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TURISMO SUSTENTÁVEL E INFÂNCIAEXPERIÊNCIA EM CAMPINAS
Organizadores:Kelly Vanessa Kirner
Campinas, São Paulo1a. Edição
2010
Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro de Estado do Turismo Luiz Eduardo Pereira Barretto Filho
Realização TABA – Espaço de Vivência e Convivência do Adolescente
Apoio Programa Iluminar Campinas Movimento Vida Melhor – Disque Denúncia Campinas Vara da Infância e da Juventude de Campinas PEESCCA - Programa de Enfrentamento a Exploração Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes Comissão de Enfrentamento a Exploração Sexual Comercial Contra Crianças e Adolescentes – CMDCA Campinas Secretaria Municipal de Educação
Equipe de execução do projeto Coordenadora Geral: Kelly Vanessa Kirner Coordenador Pedagógico: Ricardo de Castro e Silva Consultora: Rosana A. Borges de Carvalho Consultor: Lincoln César Moreira Coordenador de Produção do Livro: Luiz Henrique Pereira Mendes Educadora e Coordenadora de Trabalhos: Maria Beatriz Ribeiro Gandra Educadora: Caroline Cruz Educadora: Luciana Bittencourt
Texto e Edição: Kelly Vanessa Kirner
Assessoria de Comunicação: Mendes & Nader Comunicação e Responsabilidade Social
Projeto Gráfico e Editoração: Karine Alessandra Kirner
Revisão: Maria Lúcia Carneseca Montoro
Foto da Capa: LABORATÓRIO METUIA. DEPARTAMENTO DE TERAPIA OCUPACIONAL. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS. Projeto “Rotas Recriadas: Enfrentamento à violência e exploração sexual infanto-juvenil em Campinas, SP”.
Os desenhos que ilustram esse livro foram criados por adolescentes durante o “II Concurso Reprove a Violência Sexual contra crianças e adolescentes: toda criança e todo adolescente tem o direito de não sofrer violência” realizado nos anos de 2009 e 2010 pela TABA – Espaço de Vivência e Convivência do Adolescente com a rede de rede municipal de ensino de Campinas.
Impresso no Brasil
Tiragem desta edição: 1.000 exemplares
Este material faz parte das atividades realizadas pelo projeto “Turismo Sustentável e Infância em Campinas” realizado pelo convênio do Ministério do Turismo junto à TABA – Espaço de Vivência e Convivência do Adolescentes / Número 702071/2008.
A reprodução do todo ou parte deste documento é permitida para fins não lucrativos desde que citada à fonte
Turismo Sustentável e Infância – Experiência em Campinas/Kelly Vanessa Kirner. Campinas/SP: TABA – Espaço de Vivência e Convivência do Adolescente, 2010.
155 páginas; color.; 22 x 21cm
1. Turismo. 2. Enfrentamento a Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes. 3. Responsabilidade Social. 4. Garantia de Direitos.
Enfrentar de forma eficiente a exploração se-
xual de crianças e adolescentes é um grande de-
safio, abraçado pelo governo federal em 2004.
Muitos trabalhos têm sido desenvolvidos com o
apoio do Ministério do Turismo, para ajudar a
elevar o país a um patamar mais alto e justo, na
escala do respeito aos direitos humanos, princi-
palmente dentro do setor produtivo do turismo.
Entre esses projetos, o da TABA defende crian-
ças e adolescentes de Campinas – um dos muni-
cípios que mais crescem no estado de São Paulo
e desponta como um importante pólo de turis-
mo de eventos. No rastro do desenvolvimento
econômico, científico e tecnológico da região
metropolitana, a periferia cresce, inflada pela
imigração de famílias de baixa renda. Crianças
e jovens são lançadas todos os dias em situação
de risco. Por causa da pobreza, enfrentam uma
realidade de vulnerabilidades e violências.
Mais do que acolher essas crianças e adolescen-
tes, a TABA usa estratégias que colaboram para
transformar as vítimas de abusos em protago-
nistas de estórias recontadas de cidadania – gra-
ças à articulação social, sensibilidade, coragem,
criatividade e ao fortalecimento da autoestima
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por meio da qualificação profissional.
O Ministério do Turismo tem orgulho em dar
suporte a ações como essa. Desde 2004, o
Turismo Sustentável e Infância (TSI) investiu cer-
ca de R$ 27 milhões. Os recursos patrocinaram
cursos de capacitação, seminários e campanhas
de sensibilização. A parceria com as secretarias
municipais e estaduais, organizações não-gover-
namentais e empresas do setor é fundamental
para garantir capilaridade às ações.
Alguns números ajudam a retratar a importân-
cia do TSI. Ele mobilizou 110 mil pessoas, dis-
tribuiu 4 milhões de peças de comunicação,
produziu uma teleconferência em 2,3 mil salas
em todo o país, promoveu 163 seminários de
sensibilização, veiculou em 800 municípios uma
novela para rádio.
Metade dos 1.200 jovens capacitados conquis-
tou um espaço no mercado formal de trabalho.
Atualmente, outros 600 estão em formação.
Para garantir a manutenção e continuidade do
programa, 530 agentes locais passaram por um
curso de formação. São multiplicadores que aju-
dam a disseminar o conteúdo.
Além da prevenção, o TSI atua no combate
direto à exploração sexual com o Disque 100.
Uma central telefônica estruturada para receber
denúncias. De maio de 2003 a maio de 2010,
ela atendeu a 2 milhões de chamadas e encami-
nhou mais de 125 mil denúncias em todo o país.
O instituto TABA, espaço de vivência e convivên-
cia, funciona em sintonia com a política desen-
volvida pelo Ministério do Turismo para erradi-
car a exploração sexual do jovem e adolescente,
oferecendo, mais que esperança, a perspectiva
de uma vida muito melhor.
Ministro do Turismo
Luiz Barretto
Sumár
ioAberturA
Ministério do Turismo........................................................................................................
CApítulo 1 1 - O Projeto.......................................................................................................................1.1 - A TABA..........................................................................................................................1.2 - Parceiros do Projeto...................................................................................................
CApítulo 22 - Onde estamos: Campinas - Cenários e desafios no enfrentamento à exploração sexual de crianças e adolescentes.....................................................................................2.1 - PEESCCA - Programa de Enfrentamento à Exploração Sexual e Comercial de Crianças e Adolescentes.....................................................................................................2.2 - Programa Iluminar Campinas - Cuidando das Vítimas de Violência Sexual..................................................................................................................................2.3 - Movimento Vida Melhor - Disque Denúncia Campinas............................................2.4 - Vara da Infância e Juventude.....................................................................................
CApítulo 33 - Diagnóstico para Embasar Ações do Projeto: “O Imaginário da Cadeia Produtiva de Turismo de Campinas a Respeito da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”......................................................................................................................
CApítulo 44 - Ampliar Conhecimento da Realidade para Gerar Compromisso: Mobilização do Trade Turístico e do Sistema de Garantia de Direitos......................................................4.1 - Mobilização e Capacitação do Trade de Turismo......................................................4.2 - Capacitação e Realinhamento do Sistema de Garantia de Direitos..........................
CApítulo 55 - Envolver os Jovens e Gerar Atitude: Estratégias de Participação Juvenil no Enfrentamento à ESCA........................................................................................................5.1 - Uma Parceria Construída Também com Adolescentes..............................................5.2 - Uma Ação Educativa Diferenciada: A Produção do Livro: “Que tal dizer não: Uma conversa de adolescente para adolescente”.....................................................................
CApítulo 66 - Disseminar a Causa Junto à Sociedade: Campanha Publicitária..................................
CApítulo 77 - Resultados e Desafios....................................................................................................
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30 36
546368
72
9193113
120127 137
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A TABA – espaço de vivência e convivência
do Adolescente, Organização da Sociedade
Civil de Campinas, desde sua fundação atua
na defesa dos direitos da criança e do adoles-
cente. Participou desde o início das ações de
enfrentamento à violência sexual de crianças e
adolescentes na cidade de Campinas-SP. No fi-
nal de 2008, deixa de atuar no eixo de atendi-
mento integral e especializado às crianças e aos
adolescentes em situação de Exploração Sexual
Comercial e passa a se dedicar exclusivamente
à mobilização e à articulação do enfrentamento
ao fenômeno. Nesse mesmo ano, inicia a procu-
ra por parceiros, programas e ações que pudes-
sem apoiar sua atuação e fortalecer ainda mais
a rede já constituída em Campinas.
A cidade de Campinas, estado de São Paulo, é
sede da Região Metropolitana de Campinas,
composta por 19 municípios. A cidade possui
uma área de 801 km² e uma população que já
ultrapassa 1 milhão de habitantes. Apresenta
números que a colocam como uma das mais
importantes do Brasil: é a terceira cidade mais
populosa do estado de São Paulo; ocupa a 10ª
posição como cidade mais rica do Brasil, com
PIB de 27,1 bilhões de reais em
2007 – 1,2 % do PIB
brasileiro.
É pólo de pesquisa
e desenvolvimento
tecnológico do
país, princi-
palmente em
setores dinâ-
micos e de alto input científico/
tecnológico. Constitui-se uma re-
gião que apresenta um dos maiores volumes de
negócios realizados e experimenta um aumento
significativo do turismo de negócios e eventos
nos anos mais recentes.
A cidade encontra-se localizada entre as princi-
pais rodovias brasileiras: SP 348 - Rodovia dos
Bandeirantes, SP 330 - Rodovia Anhanguera
e SP 65 - Rodovia Dom Pedro I. Em Campinas
localiza-se também o Aeroporto Internacional
de Viracopos, o mais importante aeroporto bra-
sileiro em volume de carga aérea: 720 mil to-
neladas por ano. Atualmente esse aeroporto
tem capacidade para movimentar dois milhões
Idealizando o Projeto
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de passageiros por ano, e o plano diretor de de-
senvolvimento do Aeroporto de Viracopos, da
INFRAERO, prevê que este receberá até nove
milhões de passageiros por ano até o ano 2014,
ano da copa do mundo no Brasil. Campinas tam-
bém será sede do Trem de Alta velocidade – TAV
Brasil. As obras devem começar em 2011 e se-
rem concluídas em 2016 – ano das Olimpíadas
com sede no Rio de Janeiro.
Campinas realiza cerca de 6,5 mil eventos em-
presariais e associativos por ano, com a geração
de receita da ordem de R$ 850 milhões (exceto
aéreo) e projeção de crescimento de 18% a 20%
até o final de 2010. Trata-se de uma indústria
efervescente que movimenta outros 52 segmen-
tos, incluindo restaurantes, lojas, táxis, presta-
dores de serviços, etc. Campinas também figura
no ranking da ICCA (Associação Internacional
de Congressos e Convenções) entre as cidades
que mais receberam eventos internacionais em
2009: é a oitava da lista, com sete eventos, o
que coloca a cidade entre os 55 municípios das
Américas e na 231ª posição no ranking mundial.
Diante desse panorama de contínua amplia-
ção da rede de transporte aéreo, ferroviário
e rodoviário, encontramos a especialização e
a qualificação cada vez maior do turismo de
Campinas focado no segmento de negócios e
eventos.
No entanto a cidade convive com a perversa
contradição das grandes metrópoles, apresen-
tando significativo crescimento do movimento
migratório de famílias de baixa renda que ocu-
pam os bairros marcados pela pobreza, o que
agrava os processos de exclusão social pela
convivência com precariedade territorial e vul-
nerabilidades sociais. Os dados do Mapa da
Exclusão/Inclusão Social de Campinas1 revelam
altos índices de desigualdade/diferenças, mos-
trando uma distância social de 491 vezes, no in-
dicador de responsáveis com renda superior a
20 salários mínimos, entre o bairro com o pior
e o melhor índice de qualidade de vida. A pro-
liferação da exploração sexual infanto-juvenil
na região também acontece nas extensões das
rodovias, principalmente com a participação
de caminhoneiros de todo o país que acessam
a região. Embora as ocorrências ainda sejam
subnotificadas, só no município de Campinas
estatísticas2 indicam um total de 182 crianças 1 Mapa da Exclusão / Inclusão Social de Campinas. Campinas, 2003.2 Dados do programa de enfrentamento a ESCCA/Rua - CREAS/SMCAIS. Campinas, 2010.
12
e adolescentes no ano de 2010 identificadas
em situação de Exploração Sexual Comercial de
Crianças e Adolescentes.
Esse cenário levou a TABA a propor ao Programa
Turismo Sustentável e Infância, do Ministério
do Turismo, o desenvolvimento do projeto em
Campinas.
O projeto Turismo Sustentável e Infância
em Campinas foi planejado com base nas di-
retrizes do Plano Nacional de Enfrentamento
da Violência Sexual Infanto-Juvenil3 e do Plano
Municipal de Enfrentamento da Violência Sexual
Infanto-Juvenil4 e trabalhou com cinco eixos:
Análise da Situação, Protagonismo Infanto-
Juvenil, Mobilização e Articulação, Defesa e
Responsabilização e Capacitação.
Através do eixo Análise da Situação, planeja-
mos, como uma primeira etapa deste projeto,
uma pesquisa em parceira com o CEMICAMP
- Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva
de Campinas5: Papel da cadeia produtiva de
turismo na exploração sexual de crianças
3 MINISTÉRIO DA JUSTIÇA - SECRETARIA DE ESTADO DOS DIREITOS HUMANOS – DE-PARTAMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Plano Nacional de Enfrentamento da Violência Infanto-Juvenil. Brasília, 20014 CÂMARA MUNICIPAL DE CAMPINAS. Plano Municipal de Enfrentamento da Vio-lência Sexual Infanto-Juvenil. Campinas, 20035 Cemicamp - Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva de Campinas. Campinas, Brasil.
e adolescentes em uma cidade com turis-
mo prioritariamente de negócios e eventos.
Essa pesquisa teve como objetivo identificar
causas e fatores de vulnerabilidade do segmen-
to do turismo no enfrentamento ao fenômeno.
Os resultados desse estudo apontaram diversas
situações que foram fundamentais para a to-
mada de decisões e a implantação de ações em
direção à prevenção e ao combate da explora-
ção sexual de crianças e adolescentes no pro-
jeto. Também houve uma busca pela equipe do
projeto para a sistematização de informações e
dados, quantitativos e qualitativos, disponíveis
em órgãos que atuam nessa área em Campinas.
O eixo Participação Juvenil se destaca pe-
los excelentes resultados que nos apresenta. A
TABA executou uma campanha junto às escolas
municipais de Campinas, abordando 4.450 ado-
lescentes de
12 a 18 anos,
com pales-
tras de sen-
sibilização e
informação a
respeito das
violências sexuais contra crianças e adolescentes Evento: “Adolescências: da vulnerabilidade á participação”
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e às formas de denúncia e enfrentamento. Esses
adolescentes foram convidados a inscrever tra-
balhos de histórias em quadrinhos sobre o tema
“Toda criança e todo adolescente tem o direi-
to de não sofrer violência, sobretudo a sexual”
no II Concurso reprove a Violência Sexual.
Foram inscritas 151 histórias em quadrinhos
produzidas por 450 alu-
nos organizados em gru-
pos de 4 a 5 por cada his-
tória em quadrinhos. Em
seguida, os alunos que
participaram do concurso
foram convidados a par-
ticipar da produção do
livro “Que tal dizer não: uma conversa de ado-
lescente para adolescente”, por meio de ofici-
nas de desenho e escrita. Como resultado dessa
ação, temos um livro escrito totalmente de ado-
lescente para adolescente que aborda o tema
de forma completa e mobilizadora. Além dessa
ação, também pudemos facilitar diversos espa-
ços e momentos em que os jovens participaram
efetivamente enquanto protagonistas das ações
de enfrentamento à exploração sexual de crian-
ças e adolescentes. Em 2010, a Semana do dia
18 de maio contou especialmente com a partici-
pação juvenil por conta das ações desse projeto.
Os adolescentes foram convidados a organizar
um evento de discussão da temática para outros
adolescentes. Toda a organização do evento foi
realizada por esse grupo de adolescentes, com o
apoio da equipe do projeto. Dois eventos foram
organizados com essa participação efetiva:
1. No dia 15 de maio de 2010, o evento
“Adolescências: da vulnerabilidade à partici-
pação” abriu a semana de ações de mobili-
zação e sensibilização e contou com a par-
ticipação de 180 adolescentes debatendo e
apresentando ações temáticas;
2. No dia 18 de maio de 2010, Dia Nacional do
enfrentamento ao abuso e à exploração se-
xual de crianças e adolescentes, através de
uma ação de sensibilização na região central
de Campinas, os adolescentes participaram,
junto a uma rede que se organizou para a
realização desse evento, de atividades cul-
turais e da distribuição de panfletos, bem
como do lançamento do livro “Que tal di-
zer não: uma conversa de adolescente para
adolescente”.
livro: Que tal dizer não? uma conversa de adolescente para adolescente
14
É importante ressaltar que essa ação incentivou
a participação dos adolescentes na comissão de
EESCCA do Conselho Municipal de Direitos da
Criança e do Adolescente de Campinas.
Trabalhamos o eixo Mobilização e Articulação
e o eixo Defesa e responsabilização conjunta-
mente, por meio de ações de fortalecimento
do Sistema de Garantia de Direitos local (SGD).
Com o intuito de fortalecimento do SGD, reali-
zamos uma capacitação com carga horária de
44 horas e a participação do CREAS – Centro
de Referência Especializada da Assistência
Social, Conselho Tutelar, Vara da Infância e da
Juventude, Delegacia de Defesa da Mulher,
Disque Denúncia Municipal/ Movimento Vida
Melhor, Secretaria Municipal de Educação,
Secretaria Municipal de Cidadania, Inclusão
e Assistência Social, Conselho Regional de
Psicologia, Programa Indicando Caminhos,
Programa Iluminar, Comissão EESCCA/ CMDCA,
Câmara Municipal e ONGs integrantes da rede
de atendimento especializado a crianças e ado-
lescentes em situação de ESCCA. Criou-se, como
resultado dessa ação, uma comissão de avaliação
dos fluxos de denúncia e atendimento às crian-
ças e adolescentes em situação de exploração
sexual em Campinas. Deste livro consta um ca-
pítulo, escrito em conjunto com alguns atores
dessa rede, que apresenta essa experiência
piloto de qualificação da rede de atenção aos
direitos da criança e do adolescente. Além des-
sas ações, a realização desse projeto promoveu
também a criação de uma nova rede: o Grupo
de Trabalho para organização de ações do dia 18
de maio - Dia Nacional de Enfrentamento à ex-
ploração sexual de crianças e adolescentes - que
envolve, além das instituições descritas acima,
outras instituições que não faziam até então
ações com esse foco, fortalecendo, portanto, as
ações de enfrentamento a esse fenômeno.
Por conta das reuniões de articulação para a
assinatura do acordo de cooperação, também
movimentamos o debate municipal de revisão
do plano municipal de enfrentamento à explo-
ração sexual de crianças e adolescentes, criado
em 2003 e ainda não avaliado. Será realizado
um seminário no segundo semestre de 2010
em parceria com a comissão EESCCA do CMDCA
para avaliação e reescrita do plano municipal.
O eixo Capacitação é o principal objetivo deste
projeto - através da promoção da capacitação
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de diversos profissionais que atuam no segmen-
to do turismo, a realização de um seminário com
a temática “Turismo Sustentável e Infância”, a
assinatura de um termo de compromisso e a
distribuição de materiais de sensibilização.
No entanto, algumas ações foram replanejadas
no decorrer do projeto, baseadas nos levanta-
mentos realizados e em experiências vivencia-
das, de forma a sempre manter o objetivo prin-
cipal: a sensibilização e a mobilização da rede de
turismo na garantia dos direitos da criança e do
adolescente.
O processo de mobilização da cadeia produ-
tiva de turismo contou com ações envolven-
do os seguintes equipamentos e empresas:
Administração da Rodoviária Municipal -
SOCICAM (concessionária administradora do ter-
minal rodoviário municipal), EMDEC (Empresa
Municipal de Desenvolvimento de Campinas),
Grupo CCR (Administradora da Concessão
das Rodovias Anhanguera e Bandeirantes);
ECOFROTAS; SENAC Campinas; Consulting
27; Cooperativas de taxistas: Camptáxi,
Coopercamp e Coopertaxi; INFRAERO; Hotéis:
Confort Suites, Rede de Hotéis Vitória, Rede
Royal Palm, Fildi Hotéis, Dan Inn Hotéis, Shelton
Inn Viracopos, Monreale Classic Campinas,
Sonotel, Hotel Opala Avenida, Hotel Vila Rica;
Secretária de Cidadania, Assistência e Inclusão
Social, Secretário Municipal de Comércio,
Indústria, Serviços e Turismo, Secretária
Municipal de Educação; Campinas e Região
Conventions & Visitors Bureau; Sindicato de
Hotéis, Restaurantes, Bares e afins.
O Seminário “Turismo Sustentável e Infância”
foi realizado no dia 30 de agosto de 2010, em
parceria com o SENAC-Campinas e a Rede de
Integração Social, quando ocorreu o lançamen-
to deste livro.
“Para Nietzsche, não há um eu real e escondido a descobrir. Atrás de um véu sempre há outro véu; atrás de uma máscara, outra máscara; atrás de uma pele, outra pele. O eu que impor-ta é aquele que há sempre além daquele que se toma habitu-almente por sujeito: não está por descobrir, mas por inventar; não por realizar, mas por conquistar; não por explorar, mas por criar da mesma maneira que um artista cria uma obra. Para chegar a ser o que se é, tem que ser artista de si mesmo.” (lArOSSA, 2005:76)
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A TABA é uma
O r g a n i z a ç ã o
Social sem fins
lucrativos, cria-
da em 1996,
que dá origem
a projetos relacionados a: participação social
juvenil, direitos humanos, direitos sexuais e re-
produtivos, mobilização social e capacitação de
profissionais. Os projetos contemplaram mais
de 30 mil pessoas entre adolescentes, jovens,
educadores/as e profissionais que compõem
a rede do Sistema de Garantia de Direitos em
Campinas.
Desenvolvemos projetos e programas por meio
de ações educativas com temas das áreas da
saúde, cultura, assistência social e participação
política.
Nossa missão é promover espaços de vivência
e convivência entre adolescentes e jovens, pro-
vocando novas e diferentes formas de partici-
pação social, dando prioridade àqueles(as) em
situação de risco pessoal e social.
Desde 1996, a TABA de-
senvolve projetos com
adolescentes e jovens
a partir de temas como
gravidez na adoles-
cência, masculinidades, prevenção de doenças
sexualmente transmissíveis - DSTs/AIDS, parti-
cipação juvenil, prevenção ao uso indevido de
drogas e violência. Em parceria com o Ministério
da Saúde e por meio de políticas públicas mu-
nicipais, os programas já atingiram mais de 30
mil pessoas, e a ONG se tornou referência, em
Campinas, no trabalho com essa temática.
• Foi criado,
em 1998, o MAB
- Movimento dos
Adolescentes Brasileiros
www.redemab.org.br em
parceria com o Programa Municipal de
A organização
Histórico
TABA - espaço de vivência e [con]vivência do adolescente
Endereço: rua Barreto leme, 820 – Centro – Campinas
Telefone: +55 19 3232.0817 | +55 19 3305.0817
Fax +55 19 3327.1706
18
Orientação Sexual das Escolas Municipais.
• Em 2004, profissionais da TABA fo-
ram contratados pelo projeto rotas
recriadas (Enfrentamento da ESCCA –
Exploração Sexual Comercial de Crianças e
Adolescentes).
• Em 2006, a convite da Comissão do CMDCA de
Enfrentamento
da ESCCA, as
ações foram am-
pliadas e a ONG
passou a com-
por o Sistema
de Garantia de Direitos, executando o
Programa ESCCA a partir da implementa-
ção do PrOJETO COM_VIVEr, co-financiado
pela Prefeitura de Campinas. O principal ob-
jetivo do Projeto é garantir atendimento a
adolescentes e jovens em situações de vul-
nerabilidade ou envolvidos (as) diretamente
em ESCCA, possibilitando-lhes um novo pa-
pel social por meio da participação juvenil,
tendo, como base, o conhecimento e o exer-
cício de seus direitos humanos e sexuais a
partir de uma cultura de paz.
• Em dezembro de 2006, a TABA realizou
o I Seminário: Construindo Políticas
Públicas para o Enfrentamento à
Exploração Sexual Comercial Infanto
Juvenil, com o objetivo de proporcionar re-
flexões sobre as políticas públicas existentes
no Município de Campinas relacionadas ao
enfrentamento da exploração sexual comer-
cial de crianças e adolescentes e de sociali-
zar diferentes saberes e pensares sobre esse
fenômeno. Das mesas de debate participa-
ram: Dr. Richard P. Pae Kim - Juiz da Vara da
Infância e Juventude de Campinas, Vereador
Paulo Búfalo - Representante da Câmara
Municipal de Campinas, Dr. Hélio de Oliveira
Santos - Prefeito de Campinas e outros con-
vidados.
• Em 2007, a iniciativa da TABA com ações
educativas em saúde e mobilização social
foi reconhecida internacionalmente, quan-
do recebeu, da Fundação Merck Sharp &
Dohme, o Prêmio Neighbors of Choice
(NOC Grants) pelo desenvolvimento do
Projeto Saúde na Comunidade junto à co-
munidade rural de Joaquim Egidio e Sousas.
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AB
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• De 2007 a 2010, executamos o Programa
JOVEM.COM - Parceria com Programa
Municipal de Cidadania e Inclusão Digital,
pelo qual oferecemos oficinas sócio-cultu-
rais e de reflexão para 320 jovens de 14 a 24
anos encaminhados pela Rede Intersetorial
de Assistência Social.
• Em 2008, fomos
Instituição sede
da Conferência
lúdica Municipal
dos Direitos
da Criança e
Adolescente, sendo responsável pela ges-
tão dos recursos financeiros aprovados pelo
CMDCA e pela articulação em parceria com
o Fórum DCA e outras instituições pela exe-
cução das atividades.
• Em 2008 e
2009, Instituição
sede do Bloco
Carnavalesco
“EurECA” – Eu
reconheço o
Estatuto da Criança e Adolescente, com
o apoio da Secretaria Municipal de Saúde e
a Coordenação Nacional e Estadual de DST/
AIDS e demais parceiros que compõem a
rede de atendimento a crianças e adoles-
centes do município e o apoio financeiro da
Secretaria do Estado da Saúde / Centro de
Referência e Treinamento DST/Aids. Foi re-
alizado, na cidade de Campinas, no período
de dezembro de 2008 a fevereiro de 2009,
simultaneamente aos municípios de São
Bernardo do Campo, Guarulhos e Baixada
Santista. O projeto é engajado a temas re-
lacionados à garantia dos direitos sexuais e
humanos de crianças e adolescentes e tem
como principal objetivo diminuir as vulnera-
bilidades às DSTs/Aids e promover a divulga-
ção do Estatuto da Criança e do Adolescente.
O desfile do bloco ocorreu no dia 13 de fe-
vereiro de 2009, com 45 instituições e 3.000
participantes.
• Em 2010 realizamos, em parceria com o
Centro Camará de Pesquisa e Apoio à Infância
e Adolescência, o evento “Adolescências: da
vulnerabilidade à participação”, com o apoio
da Secretaria do Estado da Saúde / Centro
de Referencia e Treinamento DST/Aids.
20
Adolescentes de Campinas e São Vicente
participaram de encontros formativos e or-
ganizaram o evento, desde a infraestrutura
até as temáticas discutidas. Em diversos mo-
mentos, os adolescentes realizaram inter-
câmbios entre as duas cidades para integra-
rem suas ações. O primeiro evento realizado
deu-se no dia 15 de maio de 2010, na Escola
Clotilde Barraquet, em Campinas, marcando
a abertura da Semana
de enfrentamento à
exploração sexual de
crianças e adolescen-
tes. O evento contou
com a participação de 180 adolescentes
que, em salas temáticas e mesas de debate
discutiram: participação juvenil, exploração
sexual de crianças e adolescentes, cidada-
nia, violência e gravidez na adolescência.
Os adolescentes foram os principais atores
de debates, apresentações e discussões
do dia. No dia 18 de maio, Dia Nacional de
Enfrentamento ao Abuso e à Exploração
Sexual de Crianças e Adolescentes, o projeto
contou com um grande evento, que mobili-
zou a sociedade em geral, organizado ativa-
mente pelos adolescentes em São Vicente.
PrOJETO rEVIr@VOlTA
Voluntários da TABA
buscam, desde 2006,
contribuir para o aten-
dimento de adoles-
centes autores de violência sexual. Com uma
metodologia educativa, inclusiva e lúdica bus-
cam favorecer o senso critico dessas pessoas e
a construção de políticas públicas adequadas ao
fenômeno, desenvolvendo oficinas de sexuali-
dade (direitos sexuais e reprodutivos, violência,
gênero, vulnerabilidades, prevenção DST/AIDS)
e cidadania (participação, direitos e compromis-
sos sociais).
Desde o início do projeto, somente com recur-
sos humanos voluntários, já foram atendidos
17 adolescentes identificados como autores
de violência sexual, na faixa etária de 11 a 18
anos , e suas famílias. Inicialmente participaram
de atendimentos individuais com Psicólogo e
Assistente Social; posteriormente foram intro-
duzidos em grupos de participação juvenil com
Nossos Projetos
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outros adolescentes. Atualmente todos os ado-
lescentes já estão inseridos em ações de educa-
ção e capacitação para o mercado de trabalho
em outras instituições que compõem a rede,
sendo acompanhados pelo Sistema de Garantia
de Direitos – Vara da Infância e Conselho Tutelar.
As atividades desenvolvidas pela TABA com es-
ses adolescentes já foram reconhecidas como
Tecnologia Social Inovadora pela Vara da Infância
de Campinas, CONANDA, e por outras institui-
ções. Nenhuma outra instituição em Campinas
oferece esse atendimento, embora o atendi-
mento ao autor de violências sexuais tenha sido
uma das diretrizes propostas no III Congresso
Mundial de Enfrentamento à Violência e à
Exploração Sexual – Rio de Janeiro, 2009.
PrOJETO CIDADANIAS PArTICIPAÇÃO JuVENIl
O projeto é co-finan-
ciado pela Prefeitura
Municipal de Campinas e teve início em 2007
com o objetivo de possibilitar o desenvolvi-
mento de um novo papel social na vida do e da
adolescente e jovem, pela participação juvenil
ante a necessidade de mudança da realidade
de seus pares. O projeto desenvolve a formação
de adolescentes e jovens para uma participação
social mais positiva e efetiva, os quais realizam
ações educativas de prevenção e intervenção
para outros adolescentes e jovens. Participam,
ainda, de espaços de discussões, construções e
controle social das políticas públicas não apenas
PARA, mas COM os adolescentes e jovens en-
quanto sujeitos de direitos.
A TABA atende diretamente, desde 2008, gru-
pos de 60 adolescentes por meio de oficinas te-
máticas (sexualidade, cidadania, ECA, participa-
ção juvenil) voltadas à formação de re-editores
sociais para ações de prevenção. Esse grupo de
adolescentes participou ativamente da constru-
ção do Encontro Municipal de Adolescentes de
Campinas em 2010.
FOrMA-AÇÃO: JuVENTuDE CIDADÃ CONTrIBuINDO PArA uMA NOVA rEAlIDADE
Este projeto, que é co-financiado pelo
Conselho Municipal de Direitos da Criança e
do Adolescente – CMDCA, propõe-se formar
22
adolescentes e jovens da rede de atendimento à
criança e ao adolescente da cidade de Campinas
para participação
juvenil política e so-
cial.
O Projeto FormAção
é uma conquista dos
e das adolescentes
que propuseram, nas conferências dos direitos
da criança e do adolescente nos anos de 2007 e
2009, um espaço para a preparação dos adoles-
centes para as conferências e os encontros de
adolescentes.
A TABA é a entidade executora do projeto,
acompanhado por um grupo de trabalho do
Conselho Municipal dos Direitos da Criança
e do Adolescente. O projeto abrange todas as
regiões da cidade de Campinas representadas
por instituições, serviços e movimentos sociais
reconhecidas no sistema de garantia de direi-
tos, priorizando os eixos de Cidadania, Direitos
Humanos e Participação Juvenil.
Dessa forma, espera-se que a preparação dos
adolescentes para participação política e social
seja capaz de concretizar que, nas conferências,
os adolescentes possam ter mais independência
nas suas reflexões e exercitar sua participação
de forma cidadã e, assim, efetiva.
NÚClEO DE PrEVENÇÃO DE VIOlÊNCIA – SAÚDE DO ADOlESCENTE
Por meio de uma parceria em 2008 com o
Centro de Saúde Florence II do Distrito Noroeste
de Campinas, iniciamos a implementação de
um “Núcleo Inter-geracional de Prevenção
de Violência”. Iniciamos essa parceria com a
Secretaria Municipal de Saúde nesta região –
bairro Jardim Florence - por ela ter sido iden-
tificada com o maior índice de violência com e
contra o adolescente.
Um primeiro desafio atual no campo da saúde e
prevenção das vulnerabilidades na adolescência
é a construção da parceria de confiança entre
os profissionais do serviço de saúde e os e as
adolescentes. Um segundo desafio é promover
a melhoria da qualidade de vida desses adoles-
centes para que isso possa contribuir para mu-
danças em suas vidas. Dessa forma iniciamos
ações de sensibilização e capacitação para os
profissionais de quatro unidades de saúde da
23
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1.1
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região. No bairro Jardim Florence, uma casa foi
estruturada para receber atividades de grupos
de adolescentes e espaços de convivência para
o desenvolvimento local e, sobretudo, o envol-
vimento dos jovens no enfrentamento ao pro-
blema e à promoção de uma cultura de paz. Por
esse projeto, conquistamos o fortalecimento do
centro de saúde como um espaço comunitário e
o estreitamento da relação do adolescente com
a sua saúde. Assim acreditamos conseguir esta-
belecer ações concretas que visem a saúde do
adolescente.
Em 2010 iniciamos essas ações também no
Jardim São Marcos, distrito norte de Campinas.
Hoje temos um grupo de adolescentes que
se reúne semanalmente no Centro de Saúde.
Além dessa ação, o mesmo grupo participa na
TABA de ações com outros grupos de adoles-
centes. Atualmente contamos com a parceria
da UNICAMP que favorece o encaminhamento
de estudantes de diversas faculdades, como
Medicina, Educação Física, Artes e Música, para
compor a equipe de estagiários que realizarão
oficinas de arte e saúde para esse mesmo gru-
po, contribuindo para a melhoria de sua quali-
dade de vida.
ADOlESCENTES DIFErENTES, POrÉM IGuAIS NA PrEVENÇÃO
O Projeto “Adolescentes Diferentes, Porém
Iguais na Prevenção” tem como objetivo princi-
pal criar, dentro das Unidades de Internação da
Fundação CASA/Campinas, a atenção e o aten-
dimento sobre Prevenção às DST/Aids junto aos
adolescentes que estão cumprindo medidas só-
cio educativas de internação.
Para isso a TABA promove a capacitação dos
profissionais das Unidades de Internação da
Fundação CASA/Campinas sobre diversos te-
mas, que envolvem as temáticas de prevenção
DST/Aids, adolescências, vulnerabilidades, se-
xualidade do adolescente, violência, masculini-
dades, direitos humanos, redes sociais, sistema
de garantia de direitos e o papel do educador
. Também oferecemos aos profissionais da
Fundação Casa uma formação sobre KITs temá-
ticos sobre sexualidade, gravidez e prevenção
às DTS/Aids, de forma que esses profissionais
possam atuar como educadores no desenvolvi-
mento dessas temáticas junto aos adolescentes.
Com os adolescentes utilizamos as oficinas de
24
arte-educação com as linguagens de aerografia,
hip-hop e teatro e produção de contos eróticos.
Os educadores desenvolvem ações educativas,
elaborando produtos sobre a temática de pre-
venção DST/Aids que podem ser apresentados a
outros adolescentes.
Esse projeto conta com o apoio financeiro
da Secretaria do Estado da Saúde / Centro de
Referência e Treinamento DST/Aids.
I e II CONCurSO rEPrOVE A VIOlÊNCIA SEXuAl
Esta é uma ação que a
TABA realiza anualmente
em escolas de ensino fundamental, com alunos
e alunas da rede de educação pública municipal
de Campinas, na faixa etária de 12 a 18 anos,
e seus professores e professoras. Em três anos
de desenvolvimento desse projeto, alcançamos
cerca de 10.000 alunos da rede municipal de
educação.
O projeto tem como uma de suas principais
estratégias o desenvolvimento de ações de en-
frentamento à exploração sexual de crianças
e adolescentes para chamar a atenção para o
problema, com a
disseminação de
informações jun-
to à sociedade e,
principalmente,
com a participa-
ção social juvenil no enfrentamento às violên-
cias e vulnerabilidades.
Para a realização dessas ações, contamos com
o apoio financeiro do Ministério do Turismo
- Programa Turismo Sustentável e Infância;
da Petrobrás - Programa Desenvolvimento &
Cidadania; e da CPFL Energia. Também conta-
mos com a parceria da FACAMP, por intermédio
da agência júnior de comunicação, e da Mendes
& Nader, pela assessoria de comunicação.
MArIAS CHEIAS DE GrAÇA
A TABA iniciou em 2006 um
grupo de geração de renda e
desenvolvimento familiar, ca-
rinhosamente chamado de
“Marias Cheias de Graça”.
Iniciou-se com a proposta de
oferecer atividades artesanais
e de restabelecer vínculos familiares de mães
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com seus filhos que se encontravam em situa-
ção de rua e/ou exploração sexual comercial. Ao
longo dos encontros, essa proposta se desenvol-
veu para o cuidado com a família, de si mesmas
enquanto mulheres; discussões sobre a cultura
popular, o olhar para sua comunidade; conver-
sas sobre vulnerabilidades, violência, desigual-
dades e participação social; sempre por meio
da produção artesanal, motivada pela peque-
na geração de renda proporcionada por meio
de bazares e feiras de artesanato. Desde 2009
o grupo caminhou para o empreendedorismo
como forma de sustentabilidade familiar, co-
mercializando seus produtos em feiras, bazares
e em suas comunidades. São almofadas, tape-
tes, agendas e cadernos personalizados, sacolas
sustentáveis, pingentes decorativos, presilhas,
chaveiros, camisetas customizadas entre ou-
tros. Com o recurso obtido pela venda de suas
produções, o grupo, além de gerar renda fami-
liar, consegue proporcionar a sustentabilidade
financeira das oficinas.
Atualmente 12 mulheres participam das ofici-
nas de produção e venda.
O GruPO DE CrIANÇAS
O grupo de crianças é o resultado de uma de-
manda do grupo “Marias Cheias de Graça”. As
mulheres, para frequentarem as oficinas, tra-
ziam seus filhos/as, netos/as e demais familia-
res. Por conta dessa demanda, a TABA se orga-
nizou constituindo grupos de estágio do curso
de Psicologia da PUC, Campinas, que desenvol-
vem atividades recreativas e pedagógicas além
de vivências como passeios, cinemas, teatros
e outras atividades. Essas ações promovem o
desenvolvimento social das crianças, bem estar
e prevenção às vulnerabilidades em que se en-
contram.
26
Além da realização dos
projetos acima descri-
tos, a TABA tem partici-
pado de/e promovido
diversas atividades de
promoção dos direitos atendendo às prerroga-
tivas do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Realizamos campanhas e projetos de enfren-
tamento à exploração sexual de crianças e
adolescentes na perspectiva de prevenção ao
fenômeno e atuamos de forma precursora no
atendimento ao adolescente identificado como
autor de violências sexuais. Promovemos e par-
ticipamos de debates, conferências, seminá-
rios e discussões sobre os direitos da criança
e do adolescente. Participamos de comissões
e ações do Conselho de Direitos da Criança e
do Adolescente e somos membro atuante nas
atividades do Fórum Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente, exercendo assim nos-
so papel de controle social. Promovemos cursos
regulares de formação e grupos de estudos no
campo das adolescências e seus temas decor-
rentes como sexualidade, participação política
e prevenção às vulnerabilidades. Fomentamos
o estudo, a pesquisa e o desenvolvimento de
tecnologias alternativas e criativas no campo
da ação educativa a partir da oferta de forma-
ção de jovens, universitários, profissionais e por
meio de convênios e parcerias com universida-
des e centros de pesquisa.
Considerações Finais
“Saber organizar-se e associar-se é a ciência mestra de uma sociedade porque assim se reproduz auto-regulação e asse-gura-se proteção aos Direitos. O primeiro passo para superar a pobreza em uma cidade, região ou sociedade é criar e for-talecer as organizações. um dos indicadores de pobreza mais graves é não estar organizado... uma sociedade é tanto mais sólida quanto maior for o número de organizações ou associa-ções produtivas, ou seja, organizações que gerem transações políticas, econômicas, sociais e culturais úteis.”1
1 BErNArDO TOrO J. A Construção Do Público: Cidadania, Democracia E Participação. Coleção: editora Senac rio, 2005. Pg 22, 23 e 24
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Parc
eiro
s do
Pro
jeto
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O projeto que este livro apresenta é sobre-
tudo uma ação de proteção aos direitos huma-
nos. E o exercício pleno de proteção aos direitos
humanos depende da capacidade da socieda-
de de associação e organização. Dessa forma,
buscamos mobilizar uma rede inédita de atores
buscando comprometimento na defesa dos di-
reitos da criança e do adolescente.
Ponto a ponto, fomos contribuindo para o for-
talecimento de uma rede que em Campinas é
construída por várias mãos, sobretudo por orga-
nizações do terceiro setor, voltadas à defesa dos
direitos humanos.
Nosso desafio foi ampliar esse tecido social.
Quanto maior o número de organizações com-
prometidas e atuantes mais dinâmica, forte e
autorregulada será a sociedade.
Assim, como parte natural desse processo bus-
camos, a todo momento, o envolvimento do se-
tor público e empresarial nesse compromisso,
entrelaçando ainda mais essa rede.
O fortalecimento dessa rede de defesa pela
garantia dos direitos da criança e do adolescen-
te ocorreu já na fase inicial da proposta. Tão logo
a TABA vislumbrou a possibilidade de desenvol-
ver ações do programa Turismo Sustentável e
Infância em Campinas, procurou seus parceiros
mais próximos para a contribuição na redação
do Projeto - unir competências diversas, com
valores comuns num mesmo objetivo.
Dessa etapa participaram o Programa Iluminar
(Dra. Verônica Alencar), o Fórum DCA (Lincoln
César Moreira), o Disque Denúncia de
Campinas/Movimento Vida Melhor (Verônica
Rosa) e Mendes & Nader Comunicação e
Responsabilidade Social (Silvana Nader).
Ao iniciar a execução do projeto, fomos em bus-
ca de novos parceiros, atores estratégicos que
pudessem potencializar as ações e mobilizar
outros parceiros.
Nesse sentido agregamos ao grupo institui-
ções e órgãos representantes do segmento do
Turismo: Secretaria Municipal de Comércio,
Indústria, Serviços e Turismo; Campinas e
Região, Convention & Visitors Bureau; e dos
Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e
Similares de Campinas.
Parceiros do Projeto
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1.2
PAr
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Essa estratégia foi particularmente importante
na apresentação do projeto para a rede de tu-
rismo e na definição de outros atores que pode-
riam ser convidados a darem sua contribuição e
resultou em uma série de novos contatos.
Ao mesmo tempo que iniciávamos nossa imer-
são no segmento do turismo, orientados por es-
ses parceiros, voltamos também o olhar para a
rede que já se constituía no enfrentamento á ex-
ploração sexual de crianças e adolescentes, com
representatividade sobretudo do primeiro e do
terceiro setor. A intenção era que pudéssemos
fortalecer e clarear a importância do funciona-
mento pleno e alinhado dessa rede, de forma
a esclarecer objetivos e papéis de cada um no
processo como um todo.
Entendemos que um bom caminho seria reunir,
para uma formação técnica na TABA, atores des-
sa rede que já conhecíamos, além daqueles que
ainda não estavam tão próximos. Verificamos
que, apesar do movimento orgânico que essa
rede já possui, era necessário promover e am-
pliar momentos conjuntos de aproximação e
reflexão. Outro movimento importante de in-
clusão de novos atores nessa rede se deu no
campo onde a TABA luta e defende historica-
mente, desde sua fundação: a participação dos
adolescentes, não apenas como público das
ações, mas também como ator de mobilização,
de organização, de produção. Ator efetivo na
construção de ações e diretrizes para políticas
públicas voltadas à defesa de seus direitos.
Nos próximos capítulos teremos a oportunidade
de descrever de forma detalhada a participação
e a colaboração desse sólido tecido social e a
importância dessa rede nos resultados e impac-
to deste projeto.
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O Sistema de Garantia de Direitos (SGD) é O
Sistema de Garantia de Direitos (SGD) é um con-
junto articulado de pessoas e instituições que
atuam para efetivar os direitos da criança e do
adolescente. Fazem parte desse sistema: a famí-
lia, as organizações da sociedade (instituições
sociais, associações comunitárias, sindicatos,
escolas, empresas), os Conselhos de Direitos,
Conselhos Tutelares e as diferentes instâncias
do poder público (Ministério Público, Vara da
Infância e da Juventude, Defensoria Pública,
Secretarias). É organizado em torno de três ei-
xos fundamentais: pROMOÇÃO, CONTROlE e
DEFESA. Cada eixo acontece através de espaços
públicos, Atores Sociais específicos que utilizam
determinados instrumentos de ação. Os Atores
Sociais de cada eixo agem (ou devem agir) de
forma articulada, integrada e interativa, dentro
de cada eixo e dos eixos entre si, garantindo a
complementaridade operacional, formando
uma rede de relações que se constitui nesse re-
ferido sistema. O artigo 88º do ECA orienta as
diretrizes de natureza político-administrativa
para a construção do sistema de garantia de di-
reitos, orientando as ações a serem adotadas
pela administração pública e pela sociedade
civil organizada.
Para a articulação e capacitação do Sistema de
Garantia de Direitos de Campinas, enquanto
ações previstas no projeto, procuramos iden-
tificar e nos aproximar ainda mais dos atores
de cada eixo: promoção, controle e defesa do
SGD do município. Este capítulo apresenta esses
atores ao mesmo tempo que apresenta qual a
situação do fenômeno da exploração sexual de
crianças e adolescentes em Campinas e quais
ações são realizadas por esses atores.
Um ator importante do Sistema de Garantia
de Direitos que constatamos foi o Conselho
Tutelar, órgão de fundamental importância na
proteção dos direitos de crianças e adolescen-
tes, vítimas de violência sexual. Sua criação na
cidade de Campinas deu-se somente em 1996.
Hoje o município conta com quatro Conselhos
Tutelares, escolhidos em processo democrático
e aprimorando a participação da sociedade ci-
vil, seja na escolha dos conselheiros ou na fis-
calização de suas ações. Atualmente a gestão
2009/2012 atua no município regionalmente,
definida a responsabilidade territorial da se-
guinte maneira: Conselho Tutelar 1- Regiões
32
Leste e Norte; Conselho Tutelar 2- Região Sul;
Conselho Tutelar 3- Região Sudoeste e Conselho
Tutelar 4- Regiões Noroeste e Norte, conforme
Decreto Municipal 16.732/2009.
Mesmo reconhecendo a importância desse
órgão, tivemos muitas dificuldades na partici-
pação dos Conselhos Tutelares nas ações do
projeto. Uma destas foi a pouca representa-
tividade dos conselhos nas reuniões de fluxo
e capacitação, uma vez que essa participação
era importantíssima devido as competências
e atribuições desse órgão no funcionamento
do fluxo de encaminhamentos. Dois conselhos
estiveram representados. A falta de comuni-
cação entre os conselhos gera ações fragmen-
tadas, pois apesar de se reunirem em algumas
reuniões gerais, não conseguem alinhar suas
ações. Por conta disso a participação de al-
guns representantes não contemplava todo o
conselho, pois as informações só retornavam à
sua região. Outra dificuldade que encontram
é a manutenção das informações passadas de
uma gestão a outra. Isso se reflete na aborda-
gem sobre a atuação do Conselho Tutelar nes-
se artigo, pois não conseguimos recuperar sua
história no enfrentamento á exploração sexual
de crianças e adolescente por falta de registros
no próprio órgão. O histórico da participação do
Conselho Tutelar no enfrentamento a esse fe-
nômeno é prejudicado por conta do banco de
dados do Conselho Tutelar. Atualmente utilizam
o sistema SIPIA, embora alguns conselheiros já
tenham se posicionado em relação à ineficiên-
cia do mesmo. O SIPIA é um sistema comple-
xo que não facilita o diálogo entre os próprios
conselhos, Assim, quando uma família migra de
uma região para outra, as notificações podem
ser geradas em duplicidade, além de outras fa-
lhas de registro. No momento o SIPIA está sen-
do aperfeiçoado (SIPIA Web) para um modelo
pelo qual todos os Conselhos Tutelares do Brasil
terão comunicação entre si via internet, porém
esse novo sistema ainda não foi implantado em
Campinas. De qualquer forma não consegui-
mos obter um mapa dos dados coletados pelo
Conselho Tutelar com relação à ESCA, o que foi
dificultado ainda mais por essas mudanças dos
sistemas. Os dados dos sistemas anteriores não
migram para o sistema atual, e isso aconteceu
durante as várias mudanças dos sistemas uti-
lizados pelo Conselho Tutelar ao longo dos 14
anos de existência em Campinas. Outros fatores
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também prejudicam esse levantamento, como,
por exemplo, as terminologias utilizadas nos sis-
temas: não consta em seu sistema de notifica-
ção o fenômeno exploração sexual. Certamente
esses entraves prejudicam muito a atuação dos
Conselhos Tutelares no controle e cumprimento
dos direitos da criança e do adolescente.
Outro ator importante do Sistema de Garantia
de Direitos é o Conselho Municipal dos Direitos
da Criança e do Adolescente de Campinas,
sobretudo por intermédio da Comissão de
Enfrentamento a Exploração Sexual contra
Crianças e Adolescentes.
Criado no início da década de 90, logo após
a promulgação do Estatuto da Criança e do
Adolescente, o Conselho Municipal dos Direitos
da Criança e do Adolescente de Campinas-
CMDCA tem na sua trajetória importantes mo-
mentos no enfrentamento à violência e explora-
ção sexual contra crianças e adolescentes.
Os primeiros anos de funcionamento do CMDCA
foram dedicados mais à implementação, organi-
zação e ao reconhecimento pelo executivo mu-
nicipal da época de qual seria seu papel e que
lugar ocuparia na nova estrutura administrativa.
Prevista no artigo 90º do ECA, sua principal atri-
buição é discutir o que fazer em relação à polí-
tica de atendimento à criança e ao adolescente
do município de Campinas, de forma coletiva,
com maior participação possível da população,
tirando da figura do prefeito os poderes em re-
lação à política para a criança e o adolescente.
Inverter a “lógica” dos poderes não era tare-
fa fácil, por isso, logo na primeira gestão do
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente de Campinas- CMDCA, em 1993,
parte dos conselheiros da sociedade civil renun-
ciaram e protestaram contra a falta de respeito
às decisões do conselho.
Em 1997, o Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente de Campinas- CMDCA,
depois de alguns anos de funcionamento e com
status administrativo definido, se estrutura em
espaço próprio, e sua vinculação é na Secretaria
de Assistência Social. Tem nas comissões temá-
ticas internas seus principais espaços de discus-
são, sempre marcados por embates entre po-
der público e sociedade civil, o que, em vários
momentos, resultava em propostas e delibera-
ções importantes para a defesa dos direitos da
34
criança e do adolescente.
Destacamos neste período a implementação
do primeiro Conselho Tutelar e a inclusão nas
pautas do conselho de temas como trabalho
infantil, abrigos, crianças desaparecidas, medi-
das sócio educativas, uso de drogas e crianças e
adolescentes em situação de rua.
Paralelamente, o movimento de conferências
dos direitos da criança e do adolescente acon-
tecia no Brasil e, em 1997, Campinas sedia a 1º
Conferência Regional DCA, embora estivesse na
2º Conferência DCA a nível municipal.
Nos anos 90, o município não reconhecia a vio-
lência e a exploração sexual contra crianças e
adolescentes. Podemos afirmar que a discussão
de ESCCA teve origem nas discussões de violên-
cia doméstica, e que foi a partir dos debates da
comissão de VDDCA que o município começou
a verificar que esse não era um fenômenos de
outros estados, mas uma realidade também da
cidade de Campinas. É importante destacar que
a entidade CRAMI, em meados da década de 90,
realizava o atendimento de casos de violência
sexual, na época rotulados como abuso.
Mas foi no início dos anos 2000, com enorme
aumento das denúncias de casos e exploração
sexual, que o Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente de Campinas|CMDCA
incluiu na sua pauta como enfrentar o fenôme-
no da violência e exploração sexual contra crian-
ças e adolescentes.
É importante dizer que, em 2002, com a desti-
nação de volumosos recursos para o Fundo da
criança pela PETROBRÁS, o poder público apre-
senta o projeto de criação do programa munici-
pal de enfrentamento à violência e exploração
sexual contra crianças e adolescentes, aprovado
pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança
e do Adolescente de Campinas|CMDCA. O
CMDCA institui então a comissão temática de
enfrentamento à violência e exploração sexual
contra crianças e adolescentes.
Com a criação do programa, o CMDCA passa a
discutir e deliberar importantes propostas para
o enfrentamento do fenômeno na cidade de
Campinas.
Em 2003 o CMDCA, a Câmara Municipal, o
Fórum DCA, a Vara da Infância e Juventude, a
FEAC e os Conselhos Tutelares em conjunto ela-
boraram o Plano Municipal de Enfrentamento a
35
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Violência e Exploração Sexual Contra Crianças e
Adolescentes de Campinas.
Por fim, o Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente de Campinas- CMDCA,
através da comissão ESCCA, têm atuado ativa-
mente no enfrentamento à exploração sexual
de crianças e adolescentes. Coordenou as ações
da semana de 18 de maio, promovendo a cons-
tituição de um grupo de trabalho. Também es-
teve presente em todas as ações que este proje-
to promoveu, através de apoio e influência nas
ações propostas. Destaca-se como a principal
participação deste ator a revisão do plano mu-
nicipal de enfrentamento à exploração sexual
contra crianças e adolescentes.
Nos próximos capítulos, apresenta-se os outros
importantes atores pertencentes ao Sistema
de Garantia de Direitos que participaram deste
projeto.
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Campinas apresenta uma longa caminhada
no enfrentamento as violências sexuais contra
crianças e adolescentes.
Em julho de 1985, foi inaugurado o CRAMI -
Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na
Infância, pioneiro no país no atendimento à vio-
lência doméstica contra crianças e adolescen-
tes, com destaque a violência sexual.
Campinas na década de 80, estava muito envol-
vida na causa da criança e do adolescente e en-
viou representantes que ajudaram diretamente
na elaboração da Constituição Federal de 1988,
mudando os olhares sobre a infância e adoles-
cência.
Durante o final da década, participou da cons-
trução do Estatuto da Criança e do Adolescente
e comemorou com muito orgulho a promulga-
ção do mesmo em 13 de julho de 1990.
O Brasil, juntamente com Estocolmo (Suécia),
1996, Yokohama (Japão), 2001 é signatário
da Convenção Internacional dos Direitos da
Criança e do Adolescente e demais Normativas
e Protocolos Internacionais.
Em 2002, Governo e Sociedade Civil, construí-
ram juntos o “plano Nacional de Enfrentamento
à Violência Sexual infanto-Juvenil”.
Campinas, em compasso com todo esse movi-
mento, intensificou o debate para as questões
de Enfrentamento à Exploração Comercial de
Crianças e Adolescentes (ESCCA) e fruto dis-
to, construiu em 2003, o “plano Municipal de
Enfrentamento à Violência Sexual infanto-
Juvenil”, uma ação conjunta com representan-
tes do poder executivo, legislativo, judiciário e
sociedade civil.
Em 2004, com destinação de recursos pela
Petrobrás ao Fundo Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente (FMDCA), o município
iniciou ações articuladas para o enfrentamen-
to ao fenômeno, com o desenvolvimento do
Projeto Rotas Recriadas.
O Projeto “Rotas Recriadas” foi uma ação da
empresa Petrobras que nesta época, entre
os seus programas, desenvolvia o “Siga Bem
Criança”, apoiando políticas sociais voltadas
para crianças, adolescentes e suas famílias em
todo o território nacional. Os executores consta-
taram o envolvimento dos caminhoneiros como
38
exploradores sexuais com rotas de exploração
em todo o país. O mapeamento destas rotas
apontou Campinas como um local de grande
incidência da ESCCA. Fizeram parte do projeto
“Rotas Recriadas” as secretarias municipais de
Assistência Social, Educação, Cultura-Esporte
e Turismo, Saúde, O Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) e
as entidades: Associação Promocional Oração e
Trabalho (APOT), Casa Betel, Centro Regional de
Atenção aos Maus Tratos na Infância (CRAMI),
Centros de Estudos e Promoção da Mulher
Marginalizada(CEPROMM) e Obra Social São
João Bosco.
De 2004 a 2006, houve relevante estruturação
das ações, especialmente com o fortalecimen-
to da rede de atendimento e a constituição em
2006, do Programa Municipal de Enfrentamento
à Exploração Sexual Comercial de Crianças e
Adolescentes (PEESCCA).
A partir de fevereiro de 2008, com a implanta-
ção do Centro de Referência Especializado da
Assistência Social (CREAS), um centro de aten-
dimento articulador, mobilizador e gestor de
ações de enfrentamento, o referido Programa
passou a integrá-lo. Esta adequação buscou o
cumprimento das diretrizes do Sistema Único
da Assistência Social ( SUAS ), assim como a
garantia dos direitos econômicos, sociais, cul-
turais e outros, desta população, na perspectiva
da indivisibilidade e interdependência de todos
os direitos humanos.
A Viii Conferência Municipal dos Direitos
da Criança e do Adolescente realizada em
Campinas em 1, 2 e 3 de julho de 2009, discutiu
entre inúmeros temas, a violência em geral que
vitima crianças e adolescentes em nosso muni-
cípio e tirou como uma das propostas a criação/
fortalecimento de mecanismos para o enfrenta-
mento da mesma, entre elas a violência sexual,
incluindo-se a ESCCA.
Neste mesmo ano a Câmara Municipal de
Campinas aprovou a Lei 13.780/09, que ins-
tituiu a semana de 18 a 22 de maio, como a
de “Enfrentamento a Violência Sexual contra
Crianças e Adolescentes “e também foi im-
plantada a Comissão de Estudos da Pedofilia/
Violências Sexuais, levando esta temática para
os criadores de Leis Municipais, o que compõem
para a construção de políticas públicas para o
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enfrentamento da questão.
No Diário Oficial da União de 25 de novembro
de 2009, é publicada a resolução nº 109 que
versa sobre a Tipificação Nacional dos Serviços
Socioassistenciais, com a diretriz para o funcio-
namento de todos os serviços da proteção social
básica e da proteção social especial de média e
alta complexidade.
Na proteção social especial de média comple-
xidade a diretiva é para o atendimento a ca-
sos de ESCCa em dois serviços sendo o CREAS
PAIF (Proteção e Atendimento Especializado a
Indivíduos e Famílias) e o serviço especializado
em abordagem social.
As ONGs e o poder público tem que readequar
seus serviços para atenderem as normativas na-
cionais.
Estamos desde 2004 com o apoio da Petrobras
para o desenvolvimento de nossas ações.
O Programa de Enfrentamento a Exploração
Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes
(PEESCCA) tem por objetivo avançar na redu-
ção dos riscos a que estão expostos crianças e
adolescentes em situação de exploração sexu-
al comercial e em situação de rua, ampliando e
implementando ações complementares às que
estão em desenvolvimento, trabalhando nos
seis eixos das diretrizes do plano nacional: análi-
se da situação, mobilização e articulação, defesa
e responsabilização; atendimento; prevenção e
protagonismo infanto-juvenil.
Procuramos a partir das ações deste programa,
promover a igualdade e inclusão desta popula-
ção, buscando assegurar diversas oportunida-
des mais equitativas a quem historicamente, foi
e vem sendo vítima de discriminação, exclusão e
violências das mais variadas formas.
O Programa PESSCA tem responsabilidade na
gestão das redes constituídas por organizações
não governamentais - ONGs, que compõem a
rede sócio-assistencial e são co-financiadas pelo
município, para execução das ações.
A partir deste novo modelo, o gestor consegue
analisar, subsidiar e monitorar o planejamento
e execução dos serviços, com a finalidade de
O pEESCCA - programa de Enfrentamento a Exploração
Sexual Comercial de Crianças e Adolescentes
40
garantir o atendimento especializado, as ações
de prevenção, de articulação e o fortalecimento
do sistema de defesa, responsabilização e pre-
venção.
Esse processo de gestão vem sendo aprimorado
com inovações de métodos e estratégias na or-
ganização e articulação da rede executora e da
rede intersetorial, saúde, educação, habitação,
esportes, cultura, lazer, turismo, segurança, tra-
balho e renda, entre outras.
A partir de 2005, o CMDCA1 junto ao gestor
público municipal, estabeleceu que a gestão
do Programa passaria a ser da Secretaria de
Cidadania, Trabalho, Assistência e Inclusão
Social - SMCTAIS2 e as suas ações seriam execu-
tadas pela rede de OG’s e ONG’s parceiras.
Em 2006, definiu-se que esse programa atingi-
ria, gradativamente, o seguinte público alvo:
1. Crianças e adolescentes em situação de rua;
2. Crianças e adolescentes em situação de rua
e exploração sexual comercial;
3. Crianças e adolescentes em situação de
exploração sexual comercial em ambiente 1 Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente2 Secretaria Municipal de Cidadania, Trabalho, Assistência e Inclusão Social
fechado;
4. Crianças e adolescentes em situação de ex-
ploração sexual comercial que residem em
seus domicílios.
No relatório de atividades do programa de
Enfrentamento à Exploração Sexual Comercial
de Crianças e Adolescentes e Crianças e
Adolescentes em Situação de Rua - ESCCA / RUA
de 2007, o texto coloca que o programa con-
seguiu atingir os três primeiros públicos alvos,
situados em maior número na região central
da cidade e bairros adjacentes. Já, com rela-
ção às crianças e adolescentes em situação de
ESCCA residindo com familiares, o programa
não conseguiu atingir. O foco ficava no trabalho
com as crianças e adolescentes mais expostos
e nos pontos de ESCCA mapeados pelo “Rotas
Recriadas”3. As ações concentravam-se no
Jardim Itatinga (bairro de casas de prostituição),
na região sul com destaque a região do “Campo
Belo”, local próximo ao aeroporto e a grandes
rodovias, com pontos de ESCCA também mape-
ados pelo Rotas Recriadas e na região do Padre
Anchieta - região de entroncamento de três ro-
dovias. 3 Programa Rotas Recriadas - crianças e adolescentes livres da exploração sexual, patrocinado pela Petrobras.
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Compunham a rede em 2007: APOT - Casa
Guadalupana e Abrigo para crianças e adoles-
centes do sexo masculino em situação de rua;
Instituto Souza Novaes - Pernoite Protegido e
Abrigo para crianças e adolescentes do sexo fe-
minino, em situação de rua; TABA - Espaço de
Vivência e Convivência do Adolescente; Centro
de Estudo e Promoção da Mulher Marginalizada
(CEPROMM) Itatinga e Cidade Singer; Casa Betel;
Programa Convivência e Cidadania; Centro de
Educação e Assessoria Popular (CEDAP) e Centro
Promocional Tia Ileide (CPTI).
Durante o primeiro trimestre de 2007, o pro-
grama seguiu o mesmo modelo de 2006, com a
articulação do gestor visando potencializar no-
vas ações .
A partir de abril/2007, iniciaram-se efetivamen-
te as novas ações do programa para 2007 e du-
rante o ano foram atingidos os seguintes resul-
tados:
1. Os educadores sociais de rua abordaram
mensalmente uma média de 90 crianças e
adolescentes em situação de ESCCA/RUA,
em 750 atendimentos mensais, sendo 60%
pelos educadores da Casa Guadalupana
com o público de crianças e adolescentes
em situação de rua, com ou sem ESCCA e
30% pelo CEDAP no atendimento em situa-
ção de rua com ESCCA já instalado e ou situ-
ação de ESCCA em casas especializadas para
esse fim.
2. As crianças e adolescentes abordadas fo-
ram encaminhados para oficinas de arte
educação e acompanhamento psicossocial
da TABA, Guadalupana, Pernoite Protegido,
CEDAP.
3. Com o progresso da vinculação aos progra-
mas, essas crianças e adolescentes constru-
íram seus projetos de vida, que vão desde o
retorno à escola e a família, até a inclusão
em abrigos especializados e, ou, tratamento
para dependência química.
4. O Pernoite Protegido, além de acolher a
demanda dos educadores sociais de rua,
acolheu também demanda espontânea que
chegou ao serviço, além de casos encami-
nhados pelo Conselho Tutelar. Esse serviço
atendeu aproximadamente 30 crianças e
adolescentes mensalmente, sendo 20% com
suspeita ou confirmação de ESCCA, num
42
total de 360 atendimentos mensais.
5. A TABA atendeu, nas oficinas de arte edu-
cação e no apoio psicossocial, uma média
mensal de 55 adolescentes e jovens, totali-
zando 198 atendimentos mensais.
6. Com o início das oficinas de arte educação
da Casa Guadalupana em 2007, a popula-
ção atendida aumentou, devido a demanda
espontânea que chegou na casa, entendida
como referência para esses adolescentes,
sendo atendidos mensalmente, somente
nas oficinas de arte educação, 50 adolescen-
tes por mês.
7. O CEPROMM, que está situado em área con-
finada de prostituição, atendeu aproximada-
mente 30 crianças e adolescentes mensais,
e 39 crianças e adolescentes/mês na região
do Campo Belo, nas oficinas de arte educa-
ção e atendimento psicossocial, num total
de 203 atendimentos mensais.
8. Os abrigos especializados para crianças e
adolescentes em situação de rua e ESCCA,
atuaram como retaguarda oferecendo inclu-
são e proteção. O Instituto Souza Novaes,
com atendimento médio mensal de 6
adolescentes do sexo feminino e a Casa
Jimmy - APOT, com atendimento médio
mensal de 15 crianças e adolescentes do
sexo masculino
9. A Casa Betel, que está nessa rede desde
2004, como abrigo (Casa de Passagem) de
curta permanência para o referenciamento
de crianças e adolescentes que não são de
Campinas.Atuou como apoio para a rede,
com atendimento médio mensal de 12
crianças e adolescentes de ambos os sexos.
10. A participação do Programa Convivência
e Cidadania foi fundamental pois, além de
contribuir para a identificação e diferencia-
ção das crianças e adolescentes abordados,
uma vez que reconhece seu público alvo,
atuou também na prevenção a ESCCA.
Em 2007 a rede apresentou a seguinte compo-
sição: APOT com a Casa Guadalupana e abri-
go especializado masculino; Instituto Souza
Novaes com o Pernoite Protegido e o abrigo es-
pecializado feminino; CEPROMM; CEDAP; CPTI;
Casa Betel; TABA; Convivência e Cidadania;
Obra Social São João Bosco com o Indicando
Caminhos; Serviço de Saúde Cândido Ferreira
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com a República Assistida.
De acordo com os resultados apresentados pelo
trabalho até 2007, verificamos um grande nú-
mero de casos de ESCCA em ambientes fecha-
dos, compreendendo casas de cafetinagem,
saunas, boates, chácaras, casas das próprias
famílias (os exploradores são os próprios pais,
parentes ou responsáveis legais), locais de di-
fícil atuação por envolver redes de aliciadores
e exploradores sexuais mais estruturadas, com
forte ligações com tráficos de drogas e outras
ações ilícitas.
Para conhecermos este universo e elaborarmos
estratégias de proteção a estas vítimas, im-
plantamos o projeto denominado “indicando
Caminhos” com o apoio institucional da Vara da
Infância e Juventude, no que compete as ações
de verificação, mapeamento dos locais fecha-
dos e abertos, desenvolvimento de um plano de
atendimento para o local, envolvendo atuações
de responsabilização e de proteção em situa-
ções que se constatam crianças e adolescentes
em situação de ESCCA, ESCCA/Rua.
O referido projeto teve inicio em junho de 2008
e até outubro, mapeou 131 pontos de ESCCA,
ESCCA/Rua, obtendo a confirmação de 42 pon-
tos. Foram notificados, 19% das situações à
Vara da Infância e Juventude, 20% ao Ministério
Público da Infância e Juventude e os restantes
ao Conselho Tutelar, casos esses com identifi-
cação das vítimas, ou não confirmação da ocor-
rência dos fenômenos.
Em agosto de 2008, implantou-se o Serviço de
“República Assistida”, buscando o objetivo de
proporcionar atendimento à adolescentes que
são moradores de rua e fazem o uso abusivo de
substâncias psicoativas, com ou sem ESCCA e
principalmente apresentando agravos na saúde
mental.
Os dados de 2008 foram coletados a partir dos
relatórios mensais enviados pelas instituições e
apresentados por semestre, uma vez que ocor-
reram mudanças na forma da coleta de dados.
Os dados dos abrigos Casa Betel, Pernoite e
Abrigo especializados da APOT e Instituto Souza
Novaes não foram computados no primeiro se-
mestre.
Foram atendidos 379 crianças, adolescentes e
jovens, entre 02 a 24 anos, sendo que 54 destes,
foram atendidos por mais de uma instituição,
44
devido as especificidades do fenômeno.
Foram 173 meninas, 180 meninos e 26 travestis.
Com relação as idades foram 31 crianças entre
02 e 11 anos, 236 adolescentes, sendo 25 de 12
anos, 21 de 13 anos, 39 de 14 anos, 40 de 15
anos, 56 de 16 anos e 35 de 17 anos. Atendemos
41 jovens entre 18 e 24 anos e 71 outros sem
informações precisas de idade.
Evidenciou-se que a maioria do público atendi-
do foi de adolescentes entre 14 e 17 anos.
Dentre os atendidos encontramos 72 adolescen-
tes e jovens em situação de Exploração Sexual
Comercial, 75 em situação de Rua e 26 em situ-
ação de Rua e Exploração Sexual Comercial.
Tivemos 04 casos confirmados de superação da
situação de ESCCA, 06 de Rua e 03 da situação
de ESCCA/Rua. As instituições prestaram neste
primeiro semestre de 2008 7.738 atendimentos.
Entre julho a dezembro de 2008, foram reali-
zados 9.423 atendimentos/atividades com as
crianças, adolescentes e jovens atendidas pelo
programa, com uma média de 190 crianças,
adolescentes e jovens por mês.
Em 2009 fizeram parte do atendimento dire-
to da rede CPTI, CEDAP, CEPROMM, Indicando
Caminhos (OSSJB) e Casa Guadalupana (APOT)
Foram atendidos pelos programas CPTI, CEDAP e
CEPROMM 152 crianças e adolescentes, destas
124 do sexo feminino e 28 do masculino, além
de 44 travestis pelo CEDAP, que não entraram
na análise de dados por não conseguirmos con-
firmar as idades, mas alguns eram adolescentes.
Atendemos 27 crianças entre 2 e 11 anos, 118
adolescentes entre 12 e 17 anos e 7 jovens en-
tre 18 e 21 anos.
A Casa Guadalupana atendeu a 175 crianças e
adolescentes no ano de 2009, sendo 41 meninas
e 134 meninos. Com relação as idades foram 6
crianças entre 9 e 11 anos, 82 adolescentes, 4
jovens entre 18 e 19 anos e 83 não informaram
a idade precisamente.
É interessante destacar o tempo de atendimen-
to no programa, sendo 18 atendidos até 6 me-
ses, 15 de 7 a 12 meses, 41 de 13 a 24 meses
e 5 sem informação. Verificamos que a maioria
estão sendo acompanhados de 2 a 3 anos, refle-
tindo a complexidade do fenômeno que requer
um acompanhamento longo e sistemático para
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o rompimento do ciclo da ESCCA.
Campinas conta desde 2005 com um sistema
institucional informatizado de notificação de
violências denominado SISNOV (Sistema de
Notificação de Violências), de acesso restrito
aos profissionais integrantes das redes de saúde
e assistência social principalmente, que foi uti-
lizado como modelo pelo Ministério da Saúde
para a criação do SINAN (Sistema Nacional de
Notificação de Violências), onde se destacam os
dados :
Entre 01/07/2005 a 31/12/2008 foram 2.442
notificações, sendo doméstica – 1.705 e urbana
– 737. Dentre estas 1.070 são de cunho sexual,
destacando-se 470 domésticas e 600 urbanas.
Destas urbanas, são 46 casos de ESCCA notifi-
cados. A Violência Doméstica contra Crianças e
Adolescentes corresponde a 62,3 % destas tipi-
ficadas como sexuais.
Em 2010, estão compondo esta rede do
PEESCCA: CPTI, CEDAP, CEPROMM e APOT,
com os Casa Guadalupana, Pernoite Protegido,
Abrigo Especializado Feminino e Masculino.
Componentes desta rede participam ativa-
mente da comissão de enfrentamento a ESCCA
do CMDCA, da Comissão Criando Redes de
Esperança que trata de políticas para crian-
ças e adolescentes em situação de rua e se
faz representar nas discussões do colegiado.
Participamos também dos Conselhos de clas-
ses, com destaque no CRP (Conselho Regional
de Psicologia) e CRESS (Conselho Regional de
Serviço Social) e do CMAS (Conselho municipal
da Assistência Social).
A Instituição TABA, que não esta atualmente
sendo co-financiada pela SMCAIS, trabalha com
o enfrentamento a ESCCA e participa ativamen-
te destas ações, levando a discussão para o seg-
mento do Turismo, Comércio , Lazer e Negócios.
Estas participações são imprescindíveis para le-
var as questões da infância e adolescência e da
ESCCA/Rua nos espaços de formulação de políti-
cas públicas e para o gestores públicos nas mais
diferentes àreas.
Entendemos a ESCCA, a partir do seguinte con-
ceito: “Exploração sexual comercial define-se
como uma violência contra crianças e adoles-
centes, que contextualiza em função da cultura
Entendendo e Conceituando o Fenômeno
46
(do uso do corpo), do padrão ético e legal, do
trabalho e do mercado. A exploração sexual co-
mercial de crianças e adolescentes é uma rela-
ção de poder e de sexualidade, mercantilizada,
que visa a obtenção de proveitos por adultos,
que causa danos biopsicossociais aos explora-
dos, que são pessoas em processo de desenvol-
vimento. Implica o envolvimento de crianças e
adolescentes em práticas sexuais, coercitivos ou
persuasivos, o que configura uma transgressão
legal e a violação de direitos à liberdade indivi-
duais da população infanto-juvenil”4.
A ESCCA se caracteriza pela ocorrência de uma
relação sexual/sexualizada entre uma criança ou
adolescente e um “adulto”, mediada pela troca
de favores ou dinheiro. A pornografia, as trocas
sexuais, o trabalho sexual infanto juvenil agen-
ciado, o turismo sexual, o tráfico de crianças e
adolescentes para fins de exploração sexual e a
prostituição são entendidos como formas deste
fenômeno, onde está sempre presente a figura
do explorador (aquele que detêm o poder), e o
da criança/adolescente explorado (o objeto de
desejo e consumo).
A ESCCA se apresenta de diferentes formas, 4 A Exploração Sexual de meninos e meninas na América Latina e no Caribe, relató-rio final- Brasil, dezembro, 1998, p.72
didaticamente expostas a seguir5:
ExplORAÇÃO SExuAl COMERCiAl NOS
MOlDES DA pROSTiTuiÇÃO: Entendemos a
prostituição como a atividade na qual atos se-
xuais são negociados em troca de dinheiro, da
satisfação de necessidades básicas (alimenta-
ção, vestuário, abrigo) ou do acesso ao consumo
de bens e serviços. A prostituição tem diferen-
tes formas, serviços e preços. O trabalho pode
ocorrer em espaços fechados (saunas, bordéis,
casas de cafetinagem, motéis, hotéis, boates,
bares, entre outros) ou espaços abertos como
ruas, estradas e praças. Muitas vezes, atuam
em regime de escravidão e geralmente estão
envolvidos com o crime organizado. Os clien-
tes, os empregadores e os intermediários, que
induzem, facilitam ou obrigam crianças e ado-
lescentes a se prostituir, são todos considerados
exploradores sexuais.
pORNOGRAFiA: Envolve a produção, exibição
(divulgação), distribuição, venda, compra, posse
e utilização de material pornográfico. A porno-
grafia encontra-se presente não só em material
5 Fonte: Cartilha da Campanha de Combate à Violência Sexual Contra crianças e Adolescentes. FETEC-CUTSP- Federação dos Trabalhadores em Empresas de crédito de São Pau-lo/Sindicato dos Bancários de São Paulo/ CONTRAF – Confederação Nacional dos Trabalhadores do ramo Financeiro/ AFUBESP- Associação dos Funcionários do Grupo Santander Banespa, Ba-neprev e Cabesp, Brasil, maio, 2009.
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normalmente considerado pornográfico (fotos,
vídeos, revistas, espetáculos), mas também
na literatura, fotografia, publicidade, cinema,
quando apresentam ou descrevem com claro
caráter pedófilo situações envolvendo crianças
e adolescentes, expostas e usadas sexualmen-
te por adultos. A pornografia infanto-juvenil na
Internet constitui atualmente um dos mais gra-
ves problemas a ser enfrentado pela sociedade,
em nível nacional e internacional.
TuRiSMO pARA FiNS DE ExplORAÇÃO SExuAl:
Envolve a utilização de equipamentos do turis-
mo para a exploração sexual de crianças e de
adolescentes. O chamado “turismo sexual” não
é turismo. É, sim, um tipo de violência que vai
contra os princípios do Código Mundial de Ética
do Turismo, além de ser uma violação inaceitá-
vel dos direitos humanos.
TRÁFiCO DE pESSOAS pARA FiNS SExuAiS: De
acordo com as Nações Unidas tráfico de pesso-
as significa: “recrutamento, transporte, trans-
ferência, abrigo e guarda de pessoas por meio
de ameaças, uso de força ou outras formas de
coerção, abdução, fraude, enganação ou abuso
de poder e vulnerabilidade, com pagamentos ou
recebimento de benefícios que facilitem o con-
sentimento de uma pessoa que tenha controle
sobre outra, com propósitos de exploração”.
Segundo normativas nacionais e internacionais,
o tráfico de mulheres, crianças e adolescentes
para fins de exploração sexual comercial é cri-
me, e uma violação dos direitos humanos.
Com relação às crianças e adolescentes em si-
tuação de rua, para o nosso projeto, são con-
sideradas aquelas que perderam seus laços fa-
miliares e fazem das ruas, principalmente as da
região central, seus locais de moradia e sobrevi-
vência. Todos estes meninos e meninas saíram
de suas casas por terem sido vítimas de violên-
cia doméstica gravíssima ao ponto de optarem
pela violência e regras rígidas que imperam nas
ruas. Costumam se submeter a programas se-
xuais como forma de sobrevivência e obtenção
principalmente de drogas. A ação devastadora
da situação de rua na vida destas crianças e ado-
lescentes é presenciada por todos nós, quando
somos confrontados nas ruas por meninos e
meninas sujos, mal vestidos, magros, sob efeito
de drogas, fazendo “ponto” nas esquinas, dor-
mindo pelas calçadas, mocós e marquises de
nossa cidade.
48
Atualmente já atendemos a todas formas de
ESCCA.
Em nossas ações e a partir da leitura de nossos
dados quali-quantitativos, de estudo de nossos
casos atendidos e apoio da literatura científica
sobre o assunto, levantamos os seguintes fato-
res prediponentes a ocorrência de ESCCA, en-
tendendo que os fatores desencadeantes são
multicausais:
• Quadros de violência doméstica contra
criança e adolescente, destacando-se a se-
xual;
• Ambiente doméstico com violência de gêne-
ro;
• Precárias condições financeiras;
• Uso e/ou abuso de substâncias psicoativas
(lícitas e/ou ilícitas);
• Agravos na saúde mental e/ou física;
• Vivência de exclusão social e familiar, com
ênfase para os travestis;
• Envolvimento com o tráfico de entorpe-
centes seja na venda das substâncias como
única fonte de renda, seja para sustento do
vício, ou, inclusive, por coação e obrigatorie-
dade (imposta pelo traficante);
• Reprodução do ciclo de violência e explo-
ração que acontece na família. Portanto, se
desenvolvem dentro de contexto onde tais
comportamentos são usuais e passam a in-
ternalizar este modelo;
• Residência em locais com infra-estrutura de-
ficiente;
• Escassez de políticas públicas voltadas para
a criança/adolescente/jovem: falta de in-
centivo em cultura, educação, lazer, esporte,
não oferecendo para essas pessoas oportu-
nidades para ocupar-se e desenvolver-se de
modo saudável;
• Inserção em contexto social violento;
• Evasão escolar ou baixa escolaridade; anal-
fabetismo e analfabetismo funcional;
• Envolvimento em atos infracionais, crimina-
lidade;
• Mídia estimuladora da sexualidade precoce
e incentivadora do consumo, contribuin-
do para que muitas crianças desenvolvam
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prematuramente sua sexualidade e encon-
trem nela uma oportunidade para obtenção
de renda e aquisição dos produtos anuncia-
dos;
• Mídia acrítica, permissiva, que apresenta
programas colocando a exploração sexual
de modo banalizado, superficial, sensacio-
nalista, romantizado e irreal;
• Famílias acompanhadas pela rede de ser-
viços dos diferentes níveis de proteção do
território há muito tempo (saúde, educa-
ção, ONGs, etc.). Muitas vezes, essa rede
de atendimento está saturada e apresenta
dificuldades para realizar um acompanha-
mento individualizado e desenvolver novas
estratégias de vinculação aos programas e
atendimentos. Outras vezes, a integração
entre os serviços da rede é falha permitin-
do assim, que as famílias ou as pessoas em
situação de ESCCA não consigam aderir às
propostas;
• Diversas famílias migram de outras cidades/
estados e não estabelecem vínculo ou iden-
tificação com o local onde se inseriu, não
zelando, assim, pela manutenção do espaço
social e apresentando dificuldade de adesão
aos dispositivos da rede. Tais pessoas não se
sentem pertencentes àquele local, mesmo
residindo há anos na cidade.
Para enfrentar a complexidade dos fenômenos,
essas diferentes ações se desenvolvem de ma-
neira articulada e dinâmica, atendendo as es-
pecificidades dos mesmos, que exigem um pro-
cesso estreito e sistemático de monitoramento,
nos baseamos nos seguintes princípios metodo-
lógicos: gestão participativa; monitoramento e
avaliação sistemática; trabalho em rede; inter-
setorialidade; transdisciplinaridade;
Nos utilizamos das seguintes técnicas e instru-
mentos: relatórios mensais qualiquantitativos;
Reuniões semanais com a rede executora/equi-
pe técnica; Reuniões semanais/mensais para
capacitação e supervisão; Registros em diários
de campo; Registros em prontuários individuais;
Banco de dados; Visitas de monitoramento do
gestor a rede executora; Reuniões periódicas
com os dirigentes das instituições.
Oferecemos os seguintes atendimentos com os
pressupostos de Nosso Trabalho
50
seguintes princípios:
• Educação Social de Rua; Oficinas de Arte
Educação; Pernoite Protegido; Atendimento
Psicossocial; Formação continuada das equi-
pes;
• Atendimento jurídico social; Verificação e
mapeamento dos locais de ESCCA/Rua;
Buscamos como resultado de nosso trabalho:
• Melhora do número de acessos ao público
alvo;
• Aumento no número de crianças reinseridas
no ensino formal;
• Reaproximação e/ou fortalecimento do vín-
culo entre o atendido e sua família;
• Aumento da procura espontânea pelas
crianças, adolescentes, jovens e suas famí-
lias nos serviços desta rede;
• Aumento da divulgação entre os pares da
existência do programa pelos próprios aten-
didos, atraindo assim outras crianças e ado-
lescentes;
• Maior coesão nos trabalhos entre os
parceiros desta rede;
• Desenvolvimento de novas metodologias
para mapeamento, abordagem, acolhimen-
to, atendimento, referenciamento e contra-
-referenciamento, adequando-as constante-
mente à população alvo;
• Melhora no número de atendimentos em
geral;
• Aumento no número de participantes nas
oficinas sócio educativas e de arte educação;
• Aumento do número de participantes nas
comemorações do dia 18 de maio;
• Melhora do envolvimento dos atendidos em
diversas atividades e ações oferecidas pela
rede, concretizando o protagonismo infanto
juvenil;
• Aumento no número de busca por serviços
tais como escola, equipamentos da saúde,
retirada de documentos da vida civil, com
acompanhamento presencial dos profissio-
nais;
• Maior acesso e melhora no número de
adesões do público GLTTB (Gays, Lésbicas,
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Travestis, Transexuais e Bissexuais) aos ser-
viços da rede;
• Melhora no número de adesões dos atendi-
dos ao número de encaminhamentos pro-
postos;
• Melhora e aumento do número de ações no
trabalho com as famílias dos atendidos;
• Fortalecimento dos vínculos entre os atendi-
dos e os profissionais da rede;
• Aumento do número de discussões conjun-
tas de casos e situações entre os parceiros
da rede;
• Aquisição de repertório teórico e prático so-
bre os fenômenos ESCCA/Rua;
• Maior número de acesso e participações dos
atendidos, em eventos de cultura, esporte e
lazer;
• Melhora no número de adolescentes que
saíram da situação de ESCCA;
• Aumento no número de crianças e adoles-
centes que saíram da situação de rua e fo-
ram para abrigos, comunidades terapêuti-
cas ou voltaram para suas famílias;
• Aumento no número das ações voltadas
aos cuidados com a saúde, principalmente
à saúde sexual e reprodutiva e tratamento
para situações de uso e abuso de substân-
cias psicoativas;
• Maior número de ações de prevenção à
ocorrência do fenômeno de ESCCA;
• Melhora no número de casos referencia-
dos ao programa pelos Conselhos Tutelares,
Vara da Infância e Juventude, CREAS e de
outros serviços que compõem a rede de
atendimento à criança e ao adolescente em
nosso município;
• Ocorrência de supervisão continuada a pro-
fissionais desta rede;
• Melhora no número de participações dos
profissionais desta rede em eventos tais
como cursos, seminários, congressos, ofici-
nas, com temáticas pertinentes ao trabalho.
Para atingirmos nossos objetivos atualmente
contamos com os parceiros: CMAS, CMDCA,
Conselhos de Classe destacando-se CRP, CRESS e
CRM, Fórum dos Direitos da Criança e Adolescente
(FDCA), Centros de Defesa (CEDECA), Fundação
52
das Entidades Assistenciais de Campinas
(FEAC), Comissões de Direitos Humanos e da
OAB, Câmara Municipal, Conselhos Tutelares,
Vara da Infância e Juventude, Disque Denúncia
Municipal, Ministério Público da Infância
e Juventude,Prefeitura Municipal, Câmara
Municipal, Defensoria Pública, Universidades
destacando-se UNICAMP e PUCCAMP, mídia lo-
cal.
O objetivo da Prefeitura Municipal de Campinas,
através da SMCAIS (Secretaria Municipal de
Cidadania, Assistência e Inclusão Social) é en-
frentar a situação de Exploração Sexual de
Crianças e Adolescentes, buscando a execução
de ações da política municipal para esta ques-
tão.
As principais ações da secretaria acima mencio-
nadas são executadas pelas organizações go-
vernamentais e não governamentais parceiras
integrantes da rede de atendimento, atuantes
nas áreas:
• Defesa do direito da criança crianças de 0
a 6 anos com ênfase no fortalecimento dos
vínculos familiares, direito de brincar , socia-
lização e sensibilização;
• Crianças e adolescentes de 06 a 14 anos,
visando sua proteção, socialização e o for-
talecimento dos vínculos familiares e comu-
nitários;
• Programa de incentivo ao protagonismo ju-
venil e de fortalecimento dos vínculos fami-
liares e comunitários;
• Programas de aprendizagem profissional;
• Centro de Referência a Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais
• Ações de combate à violência doméstica
contra crianças e adolescente - VDCCA;
• Abordagem de rua para crianças e adoles-
centes;
• Medidas sócias educativas em meio aberto
- prestação de serviços à comunidade e li-
berdade assistida;
• Programa de erradicação do trabalho infan-
til;
• Família acolhedora;
• Abrigos de proteção às crianças e adoles-
centes violados em seus direitos;
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• Abrigos especializados para crianças e ado-
lescentes em situação de rua, usuários ou
não,de substancias psicoativas;
• Pernoite Protegido;
• Abrigo de apoio à saúde;
• Comunidade Terapêutica para adolescentes;
e
• Programa de atenção e apoio a adolescente
grávida.
Os critérios para a inclusão no programa são:
• Diagnóstico de ESCCA e ou Rua;
• Vulnerabilidade para ESCCA e histórico ante-
rior de ESCCA.
Os casos são encaminhados através do Disque
Denúncia, Conselho Tutelar, Vara da Infância e
Juventude ao CREAS, que faz a distribuição dos
casos nos programas, levando-se em conta o
território e o histórico apresentado. Existe uma
demanda espontânea derivada dos próprios
atendidos que levam outros em situação de
ESCCA ou ESCCa/Rua.
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Campinas, o terceiro maior município do es-
tado de São Paulo, tem como um dos principais
problemas de Saúde Pública, a violência em suas
diversas manifestações. Em 2001 a Secretaria
de Saúde detectou a necessidade do cuidado
as vítimas de violência sexual para prevenção
de DST/AIDS, e gravidez proveniente de estu-
pro, porém não existiam dados para aperfeiçoar
o diagnóstico e elaborar uma política eficaz, e
os serviços que prestavam assistência funciona-
vam independentes causando revitimização da
vítima e perda da maioria dos casos.
Para enfrentar o problema da violência sexual a
prefeitura de Campinas criou a rede Iluminar. A
rede trabalha com o conceito de que a violência
é um problema de saúde pública e não somente
um problema policial. Por isso, o foco está no
acolhimento da pessoa fragilizada pela situa-
ção de violência e no atendimento de qualida-
de a todas as vítimas de violência sexual urba-
na e doméstica da cidade. A formação da rede
teve início a partir de um seminário, em 2001,
que envolveu diversos órgãos governamentais,
municipais e estaduais, das áreas de Saúde,
Assistência Social, Educação, Segurança Pública
e também Organizações da sociedade civil en-
volvidas na luta contra a violência. Elaborou-se
então uma carta de intenções, dirigida ao pre-
feito, norteando a criação da Rede Iluminar.
A articulação da rede começou com a organiza-
ção do fluxo de atendimento das vitimas de vio-
lência, que instituiu oficialmente os caminhos a
serem seguidos pelas vítimas de violência den-
tro da rede. A rede articula conselhos comuni-
tários, instituições de saúde, de educação e de
segurança pública, tanto municipal quanto es-
taduais.
As ações mais importantes da rede são a huma-
nização do atendimento, a atenção integral às
vítimas e a criação do sistema de Notificação
SISNOV. Até hoje já foram capacitados mais de
3.000 profissionais da rede pública e de institui-
ções parceiras.
Em relação à notificação compulsória, foi insti-
tuído o sistema informatizado de notificação de
casos de violência – SISNOV, para a sistematiza-
ção dos dados e dar visibilidade aos números
da violência doméstica e sexual. Neste sistema
foram integrados inicialmente, três programas
voltados ao combate da violência na cidade:
56
Assistência às crianças e adolescentes vítimas
de violência doméstica; ESCA dirigido às crian-
ças e adolescentes vítimas de exploração sexu-
al (SUAS) e o “Iluminar Campinas”, dirigido ao
cuidado às vitimas de violência sexual urbana e
doméstica de ambos os sexos e todas as idades.
Cuidar da saúde das crianças mulheres, ado-
lescentes e homens vítimas de violência sexual
urbana ou doméstica aguda, antes de 72hs, pos-
sibilitando a prevenção da gravidez por estupro,
DST/AIDS, Hepatite.
Cuidar da saúde de todas as vítimas de violência
sexual doméstica crônica, e das suas famílias.
Identificar, Capacitar, Integrar e Monitorar a
Rede de cuidados para evitar a REVITIMIZAÇÃO,
qualificar e humanizar os serviços.
Elaborar e implantar sistema de notificação para
construção de banco de dados, monitoramento
da rede de serviços, possibilitarem implementa-
ção de políticas públicas mais eficientes
Cuidar das pessoas autoras de violência em am-
biente não policial para intervir na cadeia de
violência.
Desde sua implantação, em 2001, o Programa
Iluminar Campinas – Cuidando das Vítimas de
Violência Sexual, vem mudando o tratamen-
to dispensado às mulheres, homens, adultos,
crianças e adolescentes vítimas da violência se-
xual no município, por meio de um trabalho in-
tersetorial de interface com todas as secretarias
municipais e participação efetiva de diferentes
serviços públicos, Sociedade Civil organizada,
Universidades, entre outros.
O Programa envolve duas redes de trabalho:
uma de cuidados diretos e outra de cuidados
indiretos. Na que se refere ao apoio indireto
estão incluídos os equipamentos da Secretaria
de Cidadania, Trabalho, Assistência e Inclusão
Social, como os Núcleos Comunitários de
Crianças e Adolescentes, o Centro Municipal
de Proteção à Criança e Adolescente (CMPCA),
Casa Abrigo da Mulher Sara M e o Centro de
Referência e Apoio à Mulher (Ceamo).
Nesta rede também estão incluídas as Escolas
Municipais (Cemeis, Emeis e Emef’s), Guarda
Objetivos
processo de Trabalho Adotado
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Municipal, Conselhos Municipais da Criança e
do Adolescente (CMDCA), da Mulher (CMDM)
do Idoso (CMI) e das Pessoas com Deficiência
(Cmadene), Conselhos Tutelares, Vara da
Infância e da adolescência, ONGs que traba-
lham com estes segmentos da população, e
Delegacias de Polícias e da Mulher e os servi-
ços de assistência jurídica e psicológica da PUC
Campinas e da Universidade Paulista (UNIP).
Centros de Saúde, Prontos-Socorros munici-
pais, Centro de Referência de DST/AIDS, Serviço
Municipal de Atendimento Médico de Urgência
(Samu), Centro de Assistência Integral a Saúde
da Mulher (Caism/Unicamp), Pronto-Socorro
Infantil do HC da Unicamp, e Instituto Médico
Legal (IML) trabalham com a rede de cuidados
diretos.
Todos estes serviços estão autorizados a no-
tificar os casos de crianças e adolescentes ao
Conselho Tutelar e ao Sistema de Notificação
de Violência via Internet (SISNOV/SINAM). Um
colegiado da rede que se reúne bimestralmente
acompanha e coordena as ações.
Ao ser recebido em um dos serviços, a vítima é
acolhida e orientada, a queixa é identificada e
o paciente é imediatamente encaminhado para
atendimento médico e assistência psicológica.
O atendimento para as mulheres inclui anticon-
cepção de emergência. Em todos os casos é fei-
ta a imunização contra hepatite e aplicação do
coquetel contra o vírus HIV. A vítima também é
orientada para fazer Boletim de Ocorrência (BO)
e a agendar exame de corpo de delito.
A rede realiza várias ações de gestão: - Através
de planilhas de monitoramento (anexas) para
avaliar as dificuldades entender os problemas e
desenvolver processos de trabalho para melho-
rar o cuidado as vítimas.
Reuniões bimensais para apresentação das pla-
nilhas e definição das ações de resolução dos
problemas com metas e prazos.
Casos sentinelas: A rede realiza capacitação dos
serviços através da discussão de casos graves
com resolutividade inadequada.
A partir da implantação do SISNOV, os dados
são apresentados através de boletins (ane-
xos) aos gestores e autoridades locais para o
Gestão
58
desenvolvimento de ações de prevenção e de
políticas públicas relacionadas ao enfrentamen-
to as violência sexual. Faz parte da gestão das
informações um colegiado gestor do SISNOV,
com objetivo de melhorar a qualidade da noti-
ficação, avaliar quais informações devem ser di-
vulgadas e qual a melhor forma de divulgação, o
entrada de novos serviços notificadores, elabo-
rar o boletim anual.
Com a criação do Núcleo de prevenção de aci-
dentes e violências e a entradas das demais re-
des de cuidados de outras violências foi criado
um Grupo de trabalho para avaliar a qualidade
das notificações e realizar capacitação dos servi-
ços que apresentam problemas na notificação.
Valores epidemiológicos e estatísticos.
Possibilitar as vítimas de ambos os sexos e de to-
das as idades assistência á saúde física e psicos-
social prioritariamente às questões de polícia
(antes da implantação do programa apenas 20%
das vítimas chegavam aos serviços de saúde em
tempo hábil para a prevenção, pois a primeira
ação das vítimas e das famílias era se encami-
nhar a uma delegacia de polícia.) prevenindo
a gravidez por estupro, as DST/AIDS/hepatite e
garantindo o direito ao abortamento legal, evi-
tando a REVITIMIZAÇÃO através do trabalho em
rede e quebrando a corrente de violência, cui-
dando das crianças, adolescente e dos homens.
A diminuição do abortamento legal em 90%.
100% dos casos que realizaram todo o trata-
mento não tiveram sorologias positivas para
HIV/Hepatite
A criação do serviço de cuidado aos adolescen-
tes autores de violência em ambiente não poli-
cial junto as suas famílias.
A consciência dos serviços da rede de que as ví-
timas de violência sexual são da nossa respon-
sabilidade e devem ser tratadas com competên-
cia e humanização.
O envolvimento da comunidade e da mídia ele-
varam o nº de atendimento nos anos após a
implantação do programa, possibilitando às ví-
timas o cuidado com sua saúde.
A partir da divulgação dos dados SISNOV aos
principais Resultados Alcançados
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Secretários Municipais e aos gestores das redes
várias ações de prevenção e promoção da saúde
foram realizadas:
Iluminação dos espaços públicos com índices
alto de ocorrência;
Ronda escolar à noite pela Guarda Municipal;
Capacitação dos seguranças dos Shoppings
Center;
Capacitação dos observadores das câmeras nos
espaços monitorados nos terminais de ônibus,
ruas de pedestres, escolas;
Capacitação de toda rede de cuidados –
05/2009.
Alguns dados sobre Violência Sexual:
Violência Sexual por local de notificação e anoDados: Boletim SiSNOV No3
2005 2006 2007 2008 Total
CAISM/UNICAMP 77 158 134 186 555
SMCAIS / ONGs 173 88 261
PSI / HC / UNICAMP 12 22 30 25 89
SMCAIS / OGs 8 12 19 15 54
SMS / PSI / HM Mário Gatti 1 16 14 15 46
SMS 3 22 22 47
GUARDA MUNICIPAL 4 9 4 17
OUTROS 1 1
TOTAl 98 216 401 355 1.070
Violência Sexual, ambos os sexos todas as idades por tipo de violência sexual
Dados: Boletim SiSNOV No3
Estupro Atentado Assédio Exploração
0 a 4 anos 4 67 6
5 a 9 19 107 13
10 a 14 anos 73 126 32 11
15 a 19 anos 160 91 17 29
20-29 anos 174 84 6 6
30-39 anos 80 37 1
40 a 49 anos 35 15
50 anos e + 21 10 1
Desconhecido 3 6 3
TOTAl 569 543 79 46
Violência Sexual, tempo para a realização do cuidadoDados: Boletim SiSNOV No3
2000 - 80% após 72h
2009 - 90% após 12h
violência sexual, contaminação dst/aids, hepatite bDados: Boletim SiSNOV No3
100% das vítimas que encerraram o tratamento não apresentaram reversão nas sorologias
Apenas 30% não completaram o tratamento
Violência Sexual, ambos os sexos todas as idadespor causador
Dados: Boletim SiSNOV No 3
Local da Ocorrência TOTAL
Estabelecimento Público 1
Festa 5
Ignorado 110
Local de Trabalho 6
Matagal / Terreno 5
Ponto de ônibus / Terminal 43
Residência / Chácara 88
Via pública 302
Via pública próximo à escola 12
Via pública próximo a um estabelecimento comercial 28
TOTAl 600
60
A ação coletiva que foi proposta pelo programa
Iluminar na construção do cuidado a violência
articulando os serviços em rede buscou pro-
mover a conscientização das pessoas através
da ressignificação de novos eixos conceituais
para uma realidade que antes não era percebi-
da como tal. Sabemos que os dados notificados
ainda não conseguem mapear a totalidade das
ocorrências, mas com aqueles disponíveis estão
dando visibilidade ao problema e instrumentali-
zando ações e políticas.
O SISNOV tem sido uma ferramenta catalisa-
dora da consolidação de política pública e ino-
vação nas ações de vigilância enfrentamento
e cuidados as vítimas de violência sexual, pois
além de sistematizar as violências, o sistema
tem permitido ampliar a noção da situação no
município, através da divulgação dos boletins
periódicos com os dados coletados. O SISNOV
acaba articulando diferentes setores de rede de
cuidados, e se estabelece como um facilitador
na construção de ações e projetos terapêuti-
cos, assim como na organização de capacitação
técnica. O SISNOV contribui para uma impor-
tante discussão no cenário atual do Brasil, do
desafio de efetivar a notificação compulsória
da violência nos serviços, pois em alguns casos,
argumenta-se que o despreparo dos serviços e
profissionais para o acolhimento da demanda,
somado a precariedade da rede de cuidados,
pode trazer efeitos contrários a promoção dos
direitos e cidadania. Nos últimos anos a gestão
das informações trouxeram avanços significati-
vos nas políticas de prevenção como:Iluminação
de locais com altos índices de violência sexual
urbana.Capacitação dos observadores das câ-
meras de monitoramentos de ruas, terminais de
transporte coletivos para intervenção preventi-
va em casos suspeitos.Capacitação dos seguran-
ças privados de shopping Center da cidade.Tese
de doutorado defendida pela Dra. em psicologia
Claudia Pedrosa Programa Iluminar Campinas:
Da gestão inovadora do cuidado ao desafio da
incorporação da categoria gênero nas práticas.A
criação do Ambulatório de cuidado as crianças e
adolescentes vítimas de violência sexual.
Um desafio constante para a gestão da rede de
cuidados é o cuidado ao cuidador, ainda sem
ações especificas para as equipes dos serviços.
Conclusões
61
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Recomendações para a saúde pública
Os municípios tem hoje a possibilidade de im-
plantar, implementar e desenvolver ações de
cuidado e enfrentamento as violências sexuais
devido aos instrumentos disponibilizados pelo
ministério da saúde através da área técnica de
saúde da Mulher e da criança e adolescentes
e da Área Técnica de Vigilância e Prevenção de
Violências e Acidentes/Coordenação Geral de
Doenças e Agravos Não Transmissíveis, a ela-
boração da Norma técnica de atendimento as
mulheres e adolescentes vítimas de violências
sexual, a norma técnica para atendimento do
abortamento, a implantação da Política Nacional
de prevenção de acidentes e violências com a
implantação da ficha de notificação compulsó-
ria de violências. A possibilidade de construção
das redes com o SUAS, a seguranças pública e
os conselhos tutelares também existentes em
quase totalidade dos municípios.Dentro desse
cenário as ações do Iluminar campinas trazem
algumas sugestões que podem contribuir para a
construção das redes de cuidados as vítimas de
violência sexual.Realização de visitas técnicas
monitoradas aos serviços da rede para municí-
pios, estados e instituições. Já foram realizadas
em torno de 20.Capacitações para implantação
de ações e de organização das redes de cuida-
dos. Realizadas em 12 municípios.As ações de
cuidado, prevenção e enfrentamento a violên-
cia sexual urbana e doméstica passa a fazer
parte do Programa de Saúde da Família , com
interface com SUAS ,os operadores do Direito,
conselhos de direitos e tutelares, agentes de
segurança pública.O cumprimento das ações de
enfrentamento a exploração sexual de crianças
e adolescentes contidas no Plano Municipal de
Enfrentamento a exploração sexual de crianças
e adolescentes.A implantação do sistema de no-
tificação unificado ao SINAM transformando o
nosso SISNOV em SISNOV/SINAM contribuindo
para formulação de políticas de maior abran-
gência , estadual e federal.A disponibilização do
cuidado as crianças, adolescentes e homens e o
cuidado aos adolescentes autores de violência
sexual como ações para romper com o ciclo da
violência sexual.
Com o objetivo de Cuidar da saúde das crian-
ças mulheres, adolescentes e homens vítimas
de violência sexual urbana ou doméstica aguda,
Resumo
62
antes de 72hs, possibilitando a prevenção da
gravidez por estupro, DST/AIDS, Hepatite das
vítimas de violência sexual doméstica crônica,
e das suas famílias, Elaborar e implantar siste-
ma de notificação para construção de banco
de dados, monitoramento da rede de serviços,
possibilitarem implementação de políticas pú-
blicas mais eficientes, o município de Campinas
SP. Cria a rede Iluminar de cuidados as vítimas
de violência sexual, ancorado num trabalho em
rede com o SUAS, a Segurança Pública, os ope-
radores do direito, os conselhos tutelares, uni-
versidades e a sociedade civil organizada, que
através de fluxos definidos e protocolos estrutu-
rados para o atendimento de urgência e segui-
mento dos casos, diminuiu substancialmente o
tempo de atendimento das vítimas desde a hora
do ocorrido até o atendimento à saúde (norma
técnica), diminuindo em 90% o número de abor-
tos em caso de estupro, e através da implanta-
ção de um sistema de notificação ,on line hoje
SISNOV/SINAM desenvolve ações de prevenção
a violência sexual urbana, o monitoramento das
ações da rede, e a avaliação da qualidade da
notificação e a capacitação dos profissionais da
rede de cuidados.
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nas
64
O crescimento desordenado das cidades e a
decorrente situação de exclusão social gerada
favoreceu o estabelecimento de diversas for-
mas de violência e criminalidade instaladas nos
vazios deixados pelo poder publico.
A Região Metropolitana de Campinas não fugiu
a essa regra, tendo experimentado, nas últimas
décadas do século passado e nos primeiros anos
dois mil, períodos em que os índices de violên-
cia e criminalidade atingiram patamares inacei-
táveis, levando o município e a RMC a serem
incluídos na agenda policial da mídia nacional.
Ao final de 2001, com o assassinato do Prefeito
Municipal de Campinas, dentro de um quadro
de quase anomia no Estado de São Paulo, poder
público e sociedade entenderam como inadiá-
vel a adoção de iniciativas contundentes que se
mostrassem capazes de reverter a realidade en-
tão vivida e se constituissem em sinalização in-
questionável, para criminosos e coletividade de
que não se toleraria continuar convivendo com
aquele estado de coisas.
É nesse contexto que se cria o Movimento Vida
Melhor (MVM) e se implanta o Disque Denúncia
de Campinas (DD Campinas), em solenidade
em que estavam presentes o Governador do
Estado de São Paulo, acompanhado das figuras
mais representativas de seu governo com res-
ponsabilidade na área de Segurança Pública e a
Prefeita Municipal de Campinas com todos os
seus assessores, além das mais siginificativas
personalidades da sociedade civil organizada
do Município e Região. Vale dizer, o MVM-DD
Campinas nasce apadrinhado por todos os seto-
res do Poder Público e da sociedade local, com
a tarefa de apoiar, assessorar, colaborar com o
Poder Público e a iniciativa privada no enfrenta-
mento das causas geradoras da insegurança na
Região e de seus efeitos.
O MVM, que foi declarado pelo Poder Público
Municipal de Campinas “Örgão de utilidade
pública”, pela lei N° 12.309, de 06 de julho
de 2005, explicita em seu Estatuto, ser uma
associação de direito privado, constituída por
tempo indeterminado, sem fins econômicos,
de caráter organizacional, assistencial, sem
cunho político ou partidário, com a finalidade
de atender a todos que a ela se dirigirem, inde-
pendente de classe social, nacionalidade, sexo,
raça, cor ou crença religiosa, com âmbito de
65
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2.3
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atuação no município de Campinas e sua Região
Metropolitana.
Dentre os seus diversos objetivos, igualmente,
estatutários, merecem destaque:
- Criar condições concretas para viabilizar um
MOVIMENTO que conjugará os esforços da so-
ciedade civil no combate à violência e à crimi-
nalidade no município de Campinas e sua região
metropolitana;
- Colaborar com os poderes públicos, prestando
serviços, coordenando o esforço de conscienti-
zação e cooperação da sociedade civil, para o
combate, pelos órgãos legalmente competen-
tes, aos ilícitos penais;
- Desenvolver, por si ou mediante prestação de
serviços, protocolo ou convênio entre os órgãos
púbicos e entidades particulares, esforços para
o engajamento de amplo espectro, visando am-
pliar a consciência dos cidadãos e de outros
segmentos da sociedade para a necessidade de
combate à criminalidade, estimulando a socie-
dade a participar das soluções que não depen-
dam exclusivamente da atuação policial e judi-
cial.
O DD Campinas, braço operacional do MVM, é
uma central comunitária de atendimento tele-
fônico, que funciona ininterruptamente duran-
te as vinte e quatro horas do dia, destinada a
receber informações da população sobre ativi-
dades criminosas de toda ordem e a transmiti-
-las aos órgãos públicos com responsabilidade
para enfrentá-los e solucioná-los, assegurando
o anonimato do denunciante. Suas atividades
são mantidas, hoje, com recursos prove-
nientes das parcerias estabelecidas entre a
entidade e os diversos setores da sociedade
civil organizada, estando, no entanto, igual-
mente aberta a possibilidade do recebimento
de recursos do Poder Público, em qualquer de
suas esferas.
Atualmente, o Disque Denúncia de Campinas,
devido à credibilidade conquistada e reconhe-
cida pela população, passou a ser um elemento
importante de atuação efetiva do terceiro
setor, com clara conotação de serviço so-
cial, uma vez que a população utiliza este ser-
viço não só para denunciar atividades crimino-
sas, como também como forma de comunicar
fatos que atingem crianças, adolescentes, ido-
sos, o meio ambiente, o uso correto do espaço
66
público, etc.
O reconhecimento da população
à eficácia desse instrumento pode
ser constatado nos picos de denún-
cias ocorridos nos horários subse-
qüentes aos noticiários regionais,
o que permite constatar que a po-
pulação interage indignada com
os fatos, usando o DD Campinas
como instrumento para se fazer
ouvir pelos órgãos públicos.
O MVM, presentemente, conduz
significativo esforço no sentido de
aprimorar a gestão dos seus servi-
ços, assim como de ampliar o es-
pectro de suas ações operacionais,
tudo com o intuito de colaborar
de forma mais intensa com os di-
versos órgãos do Poder Público,
contribuindo para que se busque
assegurar benefícios progressivamente maiores
à população, reduzindo, conseqüentemente,
os níveis de violência e criminalidade no seio
da sociedade e colaborando para a construção,
igualmente progressiva, de uma cultura de paz.
Recebimento e Encaminhamento de
Denúncias de Maus Tratos Contra Crianças
e Adolescentes
As denúncias são recebidas pela nossa central
do Disque Denúncia, através do telefone 3236-
3040, que funciona 24 horas ininterruptamente.
Desde o inicio do Disque Denúncia de Campinas, em fevereiro de
2002, e até o ano de 2007, o tipo de assunto mais denunciado sem-
pre foi o Tráfico de Drogas, seguido por crimes contra o patrimônio.
A partir de 2008 o assunto mais denunciado é o crime contra criança
e adolescentes, sendo: abandono, maus tratos, violência sexual ,
exploração sexual infantil.
Cabe-nos ressaltar que não foi apenas a violência que aumentou,
mas sim a credibilidade da população no serviço Disque Denúncia
de Campinas, bem como nos parceiros que recebem a denúncia e
tomam as providências (Ex: CT, DDM, Vara da Infância e as várias
secretarias do município, como a Sec. Assistência Social).
Esclareço que as campanhas e eventos que são realizados em parce-
ria com os diversos órgãos e instituições, a exemplo da TABA, são de
fundamental importância para a conscientização da população em
denunciar a violência contra crianças e adolescentes, como ocorreu
esse ano no evento 18 de maio.
Percebemos que o aumento das denúncias deve-se a esse trabalho
realizado em parceria.
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As denúncias são realizadas anonimamente, e o
denunciante recebe uma senha, para acompa-
nhamento, bem como para o caso de precisar
acrescentar novos dados.
Após o recebimento da denúncia, é realizada
uma análise pelo setor de difusão com referên-
cia a informação, ou seja, quanto ao relato da
denúncia, para que a mesma seja encaminhada
para o devido órgão competente, para as provi-
dências cabíveis.
As denúncias de maus tratos contra criança e
adolescente são encaminhadas para diversos
órgãos, dependendo como comentado acima
do teor da denúncia.
As denúncias são encaminhadas para: O
Conselho tutelar, Vara da Infância, Delegacia de
Defesa da Mulher, bem como algumas coorde-
nadorias da Secretarias de Assistência Social.
Essas denúncias são encaminhadas aos órgãos
via fax e via Oficio.
MOVIMENTO VIDA MELHOR/DISQUE DENÚNCIA CAMPINAS
DENÚNCIA DE MAUS TRATOS CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE
PERÍODO DE 01/05/2009 a 20/07/2010 período de execução do projeto Turismo Sustentável e
Infância e Campinas
CIDADE: CAMPINAS
DENÚNCIA QTD. DENÚNCIAS
ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR
21
ESTUPRO 56
PEDOFILIA 27
PROSTITUIÇÃO INFANTIL 72
TOTAl 176
MOVIMENTO VIDA MELHOR/DISQUE DENÚNCIA CAMPINAS
DENÚNCIA DE MAUS TRATOS CONTRA CRIANÇA E ADOLESCENTE
PERÍODO DE FEVEREIRO DE 2002 A JULHO DE 2010 Período de atuação do serviço Disque Denúncia
em Campinas
CIDADE: CAMPINAS
DENÚNCIA QTD. DENÚNCIAS
ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR
11
ESTUPRO 259
PEDOFILIA 283
PROSTITUIÇÃO INFANTIL 621
TOTAl 1174
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A Vara da infância e da Juventude de
Campinas é especializada, sendo uma das pou-
cas no Estado de São Paulo que não é cumu-
lativa, é composta por um cartório, Equipe
Interprofissional e Corpo de Voluntários, e a fi-
gura responsável é o Juiz de Direito que além
da condução do processo é o corregedor per-
manente.
O trabalho da Vara da Infância e da Juventude
é dar resolução jurídica às questões apresenta-
das. Cabe ao Juiz de Direito, ouvido o Ministério
Público dar sentença nos casos apresentados à
Vara da Infância e da Juventude, nos mais varia-
dos temas ligados à infância e juventude.
Cabe ao Cartório fazer o processamento dos
documentos (juntada de petições, relatórios,
confecção de ofícios, etc...) de acordo com a
determinação judicial, assim como encaminha-
mento para conclusão (juiz), vistas ao Ministério
Público, à Equipe Interprofissional, publicações.
Ao Corpo de Voluntários cabem verificações de
presença de crianças e adolescentes em bares,
eventos, festas, hotéis, motéis, que contrariem
seu bem estar e ou sua integridade física.
Os voluntários fazem verificações em casos de
denúncias de maus tratos, exploração sexual.
A Equipe Interprofissional é composta por
Assistentes Sociais e Psicólogos e têm como
função precípua fornecer subsídio as decisões
judiciais (art. 151 ECA).
Além de atender os processos da Vara da Infância
e da Juventude a Equipe Interprofissional aten-
de a processos das Varas de Família e Sucessões,
processos de Varas Criminais referentes a Lei
Maria da Penha, processos de varas criminais
onde crianças e adolescentes aparecem como
vítimas.
Os casos chegam a Equipe Interprofissional
por determinação judicial. Considerando sua
demanda as profissionais realizam sistematica-
mente diversas ações:
Adoção
• Reunião informativa para pretendentes a
adoção e avaliação psicossocial do casal⁄
pessoa do pretendente a adoção;
• Acolhimento a mulher que procura a Vara
da Infância e da Juventude para abrir
mão do seu bebê, reflexão sobre sua ação
70
esclarecimentos e orientações;
• Preparação da criança para adoção – verifi-
cação da referencia de família, possibilidade
de abertura para novas experiências, despe-
dida dos amigos e cuidadores do abrigo;
• Verificação do pretendente que melhor
atenda as necessidades da criança, dentro
da ordem cronológica de cadastramento;
• Preparação da casal⁄pessoa para adoção;
• Aproximação da criança e casal⁄pessoa, le-
vando em conta a necessidade de tempo
para estabelecimento de relação de confian-
ça;
• Acompanhamento do estágio de convivên-
cia.
Abrigo
• Acolhimento à família que tem sua criança
abrigada;
• Avaliação da família quando a sua possibili-
dade de receber de volta sua criança (geni-
tores e família extensa);
• Reflexão, estímulo e encaminhamento da
família para serviços, com objetivo de que
consiga se organizar e se preparar para o re-
torno de sua criança;
• Avaliação da família nos casos de abertura
de contraditório (destituição do poder fami-
liar).
Guarda, Tutela
• Avaliação da família⁄pessoa requeren-
te a guarda⁄tutela quanto a sua condição
de se responsabilizar pelos cuidados da
criança⁄adolescente.
Situações de Violência
• Avaliar as possibilidades da família
em ser continente as necessidades da
criança⁄adolescente;
• Avaliar como uma possível ocorrência reper-
cutiu para a criança⁄adolescente, e a conse-
qüente necessidade de cuidado;
• Avaliar a possibilidade de risco e sugerir me-
dida de proteção.
Casos de Vara de família e Sucessões
• Avaliação nos casos de disputa de guarda
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buscando conhecer qual dos pais oferece
melhores condições para os filhos, naquele
momento, orientando sobre a importância
de se manter a parentalidade e de se buscar
manter a imagem do outro genitor;
• Avaliar, as condições daquele antigo casal de
manter um relacionamento amigável com
relação aos interesses do filho, buscando
seu bem estar, evitando que ele seja objeto
de disputa ou que se veja com a incumbên-
cia de resolver os conflitos dos pais;
• Avaliação nos casos de regulamentação de
visitas, buscando atender os interesses da
criança e manutenção dos laços com as fa-
mílias materna e paterna.
infração
• Avaliação do adolescente e seu contexto
familiar buscando conhecer se há envolvi-
mento com práticas delituosas com vistas a
encaminhamentos e ou sugestão de medida
sócio educativa;
• Avaliação nos casos de suspeita de abuso se-
xual, pelo adolescente, com posterior enca-
minhamento do mesmo e da vítima.
Justiça Restaurativa
• Implantação da Justiça Restaurativa em ca-
sos de atos infracionais.
Além das ações já citadas o juiz e profissionais
da Vara da Infância e da Juventude participam
no município e no Estado das discussões sobre
o tema da infância que busca o estabelecimento
da política pública, o melhor ordenamento das
ações, buscando a proteção integral e garantia
dos direitos de crianças e adolescentes.
A Vara da Infância e da Juventude de Campinas
participou da Capacitação promovida pela TABA
para o Sistema de Garantia de Direitos. Também
esteve presente na formulação do fluxo de en-
caminhamentos e denúncia das situações de
violência sexual contra crianças e adolescentes,
apresentado nesse livro.
parceria com a TABA
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A problemática da exploração sexual de
crianças e adolescentes vêm sendo tratada com
sério rigor por diversos organismos internacio-
nais. O Brasil, seguindo a mesma trajetória in-
ternacional, elaborou um Plano Nacional de en-
frentamento da violência sexual infanto-juvenil,
incluindo inúmeras ações para a prevenção e
combate dessa forma de violência (Brasil, 2002).
Na área do turismo, a criação do Programa
Turismo Sustentável e Infância é uma das ações
que visam contribuir com o enfrentamento des-
sa problemática no país (Knopp, 2008).
Apesar de se tratar de crime previsto na
Constituição Brasileira, Cap VII, artigo 227, in-
ciso 40 (Brasil, 1988) e estar focada no artigo
50 do Estatuto da Criança e do Adolescente -
ECA, onde: “nenhuma criança ou adolescente
será objeto de qualquer forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão, punido na forma da lei qualquer
atentado, por ação ou omissão, aos seus direi-
tos fundamentais” (Brasil, 2005), a exploração
sexual de menores continua se disseminan-
do amplamente em todo o território nacional.
Pesquisas apontam a pobreza, o abandono, as
desigualdades de gênero, de cor e raça, a vio-
lência familiar, o consumo de drogas, além das
disparidades regionais, como aspectos determi-
nantes para a existência e manutenção desse
fenômeno (Libório, 2005; Andi, 2007; Morais et
al., 2007).
Com os mesmos parâmetros do Plano Nacional
e considerando as especificidades de Campinas
e de sua região metropolitana, foi elaborado o
Plano Municipal de enfrentamento da violência
sexual infanto-juvenil, tendo como objetivos a
implantação e o fortalecimento de um conjunto
articulado de ações e metas fundamentais para
assegurar a proteção integral à criança e ao ado-
lescente em situação ou risco de violência sexu-
al (Câmara Municipal de Campinas, 2003).
A cidade de Campinas, SP, possui uma área de
aproximadamente 796 km² e uma população de
1.039.297 habitantes, segundo a contagem da
população de 2007 (IBGE, 2007). Apresenta nú-
meros que a colocam como uma das mais impor-
tantes do Brasil e terceira cidade mais populosa
do Estado de São Paulo. Situada em uma região
reconhecida como terceira praça econômica e
o maior pólo de pesquisa e desenvolvimento
74
tecnológico do país, principalmente em setores
dinâmicos e de alto input científico e tecnológi-
co. Constitui-se uma região que apresenta um
dos maiores volumes de negócios realizados e
experimenta um aumento significativo do turis-
mo de negócios e lazer nos anos mais recentes.
Esta região convive com a perversa contradição
das grandes metrópoles, apresentando signi-
ficativo crescimento do movimento migratório
de famílias de baixa renda que ocupam os bair-
ros marcados pela pobreza, agravando os pro-
cessos de exclusão social, pela convivência com
precariedade territorial e vulnerabilidades so-
ciais. Essas características têm contribuído para
a proliferação da exploração sexual comercial
infanto-juvenil na região, envolvendo os diver-
sos setores do segmento turístico e de negócios,
como, hotéis, agências de eventos e de turismo,
casas noturnas, além de taxistas. Outra ques-
tão importante na região é o crescimento do
aeroporto Internacional de Viracopos que hoje
é um dos maiores centros de investimento da
Infraero.
Uma das medidas preventivas que deveriam es-
tar sendo adotadas na região refere-se à LEI Nº
12.305 de 22 de junho de 2005, da Secretaria
Municipal de Assuntos Jurídicos (SMAJ), que
dispõe sobre a obrigatoriedade de determina-
dos estabelecimentos afixarem o número te-
lefônico do “DISQUE DENÚNCIA” de Campinas
para denúncia de exploração, abuso e violências
sexuais contra crianças e adolescentes e dá ou-
tras Providências (SMAJ, 2005).
Com o objetivo de conhecer a situação de ex-
ploração sexual de crianças e adolescentes as-
sociada à cadeia produtiva de turismo - que é
prioritariamente de negócios e eventos - na ci-
dade de Campinas, São Paulo, foi desenvolvido
o estudo sobre o qual trata este capítulo.
O Cemicamp – Centro de Pesquisas em Saúde
Reprodutiva de Campinas foi procurado pela
TABA a fim de desenhar um estudo para obter
um diagnóstico da situação da exploração sexu-
al de crianças e adolescentes associada à cadeia
produtiva do turismo, em Campinas. Desenhou-
se, então, um estudo exploratório, qualitativo,
em que foram utilizados dois tipos de técnicas:
entrevistas semiestruturadas (Patton, 1990) e
metodologia
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observação direta (Ulin et al., 2002) realizada
em ambientes ofertados ao turismo na cidade.
A primeira etapa do estudo consistiu em en-
trevistar algumas pessoas-chave no município
quanto à questão da exploração sexual de crian-
ças e adolescentes previamente à realização da
pesquisa. Esses contatos foram feitos com re-
presentantes da Vara da Infância e Juventude,
da Coordenação do Programa de Saúde da
Mulher da Prefeitura Municipal de Campinas
e da Coordenação do Centro de Referência
Especializada em Assistência Social - CREAS do
município, com o objetivo de levantar informa-
ções sobre locais estratégicos a serem observa-
dos na cidade e pessoas a serem entrevistadas.
Também se solicitou a essas pessoas sugestões
sobre o que se deveria perguntar especifica-
mente às pessoas que participariam da pesqui-
sa.
A partir desse levantamento inicial, seleciona-
ram-se intencionalmente (Patton, 1990) cinco
regiões do município, por serem distintas em
suas características gerais e consideradas vulne-
ráveis às questões relacionadas ao tema a ser
estudado. Em cada uma dessas regiões foram
selecionados diferentes tipos de estabelecimen-
tos: dois hotéis e uma casa noturna. Também
foram identificados frotas de táxi e taxistas que
operavam nas proximidades desses locais. Além
disso, no município foram selecionadas duas
empresas de eventos e duas agências de turis-
mo. Também foram convidados a participar do
estudo autoridades e funcionários da rodoviá-
ria de Campinas e do aeroporto de Viracopos.
Os hotéis, casas noturnas, empresas de even-
tos e agências de turismo foram selecionados
a partir de cadastros obtidos junto aos órgãos
de classe dessas categorias de serviço e tam-
bém através de guias de serviços on-line. Em
cada estabelecimento selecionado foi feito um
contato inicial por telefone por uma auxiliar de
pesquisa em que se explicava a pesquisa, seus
objetivos, no que consistiria a participação e se
pedia a colaboração. Alguns desses estabele-
cimentos solicitaram que a carta convite fosse
enviada também por e-mail ou fax. Quando o
estabelecimento aceitava participar era agen-
dado o melhor dia e horário para a realização
das entrevistas. Os que não aceitaram foram
substituídos por outros estabelecimentos que
estavam nos cadastros, sempre utilizando os
76
critérios estabelecidos anteriormente.
Em cada um dos estabelecimentos visitados fo-
ram convidados a participar os seguintes sujei-
tos para participarem da pesquisa:
• Hotéis: gerente, porteiro, recepcionista, ca-
mareira e taxista.
• Casas noturnas: gerente, barman, porteiro,
segurança, funcionário do caixa e taxista.
• Empresas de eventos: gerente, agente e fun-
cionário.
• Agências de turismo: gerente, agente e fun-
cionário.
• Rodoviária: autoridade local, administrador/
gerente e taxista.
• Aeroporto: autoridade local, Infraero e ta-
xista.
No total foram realizadas 81 entrevistas: 33
com funcionários de hotéis, 18 de casas notur-
nas, 5 de agências de turismo, 3 de agências de
viagem, 3 do aeroporto e 2 da rodoviária e 17
taxistas. Para obter as informações necessárias
foi utilizado um roteiro semiestruturado de en-
trevista para cada categoria de sujeito, que foi
pré-testado com pessoas de características se-
melhantes aos que fizeram parte do estudo.
Também se realizaram 20 observações diretas
nos estabelecimentos, utilizando um formulá-
rio em que constavam os itens que deveriam
ser observados em cada ambiente visitado.
Verificava-se se havia placa de advertência so-
bre exploração sexual de crianças e adolescen-
tes, local onde a placa estava afixada e existên-
cia de folder explicativo sobre o assunto.
A coleta de dados foi realizada por nove entre-
vistadores especialmente treinados para essas
atividades, sendo seis mulheres e três homens.
O treinamento foi realizado no período de 5 a
9 de outubro de 2009, com uma carga horária
de 20 horas. Esse treinamento foi composto de
parte teórica e prática sobre técnica de entre-
vista e de observação de ambiente, tendo como
referência um manual especificamente prepa-
rado para isto. Os entrevistadores também fo-
ram capacitados cuidadosamente em relação ao
tema abordado nas entrevistas.
Coleta de Dados
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Cada estabelecimento selecionado foi visitado
por uma equipe de, pelo menos, dois entrevis-
tadores, sendo um homem e uma mulher, para
a realização das entrevistas e da observação do
ambiente. Essas visitas estavam pré-agendadas,
entretanto, algumas vezes houve a necessidade
de um retorno da equipe a alguns desses lo-
cais, para entrevistar uma ou outra pessoa que
não estava presente na ocasião da primeira vi-
sita. Nessas visitas, a equipe de campo contou
também com a presença de um motorista, que
acompanhou o grupo para melhorar as condi-
ções de segurança, caso fosse necessário.
Para as pessoas que aceitaram participar da
pesquisa foi pedida autorização para que as en-
trevistas fossem gravadas e garantiu-se o sigilo
quanto à sua identidade, pois as entrevistas fo-
ram identificadas apenas por números. Alguns
participantes não aceitaram que a entrevista
fosse gravada, mas eles foram entrevistados
mesmo assim e todas as respostas dadas foram
registradas em um caderno de notas do traba-
lho de campo. Esses registros foram revisados
após o término de cada entrevista e, posterior-
mente, digitados em arquivo apropriado.
Em cada estabelecimento visitado, um dos en-
trevistadores também era responsável por fazer
a observação do ambiente. A princípio, o entre-
vistador explicava ao gerente do estabelecimen-
to que precisaria observar alguns ambientes
para verificar a existência de placas de advertên-
cia sobre exploração sexual de crianças e ado-
lescentes e solicitava sua autorização. Mediante
a autorização, a observação era realizada e os
itens observados eram registrados no formulá-
rio específico. Todos os gerentes autorizaram.
Para a análise das entrevistas semiestrutura-
das foi adotada uma técnica de análise rápida
(Mello et al. 2005; Krueger, 1998), que consiste
em definir, a priori, um conjunto de categorias
de análise a partir dos objetivos do estudo e dos
roteiros utilizados para as entrevistas. Em segui-
da, procede-se à escuta das entrevistas grava-
das em sua íntegra, para verificar a existência de
unidades de significado que possam ser agrupa-
das nas categorias de análise propostas, bem
como identificar a existência de outras unida-
des que impliquem na criação de novas catego-
rias. Uma segunda escuta foi feita com pausas,
Processamento e Análise dos Dados
78
re-escutando trechos da entrevista, quantas ve-
zes foi necessário, para registrar um resumo das
informações de cada um dos entrevistados para
cada categoria de análise. A partir desse resu-
mo (cross-interview analysis) foi desenvolvida a
análise do conjunto das entrevistas (cross-case),
com base nas categorias propostas e nos objeti-
vos do estudo.
Em consonância com a técnica acima descrita,
para esta pesquisa a primeira escuta das entre-
vistas e os respectivos resumos das mesmas fo-
ram realizados pelos próprios entrevistadores.
Para isso, eles recebiam um arquivo com um
quadro contendo todas as categorias de análise
pré-definidas, no qual inseriam o resumo das in-
formações escutadas em cada entrevista. Esses
quadros foram revisados e corrigidos numa se-
gunda escuta das entrevistas. Após a revisão, o
conteúdo das entrevistas foi agrupado segundo
o tipo de estabelecimento visitado e de sujei-
tos entrevistados. Os dados obtidos através da
observação de ambientes foram agrupados de
acordo com os diferentes itens investigados, por
categoria de estabelecimento visitado. Neste
capítulo será apresentado um resumo dos re-
sultados observados nas seguintes categorias
de análise:
1. Percepção sobre a infância e adolescência;
2. Percepção sobre os direitos da criança e do
adolescente;
3. Informação sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), leis de proteção e leis de cri-
minalização;
4. Percepção sobre o que é exploração sexual de
crianças e adolescentes;
5. Percepção e informação sobre ocorrência e
freqüência de exploração sexual na cidade e no
local de trabalho;
6. Percepção sobre quem é o explorador e quem
é o explorado;
7. Informação sobre rede de proteção e garantia
dos direitos das crianças e adolescentes e sobre
ações de combate à exploração sexual de crian-
ças e adolescentes;
8. Informação sobre ações de prevenção no lo-
cal de trabalho.
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Para a realização desta pesquisa foram seguidas
as normas da Resolução 196/96 sobre pesqui-
sa envolvendo seres humanos no Brasil (Brasil,
1996). O protocolo da pesquisa foi submetido
à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade
Estadual de Campinas (CEP/UNICAMP), parecer
no 766/2009. Somente participaram as pesso-
as que assim o desejaram e demonstraram sua
anuência após terem sido informadas sobre a
pesquisa e esclarecidas todas as suas dúvidas.
Por se tratar de um tema polêmico, delicado
e sensível, solicitou-se ao Comitê de Ética em
Pesquisa (CEP) autorização para que o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)
não fosse assinado, para não causar constran-
gimentos, nem provocar situações que dificul-
tassem a obtenção das informações necessárias
ao estudo. O CEP autorizou. Foi preparado um
TCLE, com explicações sobre a pesquisa, seus
objetivos e no consistia a participação da pes-
soa. Nesse documento constava o nome, assi-
natura e telefone da pesquisadora responsável,
bem como o telefone do CEP. Esse documento
foi lido para os participantes, foram esclarecidas
as dúvidas e quando eles aceitavam participar
da pesquisa recebiam uma cópia do TCLE.
a) Dificuldades encontradas para realizar a
pesquisa
O acesso aos locais e pessoas a serem entre-
vistadas nesta pesquisa foi difícil e trabalhoso,
assim como em algumas outras experiências
relatadas em pesquisas do gênero (Libório e
Sousa, 2004; Machado et al., 2006). Isso ocor-
reu, principalmente por ser a exploração sexual
de crianças e adolescentes ato ilícito, criminoso
e assunto delicado. Observou-se que os primei-
ros contatos com as pessoas responsáveis pelos
locais selecionados foram obtidos com certa fa-
cilidade, entretanto, quando se explicava sobre
o tema a ser abordado, tornava-se mais difícil
o acesso, resultando em várias recusas, tanto
de hotéis (três), como de casas noturnas (seis),
agências de turismo (duas) e taxistas (vários). A
maior dificuldade foi encontrar casas noturnas
que aceitassem participar da pesquisa. Em uma
das regiões, por exemplo, não foi possível incluir
Resultados
Considerações Éticas
80
nenhuma casa noturna no estudo, porque as
cinco existentes se recusaram a participar, não
havendo mais opções a serem tentadas nas
proximidades. Os motoristas de táxi também
não aceitaram facilmente participar, alegando
falta de tempo e de interesse, e, muitas vezes,
quando aceitavam, alguns desistiam antes do
término das perguntas. Também alguns hotéis,
principalmente na região central, se recusaram
a participar.
Em geral, os entrevistadores observaram que as
pessoas que aceitaram participar da entrevista
estavam receosas, temerosas em responder as
perguntas do roteiro. Em vários estabelecimen-
tos foi observado que os participantes haviam
conversado antes sobre o assunto e combinado
algumas coisas que deveriam falar. Alguns par-
ticipantes não aceitaram que a entrevista fosse
gravada, outros interromperam a entrevista em
algum momento, antes de concluir. Dos dezes-
sete taxistas entrevistados, sete não aceitaram
que a entrevista fosse gravada, dois interrom-
peram para atender chamadas telefônicas e
as entrevistas, em geral, foram mais rápidas
porque eles tinham que sair quando recebiam
chamadas. Observou-se também que alguns
entrevistados demonstraram que sabiam mais
sobre o assunto do que estavam falando. De
acordo com um entrevistador, um dos partici-
pantes, quando percebia que ia falar algo que
poderia comprometê-lo, colocava as mãos na
boca. Também em uma das casas noturnas, foi
observado que a maioria dos funcionários não
estava disposta a participar, mas estava sendo
coagida pelo proprietário, que ficava à distân-
cia, observando as entrevistas serem realizadas.
Nesse local, três dos cinco participantes não
aceitaram que a entrevista fosse gravada e um
deles se recusou a continuá-la antes do término
das perguntas.
b) Principais unidades de conteúdo identifi-
cadas nas falas dos participantes
No Quadro 1 da página seguinte, apresenta-se
um resumo com as principais unidades de con-
teúdo que foram identificadas nas falas das pes-
soas entrevistadas, agrupadas nas respectivas
categorias de análise.
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Quadro 1 – Resumo segundo categorias de análise
1. Percepção sobre infância e adoles-cência
- Houve dificuldades em descrever o que se en-
tendia por infância e adolescência.
- O período da infância foi referido como uma
época em que a criança deve brincar, ser feliz,
não ter responsabilidade e ser inocente.
- A adolescência foi descrita como época da
transição da infância para a juventude, mudan-
ças no corpo, de rebeldia, de ter mais respon-
sabilidade.
-
Não souberam informar a idade quando começa
e termina a infância e a adolescência. As idades
mencionadas pelos participantes muitas vezes
se sobrepunham.
2. Percepção sobre os direitos da criança e do adolescente
- Quase todos os participantes já tinham ouvido
falar sobre os direitos da criança e do adoles-
cente através da mídia (TV, jornais, rádio), atra-
vés do ECA, cartilha sobre o direito das crianças,
treinamentos realizados.
- Houve concordância com esses direitos e as
pessoas acreditavam que deveriam ser respeita-
dos. Eles ouviram falar / entendiam que era di-
reito da criança e do adolescente: saúde, educa-
ção, ter uma família, ter moradia, alimentação,
brincar, ser protegido da violência doméstica,
não ser maltratado.
“Ser criança é ter o direito de brincar, ter o direi-
to ao estudo, ter o direito, acima de tudo, à imaginação
pra poder trabalhar essa questão da imaginação, de
desenvolver coisas que vão ser necessárias depois dessa
formação da criança, né, capacidades físicas, capacida-
des psicológicas, ter o direito de crescer”(Casa Noturna)
“...‘aborrecência’ no caso... Adolescência é uma
mudança né, da infância para a juventude, que começa
os conflitos entre pai e mãe,, eu posso fazer aquilo, eu
não posso, vou e faço, faz coisa errada né, eu acho que
é isso”(Casa Noturna)
“Concordo, porque a criança desde
cedo pode ser explorada e se ela não tiver esses direitos,
talvez os pais ou alguém que possa maltratar queira que ela
trabalhe”(Agência de Turismo)
82
3. informação sobre ECA, leis de pro-teção e leis de criminalização
Os participantes, em geral, não tinham conhe-
cimento de nenhuma lei de proteção e defesa
dos direitos e bem poucos sabiam algo sobre o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
- Grande parte dos participantes entendia que
a responsabilidade de defender os direitos das
crianças e dos adolescentes cabia aos pais; al-
guns achavam que também o governo e a so-
ciedade como um todo tinham essa responsa-
bilidade.
4. Percepção sobre o que é explora-ção sexual de crianças e adolescentes
- A exploração sexual de crianças e adolescen-
tes foi relacionada, principalmente, à pobreza,
a desvios de conduta do explorador e ao tráfico
de drogas. Chama a atenção que as atividades
de turismo, e nem as pessoas envolvidas nessas
atividades, foram relacionadas à possibilidade
de exploração sexual de crianças e adolescen-
tes.
- Os participantes achavam que a exploração se-
xual é crime e merece punição severa, mas não
conheciam leis federais, estaduais ou munici-
pais de criminalização.
- A maioria deles acreditava que este tipo de cri-
me não era punido.
- Foi comum entre os entrevistados a percepção
de que a situação de exploração sexual de crian-
ças era mais grave, porque elas eram inocentes
e não tinham maturidade para se defender, en-
quanto os adolescentes já entendiam a situação
e poderiam optar por não se deixarem explorar.
Talvez por este motivo, a exploração sexual de
crianças esteve mais relacionada à pobreza do
“...acho que são três vertentes, acho que pri-
meiramente a tarefa de defender e proteger se inicia
dentro do lar, depois ela tramita pelos órgãos de gover-
nância, no governo e se estende pela sociedade como um
todo”(Aeroporto)
“...do Estado, do Estado. Porque é obrigação,
lógico obrigação da comunidade, mas o Estado tem
como opção a policia, ele tem a policia a disposição
dele...”(Casa Noturna)
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que ao tráfico de drogas, ao contrário do que
ocorreu com a percepção sobre a exploração de
adolescentes.
5. Percepção e informação sobre ocorrência e freqüência de explo-ração sexual na cidade e no local de trabalho
- Na opinião de quase todas as pessoas entre-
vistadas, existia exploração sexual de crianças
e adolescentes em Campinas, assim como em
qualquer grande cidade, mas ninguém sabia di-
zer exatamente onde essa exploração ocorria.
- Os participantes achavam que a exploração
acontecia nas próprias casas, pelos pais, padras-
tos, familiares e vizinhos; nas ruas, por aliciado-
res e traficantes de drogas; nas escolas, bares,
casas noturnas, restaurantes, hotéis, pousadas,
praças públicas, em ONG, em lugares escu-
ros e sem fiscalização e também pela Internet.
Suspeitavam que ocorria com freqüência em al-
gumas regiões centrais da cidade, onde podiam
ver pessoas em atitudes suspeitas. Também foi
bastante citado um bairro conhecido por abri-
gar uma zona de prostituição.
6. Percepção sobre quem é o explora-dor e quem é o explorado
- Os participantes referiram que as pessoas que
exploram crianças e adolescentes são pessoas
más, sem escrúpulos, sem ética, sem valores,
que não têm amor à vida, marginais, sem ver-
gonha, pessoas que não têm cabeça, e que só
consideram o fato de ganhar dinheiro de modo
fácil.
- Referiu-se que as pessoas que exploram sexu-
almente crianças e adolescentes são familiares
(pais, tios), amigos, vizinhos, traficantes, cafe-
tões, pessoas que já foram exploradas quando
eram crianças, coordenadores de ONG, políti-
cos, empresários, pessoas “normais”, pais de
família e executivos, portadoras de problemas
mentais e distúrbios psicológicos, que geral-
mente fazem isso por prazer.
“São pessoas que não têm ética, não têm
valor nenhum, são pessoas que enxergam na situação
a oportunidade de fazer dinheiro, não levando nada mais
em consideração a não ser o benefício próprio de ganhar
dinheiro, seja dinheiro para a sobrevivência, seja dinheiro
a mais do que elas precisariam para sobreviver” (Hotel)
84
- Alguns participantes referiram que não existe
um padrão definido que caracterize as pessoas
que exploram sexualmente crianças e adoles-
centes. Um explorador pode ser qualquer pes-
soa, e de qualquer classe social.
- Quanto às crianças e adolescentes que são ex-
plorados, a grande maioria dos participantes re-
feriu que, em geral, são pessoas de baixa renda,
que possuem baixa escolaridade, não têm es-
trutura familiar, pessoas carentes afetivamente,
que moram em favelas e periferias, que ficam
mais tempo nas ruas, carentes de dinheiro e de
atenção dos pais.
- Quando perguntados sobre os motivos pelos
quais as crianças e adolescentes se deixam ex-
plorar, em geral, os entrevistados responderam
que era por causa de dinheiro. Entretanto, al-
guns expressaram outras razões como: por que
são inocentes, para obter drogas, para ganhar
balas ou doces e por opção própria.
“Os exploradores são os traficantes, pessoas
em geral, não considero muito o turista, mas dos trafi-
cantes se aproveitarem dos usuários”(Casa Noturna)
“...são pessoas que têm problemas psicológi-
cos, mentais, falta de estruturação durante a vida para
que esses problemas fossem resolvidos e acompanhados,
e que fazem do sofrimento do outro um prazer” (Hotel)
“...o que mais se ouve falar é que são pessoas
de dentro de casa, são padrastos, vizinhos, colegas de
região, chegando ao cúmulo de pais, tios e avós” (Hotel)
“...são psicopatas, pais, padrastos, irmãos, pesso-
as que usam drogas, que bebem”(Hotel)
“...é a própria família, as pessoas da rua, os pró-
prios vizinhos, até os próprios amigos”(Hotel)
“...acho que essas [crianças e adoles-
centes] que não têm acesso a um monte de coisas, por
exemplo, a família não cuida, não dá carinho, não pro-
tege nada. Aí eles ficam abandonados e eles têm acesso
porque, ‘‘ah, eu vi que ali tem um negocinho”, aí vai uma
pessoa e oferece isso, aquilo e eles vêem que é de bom
grado pra eles, mas [daí a pessoa diz], “por causa disso
você, em troca disso faz isso”, entendeu? E acaba que vi-
rando uma coisa pela outra. Acho que na verdade falta
uma base, né, tipo, se é cuidado em casa não vai fazer
nada de errado lá fora...”(Casa Noturna)
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7. informação sobre rede de proteção e garantia dos direitos das crianças e adolescentes e sobre as ações de com-bate à exploração sexual de crianças e adolescentes
- A maioria dos participantes nunca tinha ou-
vido falar sobre a rede de proteção e garantia
dos direitos da criança e do adolescente em
Campinas.
- Não sabiam para onde encaminhar as vítimas
de exploração sexual e nem onde denunciar os
casos.
- Os que já tinham ouvido falar de uma rede de
proteção citaram como fonte da informação a
mídia (televisão, jornal), propaganda em vá-
rios lugares (ônibus, supermercados, correio,
poupa-tempo, cartazes espalhados pela cidade,
outdoors). Alguns funcionários de hotéis referi-
ram que no local onde trabalhavam havia dis-
tribuído folhetos e havia anúncio no balcão da
recepção que fazia menção a esse assunto. Em
geral, os participantes não sabiam informar o
que era e nem como funcionava essa rede.
- Em geral, os entrevistados mencionaram
que as delegacias de polícia, Conselho Tutelar,
Juizado de Menores, Delegacia da Mulher, Vara
da Infância e Juventude, Polícia Federal e FEBEM
são os possíveis locais para o encaminhamento
das vítimas e denúncia dos casos de exploração
sexual de crianças e adolescentes.
- Os participantes sabiam da existência do
Disque Denúncia, mas não conheciam o núme-
ro do telefone e sugeriram que ele fosse mais
divulgado. Poucos entrevistados mencionaram
um número específico de telefone, e, em geral,
não houve coincidência quanto aos números
mencionados.
- Foram mencionadas algumas atividades que
deveriam ser realizadas como forma de preven-
ção da exploração sexual de crianças e adoles-
centes. Foi enfatizado que, na prática, deveria se
tirar os adolescentes da rua, propiciar melhores
“...por necessidade, mesmo, que leva uma
criança a ter uma atitude desse tipo, sei lá, às vezes é
espancada em casa, a família não ajuda, a pessoa quer
buscar outro nível de vida e acaba achando que assim
é mais fácil. Isso é um pouco decorrente da família e do
ambiente que está inserido... porque, para chegar neste
ponto, o problema está na família”(Hotel)
86
condições de lazer e qualidade de vida para as
pessoas carentes; deveria haver mais rigor nas
investigações e prender pessoas que realizam
a exploração sexual; fechar hotéis e casas
noturnas que cometem esse ato ilícito. Por ou-
tro lado, deveria se proporcionar mais educa-
ção nas escolas sobre esse assunto; oferecer
informações na rodoviária, aeroporto, agência
de viagens, para as famílias nas comunidades;
realizar palestras em locais públicos e em em-
presas, fazer campanhas informativas, divulgar
o número do disque denúncia.
- Foi referido que essas ações deveriam ser fei-
tas pelo governo, pelas escolas e pela sociedade
como um todo. Alguns participantes referiram
que essas ações deveriam ser feitas pela polícia
e pela guarda municipal. Disseram também que
deveria ter mais fiscalização em relação a esse
assunto nas periferias das cidades, favelas, ba-
res, casas noturnas e hotéis. Essas pessoas en-
tendiam que todas essas ações não irão surtir
efeito se não houver uma fiscalização efetiva e
punição.
8. informação sobre ações de preven-ção no local de trabalho
Os entrevistados tiveram o cuidado de dizer
que em seu local de trabalho não ocorria ex-
ploração sexual de crianças e adolescentes. Nos
hotéis e casas noturnas, a justificativa foi que o
os procedimentos seguidos por eles eram cor-
retos e tudo era feito de acordo a não permi-
tir a entrada de menores de idade. Os taxistas
também referiram que só faziam o transporte
de crianças e adolescentes por solicitação dos
pais. Nas agências de turismo e eventos referi-
ram que não lidavam diretamente com crianças
ou adolescentes. No aeroporto e na rodoviária
declararam que havia fiscalização e não tinham
tido nenhum tipo de anormalidade envolvendo
esse tipo de exploração sexual.
c) Resultados da observação direta
Dos vinte locais visitados, apenas cinco hotéis e
a Estação Rodoviária possuíam essas placas afi-
xadas.
- Apenas em um hotel a placa de advertência
possuía o texto e o tamanho de acordo com o
determinado pela lei municipal 12.305 de 22 de
junho de 2005. Nos seis hotéis visitados as pla-
cas advertiam que exploração sexual de crianças
e adolescentes é crime e deve ser denunciada,
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no entanto, em um deles não havia o número
do telefone do Disque Denúncia.
- Em todos os hotéis e na rodoviária as placas es-
tavam afixadas em local visível, de acordo com
a lei municipal.
- Apenas em um dos hotéis e na rodoviária havia
placas de advertência afixadas em vários luga-
res.
- Em dois hotéis havia também folhetos infor-
mativos sobre exploração sexual de crianças e
adolescentes disponíveis para funcionários e
hóspedes.
A repercussão que o tema desta pesquisa al-
cançou nos estabelecimentos selecionados e
a insegurança que causou nas pessoas convi-
dadas para as entrevistas merecem ser breve-
mente comentadas, por refletir sentimentos
envolvidos quando se trata do tema proposto.
Isso foi observado desde os primeiros contatos,
pela dificuldade enfrentada para que as pessoas
atendessem as ligações e pelas recusas em par-
ticipar, até o momento da chegada dos entre-
vistadores aos locais, salvo algumas exceções,
pela impressão que os funcionários passavam
de estarem instruídos a não levantar qualquer
suspeita sobre o local de trabalho ou sobre atos
ilícitos envolvendo o público infanto-juvenil.
Nesse contexto, qualquer pesquisa que se vol-
te a esse tema deve planejar cuidadosamente a
abordagem dos possíveis sujeitos para que se-
jam coletados dados fidedignos. Isso implica em
investir bastante na seleção e capacitação das
pessoas que irão realizar entrevistas e observa-
ções, que foi o que ocorreu na preparação deste
estudo.
A análise dos dados apresentados permitiu
identificar, ao mesmo tempo, o desconhecimen-
to das pessoas envolvidas na cadeia produtiva
do turismo de negócios acerca do que é e como
se dá a exploração sexual de crianças e adoles-
centes, bem como o desconhecimento da exis-
tência de legislação sobre o tema e de uma rede
de proteção às vítimas.
Chamou atenção a associação entre exploração
sexual de crianças e adolescentes com pobreza
e tráfico de drogas, que foi bastante enfatizada
pelos participantes. Ao lado disso apareceu o
não reconhecimento da ocorrência desse tipo
Comentários Finais
88
de exploração nos ambientes ofertados ao tu-
rismo, o que pareceu lógico aos participantes,
uma vez que não se trata, aos olhos deles, de
ambientes marcados pela pobreza e pelo tráfico
de drogas. Se essa visão não for desconstruída
não se conseguirá que a população e os diversos
setores da sociedade fiquem atentos a esse tipo
de ocorrência fora de ambientes de pobreza e
criminalidade explícita, como é o caso da cadeia
produtiva do turismo. Verifica-se, portanto, a
necessidade de trabalhar junto às pessoas liga-
das a essa cadeia, não apenas para transmitir in-
formação, mas também para discutir e descons-
truir conceitos e preconceitos envolvidos nessa
questão.
Por outro lado, os resultados da pesquisa reite-
ram que o fato de existirem leis de proteção e
criminalização da exploração sexual de crianças
e adolescentes não é suficiente para prevenir
nem para reprimir a ocorrência desses casos. É
necessário que tais leis sejam conhecidas, que
haja fiscalização e punição aos que as desres-
peitam. Por isso é preciso que essas leis sejam
divulgadas, que a população esteja informada,
possa discutir o assunto e que a fiscalização
seja efetiva de forma que as punições previstas
sejam aplicadas frente às ocorrências denun-
ciadas. Essas medidas possibilitarão também
que as pessoas não sintam mais tanto medo de
denunciar esses crimes, o que, provavelmente,
facilitará a quebra desse círculo vicioso de des-
conhecimento e impunidade.
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Este capítulo procura contribuir tecnicamen-
te para que municípios e regiões que possuam
turismo de negócios, bem como o aumento do
trânsito de pessoas por conta do desenvolvi-
mento das rodovias, aerovias e ferrovias, se em-
penhem no desenvolvimento responsável do
turismo, e possam ter referenciais práticos para
a mobilização do trade do turismo na defesa
aos direitos da criança e adolescente, procedi-
mentos essenciais para a manutenção da saúde
social, e conseqüentemente, manutenção dos
atrativos genuinamente turísticos. O fenôme-
no atual do rápido crescimento do turismo no
Brasil vem trazendo algumas importantes refle-
xões para governos, mercados, pesquisadores e
terceiro setor. Sabe-se que o turismo pode con-
tribuir sensivelmente para o desenvolvimento
sócio-econômico e cultural, ou, em poucos
anos, pode degradar o ambiente social.
Por conta disso entendemos necessário o envol-
vimento dos três setores no desenvolvimento
sustentado do turismo: o papel do setor pú-
blico, do setor empresarial e da sociedade civil
organizada. Dessa forma a equipe do projeto
planejou e desenvolveu ações articuladas entre
esses setores, através de capacitações e mobi-
lizações, sempre focando no papel social que
cada um possui.
Apresentamos a seguir as experiências desse
projeto na mobilização do sistema de garan-
tia de direitos e do Segmento do Turismo nas
ações de enfrentamento á exploração sexual de
Crianças e Adolescentes.
94
O grande desenvolvimento do turismo de
negócios em Campinas, bem como o de outros
setores produtivos da cidade, provoca aumento
da circulação das pessoas, facilitada pela infra-
estrutura de acesso (rodovias, aerovias e ferro-
vias), contribuindo com o aumento de situações
de vulnerabilidade e degradação social e am-
biental quando realizado de forma desordenada
e sem planejamento.
O olhar das organizações hoje vai além-muros.
Não dá mais para promover a gestão de ne-
gócios sem que haja uma preocupação com o
restante da sociedade e com o impacto do seu
negócio nessa sociedade.
A responsabilidade social corporativa é uma for-
ma de responder e de atuar nas principais de-
mandas sócio-ambientais
Como forma de demonstrar a responsabili-
dade do trade do turismo no enfrentamento
da exploração sexual da criança e do adoles-
cente na região, com a orientação técnica da
Coordenação do Programa Turismo Sustentável
e Infância – TSI, a TABA realizou ações de sen-
sibilização, mobilização e capacitação de
agentes multiplicadores na cadeia de turismo
visando uma reflexão acerca do importante
papel e da influência que exercem nesse con-
texto. Algumas dessas ações foram planejadas
durante a elaboração da proposta de convênio
com o Ministério do Turismo. Outras ações fo-
ram pautadas nos levantamentos encontrados
na pesquisa realizada pela CEMICAMP sobre o
imaginário da cadeia produtiva de turismo em
Campinas acerca da exploração sexual de crian-
ças e adolescentes.
O planejamento envolveu basicamente quatro
etapas que foram realizadas simultaneamente
com os outros eixos do projeto: promoção da
participação juvenil no enfrentamento ao fenô-
meno, capacitação do sistema de garantia de
direitos e campanha de sensibilização, conside-
rando que, neste momento, o eixo diagnóstico
já havia sido realizado.
Abaixo consta como se deram cada uma das
ações planejadas:
Contato com o trade de turismo para apresen-
tação do projeto e sensibilização para a causa.
• Distribuição do material de sensibilização;
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o
• Oferecimento de cursos de capacitação cus-
tomizados, respeitando a especificidade dos
diferentes setores e segmentos;
• Realização de um seminário para amplo al-
cance da sensibilização;
• Assinatura de um Acordo de Cooperação.
Contato com o trade de turismo para apre-
sentação do projeto e sensibilização para a
causa.
Iniciou-se esta ação do projeto com o levanta-
mento de órgãos, instituições e empresas es-
tratégicas para a mobilização do trade. A partir
desse levantamento, optou-se por um contato
inicial com três representantes do trade de tu-
rismo, importantes pelo seu potencial de mobi-
lização e capilaridade. Contatou-se o Sindicato
de Hotéis, restaurantes, bares e afins (SHBRA), o
Campinas e Região Convention & Visitors Bureau
(CRCVB) e a Secretaria Municipal de Comércio,
Indústria, Serviços e Turismo (SMCIST).
Em reuniões inicialmente individuais com esses
equipamentos sociais, o projeto foi apresenta-
do, sendo solicitado que os materiais de apre-
sentação do projeto fossem encaminhados para
suas redes.
Nesse primeiro material de apresentação, fo-
ram divulgados o objetivo do projeto, a deman-
da a qual atenderia e as ações a serem execu-
tadas, com ênfase ao convite para participarem
das capacitações, as orientações para inscrições
e a disponibilidade de capacitações na própria
empresa.
Promoveu-se, em outros momentos, outras reu-
niões conjuntas, sobretudo o CRCVB e a SMCIST,
com o objetivo de fazê-los permanecerem pre-
sentes nas ações do projeto. O então Secretário
Municipal de Turismo, Sinval Dorigon, manifes-
tou amplo apoio ao projeto.
Após essa primeira apresentação ao trade, aces-
sada indiretamente por meio das redes desses
equipamentos, deu-se início a uma série de
agendamentos com atores estratégicos para
convidá-los a participar de ações do projeto, so-
bretudo das capacitações. Esses contatos ocor-
reram por telefone e/ou e-mail. Inicialmente
pretendeu-se participar das reuniões com os as-
sociados do CRCVB, porém nos foi apresentado
que não seria adequado, já que as reuniões são
pouco freqüentes e possuem outras pautas de
96
interesse dos associados.
Ao início de cada ação, eram enviados, por meio
do mailing formulado com os contatos realiza-
dos, os informativos e convites, além de serem
realizados novos contatos telefônicos com o pú-
blico foco da ação.
Capacitações, palestras e reuniões de qua-
lificação sobre temas identificados na pes-
quisa aos segmentos de hotéis, taxistas,
aeroporto e rodoviária do município de
Campinas:
O Trade de Turismo recebeu o primei-
ro convite para participar da capacitação
“Responsabilidade Social no Turismo”, em agos-
to de 2010, com a seguinte chamada: “A TABA –
Espaço de Vivência e Convivência está oferecen-
do uma capacitação para a rede de turismo de
Campinas sobre responsabilidade social empre-
sarial, demandas sociais da região de Campinas
e desenvolvimento de projetos alinhados ao
Programa Turismo Sustentável e Infância do
Ministério do Turismo. Nosso objetivo é disse-
minar informações técnicas para sua equipe
bem como contribuir para o desenvolvimento e
a disseminação de boas práticas sociais na rede
de turismo em nossa cidade.” Esse convite foi
enviado pelo SHBRA, pelo CRCVB e pelo SMCIST
a todos os seus associados. Nessa primeira di-
vulgação houve apenas um retorno espontâneo,
da gerente de um hotel da região do Aeroporto
de Viracopos. Por conta dessa baixa deman-
da espontânea, a TABA procurou comunicar-se
com todos os estabelecimentos associados ao
CRCVB, seguindo uma lista de contatos forneci-
da pelo próprio Convention & Visitors Bureau.
Nesse contato procurava-se sempre falar com
o gerente do estabelecimento ou o gerente de
recursos humanos. Alguns deles, sobretudo de
hotéis, manifestaram interesse em encaminhar
representantes de suas equipes à capacitação,
outros sinalizavam dificuldade em disponibilizar
horários de seus funcionários para a capacita-
ção. Em alguns hotéis houve dificuldade no con-
tato e, mesmo depois de repetidas tentativas, o
que sucedia era um direcionamento direto aos
secretários que apenas anotavam os recados
e não retornavam nenhum posicionamento, o
que se entendia como recusa. Em alguns casos,
o hotel já se posicionava, no contato telefônico
ou por e-mail, não interessado em participar da
capacitação e, em algumas vezes, chegava-se
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o
a receber retornos de que uma capacitação
com esse foco não era de interesse do hotel.
Percebeu-se que ora era manifestada certa in-
diferença em receber informações ou participar
de reuniões do projeto, ora existia o discurso de
interesse em colaborar, mas a impossibilidade
de dedicar tempo ao projeto.
Diversas turmas foram abertas e divulgadas. No
entanto, pela falta de inscritos, decidiu-se reto-
mar os contatos para levantar qual era a maior
dificuldade apontada para participação. Por
telefone e por e-mail, foi realizado um levan-
tamento com esses estabelecimentos quando
então era perguntado: qual o horário de maior
facilidade, qual dia da semana, qual período
do ano e qual a carga horária possível de par-
ticipação. Constatou-se que o período de me-
nor ocupação dos serviços em Campinas e do
turismo de negócios é de novembro a feverei-
ro, programando-se, portanto, as capacitações
para esse período, dando início a uma turma no
dia 30 de novembro. O formato da capacitação
também foi reformulado, passando de 20 para 4
horas, para garantir a participação de um maior
número de pessoas, pois a carga horária inicial
era inviável para grande parte dos interessados.
Por conta disso, a capacitação foi planejada com
4 horas, além de serem ofertadas reuniões indi-
viduais nos estabelecimentos participantes para
fazer um plano individual de responsabilidade
social.
No entanto, mesmo com esse modelo reformu-
lado, não se obteve a adesão esperada. Apenas
três hotéis enviaram seus funcionários para a
capacitação. Foram oferecidas outras turmas e
procedeu-se ao retorno dos contatos para refor-
çar a possibilidade de sensibilizações nos pró-
prios estabelecimentos, mas ainda assim houve
dificuldade de adesão, principalmente por pro-
blemas de agenda e disponibilidade de pessoal
desses hotéis
Novamente, nos meses de janeiro a agosto de
2010, outros convites foram enviados, mas ain-
da sem adesão.
A partir dessa avaliação da dificuldade de ade-
são às capacitações, foram planejadas outras
ações que contemplassem o objetivo de sensi-
bilização. Diversas reuniões foram realizadas.
Para essas reuniões foram contatadas: admi-
nistração da rodoviária municipal - SOCICAM
(concessionária administradora do terminal
98
rodoviário municipal), EMDEC (Empresa muni-
cipal de Desenvolvimento de Campinas), Grupo
CCR (Administradora da concessão das Rodovias
Anhanguera e Bandeirantes), ECOFROTAS;
SENAC Campinas – Cursos de Turismo, Hotelaria,
Gastronomia e cursos livres; Consulting 27;
Cooperativa de taxistas: Camptáxi, Coopercamp
e Coopertaxi; INFRAERO; Hotéis: Confort Suites,
Hotéis Vitória, Royal Palm, Fildi Hotéis, Dan Inn
Hotéis, Sehlton Inn Viracopos, Monreale Classic
Campinas, Sonotel, Hotel Opala Avenida, Hotel
Vila Rica.
Todas as empresas visitadas receberam o mate-
rial de sensibilização formulado para a capacita-
ção com uma apresentação do cenário de ESCA
e convite para aderir a outras ações do projeto,
como divulgação dos materiais de sensibiliza-
ção à sociedade em geral e atendimento às leis
municipais, federais e ao Estatuto da Criança e
do Adolescente. Entre eles: afixação de cartazes
e placas com os dizeres “EXPLORAÇÃO SEXUAL
DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES É CRIME!
DENUNCIE! Ligue para 3236.3040” (Lei Federal
nº 11.577 e Lei Municipal n°12.305) e “Hospedar
criança ou adolescente, desacompanhado
dos pais ou responsável ou sem autorização
escrita destes ou da autoridade judiciária, em
hotel, pensão, motel ou congênere.” (Art. 250
do Estatuto da Criança e do Adolescente).
Nos contatos realizados com os hotéis, por meio
das capacitações, reuniões ou mesmo por meio
das conversas telefônicas, era comum a surpre-
sa quando apresentados os dados municipais de
ESCA. Muitos diziam não saber que existia ex-
ploração sexual de crianças e adolescentes em
Campinas ou que a situação possuía dados tão
significativos.
No entanto, no decorrer da conversa e com a
conceituação do que é exploração sexual entre
outras informações, os próprios participantes
começaram a relatar casos que identificariam
como ESCA, principalmente na região central da
cidade e no entorno dos hotéis.
Também era comum citarem a situação de cida-
des do nordeste do Brasil, onde, segundo esses
participantes, é grave a situação da exploração
sexual de crianças e adolescentes, sobretudo re-
lacionada ao turismo.
Todos os hotéis foram veementes ao relatar que
seguem as orientações de não hospedar crian-
ças e adolescentes menores de 18 anos sem a
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presença do responsável ou de um documento
registrado, conforme orienta o artigo 250 do
ECA.
Com relação aos taxistas, os contatos foram re-
alizados por meio de cooperativas de taxistas.
Solicitou-se que as cooperativas distribuíssem
os convites a seus cooperados e propôs-se a re-
alização de palestras nos próprios espaços das
cooperativas.
Houve retorno por parte dos presidentes das
cooperativas dizendo que seus associados com-
põem um público com baixa adesão às capaci-
tações, que já tinham tentando oferecer cursos
e capacitações, mas sempre sem sucesso. As
cooperativas divulgaram o convite, mas não foi
obtido nenhum retorno, apesar da insistência
da equipe do projeto nessa tentativa.
Em função de a pesquisa realizada pelo instituto
de pesquisa CEMICAMP ter identificado os ta-
xistas como o público de maior dificuldade de
abordagem e de serem apontados muitas ve-
zes como agentes facilitadores da exploração
sexual de crianças e adolescentes, a equipe do
projeto dispensou especial atenção a esse seg-
mento. De acordo com as declarações feitas nas
entrevistas realizadas pela pesquisa, os próprios
taxistas sugerem a oferta de capacitações: “Com
relação a terem recebido alguma orientação ou
treinamento sobre como evitar ou combater a
exploração sexual de crianças e adolescentes,
apenas um participante respondeu que sim,
que havia participado de um curso oferecido
por uma empresa de transportes da cidade de
São Paulo. Os demais entrevistados afirmaram
que nunca haviam recebido qualquer orienta-
ção ou treinamento sobre o assunto.
Entretanto, todos achavam necessário que os
taxistas recebessem esse tipo de orientação,
porque, além de ajudá-los a observar e identi-
ficar casos de exploração, também permitiria
que soubessem sobre as providências a serem
tomadas ante situações desse tipo, como, por
exemplo, onde ligar, a quem recorrer, onde levar
a vítima ou denunciar o caso.
Essa orientação, na opinião de um dos parti-
cipantes, poderia ser passada pelo sindicato,
pela prefeitura, pelos órgãos públicos, Estado
e Município, pela polícia e por todos os meios
de comunicação, por meio de uma cartilha que
eles poderiam ler e levar no carro para consultar
100
quando necessário.
Outra sugestão é que essa orientação poderia
ser dada pela EMDEC para todos os taxistas e,
caso vissem alguma situação suspeita, algo que
chamasse a atenção, os taxistas pudessem ligar
para a EMDEC, ou passar um rádio para um ou-
tro táxi, alertando. Um outro sugeriu também
que a Unicamp poderia fazer uma reunião com
os taxistas a fim de orientá-los sobre como agir
nesse tipo de situação.”
A TABA procu-
rou a EMDEC
- Empresa
Municipal de
Desenvolvimento
de Campinas S/A
para conversar a
respeito da reali-
zação de ações de capacitação e sensibilização
dos taxistas. Reuniu-se com o setor de educação
da EMDEC e apresentou a proposta de capacita-
ção e a abordagem dos taxistas utilizando outras
metodologias, como a formação dos agentes de
mobilidade urbana, a inserção de conteúdos re-
lacionados ao fenômeno da ESCA e a proposta
de alteração de procedimentos e decretos que
regulamentam o alvará de funcionamento para
permissionários e auxiliares. Uma sensibilização
com cerca de 560 taxistas foi realizada, e todos
receberam uma cartilha com as definições de
violência sexual, leis e penas, como denunciar
e como
se tor-
nar um
a g e n t e
protetor
da crian-
ça e do
adolescente. Outras propostas de capacitações
e sensibilizações estão sendo planejadas junto
à EMDEC.
O Superintendente do Aeroporto de Viracopos
e Representantes da SOCICAM (concessionária
administradora do terminal rodoviário munici-
pal) participaram de reuniões com a equipe do
projeto.
Tanto o Aeroporto quanto o Terminal
Rodoviário receberão uma grande campanha
de comunicação, lançada no dia do Seminário
Responsabilidade Social Empresarial no
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segmento de turismo na Região Metropolitana
de Campinas.
Importante também foi o fato de se comprome-
terem a participar do acordo de cooperação e
reformulação do plano municipal de enfrenta-
mento à exploração sexual de crianças e adoles-
centes.
Sensibilizar a Cadeia
produtiva de Turismo
do município de
Campinas por meio de
ações informativas
Foi distribuída uma car-
tilha junto à rede do
trade de turismo abordada contendo:
- Apresentação do Programa Turismo Sustentável
e Infância e das ações do projeto em Campinas
- Dados nacionais e municipais oficiais de explo-
ração sexual de crianças e adolescentes
-O que é exploração sexual de crianças e ado-
lescentes, especificamente ESCA, relacionada
ao turismo. O sistema de garantia de direitos
em Campinas, denúncia e responsabilização,
as leis municipais, Estatuto da Criança e do
Adolescente e Código Penal.
- Apresentação do Código de Conduta da
Organização Mundial do Turismo
- Responsabilidade Social: conceituação, inicia-
tivas de responsabilidade social no turismo em
outros municípios e como dar início a um proje-
to de responsabilidade social.
o que é Violência?A violência é quando uma pessoa é impedida
de se desenvolver, viver bem e ser feliz. Uma
das bases da violência é a relação de dominação
(por exemplo, de um adulto sobre uma criança,
o mais rico sobre o pobre, o mais forte sobre o
mais fraco).
A violência pode serFísica
Psicológica (Emocional)Verbal
NeglicengialSexualFatal
o QuE É VIolÊNCIA SEXuAl?É todo o ato de sexualidade que é forçado através de diferentes formas de violência como:
ABuSo
usar a criança ou adolescente para obter prazer sexual com ou sem violência. O abuso é geralmente cometido por pessoas da família ou próximas.
102
ESTupRo
uso da força física ou grave ameaça com a intenção de obter relação sexual ou outros atos libidinosos.
ASSÉDIo SEXuAl
propostas ou conversas obscenas vindas de alguém que está em posição superior de poder, que fazem pressão para ter relações sexuais que o outro não deseja.
EXploRAÇÃo SEXuAl
é a relação sexual de crianças e adolescentes com adultos em troca de dinheiro, bens ou troca de favores.
TRÁFICo DE pESSoAS pARA FINS SEXuAIS
é quando crianças e adolescentes, ou até adultos são induzidos a ir a outro território, através de coação, seqüestro ou engano e é explorado sexualmente.
poRNoGRAFIA INFANTIl
é quando se usa imagens – fotos ou filmes – com cenas que induzem ao sexo envolvendo crianças ou adolescentes.
TuRISMo pARA FINS DE EXploRAÇÃo
SEXuAl
é a exploração sexual de crianças e adolescentes através de oferta à turistas.
Atendimentos e Resultados de 2008
Exploração
Sexual de
Crianças e
Adolescentes
365
Retornou à família 32
Abrigados 20
Em acompanhamento 313
Situação de
Rua157
Retornou à família 17
Abrigados 19
Medida socioeducativa meio fechado
11
Em acompanhamento 110
Enfrentar a exploração sexual de crianças e de adolescentes no turismo é
missão de todos.Governo, agentes do setor turístico e
sociedade devem se comprometer e tomar medidas eficazes para evitar esse tipo de
violência.
Fenômenos x Turismo
REGIÃoDESTINoS
TuRISTICoS
N. DE DENÚNCIAS DE CASo DE EXploRAÇÃo
SEXuAl CoMERCIAl
Norte 120 585
Nordeste 436 2.226
Sudeste 317 1.714
Centro-Oeste 188 682
Sul 453 756Fonte: Serviço Disque Denúncia Nacional de Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. Novembro/2008
DADoS DA REDE MuNICIpAl DE ATENDIMENTo
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Como sua empresa pode ajudar a proteger nossas Crianças e
AdolescentesAs empresas que adotam o Código de
Conduta para a proteção de Crianças e
Adolescentes contra a Exploração Sexual
no Turismo (The Code), comprometem-se
a implementar ações contra a exploração
sexual de crianças e adolescentes:• Estabelecer uma política corporativa ética
contra a exploração sexual de crianças e de
adolescentes;
• Treinar funcionários para aplicar a política
da empresa no que diz respeito à exploração
sexual de crianças e adolescentes;
• Inserir cláusulas nos contratos para que os
fornecedores da empresa adotem o código
de conduta contra a exploração sexual de
crianças e de adolescentes;
• Informar turistas – por meio de catálogos,
brochuras, pôsteres, vídeos, páginas
na internet e outros meios – sobre o
posicionamento da empresa contra
a exploração sexual de crianças e de
adolescentes;
• Informar sobre o assunto a pessoas-chave
das relações e contatos da empresa.
DEN
ÚN
CIA
Disque Denúncia Municipal - 3236 3040
Disque Denúncia Nacional - 100
Centro de Referência Especializado em Assistência
Social – CREAS – 0800 777 8080
Conselho Tutelar – 0800 770 1085
Delegacia de Defesa da Mulher – 3242 5003
Conselho Tutelar – 3236 3378
Vara da Infância e Juventude – 3756 3528
Delegacia de Defesa da Mulher – 3242 5003
Ministério Público – 3256 1796
RESp
oN
SABI
lIZA
ÇÃo
Quadro de Crimes penais
CRIMEESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE
Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art. 2º desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual.(Vale a pena comentar que a rede de enfretamento á exploração sexual de crianças e adolescentes não utiliza o termo prostituição infantil, pois prostituição se refere a uma atividade lícita de adultos,homens e mulheres. No que se refere á criança e ao adolescente é necessariamente exploração sexual, um ato considerado ilícito)
Art. 244-A Reclusão de quatro a dez anos, e multa.§ 1º Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança ou adolescente às práticas referidas no caput deste artigo.§ 2º Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.
104
CRIME CóDIGO PENAL BRASILEIRO
Hospedar criança ou adolescente,desacompanhado dos pais ou responsável ou sem autorização escrita destes ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão, motelou congênere.
Art. 250Multa de 10 a 50 salários de referência; em caso de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o fechamento do estabelecimento por até 15 dias
Promover, intermediar ou facilitar a entrada, no território nacional, de pessoa que venha exercer a prostituição ou a saída de pessoas para exercê-la no estrangeiro.
Art. 231Pena - Pena de 4 a 10 anos – Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude, a pena é de reclusão de 5 a 12 anos e multa, além da pena correspondente à violência.
Corromper ou facilitar a corrupção de pessoa maior de catorze e menor de dezoito anos, com ela praticando ato de libidinagem, ou induzindo-a a praticá-lo ou presenciá-lo.
Art. 218Pena: reclusão, de um a quatro anos.
Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone.
Art. 218-B.Reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.§ 2º Incorre nas mesmas penas:I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo;II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo;§ 3º Na hipótese do inciso II do § 2º, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.
CRIME CóDIGO PENAL BRASILEIRO
Mediação para servir àlascívia de outrem.
Art. 227Pena - Reclusão de 1 a 3 anos.
Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.
Art. 216-A Pena - Detenção, de 1 (um) a 2 (dois) ano § 2º A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos.
Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos:
Art. 217-APena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos
Favorecimento da prostituiçãoArt. 228Pena - Reclusão de 2 a 5 anos
Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso.
Art. 213Pena - Reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos§1º Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
Manter por conta própria ou de terceiros casa de prostituição ou lugar destinado a encontros libidinosos, haja ou não a intenção de lucros.
Art. 229Pena - Reclusão de 2 a 5 anos
Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça.
Art. 230Pena - Reclusão de 1 a 4 anos e multa.
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lEI FEDERAl Nº 11.577, DE 22 NoVEMBRo DE 2007
Torna obrigatória a divulgação pelos meios que especifica de mensagem relativa à exploração sexual e tráfico de
crianças e adolescentes apontando formas para efetuar denúncias.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Esta Lei dispõe sobre a obrigatoriedade de divulgação de mensagem relativa à exploração sexual e trá-
fico de crianças e adolescentes indicando como proceder à denúncia.
Art. 2o É obrigatória a afixação de letreiro, nos termos dispostos nesta Lei, nos seguintes estabelecimentos:
I – hotéis, motéis, pousadas e outros que prestem serviços de hospedagem;
II – bares, restaurantes, lanchonetes e similares;
III – casas noturnas de qualquer natureza;
IV – clubes sociais e associações recreativas ou desportivas cujo quadro de associados seja de livre acesso ou
que promovam eventos com entrada paga;
V – salões de beleza, agências de modelos, casas de massagem, saunas, academias de fisiculturismo, dança,
ginástica e atividades físicas correlatas;
VI – outros estabelecimentos comerciais que, mesmo sem fins lucrativos, ofereçam serviços, mediante paga-
mento, voltados ao mercado ou ao culto da estética pessoal;
VII – postos de gasolina e demais locais de acesso público que se localizem junto às rodovias.
§ 1o O letreiro de que trata o caput deste artigo deverá:
I – ser afixado em local que permita sua observação desimpedida pelos usuários do respectivo estabelecimento;
II – conter versões idênticas aos dizeres nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola;
106
III – informar os números telefônicos por meio dos quais qualquer pessoa, sem necessidade de identificação,
poderá fazer denúncias acerca das práticas consideradas crimes pela legislação brasileira;
IV- estar apresentado com caracteres de tamanho que permita a leitura à distância.
§ 2o O texto contido no letreiro será EXPLORAÇÃO SEXUAL E TRÁFICO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES SÃO
CRIMES: DENUNCIE JÁ!
§ 3o O poder público, por meio do serviço público competente, poderá fornecer aos estabelecimentos o ma-
terial de que trata este artigo.
Art. 3o Os materiais de propaganda e informação turística publicados ou exibidos por qualquer via eletrônica,
inclusive internet, deverão conter menção, nos termos que explicitará o Ministério da Justiça, aos crimes tipifi-
cados no Título VI da Parte Especial do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, sobre-
tudo àqueles cometidos contra crianças e adolescentes.
Art. 4o (VETADO)
Art. 5o Esta Lei entra em vigor no prazo de 30 (trinta) dias contados de sua publicação.
Brasília, 22 de novembro de 2007;
186o da Independência e 119o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Tarso Genro
José Antonio Dias Toffoli
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lEI MuNICIpAl Nº 12.305 DE 22 DE JuNHo DE 2005
DISPÕE SOBRE A OBRIGATORIEDADE DE DETERMINADOS ESTABELECIMENTOS AFIXAREM O NÚMERO
TELEFÔNICO DO “DISQUE DENÚNCIA” DE CAMPINAS PARA DENÚNCIA DE EXPLORAÇÃO, ABUSO E VIOLÊNCIAS
SEXUAIS CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS
Autoria: Vereador Petterson Prado
A Câmara Municipal aprovou e eu, Prefeito do Município de Campinas, sanciono e promulgo a seguinte lei:
Art. 1º - Ficam as empresas destinadas à realização e promoção de eventos artísticos e/ou musicais (boates,
casas de shows e assemelhados), bem como os hotéis, motéis, pensões ou estabelecimentos congêneres, no
âmbito do Município de Campinas, obrigadas a afixar, em local visível, na porta de entrada de seus estabeleci-
mentos, a seguinte advertência: “EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES É CRIME! DENUNCIE!
Ligue para 3236.3040 (Disque Denúncia)”.
§ 1º - Os dizeres e o número telefônico mencionados no caput deste artigo deverão constar, de maneira destaca-
da e legível, numa placa, com dimensões de 50 (cinqüenta) centímetros de altura por 60 (sessenta) centímetros
de largura.
§ 2º - Caso o número telefônico de que trata este artigo sofra alteração, as empresas farão as respectivas modi-
ficações nas placas.
§ 3º - O aviso de que trata este artigo deverá ficar afixado em local visível, de forma permanente, mesmo que
não haja evento ou qualquer atividade nos estabelecimentos.
Art. 2º - Os estabelecimentos descritos no art. 1º terão 60 (sessenta) dias, contados a partir da publicação desta
Lei, para providenciar a fixação do aviso previsto nesta lei.
Art. 3º - O não cumprimento desta lei acarretará as seguintes penalidades aplicadas, conforme decreto regula-
mentador, sucessivamente na ocorrência de reincidências:
108
I - Notificação para normalização no prazo de 30 (trinta) dias;
II - Multa de 100 (cem) UFIC (Unidades Fiscais de Campinas);
III - Suspensão das atividades e do funcionamento, pelo período de 30 (trinta) dias;
IV - Cancelamento definitivo do Alvará de Funcionamento.
Parágrafo Único - Os valores arrecadados com a aplicação das multas previstas neste artigo será revertido ao
Fundo Municipal de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Art. 4º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Campinas, 22 de junho de 2005
GUILHERME CAMPOS JÚNIOR
Prefeito Municipal em Exercício
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LEI Nº 13.502, de 22 de dezembro de 2008
DISPÕE SOBRE A PUBLICAÇÃO, NOS CLASSIFICADOS DOS JORNAIS LOCAIS DA CIDADE DE CAMPINAS, DE
ADVERTÊNCIA QUANTO À EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES.
AUTORIA: Vereador PAULO BUFALO
A Câmara Municipal aprovou e eu, Prefeito do Município de Campinas, sanciono e promulgo a seguinte Lei:
Art. 1º - Os jornais da cidade de Campinas, que publicam diariamente colunas de classificados com anúncios
de acompanhantes, saunas, massagistas e profissionais do sexo ficam obrigados a publicar, na mesma página
destes anúncios, a seguinte advertência:
“EXPLORAÇÃO SEXUAL DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES É CRIME. DISQUE 32363040”.
Parágrafo Único - VETADO.
Art. 2º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Campinas, 22 de dezembro de 2008.
DR. HÉLIO DE OLIVEIRA SANTOS
Prefeito Municipal
110
lEI Nº 11.720 DE 20 DE ouTuBRo DE 2003
INSTITUI O DIA 18 DE MAIO COMO O DIA MUNICIPAL DE ENFRENTAMENTO AO ABUSO SUXUAL E À EXPLORAÇÃO
SEXUAL INFANTO-JUVENIL.
A Câmara Municipal aprovou e eu Prefeita do Município de Campinas, sanciono e promulgo a seguinte lei:
Art. 1º - Fica instituído o dia 18 de maio como o Dia Municipal de Enfrentamento ao Abuso Sexual e à Exploração
Sexual Infanto-Juvenil.
Art. 2º - Entre as atividades realizadas por ocasião deste dia fica incluída a avaliação do Plano Municipal de
Enfrentamento da Violência Sexual Infanto-Juvenil.
Parágrafo único - A realização da atividade citada no caput deste artigo ficará sob responsabilidade da Comissão
de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente da Câmara Municipal em conjunto com órgãos públicos,
conselhos e entidades da área.
Art. 3º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Campinas 20 de outubro de 2003.
IZALENE TIENE
Prefeita Municipal
Autoria: Vereador Paulo Bufalo
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Seminário Técnico para promover ações de
qualificação e sensibilização sobre Turismo
Sustentável e infância
Houve ainda, na data de lançamento deste li-
vro - 30 de agosto de 2010 – a realização de um
Seminário sobre “RESPONSABILIDADE SOCIAL
EMPRESARIAL NO SEGMENTO DE TURISMO
NA REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS”.
Esse seminário foi realizado em parceria com o
SENAC Campinas.
Assinatura do Termo de Cooperação
Desde janeiro de 2010 desenvolve-se o proces-
so de mobilização da cadeia produtiva de tu-
rismo e de outros parceiros para a assinatura
de um termo de cooperação. O objetivo desse
acordo é oferecer um ponto de partida para que
o poder público municipal e o setor produtivo,
mediante um amplo processo de diálogo com as
comunidades e com os demais agentes locais,
possam estabelecer ou aprimorar os instrumen-
tos legais que darão sustentação e estímulo à
atividade turística socialmente responsável, so-
bretudo no enfrentamento à exploração sexual
de crianças e adolescentes.
Com essa proposta, agrupada ao sistema de
garantia de direitos, deu-se início à redação do
termo de cooperação, que foi encaminhado à
Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos de
Campinas. Esse termo de cooperação enviado
tem como fundamentação o Plano Municipal de
Enfrentamento a Exploração Sexual de Crianças
e Adolescentes redigido em 2003.
A TABA há muito tempo tem interesse na revi-
são e na avaliação desse Plano Municipal.
Assim, fomentou-se o debate com os principais
atores envolvidos com a assinatura do termo
de cooperação: Vara da Infância e Juventude,
PEESCA, Comissão ESCA do CMDCA, Disque
Denúncia de Campinas e Secretaria Municipal
112
de Educação.
A conclusão desse movimento foi de que é im-
prescindível e urgente a avaliação e a reformu-
lação do Plano Municipal e que o termo de coo-
peração deveria indicar esse processo.
Um grupo de trabalho foi estabelecido o para a
organização das ações indicadas para a efetivi-
dade desse processo: realização de um seminá-
rio de avaliação do plano municipal, formação
de um grupo de estudos para revisão do plano
com a ampla participação de todos os setores
sociais, envolvimento do trade de turismo, que
já sinalizou interesse em participar dessas ações.
Vale ressaltar a demonstração de interesse de
três atores estratégicos nesse termo de coope-
ração: o Aeroporto Internacional de Viracopos,
a SOCICAM (concessionária administradora
do terminal rodoviário municipal) e a EMDEC
(Empresa municipal de Desenvolvimento de
Campinas).
A Câmara Municipal de Campinas, por inter-
médio do vereador Élcio Batista, presidente da
Comissão de Estudos de Pedofilia, tem partici-
pado desse processo e fornecerá a reimpressão
dos planos municipais para as atividades de
avaliação a serem realizadas.
Outro importante passo foi a revisão da Lei
Municipal nº 12.305, de 22 de junho de 2005,
que dispõe sobre a obrigatoriedade de deter-
minados estabelecimentos afixarem o número
telefônico do “disque denúncia” de Campinas
para denúncia de exploração, abuso e violências
sexuais contra crianças e adolescentes e dá ou-
tras providências.
A lei possuía detalhes em sua redação que difi-
cultavam o cumprimento da mesma, não apre-
sentava decreto regulamentador que orientasse
o seu cumprimento. Assim, foram feitos os devi-
dos encaminhamentos à Câmara de Vereadores,
a lei foi reescrita e está em tramitação.
Capi
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4.2
Capa
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O processo de capacitação do Sistema de
Garantia de Direitos como uma das ações do
Projeto Turismo Sustentável em Campinas/SP
iniciou-se em setembro de 2009 com a rede do
SGD (Sistema de Garantia de Direitos) durante
reuniões realizadas para oficializar o convite à
participação nas capacitações bem como para
identificar necessidades e interesses.
O primeiro equipamento consultado foi o
Disque Denúncia de Campinas/Movimento Vida
Melhor. Seus dirigentes apontaram a necessida-
de de possuir uma escuta mais qualificada das
denúncias, o que favoreceria encaminhamentos
mais assertivos – por isso todos os atendentes
do Disque Denúncia participariam dessa capaci-
tação. Questões como um melhor entendimen-
to dos conceitos utilizados na problemática da
exploração e/ou violência sexual de crianças e
adolescentes e o fluxograma das denúncias são
necessidades específicas do grupo.
Outro equipamento, a Delegacia da Mulher,
considerou muito importante a capacitação e
demonstrou interesse em que toda equipe par-
ticipasse, principalmente no que diz respeito
aos marcos teóricos da violência sexual, ponto
em que há muitas dúvidas. No entanto, devido
ao número reduzido, insuficiente, de profissio-
nais para as demandas de trabalho da Delegacia
da Mulher, essa ampla participação não foi pos-
sível. A Delegacia da Mulher também conside-
rou importante a discussão do fluxograma.
O Projeto Indicando Caminhos do Programa de
Enfrentamento à Exploração Sexual de Criança
e Adolescente de Campinas foi convidado a
participar como parceiro na capacitação, apre-
sentando dados quantitativos atualizados e o
mapeamento dos pontos de vulnerabilidade da
violência sexual em Campinas.
Outros atores do SGD que participariam des-
ta capacitação: Vara da Infância e Juventude
de Campinas, Conselhos Tutelares, CREAS e
Comissão Especial da Câmara Municipal de
Campinas.
A Capacitação do Sistema de Garantia de
Direitos apresentou uma carga horária de 24
horas, em seis encontros de 4 horas. Para pos-
sibilitar uma maior participação, a capacitação
foi subdividida em dois grupos: um às sextas-
-feiras de manhã e o outro às terças-feiras à tar-
de. A capacitação teve início em 27 de outubro
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e encerrou-se em 4 de dezembro de 2009, na
Sala Barreto Leme do Espaço Arcadas - Rua José
Paulino, 1359 - Centro - Campinas.
Com o objetivo de promover a capacitação e a
sensibilização da rede de atendimento a crian-
ças e adolescentes (SGD), foram relacionados os
seguintes temas:
• Marcos conceituais da violência sexual con-
tra crianças e adolescentes
• Intervenções básicas de atendimento em si-
tuações de violência sexual
• Conceito de adolescências
• Direitos Sexuais Reprodutivos
• Plano Municipal e Nacional de Enfrentamento
à Violência Sexual
• Panorama do Fenômeno
• Intervenções em Rede
• Fluxograma
• Defesa e responsabilização
o desenvolvimento da Capacitação do
Sistema de Garantia de Direitos
As atividades planejadas e realizadas nesta ca-
pacitação constaram da aplicação de um pré e
pós-teste, dinâmicas de grupo (de integração,
resolução de problemas, de construção, de sen-
sibilização), técnicas expositivas e de construção
coletiva, exibição filmográfica, avaliação, distri-
buição dos certificados e materiais dos conteú-
dos e referências bibliográficos da capacitação
impressos e via web.
Participaram desta capacitação 20 pessoas, em-
bora 48 pessoas tenham se inscrito, mas que,
devido à demanda da rede de atendimento e ao
número reduzido de profissionais nos equipa-
mentos, muitos não puderam ser liberados para
frequentá-la semanalmente. Estiveram presen-
tes nove atendentes do Disque Denúncia; uma
técnica da Vara da Infância e Juventude; duas
técnicas e uma delegada da Delegacia de Defesa
da Mulher; dois técnicos e uma coordenadora
do Projeto Indicando Caminhos do Programa
Municipal de Enfrentamento a Exploração Sexual
de Crianças e Adolescentes de Campinas; uma
técnica da Região Metropolitana de Campinas/
Hortolândia/CADEFI; dois Conselheiros Tutelares
de Campinas; uma Gestora do Programa
Municipal de Enfrentamento a Exploração
116
Sexual de Crianças e Adolescentes de Campinas
e uma pesquisadora da Comissão Especial da
Câmara Municipal de Campinas.
Um dos temas discutidos que os atores presen-
tes consideraram muito importante foi a melho-
ria do fluxograma do SGD de criança e adoles-
cente de Campinas. Algumas reflexões do grupo
resultaram na construção de um painel sobre os
avanços, a identificação dos problemas da rede
do SGD e algumas propostas para a mesma:
AVANÇoS
• Criação do site do disque denúncia;
• Provável avanço na relação do Conselho
Tutelar com a rede de serviços;
• Número de conselhos e conselheiros para
atender a população de campinas, antes
três conselhos, agora quatro conselhos;
• Lei Maria da Penha;
• Parcerias;
• Maior visibilidade do fenômeno;
• Processo de sistematização da metodologia
da rede EESCCA;
• Amadurecimento da equipe;
• Reformulação do ECA (estatuto da criança e
do adolescente);
• Comunicação entre os órgãos;
• Saber da existência de uma rede de atendi-
mento do SGD;
• Fluxo semidefinido;
• Centralização das informações no CREAS;
• Rede interinstitucional fortalecida;
• Articulação entre os serviços;
• Seriedade;
• Equipes;
• Financiamento com recursos do FMAS – po-
lítica pública;
• Maior integração entre os atores da rede;
• Eficiência no tratamento das informações e
também dos casos;
• Padronização dos encaminhamentos.
IDENTIFICAÇÃo DE pRoBlEMAS
• Falta de recursos humanos e materiais para
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atender a demanda;
• Fluxo de diferentes disques denúncias;
• Troca de gestão dos Conselhos Tutelares;
• Rotatividade de profissionais nas equipes;
• Demora de anos no retorno sobre andamen-
to dos casos, soluções e informações;
• Dificuldades na articulação das diferentes
áreas (saúde, educação, assistência social,
cultura e outras);
• Demora nos encaminhamentos;
• Inflexibilidade das leis;
• Ações desarticuladas entre os serviços;
• Falta de atendimento aos agressores de vio-
lência sexual como política pública;
• Estrutura do CREAS – somente co-financia-
mento;
• Tráfico de drogas/violência;
• Tempo de espera para avaliação técnica dos
casos;
• SIPIA (programa do Conselhos Tutelar) em
rede;
• Falta de programas para atendimento das
crianças e adolescentes, conforme necessi-
dade;
• Burocracia.
pRopoSTAS
• Reunião agendada para 10 de dezembro
sobre a reordenação do fluxo de encami-
nhamento das denúncias: Disque Denúncia,
Delegacia de Defesa da mulher, conselho tu-
telar, vara da infância e juventude e CREAS;
• Criação de comunidade terapêutica para
adolescentes femininas;
• Internação compulsória para adolescentes
que estejam em uso abusivo de drogas;
• Centro de referencia para atendimento aos
autores de violência sexual;
• Convidar a saúde para discussões e partici-
pação nas reuniões;
• Criação de um banco de dados (intranet) en-
tre os órgãos;
• Aumento da equipe técnica do CREAS;
• Contratação de uma dupla psicossocial nas
118
escolas e na delegacia da mulher;
• Diálogo com o Disque Denúncia Estadual e
Nacional;
• Reconhecer os fóruns que possibilitem ofi-
cializar os fluxos construídos a partir do diá-
logo das diferentes políticas;
• Feed back e acompanhamento sistemático
dos casos;
• Envio de relatórios ao disque denúncia;
• Mudança na lei municipal que disciplina os
conselhos tutelares.
Desdobramentos das discussões sobre o flu-
xo de denúncias. A capacitação proporcionou
o desdobramento das atividades, possibilitando
reunir a VIJ - Vara da Infância e Juventude, a DDM
- Delegacia de Defesa da Mulher, o Indicando
Caminhos e o Disque Denúncia Campinas para
discutir e propor melhores formas de direciona-
mento no fluxograma do atendimento de crian-
ça e adolescente em Campinas. Aconteceram
duas reuniões, sendo uma delas com a presen-
ça do Juiz da Vara da Infância de Campinas, Dr.
Richard Paulo Pae Kim. A principal discussão
foi sobre as dificuldades de cada equipamento
na operacionalização das ações. Por exemplo, a
Vara da Infância e Juventude e a Delegacia de
Defesa da Mulher freqüentemente recebem
informativos do Disque Denúncia do município
sobre “suspeitas de violência sexual ou qualquer
outro tipo de violação de direitos”. E, neste caso
de “suspeita de”, a Vara da Infância e Juventude
ou a Delegacia de Defesa da Mulher têm dificul-
dades para iniciar qualquer ação, pois fazer uma
intervenção de averiguação para confirmar ou
não o fato está fora do seu papel, cabendo a ou-
tros equipamentos da rede realizar essa ação,
como os serviços especializados e de média
complexidade. Assim, foi proposto que o Disque
Denúncia de Campinas, enquanto um dos ca-
nais de entrada de denúncias, observe o relato
das denúncias e que encaminhe para a Vara da
Infância e Juventude ou à Delegacia de Defesa
da Mulher somente as informativas que tenham
coerência de operacionalização a fim de agilizar
os trabalhos. Então foi sugerido que caberia ao
equipamento do SGD, o Conselho Tutelar, o en-
caminhamento das denúncias, o qual seguiria o
fluxo como discriminado:
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Esse capítulo apresenta as ações realizadas
sob o Eixo Participação Juvenil através da con-
cepção da participação efetiva dos adolescen-
tes, não apenas como público das ações, mas
também como atores de mobilização, de organi-
zação, de produção. Atores efetivos na constru-
ção de ações e diretrizes para políticas públicas
voltadas à defesa de seus direitos.
Para isso a TABA realizou uma grande campanha
nas escolas municipais de Campinas com pales-
tras de sensibilização e informação a respeito
das violências sexuais contra crianças e adoles-
centes e as formas de denúncia e enfrentamen-
to. Essa campanha resultou em um livro escrito
pelos adolescentes participantes: “Que tal dizer
não: uma conversa de adolescente para ado-
lescente”. Além dessas ações, também pôde
facilitar diversos espaços e momentos em que
os jovens participaram efetivamente enquanto
protagonistas das ações de enfrentamento à
exploração sexual de crianças e adolescentes,
como nos eventos realizados no dia 15 de maio
de 2010, “Adolescências: da vulnerabilidade
à participação”, que abriu a Semana de Ações
de Mobilização e Sensibilização, e no dia 18 de
maio de 2010, Dia Nacional do Enfrentamento
ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e
Adolescentes, através de uma ação de sensi-
bilização na região central de Campinas. É im-
portante ressaltar que essa ação incentivou a
participação dos adolescentes na comissão de
EESCCA do Conselho Municipal de Direitos da
Criança e do Adolescente de Campinas.
Abaixo estão registradas em detalhes essas
ações.
lançamento da Campanha - 14 de Maio de
2009
A tABA realizou no dia 14 de maio um evento
que objetivou o lançamento da ii Campanha
e Concurso “reprove a violência sexual” na
rede Municipal
de Educação de
Campinas, para
uma população
entre 12 anos
completos a 18
anos incompletos, o que corresponde ao pú-
blico dos 7º aos 9° anos escolares. o evento
também promoveu a divulgação das ações pla-
nejadas pela rede municipal de atendimento
122
à EsCA, bem como as ações planejadas pela
tABA que visavam, principalmente, a partici-
pação juvenil no dia 18 de maio.
o evento do dia 14 de maio contou com os pa-
lestrantes: Maria luiza Moura oliveira, repre-
sentando o Comitê nacional de Enfrentamento
à Exploração sexual de Crianças e Adolescentes
e ConAndA, João Carlos Guilhermino de
Franca, da onG Camará de são vicente, e
verônica rosa, do disque denúncia Municipal.
Cerca de 210
pessoas parti-
ciparam desse
evento, durante
o qual foram dis-
tribuídos à população escolar os seguintes ma-
teriais: 4.200 folders, 2.000 fichas de inscrição
para o concurso, 500 cartazes, 1 banner.
1° Fase da Campanha: o ii Concurso reprove
a violência sexual
Durante a 1° fase da campanha, foram profe-
ridas palestras de sensibilização em 31 escolas
que aderiram ao projeto e se organizaram para
receber as exposições. Foram realizadas 28 reu-
niões com professores, diretores, orientadores
pedagógicos e responsáveis pelos NAEDS para
a capacitação dos mesmos a respeito da temáti-
ca proposta pelo projeto. Ao todo, 4.450 alunos
participaram das sensibilizações. Após esse pro-
cesso, abriu-se a inscrição para trabalhos e 16
escolas inscreveram seus alunos no concurso,
o que contabilizou 151 produções e 450 alunos
responsáveis por essas produções. Ao final des-
se processo, uma banca composta por profissio-
nais da área de comunicação, parceiros do pro-
jeto, e adolescentes escolheram seis desenhos
finalistas de seis escolas diferentes.
No dia 21 de dezembro de 2009, realizou-se a
cerimônia de premia-
ção dos adolescentes
participantes dos gru-
pos que inscreveram
as histórias em qua-
drinhos premiadas.
Foram distribuídas 470 camisetas com os dese-
nhos do concurso entre os adolescentes autores
dos desenhos premiados, as escolas e os NAEDs.
Como estratégia do projeto, foram realiza-
das reuniões com os NAEDs (Núcleos de Ação
Educativa Descentralizados) com o objetivo de
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formar os profissionais que atuam na educação
municipal por meio dos retornos das ações re-
alizadas nas escolas. Alguns casos de denúncia
foram identificados durante as palestras e enca-
minhados aos NAEDs. Foi proposto pela TABA
um acompanhamento desses encaminhamen-
tos para que essas experiências se transformem
em procedimentos de proteção à criança e ao
adolescente no universo escolar, através de me-
todologias e fluxos de denúncia específicos à es-
trutura da educação municipal.
ESCOLAS PREMIADAS:
• EMEF Zeferino Vaz
• EMEF Domingos Zatti
• EMEF Clotilde Barraquet Von Zuben
• EMEF Maria Pavanatti
• EMEF Violeta Doria Lins
• EMEF Virgínia Mendes de Vasconcelos
2° Fase da Campanha: livro “Que tal dizer
não: uma conversa de adolescente para
adolescente”
Iniciou-se em janeiro de 2010 a segunda fase da
Campanha Reprove a violência sexual - a produ-
ção do livro “Que tal dizer não: uma conversa de
adolescente para adolescente”.
Para tanto realizou-se o contato com as 17
Escolas Municipais de Ensino Fundamental de
Campinas que participaram do concurso com
a inscrição de histórias em quadrinhos. Foi so-
licitado a cada escola que encaminhasse 2 ado-
lescentes, sendo um para o Grupo de Escrita e
um para o Grupo de Desenho. A adesão de 11
EMEFs gerou o encaminhamento de 33 adoles-
centes. Dos inscritos, 32 participaram dos 4 me-
ses de atividade e completaram o período.
O livro “Que tal dizer não: uma conversa de ado-
lescente para adolescente” é composto pelo
produto gerado pelo curso, isto é, as ilustrações
e textos produzidos pelos alunos participantes.
Uma produção que apresenta criatividade, de-
dicação e cuidado, mostrando o quanto esses
meninos e essas meninas desejam compartilhar
com a sociedade, principalmente com outros
adolescentes e outras adolescentes, o quanto
é importante enfrentar o abuso e a exploração
sexual de crianças e adolescentes.
Foram impressos 9.150 exemplares do livro
124
“Que tal dizer não: uma conversa de adolescen-
te para adolescente” e 17.200 cartões postais
com os desenhos produzidos pelo concurso.
A equipe de trabalho da TABA observou que
esta segunda fase da Campanha tornou-se um
momento de descobertas para os adolescentes.
Como 83% dos participantes tinham entre 12 e
14 anos, a vinda até o centro de Campinas foi
uma grande experiência de ampliação de espa-
ços sociais.
Outro ponto importante foi a participação dos
adolescentes na reflexão e no registro da te-
mática da exploração sexual. Para tanto, foram
organizados encontros com dinâmicas, leitura
de textos, acesso ao Estatuto da Criança e do
Adolescente, apresentação em mídias, respei-
tado o conhecimento dos adolescentes e traba-
lhando com as dúvidas. A participação juvenil
vem ocupando parte da agenda das políticas
públicas e da sociedade civil organizada; porém,
apesar dos grandes debates e das iniciativas a
respeito, ainda encontramos poucos momentos
em que os jovens tenham espaço para sua par-
ticipação efetiva. Nesse projeto a participação
juvenil conseguiu ir além: os jovens foram os
próprios organizadores das ações, escolhendo
quais atividades eram pertinentes e produzin-
do materiais educativos com uma linguagem
própria de adolescente para adolescente, o que
certamente promove um maior impacto na co-
municação promovida pelo livro. Esse material
tem sido muito bem avaliado por gestores pú-
blicos e profissionais da área.
Eventos de Mobilização social e lançamento
do livro: “Que tal dizer não: Uma conversa de
adolescente para adolescente”
No dia 15 de maio de 2010, foi realizado, na Escola
Clotilde Barraquet, o evento “Adolescências:
das vulnerabilidades à participação”, que
marcou a abertura da Semana Nacional de
Enfrentamento a Exploração Sexual de Crianças
e Adolescentes de Campinas. A organização
desse evento contou com a participação, no pe-
ríodo de fevereiro a maio, de 17 adolescentes
que se responsabilizaram por coordenar des-
de a logística de espaço até os convidados e os
temas a serem discutidos. Contou ainda com a
participação de 180 adolescentes que, em sa-
las temáticas e mesas de debate, discutiram:
Adolescência e Sexualidade, Violências Contra
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Crianças e Adolescentes, Exploração Sexual de
Crianças e Adolescentes, Prevenção as DST/
AIDS e Cidadania. Entre esses participantes,
estavam adolescentes de São Vicente-SP que,
por meio de intercâmbio de projetos, vieram
contribuir com as discussões. Como convida-
dos compareceram representantes do Conselho
Tutelar, da Secretaria Municipal de Educação e
da Comissão de ESCCA do Conselho Municipal
de Direitos da Criança e do Adolescente.
Ao final do evento, realizou-se a cerimônia de
pré-lançamento do livro “Que tal dizer não: uma
conversa de adolescente para adolescente”,
com a presença dos adolescentes que participa-
ram de sua produção.
No dia 18 de maio, realizou-se um evento organi-
zado por uma rede gestora de ações, composta
por 27 ONGs e órgãos públicos, e que envolveu
também outras instituições que não promoviam
até então ações com esse foco, o que veio a for-
talecer, sem dúvida, as ações de enfrentamento
a esse fenômeno. Essa rede deu início ao pro-
cesso preparativo para as ações do dia 18 de
maio em março de 2010. Reuniões quinzenais,
que passaram a ser semanais no mês de abril,
e comissões de trabalho foram criadas para a
organização desse acontecimento, com ações
integradas para o fortalecimento da causa.
O evento de sensibilização do dia 18 de maio
– Dia Nacional de Enfrentamento à Exploração
Sexual de Crianças e Adolescentes – , realizado
na Praça Rui Barbosa, teve início às 9 horas e tér-
mino às 17 horas, e contabilizou cerca de 30 mil
pessoas. O evento foi aberto pela Secretária Darci
Silva, da Secretaria de Cidadania, Assistência e
Inclusão Social; pela Coordenadora da Equipe
Interprofissional da Vara da Infância e da
Juventude, Márcia Silva; pelo Superintendente
Executivo do Disque Denúncia de Campinas/
Movimento Vida Melhor, General Seixas;
pelo Diretor do Departamento Pedagógico da
Secretaria Municipal de educação, Prof. Márcio
Rogério Silveira de Andrade; por Maria Ivone
Aranha, da Comissão de ESCCA do CMDCA; e re-
presentantes do Conselho Tutelar e da Câmara
Municipal.
Durante esse evento tivemos o lançamento ofi-
cial do livro “Que tal dizer não: uma conversa de
adolescente para adolescente”, com a presença,
ainda, do Diretor do Departamento Pedagógico
126
da Secretaria Municipal de Educação e dos 28
adolescentes que participaram da produção da
obra.
Esses 28 adolescentes além de outros 31 adoles-
centes participantes de outros projetos da TABA
colaboraram na distribuição de livros, postais e
fitinhas de pulso, além dos folhetos de sensibili-
zação produzidos para o evento.
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Este capítulo apresenta as ações realizadas
sob o experiência de construção de parceria e
suas inúmeras produções. Parcerias estabeleci-
das pela TABA-Espaço de Vivência e Convivência
do Adolescente com os e as adolescentes e jo-
vensparticipantesdosprojetosrealizados,bem
como a parceria, já de alguns anos, exatamente
15 anos, portanto adolescente sem crise, com a
Secretaria Municipal de Educação de Campinas
(SME) envolvendo suas escolas, os educadores,
as educadoras, especialistas, coordenação e
alunos(as).
Pode-se dizer que essas duas parcerias foram
sendo construídas eticamente, durante esses
anos de adolescência, isto é, nos 14 anos de
convivência. Faz-se referência a uma parce-
riaéticanosentidodagarantiadasdiferenças,
das diversidades nas opiniões, nas propostas
e nas ações. Durante todos esses anos, nessas
parcerias os membros da TABA sempre se sen-
tiram acolhidos e respeitados como profissio-
nais e também como um grupo de vanguarda
que sempre propôs o novo e o ousado, a pró-
xima etapa a ser construída num processo que
sempre podia avançar um pouco mais. A SME
sempre possibilitou “linha” que deixasse esse
vôo mais alto e assim alcançar outros limites. O
respeito mútuo e o reconhecimento de ambas
aspartesdesuascompetênciasespecíficas,éo
quesepodechamardeumaparceriaética.
Essaéticaeesserespeitojáhaviamproporcio-
nado importantes realizações, tais como: um
programa municipal no campo da orientação
sexual (hoje nomeada como educação sexual)
inovador, que permanece até os dias de hoje e
que nos anos 90 foi referência para outras ini-
ciativaspúblicas;aconstruçãodaformaçãocon-
tínuadeumgrupodeeducadoreseeducadoras
quesemprese renovoue,porfim,a ideiaea
realização de encontros de adolescentes que
chegaram a congregar milhares deles e que de-
pois se transformaram nos Encontros Nacionais
de Adolescentes (ENA), que geraram o MAB (
Movimento de Adolescentes do Brasil). Quando
é falado da “linha” que foi dada, fala-se da garan-
tidaparaosgrandesvoos,fala-sedasrealizações
que não ficaram no passado, pois, neste ano,
2010, em Campinas, aconteceu o VII Encontro
Municipal de Adolescentes de Campinas e, no
ano passado, em Santa Bárbara D’Oeste, o XIV
Encontro Nacional de Adolescentes. Por essas
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produções, é possível então falar dos resultados
do ideal da TABA.
É sempre importante relembrar e recontar a
história da TABA, pois é nela que é encontrada
e reconhecida a própria missão. Ela, enquanto
grupo, temorigemnodesejo de continuidade
dos adolescentes de algumas das escolas mu-
nicipais, os quais participaram durante alguns
anos como agentes educativos do programa
municipal de Orientação Sexual das escolas da
RedeMunicipaldeCampinas,dedar continui-
dade às atividades que desenvolviam.Umde-
sejodecontinuidade,umdesejodenãoromper
com os vínculos construídos e com algumas
açõesjádesenvolvidas.ATABAéacontinuidade
de um projeto que se desenvolve no espaço da
rede pública e que extrapola os muros da escola
e alcança as ruas e a cidade de Campinas. A von-
tadededarcontinuidadeaalgoimparnavida
de um grupo de adolescentes, que era a possibi-
lidade de encontrar-se, conversar, trocar idéias,
realizar oficinas para e comoutros adolescen-
tes, crescer juntos e sair do lugar de isolamento
e afastamento no qual a adolescência muitas
vezes é colocada.
Com esse anseio, o grupo se transforma em
umainstituiçãoquecolocaemseunomeara-
zão de sua existência: espaço de vivência e con-
vivência do adolescente e da adolescente. E por
que TABA? Esse nome não é nenhuma sigla. Ele
representa a idéia da diversidade e da diferença.
TABA, como local de encontros das várias tribos
jovens, que, na diversidade, se encontram esta-
belecendo possibilidades de convivência e de
vivência.
Essa parceria com as pessoas nomeadas como
adolescentes e jovens tem sido o “referencial
teórico”, a bússola, que indica à organização
novose,àsvezes,difíceiscaminhosapercorrer.
Sempreproporepromoveraparticipaçãodose
das adolescentes nos diversos lugares possíveis,
quer seja nos projetos, quer seja em espaços de
participação,resgatandocomissoumtrabalho
deformaçãopolíticanocampodasadolescên-
cias.
Além dessa central e norteadora parceria com
os e as adolescentes, desde o início foi possível
contar com a Secretaria Municipal de Educação
de Campinas como grande e fiel parceira, já
que foi nesse lugar que nasceu a idéia da TABA.
130
Num primeiro momento, dessa parceria foram
criados cursos de formação para educadores, e
educadoras não só do ensino fundamental, mas
tambémosqueatuavamnaeducação infantil.
Posteriormente, sem deixar de realizar ações de
formação, a atenção voltou-se diretamente para
os e as adolescentes das escolas municipais.
Antes de apresentar as ações direcionadas
aos adolescentes, é importante dizer do lugar
ocupado pela TABA, cada vez mais, no cená-
rio do trabalho com adolescentes e jovens em
Campinas. É necessário ainda falar da sua atu-
ação, como referência que é, também no cam-
po das violências sexuais que afetam direta ou
indiretamente adolescentes e jovens. Nesse
período passado, ocupou diferentes postos de
atuação, como quando fez parte parte da rede
de atendimento referenciado a adolescentes
envolvidos diretamente com a exploração sexu-
al. Outras etapas desse percurso foram o acolhi-
mento e o acompanhamento feitos a um grupo
de adolescentes nomeados como autores de
violência sexual. Hoje está centrada muito mais
no lugar de ações de prevenção e fortalecimen-
to da rede de proteção de crianças e adolescen-
tes de Campinas.
É deste lugar, do campo das violências sexuais
contra crianças e adolescentes, numa perspec-
tivadetrabalhomaispreventivo,queforamex-
traídas as ações a relatar.
O ano 2008 marcou o início da atuação da
TABA nas escolas municipais, levando à rede
a campanha: REPROVE A VIOLÊNCIA SEXUAL
CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES. A chama-
da nas escolas foi: “ADOLESCENTES PELO FIM
DA VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTO-JUVENIL” e a
idéia central a ser divulgada sempre foi: TODA
CRIANÇA E TODO ADOLESCENTE TÊM O DIREITO
DE NÃO SOFRER NENHUMA VIOLÊNCIA,
INCLUSIVE A VIOLÊNCIA SEXUAL.
No primeiro ano estabeleceu-se a comunicação
por meio de conversas com os alunos e alu-
nas de 42 escolas, das quais 25 enviaram 386
desenhos(feitosemumafolhasulfite)sobreo
tema proposto, resultado da produção direta
de 1.544 alunos(as) adolescentes. Um das de-
corrência dessa etapa foi o aumento significa-
tivo de denúncias feitas pelo disque denúncia
de Campinas/Movimento Vida Melhor, já que
passaram a ter acesso a esta forma de proteção:
a denúncia. Apesar do pouco tempo disponível
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nesse primeiro ano para estabelecer contato di-
reto com as turmas de alunos(as), muitos efei-
tossurtiram,representadosnoníveldosdese-
nhosenviados,na formacomoa temática foi
apresentada, mostrando o papel de proteção da
família e da escola e as consequências concretas
na vida das e dos adolescentes diante de uma
situação de violência sexual. Há de se registrar
o espanto da equipe organizadora diante do nú-
mero de trabalhos recebidos e de sua qualida-
de. Isso significa omuito que estes homens e
estasmulheres,osadolescentes,tinhamafalar
sobre o tema das violências.
Umadificuldadeencontradapelosorganizado-
resfoiaseleçãodosseisfinalistase,destes,do
desenho vencedor, cuja equipe foi premiada,
bem como os professores que os acompanha-
ram. É importante dizer do trabalho desenvol-
vido pelos professores e professoras das 25
escolas que participaram e que receberam da
TABAumkitdematerialeducativosobreotema
como subsídio para o acompanhamento feito
aos grupos que se formaram para produzirem
os desenhos e participarem da campanha. Os
grupos eram formados por cinco adolescentes
que poderiam escolher-se entre si seguindo o
único critério de desejarem formar um grupo,
não precisando respeitar turma e nem turno, o
quegarantiaumalivreescolha.
Foi realizado um evento final durante o qual
as seis escolas finalistas apresentaram seus
desenhos e defenderam seu trabalho, o que
produziu uma grande movimentação entre os
grupos de autores dos desenhos, tendo a de-
fesa do desenho “campeão” sido o ponto alto
de sua pontuação, pois o grupo apresentou
a questão de o autor da violência, central em
sua produção, ser alguém desconhecido, sem
rosto, uma vez que se poderia supor o rosto de
qualquer pessoa , inclusive da própria família.
DesenhofinalistadoanoI
132
No ano seguinte – 2009 - , ano II da campanha,
foidadacontinuidadeaomesmotemaeàsmes-
mas chamadas centrais.
Participaramcomoenviodedesenhos,17es-
colas das 45 visitadas pela equipe da TABA, que
eraformadapordoisprofissionaiseumajovem
educadora. Desta vez, pôde-se conversar du-
rante uma hora com grupos de, no máximo 30
alunos/as, o que resultou num processo mais
intenso ao possibilitar maior contato e tempo
para perguntas, trocas de idéia e alguns pedi-
dos de ajuda que foram surgindo em algumas
escolas, incluindo-se a denúncia de um grupo
de alunos e alunas de uma determinada escola
sobreasatitudesinadequadasdeumprofessor
dopróprioinstituto.
A proposta de produção desse segundo ano foi
a criação de uma história em quadrinhos com-
postaporcincocenas,emqueaúltimanecessa-
riamente deveria apresentar a solução do pro-
blema. Muitas vezes a solução apresentada foi
amorteouagravidezdo/daadolescentevítima
da violência sexual, o que aponta na direção da
necessidadedeum trabalhomaisefetivopara
o desenvolvimento de atitudes de denúncia e
autoproteção por parte dos e das adolescentes.
Outras situaçõesmuito significativasencontra-
das nos desenhos foram: a da responsabilidade
do autor da violência estar diretamente rela-
cionada à denúncia por meios de comunicação,
principalmente os jornais; a referência a novos
meios de relacionamento, como por exemplo a
internet, como um ambiente de vulnerabilida-
de; e a denúncia realizada quase sempre por
amigos e outros adolescentes, mostrando a in-
corporaçãopositivadadenúnciacomoumins-
trumento de proteção dos e pelos adolescentes,
mas também mostrando que o adulto falha no
seu papel de denúncia e proteção ao adolescen-
te e à criança.
Outra mudança estabelecida no ano II foi a am-
pliação da premiação, o que resultou em seis
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escolas premiadas. Os prêmios foram camisetas
estampadas com o desenho apresentado pela
escola para os adolescentes autores dos dese-
nhosfinalistaseparaasescolas.Numprimeiro
momento, a própria equipe organizadora ques-
tionouovalordesseprêmio,masoefeitocau-
sado pelas camisetas foi constatado no sorriso e
naalegriadosedasparticipantesaoveremsua
produção nas camisetas.
Esperava-se que haveria um número baixo de
produção dos alunos/as por causa do aumen-
todograudedificuldadeparaaelaboraçãodo
trabalho (uma história em quadrinhos) em rela-
çãoaoanoIedeumasériededificuldadespe-
las quais as escolas haviam passado durante o
ano – pandemia da gripe H1N1 e greve na rede
municipal de ensino. Mais uma vez a previsão
falhou e foram elaboradas 151 histórias em qua-
drinhos que representavam 450 adolescentes,
dos 4.450 com os quais foi estabelecido conta-
to. A seleção dos seis desenhos ganhadores foi
umprocesso que contou comprofissionais de
diversas áreas como: comunicação, educação,
psicologia e representantes das empresas par-
ceiras. Depois de uma pré-seleção de 50 das 151
histórias, um grupo de jovens e adolescentes
chegouaofinal.
Essas pessoas, nomeadas como adolescentes
nasconversasmantidas,trouxerammuitasper-
guntas, dúvidas, receios, desinformação sobre
direitos ou formas de proteção, desproteção ex-
pressa em reações como o abaixar de cabeças,
o parar de falar, de sorrir, deitar na carteira com
olhar distante. Estas reações chamaram muito
a atenção da equipe, demonstrando uma inci-
dência de casos de violência na vida daquelas
pessoas.
Essa reação direta, vinda dos/as adolescentes,
quer por meio de suas produções, quer nas per-
guntasfeitaseemsuasreações,confirmouaim-
portância e o valor de se ter realizado uma atua-
ção mais direta com o adolescente e não apenas
via professores/as. O que se pôde apreender foi
que muito há para ser denunciado, muitas per-
guntas a serem feitas, um falar e pensar intenso
por parte dos e das adolescentes que hoje so-
frem diretamente os efeitos das violências sexu-
ais em suas vidas.
Uma segunda etapa do ano II da campanha
(2010)foiumaexperiênciaricaeprodutiva.
No primeiro semestre de 2010 foi formado um
134
grupo de alunos (as) representantes das 17 es-
colas que enviaram as suas histórias em quadri-
nhos, e que era composto por alunos e alunas
que gostavam de escrever e de alunos e alunas
que gostavam de desenhar. Esse grupo produ-
ziuemquatromesesumlivrointitulado:“QUE
TAL DIZER NÃO? Uma conversa de adolescentes
para adolescentes”.
Ogrupofoiacompanhadoporumaprofissional
e uma educadora jovem da TABA e produziu um
texto que fala sobre as formas de violência e
formas de proteção, bem como de temas cor-
relatos como direitos humanos, direitos sexuais
e reprodutivos, sexualidade e adolescência. O
processo de produção da escrita pelos alunos
redatores aconteceu paralelo ao da produção
de desenhos pelo grupo de alunos/as dese-
nhistas.Ambosnumritmotalque houvedifi-
culdade para selecionar o possível diante das
delimitações de espaço para publicação dada
aqualidadeeaquantidadedasproduçõesfei-
tas pelos dois subgrupos: escrita e desenho.
Foiobtidootriplodaproduçãodedesenhosdo
queerapossívelserutilizado,mostrando,com
isso, o talento, a vontade, a responsabilidade
desses adolescentes desenhistas que vieram
representando suas escolas.
“O projeto TABA foi muito bom, gostaria que
você estivesse aqui para passar o tempo fazen-
do o que você gosta, desenhando.
Até mais, Valter”
“Bom, hoje é o penúltimo encontro de
um curso que marcou a minha vida: primeiro
porque conheci gente nova, e depois porque
quem escreve um livro, deixa sua marca no
mundo. E a minha marca foi essa. Qualquer
pessoa daqui a 80 anos pode ler o livro e ver
que o nosso nome está lá, não importa o que
aconteça. Sem falar, que esse livro pode ajudar
muita gente em muitos lugares.
Beijos, Maria Gabriela”
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O lançamento
dessa produ-
ção aconteceu
em dois mo-
mentos. O pri-
meiro, no dia
15 de maio, na
EMEF Clotilde
B a r r a q u e t ,
por ocasião do encontro: “Adolescentes: das
vulnerabilidades à participação”, realizado
pelaTABAemparceriacomoutrasinstituições.
Esse evento marcou a abertura da Semana de
Enfrentamento á Exploração Sexual de Crianças
e Adolescentes, que também realizou, no dia
18 de maio, na praça Rui Barbosa, no centro de
Campinas, uma ação maior, contando com 27
ONGs da cidade e representantes de órgãos pú-
blicos. Nesta oportunidade, os e as adolescen-
testambémfizeramolançamentodeseulivro
e a distribuição entre os adolescentes e adultos
presentes, durante todo o dia.
Nofinaldoano2010,serãodistribuídos8.000
exemplares desse livro nas 17 escolas que par-
ticiparamenasdemaisqueseinteressaremem
receber o material, para que os professores e
professoras possam trabalhar com seus alunos
atemáticapropostautilizandoummaterialfeito
de adolescente para adolescente.
Uma exposição de toda a produção das campa-
nhas - ano I e ano II - será realizada nas depen-
dências do Cefortep, local de formação da rede
municipal de educação, no intuito de apresen-
tarosresultadosobtidoseconvidararedepara
o ano III da campanha.
No ano III o tema será: MASCULINIDADE E
VIOLÊNCIAS,dandocontinuidadeaeste traba-
lhoemqueaparticipaçãosocial juvenilécen-
tral, por se reconhecerque os adolescentes, su-
jeitos de direito, têm o direito à fala, também
pormeiodesuaproduçãoartística.
Finalizando este texto sobre parcerias, quer–se
ressaltar o valor das parcerias aqui apresenta-
das: com os e as adolescentes e com a SME, nas
pessoas envolvidas direta e indiretamente. Os
membros da TABA reafirmamo grande prazer
que é poder estar na escola com adolescentes e
garantirsuafalaquesempreédireta,honesta,
clara e se expressa pela arte de suas mãos, no
seu desenho e na sua escrita.
No próximo ano, serão redigidos e
136
apresentados os resultados desta segunda te-
mática: Masculinidades e Violências. Esta in-
terface entre relações de gênero e violência é
urgente no campo das adolescências hoje, prin-
cipalmente no que se refere à discussão das
formas de ser homem e também de ser mulher,
podendo encontrar novas possibilidades que
promovam a cultura da não violência.
Sabe-se teoricamente que as questões das ado-
lescências são demarcadas por uma história e
por uma sociedade. Este momento e esta socie-
dadedaépocaprecisamencontrarsoluçõesefi-
cientes que diminuam o genocídio juvenil que
ocorre nos dias atuais, mostrando parte das di-
ficuldadesencontradaspelasociedadeenquan-
to educadores que visam promover a vida e o
prazer de viver nesta geração que esta sob sua
responsabilidade. Na verdade não está haven-
doéticaosuficientecomessaspessoasnomea-
das como adolescentes. E reforça-se o fato mais
importante: que antes de serem adolescentes,
eles e elas são pessoas.
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138
A todoomomentoestamos sujeitos apartici-
pação direta e/ou indireta de um processo edu-
cativo, da aprendizagem, da aquisição de um
conhecimento, tanto para ensinar, quanto para
aprender.Esseprocessoeducativo,sejaelefor-
mal ou informal, possibilita ao ser humano seu
desenvolvimento a partir do contexto emque
está inserido,permitindoacomunicação,a lo-
comoção, entre outras ações que possibilitam a
convivência social.
Aesseatodeensinareaprenderidentificamos
comoaçãoeducativa.Muitomaisqueumpro-
cessoeducativo,aaçãoeducativavai alémdo
espaço formal de ensino, está presente em to-
das as atividades que realizamos no cotidiano
denossasvidas.Aaçãoeducativapossibilitaaos
indivíduos envolvidos o acesso ao conhecimen-
to, desenvolvimento pessoal e aperfeiçoamento
de suas habilidades. Pode-se dizer que o ato de
aprender e ensinar não possui um período, um
tempo determinado, a todos os momentos es-
tamos desenvolvendo tais ações.
Conforme destaca Brandão: “Ninguém esca-
pa da educação. Em casa, na rua, na igreja
ou na escola, de um modo ou de muitos todos
nós envolvemos pedaços da vida com ela: para
aprender, para ensinar, para aprender-e-en-
sinar. Para saber, para fazer, para ser ou para
conviver, todos os dias misturamos a vida com a
educação“ (1981, p. 7).
Seja qual for o aprendizado ou ensinamento que
estamos vivenciando, contamos com o apoio de
outros indivíduos para executar essa ação. Em
todos os espaços que freqüentamos, não esta-
mos isolados e inertes a aprender, a ensinar e
a aprender-e-ensinar (BRANDÃO, 1981, p. 7).
Contudo, Freire adverte que “...ninguém educa
ninguém, como tampouco se educa a si mesmo:
oshomensseeducamemcomunhão,mediati-
zados pelo mundo” (1987, p. 69).
Neste contexto, não podemos considerar a ação
educativasemainfluênciadomundo,dasocie-
dade a qual estamos inseridos. É impensável
supor que possamos estar no mundo sem vi-
venciar tudo aquilo que é ofertado, sem passar
porconflitos internoseexternosesemapren-
der com o conhecido e o desconhecido. Não
vivemos distante dos acontecimentos sociais,
já que culturalmente a vida em sociedade exige
minimamente o contato com outros indivíduos,
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gruposemembroscoletivamenteorganizados.
Comoexemplodeumaaçãoeducativadiferen-
ciada destacamos o livro “Que tal dizer não?
(uma conversa de adolescente para adolescen-
te)” produzidos por 32 adolescentes, com idade
entre 12 e 17 anos, de 16 Escolas Municipais de
Ensino Fundamental de Campinas. Convidados
a participarem da segunda etapa do Projeto
“Reprove a Violência Sexual Contra Crianças e
Adolescentes” esses adolescentes deram uma
liçãodecriatividade,conhecimentoeparticipa-
ção.
Com apenas 04 meses para se conhecerem, se
aprofundaremnatemáticasugerida,produzire
finalizarolivro,essesadolescentesdemonstra-
ramcomoépossívelrealizarumaaçãoeducativa
juntoaosadolescentes,fomentandoareflexão
eparticipação,essencialparaodesenvolvimen-
to humano.
Após 03 encontros de integração, introdução e
estudo do tema a ser trabalhado, os adolescen-
tes,apartirdeseuinteresseesuashabilidades,
foram divididos em 02 grupos, um de escrita e
um de desenho. Com o apoio de 02 educadoras,
01 arte-educador e 01 jornalista iniciaram a fase
de produção dos desenhos e dos textos para o
livro.
Fundamentados por 05 temas: violência, direi-
tos, cidadania, vida e sexualidade, os adoles-
centes e as adolescentes foram municiados com
materiaisdereferênciaeconsulta,eatividades
dedebateereflexão,paracriaratravésdeum
processo de valorização do conhecimento e
formadeexpressãodosparticipantes,eassim
apresentar à sociedade, especialmente para ou-
tros e outras adolescentes, “um livro que tem
comoobjetivo fazer você refletire saberdizer
não!”.
Estimuladosaconcluirolivroemtempodedi-
vulgá-lo no evento do Dia Nacional de Combate
ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e
Adolescentes, os e as adolescentes não desani-
maramemnenhummomento.Incentivadospe-
los educadores, produziram os textos e diversos
desenhos que descreveram e ilustraram a carac-
terísticadecadaumeadeseradolescente.
A produção do II Concurso demonstrou o quanto
àparticipação,oenvolvimentoeaaçãoeduca-
tiva,sãoresultadosefetivosnotrabalhodeen-
frentamento a violência sexual contra crianças
140
e adolescentes. Mais que histórias em quadri-
nhos, a produção dos adolescentes destaca a
importânciadagarantiadosdireitoseproteção
integral.
Asreflexõespautadascomosgrupos,aliberda-
de para serem eles mesmos, foi um grande dife-
rencial, principalmente por tratar de um assun-
to tão polêmico e velado em nossa sociedade.
Quando possibilitado o acesso a materiais, re-
cursospedagógicosemomentosparareflexões,
os e as adolescentes vivenciaram uma oportuni-
dade para fazer a diferença na família, na escola
e na sociedade.
Como nos diz um dos adolescentes, em um dos
depoimentos que coletamos: “Queria comuni-
car-lhequeoprojetoTABAfoimuitogratificante
e felizmente um sucesso. Informará muitos jo-
vens possivelmente em dúvidas e alertará eles
de certos perigos. A combinação de várias men-
tes espontâneas, com sede de informação, pos-
sibilitouumapossívelperspectivaparaaqueles
que precisem de informação. Adolescentes uni-
dos, quem diria, jovens que podem fazer a dife-
rença e assim tocar a mente das pessoas, assim
proporcionando uma mudança ideológica na
sociedade. Talvez abrir portas para projetos des-
sa natureza, mude o Brasil, destrua o preconcei-
to e construa novos conceitos. Prazer e cultura,
a um futuro melhor. Rafael Vicente.”
A responsabilidade de produzir um livro que
trouxesse informações e possibilitasse uma lin-
guagem de adolescente para adolescente foi
outrodesafio,vistoquecomumenteespera-se
pouco de nossos adolescentes. Assumir esse
compromissodeconfirmarquetodaaçãoedu-
cativa garanta e celebre a autonomia do ado-
lescente, resultam em conquista, satisfação e
mudança. Conforme destaca Trassi “a conduta
do adolescente sinaliza acontecimentos de seu
meio social e de seu tempo que produzem efei-
tos,reverberamemseucotidianoeemsuainti-
midade. Dito de outra forma, a conduta sempre
revela algo do indivíduo e de seu ambiente so-
cial”. (2006, p. 428)
Mesmocomtodososdesafiosqueencontramos
duranteaaçãoeducativa,énecessárioacreditar
quetodooprocessoeducativoémediadopor
conquistas, tensões e frustrações.
Olharoresultadodestaaçãoeducativademons-
tra que somente com o reconhecimento e a
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participaçãoativadosedasadolescentespode-
remos realizar mudanças e dizer não á violência.
A importância desse material produzido pode
ser bem reproduzido pelo depoimento da
EducadoraFláviaFerreiraCabral,queutilizouo
livro “Que tal dizer não: uma conversa de ado-
lescente para adolescente” como material pe-
dagógico emoficinas de educação não formal
com pré-adolescentes de 10 a 13 anos.
“A experiência de utilizar os livrinhos com o
grupoJuvenis(10a13anos)foimuitopositiva,
ainda mais por se tratar de um material que foi
escrito por adolescentes.
Na pagina 6 do livro, há espaços para escrever
(nome, idade, escola, medos, coragens e pai-
xões)eelesadoraramestaatividade,ummos-
trava para o outro e houve um momento que
cada um pôde falar mais sobre si mesmo!
Eles também pintavam os desenhos que eram
possíveis colorir.
Na leitura do livro, as ilustrações ajudavam a en-
tender sobre o assunto, ou seja, além da leitura,
falávamossobreosignificadoesentidodosde-
senhos.
Apaginamaisdiscutidafoiapagina23,naqual
tem uma historia em quadrinho sobre abuso se-
xual, eles pediam para ler, aliás, todos queriam
ler, até disputavam quem iria ler, liam de novo.
Enfim,estematerialfoideextremaimportância
para tratar sobre os diversos assuntos do uni-
verso da adolescência, ainda mais considerando
que esta faixa etária precisa de elementos sim-
bólicos para melhor entenderem seu contexto
pessoal e social.”
ReferênciasBibliográficas
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação.
26ª. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: sabe-
resnecessáriosàpráticaeducativa.30ª.ed.São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
_____________. Pedagogia do oprimido. 27ª.
ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
TRASSI, Maria de Lourdes. Adolescência-
violência: desperdício de vidas. São Paulo:
Cortez, 2006.
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De
A exploração sexual de crianças e adolescentes
é uma triste realidade em Campinas e região.
Fechar os olhos para o que acontece em nossas
ruas é fechar os olhos para o amanhã. É deixar
de lado sorrisos infantis, brincadeiras nas pra-
ças, bonecas nas mãos, bolas nos campos e pi-
pas no céu. Quem liga para a vida não pode fi-
car calado vendo tudo isso acontecer. É por isso
que a Saviezza fez questão de participar da nova
campanha da TABA. Como uma empresa de co-
municação, não poderíamos deixar de divulgar
esse alerta.
O conceito elaborado para a campanha trans-
formou em anjos aqueles que denunciam a ex-
ploração sexual. Desenhos infantis deram asas
a fotos reais representando de uma maneira lú-
dica e criativa essa transformação. Com apenas
uma ligação, pessoas comuns poderiam tornar-
-se verdadeiros heróis ao proporcionar a crian-
ças e adolescentes a oportunidade de uma vida
mais cheia de vida. A indignação e a coragem
para denunciar são as sementes da esperança
para inúmeros pequenos indefesos.
Todas as peças foram criadas com o coração e
com a certeza de estarmos colaborando para
um futuro melhor para crianças e adolescen-
tes. Participar desse projeto foi uma maneira de
mostrar o nosso lado mais humano e de exercer
cidadania. Agradecemos à TABA por essa opor-
tunidade, mas esperamos que esta seja a últi-
ma vez que um grupo de pessoas precise se unir
para divulgar e combater a exploração sexual.
Um sonho? Com certeza, mas é disso que a vida
é feita. Pode perguntar para as crianças.
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Res
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O projeto turismo sustentável e infância re-
alizado em Campinas é uma proposta focada es-
pecialmente em prevenção.
Campinas ainda não se situa como uma cidade
com forte envolvimento da exploração sexual
relacionada ao turismo. Mas há indicadores que
demonstram que a rede deve se preparar para
um possível agravamento desse cenário princi-
palmente pelo rápido crescimento do turismo
previsto para a região que comprovadamente
anda lado a lado com o aumento da vulnerabili-
dade social de crianças e adolescentes.
É fundamental planejar o desenvolvimento eco-
nômico atrelado ao desenvolvimento social e
ambiental, o chamado desenvolvimento susten-
tável.
Assim verificamos que o trabalho apresenta
uma série de desafios, pois é comum que não
haja preocupação com problemas que ainda es-
tão surgindo ou que não nos afetam diretamen-
te.
Durante o projeto nos deparamos com diver-
sas situações que confirmaram essa percepção.
Como se esse cuidado pela garantia dos direitos
da criança e do adolescente pudesse ser deixa-
do para outro momento.
Por isso as ações de sensibilização e dissemina-
ção de informações à todos os públicos envolvi-
dos foi um processo importantíssimo.
Da mesma forma, reiteramos a relevância do
envolvimento do poder público municipal, so-
bretudo a Secretaria de Comércio, Serviços,
Indústria e Turismo. São as políticas públicas
que garantem o cumprimento do Estatuto da
Criança e do Adolescente e os aos gestores pú-
blicos em parceria com toda a sociedade cabe
a responsabilidade de promover o desenvolvi-
mento da cidade com sustentabilidade, assegu-
rando os direitos da criança e do adolescente
em todas as frentes previstas em lei.
Vivenciar essa experiência no projeto não foi
simples. A equipe muitas vezes foi tomada pelo
desânimo, com a sensação de remar contra a
corrente. Mas ao mesmo a caminhada nos pro-
porcionou novos encontros, parceiros e apoios
importantes que nos mostraram que apesar
das dificuldades, era o caminho a ser percorrido
O Sistema de Garantia de Direitos se apresenta
como uma rede consistente e ativa, capaz de se
146
articular e promover ações de enfrentamento,
embora ainda precise de contínuas capacita-
ções para uma melhor atenção ao fenômeno.
Indicamos ações continuadas de capacitações
e debates, sobretudo com o envolvimento do
Conselho Tutelar, para melhor conhecimento,
acompanhamento e controle das ações voltadas
para a garantia dos direitos das crianças e dos
adolescentes.
Mas sem dúvida a maior conquista desse pro-
jeto foi o modo como crianças e adolescentes
envolvidos se apropriaram do tema e da causa
resultando na produção de um material que
traduz a essência de suas realidades, valores
com a linguagem deles.Conteúdo produzido
e disseminado baseado nessas vivências e não
construído somente em cima teorias padrão.
Ocupamos este espaço central entre o discurso
acadêmico sobre a adolescência e a realidade
vivida por estas pessoas nomeadas como ado-
lescentes.
Hoje podemos afirmar da existência da crian-
ça e do(a) adolescente sujeito de direito que
conseguem dialogar entre si e produzir ações
concretas em busca da garantia destes direitos.
Paralela a esta realidade atual e pulsante, ainda
encontramos o imaginário do mundo adulto in-
vadido por imagens e pré conceitos em relação
à estas pessoas, o que dificulta a aproximação
e um trabalho em conjunto que produza ações
políticas como foi o caso da publicação “Que tal
Dizer Não”( uma conversa de adolescentes para
adolescente).
Muito poucos são os espaços de escuta dos e
das adolescentes A política de participação ju-
venil ainda trabalha para o adolescente e não
com ele, deixando de contribuir de modo efeti-
vo na transformação, impacto para que desen-
volvam projetos de vida.
Nossa melhor experiência!
O prazer de produzir, compartilhar e dialogar de
forma prazeroza e estimulante com esses nos-
sos parceiros crianças, adolescentes e jovens,
pessoas, como todos nós, que acreditam , lutam
e desejam que a garantia de seus direitos seja
uma realidade de fato em nossa cidade.
A caminhada continua.
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