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Construção II
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Prof. Nuno Lacerda Lopes | Eliseu Gonçalves | Ana Isabel Costa e Silva
SISTEMAS E MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
ANÁLISE DA COBERTURA NA FUNDAÇÃO BEYELER
C3 G5 Cristiana Duarte
Joana Tomaz
Pedro Machado
Rita Duarte
INTRODUÇÃO
O tema da sustentabilidade na Arquitetura e,
consequentemente, na Construção, é cada vez mais
recorrente, como meio de ultrapassar os desafios
ambientais com os quais esta área é confrontada. O
facto de ser um tema pouco abordado na nossa
faculdade suscitou-nos interesse de o explorar um
pouco mais.
Devido à escassez de informação da maioria das
obras, acabamos por nos focalizar na Fundação
Beyeler, de Renzo Piano, na medida em que o conceito
seguido no projecto vai de encontro ao nosso intuito.
Localizada na Basileia, esta Fundação tem como
finalidade albergar as mais de 50 obras de arte do
colecionador Ernst Beyeler. Integrado de forma
elegante na sua envolvente, o edifício tira enorme
proveito da Natureza, tornando-o uma referência
enquanto edifício arquitetónico de construção
sustentável.
O ex-libris desta obra é a sua cobertura. Desenhado à
medida, apresenta painéis de vidro que funcionam
como filtro para a luz, permitindo que todo o edifício
seja iluminado a luz natural. Mais, consegue ainda
funcionar como um regulador da temperatura e da
humidade, visto localizar-se num parque natural onde
estes factores não poderiam ser ignorados,
especialmente por motivos de conservação das obras
de arte.
Assim sendo, o presente trabalho foca o modo como o
arquitecto conseguiu, através da cobertura, conferir
eficiência energética a todo o edifício.
01 O Edifício, Contexto e Cronologia
A Edificação da Fundação Beyeler surge da
necessidade do colecionador Ernst Beyeler encontrar
um sítio para expor a de forma permanente. Surge sua
colecção. Após esta ser exposta no Museu Reina Sofia
em 1989 e ter tido uma reação bastante positiva dos
seus visitantes, o governo da Basileia propôs ao
colecionador encontrar um sítio permanente para expor
a sua colecção. Surge então a possibilidade de integrar
o edifício no parque Berower na Basileia.
Impressionados pelo trabalho de Renzo Piano
no Centro Pompidou em Paris e no Museu Menil em
Houston, consideraram que este seria o arquitecto
perfeito para levar a cabo esta ideia. Deste modo, o
projecto do museu começa em 1994. A ideia de beyeler
para o museu seria de “Luxe, calme at volupté” (Luxo,
calma e volume).
Num projecto inicial, Renzo Piano sugere um
edifício que consistiria em três secções adaptadas ao
terreno. Queria, portanto, tornar o edifício como
elemento pertencente à paisagem, quase como se este
sempre lá estivesse estado. O facto do edifício se
encontrar a uma cota mais baixa seria não só para criar
a ilusão das diferentes cotas do terreno natural, mas
também para lhe conferir um ambiente mais íntimo.
Para Renzo Piano, as obras de arte foram sempre o
elemento central da obra, devendo haver, como tal,
uma complementaridade entre Arte e Natural.
O ex-libris desta obra é o telhado, que surge
como um elemento algo complexo mas ao mesmo
tempo de uma leveza excepcional. Nunca esquecendo
os factores de conservação das obras, o arquitecto
teve particular atenção à luz solar, em todas as suas
variantes, de maneira que as salas possam servir como
um espaço experimental.
A solução final é produto de complexo
processo criativo onde só a visão do arquitecto foi de
suma importância mas também as constantes
intervenções dos Beyeler.
Ernst Beyeler afirma que a discussão desta
obra com Renzo Piano foi tão intensa que, no fim da
mesma, ambos ficaram com a ideia de puderem
exercer a profissão do outro. Concluído então o
processo de concepção da fundação, para a sua
execução Renzo piano contou com o seu colaborador
Bernard Plattner, com o engenheiro Andy Sedgwick, a
empresa local de arquitectura Burckhardt and Partner e
o arquitecto paisagista Jochen Wiede.
MATERIAIS E SISTEMAS DE CONSTRUÇÃO
Fundação Beyeler | Sustentabilidade
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02
Aspectos tipológicos do edifício.
Após cento e cinquenta anos a dar
importância quase exclusiva às peças de arte dentro
dos museus, o público começou a despertar interesse
simultaneamente pelo espaço que contem as
exposições, ou seja, pela arquitectura dos museus. E é
neste contexto que os novos edifícios com esta
tipologia, começam a ser desenhados por arquitectos
prestigiados mundialmente.
Impressionados com a originalidade e transparência do
Centro Georgees Pompidou, em Paris, e com o
sossego e proporções do Museu Menil, em Houston,
um edifício que está completamente ao serviço da arte,
que explora ao máximo a utilização da luz natural e
com uma elegância e modéstia natural, que deixa uma
certa pretensão arquitectónica para segundo plano, os
Beyeler consideraram Renzo Piano como uma boa
aposta para arquitecto do museu que iria conter a sua
vasta colecção.
O conceito para o edifício começou então, a
ser desenvolvid em 1991, sendo que a fase de projecto
foi concluída apenas em 1994. A fundaçãoo foi aberta
oficialmente ao público três anos depois, 1997.
Urs Raussmuler, curador e director das exposições de
arte moderna em schafhauser, descreve estes edifícios
contemporâneos como “monumentos urbanos”, que
geralmente são construídos onde não existe nada com
este tipo de monumentalidade e onde, nestes casos a
arquitectura assume um papel vital já que atrai e cativa
o público.
No entanto a estratégia de Renzo Piano
focou-se na ideia de que a principal atracção do museu
deveria ser a colecção de arte, estratégia esta que se
reflecte claramente na forma como organiza o espaço
de entrada e na implantação do edifício. Isto porque, as
verdadeiras dimensões do edifício só ganham
verdadeiro significado quando vistas com alguma
distância, e o público assim que entra no parque tem
apenas percepção da fachada sul, da entrada do
museu e da fachada ocidental em perspectiva, de
maneira que a monumentalidade do edifício nunca é
realmente assumida.
Esta restrição, segundo Renzo Piano, foi
necessária e natural especialmente porque muitos dos
recentes museus tem sido idealizados e desenhados
não tanto ao serviço das peças de arte, mas como
objectos arquitectónicos e cair nesta tentação não faria
jus a tão notável colecção de arte.
03 O Conceito e Processo Construtivo O principio para a forma e construção do
edifício Foundation Beyeler não podia ser mais claro e
simples: quatro longas paredes correm de norte a sul
paralelas ao muro que separa o terreno da
baselstrasse. Estas paredes de 115m definem a
direcção principal das salas de exposição, enquanto
que as paredes e passagens laterais seccionam e
criam ritmo a estes espaços.
O acesso desde a Baselstrasse até à entrada principal
é enquadrado pela parede nascente e o muro de
delimita o terreno.
A norte e a sul, as salas de exposição são
rematadas por panos de vidro com a altura total das
paredes. No limite poente, um vão de vidro separa o
corredor de pé direito duplo do longo jardim de inverno.
O acesso ao piso subterrâneo, que contem o auditório
do museu e os serviços é feito a partir deste mesmo
corredor.
O conceito para a forma do telhado começou
em 1991 e passou por várias fazes. Experimentaram-
se soluções em abobada, e um ano mais tarde foi
substituído por um telhado de uma água, que se
assemelhava aos utilizados geralmente na construção
industrial. Para o suportar, foi concebida uma estrutura
de vigas de madeira laminada. No entanto, como os
Beyelers queriam uma estrutura mais leve, a solução
passou então por uma estrutura tubular em aço.
Após ter sido executado um protótipo à escala
real da cobertura, esta foi cuidadosamente e
meticulosamente executada num atelier em Paris, onde
a concepção do arquitecto foi respeitada à letra.
Investigaram-se todas as possibilidades para que fosse
criado um equilíbrio harmonioso entre as várias partes
do telhado e o edifício. E em 1994 o conceito ficou
finalmente finalizado, com uma estrutura intercalada de
aço e vidro. Esta estrutura resulta numa elegante
solução que permite uma dispersão uniforme da luz
que ilumina a colecção de arte.
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04 Aspectos Técnicos e Construtivos do Edificio
A sólida estrutura principal dissolve-se na transparente
construção da cobertura, diferenciada entre aço e vidro.
Um esqueleto de aço e uma cobertura de uma só água
transparente, abrem o edifício para o céu e deixam-se
atravessar pela luz filtrada nos diversos planos de
vidro, até esta chegar à coleção de arte.
O edifício
O principio deste edifício assenta na ideia de
um edifício construído a partir de 4 longos planos
longitudinais paralelos. No entanto existem algumas
subtilezas na maneira como estas paredes são tratadas
já que desempenham funções diferentes.
Os limites nascente e poente do edifício são
paredes portantes de betão reforçado com 70cm de
espessura e 4,8m de altura. São revestidas no interior
por placas de gesso cartonado e no exterior por uma
pedra porfírica da Patagónia que embora não seja
típica da região, assemelha-se ao arenito vermelho da
catedral de Basileia.
Já as duas paredes inteiores, são reduzidas a pilares
de betão revestidos igualmente por placas de gesso
cartonado. Isto resulta num espaço oco entre as faces
das paredes, nos quais são acomodados os serviços
do edificio.
Nos topos norte e sul, o edifício é rematado
por três panos de vidro a toda a altura da parede.
Desenhados à base de batentes e travessas com oito
planos de vidro duplo fixados, formando componentes
revestidos de 6,8 por 5 metros. No interior encontramos
perfis de aço laminados aos quais estão fixados painéis
de vidro isoladores com tampos de pressão. A
fachada oeste transporta o mesmo principio construtivo
das fachadas norte e sul com a exceção dos painéis de
vidro que continuam até à altura do tecto e, na área do
auditório, a uma altura de dois andares.
A Cobertura
A cobertura de vidro, proporciona luz natural
de uma forma uniforme às peças de arte, assim como
proteção contra as mudanças de humidade e
temperatura. O suporte da cobertura consiste numa
grelha de perfis metálicos de 25 centímetros de altura e
que acentam em pontos de apoio sobre as paredes e
pilares longitudinais do edifício. Esta grelha, é
composta por duas vigas de aço soldadas que correm
a todo o comprimento do edifício. Onde, por sua vez,
estão soldadas perpendicularmente outras vigas que
distam metro e meio entre si e que deste modo
completam a estrutura principal e mais resistente da
cobertura. Toda a grelha foi tratada com um primário,
uma camada de segurança “firesafety F30” e um
acabamento branco.
Por cima da grelha de suporte assenta um
perfil de vidro que forma uma camada
impermeabilizante. Esta camada de vidro tem uma
ligeira inclinação que permite a recolha das águas
pluviais pelas caldeiras que tem a mesma largura das
paredes e correm a todo o comprimento das mesmas.
As caldeiras consistem em paneis de metal e
encontram-se com canos que transportam a água
verticalmente em intervalos regulares.
As travessas de 140 por 130 milímetros que
servem o telhado estão termicamente separadas e
encontram-se fixas na estrutura principal através de
braçadeiras com uma espécie de esferas metálicas
(point bearings). Neste perfil de vidro, foi utilizado vidro
duplo e vidro branco laminado.
Por cima desta camada, acentam paineis de vidro de
12 milímetros de espessura que formam um ângulo de
30º e que levam um tratamento de branco poroso na
face inferior o que permite reduzir a luz solar incidente
em 30%.
A um metro a baixo da grelha, foram
suspensos planos de vidro que fecham uma caixa de
ar. Esta por sua vez, atua como ponte térmica entre a
quase sempre constante temperatura no interior do
edifício e o clima no exterior. Esta caixa de ar
resguarda também os sistemas básicos de luz e os
painéis ativados por sensores que são utilizador para
regular a luz natural incidente.A parte inferior desta
estrutura da cobertura é um “tecto translúcido” que tem
o nome de “The Velum”. Este plano encontra-se
suspenso 50 centímetros abaixo do envidraçado
horizontal e é feito de painéis de metal chanfrados e
perfurados que foram pintados de branco e dispostos
num padrão rectangular para dispersar de forma mais
eficaz a luz. O Velum é o instrumento mais interior que
pode ser utilizado para regular a luz incidente no
edifício.
05
O Autor
Renzo Piano nasceu em Gênova a 14 de Setembro de
1937. Actualmente reside em Paris, com a sua mulher
Milly e os seus quatro filhos (Carlo, matteo, Lia e
Giorgio).
Proveniente de uma família de construtores,
acompanhou várias vezes o seu pai aos locais de
construção, o que lhe suscitou particular interesse pela
Arquitectura e, principalmente, pela Construçao.
É muitas vezes considerado tanto um político como um
arquitecto, afirmando que a situação política,
económica e social de um país são factores
determinantes no trabalho do arquitecto. Aliás, chegou
mesmo a fazer parte da rebelia estudantil que se
propagou pelo país italiano nos anos 60.
Seguiu formação em Florença e Milão, onde trabalhou
no atelier de Franco Albini. Licenciou-se em Milão em
1964, na Univerisdade Politécnica. Entre 1965 e 1970
viajou com o irmão Ermanno pela Grâ-Bretanha e
Estados Unidos, a fim de adquirir maior experiência
prática no ramo da arquitectura.
Em 1971, fundou o escritório Piano & Rogers, com
Richard Rogers, onde ganhou o concurso para o
Centro Pompidou. Após tal mudou-se para Paris.
Desde a sua formação até meados de 1990 trabalhou
com o engenheiro Peter Rice, louvando a sua invenção
poética e a sua capacidade de conciliar as ideias com o
processo construtico através de um rigoroso Sistema
matematico e filosófico.
Dez anos após ter fundado o escritório acima
mencionado, funda o Renzo Piano Building Workshop
(RPBW), atelier que se mantém até aos dias de hoje.
Actualmente emprega 150 pessoas com escritório em
Paris, Génova e Nova Iorque. Renzo Piano Building
Workshop desenhou edifícios por todo o mundo, tais
como: the Menil Collection em Houston, o terminal do
aeroporto internacional de Kansai, O centro cultural
Jean-Marie Tjibaou em Nova Caledónia, A fundação
Beyeler, na Basileira, Potsdamer Platz em Berlin, o
auditório“Parco della Musica” em Roma, a libraria
Morgan em Nova Iorque, a Maison Hermès em Tóquio,
a Academia de Ciência em São Francisco, entre outros.
Actualmente está envolvido em projectos como o
aumento Fogg Museum em Cambridge, no Whitney
Museum of American Art e no Campus da Universidade
da Colombia, em Nova Iorque, a torre San Paolo in
Turin, a Fundação Cultural Stravros Njarchos em
Atenas, o Centro Botin Art em Santander, Espanha,
entre outros.
Rapidamente se tornou um arquitecto de renome,
aliando ao seu nome diversos prémios como o RIBA
(Royal Gold Medal for Architecture) em 1989, o
Praemium Imperiale em Toquio, em 1995, o Pritzker
Architecture em 1998 e, em 2008, o AIA Gold Medal of
the American Institute os Architects
MATERIAIS E SISTEMAS DE CONSTRUÇÃO
Fundação Beyeler | Sustentabilidade
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07 Um Corte Construtivo
1. Corte de caldeira e fachada
2.
Corte pela extrutura do telhado e parede
transversalinterior.
09 Referências de Catálogo e Marcas
- Vidro Saint Gobain
- Pladur Knauf
- Pedra porfírica da Patagónia
MATERIAIS E SISTEMAS DE CONSTRUÇÃO
Fundação Beyeler | Sustentabilidade
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10 Bibliografia e outras Referências
Renzo Piano: Fondation Beyeler, A Home for Art. Edited by
Fondation Beyeler. Basel: Birkhauser, 1998.
ISBN 3-7643-5919-6
(prova mestrado)
TRISTÃO, Luis Manuel Martins – A junta como element
arquitectónico: relação com a tectónica e a obra de Renzo
Piano. Prof. Responsável Eliseu Gonalves. Porto: Faup, 2007.
Ano Lectivo 2006/2007
Renzo Piano y el Buildind Workshop: obras y projectos 1971-
1989. Barcelona: Gustavo Gil, 1990 ISBN 84-252-1421-1
Renzo Piano: progetti e architettura 1984-1986. Milano:
Electa, 1986
http://ggili.com/es/tienda/productos/arquitectura-y-
clima?taxon_id=2
http://www.fondazionerenzopiano.org
http://www.rpbw.com/en/home/
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