de desenvolvimento de

software, com um grande projeto mantido apenas por especialistas. Tem como

características ter uma forma controlada e centralizada de ser desenvolver software

e necessita de um ‘arquiteto’ central.

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Saleh (2004) a independência de tecnologia proprietária ou de fornecedor

único não foi citada na amostra. Ao lado das vantagens, também explanaram as

desvantagens, tais como: a dificuldade de uso, instalação e configuração do

software livre. Isso acontece porque os desenvolvedores do software são

programadores voluntários engajados no projeto de software livre, que têm um nível

de conhecimento muito acima da média de usuários comuns, e desenvolvem

ferramentas para o seu próprio uso, muitas vezes para atender uma necessidade

específica e pessoal, no entanto inexiste uma especificação formal sendo a ênfase

na funcionalidade do sistema.

Os critérios de facilidade de configuração e instalação são definidos pelos

programadores, tornando mais difícil a instalação por usuários experientes. Segundo

Hexsel (2002), esse fato está mudando à medida que os usuários menos

experientes têm procurado utilizar estes aplicativos e contribuído com solicitações de

funcionalidades de instalação e configuração que para eles são interessantes.

Os benefícios pessoais e tecnológicos gerados pelo software livre

compensam os custos gerados por seu estudo, implantação e treinamento. Os

respondentes perceberam tal fato e citaram que a contribuição conjunta do software

livre agrega mais valor ao sistema e tende a ser mais vantajosa do que um software

que é desenvolvido por apenas alguns programadores

5.2.2 Expectativa de esforço

Foi feita uma análise recursiva dos dados, buscando descobrir e validar as

categorias e seus interrelacionamentos, de acordo com o que já conhecíamos da

literatura sobre esse construto. Para esse fator, que investiga o esforço dispendido

pelo indivíduo na adoção de um SL, foram gerados sete códigos e 31 citações, como

vemos na figura 11.

Esse fator está relacionado com o construto ‘percepção de facilidade de uso’

dos modelos de aceitação da tecnologia de Davis - TAM e TAM2 e foi aqui definido

como a extensão do esforço despendido para adotar o software livre. Muitos

softwares livres são distribuídos mesmo possuindo um estágio de desenvolvimento

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pré-alfa, alfa e beta e, algumas vezes, ainda não totalmente testado. Tais aplicações

tendem a ser instáveis e não possuir um design intuitivo e usabilidade avançada.

Assim, é natural esperar que a instalação de tais SLs demande do usuário algumas

dificuldades que acarretem um esforço cognitivo maior.

Figura 11: Expectativa de Esforço como fator de atratividade para o SL

Segundo Gwebua e Wanglow (2011), nas instalações mais complicadas, os

usuários de sistemas operacionais baseados em SL necessitam ter um know-how

técnico mais avançado para poder baixar, compilar, configurar e/ou instalar o

software antes de usar.

Do ponto de vista tecnológico, ainda existe um outro aspecto que influencia

esta percepção de esforço. São os freqüentes lançamentos de patches e versões do

software que podem sobrecarregar alguns usuários. A manutenção de aplicações de

SL pode também ser difícil.

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No caso do SL, ainda há outros dois aspectos a considerar: menor

disponibilidade de treinamento e falta de suporte técnico local, logo, os usuários têm

que aprender a manuseá-lo através de interfaces e funcionalidades muitas vezes

desconhecidas, solucionar problemas quando necessário, além de obter suporte e

documentação por si mesmos.

Tendo em vista os desafios que são colocados para o usuário de SL, a

hipótese é a de que quanto mais fácil os usuários percebam que é usar uma

aplicação de SL, mais provável será a adoção da aplicação.

5.3 Fatores influenciadores da não adoção exclusiva de SL

Esta seção descreve a análise da questão “Você utiliza o software livre no seu

cotidiano? Em casa ou no trabalho? Sua máquina possui 'dual boot'? Por quê?” Esta

indagação busca entender como homens e mulheres internalizam a adoção de SL

na sua integralidade.

A adoção pode ser entendida como a decisão de usar uma inovação que se

tornou conhecida por meio de um processo de difusão. Existem vários fatores que

influenciam a decisão de adoção de uma inovação (HUMES, 2004). A decisão de

uso do SL é uma questão de escolha da parte do adotante, a qual é composta por

uma série de outras decisões consecutivas que irão inferir como será o

desenvolvimento do processo de adoção do SL.

Os respondentes relataram a maneira como se utilizam de SL no seu

cotidiano. Observamos e classificamos dois tipos de usuários de SL:

Usuários exclusivos, aqui definidos como aqueles que utilizam total e

exclusivamente o SL no seu cotidiano, seja em casa ou no trabalho, ou seja, são

indivíduos que não possuem softwares proprietários instalados no seu computador;

Usuários não-exclusivos, consistindo de usuários que possuem outros

softwares proprietários instalados no computador, seja por meio do sistema dual

boot, o qual permite a escolha de um entre vários sistemas operacionais instalados

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num mesmo computador, ou através da virtualização, desta maneira, por motivos

específicos, não utilizam apenas o software livre no seu cotidiano.

Dentre a amostra de 162 questionários validados, 51 respondentes foram

considerados usuários exclusivos de SL, enquanto que 102 foram classificados

como usuários não-exclusivos de SL e nove usuários apresentaram respostas

incompletas ou não responderam à questão, não sendo possível classificá-los.

Verificou-se, ainda, que os homens são mais propensos a adotar

integralmente o SL, 32 deles são usuários exclusivos do SL, enquanto que apenas

19 mulheres são usuárias exclusivas. Como conseqüência, o número de mulheres

usuárias não-exclusivas é maior do que os homens, isto é, 55 mulheres são usuárias

não-exclusivas, contra 47 usuários não-exclusivos. Este dado parece indicar uma

maior ponderação por parte das mulheres no processo de adoção integral do SL.

O número de usuários não-exclusivos representa o dobro do número de

usuários exclusivos. Esse resultado indica que, na amostra de usuários de software

livre da pesquisa, a maioria utiliza o SL em paralelo com aplicativos, programas ou

sistemas operacionais proprietários. Tendo em vista este dado, procuramos levantar

de forma qualitativa os motivos que podem justificar essa ocorrência. Dos 102

usuários não-exclusivos, foram excluídos 26 participantes dessa análise, por não ter

sido possível identificar claramente as suas motivações ou por conter uma resposta

incompleta.

Através da análise de conteúdo, foram categorizadas as razões apresentadas

pelos 76 usuários não-exclusivos de SL que justificaram adequadamente sua

escolha de não adoção integral do SL no cotidiano (Tabela 30). Ao lado de cada

temática codificada, associamos um fator pertencente ao modelo teórico da

pesquisa. Como pode ser observado, o motivo mais citado pelos usuários foi o fato

de que o ambiente em que eles estão inseridos seja o trabalho ou a faculdade só

usarem software proprietário e isso acaba bloqueando o uso exclusivo do SL no

cotidiano, com 14 das 76 citações. São fatores relacionados com condições externas

ao indivíduo, fora do seu controle comportamental que impulsionam à adesão

obrigatória de software proprietário.

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Tabela 30: Motivos que levam os usuários a não adotarem integralmente o SL

Fatores UTAUT Razões alegadas por homens e mulheres Contagem Homens Mulheres Total

CONDFAC Faculdade/trabalho usa software proprietário observada 9 5 14 esperada 7,7 6,3 14,0DESEMP Falta de compatibilidade de programas

proprietários no SL observada 7 2 9

esperada 5,0 4,0 9,0 INFSOC Outras pessoas usam o PC observada 4 5 9 esperada 5,0 4,0 9,0 DESEMP Desejar conhecer o funcionamento de outros

sistemas e ferramentas observada 4 5 9

esperada 5,0 4,0 9,0 DESEMP Outros programas têm melhor desempenho no

software proprietário observada 5 2 7

esperada 3,9 3,1 7,0 DESEMP Oferta de jogos para SL observada 6 1 7 esperada 3,9 3,1 7,0 DESEMP Programas específicos que não têm no SL observada 1 6 7 esperada 3,9 3,1 7,0 CONDFAC O computador já veio instalado com outro sistema observada 2 3 5 esperada 2,8 2,2 5,0 ESFOR O usuário ainda está aprendendo a usar o SL,

estando num processo de transição observada 2 2 4

esperada 2,2 1,8 4,0 ESFOR Dificuldade no uso de alguns programas do

SL observada 0 3 3

esperada 1,7 1,3 3,0 DESEMP Outros softwares proporcionarem uma melhor

segurança nos dados observada 1 0 1

esperada 0,6 0,4 1,0 CONDFAC O usuário desenvolve em outros softwares observada 1 0 1 esperada 0,6 0,4 1,0 Total observada 42 34 76

esperada 42,0 34,0 76,0Legenda: CONDFAC = Condições facilitadoras; ESFOR = Expectativa de esforço; DESEMP = Expectativa de desempenho; INFSOL = influência social

O segundo motivo se divide igualmente entre três razões, com nove citações

cada um: i) a questão da compatibilidade de alguns programas ou aplicativos

proprietários no SL, uma importante barreira a ser quebrada pela comunidade do SL;

ii) outras pessoas utilizam o computador desses usuários e elas têm dificuldades ou

não estão adaptadas com o SL, por isso é preciso que o software proprietário esteja

instalado no computador; e iii) curiosidade de testar e conhecer outras ferramentas

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que não são baseadas em software livre, muitas vezes intimamente ligado com a

profissão ou linha de pesquisa do usuário.

Em terceiro lugar, com sete citações dos usuários, também aparecem

empatados três motivos, os quais são: i) o fato de que alguns programas do SL têm

um desempenho melhor no software proprietário, que se explica pela exigência de

qualidade do software, seja no software livre, ou proprietário; ii); o uso de jogos que

não estão disponíveis para SL; e iii) o uso de programas específicos que não são

encontrados ainda no SL.

O quarto motivo mais citado foi o fato de que, no computador desses

usuários, já veio instalado o software proprietário, então eles têm receio da máquina

apresentar problemas devido à exclusão desse software. O quinto motivo mais

citado está relacionado ao processo de transição em que esses usuários se

encontram, eles ainda estão aprendendo a usar o SL e por isso não conseguem

deixar de utilizar o software proprietário. Em ambos fatores, no processo de adoção

do SL esbarra-se no estabelecimento de uma dependência de padrões proprietários

ou de baixa compatibilidade com os de outros fornecedores existentes no mercado

gerando o aprisionamento tecnológico (SANTOS, 2002), uma estratégia de manter o

usuário dependente de um determinado sistema ou programa, ocasionando um alto

custo de mudança.

Uma segunda análise feita neste quesito consistiu em segmentar os usuários

a partir do gênero a fim de investigar se havia diferenças de opiniões, conforme o

cruzamento das variáveis sexo e motivadores. De fato, homens e mulheres

apresentando heterogeneidade de motivos que fazem com que não utilizem apenas

o SL, no seu cotidiano. A tabela 30 mostra os motivos citados pelas mulheres e

homens, respectivamente, confrontando a contagem das motivações por valores

observados e esperados.

São basicamente três maiores divergências de opinião entre homens e

mulheres. No caso das mulheres, dois motivos se sobressaem em relação aos

homens: o primeiro é o uso de programas específicos não existentes em SL (a

maioria alegando que há poucos programas de edição de imagens e vídeos em SL),

enquanto que essa motivação é citada por apenas um homem. O segundo motivo

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citado somente por mulheres é a dificuldade de utilizar alguns programas ou

aplicativos do software livre, fazendo com que elas utilizem aplicativos do software

proprietário que tenham uma maior facilidade de uso. Este dado corrobora com os

achados de Venkatesh et. al (2003).

Do lado masculino, a diferença mais expressiva é que eles citaram o fato de

que não existir grande oferta de jogos para SL, de forma que este item foi de grande

relevância para os homens, mas não para as mulheres. Embora necessitemos de

mais evidências empíricas, sobre este resultado pode-se inferir que os homens se

opõem a adotar integralmente o SL por razões mais hedonistas (jogos) e as

mulheres por razões mais utilitaristas e cognitivas.

O gráfico 9 ilustra as diferenciações das opiniões dos respondentes, com

relação aos aspectos que mais consideram quando optam por utilizar ambos

softwares livres e proprietários.

Gráfico 9: Motivadores de não adoção de SL segmentado por sexo

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Por fim, procedemos essa análise por fatores da UTAUT, atribuindo para cada

motivador de não adoção de SL exclusivo um construto que mais se relacione com

aquele. O gráfico 10 mostra o resultado dessa análise.

Gráfico 10: Fatores influenciadores da não adoção de SL exclusivo

O fator expectativa de desempenho é responsável por 52,6% das razões

citadas pela não adoção de SL de modo integral. Os resultados vêm a comprovar a

literatura, onde o antecedente mais robusto da adoção real de um SI é o construto

expectativa de desempenho.

O segundo fator mais impactante para essa não adoção exclusiva de SL, com

26,3% da distribuição, são as condições facilitadoras, neste caso, barreiras que

impedem ou dificultam a plena adoção do SL. Na sequência, os outros itens se

dividem praticamente da mesma forma entre o construto influência social, com

11,8% das menções e expectativa de esforço, com apenas 9,2% das indicações.

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6. CONCLUSÕES DO ESTUDO

Os objetivos do estudo puderam ser alcançados, tanto empregando técnicas

quantitativas como qualitativas na análise dos dados. Os fatores teóricos como

expectativa de desempenho, expectativa de esforço, influência social e condições

facilitadoras foram importantes preditivos da intenção de continuar a utilizar

softwares livres e sistemas abertos, embora não indistintamente impactando homens

e mulheres.

A inclusão de um construto novo no modelo teórico de adoção de TI,

relacionado com o engajamento político e ideológico, também se mostrou relevante

e apto a futuros avanços rumo a uma nova teorização. No universo do SL, este valor

pessoal de defesa das liberdades foi observado e realçado nas falas femininas.

Podemos pensar em desdobramentos para diversos campos do saber e do agir

político-social, reforçando a importância da difusão do movimento pelo software livre

entre as mulheres.

No caso da pesquisa quantitativa, pudemos observar que há algumas

diferenças com relação ao comportamento de adoção e de intenção de continuidade

de uso de SL entre homens e mulheres. A análise do conteúdo das respostas

permitiu a identificação de um conjunto de fatores representativos dos elementos

que afetam a adoção de uma tecnologia de informação.

O Atlas.ti foi uma ferramenta de muita valia para esta pesquisa, tendo

permitido confirmar os múltiplos fatores visualizados pelos participantes como

influenciadores da adoção de SL. Foi possível estabelecer-se um quadro de análise

sobre o conjunto de relações e percepções envolvidas na adoção de SL, que se

mostram significativas no que concerne ao modo como homens e mulheres se

posicionam diferentemente com relação à essa adoção.

A análise descortina uma série de possibilidades para o estudo dos

fenômenos que envolvem adoção de TI, de modo a se promover uma maior

integração entre as diferentes áreas científicas interessadas na investigação dos

fenômenos sociais e, particularmente, das questões relativas à gênero. Os

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questionamentos poderão guiar os estudos futuros. Será que as diferenças de

gênero apontadas na literatura não se devem ao papel dados às mulheres no

contexto mais machista da TI? Será que as mulheres mais jovens, já terão mais

expectativa de esforço no uso da TI, na atualidade? Qual o nível percebido de auto-

eficácia das mulheres em relação aos homens? São questões que são importantes

de ser pesquisadas, pois interferem na capacidade de assimilação de novas

tecnologias no ambiente profissional, os quais podem determinar um maior sucesso

e condições de competitividade no mercado de trabalho para as mulheres.

A interpretação sugere a necessidade de se construir uma agenda de

pesquisas relativas à questão das resistências humanas à adoção de novas

tecnologias, colocando a questão das diferenças entre gênero, seja no âmbito

individual, organizacional quanto no contexto macrossocial.

Com base no que foi exposto, verifica-se que a revisão da literatura confirma

que homens e mulheres possuem comportamentos diferentes diante de um sistema

de informação. Entretanto, estas diferenças de comportamento nem sempre são as

mesmas, variando de uma pesquisa para outra. Além disso, ainda não há um

consenso se as diferenças de gênero são provenientes da formação biológica ou de

influências sociais.

As linhas que definem o comportamento masculino e feminino são difíceis de

ser demarcadas, pois é complicado separar o que pode ser biológico e o que pode

ser fruto da herança cultural, a qual pode criar e reproduzir estereótipos na

sociedade, no trabalho e na vida doméstica. Esta pesquisa não teve como objetivo

aprofundar esta questão, que está longe de ser totalmente esclarecida.

De qualquer maneira, na atual conjuntura, onde a TI se faz presente em todas

as esferas da atividade humana, compreender o porquê homens e mulheres tem

reações diferentes frente a ela é um passo para que sua utilização seja ainda mais

eficaz e eficiente. Isto porque uma política de adoção de TI levando em

consideração as diferenças entre gêneros poderá ter mais sucesso do que

simplesmente um incentivo à utilização ou um bom desenvolvimento de um software,

seja ele de código aberto/livre ou fechado/proprietário.

Podemos vislumbrar a possibilidade de continuidade de estudos , com

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direcionamentos futuros para a análise desta problemática à luz da Teoria do Ator-

Rede (actor network theory - ANT) de Callon (1986) e Latour (1987) e da teoria da

Construção Social da Tecnologia (social construction of technology - SCOT) de

Pinch e Bijker (1987). A conceituação foucaultiana também poderá ajudar nos

estudos de gênero, para elucidar a obstinação da relação entre homens e

tecnologia.

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7. BENEFÍCIOS ALCANÇADOS

Os resultados decorrentes da pesquisa foram:

Consolidação da linha de pesquisa junto ao Programa de Pós-graduação em

Administração e a construção de uma referência em pesquisas sobre adoção de

software livre e sua relação com gênero.

Produção científica, através de publicação em uma revista portuguesa, onde

testamos as variáveis do modelo UTAUT, comparando os resultados entre

mulheres e homens adotantes do E-learning.

Produção de material didático, com a preparação de um livro didático intitulado

"Adoção de tecnologia de informação na perspectiva das relações de gênero”.

Formação de Recursos Humanos, pela orientação de duas alunas de graduação

e de iniciação científica (PIBIC), em temas relacionados com os da pesquisa.

Participação em bancas de trabalhos de conclusão e de mestrado, focalizando

modelos de adoção de tecnologia, congêneres com o modelo UTAUT.

Cursos de curta duração ministrados, abordando os temas Adoção de Tecnologia

e Difusão de Inovações, Gestão da Mudança com a TI; e Tecnologia da

Informação e Qualidade de Vida.

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Apêndice A – Questionário 1 – Questões fechadas

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Apêndice B – Questionário 2 – Questões abertas

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Apêndice C – Gráficos e tabelas descritivos

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Estatística descritiva das assertivas da UTAUT

ITENS Média  Mediana 

Desvio‐padrão CV  Assime‐

tria Pretendo utilizar SL cada vez mais 8,87 10,0 2,0 22,19 -2,15 Planejo continuar usando SL 8,95 10,0 2,0 22,32 -2,29 Aprender a utilizar o SL é fácil para mim 8,32 9,0 2,0 23,59 -1,47 Não sinto dificuldade em aprender a utilizar SL 8,29 9,0 2,0 24,67 -1,12 O SL representa uma atitude política a favor da liberdade 8,67 10,0 2,3 26,16 -1,93

Tenho conhecimento necessário para usar SL 8,26 9,0 2,2 26,61 -1,30 Acredito que o SL é muito útil para o meu trabalho 8,11 9,0 2,5 30,95 -0,94

O SL me permite realizar tarefas mais rapidamente 7,73 8,0 2,5 31,69 -0,94

Instalar software livre é uma tarefa fácil 7,66 8,0 2,4 31,93 -0,99 Utilizar SL aumenta minha produtividade pessoal 7,66 8,0 2,6 34,07 -1,00

O SL melhora meu desempenho no trabalho 7,58 8,0 2,7 35,09 -1,35 O SL oferece um suporte técnico eficaz 6,89 7,0 2,7 38,46 -0,66 Há facilidade em se adquirir familiaridade no uso do SL 6,89 8,0 3,0 43,70 -0,55

As pessoas do meu círculo de amizade me dão apoio para utilizar SL 6,37 7,0 3,1 47,93 -0,38

Meu chefe me incentiva a usar o SL 4,76 4,0 3,7 76,95 0,34 Sinto pressão do meu círculo de colegas para usar SL 3,29 2,0 3,0 89,73 1,06

7,4 7,9 2,5 37,9  1,2

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Apêndice D – Teste de Kolmogorov-Smirnov nas variáveis de interesse

Assertivas

Normal Parametersa,b Most Extreme Differences

Kolmogorov-Smirnov Z

Asymp. Sig. (2-tailed) Mean Std.

Deviation Absolute Positive Negative

Utilizar SL aumenta minha produtividade pessoal 7,66 2,611 ,216 ,185 -,216 3,461 ,000

O SL melhora meu desempenho no trabalho 7,58 2,662 ,209 ,182 -,209 3,344 ,000

O SL me permite realizar tarefas mais rapidamente 7,73 2,453 ,185 ,177 -,185 2,961 ,000

Acredito que o SL é muito útil para o meu trabalho 8,11 2,514 ,249 ,226 -,249 3,995 ,000

Instalar software livre é uma tarefa fácil 7,66 2,446 ,181 ,170 -,181 2,910 ,000

Aprender a utilizar o SL é fácil para mim 8,32 1,963 ,199 ,196 -,199 3,192 ,000

Não sinto dificuldade em aprender a utilizar SL 8,29 2,045 ,224 ,201 -,224 3,586 ,000

Há facilidade em se adquirir familiaridade no uso do SL 6,89 3,011 ,183 ,151 -,183 2,941 ,000

Tenho conhecimento necessário para usar SL 8,26 2,198 ,251 ,214 -,251 4,024 ,000

Sinto pressão do meu círculo de colegas para usar SL 3,29 2,952 ,275 ,275 -,219 4,415 ,000

As pessoas do meu círculo de amizade me dão apoio para utilizar SL

6,37 3,053 ,163 ,117 -,163 2,616 ,000

Meu chefe me incentiva a usar o SL 4,76 3,663 ,210 ,210 -,153 3,374 ,000

Planejo continuar usando SL 8,95 1,998 ,374 ,300 -,374 5,989 ,000 Pretendo utilizar SL cada vez mais 8,87 1,968 ,332 ,283 -,332 5,327 ,000

O SL representa uma atitude política a favor da liberdade 8,67 2,267 ,337 ,278 -,337 5,399 ,000

O SL oferece um suporte técnico eficaz 6,89 2,652 ,156 ,121 -,156 2,496 ,000

a. Test distribution is Normal. b. Calculated from data.