Ruído: Livro1

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História em Quadrinhos Trabalho Final de Graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade de São Paulo

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RUÍDO:

PROJETO DE UMA

NARRATIVA GRÁFICA

SEQUENCIAL

Francesco Felippe Micieli

Trabalho Final de Graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Universidade de São Paulo

Orientadores:

Clice de Toledo Sanjar Mazzilli

Fabio Mariz Gonçalves

São Paulo, 2015

LIVRO 1

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Para meus pais.

“Finalmente, ele poderá contemplar o sol, não o seu reflexo nas águas ou em outra superfície lisa, mas o próprio sol,

no lugar do sol, o sol tal como é. Nesse momento, se ele se lembrar de sua primeira morada,

da ciência que ali se possuía e de seus antigos companheiros, não acha que ficaria feliz com a mudança e teria pena deles?”

(A Alegoria da caverna: A Republica, 514a-517c)

TALVEZ UM TANTO POR MINHA PRÓPRIA CAUSA

APÊNDICE

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Durante o desenvolvimento desta HQ, apareceram muitas ideias diferentes de desenvolver a narrativa a cada página. Levei algum tempo tentando selecionar o que seria melhor - pensando sempre em uma forma interessante de contar a história - para transmitir cada detalhe que me vinha à mente como algo indispensável a ser contado. No papel, em fotos, texto e ilustações, arranjei as combinações da maneira que me pareceu ser a melhor; mas essa noção teima em ser bastante volúvel, e sobrou-me a sensação de que não seria possível comunicar todos os detalhes do pensamento por trás deste trabalho apenas com a apresentação da narrativa sequencial conforme apresentada aqui. Contrariando, em partes, a motivação que me levou a intitular esta HQ “Ruído” - ou seja, tentando imprimir na história uma intenção, manifestando meu “domínio” sobre seu significado, como autor - e, longe de subestimar qualquer interpretação alheia, gostaria de inserir neste apêncice alguns comentários mais pontuais sobre diversas páginas, em busca de contar um pouco mais sobre as ideias por trás de cada uma delas.

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COMENTÁRIOS

Capítulo 1: O primeiro capítulo todo foi pensado

desenhado, mas teve de ser executado de uma maneira que eu tentasse manter a essência da mensagem transmitida no menor tempo possível. Por isso o formato difere tanto dos outros capítulos e o uso de fotos se tornou parte básica da estrutura do “caminhar pela FAU”. Os desenhos então foram incluídos pra apresentar o personagem e as mudanças físicas que se refletiram seu estado nessa passagem do tempo, assim como a apresentação de seu conflito.

Capítulo 2, p.1: Na abertura deste capítulo, podemos ver uma

aluna em frente à Seção de TFG da FAU enquanto os dois personagens estão conversando e interagindo, enquanto observam o salão caramelo. O papel que a colega formada tem nas mãos é seu diploma, e vir resgatá-lo é o motivo de seu retorno ao edifício.

Capítulo 2, p.2: Nesta sequência procurei mostrar como o

diálogo entre os personagens se desenvolve de maneira praticamente unilateral. O protagonista escuta e absorve - mais do que responde - as impressões de sua colega, o que serve para mostrar um pouco da sua personalidade introspectiva e sua insegurança em expor seus receios.

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Capítulo 2, p.3: Esta página mostra pela primeira vez o que

os personagens observam enquanto interagem: uma vista ampla do edifício da FAU - talvez o ângulo preferido dos fotógrafos de ocasião que passeiam por lá - mostrando sua degradação.

Capítulo 2, p.3: Esta página mostra pela primeira vez o que

os personagens observam enquanto interagem: uma vista ampla do edifício da FAU - talvez o ângulo preferido dos fotógrafos de ocasião que passeiam por lá - mostrando sua degradação.

Capítulo 2, p.4: A partir deste momento o personagem começa

a recordar fatos já ocorridos; passado e presente se misturam e os quadros somem, como se a noção de tempo e espaço se perdesse. Uma vez que o que vemos é sempre a impressão do protagonista, procurei ter em mente que toda recordação é uma releitura e não uma reprodução fiel do passado. Portanto o que é mostrado representa uma memória moldada segundo o próprio personagem.

Capítulo 2, p.9: Neste trecho os quadros voltam a ter um

contorno claro e, na transição entre eles, passam-se longos intervalos de tempo na vida do protagonista sem que nenhuma grande mudança ocorra, a não ser a perda gradual de seus colegas mais habituais e também do seu entusiasmo.

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Capítulo 2, p.10: Esta página mostra o protagonista e sua colega,

depois do retorno do intercâmbio. Eles conversam deitados ao sol, colocando as novidades em dia, reaproximando-se com facilidade. As lembranças assumem uma nota mais leve, como a calmaria que precede a tempestade que virá com a aparição da segunda projeção do passado.

Capítulo 2, p.11: Aparece então mais um fantasma do passado, para

lembrar o protagonista de que seu medo e sua procrastinação o deixaram inseguro e sentindo-se incapaz de lidar consigo mesmo e com a pessoa que a projeção personifica - um relacionamento que fracassou, em grande parte, por causa deste arranjo. O protagonista, portanto, guarda culpa e ressentimentos.

Capítulo 2, p.14:A interação física tira o personagem do transe de

suas lembranças. Embora o mundo lá fora possa ser duro, é inevitavelmente este o caminho a ser enfrentado.

Capítulo 3, p.1:O personagem do professor aparece pela primeira vez,

criticando o trabalho com uma frase tirada diretamente do livro Asterios Polyp. Procurei desenhá-lo em uma posição em que ele pareça estar citando alguém, ou uma “frase feita”, em uma atitude próxima ao desdém. O aluno leva esta postura do professor para o lado pessoal, e fica descrente quanto ao próprio projeto.

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Capítulo 3, p.2:Esta foi uma das primeiras páginas a ser desenhada,

quando ainda tinha a intenção de fazer várias histórias (desde então a ideia do morcego estava presente).

Capítulo 3, p.5:O trecho mostrado nesta página foi incluído posteriormente

ao planejamento dos capítulos, pois tive a ideia de uma sequência que, de certa forma, mostrasse que tanto o aluno quanto o morcego têm uma certa alergia à insalubridade do edifício, ou simplesmente não são criaturas muito saudáveis. O protagonista responde positivamente com um sorriso ao sentir que existe algo em comum entre eles.

Capítulo 3, p.6:No centro da página o cenário some, para mostrar os

personagens perdidos no espaço da FAU, pequenos pontos isolados em um grande vazio.

Capítulo 3, p.7 e 8:O cenário aos poucos torna-se mais rarefeito enquanto

o personagem permanece, entrando em um sonho. A FAU continua presente, a sujeira dando contorno para as nuvens.

Capítulo 3, p.9 e 10:Nesta página, foto tirada pelo prof. Fábio Mariz

Gonçalves, em sobrevôo pelo campus.

Capítulo 3, p.11:O sol do lado de fora é, na verdade, o símbolo da FAU,

pois o personagem ainda está preso aos domínios do edifício.

Capítulo 3, p.16:O professor reaparece, manifestando algum tipo de

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preocupação com o aluno, mostrando que não é completamente negligente.

Capítulo 3, p.1:O personagem do professor aparece pela primeira vez, criticando o trabalho

com uma frase tirada diretamente do livro Asterios Polyp. Procurei desenhá-lo em uma posição em que ele pareça estar citando alguém, ou uma “frase feita”, em uma atitude próxima ao desdém. O aluno leva esta postura do professor para o lado pessoal, e fica descrente quanto ao próprio projeto.

Capítulo 4, p.1 e 2:Nestas duas páginas, em que o protagonista fala brevemente sobre o seu TFG,

tive a intenção de representar a vastidão de possibilidades que a FAU permite na escolha do tema do trabalho. Além disso, o “tema” deste TFG fictício manifesta uma busca do personagem por sentido, uma tentativa de exteriorizar seu modo de ver o mundo. Há também uma mudança no mandeira como o protagonista se veste e se porta, evidenciando tanto um ganho de confiança como o peso que ele atribui a essa apresentação.

Capítulo 4, p.3:O personagem do professor aparece novamente, desta vez como orientador do

protagonista. Sua expressão é mais bem-humorada e entusiasmada, sugerindo que houve mudança de ânimos durante o tempo em que o TFG foi desenvolvido, possivelmente uma aproximação entre ele e o aluno.

Capítulo 4, p.:As projeções aparecem pela última vez, todas juntas, trazendo insegurança

ao protagonista, mas forçando-o a enfrentar seus medos. Estando próximas, podemos ver as semelhanças físicas entre as três, mas não fica claro se são três pessoas diferentes ou a mesma pessoa em três fases diversas.

Capítulo 4, página final:Em um novo contexto, o protagonista volta-se para observar o edifício uma

última vez, sorrindo. Sua expressão indica que, diferentemente do tom presente no restante da história, a sensação predominante é a nostalgia.

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