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Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 2 (39)
Revisão coordenada por:
Júlia Almeida (DCB/DRNCN)
Contributos de:
Ana Luísa Forte (DAAOT/DPAI), António Monteiro (DPAP/DCNF-Norte), Carlos Carrapato (DLAP/DCNF-Alentejo),
Carlos Pedro Santos (DPAP/DCNF-Norte), Manuela Nunes (DPAP/DCNF-Lisboa e Vale do Tejo), Maria Georgina
Bastos (DAAOT/DPAI), Miguel Portugal (DPAP/DCNF-Norte) e ainda de EDP-Distribuição (Ana Carolina Janeiro,
Carlos Rochinha, Nuno Mendes) e Cátedra REN em Biodiversidade (Francisco Moreira, Ricardo Martins).
Uma versão prévia deste documento (2008) tinha sido preparada por António Monteiro, João Paulo Silva, Júlia
Almeida e Manuela Nunes, e revista parcelarmente por Pedro Rocha, Georgina Bastos, Filipe Viegas, Paulo Barros
e ainda Mãe d’Água, Lda., Bio 3, Ana Teresa Marques, João Pedro Neves.
Citação recomendada:
ICNF (2019). Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia
elétrica – versão revista. Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade. Relatório não publicado.
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 3 (39)
1. INTRODUÇÃO 4
2. ENQUADRAMENTO LEGAL E PROCEDIMENTOS PARA EMISSÃO DE PARECER E PRÉVIA AUTORIZAÇÃO, INCLUINDO ANÁLISE DE
INCIDÊNCIAS AMBIENTAIS E AVALIAÇÃO DE IMPACTE AMBIENTAL 6 O CASO PARTICULAR DAS LINHAS ELÉTRICAS LOCALIZADAS FORA DE ÁREAS CLASSIFICADAS 9
ÁREAS SUBMETIDAS A REGIME FLORESTAL 9
3. NOÇÕES BÁSICAS SOBRE LINHAS ELÉTRICAS 10 TENSÃO DAS LINHAS 10
CABOS UTILIZADOS NAS LINHAS AÉREAS 10
APOIOS 11
SUBESTAÇÕES 12
INTERVENÇÕES NA LINHA 13
SINALIZADORES PARA AVIFAUNA 13
SINALIZAÇÃO PARA A NAVEGAÇÃO AÉREA 14
4. INTERAÇÃO DAS LINHAS ELÉTRICAS COM A AVIFAUNA 15 COLISÃO 16
ELETROCUSSÃO ERRO! MARCADOR NÃO DEFINIDO.
DISPONIBILIZAÇÃO DE SUPORTE 18
5. AVALIAÇÃO DO IMPACTE DAS LINHAS ELÉTRICAS NA AVIFAUNA: MÉDIA TENSÃO, ALTA TENSÃO E MUITO ALTA TENSÃO 19 SUSCETIBILIDADE DAS ESPÉCIES PRESENTES E SEU ESTATUTO DE AMEAÇA 19
AFETAÇÃO DE ÁREAS COM IMPORTÂNCIA RECONHECIDA PARA A CONSERVAÇÃO DAS AVES 19
ZONAMENTO DO RISCO CAUSADO PELAS LINHAS ELÉTRICAS 20
6. PROCEDIMENTOS A ADOPTAR NA AVALIAÇÃO DE PROJETO S E EMISSÃO DE PARECERES 23 ANÁLISE DE ALTERNATIVAS 23
MEDIDAS DE MINIMIZAÇÃO 23
AS PREOCUPAÇÕES DE INTEGRAÇÃO PAISAGÍSTICA 25
AS ÁREAS SUJEITAS A REGIME FLORESTAL 25
EMISSÂO DE PARECERES 25
7. MONITORIZAÇÃO DO IMPACTE DA LINHA 31 CONTEUDO DO PROGRAMA DE MONITORIZAÇÃO 31
DURAÇÃO DO PROGRAMA DE MONITORIZAÇÃO E PERIODICIDADE DOS RELATÓRIOS 38
8. MEDIDAS DE COMPENSAÇÃO 39
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 43
ANEXO I - ESPÉCIES COM ESTATUTO DE AMEAÇA SENSÍVEIS À COLISÃO E ELETROCUSSÃO 46
ANEXO II – LISTAS DE APOIO À APLICAÇÃO DA TABELA 2 49
ANEXO III – LISTAGEM-BASE DE MEDIDAS DE MINIMIZAÇÃO PARA A FASE DE OBRA 50
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 4 (39)
1. Introdução
As linhas elétricas aéreas (doravante referidas de forma simplificada como linhas elétricas) são infraestruturas
lineares com reconhecido impacte sobre a avifauna, estando identificadas como um relevante fator de ameaça
para a conservação de diversas espécies. O seu impacte pode estabelecer-se a vários níveis: mortalidade devida
a colisão com as linhas; mortalidade devida a eletrocussão; alteração do habitat (fragmentação e exclusão).
Também se verificam interações resultantes do uso dos apoios elétricos para a instalação de ninhos, a qual
ocorre com riscos associados de eletrocussão e de colisão das aves.
Ao nível europeu, esta problemática foi alvo de recomendação específica no âmbito da Convenção de Berna1
(Recomendação No. 110 (2004) do Comité Permanente), onde foram analisadas as estruturas de maior risco,
identificadas as famílias de aves mais sensíveis ao risco de eletrocussão e colisão, e propostas soluções
técnicas, essencialmente para a questão de eletrocussão. Esta recomendação baseia-se no documento
“Protecting birds from powerlines: a practical guide on the risks to birds from electricity transmission facilities and
how to minimise any such adverse effects” elaborado pela BirdLife International em 2003 a pedido daquele
Comité, e que constitui um guia prático sobre os riscos para a avifauna do transporte de energia e sobre como
minimizar os respectivos efeitos negativos. Disponível em:
https://wcd.coe.int/ViewDoc.jsp?p=&id=847305&Site=&BackColorInternet=B9BDEE&BackColorIntranet=FFCD
4F&BackColorLogged=FFC679&direct=true
Posteriormente, em 2011, aquele Comité adotou a designada “Declaração de Budapeste”, que apela as
instituições europeias e os governos nacionais a assumirem um compromisso para conciliar a produção,
transporte e distribuição de energia com a conservação das aves selvagens dentro e fora das áreas protegidas,
e a realizarem um programa de ações que conduza à minimização da mortalidade das aves nas linhas elétricas
no continente europeu (e para além dele).
Este manual constitui um guia metodológico para apoiar as unidades orgânicas do ICNF na apreciação das
incidências das linhas elétricas sobre as aves, designadamente na elaboração de pareceres relativos a projeto
s de novas linhas ou à reconversão de linhas elétricas existentes. Para além de ter como objetivo a uniformização
dos pareceres e avaliações de impacte sobre a avifauna das linhas elétricas, pretende ainda fazer o ponto da
situação em termos de informação relativa aos impactes das linhas elétricas sobre a avifauna.
A informação apresentada decorre fundamentalmente dos trabalhos realizados no âmbito dos protocolos de
colaboração estabelecidos entre o ICNF, diversas ONGA e as entidades responsáveis pela distribuição e
transporte de energia elétrica em Portugal (EDP Distribuição e REN - Rede Elétrica Nacional, respetivamente).
A EDP Distribuição – Energia, S.A., é responsável pela distribuição de energia em linhas de Baixa Tensão,
Média Tensão e Alta Tensão. Tendo em vista a monitorização e minimização dos impactes resultantes da
interação entre as linhas elétricas aéreas de Média Tensão e Alta Tensão e a avifauna, têm sido estabelecidos
desde 2003 protocolos de colaboração entre essa entidade, o ICNF, a SPEA, a Quercus e a LPN (desde 2013).
No âmbito destes protocolos, tem-se quantificado e monitorizado os impactes destas infraestruturas,
experimentado novas tecnologias, avaliado a eficácia dos dispositivos de sinalização e o tempo de vida útil dos
1 Convenção sobre a Vida Selvagem e os Habitats Naturais na Europa (Convention on the Conservation of European Wildlife and Natural Habitat): tem um âmbito pan-europeu, estendendo-se a sua influência também ao norte de África para o cumprimento dos objetivos da conservação das espécies migradoras, listadas nos seus anexos, que nesse território passam uma parte do ano. Tem como objetivos conservar a flora e a fauna selvagens e os seus habitats naturais, em particular as espécies e os habitats cuja conservação exija a cooperação de diversos estados, e promover essa cooperação; é atribuído uma ênfase particular às espécies em perigo ou vulneráveis, incluindo as espécies migratórias.
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 5 (39)
dispositivos corretivos e foram ainda elaboradas cartas de risco para espécies-alvo. Paralelamente, a EDP
Distribuição tem procedido à correção de um conjunto de linhas elétricas previamente identificadas como
perigosas.
A REN-Rede Elétrica Nacional é responsável pelo transporte de energia nas linhas elétricas de Muito Alta
Tensão e gere pontualmente algumas linhas de Alta Tensão (60 kV). Entre 2004 e 2006, decorreu um protocolo
entre essa entidade e o então ICNB (e com a participação da SPEA e a Quercus), com o objetivo geral de
compatibilizar os traçados das linhas de transporte de energia elétrica com a conservação das aves em Portugal,
minimizando os impactes negativos sobre a avifauna e otimizando a eficiência dos sistemas de transporte de
energia elétrica.
Como resultado destes protocolos desenvolveram-se diversos estudos e produziram-se vários documentos
(disponíveis no portal do ICNF em
http://www2.icnf.pt/portal/pn/biodiversidade/gestao-biodiv/prog-proj/impac-linh-avifaun).
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 6 (39)
2. Enquadramento legal e procedimentos para emissão de parecer e prévia autorização, incluindo análise de incidências ambientais e avaliação de impacte ambiental
A instalação de qualquer tipologia de linhas elétricas em Áreas Classificadas, fora dos perímetros urbanos,
encontra-se sujeita a parecer prévio do ICNF, de acordo com o disposto na alínea h) do art.º 9.º do Decreto-Lei
n.º 140/992:
- “ [dependem de parecer favorável do ICNB] a instalação de infraestruturas de eletricidade e telefónicas, aéreas
ou subterrâneas (…) fora dos perímetros urbanos”. Existem, no entanto, exceções correspondentes às seguintes
situações:
- Quando o PDM do concelho onde se insere a linha elétrica tiver sido adaptado nos termos do art.º 8.º do decreto
acima referido, e aquela atribuição deixar de estar acometida ao ICNF;
- Quando o território de um SIC ou ZPE onde se insere a linha elétrica for abrangido por uma Área Protegida de
âmbito regional ou local, esta possuir um Regulamento de Gestão, pois nesses casos a gestão compete ao
respetivo órgão de gestão, podendo este ter, ou não, definido naquele regulamento a competência em causa.
De acordo com o n.º 3 do art.º 1.º do Decreto-Lei n.º 151-B/2013, de 31 de outubro, na sua redação atual, a
construção de linhas elétricas de Muito Alta Tensão está sujeita a Avaliação de Impacte Ambiental (AIA) de
acordo com os seguintes critérios:
a) Construção de linhas aéreas de transporte de eletricidade com uma tensão igual ou superior a 220 kV e cujo
comprimento seja superior a 15 km (n.º 19 do Anexo I);
b) Instalações industriais destinadas ao transporte de energia elétrica por cabos aéreos, com tensão ≥ 110 kV
(alínea b) do n.º 3 do Anexo II):
- e comprimento ≥ 10 km;
- que se localizem em Área Sensível3;
- que se localizem, parcial ou totalmente, em Área Sensível e sejam considerados4, como suscetíveis de
provocar impacte significativo no ambiente em função da sua localização, dimensão ou natureza (subalínea
iii) da alínea b) do n.º 3 do art.º 1.º);
- que não estando abrangidos pelos limiares fixados, nem se localizando em Área Sensível, sejam
considerados, como suscetíveis de provocar impacte significativo no ambiente5 em função da sua
localização, dimensão ou natureza (subalínea iii) da alínea b) do n.º 3 do art.º 1.º).
Esta legislação prevê ainda que podem ser sujeitos a AIA projeto s que em função da sua localização, dimensão
ou natureza sejam considerados como suscetíveis de provocar um impacte significativo no ambiente6.
Quando os projetos são sujeitos a AIA e se localizam em Áreas Sensíveis quando Áreas Protegidas ou Rede
Natura 2000, ou sejam suscetíveis de afetar valores naturais classificados, o ICNF é nomeado pela APA, I.P.
para a respetiva Comissão de Avaliação.
2 Designa de forma simplificada o Decreto-Lei n.º 140/99 de 24 de abril, republicado pelo Decreto-Lei n.º 49/2005, de 24 de fevereiro e alterado pelo Decreto-Lei n.º 156-A/2013, de 8 de Novembro, que transpõe para o direito interno as Diretivas Aves e Habitats. 3 Áreas sensíveis: i) Áreas protegidas, classificadas ao abrigo do Decreto-Lei n.º 142/2008, de 24 de julho, na sua redação atual; ii) Sítios da Rede Natura 2000, zonas especiais de conservação e zonas de proteção especial, classificadas nos termos do Decreto-Lei n.º 140/99, no âmbito das Diretivas n.ºs 79/409/CEE, do Conselho, de 2 de abril de 1979, relativa à conservação das aves selvagens (Diretiva Aves), e 92/43/CEE, do Conselho, de 21 de maio de 1992, relativa à preservação dos habitats naturais e da fauna e da flora selvagens (Diretiva Habitats); iii) Zonas de proteção dos bens imóveis classificados ou em vias de classificação definidas nos termos da Lei n.º 107/2001, de 8 de setembro. 4 Por decisão da autoridade de AIA, e de acordo com os critérios estabelecidos no anexo III. 5 Por decisão da entidade licenciadora ou competente para a autorização do projeto e ouvida obrigatoriamente a autoridade de AIA, nos termos do art.º 3.º, e de acordo com os critérios estabelecidos no anexo III. 6 Por decisão conjunta do membro do Governo competente na área do projeto em razão da matéria e do membro do Governo responsável pela área do ambiente, tendo em conta os critérios estabelecidos no anexo III.
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 7 (39)
Por outro lado, a instalação de qualquer tipologia de linhas elétricas pode ser sujeita a um processo de avaliação
de impacte ambiental ou de análise de incidências ambientais (AIncA), de acordo com o disposto no Art. 10º do
Decreto-Lei nº 140/99:
- “As ações, planos ou projeto s (…) suscetíveis de afetar [uma ZEC ou uma ZPE] de forma significativa
(…) devem ser objeto de avaliação de incidências ambientais no que se refere aos objetivos de
conservação da referida zona”.
Os Planos de Ordenamento das Áreas Protegidas (POAP) ou os diplomas da criação das Áreas Protegidas
podem condicionar (incluindo interditar) a instalação de linhas elétricas. Alguns planos de ordenamento são mais
restritivos quanto à instalação destas infraestruturas, de acordo com o zonamento dos regimes de proteção por
eles estabelecido. Do mesmo modo, e de acordo com o Decreto-Lei nº 140/99 nos SIC e ZPE da Rede Natura
2000 não coincidentes com Áreas Protegidas, os Planos Diretores Municipais deverão, na sua revisão, integrar
as necessidades regulamentáveis de gestão territorial da Rede Natura 2000, devendo desse modo, e à
semelhança do que acontece com os POAP, estabelecer as regras de condicionamento da instalação de linhas
elétricas. O ICNF, ao integrar as Comissões Consultivas da revisão dos Planos Diretores Municipais (PDM),
deverá assegurar a proposta e discussão destes condicionamentos no contexto global da integração da gestão
territorial da Rede Natura 2000 nestes instrumentos.
Estas infraestruturas deverão ser devidamente ponderadas nas áreas de ZEC e ZPE no contexto dos Programas
da Orla Costeira e Programas das Albufeiras de Águas Públicas, devendo posteriormente as condicionantes que
lhes dizem respeito ser transpostas para os respetivos PDM uma vez que têm um carácter de permanência no
solo.
Com a implementação do mais recente quadro legal do ordenamento do território (Lei n.º 31/2014 de 30 de maio
e Decreto-Lei n.º 80/2015 de 14 de maio) as disposições dos POAP relativas à instalação ou ampliação de
infraestruturas de produção, distribuição e transporte de energia elétrica, serão reconduzidas ao programa
especial, vinculando privados ao ser integradas nos planos territoriais, nomeadamente planos diretores
municipais. Caso o programa especial o preveja expressamente estes atos poderão ser sujeitos a parecer prévio
da Autoridade Nacional de Conservação da Natureza.
No que se refere a situações de instalação de linhas elétricas com tensão inferior a 110 kV, o pedido de
parecer é geralmente enviado ao ICNF pela entidade reguladora do sector energético (ERSE) ou outras
entidades licenciadoras, a quem a EDP Distribuição solicita autorização7. Tem de ser dada atenção ao prazo
para resposta, dado que varia consoante o enquadramento da solicitação de parecer, conforme exposto
seguidamente:
Prazo (dias úteis) Enquadramento
20 Regime jurídico de edificação e urbanização
30
AP com Programa Especial Em todas as situações não especificadas, em conformidade com o Código de Procedimento Administrativo, nomeadamente: AP quando o Regulamento do POAP não determina prazo para emissão de parecer Regime Florestal Ao abrigo do Decreto-Lei n.º 26 852, de 30 de julho de 1936, na sua redação atual
45 Decreto-Lei nº 140/99, na sua redação atual (Rede Natura 2000 sem que os PDM tenham sido adaptados nos termos do art.º 8.º do diploma citado)
Consultar Em AP quando o Regulamento do POAP determina prazo para emissão de parecer
7 A Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG) é a entidade licenciadora das instalações de produção e de transporte de energia elétrica e inspetora das instalações elétricas de potência igual ou superior a 10 MW e das instalações de transporte de energia elétrica. É da competência das Direções Regionais de Economia (DRE) o licenciamento e inspeção de pequenas instalações de produção em auto consumo em Baixa Tensão, bem como das instalações de segurança e de socorro, a inspeção das instalações de produção de energia elétrica de potência inferior a 10 MW e o licenciamento e inspeção das instalações elétricas de distribuição (http://www.min-economia.pt/).
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 8 (39)
É de salientar que, no âmbito dos protocolos com a EDP Distribuição, estabeleceram-se abordagens para agilizar
os processos de licenciamento, nomeadamente nas situações mais problemáticas. Assim, foi acordado naquele
âmbito que a EDP Distribuição divulgará o projeto prévio de instalação de linhas elétricas para análise pelo ICNF
antes do seu envio à entidade licenciadora. Desta forma, o projeto apresentado a esta entidade já integrará as
recomendações de conservação da natureza, numa fase em que as alterações são mais fáceis de implementar.
Este esquema está já em curso entre algumas direções da EDP Distribuição e departamentos do ICNF
territorialmente desconcentrados.
Recorda-se que no caso de centros electroprodutores que utilizem fontes de energia renováveis (entre
outras, eólica, solar), que não se encontrem abrangidos pelo regime jurídico de avaliação de impacte ambiental,
e cuja localização esteja prevista em áreas da Reserva Ecológica Nacional, Sítios da Rede Natura 2000 ou da
Rede Nacional das Áreas Protegidas e que não sejam abrangidos por nenhuma das exclusões listadas no n.º 2
do art.º 1.º do Decreto-Lei n.º 172/2006, na redação em vigor, está prevista a realização de um procedimento de
avaliação de incidências ambientais com base num estudo de incidências ambientais que deve abranger as
linhas elétricas de interligação e respetivos corredores, enunciando os seus impactes, e prevendo medidas
de minimização e recuperação das áreas afetadas, a implementar em fase de obra, bem como a monitorização
de valores naturais que permita a avaliação dos impactes produzidos pelo projeto e da eficácia das medidas.
A remodelação de linhas elétricas de Média Tensão, Alta Tensão ou Muito Alta Tensão (upgrading /uprating),
em que o pedido de parecer é feito direta mente pela EDP Distribuição ou pela REN, pode ter o seguinte
enquadramento:
- alínea h) do artº 9.º do Decreto-Lei nº 140/99, respeitante a atos e atividades condicionados8 e no que se refere
a instalação de novas linhas;
- interdição geral de causar perturbação a espécies animais, prevista no art.º 11. desse diploma9.Todas as
intervenções em linhas já instaladas devem assegurar o cumprimento do disposto neste artigo, podendo ser
derrogadas, em casos excecionais, nos termos do art.º 20.º, mediante licença do ICNF. Este licenciamento
poderá ser condicionado ao cumprimento de medidas de minimização do impacte destas estruturas;
- A alteração ou ampliação de projetos incluídos no anexo I ou II é sujeita a AIA nos termos do n. º4 do art.º 1.º,
do Decreto-Lei n.º 151-B/2013, de 31 de outubro, na sua redação atual.
Ainda com o enquadramento do art.º 11.º do Decreto-Lei n.º 140/99, a EDP Distribuição e a REN solicitam com
frequência ao ICNF licença para remoção de ninhos instalados nas suas infraestruturas. Com efeito, a
necessidade de manutenção das condições de serviço das linhas elétricas e de garantir proteção das espécies
de aves, requerem a realização de intervenção em ninhos (em particular de cegonha branca) instalados nos
apoios das linhas de Alta Tensão, Média Tensão e Baixa Tensão. Essas intervenções, são licenciadas pelo
ICNF, enquadradas pelo Regime excecional definido no art.º 20.º do Decreto-Lei n.º 140/99:
De um modo geral, estas intervenções podem ser tipificadas do seguinte modo:
8 h) A instalação de infraestruturas de eletricidade e telefónicas, aéreas ou subterrâneas, de telecomunicações, de transporte de gás natural ou de outros combustíveis, de saneamento básico e de aproveitamento de energias renováveis ou similares fora dos perímetros urbanos; 9 Art.º 11.o
Espécies animais 1—Para assegurar a proteção das espécies de aves previstas na alínea a) do n.º 1 do art.º 2.º e das espécies animais constantes dos anexos B-II e B-IV, é proibido: a) capturar, abater ou deter os espécimes respetivos, qualquer que seja o método utilizado; b) perturbar esses espécimes, nomeadamente durante o período de reprodução, de dependência, de hibernação e de migração, desde que essa perturbação tenha um efeito significativo relativamente aos objetivos do presente diploma; c) destruir, danificar, recolher ou deter os seus ninhos e ovos, mesmo vazios; d) deteriorar ou destruir os locais ou áreas de reprodução e repouso dessas espécies.
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 9 (39)
- Transferência de ninhos;
- Reposicionamento/Aparagem de ninhos;
- Remoção de material no início de construção de ninho;
- Remoção de ninhos.
Foram acordados com a EDP Distribuição procedimentos para este licenciamento, que constam de Guias
Técnicos dessa Empresa e que estão indicados em Normativo Interno do ICNF.
O CASO PARTICULAR DAS LINHAS ELÉTRICAS LOCALIZADAS FORA DE ÁREAS CLASSIFICADAS
Fora das Áreas Classificadas, a entidade competente para decidir sobre estes projeto s pode condicionar a
construção de linhas elétricas nos termos do previsto nos artigos 10.º (AIncA)10 ,11.º e 12.º(regime jurídico de
proteção às espécies) do Decreto-Lei n.º 140/99.
ÁREAS SUBMETIDAS A REGIME FLORESTAL
De acordo com as Deliberações n.º 1597/2013, de 27 de dezembro de 2012 e n.º 1599/2013, de 29 de janeiro
de 2013, do Conselho Diretivo do ICNF, este Instituto é responsável pela gestão direta dos terrenos submetidos
a Regime Florestal que constituem as Matas Nacionais e os Perímetros Florestais nelas elencados.
Assim sendo, todas as intervenções em territórios submetidos a Regime Florestal sob gestão direta do ICNF
(sejam estas intervenções decorrentes da instalação de linhas elétricas ou não) estão sujeitos a prévia
autorização (e não parecer) do Instituto, o qual deve também (em caso de autorização) proceder ao cálculo do
valor da indemnização e à comercialização do material lenhoso e em fase de execução das obras acompanhar
os trabalhos.
Para além disso, deve ser feita uma análise do projeto à luz dos critérios estabelecidos no presente Manual
quanto à classificação da sensibilidade da área e propor os procedimentos e medidas consequentes conforme
capítulo 6.
10 Art.º 10.º n.º 3 - Sem prejuízo do disposto nos n.os 4 e 5, nos casos não abrangidos pelo número anterior, a entidade competente para decidir das ações, planos ou projetos deve promover, previamente à respetiva aprovação ou licenciamento, a realização de uma análise de incidências ambientais.
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 10 (39)
3. Noções básicas sobre linhas elétricas O presente capítulo pretende introduzir alguns conceitos e informação técnica de base relacionada com este
sector de atividade, que permita informar sobre o que são e como se caracterizam as linhas de distribuição e de
transporte de energia elétrica.
TENSÃO DAS LINHAS
Linhas de distribuição de energia
o Baixa Tensão (BT): tensão ≤ 1000 V (≤ 1 kV)
Distribuem a energia elétrica desde os Postos de Transformação, ao longo das ruas e caminhos até aos locais
onde é consumida em Baixa Tensão (230 V entre fase e neutro, e 400 V entre fases). Podem ser de dois tipos:
aéreas ou subterrâneas. As linhas aéreas podem ser com condutores nus (já construtivamente abandonado) ou
com condutores isolados em feixe (condutores em cabos em torçada). As linhas de distribuição em Baixa Tensão
são normalmente constituídas por cinco condutores, um dos quais se destina à iluminação pública.
o Média Tensão (MT): tensão > 1 kV e ≤ 45 kV
Linhas elétricas cuja tensão nominal é superior a 1 kV e inferior ou igual à tensão de 45 kV. As tensões mais
comuns são 10 kV, 15 kV e 30 kV. Estas linhas ligam as Subestações aos Postos de Transformação ou ligam
diferentes Postos de Seccionamento /Transformação entre si. As aéreas são normalmente em cabo nu, apoiadas
em postes de betão (mais comum) ou metálicos, sendo os condutores suspensos ou fixados em isoladores.
o Alta Tensão (AT): tensão > 45 kV e < 110 kV
Linhas cuja tensão nominal é superior a 45 kV e inferior a 110 kV, sendo a tensão utilizada na distribuição a de
60 kV. São utilizadas sobretudo para distribuir a energia a grandes distâncias ou para fornecimento de energia
à indústria, unindo centros produtores (centrais térmicas, hídricas, eólicas) às subestações ou fazendo ligação
entre subestações. São linhas predominantemente aéreas podendo, no entanto, ser subterrâneas. As linhas
aéreas são suportadas por apoios, normalmente metálicos, sendo os condutores suspensos ou fixados em
isoladores.
Linhas de transporte de energia
o Muito Alta Tensão (MAT): tensão ≥ 110 kV e ≤ 400 kV
Estas linhas unem centros produtores (centrais térmicas, hídricas, eólicas) às subestações, ou entre
subestações. Estas linhas são suportadas por apoios, normalmente metálicos, sendo os condutores suspensos
ou apoiados por isoladores. Até à data, a REN não tem admitido a possibilidade de enterramento deste tipo de
linhas.
CABOS UTILIZADOS NAS LINHAS AÉREAS
o Cabo de guarda (ou cabo de terra): cabo não condutor de energia elétrica (não possui isoladores), que, situado
no plano superior do apoio, serve de para-raios (proteção das restantes linhas), e, nalguns casos, também inclui
cabos de telecomunicações. Este tipo de cabo está presente nas linhas elétricas de AT (um cabo de guarda) e
de MAT (dois cabos de guarda), e apenas excecionalmente na MT. No entanto, algumas linhas de AT podem
não ter cabo de guarda.
o Condutores de fase: condutores em tensão percorridos pela corrente elétrica.
o Condutores nus: condutores sem qualquer bainha isolante.
o Cabo coberto: cabo que possui um revestimento com características dielétricas inferiores ao cabo isolado,
sendo, no entanto, capaz de suportar temporariamente a tensão entre fase e terra, podendo ser aplicado para
proteção da avifauna contra as electrocuções. Utiliza-se apenas em MT. O seu diâmetro confere grande
visibilidade aos condutores, assumindo-se que não necessita de ser sinalizado para redução do risco de colisão.
Assume-se também que não existem partes nuas em tensão, não sendo necessárias medidas mitigadoras da
eletrocussão; no entanto, sugere-se, preventivamente, a adoção de medidas anti poiso.
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 11 (39)
A solução de cabo coberto constitui uma alternativa menos impactante para as aves em termos de risco de
colisão e eletrocussão, tendo sido aprovada a sua aplicação em projeto na região Norte.
De realçar que a utilização de cabo coberto não permite derivações de linha, pelo que a sua aplicação em troços
de grande extensão, em zonas com maior dinamismo de construção, poderá não ser viável (a titulo indicativo, a
EDP Distribuição considera que a utilização desta solução poderá atingir no máximo c. 2km). Por outro lado, a
sua utilização implica um maior número de apoios comparativamente com a utilização de cabo nu, pois a
distância máxima entre apoios é de cerca de 130m.
o Cabo em torçada: Trata-se de uma rede aérea de média tensão constituída por um conjunto de três cabos
isolados monopolares, cableados sobre um núcleo central constituído por um tensor em aço, revestido, utilizado
para conferir a resistência mecânica necessária ao autosuporte do conjunto. O seu diâmetro confere grande
visibilidade aos condutores, assumindo-se que não necessita de ser sinalizado para redução do risco de colisão.
Como desvantagem, a imposição da utilização de vãos mais curtos implica um maior número de apoios
comparativamente com a utilização de cabo nu, pois a distância máxima recomendável entre apoios é de 60 m.
Esta solução foi utilizada a titulo experimental, tendo sido para o efeito elaborado pela EDP Distribuição um
projeto tipo. Esta tecnologia aguarda homologação da DGEG Direção Geral de Energia e Geologia.
o Spacer-cable: Trata-se de uma rede compacta de média tensão com cabos de dupla cobertura isolante, em que
a sustentação da rede é efetuada por meio do cabo tensor, fixado aos postes por meio de braços metálicos e
por espaçadores poliméricos. Note-se que esta solução apresenta custos bastantes superiores relativamente à
construção em linha nua, reservando-se a sua aplicação em casos que não permitam aplicação de outro tipo de
solução, o Diâmetro dos condutores: aumenta com a capacidade de transporte de energia das linhas elétricas. Secções
de 50, 90 ou 160 mm2 são de utilização corrente na MT. As linhas de AT têm em geral entre 160 e 325 mm2.
o Distância entre fases: distância entre os condutores de fase de uma linha. É condicionada pela tensão da linha.
o Nº de condutores: as linhas elétricas de MT e AT possuem 3 condutores de fase; algumas linhas de 30 kV e a
generalidade das linhas acima dessa tensão têm adicionalmente um (ou dois) cabo (s) de guarda situados num
plano superior.
o Nº de planos: número de planos horizontais que, imaginariamente, conteriam os condutores de uma dada linha.
APOIOS
o Apoio: estrutura vertical que pode utilizar postes de ferro, betão ou madeira e que se destina a sustentar os
condutores, em linhas elétricas aéreas. Os apoios de linha podem ainda servir de suporte para aparelhagem de
manobra (seccionadores ….) e/ou transformador de potência..
o Arco: cabo que estabelece uma ponte para ligar os condutores de ambos os lados da travessa ou a uma
derivação.
o Armação: estrutura do suporte, situada na cabeça do apoio, na qual se fixam os isoladores e por sua vez os condutores. Há várias tipologias de armação, que têm associadas diferentes números de planos de colisão. Nota: As designações das armações normalizadas estão indicadas entre parêntesis
Em MT: - galhardete (3 planos) – (armações GAN / GAL) - galhardete 1 (3 planos): mantém os três planos de colisão mas diminui o risco de eletrocussão, uma vez que a distância da fase inferior aos restantes condutores é superior (armações GAN 1 e GAL 1)
- esteira vertical, simples ou dupla (3 planos) – (armação VAN) - triângulo (2 planos) – (armação TAN) - canadiana11 (2 a 3 planos) - esteira horizontal (1 plano) – (armação HAL-A2S) - nappe-voûte11 (1,5 plano) - esteira horizontal em amarração (1 plano) – (armação HRFSC3 / HRFSC / HRFSC com BI 75 / HTP4)
11 Presentemente esta armação não é utilizada em linhas novas.
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- pórtico (1 plano) – (armação PAN / PAL)
►NOTA: Refira-se que o galhardete, embora sendo a tipologia mais impactante na avifauna, permite a utilização
de menos apoios comparativamente com a esteira horizontal, pois como apresenta maior distância entre
condutores possibilita um comprimento maior dos vãos. Note-se que em relevos de montanha um acréscimo
significativo do número de apoios acarreta impactes sobre outros valores naturais (ainda que apenas ou
predominantemente na fase de obra), devido à maior extensão de acessos que porventura seja necessário abrir
ou beneficiar. Importa avaliar caso a caso os impactes associados.
Em AT: - esteira vertical, simples ou dupla (3 planos) – (armações EVDAL / EVDAN / EVFR / EVFAN) - galhardete (3 planos) – (armações GAN / GAL) - pórtico (1 plano) – (armação PRF)
Em MAT:
Podem ser utilizadas diferentes tipologias de armação, conforme a tensão da corrente elétrica (kV) e o número
de circuitos (linhas simples ou linhas duplas). As mais utilizadas pela REN são:
- MTG: linhas simples de 150/220 kV (2 planos de colisão, incluindo os cabos de guarda);
- CW: linhas duplas de 150/220 kV (4 planos de colisão, incluindo os cabos de guarda);
- YDR: linhas duplas de 150/220 kV (2 planos de colisão, incluindo os cabos de guarda - permitem que uma
linha dupla tenha apenas dois planos de colisão, suportando 6 cabos condutores numa mesma esteira
horizontal)
- Q: linhas simples de 400 kV (2 planos de colisão, incluindo os cabos de guarda);
- DL: linhas duplas de 400 kV (4 planos de colisão, incluindo os cabos de guarda).
o Cadeia de amarração: conjunto de isoladores em posição horizontal que cumpre a função de amarração dos
condutores a uma armação.
o Cadeia de suspensão: isoladores em posição vertical suspensos, e portanto posicionados em plano inferior ao
da armação.
o Cadeia de isoladores: conjunto de isoladores onde se fixa o condutor em tensão e que o isola da travessa e/ou
do apoio
o Isoladores: dispositivos circulares em cerâmica, vidro ou materiais sintéticos (p. ex. poliméricos) destinados a
evitar que a corrente elétrica passe para os apoios (terra). No caso dos isoladores de vidro e cerâmicos, em
geral a tensão de uma dada linha pode ser identificada no campo pelo número de círculos isoladores (cada
círculo isola 15 kV, e aplica-se mais 1 círculo de segurança). Em geral observa-se que uma linha de 30 kV
apresenta 3 discos isoladores; uma linha de 60 kV apresenta 5 discos; etc. No entanto esses dados devem ser
sempre confirmados com a EDP Distribuição.
o Isolador rígido de eixo vertical: isolador em posição vertical, em plano superior à armação.
o Seccionador: equipamento que interrompe a circulação de corrente na linha (órgão de corte) impedindo a
circulação de corrente para fins de manutenção ou exploração da linha. Note-se que atualmente a EDP
Distribuição já não coloca os seccionadores em posição horizontal, que estava associada a uma grande
mortalidade de aves por eletrocussão sendo esse tipo de montagem considerado muito impactante na avifauna.
o Posto de Transformação (PT): tem a função de transformar a MT em BT utilizável pelo consumidor final
doméstico, comercial ou pequeno industrial. Existem postos de transformação de vários tipos: com os
equipamentos encerrados em construção em alvenaria (cabine alta, cabine baixa ou subterrânea) ou em metal
e aéreos (equipamentos suspensos num apoio).
SUBESTAÇÕES
Instalações destinadas a modificarem o nível de tensão das linhas elétricas que nelas convergem (a elevar a
tensão da eletricidade produzida nas centrais para ser transportada em muito alta tensão e distribuída em alta e
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média tensão até aos postos de transformação e, daí, transformada em baixa tensão para as zonas de consumo.
São instalações inacessíveis a pessoas não autorizadas, protegidas por uma vedação, com sinais que advertem
para o perigo elétrico no interior e interditam o acesso onde se podem identificar, como equipamentos mais
importantes: transformadores, equipamentos de corte, controle e proteção e variadas estruturas auxiliares de
amarração e ligação das linhas elétricas.
INTERVENÇÕES NA LINHA
o Correção de uma linha: alteração introduzida ao nível dos condutores ou dos apoios, para minimizar o potencial
risco de eletrocussão ou colisão, mediante a aplicação de soluções técnicas adequadas.
o Uprating/upgrading: reconstrução e/ou remodelação de uma linha antiga, envolvendo em regra a alteração
estrutural do nível de tensão, utilizando o mesmo corredor e habitualmente os mesmos apoios.
DISPOSITIVOS ANTIPOISO E ANTINIDIFICAÇÃO
Equipamentos aplicados em apoios de linhas elétricas de MT, AT e MAT, destinados a dificultar /impedir o pouso
das aves (rapinas sobretudo) ou a construção de ninhos de cegonha-branca.
Há vários modelos disponíveis, adaptados a diferentes tipos de armação, já homologados e utilizados pela EDP
Distribuição (para MT e AT ver Fichas-Técnicas que constam do documento interno DFT-C11-310/N da EDP
Distribuição). A REN utiliza diferentes tipos de dispositivos, sendo os dispositivos giratórios tipo-turbina os mais
utilizados atualmente.
SINALIZADORES PARA AVIFAUNA
Peças de dimensão, forma e cor variáveis, de material inerte, que se aplicam em linhas elétricas de MT, AT e
MAT - nos condutores de fase, nus ou cobertos, e nos cabos de guarda - a distâncias regulares, de forma a
aumentar a visibilidade da linha (para MT e AT ver Fichas Técnicas que constam do Documento Interno da EDP
Distribuição DFT-C11-310/N).
Os sinalizadores para proteção contra as colisões com utilização mais difundida são:
o Espiral de sinalização: espiral de polipropileno ou PVC, de cor branca, vermelha, amarela ou laranja, que se
aplica em linhas elétricas de MT, AT e MAT, nos condutores de fase (nus ou cobertos) e nos cabos de guarda.
Existem dois tipos de espirais de sinalização:
- Espiral simples:
Apresenta dimensões diversas (8-12,5 cm de diâmetro), função do diâmetro do cabo em que é aplicada,
podendo ter como suporte condutores de fase, nus ou cobertos. Pode ser aplicada em linhas aéreas MT,
AT e MAT.
►NOTA: atendendo à reduzida eficácia que apresentam, em termos de redução da mortalidade por colisão, a
utilização dos sinalizadores simples não é aconselhada pelo ICNF, e estes dispositivos atualmente não são
empregues pela EDP Distribuição.
A REN considera que estes dispositivos provocam uma grande vibração nos cabos - o que obriga a um cálculo
mais delicado do amortecimento das vibrações nos cabos - e que, por outro lado, são equipamentos que se
quebram com maior facilidade dada o seu comportamento mais instável face aos ventos.
- Espiral dupla:
Apresenta dimensões também variáveis em função do diâmetro do cabo em que é instalada, mas maiores
que os dispositivos anteriores (c. 35 cm de diâmetro; comprimento total (recolhida) de 800 ± 50 mm). Estes
dispositivos aplicam-se nos condutores de fase, nus, de linhas elétricas de MT, AT e MAT.
o Firefly: dispositivo de sinalização que se aplica em linhas elétricas de MT, AT e MAT, nos condutores de fase e
cabos de guarda. Existem dois tipos disponíveis:
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- Tipo rotativo (Firefly Bird Flapper-FBF):
Contem uma placa de matéria plástica que tem a particularidade de refletir a radiação ultravioleta e a luz
visível, mesmo em situações de reduzida luminosidade e também durante a noite, por um período até 10
horas. São aplicados nos condutores de fase, nus e cabos de guarda.
- Tipo fita:
Constituído por fitas de neopreno com duas placas fotoluminescentes e retrorrefletoras. São aplicados em
linhas elétricas de MT e AT, nos condutores de fase, nus e nos cabos de guarda.
►NOTA: os Fireflies apresentam, na maioria dos casos, uma maior eficácia na redução da mortalidade por
colisão comparativamente com as espirais, quer em linhas de distribuição como de transporte (Morlanes et al.
2009, Infante 2011, Costa et al. 2012, Estanque et al. 2012), sendo por isso de promover a sua utilização nas
Áreas Criticas e Muito Críticas em que predomine a problemática de colisão.
SINALIZAÇÃO PARA A NAVEGAÇÃO AÉREA
Os cabos podem ter de ser assinalados para a navegação aérea com a colocação de bolas de sinalização
aeronáutica. Este tipo de sinalização não é utilizado para proteção da avifauna.
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4. Interação das linhas elétricas com a avifauna
As interações diretas entre as aves e as linhas elétricas podem ser agrupadas em três tipos distintos, associados
a:
i. colisão;
ii. eletrocussão;
iii. disponibilização de suporte,
que a seguir são descritas, de forma sumária, salientando as principais incidências negativas sobre as aves
silvestres.
São de referir ainda interações indireta s com estas infraestruturas, sendo de destacar o efeito de exclusão
causado pela presença destas infraestruturas que pode ter consequências ao nível da seleção de habitat pelas
espécies, como o sisão (e.g. Silva et al. 2010).
Este efeito, que resulta na deslocação das aves de áreas que anteriormente lhes eram favoráveis, pode ser
causado por vários fatores: perda direta de habitat para construção da infraestrutura (p. ex. corte de árvores
para instalação de faixa de segurança/corredor de serviço); perda indireta de habitat, uma vez que as aves
evitam a presença da estrutura; aumento do risco de predação resultante da utilização dos apoios como poiso
de predadores; perturbação decorrente da construção e das normais atividades de manutenção. Esta exclusão
das aves de um dado território pode resultar em efeito de barreira, impedindo as aves de usarem as rotas normais
para os locais de alimentação ou de descanso.
São vários os fatores que influenciam o risco de mortalidade das aves (Scottish Natural Heritage, 2016):
- Características específicas de morfologia e biologia das aves: aves de maior dimensão e envergadura de asa,
aves gregárias que voam em bando, aves com hábitos crepusculares ou com capacidade visual mais reduzida,
aves com atenção centrada em atividades de caça ou de reprodução, aves menos experientes e aves migradoras
menos familiarizadas com a paisagem;
- Características da topografia e paisagem;
- Condições meteorológicas: vento forte, nevoeiro e chuva intensa podem forçar as aves a baixar a altura de voo
e reduzir a sua capacidade de evitar a colisão, ao afetar o controlo de voo e diminuir a visibilidade;
- As características das infraestruturas, nomeadamente a distância entre as partes em tensão e as ligadas à
terra, e a disponibilidade de locais de poiso, interferem no risco de eletrocussão;
- A espessura dos cabos e a sua disposição, influenciam o risco de colisão. Os cabos de terra são responsáveis
pela maior parte das colisões, por serem menos visíveis do que os cabos condutores e dada a sua disposição
superior, estando em rota de colisão com as aves que evitaram os condutores. O risco de colisão aumenta
também com o número de planos de colisão.
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COLISÃO
Definição: a colisão ocorre quando uma ave em voo embate em cabos tendidos, o que acontece em todo o tipo de linhas aéreas (até mesmo
em linhas de telecomunicações e linhas elétricas ferroviárias). Essa situação provém do facto do cabo não ter sido visto pela ave,
nomeadamente por o deslocamento ocorrer em condições de visibilidade reduzida (de noite, com nevoeiro) e/ou pela reduzida
secção do cabo que o torna pouco conspícuo.
Descrição das interações e potenciais impactes: morte da ave, ferimentos (normalmente graves), fragmentação de habitat.
Esquema ilustrativo:
Tensão das linhas onde ocorre: a colisão pode ocorrer em linhas elétricas de qualquer tensão. No entanto, este impacte é desprezável em
linhas de BT dada a sua visibilidade, considerando-se que esta interação se coloca sobretudo nas linhas elétricas de MT, AT e MAT.
Tipologias mais perigosas: nas linhas elétricas de AT e MAT, para além dos condutores são também montados cabos de guarda. Estes são
particularmente perigosos, porque têm menor diâmetro e encontram-se num plano superior ao dos cabos condutores (mais grossos).
Assim, quando as aves em voo tentam evitar a colisão com os cabos condutores acabam por colidir com o cabo de guarda. Nestes
casos, a perigosidade aumenta proporcionalmente ao número de planos horizontais em que os cabos se encontram tendidos.
Segundo os estudos decorrentes do primeiro Protocolo Avifauna com a EDP Distribuição, verificou-se que nas linhas elétricas de
MT o galhardete em alinhamento (GAL) está associado às maiores mortalidades por colisão. No que se refere às linhas
elétricas de MAT, na monitorização decorrente do protocolo com a REN verificou-se uma tendência para as tipologias de esteira
vertical, em linhas de duplo circuito, causarem maior mortalidade quando comparadas com a esteira horizontal de linhas
de um só circuito, o que deverá estar associado às diferenças no número de planos de colisão que apresentam.
Aspetos ecológicos e comportamentais das aves que aumentam o risco de colisão: comportamento gregário; atividade noturna,
crepuscular ou em condições de visibilidade reduzida; voos migratórios e de dispersão; voo com mudanças rápidas de direção;
reduzida capacidade de manobra de voo.
Minimização: adoção de tipologias que reduzam o número de planos de colisão e sinalização das linhas elétricas.
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ELETROCUSSÃO
Definição: a eletrocussão tem lugar quando uma ave estabelece contacto entre dois elementos condutores, a potenciais diferentes, permitindo
a circulação de uma corrente elétrica significativa através do seu corpo, que poderá ser mortal. Pode originar-se através do contacto
entre a ave e dois condutores aéreos ou entre a ave, um condutor e um outro qualquer elemento ligado à terra (ex. uma travessa de
metal no topo de um apoio). É um problema que afeta sobretudo as aves que poisam regularmente em apoios e que decorre da
distância entre cabos. Quanto maior a tensão da linha, maiores são as distâncias entre cabos, pelo que menor é o perigo de
eletrocussão.
Descrição das interações e potenciais impactes: morte da ave, ferimentos (normalmente graves).
Esquema ilustrativo:
Tensão das linhas onde ocorre: a eletrocussão verifica-se sobretudo nas linhas elétricas de MT, mas em AT pode afetar aves de maior
porte. Este impacte considera-se desprezável em linhas de MAT, dadas as maiores distâncias entre partes em tensão e partes ligadas
à terra.
Tipologias mais perigosas: a probabilidade de ocorrer eletrocussão num apoio elétrico relaciona-se com a distância entre o local de poiso
da ave e os condutores elétricos, a qual permite o contacto com as asas ou outra parte do corpo das aves que aí poisam.
Concretamente, nos apoios “normais” (ou seja, excetuando os seccionadores e postos de transformação aéreos) os dois aspetos
mais determinantes são a posição dos condutores relativamente às travessas de amarração (os condutores em posição superior ou
lateral relativamente às travessas são mais perigosos) e a dimensão dos isoladores (os isoladores mais pequenos associados a
tensões mais baixas são os mais perigosos). Deste modo, as armações em triângulo em alinhamento (TAL), nomeadamente com
isoladores rígidos e as esteiras horizontais de alinhamento (HAL), são as armações mais perigosas. No entanto, os
seccionadores montados em plano horizontal são o equipamento mais perigoso de todos, uma vez que a posição de
condutores e outras estruturas em tensão encontram-se em plano superior ao das armações.
Segundo os estudos no âmbito do protocolo com a EDP Distribuição, as tipologias que mais contribuíram para a eletrocussão nas
áreas estudadas foram os Seccionadores Horizontais, os Postos de Transformação aéreos e as armações em triângulo com
isoladores rígidos. A curta distância entre os elementos em tensão é o fator determinante do risco elevado destas tipologias. NOTA:
A empresa abandonou recentemente (2015) a montagem horizontal dos seccionadores em novas linhas elétricas, bem como as
tipologias em triângulo com isoladores rígidos, atendendo á sua elevada perigosidade para a avifauna.
Aspetos ecológicos e comportamentais que potenciam o risco de eletrocussão: a generalidade das aves utiliza frequentemente os
postes. Em particular as aves predadoras são atraídas e utilizam frequentemente os postes elétricos como poisos estratégicos para
observação e defesa do território, caça e alimentação, e ainda para descanso, e secar a plumagem. O risco de eletrocussão depende
muito das dimensões da ave sendo em geral o risco maior quanto maior for a ave), das técnicas de caça, da idade da ave (as aves
jovens morrem mais que as aves adultas devido à sua inexperiência de voo). A elevada humidade atmosférica, que aumenta a
condutividade das penas, potencia substancialmente o risco de eletrocussão.
Minimização: revestimento dos elementos condutores junto do poste e aumento das distâncias entre os cabos, e também aplicação de
dispositivos antipoiso e antinidificação.
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DISPONIBILIZAÇÃO DE SUPORTE
Definição: disponibilização de locais de nidificação ou de poiso em estruturas da rede elétrica, utilizados por algumas espécies.
Descrição das interações e potenciais impactes: aumento de avarias no sistema de transporte e distribuição de energia elétrica, incidentes
de eletrocussão e colisão de aves, aumento da predação das espécies que nidificam no solo.
Esquema ilustrativo:
Tipologias mais perigosas: as travessas sobre isoladores apresentam mais riscos de eletrocussão devido à possibilidade de criar arco
elétrico com as dejeções de indivíduos que nelas poisem e, por outro lado, por serem propensas à instalação de ninhos. Esta
situação ocorre em linhas elétricas de MT, AT e MAT.
Aves afetadas: sobretudo cegonha-branca, aves de rapina, corvídeos. Este tipo de interação assume grande visibilidade no que diz respeito
à cegonha-branca, sobretudo nas regiões do centro e sul do país.
Minimização: instalação de dispositivos antipouso e antinidificação e implantação de “apoios dedicados” com plataforma de nidificação
associada., Estas medidas nem sempre se revelam eficazes devido à capacidade da espécie se adaptar às soluções aplicadas presentemente.
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5. Avaliação do impacte das linhas elétricas na avifauna: Média Tensão, Alta Tensão e Muito Alta Tensão
Na avaliação do impacte das linhas elétricas sobre a avifauna deve atender-se às espécies que ocorrem na área
em causa e à suscetibilidade que apresentam ao risco de eletrocussão ou colisão, ao atravessamento de áreas
com importância para a conservação das aves, e o nível de risco decorrente das características técnicas da linha
em causa (tensão, tipos de armações e outras).
A avaliação ajustada a cada situação, do impacte que a infraestrutura introduzirá, resulta do cruzamento de
todos estes aspetos.
►NOTA: neste documento não são abordadas as linhas de BT, porque não apresentam problemas de
eletrocussão e, de acordo com as evidências disponíveis, são consideradas pouco problemáticas em termos de
colisão.
SUSCETIBILIDADE DAS ESPÉCIES PRESENTES E SEU ESTATUTO DE AMEAÇA
O risco de colisão /eletrocussão não é igual para todas as espécies de aves, sendo função das suas
características biológicas e comportamentais. Genericamente, as aves que utilizam as infraestruturas elétricas
como local de poiso, de nidificação ou de dormida, e que apresentam médio ou grande porte são muito
suscetíveis de sofrerem eletrocussão. Aves gregárias com mudanças rápidas de direção de voo, como anatídeos
e limícolas, e espécies que têm reduzida capacidade de manobra de voo, como a abetarda, sisão e grou,
apresentam maior risco de colisão. A Tabela 1 indica o risco atribuído às diferentes espécies de aves.
Para sumarizar, de forma simplificada, considera-se que os grupos de espécies particularmente sensíveis a
estas infraestruturas são as aves estepárias, as aves aquáticas, as aves migradoras planadoras (como
águias, abutres, cegonhas) e as aves de rapina. Para os três primeiros grupos a interação predominante é a
colisão, mas para as aves de rapina o risco dominante é de eletrocussão. Destaca-se ainda, por ter particular
visibilidade, a interação da cegonha-branca com as linhas elétricas e seus apoios, sobretudo ao nível da
nidificação.
Na análise da afetação da avifauna há que atender ainda ao estatuto de ameaça das espécies de aves em
Portugal referido no Livro Vermelho (Cabral et al. 2005), devendo ser dado particular ênfase à avaliação da
afetação de espécies com maior preocupação de conservação, ou seja, de espécies com estatuto de ameaça
Criticamente em Perigo (CR), Em Perigo (EN) e Vulnerável (VU).
Acrescidamente, espécies como grifo e bufo-real, embora classificadas no Livro Vermelho como Quase
Ameaçadas (NT), deverão ser alvo de atenção tendo em conta a sua relevância ecológica e elevada
suscetibilidade.
Em anexo é apresentada a listagem das espécies com ocorrência regular em Portugal Continental que
apresentam maior risco de colisão/eletrocussão, sendo referido o seu estatuto de ameaça (Anexo II).
AFETAÇÃO DE ÁREAS COM IMPORTÂNCIA RECONHECIDA PARA A CONSERVAÇÃO DAS AVES
Deve ser analisado o atravessamento (quantificando a extensão desse atravessamento), ou a proximidade, a
Áreas Protegidas, Zonas de Proteção Especial e Sítios Ramsar, e também outras áreas relevantes,
designadamente as classificadas como IBA (Important Bird Áreas - sítios com significado internacional para a
conservação das aves à escala global, de designação informal pela BirdLife International).
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Conforme o tipo e detalhe da informação de base disponível, a análise da afetação da avifauna pode basear-se
em:
a) Informação sobre a ocorrência das espécies;
b) Habitat potencial das espécies.
Para este efeito pode recorrer-se à análise da carta de ocupação de solos da área em que se insere a linha e
sua envolvente, disponível para Portugal Continental (consultar sítio na Internet da Direção Geral do Território).
ZONAMENTO DO RISCO CAUSADO PELAS LINHAS ELÉTRICAS
Em função dos valores naturais em presença e da proximidade a locais críticos, as áreas atravessadas por linhas
elétricas podem ser classificadas em termos de sensibilidade a estas infraestruturas.
Para esta avaliação do risco das áreas atravessadas pelas linhas elétricas, as situações têm de ser analisadas
caso a caso. Com a melhor informação disponível, deve-se atender à proximidade a locais de nidificação e a
outras áreas vitais para as espécies de aves com estatuto de ameaça elevado e que apresentem acentuado
risco de eletrocussão ou colisão, e ao atravessamento de áreas consideradas relevantes para a conservação da
avifauna. Nesta lógica, deve ser dada particular atenção aos troços:
o na proximidade de ninhos e de outras áreas vitais de rapinas com estatuto de ameaça elevado (CR,
EN, VU);
o na proximidade de locais de locais de elevada concentração de aves aquáticas;
o na proximidade de dormitórios e de zonas de alimentação de grous, e que atravessem corredores
que estabelecem a ligação entre estas áreas;
o na proximidade de leks de abetardas e de sisão, e que atravessem zonas importantes de veraneio
/ invernada e corredores de dispersão destas espécies;
o em zonas de concentração pós-nupcial e nos principais locais de alimentação de cegonha-preta;
o em corredores migratórios e de dispersão de importância reconhecida (como região de Sagres,
vales de grandes rios).
Para algumas espécies, os estudos desenvolvidos e os conhecimentos sobre o comportamento das aves
permitiram aferir qual a problemática de risco predominante. Assim, para as grandes rapinas e abutres considera-
se que a interação predominante é a eletrocussão, apesar de haver também elevado risco de colisão em torno
dos ninhos, sobretudo para os indivíduos juvenis. Para a cegonha-preta, dado que não pousa em postes,
considera-se que a problemática predominante é a colisão. A colisão é também a interação dominante para
espécies gregárias, como anatídeos, limícolas, grous, e aves com reduzida capacidade de manobra de voo,
como a abetarda e o sisão.
A classificação da sensibilidade das áreas atravessadas por linhas elétricas está sintetizada na Tabela 2, sendo
analisada separadamente a interação de eletrocussão e de colisão. É importante reter que, em termos gerais, a
eletrocussão é predominante nas linhas de MT e quase inexistente nas linhas de AT e MAT, e que a
colisão deve ser considerada nas diferentes tensões.
Informação de base sobre os valores presentes
Para avaliação da afetação pelas linhas elétricas deve ser utilizada toda a informação existente no ICNF,
incluindo, se necessário, consulta a outras entidades (ONGA, Autoridade Nacional de Avaliação de Impacte
Ambiental, Centros de investigação, Promotores de EIA e dos programas de monitorização associados).
Para apoio à avaliação da sensibilidade das zonas atravessadas por estas infraestruturas foram preparadas
shape-files que identificam as áreas a dar especial atenção, por grupo de espécies (aves de rapina, aves
estepárias, aves aquáticas, aves migradoras planadoras, outras espécies), sugerindo-se que se analise a sua
sobreposição com o traçado em apreço. Essas shape-files estão disponíveis em
http://www2.icnf.pt/portal/pn/biodiversidade/ordgest/aa/av-inc-amb , em cartografia de apoio.
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 21 (39)
Características da linha elétrica
Conforme a tipologia da linha elétrica e características descritas no capítulo anterior - designadamente o tipo de
apoio, de armação e de amarração - prevêem-se diferentes afetações da avifauna. Estes aspetos devem constar
de forma explícita no projeto.
Tabela 1. Risco de colisão e eletrocussão atribuído às espécies de aves (segundo Infante et al. 2005 e BirdLife International 2003, respetivamente). Risco de colisão: Intermédio; Elevado. Risco de eletrocussão: 0 (sem registos ou ocorrência pouco provável); I (com registos, mas que não constituem ameaça aparente para a população); II (elevada ocorrência de registos, mas supostamente sem impacte significativo na população), III (ocorrência de mortalidade constitui um importante fator de mortalidade, representando uma ameaça de extinção a nível regional ou a escala mais alargada).
Famílias Risco de colisão Risco de eletrocussão
(Gavidae) e Podicipedidae Intermédio 0
Phalacrocoracidae Intermédio I
Ardeaidae Intermédio I
Ciconidae Elevado III
Phoenicopteridae Intermédio 0
Anatidae Elevado 0
Accipitridae e Falconidae Intermédio II-III
Phasianidae Elevado 0
Rallidae Elevado 0
Gruidae Elevado 0
Otidae Elevado 0
Charadriidae e Scolopacidae Elevado I
Sterkorariidae e Laridae Intermédio I
Sternidae - 0-I
Pteroclidae Intermédio 0
Columbidae Elevado II
Cuculidae Intermédio 0
Strigiformes Elevado I-II
Caprimulgidae e Apodidae Intermédio 0
Upudidae e Alcedinidae - I
Meropidae - 0-I
Coraciidae e Psittacidae Intermédio I
Picidae Intermédio I
Corvidae Intermédio II-III
Passeriformes de pequeno e médio porte Intermédio I
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Tabela 2. Zonamento das áreas importantes para conservação da avifauna para efeitos da instalação de linhas elétricas, distinguindo-se o risco predominante.
Risco predominante: ELETROCUSSÃO Risco predominante: COLISÃO
ÁREA MUITO CRÍTICA
área até 1 km em torno dos ninhos das espécies com estatuto de ameaça elevado (CR, EN, VU) e com acentuado risco de eletrocussão (II-III), nomeadamente: - Britango - Abutre-negro - Águia–de-bonelli - Águia-real - Águia-imperial - Francelho - Búteo-vespeiro - Águia-sapeira - Tartaranhão-cinzento - Águia-caçadeira - Açor - Ógea - Falcão-peregrino
área até 1km em torno de campos de alimentação de aves necrófagas
área até 1 km em torno de leks de abetardas;
áreas dos leks de sisão;
zonas prioritárias de veraneio e de invernada de sisão e de abetarda e corredores de dispersão utilizados, caso exista esse conhecimento;
área até 1 km em torno dos ninhos, de zonas de concentração pós-nupcial, dos principais locais de alimentação e de outras áreas prioritárias de cegonha-preta, quando conhecidas com detalhe,;
área até 1 km em torno de dormitórios de grous e faixa que inclua os corredores que estabelecem a ligação entre os seus dormitórios e áreas de alimentação;
área até 1km em torno de sítios RAMSAR relevantes para a conservação de aves aquáticas12 ou até 500m em torno de outras zonas húmidas importantes para as aves aquáticas13;
área até 1 km em torno de abrigos de gralha-de-bico-vermelho.
área até 1 km em torno de campos de alimentação de aves necrófagas
ÁREA CRÍTICA
área de 1 a 5 km em torno dos ninhos referidas para a área muito crítica;
área até 2 km em torno de ninhos de bufo-real;
área até 5 km em torno de ninhos de grifo;
zonas de assentamento de rapinas com estatuto de ameaça elevado (CR, EN, VU);
área de 1 a 5 km em torno de campos de alimentação de aves necrófagas;
área utilizada de forma relevante14 durante a época de reprodução por espécies com estatuto de ameaça elevado (CR, EN, VU) e com acentuado risco de eletrocussão (II e III), nas situações em que não se conhece com detalhe a localização dos ninhos;
corredores migratórios com importância reconhecida.
zonas estepárias bem conservadas (i.e. com abundância de pousio/pastagem ) e de dimensão favorável á ocorrência das espécies com maiores áreas vitais (mínimo de 50ha);
zonas de alimentação de grous;
área até 1 km em torno de zonas húmidas importantes para conservação de aves aquáticas e faixa de 1 km que inclua os principais corredores utilizados por estas aves;
corredores migratórios e de dispersão de importância reconhecida e área utilizada de forma relevante15 durante a época de reprodução por outras espécies com estatuto de ameaça elevado (CR, EN, VU) e com risco de colisão elevado;
área de 1 a 5km em torno de campos de alimentação de aves necrófagas
ÀREA SENSÍVEL
Áreas Classificadas15 e IBA nos troços que atravessem habitat potencial para as espécies que levaram à sua classificação (em áreas não identificadas como Muito Críticas ou Críticas)
12 Excluem-se os Sítios Ramsar Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de Arcos e Planalto superior da S. Estrela e troço superior do rio Zêzere (Anexo II). 13 Assumem-se como zonas húmidas importantes para as aves aquáticas as áreas de contagem selecionadas no Plano Nacional de Contagens de Aves Aquáticas (Anexo II). 14 Relevância em termos de frequência de utilização, número de indivíduos envolvidos, ou especificidades locais, a avaliar caso a caso. 15 As áreas abrangidas pelo Sistema Nacional de Áreas Classificadas (SNAC), estabelecido pelo Decreto-Lei nº 142/2008 de 24 de julho, na sua redação atual incluem: - Áreas protegidas integradas na Rede Nacional de Áreas Protegidas (RNAP); - Áreas classificadas no âmbito da Rede Natura 2000, ou seja, os sítios da Lista Nacional de Sítios e as Zonas de Proteção Especial; - Demais áreas classificadas ao abrigo de compromissos internacionais assumidos pelo Estado Português, designadamente áreas RAMSAR.
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6. Procedimentos a adotar na avaliação de projeto s e emissão de pareceres
ANÁLISE DE ALTERNATIVAS
Após avaliação do traçado proposto em termos de atravessamento das áreas referidas no zonamento
apresentado na Tabela 2, deve ser feita uma análise de alternativas aos traçados apresentados, de forma a
minimizar o atravessamento de áreas Muito Críticas ou Críticas.
Como recomendação geral, o traçado das linhas elétricas não deve atravessar planos de água nem ribeiras
relevantes pela sua utilização pelas aves; deve ainda atender-se à orografia, evitando que acompanhe as linhas
de água e evitando também a sua colocação nas linhas de festo. O traçado deve ser definido de acordo com a
topografia do terreno.
Nessa análise de traçados alternativos, importa confrontar os corredores possíveis, em termos de extensão e
importância das áreas acima referidas que sejam eventualmente atravessadas.
O enterramento das linhas é a única solução que elimina por completo o risco de mortalidade por colisão; é uma
opção que tem grandes custos financeiros e dificuldades técnicas associadas, mas deve ser ponderada em fase
de planeamento das linhas, caso se afigure ser impossível evitar o atravessamento de áreas muito críticas.
MEDIDAS DE MINIMIZAÇÃO
Para cada situação em particular, devem ser equacionadas medidas para minimizar os impactes nos valores de
avifauna presentes, durante a fase de exploração das infraestruturas.
Na determinação das medidas de minimização é fundamental assumir a sua eficácia relativa na diminuição do
risco de mortalidade para as aves. Nesta matéria, entende-se que:
o O risco de eletrocussão é minimizado através de alterações da configuração das armações e dos apoios
de rede e do revestimento das partes em tensão que lhe são adjacentes, podendo ser virtualmente eliminado.
Nas linhas de AT, uma vez que as distâncias entre partes em tensão e partes ligadas à terra são superiores a
0,70 m, não se verifica a necessidade da aplicação de soluções idênticas às utilizadas na MT, que apenas se
justificam quando ocorrem aves de maior envergadura. O risco de eletrocussão é virtualmente inexistente em
linhas MAT.
o O risco de colisão é minimizado através da redução do número de planos de colisão e da sinalização das
linhas, medidas que não asseguram no entanto a sua eliminação absoluta. Considera-se assim que a
minimização deste risco deve assentar sobretudo na melhor escolha do traçado
Há disponíveis dispositivos para sinalização das linhas que têm apresentado um resultado global positivo na
redução da taxa de colisão de aves (com eficácias estimadas de 50-94% (Jenkins et al. 2010; Barrientos et al.
2011) e que devem ser utilizados para minimizar o risco de colisão.
São vários os fatores que influenciam a sua eficácia dos sinalizadores, incluindo características da morfologia,
comportamento e capacidade visual das aves, tipo de habitat, orografia e paisagem verificando-se que a eficácia
desses dispositivos é muito variável (Barrientos et al. (2012), LPN (2013), Costa et al. (2012), Marques et al.
(2007), Scottish Natural Heritage (2016)). Constata-se que pode ser bastante modesta e mesmo baixa em várias
situações com ocorrência de espécies particularmente suscetíveis à colisão com linhas (ver LPN (2013), Costa
et al. (2012), Anderson 2002; Janss & Ferrer 1998; Marques et al. 2007), o que reforça a importância da definição
do traçado como forma de prevenção de impactes em espécies particularmente sensíveis.
Não sendo tecnicamente possível evitar o atravessamento de áreas com relevância para a avifauna, deve ser
promovida a adequação da tipologia dos sinalizadores (ver pág. 15 e 16) e da intensidade do seu espaçamento,
bem como da tipologia da armação dos apoios, de forma a minimizar o risco de colisão.
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 24 (39)
Preconiza-se um gradiente de intensidade na aplicação de medidas de minimização do risco de mortalidade
conforme a importância das áreas atravessadas, a sensibilidade das espécies presentes e a preocupação com
a sua conservação, e atendendo ao nível conhecido de eficácia das medidas mitigadoras dos impactes (ver Fig.
1).
Estas medidas de minimização estão detalhadas nas Tabelas 3.1, 3.2 e 3.3, segundo a tensão em causa. A
avaliação da problemática de interação predominante com as linhas elétricas deve ser feita com base na Tabela
2, e ser devidamente identificada e fundamentada no parecer dado.
Fig. 1. - Medidas de minimização dos riscos de colisão e eletrocussão de acordo com a importância das áreas atravessadas para a conservação da avifauna.
* No caso de não ser tecnicamente viável evitar o atravessamento das áreas Muito Críticas
(por impossibilidade fundamentada pelo Promotor) devem ser implementadas medidas de
redução do risco mais intensivas do que as estabelecidas para as outras áreas.
Na avaliação dos projetos, sugere-se que as linhas elétricas sejam divididas em troços, conforme a sensibilidade
das áreas atravessadas, para os quais se devem estabelecer as medidas de minimização adequadas a cada
situação.
A título indicativo é também incluída em anexo uma listagem-base das medidas de minimização de impactes
durante a fase de obra (Anexo IV), que poderá ser complementada com outras medidas adicionais conforme
uma análise caso-a-caso.
ÁREA MUITO CRÍTICA
INTERDIÇÃO / ENTERRAMENTO *
ÁREA CRÍTICA
MINIMIZAR COLISÃO:
redução nº planos
+
sinalização da linha
MINIMIZAR ELECTROCUSSÃO
ÁREA SENSÍVEL
MINIMIZAR COLISÃO:
sinalização da linha
MINIMIZAR ELECTROCUSSÃO
ATENÇÃO: presença de rapinas de grande envergadura?
ATENÇÃO: predomina colisão?
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AS PREOCUPAÇÕES DE INTEGRAÇÃO PAISAGÍSTICA
Em Áreas Protegidas, em alternativa aos apoios em betão tem sido imposta a utilização de apoios metálicos
reticulados, por razões de ordem paisagística (salvo nos apoios de suporte aos PT aéreos).
No entanto, atente-se a que a EDP Distribuição não possui modelo homologado deste tipo de poste que permita
o uso de cabo coberto ou a utilização de armações com disposição horizontal dos condutores, sendo os modelos
disponíveis apenas compatíveis com armação em esteira vertical ou galhardete, pelo que a opção de utilização
de poste reticulado deve ser limitada a áreas menos relevantes para a avifauna. Por outro lado, note-se que a
opção de não admitir armações em galhardete implica a instalação de um maior número de apoios, porque a
distância entre condutores sendo menor requer um menor comprimento de vãos; esta situação em relevos de
montanha implicará um acréscimo de número de apoios que, se significativo, acarretará impactes sobre outros
valores naturais (ainda que apenas ou predominantemente na fase de obra) devido à maior extensão de acessos
que porventura seja necessário abrir ou beneficiar.
Refira-se que, individualmente, os postes metálicos reticulados têm custos mais elevados que os apoios em
betão, pelo que normalmente são usados pela EDP Distribuição em situações em que o acesso ao local de
implantação não permite o transporte do apoio de betão (dado que os apoios metálicos são modulares, podendo
ser montados no local).
Nas Áreas Sensíveis (de acordo com Tabela 2) localizadas em Áreas Protegidas, e quando se considere a
eletrocussão como a interação predominante, as preocupações de integração paisagística consagradas nos
POAP são mais compatíveis com as preocupações de conservação da avifauna e poderá ser dada primazia à
utilização dos postes metálicos reticulados.
AS ÁREAS SUBMETIDAS A REGIME FLORESTAL
Estas áreas devem ser enquadradas no zonamento de sensibilidade apresentado na Tabela 2. Se não incluídas
em nenhuma daquelas classificações, nessas áreas deve ser assegurado um mínimo de prevenção de riscos
para a avifauna, requerendo sempre:
- a não utilização de isoladores rígidos, para minimizar o risco de incêndio que se considera potenciado com a
utilização desta tipologia;
- a instalação dos seccionadores em posição vertical ou invertida, a uma distância mínima de 35 cm até ao topo
do poste, devendo os respetivos arcos ser revestidos.
Refira-se que, embora a EDP Distribuição já não empregue os isoladores rígidos em novas linhas e tenha
abandonado a instalação dos seccionadores em posição horizontal, esses aspetos deverão ser referidos nos
pareceres pois o dono da obra pode ser outro Promotor.
Para melhor compreensão da problemática associada às linhas de Muito Alta Tensão e definição de medidas de
minimização, deve ser feita leitura do documento “Critérios para a Implementação de Medidas de Minimização
de Impactes das linhas da Rede Nacional de Transporte sobre a Avifauna” (Neves et al. 2005).
EMISSÂO DE PARECERES
Nos pareceres emitidos pelo ICNF devem ser sempre especificados os valores em presença e os aspetos de
conservação da natureza que se colocam na situação em apreço, de forma a fundamentar com clareza a
classificação atribuída à área atravessada pelas linhas em causa. Na redação dos pareceres, as designações a
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utilizar para designar as áreas atravessadas devem ser padronizadas: Área Muito Crítica, Área Crítica, Área
Sensível
Recomenda-se que sejam desenvolvidos os contactos Departamentos territorialmente desconcentrados do
ICNF / Promotores, no sentido de agilizar a discussão das melhores soluções adequadas à especificidade de
cada projeto.
Pode haver particularidades da situação em apreciação que façam com que as soluções descritas na Tabela 3
não se afigurem tecnicamente possíveis, devendo nesse caso ser analisadas conjuntamente com o Promotor
soluções alternativas que melhor respondam às preocupações de conservação da avifauna.
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Tabela 3.1. Linhas elétricas de Média Tensão: condicionantes e medidas de minimização a propor.
LINHA MÉDIA TENSÃO (> 1 kV e ≤ 45 kV)
ENTERRAMENTO/INTERDIÇÃO
As Áreas Muito Críticas devem ser consideradas como impeditivas ou fortemente condicionantes na definição dos traçados de novas linhas, pelo que face ao seu atravessamento deve ser prioritariamente considerada a possibilidade de:
- Enterramento - Estudo de traçados alternativos que evitem o seu atravessamento
NOTA: No caso de não ser tecnicamente viável evitar o atravessamento destas Áreas Muito Críticas (por impossibilidade devidamente fundamentada pelo Promotor) devem ser implementadas as medidas de redução do risco mais intensivas, ou seja as previstas para as Áreas Criticas quando o risco predominante é a colisão (ver abaixo), mas com uma distância entre sinalizadores não superior a 5m (d= 5m)), ou seja com os dispositivos dispostos de 10m em 10m nos condutores externos.
MINIMIZAÇÃO DO RISCO DE COLISÃO
Redução do número de planos de colisão:
Adoção de uma tipologia de linha com menor número de planos de colisão (p. ex. armações em pórtico, esteira horizontal, ou outras que se venham a considerar, evitando as armações em galhardete), sempre que tecnicamente possível.
Como alternativa poderá ser ponderado o recurso a tecnologias que aumentem a visibilidade dos cabos, como cabo coberto (ou spacer-cable) ou cabo em torçada (presentemente espera homologação), sendo nesse caso dispensada a sinalização da linha. Na aprovação de projeto s deve ser sempre considerada junto da EDP Distribuição a possibilidade de implementar estas tecnologias em alternativa às convencionais.
Sinalização das linhas:
Os condutores deverão ser sinalizados em toda a extensão do vão, através da instalação de sinalizadores alternadamente em cada condutor. O afastamento aparente entre cada dispositivo de sinalização não deverá ser superior a 10 m (d=10m), ou seja, deverão ser dispostos de forma alternada, de 20 m em 20 m, em cada condutor de fase. NOTA: Se, por imperativos técnicos fundamentados pela EDP Distribuição, tiver que ser utilizado galhardete, os sinalizadores serão dispostos de 30 em 30m em cada condutor de fase.
►Em Área Crítica onde o risco predominante é a colisão (ver Tabela 2): a sinalização deve ser feita com aplicação de Fireflies.
Nas outras situações: a sinalização poderá ser feita por instalação de espirais de sinalização-dupla de cor branca ou amarela/vermelha/laranja (alternando as referidas cores), nos condutores de fase nus.
Os cabos com diâmetro ≥ 17 mm não carecem de sinalização.
No caso de troços de linhas elétricas em que, para dar cumprimento à circular aeronáutica n.º 10/03, de 6 de maio, seja necessário efetuar balizagem aérea através da utilização de bolas de balizagem, não será necessário aplicar sinalização para aves.
MINIMIZAÇÃO DO RISCO DE ELETROCUSSÃO
Os seccionadores deverão ser montados na posição vertical ou invertida, a uma distância mínima de 35 cm até ao topo do poste, com os respetivos arcos revestidos (ver adiante). NOTA: Este aspeto já é assegurado pela EDP Distribuição, mas deverá ser referido nos pareceres pois o dono da obra pode ser outro Promotor.
Não é permitida a construção de linhas elétricas utilizando condutores nus sobre isoladores rígidos, exceto isoladores para reenvio de arcos. NOTA: Este aspeto já é assegurado pela EDP Distribuição, mas deverá ser referido nos pareceres pois o dono da obra pode ser outro Promotor.
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Cobertura de elementos em tensão:
- Não são admitidos elementos em tensão sem proteção por cima do topo do poste ou das travessas.
- Nos apoios de rede não deverão existir partes nuas em tensão a uma distância das travessas ligadas à terra inferior a 70 cm, recorrendo para tal às soluções de cobertura mais adequadas ao projeto em causa.
- Nos casos em que os arcos dos condutores estejam instalados abaixo do plano da travessa e a uma distância dessa travessa não inferior a 70 cm, esses arcos poderão ser constituídos em cabo nu. Para distâncias à travessa inferiores ou em casos em que seja necessária a passagem do arco acima do plano da travessa, esses arcos deverão ser cobertos em toda a sua extensão, recorrendo à utilização de soluções de cobertura dos elementos em tensão que se julguem adequadas à situação [utilização de cabo coberto ou de condutores nus revestidos através da aplicação de coberturas de proteção de condutor].
- Nos apoios de derivação, os condutores da linha principal e derivada(s) deverão igualmente ser revestidos numa extensão de 70 cm contados a partir dos isoladores adjacentes às pinças de amarração e os respetivos arcos deverão ser em cabo coberto ou revestidos (recorrendo às soluções de cobertura dos elementos em tensão que se julguem adequadas à situação).
- Nos postos de transformação aéreos e transições aéreo-subterrâneas deverá igualmente ser garantida a cobertura dos condutores e arcos existentes, nas mesmas distâncias acima previstas.
►Em Área Crítica com ocorrência de rapinas de maior envergadura de asa (como águia-imperial, águia-de-bonelli, águia-real, abutres), a distância de cobertura acima referida deverá ser, no mínimo, de 120cm.
NOTA: as linhas em cabo coberto dispensam medidas de cobertura dos elementos em tensão.
Em linhas dentro da área de nidificação de cegonha-branca deverão ser adotados os dispositivos normalizados pela EDP Distribuição de antipouso e antinidificação. Preventivamente, a aplicação destes dispositivos mantém-se mesmo no caso de utilização de cabo coberto.
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Tabela 3.2. Linhas elétricas de Alta Tensão: condicionantes e medidas de minimização a propor.
LINHA ALTA TENSÃO: > 45 kV e <110 kV
ENTERRAMENTO/INTERDIÇÃO
As Áreas Muito Críticas devem ser consideradas como impeditivas ou fortemente condicionantes na definição dos traçados de novas linhas, pelo que face ao seu atravessamento deve ser prioritariamente considerada a possibilidade de:
- Enterramento
- Estudo de traçados alternativos que evitem o seu atravessamento NOTA: No caso de não ser tecnicamente viável evitar o atravessamento destas Áreas Muito Críticas (por impossibilidade devidamente fundamentada pela EDP Distribuição) devem ser implementadas medidas de redução do risco mais intensivas, ou seja as previstas para as Áreas Criticas quando o risco predominante é a colisão (ver abaixo), mas com uma distância entre sinalizadores não superior a 5m (d= 5m).
MINIMIZAÇÃO DO RISCO DE COLISÃO
Redução do número de planos de colisão:
Adoção de uma tipologia de linha que reduza o n.º de planos de colisão (p. ex. armações em pórtico), evitando as armações em galhardete se tecnicamente possível.
Sinalização das linhas:
Os condutores deverão ser sinalizados em toda a extensão do vão, através da instalação de sinalizadores alternadamente em cada condutor lateral, incluindo o cabo de guarda se existente. O afastamento aparente entre eles não deverá ser superior a 10 m (d=10m), podendo a sua disposição variar conforme o diâmetro dos cabos e também com a tipologia da armação: Cabos com diâmetro inferior a 17 mm:
- Esteira vertical dupla: afastamento de 60 m alternadamente em cada condutor de fase e de 20 m no cabo de guarda; - Armações em galhardete: afastamento de 40 m alternadamente nos 3 condutores de fase e no cabo de guarda; - Outros tipos de armações: afastamento de 30 m alternadamente em cada condutor exterior e no cabo de guarda; - No caso de não existir cabo de guarda: de 20 m alternadamente em cada condutor exterior;
Cabo de guarda com diâmetro inferior a 17 mm e cabos condutores com diâmetro igual ou superior a 17 mm: os sinalizadores deverão ser instalados apenas no cabo de guarda, de 10 m em 10 m.
► Em Área Crítica onde o risco predominante é a colisão (ver Tabela 2): a sinalização deve ser feita com aplicação
de Fireflies16.
Nas outras situações: a sinalização poderá ser feita com espirais de sinalização – dupla, de cor branca ou vermelho/laranja/amarela (alternando as referidas cores), nos condutores de fase e no cabo de guarda, se existente.
Os cabos com diâmetro ≥ 17 mm não carecem de sinalização.
Nos caso de troços de linhas elétricas em que, para dar cumprimento à circular aeronáutica n.º 10/03, de 6 de Maio, seja necessário efetuar balizagem aérea através da utilização de bolas de balizagem, não será necessário aplicar sinalização para aves.
MINIMIZAÇÃO DO RISCO DE ELETROCUSSÃO
Nas linhas de Alta Tensão as distâncias entre partes em tensão e partes ligadas à terra são superiores a 0,70 m, pelo que não se verifica a necessidade da aplicação de soluções idênticas às utilizadas na MT.
►Contudo, nas Áreas Críticas com ocorrência de rapinas de maior envergadura de asa (como águia-imperial, águia-de-bonelli, águia-real, abutres) deverão ser adotadas soluções técnicas que assegurem que as referidas distâncias sejam no mínimo 1,20 m.
Em linhas dentro da área de nidificação de cegonha-branca deverão ser adotados os dispositivos normalizados pela EDP Distribuição de antipouso e antinidificação. Preventivamente, a aplicação destes dispositivos mantém-se mesmo no caso de utilização de cabo coberto.
16 Esta solução tem de ser avaliada caso a caso. A linha Évora-Caeira, sinalizada com espirais duplas, tem sido monitorizada sem apresentar evidências de mortalidade de abetarda.
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Tabela 3.3- Linhas elétricas de Muito Alta Tensão: condicionantes e medidas de minimização a propor.
LINHA MUITO ALTA TENSÃO: ≥ 110 ≤400 kV
ENTERRAMENTO/INTERDIÇÃO
As Áreas Muito Críticas devem ser consideradas como impeditivas ou fortemente condicionantes na definição dos traçados de novas linhas, pelo que face ao seu atravessamento deve ser prioritariamente considerada a possibilidade de:
- Enterramento
- Estudo de traçados alternativos que evitem o seu atravessamento
NOTA: No caso de não ser tecnicamente viável evitar o atravessamento destas Áreas Muito Críticas (por impossibilidade devidamente fundamentada pelo Promotor), para minimização dos impactes devem ser implementadas as medidas de redução do risco mais intensivas, ou seja as previstas para as Áreas Criticas em que predomina o risco de colisão (ver abaixo), mas com
uma distância entre sinalizadores não superior a 5m (d= 5m) (ou seja, os sinalizadores deverão serão dispostos de 10 em 10
metros, alternadamente em cada cabo de guarda).
MINIMIZAÇÃO DO RISCO DE COLISÃO
Redução do número de planos de colisão:
Adoção de uma tipologia de linha que reduza o n.º de planos de colisão (p. ex. MTG ou Q para circuito simples, ou YDR, para duplo circuito), se tecnicamente possível.
Sinalização das linhas:
Os cabos de guarda deverão ser sinalizados em toda a extensão do vão, através da instalação de sinalizadores, sendo que o afastamento aparente entre cada dispositivo de sinalização não deverá ser superior a 10m (d=10m) (ou seja, os sinalizadores deverão serão dispostos de 20 em 20 metros, alternadamente em cada cabo de guarda).
► Em Área Crítica (ver Tabela 2): a sinalização deve ser feita com instalação de Fireflies.
Nas outras situações: a sinalização poderá ser feita por instalação de espirais de sinalização-dupla de cor branca ou amarela/vermelha/laranja, alternando as referidas cores.
Nos caso de troços de linhas elétricas em que, para dar cumprimento à circular aeronáutica n.º 10/03, de 6 de Maio, seja necessário efetuar balizagem aérea através da utilização de bolas de balizagem, não será necessário aplicar sinalização para aves.
Dispositivos antipouso e antinidificação:
Em linhas dentro da área de nidificação de cegonha-branca deverão ser instalados dispositivos antipouso e antinidificação.
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7. Monitorização do impacte da linha
No caso de linhas elétricas sujeitas a procedimento de AIA ou de AINCA (quer no âmbito do Decreto-Lei
n.º 140/99, quer englobadas em projetos de centros electroprodutores abrangidos pelo Decreto-Lei n.º 172/2006,
ambos os diplomas na redação em vigor), e quando existam impactes previsíveis sobre espécies de aves
protegidas, os impactes sobre a avifauna decorrentes da instalação de linhas de transporte de energia devem
ser sempre alvo de monitorização, de acordo com um Programa de Monitorização a estabelecer no âmbito desse
procedimento.
Essa monitorização deve ser feita tendo em vista a posterior otimização das medidas de minimização previstas.
O relatório final da monitorização deve apresentar dados quantitativos que fundamentem a eventual necessidade
de rever as medidas de minimização de mortalidade implementadas, nomeadamente no que se refere a
aumentar a extensão/intensidade de sinalização ou utilização de diferente tipologia de sinalização, à luz dos
resultados obtidos.
Alerta-se que no caso de projeto s avaliados em fase de estudo prévio, a DIA poderá não detalhar o conteúdo
do Programa de Monitorização, remetendo essa definição para um protocolo metodológico a apresentar e
aprovar pelo ICNF posteriormente, em fase de Verificação da Conformidade Ambiental do Projeto de Execução
(vulgo RECAPE). Esta situação deve ser acautelada no parecer do ICNF.
Quando o projeto é avaliado em fase de projeto de execução, o parecer do ICNF deve necessariamente:
i) detalhar o Programa de Monitorização (por exemplo com base no proposto pelo EIA ou pelo EIncA), o qual
deverá ser transcrito na Declaração de impacte Ambiental (DIA) ou na Decisão de Incidências Ambientai (DIncA);
ii) solicitar que o mesmo seja apresentado antes da fase de licenciamento/construção, e sendo que sempre
obrigatoriamente 90 dias úteis antes do início da monitorização da situação de referência, devendo o ICNF
pugnar para que este prazo fique expresso na DIA, ou na Decisão sobre a Conformidade Ambiental do Projeto
de Execução (DCAPE) ou Decisão de Incidências Ambientais. Eventualmente, no caso de estar prevista
monitorização do uso do espaço pelas aves, deverá ser assegurada a caracterização da situação de referência.
Nos casos de linhas elétricas não sujeitas a procedimento de AIA ou AIncA, mas que são sujeitas a parecer
do ICNF, a monitorização deve ser apenas equacionada em situações excecionais que afetem áreas
consideradas como Críticas ou Muito Críticas, com objetivo de identificar impactes não previstos e aferir as
medidas de minimização implementadas para eventual reformulação. Nestas situações, e como condição para
o deferimento do projeto, deve ser exigida a apresentação de um Plano de Monitorização, com metodologia e
calendarização das ações, aprovado pelo ICNF.
CONTEUDO DO PROGRAMA DE MONITORIZAÇÃO
O esforço de monitorização deverá ser variável em função da severidade dos impactes expectáveis (avaliados
nomeadamente em sede de EIA ou de EIncA).
Genericamente, deve ser privilegiada a intensidade da prospeção, em detrimento da sua extensão ou
abrangência anual, de acordo com as seguintes orientações:
Extensão a monitorizar
A monitorização deve ser dirigida sobretudo às Áreas Classificadas com maior relevância para valores
avifaunísticos e às IBA, com particular enfoque para as áreas de maior sensibilidade à instalação destas
infraestruturas (cf. Tabela 2.).
Nas linhas que intersectem Áreas Críticas (ou Muito Críticas), a monitorização deve abranger a totalidade dos
troços de linha que atravessam essas áreas. Nas outras situações, deve ser monitorizada uma extensão
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definida em função dos valores presentes - numa percentagem que a título indicativo não deverá ser inferior a
20% da linha - incidindo em habitats de maior relevância para a avifauna (a definir caso a caso).
Data e Frequência da Monitorização
A época do ano em que irá ser realizada a monitorização deve ser definida em função dos valores presentes.
Em termos gerais indicativos, podem considerar-se quatro períodos distintos correspondentes às épocas do ciclo
das aves: invernada (Dezembro, Janeiro e Fevereiro); reprodução (Março, Abril, Maio e Junho); dispersão pós
– reprodução (Julho e Agosto) e migração outonal (Agosto, Setembro e Outubro). No entanto, alerta-se que a
época de reprodução de algumas espécies pode ser distinta da referida, devendo nesses casos a calendarização
de visitas atender a essa especificidade.
A prospeção dos cadáveres poderá apenas ocorrer no período das passagens migratórias, no período de
reprodução, no período de dispersão pós-reprodução, na época de Inverno, ou em mais do que um destes
períodos, conforme a área em causa e os valores em presença.
►NOTA: Os testes já realizados indicam que as taxas de remoção por necrófagos são muito elevadas, sendo a
maior parte dos cadáveres removidos nos primeiros dias. Assim, o programa de monitorização tem que
assegurar que a periodicidade das visitas seja a suficiente e necessária para detetar as aves antes da sua
remoção.
Nos troços de linhas identificados como tendo maior sensibilidade (de acordo com avaliação em sede de AIA ou
de AIncA e/ou classificadas como Muito Críticas e Críticas, conforme o estabelecido na Tabela 2), podem ser
equacionadas duas alternativas metodológicas:
a) 4-6 visitas em cada um dos períodos fenológicos acima referidos, realizadas com 7 dias de intervalo entre
cada visita. Salienta-se que o número de visitas deve ser o mesmo em todas as épocas, para permitir análise
estatística entre diferentes épocas. Alerta-se também que a data das visitas deve salvaguardar um intervalo
suficiente para poder relacionar com segurança o cadáver encontrado à época em que a prospeção foi feita.
b) Em cada uma das épocas, visitas diárias durante um período determinado de acordo com os testes de
remoção/decomposição (que se pode estender até 20-30 dias). Sugerimos que seja definido um período mínimo
(por exemplo 15 dias) durante o qual deve decorrer o regime intensivo de visitas (independentemente das taxas
de remoção de cadáveres), para garantir que a janela temporal a que correspondem as prospeções de cada
época do ano seja minimamente representativa do resto da época. Salienta-se que este método é muito exigente,
podendo não ser exequível em situações em que a linha não possa ser toda prospetada num dia. É assim mais
adequada para troços de linhas de curta extensão. Esta metodologia pode ser mais indicada para detetar a
mortalidade de aves de pequenas dimensões, cuja taxa de remoção é muito elevada.
Alerta-se que deve ser salvaguardada a possibilidade de rever a periodicidade da monitorização em função dos
resultados de mortalidade obtidos.
Parâmetros a monitorizar
Os parâmetros a monitorizar são os seguintes:
o Mortalidade por colisão: número de aves mortas por colisão/km/unidade de tempo.
o Mortalidade por eletrocussão: número de aves mortas por eletrocussão/apoio/unidade de tempo.
Para aferição da mortalidade real estimada, deverá proceder-se à correção dos fatores associados à predação
por necrófagos e à detetabilidade dos cadáveres. Para esse efeito, deve ser fundamentada a necessidade de
proceder-se ao cálculo das taxas de deteção e taxas de remoção por necrófagos realizando testes para tal
ou, como alternativa, equacionada a utilização de valores padronizados disponíveis na bibliografia (a determinar
em cada caso), acautelando as variações geográficas ou nos habitats que possam influenciar esses cálculos.
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 33 (39)
A taxa de Mortalidade Estimada (TME) deve ser expressa em nº cadáveres/km/unidade de tempo, propondo-
se que seja determinada através do estimador empírico de Meyer (adaptado por Jain et al. (2007) (conforme
Infante et al. 2005) ou outro, entretanto desenvolvido, que se revele mais adequado:
TME=TMOx1/(TPE x MAP x PEO x NRN)
sendo que:
TMO = taxa de mortalidade observada, ou seja, nº de cadáveres encontrados/km
NRN = percentagem de aves não removidas por necrófagos
PEO = percentagem de aves encontradas pelo observador
TPE = percentagem do troço prospetado eficazmente
MAP = percentagem de aves que morre na área prospetada. Este fator poderá ser baseado noutros
estudos, assumindo-se um valor médio de 0,50 (Infante et al. 2005).
Na aplicação desta fórmula, deve ser explicitado como foram aplicadas as taxas de deteção e de remoção
(calculadas ou disponíveis na bibliografia). Deve ser dada particular atenção à forma como se adequa a
periodicidade a que as taxas de remoção/deteção se referem e a periodicidade das prospeções realizadas para
estimar a mortalidade de aves.
Esta taxa pode ser calculada para cada mês ou para cada época. No caso de espécies com estatuto de ameaça
deve ser estimada a % da população local/ regional/nacional que é afetada pela infraestrutura, para interpretação
da relevância desse impacte.
Estimadores de mortalidade
Têm sido desenvolvidos vários estimadores para calcular a mortalidade (ver Bernardino et al. 2013, Jain et al.
2007, Jones 2009, Huso 2010, Brinkmann et al. 2011, Korner-Nievergelt et al. 2011, Bastos et al. 2013, Limpens
et al. 2013), mas é importante testar vários, já que os resultados podem variar consideravelmente.
Pode ser utilizada a plataforma “Wildlife Fatality Estimator”, gratuita, que permite estimar a mortalidade associada
a PE ou outras infraestruturas usando três estimadores: Jain et al. 2007, Huso 2010 e Körner-Nievergelt et al.
2011.
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 34 (39)
Metodologia para prospeção e identificação de cadáveres:
1. A prospeção de cadáveres deve ser feita numa faixa de 5m para cada lado da projeção no solo dos cabos mais exteriores, percorrendo o terreno a pé.
2. O esforço de prospeção deve ser homogéneo em toda a faixa de prospeção e ser quantificado (em nº de
passagens de procura por unidade de área). Recomenda-se uma deslocação linear com uma procura de 5m para cada lado observador.
3. O nº de observadores e o seu posicionamento deve ser o que se considere mais adequado para a prospeção de
toda a faixa, assegurando-se, no entanto, que se mantenha o esforço de prospeção por unidade de área ao longo de toda ela.
4. Os cadáveres eventualmente detetados fora da faixa de prospeção devem também ser registados, e referidos na
análise dos resultados da monitorização.
5. No caso de deteção de uma ave morta, sempre que possível, deverão recolher-se os seguintes dados: i. espécie, idade e sexo do indivíduo; ii. tipo de item encontrado (p. ex. ave inteira, uma asa, só penas, só ossos limpos); iii. causa de morte por observação externa de indícios; iv. estimativa de permanência no terreno, com base no estado de decomposição; v. % de tecidos removidos por necrófagos; vi. localização- (coordenada GPS; vii. distância mínima em relação aos apoios e à projeção dos cabos no solo (com indicação do cabo mais
próximo); viii. descrição do habitat e cobertura do solo no local; ix. determinar, se possível, se se trata de individuo em migração (por exemplo, através da análise da
plumagem, índice de massa corporal, ou outros). 6. Recomenda-se a remoção do local de todos os cadáveres e/ou restos encontrados, de modo a evitar duplicação
dos registos em visitas posteriores.
7. Todos os restos de aves encontrados deverão ser identificados, registados (preferencialmente com registo fotográfico, com escala) e recolhidos.
8. A data da morte das aves deverá ser determinada de acordo com 5 categorias:
i. Categoria 1 – 1 a 2 dias; ii. Categoria 2 - 3 dias a uma semana; iii. Categoria 3 - 1 a 2 semanas; iv. Categoria 4 – duas a quatro semanas v. Categoria 5 - Mais de 1 mês.
9. A causa de morte será identificada (colisão/eletrocussão) e confirmada com a realização de necrópsias aos cadáveres de aves encontrados, quando o estado destes o permitir (Categorias de data de morte 1 e 2).
10. A realização de necrópsias deve ser realizada sempre que estejamos a monitorizar espécies de elevada
sensibilidade. 11. Devem ser estabelecidas as parcerias necessárias para garantir a correta identificação dos restos
encontrados, podendo ser feita a identificação de penas seguindo bibliografia disponível (Brown et al. 1987) e a identificação de fragmentos ósseos por recurso a uma coleção de referência (p. ex. a da Osteoteca do Instituto Português de Arqueologia).
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 35 (39)
Metodologia para determinação das taxas de remoção de cadáveres por necrófagos:
A taxa de remoção de cadáveres por necrófagos será determinada através da colocação de cadáveres de aves
domésticas em troços selecionados que são visitados posteriormente para verificar da sua permanência no terreno.
- Protocolo de colocação dos cadáveres:
Os cadáveres a utilizar deverão ser de diferentes classes de dimensão representativas das aves que na área em
questão sejam vítimas potenciais daquelas infraestruturas. Podem ser usadas codornizes e perdizes, e ainda
cadáveres maiores (como faisão) em linhas em que seja previsível a ocorrência de mortalidade de espécies de maior
dimensão (e.g. abetarda, grou, cegonha, rapinas). Os cadáveres deverão ser colocados frescos, usando para o efeito
luvas, e devem ser previamente marcados - por exemplo através do corte da ponta da asa - de forma a não os
confundir com uma ave efetivamente morta nas linhas elétricas.
A colocação dos cadáveres deve ser aleatória (nos dois eixos da faixa de prospeção: largura e comprimento), mas
garantindo um mínimo de 100 m de distância entre eles. Em cada experiência de remoção, os cadáveres devem ser
distribuídos por diferentes habitats de acordo com a sua representatividade no corredor da linha monitorizada.
Como tamanho da amostra, sugere-se no mínimo 20 cadáveres a utilizar para cada fator considerado nas
experiências (e.g. tamanho do cadáver, época do ano), devendo esse número passar para 30 no caso de se utilizarem
apenas 2 classes de tamanho.
- Protocolo de visitas para verificação dos cadáveres deixados no terreno:
Os locais onde decorrem os ensaios devem ser visitados diariamente até ao 4º dia (inclusive) e depois ao 7º, 14º e
21º dias após a colocação, para verificação da sua permanência ou não no terreno ou de eventuais vestígios de
predação. Este protocolo permite a obtenção de curvas de remoção, necessárias para o cálculo de probabilidades
médias de permanência de cadáveres num período de tempo conhecido anterior a uma prospeção, segundo os
estimadores mais recentes (e.g. Huso 2010).
Nas visitas de verificação deve ser considerada uma “remoção de cadáver” apenas quando há remoção total, ou seja,
quando não ficam vestígios suficientes para se considerar uma prova de mortalidade (assumindo o mesmo critério
usado nas prospeções).
Na análise dos resultados, deve ser analisada a variável tamanho do cadáver (2 a 3 classes, como acima
especificado) e avaliado o efeito do fator época do ano (invernada, reprodução, dispersão pós-reprodução, migração
outonal).
A taxa de remoção de cadáveres será determinada para cada época do ano e para cada classe de tamanho
de ave.
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 36 (39)
Metodologia para determinação das taxas de deteção pelos observadores
Esta taxa deverá ser determinada pela colocação de cadáveres de aves domésticas ou, preferencialmente,
modelos de aves, com textura e cor aproximadas das encontradas em aves selvagens, em locais desconhecidos
de um segundo colaborador. Procede-se ao registo do número de cadáveres encontrados pelo observador num
período de tempo equivalente ao que despenderia na habitual prospeção de cadáveres.
Os modelos devem ser colocados de forma aleatória nos dois eixos espaciais, ou seja, tanto na largura da faixa
de prospeção como no comprimento do troço de linha utilizado para a experiência, sendo sugerido que a extensão
do troço de linha para a realização de cada experiência não seja inferior a 1 km por cada 10 modelos a colocar.
A capacidade de deteção de cadáveres será determinada para cada tipo de habitat, sendo testadas situações de
dificuldade de deteção (categorizadas em 3 níveis) que sejam representativas da variabilidade de condições
(altura e densidade de vegetação) existentes na área de estudo.
- Variáveis a analisar: as experiências de deteção devem ser desenhadas de forma a considerar os fatores
tamanho do modelo (3 níveis) e dificuldade de deteção (3 níveis, com base na densidade e altura da vegetação).
- Tamanho da amostra: para cada combinação de nível de dificuldade e tamanho de modelo, deve ser feita uma
experiência de deteção com um mínimo de 10 aves/modelos, sendo cada uma destas experiências replicada um
mínimo de 3 vezes. Devem participar nos testes de deteção os observadores que efetuam as prospeções, sendo
que diferentes observadores podem ser considerados replicados do ensaio.
Para que o fator dificuldade de deteção seja corretamente incorporado na estimativa da mortalidade real, no
âmbito das prospeções de mortalidade deve ser feita uma classificação (por época do ano) dos troços amostrados
(ou frações deles) de acordo com os referidos 3 níveis de dificuldade de deteção, de forma a determinar (por
tamanho de ave) quais os fatores de correção para cada troço (ou parte) em cada época do ano.
Nota para cálculo da percentagem do troço prospetado eficazmente
Os observadores estimarão a percentagem de troço onde não é possível conduzir uma prospeção eficaz (por
exemplo vegetação muito densa, plano de água, cercado com animais domésticos). Se esse valor ultrapassar
20% o troço deverá ser eliminado.
Todas as observações deverão ser registadas em fichas de campo de preenchimento obrigatório.
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 37 (39)
Saliente-se que o desenho experimental da amostragem da mortalidade de aves deverá ser feito de modo a
permitir avaliar a eficácia das medidas de minimização implementadas. Para o efeito poderá ser necessário
recorrer a amostras de controlo em troços não sinalizados e ao cálculo de taxas de atravessamento (nº de
aves que atravessam a linha em voo/ unidade de tempo/km), para serem posteriormente interpretadas.
Da experiência obtida até ao momento, constata-se que a avaliação desta eficácia é muito difícil de obter,
sendo os resultados frequentemente pouco conclusivos. Importa por isso assegurar à partida a suficiência de
amostragem e considerar a possibilidade de prospetar de forma adequada os troços sinalizados e não
sinalizados ou de estabelecer uma amostra de controlo representativa.
Outros parâmetros
Podem ainda ser monitorizados outros parâmetros, desde que devidamente justificada a sua necessidade e
utilidade na interpretação dos resultados da monitorização, como por exemplo:
o Taxas de atravessamento e comportamento das aves: nº de aves que atravessam a linha em voo/
unidade de tempo/km, altura da passagem das aves relativamente à linha.
o Índices de abundância relativa da avifauna: poderá ser dirigida para espécies-alvo ou para a
comunidade alargada de passeriformes e espécies afins.
Metodologia para determinação das taxas de atravessamento da linha e estudo do comportamento das
aves
O cálculo da frequência de voo das aves através da linha deve basear-se na contagem visual, a partir de um
ponto fixo, do número de aves que passam por uma secção de linha elétrica de extensão conhecida (normalmente
um vão).
Estes pontos de observação devem abranger uma amostra representativa da linha.
Em cada período de observação, além dos dados relativos à espécie e respetivas quantidades (com referência
se é em bando ou não), deverão ainda ser registadas as alturas de voo das aves em relação aos cabos da linha
(por cima, por baixo, entre os cabos condutores/de guarda) e pousadas nos apoios.
As taxas de atravessamento devem ser calculadas nos troços prospetados, para onde é calculada a taxa de
mortalidade. Devem ser calculadas para cada época do ano. Para tal, as contagens de aves devem ser feitas
dois meses de cada época, com três contagens de 1hora por mês (Nota: considera-se que a média de 6
contagens por época é razoável para uma interpretação da variação interanual.
Metodologia para determinação de índices de abundância relativa da avifauna:
A determinação dos índices de abundância das populações de aves passeriformes e espécies afins deverá ser
feita preferencialmente com recurso a pontos de escuta, com distância fixa de 250m e duração de 10 minutos. O
número e localização dos pontos de escuta deve constituir uma amostra significativa e representativa dos habitas
presentes na área.
No entanto, outros métodos de censo poderão ser utilizados se mais adequados atendendo a particularidades da
situação em causa. Nomeadamente, poderão ser justificadas outras abordagens específicas, tendo em conta as
espécies-alvo. A determinação dos índices de abundância deverá ser realizada em cada época do ano e tendo
em conta a representatividade de diferentes habitats.
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 38 (39)
o Efeito de exclusão: o estudo desse efeito deve ser dirigido para espécies de elevada sensibilidade,
atendendo ao tipo de utilização que fazem da área atravessada pela infraestrutura, com metodologia
específica adequada às espécies-alvo. Deverá incluir a realização de um “ano zero” e monitorização na fase
de construção.
o Efeitos cumulativos com outras linhas elétricas nas proximidades: no caso de haver linhas
próximas com potencial impacte cumulativo e não monitorizadas, o programa de monitorização deve abranger
ambas as infraestruturas em causa.
DURAÇÃO DO PROGRAMA DE MONITORIZAÇÃO E PERIODICIDADE DOS RELATÓRIOS
A monitorização poderá ocorrer ao longo de toda a fase de exploração dos projetos. Recomenda-se que no
programa de monitorização seja definido um período mínimo inicial de 3 anos após o qual, e face aos resultados
obtidos, serão definidos os moldes da sua continuidade, nomeadamente a frequência.
Esta proposta não exclui a possibilidade de uma avaliação anual dos resultados e consequente adaptação do
programa de monitorização.
Note-se que, se a monitorização incidir sobre a utilização do espaço pelas aves e eventual efeito de exclusão, a
sua programação deve incluir a realização de um “ano zero” para caracterização da situação de referência.
Deve ser solicitada uma periodicidade semestral ou anual de entrega de relatórios ao ICNF, conforme a
relevância dos impactes, podendo esta periodicidade ser ajustada no decurso da monitorização.
Deve também ser determinado um prazo para a entrega do Relatório de Monitorização (45 dias úteis após a
última época de amostragem), devendo o ICNF pugnar para que esse prazo seja expresso na DIA, ou na
DCAPE, ou na Decisão de Incidências Ambientais
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 39 (39)
8. Medidas Compensatórias
No contexto da avaliação de impacte ambiental, as medidas compensatórias devem ser aplicadas em situações
em que se reconhece subsistir um impacte residual após a aplicação das medidas de minimização.
No âmbito do Decreto-Lei nº140/99, para a autorização de projetos cujas conclusões da avaliação de incidências
ambientais seja negativa, está prevista a possibilidade de aplicar medidas compensatórias que assegurem a
proteção da coerência global da Rede Natura 2000, se cumpridos os dois requisitos seguintes: ausência de
alternativa e reconhecimento de interesse público.
Estas medidas compensatórias são entendidas como o mecanismo último para aprovação de projetos objeto de
conclusões negativas na avaliação de impacte ambiental ou na análise das suas incidências ambientais, na
sequência da identificação de impactes negativos na integridade de um sítio da RN2000 e que subsistem para
além da aplicação de todas as medidas de minimização passíveis de mitigar esses impactes (ICNB, 2010).
A definição destas medidas compensatórias só pode ser ponderada após uma decisão final desfavorável em
relação à aprovação de um dado projeto e não podem ser utilizadas como forma de contornar o resultado
negativo da “avaliação adequada” (definida pelo artigo 6º da Diretiva Habitats17).
►NOTA: para melhor clarificar a aplicação das medidas de mitigação e de compensação, no âmbito de
disposições da Diretiva Habitats”, aconselha-se ainda uma consulta dos Guias:
- “Gestão dos Sítios Natura 2000: As disposições do Art.º 6º da Diretiva Habitats (92/43/CEE) (Novembro 2018)”
(CE, 2018)18
- “Avaliação de planos e projeto s suscetíveis de afetar de forma significativa sítios Natura 2000 - Guia
metodológicos sobre as disposições dos números 3 e 4 do Art.º 6.º da Diretiva Habitats (Novembro 2001)” (CE,
2001)19.
17 Diretiva 92/43/CEE, do Conselho, de 21 de maio de 1992, relativa à preservação dos habitats naturais e da fauna e da flora selvagens. 18 Disponível em: http://ec.europa.eu/environment/nature/natura2000/management/docs/art6/Provisions_Art_6_nov_2018_pt.pdf 19 Disponível em: http://ec.europa.eu/environment/nature/natura2000/management/docs/art6/natura_2000_assess_pt.pdf
Decreto-Lei nº140/99, de 24 de abril (alterado e republicado pelo Decreto-Lei nº49/2005, de 24 de fevereiro):
Artº n.º 10 – a realização de ação, plano ou projeto objeto de conclusões negativas na avaliação de impacte
ambiental ou na análise das suas incidências ambientais depende do reconhecimento, por despacho conjunto do
MAOT e do ministro competente em razão da matéria, da ausência de soluções alternativas e da sua necessidade
por razões imperativas de reconhecido interesse público, incluindo de natureza social ou económica.”,
Artº n.º 11 - sem prejuízo do disposto no número anterior, quando a ação, plano ou projeto objeto de conclusões
negativas na avaliação de impacte ambiental ou na análise das suas incidências ambientais afete um tipo de habitat
natural ou espécie prioritários de um sítio da lista nacional de sítios, de um sítio de interesse comunitário, de uma
ZEC e de uma ZPE, apenas podem ser invocadas as seguintes razões: a) a saúde ou a segurança públicas; b) as
consequências benéficas primordiais para o ambiente; c) outras razões imperativas de reconhecido interesse
público, mediante parecer prévio da Comissão Europeia.
Artº n.º 12 – nos casos previstos nos nos 10 e 11, são aprovadas medidas compensatórias necessárias à
proteção da coerência global da Rede Natura 2000.
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 40 (39)
Por outro lado e atendendo ao regime jurídico de proteção estrita das espécies, definido no art.º 11.º do Decreto-
Lei n.º 140/99, projeto s que impliquem a perturbação ou deterioração/destruição de locais ou áreas de
reprodução ou repouso das espécies de aves, incluindo as migratórias, que ocorrem naturalmente no estado
selvagem no território europeu dos estados membros e das espécies animais dos anexos B-II ou B-IV do referido
diploma, mesmo que não afete a integridade da RN2000 (ou seja, não se localize em RN2000 nem afete
indireta mente nenhum Sítio), podem requerer para a sua autorização excecional - nos termos referidos no art.º
20 do Decreto-Lei n.º 140/99 - a implementação deste tipo de medidas. A implementação de medidas de
compensação neste âmbito constitui uma forma de garantir que não ocorram efeitos negativos no estado de
conservação da(s) espécie(s) afetada(s) pela ação ou projeto em causa, quer ao nível da população local quer
ao nível da população que ocorre no Estado Membro em cada zona biográfica com a qual o mesmo se
sobreponha.
EXEMPLOS DE MEDIDAS COMPENSATÓRIAS:
As medidas compensatórias adequadas ou necessárias podem consistir em:
- Beneficiação/Reconstituição de habitat das espécies afetadas:
Podem ser implementadas ações sobre o habitat com o objetivo de assegurar a manutenção/recuperação do
seu estado de conservação favorável.
O habitat das espécies afetadas a melhorar ou a reconstituir pode não ser idêntico ao habitat afetado, desde
que assegure as mesmas funções que a área afetada assegurava relativamente à biologia das espécies em
causa.
- Fomento de presas:
AS DISPOSIÇÕES DO ART.º 6º DA DIRETIVA HABITATS (92/43/CEE)
As medidas de mitigação, que visam evitar ou reduzir impactos, não devem ser confundidas com medidas
compensatórias, as quais se destinam a compensar eventuais danos causados pelo projeto.
- As medidas compensatórias só podem ser consideradas ao abrigo do artigo 6.º, n.º 4, se o plano ou projeto
tiver sido aceite como necessário por razões imperativas de reconhecido interesse público e não existirem outras
alternativas.
- As medidas de mitigação, na aceção mais ampla, destinam-se a reduzir, ou mesmo anular, os possíveis
impactos negativos num sítio decorrentes da execução de um plano ou projeto, de modo a que a integridade do
sítio não seja afetada. Estas medidas são analisadas no contexto do artigo 6.º, n.º3, e constituem parte integrante
das especificações de um plano ou projeto ou condicionam a sua autorização.
- As medidas compensatórias são independentes do projeto (incluindo quaisquer medidas de atenuação
conexas). Têm por objetivo anular os efeitos negativos residuais do plano ou projeto, de forma a manter a coerência
ecológica global da rede Natura2000, e só podem ser equacionadas no contexto do artigo 6.º, n.º4.
- As medidas compensatórias são medidas específicas de um projeto ou plano e complementam as obrigações correntes previstas nas Diretivas Aves e Habitats. O seu objetivo consiste em corrigir precisamente o impacto negativo de um plano ou projeto nas espécies ou no habitat em causa. Constituem o «último recurso» e são utilizadas apenas quando as restantes salvaguardas previstas pela diretiva forem esgotadas e se, ainda assim, tiver sido adotada a decisão de ponderar a execução de um projeto ou plano com impacto negativo num sítio Natura 2000 ou esse impacto não puder ser excluído.
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 41 (39)
No caso de estar em causa a afetação de predadores e quando a disponibilidade alimentar for identificada
como um fator limitante para manter ou alcançar o seu estado de conservação favorável, o fomento de presas
da(s) espécie(s) afetada(s) pode constituir uma medida de compensação adequada. Nestas situações, e tal
como já referido, as ações a desenvolver deverão ser prioritariamente dirigidas ao fomento das presas
selvagens das espécies afetadas em detrimento da promoção da sua dependência de fontes de alimento
antrópicas.
O recurso a esta medida requer que seja previamente avaliada a disponibilidade de alimento, de forma a
fundamentar a pertinência dessa opção.
Entre as ações para fomento de espécies-presa deverão estar medidas de gestão do habitat que favoreçam
o estabelecimento das suas populações de uma forma sustentável. Poderão igualmente ser equacionadas
medidas com vista à diminuição da pressão cinegética e de furtivismo sobre estas espécies. Essas ações
poderão passar pela redução dos quantitativos de abate das espécies em questão ou pela interdição total da
caça em áreas com potencialidades elevadas para esta espécies e que sirvam de refúgio às mesmas. Caso
se verifique que as medidas dirigidas ao habitat não são suficientes, e após garantidas as condições
necessárias em termos de qualidade e capacidade de carga do habitat, poder-se-á ponderar o reforço da
população da espécie-presa em causa, com a libertação de indivíduos.
- Reforço/Reintrodução de espécies:
Nos casos em que no âmbito de um esquema de compensação seja ponderado o reforço populacional ou a
reintrodução de uma espécie (da espécie afetada propriamente dita ou de uma espécie presa da mesma),
tendo em conta a complexidade e sensibilidade de qualquer ação deste tipo, o programa de trabalhos dessa
ação deve incluir os seguintes elementos:
- Definição clara dos objetivos da ação
-Caracterização da espécie, nomeadamente da sua situação atual na área na qual se pretende intervir
(áreas de presença e estimativa dos efetivos atualmente existentes)
-Análise das potencialidades do habitat para a espécie-alvo na área em que se pretende proceder à sua
libertação, bem como do impacto que a mesma poderá ter para o restante ecossistema
- Análise das ameaças e fatores limitantes que possam condicionar o sucesso das ações pretendidas
- Origem dos animais a libertar, garantindo que as populações fonte apresentam efetivos que permitam
retirar animais, bem como a existência dos recursos humanos com experiência para a captura e
manipulação dos animais
- Apresentação de um plano detalhado de todas as ações a desenvolver (captura, detenção, transporte,
localização dos cercados de adaptação, criação em cativeiro, libertação de animais, ações a desenvolver
no sentido de aumentar a disponibilidade de habitat adequado para a espécie-alvo)
- Planeamento do acompanhamento veterinário e das análises a efetuar aos animais a libertar (ex:
genéticas, sanitárias).
- Redução de afetações causadas por outras atividades que concorram para causar o mesmo tipo de
impacte:
Podem ser previstas ações tendentes a reduzir outros fatores de ameaça que incidam sobre as espécies
afetadas.
Como exemplo, podem ser promovidas ações de sensibilização junto de determinados grupos alvo (p.ex.
caçadores, agricultores). - Redução do risco de mortalidade nas linhas elétricas associadas:
Para reduzir o risco de utilização da área de implantação das linhas por aves do topo da cadeia trófica (rapinas)
em atividades de caça, poderá ser ponderada a criação de áreas favoráveis para caça por parte dessas
espécies na envolvente da área de implantação do projeto, mas em local suficientemente distante para garantir
segurança às aves durante a caça. A gestão do habitat nessas áreas deverá visar o fomento das espécies-
presa das aves em causa. Esta medida poderá contribuir igualmente para neutralizar o eventual efeito de
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 42 (39)
exclusão que aquelas infraestruturas poderão provocar nas espécies em causa. Esta medida foi, por exemplo,
aplicada na Linha Muito Alta Tensão Tunes – Estói.
Para reduzir o risco de mortalidade de grou na linha de Muito Alta Tensão Alqueva-Fronteira espanhola e
também para compensar eventual efeito de exclusão, foram promovidos locais de dormida alternativos para
evitar o atravessamento diário daquela infraestrutura. - Designação de novos sítios Natura 2000:
Embora a designação de novos sítios Natura 2000 possa integrar-se num esquema compensatório ao abrigo
do n.º 4 do art.º 6.º, na ausência das medidas especificamente dirigidas aos impactes em causa, as
designações em si mesmas são insuficientes.
A designação de novos sítios da RN2000 não constitui em si mesma uma medida de compensação, mas antes
um procedimento que permite garantir a eficácia de medidas que foram identificadas como necessárias para
assegurar a coerência da RN2000, a aplicar em áreas até à data não classificadas.
Se a compensação ocorrer num local não-designado, a zona deve ser designada como sítio da RN2000 e
abrangida por todas as exigências estabelecidas nas diretivas comunitárias relativas à conservação da
natureza (Diretivas Aves e Habitats).
►NOTA: refira-se que os pagamentos a entidades ou a fundos especiais, independentemente de estarem ou
não associados a projeto s no domínio da conservação da natureza, bem como a realização de estudos não
são medidas de compensação adequadas no contexto do Decreto-Lei 140/99.
Para clarificar a aplicação de medidas compensatórias recomenda-se a consulta do documento “Orientações
relativas à natureza e aplicação de medidas de compensação”, disponível no portal do ICNF
(http://www.icnf.pt/portal/naturaclas/ordgest/aa/av-inc-amb#compens)
A eficácia das medidas de compensação implementadas deverá ser monitorizada, aplicando metodologia
adequada às particularidades do projeto e que como tal não pode ser aqui especificada. Essa monitorização
ultrapassa o âmbito estrito da avaliação da interação infraestruturas elétricas / aves, não sendo por isso aqui
abordada.
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 43 (39)
9. Referências bibliográficas
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Anexos
o Anexo I – Espécies com estatuto de ameaça sensíveis à colisão e eletrocussão
o Anexo II – Listas de apoio à aplicação da Tabela 2
o Anexo III – Listagem-base de medidas de minimização para a fase de obra
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Anexo I - Espécies com estatuto de ameaça sensíveis à colisão e eletrocussão
Res- População residente; Vis- População visitante; MigRep – Populações Migradora e Reprodutora CR – Criticamente em perigo ; EN – Em perigo; VU – Vulnerável; DD- Informação insuficiente; Risco de colisão e eletrocussão atribuído às espécies de aves segundo Neves et al. 2005a e BirdLife International 2003, respetivamente: Risco de Colisão: Intermédio; Elevado. Risco de eletrocussão: O (sem registos ou ocorrência pouco provável); I (com registos, mas que não constituem ameaça aparente para a população); II (elevada ocorrência de registos, mas supostamente sem impacte significativo na população), III (ocorrência de mortalidade constitui um importante fator de mortalidade, representando uma ameaça de extinção a nível regional ou a escala mais alargada)
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Phalacrocorax aristotelis Galheta; Corvo-marinho-de-crista
VU Res Intermedio I
Botaurus stellaris Abetouro
DD Res A-I*
Intermedio I
CR Vis Intermedio I
Ixobrychus minutus Garçote; Garça-pequena
VU MigRep A-I Intermedio I
Nycticorax nycticorax Goraz
EN MigRep A-I Intermedio I
Ardeola ralloides Papa-ratos
CR MigRep A-I
Intermedio I
EN* Vis Intermedio I
Ardea purpúrea Garça-vermelha
EN MigRep A-I Intermedio I
Ciconia nigra Cegonha-preta
VU* MigRep A-I Elevado III
Phoenicopterus roseus Flamingo
RE Rep A-I
Intermedio 0
VU Vis
Anas strepera Frisada
VU Res D
Elevado 0
NT* Vis Elevado 0
Anas clypeata Pato-colhereiro; Pato-trombeteiro
EN* Res D
Elevado 0
LC Vis Elevado 0
Netta rufina Pato-de-bico-vermelho
EN Res
Elevado 0
NT* Vis Elevado 0
Aythya ferina Zarro
EN* Res D
Elevado 0
VU* Vis Elevado 0
Aythya fuligula Negrinha; Zarro-negrinha
VU* Vis D Elevado 0
Melanitta nigra Negrola; Pato-negro
EN Vis A-III Elevado 0
Mergus serrator Linnaeus, 1758 Merganso-de-poupa
EN* Vis Elevado 0
Pernis apivorus Bútio-vespeiro; Falcão-abelheiro
VU MigRep A-I Intermedio II-III
Milvus milvus Milhafre-real; Milhano
CR Res A-I
Intermedio II-III
VU Vis Intermedio II-III
Neophron percnopterus Britango; Abutre do Egipto
EN MigRep A-I Intermedio II-III
Gyps fulvus Grifo
NT* Res A-I Intermedio II-III
Aegypius monachus Abutre-preto
CR Res A-I* Intermedio II-III
Circus aeruginosus Águia-sapeira; Tartaranhão-ruivo-dos-pauis
VU* Res A-I
Intermedio II-III
VU Vis Intermedio II-III
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Circus cyaneus Tartaranhão-cinzento; Tartaranhão-azulado
CR Res A-I
Intermedio II-III
VU Vis Intermedio II-III
Circus pygargus Águia-caçadeira; Tartaranhão-caçador
EN MigRep A-I Intermedio II-III
Accipiter gentilis Açor
VU Res Intermedio II-III
Aquila adalberti Águia-imperial
CR Res A-I* Intermedio II-III
Aquila chrysaetos Águia-real
EN Res A-I Intermedio II-III
Hieraaetus fasciatus Águia-perdigueira; Águia-de-bonelli
EN Res A-I* Intermedio II-III
Pandion haliaetus Águia-pesqueira
CR Res A-I
Intermedio II-III
EN* Vis Intermedio II-III
Falco naumanni Francelho; Peneireiro-das-torres
VU MigRep A-I* Intermedio II-III
Falco columbarius Esmerilhão
VU* Vis A-I Intermedio II-III
Falco subbuteo Ógea
VU Res Intermedio II-III
Falco peregrinus Falcão-peregrino
VU* Res A-I Intermedio II-III
Porphyrio porphyrio Camão; Caimão
VU* Res A-I* Elevado 0
Fulica cristata Galeirão-de-crista
RE Rep A-I*
Elevado 0
CR Vis Elevado 0
Grus grus Grou
RE Rep A-I
Elevado 0
VU Vis
Tetrax tetrax Sisão
VU Res A-I* Elevado 0
Otis tarda Abetarda
EN Res A-I* Elevado 0
Burhinus oedicnemus Alcaravão
VU Res/Vis A-I ? ?
Glareola pratincola Perdiz-do-mar
VU MigRep A-I ? ?
Calidris canutus Seixoeira
VU Vis Elevado I
Calidris ferruginea Pilrito-de-bico-comprido
VU* Vis Elevado I
Calidris maritima Pilrito-escuro
EN* Vis Elevado I
Philomachus pugnax Combatente
EN Vis A-I Elevado I
Gallinago gallinago Narceja
CR Rep D
Elevado I
LC Vis Elevado I
Numenius phaeopus Maçarico-galego
VU* Vis Elevado I
Tringa erythropus Perna-vermelha-bastardo; Perna-vermelha-escuro
VU* Vis
Elevado I
Tringa totanus Perna-vermelha
CR Rep
Elevado I
LC Vis Elevado I
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Tringa nebularia Perna-verde
VU* Vis Elevado I
Actitis hypoleucos Maçarico-das-rochas
VU Rep Elevado I
Larus audouinii Gaivota de Audouin
VU* MigRep A-I* Intermedio I
Larus fuscus Gaivota-de-asa-escura
VU* Rep Intermedio I
Pterocles orientalis Cortiçol-de-barriga-preta
EN Res A-I Intermedio 0
Pterocles alchata Ganga;Cortiçol-de-barriga-branca
CR Res A-I Intermedio 0
Clamator glandarius Cuco-rabilongo
VU* MigRep Intermedio 0
Bubo bubo Bufo-real
NT* Res A-I Elevado I-II
Asio flammeus Coruja-do-nabal
EN Vis A-I Elevado I-II
Caprimulgus europaeus Noitibó-cinzento
VU MigRep A-I Intermedio 0
Caprimulgus ruficollis Noitibó-de-nuca-vermelha
VU MigRep Intermedio 0
Coracias garrulus Rolieiro
CR MigRep A-I Intermedio I
Calandrella rufescens Calhandrinha-das-marismas
CR Res Intermedio I
Anthus spinoletta Petinha-ribeirinha
EN* Rep
Intermedio I
LC Vis Intermedio I
Saxicola rubetra Cartaxo-nortenho
VU* MigRep Intermedio I
Oenanthe hispanica Chasco-ruivo
VU MigRep Intermedio I
Oenanthe leucura Chasco-preto
CR Res A-I Intermedio I
Monticola saxatilis Melro-das-rochas
EN MigRep Intermedio I
Locustella luscinioides Cigarrinha-ruiva; Felosa-unicolor
VU MigRep Intermedio I
Acrocephalus paludicola Felosa-aquática
EN Vis A-I* Intermedio I
Sylvia borin Toutinegra-das-figueiras; Felosa-das-figueiras
VU* MigRep Intermedio I
Pyrrhocorax pyrrhocorax Gralha-de-bico-vermelho
EN Res A-I Intermedio II-III
Loxia curvirostra Cruza-bico
VU* Rep
Intermedio I
DD Vis Intermedio I
Emberiza citrinella Escrevedeira-amarela
VU Res Intermedio I
Emberiza schoeniclus Escrevedeira-dos-caniços
VU Res
Intermedio I
LC Vis Intermedio I
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 49 (39)
Anexo II – Listas de apoio à aplicação da Tabela 2
Lista de Sítios Ramsar relevantes para as aves aquáticas (referidos na Tabela 2)
- Ria Formosa - Sapais de Castro Marim - Ria Alvor - Paul da Tornada - Paul do Taipal - Paul de Arzila
- Lagoas de Santo André e Sancha - Lagoa de Albufeira - Estuário do Tejo - Estuário do Sado - Estuário do Mondego - Polje de Mira-Minde e nascentes associadas
Zonas húmidas importantes para as aves aquáticas (referidas na Tabela 2)
Região Sado Albufeira Pego Altar Albufeira Alvito Albufeira Roxo Albufeira Monte Rocha Albufeira Morgavel Albufeira Vale Gaio Albufeira Odivelas Açude Pereiro Albufeira da Aroeira Lagoa Patos Lagoa Santo André Lagoa Sancha Albufeira Monte Novo Ribeira Moinhos Estuário Mira Região Guadiana Alcarrache Norte Mourão Ribeira de Lucefecit Alqueva Internacional Degebe Alqueva Estrela Luz Alcarrache Sul Caia Região Algarve Ria Alvor Estuário do Arade Castro Marim Vilamoura Lagoa dos Salgados Ria Formosa Região Mondego Paul do Taipal Paul da Madriz Paul de Arzila Estuário do Mondego Lagoa de Teixoeiros Lagoa da Salgueira Lagoa da Vela Lagoa das Braças Região Tejo Sarilhos Vale Frades Bela Vista
Vau Tarouca Hortas Atalaia Nova Paul da Barroca d’ Alva Vaza Sacos Saragoça Lagoa do Lombo Mouchão da Póvoa Mouchão do Lombo Rio Erva Reserva Integral da Reserva Natural do Estuário do Tejo Coina Gaio Samouco Ponta da Erva Companhia das Lezírias Praias do Tejo
Manual de apoio à análise de projetos relativos à instalação de linhas aéreas de distribuição e transporte de energia elétrica. ICNF (2019). 50 (39)
Anexo III – Listagem-base de medidas de minimização para a fase de obra
A área de intervenção no solo para colocação de cada apoio não poderá ser superior à área de
um círculo com um raio de 1m centrado no ponto correspondente à fundação de cada apoio;
Não é autorizada no local nenhuma operação de manutenção (lavagem, mudança de óleos,
substituição de peças, etc.) de máquinas e equipamentos;
Caso seja necessária a instalação de um estaleiro, o mesmo deverá localizar-se nas imediações
de uma das localidades próximas, terá que ser devidamente vedado e sinalizado e terá que dispor
de bacias de retenção - a remover do local depois de concluída a obra - no caso de se realizarem
no estaleiro operações de manutenção de máquinas e equipamentos;
Uma vez terminada a obra, terão que ser removidos dos locais ocupados/intervencionados todos
os resíduos e materiais sobrantes;
As terras sobrantes que resultarem das escavações a efetuar ou de outras operações necessárias
à realização da obra deverão ser removidas para local adequado à sua deposição ou, em
alternativa, usadas na renaturalização das zonas intervencionadas;
Exóticas e terras com exóticas
acessos
Todas as áreas intervencionadas no âmbito da obra a realizar têm que ser renaturalizadas após a
sua conclusão;
Todas as obras devem ser realizadas entre 15 de Junho e 15 de Março, ou seja evitando o período
de nidificação/criação da fauna silvestre. Este período pode ter de ser ajustado em função das
espécies de aves presentes.
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