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CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico
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Tema – Sindicalismo
Projeto Pós-graduação
Curso MBA em Recursos Humanos
Disciplina Relações Trabalhistas e Sindicalismo
Tema Sindicalismo
Professor Silvano Alves Alcantara
Introdução
No tema de hoje abordaremos o sindicalismo, regulado pelo Direito
Coletivo do Trabalho, tratando, assim, das entidades sindicais, de suas
composições e formas de atuação.
Na sequência, acompanhe o vídeo de introdução do tema com o
professor Silvano no seu material digital.
Bons estudos!
Problematização
Certo empregado aderiu à greve organizada pelo sindicato de sua
categoria dentro dos parâmetros legais. Seu empregador, revoltado,
dispensou-o por justa causa, alegando que o fato de ter aderido à greve
poderia ser considerado como falta grave.
Considerando essa situação hipotética, quais as possíveis análises a
serem feitas?
Antes de responder a esse questionamento, acompanhe o
conteúdo apresentado a seguir e reflita sobre a melhor resposta. Essa
situação será apresentada novamente adiante.
Autonomia e Liberdade Sindical
As garantias trabalhistas previstas na Constituição da República de 1988
alcançam, também, a esfera coletiva, que define a liberdade de associação
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tanto para o empregado quanto para o empregador.
Junto ao direito coletivo vem, em primeiro lugar, mais um direito
individual, o de livre associação, que permite ao empregado ingressar em sua
entidade representativa de classe.
O caput do art. 8º, CF, determina que é livre a associação profissional ou
sindical, deixando o entendimento de que se trata somente de associação
relativa ao empregado ou às categorias profissionais.
Acreditamos, porém, que é somente uma afirmação para que se tenha
como reforço essa garantia, pois a liberdade de associação é também dada à
classe econômica, ou seja, dos empregadores, como veremos a seguir.
E como é exercida essa liberdade?
Primeiramente, já no inciso I do art. 8º, o ditame constitucional se dá no
sentido de assegurar a abertura de qualquer sindicato, sem que seja
necessária a autorização do Estado. É claro que se está falando de autorização
especial, pois deverá, como qualquer outra associação, ter o registro de seus
atos, incluindo-se os constitutivos, devidamente registrados no órgão
competente, dando publicidade sobre aquilo que faz a toda a sociedade de
maneira geral.
Ainda, o mesmo inciso veda categoricamente a interferência e a
intervenção do Poder Público nas entidades sindicais. Aqui, deixamos claro
que, como em qualquer outra situação, existe a condição de que tais entidades
estejam atuando dentro dos parâmetros legais.
Fica evidenciado, dessa forma, que o Poder Público não poderá criar
qualquer obstáculo para que seja constituída uma entidade representando
determinada categoria profissional, ou econômica, nem fazer qualquer tipo de
ingerência em sua gestão, desde que essa entidade esteja atuando dentro da
legalidade.
Logo na sequência, em seu inciso V há a determinação de que ninguém
será obrigado a se filiar ou a se manter filiado a qualquer sindicato. Sendo
assim, as negociações coletivas são efetuadas com o objetivo de determinar
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melhores condições de trabalho para as categorias envolvidas.
Em relação à classe de trabalhadores, tudo o que for decidido nas
negociações coletivas incorporará todos os contratos individuais de trabalho, se
um ou outro trabalhador já não tiver situação melhor.
Estamos falando em categoria, portanto, em grupos de trabalhadores.
Isso independe, por conseguinte, de associação à entidade de classe.
No vídeo a seguir, disponível no material digital, teceremos algumas
explicações sobre a garantia dada a todos os trabalhadores, que pertençam a
determinada categoria, de terem os mesmos direitos conseguidos por sua
associação de classe, independentemente de sua filiação.
Sabemos que é livre a associação nas entidades de classe, podendo e
querendo o participante de determinada categoria ingressar nos quadros de
seu sindicato, permanecer durante o período que queira e sair quando assim
entender.
Aquele que participa diretamente de seu sindicato terá privilégios em
relação aos não participantes. Assim é em toda e qualquer associação que
beneficiará seus associados. Até mesmo o aposentado filiado terá o direito de
assim continuar, podendo votar e ser votado nas organizações sindicais.
Cada entidade de classe, em qualquer nível, deverá ser comandada por
integrantes daquela classe. Os dirigentes serão escolhidos em chapas
compostas por vários cargos, desde o candidato a presidente até os suplentes
de cada cargo, em eleições especialmente convocadas para esse fim.
E o empregado eleito como dirigente sindical? Ele perde o vínculo
empregatício com o seu empregador? Quem paga seu salário?
O Decreto Lei n. 5.452/1943 (CLT) determina, em seu art. 543, que o
empregado eleito para cargo de administração ou de representação
profissional não poderá ser impedido de exercer suas funções, muito menos
ser transferido para local que lhe seja impossibilitado ou mesmo que dificulte o
seu desempenho como tal. É claro que se a transferência for por ele solicitada,
ou mesmo aceita, perderá o mandato.
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O parágrafo 2º do mesmo artigo define como licença não remunerada o
tempo em que o empregado com funções sindicais precisar se ausentar do
trabalho para desempenhar suas funções. Esse é um caso típico de suspensão
do contrato de trabalho, no qual há paralisação do trabalho e o empregador
não está obrigado a remunerar o empregado.
Completa o inciso que, então, salvo assentimento da empresa ou
cláusula contratual que disponha de maneira distinta, o empregador
remunerará o empregado. Ou seja: se o empregador consentir, ou se houver
alguma cláusula contratual que determine o contrário, o empregado receberá
seu salário normalmente, mesmo não havendo trabalho.
O empregado continuará, portanto, com o vínculo empregatício junto a
seu empregador, que terá a obrigação de remunerá-lo, mesmo que não preste
seus serviços diretamente, pois estará a serviço da classe, continuando com os
mesmos direitos e devendo retornar posteriormente.
Existem, assim, três possibilidades: o empregador o remunera
integralmente, o sindicato o remunera integralmente ou ambos remuneram
parte do salário do empregado com funções sindicais, para que ele não tenha
prejuízo algum.
Ao dirigente sindical, mesmo se for suplente, é garantida a estabilidade
desde o registro de sua candidatura até um ano após o mandato, se eleito for.
Organização Sindical
Como falado anteriormente, as garantias trabalhistas previstas na
Constituição da República de 1988 alcançam também a esfera coletiva.
Pois bem, então o que é um sindicato? Para que é criado?
Apresentamos, a seguir, a posição sempre esclarecedora do mestre
Amauri Mascaro Nascimento (2011, p. 1.302), que assim entende: “Sindicato é
uma organização social constituída para, segundo um princípio de autonomia
privada coletiva, defender interesses trabalhistas e econômicos nas relações
coletivas entre os grupos sociais”.
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Deparamo-nos com mais uma vitória conseguida pelos trabalhadores e –
já há muito tempo – alargada também ao empregador. A voz, ou o grito, é mais
bem ouvido quando não é solitário.
Um trabalhador sozinho tem, quando muito, o poder de barganha sobre
o seu contrato individual de trabalho, mas ele faz parte de uma categoria, de
uma classe de trabalhadores. E se desunidos fossem, cada um, em princípio,
teria de defender os seus próprios interesses, ficando à mercê do empregador.
Aliás, foi assim durante um bom tempo histórico.
A partir do momento em que os trabalhadores tiveram o direito de se
associar, criando uma entidade composta por membros da mesma categoria,
com objetivos exatamente iguais e falando a mesma língua, conseguiram
inúmeras vitórias, abarcando todos os integrantes.
Em nossos dias, vemos que essas entidades de classe possuem
funções variadas. De imediato, a Constituição de 1988 informa que é obrigação
dos sindicatos a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da
categoria, defesa essa que pode acontecer nas esferas judiciais ou
administrativas. As demais funções podem ser encontradas especialmente no
Decreto-Lei n. 5.452/1943 (CLT), que define os deveres do sindicato no seu art.
514.
Podemos compreender, por assim dizer, que a função precípua do
sindicato é a defesa da classe. E, atreladas a essa grande função, outras
aparecem para complementá-la.
A função negocial é evidenciada claramente quando das negociações
coletivas, momento em que a classe de trabalhadores e a classe econômica
conferem às suas entidades representativas o poder de ajustar as melhores
condições de trabalho ou de remuneração entre si.
Tal ajuste é extensivo a toda a categoria, independentemente de
associação. E, somente para relembrar, a Lei Maior/88 reconhece as
convenções e os acordos coletivos de trabalho em seu art. 7º, inciso XXVI.
Outra função que também tem pertinência é a assistencial, no sentido de
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que são obrigados a prestar os serviços mais variados, relacionados à
educação, saúde, assistência social e jurídica, criação de cooperativas – até
mesmo de crédito –, entre outros, diretamente ou por meio de convênios
múltiplos, inclusive com o Poder Público.
Entre as funções do sindicato, ainda encontramos a de arrecadação,
sendo aquela que dá o direito à entidade de cobrar da categoria os valores
necessários para que possa, acima de tudo, representá-los mais
condignamente e também para lhes proporcionar uma assistência mais eficaz.
E, se a defesa dos interesses de toda a categoria é encargo do
sindicato, poderiam ser criados tantos sindicatos quantos os interessados
quiserem?
Voltamos à abordagem que já fizemos anteriormente acerca de que
mais forte será e mais poder de negociação terá aquele que, unido com os
seus pares, falar e reivindicar os mesmos direitos. Se os trabalhadores se
reunirem em associação legalmente constituída para esse fim, terão esse
respaldo, pois assim estarão fortalecidos.
Pensando ainda em união, não seria prejudicial que essas associações
se fragmentassem, não seria uma divisão de forças – tanto para uma quanto
para outra categoria – profissional ou econômica?
Com esse pensamento, a Constituição de 1988 determinou a vedação
da criação de mais de uma organização sindical, de qualquer grau, que
represente a mesma categoria dentro da mesma base territorial, não podendo
ser esta inferior à área de um município. É a aplicação do princípio da
unicidade sindical – ou do sindicato único, como queiram alguns.
Quando a Constituição fala em “qualquer grau”, também surge certa
dúvida, que esclarecemos. A legislação subdivide as associações sindicais em
sindicatos, federações e confederações, criando um verdadeiro sistema, cada
uma com suas tarefas específicas, mas todas voltadas para o mesmo interesse
comum: o melhor para aquela(s) classe(s) que representam.
As federações podem ser criadas a partir de um número mínimo de
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cinco sindicatos que representem a maioria absoluta de um grupo de atividades
ou profissões idênticas, similares ou conexas, sendo faculdade dos sindicatos a
sua instituição.
Em princípio, as federações devem ser criadas no âmbito de cada
Estado-membro, podendo eventualmente englobar mais de um Estado, ou até
mesmo existir em nível nacional. Já as confederações podem ser criadas
quando três ou mais federações assim decidirem, ficando a sua sede
obrigatoriamente na capital da república.
As federações e as confederações são denominadas associação sindical
em grau superior.
E como sobrevivem as entidades de classe?
Já falamos na função de arrecadação que as associações também
possuem. E aqui vamos procurar dirimir outra grande dúvida que paira em
relação à obrigatoriedade das contribuições dos membros da categoria aos
seus sindicatos.
Sabemos que vários tipos de contribuições são criados pelos ou para
sindicatos, entre eles temos: a contribuição sindical, a assistencial e a
confederativa. E quem se obriga a pagá-las? Todos aqueles que fazem parte
da categoria ou somente os associados?
Boas perguntas. Comecemos, então, com as previsões constitucionais.
O inciso IV do art. 8º assim define: “[...] a assembléia geral fixará a
contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em
folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical
respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei”.
Na análise do inciso em comento, podemos entender que pelo menos
duas contribuições estão em debate. Salientamos que todas essas
contribuições cabem tanto para a categoria profissional quanto para a
econômica.
A contribuição confederativa deverá ser criada pela assembleia geral,
justamente para custear todo o sistema.
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É pacífico em toda a jurisprudência dos Tribunais Regionais do
Trabalho, como também no TST, que a contribuição confederativa, desde que
instituída por convenções coletivas de trabalho, é devida, mas tão somente
para aqueles que são regularmente associados às suas entidades de classe.
Quanto a isso não existem discussões.
Com relação a isso, diz o Precedente Normativo 119 – TST:
A Constituição da República, em seus artigos 5º, XX e 8º, V, assegura o direito de livre associação e sindicalização. É ofensiva a essa modalidade de liberdade cláusula constante de acordo, convenção coletiva ou sentença normativa estabelecendo contribuição em favor de entidade sindical a título de taxa para custeio do sistema confederativo, assistencial, revigoramento ou fortalecimento sindical e outras da mesma espécie, obrigando trabalhadores não sindicalizados. Sendo nulas as estipulações que inobservem tal restrição, tornam-se passíveis de devolução os valores irregularmente descontados.
Seguindo com os tipos de contribuições, trazemos ao estudo a
contribuição assistencial, também chamada de taxa assistencial ou taxa de
reversão.
Assim como a contribuição confederativa, essa taxa deverá ser criada
por meio das negociações coletivas. Ela tem como fato gerador o sindicato ter
participado dessas negociações para, assim, poder cobrir custos adicionais
eventualmente contraídos.
Nesse caso, por mais que o sindicato tenha participado de negociações
que serão aproveitadas por toda a classe, pois a mesma Constituição de 1988
determina que é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações
coletivas de trabalho, também pela interpretação do mesmo precedente
normativo é entendida como não obrigatória para os não associados.
Trazemos, agora, o estudo do final do inciso IV: “independentemente da
contribuição prevista em lei”. Quando a previsão constitucional chama a
atenção para a contribuição prevista em lei, está se referindo à contribuição
sindical propriamente dita, também denominada de “imposto sindical”, a única
compulsória. Todos os que pertencem à categoria são obrigados a recolher
essa taxa, independentemente de associação.
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A legislação em questão é o Decreto-Lei n. 5.452/1943 (CLT), que assim
define, em seu art. 579:
A contribuição sindical é devida por todos aqueles que participarem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou profissão ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591.
Essa contribuição deverá ser paga uma vez por ano e corresponde a um
dia de salário, no caso do empregado, que deverá ser descontado diretamente
na folha de pagamento no mês de março de cada ano. Já dos profissionais
liberais ou dos autônomos será descontado um valor determinado por lei. No
caso da categoria econômica, o valor da contribuição é calculado em razão do
capital social de cada empresa. Ainda, a Consolidação das Leis do Trabalho,
em seu art. 578, quando trata da contribuição sindical, denomina-a de “imposto
sindical”.
Salientamos que a contribuição sindical é a única obrigatória e que todos
devem pagá-la, mesmo que não sejam associados a suas entidades de classe.
Você pode ver no vídeo disponível no material digital uma explicação
mais aprofundada da contribuição sindical.
Culturalmente, ainda estamos de certa forma engatinhando no
sindicalismo, por mais que ele seja reconhecido e consolidado há várias
décadas e mesmo que já tenhamos bons exemplos de que é uma base forte e
robusta para o atendimento das pretensões das categorias.
Em virtude dessa compreensão, em alguns países onde as
organizações sindicais são encaradas com maior apreço e valor, elas
determinam e autorizam cláusulas em suas convenções nas quais obrigam o
empregador a não admitir trabalhador que não seja sindicalizado (denominadas
de “closed shop”), ou mesmo demiti-lo caso saia de seu sindicato (chamadas
de “union shop”).
Negociações Coletivas
As negociações coletivas são genericamente conhecidas como tudo
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aquilo que é feito entre as entidades representativas dos empregados e
empregadores, com o intuito de determinar as condições de trabalho
pertinentes às categorias envolvidas e que, uma vez ajustadas essas
condições, vinculam todos os participantes.
De acordo com Barros (2013, p. 1.325):
[...] na negociação coletiva, nenhum interesse de classe deverá prevalecer sobre o interesse público, não podendo, entretanto, ser transacionados preceitos que resguardam a saúde do obreiro, como os relativos à higiene e segurança do trabalho, e também os que se referem à integridade moral, situando-se aqui o direito à honra, à intimidade, à boa fama, à privacidade.
As determinações acordadas nas negociações coletivas têm o poder de
normatizar toda a relação entre os grupos e incidem diretamente em todos os
contratos individuais de trabalho, salvo se algum já não possuir melhores
condições.
Delgado (2011, p. 1.277) enaltece a negociação coletiva, afirmando:
A importância da negociação coletiva trabalhista transcende o próprio Direito do Trabalho. A experiência histórica dos principais países ocidentais demonstrou, desde o século XIX, que uma diversificada e atuante dinâmica de negociação coletiva no cenário das relações laborativas sempre influenciou, positivamente, a estruturação mais democrática do conjunto social.
A CLT, em seu art. 611, trata de duas formas de normas coletivas, que
podem ser formuladas ao término da negociação coletiva. São a convenção
coletiva e o acordo coletivo de trabalho. Você verá mais sobre elas a seguir.
Convenção coletiva de trabalho
O Decreto-Lei n. 5.452/1943 (CLT) define a convenção coletiva de
trabalho, no caput de seu art. 611, como sendo:
o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho.
No entender de Carrion (2012, p. 543), a convenção coletiva prevê
direitos e obrigações para os contratos individuais em vigor ou que venham a
ser celebrados. Como se diz, é mais uma lei do que um contrato.
Vemos, pois, uma das particularidades da CCT, na qual, após uma
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negociação coletiva ocorrida entre as entidades representativas de ambas as
categorias – a profissional e a econômica –, define por meio da convenção
coletiva tudo aquilo que deverá integrar todos os contratos individuais de
trabalho relativos à classe que representam, em vigor até aquele momento,
bem como aqueles que vierem a ser celebrados.
Acordo coletivo de trabalho
A CLT, no parágrafo 1º do artigo 611, faculta às entidades da classe
representativa dos empregados a possibilidade de firmarem acordos coletivos
com uma ou mais empresas da correspondente categoria econômica, para que
possam estipular condições de trabalho que digam respeito somente a essa(s)
empresa(s) e seus empregados.
Esclarecemos que não existe hierarquia entre a convenção e o acordo,
uma vez que são normas distintas, sendo a convenção coletiva mais
abrangente, pois regula as condições de trabalho de toda uma categoria. O
acordo coletivo é mais restrito, regulando somente as condições atinentes aos
trabalhadores de determinada(s) empresa(s) e seu(s) empregador(es).
Greve
É sabido que em toda e qualquer relação conflitos podem acontecer.
Dentro de um contrato individual de trabalho, algumas situações conflituosas
podem aparecer, fazendo com que o empregado e o empregador tenham de
encontrar a melhor solução.
Na esfera da relação coletiva do trabalho, tampouco é diferente, pois
vários tipos de conflitos podem ocorrer, colocando os grupos em polvorosa.
Esses conflitos acontecem quando não se conseguiu chegar a um
denominador comum, uma vez que uma classe reivindica alguma condição e a
outra não admite.
Tida como o maior conflito existente entre os grupos, a greve já passou
historicamente por vários patamares. No princípio, era considerada atividade
criminosa, passando a ser antissocial e, gradativamente, foi sendo
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descriminalizada. Hodiernamente, a greve é encarada como direito a ser
exercido.
Garantida aos trabalhadores pela Constituição de 1988, ela está
devidamente regulamentada pela Lei n. 7.783/1989. No entanto, qualquer
trabalhador pode exercer esse direito? Será que alguns empregados de uma
determinada empresa podem, sozinhos, “entrar” em greve?
Para que esse direito seja exercido, alguns requisitos se apresentam.
Inicialmente, lembramos que estamos estudando a relação coletiva, então tudo
aqui se refere exclusivamente ao direito dos grupos, das classes. É também
salutar explicarmos como é o procedimento da greve, para que não venha a
ser “ab initio”, ou seja, desde o início considerada como ilegal.
Quando certa categoria de trabalhadores está descontente com alguma
situação relacionada ao ambiente de trabalho – quer seja de melhores
condições ou mesmo reivindicações salariais –, o caminho é a tentativa de
negociação que, no mais das vezes, acontece diretamente. E, depois, tudo ali
decidido se transforma em acordo ou convenção coletiva de trabalho.
Mas e quando isso não acontece? O que se tem a fazer? Resta aos
trabalhadores entrar em greve.
E o que é a greve?
A lei regulamentadora a define, em seu art. 2º, como sendo “a
suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação
pessoal de serviços a empregador”.
Contudo, a doutrina prefere melhorar essa conceituação, para que não
exista dúvida. É o caso de Delgado (2011, p. 1.341), que conceitua a greve
como sendo:
a paralisação coletiva provisória, parcial ou total, das atividades dos trabalhadores em face de seus empregadores ou tomadores de serviços, com o objetivo de exercer-lhes pressão, visando a defesa ou conquista de interesses coletivos, ou com objetivos sociais mais amplos.
Trata-se, enfim, de uma paralisação temporária dos serviços, que tem
como objetivo a busca dos interesses dos trabalhadores. Essa paralisação é
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devidamente autorizada pela lei, que determina sua formalização.
O primeiro requisito para que a greve possa acontecer é chamado por
alguns autores de fase preliminar. É a tentativa de conciliação. Trata-se do
momento primeiro e obrigatório, para que os grupos possam adequar seus
anseios. Não chegando a um consenso, passa-se para uma nova fase.
Nessa etapa, uma assembleia geral dos trabalhadores deve ser
convocada pelo sindicato com a finalidade específica de se decidir ou não pela
greve. Tudo o que ali for decidido deve ter embasamento legal, para que a
classe não sofra outras consequências.
Decidindo-se pela greve, uma comissão deverá ser constituída para
tratar especificamente desses interesses, mesmo que extrapole a esfera
administrativa, chegando até o Poder Judiciário.
O empregador também não poderá ser pego de surpresa. Ele tem o
direito de saber com antecedência da paralisação que ocorrerá. Essa
comunicação deve ser dada com uma antecedência mínima de 48 horas para
os serviços entendidos como normais; e de pelo menos 72 horas para os
serviços considerados essenciais.
Nas atividades essenciais, todos os envolvidos – empregadores,
empregados e seus sindicatos – ficam obrigados, por meio de mútuo acordo, a
garantir no período de greve a prestação dos serviços indispensáveis e
inadiáveis à população de maneira geral. Não sendo possível, o próprio Poder
Público assim deverá fazê-lo.
Essas atividades são aquelas que não podem parar, pois sua suspensão
pode colocar em perigo a vida, a saúde ou a segurança das pessoas.
Trazemos algumas delas como exemplo: o serviço médico e hospitalar; o
abastecimento de água; a produção e a distribuição de energia elétrica, gás e
combustíveis, entre outras, que o próprio bom senso nos recomenda.
Aos grevistas são dadas certas garantias, atreladas a determinadas
proibições. Pode-se tentar convencer os trabalhadores a aderir ao movimento,
desde que, para isso, sejam empregados meios pacíficos, sem pressão
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alguma, pois nenhum trabalhador pode se sentir obrigado a participar. Não se
pode, em qualquer hipótese, proibir o acesso ao trabalho daqueles que não
quiserem aderir ao movimento.
A greve pode se estender por vários dias e, mesmo que o sindicato
tenha certa reserva para sustentar o movimento grevista, poderão ser
arrecadados fundos para que os grevistas possam suportar mais
tranquilamente os dias de reivindicações.
Outra garantia aos grevistas é a proibição de que a empresa force, por
qualquer meio, o empregado a comparecer ao trabalho, bem como rescinda o
contrato de emprego no período da greve, desde que esta esteja ocorrendo
sem abusos.
Se o empregador não poderá demitir, não poderá também contratar
substitutos.
E em relação aos salários e às demais obrigações que o empregado
deixou de cumprir? A legislação determina que as demais situações devem ser
decididas por meio de acordo com o empregador.
Recomenda-se o bom senso, pois um meio termo sempre deverá ser
encontrado para que nenhuma das partes tenha maiores prejuízos do que os
que já tenha suportado.
No vídeo a seguir, disponível no material digital, teceremos algumas
explicações sobre a greve. Não perca!
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Revendo a problematização
Muito bem! Acredito que já tenhamos tido tempo suficiente para refletir
sobre o caso apresentado no início dos estudos deste tema. Caso queira, leia o
caso novamente antes de responder. Caso contrário, analise as alternativas a
seguir e dê a sua resposta.
a. A adesão à greve justifica um motivo de suspensão do empregado, mas
não motivo imediato para a aplicação de dispensa por justa causa.
b. O empregado praticou ato de insubordinação e/ou abandono de
emprego ao aderir à greve, justificando a dispensa por justa causa.
c. A adesão à greve é um direito constitucional assegurado a todos os
trabalhadores.
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Feedback
a. É prerrogativa do empregador, exercendo seus poderes de direção e
disciplinador, punir o empregado quando este praticar algum ato que
seja merecedor dessa punição, inclusive com a suspensão, mas dentre
esses atos não encontramos a adesão à greve.
b. Dentre as figuras de justa causa podemos encontrar a insubordinação e
o abandono de empregado, mas a simples adesão à greve não
configura qualquer dessas figuras.
c. O ordenamento jurídico assegura ao empregado o direito de greve e,
desde que ela atenda aos requisitos legais, o empregador não tem o
direito de rescindir o contrato por justa causa daquele empregado que
aderiu à paralisação.
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Síntese
No vídeo de síntese, que está disponível no seu material digital, faremos
uma abordagem geral sobre o sindicalismo, tratando dos institutos estudados
neste tema. Não perca!
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Referências
BARROS, A. M. de. Curso de direito do trabalho. São Paulo: LTr, 2013.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso
em: 10 fev. 2014.
_____. Decreto-Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Consolidação das Leis
do Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 9 ago. 1943. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 10
fev. 2014.
_____. Lei n. 7.783, de 28 de junho de 1989. Diário Oficial da União, Brasília,
29 jun. 1989. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.
htm>. Acesso em: 10 fev. 2014.
BRASIL. Precedente Normativo n. 119, de 2 de junho de 1998. Diário da
Justiça, Brasília, 20 ago. 1998. Disponível em: <http://www3.tst.jus.br/jurispru
dencia/PN_com_indice/PN_completo.html#Tema_PN119>. Acesso em: 10 fev.
2014.
CARRION, V. Comentários à consolidação das leis do trabalho. São Paulo:
Saraiva, 2012.
DELGADO, M. G. Curso de direito do trabalho. 10. ed. São Paulo: LTr, 2011.
NASCIMENTO, A. M. Curso de direito do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2011.
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Atividades
As negociações coletivas, na seara da relação laboral, foram garantidas 1.
na Lei Maior/88, reconhecendo o acordo e a convenção coletiva de
trabalho. Podemos entender que são respectivamente:
a. A negociação feita entre os sindicatos representativos da classe patronal
e profissional e a negociação acontecida entre um empregador e o
sindicato profissional.
b. A negociação acontecida entre um ou mais empregadores com uma
comissão de empregados e a negociação feita pelos sindicatos
representativos das duas categorias.
c. Negociações acontecidas com o objetivo de melhorar as condições de
trabalho do obreiro que, para ter validade, deverão ser homologadas
pelo Poder Judiciário.
d. A negociação acontecida entre um ou mais empregadores com o
sindicato profissional e a negociação feita pelos sindicatos
representativos das duas categorias.
A greve, em nosso ordenamento jurídico, já foi considerada como crime. 2.
A partir de várias conquistas, na atualidade é entendida como direito.
Sobre a greve é correto afirmar que:
a. A assembleia sindical, convocada especialmente com essa pauta, é
soberana para decidir sobre a paralisação, não necessitando de outros
requisitos.
b. Nunca será considerada legal se não for requerida junto ao Poder
Judiciário, com antecedência mínima de 24 horas antes da paralisação.
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c. Poderá ser considerada legal se atender a alguns requisitos, entre eles a
tentativa de conciliação, a assembleia geral e o aviso prévio.
d. Para as atividades essenciais, o aviso prévio a ser dado ao empregador
deverá ser, no mínimo, de 48 horas de antecedência à paralisação.
A organização sindical, mas comumente conhecida como sindicato, tem 3.
a sua criação garantida constitucionalmente, sendo:
a. A associação de membros de uma profissão ou de empregadores,
destinados a defender seus interesses laborais e econômicos comuns.
b. A associação de empresas de determinado ramo da economia,
destinadas a defender seus interesses.
c. A associação informal de membros de uma profissão ou de
empregadores, destinados a defender interesses de um indivíduo.
d. A associação de membros de uma profissão ou de empregadores,
destinados a defender apenas interesses de cada indivíduo.
O ordenamento jurídico subdivide as associações sindicais em 4.
sindicatos, federações e confederações, criando um verdadeiro sistema,
cada uma com suas tarefas específicas, mas todas voltadas para o
mesmo interesse comum, ou seja, o melhor para aquela(s) classe(s) que
representam. Para que seja possível a criação de uma federação é
necessário:
a. Um número mínimo de treze sindicatos que representem a maioria
absoluta de um grupo de atividades ou profissões idênticas, similares ou
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conexas, sendo faculdade dos sindicatos a sua instituição.
b. Um número mínimo de cinco sindicatos que representem a maioria
absoluta de um grupo de atividades ou profissões idênticas, similares ou
conexas, sendo faculdade dos sindicatos a sua instituição.
c. Um número mínimo de quinze sindicatos que representem a maioria
absoluta de um grupo de atividades ou profissões idênticas, similares ou
conexas, sendo faculdade dos sindicatos a sua instituição.
d. Um número mínimo de três sindicatos que representem a maioria
absoluta de um grupo de atividades ou profissões idênticas, similares ou
conexas, sendo faculdade dos sindicatos a sua instituição.
Interpretando-se a previsão constitucional trazida em seu artigo 8º, no 5.
que concerne à livre associação nas entidades de classe, pode-se
entender que:
a. Ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a um sindicato.
b. Somente o empregador tem a liberdade de escolha de filiar-se ou de
manter-se filiado a um sindicato.
c. Somente o empregado tem a liberdade de escolha de filiar-se ou de
manter-se filiado a um sindicato.
d. Ninguém será obrigado a filiar-se, mas a partir de sua filiação não
poderá se desligar sem o consentimento do sindicato.
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