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Uma explicação necessária: não tenho nenhuma ligação com qualquer
religião. Ao contrário, delas me afasto, até porque não consegui, até hoje, ver sentido em
nenhuma delas, das muitas que pululam por aí. Todas elas, a meu ver, vendem o seu
“peixe”, a sua “verdade”; mercantilizam Deus e não se preocupam em desvendar,
entender e praticar os Seus mistérios. Transformaram-se numa espécie de praça de
pedágio para o céu.
Fui batizado com poucos meses de vida, como a maioria das pessoas em
nosso país, na Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana. Não tive escolha! Porém,
hoje vejo que ela - como as muitas que hoje proliferam numa espantosa escala geométrica
e sob as mais exóticas denominações - está mais preocupada em submeter as pessoas ao
seu gládio, instigando-as à divergência, à cizânia, do que a levá-las ao relacionamento
fraterno, oriundas que são do mesmo Pai.
Esquecem-se de que a vida é efêmera e que, nessa efemeridade, não temos
tempo para questiúnculas; que a nossa passagem nesse mundo é tão rápida, que nem
mesmo chegamos a descobrir, realmente, quem somos, de onde viemos e para onde vamos.
Contudo, ainda que em poucas palavras, quero deixar bem claro que, ao
menos no meu consciente, não há nenhuma intenção de denegrir esse, ou aquele, credo
religioso; nem, tão pouco, de que eu tenha a pretensão de ser uma espécie de
parapsicólogo, vidente, ou, ainda, que eu me comunique intimamente com o Além.
O fato é que, certo dia, que não me lembro qual, passava diante de um
“sebo”, situado na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, quando me senti compelido para o
seu interior, como se tivesse sido agarrado e levado para dentro da loja.
Literalmente, fui empurrado, arrastado, para uma das diversas bancas
repletas de livros velhos, sobre os quais se destacava este que ora trago aos Irmãos:
INICIACION ANTIGUA Y MODERNA – LA FRATERNIDAD ROSACRUZ, de autoria
de Max Heindel, da Editora Kier – Buenos Aires – Argentina.
Diante da banca e deparando-me com o livro, ouvi uma voz interior que me
disse:- Traduz e dá aos teus Irmãos. Peguei o livro, abri e comecei a lê-lo, correntemente,
como se estivesse escrito em português. Eu que nunca havia estudado espanhol! Num
impulso, comprei-o e o levei para casa, ávido e curioso em desvendar o seu conteúdo. De
imediato comecei a traduzi-lo. Todavia, quando o trabalho já estava terminado, restando
apenas a revisão, o computador deu “tilti”; simplesmente apagou...
Dei uma pausa... mais de um ano! Até que um dia fui cobrado, certamente
pela mesma “força” que me arrastou para o interior da livraria. E a cobrança foi de tal
maneira incisiva, que eu não via outra coisa na minha frente a não ser aquele velho livro.
Até meu trabalho ficou relegado em meu escritório.
Reiniciei e concluí a tradução numa só tirada que, é importante dizer, foi
feita sem qualquer auxílio de dicionário. É, na medida do possível, graças à minha total
ignorância do idioma espanhol, uma tradução literal e não literária, com gostaria, e
deveria, de ter feito. Porém, como o “demônio” que me acicatava me deixou em paz,
também deixei ficar desse jeito. Talvez, mais tarde, quem sabe?...
Aí está! Na minha ótica, o livro tem um conteúdo deveras interessante e
espero que, de alguma forma, seja útil aos Irmãos e a tantos outros que o leiam.
Roberto Ribeiro – MI.’. – Gr.’. 33 REAA E-mail: drribeiroroberto@hotmail.com
Tel. (021) 2601-4411 – (021) 2603-8111 e Cel. (021) 9875 -6565
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TRADUÇÃO DO LIVRO
INICIAÇÃO ANTIGA E MODERNA
A FRATERNIDADE ROSA-CRUZ
Max Heindel
Editorial Kier
Buenos Aires
Nova versão iniciada em 02 de outubro de 2008, às 19:45 horas.
A primeira tradução foi perdida com a formatação do computador, feita
em 29 de setembro de 2008, quando o texto traduzido já estava sendo
revisado.
Orelha:
Max Heindel, que foi o mensageiro da verdadeira Fraternidade, ou Ordem Rosa-Cruz, viveu os ensinamentos que pregava. Somente quem haja sofrido fisicamente,
como ele sofreu durante toda sua vida, é capaz de fazer vibrar as fibras do coração da
humanidade.
Somente alguém que, como ele, tenha sentido as dores de um nascimento espiritual, que o admitiu nos planos da alma, pode escrever com o poder de cativar seus
leitores.
Como resultado de seu nascimento espiritual, os escritos de Max Heindel, que ele legou à humanidade, podem florescer e dar frutos.
Oxalá os leitores deste livro possam sentir os batimentos do coração deste grande espírito da humanidade, que sacrificou sua própria existência física no desejo de
compartilhar com os homens as verdades maravilhosas que ele recolheu por meio de seu
contato com os Irmãos Maiores da Ordem Rosa-Cruz.
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INICIAÇÃO ANTIGA E MODERNA
A FRATERNIDADE ROSA-CRUZ
PREFÁCIO
No conteúdo das páginas deste pequeno volume se acham algumas das mais apreciadas jóias pertencentes às fases mais profundas da religião Cristã. Estas jóias são o
resultado das investigações espirituais do inspirado e iluminado Max Heindel, o mensageiro
autorizado dos Irmãos Maiores da Ordem Rosa-Cruz, que estão trabalhando para
disseminar por todo mundo ocidental o profundo significado espiritual que se acha, por sua
vez, revelado e oculto, dentro da religião Cristã.
Os diversos e importantes passos, como os vemos perfilados na vida de nosso salvador Jesus Cristo, formam o plano geral da Iniciação para a humanidade. Max
Heindel, nesta obra, nos oferece uma visão mais profunda e mística deste processo
alquímico, posto que se efetua dentro do próprio corpo do homem. Pois, nós somos “um
pouco abaixo dos anjos... e não aparentamos, todavia, o que chegaremos a ser”.
Este volume será uma edição muito bem recebida nas bibliotecas de muitos sacerdotes e organizações eclesiásticas de todo mundo; pois fará soar uma nova nota de
inspiração e de ânimo para todos aqueles que trabalham em seu nome.
A Escola Rosa-Cruz tem uma herança inapreciável na oportunidade de propagar, durante esta época de prova, e decisiva, para a evolução espiritual dos homens e
das nações, os ensinamentos esotéricos pertencentes à Igreja Cristã. “A aquele a quem
muito se tem dado, se lhe exigirá muito também.” Portanto, a Fraternidade Rosa-Cruz
dedica, com o maior espírito de reverência e humildade, os valiosos ensinamentos contidos
neste livro, para o serviço da humanidade.
Que sua Verdade ilumine; sua Sabedoria guie e seu Amor abrace a todos aqueles que participem destas Águas da Vida e que todos, e cada um dos que se acerquem
delas, encontrem a Iluminada Senda que aqui se perfila, é o veemente desejo da
Fraternidade Rosa-Cruz.
“O Reino dos Céus é semelhante a um mercador
que buscava pérolas e que, uma vez que achou uma
pérola de grande valor, foi e vendeu tudo que
possuía e a comprou.”
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PRIMEIRA PARTE
O TABERNÁCULO NO DESERTO
CAPÍTULO PRIMEIRO
O TEMPLO DE MISTÉRIOS ATLANTE
Desde que a humanidade, os espirituais filhos pródigos de nosso Pai celestial, deambulou pelo deserto do mundo e se alimentou dos resíduos e sobras de seus
prazeres, que depauperam a alma, do mesmo modo que desperdícios de alimentos
depauperam o corpo, tem havido dentro do coração do homem uma voz sem palavras que o
tem premido e acossado para que volva a seu lugar; porém, a maioria dos homens se acha
tão embevecida em seus interesses materiais, que não a ouve. O maçon místico, que ouve
essa voz sem palavra, se sente compelido por uma força interna a buscar a Palavra Perdida;
a construir uma casa para Deus, um templo do espírito, onde possa encontrar o Pai frente a
frente e responder à sua chamada.
Nesta busca não está abandonado às suas próprias forças, pois nosso Pai celestial nos tem preparado, por Ele mesmo, um caminho marcado com guias e sinais, o
qual nos conduzirá a Ele, se o seguirmos até o fim. Porém, como esquecemos a Palavra
divina e agora não seríamos capazes de compreender seu significado, o Pai nos fala numa
linguagem simbólica, a qual, por sua vez, revela e oculta as verdades espirituais que nós
devemos saber antes que cheguemos a Ele. Do mesmo modo que nós damos a nossos filhos
livros ilustrados, os quais revelam às suas mentes infantis conceitos intelectuais que não
poderiam compreender de outra maneira; também, todos os símbolos que Deus nos dá têm
um profundo significado que não pode ser aprendido, a não ser por tais símbolos.
“Deus é espírito e deve ser adorado em espírito.” Portanto, está proibido, estritamente, fazer alguma imagem material d’Ele, ou coisa semelhante, porque nada que
nós possamos fazer pode nos dar uma idéia adequada. Porém, da mesma forma que nós
saudamos a bandeira de nosso país com alegria e entusiasmo, devido a que ela desperta e
acende em nossos peitos os sentimentos mais ternos, por tudo que representa a nosso lugar
e a nossos seres queridos; devido a que ela excita e levanta nossos mais nobres impulsos;
devido a que ela é um símbolo de todas as coisas que nos são mais queridas; do mesmo
modo, os diferentes símbolos divinos, que têm sido dados à humanidade, vez ou outra,
falam a esse tribunal da verdade que há dentro de nossos peitos e despertam nossas
consciências para idéias divinas que estão completamente fora do alcance das palavras.
Assim, pois, o simbolismo, que tem desempenhado um papel de primordial importância em
nossa passada evolução, é também uma necessidade vital para nosso desenvolvimento
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espiritual, daí a conveniência de estudá-lo com nossos corações, e não com os nossos
intelectos.
É óbvio que nossa atitude mental de hoje depende do modo como pensávamos ontem e, também, que nosso estado atual e as circunstâncias que nos rodeiam
dependem do modo como satisfizemos, ou rechaçamos, nossas obrigações no passado.
Cada novo pensamento, ou idéia, que chega ao nosso cérebro, nós o vemos mediante a luz e
raciocínio de nossa experiência anterior e, desse modo, podemos deduzir que nosso
presente e nosso futuro estão determinados por nossa maneira de viver no passado. De
igual modo, o caminho do esforço espiritual que foi percorrido e pavimentado por nós
mesmos em passadas experiências, determina nossa atitude atual e o caminho que devemos
seguir para alcançar nossas aspirações. Portanto, não conseguiremos alcançar uma
perspectiva verdadeira de nosso desenvolvimento futuro, a menos que, primeiramente, nos
familiarizemos com o passado.
É pelo reconhecimento deste fator que a Maçonaria volve o olhar para trás para entender, observar e estudar tudo referente ao templo de Salomão. Isto está muito bem
até este ponto; porém, com o objetivo de que tenhamos e abarquemos uma perspectiva total
e absoluta, devemos tomar em consideração, também, o antigo Templo de Mistérios
Atlante: o Tabernáculo no Deserto. Nós devemos compreender a importância relativa
daquele Tabernáculo e também a dos templos, o primeiro e o segundo, pois havia entre eles
diferenças vitais; cada um deles dotado de significado cósmico e dentro de todos eles se
projetava a sombra, ou perspectiva, da Cruz salpicada com Sangue, a qual se converteu em
Rosas.
O TABERNÁCULO NO DESERTO
Lemos na Bíblia a história do modo como Noé, e um resíduo de seu povo com ele, foi salvo do dilúvio e formou o núcleo da humanidade da época, ou Idade do
ARCO IRIS, na qual nos achamos atualmente vivendo. Na Bíblia se diz, também, que
Moisés tirou seu povo do Egito, a terra do Touro – Taurus – atravessando as águas que
afogaram seus inimigos e os libertou, com a denominação de povo eleito, para adorar o
Cordeiro – Áries – em cujo signo entrou, então, o Sol, pela precisão dos equinócios. Estas
duas narrativas se referem a uma só e mesma coisa, isto é: a emergência da humanidade
infantil do inundado continente atlântico à presente época de ciclos alternantes, na qual o
verão e o inverno, o dia e a noite, o fluxo e o refluxo se sucedem invariável e
constantemente. Então, a humanidade, que acabava de ser dotada de mente, começou a
compreender e a avaliar a perda da visão espiritual, que até aquele momento o homem
havia possuído, com o que nasceu nela uma nostalgia e anelo pelo mundo espiritual e seus
guias divinos, que acostumara a ver e que não nos tem abandonado, nunca, pois a
humanidade nunca cessou de lamentar aquela perda. Assim, pois, o antigo Templo de
Mistérios Atlante, o Tabernáculo no Deserto, lhe foi dado para que pudesse achar a seu
Senhor quando se houvesse qualificado para isso, por meio do serviço e da subjugação da
natureza inferior pelo Eu Superior. Como havia sido desenhado e projetado por Jeová, era a
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incorporação de grandiosas verdades cósmicas ocultas com o véu do simbolismo, e que lhe
falavam a seu foro íntimo, isto é: a seu Eu Superior.
Em primeiro lugar, é digno de notar que este Tabernáculo de ideação divina foi dado a um povo eleito, que devia erigi-lo, ou levanta-lo, graças a donativos e oferendas
voluntárias, entregues com toda a sua alma e coração.Aqui temos para aprender uma lição
muito importante, porque a ordem para seguir o caminho do progresso não se dá sem que se
tenha feito previamente uma aliança com Deus, pela qual se compromete a servir-Lhe e se
acha voluntarioso para oferecer o sangue de seu coração, vivendo uma vida de serviço, sem
buscar a sua própria conveniência. O termo “maçon” é derivado de phree messem, que são
vocábulos egípcios que significam “Filhos da Luz”. Na linguagem maçônica, Deus é
conhecido com o nome de Grande Arquiteto. Arche é uma palavra grega que quer dizer
“substância primordial ou primária”. Tekton é uma palavra grega que significa
“construtor”. Diz-se que José, o pai de Jesus, era “carpinteiro”, porém a palavra original
empregada é a grega “tekton”, isto é: construtor. Da mesma forma, se diz que Jesus foi um
tekton, ou seja: um construtor. De modo que todo místico “franco-maçon” verdadeiro é um
filho da luz, um construtor, que está se esforçando para construir o templo místico, de
acordo com a ordem, ou modelo divino, que lhe foi dada por nosso Pai que está nos Céus.
A esse fim ele dedica todo seu coração, alma e mente. É sua aspiração, ou deve ser, a de ser
“o maior no reino de Deus”, e, portanto, deve ser o servente de todos.
O próximo ponto que requer nossa atenção é a colocação do Templo, com respeito aos pontos cardeais, e achamos que estava disposto diretamente de Este para Oeste.
Assim, pois, vemos que o caminho do progresso espiritual é o mesmo que o do astro do dia,
isto é: marcha de Este para Oeste. O aspirante que entrava pela porta oriental e continuava
andando adiante, tocava o Altar das Oferendas, ou Altar dos Sacrifícios, onde se
queimavam aquelas oferendas, depois chegava ao Lavabo de Bronze, para, em continuação,
penetrar no vestíbulo, quarto departamento oriental do Tabernáculo propriamente dito,
chamado Lugar Santo e, por último, na parte mais ocidental do Tabernáculo, o Santo dos
Santos, onde a Arca, o símbolo mais grandioso de todos, estava colocada. Tal como os três
homens sábios, ou Reis Magos do Oriente, seguiram a estrela de Cristo em direção do
Oeste, até chegar a Belém; do mesmo modo, o centro espiritual do mundo civilizado se
desloca, ou marcha, sempre para o Oeste, até que, hoje, a crista da onda espiritual, que em
um distante dia partiu da China, das bordas ocidentais do Pacífico, agora chegou às bordas
orientais deste mesmo Oceano, onde está juntando suas forças para saltar uma vez mais, em
sua cíclica jornada, através da imensidão das águas para voltar a começar de novo, em um
distante futuro, uma nova jornada cíclica ao redor da terra.
A natureza ambulante deste Tabernáculo no Deserto é, portanto, uma excelente representação simbólica da natureza migratória do homem, um eterno peregrino,
passando constantemente das bordas do tempo na eternidade e volvendo outra vez. Do
mesmo modo que um planeta revolve e gira em sua jornada cíclica em redor do Sol, assim
o homem, o pequeno mundo ou microcosmos, se move ciclicamente em um círculo ao
redor de Deus, que é a origem e a meta de todos.
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O grande cuidado e a atenção tida nos detalhes acerca da construção do Tabernáculo no Deserto nos indicam que algo muito mais sublime, que uma mera
impressão do sentido ocular, se intentava com a sua construção. Sob sua aparência material
e terrena, ali estava desenhada a representação de coisas celestiais e espirituais tais, que
continham uma completa instrução para o candidato à Iniciação e, por conseguinte, não é
aceitável que esta refração nos excite a buscar naquele antigo santuário um conhecimento
íntimo e familiar?
Seguramente está justificado que consideremos todas as partes de seu plano com séria atenção, cuidadosa e reverente; recordando, a cada passo, a origem divina de
todo ele e nos esforçando, humildemente, para decifrar, através das trevas de seu serviço
terreno, suas sublimes e gloriosas realidades, as quais, de acordo com a sabedoria do
espírito, se nos oferecem e propõem para nossa solene contemplação.
Para que possamos ter a adequada concepção daquele lugar sagrado, devemos considerar o Tabernáculo em si mesmo; sua ornamentação, ou mobiliário, e seu
átrio. A figura que mostramos adiante pode ajudar a que o leitor forme uma idéia mais
perfeita da disposição dos objetos que havia dentro desse Tabernáculo.
O PÁTIO, OU ÁTRIO, DO TABERNÁCULO
Este espaço era um cercado que rodeava o Tabernáculo. Seu comprimento era o dobro de sua largura e a entrada se achava colocada na fachada oriental. A porta, ou
entrada, achava-se coberta, ou cerrada, por uma cortina de fino linho retorcido, nas cores
azul, escarlate e púrpura; cores que, sem esforço algum para nossa imaginação, podemos
ver que proclamam, ou definem, claramente o relativo estado cósmico deste Tabernáculo
no Deserto. Está dito, no sublime Evangelho de São João, que “Deus é luz”, e não há
descrição, nem símile, que possa envolver, nem comunicar, uma concepção melhor, ou
mais iluminada a uma mente espiritual, que estas palavras. Quando refletimos que os
maiores e mais modernos telescópios ainda não lograram alcançar os limites, ou fronteiras,
da luz, apesar de penetrarem milhões e milhões de milhas no espaço, aquela definição que
São João nos dá de Deus nos oferece uma débil, porém, não obstante, compreensível idéia
da infinidade de Deus.
Nós sabemos que a luz, que é Deus, é refratada em três cores primárias pela atmosfera que rodeia a Terra e cujas cores são: azul, amarelo e vermelho. E é uma realidade
bem conhecida por todo ocultista que o raio do Pai é azul; por sua vez que o do Filho é
amarelo, assim como o do Espírito Santo é vermelho. Somente o raio mais potente e
espiritual pode alcançar e penetrar até o centro, ou raiz, da consciência da onda da vida que
se acha incorporada no reino mineral de nosso planeta e, por esta razão, vemos nas encostas
das montanhas o raio azul do Pai refletido pelas áridas colinas e flutuando como uma
bruma, ou neblina, pelas gargantas e quebraduras das montanhas. O raio amarelo do Filho,
mesclado com o azul do Pai, proporciona a vida e a vitalidade do mundo vegetal, o qual,
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por esta razão, se nos oferece refletido na cor verde, porque a planta é incapaz de conservar
dentro dela este raio. Porém, no reino animal, ao qual anatomicamente pertence o homem
ainda não regenerado, os três raios são absorvidos, e o raio vermelho do Espírito Santo é o
que empresta a cor encarnada a seu sangue e à sua carne. A mescla do azul e do vermelho é
evidente no sangue purpúreo, envenenado como conseqüência do pecado. Porém o amarelo
não se evidencia nunca, até que se manifesta como o corpo da alma, o “traje dourado de
bodas” que ostenta a noiva mística do místico Cristo, emanado desde dentro.
De modo que as cores dos véus do Templo, tanto o da entrada como o da porta do Tabernáculo, indicavam que esta edificação foi projetada para um período anterior
ao tempo de Cristo, posto que só haviam presentes, como se disse, as cores azul e escarlate,
do Pai e do Espírito Santo, junto, como resultante de sua mescla, a púrpura. Porém, a cor
branca é a síntese de toda gama de cores e, portanto, o raio amarelo de Cristo se achava
oculto naquela parte do véu, até que, ao correr dos tempos, apareceria Cristo para nos
emancipar das ordenanças e das restrições da lei e nos iniciar nessa total emancipação da
liberdade como Filhos de Deus, Filhos da Luz, Criaturas da Luz, “Phree messem”, ou
Maçons místicos.
CAPÍTULO I I
O ALTAR DE BRONZE E O LAVABO, OU PIA
O Altar de Bronze estava colocado dentro do recinto, logo após a entrada Leste, e era usado para o sacrifício dos animais durante o serviço do Templo. A idéia de
empregar touros e cabras para o sacrifício poderá parecer bárbara às mentes de hoje e nós
não podemos conceber que pudesse ter nenhuma eficácia neste sentido. A Bíblia, sem
dúvida alguma, corrobora e apóia esta nossa idéia a respeito deste ponto, porque nela se nos
diz, repetidamente, que Deus não deseja sacrifícios, mas um espírito humilde e um coração
contrito, e que para Ele não há prazer em tais sacrifícios. Em vista disso, parece estranho
que se hajam empregado e pedido sacrifícios de tal índole. Entretanto, nós devemos ter em
conta que não há religião que possa levar àqueles para quem estão destinados seus
ensinamentos, se estes ensinamentos estão muito acima de seu nível intelectual ou moral.
Para que uma religião possa atrair e servir a um bárbaro deve ter em si certos rasgos de
barbárie. Uma religião de amor não podia fazer prosélitos naquela gente israelita, para a
qual se lhes deu uma lei que exigia “olho por olho e dente por dente”. Não se acha em
nenhuma parte do Velho Testamento alguma menção de imortalidade, porque aqueles
homens não podiam compreender nada de um céu, nem tão pouco aspirar a ele. Porém, em
troca, eles amavam e tinham carinho por suas propriedades materiais e, em conseqüência,
se lhes predisse que se trabalhassem bem e justamente, tanto eles como sua semente
habitariam na Terra para sempre; que seus ganhos seriam multiplicados, etc., etc.
Amavam, sim, seus bens materiais e eles sabiam que o aumento de seus rebanhos era devido ao favor do Senhor, já que Ele se lhes o concedia por mérito de suas
boas obras. De modo que se lhes ensinou a que obrassem com justiça, com a esperança de
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uma recompensa imediata neste mundo. Do mesmo modo, se lhes inculcava a idéia de
repelir o mau obrar, por causa do castigo rápido e imediato que ele levaria consigo, isto é:
todos aqueles castigos recebidos, se lhes foi dito que eram a retribuição, ou conseqüência,
de seus pecados. Este era o único meio que havia para levá-los no caminho do bem. Em tal
estado de evolução, não obravam com justiça por amor à justiça; nem, tão pouco, podiam
compreender o princípio de se fazerem a si mesmos “sacrifícios viventes” e,
provavelmente, eles sentiam, então, a perda de um animal cedido em sacrifício por um
pecado, ou transgressão da lei, com a mesma intensidade que nós sentimos hoje os
remorsos da consciência por nossas más ações.
O Altar era feito de bronze, metal que não se acha em estado natural, mas que é produzido pelo homem, mediante uma mistura de cobre e zinco. Disto se deduz que
com ele se insinuava, simbolicamente, que o pecado não estava compreendido, nem
previsto, no plano de nossa evolução e, portanto, é uma anomalia na Natureza, assim como
também, suas conseqüências: a dor e a morte, que estão simbolizadas pelas vítimas
sacrificadas. Porém, se o Altar, em si, era feito com material de composição artificial, o
fogo que ardia incessantemente sobre ele era de origem divina e era mantido ardendo
constantemente, ano após ano, com o mais zeloso cuidado. Nunca se fez uso de outro fogo,
distinto do original e podemos meditar, para nossa iluminação interna, que em uma ocasião
em que um dos sacerdotes presunçosos e rebeldes, desdenhando este mandamento,
pretendeu empregar um fogo estranho, se deparou com uma pavorosa retribuição e com
morte instantânea. Quando fazemos o juramento de aliança com o Mestre místico, o Eu
Superior, é extremamente perigoso o desdenhar os preceitos desse juramento de aliança.
Quando o candidato aparece na entrada oriental está “pobre, desnudo e cego”. Em tal momento, é um objeto de lástima e de comiseração, necessitando ser vestido
e levado até a luz; contudo, isto não pode se fazer imediatamente no Templo místico.
Durante o tempo de seu progresso, de seu estado de nudez até que tenha sido vestido com o magnífico manto do grande sacerdote, transcorre um enorme espaço de
tempo, durante o qual tem que percorrer um grande e difícil caminho. A primeira lição que
se lhe dá é que o homem avança unicamente mediante o sacrifício. Na Iniciação mística
Cristã, quando o Cristo lava os pés de seus Discípulos, se dá a explicação de que se não
fosse pela decomposição dos minerais de modo que sirvam para dar corpo ao reino vegetal,
não teríamos vegetação; que se o alimento vegetal não provesse sustento para os animais,
estes últimos seres não poderiam viver, nem existir, e assim sucessivamente, o superior, o
mais acima, necessita sustentar-se com o mais abaixo, o inferior. Por esta razão, o homem
tem uma dívida contraída com eles e, como conseqüência, o Mestre lava os pés de seus
Discípulos, simbolizando, no ato desse serviço servil e baixo, o reconhecimento de que eles
o têm servido como escalão para poder chegar a algo superior.
Do mesmo modo, quando o candidato é levado ao Altar de Bronze aprende a lição de que o animal é sacrificado por seu amor e benefício, dando seu corpo para
alimento e sua pele para agasalho. Ademais, vê a densa nuvem de fumo que flutua sobre o
Altar e percebe dentro dela uma luz, porém aquela luz é demasiado tênue, demasiada
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envolta em fumo, para que possa servir-lhe de guia permanente. Seus olhos espirituais estão
débeis e, portanto, não pode expô-los imediatamente à luz de verdades espirituais mais
elevadas.
O apóstolo São Paulo nos diz que o Tabernáculo no Deserto era uma sombra, perspectiva ou projeção, de coisas maiores que haviam de vir. Portanto, será de
interesse e benefício conhecer qual é o significado deste Altar de Bronze, com seus
sacrifícios e a queima das carnes, para o candidato que chega à porta do Templo nestes
tempos modernos.
A fim de que possamos compreender este mistério, primeiramente devemos imaginar a grande idéia absolutamente essencial subjacente, que compreende todo
verdadeiro misticismo, isto é: que todas estas coisas estão dentro e não fora do candidato,
ou do místico. Ângelus Silesius disse acerca da Cruz:
“Ainda que Cristo nascesse mil vezes
em Belém e não dentro de ti mesmo, tua alma estará desencaminhada. A Cruz do
Gólgota contemplarás em vão, enquanto não se levante dentro de ti mesmo”.
Esta idéia deve ser aplicada a cada símbolo e fase das experiências místicas. Não é o Cristo externo o que nos salva, porém é o Cristo interno a nascer dentro de nós. O
Tabernáculo foi construído realmente em uma época determinada, como se pode ver
claramente na Memória da Natureza, quando a vista interna se tenha desenvolvido em certo
grau; porém, nada é ajudado, e não o foi nunca, pelo símbolo externo. Nós devemos
construir o Tabernáculo dentro de nossos próprios corações e de nossas consciências e, uma
vez construído, devemos viver, durante nossa passagem por todo ele, em forma de
experiência real, todo o ritual do serviço que no símbolo do Tabernáculo externo se
realizava. Devemos, também, nos converter no Altar de Sacrifícios e ao mesmo tempo ser a
hóstia, ou oblação, que nele se oferece e que simbolizará o animal que em tempos passados
nele se imolava como oferenda. Devemos, assim, converter-nos no sacerdote que degola o
animal e, ao mesmo tempo, ser a vítima que é imolada. Posteriormente, devemos aprender
o modo de nos identificar com o Lavabo místico, assim como conhecer o modo de nos
lavarmos nele, em espírito. Então, devemos passar ao compartimento oriental, que está
atrás do primeiro véu e ministrar nele; e assim, sucessivamente, passar através de todo o
serviço do Templo, até que nos convertamos no maior de todos aqueles símbolos, a Glória
do Shekinah, pois do contrário tudo de nada nos servirá. Em resumo: antes que o símbolo
do Tabernáculo possa realmente nos favorecer, devemos transferi-lo da aridez e esterilidade
do deserto para os nossos próprios corações, de modo que quando nos tenhamos convertido
em tudo que aquele símbolo significa, também nos tenhamos transformado em tudo aquilo
que de espiritual tem seu significado.
Em todo caso, devemos começar a construir e a levantar dentro de nós mesmos o Altar de Sacrifícios, antes de podermos oferecer sobre ele nossos erros e faltas,
para então poder purgá-los no crisol do remorso. Isto se efetua no moderno sistema da
preparação para o discipulado, por meio de um exercício que se executa ao se deitar;
exercício que foi criado pelos Hierofantes da Escola de Mistérios Ocidental, de acordo com
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bases científicas, para o adiantamento do aspirante na senda que conduz ao discipulado.
Outras Escolas dão um exercício semelhante, porém este oferece uma diferença, em um
ponto especialíssimo, de todos os outros métodos. Depois de explanar o exercício de
referência, detalharemos a razão dessa distinção radical. Este especial método tem um
efeito de adiantamento tão transcendental que permite, ao que o executa devidamente, o
aprender agora não somente as lições que deveria aprender ordinariamente nesta atual vida,
mas também alcançar um adiantamento e efetuar um desenvolvimento espiritual que não
conseguiria senão depois de viver várias vidas, isto é: depois de passar por várias
encarnações.
O exercício a que nos referimos, é conhecido com o nome de exercício noturno, ou de retrospecção, e se executa do seguinte modo: depois de se deitar na cama, a
primeira coisa a se fazer é relaxar o corpo. Isto é muito importante, porque quando há
alguma parte do corpo que está em tensão, o sangue não circula livre e uniformemente, pois
parte dele, devido à pressão, fica contida por algum tempo ao passar pelo órgão em tensão,
como é natural, e todo desenvolvimento espiritual depende do sangue. Não se pode fazer o
máximo esforço para alcançar o crescimento da alma quando há alguma parte do corpo que
está em tensão.
Quando se alcança o perfeito relaxamento, o executante, que deve ser todo aspirante à vida superior, começa a repassar o que fez durante o dia que acaba de viver;
porém, e nisto se estriba aquela diferença radical, não começa vivendo, ou repassando, os
primeiros acontecimentos da manhã, para terminar com os atos executados nos últimos
momentos da noite; mas os revisa e examina em ordem inversa como os viveu, isto é:
primeiro vê as cenas vividas há poucos minutos; continuando retrocedendo pela cena; a
saída do trabalho; o trabalho da tarde; os atos executados ao meio-dia, passando aos da
manhã, para terminar pelas primeiras ocorrências da manhã. Com isso se vê o nome
adequado que lhe dá nossa Escola, ou seja: de “retrospecção”.
A razão para isto está em que desde o primeiro momento do nascimento de uma criança, quando esta faz a primeira inspiração, o ar que se inala nos pulmões leva
consigo uma fotografia, ou imagem, do mundo externo que rodeia a criança e, à medida que
o sangue corre e passa pelo ventrículo esquerdo do coração, cada cena da vida se grava, ou
se imprime, em uma célula que está colocada ali. Cada nova respiração traz com ela novas
imagens e quadros e, deste modo, se imprime e grava, em tal célula, um registro, ou
recordação, de todas as cenas e atos de toda nossa vida, desde a primeira respiração que
damos ao nascer, até o último suspiro ao morrer. Depois da morte, todas essas imagens, ou
impressões, formam a base de nossa vida no purgatório. Devido às condições próprias do
mundo espiritual, sofremos os remorsos da consciência tão agudamente por cada ato mau
cometido que, até parece incrível, com o sofrimento, chega à nossa consciência a
necessidade de abandonar o caminho do erro e do mau obrar. De outra parte, a intensidade
do gozo que experimentamos, como conseqüência de nossos bons atos, nos estimula a
seguir a senda da virtude em nossas vidas futuras.
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Porém, em nossa existência post mortem, este panorama da vida se revive em ordem inversa, com o propósito de demonstrar primeiramente os efeitos e logo depois
as causas que deram lugar àqueles, com o quê o espírito pode aprender o modo como a lei
de Causa e Efeito atua na vida. Por esta razão, ao aspirante que está sob a guia e direção
dos Irmãos Maiores dos Rosa-Cruzes, se lhe ensina a realizar este exercício noturno em
ordem inversa e também a julgar-se a si mesmo a cada dia, de modo que possa escapar a
esse sofrimento do purgatório, depois da morte. Porém, é preciso fazer notar que de nada
servirá uma mera e superficial revisão de nossos atos e cenas de cada dia. Não é suficiente
que, ao chegar a um momento em que tenhamos feito um grave dano a alguém, dizer
displicentemente: “Homem, sinto muito, Fiz sem querer!” Não! Devemos ter em conta
que, naquele instante, somos iguais àquele animal sacrificado e que se achava estendido em
cima do Altar das Oferendas, disposto para ser queimado. E, a menos que sintamos no mais
profundo de nossos corações o efeito daquele fogo do remorso (que sabemos aceso pela
Divindade), isto é: um sentimento de arrependimento que chegue até mesmo à medula de
nossos ossos, por nossas faltas durante o dia, não evoluiremos nada.
Durante a dispensação antiga, todos os sacrifícios eram purificados com sal antes de serem colocados sobre o Altar das Oferendas e Sacrifícios e destinados ao fogo.
Todos nós sabemos o quanto queima quando se toca com sal uma ferida recente. Aquela
purificação das vítimas, nos sacrifícios que se faziam naquele antigo Templo de Mistérios,
simbolizava a intensidade do remorso e queimação interna que nós devemos sentir quando,
voluntariamente, nos colocamos sobre o Altar dos Sacrifícios, como sacrifícios viventes. É
a sensação do remorso (a dor sincera e profunda) que sentimos por nossos erros, ofensas e
faltas, o que apaga a impressão, ou imagem, da célula semente até deixá-la limpa e sem
mancha; da mesma forma que, sob a dispensação no Antigo Testamento, os transgressores
ficavam perdoados quando apresentavam ante ao Altar das Oferendas um sacrifício para ser
queimado; assim nós, nos tempos atuais, pela execução desse exercício noturno
retrospectivo, apagamos as lembranças de nossos pecados. É uma conclusão lógica,
evidente, de que não podemos continuar, noite após noite, realizando este sacrifício vivente
sem nos fazermos melhores e, por conseqüência, deixarmos de fazer, pouco a pouco, as
coisas pelas quais nos censuramos a nós mesmo, durante este exercício noturno. De modo
que, além de eliminar nossas faltas atuais, este exercício nos eleva a tão alto nível
espiritual, que de nenhum modo haveríamos chegado nesta vida sem fazê-lo. Também é
digno de observar o fato de que quando alguém havia cometido um crime grave e chegava
ao Santuário, encontrava à sombra do Altar de Sacrifícios toda impunidade, porque ali
somente o fogo aceso por Deus podia executar o julgamento. O criminoso, pois, escapava
às mãos dos homens pondo-se, voluntariamente, sob as mãos de Deus. Assim, também, o
aspirante que reconhece seus erros e faltas, à noite, acercando-se espontaneamente ao altar
de seu juízo vivente, chega também ao Santuário da Lei de Causa e Efeito, com o que,
“ainda que seus pecados sejam vermelhos como escarlate, ficarão tão brancos como a
neve.”
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O LAVABO DE BRONZE, OU PIA
O Lavabo de Bronze era uma grande pia que sempre se mantinha cheia d’água. Diz-se, na Bíblia, que estava assentada sobre os lombos, ou partes traseiras, de doze
bois, também feitos de bronze, ficando, portanto, suas partes traseiras no centro daquela
grande vasilha. Sem embargo do exame da Memória da Natureza, parece que aqueles
animais não eram bois, mas, sim, representações simbólicas dos doze signos do zodíaco. A
humanidade, naqueles tempos, se achava dividida em doze grupos, um por cada signo
zodiacal. Cada símbolo animal atraia um determinado raio e, da mesma forma que a água
benta que hoje se emprega nas igrejas católicas é magnetizada pelo sacerdote durante a
cerimônia da consagração, assim também a água daquela Pia era magnetizada pelas
Hierarquias divinas que guiavam a humanidade.
Não pode haver dúvida acerca do poder da água benta preparada por uma personalidade forte e magnética. Essa água toma, ou absorve, o eflúvio do corpo vital do
sacerdote que a bendiz e os fiéis que a usam se fazem afins e flexíveis à sua finalidade, em
um grau proporcional à sensibilidade de cada um deles. Do mesmo modo, os Lavabos de
Bronze dos Templos de Mistérios da antiga Atlântida, onde a água era magnetizada pelas
Hierarquias divinas de incomensurável poder, constituíam um poderoso fator para a guia
daquele povo, de acordo com a vontade daqueles poderosos regentes. Por esta razão, os
sacerdotes agiam em perfeita obediência aos mandados e ordens de seus invisíveis
caudilhos espirituais e, por meio deles, o povo os seguia cegamente. Requeria-se que os
sacerdotes lavassem suas mãos e pés antes de penetrar no Tabernáculo propriamente dito.
Se este mandamento era desobedecido, imediatamente seguia-se a morte daquele sacerdote, ao penetrar no Tabernáculo. Portanto, podemos dizer que, assim como a
nota-chave do Altar de Bronze era “justificação”, a idéia base, ou central, do Lavabo de
Bronze era a de “consagração”.
“Muitos são os chamados, porém poucos os escolhidos”. Nós temos o exemplo do jovem rico que chegou a Cristo perguntando-lhe o que deveria fazer para
chegar a ser perfeito. Ele disse que havia guardado a lei, porém quando Cristo lhe disse:
“Segue-me”, não pode fazê-lo, porque tinha muitas riquezas que o prendiam e o sujeitavam
como um cepo. Do mesmo modo que a grande maioria da humanidade se contentava em
escapar à condenação, o jovem rico era demasiado tíbio, ou negligente, para fazer esforços
com objetivo de alcançar o prêmio merecido por suas obras, ou serviços. O Lavado de
Bronze é o símbolo da “santificação e da consagração” da vida para o serviço. Assim
como Cristo deu começo a seus três anos de ministério passando pelas águas do batismo,
assim também o aspirante ao serviço, no antigo Templo, devia santificar-se e si mesmo
naquela corrente sagrada que fluía daquela grande pia conhecida pelo nome de Mar
Fundido. E o maçon místico que está se esforçando em construir um templo “sem ruído de
martelos”, com objetivo de servir nele, deve também se consagrar e se santificar a si
próprio. Deve, voluntariamente, estar disposto a deixar todas as posses terrenas, de modo
que possa seguir sem vacilação, nem inconveniências, ao Cristo interno.
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Ainda que possa conservar suas riquezas, não obstante, deve considerá-las como um sagrado depósito que se lhe tem confiado, o qual deve ser usado por ele como o
faria um prudente administrador com os bens que os tem confiado seu senhor. E nós
devemos estar sempre preparados para obedecer ao Cristo interno que nos diga “segue-
me”, ainda que a sombra da Cruz se projete, na obscuridade, sobre o fim de nosso caminho,
porque sem esse abandono decidido e completo de tudo da vida pela Luz, pelos propósitos
superiores e espirituais, não pode haver grande progresso nessa senda de perfeição. Da
mesma forma que o Espírito Santo desceu sobre Jesus quando saiu da água batismal da
consagração, assim também o maçon místico que se banha no Lavabo do Mar Fundido,
começa a ouvir debilmente a voz do Senhor dentro de seu próprio coração, ensinando-lhe
os segredos da Arte que deve usar para o benefício de seus semelhantes.
CAPÍTULO III
O COMPARTIMENTO ORIENTAL DO TEMPLO
Uma vez que tenha dado seus primeiros passos na Senda, o aspirante se acha em frente ao véu que pende ante a entrada do Templo místico. Correndo-o para o lado,
penetra no interior do compartimento oriental do Santuário, o qual era chamado o “Lugar
Santo”. Não havia nenhuma janela, nem abertura de nenhuma espécie no Tabernáculo, que
permitisse deixar passar para dentro dele a luz do dia, porém esse compartimento nunca
estava obscuro. Noite e dia se achava brilhantemente iluminado por lâmpadas que ardiam.
Seu mobiliário era um símbolo dos métodos que o aspirante deve seguir para alcançar o desenvolvimento de sua alma para o serviço. Consistia este mobiliário,
principalmente, em três objetos: o Altar do Incenso, a Mesa dos Pães da Proposição e o
Candelabro de Ouro, do qual procedia a luz.
Ao israelita comum não era permitido o ingresso nesse compartimento, nem que ele visse os objetos lá existentes. Nada, senão um sacerdote, podia passar o véu externo e entrar
neste primeiro compartimento. O Candelabro de Ouro se achava colocado no lado Sul do
Lugar Santo, de modo que se achava ao lado esquerdo da pessoa que entrava nele. Era feito
de ouro puro e consistia em um braço, ou coluna central, elevando-se desde a base, da qual
saiam seis braços. Estes braços se destacavam de três pontos diferentes da coluna principal
e se curvavam para cima em três semicírculos de diâmetros diferentes (como é natural,
posto que saiam da coluna em alturas diferentes) e simbolizavam os três Períodos de
desenvolvimento (os Períodos de Saturno, Solar e Lunar) pelos quais passou o homem
antes de chegar ao atual Período Terrestre, em que, então, não havia chegado nem à metade
de seu desenvolvimento. Este último Período estava simbolizado pela sétima luz. Cada um
destes sete braços terminava em uma lâmpada e estas lâmpadas se nutriam do mais puro
azeite de oliva, que se fazia por um processo especial. Os sacerdotes eram encarregados de
cuidar do Candelabro, que nunca se achava sem alguma luz acesa. Todos os dias se
examinavam as lâmpadas, se as arrumava e se lhes colocava azeite, de modo que pudessem
arder constantemente.
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A Mesa dos Pães da Proposição estava colocada no lado Norte do compartimento, de modo que se encontrava à mão direita do sacerdote, conforme entrava
neste compartimento e mirando o segundo véu. Em cima desta Mesa havia, sempre, doze
pães sem levedura, os quais se achavam em dois montes de seis pães cada um, pão sobre
pão e em cima de cada pilha, ou monte, se colocava uma pequena quantidade de incenso.
Estes pães eram chamados o pão da proposição, ou pão da face, porque eram postos
solenemente naquela Mesa, ante a presença do Senhor, que morava na Glória do Shekinah,
isto é: no compartimento atrás do segundo véu. A cada sábado, estes pães eram trocados
pelos sacerdotes: os velhos eram tirados dali e, em seu lugar, eram postos pães novos. Os
pães que eram retirados deviam ser comidos pelos sacerdotes e por ninguém mais, pois não
era permitido a nenhum outro que provasse deles; assim como não se tolerava que fossem
consumidos em outro lugar, a exceção feita dentro do Pátio do Santuário, devido a que
aquele pão era santo e, portanto, só podia ser tomado por pessoas sagradas e em terreno
santo.
O incenso que estava sobre as duas pilhas de pães da proposição era queimado, ao se trocar os pães, como uma oferenda de fogo ante o Senhor, que se fazia em
lugar dos pães.
O Altar do Incenso, ou o Altar de Ouro constituía o terceiro objeto que havia no Compartimento Oriental do Templo. Achava-se situado no centro do
compartimento, isto é: à idêntica distância das paredes Norte e Sul e em frente do segundo
véu. Nunca se queimava carne neste Altar, assim como tão pouco se o tocava com sangue
das vítimas, exceto em ocasiões soleníssimas e, então, somente seus vasos se marcavam
com o vermelho do pecado, ou da mácula. O fumo que se alçava de sua superfície nunca
era outro que o procedente do incenso queimado. Aquele fumo se elevava todas as manhãs
e noites, enchendo o Santuário com uma nuvem fragrante e levando ao exterior um olor
refrescante por todo ao redor, estendendo-se por todo o território em várias milhas à volta.
Devido a que todos os dias se o queimava, este incenso era chamado “um incenso perpétuo
diante do Senhor”.
Não era um incenso simples o que se queimava, mas um composto desta substância com outras espécies doces, mescladas de acordo com as instruções dadas por
Jeová, especialmente para isto e, portanto, era considerado sagrado, até o extremo de que
não era permitido a ninguém o fazes para ser empregado comumente. O sacerdote tinha um
mandamento expresso de nunca oferecer um incenso diferente sobre o Altar de Ouro, ou
seja: que devia sempre empregar aquela composição sagrada. Este Altar se achava colocado
precisamente diante do véu, pela parte de fora, porém em contraposição ao Trono de
Misericórdia, que se achava detrás daquele véu; por essa razão, ainda que o sacerdote
oficiasse ante o Altar do Incenso, não podia ver o Trono de Misericórdia, devido a impedi-
lo o segundo véu; não obstante, devia, ao oferecê-lo, mirar para aquela direção e dirigi-lo
em tal sentido. Ademais, havia o costume de que quando a nuvem fragrante e odorífera do
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fumo do incenso se elevava por cima do templo, todas as pessoas que se achavam no Pátio
do Santuário enviavam suas preces a Deus, silenciosamente, cada uma para si.
O MÍSTICO SIGNIFICADO DO COMPARTIMENTO ORIENTAL
E SEU MOBILIÁRIO
O CANDELABRO DE OURO
Como foi dito anteriormente, quando o sacerdote se achava de pé no centro do Compartimento de Este do Tabernáculo, o Candelabro de Sete Braços ficava à sua mão
esquerda e na parte do Sul. Isto simbolizava o fato de que os sete doadores, ou planetas,
que fazem sua dança mística ao redor da órbita central, o Sol, correm uma estreita faixa que
compreende oito graus de cada lado da senda do Sol, a qual é chamada o Zodíaco. “Deus é
Luz” e os “Sete Espíritos ante o Trono” são os ministros de Deus; portanto, são os
mensageiros da luz para a humanidade e eles são os que têm guiado o homem em sua senda
evolutiva. Ademais, assim como os céus estão resplandecentemente iluminados quando a
Lua, em sua fase, chega à sua plenitude na parte oriental dos céus, assim também o
Compartimento Oriental do Tabernáculo está pleno de LUZ, que indicava visivelmente a
presença nele de Deus e de seus sete Ministros, os Anjos das Estrelas.
Nós podemos notar, de passagem, que a luz do Candelabro de Ouro era clara e a chama inodora, e compara-la com a chama meio envolta pelo fumo que se via no
Altar das Oferendas - de vítimas queimadas - a qual, em certo sentido, gerava trevas, em
vez de dissipá-las. Porém, há, ainda, um significado mais profundo e mais sublime neste
símbolo de fogo, o qual não discutiremos até que cheguemos à Glória do Shekinah, cujo
brilho deslumbrante flutuava sobre o Trono da Misericórdia, no Compartimento Ocidental.
Antes de penetrarmos neste tema, é preciso que nos familiarizemos com todos os símbolos
que se ofereciam à nossa vista, entre o Candelabro de Ouro e aquele sublime Fogo do Pai,
que era a glória coroada do Santo dos Santos, o Sancta Sanctorum, a parte mais sagrada do
Tabernáculo no Deserto.
A MESA DO PÃO DA PROPOSIÇÃO
O Compartimento Oriental do Templo pode ser chamado o Vestíbulo de Serviço, pois ele corresponde aos três anos do ministério de Cristo e contém todos os
ornamentos e requisitos para o desenvolvimento da alma, ainda que, como já dissemos, só
estava adornado com três principais objetos. Entre eles, destaca-se a Mesa dos Pães da
Proposição, sobre a qual, como já sabemos, se colocavam duas pilhas, ou montes, de pães
caseiros, sem levedura, cada um dos quais continha seis pães, e sobre estes pães se colocava
um punhado de incenso. O aspirante que chegava à porta do Templo, “pobre, desnudo e
cego”, era levado, pois, à luz do Candelabro de Sete Braços, adquirindo um certo grau de
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conhecimento cósmico, que ele precisava empregar em benefício de seus semelhantes; e a
Mesa do Pão representava este símbolo.
O grão, do qual se havia elaborado aquele pão, em princípio, havia sido dado por Deus; porém, depois, foi plantado pelo homem, que previamente havia arado e
preparado o terreno no qual o havia de semear. Depois de plantá-lo, teve também que
cultiva-lo e rega-lo; e quando o grão deu seu fruto, de acordo com a natureza do solo em
que crescia e do cuidado que havia recebido em seu crescimento, teve que ser segado,
batido, moído e purificado. Depois, os antigos servidores de Deus tinham que leva-lo ao
Templo, onde era colocado ante a presença do Senhor, como pão, para “demonstrar que os
homens haviam executado sua tarefa e rendido o serviço necessário”.
Os grãos de trigo dados por Deus, contidos nos doze pães, representam as oportunidades para o desenvolvimento da alma que Deus nos deu e que nos vêem a todos e
a cada um, por meio dos doze departamentos da vida, representados pelas doze casas do
horóscopo, que estão sob o domínio das doze Hierarquias divinas, conhecidas como signos
do Zodíaco. Porém, é da incumbência e obrigação do maçon místico, o genuíno e autêntico
construtor do templo, o aproveitar tais oportunidades, cultiva-las e nutri-las, ou fomenta-
las, de modo que possa extrair delas o PÃO DA VIDA que nutre e alimenta a alma.
Não obstante, nós não assimilamos ordinariamente o total de nossa alimentação física; há um resíduo, uma grande quantidade de cinzas sobrando, depois de
haver amalgamado a quinta-essência em nosso sistema. Por esta mesma razão, o Pão da
Proposição não se queimava, nem era consumido, ante ao Senhor, mas que se colocava dois
montinhos de incenso sobre os montes dos Pães de Proposição, um sobre cada monte. Isto
se considerava que era o aroma deles, e mais tarde era consumido pelo fogo no Altar do
Incenso.
Assim mesmo, o serviço prestado diariamente pelo maçon místico, e que serve de sustento para sua alma, à noite é pulverizado no moinho da Retrospecção, ao
retirar-se para seu leito e praticar esse exercício científico indicado pelos Irmãos Maiores
da Rosa-Cruz. Porém, há uma época, cada mês, em que é particularmente propícia à
extração do incenso do crescimento da alma e queima-lo ante ao Senhor, de maneira que
possa ser amalgamado com corpo da alma e fazer parte da “radiante e dourada vestimenta
nupcial”, ou seja: quando a Lua se aproxima ao plenilúnio. Então, se encontra a Lua no
Este e os céus estão deslumbrantes de Luz, como o estava a habitação do Este do antigo
Templo de Mistérios atlânticos, onde o sacerdote fortificava o pábulo da alma simbolizado
pelo Pão da Proposição e de sua fragrante essência, que deleitava a nosso Pai celestial,
tanto então como agora.
Que o maçon místico tome especial nota, não obstante, de que o Pão da Proposição não era obra de visionários, nem o produto de especulações sobre a natureza de
Deus, da luz ou coisa semelhante, mas que era o produto de um labor real, de um trabalho
ordenado e sistemático, isto é: que nos aguilhoa para seguir a senda de um serviço real, se
nós desejamos cultivar esse tesouro que podemos acumular no céu. A menos que
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trabalhemos realmente, SERVINDO À HUMANIDADE, não teremos nada que levar, nem
“pão” para propor nos festivais da Lua cheia e nas Bodas Místicas do Eu superior com o eu
inferior; nos encontraremos desprovidos do radiante e dourado corpo da alma – o místico
“MANTO DOURADO NUPCIAL” – sem o qual não se poderá consumar, nunca, a união
com Cristo.
O ALTAR DE INCENSO
No Altar de Incenso, conforme dissemos na descrição geral do Tabernáculo e de seu mobiliário, continuamente se oferecia incenso ante ao Senhor, e o sacerdote que
estava oficiando diante do Altar, naquele momento, se achava em posição tal que mirava
para o Trono da Misericórdia por cima da Arca, se bem que lhe era impossível vê-la,
devido a que o impedia o segundo véu, que se achava interposto entre o primeiro e o
segundo Compartimento do Tabernáculo, chamados, respectivamente, o Lugar Santo e o
Santo dos Santos, ou o Sancta Sanctorum. Também vimos, ao tratar do “pão da
proposição”, que o incenso simbolizava o extrato, o aroma do serviço que temos prestado
de acordo com as ocasiões que se nos têm apresentado e às oportunidades que temos tido;
do mesmo modo que o animal imolado sobre o Altar de Bronze representa nossas faltas e
erros cometidos durante o dia, assim como o incenso queimado sobre o Altar de Ouro, que
é um doce aroma para o Senhor, representa as ações virtuosas de nossas vidas.
CAPÍTULO IV
A ARCA DA ALIANÇA
É de se ter em conta, por ser de grande significado místico, que o aroma do serviço voluntário está representado por um doce olor, como incenso fragrante, enquanto
que o odor do pecado, do egoísmo e da transgressão da lei, representados por um sacrifício
obrigado, ou compulsório, sobre o Altar dos Sacrifícios, é nauseabundo, pois não é
necessária uma grande imaginação para compreender que a nuvem de fumo que se elevava
continuamente dos esqueletos e carnes queimados dos animais imolados originavam um
fedor nauseabundo, para conceber e demonstrar o quanto ele é repugnante; enquanto que o
incenso oferecido perpetuamente sobre o Altar diante do segundo véu, indicava, por
antítese, a beleza e sublimidade do serviço voluntário e desinteressado, exortando deste
modo o maçon místico, como um filho da luz, a evitar um e inclinar-se para o outro.
Gravemos bem em nossa consciência, que o serviço não consiste unicamente em fazer grandes coisas. Alguns dos que o mundo reputa como heróis foram
insignificantes e vulgares em suas vidas, em geral, e se fizeram notáveis, um certo dia, por
um grande feito extraordinário e circunstancial. Tem havido mártires que foram postos no
calendário dos Santos porque morreram por uma causa; porém, algumas vezes, é um
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heroísmo maior, é um martírio maior, o fazer as pequenas coisas, que ninguém observa, e
sacrificar-se a si mesmo em um simples serviço pelos demais.
Já vimos que o véu da entrada do pátio exterior e o véu do compartimento oriental do Tabernáculo estavam ambos confeccionados com tela de quatro cores: azul,
vermelha, púrpura e branca. Porém, o segundo véu, o véu que separava os dois
compartimentos em que se dividia o Tabernáculo propriamente dito, se diferenciava dos
outros dois em sua confecção, ou adornos, estando bordado com figuras de Querubins. Não
examinaremos o significado desta confecção, até que tratemos da questão da Lua nova e a
Iniciação, visto que agora penetraremos no segundo compartimento do Tabernáculo, o
compartimento ocidental chamado o Santo dos Santos.
Nenhum mortal podia ultrapassar este segundo véu e penetrar neste segundo compartimento, senão o Grande Sacerdote, e unicamente o estava permitido fazê-
lo uma vez em todo o ano, ou seja: no dia da festividade do Yom Kippur, isto é, o Dia da
Proposição; e somente depois da preparação mais solene e com a reverência mais
majestosa. O Sancta Sanctorum se achava saturado da solenidade de outro mundo,
percebendo-se a presença de uma grandeza não terrena. O Tabernáculo todo era santuário
de Deus, porém aqui neste lugar se via a imponente manifestação de sua presença, a
morada excepcional da Glória do Shekinah, e bem se compreende que um mortal tremesse
ao só pensamento de se apresentar dentro de tão sagrado recinto, como o Grande Sacerdote
devia fazê-lo no Dia da Proposição.
No extremo ocidental deste compartimento, na parte mais extrema para o Oeste de todo o Tabernáculo, descansava a ARCA DA ALIANÇA. Era um receptáculo
côncavo que continha o Pote de Ouro do Maná, a Vara de Aarão, que floresceu, e as
Tábuas da Lei que foram dadas a Moisés. Enquanto esta Arca da Aliança permaneceu no
Tabernáculo no Deserto, havia sempre postas duas estacas nos quatro anéis da Arca, de
modo que podia ser levantada instantaneamente e transportada, porém, quando a Arca,
finalmente, foi colocada no Templo de Salomão, aquelas estacas foram retiradas de seu
lugar. Isto é muito importante, por seu significado simbólico. Em cima da Arca se erguiam,
inclinados, dois Querubins, e entre eles morava a Glória incriada de Deus. “Ali – Ele disse a
Moisés – Eu estarei contigo e Me comunicarei contigo por cima do Trono da Misericórdia,
por meio dos Querubins que estão sobre a Arca do Testemunho”.
A glória do Senhor, vista por cima do Trono da Misericórdia, tinha a aparência de uma nuvem. O Senhor disse a Moisés: “Diz a teu irmão Aarão que não entre
a todo instante no Santo dos Santos, isto é, por dentro do véu que está diante do Trono da
Misericórdia, o qual está sobre a Arca, para que não morra, pois Eu aparecerei em forma
de nuvem sobre o Trono da Misericórdia”.
Esta manifestação da divina presença foi chamada entre os judeus a Glória do Shekinah. Sua aparição, sem dúvida alguma, se veria acompanhada de tão sublime glória
espiritual, que a nós é impossível formamos dela a devida idéia. Saindo daquela nuvem, se
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ouvia a voz de Deus, com profunda solenidade, quando era consultado sobre o bem estar,
interesse ou necessidade de Seu povo.
Quando o aspirante está qualificado para entrar nesta câmara, que o segundo véu oculta, se encontra com tudo que é obscuro para seu olho físico e é necessário,
por esta razão, que tenha outra luz dentro dele. Quando, primeiramente, chegou à entrada
oriental do templo, se achava “pobre, desnudo e cego”, e vinha em busca da LUZ. Então se
lhe mostrou aquela luz nebulosa que se entrevia no fumo que saia do Altar dos Sacrifícios e
se lhe disse que, para que pudesse avançar, deveria acender dentro dele mesmo aquela
chama pelo arrependimento de seus erros e obras más. Posteriormente, se lhe mostrou a
brilhantíssima luz que se via no compartimento oriental do Tabernáculo, que procedia do
Candelabro de Sete Braços; em outras palavras: se lhe deu a luz do conhecimento e da
razão, com a qual poderia avançar em sua marcha pela Senda. Porém, se lhe exigiu que
mediante seu serviço desenvolvesse, ou evoluísse, dentro dele e ao seu redor outra luz, o
“traje dourado das bodas”, que é também a luz de Cristo do corpo da alma. Devido a seus
atos de ajuda a seus semelhantes durante suas vidas, essa gloriosa substância da alma,
gradualmente, rodeia toda sua aura, até que se acende e brilha como uma luz dourada. Não
lhe é possível penetrar nos recintos do segundo Tabernáculo, que é, como algumas vezes é
chamado, o Sancta Sanctorum, até que tenha cultivado e desenvolvido esta iluminação
interna.
“Deus é Luz” e “se nós caminharmos na luz, como Ele está na luz, teremos fraternidade uns com os outros”. Esta sentença se toma, em geral, unicamente para indicar
a fraternidade, ou comunhão, dos Santos; porém, real e verdadeiramente, se aplica também
à fraternidade, ou união, que temos com Deus. Quando o discípulo penetra no segundo
Tabernáculo, a luz que existe dentro dele vibra em harmonia com a LUZ da Glória do
Shekinah, que está entre os Querubins e, então, compreende a amizade e fraternidade com o
Fogo do Pai.
De modo que os Querubins e o Fogo do Pai, que flutua sobre a Arca, representam as Hierarquias divinas que guiaram a humanidade durante sua peregrinação
pelo deserto; assim, também, a Arca que está ali representa o homem em sua máxima
evolução. Existe dentro desta Arca, conforme já dissemos, três coisas: o Pote de Ouro do
Maná, a Vara florescida e as Tábuas da Lei.
Quando o aspirante se apresentou na entrada oriental, como um filho do pecado, a lei estava fora dele para ensinar-lhe e dirigir-lhe para o Cristo. Então, a lei
pesava sobre ele com inexorável severidade, exigindo a estrita retribuição de “olho por
olho e dente por dente”. Toda transgressão implicava um castigo justo e eqüitativo e o
homem se achava circunscrito, em tudo, às leis que lhe ordenavam as coisas que devia
fazer, assim como as que NÃO devia fazer. Porém, quando, por meio do sacrifício e do
serviço, chega finalmente a tal estado de evolução, simbolizado pela Arca na Câmara
Ocidental do Tabernáculo, as Tábuas da Lei estão dentro e, então, se acha emancipado de
todas as coações e interferências externas de suas ações, não porque acha que pode
quebrantar, ou romper, as leis, mas porque ele já é um agente que trabalha com elas.
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Justamente, do mesmo modo que nós aprendemos a respeitar a propriedade dos demais e,
portanto, nos emancipamos do mandamento “Não furtar”; de igual modo, aquele que
guarda todas as leis, porque sente a necessidade e dever de fazê-lo assim, não tem
necessidade de um orientador externo, e alegremente manifesta obediência em todas as
coisas devido a que é um servidor da lei e atua com ela, por eleição e espontaneidade
próprias e não por necessidade.
A ARCA DA ALIANÇA
O POTE DE OURO DO MANÁ
“Manas”, “mensch”, “mens”, ou man” – esta última palavra que significa “homem” em inglês – todos são vocábulos que se associam facilmente com o de “manna”,
ou “maná”, que caía do céu. Ele é, pois, o espírito humano que desceu do Pai para fazer sua
peregrinação pela matéria, e o Pote de Ouro onde se o conservava, dentro da Arca da
Aliança, simboliza a aura dourada do corpo da alma.
Ainda que o relato descrito na Bíblia não se ache em estrita concordância com os fatos, não obstante, contém os fatos principais do místico maná que caía do céu. Se
nós desejamos conhecer qual é a natureza desta substância chamada pão, podemos recorrer
ao capítulo sexto do Evangelho de São João, onde se descreve que Cristo alimentou as
multidões com pães e peixes, o que simboliza a doutrina mística que havia de servir para os
dois mil anos seguintes e cuja época Ele inaugurava, pois durante esse espaço de tempo, o
Sol, por precisão dos equinócios, passaria pelo signo dos peixes – Peixes - e é por esta
razão que se dispôs que as gentes cristãs se abstivessem, por pelo menos um dia da semana
– às sextas-feiras – em uma determinada época do ano, de se alimentar de carne, que
corresponde ao Egito e aos antigos atlantes. Também se lhes pôs a água de Peixes nas
portas dos templos e as hóstias virginais nas mesas da comunhão, ante o Altar, onde eles
adoram a Virgem Imaculada, que representa o signo celestial de Virgem (que é o oposto ao
signo de Peixes) e entra em comunhão com o Sol iluminado por ela.
Cristo explicou, também, naquele momento, em mística, porém, inequívoca linguagem, o que era aquele pão de vida, ou maná, isto é: o Ego. Encontraremos esta
definição nos versículos 33 e 35, onde se lê: “Pois o pão de Deus é aquele que desceu do
céu e deu a luz ao mundo”... “Eu sou – ego sum – o pão da vida.” Este é, pois, o símbolo
do Pote de Ouro do Maná, que se achava na Arca. Este maná é o Ego, ou espírito humano,
que dá vida aos organismos que vemos no mundo físico. Acha-se oculto dentro da arca de
cada ser humano, e o Pote de Ouro, ou corpo da alma, ou traje nupcial, está também latente
em todos nós e que se faz mais robusto, brilhante e resplandecente pela alquimia espiritual,
mediante a qual o serviço se transmuta em crescimento da alma. É, pois, a eterna casa
celestial construída sem empregar, para isto, as mãos, e de que São Paulo anelava ser
vestido, como nos disse em sua Epístola aos de Corinto. Todo aquele que se esforça em
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ajudar a seu próximo constrói e tece dentro de si esse véu e amontoa um tesouro que se
deposita no céu, onde nem a ferrugem nem a traça podem destruí-lo, nem esmaecê-lo.
A VARA DE AARÃO
Uma antiga lenda relata que quando Adão foi expulso do Paraíso do Éden levou com ele três ramos da Árvore da Vida que, posteriormente, foram plantados por Set.
Set, o segundo filho de Adão, é, de acordo com a historia maçônica, o pai da hierarquia
espiritual dos clérigos, que trabalham com a humanidade por meio do Catolicismo,
enquanto que os filhos de Caim são os artífices, ou artesãos, do mundo. Estes últimos
trabalham na franco-maçonaria, promovendo o progresso material e industrial, como
construtores do templo de Salomão, o universo. Os três brotos plantados por Set têm
desempenhado uma missão muito importante no desenvolvimento espiritual da humanidade
e um deles se diz que é a Vara de Aarão.
No princípio da existência concreta do homem, a procriação se efetuava sob a sábia guia e vigilância dos Anjos, que faziam que o ato criador se realizasse nos
momentos em que os raios das forças interplanetárias fossem propícios para o caso; assim o
homem foi proibido de comer da Arvore do Conhecimento. A natureza desta árvore fica
claramente determinada pelas sentenças bíblicas, tais como as seguintes: “Adão conheceu a
sua esposa e esta deu à luz Caim”; “Adão conheceu a sua esposa e ela pariu a Set”; ou
bem esta outra: “Como poderei eu conceber um menino, se não conheci a um homem?”,
que disse Maria a Gabriel, o Anjo anunciador. À luz desta interpretação, a sentença do Anjo
(não foi uma maldição), quando descobriu que seus preceitos haviam sido desobedecidos,
isto é: “vós morrereis”; mas que é perfeitamente natural e lógica, porque não se pode
esperar, nem pretender, que persistam os corpos gerados sem se ter em conta as influências
cósmicas. Daí que o homem foi expulso, desterrado, dos reinos etéreos da força espiritual
(o Éden), onde cresce a árvore da força vital; desterrado à existência concreta em corpos de
densidade física que conquistou para si por meio da geração. Tal sentença do Anjo, nestas
circunstâncias, é, sem dúvida alguma, uma bênção, pois quem é que tem um corpo
suficientemente bom e perfeito, a seu próprio juízo, no qual gostaria de viver eternamente?
A morte, pois, é uma fortuna e uma bênção, no sentido de que por ela podemos volver,
periodicamente, aos reinos espirituais e construir neles melhores veículos para cada vez que
voltemos à vida na Terra, conforme nos disse Oliver Wendell Holmes, em seu poema.
“Alma minha! Constrói mansões mais permanentes, segundo vão passando as estações. Abandona teus baixos tetos abobadados do passado e faz que
cada novo templo seja mais nobre que o passado. Isola-te do céu com uma
cúpula cada vez maior, até que, por último, te libertes, abandonando tua concha, já inservível, pela incessante vida do mar.”
No curso da vida, quando aprendemos a dominar o orgulho da vida e a luxúria da carne, a geração deixará de absorver e esgotar nossa vitalidade. A energia vital
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se utilizará, então, da regeneração e as forças espirituais, simbolizadas pela Vara de Aarão,
se desenvolverão.
A varinha do mago, a lança sagrada de Parsifal, o Rei do Graal, e Vara florescida de Aarão, são emblemas desta divina força criadora, que executa maravilhas de
tal natureza que nós as chamamos: milagres. Porém, há que se ter bem em conta que não há
ninguém que tenha chegado ao grau de evolução simbolizado pela Arca da Aliança, ante a
Câmara Ocidental do Tabernáculo, que utilize esta força com fins egoístas. Quando
Parsifal, o herói do mito da alma, que tem por título aquele nome, sofreu a tentação de
Kundry e comprovou por si mesmo a sua emancipação do pecado mais horroroso de todos,
o pecado da luxúria e da falta de castidade, ele recobra a sagrada lança que havia sido
tomada pelo mago negro, Klingsor, ao vencido e não casto Rei do Graal, Amfortas. Desde
aquele dia, Parsifal, durante muitos anos, viajou muito e percorreu todo o mundo buscando
novamente o Castelo do Graal e, ao volver a falar-se acerca dele, disse ao que o interrogava
de onde vinha: “Amiúde, eu tenho sido atacado ferozmente por inimigos e tentado ao uso
desta lança em defesa própria, porém eu entendia bem que a lança sagrada não deve ser
utilizada para ferir, mas unicamente para curar”.
E esta é a atitude de todo aquele que desenvolve dentro dele a florida Vara de Aarão. Ainda que possa converter esta faculdade espiritual no sentido de prover de pão a
uma multidão, ele nunca (nem passará por sua imaginação) converterá uma só pedra em
pão para aplacar sua própria fome. Ainda que ele fosse pregado numa cruz e crucificado até
morrer nela, não intentaria libertar a si mesmo por meio de seus poderes espirituais, os
quais já empregou, anterior e prontamente, para salvar a outros da morte. Ainda que se
visse, diária e constantemente, acusado de trapaceiro e charlatão, nunca se determinaria a
fazer o uso indevido desta força espiritual, para mostrar um sinal, ou fazer um milagre, pelo
qual o mundo poderia conhecer, sem nenhuma sombra de dúvida, que ele é um regenerado,
ou nascido do céu. Esta foi a atitude de Jesus Cristo, e tem sido também a de todo aquele
que, como um Cristo em formação, segue Seus passos e quer imitá-Lo.
CAPÍTULO V
A SAGRADA GLÓRIA DO SHEKINAH (¹) (1) O SHEKINAH era chamado, no Tabernáculo, o ponto situado sob as asas dos
Querubins em adoração, e de onde se manifestava a invisível presença de Deus, ou
Jeová. (Nota do Tradutor)
O compartimento ocidental do Tabernáculo estava tão obscuro com o estão os céus quando o luminar menor, a Lua, se acha na porção ocidental do firmamento, à caída
da tarde, e perto do Sol, isto é: nas fases da Lua nova, que é quando dá começo a um novo
ciclo em um novo signo do Zodíaco. Na parte mais ocidental deste Santuário, em trevas, se
achava colocada a Arca da Aliança, com dois Querubins em reverente adoração sobre ela, e
também a ardente Glória do Shekinah, da qual saia a Luz do Pai e comungava com seus
adoradores, porém, para a vista física, era invisível e, por conseguinte, obscura.
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Geralmente, nós não percebemos que o mundo todo é incandescente; que há fogo na água; que esse elemento arde continuamente no vegetal, no animal e no homem;
pois, com efeito, não há nada no mundo que não esteja animado pelo fogo. A razão pela
qual não percebemos isto mais claramente é porque não podemos dissociar o fogo da
chama. Porém, realmente, o fogo tem a mesma relação com a chama, como a que guarda o
espírito com o corpo; é, sem dúvida alguma, a invisível, porém poderosa, força da
manifestação. Em outras palavras: o fogo é verdade obscura e, por conseguinte, invisível a
nossos olhos físicos. Fica unicamente envolto, ou rodeado, pela chama quando consome
alguma matéria física. Consideremos, como via ilustrativa, o modo pelo qual o fogo salta
da pederneira ao ser esta golpeada com um ferro, ou aceiro, e também o modo que uma
chama de gás do candeeiro tem o centro obscuro sob a porção que emite a luz, ou a chama,
e também como um fio pode transportar uma corrente elétrica e estar completamente frio e,
não obstante, deste fio saem chispas e chamas sob certas condições.
Neste ponto, pode ser oportuno o marcar a diferença existente entre o Tabernáculo no Deserto, o Templo de Salomão e o último templo, edificado por Herodes.
Há entre eles uma diferença vital. Tanto o fogo milagrosamente aceso, que havia no Altar
de Bronze na parte oriental do Tabernáculo no Deserto, como a invisível Gloria do
Shekinah, na parte totalmente oposta, isto é: o ponto mais ocidental do Santuário; ambos se
achavam presentes no Templo de Salomão. Estes dois eram, pois, santuários em um sentido
não igualado pelo templo construído por Herodes. Este último foi, sem dúvida alguma, em
certo sentido, o mais glorioso dos três, posto que ficou santificado pela presença corporal
de nosso Senhor Jesus Cristo, em Quem morava a Deidade. Cristo é quem fez o primeiro
auto-sacrifício, com o que ab-rogou o sacrifício de animais e, finalmente, à consumação de
Sua obra no mundo visível, rasgou o véu e abriu o caminho do Sancta Sanctorum, não
somente para uns quantos privilegiados, os sacerdotes, ou levitas, mas para TODO
AQUELE QUE QUEIRA ir e servir à Deidade, que nós conhecemos com o nome de Pai.
Havendo guardado a lei e cumprido o profetizado pelos profetas, Cristo deu fim à época do
Santuário externo e então, desde aquele dia em diante, o Altar dos Sacrifícios e Oferendas
deve levantar-se dentro do coração para reparar e purgar os erros e faltas. O Candelabro de
Ouro deve ser aceso dentro do coração para que nos guie em nossa marcha pela senda
como o Cristo interno e a Glória do Shekinah do Pai, deve morar dentro dos recintos
sagrados de nossa própria consciência divina.
A SOMBRA DA CRUZ
Paulo, em sua carta aos hebreus, faz uma descrição do Tabernáculo e dá uma detalhada informação sobre os usos e costumes que vigoravam nele, que nos seriam
muito interessante conhecer. Entre outras coisas, notemos que o Apóstolo denomina o
Templo “UMA SOMBRA DE BOAS COISAS QUE VIRÃO”. Há neste Templo de
Mistérios uma promessa feita, a qual ainda não foi cumprida; promessa tão firme e válida
hoje como no dia em que foi feita.
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Se, com os olhos da alma, visualizarmos a disposição das coisas dentro do Tabernáculo, veremos, em seguida, projetar-se a sombra da CRUZ. Começando pela porta
oriental, estava o Altar das Oferendas e dos Sacrifícios; um pouco mais adiante e seguindo
o caminho que conduz ao mesmo Tabernáculo, encontramos o Lavado, ou Pia, da
Consagração, o Mar Fundido, em que se lavavam os sacerdotes. Depois, ao entrar na Sala
Este do Templo, encontramos um artigo de mobiliário, o Candelabro de Ouro, no extremo
à esquerda; a Mesa do Pão da Proposição à direita, formando os dois uma cruz com o
caminho que vimos seguindo para dentro do Tabernáculo. No centro, em frente do segundo
véu, se achava o Altar do Incenso, que forma o centro da cruz, enquanto que a Arca, situada
no ponto mais extremo do Oeste do compartimento ocidental, o Sacrário dos Sacrários,
forma a parte curta e superior da Cruz. Assim, pois, o símbolo do desenvolvimento
espiritual, que é o nosso mais caro ideal, hoje em dia, estava já definido no antigo Templo
de Mistérios, e essa CONSUMAÇÃO que se alcançava ao final da Cruz, a realização de
possuir a lei dentro de nós mesmos, como o estava dentro da Arca, é a coisa primordial de
que temos de nos ocupar no presente.
A luz que brilha em cima do Trono da Misericórdia, no Sancta Sanctorum, na parte superior, ou cabeça da Cruz, ao final do caminho neste mundo; é a luz, ou reflexo,
do mundo invisível em que o candidato deseja entrar, quando neste plano físico tudo se lhe
parece obscuro e tétrico. Somente quando tivermos chegado ao grau em que possamos
perceber a luz espiritual, que nos incita a prosseguir adiante; a luz que flutua por cima da
Arca; somente quando nos rodeie a sombra da Cruz, poderemos realmente conhecer o
significado, o objeto e o sentido da vida. Podemos aproveitar as oportunidades que se nos
oferecem e praticar o serviço mais ou menos eficientemente; porém, somente quando,
mediante esse serviço, tivermos acendido a luz espiritual dentro de nós mesmos, cuja luz é
o corpo da alma e, quando por este serviço, tivermos ganhado a admissão na Sala do Oeste,
chamada a SALA DA LIBERAÇÃO, é quando realmente poderemos perceber e entender o
porquê de estarmos no mundo e o que necessitamos para nos fazermos úteis na devida
forma. Não devemos pensar que ficaremos ali para sempre, depois de haver entrado pela
primeira vez, não. O Sumo, ou Grande Sacerdote, somente podia entrar nela uma vez ao
ano. Transcorria um grande espaço de tempo entre esse reflexos, ou vislumbres, do objeto
real da existência. Entre os intervalos, era necessário que o Grande Sacerdote saísse ao
mundo para praticar suas funções entre seus irmãos - a humanidade; servir-lhes o melhor
que pudesse, e até para pecar, pois, todavia, era imperfeito, voltando a entrar no Santo dos
Santos, depois de haver feito as devidas reparações por seus pecados.
Algo igual nos sucede, hoje em dia. Às vezes, logramos vislumbrar as coisas que nos estão reservadas, as coisas que temos de fazer para seguir a Cristo ao lugar por
onde Ele caminhou. Recordemos que Ele disse aos Seus discípulos: “Vós não podeis
seguir-me ainda, porém me seguireis mais tarde”; e isto ocorre também conosco. Temos
que olhar, uma e outra vez, para o interior obscurecido do Templo, o Santo dos Santos,
antes de estarmos capacitados para ficar ali de todo e dermos o último salto; antes que
estejamos realmente em condição de chegar à cúspide da Cruz, o lugar do crânio; esse
ponto de nossas próprias cabeças pelo qual marcha o espírito ao abandonar o corpo
definitivamente, ao morrer; ou bem para desempenhar suas funções de Auxiliar Invisível.
Este GÓLGOTA é o ponto final acessível do desenvolvimento humano e devemos nos
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preparar para entrar na habitação obscura muitas vezes, antes que estejamos preparados
para o CLÍMAX final.
A LUA CHEIA
COMO FATOR PARA O CRESCIMENTO DA ALMA
Consideremos, agora, a Senda da Iniciação, conforme estava representada simbolicamente nos antigos Templos, com a Arca, o Fogo e o Shekinah; assim como nos
últimos Templos, onde Cristo ensinou. Notemos, primeiramente, que quando o homem foi
expulso do Jardim do Éden, por ter provado a fruta proibida, isto é: porque havia comido da
Árvore do Conhecimento; os Querubins guardavam a entrada do Paraíso com uma espada
flamígera na mão. As passagens bíblicas, tais como as seguintes: “Adão conheceu a Eva e
esta pariu a Abel”; Adão conheceu a Eva e esta pariu a Set”; “Elkanah conheceu a Hanah
e daí nasceu Samuel”; e a pergunta dirigida por Maria ao anjo Gabriel: “Como conceberei
se não conheci a nenhum homem?”; todas elas demonstram que a execução do ato carnal
significa na Bíblia pela palavra casta de “conhecer”, isto é: “comer da Arvore do
Conhecimento”. Quando esta função se executa passionalmente e sob raios planetários
pouco propícios, é um pecado cometido contra a lei da Natureza e é o que traz a dor e a
morte ao mundo, e nos separou de nossos prístinos guardiões, forçando-nos a peregrinar
pelo deserto do mundo durante séculos e séculos. À entrada do Templo Místico de Salomão
encontramos de novo o Querubim, porém suas mãos já não sustêm a espada de fogo, têm
nelas uma flor, um símbolo pleno de mística significação. Comparemos, agora, o homem
com a flor, para que conheçamos a grande importância e significação deste emblema.
O homem toma seus alimentos por via da cabeça, de onde vão para baixo; a planta toma sua nutrição pela raiz e a impele para cima. O homem é apaixonado em seus
amores e dirige seu órgão gerador para a terra, escondendo-o envergonhado por essa
mácula de sua paixão. A planta não conhece a paixão; sua fecundação se efetua da maneira
mais casta e pura imaginável; devido a isto, projeta seu órgão gerador, a flor, para o Sol, e é
um objeto de beleza, que deleita a todos que o contemplam. O homem, caído e passional,
exala o mortífero dióxido de carbono; a casta flor inala esse veneno, transmuta-o e o
devolve em forma pura, doce e perfumada, isto é: em um fragrante elixir de vida. Este foi o
mistério do Cálice do Graal; este é o significado emblemático do Cálice da Comunhão,
chamado “ketch”, em alemão, e “cálix” em latim, significando ambos os nomes a cápsula
da semente. Este Cálice da Comunhão, com seu “Sangue” místico, limpo do incidente da
paixão para a geração, portanto, brinda, a quem realmente bebe nele, a vida eterna,
transformando-se no veículo de regeneração, de um Nascimento Místico em uma esfera
superior, UM PAÍS ESTRANGEIRO, onde quem tenha feito seu noviciado na construção
do Templo e tenha dominado as “artes e ofícios” deste mundo, pode aprender coisas
superiores. O símbolo do Querubim, com a flor aberta, situado na porta do Templo de
Salomão, dá ao aspirante a mensagem de que a pureza, em si, é a chave com a qual
unicamente, pode esperar abrir a entrada que conduz até Deus, ou, como o expôs Cristo:
“Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus”.
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A carne deve ser consumida no altar de sacrifício próprio e a alma deve ser purificada no Lavabo da Consagração, para uma vida superior antes de chegar à porta do
Templo. Quando chegue o momento em que, “desnudo, pobre e cego” pelas lágrimas da
contrição, ande na obscuridade em busca da porta do Templo, encontrará o Compartimento
do Serviço, o Compartimento Oriental do Tabernáculo, que está deslumbrante pela luz que
derrama o Candelabro de Sete Braços, emblema da plena luminosidade da Lua, que troca
de ciclo a cada sete dias. Nesta SALA DO SERVIÇO se ensina a tecer a flamígera
vestimenta luminosa que Paulo, na 1ª Epístola aos de Corinto, vers. 15h47min, denominou
“soma psuchicon”, ou corpo da alma, formada do aroma extraído do Pão da Proposição.
Com a frase de corpo da alma queremos significar exatamente o sentido literal destes vocábulos e este veículo não deve ser confundido por nenhum motivo com a
alma que a interpenetra O Auxiliar Invisível, que o emprega em seus vôos de alma, sabe
que é tão real e tangível como o corpo denso com sua carne e seu sangue. Porém, dentro
deste “traje dourado de bodas” há um algo intangível, conhecido por espírito de
introspecção. É inominável e indescritível, e escapa e ilude aos esforços mais persistentes
para ser examinado e, sem embargo, ali está tão clara e distintamente como o ve�
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