UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3

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    3. Oprojecto daantropologia social e cultviral

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    SUMARIO

    3

    l EtnologiaouAntropologia?

    3 1 1 Antropologia social ou e cultural?

    3 2 Comodefiniraantropologia social

    v l As

    relaes

    entre o

    local

    e o

    global

    3 fim dos

    selvagens

    3 2 3A

    incluso

    do

    universo ocidental

    no

    campo

    antropolgico

    3

    Cincia

    do

    tradicional

    e d

    modernidade

    49

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    Objectivos de Aprendizagem

    Aps

    a

    leitura

    do

    l

    Captulo

    - O

    projecto

    da

    antropologia social

    e

    cultural,oleitordever ser capaz de:

    Entender

    as

    diferentes

    utilizaes

    nacionais

    dos

    termos

    deetn

    ologia

    e

    antropologia

    Distinguir as etapas etnogrfica, etnolgica e

    antropolgica

    Perceber

    a

    articulao entre

    as

    diferentes etapas

    da

    investigao

    antropolgica

    Conhecer

    o

    objecto

    e

    prtica

    da

    antropologia social

    Conhecer

    o

    objecto

    e

    prtica

    da

    antropologiacultural"

    Perceber

    o

    objectivo final

    da

    antropologia social

    e

    cultural

    ; 3 .

    . . - A

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    5

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    3.1 Etnologia ou antropologia?

    A hesitao que por vezes ainda se coloca relativamente designao da

    disciplina, etnologia ou antropologia, deriva da sua prpria histria e das

    tradiescientficas dos pases onde ela teve o seu maior desenvolvimento,

    c o m o

    a Gra-Bretanha, os Estados-Unidos e; mais tardiamente, a Frana.

    Embora

    num

    registo mais secundrio

    m as

    igualmente

    importante,no

    podemos

    -esquecer,

    contudo,

    pases como

    aAlemanha,

    Blgica, Holanda, Portugal,

    cujas

    escolastiveramumpapel maisoumenos relevantenainvestigao, segundo

    -os-casos, .independentemente

    da designao da disciplina e segundo

    orientaescientficas prprias.

    termoetnologia,

    cuja

    etimologia significa

    o

    estudo

    das

    etnias (etno

    =etnia,

    -logia = es tudo)1 , fo i

    empregue

    em

    pases

    cujas

    preocupaes estavam

    essencialmente

    voltadas para

    o

    estudo

    das

    etnias,

    no

    sentido

    das

    diferenas

    culturaisentre povos. No incio do sculo XIX, era sinnimo de Cinciada

    -Classificao das Raas (ramo da antiga antropologia fsica) e designava o

    conjuntoda s

    cincias sociais

    que

    estudam

    as

    sociedades

    tidas

    como primitivas

    e o

    homem

    fssil. .

    'No susentido restrito, durante muito tempo, a etnologia incluiu basicamente

    os

    estudos sintticos e concluses tericas elaboradas

    apartir

    de

    documentos

    etnogrficos,

    orientados

    em

    particular para

    os

    problemas

    deorigens, de

    reconstituio

    dopassado,de

    contactos,

    de

    difuso.

    neste sentido

    que os

    britnicosempregam desde

    h

    muito

    o

    termo

    ethnology

    Para eles,

    o

    estudo

    destes

    problemas gerais devia depender de um domnio parte do campo da

    'antropologia

    social

    e

    cultural. Todavia, estas distines esto longe

    de ser

    clarase

    unnimes

    em

    muitos pases.

    Em

    Frana,

    otermoantropologia

    designou

    inicialmente,e

    durante algum

    tempo,oramodaantropologiafsicaunicamente. Porm, pela mesma altura,

    nosEstados Unidos, a antropologia compreendia no mnimo cinco seces:

    . a n t r o p o l o g i a

    fsica, arqueologia pr-histrica, lingustica, etnologia e

    antropologia

    social

    e

    cultural.

    EntretantoemFrana,o

    emprego

    e o

    sentido

    do

    termo

    ethnologie

    passou

    a ter

    ;um

    contedo semelhante ao de antropologia social

    anglo-saxnica.

    As

    'perspectivas

    eram sensivelmente as mesmas embora para designaes

    .diferentes.

    Am aioriadostrabalhosdeetnologia publicados neste pas, mesmo

    os elaborados trinta anos atrs, seriam considerados como

    sendo

    de

    antropologia

    socialsefossem editadosnosEstados Unidosou na Gr-Bretanha.

    :Ji>decurso

    dos

    ltimos anos,

    o

    vocbulo

    ethnologie

    teve tendnciapara

    se r

    gradualmente

    substitudo pelo

    de anthropologie sociale

    (actualmente

    o

    vocbulo

    ethnologie

    unicamente empregue

    nas

    licenciaturas, enquanto

    na

    investigao

    preferido

    o

    termo

    de

    antropologia

    social).

    S e g und o d i c io n r io s da

    espec i a l i dade ,

    o

    t e r mo

    e t n o log i a

    fo i

    i n t r odu z i do

    pelo

    s u o

    Chavannes em

    1787 em

    Essai

    su r

    ] * du c a t i o n

    in t e l l e c tu e l l e

    avec l

    projet d'une

    science

    nouvelle .

    51

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    Por sua vez, os alemes deram ao termo etnologia

    (ethnologe

    em alemo) o

    mesmo sentido

    geral

    que os franceses e trabalharam de forma semelhante,

    preferindo no entanto utilizar a expresso e tnografia

    Vlkerkunde)

    para

    qualificar os seus ensinos universitrios.

    Tantona

    Gr-Bretanha

    comonosEstados Unidos,otermosocial nthropology

    vingou

    desde

    h muito para

    referir

    o que os

    franceses designavam

    com o

    termoethnologe,contudo

    o

    termosocial nthropology pressupe

    as

    vertentes

    sociale

    cultural,

    com uma

    diferena entre

    britnicos e americanos. Os primeiros

    (tal como os franceses), referem-se essencialmente compreenso dos

    fenmenos sociais,

    enquantoosamericanosprivilegiamavertente

    cultural

    desses mesmos fenmenos. A diferena de perspectiva deriva de variadas razes

    histricas nacionais. Os britnicos

    foramumapotncia

    colonial (como foram

    outrospases com preocupaes coloniais mais ou menos idnticas, segundo

    os

    casos: Frana, Holanda, Portugal) o que

    os'conduziu

    necessidade de

    tentar

    perceber os povos que colonizavam,

    particularmente

    no sentido de

    harmonizar, na

    medida

    do

    possvel,

    a

    prtica

    do

    direito privado local

    com o

    direito

    pblico colonial. Inversamente, os americanos no tendo sido uma

    potncia colonial, encerram no entanto, no seu seio, numerosas minorias

    culturais que esto na base da formao nacional dos Estados Unidos. Por

    outras palavras, o que

    transparece

    ern

    primeiralinha,

    na

    orientao

    cientifica

    americanadainvestigaode siprpria, nosero tantoasquestes sociais

    qu eo pas encerra, problemticas ou no, como em qualquer outra sociedade,

    mas

    essencialmente

    a complexidade das descontinuidades

    culturaisinternas

    e

    assuas relaes com o

    fundo

    cultural comum americano.

    Mas quer se trate de antropologia social ou cultural, os anglo-saxes

    introduziramuma clara distino entre etnologia e antropologia. Por exemplo,

    para

    os

    britnicos

    a

    etnologia estuda

    os

    povos

    ou

    grupos tnicos

    no

    sentido

    da

    comparao e da classificao cultural. Inversamente, para

    eles

    a antropologia

    social

    consiste,

    desde longa

    data,

    no estudo das prticas sociais, como a famlia,

    sistema de parentesco, a organizao poltica, o direito e a legislao, a

    religio e ainda o estudo das relaes mantidas entre estas instituies.

    Do

    ponto

    de vista anglo-saxo, a etnologiaestariaprincipalmente preocupada

    comclassificaes,no dos tipos sociais mas das questes de

    d ifuso

    e de

    origem dos fenmenos culturais. Ou seja, com preocupaes de carcter

    histrico.Rad cliffe-Brown

    [1958]

    refere como sendo questes tipicamente

    etnolgicas, aquelas

    que se interrogam, por

    exemplo, sobre como

    e

    quando

    os

    Paleo-ndios entraram

    na

    Amrica

    e

    como desenvolveram

    as

    diferenas

    culturaise

    lingusticas

    queapresentavamnaalturadachegadadoseuropeus.

    Inversamente, a

    antropologia

    social

    coloca-se questes

    do

    gnero: qual

    a

    natureza do direito ou dareligio?Para o referido autor (tal como para outros

    antroplogos

    sociais), as questes histricas no tinham sido bem colocadas

    tf

    f

    r

    f

    t

    ]

    52

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    pela etnologia, porque partiam

    de

    postulados pouco apropriados

    e no

    demonstrveis, como as questes colocadas sobre as origens e o

    desenvolvimento dassociedadeshumanas, o que o levou a afastar-se da histria

    e a

    afirmar

    que

    esta

    no

    diziarespeito

    antropologiasocial.

    Naturalmente,

    Radcliffe-Browneoutros autoresdemesma opiniononegavamaexistncia

    e

    importncia

    das

    questes histricas

    no

    seio

    das

    sociedades

    sem

    escrita.

    Simplesmente, h'mitavam-seacolocaroassunto entre parntesese apensar

    serindispensvel dividir o trabalho entre os etnlogos, enquanto historiadores

    dasetnias e das

    civilizaes,

    e os antroplogos preocupados pelo estudo no

    temporal

    dos

    fenmenos sociais.

    Por

    outras

    palavras,

    aqueles autores optavam

    -pr s eprar os diferentes domnios e considerar ser necessrio formar

    especialistasdiferenciados,por no ser possvel fazer vrias coisas ao mesmo

    tempo.

    Talatitude deu de certo rnodo resultados interessantes, na medida em que

    permitiu

    um

    maior

    rigor do

    mtodo

    e umaprofundamentodas

    questes tratadas,

    aomesmo tempo

    que

    facilitava

    a

    introduo

    do

    ponto

    de

    vista especfico

    da

    estudo da sociedade humana. Efectivamente, como resultado,

    'devemos

    antropologia social a introduo das importantes noes de funo,

    de

    sistemaderelaessociaisassim comoanoode

    estrutura

    social.Porm,

    necessrio ser dizer que esta atitude repousa sobre uma separao

    artificialmente marcada, ou seja forada, como j referimos atrs,entre o

    passado

    e o

    presente

    das

    sociedades, entre

    a suareal

    dinmica

    e a

    aparncia

    esttica.Na realidade, todas as sociedades humanas sempre se modificaram e

    modificama um ritmo mais ou menos imperceptvel ou mais ou menos visvel.

    -Sendo assim, no se pode responder questo colocada mais acima qual a

    naturezado direito? ou ainda qual a natureza de determinado uso social

    "3o parentesco?

    se no

    tivermos

    em

    conta

    as

    modificaes

    e

    rupturas

    J7 7intfoduzdaspelo tempo histrico.

    Em

    suma,a separao entre passado epresente sobretudo de carcter

    metodolgico,na medida em que necessrio

    parar

    artificialmente o tempo

    "P.^3-poder realizar o instantneo de uma determinada sociedade. Uma

    espcie

    de

    fotografia

    a dar conta de um momento preciso situado no presente que

    ser

    mais

    ou

    menos fugaz.

    E;graas a estes instantneos que a antropologia, comparando diferentes

    monografias locais, pode proceder comparao decontemporaneidades

    P.^pulares

    e tentar tirar concluses de ordem geral. Desde sempre, a

    antropologiateve como por objectivo transcender os particularismos e reflectir

    sobrea essncia humana no seu todo. De

    facto,

    a partir dos particularismos

    denciadospelos estudos etnolgicos, aantropologia procura acederao

    rancipnarnento

    sociale cultural, tentando evidenciar categorias analticas

    _

    Un

    .

    1

    ^

    ersa

    ^

    s ca

    P

    a

    z

    e

    s_de

    explicar simultaneamente

    os

    particularismos

    e a

    lversi

    dadedassociedades humanas,

    assim como a unidade do gnero humano.

    53

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    Independentementeda diferena entre vocbulos p ara designar a disciplina, r

    cobrindo grosso modo

    urna mesma

    realidade, uns e

    outros

    - americanos,

    britnicos,

    franceses,

    portugueses,

    etc.

    - no tm o sentimento depertencer a

    disciplinas diferentes.

    D e

    onde resulta ento esta disparidade

    de

    designaes

    *

    para

    uma

    mesma cincia? Resulta, provavelmente,

    do facto

    desta cincia

    se r ;

    uma

    disciplina relativamente rece nte,

    de se ter

    desenvolvido lentamente,

    com

    L

    diferenas profundas

    segundo

    as pocas e os pases onde

    estas

    designaes se

    foram eanraizando no

    seio

    das

    suas escolas nacionais.

    Diga-se

    a inda

    que a f

    antropologia

    possui

    um

    vocabu lrio especfico

    muito

    limitado

    e

    deve

    por

    esta

    t

    razo

    recorrer

    ao vocabulrio comum cuja impreciso induz incerteza

    f

    terminolgica.

    Por exemplo na linguagem comum as palavras

    sociedade,

    f

    cultura,

    estrutura,

    funo,

    etc. s o entendidas por cada um de ns segundo *

    sentidos

    diferentes. Ora, so estes mesmos vocbu los comu ns que pertencem 7

    igualmenteaovocab ulrio cientfico

    antropolgico,

    com as imprecises que

    tal implica. *

    v

    Afirmar que a

    etnologia

    ou a

    antropologia corresponde

    ao

    estudo

    das 1

    prop riedades geraisda v ida social h um ana implica dizer, implicitamente, que

    \

    se

    trata

    de um camp o de investigao vastssimo cobrindo vrias disciplinas

    do

    saber: por exemplo, se estudarmos as propriedades da vida

    soei

    ai e as suas f

    relaes com o meio geogrfico inclumos no seu campo a geografia human a; J?

    se

    estiver

    em

    causa

    o

    estudo

    dalinguagem,

    englobamos

    o

    domnio

    da lingustica;

    l

    se for consid erado o devir de uma sociedade de histria

    social

    que se trata; r

    se do

    estudo

    das

    representaes sociais

    se

    tratar estaremos

    em

    presena

    da J

    psicolo gia social. ^T

    Estes diferentes aspectos correspond em

    aos

    vrios nveis

    a que

    Mauss

    s e

    refere

    ao

    falar de

    totalidade social

    como

    veremos

    no V Captulo. Ora,

    precisamente .i.

    esta totalidade

    que

    evidenciada

    na

    prtica an glo-saxnica

    da

    antropologia,

    Em

    Frana,

    o

    termo

    ethnologie tem

    vindo

    a sofrer um a

    n ova redefinio

    V

    tendncia

    actual

    consiste

    ern atribuir

    e tnologia

    uma

    etapa

    de

    estudo

    .

    antecedendo

    a

    da an tropologia social propriamente

    dita.

    A esta etapa

    etnolgica,

    esto reservados os estudos locais monogrficos ou temticos sobre um

    determinada sociedade

    ou

    grupo m ais restrito

    e no

    pretende

    a

    universalidade

    ou

    em itir leis gerais com o a an tropologia social e cu ltural. Segundo esta distino

    (que

    partilho desde sempre),

    a

    passagem

    do

    estudo

    dos

    p articularismos

    - \s

    do

    54

  • 7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3

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    3.1-1 Antropologia social ou e cultural?

    interrogao sobre as diferenas de designao da disciplina e consequente

    definio

    do seu objecto segundo ospases,leva-nosimediatamente a

    outra,

    onduz-nosquestodesaberseaceite adesignao deantropologia esta

    deveser social ou cultural ou contemplar necessariamente ambas as dimenses.

    Na prtica,a distinoentreantropologia social eantropologiaculturalderiva

    dadiferena entreosconceitosdesociedade eculturae de secolocaranfase

    numaou noutra destas realidades. No se trata de uma oposio fundamental

    e menos ainda de duas cincias diferentes mas somente de pontos de vista

    diferentes,de tradies e preferncias ideolgicas. Os antroplogos sociais

    encaram

    o estudo da sociedade sob a forma de um conjunto social significativo

    que lhes serve deponto departida para a sua abordagem das sociedades

    humanas.Osantroplogos culturais consideramemprimeiro lugarastcnicas

    materiais

    ou

    intelectuais,

    tal

    como

    o

    modo

    de

    vida,

    as

    crenas,

    as

    atitudes para

    cie

    de.super

    tcnicaque aactividade socialepoltica.

    TSTuhYclquio

    em Chicago no fim dos anos quarenta, ClaudeLvi-Strauss

    intervindona discusso sobre o assunto resumiu o problema de

    forma

    sugestiva:

    comparou

    aquesto

    social e cultural a uma folha de papel qumico. Ou

    seja,

    o

    ' vrs

    dfolhaserveparaescreverenquantooreverso

    destina-se

    areproduzir

    o

    que foi escrito no verso. Os dois lados so inseparveis, se quisermos

    conservar

    acondiodepapel qumico. Segundo Lvi-Strauss, aconteceo

    mesmocom osociale ocultural..Sodimensesinseparveis da actividade

    fhumana .

    Contudo,

    na

    prtica, existem abordagens

    que

    privilegiammais

    a

    Uimensosocialeoutrasacultural.Porrazes histricas, esta divergnciade

    atitudeperante a natureza dos fenmenos de sociedade teve como consequncia

    ^iTormdiferentededesignaradisciplinapelos britnicoseamericanos, como

    vimosanteriormente. Para os primeiros, trata-seantes de tudo de antropologia

    ~social(por influnciadeDurkheim,como veremos) eparaossegundos de

    antropologiacultural. Tal,nosignificaque noseiodecadaumdestastradies

    -nacionais

    no

    ha ja

    investigadores

    a

    debruar-se sobre

    uma

    vertente oposta

    tendnciageral.

    Na

    realidade,

    a

    prtica antropolgicaapresenta-se

    de

    maneira

    muito diversificadae a sua

    compartimentaao

    pouco rgida, comosepode

    r

    stat ir

    designadamenteemPortugal.

    Porm,aoprivilegiar-seolado socialnoindica, obviamente,quedesaparea

    '-a-dimenso

    cultural dofenmeno.Assim

    como

    nodesaparecea

    dimenso

    ..socialao privilegiarem-se os aspectosculturais,dado ser precisamente o social

    ::;?. e

    _

    st

    na

    base

    da

    manifestao cultural. Tanto

    assim

    que ficou

    alis

    Acordado,durante

    o

    referido colquio,

    que a

    disciplina deveria designar-se

    '#reerencialmente

    por

    antropologia social

    e

    cultural,

    a

    f im

    de

    contemplar.

    55

  • 7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3

    9/18

    - No

    a q u i

    em pr egu e

    n o

    sentido que Tylor lhe

    d a v a

    ao

    pre tender

    que o pr imei -

    ro

    estado

    da evo luo reli-

    giosa

    da h u m a n i d a d e

    teria

    c o n s i s t i d o n a c r en a q u e

    tudo

    n a

    natureza possui

    u ma

    alma.

    Cr i t i cado po r

    Prazer

    .e

    Mauss, estes

    consideravam

    que a religio n o

    pod i a

    te r

    derivado histor icamente do

    cul to dos espri tos. Afasta-

    do este

    t ipo de

    in terpre ta-

    o que de

    facto

    releva da

    histria

    conjecturai , ocon-

    ceito , no entanto, til

    para

    referir

    soc iedades

    o ugru-

    pos

    be m

    reas o n d e

    a

    reli-

    gio no p r a t i c ad a - tal

    como

    ela

    de f i n ida

    pelos

    dogmas

    da s

    principais reli-

    gies

    - e o n d e , i n c l u s i va -

    m en t e , se a t r i b u i o ma io r

    poder

    na tu reza como

    n o

    Japo, por exemplo).

    explicitamente osdiferentes aspectos dacomplexidade dosfenmenosde

    sociedade.

    Adimenso cultural no de facto dissocivel do social, ela um dos seus

    aspectos intrnsecosemesmoomodo tangvel pelo qualseexprimeosocial.

    Douumexemplo:nasrelaesdodiaa dia socialmente aconselhvel,em

    certas

    ocasies,

    cumprimentar algum de modo mais formal. A

    forma

    cultural

    escolhida

    por

    muitas sociedades

    o

    aperto

    de

    mo . Nestas,

    se

    tivssemos

    a

    ideia

    de

    proceder

    de

    outra forma como,

    por

    exemplo, esfregar

    o

    nosso nariz

    nodo interlocutor (como se faz em certas culturas) a nossa atitude seria

    considerada incongruente e no reconhecida corno a resposta social adequada

    ao

    comportamento cultural normal esperado. Deresto,se uma pessoa se negar

    a apertar a mo a quem normalmente o deveria

    fazer,

    o seu comportamento

    ser interpretado como a recusa de relacionamento com esta outra pessoa e,

    por

    consequncia, a manifestao daexistnciade qualquer perturbao no

    relacionamento entre as pessoas em causa:

    conflito

    declarado ou simplesmente

    no reconhecimento da relevncia social de uma das pessoas emrelao

    outrao quenaturalmente representaumafronta para ela. Pode dizer-se assim

    que o aperto de

    mo ,

    como comportamento cultural, dotado de significao

    social,

    porque

    f unc iona

    como smbolo de comportamento adequado a uma

    determinada situao

    social,

    e como

    tal

    informa

    sobre a

    situao,

    i mp r i mi n do- l hesimultaneamente existncia e continuidade.

    Em

    relao

    aossignificantes

    culturais

    e

    sociais

    dos

    comportamentos,

    Evans-

    Pritchard

    [1951]

    d um

    exemplo muito interessante.

    A fim de

    exemplificar

    a

    noode

    relativismocultural

    funo social oautor refereadiferenade

    comportamentos religiosos entre catlicos e muulmanos nos seus templos

    respectivos. Assim, quando

    um

    catlico

    vai

    igreja

    e

    leva chapu

    na

    cabea,

    no

    entra

    no

    templo

    sem

    primeiro descobrir

    a

    cabea. Inversamente,

    o

    muulmano

    ao

    entrar

    na

    mesquita conserva

    o seu

    turbante,

    mas em

    contrapartida

    descala os sapatos e procede s suas ablues (purificao pela

    lavagem).

    O que

    naturalmente

    no faz o

    catlico.

    Com este exemplo, possvel verificar aexistnciade dois comportamentos

    culturais radicalmente opostos

    cuja

    expresso resulta

    da

    diferena entre culturas,

    mas as

    quais tm,

    no

    entanto,

    do

    ponto

    de

    vista social,

    o

    mesmo significado.

    Ou

    seja,significa a deferncia perante a crena da existncia

    de

    um ente superior:

    Deus.

    Somente a

    maneira

    de o fazer difere radicalmente de uma cultura para a

    outra.

    Resulta do que acaba de ser dito que a prpria imposio social de venerar um

    Deus, reflecte em si uma atitude cultural particular. No se trata de uma

    evidncia universal. De facto, podia no ser o caso e estarmos perante

    sociedades animistas

    2

    ou seja onde no h na sua viso cosmognica do

    universo a existncia de um Deus. O que a ser assim, os comportamentos

    56

  • 7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3

    10/18

    acima referidos no poderiam ser observados. Em suma, oexemploapontado

    serve para demonstrar

    que o

    social

    se

    processa

    e

    revela,

    na

    maioria

    das

    vezes,

    atravs

    das

    suas manifestaes culturais.

    Seria possvel multiplicar, sem

    f i m ,

    exemplos desta natureza e evidenciar a

    dif iculdadeque revela a tentativa de dissociao entre o social e o cultural.

    Ficano entanto

    claro

    que

    possvel privilegiar

    um a

    destas duas dimenses

    social ou cultural - da vida em sociedade. E o que ressalta das diferentes

    tradies

    nacionais de investigao

    cujo

    exemplo evidente nos dado pelas

    etnologias

    britnica e

    francesapor

    umlado e americana por

    outro,

    como

    j

    foi

    rdito;--

    M as

    seja

    qualfor avertente privilegiada, trata-se semprede^estudarassociedades

    humanas ,

    e a tudo quanto foi dito anteriormente poderia acrescentar a ideia de

    Raymond

    Firthquando define

    a

    antropologia como

    o

    estudo comparado

    dos

    processosda vida social, a qual pressupeimplcitae igualmente as suas formas

    de expresso cultural. Nesta particularidade, reside a originalidade e a

    -contribuio-daantropologia social e cultural no sculo XX. Isto,considerar

    que o gnero sociedade humana compreende um grande nmero de vrias

    espcies. Por outras

    palavras,

    tida em considerao a diversidade e

    ..originalidadedas sociedades (ou das culturas) humanas. As quais, uma vez

    admitidas,

    jno permitem pensarexistirum tipo padro absoluto de sociedade

    cujo

    modelo seria representadopelasociedade ocidental.

    Se

    assim

    nofosse,tal

    atitude corresponderia

    a umjulgamentodecarcter

    etnocntrico. Ou

    seja, pensar

    os

    outros

    (no confronto com a

    alteridade)

    segundoas nossas normas, os nossos valores, a partir do que se induziria no

    ..Q.a,diferena

    como

    uma

    hierarquia,

    na

    qual

    nos

    colocaramos inevitavelmente

    notopo, recusando

    a

    diferena dessa diferena.

    A

    def inio

    deantropologia social como sendooestudodasrelaes sociais,

    das

    estruturas

    ou dos

    sistemas sociais, poderia corresponder

    definio

    de

    sociologia.

    Mas esta, ao invs da antropologia social no se interessa na sua

    generalidadeseno por uma espcie, por um nico tipo de sociedade - a de

    tipoindustrial-urbano.

    jSer alissobretudo

    na

    perspectiva

    do

    estudo

    d a

    vertente social

    da

    antropologia

    .q^etomar preferencialmente

    o

    rumo deste livro. Orientao

    que se

    deve

    Sobretudo convico

    terica

    danecessidade de umaprtica prximada

    -antropologia

    social - como cincia com preocupaes idnticas as da sociologia,

    apesardos

    mtodos

    e

    experincias contextuais diferentes

    -

    face

    aos

    desafios

    e

    -. s.inut:aes

    ue

    seencontramemcursonahistria inditadahumanidadee

    designadamenteem Portusal.

    57

  • 7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3

    11/18

    3.2 Como definiraantropologia

    social

    Ao longo do captulo foram

    dados

    gradualmente, os principais elementos de

    definio da antropologia social no seu sentido mais geral, permitindo agora

    avanar para

    urna

    perspectiva mais completa

    e

    especfica

    da

    disciplina. Ficou

    tambm claro que desde o seuincioesta cincia se interessou pelo estudo das

    sociedades primitivas contemporneas, caracterizadas, como tal,

    essencialmente pelas suas pequenas dimenses,

    e na

    maioria

    dos

    casos pela

    ausncia de

    Estado

    eescrita, masigualmente sem maquinismo e de

    desenvolvimentotecnolgicorudimentar.Oestudodas caractersticas deste

    tipo de sociedade,

    sernescrita,

    implicava um mtodo adequado, ao mesmo

    tempo

    que as

    suas dimenses

    e

    tcnicas rudimentares conduziam

    igualmente

    aoutra exigncia metodolgica.Comefeito pelassuaspequenas dimenses,

    estas sociedades facilitavam

    -

    corno

    em

    situao

    de

    laboratrio

    poder-se-ia

    dizer

    - a

    abordagem

    da sua

    totalidade

    funcionalou

    lgica social.

    '

    De

    facto,

    no

    havendo

    escrita,o

    nicomtodoconcebvel

    que se

    impunha

    ao

    estudo

    de um

    determinado contexto social vivido

    no

    momento,

    era a

    observaodirectano

    terreno.,

    (em rigor, omtodo referido no seope

    totalmente

    falta

    de

    escrita

    mas

    designadamente

    ao

    inqurito

    po r

    entrevista).

    Por

    outro

    lado as

    caractersticas particulares

    do

    objecto

    de

    estudo suscitavam

    um

    certo nmero

    de

    problemticas

    e

    interrogaes tericasespecficas.Estes

    trs aspectos

    -objecto,

    mtodo

    e um

    determinadotipo

    de

    questionamento

    -

    davam

    antropologia

    uma

    certa originalidade

    no

    seio

    das

    cincias sociais

    permitindo

    que esta se constitusse

    ern

    disciplina autnoma.

    Porm, de modo geral, o universo tradicional de investigao tem vindo a

    alterar-sedevido

    acelerao

    d

    movimento histrico

    de

    globalizao mundial

    que

    conduz

    a

    disciplina

    a uma

    ruptura

    com o seu

    domnio

    de

    investigao

    inicial (oinundoexti o}e a confrontar-se crescentemente com sociedades

    (como

    as

    sociedades

    em

    vias

    de

    desenvolvimento)cujaspreocupaes

    so

    tambm cada vez mais semelhantes sociedade do antroplogo. A inevitvel

    diversificao

    e

    reorientaoactuais

    do

    olhar antropolgico demonstra

    que a

    originalidade do seu saber no est determinado pela natureza dos objectos

    geogrficos de

    anlise:

    oexclusivouniverso extico Pelo

    contrrio,

    o

    Minho,

    oYorkshireou oTexas, por

    exemplo,

    so toetnolgicos como qualquer

    sociedade africana,

    sul-americana,

    etc. Sendo assim,

    a

    antropologia

    no

    susceptvel

    de serdefinidapelo tipo de sociedades estudadas.

    Poroutrolado,se tambm a

    disciplina

    no podedefinir-se pelos mtodos

    empregues

    na

    anlise

    (os

    procedimentos utilizados

    na

    recolha

    do

    material

    cientfico

    noservem para

    caracterizar

    umacincia),estes so no entanto

    importantes para avaliar

    o

    grau

    de rigor dos

    procedimentos

    de

    validao

    ou

    invalidao postosemprticapor umacincia.

    E,

    nesta medida,omtodo

    antropolgico- de quefalarei nocaptulo seguinte -apresenta-se cornoo

    C M S : J .

    elerr

    i -dive

    ob;

    5S

  • 7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3

    12/18

    elemento

    fundamental

    permanente que confe re disc iplina rigor e um a certa

    unidade

    face heterogeneidade terica, alterao da s condies do objecto

    de anlise e s difere na s de construo d a prtica antropolgica segund o as

    diversas tradies cientficas nacionais.

    Com efeito, semdefinir a antropologia, a permanncia do mtodo representa

    no

    entanto a conv ergncia consensual face heterogeneidade das problemticas

    e interrogaes tericas, ao mesmo tempo que afirma a sua especificidad e no

    seio

    dascinciassociais

    Esta caracterstica

    da

    antropologia

    de

    facto mu ito impor tante

    e C.

    Lvi-

    Strauss ao

    definir

    a

    d isciplina corno

    ''urnacincia social do

    observado [1958:

    396], releva, indirectamente, o aspecto do m todo ao su stentar a ideia implcita

    de

    que a sua

    abordagem

    se faz

    pela observao,

    do

    ponto

    de

    vista

    do

    observador

    3.2.1 s

    relaes

    entreolocal e o

    global

    Apesar da heterogeneidade

    cientfica

    e dealgumasrupturas tericas aolongo

    do d esenvolvim ento da disciplina, esteve sempre presente uma perspectiva

    especfica

    da antropologia sobre o real. Ou seja, existiu sempre u m projecto

    contnuo

    da disciplina para pensar a relao entre a diversidade e a un idade d a

    humanidade .

    Convm rclativizar no entanto este

    princpio

    terico definid or.

    De

    facto, embora

    no seu

    projecto terico sem pre

    se

    tenha afirmado

    o

    propsito

    de

    transcender

    as

    particularidades

    e pensar a humanidade no seu conjunto,

    esta un idade final raramente tem passado de um ponto de vista terico. Na

    prtica, os

    estudos pouc o ultrapassaram

    os

    particularismos, procederam

    comparao

    ou

    foram capazes

    de

    enu nciar aspectos u niversais

    e

    leis gerais.

    Tal no significa, no entanto, que a antropologia possa dispensar o estudo

    etnolgico

    dos

    particularism os locais. Pelo contrrio,

    precisamente

    por

    eles

    qu e

    necessariamente

    se inicia a investigao etnolgica , antes de proced er

    comparao

    e pensar a universalid ade antropolgica. Ou seja, para f inalmente

    poder

    reflectir

    sobre o funcionamento social e cultu ral geral e evidenciar

    categorias

    analticas universais, capazes de explicar simultaneamente a

    diversidade d as sociedades humanas e a u n i d a d e do gnero humano. este

    projecto qu e co r r esp o n d e f in a l id a d e fu n d a men ta l e p er ma n en te d a

    antropologia social

    e

    cultural.

    o tundo. do ponto de vista cultural, necessrio evidenciai e relacionar

    saberese

    discursos culturais particulares

    com

    saber global

    e

    d iscurso geral

    sobrea humanidade. Porm, para tanto, no desejvel encerrar a discipli

    m a

    59

  • 7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3

    13/18

    na classificao de costumes estranhos ou culturas em vias de desaparecimento

    em

    sociedades distantes

    ou prximas,

    embora esta actividade correspond a

    a

    um anecessidade evidentederegistoe

    arquivo,

    nalgicade umaetnografiae

    etnologia ditas

    de

    urgncia.

    Na vertente mais marcadam ente social da antropologia, para atingk os princpios

    gerais enunciados, esta estabelece, na sua etapa etnolgica, o estudo de

    mecanismos

    sociais precisos.

    Tal, d and o

    maiorimportncia

    - na

    perspectiva

    da autonomia do

    social,

    segundo os autores Durkheim eM auss - a um quadro

    terico independente da

    explic o

    histrica(naperspectivaevolucionista);

    explicaogeogrfica(naperspectivadifasionista); explicaobiolgica

    (na

    perspectiva

    funcionalista

    de Ma linowski); da

    explic o

    psicolgica(do

    ponto de

    vista

    do

    estudo

    dos

    comportamentos).

    Por

    outras

    palavras, a

    antropolog ia na sua vertente social apresenta-se como u ma cincia autno ma

    qu e

    estudaas

    relaes

    das

    relaes

    sociais,apartirdecontextosetnolgicos

    locais metodologicamente adeq uado s, tal como foi referido anteriormente.

    Para melhor com preender o q ue subten de este q uad ro terico, dou o seguinte

    exemplo

    concreto

    de umainvestigao

    realizada

    h uns anosnosEstados

    Unidos

    sob o

    tema:

    a

    universidade como inst i tuio

    de

    fo rmao

    de

    competncias

    de

    alto

    nvel,a

    partir

    da

    observao

    das

    relaes sociais parciais

    entre

    professorese estudantes.Nesta

    hiptese

    detrabalho,o

    investigador

    no

    se interessou unicam ente p elas relaes existentes entre oprofessore um aluno,

    mas antes entre o profess or e todos os alunos, ou melhor ainda, interessou-se

    menos

    pelas relaes en tre

    o

    professor

    e o

    conjunto

    dos

    alunos

    que

    pelas

    relaes e ntr e profess ores

    e

    a lunos

    da

    inst i tuio universi tria.

    Este

    procedimento

    diminui

    os acontecimentos particulares ealeatrios, fazendo

    emergir o modelo estatstico mdio do substrato sociolgico contido neste

    tipo de relaes . Masainvestigao no acaba aqui. Nafase seguinte,tratou-

    se de

    conhecer

    asimplicaesdo

    gnero

    das

    relaes universitrias

    com

    outras

    instituies, em contacto umas com as outras, directa e, ou, indirectamente. Se

    fosse

    repetida

    no

    caso portu gus , esta investigao p oderia, num a

    fase

    posterior,

    aps evidenciar os

    mecanismos

    que

    presidem

    s

    relaes

    nas instituies

    universi trias do pas, proceder comparao com outras inst i tuies

    universitrias

    estrangeiras e dar a compreender o que tm de comu m ediferente.

    As

    ditas

    relaes

    no soaqui

    consideradas

    no sentido dos comportamentos

    relacionais

    interpessoais

    entreos

    diferentes protagonistas

    -

    embora

    seja

    atravs

    deles

    que se

    procede

    observao

    - mas sim

    enqua nto contedo

    de um

    quadro

    derelaes

    institudas de

    funes

    sociais.A finalidade da investigaoseria

    compreender osmecanismos dedependnciaeinterdependnciafuncional da

    referidainstituio relativamente sociedade, atravs (e no como objectivo)

    doscomportamentos

    relacionais entreos

    diferentes protagonistas

    em

    causa.

    Tratar-se-ia

    de

    evidenciar (como forma

    de

    explicao sociolgica)

    o

    fu n

    dis:

    vei

    .-,-,-rea

    sab

    sj

    un:

    '

    Sg

    a?

    'de:

    c

    d

    O

    .de

    T I

    g

    tr

    c

    a

    c

    i

    t

    60

  • 7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3

    14/18

    funcionamento

    da

    referida instituio assimcomo

    a sua

    funo

    (ou

    grau

    de

    disfuno)

    nasociedade global.

    Assim, a mesma investigao aplicada ao contexto portugus, permitiria

    verificar -

    entre outras questes

    se a

    universidade portuguesa produz

    realmente conhecimento e o nvel desse conhecimento. Emconcreto, permitiria

    saberse produz os efeitos esperadospela sociedade e que tipo de efeitos. Ou

    seja,

    se responde sfunes esperadas pela sociedade. E quais funes? Se

    torna

    a sociedade mais culta, competente e competitiva.

    Ou

    ;ao contrrio, se a

    universidade

    est

    reduzidaa

    prestar emprego

    aos

    seus membros permanentes

    -e--a

    ser-umaespcie

    de

    almofada contra

    o

    desemprego,

    ao

    manter durante

    algum tempoosalunos

    fora

    domercadode trabalho, graasa umaconsequente

    taxa

    de insucesso (contribuindo assim a reduzir os

    ndices

    estatsticos do

    desemprego).

    Para, final e comparativamente, apurar

    ern

    que medida a situao

    comparvel

    das

    suas congneres estrangeiras.

    E,

    aindapara,

    no

    quadro

    comparativo

    das relaes bilaterais entre sociedades, avaliar as perspectivas

    de

    paridadecientfica

    e

    competitividade entre sociedades diferentes.

    3.2.2 O fim dos

    selv gens

    Corno

    deixmos entender anteriormente,

    a

    antropologia

    depara-se

    com um

    desafioque na

    origem

    no se

    punha

    de

    modo

    to

    evidente

    aos

    investigadores.

    Trata-se

    de um fenmenoindito na histria da humanidade: o processo

    generalizado

    de

    transformao

    das

    prprias sociedades ditas primitivas

    e

    Jxadicionais.

    No

    melhor

    dos.casos,

    estas sociedades encontram-se actualmente

    confrontadas com um processo de transformao acelerado, no sentido da

    adopodo

    modelo

    de

    desenvolvimento econmico

    e

    tecnolgico ocidental.

    No pior dos casos, no chega a haver a

    mnima

    transformao positiva

    (mudanano

    sentido desejado pelos implicados),

    mas

    mera degradao

    das

    condies

    de

    vida tradicionais

    em

    resultado

    do

    contacto descontrolado

    e

    inexorvel

    com o

    mundo ocidental. Nestas situaes,

    a

    vida ancestral

    ^

    s

    . 5

    0na

    ~

    se

    resulta em condies de degradao social e cultural

    irreversveis,

    sem conseguir qualquer aproximao ao modo de

    ' /desenvolvimentodas

    sociedades ditas modernas.

    de

    transformao

    -

    desigual segundo

    os

    casos

    e

    tentativa

    de

    aproximao da generalidade das sociedades ao modelo

    industrial-urbano

    e

    tecnolgico da

    sociedade

    do

    antroplogo, reduz consideravelmente

    o

    campo

    i

    ac

    tra^cional

    dos

    antroplogos, obrigando-os

    a

    repensar

    a

    disciplina.

    ntretanto,apesar destas alteraes, parece serpertinente colocar algumas

    interrogaes

    a

    este propsito. Ser

    que o

    fenmeno

    de

    globalizao econmica

    61

  • 7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3

    15/18

    conduzir

    inevitavelmenteuniformizao

    cultural

    e

    social?

    Se tal for o

    caso

    seresta

    total?

    Ou limitar-se- a

    alguns

    aspectos das sociedades.

    Sabemos

    que as sociedades no so

    estticas

    nem esperam umas pelas

    out ras

    relativamente mudana, manifestam sobretudo aptides decriatividade na

    elaborao

    constante de

    diferenas.

    3.2.3 incluso do universo ocidental no campo antropolgico

    O movimento de imposio de um modelo de desenvolvimento universal (com

    a

    introduo

    derelaes comerciais,

    monetrias

    e

    capitalistas

    nas generalidade

    das

    sociedades),

    conduziu a

    antropologia

    aintegraramodernidade no seu

    campo

    de

    anlise habitual;

    ou

    seja,

    a

    considerar igualmente

    para.

    alr

    sociedades primitivas - o

    estudo

    doespaoda

    nossa vida quotidiana ocidental,

    as nossas condutas sociais correntes. Emergiu assim, uma antropologia

    adicional que se

    interessa

    pela

    anlise

    das instituies

    administrativas,

    das

    relaesde

    trabalho,

    das

    grandes concentraes urbanas

    e dassituaesde

    violnciaque da resultam, das novas formas de religiosidade, das inditas

    formasdeagrupamento em

    associaes

    detodoo

    gnero.

    Porm,

    a

    disciplina continua

    a

    interessar-se pelas sociedades

    primitivas ou

    tradicionais -quenaturalmentenodesaparecerambruscamenteemborase

    encontrem sob pressoexterna,permanente e indita na histria da

    humanidad_e^

    De

    facto,

    no se

    trata

    de

    abandonar terrenos

    em

    substituio

    de

    outros,

    tal no

    corresponderia vocao dadisciplina

    como

    cincia

    geral

    dasociedade.Pelo

    contrrio, mais

    que

    nunca

    o

    alargamento

    do

    campo

    de

    interveno disciplinar

    corresponde

    necessidade

    permanente

    depensar

    ofuncionamentodo

    social

    e

    do cultural no seu todo humano, para poder aceder finalidade principal da

    disciplina:evidenciarcategorias analticas

    universais

    capazes de explicar a

    unidade do gnero humano.

    Com efeito, com a incluso gradual e diferenciada das sociedades de tipo

    ocidentalno campoantropolgico,adisciplinaatingiu uma maturidade cientfica

    globalizante que lhe permite, pela primeira vez desde as origens, pretender

    proceder

    prticadosseus fundamentos tericos corno cincia social universal.

    Noentanto, este alargamento gradualdocampoda

    disciplina

    no

    acontece

    semdificuldades.Por razoes diversas, (designadamenteetnocntricas)existem

    ainda

    muitas

    sociedadesocidentais

    que no sevem como objectodeestudo

    antropolgico.

    Se

    tomarmos ern considerao

    as

    sociedades europeias,

    constatamos que a

    situao

    muito desigual no domnio da investigao

    antropolgica; a par de pases com. centros de grandeactividade cientfica,

    existemoutros em que as

    escolas

    de antropologia ou so inexistentes ou tm

    .1

    v

    1

    i

    .

    6

  • 7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3

    16/18

    uma

    actividade

    e

    importncia reduzidas

    3

    . Acresce ainda

    que

    alguns destes

    pases, apesardepossurem ncleosdeestudo etnolgico, nunc a

    tiveram,

    pelo

    m e n o s de f o r m a

    significativa,

    uma

    experincia extica

    Porm,

    independentemente

    de a

    terem conhecido

    ou

    no,

    tm

    algum a dificuldade

    em

    inserir-se plenamente

    no

    campo antropolgico enquanto objecto

    de

    estudo

    cientfico. Quando muito vem-se como fundamento legtimo

    de

    estudo

    folclrico

    e

    mus

    e

    o

    gr

    afieo, namedidaem querealaeexaltaa especificidade

    da s

    suas culturas nacionais

    e

    ajuda

    a

    definir

    a

    identidade,

    mas com

    muitas

    reticncias

    enqu anto objecto de estudoantropolgico

    4

    .

    -Ora,depreende-sedetudo quantofo iditoataqui,que oprojecto antropolgico

    nopode corresponderaoexclusivoconhecimentodosoutrosmasigualmente

    aoconhecimento de si e

    para

    o

    qual contribui pela mesm a ocasio

    o dos

    outros.Assim,

    a

    antropologia

    necessariamente

    uma

    cincia comparativa,

    rilfmedida em que se impe ao investigador a tarefa de elaborar um a teoria

    geral

    da vida em

    sociedade.

    Para atingir este objectivo, segundoC.

    Lvi-

    Strauss,o antrop logo esforar-se-, volun tria e

    conscientemente

    tambm

    (semque sejacertoque algumavez o consiga) formu lar um sistema

    aceitvel,

    tanto

    para o mais longnquo indgena como para os seus concidados ou

    contemporneos

    [1958:396-397].

    . .Np entanto, s. com o fim. dos

    colonialismos

    a antropologia refluiu para a

    Europa

    incluindo-a

    com as reticncias que so conhecida s - na sua rea de

    conhecimento.Todavia, e sta inclusono seten do feitodeforma homognea,

    a sua

    interveno incidiu muito particularmente

    no Sul

    europeu, perman ecendo

    oNorte, implcitaepraticamente,foradocampodaantropologia.E nospases

    do Sul da Europa a investigao recaiu, inicialmente sobretudo, sobre as

    ..^sociedadescamponesas,

    passando durante algum tempo

    ao

    lado

    dosmeios

    T;..urbanos.

    Esta viso, result a

    da

    ideia

    de que a

    distncia cultural obtida pela distncia

    geogrfica

    absolutame nte indispensvel

    do

    ponto

    de

    vista m etodolgico

    e

    e

    pisternolgico.Juntamente com algumetnocentrismo,leva ainda a conside rar

    .implicitamente

    que em algunspases do Sul as suas sociedades camponesas

    estariamma is pertodascondies etnolgic as anteriormente

    conhecidas,

    no

    universo '

    extra europeu.

    De

    certo

    modo,

    a lgumas

    das

    condies destas

    ...

    .-sociedades

    tm

    algumas sem elhanas

    com

    esseuniverso: essencialmente

    uma

    rortetradio oral, uma relativa autonom ia em relao sociedade nacionale,

    ,

    1

    .-.

    n

    .

    a

    l

    nia

    J

    a

    ds

    casos,excludas doconhecimento histrico, reservado aos

    acontecimentosde

    Estado

    e

    ou tras ocorrncias

    sociais

    influentes.

    :

    ^

    I2er

    -separaconcluirque a cincia antropolgica

    tem

    sido uma cincia

    - e

    pratica

    desigual desde a origem.

    Desigual,

    na troca de conhecimentos entre

    ? -?

    ocidente

    e o universo no ocidental; desigual, pode acrescentar-se, no

    ...-

    equilbrio

    quanto

    ao

    sexo

    dos

    investigadores

    com - at h

    pouco tempo

    -

    Jean

    Poirier, na sua

    Eshnologe Generais

    [ 1968] , refere nove

    escolas

    europeias de

    etnologia

    de

    importncia

    desigual:

    brit-

    nica , americana,

    francesa,

    a lem, belga, portuguesa,

    italiana,

    russa.

    Referente a

    outros continentes, o autor

    me nc i ona

    t amb m pases

    como o Japo, a Amrica do

    Sul.

    4

    Para

    um a avaliao suple-

    mentar da situao recente

    da ant ropologia ver

    A

    niltropoogie: iat d s

    li ux

    L ' H o m m e ,

    R e v u e

    franaise d 'anthropologie ,

    Paris: N a

    vari

    n /Livre

    de

    Poche,1986.

  • 7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3

    17/18

    umarealmaioriade antroplogos desexo masculino;mais

    recentemente

    F

    desigualnacaptaodeconhecimentosdo Sul porinvestigadoresdoNorteda

    Europa. De facto, os investigadores do Sul tm-se

    confinado

    ao olhar de si . p

    prprios,partilhandoo seu espaocom outrosse m ousar alargar o seu campo

    '

    de

    interveno

    a

    outras regies

    que no as

    suas

    - uma

    prtica alienada

    da

    antropologia europesta

    que

    impede

    por

    natureza

    a

    comparao. -

    L

    i

    3.2.4 inciadotradicionale d

    modernid de

    i

    . f

    Segundo

    a

    perspectiva

    referida, Portugal porexemplo

    seria hoje

    ainda-para L . . .

    alguns

    observadores

    como cheguei

    a

    ouvir

    - u m

    conservatrio desses mundos

    T

    desaparecidosou em

    vias

    de desaparecimento.

    Ora

    no cientificamente ^-

    correcto considerar Portugal,nem outros pases em

    condies

    semelhantes, t

    comoumconservatriode umpassadoimutvele por essarazo nopode f

    consti tuir

    refugio para

    etnlogos

    passadistas

    que

    pensam

    ser

    apangio

    da j

    etnologiaoestudo exclusivodesociedades arcaicas. Como todasassociedades j

    europeias,Portugalhmuitoque seencontraemmutaoeonde desde algum

    tempo,a dicotomia

    rural/urban o

    seesbatefortemente.

    O s

    mundos

    rural

    eurbano f

    constituem cadavezmais, tambmnonosso pas,um todosociologicamente i

    difcil

    derecortar

    ern cujas

    caractersticasosseus habitantessereconhecem. J

    Mais

    rapidamente

    do que h uma

    vintena

    de

    anos

    atrs

    Portugal acelera

    a sua . l

    plena integrao

    no

    modelo

    de

    sociedade

    de

    massa ocidental

    (de

    modo desigual -j

    -

    segundo aszonasdopas certo mas o seucasono onico e nesta l

    perspectiva dinmica

    que

    deve

    ser

    includo

    no

    campo

    da

    antropologia,

    tal f

    como

    deveser

    includa toda

    aEuropa. f

    Com

    efeito,

    na

    medida

    em que

    queremos atender

    aos

    objectivos gerais

    da

    disciplina, enunciados mais

    atrs no

    possvelreservar zonas geogrficas

    especiaisao estudo antropolgicoeexcluirdo seucampodeestudo outras

    tantas sob o pretexto vo, de que asprimeiras seriamoconservatriode

    particularismos

    tradicionais, desaparecidos

    nas

    segundas.

    ejam quais foremasvariantes sociaisdesociedade asociedade industrial

    moderna, cuja origem europeiamas que seestende actualmentepor uma g

    grande partedoplaneta, repousa onde querquesejaeniestruturas semelhantes |

    edesenvolve,erntodoolado, maisoumenosomesmo tipoderelaes.Em

    contrapartida as diferenasentre porexemplo associedadestropicais-da

    Amrica

    do Sul e o

    Japo moderno

    so

    diferenas mais

    p rofundas , so

    diferenas de

    espcie.

    64

  • 7/24/2019 UAb - Antropologia Geral - Capitulo 3

    18/18

    r

    saber mais:

    -EVANS-PRITCHARD Edward Evan

    :

    1999

    Antropologia Social Lisboa: Edies 70.

    LVI-STRAUSS

    Claude

    1985 Antropologia Estrutural Rio de Janeiro: Biblioteca Tempo

    Uni-

    versitrio.

    POIRIER

    JEAN

    Ed.),

    1968 Ethnologie

    Gnmle

    Paris:

    Editions

    Gallimard Encyclopdie de

    Ia

    Pleyade.

    65