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UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM AGRONEGCIOS
SUCESSO DA GESTO NA AGRICULTURA FAMILIAR:
UM ESTUDO DE CASO NO ASSENTAMENTO SANTA OLGA
NO MUNICPIO DE NOVA ANDRADINA EM MATO GROSSO
DO SUL
FABIANO GRETER MOREIRA
DOURADOS/MS
2014
FABIANO GRETER MOREIRA
SUCESSO DA GESTO NA AGRICULTURA FAMILIAR:
UM ESTUDO DE CASO NO ASSENTAMENTO SANTA OLGA
NO MUNICPIO DE NOVA ANDRADINA EM MATO GROSSO
DO SUL
Dissertao apresentada Universidade
Federal da Grande Dourados Faculdade
de Administrao, Cincias Contbeis e
Economia, para obteno do Ttulo de
Mestre em Agronegcios.
ORIENTADORA: Profa. Dra. Madalena
Maria Schlindwein
DOURADOS/MS
2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS
FACULDADE DE ADMINISTRAO, CINCIAS CONTBEIS E ECONOMIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM AGRONEGCIOS
Fabiano Greter Moreira
SUCESSO DA GESTO NA AGRICULTURA FAMILIAR:
UM ESTUDO DE CASO NO ASSENTAMENTO SANTA OLGA
NO MUNICPIO DE NOVA ANDRADINA EM MATO GROSSO
DO SUL
BANCA EXAMINADORA
ORIENTADORA: Profa. Dra. Madalena Maria
Schlindwein - UFGD
Profa. Dra. Jaqueline Severino da
Costa - UFGD
Prof. Dr. Moacir Piffer
UNIOESTE
DOURADOS/MS
2014
DEDICATRIA
Dedico este trabalho a todos os
agricultores familiares do Projeto de
Assentamento Santa Olga, pela confiana
e pacincia ao me receberem em seus lotes
nesta pesquisa.
Dedico, ainda, a todos os pequenos
produtores rurais de nosso pas. Que esta
pesquisa institua subsdios para a
permanncia do homem no campo, bem
como suas tradies e hbitos adquiridos
ao longo da histria.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeo a Deus, que conduziu os meus passos, me deu foras e
sabedoria e sempre iluminou o meu caminho, mesmo nos momentos mais difceis, em que
batia o cansao e o sono. Ele me levantou e me guiou at aqui.
minha famlia, que sempre me incentivou na busca do conhecimento. De forma
especial e carinhosa, agradeo a minha namorada, Luciana Codognoto da Silva, que sempre
esteve ao meu lado, me fortalecendo e me apoiando, com sua sabedoria e ateno, durante as
limitaes, angstias e alegrias desta jornada acadmica.
A minha orientadora, professora Dra. Madalena Maria Schlindwein, por confiar em
meu trabalho e por me conduzir os caminhos desta pesquisa e despertar em mim o desejo de
continuar trilhando esse caminho. Muito obrigado, Professora, pela oportunidade de trabalhar
com voc.
Aos professores do Programa de Ps-Graduao em Agronegcios da Universidade
Federal da Grande Dourados UFGD, pelo conhecimento compartilhado. Em especial,
agradeo professora Dra. Jaqueline Severino da Costa e ao professor Dr. Moacir Piffer, da
Unioeste/Toledo, pelas contribuies durante as bancas de qualificao e defesa desta
dissertao.
Agradeo a todos que, direta ou indiretamente, contriburam para que eu pudesse
findar mais essa etapa de minha vida, fator de alegria e superao, diante dos vrios
obstculos e virtudes de uma caminhada que est apenas comeando.
RESUMO
A permanncia e a continuidade das pequenas propriedades no Brasil, sobretudo na
Agricultura Familiar, dentro dos assentamentos rurais, no so apenas um desafio, mas a
sobrevivncia do campo como histria de desenvolvimento rural e social e, ainda, a produo
local de alimentos de uma sociedade. A migrao do campo para a cidade uma realidade,
pois a busca de melhores condies de rendimentos, de estudos para os mais jovens e a
ausncia de aptido pelo campo por parte de alguns produtores geram a no permanncia e/ou
somente um local de moradia tranquila, sossegada e/ou apenas de descanso nos finais de
semana. A pesquisa objetivou analisar a percepo dos agricultores sobre a Sucesso da
Gesto na Agricultura Familiar no Projeto de Assentamento (PA) Santa Olga, localizado no
municpio de Nova Andradina, em Mato Grosso do Sul. A metodologia utilizada neste estudo
est baseada em um estudo de caso, com coleta de dados por meio da aplicao de
questionrios aos assentados visitados, totalizando 120 lotes. Os principais resultados
mostram que a percepo de sucesso dos assentados do PA Santa Olga sobre a preparao de
sucessores nos lotes pequena e a grande maioria dos produtores ouvidos durante esta
pesquisa no realiza nenhuma estratgia de continuidade, as fontes de rendimentos so
complementadas com atividades no agrcolas, a carncia de assistncia tcnica rural aos
assentados so fatores de descaso pelos rgos competentes e a ausncia de cooperao dos
produtores desestimula as organizaes coletivas no assentamento. Os discursos dos
agricultores familiares se convergem ao tratar sobre a sucesso da gesto na propriedade, pois
o processo sucessrio define no somente o futuro daquele lote, mas os discursos sociais,
culturais e polticos de uma comunidade local.
Palavras-Chave: Continuidade e permanncia. Desenvolvimento local. Polticas pblicas no
campo.
ABSTRACT
The permanence and continuity of small farms in Brasil, especially in Family Agriculture
within the rural settlements are not only a challenge, but the survival of the field as history of
rural and social development and also the local food production of a society. Migration from
the countryside to the city is a reality, as the search for better income conditions, studies for
the young and the lack of fitness the field by some producers generate the non-permanence
and / or only one place of residence peaceful, quiet and / or just rest on weekends. The
research aimed to analyze the perception of farmers on the Succession Management in Family
Farming in the Settlement Project (PA) Santa Olga, located in Nova Andradina in Mato
Grosso do Sul. The methodology used in this study is based on a study case, with data
collection through the use of questionnaires to visited settlers, totaling 120 lots. The main
results show that the perception of succession of the PA Santa Olga sitting on preparing
successors in lots is small and the vast majority of producers heard during this research takes
no continuity strategy, the sources of income are complemented by activities not agricultural,
lack of technical assistance to rural settlers are neglect factors by the competent bodies and
the lack of cooperation of producers discourages collective organizations in the settlement.
The speeches of the family farmers converge to treat about succession management in the
property because the succession process not only defines the future of that lot, but the social
discourses, cultural and political of a local community.
Key Words: Continuity and permanence. Local development. Public policies in the field.
LISTAS DE ILUSTRAES
Figura 1 - Mapa do Muncipio de Nova Andradina no mbito de Brasil e estado de Mato
Grosso do Sul .......................................................................................................................... 44
Figura 2 - Mapa do Projeto de Assentamento Santa Olga em Nova Andradina/MS .............. 46
Figura 3 - Mapa dos Assentamentos Rurais de Mato Grosso do Sul criados pelo INCRA e/ou
pelo Governo Estadual (1980-2009) ....................................................................................... 51
Figura 4 Composio das fontes de rendimento de acordo com o nvel salarial mensal (at
01 S M) .................................................................................................................................... 63
Figura 5 Composio das fontes de rendimento de acordo com o nvel salarial mensal (mais
de 01 S M a 02 S M) ............................................................................................................... 64
Figura 6 Composio das fontes de rendimento de acordo com o nvel salarial mensal (mais
de 02 S M a 03 S M) ............................................................................................................... 65
Figura 7 Composio das fontes de rendimento de acordo com o nvel salarial mensal (mais
de 03 S M) ............................................................................................................................... 66
Figura 8 - Produtos, culturas, animais e outras atividades do campo que geram renda aos
assentados ................................................................................................................................ 67
Figura 9 - Percentual de Produtores do Assentamento Santa Olga que esto preparando um
Sucessor para a Gesto da Propriedade ................................................................................... 69
Figura 10 - Nvel de Escolaridade dos possveis Sucessores do Assentamento Santa Olga ... 71
Figura 11 - Percentual de Recebimento de Assistncia Tcnica Rural dos assentados do PA
Santa Olga ............................................................................................................................... 75
LISTAS DE TABELAS
Tabela 1 - Total de projetos, rea, capacidades e famlias assentadas no Brasil, em Mato
Grosso do Sul e Nova Andradina, no ano de 2014 ................................................................. 51
Tabela 2 - Total de estabelecimentos e rea da Agricultura Familiar e No Familiar, no
municpio de Nova Andradina ................................................................................................ 53
Tabela 3 - Total de projetos, rea, capacidades e famlias assentadas de forma analtica no
municpio de Nova Andradina, no ano de 2014 ...................................................................... 54
Tabela 4 - Estrutura da diviso do uso da terra no Assentamento Santa Olga, no municpio de
Nova Andradina em Mato Grosso do Sul ............................................................................... 56
Tabela 5 - Quantidade de moradores por famlia nos lotes do Assentamento Santa Olga
.................................................................................................................................................. 57
Tabela 6 - Quantidade de moradores residentes no Assentamento e o sexo da populao
pesquisada ............................................................................................................................... 58
Tabela 7 - Nvel de escolaridade dos proprietrios responsveis pelos lotes e demais
residentes no Assentamento Santa Olga ................................................................................. 59
Tabela 8 - Nvel de idade dos proprietrios responsveis pelos lotes e demais residentes no
Assentamento Santa Olga ....................................................................................................... 60
Tabela 9 - Rendimentos mensais das famlias residentes no Assentamento Santa Olga ........ 62
Tabela 10 - Fontes de rendimentos das famlias residentes no Assentamento Santa Olga ..... 62
Tabela 11 - Ocupao atual dos possveis Sucessores no Assentamento Santa Olga ............. 71
Tabela 12 - Destino das propriedades, a partir das respostas dos Responsveis pelos lotes do
Assentamento Santa Olga, caso no ocorra sucesso ............................................................. 73
Tabela 13 - Anlise de participao dos assentados na Associao/Cooperativa do
Assentamento Santa Olga ....................................................................................................... 74
Tabela 14 - Dificuldades enfrentadas nos lotes do Assentamento Santa Olga e as melhorias
sugeridas pelos assentados ...................................................................................................... 76
LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AGRAER Agncia de Desenvolvimento Agrrio e Extenso Rural
ATER Assistncia Tcnica e Extenso Rural
CNA Confederao Nacional da Agricultura
CONAB Companhia Nacional de Abastecimento
CONTAG Confederao Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
COOPAOLGA Cooperativa de Produo dos Agricultores Familiares do Assentamento
Santa Olga
DAP Declarao de Aptido ao Pronaf
EMATER Empresas de Assistncia Tcnica e Extenso Rural de cada Estado
FAE Federao da Agricultura do Estado
FETAF Federao dos Trabalhadores da Agricultura Familiar
FETAG Federao dos Trabalhadores na Agricultura
FETAGRI/MS Federao dos Trabalhadores na Agricultura e Pastoral a Terra
FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria
IPADES Instituto de Pesquisa Aplicada em Desenvolvimento Econmico
Sustentvel
MDA Ministrio do Desenvolvimento Agrrio
MDS Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome
OCB Organizao das Cooperativas do Brasil
OCE Organizao das Cooperativas de cada Estado
ONU Organizao das Naes Unidas
PA Projeto de Assentamento
PAA Programa de Aquisio de Alimentos
PIB Produto Interno Bruto
PNAE Programa Nacional de Alimentao Escolar
PNATER Poltica Nacional de Assistncia Tcnica e Extenso Rural
PNPB Programa Nacional de Produo e Uso de Biodiesel
PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
PRONATER Programa Nacional de Assistncia Tcnica e Extenso Rural
SAF Secretaria da Agricultura Familiar
SEBRAE Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas
SEPROTUR Secretaria de Estado do Desenvolvimento Agrrio, da Produo, da
Indstria, do Comrcio e do Turismo
UFGD Universidade Federal da Grande Dourados
SUMRIO
1 INTRODUO ................................................................................................................... 15
1.1 O problema e sua importncia ............................................................................................ 16
1.2 Justificativa ........................................................................................................................ 19
1.3 Objetivos ........................................................................................................................... 21
1.4 Estrutura do trabalho ......................................................................................................... 21
2 REVISO BIBLIOGRFICA .......................................................................................... 22
2.1 Trajetria terica da gesto empresarial ............................................................................ 22
2.2 Desenvolvimento local na Agricultura Familiar: espao, territrios e multiterritorialidades
.................................................................................................................................................. 26
2.3 Reforma agrria e Agricultura Familiar ............................................................................ 29
2.4 Gesto e processos sucessrios ......................................................................................... 32
2.5 Polticas pblicas de apoio ao pequeno produtor .............................................................. 40
3 METODOLOGIA .............................................................................................................. 43
3.1 rea de estudo ................................................................................................................... 44
3.2 Populao estudada e fonte de dados ................................................................................ 47
4 RESULTADOS E DISCUSSES ..................................................................................... 50
4.1 Agricultura Familiar e a No-Familiar e projetos de Assentamentos no Brasil, em Mato
Grosso do Sul e no municpio de Nova Andradina ................................................................. 50
4.2 Caracterizao scio demogrfica do projeto de Assentamento Santa Olga .................... 55
4.3 Caracterizao de Sucessores e no Sucessores do Projeto de Assentamento Santa Olga e
a gesto organizacional dos assentados .................................................................................. 69
5 CONSIDERAES FINAIS ............................................................................................ 77
REFERNCIAS .................................................................................................................... 81
APNDICES .......................................................................................................................... 88
15
1 INTRODUO
Segundo dados apresentados pelo Ministrio do Desenvolvimento Agrrio MDA
(2014), a Agricultura Familiar uma das atividades econmicas mais importantes do mundo,
pois alm de ser a responsvel pela produo da maior parte dos alimentos, concentra cerca de
03 bilhes de pessoas em sistemas de produes familiares. Por isso, a Organizao das
Naes Unidas (ONU) declarou o ano de 2014 como o Ano Internacional da Agricultura
Familiar. Estes produtores representam mais de um tero da populao mundial e produzem
cerca de 70% dos alimentos que so consumidos no planeta.
No Brasil, quando se fala em produtos que esto diariamente mesa dos brasileiros,
pode-se dizer que eles so predominantemente advindos da Agricultura Familiar, que gera
empregos para mais de 12 milhes de brasileiros e que representa 74% da mo de obra
empregada no campo, mobilizando as economias locais. Alm disso, o setor responde por
33% do PIB da agropecuria brasileira e 10% do PIB nacional, com mais de 4,3 milhes de
estabelecimentos rurais no territrio brasileiro, com rea ocupada de mais de 80 milhes de
hectares no pas, destacando-se na produo de mandioca (88,3%), feijo (68,7%), leite
(56,4%), sunos (51%) e milho (47%), produtos diariamente utilizados, direta ou
indiretamente, pelos consumidores e agroindstrias no pas (MDA, 2014).
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica - IBGE, por meio do Censo
Agropecurio de 2006, revelou que o estado de Mato Grosso do Sul possui 64.862
estabelecimentos rurais, destes, a grande maioria, aproximadamente 63%, pertence
Agricultura Familiar (IBGE, 2006).
Segundo Lourenzani et al. (2008), a Agricultura Familiar tem assumido, ao longo do
tempo, um papel socioeconmico de grande relevncia no mbito do agronegcio brasileiro.
Seu desenvolvimento entendido como uma das pr-condies para uma sociedade
economicamente mais eficiente e socialmente mais justa. Para tanto, existem, segundo os
autores, fatores que afetam significativamente o desempenho dos empreendimentos rurais,
muitos dos quais fogem do controle da unidade de produo, enquanto outros, como a gesto
da produo, esto mais diretamente vinculadas ao seu controle.
A Agricultura Familiar no um termo novo, mas passou a contemplar novas
significaes ao propor um tratamento mais analtico de sua terminologia, o que possibilitou
sua ampliao nas discusses acadmicas, nas polticas de estado e no mbito dos
movimentos sociais (DAL SOGLIO; KUBO, 2009). Assim, a disponibilizao de mtodos
gerenciais, apropriados para a Agricultura Familiar, visa contribuir para a promoo da
16
sustentabilidade econmica desses empreendimentos. Nesse contexto, a gesto nas
propriedades rurais exige, cada vez mais, eficincia no gerenciamento de melhores formas de
organizao, bem como a estabilizao das famlias na regio em que esto inseridas.
1.1 O problema e sua importncia
O xodo rural ainda persiste, pois, muitos produtores buscam uma vida nova na cidade
e/ou em outras atividades que lhes forneam melhores condies de vida e/ou salrio, fator
que pode contribuir para a falta de futuras geraes na gesto das propriedades rurais, em
especial no mbito da agricultura familiar. Em decorrncia disso, nos ltimos anos,
importantes discusses acadmicas vm sendo suscitadas no contexto dos empreendimentos
rurais presentes no pas.
Para Curioni (2009), esta migrao se d mediante a busca de melhores condies de
vida e emprego, em virtude de crises socioeconmicas e da reduo de vagas de trabalho no
campo, intensificadas pela falta de infraestrutura e renda, fatores fundamentais para a
motivao da migrao campo-cidade. De acordo com Spanevello (2012), a permanncia dos
filhos na condio de sucessores familiares pode ser compreendida por meio de dois
momentos. No primeiro, at a dcada de 1970, as possibilidades sucessrias eram maiores; no
segundo perodo, no sculo XXI, a continuidade das propriedades passa por mudanas,
especialmente em decorrncia do maior fluxo migratrio juvenil, podendo no haver a
sucesso.
Camarano e Abramovay (1999) comentam que, dentre os estudos realizados sobre os
movimentos migratrios rurais, esto presentes temas, como o envelhecimento e a
predominncia de pessoas do sexo masculino na populao que vive no campo, prevalecendo,
cada vez mais, a sada dos jovens do meio rural. Nas concepes de Woortmann (1990), a
migrao no apenas consequncia da inviabilizao de suas condies de existncia, mas
parte integrante de suas prprias prticas de reproduo social. O autor cita ainda trs
modalidades de migrao: a migrao do pai, a emigrao definitiva e a migrao pr-
matrimonial. A primeira modalidade assegura a permanncia do pai na hierarquia da famlia;
a segunda trata da emigrao definitiva, que faz com que algum da famlia permanea para
manter a propriedade; e a terceira modalidade o momento em que o jovem constitui uma
famlia.
17
Na literatura, as contribuies para a delimitao conceitual da Agricultura Familiar
tm se apoiado nos critrios definidos pela Lei n 11.326, de 24 de julho de 2006, dentre os
quais, cita-se: a rea do estabelecimento ou empreendimento rural que no deve exceder
quatro mdulos fiscais1; a mo de obra utilizada nas atividades econmicas desenvolvidas
deve ser predominantemente da prpria famlia; a renda familiar deve ser exclusivamente
originada dessas atividades; e o estabelecimento ou empreendimento dever ser dirigido pela
famlia (IBGE, 2006).
Amparado nesta discusso, a delimitao conceitual da Agricultura Familiar tem se
apoiado em duas principais vertentes: a primeira, que considera que a moderna Agricultura
Familiar uma nova categoria, gerada no bojo das transformaes e experimentada pelas
sociedades capitalistas desenvolvidas; a segunda, que defende ser a Agricultura Familiar no
Brasil um conceito em evoluo, com significativas razes histricas, conforme apontam os
estudos de Tedesco (1999). Em direo aos pressupostos apregoados pela segunda vertente,
Huges Lamarche (1993) e Nazareth Wanderley (1999) definem a Agricultura Familiar como
um conceito genrico, que incorpora diferentes situaes, sendo o campesinato uma dessas
formas diferenciadas de trabalho e de produo no campo.
Para Camarano e Abramovay (1999), a populao rural brasileira atingiu seu maior
nmero populacional no ano de 1970, com 41 milhes de habitantes, o que correspondeu, na
poca, a 44% do total da populao brasileira. Desde ento, o meio rural vem sofrendo um
declnio populacional relativo e absoluto, chegando, em 2010, a um total de 29,8 milhes de
habitantes ou 18,5% do total nacional (IBGE, 2010). A reduo da participao da populao
rural deve-se, fundamentalmente, aos movimentos migratrios: no estado de Mato Grosso do
Sul, a populao rural chega a 352.786 habitantes, representando 16,7%, de acordo com o
censo demogrfico (IBGE, 2010).
O envelhecimento da populao uma realidade na maioria dos pases. Portanto,
evidente que a melhoria da qualidade de vida da populao aumente as expectativas de
consumo e bem-estar. Entretanto, quando se trata do meio rural, o fenmeno de
envelhecimento da populao acompanhado de outro fator, o xodo da juventude do campo
para os centros urbanos, fenmeno que traz consigo o problema da reproduo social da
Agricultura Familiar, pois, sem atrativos, o jovem migra para as cidades, fazendo com que a
1 O conceito de mdulo fiscal derivado da ideia de propriedade familiar. Trata-se de uma unidade de medida, expressa em
hectares, que busca exprimir a interdependncia entre a dimenso, a situao geogrfica dos imveis rurais , a forma e as
condies do seu aproveitamento econmico. Disponvel em: < http://www.incra.gov.br/perguntas>. Acesso em: 02 set.
2014. O tamanho do mdulo fiscal do muncipio de Nova Andradina 40 hectares.
http://www.incra.gov.br/perguntas
18
faixa etria da populao no meio rural seja de pessoas acima de 40 anos, conforme
evidenciado nos estudos de Godoy (2010).
Segundo estudos de Petinari et al. (2008), os motivos que levam os jovens a
abandonarem o campo e, assim, no trabalharem com suas famlias, migrando para os centros
urbanos, devem-se, em parte, ao tamanho das propriedades, que geralmente so pequenas,
como no caso dos Projetos de Assentamentos. Entretanto, as aptides e as ndoles do prprio
jovem e as atratividades das grandes cidades contribuem para que estes busquem novos
horizontes e tentem construir vida nova em outro local, motivos que traduzem a importncia
deste estudo sobre sucesso da gesto no Assentamento Rural.
Vrios so os estudos que abordam a sucesso da gesto na Agricultura Familiar no
Brasil, com enfoque mais geral nos quesitos da hereditariedade, da transmisso da
propriedade, do xodo rural dos jovens, da masculinizao e do envelhecimento dos
produtores/produtoras. Dentre eles, destacam-se: Woortmann (1990), Abramovay et al. (1998;
2004), Camarano e Abramovay (1999), Carneiro (2001), Costa (2006), Brumer (2007),
Petinari et al. (2008), Spanevello (2012), Brumer e Anjos (2012), Stropasolas (2013). Alm
disso, estudos realizados nos Assentamentos Rurais no estado de Mato de Grosso do Sul, que
tambm primam pelos temas de sucesso da gesto, aproximam-se na mesma direo dos
trabalhos j mencionados, segundo evidenciado em Dotto (2011) e Facioni (2013).
Em pesquisas realizadas sobre esta temtica no Municpio de Nova Andradina,
encontrou-se um trabalho referente ao Projeto de Assentamento Teijim, realizado por
Furlanetto (2012), que pesquisou os frutos do cerrado como potencial de preservao e
gerao de renda aos assentados como forma sustentvel de produo. J no Projeto de
Assentamento Santa Olga, objeto deste estudo, foram encontrados apenas dois trabalhos
publicados em anais e peridicos, os quais tratam de assuntos, como o desenvolvimento local
e segurana alimentar nos municpios que compem o Consrcio de Segurana Alimentar do
Vale do Ivinhema (SILVA et al., 2010) e outro trabalho que destaca o circuito curto de
produo e comercializao de produtos da Agricultura Familiar (ANDRADE et al., 2011).
Durante o levantamento de dados para esta pesquisa, no foram identificados estudos
relacionados temtica da sucesso na gesto da Agricultura Familiar no mbito dos Projetos
de Assentamentos no municpio pesquisado.
Para tanto, de alta relevncia o estudo dos aspectos inerentes s deficincias da
gesto e dos processos sucessrios na Agricultura Familiar no municpio de Nova Andradina,
situado no interior do estado de Mato Grosso do Sul, uma vez que nesse cenrio tambm se
encontram presentes os aspectos culturais, polticos e econmicos necessrios para a
19
importante demarcao de uma forte cadeia produtiva na regio, que ser abordada neste
estudo.
Desta forma, fica evidente a importncia deste estudo e da problemtica da sucesso
da gesto nos empreendimentos familiares, sobretudo na esfera da Agricultura Familiar, tanto
para o mbito socioeconmico, quanto para a regio de Nova Andradina. A sucesso da
gesto deve ser tratada antes mesmo de se ter um sucessor, pontuando a inteno e o que se
deve fazer para que acontea a continuidade da propriedade, diferindo de todos os trabalhos j
realizados, os quais enfocaram a migrao e/ou a continuidade dos jovens no meio rural.
Neste sentido, faz-se o seguinte questionamento nessa pesquisa: Quais so as perspectivas
referentes sucesso da Gesto nas propriedades rurais no Projeto de Assentamento Santa
Olga, localizado no municpio de Nova Andradina, regio sudeste do estado de Mato Grosso
do Sul?
1.2 Justificativa
A questo geral na elaborao do problema de pesquisa deste estudo relaciona-se
sucesso da gesto nos estabelecimentos rurais no mbito da Agricultura Familiar. Busca-se
entender como realizado esse processo e quais so as condies que influenciam a
permanncia ou no dos seus sucessores. Aborda-se a questo da continuidade dos familiares,
de acordo com as condies econmicas e sociais transmitidas pelos agricultores a seus filhos,
e as formas de estimular a sua permanncia no campo.
A relevncia desse trabalho est em demonstrar a importncia do resgate do papel do
homem e da mulher do campo como atores sociais influentes ao longo da histria da produo
agrcola do Brasil. A escolha dessa temtica de pesquisa ocorre em virtude da clara realidade
do xodo rural no Brasil, fator que compromete a cadeia produtiva, que faz parte da histria
das famlias no campo. A Sucesso da Gesto na Agricultura Familiar deve ser encarada no
somente como uma continuidade da produo rural, mas como busca de formas de trabalho e
de diversificao de produo, bem como dos fatores econmicos e sociais inseridos no
municpio de sua origem.
Muito se tem falado sobre a expanso de cursos que visam s capacitaes e
consultorias neste setor de produo, mas pouco se tem estudado sobre as formas como
acontece o processo de sucesso na gesto do agronegcio em locais considerados perifricos
geogrfica e economicamente no Brasil. Logo, a partir destas indagaes que surge o
20
interesse em dar voz s pessoas que, por muito tempo, foram pouco ouvidas, tanto acadmica
quanto socialmente e, acima de tudo, registrar importantes locais ainda pouco explorados em
termos de pesquisas, como o caso do contexto abordado neste estudo.
O municpio de Nova Andradina est localizado nos limites fsicos das divisas dos
estados de So Paulo e Paran. Conta com um nmero populacional estimado de 50.010
habitantes (IBGE, 2014) e passou a ser reconhecido como um importante plo de exportao
pecuria da regio Centro-Oeste do Brasil e para alguns pases rabes como Egito, Arbia
Saudita, Lbano, entre outros. Desde 2010, percebeu-se a instalao de um considervel
nmero de Indstrias Sucroenergticas na regio. Ademais, o municpio de Nova Andradina
tem se apresentado como umas das maiores bacias leiteiras do estado de Mato Grosso do Sul,
mas pouco se tem feito para promover a permanncia do produtor no campo e o futuro da
cadeia produtiva, posto que importante parcela da produo agropecuria da regio tem
cedido lugar s novas tecnologias e s novas formas de produo.
Para tanto, relevante a problematizao dos aspectos que fazem referncia sucesso
e estruturao das formas de gesto nas propriedades rurais no contexto supracitado. Uma
vez que, neste cenrio tambm se encontram presentes os aspectos culturais, polticos e no
somente os econmicos, necessrios para uma importante demarcao de uma forte cadeia
produtiva na regio.
Para Silvestro (2001), a sucesso aparece como tema intrnseco realidade das
famlias, as quais tomam decises sem qualquer tipo de orientao profissional. Por isso, os
processos sucessrios devem ser discutidos e organizados pelos prprios movimentos sociais
no campo, de modo que tudo isso contribua para organizar a poltica fundiria especfica s
regies de preponderncia da Agricultura Familiar.
Outro fator delimitador desta pesquisa a temtica que ser explorada, pois os estudos
j realizados priorizaram a questo sucessria apenas dos jovens, buscando a sua inteno e o
seu interesse de continuar ou no a vida no campo. Este trabalho segue a orientao de
gesto, ou seja, conforme os autores que tratam da sucesso e gesto familiar (LODI, 1987;
RICCA, 2007; COSTA, 2006; CARNEIRO, 2001), a sucesso inicia-se no bero familiar, ou
seja, o responsvel da famlia atribui responsabilidades e tarefas aos membros e ele quem
prepara e incentiva a futura gerao que vai administrar a propriedade, proporcionando os
subsdios necessrios para iniciar as atividades e as escolhas adequadas para promover a
sustentabilidade familiar. Lembrando que, cada membro tem suas aptides e seus interesses
pessoais, mas a vida no campo se apresenta ao sucessor por meio do responsvel daquela
propriedade.
21
1.3 Objetivos
O objetivo geral deste estudo analisar a percepo dos agricultores sobre a Sucesso
da Gesto na Agricultura Familiar no Projeto de Assentamento (PA) Santa Olga, localizado
no municpio de Nova Andradina, interior do estado de Mato Grosso do Sul.
Especificamente, pretende-se:
Descrever a Agricultura Familiar e No Familiar em termos de estabelecimentos e rea
para o Brasil, para o estado de Mato Grosso do Sul e para o municpio de Nova
Andradina;
Caracterizar e analisar os fatores demogrficos e socioeconmicos da populao
residente no Assentamento Santa Olga, destacando fatores, como: a composio
familiar, as atividades produtivas e o rendimento gerado;
Mensurar e identificar a inteno de sucesso familiar no Assentamento Santa Olga.
1.4 Estrutura do Trabalho
O trabalho est estruturado em quatro partes, alm desta breve introduo. No segundo
item apresenta-se a reviso bibliogrfica e terica, com o intuito de evidenciar os processos
sucessrios da gesto no mbito da Agricultura Familiar, a gesto das propriedades rurais e o
desenvolvimento local e regional de seus territrios. Em seguida, destaca-se a utilizao do
mtodo da pesquisa, como um estudo de caso, com pesquisa de campo e de literatura, por
meio de aplicao de questionrios no Projeto de Assentamento Santa Olga. Com os
resultados e discusses, apresentam-se a Agricultura Familiar no Brasil, no estado de Mato
Grosso do Sul e no muncipio de Nova Andradina, a caracterizao dos fatores demogrficos
e socioeconmicos da populao do Assentamento pesquisado e as perspectivas de sucesso
da gesto da propriedade expostas pelos responsveis das famlias assentadas.
22
2 REVISO BIBLIOGRFICA
A reviso bibliogrfica refere-se anlise dos aspectos tericos e empricos que
envolvem a temtica desta pesquisa. Ser destacada a trajetria da gesto empresarial,
priorizando os conceitos de gesto e as teorias administrativas e uma reviso terica sobre
desenvolvimento local e regional e suas aplicaes e potencialidades. Em seguida, a reviso
de literatura abordar o papel da organizao, da reforma agrria, dos conceitos de
Agricultura Familiar, da gesto, dos Assentamentos Rurais, dos processos sucessrios no
mundo, no Brasil e no estado de Mato Grosso do Sul, da gesto na sucesso familiar e do
desenvolvimento local da Agricultura Familiar.
2.1 Trajetria Terica da Gesto Empresarial
A palavra Gesto vem do latim [gerentia, de gerere, fazer], que significa ato de gerir,
as funes do gerente, gesto, administrao, ou seja, administrar negcios pblicos e
particulares diante de um conjunto de princpios, normas e funes, que tem por finalidade
ordenar os fatores de produo, os controles de sua eficincia e eficcia, visando obter os
resultados desejados e as metas determinadas (MAXIMIANO, 2008).
As teorias e tcnicas utilizadas na administrao das organizaes constituem-se em
escolas que orientam a ao dos administradores, diante de seus princpios e doutrinas para
resolver problemas prticos. A administrao comeou a nascer como corpo independente de
conhecimentos na Europa do sculo XVIII, durante a Revoluo Industrial. Naquela poca, as
primeiras fbricas modernas comearam a colocar em prtica diversos conceitos que se
tornariam universais nos sculos seguintes. Um desses conceitos era a diviso do trabalho. A
partir do incio do sculo XX, a organizao eficiente do trabalho nas empresas tornou-se a
base do desenvolvimento da teoria e da prtica da administrao. Maximiano (2008) traz o
enfoque das principais ideias e teorias da escola clssica de administrao do sculo XX,
como destaca o Quadro 1.
23
Frederick Taylor
Administrao
Cientfica
Henry Ford
Linha de Montagem
Henri Fayol
Processo de
Administrao
Max Weber
Teoria da
Burocracia
* Aplicao de
mtodos de
pesquisa para
identificar a melhor
maneira de
trabalhar.
* Seleo e
treinamentos
cientficos de
trabalhadores.
* Especializao do
trabalhador.
* Fixao do
trabalhador no posto de
trabalho.
* Trabalho (produto
em processo de
montagem) passa pelo
trabalhador.
* Administrao da
empresa distinta das
operaes de
produo.
* Administrao
processo de planejar,
organizar, comandar,
coordenar e controlar.
* Autoridade tem a
contrapartida da
obedincia.
* Autoridade
baseia-se nas
tradies, no
carisma e em
normas racionais e
impessoais.
* Autoridade
burocrtica base
da organizao
moderna.
Quadro 1: Os primeiros clssicos da escola de administrao, com suas teorias e seus princpios
organizacionais.
Fonte: Elaborao prpria a partir de Maximiano (2008).
No Quadro 1 Max Weber relata que, todas as organizaes existem pelo principal
motivo, alcanar objetivos, por meio de aes coordenadas de grupos de pessoas, sejam
organizaes formais, regidas por regulamentos ou grupos sociais informais, regidos por
relaes pessoais.
As atividades gerenciais das organizaes nascem com a teoria administrativa de
autoria de Henri Fayol (1841-1925), que definiu vrias funes administrativas para organizar
a administrao das empresas, de maneira que, os seus princpios como diviso do trabalho,
autoridade, disciplina, unidade de comando, unidade de direo, remunerao, ordem, esprito
de equipe, equidade e outros se concentrem na estrutura organizacional, compreendendo as
funes de planejamento, organizao, comando, coordenao e controle da posio gerencial
das empresas (MONTANA; CHARNOV, 2010).
Alm da teoria administrativa idealizada por Fayol, citada por Montana e Charnov
(2010), Maximiano (2008) descreve a administrao cientfica liderada por Frederick
Winslow Taylor, que tinha como princpio o estudo da racionalizao do trabalho, alm de
pesquisar o tempo do trabalho e sua influncia na eficincia da produo e a melhoria do
processo no que concerne o relacionamento de pessoal e a reduo de desperdcios. Em
seguida, destaca o autor que, o papel de Henry Ford e sua linha de montagem, com a
24
uniformidade das atividades e peas, eram o de promover o trabalho especializado e a origem
do controle de qualidade.
Ao lado de Taylor, Henri Fayol definiu o papel do gerente, ou seja, os princpios de
administrao com enfoque nos processos de planejar, organizar, dirigir e controlar, criando o
conhecimento administrativo moderno e a estrutura hierrquica da organizao. Para concluir
os autores clssicos da escola de administrao, surge o pesquisador das organizaes
formais, Max Weber, que fez estudos pioneiros sobre as burocracias representadas por todas
as organizaes que possuem um tipo ideal de exercer a dominao por meio das leis, regras
de autoridade e disciplina, independentes dos interesses pessoais, seguindo uma lgica
impessoal (MAXIMIANO, 2008).
O autor comenta que o ato de gerir uma organizao o processo dinmico de tomada
de deciso e a realizao de aes por meio de princpios interligados e/ou funes gerenciais,
com enfoque funcional, cujo idealizador foi o engenheiro francs Henri Fayol, que salientou o
modelo de organizao concentrado em cinco processos, a saber: o Planejamento que a
deciso futura da administrao presente da organizao que procura influenciar as prticas e
os objetivos em longo prazo; a Organizao um processo de ordenar os recursos disponveis
para a realizao dos objetivos, resultando na estrutura organizacional desta diviso; a
Liderana, processo de administrao de pessoas, possibilitando a realizao das atividades
por meio de sua coordenao, direo e participao da equipe para que os objetivos sejam
alcanados; a Execuo, processo que consiste na realizao efetiva das atividades planejadas,
seja por meio das pessoas e/ou demais estruturas da organizao; e o Controle que visa
assegurar a realizao dos objetivos e/ou atividades planejadas, comparando os resultados
obtidos e o andamento de todos os processos.
Para Motta e Vasconcelos (2010), a boa organizao das empresas condio
indispensvel para que os objetivos do processo produtivo e do trabalho sejam alcanados. A
eficincia do trabalho se d por meio das divises de responsabilidades, delegaes e
centralizao de tomada de deciso, obedecendo aos interesses comuns, de forma que o
andamento da atividade dever atender s necessidades da organizao e no apenas das
pessoas. A administrao rural pode ser entendida como o estudo que considera a organizao
e a operao de uma empresa agrcola, visando o uso mais eficiente dos recursos para obter
resultados compensadores e contnuos, conscientemente dirigidos.
A discusso do papel organizacional nas propriedades rurais no mbito da Agricultura
Familiar envolve todas as capacidades e limitaes dos produtores rurais em torno de sua
gesto, que caracterizada por suas localidades geogrficas e fora de vontade em
25
transformar e melhorar suas condies de vida, atravs de novos processos e tecnologias, e
diante de um cenrio calcado na falta de conhecimento e/ou interesse na busca de ferramentas
de assistncia ao seu negcio.
Assim, para Arajo (2010), desenvolver uma gesto organizada, fortalecer a cadeia
produtiva, com novas tcnicas e assistncias apropriadas, agregar mais conhecimento e
atender s necessidades dos produtores rurais contribui para tornar atrativo e vivel o
desenvolvimento rural e a integrao das atividades rurais.
A organizao dos produtores rurais dentro da porteira, conforme evidencia Arajo
(2010), tem como base os sindicatos locais, denominados, respectivamente, de Sindicato dos
Trabalhadores Rurais e Sindicatos Rurais, com sede nos Municpios. Em termos de Estados,
os sindicatos unem-se na respectiva federao: Federao dos Trabalhadores na Agricultura
FETAG, Federao dos Trabalhadores da Agricultura Familiar FETAF e a Federao da
Agricultura do Estado FAE, com sede na capital de cada Estado. As federaes em mbito
nacional esto representadas pela Confederao Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
CONTAG e a Confederao Nacional da Agricultura CNA, com sede em Braslia.
Vilpoux e Oliveira (2011) retratam que a cooperao na Agricultura Familiar,
mediante os arranjos com as interaes nos mercados, objetiva trabalhar as relaes de
dependncias destes com os intermedirios. Para os autores, uma das dificuldades para tal
concretizao refere-se atenuada participao das associaes e das cooperativas neste
processo, fazendo com que o fornecedor procure pontos de referncias onde lhes so
atribudos valores mais elevados, substituindo a compra direta aos produtores, seja no campo
formal ou informal do capital social.
Para Lourenzani (2006), o desempenho da Agricultura Familiar determinado por um
conjunto grande de variveis, seja decorrente das polticas pblicas e da conjuntura
macroeconmica ou de especificidades locais e regionais. O mesmo autor ainda explica que a
elaborao de projetos agrcolas para a solicitao de crdito, a tomada de deciso sobre o que
produzir, a escolha da tecnologia a ser adquirida, o processo de compra de insumos, a venda
de produtos, o acesso aos mercados e a complexidade de funes, concomitantemente, exigem
capacitaes gerenciais, ausentes na maioria dos produtores rurais.
26
2.2 Desenvolvimento Local na Agricultura Familiar: espao, territrios e
multiterritorialidades
Furtado (1964, p. 29) destaca que: [...] o desenvolvimento um processo de
mudana social, pelo qual crescentes necessidades humanas preexistentes ou criadas pela
prpria mudana so satisfeitas por meio de uma diferenciao do sistema produtivo
decorrente da introduo de inovaes tecnolgicas.
Para Amaral Filho (2009), o desenvolvimento regional um processo de ampliao
contnua da capacidade de agregao de valor sobre a produo, bem como da capacidade de
fluxo da regio, cuja diviso a reteno do excedente econmico gerado na economia local
e/ou a conduo de excedentes provenientes de outras regies, processo que tem como
resultado a ampliao do emprego, do produto e da renda local e/ou da regio.
Ademais, novos estudos foram realizados sobre o tema desenvolvimento regional e,
segundo o mesmo autor, citando os estudos de Krugman (1991), o papel dos agentes locais
(atores protagonistas) um fator decisivo no desenvolvimento com suas antecipaes, o
comportamento futuro da economia local, as tendncias determinantes nos estudos especficos
das particularidades e de suas dinmicas organizacionais territoriais locais.
O grau de autonomia comercial, tecnolgica e financeira interrelaciona as empresas e
os sistemas produtivos locais, entendido como meio, de acordo com Amaral Filho (2009). E
referindo-se aos trabalhos de Garofoli (1992) nos sistemas industriais da Itlia, o autor destaca
que os fatores histricos, sociais e culturais estabelecidos nas comunidades e nas instituies
locais proporcionam uma coordenao mais eficiente do processo e contribui para a
descentralizao administrativa, fiscal e financeira entre as instncias governamentais.
Para Martins (2002, p. 53), [...] o verdadeiro diferencial do desenvolvimento local
no se encontra em seus objetivos (bem-estar, qualidade de vida, endogenia, sinergias), mas
na postura que atribui e assegura comunidade o papel de agente e no somente participante
do desenvolvimento. Isto implica rever a participao das pessoas em todo o processo (do
planejamento ao), devendo resultar tanto em melhorias efetivas das condies materiais
de vida como assegurar a continuidade do processo.
O Instituto de Pesquisa Aplicada em Desenvolvimento Econmico Sustentvel
IPADES (2010) destaca que o desenvolvimento regional deve ser entendido como uma forma
mais adequada para um equilbrio natural na utilizao e dinamizao de um territrio,
gerindo, de maneira eficaz, os fatores de desenvolvimento no melhor uso dos recursos e na
garantia de uma maior participao dos diferentes atores. O que caracteriza o processo de
27
desenvolvimento econmico local o protagonismo dos atores locais na formulao de
estratgias, na tomada de decises econmicas, na sua implementao e na autonomia desses
agentes no desenvolvimento econmico.
Compartilhando da ideia de Amaral Filho (2009) e Martins (2002), Buarque (1998)
comenta que o desenvolvimento local representa uma particular transformao nas bases
econmicas e na organizao social de uma localidade e/ou unidade territorial, processo
endgeno capaz de promover o dinamismo econmico e melhorar a qualidade de vida das
pessoas, resultante da mobilizao das sinergias da sociedade local. Alm disso, as
oportunidades sociais e a viabilidade econmica local esto inseridas em uma realidade na
qual interage e recebe influncias e presses peculiares, requerendo sempre a mobilizao e
aes dos atores locais em torno de um objetivo coletivo. Mais precisamente em relao ao
objeto de pesquisa deste estudo, Buarque (1998, p. 11), menciona que os Assentamentos
Rurais da reforma agrria [...] so uma forma particular de desenvolvimento local delimitado
pelo espao da comunidade vinculada aos Projetos de Assentamentos, promovendo um
dinamismo econmico e social dos produtores rurais locais.
Perante os estudos de Buarque (1998), de Martins (2002), de Furtado (1964) e de
Amaral Filho (2009), Sen (2000, p. 02) se refere s pessoas como [...] agentes da economia e
do desenvolvimento, as quais, por meio de oportunidades sociais adequadas, de liberdades
polticas e de facilidades econmicas podem efetivamente moldar fronteiras, construir novos
caminhos e participar ativamente da sociedade, contribuindo, assim, na melhoria dos padres
de vida e no desenvolvimento econmico da comunidade a qual pertence sua liberdade.
Segundo Lourenzani (2006), os agricultores familiares so os que mais geram
empregos e fortalecem o desenvolvimento local, pois distribuem melhor a renda, alm de
serem os responsveis por uma parte significativa da produo nacional, respeitando mais o
meio ambiente e, principalmente potencializando a economia dos municpios onde vivem.
relevante ressaltar a importncia do dinamismo da economia para o desenvolvimento local.
Em regies e municpios pobres, deve-se perseguir, com rigor, o aumento de renda e da
riqueza local por meio de atividades econmicas viveis e competitivas, com capacidade de
concorrer nos mercados locais, regionais e, no limite, nos mercados globais. Assim, com
economia eficiente, competitiva e gerando riqueza local sustentvel, pode-se falar
efetivamente em desenvolvimento local, segundo bem salientou Buarque (2002).
De acordo com Santos (2005), o desenvolvimento local pode ocorrer em reas e
setores que seguramente apresentam vantagens competitivas a serem desenvolvidas ou
exploradas com base em suas potencialidades, desde que sejam criadas externalidades
28
adequadas. Entretanto, preciso destacar que os setores e as atividades econmicas mais
simples e atualmente no competitivas, devem ser estimulados a alcanar a produtividade e a
qualidade, de forma a se tornarem competitivas em mdio e longo prazo. A construo da
competitividade nos espaos locais aumenta a importncia e a necessidade do estado como
organizador dos investimentos, que visam s externalidades, com destaque especial para a
educao.
Para Raffestin (1993), espao e territrio no correspondem ao mesmo valor
geogrfico, pois o territrio se forma a partir de um determinado espao, construdo por
qualquer ator; j o espao dado, ou seja, um local de possibilidades que o ator pode praticar
ou manifestar sua inteno de se apoderar dele. Ainda nas palavras de Raffestin (1993), o
espao representado pelo modo de produo e suas utilidades sociais, construdas nas
relaes de poder de cada sistema topogrfico. Os indivduos ocupam pontos no espao de
maneira econmica, politica, social e cultural. Esto distribudos de forma aleatria, regular
ou concentrados e organizados por um campo de operao, de acordo com sua estrutura e suas
relaes de poder neste territrio. Este territrio produzido no espao possui um limite, que
manifestado em uma determinada rea em que preciso delimitar as operaes de acordo com
as relaes estabelecidas entre o espao e os atores envolvidos.
O mesmo autor comenta, ainda, que os atores agem de modo a manter as relaes de
poder, assegurando funes de controle e influncias sobre os demais envolvidos na rede de
organizao territorial e diante de um conjunto de fatores econmicos, polticos, sociais e/ou
culturais, combinados por mudanas no arcabouo social e diante de um domnio do espao e
das relaes de poder daquele sistema territorial. Logo, a construo do territrio nasce a
partir de relaes de espao, sociedade e tempo do vivido territorial e, sobretudo por
intermdio de um sistema de relaes existenciais/produtivas. Os atores, com seus
comportamentos associados organizao do espao, a sociedade em que estes se manifestam
em todas as escalas espaciais, sociais e tecidas pelas relaes de poder, e a conduta adotada
por cada sujeito em posse de um territrio, compem o senso de identidade, de exclusividade
e de interao humana no espao, concebendo a territorialidade deste sujeito, ligada no espao
homem-meio (RAFFESTIN, 1993).
Com base nos estudos de Raffestin (1993), Santos (1996) destaca o espao geogrfico
como uma ordem tcnica cientfica informacional, por meio das aes globalizadas,
constituindo uma razo global e uma razo local. Estas razes no espao globalizado
transportam o universal ao local, atravs da transformao e interveno de interesses
29
unilaterais, que afetam a sociedade e seu territrio, resolvendo aspectos socioeconmicos
globalizados, mas, agravando outros, como problemas sociais e locais territorializados.
Santos (1996) comenta, ainda, que a ao globalizada ou apenas espaos de
globalizao se associam a normas de espacializao em diversos pontos informacionais,
como os pontos econmicos, sociais, polticos e culturais, aes percebidas enquanto
desterritorializadas, pois o mundo um conjunto de possibilidades, estando sujeito s
oportunidades e s condies locais. Em suma, o espao globalizado depende das
virtualidades do lugar, agindo como norma neste espao territorial. A ordem local prima os
parmetros de socializao com base no cotidiano, localmente vivido, reunindo a
comunicao interna dos envolvidos, enquanto a ordem global desterritorializada, constituda
de um espao de fatores externos, prima informao, com parmetros de razo tcnica e
operacional, externas escala do cotidiano. Contudo, cada lugar , ao mesmo tempo, objeto
de uma razo global e de uma razo local, convivendo e defrontando com o mundo, de acordo
com a sua prpria ordem.
Para Haesbaert (2001), a territorialidade ou territrios so vistos como uma
localizao num espao fsico, com identidade cultural e controle espacial onde vivem,
conforme suas relaes de poder e estratgias identitrias, divididas entre suas relaes
polticas, econmicas, culturais e sociais, ordenadas no espao local no qual o individuo est
inserido. A partir do momento em que ocorre a desmaterializao das relaes sociais do
individuo, surge o enfraquecimento das identidades territoriais, onde a lgica territorial que
mais delimitada e fixa incide para uma lgica mais flexvel ou de rede, no se limitando
apenas ao territrio, mas ultrapassando seus limites e fronteiras, definido, por Raffestin
(1993), como desterritorializao, entendida enquanto uma superao do espao pelo tempo.
, pois, nestas relaes de poder que se estabelecem a luta pela terra e as analogias
envolvendo os aspectos referentes sucesso da gesto.
2.3 Reforma Agrria e Agricultura Familiar
Para Martins (2003), a Reforma Agrria num pas como o Brasil apresenta-se como
um processo de distribuio e redistribuio de terras e de correo cclica da estrutura
fundiria concentracionista. Tal fato implica em estar centrado num projeto poltico e social
de fortalecimento e expanso da Agricultura Familiar, fator que ampliar sua viabilidade,
diversificando e multiplicando os mecanismos de acesso a terra.
30
De acordo com o Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria INCRA
(2011), a Reforma Agrria o conjunto de medidas para promover a melhor distribuio da
terra, mediante modificaes no regime de posse e uso, objetivando atender aos princpios de
justia social, desenvolvimento rural sustentvel e aumento de produo. Essa concepo
estabelecida pelo Estatuto da Terra (Lei n 4504/64). Na prtica, a Reforma Agrria
proporciona, dentre outras coisas, uma democratizao da estrutura fundiria, melhoria na
renda das famlias, reduo da migrao e promoo da cidadania.
De forma diferenciada, Buarque (2002) comenta que, cada vez mais, esse local est
sendo intensamente influenciado e impactado por processos globais de mudanas econmica,
tecnolgica e institucional, que determinam seu futuro, suas dificuldades e oportunidades.
Assim, entender a localidade no desenho da economia mundial uma forma de reduo das
distncias fsicas e de quebra de fronteiras, buscando o que preconiza o desenvolvimento local
que interage e recebe influncias, dependendo das prprias capacidades dos atores locais e das
suas potencialidades.
O que a Reforma Agrria desenvolvida no pas objetiva a implantao de um novo
modelo de Assentamento, baseado na viabilidade econmica, na sustentabilidade ambiental e
no desenvolvimento territorial. Para tanto, se faz necessria adoo de instrumentos
fundirios adequados a cada pblico e a cada regio, a adequao institucional e normativa a
uma interveno rpida e eficiente dos instrumentos agrrios, o forte envolvimento dos
governos estaduais e das prefeituras, a garantia do reassentamento dos ocupantes no ndios
de reas indgenas, a promoo da igualdade de gnero na Reforma Agrria, alm do direito
educao, cultura e seguridade social nas reas reformadas (INCRA, 2011).
Para Navarro et al. (2010), a primeira expresso de Agricultura Familiar ocorreu no
ano de 1993 em um seminrio sobre polticas agrcolas realizado em Belo Horizonte,
organizado pela Confederao Nacional dos Trabalhadores da Agricultura - CONTAG, que
deveria designar aquele conjunto de produtores. Ademais, os autores evidenciam ainda que,
com a criao do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF,
em julho de 1996, a expresso Agricultura Familiar definitivamente se consagrou,
institucionalizando tal noo e delimitando, por sua vez e objetivamente, o grupo de
produtores sob sua definio.
A Lei n 11.326, de 24 de julho de 2006, sancionada pela Presidncia da Repblica,
estabelece as diretrizes para a formulao da Poltica Nacional da Agricultura Familiar e
Empreendimentos Familiares Rurais. Considera-se agricultor familiar e empreendedor
familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4504.htm
31
seguintes requisitos: no detenha, a qualquer ttulo, rea maior do que 04 (quatro) mdulos
fiscais - que varia entre cinco e 110 hectares, dependendo da localidade; utilize
predominantemente mo-de-obra da prpria famlia nas atividades econmicas do seu
estabelecimento ou empreendimento; tenha percentual mnimo da renda familiar originada de
atividades econmicas do seu estabelecimento ou empreendimento; dirija seu estabelecimento
ou empreendimento com sua famlia e, ainda, silvicultores, aquicultores, extrativistas, povos
indgenas, integrantes de comunidades remanescentes de quilombos rurais e demais povos e
comunidades tradicionais que atendam, simultaneamente, a todos os requisitos de que trata a
lei supracitada (BRASIL, 2006).
Ao longo dos anos, os Assentamentos se constituram em um tipo de consagrao da
luta a conquista da terra que logo se desdobraram em novas perspectivas: de produo,
renda, moradia e condies dignas de vida, promovendo, portanto, novas frentes que podem
ser resumidas na busca por crdito, assistncia tcnica e infraestrutura fsica, econmica e
social. Para Silva (2011), as polticas pblicas aplicadas orientao dos sistemas produtivos
dos Assentamentos Rurais devem ser direcionadas e sustentadas nos seguintes eixos: fomento,
extenso rural qualificada e em quantidade suficiente, investimento/logstica e segurana
alimentar. Dessa forma, podem conduzir a um processo de desenvolvimento econmico-
democrtico, com a participao dos assentados e das suas organizaes.
De acordo com Santos (2011), tais desafios so considerados grandes, embora, em
termos tecnolgico-produtivos, j exista bastante acmulo para o desenvolvimento de
tecnologias apropriadas Agricultura Familiar no Brasil. O maior deles reside no processo de
capacitao e formao dos agricultores e agricultoras. Por isso, a gesto, como
desenvolvimento local, precisa ganhar amplitude de cobertura das necessidades e deficincias
nos Assentamentos Rurais, exigindo mtodos adequados para cada regio e/ou localidade,
traando medidas de permanncia do homem no campo, como empresrio rural e no apenas
como assentado.
Neste sentido, Sangalli (2013) evidencia que a Nova Poltica de Assistncia Tcnica e
Extenso Rural - ATER prioriza aes educativas, as quais devem ser desenvolvidas de forma
participativa e direcionadas para os agricultores familiares tradicionais ou de Assentamentos
rurais. E, ainda, que papel dos tcnicos a socializao de tecnologias apropriadas,
especialmente em associaes, cooperativas ou grupos informais que so mediadores na busca
de melhorias tecnolgicas, gerenciais ou de outra natureza. Os produtores rurais podem
participar de um sistema de cooperativismo, composto de cooperativas locais, vinculadas
Organizao das Cooperativas de cada Estado OCE, esta afiliada Organizao das
http://reformaagrariaemdebate.blogspot.com.br/2011/01/modo-de-producao-assentamentos-rurais.html
32
Cooperativas do Brasil OCB e tambm s associaes locais ou setoriais, representadas por
Federaes Estaduais ou mesmo Nacionais, segundo bem salientou Arajo (2010).
Conforme descrio de Tsukamoto e Asari (2003), o INCRA afirma que a
caracterstica principal do programa de Assentamento a criao de novas pequenas
propriedades em terras que, na maioria das vezes, se encontram totalmente ociosas ou com
baixa utilizao na produo agrcola. O Assentamento significa, portanto, a incorporao de
novas terras ao processo produtivo do pas, com a consequente criao de empregos e
distribuio de renda, beneficiando a camada de pequenos agricultores que forma a clientela
tpica da Reforma Agrria e do INCRA, um processo muito importante no contexto de
desenvolvimento do pas.
Nas concepes de Batalha (2012), a gesto dos empreendimentos rurais est
relacionada a vrias adversidades especficas do campo, como: a sazonalidade da produo, a
perecibilidade dos produtos, as variaes climticas, os preos dos produtos agrcolas, a
gerao de informaes, a tomada de deciso, o planejamento e controle da produo, a
logstica, a cultura e a capacitao do produtor, a assistncia tcnica, a extenso rural, as
finanas, os custos e a contabilidade. Enfim, como todas as empresas que possuem suas
peculiaridades, destacando a importncia do planejamento na gesto rural.
Para atingir o equilbrio no empreendimento rural de pequeno porte, a propriedade
deve ser encarada como uma empresa. Assim, aspectos como: a capacitao gerencial, a
adequao tecnolgica e o desempenho econmico devem estar atrelados cadeia produtiva,
aos seus canais de distribuio e s necessidades dos consumidores, reforando a ideia de que
a mudana de postura dos produtores rurais ocorrer por meio de estratgias com base nos
recursos disponveis no empreendimento, na vocao do produtor e nas condies de
mercado. Em sntese, Bergamasco e Norder (1996) destacam que o Assentamento Rural
uma das formas objetivas de se fazer reforma agrria, acreditando eles que, de maneira
genrica, os Assentamentos Rurais podem ser definidos como a criao de novas unidades de
produo agrcola, por meio de polticas governamentais, visando equalizao do uso da
terra em benefcio de trabalhadores rurais sem-terra ou com pouca terra.
2.4 Gesto e Processos Sucessrios
De acordo com Fennell (1981), em geral, os termos herana e sucesso so usados
alternadamente, sendo que a herana refere-se transferncia de ativos de negcios e a
33
sucesso corresponde entrega da gesto e controle da propriedade. Sendo questes
importantes tanto para a estrutura da agricultura como para os formuladores de polticas
rurais, muitas vezes, passam a serem negligenciadas em seu campo socioeconmico. A
preocupao do autor para com a comunidade europeia, em virtude do envelhecimento dos
proprietrios e das perspectivas incertas no campo, considerando que as informaes e as
prticas de sucesso conduzem formulao de novas politicas pblicas rurais.
Burton e Walford (2005) destacam os estudos realizados no sudeste da Inglaterra,
abordando a sucesso mltipla dos agricultores familiares, ao demonstrarem que os fatores
que influenciam na sucesso esto centrados em torno da estrutura dos aspectos sociais e de
negcio da unidade familiar, como o grau em que os membros da famlia podem trabalhar
juntos como uma unidade e em que medida tal fato previsto e planejado. Outro fator de
importncia, destacado pelos autores, o tamanho da propriedade, um indicador relevante
para o potencial da sucesso nas propriedades rurais.
Gasson e Errigton (1993) descreveram que a formao de futuras geraes de
agricultores composta por trs partes: a sucesso profissional, isto , a passagem da gerncia
do negcio, do poder e da capacidade de utilizao do patrimnio para a prxima gerao; a
transferncia legal da propriedade da terra e dos ativos existentes; e a aposentadoria quando
cessa o trabalho e o poder da atual gerao sobre os ativos que compe a unidade produtiva.
Inwood e Sharp (2012) em pesquisa sobre a interface urbano-rural, a adaptao
agrcola e a sucesso para agricultores familiares nos municpios de Midwestern, regies
metropolitanas de Columbus, Ohio e Michigan, nos Estados Unidos, destacam que a relao
de existncia de um sucessor na propriedade rural cria oportunidades para a reestruturao da
empresa agrcola, por meio de novas diversificaes e expanses, trazendo novas habilidades,
conhecimentos e inovaes, com o desejo de garantir a transferncia intergeracional, bem
como os comportamentos estratgicos de negcios. Salientam, ainda, os autores que, caso o
herdeiro esteja presente na propriedade rural, visualiza-se a necessidade de maximizar a
receita para acomodar os membros da famlia adicional, devendo explorar maneiras de
expandir a capacidade produtiva da propriedade, por meio da ampliao de terras ou atravs
do aumento da produo existente, como a expanso do gado e/ou gros.
Em uma pesquisa realizada na Estnia, Grubbstrom e Soovali-Sepping (2012)
ressaltam que a transferncia de terras para a prxima gerao inclui os ativos tangveis e
intangveis, envolvendo as partes fsicas como terrenos e casas e os ativos intangveis
como os conhecimentos da explorao especficos da Agricultura Familiar que implica nos
valores emocionais e sentimentais associados a terra e que podem influenciar na sucesso da
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propriedade. De acordo com os autores, a questo de gnero outro fator relevante na deciso
sobre quem pode ser designado como o sucessor na propriedade, conforme a relao entre
homem e mulher e seu acordo sobre diferentes tipos de atividades e reas dentro da
propriedade, criando estabilidade sobre os planos futuros e gesto da mesma, com
predominncia, muitas vezes, masculina.
Propriedades rurais que no possuem herdeiros e/ou sucessores entram em um estado
esttico em seu crescimento e desenvolvimento de estratgias dos negcios, no exercendo
nenhum tipo de investimento. Porm, algumas podem at continuar a gerir o mix atual da
empresa, permanecendo com as terras e demais estruturas. Em alguns casos, a tomada de
deciso impede novas melhorias infraestrutura, caso ocorra o encerramento das atividades,
podendo vender e/ou leiloar as propriedades, em virtude da trajetria de declnio, ligadas
falta de um sucessor/herdeiro e estagnao do desenvolvimento das empresas, conforme
afirmam os estudos de Inwood e Sharp (2012).
Pode ser evidenciada em estudos realizados em propriedades rurais na Sucia, por
Hansson et al. (2013), a influncia da famlia para a diversificao dos negcios, sendo ela
considerada essencial para melhorar o crescimento econmico rural, o emprego e a migrao
dos produtores. Ressaltam, ainda, os autores que a pluriatividade do agricultor em buscar
atividades geradoras de renda e em operaes no agrcolas proporciona maior estabilidade e
meios de subsistncia para ele e sua famlia. So apresentados, tambm, estratgias de
diversificao, como: desenvolvimento de novos produtos para os mercados existentes,
produtos em novos mercados e servir novos mercados com novos produtos, por meio de
recursos das atividades agrcolas existentes. Assim, a diversificao da explorao agrcola
pode ser vista como uma resposta criativa e uma forma de inovao concebida pelo agricultor
aos membros da famlia e ao futuro da gesto da propriedade, de acordo com suas
caractersticas pessoais e satisfao de vida.
Para Ricca (2007), as empresas familiares sofrem grandes problemas no que concerne
sucesso. Por isso, devem ser planejadas com muita antecedncia e implementadas de forma
gradual, pois, quando isso acontece, suas chances de xito so maiores. Muitas vezes, a falta
de profissionalizao em nvel de gesto aumenta o risco de descontinuidade, onde o sucesso
e a continuidade das empresas esto pautados nos dilemas das mudanas na organizao, na
famlia e na distribuio da propriedade em que a atuao do responsvel patriarcal seja mais
profissional, refletindo a exatido do mundo real.
De acordo com Costa (2006), a anlise de empresa/famlia passa pelo processo
sucessrio, pela gesto empresarial determinada pela relao familiar, pela participao de
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esposa e filhos, seus valores e aptides e pelo grau de envolvimento e atuao dos membros
com o negcio. O planejamento da sucesso deve ser isento, o quanto possvel, de emoes,
pois o ponto em questo a continuidade da atividade, devendo a escolha do sucessor ser
marcada com os mesmos objetivos da empresa.
Brumer (2007) considera que a sucesso geracional na Agricultura Familiar no
apenas para os participantes da famlia envolvida, mas tambm reproduo dessas unidades
de produo, ao meio social das reas rurais e estrutura do setor. Segundo o autor, alguns
fatores das perspectivas de sucesso so identificados, como: a localizao do
estabelecimento e sua proximidade com as regies mais desenvolvidas; a idade do pai, do
qual depende a transferncia do poder e da propriedade; e o tamanho do estabelecimento.
Em qualquer empreendimento familiar, neste caso, na Agricultura Familiar, as
questes sucessrias exigem do negcio a continuidade do carter familiar da gesto e do
trabalho. Por isso, na maioria dos casos, quando se possui mais de um sucessor, os conflitos
geracionais aparecem de forma direta de uma gerao para outra, pois, dependendo do
tamanho da propriedade, no se permite a viabilidade econmica s futuras geraes
(ABRAMOVAY et al., 1998).
Para Kiyota et al. (2012), a organizao das responsabilidades e atividades em
determinadas etapas da produo faz com que os sucessores conheam mais o processo e
possam aperfeioar continuamente suas funes, integrando os jovens na tomada de decises
e na gesto das atividades da unidade de produo, como o planejamento das
responsabilidades que os preparam para a sucesso futuramente. Mas, tudo isso, de acordo
com Spanevello (2012), se encontra em poder do pai, que detm o comando da gesto da
propriedade. Mesmo diante de o filho estar preparado para suced-lo, o responsvel deve agir
para que acontea a transferncia da sucesso.
O interesse para a sucesso ou no est relacionado a diferentes inseres com o
trabalho familiar e a propriedade, podendo acontecer de maneira veemente intensa, mas, por
outro lado, existe um total desinteresse por parte dos envolvidos. Vrias situaes so citadas
por Stropasolas (2013), dentre elas: filhos que so designados a sucessores; filhos que no
demonstram e no pretendem assumir a propriedade, recusando-se a suceder aos pais e, at
mesmo, seu estilo de vida; e filhos que demonstram interesse pela continuidade das atividades
no campo, porm, se esbarram em outros fatores, tais como terras insuficientes e capitais
financeiros escassos, favorecendo a migrao do campo para a cidade para no comprometer
a reproduo familiar.
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Quando se trata da questo de gnero na sucesso familiar, compartilhando os estudos
de Brumer e Anjos (2012), Stropasolas (2013) comenta que o filho homem, perante o pai, se
destaca entre as atividades no campo. Por outro lado, a mulher envolvida em atividades
domsticas e incentivada aos estudos, rompendo com a possibilidade de permanecer no meio
rural, de forma a recebendo apenas sua parte de herana conforme a lei, mas desvinculada da
unidade produtiva. A escolha do sucessor assegura a continuidade da unidade de produo e a
permanncia do grupo familiar no campo, diferindo-se dos sistemas de reproduo cultural,
social e econmico, conforme a hierarquia interna das famlias, segundo bem evidenciou
Carneiro (2001).
Abramovay et al. (2004) destaca que a transmisso e as perspectivas da sucesso
profissional interferem nos comportamentos gerenciais e produtivos de qualquer empresa
familiar. Porm, as unidades produtivas sem sucessores dificilmente contaro com novos
investimentos e melhorias, pois esta situao uma ameaa continuidade e encontra-se
inibida no s por razes econmicas, mas, tambm, pela natureza da relao entre as
geraes e os gneros, estimulando os jovens a buscar diferentes alternativas de vida.
Segundo Costa (2006), o processo sucessrio passa por trs momentos distintos.
Inicia-se com o momento dos primeiros conflitos, onde o pai encara a decadncia e o sucessor
entra no negcio. O segundo momento o da harmonia: o pai se sente mais tranquilo e age
como gestor do sucessor e trabalha em conjunto com o filho. No terceiro momento, o pai
passa a ter medo de perder o controle e a resistncia de abrir mo da gesto do negcio, a
fase crtica de possuir um sucessor preparado para assumir seu lugar, mas que se esbarra na
dificuldade do responsvel passar o seu negcio adiante.
Segundo Abramovay et al. (1998, p. 66), o [...] processo sucessrio na Agricultura
Familiar est articulado em torno da figura paterna, que determina o momento e a forma da
passagem das responsabilidades sobre a gesto do estabelecimento para a prxima gerao.
Dentre as diversas unidades de produo adotadas na propriedade, sejam elas de monocultura,
criao de animais, entre outros, Stropasolas (2013) aponta que os sistemas de produo
diversificados (combinao de duas ou mais exploraes) so os que contribuem
permanentemente para o envolvimento de todos os membros da famlia nas atividades rurais,
incluindo a fora de trabalho dos filhos na execuo das tarefas, aumentando a participao
nas decises da unidade familiar, promovendo o interesse dos jovens, bem como a renda e as
responsabilidades sobre o uso da terra.
O mesmo autor aponta, ainda, que o desejo dos agricultores em transferir a
propriedade aos filhos est relacionado diretamente ao paradoxo de suas escolhas, que permite
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oportunizar aos jovens a tradio de seus antepassados ou a necessidade de buscar alternativas
melhores de vida na cidade. Em virtude da falta de oportunidade e autonomia financeira nas
geraes atuais no campo, podem ocorrer conflitos no processo sucessrio, margeando a
contribuio de motivao dos filhos na no permanncia, com maior nfase entre as
mulheres.
Outro fator gerencial de relevncia para o processo de sucesso a delegao de poder
por parte do responsvel pela propriedade, que um dos momentos mais complexos do
processo de gesto no campo. Mas, por outro lado, a nica forma de avaliar e motivar o futuro
sucessor dos negcios ressaltar que, estilos de gestores conservadores e centralizadores nas
tomadas de decises corroboram para problemas de sucesso familiar, que acabam
engessando a criatividade e a soluo de problemas na propriedade. Caso a sucesso
profissional no se concretize, devido resistncia de mudanas, a falta de comunicao
adequada e os embates entre responsvel e futuro sucessor podem levar a organizao
falncia e morte empresarial no ciclo de vida dos negcios, conforme apontou Brumer
(2007).
Logo, foram realizados, neste estudo, levantamentos de pesquisas relacionados
sucesso e permanncia dos jovens na Agricultura Familiar, mais precisamente em Projetos
de Assentamentos localizados no estado de Mato Grosso do Sul. No entanto, poucos estudos
foram encontrados nessa temtica. O primeiro deles, Dotto (2011) realizou estudos nos
Projetos de Assentamentos Campanrio, no Municpio de So Gabriel do Oeste, Conquista,
em Campo Grande, e Guariroba, em Terenos. O autor buscou analisar os fatores de influncia
na permanncia dos jovens no campo e/ou sua migrao pra outras atividades. Visando
compreender os parmetros de vida do jovem e sua participao nessa dinmica, os
responsveis da famlia no foram ouvidos nesta pesquisa, pois o objetivo principal foi
identificar os elementos que condicionam o jovem a permanecer ou no no campo, atribudos
como consequncia ao xodo rural juvenil, em virtude da busca de lazer e demais alternativas
de cidade na cidade. Foram pesquisados apenas os jovens da famlia, com o intuito de analisar
a sua permanncia no campo, e no os responsveis da famlia como nesta pesquisa.
O estudo de Facioni (2013), realizado no Projeto de Assentamento Capo Bonito I, no
Municpio de Sidrolndia, buscou apurar as intenes de sucesso na famlia com o pai, a me
(cnjuge) e tambm com os prprios jovens (possveis sucessores) que se fizeram presentes
no momento da entrevista. O autor buscou apontar o percentual de possveis sucessores e
quais eram as dificuldades de suas permanncias no campo, objetivando verificar as
perspectivas de permanncia ou sada dos jovens do meio rural e a avaliao do pai enquanto
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fator decisivo no processo de sucesso, onde, a no participao dos jovens nas decises e nas
atividades do campo, aliados renda, contribuem para que eles fiquem ou no na propriedade.
De acordo com Lodi (1987), a famlia, mais precisamente o fundador e/ou gestor da
propriedade, o principal responsvel pelas futuras geraes no negcio. nele que se
concentra a sobrevivncia da empresa, bem como suas relaes e a maturidade de superar os
desafios na fase de sucesso. A gesto familiar, para Ricca (2007), deve acontecer em longo
prazo, no misturando as relaes afetivas de famlia com a gesto da propriedade, sendo que
o acesso dos membros da famlia para a sucesso do comando depender da motivao e
interesse do mesmo. Porm, o tomador de deciso dever realizar o planejamento de formao
da sucesso dos lderes, de acordo com os interesses e a satisfao das necessidades pessoais
de seus membros.
A sucesso empresarial, por ser um tema delicado de ser tratado, deve ser conduzida
com muita habilidade pelo responsvel da famlia, ato que deveria ocorrer na propriedade
enquanto o gestor goza de condies plenas de sade fsica e mental, com o controle e poder
da empresa, consolidando a sucesso de forma gradual e efetiva. Com uma viso de empresa
familiar, Costa (2006) comenta que a explorao econmica de bens e servios voltada
satisfao das necessidades humanas e da constituio de espao de funcionalidade, realizada
por meio das divises das atividades, difere do contexto famlia, que envolve os laos afetivos
e o objetivo de procriao.
O processo de sucesso um perodo muito delicado dentro da organizao, conforme
aponta Lodi (1987), e que, para Costa (2006), deve ser conduzido adequadamente, caso
contrrio, em virtude de renovao ou finalizao das atividades, um dos maiores desafios
saber quando, para quem e como deve ocorrer. Lembrando que, quanto mais cedo for a
integrao do proprietrio e sucessor, melhor ser a adaptao e tempo suficiente para
correes futuras no rumo dos negcios, delegando, gradualmente, as responsabilidades e o
comando de forma que o fundador tenha sua sada gradativa e efetiva.
A sucesso nas propriedades deve ser preparada ainda quando os filhos so pequenos,
sendo necessrias algumas medidas que antecedem as fases do processo sucessrio. Logo,
Lodi (1987) cita trs grupos que esto ligados diretamente formao dos futuros sucessores:
a formao de base dos sucessores: inicia no bero, a base do futuro sucessor, atribudo na
educao que recebe da famlia e na vocao despertada pelo trabalho da propriedade; o seu
plano de desenvolvimento: o sucessor deve possuir total conhecimento do negcio, bem como
do processo produtivo, do ambiente que est inserido, da sociedade no mbito cultural, social
e poltico; as medidas de carter organizacional e jurdico: a preparao do ambiente para o
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futuro sucessor, no que se refere s adequaes estruturais e passagem de gesto da
propriedade.
Uma nova realidade de mudanas nos padres de sucesso na Agricultura Familiar
est sendo introduzida na atual conjuntura do campo. De acordo com os estudos de Carneiro
(2001), so atribudos alguns fatores para o melhor andamento deste processo, como: a
disponibilidade de terras suficientes sustentao da famlia, a mecanizao iniciada no ano
de 1960, a reduo da mo de obra na produo e a forte atrao dos valores urbanos sobre os
jovens para o trabalho assalariado.
Para Lodi (1987), possuir viso empresarial em uma empresa familiar gerir o
negcio com estilo prprio, ter vocao, coragem, talento e capacidade de enfrentar os
desafios de maneira gerencial. Pois, quando atingir determinada idade e/ou no estar em
plenas condies para tocar a propriedade, alternativas devem ser tomadas para o andamento
do processo produtivo, que poder acontecer com a sucesso de um membro da famlia e/ou
ter algum de fora da famlia para dar continuidade, ou seja, um arrendatrio, por exemplo, ou
vender a propriedade, possibilidades que o responsvel dever ter em evidncia em sua
trajetria empresarial.
A tomada de deciso e a responsabilidade da propriedade podem ser compreendidas
pelo processo de trabalho onde haja um chefe de famlia, um pai e/ou responsvel que toma
decises sobre o uso da terra e demais atividades de emprego e comercializao dos produtos.
Porm, o chefe de famlia vai, alm disso, integrando toda a famlia no trabalho e a sua
participao nas decises, como bem ressaltou Almeida (1986).
Seguindo o pensamento de Almeida (1986), de acordo com Carneiro (2001, p. 24),
[...] o pai responsvel pela manuteno do grupo familiar, com as responsabilidades de
zelar por este patrimnio coletivo, cuidando de transmiti-lo s demais geraes. Logo,
processos de sucesso sem planejamento contribuem para o desaparecimento das empresas
familiares. Por isso, a necessidade de se elaborar um planejamento estratgico de longo prazo
para a gesto da sucesso de grande importncia para a continuidade da propriedade e para
os negcios. E, ainda, conforme enfatiza Ricca (2007), isso deve comear no bero familiar,
atribuindo os conhecimentos das atividades de operaes e em seguida a sua hierarquia
organizacional aos futuros sucessores.
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2.5 Polticas Pblicas de Apoio ao Pequeno Produtor
Vrios so os programas e as aes realizados pelo Governo Federal, por meio do
Ministrio de Desenvolvimento Agrrio - MDA juntamente com a Secretaria da Agricultura
Familiar - SAF, para o fortalecimento e apoio aos pequenos produtores. Dentre os quais, o
acesso ao crdito rural, a assistncia tcnica, a gerao de renda, a agregao de valor, entre
outros que contribuem e promovem o desenvolvimento da Agricultura Familiar no pas, nos
estados e municpios.
O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF, criado
em meados de 1996, financia projetos individuais ou coletivos, que geram renda aos
agricultores familiares e assentados da reforma agrria. O programa discute sobre a
necessidade do crdito, seja ele para o custeio da safra ou atividade agroindustrial,
investimento em mquinas, equipamentos ou infraestrutura de produo e servios
agropecurios ou no agropecurios e, ainda, o Pronaf Mulher, Pronaf Jovem, Pronaf
Agroindstria, Pronaf Eco, Pronaf Floresta, Pronaf Agroecologia, entre outros.
Ao fazer uso da linha de crdito, a famlia deve procurar o sindicato rural ou a empresa
de Assistncia Tcnica e Extenso Rural - ATER e/ou Empresas de Assistencia Tcnica e
Estenso Rural de cada Estado - EMATER para obteno da Declarao de Aptido ao Pronaf
- DAP, que ser emitida segundo a renda anual e as atividades exploradas, direcionando o
agricultor para as linhas especficas de crdito a que tem direito (BRASIL, 1996).
Diante do contexto da Poltica Nacional de Assistncia Tcnica e Extenso Rural -
PNATER, foi construda, em parceria com as organizaes governamentais e no
governamentais de Assistencia Tcnica e Extenso Rural e a sociedade civil organizada e
instituda pelo Governo Federal em 2003, atravs do Programa Nacional de Assistncia
Tcnica e Extenso Rural - PRONATER, princpios do desenvolvimento sustentvel,
incluindo a diversidade de categorias e atividades da agricultura familiar, considerando
elementos como: gnero, gerao e etnia e o pa
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