"Recomeçar a pensar", por Miguel Reale Jr

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8/6/2019 "Recomeçar a pensar", por Miguel Reale Jr.

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O ESTADO DE S. PAULO

Fundadoem 1875

Julio Mesquita (1891-1927)Julio de Mesquita Filho (1927-1969)Francisco Mesquita (1927-1969)Luiz Carlos Mesquita (1952-1970)

José Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1988)Julio de Mesquita Neto (1969-1996)Luiz Vieira de Carvalho Mesquita (1959-1997)

Américo de Campos (1875-1884)Nestor Rangel Pestana (1927-1933)PlínioBarreto (1927-1958)

Em artigo intitula-do Opapeldaopo- sição, o ex-presi-dente FernandoHenrique Cardo-sofazalgoforade

moda na política brasileira: re-flete.Essa reflexão abrangente,com diversas vertentes, pensopoder dividir em três aspectos:fragilidade da oposição, seja nadefesa de suas realizações, sejanoataqueaoPTrelativamenteafatos graves característicos doreinado de Lula desde 2003;es-tratégias a serem seguidas; epontosa constituíremcompro-missosbásicosda oposição.

Quantoà fragilidadena defe-sa de suas realizações, lembra-seatibiezaemexplicaroproces-so de privatização, alcunhadopeloPT,parafinseleitorais,co-mo “privataria” e maliciosa-mentedifundidocomovendair-risória das riquezas nacionais.Em campanhas presidenciais oPSDB limitou-se a negar que

iriaprivatizaro Banco doBrasilouaCaixaEconômica,comoseao vestir a camisa do BB se es-pantasse o receio de um mal,emvezdemostrarobemquesefizera na privatização da ValedoRioDoceoudaEmbraer.As-sim,essasduasestatais,afunda-das na mão do Estado em défi-cits imensos, jamais poderiamassumir o papel de relevo queora têm no cenário econômicomundial se não fosse a imensa

inversão de capital privado e oespírito empreendedor que agestãoempresarial imprimiu.

O mesmo se diga do Proer,apodado de protecionismo aos bancos,quando, na verdade,es-tabeleceu umregimede austeri-dadecomaimposiçãoderespon-sabilidadesolidáriadoscontrola-dores de instituições financei-ras,criandoefetivocontrole por viadoqualoBancoCentralpode-riaagirpreventivamentecomefi-ciência paraproteger os deposi-tantes, preservar o sistema e aeconomia. O pequeno compro-metimento de nossas institui-ções financeiras na crise de finsde 2008 mostra a importânciadoProer,quefoidebilmentede-fendidopela oposição.

Masàfragilidadedadefesacor-respondeuigualfraquezanoata-que.O“mensalão”nãofoiataca-do com firmeza pela oposição,

apesardosresultadosdaCPIque

redundounadenúnciadoMinis-térioPúblico.Fuiumdoscoorde-nadoresdomovimentodemobi-lização da sociedade civil deno-minado“Da Indignação à Ação”,quereuniurepresentantesdeen-tidades como OAB, OAB-SP, ABI, PNBE, Fiesp, InstitutoEthos, Força Sindical, Transpa-rênciaBrasil,Associação dosAd- vogados, Instituto dos Advoga-dos de São Paulo, a rede Conec-tasdeDireitosHumanos,oMovi-mentoDemocráticodo Ministé-rioPúblicoeaAssociaçãodoMi-nistério Públicode SãoPaulo.

Em manifesto, o movimentoexpressava que as instituiçõespolíticas do País estavam dura-mente atingidas, sendo impres-cindível,alémdeinvestigaçãosé-ria, com punições firmes e pro-porcionais às faltas praticadas,mudançasprofundasnosistemapolítico, pois nunca apareceratãoclaramentea necessidadedeuma reconstrução republicana.O movimento arregimentou lí-deresdasentidades,masapopu-laçãoestava,comodizFernandoHenrique no seu artigo, aneste-siada e os partidos de oposição,salvoalgunspoucosparlamenta-res,nãosemobilizaramparaen- volver os brasileiros contra amaior artimanha de corrupçãoengendrada em detrimento dosistema democrático: a comprade mais de centena de deputa-dos às vésperas de votações im-portantescomdinheirosaídodoBanco do Brasil, aí, sim, privati-zado. A oposição temeuenfren-tardiretamente o núcleodo po-derenemsequerpropôsmudan-ças moralizadoras, intimidada,talvez, por erros graves, mesmoquemenores, em seusquadros.

A denúnciada apropriaçãodo

Estado também foi tímida. Nãoseacusoucomvigor,aolongodotempo,ocrescimentovertigino-so dos cargos em comissão nogoverno Lula, mais de 17%, mascomumgravameimportante:au-mentaram em 50% os cargosDAS 5 e em 30% os DAS 6, osmais bem remunerados, comgrande elevação do gasto públi-co,que oradificulta o combateà inflação.

Quantoàestratégia,FernandoHenrique mostraque o discursodeve voltar-se para a nova classemédia,fruto do dinamismo eco-nômico do mundo e daqui, paraatingir novos protagonistas docenário social,a seremsensibili-zadosna medidaem quese saibaentenderseusanseiosnocotidia-no,a serem debatidos principal-mentenasredessociais,comoFa-cebook, YouTube, Twitter, etc.

Além dessenovo foco e dono- vomeiodeação,énecessárioam-pliar,diz Fernando Henrique,asdiscussõesjuntoàs“inúmerasor-ganizaçõesdebairros,aumsem-númerodegruposmusicaisecul-turaisnas periferias dasgrandescidades,àsorganizaçõesvoluntá-riasdesolidariedadeedeprotes-

to,adefensoresdomeioambien-te”, que revelam espírito públi-co,masseafastamdapolítica,vis-ta como jogo sujo de interessei-ros. Só assim se encontram for-çasativas,masdiscretas,dasocie-dade,queparaasalvaçãodasins-tituições precisam participar di-retamente do processo político.

Aestratégiapropostadesevol-tar para novos focos está corre-ta,semquea luta contraa misé-riadeixedeserumobjetivobási-co.Tantoéquesesugereterporfimúltimodademocraciaocom-prometimentocomosvaloresin-sertosna defesa dosdireitoshu-manos, naproteção e promoçãodomeio ambientee nocombateàmiséria,emlutaaserempreen-dida coma participaçãoativa detodaa sociedade.

No campo da ação governa-mental,defende-se que cumpreà oposição lutar em prol da for-maçãode quadros e daconstru-ção da infraestrutura, hoje blo-queada,mas a sealcançar comacolaboração do setor privado, aserdevidamente fiscalizado poragênciasreguladorasdotadasdeindependência,semliamesparti-dários e clientelísticos que oraexistem.

Outrasquestõessãotrazidasà baila,mas esses aspectossão su-ficientes paraprovocar forte re-flexão.Pontosdotrabalhomere-cemcríticas,maséprecisoantescompreendê-lo no seu conjun-to.Ao suscitaro debate,o artigo vale por si, pois já é um grande bemrecomeçara pensar.

ADVOGADO, PROFESSOR TITULARDAFACULDADE DEDIREITO DAUSP,MEMBRO DA ACADEMIAPAULISTADELETRAS, FOI MINISTRO DA JUSTIÇA

Recomeçara pensar●✽MIGUELREALE JÚNIOR

LOREDANO

A reflexão abrangentede Fernando HenriqueCardoso já é um bempor suscitar o debate