Sorria

Preview:

DESCRIPTION

poema

Citation preview

Sorria, mas suspirava,

E ainda mais triste ficava,

Como nem imaginais.

Meu Deus, que criança aquela!

Que tão precoce tristeza!

Dizem-lhe um dia: «TeresaSabes? A tua mãe morreu.»

Fez-se pálida de morte...

E, levando as mãos ao seio,

Ia a falar, mas, no meio,

Reprimiu-se e emudeceu.

E desde então nunca a viram

Mais com as suas companheiras;

Ficava-se horas inteirasÀ sombra do laranjal.Surpreendiam-na sozinha

Com os olhos fitos no espaço

E esfolhando no regaço

As rosas do seu rosal.

As brisas, gemendo tristes

Por entre a verde folhagem,

Segredavam-lhe a linguagem

Sonora da solidão.

Essas mil vozes do campo,

Todas ela compreendia,

Que fadado para poesia

Fora aquele coração.

Ai, que infância tão de gelo!

Que madrugada da vida!Ai, pobre alma estremecidaPelas saudades da mãe!

Quantas vezes, alta noite,

A triste julgava vê-la

Em cada fúlgida estrela

Que o firmamento contém!

Um dia, ao cair da tarde,

E de uma tarde de Outono,

Acordou de um brando sono

E pôs-se a rir para mim.

«Já sorris? És salva, filha,

Enfim!» E a beijei contente.

Olhando-me ternamenteEla repetiu: «Enfim!»

Enfim!... mas que triste acento

Nessa palavra vertera!Foi como que se dissera

Recommended