View
213
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A EDUCAÇÃO ESPECIAL DA CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN
Por Mônica Santos de Carvalho
Orientador Profa. Edla Trocoli
Rio de Janeiro 2011
AGRADECIMENTOS
A Deus, que me fortalece, a meus
pais, que me deram as bases morais, a meu marido, pelo incentivo e ajuda e a meus alunos, que me ensinam a cada dia a aceitar as diferenças.
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho a todas as
crianças com Síndrome de Down e a todos os profissionais que lutam pela Inclusão.
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi pesquisar os problemas da Síndrome de
Down, a importância da educação inclusiva para o desenvolvimento da
criança e a influencia da estimulação precoce em relação à aquisição da
linguagem. A pesquisa científica do autor passou por abordagem
neurológica, psicológica e pedagógica ampliando, assim, o campo de
estudo.
Através de fundamentos teóricos e metodológicos, descritos ao longo
desse trabalho, busca-se oferecer métodos que venham facilitar o
aprendizado de crianças e adolescentes portadoras da síndrome de Down.
O objetivo a ser alcançado é a integração da criança na escola e na
comunidade. Há muitas razões para que uma criança com Síndrome de
Down deva ter a oportunidade de freqüentar uma escola comum. Cada vez
mais pesquisas têm sido publicadas e o conhecimento sobre as
capacidades das crianças com potencial para uma inclusão social com
sucesso tem aumentado. Ao mesmo tempo, os pais tem se informado mais
sobre os benefícios da inclusão, incentivando seus filhos nesta sistemática
de ensino. Além disso, a inclusão é não discriminatória e traz tanto
benefícios acadêmicos quanto sociais.
Diante do exposto, pode-se observar a relevância da presente
pesquisa, na medida em que se propõe a estudar os impactos que a adoção
desta proposta educacional terá na aprendizagem das crianças com
Síndrome de Down.
METODOLOGIA
Trata-se de trabalho exploratório, baseado principalmente em dados
bibliográficos, tendo sido consultadas as seguintes fontes: livros, artigos,
legislação e outros, buscando-se os necessários aprofundamentos para
desenvolvimento do tema proposto.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................... 7
CAPÍTULO I- A SÍNDROME DE DOWN ........................................................ 9
I.1- Incidência e Prevalência ..................................................................... 11 I.2 - Características Fenotípicas dos Portadores de SD ........................... 12 I.3 - O Sistema Nervoso e a SD ............................................................... 14 I.4 - Deficiência Mental e Síndrome de Down ........................................... 15
CAPÍTULO II- A EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS COM SD .............................. 18
II.2- Propostas Educacionais para Crianças com SD ............................... 20
CAPÍTULO III- EDUCAÇÃO INCLUSIVA ..................................................... 29
III.1- Inclusão Social e Cidadania das Pessoas com Alguma Deficiência 30 III.2- Intervenção Pedagógica ................................................................... 33 III.3- A Família e a Educação ................................................................... 35
CONCLUSÃO .............................................................................................. 36
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................ 38
7
INTRODUÇÃO
A humanidade, ao longo de sua História, empreende eterna busca
pela explicação dos fenômenos naturais, que representa, em síntese, o
Conhecimento. Busca esta motivada pela necessidade de se desvendarem
os mistérios e encontrar respostas para questões tais como a nossa origem,
a criação do universo, se somos únicos, que, no fim e ao cabo, conduzem-
nos para o aprofundamento do conhecimento o que, por sua vez, nos leva a
outros questionamentos, em um ciclo interminável de perguntas e respostas.
Inicialmente, estas explicações eram fornecidas por mitos como os
da Criação, com enfoque religioso e dogmático. Com o passar do tempo e o
surgimento da Filosofia, procurou-se explicações racionais para as
perguntas, resultando no surgimento da Ciência, que se utiliza da
observação e experimentação metódica para o entendimento dos
fenômenos.
Nesta caminhada, a humanidade se deparou com fenômenos os
mais variados, desde aqueles associados ao universo até os relacionados à
sua própria natureza, incluindo os seus aspectos físicos e mentais. Ao olhar
para si, percebe diferenças que espantam, assustam, embevecem,
provocam reações diversas, opostas até, de preconceito, admiração,
compaixão, curiosidade e solidariedade. Geram atitudes perversas, insanas,
que tentam eliminar os “impuros”, os “defeituosos”, na procura pela “raça
pura”; uma forma de resolver o “problema”. Mas geram, também, por outro
lado, reações de curiosidade, compreensão e de fé nas pessoas, no que
elas possuem de melhor e, principalmente, de aceitação das diferenças.
Ao se aplicar a Ciência, com investigação baseada em metodologias
científicas, sobre estes indivíduos diferentes, especiais, joga-se luz sobre as
trevas da ignorância e derrubam-se preconceitos, ao se conhecer melhor
suas origens, causas e possíveis ações mitigadoras. Este é o caso dos
8
portadores da síndrome de Down (SD), fenômeno já conhecido desde
tempos idos e que recebeu tratamentos os mais variados, desde a sua
adoração religiosa, passando pela discriminação e preconceito, ao serem
considerados seres inferiores, “mongolóides”, e chegando aos dias atuais,
em que se compreende de forma mais abrangente essa síndrome, sua
origem de ordem genética e a crescente aceitação desses indivíduos por
parte da sociedade, com a sua inclusão no tecido social como uma pessoa
com características próprias.
Este trabalho procura contribuir de forma simples, mas significativa,
na formação do conhecimento sobre estes indivíduos, em especial no que
concerne à sua educação e formação para que possam, efetivamente, se
integrarem à sociedade e contribuírem, à sua maneira, para o
engrandecimento da humanidade.
Para tanto, inicia-se pela descrição da SD, com ênfase na sua
origem de ordem genética, a sua incidência entre os nascidos e a sua
prevalência na população em geral, seus sinais fenotípicos e seu impacto no
sistema nervoso central. Em seguida, serão abordados os aspectos
relacionados ao arcabouço legal que regem as relações de indivíduos
portadores de necessidades especiais, principalmente no que diz respeito à
legislação educacional brasileira, consubstanciada na Política Nacional de
Educação. Posteriormente, serão apresentadas as dificuldades de
aprendizagem das crianças e adolescentes portadores de SD para, na
seqüência, ser discutido de que maneira a educação inclusiva pode afetar a
formação e o aprendizado dessas crianças e adolescentes.
9
CAPÍTULO I- A SÍNDROME DE DOWN
Segundo Schwartzman (2003), a síndrome de Down (SD), que
possivelmente sempre esteve presente na espécie humana, é decorrente de
uma alteração genética ocorrida durante ou imediatamente após a
concepção, sendo observada de modo regular em toda a humanidade,
afetando um em cada 700/900 nascidos vivos, independentemente de
classe social, raça, credo, cor ou clima. Foi a primeira doença a ser
acompanhada por graus variáveis de Deficiência Mental associada a uma
anormalidade cromossômica.
A SD caracteriza-se, em cerca de 95% dos casos, pela presença
mais de um autossomo 21, formando um cariótipo 47, XX,+21 (feminino) ou
47, XY,+21(masculino) denominada trissomia simples, ou seja, ao invés do
indivíduo apresentar dois cromossomos 21, possui três. Os demais casos
ocorrem devido à translocação, pela qual o autossomo 21, a mais, está
fundido a um outro autossomo. O erro genético também pode ocorrer pela
proporção variável de células trissômicas, presentes ao lado de células
citogeneticamente normais.
Estas anomalias genéticas são conseqüência de falhas na geração
de um dos gametas que formaram o indivíduo. Em condições normais, os
gametas deveriam conter um cromossomo apenas e assim a união do
gameta materno com o gameta paterno geraria um gameta filho com dois
cromossomos, como toda a espécie humana. Porém, durante a formação do
gameta podem ocorrer alterações e, por meio do fenômeno da não-
disjunção cromossômica, que é realizada durante o processo de
reprodução, podem ser formados gametas com cromossomos duplos que,
ao se unirem a outro cromossomo pela fecundação, resultam em uma
alteração cromossômica.
O resultado dessa anomalia é que todo o desenvolvimento e
maturação do organismo são alterados afetando, ainda, a cognição do
10
indivíduo portador da SD, além de lhe conferirem outras características
relacionadas à síndrome.
Outro aspecto importante está relacionado elevado número de
gestações que não chegam a bom termo devido a esta anormalidade
cromossômica (Warburton e colaboradores, 1991, apud Schwartzman,
2003). Estima-se que os produtos sobrevivam ao nascimento em apenas
25% das gestações com trissomia 21, 5% com trissomia 18 e 2,5% com
trissomia 13. (Hook, 1002, apud Schwartzman, 2003).
Os índices de mortalidade pós-natal, no que se refere à trissomia
simples, são relativamente baixos, com cerca de 85% dos bebês
sobrevivendo até um ano de idade e mais de 50% de indivíduos afetados
vivendo mais de 50 anos. Já para os casos de trissomias 18 e 13 os índices
de mortalidade são excepcionalmente elevados (Baird e Sadovnick, 1988;
Mikkelsen e colaboradores, 1990, apud Schwartzman, 2003).
Entre as causas das mortes, destacam-se os defeitos cardíacos
congênitos, por vezes em combinação com outras malformações congênitas
e infecções respiratórias. Já as leucemias são responsáveis por menos de
10% das mortes nestes indivíduos (Scholl e colaboradores, 1982, apud
Schwartzman, 2003).
Nos últimos anos tem-se observado uma redução nesses índices de
mortalidade, em função, segundo Schwartzman (2003), do diagnóstico
precoce e dos avanços nas técnicas terapêuticas, tanto clínicas quanto
cirúrgica, proporcionando a estes indivíduos uma sobrevida muito maior e
melhor qualidade de vida.
Para melhor compreender estes aspectos, será realizada, a seguir,
uma breve explanação sobre a incidência e a prevalência nos portadores de
SD.
11
I.1- Incidência e Prevalência
Define-se prevalência como sendo a razão entre o número de
indivíduos que possuam determinada característica e o número de
habitantes. Já a incidência consiste na razão entre estes indivíduos e o
número de nascimentos. Naturalmente que a prevalência é influenciada de
forma direta pela incidência, porém outros fatores podem afetá-la como, por
exemplo, a taxa de mortalidade de indivíduos com determinada condição.
A incidência de crianças com SD é estimada, na maioria dos países,
em um para 800/1.000 (0,125% a 0,10%) nascidos vivos, enquanto que a
prevalência seria de um para 2.000/3000 habitantes (0,05% a 0,03%)
(Zellweger, 1977, apud Schwartzman).
Segundo Schwartzman, a incidência de SD pode ser influenciada por
alguns fatores, classificados em exógenos (ambientais) e endógenos, sendo
que a idade materna é o principal fator endógeno, devido ao fato que a
mulher já nasce com todos os óvulos e estes, portanto, envelhecem com
ela. Já o mesmo não ocorre com os espermatozóides, que são produzidos
na medida em que são utilizados.
Entre os fatores ambientais estão inclusos a exposição à radiação e
a possibilidade do diagnóstico pré-natal, o qual fornece condições de
identificar até cerca de 60% das gestações afetadas, o que poderia reduzir
significativamente a incidência de nascidos com SD, por meio da interrupção
destas gestações. Neste sentido, como a maior parte das gestações ocorre
em mulheres jovens, embora estas possuam menor risco de incidência de
SD, seria de grande importância o desenvolvimento de testes de fácil
aplicação, de menor custo e menos invasivos do que a amniocentese e a
coleta de vilo corial, que possam ser aplicados de forma rotineira em todas
as gestações, independentemente da idade materna.
Quanto à exposição à radiação, estudos realizados junto a 124.015
partos em população de determinada área geográfica da Inglaterra, no
período de 1957 a 1991, apresentaram um aumento significativo na
12
prevalência de SD entre as crianças concebidas durante os anos de 1963 e
1964, período em que foi detectada uma alta correlação com níveis de
radiação decorrentes de testes atômicos realizados na época, o que levou a
se apontar essas radiações ionizantes, em baixas doses, como possível
fator etiológico da SD (Bound e colaboradores, 1995, apud Schwartzman,
2003).
No que concerne à prevalência por idade e sexo, estudos
conduzidos no Reino Unido (Inglaterra, Escócia e País de Gales) por Steele
e Stratfor (1995) levaram à conclusão de que a prevalência geral seria de
6,7/10.000 da população. Dentre os fatores que podem afetar esta relação,
os autores destacaram a crescente longevidade dos pacientes, a
conscientização acerca do aumento do risco na proporção direta do
aumento da idade materna e a existência de exames que possibilitam a
identificação de gestações de alto risco. Seus estudos levaram à conclusão
de que esta relação será pouco afetada, apontando como possíveis razões
questões morais e filosóficas quanto à interrupção da gravidez, o alto custo
e dos exames existentes, que dificultam o seu acesso, e até mesmo o
posicionamento de casais e profissionais de saúde sobre o tema.
Como conseqüência da maior longevidade dos portadores de SD,
haverá um incremento de indivíduos com problemas de saúde, pois estes
indivíduos tendem a apresentá-los com maior freqüência á medida em que
se tornam mais velhos.
I.2 - Características Fenotípicas dos Portadores de SD
De forma geral o diagnóstico da SD pode ser realizado até mesmo
antes do nascimento, devido à existência de diversas características
fenotípicas, com destaque para a prega palmar única, clinodactilia, defeitos
do septo cardíaco e baixo comprimento, os quais, quando observados em
conjunto, indicam a possível presença de trissomia 21, conforme Stephens e
Sheperd (1980).
13
Na verdade estas características não permitem um diagnóstico
seguro, mas indicam a possibilidade da ocorrência de SD em gestantes, as
quais devem ser objeto de exames mais conclusivos de diagnóstico pré-
natal.
Já para os recém nascidos a ocorrência de, pelo menos, seis entre
dez sinais cardíacos constantes do quadro a seguir, definidos por Hal
(1966), justifica o diagnóstico de SD.
SINAL % CRIANÇAS AFETADAS
Reflexo de Moro Hipoativo 85
Hipotonia 80
Face com perfil achatado 90
Fissuras palpebrais com inclinação para cima 80
Orelhas pequenas, arredondadas e displásicas
60
Excesso de pele na nuca 80
Prega palmar única 45
Hiperextensão das grandes articulações 80
Pélvis com anormalidades morfológicas aos Raios-X
70
Hipoplasia da falange média do 5o dedo 60 Quadro I – O Diagnóstico de SD em recém nascidos Fonte (SCHWARTZMAN, 2003, adaptado de Hal, 1966)
De forma geral, o portador desta síndrome é um indivíduo calmo,
afetivo, bem humorado e com prejuízos intelectuais; porém podendo
apresentar grandes variações no que se refere ao seu comportamento. A
personalidade varia de indivíduo para indivíduo e estes podem apresentar
distúrbios do comportamento e desordens de conduta, as quais variam
conforme o potencial genético e características culturais, determinantes no
comportamento.
14
I.3 - O Sistema Nervoso e a SD
O sistema nervoso da criança com SD apresenta anormalidades
estruturais e funcionais, que resultam em disfunções neurológicas variando
quando à manifestação e intensidade.
Segundo Schwartzman, nas crianças mais velhas foram observadas
anormalidades nos neurônios piramidais pequenos, especialmente nas
camadas superiores do córtex (...) (SCHWARTZMAN,1999,p.54).
O processo de desenvolvimento e maturação do sistema nervoso é
complexo, no entanto, a criança com SD ainda no estágio fetal, já apresenta
alterações no desenvolvimento do sistema nervoso central.
Segundo SCHMIDT, citado por SCHWARTZMAN (1999), em seus
estudos com fetos normais e fetos com SD, não se observaram alterações
significativas no desenvolvimento e crescimento do sistema nervoso.
Outros estudiosos, como WISNIEWSKI (1999), concluem que, até os
cinco anos, o cérebro das crianças com síndrome de Down encontra-se
anatomicamente similar ao de crianças normais, apresentando apenas
alterações de peso, que nestas crianças encontra-se inferior a faixa de
normalidade, que ocorre devido uma desaceleração do crescimento
encefálico iniciado por volta dos três meses de idade.
Esta desaceleração encontra-se de forma mais acentuada em
meninas, onde são observadas, também, freqüentes alterações cardíacas e
gastrointestinais.
WISNIEWSKI, citado por SCHWARTZMAN, (1999, P.47), relata que
há algumas evidencias de que, durante o último trimestre de gestação existe
uma lentificação no processo da neurogênese.
Apesar desta afirmação, as alterações de crescimento e
estruturação das redes neurais após nascimento são mais evidentes e estas
se acentuam com o passar do tempo.
15
Segundo SCHWARTZMAN (1999,P.51) as medidas de inteligência
geral e as habilidades lingüísticas normalmente encontram-se alterados e
então não possuem padrão definido, além de não se relacionarem com o
volume encefálico, podendo apresentar em diversos níveis intelectuais.
Também observamos no sistema nervoso do paciente Down,
alterações de hipocampo e, a partir do quinto mês de vida, quando o
processo de desaceleração do crescimento e desenvolvimento do sistema
nervoso ocorre uma diminuição da população neuronal.
ROSS e colaboradores (1984) puderam observar “uma perda de
neurônios granulados no córtex cerebral” e WISNIEWSKI (1990) confirma a
proposta de ROSS e também relata “uma diminuição no número de
neurônios granulares nas camadas II e IV do córtex (...)”.
O desenvolvimento braquicefálico também é marcante no paciente
com SD e ainda podemos observar uma hipoplasia do lobo temporal. No
paciente recém-nascido, muitas alterações não são evidenciadas, porém
com o passar dos anos se evidenciam tornando visíveis às reduções de
volumo dos hemisférios cerebrais e hemisférios cerebelares, da ponte,
corpos mamilares e formações hipocampais.
Desta forma, observa-se que as inúmeras alterações estruturais e
funcionais do sistema nervoso da criança com SD, determinam algumas de
suas características mais marcantes como distúrbios de aprendizagem e
desenvolvimento.
I.4 - Deficiência Mental e Síndrome de Down
Segundo descreve Ferreira, na obra Miniaurélio, o termo deficiência
significa falta, carência ou insuficiência. Assim, podemos entender por
deficiência mental a insuficiência funcional das funções neurológicas. O
16
cérebro da criança com Down não atingiu seu pleno desenvolvimento e
assim todas suas funções estão alteradas:
O conceito de deficiência mental apóia-se, basicamente, em três idéias
que têm sido utilizadas para definir este termo. É essencial examiná-las
do ponto de vista interativo. A primeira diz respeito ao binômio de
desenvolvimento-aprendizagem (]). A segunda idéia se refere aos
fatores biológicos e a última tem a ver com o ambiente físico e social
(...). (SCHWARTZMAN, 2003, P.243)
Os três conceitos a que o autor citado acima se refere podem ser
explicados como bases das atividades mentais. Na verdade o cérebro de
uma criança recém-nascida possui capacidades de aprendizagem, no
entanto, estas serão desenvolvidas através da internalização de estímulos e
esta se da através da aprendizagem e esta intimamente associada aos
fatores biológicos, como integridade orgânica e ainda sofre influencias
diretas dos fatores ambientais e sociais.
Esta afirmação feita por SCHWARTZMAN (1999) é muito aceita e
presente em inúmeros trabalhos de outros autores coerentes com esta
abordagem. Um exemplo é Piaget, que afirma que os indivíduos nascem
apenas com potencialidades (capacidade inata): a capacidade de aprender.
Assim, todo conhecimento e todo desenvolvimento da criança depende de
exposição ao meio e dos estímulos advindos deste. Para Jean Piaget, a
base do conhecimento é a transferência e assimilação de “estruturas”.
Assim, um conhecimento, um estímulo do meio é encarado como uma
estrutura que será “assimilada” pelo indivíduo através de sua capacidade de
aprender.
A aprendizagem é realizada com sucesso se as capacidades de
assimilação e acomodação estiverem integras, assim vão se dando as
aquisições ao longo do tempo. Estes três processos acontecem para que
um indivíduo esteja sempre adquirindo novas informações, assim quando se
depara com um dado novo, para a internalização do mesmo, o indivíduo
deve reorganizar as aquisições já adquiridas, para acomodar os novos
17
conhecimentos sendo por este processo de linguagem e cognição se
desenvolve.
Considerando a grande influencia do ambiente e a competência da
criança para as atividades cognitivas, para estimularmos uma criança, temos
que torná-la mais competente para resolver as exigências que a vida quer
em seu contexto cultural.
O portador da SD possui certa dificuldade de aprendizagem que, na
grande maioria dos casos, afetam todas as capacidades: linguagem,
autonomia, motricidade e integração social. Estas podem se manifestar em
maior ou menor grau.
18
CAPÍTULO II- A EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS COM SD
A educação é o principal agente transformador de qualquer
sociedade. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (L.D.B.), DE 20/12/96,
foi elaborada com o propósito de ligar a escola à realidade do mundo,
exigida pela globalização.
A educação de criança com SD, por ser complexa, exige adaptações
de ordem curricular que requerem acompanhamento de professores, dos
pais, da sociedade e são indispensáveis para melhor definir objetivos. Os
distúrbios de conduta, as dificuldades de aprendizagem, a dificuldade de
integração completam, mas não esgotam o quadro da educação do aluno
com SD.
A LDB estabeleceu, entre outros princípios, o de “igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola” e adotou nova
modalidade de educação para “educandos com necessidades especiais”.
Resta saber até que ponto a LDB cumprirá os objetivos da Educação
Especial.
II.1- As Dificuldades de Aprendizagem do Portador de SD
A criança com síndrome de Down tem idade cronológica diferente da
idade funcional, desta forma, não devemos esperar uma resposta idêntica à
resposta das “normais”, que não apresentam alterações de aprendizagem.
Esta deficiência decorre de lesões cerebrais e desajustes funcionais do
sistema nervoso:
O fato de a criança não ter desenvolvido uma habilidade ou
demonstrar conduta imatura em determinada idade,
comparativamente a outras com idêntica condição genética, não
significa impedimento para adquiri-las mais tarde, pois é possível
que madure lentamente. (SCHWARTZMAN, 1999,p.246).
19
A prontidão para aprendizagem depende da complexa integração dos
neurológicos e da harmoniosa evolução de funções específicas como linguagem,
percepção, esquema corporal, orientação temporo-espacial e lateralidade.
É comum observarmos nas crianças SD alterações severas de
internalizações de conceitos de tempo e espaço, que dificultarão muitas
aquisições e refletirão especialmente em memória e planificação, alem de
dificultarem muito a aquisição de linguagem.
Crianças especiais como as portadoras de SD, não desenvolvem
estratégias espontâneas e este é um fato que deve ser considerado em seu
processo de aquisição de aprendizagem, já que esta terá muitas dificuldades em
resolver problemas e encontrar soluções sozinhas.
Outras deficiências que acometem a criança Down e implicam dificuldades
ao desenvolvimento da aprendizagem são: incapacidade de organizar atos
cognitivos e condutas, debilidades de associar e programar seqüência.
Estas dificuldades ocorrem principalmente por que a imaturidade nervosa
e não mielinização das fibras pode dificultar funções mentais como: habilidade
para usar conceitos abstratos, memória, percepção geral, habilidades que
incluam imaginação, relações espaciais, esquema corporal, habilidade no
raciocínio, estocagem do material aprendido e transferência na aprendizagem.
As deficiências e debilidades destas funções dificultam principalmente as
atividades escolares:
“Entre outras deficiências que acarretam repercussão sobre o desenvolvimento
neurológico da criança com síndrome de Down pode determinar dificuldade na
tomada de decisões e iniciação de uma ação, na elaboração do pensamento
abstrato; no calculo; na seleção e eliminação de determinadas fontes
informativas; no bloqueio das funções perceptivas (atenção percepção); nas
funções motoras e alterações da emoção e do afeto”.(SCHWARTZMAN,
1999,p.247)
20
No entanto, a criança com síndrome de Down tem possibilidades de se
desenvolver e executar atividades diárias e ate mesmo adquirir formação
profissional e no enfoque evolutivo, a linguagem e as atividades como leitura e
escrita podem ser desenvolvidas a partir das experiências da própria criança.
Do ponto de vista motor, hipocinesias associadas à falta de iniciativa e
espontaneidade ou hipercinesias e desinibição são freqüentes. E estes padrões
débeis também interferem a aprendizagem, pois o desenvolvimento psicomotor é
a base da aprendizagem.
As inúmeras alterações do sistema nervoso repercutem em alterações do
desenvolvimento global e da aprendizagem. Não há um padrão estereotipado
previsível nas crianças com síndrome de Down e o desenvolvimento da
inteligência não depende exclusivamente da alteração cromossômica, mas é
também influenciada por estímulos provenientes do meio.
No entanto, o desenvolvimento da inteligência é deficiente e normalmente
encontramos um atraso global. As disfunções cognitivas observadas neste
paciente não são homogêneas e a memória seqüencial auditiva e visual
geralmente é severamente acometida.
II.2- Propostas Educacionais para Crianças com SD
As crianças com SD precisam de um currículo mais diluído, elas têm, em
geral, um perfil de aprendizagem específico. Saber dos fatores que facilitam e
inibem o aprendizado permite aos professores planejar os programas de
trabalho. Devem ser considerados o perfil e o estilo de aprendizado de cada
criança com SD.
Fatores comuns a várias crianças com SD. Algumas têm complicações
físicas, outros comprometimentos cognitivos. Muitas têm ambos.
FATORES QUE FACILITAM O APRENDIZADO
- Forte conhecimento visual
21
- Habilidade de usar sinais
- Habilidade em usar a palavra escrita
- Aprendizado com currículo prático e material e com atividades de
manipulação
- Imitação de comportamento dos colegas.
FATORES QUE INIBEM O APRENDIZADO
- Dificuldade no discurso e na linguagem
- Desenvolvimento tardio de habilidades, tanto fina quanto grossa
- Dificuldade na audição e visão
- Capacidade de concentração mais curta
- Déficit na memória auditiva recente
- Dificuldade em seguir seqüencia
- Dificuldade com generalizações, pensamento abstrato e raciocínio
A seguir será realizada uma breve discussão sobre os principais fatores
inibidores:
a) DIFICULDADE NA VISÃO
Muitos têm dificuldade de visão: de 60 a 70% usam óculos antes dos 7
anos e é importante diagnosticar e sanar as dificuldades que eles possuem.
Estratégias
- Colocar o aluno mais a frente,
- Escrever com letras grandes
- Fazer apresentações simples e claras.
b) DIFICULDADE NA AUDIÇÃO
22
Outra dificuldade e com audição, muitas crianças tem perda auditiva, É
importante checar a audição da criança porque ela afetará sua fala e linguagem,
às vezes as respostas inconsistentes podem ser fruto da deficiência auditiva e
não falta de atendimento ou atitude indesejada.
Estratégias
- Coloque o aluno na frente
-. Reforce o discurso com expressões faciais, sinais e gestos
- Reforce o discurso com material de apoio visual- figuras, fotos, objetos
- Diga de outra forma ou repita palavras e frases que possam ter sido mal
entendidas
- Quando outros alunos responderem repita suas respostas alto
c) SISTEMA MOTOR FINO E GROSSO
Várias crianças com SD têm flacidez muscular (hipotonia), o que pode
afetar sua habilidade motora fina e grossa. Na sala de aula, o desenvolvimento
da escrita é afetado.
Estratégias:
- Oferecer exercícios extras
- Fortalecer pulso e dedos, fazendo atividades de alinhavar, seguir
tracinhos com lápis, desenhar, separar, apertar cortar etc.
- Usar materiais multi-sensoriais
d) DIFICULDADE DE FALA E DE LINGUAGEM
Problemas com a fala é típico da criança com SD, elas devem ser
atendidas por fonoaudiólogos.
Alguns fatores causam o atraso da linguagem que podem ser físico e
alguns devido a problemas cognitivos e de percepção. Qualquer atraso em
23
aprender a entender e usar a linguagem pode levar a um atraso cognitivo.
Habilidades receptivas são mais desenvolvidas do que habilidades de expressão.
As crianças com SD entendem mais do que podem expressar.
e) ATRASO NA AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM
- Dificuldade de aprender regras gramaticais, resultando num estilo
telégrafo de discurso
- Vocabulário menor, levando a um conhecimento geral menor
- Maiores problemas em aprender e usar linguagem social
- Dificuldade em compreender instruções
- Maiores problemas em entender linguagem específica apresentada no
currículo.
Além disso, quanto maior as frases maiores ficam os problemas de
articulação, por ter a boca menor e músculos da boca e da língua mais fracos
torna a formação das palavras mais difíceis.
Problemas na fala e linguagem para essas crianças normalmente
significam que menos oportunidades lhe serão oferecidas para manter uma
conversação. É mais difícil para eles pedir informação ou ajuda.
A conseqüência disso é uma criança com menos experiência de linguagem
que lhe de oportunidade de aprender novas palavras e estruturas de período,
tem menos oportunidade de praticar para tentar falar com mais clareza.
Estratégias:
- Escutar atentamente
- Falar frente a frente e com os olhos nos olhos do aluno
- Usar linguagem simples e familiar
- Reforçar a fala com expressões faciais, gestos e sinais
- Ensinar a ler e usar palavras impressas para ajudar a fala e a pronúncia
24
- Ensinar gramática com material impresso, cartões de figura, jogos,
figuras de preposição, símbolos, etc.
- Evitar perguntas fechadas e encorajar o aluno a falar além da frase
monossilábica
- Encorajar o aluno em falar em voz alta na sala dando a ele estímulos
visuais. Permitir que eles leiam a informação pode ser mais fácil para eles do que
falar espontaneamente
- O uso de um diário para casa e escola pode ajudar a contar as novidades
- Criar oportunidades onde ele possa falar com outras pessoas, por
exemplo, levar mensagens, etc.
Providenciar materiais visuais e táteis para reforçar a linguagem oral e
fortalecer as habilidades auditivas.
f) CAPACIDADE DE CONCENTRAÇÃO MAIS CURTA
As crianças têm a capacidade de concentração mais curta e são muitos
distraídos. Além disso, a intensidade do aprendizado com apoio, especialmente
quando ele se dá individualmente, é muito maior e a criança se cansa mais
facilmente.
Estratégias:
- Varie o nível de demanda de tarefa para tarefa
- Use outros colegas para manter o aluno trabalhando
- Construa tarefas curtas
- Na hora da rodinha situe o aluno ao lado do professor (sem sentar no
colo)
- Trabalhe no computador às vezes, ajuda manter o interesse do aluno
- Caixa de atividades, para ser usada quando o aluno terminou sua tarefa
antes dos colegas, essa caixa terá atividades que o aluno gosta de fazer,
25
incluindo livros, cartões, etc. Deixar que outra criança participe é uma maneira de
encorajar amizade cooperação.
g) ESTRUTURA E ROTINA
Situações informais e sem estrutura são geralmente mais difíceis para
eles, a rotina e mais fácil. Eles podem se sentir constrangidos com qualquer
mudança, pois levam mais tempo para se adaptar às mudanças na sala de aula
e nas transições.
Estratégias
- Explique sobre rotinas e regras escolares
- Crie uma grade de horários atraente: use palavras, desenhos e fotos
- Certifique que a criança sabe qual a próxima atividade
- Atenha-se a rotina sempre que possível
- Se houver alguma mudança prepare a criança antecipadamente e avise
aos pais
- Solicite a ajuda da criança na preparação das atividades dando uma
tarefa específica
Apresentados os fatores facilitadores e inibidores cabe, neste momento,
discorrer as práticas de sala de aula.
PRÁTICAS DE SALA DE AULA
Muitos alunos não se adaptam a algumas práticas da sala de aula.
Portanto os professores precisam analisar suas aulas e todo ambiente de
aprendizado na classe de forma que as atividades e os alunos sejam levados em
conta. As habilidades serão menos importantes do que os estilos de aprender de
cada aluno. É importante, por exemplo, utilizar a oportunidade e a motivação
para aprender com bons modelos que surgem quando o aluno com SD está
26
trabalhando em grupo com colegas. Estudos mostram que não apenas os alunos
com necessidades educacionais especiais preferem trabalhar em grupo, mas o
grupo cooperativo fomenta o aprendizado.
Estratégias
Decida quando a criança deve trabalhar:
- Em grupo ou em pares na classe
- Em atividades com toda classe
- Individualmente independente ou individualmente com o professor
- Decida quando a criança deve ficar:
- Com apoio do professor assistente
- Com apoio dos colegas
- Com apoio do professor da turma
- Faça um plano de educação individual para atingir determinadas áreas
que necessitam atenção.
LEITURA
A leitura é uma área do currículo em que muitas crianças podem se sair
muito bem. Como a palavra escrita faz com que a linguagem se torne visual, os
textos impressos superam a dificuldade do aprendizado pela audição.
A leitura pode ser usada para:
- Ajudar a acessar o currículo
- Ajudar o entendimento
- Melhorar as habilidades de fala e linguagem
Um fator chave ao ensinar uma criança co SD a ler é utilizar o método de
aprender a palavra completa e muitas crianças são capazes de começar a
construir um vocabulário visual de palavras familiares.
27
Isso pode significar um problema quando a exigência de que o método
fônico seja utilizado na alfabetização. Mas uma noção básica do método fonético
pode ser adquirida por muitas crianças com SD e isso deve ser introduzido
enquanto elas estão construindo seu vocabulário visual.
ESCRITA
O desenvolvimento da escrita para muitos alunos com SD é uma tarefa
muito complexa, as dificuldades de memória curta, fala e linguagem, sistema
motor e organização seqüenciamento de informação provocam um impacto
considerável na aquisição da escrita.
Áreas de especial dificuldade:
- Colocar as palavras em seqüência para formação da frase
- Organização de pensamento e informação relevante no papel
- Colocar informação em seqüência na ordem correta
Estratégias
- Oferecer apoio visual (cartão de leitura com figura ou foto e palavra),
palavras-chaves e símbolos gráficos escritos em cartões
- Oferecer métodos alternativos de memorização: sublinhar a resposta
correta, seqüência de frases com cartões, programas de computadores
específicos,
- Ajudar com recursos físicos- diferentes tipos instrumentos para escrever,
apoio tátil para empunhar o lápis, linhas grossas, quadrados no papel para limitar
o tamanho da letra, papel com pauta, quadro individual para escrever.
- Ao copiar no quadro, sublinhe ou destaque uma versão mais curta que
focalize o que é essencial para o aluno.
- Encorajar o uso da letra cursiva para ganhar fluência.
ORTOGRAFIA
Não é indicado confiar só na fonética para resolver problemas de
ortografia, a partir de uma memória visual as crianças com SD estarão
28
soletrando. Porém o desenvolvimento nesta área pode ser mais lento do que o
de seus colegas, porque elas vão ter que aprender algumas noções de fonética.
Estratégicas:
Devido às habilidades de linguagem e fala mais fraca e o vocabulário
limitado, é importante:
- Ensinar palavras que eles entendam e necessárias para matérias
específicas
- Ensinar ortografia da maneira mais visual possível
- Usar método multi-sensoriais, por exemplo, olhe-cubra-escreva-cheque,
cartões com figuras e palavras, acompanhar com o dedo as letras
- Colorir grupos e padrões de letras similares dentro da palavra
- Reforçar os significados das palavras abstratas com figuras e símbolos
- Trabalhar atividades de ortografias no computador
- Ensinar famílias de palavras simples e básicas
O CURRÍCULO
A criança com SD merece uma atenção especial quando ela passa da
primeira para a segunda série. Algumas metas devem ser alcançadas nos
primeiros anos.
As atividades devem ser modificadas e adaptadas para se adequar ao
nível de aprendizado e desenvolvimento da criança. Em alguns casos, a criança
com SD estará trabalhando num nível muito diferente, não quer dizer que o
assunto ou tópico seja diferente dos demais colegas. Com planejamento e apoio
do professor ajudante isso pode ser feito com sucesso muitas vezes.
29
CAPÍTULO III- EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Para que possamos incluir, devemos respeitas as diferenças e querer
desenvolver o indivíduo em todos os aspectos dentro do processo de
aprendizagem. Deve haver a inclusão social, respeitar as crianças com
necessidades especiais, possibilitando a convivência com os indivíduos ditos
normais, dando-lhes assim condições necessárias para a aprendizagem e o
convívio social.
Devemos proporcionar a essas crianças um ambiente saudável, longe do
preconceito.
Incluir, quer dizer que podemos deixar pertencer, adaptando-os em todos
os aspectos, fazendo aprender através de atividades não só específicas, mas
transformadas e adaptadas.
Não podemos esquecer o agrupamento do físico, intelectual, emocional e
social e trabalhar em conjunto, pois a idéia é ajudar este indivíduo, conhecer,
reconhecer socializar e se emocionar através do aprendizado.
“Mais do que nunca, não podemos ficar de fora dos acontecimentos,
precisamos entender o que significa a educação de inclusão, democrática,
voltada ao desenvolvimento das potencialidades e habilidades da criança, e
não para aquilo que o portador de necessidades especiais não consegue
fazer”. (1o ESEI)
O mérito da escola inclusiva não é apenas proporcionar uma educação de
qualidade. Sua criação constitui passo decisivo para qualquer tipo de
discriminação, criar comunidades escolares que acolham todos e conscientizar a
sociedade. Implica um processo de mudança que requer tempo para um bom
funcionamento do ensino inclusivo.
Criar escolas que atendam aos alunos especiais, exige entre outras
mudanças em diferentes áreas, reorganização das classes, da modalidade de
ensino a ser ministrado, e do papel da equipe escolar, requer um envolvimento
dos pais, alunos e da comunidade escolar no processo.
30
A inclusão resulta de um complexo processo de integração, de mudanças
quantitativas e qualitativas, necessárias para definir e aplicar soluções
adequadas.
III.1- Inclusão Social e Cidadania das Pessoas com Alguma Deficiência
Incluir quer dizer fazer parte, inserir, introduzir. E inclusão é o ato ou
efeito de incluir.
A inclusão social das pessoas com deficiências significa torná-las
participantes, assegurando o respeito aos direitos no âmbito da Sociedade,
do Estado e do Poder Público.
Algumas legislações foram fundamentais para garantir a condição de
inclusão das pessoas com deficiência, dentre elas destacamos:
A- A Declaração Universal dos Direitos Humanos
Aprovada em 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU), relaciona os
seguintes direitos que valem para todos, isto é os direitos humanos ou da
cidadania: Diretos Civis, Direitos Político, Direitos Econômicos e Direitos Sociais
B- Declaração dos Direitos das Pessoas com Deficiências
A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu em 1975 o ponto
de chegada de uma luta histórica de entidades nacionais e internacionais,
a Declaração tornou-se, em todo o mundo, o ponto de partida para defesa
da cidadania e do bem estar destas pessoas, assegurando os seguintes
direitos:
• O direito essencial a uma vida humana. Independente da
origem, natureza e gravidade de suas incapacidades, têm os
31
mesmos direitos que os outros cidadãos, o que implica no
direito de uma vida decente, tão normal quanto possível;
• Desenvolver capacidades que as tornem, tanto quanto
possível, autoconfiantes;
• Tratamento médico, psicológico e reparador;
• À segurança social econômica e um nível de bem estar
digno, segundo suas capacidades, têm direito ao emprego
ou de participar de ocupação útil e remunerada;
• Viver com a família e de participar das atividades sociais;
• À proteção contra toda a exploração e todo o tratamento
discriminatório, abusivo e degradante;
• Apoio jurídico qualificado;
• Suas famílias e a comunidade devem ser plenamente
informadas, pelos meios apropriados, dos direitos contidos
na Declaração. Percebe-se que a inclusão social depende do
seu reconhecimento como pessoas, que apresentam
necessidades especiais geradoras de direitos específicos,
cuja proteção e exercício dependem do cumprimento dos
direitos humanos fundamentais.
C- Constituição Federal
Logo no artigo 1o da constituição são mencionados dois dos fundamentos que
amparam os direitos de todos os brasileiros, incluindo,é claro, as pessoas com
deficiência: a cidadania e a dignidade.
Assim, a Constituição estabelece as seguintes normas relativas:
• Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros
que visam à melhoria de sua condição social:
32
• XXXI. Proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios
de admissão do trabalhador com deficiência.
• Art. 37 – Administração pública direta, indireta ou fundamental, de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e também ao seguinte:
• VII. A lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as
pessoas com deficiência e definirá os critérios de sua admissão.
• Art.23 – é competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios:
II cuidar da saúde a assistência publica, da educação e dar proteção e
garantia das pessoas com deficiência exercitarem a cidadania.
Algumas medidas devem ser tomadas para assegurar a educação
especializada, como: aumento da oferta de serviços de educação
especial com equipamentos, equipe qualificada, material didático
especializado e espaço físico adequado às necessidades especiais,
assim como criação de programas de preparo para o trabalho, estímulo
e aprendizagem informal e orientação a família.
O acesso de muitas crianças especiais ao ensino especializado
vem sendo prejudicado pela falta de atendimento especial
principalmente em pré-escolas, carência de recursos e equipe
qualificada, inadequação do ambiente físico, falta de novas propostas de
ensino descontinuidades de planejamento e ações.
33
III.2- Intervenção Pedagógica
A criança com SD apresenta muitas limitações, assim o trabalho
pedagógico deve respeitar o ritmo de cada criança para desenvolver suas
habilidades.
A importância de criança freqüentar a escola e dela progressivamente
adquirir conhecimento cada vez mais complexos que serão exigidos da
sociedade.
Segundo a psicogênese, o indivíduo é considerado como instrumento
essencial à interação e ação. E como descreve Piaget, o conhecimento não
procede, em suas origens, nem de um sujeito consciente de si mesmo, nem de
objetivos já constituídos e que a ele se imponham. O conhecimento resulta da
interação entre os dois.
A escola deve adotar uma proposta curricular que desenvolva a interação
sujeito objeto, envolvendo o desenvolvimento desde o começo
O ensino não deve ser teórico, deve ser de forma agradável que desperte
o interesse da criança, o lúdico e um recurso muito utilizado, pois permite o
desenvolvimento global da criança através da estimulação de diferentes áreas
Acriança com SD não consegue absorver grande numero de informação
por isso o atendimento tem que ser de forma gradual, o aprendizado deve
ocorrer de forma facilitada, através de momentos prazerosos.
É comum observarmos evolução de movimentos estereotipados. A
atividade física na escola tem proporcionado um grande desenvolvimento global
que será a base para as demais aquisições A educação física regata a
importância do corpo e seus movimentos.
Antes de a criança adquirir qualquer conhecimento ela precisa descobrir
seu corpo e seus seguimentos, relação do corpo com objeto, espaço entre o
corpo e o objeto, percepção dos planos horizontal e vertical entre outros. São
fundamentais para a relação sujeito-meio, que será pano de fundo de toda
aprendizagens.
34
Todas as atividades proporcionadas à criança devem ter por objetivo a
aprendizagem ativa, que possibilite a criança a desenvolver suas atividades. O
professor deve conhecer as dificuldades de aprendizagem de cada criança de
forma a organizar seu trabalho e programação didática. A partir daí o professor
escolhe a técnica que mantenham a criança atenta e motivada. Em termos de
ambiente procura-se evitar o aparecimento de variáveis que possam bloquear o
processo e por isso muitas vezes são utilizados salas de recurso, que são
classes especiais inseridas na escola comum.
A sala de recursos é um local apropriado a receber as crianças especiais,
que deverão ter assistência pedagógica especializada. Assim a sala de recursos
funciona desenvolvendo com as crianças especiais as atividades, que já
trabalhou com seus demais colegas. O professor de recurso deve priorizar as
dificuldades da criança que precisa de auxilio. É fundamental que esse professor
da sala de recurso esteja preparado para as necessidades das crianças e
sempre em sintonia com o professor da classe regular.
Alguns princípios básicos devem ser considerados:
• As experiências devem ser adquiridas no ambiente próprio do
aluno;
• Situações estressantes devem ser evitadas;
• A criança deve ser respeitada;
• As atividades devem ser centradas em coisas concretas, que
devem ser manuseadas pelos alunos;
• A família da criança deve participar do processo intelecto.
A classe especial é a estratégia atualmente mais indicada para o trabalho
com crianças especiais, pois permite a integração destas na sociedade.
35
III.3- A Família e a Educação
É de fundamental importância que a família esteja presente em todos
os momentos, participando em conjunto com os profissionais.
Os pais e familiares da criança com SD necessitam de informações
sobre a natureza da excepcionalidade; quanto aos recursos existentes para
tratamento e educação. Auxiliar aos familiares requer prestar informações
adequadas que permitam aliviar a ansiedade e diminuir as dúvidas.
O objetivo principal é ajudar os pais a lidar com os problemas,
decorrente com as deficiências, alguns pontos são importantes: ouvir as
dúvidas e questionamentos, utilizar termos mais fáceis e que facilitem a
compreensão, promover melhor aceitação do problema, trabalhar os
sentimentos e atitudes, aconselhar a família inteira, e facilitar a interação
social do portador de necessidades especiais.
Através de ações a família e os profissionais passam a trocar
experiências, fazendo assim aproximação ficar mais atenuante e a própria
mudança de olhar em relação ao ser, despertando a importância da
solidariedade e da afetividade.
A superproteção dos pais pode influenciar de forma negativa no
processo de desenvolvimento da criança e normalmente os pais dão mais
atenção às deficiências da criança de modo que o fracasso receba mais
atenção que os sucessos e a criança fica limitada nas possibilidades que
promovam a independência e a integração social.
“As habilidades de autonomia pessoal e social
proporcionam melhor qualidade de vida, pois
favorece a relação, a independência, interação,
satisfação pessoal e atitudes positivas”.
(BROWN,1989)
36
CONCLUSÃO
O presente trabalho objetivou analisar os aspectos educacionais
associados às crianças e adolescentes com síndrome de Down,
principalmente no que concerne à sua inserção na sociedade como
verdadeiros cidadãos, por meio da educação inclusiva. Para tal, foi realizada
pesquisa do tipo bibliográfica junto a especialistas nas áreas médica e
educacional.
Com relação ao aspecto clínico, foi possível caracterizar a doença,
suas origens de ordem genética, os dados estatísticos de incidências e
prevalências, que mostram a evolução da síndrome em escala global, suas
características fenotípicas, que facilitam o diagnóstico já na fase neonatal, e
as questões ambientais, como a influência da idade materna no aumento da
incidência.
No que tange aos aspectos educacionais, foi analisado o marco
regulatório existente no Brasil, com ênfase na LDB, bem como a visão da
Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a questão dos direitos dos
portadores de deficiências.
Em seguida discutiu-se a educação das crianças com SD, com
enfoque nos fatores que dificultam a aprendizagem desses indivíduos e as
possíveis estratégias educacionais, com maior destaque para a educação
inclusiva e o papel da família neste processo.
Os dados obtidos levaram à constatação de que a família é primordial
para a aquisição da linguagem oral, principalmente nos primeiros anos de
vida. Para o desenvolvimento normal da criança, a estimulação na fase
inicial da vida é extremamente importante, pois minimiza as ocorrências de
déficits de linguagem na primeira infância, que poderão trazer sérias
conseqüências futuras.
Outro ponto observado é o de que a educação inclusiva é
determinante no processo de estimulação inicial e cabe aos professores de
turmas especiais trabalharem suas crianças desenvolvendo, nestas, a
37
capacidade de participar das atividades familiares e cotidianas, a
desenvolverem seu direito de cidadania e até mesmo a desenvolver uma
atividade profissional. Para isso, profissionais especializados devem ser
utilizados e cuidados especiais ser tomados, a fim de facilitar e possibilitar
um maior rendimento e desenvolvimento educacional dos portadores da tal
síndrome.
Enfim, as necessidades da criança de vivenciar experiências e a
importância da estimulação possibilitariam seu desenvolvimento,
respeitando suas deficiências e explorando suas habilidades. Este estudo
permite aos familiares aumentarem suas possibilidades de intervenção e
observação, objetivando aprimorar a aprendizagem de seus filhos, que têm
dificuldades como qualquer outra criança, mas que são capazes de vencê-
las e se desenvolverem.
Observa-se, dessa maneira, que a presente proposta facilitará o
aprendizado das crianças e adolescentes com SD, possibilitando a sua
inserção na sociedade como verdadeiros cidadãos, possuidores de direitos
específicos, previstos pela Constituição Federal.
Recommended