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7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
1/18
-iA;- ,jt~^ -
3. Oprojecto daantropologia social e cultviral
7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
2/18
SUMARIO
3
l EtnologiaouAntropologia?
3 1 1 Antropologia social ou e cultural?
3 2 Comodefiniraantropologia social
v l As
relaes
entre o
local
e o
global
3 fim dos
selvagens
3 2 3A
incluso
do
universo ocidental
no
campo
antropolgico
3
Cincia
do
tradicional
e d
modernidade
49
7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
3/18
Objectivos de Aprendizagem
Aps
a
leitura
do
l
Captulo
- O
projecto
da
antropologia social
e
cultural,oleitordever ser capaz de:
Entender
as
diferentes
utilizaes
nacionais
dos
termos
deetn
ologia
e
antropologia
Distinguir as etapas etnogrfica, etnolgica e
antropolgica
Perceber
a
articulao entre
as
diferentes etapas
da
investigao
antropolgica
Conhecer
o
objecto
e
prtica
da
antropologia social
Conhecer
o
objecto
e
prtica
da
antropologiacultural"
Perceber
o
objectivo final
da
antropologia social
e
cultural
; 3 .
. . - A
di
c c
"-E
T e s
O
.- .
. / " - v
O1
c
C
o
e
r
"b
d
a
'c
"r
5
7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
4/18
3.1 Etnologia ou antropologia?
A hesitao que por vezes ainda se coloca relativamente designao da
disciplina, etnologia ou antropologia, deriva da sua prpria histria e das
tradiescientficas dos pases onde ela teve o seu maior desenvolvimento,
c o m o
a Gra-Bretanha, os Estados-Unidos e; mais tardiamente, a Frana.
Embora
num
registo mais secundrio
m as
igualmente
importante,no
podemos
-esquecer,
contudo,
pases como
aAlemanha,
Blgica, Holanda, Portugal,
cujas
escolastiveramumpapel maisoumenos relevantenainvestigao, segundo
-os-casos, .independentemente
da designao da disciplina e segundo
orientaescientficas prprias.
termoetnologia,
cuja
etimologia significa
o
estudo
das
etnias (etno
=etnia,
-logia = es tudo)1 , fo i
empregue
em
pases
cujas
preocupaes estavam
essencialmente
voltadas para
o
estudo
das
etnias,
no
sentido
das
diferenas
culturaisentre povos. No incio do sculo XIX, era sinnimo de Cinciada
-Classificao das Raas (ramo da antiga antropologia fsica) e designava o
conjuntoda s
cincias sociais
que
estudam
as
sociedades
tidas
como primitivas
e o
homem
fssil. .
'No susentido restrito, durante muito tempo, a etnologia incluiu basicamente
os
estudos sintticos e concluses tericas elaboradas
apartir
de
documentos
etnogrficos,
orientados
em
particular para
os
problemas
deorigens, de
reconstituio
dopassado,de
contactos,
de
difuso.
neste sentido
que os
britnicosempregam desde
h
muito
o
termo
ethnology
Para eles,
o
estudo
destes
problemas gerais devia depender de um domnio parte do campo da
'antropologia
social
e
cultural. Todavia, estas distines esto longe
de ser
clarase
unnimes
em
muitos pases.
Em
Frana,
otermoantropologia
designou
inicialmente,e
durante algum
tempo,oramodaantropologiafsicaunicamente. Porm, pela mesma altura,
nosEstados Unidos, a antropologia compreendia no mnimo cinco seces:
. a n t r o p o l o g i a
fsica, arqueologia pr-histrica, lingustica, etnologia e
antropologia
social
e
cultural.
EntretantoemFrana,o
emprego
e o
sentido
do
termo
ethnologie
passou
a ter
;um
contedo semelhante ao de antropologia social
anglo-saxnica.
As
'perspectivas
eram sensivelmente as mesmas embora para designaes
.diferentes.
Am aioriadostrabalhosdeetnologia publicados neste pas, mesmo
os elaborados trinta anos atrs, seriam considerados como
sendo
de
antropologia
socialsefossem editadosnosEstados Unidosou na Gr-Bretanha.
:Ji>decurso
dos
ltimos anos,
o
vocbulo
ethnologie
teve tendnciapara
se r
gradualmente
substitudo pelo
de anthropologie sociale
(actualmente
o
vocbulo
ethnologie
unicamente empregue
nas
licenciaturas, enquanto
na
investigao
preferido
o
termo
de
antropologia
social).
S e g und o d i c io n r io s da
espec i a l i dade ,
o
t e r mo
e t n o log i a
fo i
i n t r odu z i do
pelo
s u o
Chavannes em
1787 em
Essai
su r
] * du c a t i o n
in t e l l e c tu e l l e
avec l
projet d'une
science
nouvelle .
51
7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
5/18
Por sua vez, os alemes deram ao termo etnologia
(ethnologe
em alemo) o
mesmo sentido
geral
que os franceses e trabalharam de forma semelhante,
preferindo no entanto utilizar a expresso e tnografia
Vlkerkunde)
para
qualificar os seus ensinos universitrios.
Tantona
Gr-Bretanha
comonosEstados Unidos,otermosocial nthropology
vingou
desde
h muito para
referir
o que os
franceses designavam
com o
termoethnologe,contudo
o
termosocial nthropology pressupe
as
vertentes
sociale
cultural,
com uma
diferena entre
britnicos e americanos. Os primeiros
(tal como os franceses), referem-se essencialmente compreenso dos
fenmenos sociais,
enquantoosamericanosprivilegiamavertente
cultural
desses mesmos fenmenos. A diferena de perspectiva deriva de variadas razes
histricas nacionais. Os britnicos
foramumapotncia
colonial (como foram
outrospases com preocupaes coloniais mais ou menos idnticas, segundo
os
casos: Frana, Holanda, Portugal) o que
os'conduziu
necessidade de
tentar
perceber os povos que colonizavam,
particularmente
no sentido de
harmonizar, na
medida
do
possvel,
a
prtica
do
direito privado local
com o
direito
pblico colonial. Inversamente, os americanos no tendo sido uma
potncia colonial, encerram no entanto, no seu seio, numerosas minorias
culturais que esto na base da formao nacional dos Estados Unidos. Por
outras palavras, o que
transparece
ern
primeiralinha,
na
orientao
cientifica
americanadainvestigaode siprpria, nosero tantoasquestes sociais
qu eo pas encerra, problemticas ou no, como em qualquer outra sociedade,
mas
essencialmente
a complexidade das descontinuidades
culturaisinternas
e
assuas relaes com o
fundo
cultural comum americano.
Mas quer se trate de antropologia social ou cultural, os anglo-saxes
introduziramuma clara distino entre etnologia e antropologia. Por exemplo,
para
os
britnicos
a
etnologia estuda
os
povos
ou
grupos tnicos
no
sentido
da
comparao e da classificao cultural. Inversamente, para
eles
a antropologia
social
consiste,
desde longa
data,
no estudo das prticas sociais, como a famlia,
sistema de parentesco, a organizao poltica, o direito e a legislao, a
religio e ainda o estudo das relaes mantidas entre estas instituies.
Do
ponto
de vista anglo-saxo, a etnologiaestariaprincipalmente preocupada
comclassificaes,no dos tipos sociais mas das questes de
d ifuso
e de
origem dos fenmenos culturais. Ou seja, com preocupaes de carcter
histrico.Rad cliffe-Brown
[1958]
refere como sendo questes tipicamente
etnolgicas, aquelas
que se interrogam, por
exemplo, sobre como
e
quando
os
Paleo-ndios entraram
na
Amrica
e
como desenvolveram
as
diferenas
culturaise
lingusticas
queapresentavamnaalturadachegadadoseuropeus.
Inversamente, a
antropologia
social
coloca-se questes
do
gnero: qual
a
natureza do direito ou dareligio?Para o referido autor (tal como para outros
antroplogos
sociais), as questes histricas no tinham sido bem colocadas
tf
f
r
f
t
]
52
7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
6/18
pela etnologia, porque partiam
de
postulados pouco apropriados
e no
demonstrveis, como as questes colocadas sobre as origens e o
desenvolvimento dassociedadeshumanas, o que o levou a afastar-se da histria
e a
afirmar
que
esta
no
diziarespeito
antropologiasocial.
Naturalmente,
Radcliffe-Browneoutros autoresdemesma opiniononegavamaexistncia
e
importncia
das
questes histricas
no
seio
das
sociedades
sem
escrita.
Simplesmente, h'mitavam-seacolocaroassunto entre parntesese apensar
serindispensvel dividir o trabalho entre os etnlogos, enquanto historiadores
dasetnias e das
civilizaes,
e os antroplogos preocupados pelo estudo no
temporal
dos
fenmenos sociais.
Por
outras
palavras,
aqueles autores optavam
-pr s eprar os diferentes domnios e considerar ser necessrio formar
especialistasdiferenciados,por no ser possvel fazer vrias coisas ao mesmo
tempo.
Talatitude deu de certo rnodo resultados interessantes, na medida em que
permitiu
um
maior
rigor do
mtodo
e umaprofundamentodas
questes tratadas,
aomesmo tempo
que
facilitava
a
introduo
do
ponto
de
vista especfico
da
estudo da sociedade humana. Efectivamente, como resultado,
'devemos
antropologia social a introduo das importantes noes de funo,
de
sistemaderelaessociaisassim comoanoode
estrutura
social.Porm,
necessrio ser dizer que esta atitude repousa sobre uma separao
artificialmente marcada, ou seja forada, como j referimos atrs,entre o
passado
e o
presente
das
sociedades, entre
a suareal
dinmica
e a
aparncia
esttica.Na realidade, todas as sociedades humanas sempre se modificaram e
modificama um ritmo mais ou menos imperceptvel ou mais ou menos visvel.
-Sendo assim, no se pode responder questo colocada mais acima qual a
naturezado direito? ou ainda qual a natureza de determinado uso social
"3o parentesco?
se no
tivermos
em
conta
as
modificaes
e
rupturas
J7 7intfoduzdaspelo tempo histrico.
Em
suma,a separao entre passado epresente sobretudo de carcter
metodolgico,na medida em que necessrio
parar
artificialmente o tempo
"P.^3-poder realizar o instantneo de uma determinada sociedade. Uma
espcie
de
fotografia
a dar conta de um momento preciso situado no presente que
ser
mais
ou
menos fugaz.
E;graas a estes instantneos que a antropologia, comparando diferentes
monografias locais, pode proceder comparao decontemporaneidades
P.^pulares
e tentar tirar concluses de ordem geral. Desde sempre, a
antropologiateve como por objectivo transcender os particularismos e reflectir
sobrea essncia humana no seu todo. De
facto,
a partir dos particularismos
denciadospelos estudos etnolgicos, aantropologia procura acederao
rancipnarnento
sociale cultural, tentando evidenciar categorias analticas
_
Un
.
1
^
ersa
^
s ca
P
a
z
e
s_de
explicar simultaneamente
os
particularismos
e a
lversi
dadedassociedades humanas,
assim como a unidade do gnero humano.
53
7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
7/18
Independentementeda diferena entre vocbulos p ara designar a disciplina, r
cobrindo grosso modo
urna mesma
realidade, uns e
outros
- americanos,
britnicos,
franceses,
portugueses,
etc.
- no tm o sentimento depertencer a
disciplinas diferentes.
D e
onde resulta ento esta disparidade
de
designaes
*
para
uma
mesma cincia? Resulta, provavelmente,
do facto
desta cincia
se r ;
uma
disciplina relativamente rece nte,
de se ter
desenvolvido lentamente,
com
L
diferenas profundas
segundo
as pocas e os pases onde
estas
designaes se
foram eanraizando no
seio
das
suas escolas nacionais.
Diga-se
a inda
que a f
antropologia
possui
um
vocabu lrio especfico
muito
limitado
e
deve
por
esta
t
razo
recorrer
ao vocabulrio comum cuja impreciso induz incerteza
f
terminolgica.
Por exemplo na linguagem comum as palavras
sociedade,
f
cultura,
estrutura,
funo,
etc. s o entendidas por cada um de ns segundo *
sentidos
diferentes. Ora, so estes mesmos vocbu los comu ns que pertencem 7
igualmenteaovocab ulrio cientfico
antropolgico,
com as imprecises que
tal implica. *
v
Afirmar que a
etnologia
ou a
antropologia corresponde
ao
estudo
das 1
prop riedades geraisda v ida social h um ana implica dizer, implicitamente, que
\
se
trata
de um camp o de investigao vastssimo cobrindo vrias disciplinas
do
saber: por exemplo, se estudarmos as propriedades da vida
soei
ai e as suas f
relaes com o meio geogrfico inclumos no seu campo a geografia human a; J?
se
estiver
em
causa
o
estudo
dalinguagem,
englobamos
o
domnio
da lingustica;
l
se for consid erado o devir de uma sociedade de histria
social
que se trata; r
se do
estudo
das
representaes sociais
se
tratar estaremos
em
presena
da J
psicolo gia social. ^T
Estes diferentes aspectos correspond em
aos
vrios nveis
a que
Mauss
s e
refere
ao
falar de
totalidade social
como
veremos
no V Captulo. Ora,
precisamente .i.
esta totalidade
que
evidenciada
na
prtica an glo-saxnica
da
antropologia,
Em
Frana,
o
termo
ethnologie tem
vindo
a sofrer um a
n ova redefinio
V
tendncia
actual
consiste
ern atribuir
e tnologia
uma
etapa
de
estudo
.
antecedendo
a
da an tropologia social propriamente
dita.
A esta etapa
etnolgica,
esto reservados os estudos locais monogrficos ou temticos sobre um
determinada sociedade
ou
grupo m ais restrito
e no
pretende
a
universalidade
ou
em itir leis gerais com o a an tropologia social e cu ltural. Segundo esta distino
(que
partilho desde sempre),
a
passagem
do
estudo
dos
p articularismos
- \s
do
54
7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
8/18
3.1-1 Antropologia social ou e cultural?
interrogao sobre as diferenas de designao da disciplina e consequente
definio
do seu objecto segundo ospases,leva-nosimediatamente a
outra,
onduz-nosquestodesaberseaceite adesignao deantropologia esta
deveser social ou cultural ou contemplar necessariamente ambas as dimenses.
Na prtica,a distinoentreantropologia social eantropologiaculturalderiva
dadiferena entreosconceitosdesociedade eculturae de secolocaranfase
numaou noutra destas realidades. No se trata de uma oposio fundamental
e menos ainda de duas cincias diferentes mas somente de pontos de vista
diferentes,de tradies e preferncias ideolgicas. Os antroplogos sociais
encaram
o estudo da sociedade sob a forma de um conjunto social significativo
que lhes serve deponto departida para a sua abordagem das sociedades
humanas.Osantroplogos culturais consideramemprimeiro lugarastcnicas
materiais
ou
intelectuais,
tal
como
o
modo
de
vida,
as
crenas,
as
atitudes para
cie
de.super
tcnicaque aactividade socialepoltica.
TSTuhYclquio
em Chicago no fim dos anos quarenta, ClaudeLvi-Strauss
intervindona discusso sobre o assunto resumiu o problema de
forma
sugestiva:
comparou
aquesto
social e cultural a uma folha de papel qumico. Ou
seja,
o
' vrs
dfolhaserveparaescreverenquantooreverso
destina-se
areproduzir
o
que foi escrito no verso. Os dois lados so inseparveis, se quisermos
conservar
acondiodepapel qumico. Segundo Lvi-Strauss, aconteceo
mesmocom osociale ocultural..Sodimensesinseparveis da actividade
fhumana .
Contudo,
na
prtica, existem abordagens
que
privilegiammais
a
Uimensosocialeoutrasacultural.Porrazes histricas, esta divergnciade
atitudeperante a natureza dos fenmenos de sociedade teve como consequncia
^iTormdiferentededesignaradisciplinapelos britnicoseamericanos, como
vimosanteriormente. Para os primeiros, trata-seantes de tudo de antropologia
~social(por influnciadeDurkheim,como veremos) eparaossegundos de
antropologiacultural. Tal,nosignificaque noseiodecadaumdestastradies
-nacionais
no
ha ja
investigadores
a
debruar-se sobre
uma
vertente oposta
tendnciageral.
Na
realidade,
a
prtica antropolgicaapresenta-se
de
maneira
muito diversificadae a sua
compartimentaao
pouco rgida, comosepode
r
stat ir
designadamenteemPortugal.
Porm,aoprivilegiar-seolado socialnoindica, obviamente,quedesaparea
'-a-dimenso
cultural dofenmeno.Assim
como
nodesaparecea
dimenso
..socialao privilegiarem-se os aspectosculturais,dado ser precisamente o social
::;?. e
_
st
na
base
da
manifestao cultural. Tanto
assim
que ficou
alis
Acordado,durante
o
referido colquio,
que a
disciplina deveria designar-se
'#reerencialmente
por
antropologia social
e
cultural,
a
f im
de
contemplar.
55
7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
9/18
- No
a q u i
em pr egu e
n o
sentido que Tylor lhe
d a v a
ao
pre tender
que o pr imei -
ro
estado
da evo luo reli-
giosa
da h u m a n i d a d e
teria
c o n s i s t i d o n a c r en a q u e
tudo
n a
natureza possui
u ma
alma.
Cr i t i cado po r
Prazer
.e
Mauss, estes
consideravam
que a religio n o
pod i a
te r
derivado histor icamente do
cul to dos espri tos. Afasta-
do este
t ipo de
in terpre ta-
o que de
facto
releva da
histria
conjecturai , ocon-
ceito , no entanto, til
para
referir
soc iedades
o ugru-
pos
be m
reas o n d e
a
reli-
gio no p r a t i c ad a - tal
como
ela
de f i n ida
pelos
dogmas
da s
principais reli-
gies
- e o n d e , i n c l u s i va -
m en t e , se a t r i b u i o ma io r
poder
na tu reza como
n o
Japo, por exemplo).
explicitamente osdiferentes aspectos dacomplexidade dosfenmenosde
sociedade.
Adimenso cultural no de facto dissocivel do social, ela um dos seus
aspectos intrnsecosemesmoomodo tangvel pelo qualseexprimeosocial.
Douumexemplo:nasrelaesdodiaa dia socialmente aconselhvel,em
certas
ocasies,
cumprimentar algum de modo mais formal. A
forma
cultural
escolhida
por
muitas sociedades
o
aperto
de
mo . Nestas,
se
tivssemos
a
ideia
de
proceder
de
outra forma como,
por
exemplo, esfregar
o
nosso nariz
nodo interlocutor (como se faz em certas culturas) a nossa atitude seria
considerada incongruente e no reconhecida corno a resposta social adequada
ao
comportamento cultural normal esperado. Deresto,se uma pessoa se negar
a apertar a mo a quem normalmente o deveria
fazer,
o seu comportamento
ser interpretado como a recusa de relacionamento com esta outra pessoa e,
por
consequncia, a manifestao daexistnciade qualquer perturbao no
relacionamento entre as pessoas em causa:
conflito
declarado ou simplesmente
no reconhecimento da relevncia social de uma das pessoas emrelao
outrao quenaturalmente representaumafronta para ela. Pode dizer-se assim
que o aperto de
mo ,
como comportamento cultural, dotado de significao
social,
porque
f unc iona
como smbolo de comportamento adequado a uma
determinada situao
social,
e como
tal
informa
sobre a
situao,
i mp r i mi n do- l hesimultaneamente existncia e continuidade.
Em
relao
aossignificantes
culturais
e
sociais
dos
comportamentos,
Evans-
Pritchard
[1951]
d um
exemplo muito interessante.
A fim de
exemplificar
a
noode
relativismocultural
funo social oautor refereadiferenade
comportamentos religiosos entre catlicos e muulmanos nos seus templos
respectivos. Assim, quando
um
catlico
vai
igreja
e
leva chapu
na
cabea,
no
entra
no
templo
sem
primeiro descobrir
a
cabea. Inversamente,
o
muulmano
ao
entrar
na
mesquita conserva
o seu
turbante,
mas em
contrapartida
descala os sapatos e procede s suas ablues (purificao pela
lavagem).
O que
naturalmente
no faz o
catlico.
Com este exemplo, possvel verificar aexistnciade dois comportamentos
culturais radicalmente opostos
cuja
expresso resulta
da
diferena entre culturas,
mas as
quais tm,
no
entanto,
do
ponto
de
vista social,
o
mesmo significado.
Ou
seja,significa a deferncia perante a crena da existncia
de
um ente superior:
Deus.
Somente a
maneira
de o fazer difere radicalmente de uma cultura para a
outra.
Resulta do que acaba de ser dito que a prpria imposio social de venerar um
Deus, reflecte em si uma atitude cultural particular. No se trata de uma
evidncia universal. De facto, podia no ser o caso e estarmos perante
sociedades animistas
2
ou seja onde no h na sua viso cosmognica do
universo a existncia de um Deus. O que a ser assim, os comportamentos
56
7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
10/18
acima referidos no poderiam ser observados. Em suma, oexemploapontado
serve para demonstrar
que o
social
se
processa
e
revela,
na
maioria
das
vezes,
atravs
das
suas manifestaes culturais.
Seria possvel multiplicar, sem
f i m ,
exemplos desta natureza e evidenciar a
dif iculdadeque revela a tentativa de dissociao entre o social e o cultural.
Ficano entanto
claro
que
possvel privilegiar
um a
destas duas dimenses
social ou cultural - da vida em sociedade. E o que ressalta das diferentes
tradies
nacionais de investigao
cujo
exemplo evidente nos dado pelas
etnologias
britnica e
francesapor
umlado e americana por
outro,
como
j
foi
rdito;--
M as
seja
qualfor avertente privilegiada, trata-se semprede^estudarassociedades
humanas ,
e a tudo quanto foi dito anteriormente poderia acrescentar a ideia de
Raymond
Firthquando define
a
antropologia como
o
estudo comparado
dos
processosda vida social, a qual pressupeimplcitae igualmente as suas formas
de expresso cultural. Nesta particularidade, reside a originalidade e a
-contribuio-daantropologia social e cultural no sculo XX. Isto,considerar
que o gnero sociedade humana compreende um grande nmero de vrias
espcies. Por outras
palavras,
tida em considerao a diversidade e
..originalidadedas sociedades (ou das culturas) humanas. As quais, uma vez
admitidas,
jno permitem pensarexistirum tipo padro absoluto de sociedade
cujo
modelo seria representadopelasociedade ocidental.
Se
assim
nofosse,tal
atitude corresponderia
a umjulgamentodecarcter
etnocntrico. Ou
seja, pensar
os
outros
(no confronto com a
alteridade)
segundoas nossas normas, os nossos valores, a partir do que se induziria no
..Q.a,diferena
como
uma
hierarquia,
na
qual
nos
colocaramos inevitavelmente
notopo, recusando
a
diferena dessa diferena.
A
def inio
deantropologia social como sendooestudodasrelaes sociais,
das
estruturas
ou dos
sistemas sociais, poderia corresponder
definio
de
sociologia.
Mas esta, ao invs da antropologia social no se interessa na sua
generalidadeseno por uma espcie, por um nico tipo de sociedade - a de
tipoindustrial-urbano.
jSer alissobretudo
na
perspectiva
do
estudo
d a
vertente social
da
antropologia
.q^etomar preferencialmente
o
rumo deste livro. Orientao
que se
deve
Sobretudo convico
terica
danecessidade de umaprtica prximada
-antropologia
social - como cincia com preocupaes idnticas as da sociologia,
apesardos
mtodos
e
experincias contextuais diferentes
-
face
aos
desafios
e
-. s.inut:aes
ue
seencontramemcursonahistria inditadahumanidadee
designadamenteem Portusal.
57
7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
11/18
3.2 Como definiraantropologia
social
Ao longo do captulo foram
dados
gradualmente, os principais elementos de
definio da antropologia social no seu sentido mais geral, permitindo agora
avanar para
urna
perspectiva mais completa
e
especfica
da
disciplina. Ficou
tambm claro que desde o seuincioesta cincia se interessou pelo estudo das
sociedades primitivas contemporneas, caracterizadas, como tal,
essencialmente pelas suas pequenas dimenses,
e na
maioria
dos
casos pela
ausncia de
Estado
eescrita, masigualmente sem maquinismo e de
desenvolvimentotecnolgicorudimentar.Oestudodas caractersticas deste
tipo de sociedade,
sernescrita,
implicava um mtodo adequado, ao mesmo
tempo
que as
suas dimenses
e
tcnicas rudimentares conduziam
igualmente
aoutra exigncia metodolgica.Comefeito pelassuaspequenas dimenses,
estas sociedades facilitavam
-
corno
em
situao
de
laboratrio
poder-se-ia
dizer
- a
abordagem
da sua
totalidade
funcionalou
lgica social.
'
De
facto,
no
havendo
escrita,o
nicomtodoconcebvel
que se
impunha
ao
estudo
de um
determinado contexto social vivido
no
momento,
era a
observaodirectano
terreno.,
(em rigor, omtodo referido no seope
totalmente
falta
de
escrita
mas
designadamente
ao
inqurito
po r
entrevista).
Por
outro
lado as
caractersticas particulares
do
objecto
de
estudo suscitavam
um
certo nmero
de
problemticas
e
interrogaes tericasespecficas.Estes
trs aspectos
-objecto,
mtodo
e um
determinadotipo
de
questionamento
-
davam
antropologia
uma
certa originalidade
no
seio
das
cincias sociais
permitindo
que esta se constitusse
ern
disciplina autnoma.
Porm, de modo geral, o universo tradicional de investigao tem vindo a
alterar-sedevido
acelerao
d
movimento histrico
de
globalizao mundial
que
conduz
a
disciplina
a uma
ruptura
com o seu
domnio
de
investigao
inicial (oinundoexti o}e a confrontar-se crescentemente com sociedades
(como
as
sociedades
em
vias
de
desenvolvimento)cujaspreocupaes
so
tambm cada vez mais semelhantes sociedade do antroplogo. A inevitvel
diversificao
e
reorientaoactuais
do
olhar antropolgico demonstra
que a
originalidade do seu saber no est determinado pela natureza dos objectos
geogrficos de
anlise:
oexclusivouniverso extico Pelo
contrrio,
o
Minho,
oYorkshireou oTexas, por
exemplo,
so toetnolgicos como qualquer
sociedade africana,
sul-americana,
etc. Sendo assim,
a
antropologia
no
susceptvel
de serdefinidapelo tipo de sociedades estudadas.
Poroutrolado,se tambm a
disciplina
no podedefinir-se pelos mtodos
empregues
na
anlise
(os
procedimentos utilizados
na
recolha
do
material
cientfico
noservem para
caracterizar
umacincia),estes so no entanto
importantes para avaliar
o
grau
de rigor dos
procedimentos
de
validao
ou
invalidao postosemprticapor umacincia.
E,
nesta medida,omtodo
antropolgico- de quefalarei nocaptulo seguinte -apresenta-se cornoo
C M S : J .
elerr
i -dive
ob;
5S
7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
12/18
elemento
fundamental
permanente que confe re disc iplina rigor e um a certa
unidade
face heterogeneidade terica, alterao da s condies do objecto
de anlise e s difere na s de construo d a prtica antropolgica segund o as
diversas tradies cientficas nacionais.
Com efeito, semdefinir a antropologia, a permanncia do mtodo representa
no
entanto a conv ergncia consensual face heterogeneidade das problemticas
e interrogaes tericas, ao mesmo tempo que afirma a sua especificidad e no
seio
dascinciassociais
Esta caracterstica
da
antropologia
de
facto mu ito impor tante
e C.
Lvi-
Strauss ao
definir
a
d isciplina corno
''urnacincia social do
observado [1958:
396], releva, indirectamente, o aspecto do m todo ao su stentar a ideia implcita
de
que a sua
abordagem
se faz
pela observao,
do
ponto
de
vista
do
observador
3.2.1 s
relaes
entreolocal e o
global
Apesar da heterogeneidade
cientfica
e dealgumasrupturas tericas aolongo
do d esenvolvim ento da disciplina, esteve sempre presente uma perspectiva
especfica
da antropologia sobre o real. Ou seja, existiu sempre u m projecto
contnuo
da disciplina para pensar a relao entre a diversidade e a un idade d a
humanidade .
Convm rclativizar no entanto este
princpio
terico definid or.
De
facto, embora
no seu
projecto terico sem pre
se
tenha afirmado
o
propsito
de
transcender
as
particularidades
e pensar a humanidade no seu conjunto,
esta un idade final raramente tem passado de um ponto de vista terico. Na
prtica, os
estudos pouc o ultrapassaram
os
particularismos, procederam
comparao
ou
foram capazes
de
enu nciar aspectos u niversais
e
leis gerais.
Tal no significa, no entanto, que a antropologia possa dispensar o estudo
etnolgico
dos
particularism os locais. Pelo contrrio,
precisamente
por
eles
qu e
necessariamente
se inicia a investigao etnolgica , antes de proced er
comparao
e pensar a universalid ade antropolgica. Ou seja, para f inalmente
poder
reflectir
sobre o funcionamento social e cultu ral geral e evidenciar
categorias
analticas universais, capazes de explicar simultaneamente a
diversidade d as sociedades humanas e a u n i d a d e do gnero humano. este
projecto qu e co r r esp o n d e f in a l id a d e fu n d a men ta l e p er ma n en te d a
antropologia social
e
cultural.
o tundo. do ponto de vista cultural, necessrio evidenciai e relacionar
saberese
discursos culturais particulares
com
saber global
e
d iscurso geral
sobrea humanidade. Porm, para tanto, no desejvel encerrar a discipli
m a
59
7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
13/18
na classificao de costumes estranhos ou culturas em vias de desaparecimento
em
sociedades distantes
ou prximas,
embora esta actividade correspond a
a
um anecessidade evidentederegistoe
arquivo,
nalgicade umaetnografiae
etnologia ditas
de
urgncia.
Na vertente mais marcadam ente social da antropologia, para atingk os princpios
gerais enunciados, esta estabelece, na sua etapa etnolgica, o estudo de
mecanismos
sociais precisos.
Tal, d and o
maiorimportncia
- na
perspectiva
da autonomia do
social,
segundo os autores Durkheim eM auss - a um quadro
terico independente da
explic o
histrica(naperspectivaevolucionista);
explicaogeogrfica(naperspectivadifasionista); explicaobiolgica
(na
perspectiva
funcionalista
de Ma linowski); da
explic o
psicolgica(do
ponto de
vista
do
estudo
dos
comportamentos).
Por
outras
palavras, a
antropolog ia na sua vertente social apresenta-se como u ma cincia autno ma
qu e
estudaas
relaes
das
relaes
sociais,apartirdecontextosetnolgicos
locais metodologicamente adeq uado s, tal como foi referido anteriormente.
Para melhor com preender o q ue subten de este q uad ro terico, dou o seguinte
exemplo
concreto
de umainvestigao
realizada
h uns anosnosEstados
Unidos
sob o
tema:
a
universidade como inst i tuio
de
fo rmao
de
competncias
de
alto
nvel,a
partir
da
observao
das
relaes sociais parciais
entre
professorese estudantes.Nesta
hiptese
detrabalho,o
investigador
no
se interessou unicam ente p elas relaes existentes entre oprofessore um aluno,
mas antes entre o profess or e todos os alunos, ou melhor ainda, interessou-se
menos
pelas relaes en tre
o
professor
e o
conjunto
dos
alunos
que
pelas
relaes e ntr e profess ores
e
a lunos
da
inst i tuio universi tria.
Este
procedimento
diminui
os acontecimentos particulares ealeatrios, fazendo
emergir o modelo estatstico mdio do substrato sociolgico contido neste
tipo de relaes . Masainvestigao no acaba aqui. Nafase seguinte,tratou-
se de
conhecer
asimplicaesdo
gnero
das
relaes universitrias
com
outras
instituies, em contacto umas com as outras, directa e, ou, indirectamente. Se
fosse
repetida
no
caso portu gus , esta investigao p oderia, num a
fase
posterior,
aps evidenciar os
mecanismos
que
presidem
s
relaes
nas instituies
universi trias do pas, proceder comparao com outras inst i tuies
universitrias
estrangeiras e dar a compreender o que tm de comu m ediferente.
As
ditas
relaes
no soaqui
consideradas
no sentido dos comportamentos
relacionais
interpessoais
entreos
diferentes protagonistas
-
embora
seja
atravs
deles
que se
procede
observao
- mas sim
enqua nto contedo
de um
quadro
derelaes
institudas de
funes
sociais.A finalidade da investigaoseria
compreender osmecanismos dedependnciaeinterdependnciafuncional da
referidainstituio relativamente sociedade, atravs (e no como objectivo)
doscomportamentos
relacionais entreos
diferentes protagonistas
em
causa.
Tratar-se-ia
de
evidenciar (como forma
de
explicao sociolgica)
o
fu n
dis:
vei
.-,-,-rea
sab
sj
un:
'
Sg
a?
'de:
c
d
O
.de
T I
g
tr
c
a
c
i
t
60
7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
14/18
funcionamento
da
referida instituio assimcomo
a sua
funo
(ou
grau
de
disfuno)
nasociedade global.
Assim, a mesma investigao aplicada ao contexto portugus, permitiria
verificar -
entre outras questes
se a
universidade portuguesa produz
realmente conhecimento e o nvel desse conhecimento. Emconcreto, permitiria
saberse produz os efeitos esperadospela sociedade e que tipo de efeitos. Ou
seja,
se responde sfunes esperadas pela sociedade. E quais funes? Se
torna
a sociedade mais culta, competente e competitiva.
Ou
;ao contrrio, se a
universidade
est
reduzidaa
prestar emprego
aos
seus membros permanentes
-e--a
ser-umaespcie
de
almofada contra
o
desemprego,
ao
manter durante
algum tempoosalunos
fora
domercadode trabalho, graasa umaconsequente
taxa
de insucesso (contribuindo assim a reduzir os
ndices
estatsticos do
desemprego).
Para, final e comparativamente, apurar
ern
que medida a situao
comparvel
das
suas congneres estrangeiras.
E,
aindapara,
no
quadro
comparativo
das relaes bilaterais entre sociedades, avaliar as perspectivas
de
paridadecientfica
e
competitividade entre sociedades diferentes.
3.2.2 O fim dos
selv gens
Corno
deixmos entender anteriormente,
a
antropologia
depara-se
com um
desafioque na
origem
no se
punha
de
modo
to
evidente
aos
investigadores.
Trata-se
de um fenmenoindito na histria da humanidade: o processo
generalizado
de
transformao
das
prprias sociedades ditas primitivas
e
Jxadicionais.
No
melhor
dos.casos,
estas sociedades encontram-se actualmente
confrontadas com um processo de transformao acelerado, no sentido da
adopodo
modelo
de
desenvolvimento econmico
e
tecnolgico ocidental.
No pior dos casos, no chega a haver a
mnima
transformao positiva
(mudanano
sentido desejado pelos implicados),
mas
mera degradao
das
condies
de
vida tradicionais
em
resultado
do
contacto descontrolado
e
inexorvel
com o
mundo ocidental. Nestas situaes,
a
vida ancestral
^
s
. 5
0na
~
se
resulta em condies de degradao social e cultural
irreversveis,
sem conseguir qualquer aproximao ao modo de
' /desenvolvimentodas
sociedades ditas modernas.
de
transformao
-
desigual segundo
os
casos
e
tentativa
de
aproximao da generalidade das sociedades ao modelo
industrial-urbano
e
tecnolgico da
sociedade
do
antroplogo, reduz consideravelmente
o
campo
i
ac
tra^cional
dos
antroplogos, obrigando-os
a
repensar
a
disciplina.
ntretanto,apesar destas alteraes, parece serpertinente colocar algumas
interrogaes
a
este propsito. Ser
que o
fenmeno
de
globalizao econmica
61
7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
15/18
conduzir
inevitavelmenteuniformizao
cultural
e
social?
Se tal for o
caso
seresta
total?
Ou limitar-se- a
alguns
aspectos das sociedades.
Sabemos
que as sociedades no so
estticas
nem esperam umas pelas
out ras
relativamente mudana, manifestam sobretudo aptides decriatividade na
elaborao
constante de
diferenas.
3.2.3 incluso do universo ocidental no campo antropolgico
O movimento de imposio de um modelo de desenvolvimento universal (com
a
introduo
derelaes comerciais,
monetrias
e
capitalistas
nas generalidade
das
sociedades),
conduziu a
antropologia
aintegraramodernidade no seu
campo
de
anlise habitual;
ou
seja,
a
considerar igualmente
para.
alr
sociedades primitivas - o
estudo
doespaoda
nossa vida quotidiana ocidental,
as nossas condutas sociais correntes. Emergiu assim, uma antropologia
adicional que se
interessa
pela
anlise
das instituies
administrativas,
das
relaesde
trabalho,
das
grandes concentraes urbanas
e dassituaesde
violnciaque da resultam, das novas formas de religiosidade, das inditas
formasdeagrupamento em
associaes
detodoo
gnero.
Porm,
a
disciplina continua
a
interessar-se pelas sociedades
primitivas ou
tradicionais -quenaturalmentenodesaparecerambruscamenteemborase
encontrem sob pressoexterna,permanente e indita na histria da
humanidad_e^
De
facto,
no se
trata
de
abandonar terrenos
em
substituio
de
outros,
tal no
corresponderia vocao dadisciplina
como
cincia
geral
dasociedade.Pelo
contrrio, mais
que
nunca
o
alargamento
do
campo
de
interveno disciplinar
corresponde
necessidade
permanente
depensar
ofuncionamentodo
social
e
do cultural no seu todo humano, para poder aceder finalidade principal da
disciplina:evidenciarcategorias analticas
universais
capazes de explicar a
unidade do gnero humano.
Com efeito, com a incluso gradual e diferenciada das sociedades de tipo
ocidentalno campoantropolgico,adisciplinaatingiu uma maturidade cientfica
globalizante que lhe permite, pela primeira vez desde as origens, pretender
proceder
prticadosseus fundamentos tericos corno cincia social universal.
Noentanto, este alargamento gradualdocampoda
disciplina
no
acontece
semdificuldades.Por razoes diversas, (designadamenteetnocntricas)existem
ainda
muitas
sociedadesocidentais
que no sevem como objectodeestudo
antropolgico.
Se
tomarmos ern considerao
as
sociedades europeias,
constatamos que a
situao
muito desigual no domnio da investigao
antropolgica; a par de pases com. centros de grandeactividade cientfica,
existemoutros em que as
escolas
de antropologia ou so inexistentes ou tm
.1
v
1
i
.
6
7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
16/18
uma
actividade
e
importncia reduzidas
3
. Acresce ainda
que
alguns destes
pases, apesardepossurem ncleosdeestudo etnolgico, nunc a
tiveram,
pelo
m e n o s de f o r m a
significativa,
uma
experincia extica
Porm,
independentemente
de a
terem conhecido
ou
no,
tm
algum a dificuldade
em
inserir-se plenamente
no
campo antropolgico enquanto objecto
de
estudo
cientfico. Quando muito vem-se como fundamento legtimo
de
estudo
folclrico
e
mus
e
o
gr
afieo, namedidaem querealaeexaltaa especificidade
da s
suas culturas nacionais
e
ajuda
a
definir
a
identidade,
mas com
muitas
reticncias
enqu anto objecto de estudoantropolgico
4
.
-Ora,depreende-sedetudo quantofo iditoataqui,que oprojecto antropolgico
nopode corresponderaoexclusivoconhecimentodosoutrosmasigualmente
aoconhecimento de si e
para
o
qual contribui pela mesm a ocasio
o dos
outros.Assim,
a
antropologia
necessariamente
uma
cincia comparativa,
rilfmedida em que se impe ao investigador a tarefa de elaborar um a teoria
geral
da vida em
sociedade.
Para atingir este objectivo, segundoC.
Lvi-
Strauss,o antrop logo esforar-se-, volun tria e
conscientemente
tambm
(semque sejacertoque algumavez o consiga) formu lar um sistema
aceitvel,
tanto
para o mais longnquo indgena como para os seus concidados ou
contemporneos
[1958:396-397].
. .Np entanto, s. com o fim. dos
colonialismos
a antropologia refluiu para a
Europa
incluindo-a
com as reticncias que so conhecida s - na sua rea de
conhecimento.Todavia, e sta inclusono seten do feitodeforma homognea,
a sua
interveno incidiu muito particularmente
no Sul
europeu, perman ecendo
oNorte, implcitaepraticamente,foradocampodaantropologia.E nospases
do Sul da Europa a investigao recaiu, inicialmente sobretudo, sobre as
..^sociedadescamponesas,
passando durante algum tempo
ao
lado
dosmeios
T;..urbanos.
Esta viso, result a
da
ideia
de que a
distncia cultural obtida pela distncia
geogrfica
absolutame nte indispensvel
do
ponto
de
vista m etodolgico
e
e
pisternolgico.Juntamente com algumetnocentrismo,leva ainda a conside rar
.implicitamente
que em algunspases do Sul as suas sociedades camponesas
estariamma is pertodascondies etnolgic as anteriormente
conhecidas,
no
universo '
extra europeu.
De
certo
modo,
a lgumas
das
condies destas
...
.-sociedades
tm
algumas sem elhanas
com
esseuniverso: essencialmente
uma
rortetradio oral, uma relativa autonom ia em relao sociedade nacionale,
,
1
.-.
n
.
a
l
nia
J
a
ds
casos,excludas doconhecimento histrico, reservado aos
acontecimentosde
Estado
e
ou tras ocorrncias
sociais
influentes.
:
^
I2er
-separaconcluirque a cincia antropolgica
tem
sido uma cincia
- e
pratica
desigual desde a origem.
Desigual,
na troca de conhecimentos entre
? -?
ocidente
e o universo no ocidental; desigual, pode acrescentar-se, no
...-
equilbrio
quanto
ao
sexo
dos
investigadores
com - at h
pouco tempo
-
Jean
Poirier, na sua
Eshnologe Generais
[ 1968] , refere nove
escolas
europeias de
etnologia
de
importncia
desigual:
brit-
nica , americana,
francesa,
a lem, belga, portuguesa,
italiana,
russa.
Referente a
outros continentes, o autor
me nc i ona
t amb m pases
como o Japo, a Amrica do
Sul.
4
Para
um a avaliao suple-
mentar da situao recente
da ant ropologia ver
A
niltropoogie: iat d s
li ux
L ' H o m m e ,
R e v u e
franaise d 'anthropologie ,
Paris: N a
vari
n /Livre
de
Poche,1986.
7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
17/18
umarealmaioriade antroplogos desexo masculino;mais
recentemente
F
desigualnacaptaodeconhecimentosdo Sul porinvestigadoresdoNorteda
Europa. De facto, os investigadores do Sul tm-se
confinado
ao olhar de si . p
prprios,partilhandoo seu espaocom outrosse m ousar alargar o seu campo
'
de
interveno
a
outras regies
que no as
suas
- uma
prtica alienada
da
antropologia europesta
que
impede
por
natureza
a
comparao. -
L
i
3.2.4 inciadotradicionale d
modernid de
i
. f
Segundo
a
perspectiva
referida, Portugal porexemplo
seria hoje
ainda-para L . . .
alguns
observadores
como cheguei
a
ouvir
- u m
conservatrio desses mundos
T
desaparecidosou em
vias
de desaparecimento.
Ora
no cientificamente ^-
correcto considerar Portugal,nem outros pases em
condies
semelhantes, t
comoumconservatriode umpassadoimutvele por essarazo nopode f
consti tuir
refugio para
etnlogos
passadistas
que
pensam
ser
apangio
da j
etnologiaoestudo exclusivodesociedades arcaicas. Como todasassociedades j
europeias,Portugalhmuitoque seencontraemmutaoeonde desde algum
tempo,a dicotomia
rural/urban o
seesbatefortemente.
O s
mundos
rural
eurbano f
constituem cadavezmais, tambmnonosso pas,um todosociologicamente i
difcil
derecortar
ern cujas
caractersticasosseus habitantessereconhecem. J
Mais
rapidamente
do que h uma
vintena
de
anos
atrs
Portugal acelera
a sua . l
plena integrao
no
modelo
de
sociedade
de
massa ocidental
(de
modo desigual -j
-
segundo aszonasdopas certo mas o seucasono onico e nesta l
perspectiva dinmica
que
deve
ser
includo
no
campo
da
antropologia,
tal f
como
deveser
includa toda
aEuropa. f
Com
efeito,
na
medida
em que
queremos atender
aos
objectivos gerais
da
disciplina, enunciados mais
atrs no
possvelreservar zonas geogrficas
especiaisao estudo antropolgicoeexcluirdo seucampodeestudo outras
tantas sob o pretexto vo, de que asprimeiras seriamoconservatriode
particularismos
tradicionais, desaparecidos
nas
segundas.
ejam quais foremasvariantes sociaisdesociedade asociedade industrial
moderna, cuja origem europeiamas que seestende actualmentepor uma g
grande partedoplaneta, repousa onde querquesejaeniestruturas semelhantes |
edesenvolve,erntodoolado, maisoumenosomesmo tipoderelaes.Em
contrapartida as diferenasentre porexemplo associedadestropicais-da
Amrica
do Sul e o
Japo moderno
so
diferenas mais
p rofundas , so
diferenas de
espcie.
64
7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3
18/18
r
saber mais:
-EVANS-PRITCHARD Edward Evan
:
1999
Antropologia Social Lisboa: Edies 70.
LVI-STRAUSS
Claude
1985 Antropologia Estrutural Rio de Janeiro: Biblioteca Tempo
Uni-
versitrio.
POIRIER
JEAN
Ed.),
1968 Ethnologie
Gnmle
Paris:
Editions
Gallimard Encyclopdie de
Ia
Pleyade.
65
Recommended