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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO “A VEZ DO METRE”
EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO
A UTILIZAÇÃO DA LITERATURA COMO RECURSO
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Aluna: Cristiane Assumpção Corrêa
Migueres Barbosa
Rio de Janeiro, 15 de fevereiro de 2005.
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO
A UTILIZAÇÃO DA LITERATURA COMO RECURSO
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Trabalho monográfico apresentado como
requisito parcial para obtenção do
grau de Especialista em Educação Infantil e
Desenvolvimento.
Orientadora: Profª Mary Sue
3
Dedicação
Dedico este trabalho a uma criança que
representa todas aquelas que eu gostaria que tivessem
o privilégio do contato com os livros desde o momento
que nascem: o meu filho Bruno. Apesar dele ainda não
ter nascido, já reservei um lugar no seu quarto para
fazer o seu “cantinho da imaginação”, com livros de
plástico, papel, pano e borracha e vários fantoches.
Assim, eu pretendo contribuir para o desenvolvimento
do seu potencial criador, para no futuro ele se
tornar um cidadão com poder imaginário, inventivo e
inovador na nossa sociedade.
4
Agradecimento
Os livros são uma fonte interminável de magia,
conhecimento, descoberta, fantasia e aprendizagem. E
é por isso que o meu agradecimento vai para esse
“ser-objeto” que tem o poder de encantar, de nos
fazer refletir, de nos fazer experimentar, de nos
fazer viajar em qualquer tempo e por qualquer espaço
sem sequer nos levantarmos da cadeira. Agradeço aos
livros que, em vários momentos dos meus 30 anos,
passaram pela minha vida e deixaram a sua
contribuição. Só assim eu pude me tornar uma cidadã
estimulada a promover, através de trabalhos como
este, a conscientização de que toda criança precisa
ter contato com a literatura desde os primeiros anos
de vida.
O meu “muito obrigado” também vai para alguém
muito especial, que esteve sempre ao meu lado, e me
incentivou a retornar à área da educação: meu marido.
5
Sem a sua força e compreensão, eu não conseguiria
tornar o meu sonho possível.
Sumário
Resumo Informativo
.....................................................
....................................................
7
Capítulo I -
Introdução...........................................
.....................................................
..... 8
Capítulo II – Como Tudo Começou
2.1 – A visão histórica
................................................
.......................................11
6
2.2 – A literatura infantil
................................................
.................................12
Capítulo III – A Magia dos Contos de Fadas
3.1 – Um mundo encantado
................................................
..............................14
3.2 – Breve histórico sobre os contos de fadas
.......................................15
3.3 – Desvendando um mito
................................................
............................17
3.4 – O significado dos contos de fadas
................................................
.... 19
3.5 – Um olhar psicanalítico sobre os contos de
fadas .........................23
3.6 – Bruxas, fadas e heróis ... e suas
significações .............................. 26
3.7 – Visões moralizantes X momentos
aterrorizantes ..........................30
7
3.8 – Por que a bruxa tem que morrer no final?
........................................ 35
3.9 – O complexo edípico
................................................
.................................. 36
Capítulo IV – A Importância da Família
4.1 – Ouvir histórias: um momento de prazer
............................................. 40
4.2 – Família – a principal mediadora
................................................
.......... 42
Capítulo V – Contar Histórias: Uma Arte Mágica
.................................................. 44
Capítulo VI – Muito Prazer Sr. Livro
6.1 – O primeiro presente
................................................
................................ 48
6.2 – A criança e o livro
................................................
.................................. 49
8
6.3 – Ilustração: uma importante linguagem
........................................... 51
Capítulo VII – A Biblioteca Escolar
7.1 – O acesso aos livros
................................................
.................................. 54
7.2 – Escola e biblioteca: duas aliadas
................................................
....... 55
7.3 – As ações
................................................
................................................
.... 56
7.4 – Serviços e atividades oferecidas pela Rede
de
Bibliotecas Populares do Rio de Janeiro
................................................
... 57
Capítulo VIII – O Potencial Criador da Criança
8.1 – Criatividade é um
dom?............................................
.............................. 61
9
8.2 – Imaginação, criatividade,
escola..........................................
.............. 62
8.3 – Algumas práticas que dão certo
................................................
..... 63
Capítulo IX –
Conclusão............................................
.....................................................
. 66
Resumo Informativo
Esse trabalho pretende levar pais e professores
a uma reflexão e conscientização sobre a importância
da leitura e do acesso aos livros em todas as fases
da vida do ser humano, principalmente na primeira
delas: a infância.
A imaginação é o único trunfo que nos resta para
lidarmos com diversas situações que aparecerão ao
longo de nossas vidas. Aqui, os leitores poderão ter
uma noção do poder que a literatura infantil
(principalmente os contos de fadas) tem para
contribuir com o desenvolvimento do potencial
criador, inventivo e inovador de qualquer ser humano.
Poderão também obter algumas dicas sobre os livros,
como trabalhar melhor seus conteúdos, e de como e
quando apresentá-los às crianças.
A magia oferecida pela literatura infantil
fascinou, encanta e envolverá todos aqueles que param
para ler e/ou ouvir histórias, desde um inocente bebê
até o mais antigo e sábio ancião.
Capítulo I Introdução
Hoje, em meio a tantas formas de comunicação
pelas quais somos bombardeados, fica um pouco
complicado entender a importância de um livro, um
mero livro que alguém escreveu a ser lido por outro
alguém.
Ler é uma grande viagem, uma aventura do
espírito, algo que nos faz ir além e além. Mas, como
ir além? Refletindo, concordando, esclarecendo com
pais e professores a importância da leitura em todas
as fases da vida do ser humano, principalmente na
primeira delas: a infância. Quando uma criança viaja
com a leitura, ela não está sendo passiva, isto é,
não está vendo televisão onde tudo é apresentado a
ela como “produto acabado”. Ao contrário, na viagem
da leitura, a própria criança-leitora passa a ser o
próprio mocinho ou bandido atuando na história.
Como sabemos, as crianças pequenas adoram ouvir
histórias todos os dias, contadas pelos pais, avós e
professores, e é com esta finalidade que venho
apresentar este trabalho: levar ao conhecimento de
pais e educadores a importância da literatura na fase
da educação infantil. A leitura nunca deveria ser
considerada privilégio de uma minoria; todos os
esforços devem ser direcionados para a ampliação do
número sempre crescente de pessoas que lêem,
principalmente de crianças. Já que o hábito da
leitura deve vir do berço, é preciso conscientizar
aqueles que convivem com crianças na 1ª infância que,
dentre várias responsabilidades, uma das mais
importantes é estimular esse contato.
Grandes pensamentos podem ser preservados dentro
de uma história. As crianças, além de se encantarem
com cenários e personagens, guardam idéias que serão
plantadas como sementes, irão crescer, criarão raízes
e então elas irão aprender. A história pretende
mostrá-las a realidade do mundo antes que elas sejam
machucadas lá fora.
Um dos maiores poderes da leitura/contação de
histórias é o desenvolvimento da imaginação. Quem não
a tem, não está seguro no mundo atual. Com imaginação
as crianças podem fazer uma escolha segura dos
caminhos a seguir antes de fazer uma opção. É um bom
exercício para a vida. Ela pode ser considerada um
músculo e por isso precisa ser exercitada,
principalmente pelas crianças.
No decorrer deste trabalho será mostrado como a
contação de histórias faz parte do cotidiano das
pessoas desde o tempo da antigüidade; que riqueza
trazem os contos de fadas para o desenvolvimento de
quem os escutam; qual o papel da família e da escola
enquanto mediadoras de leitura; que características
deve ter um bom contador de histórias; que relações a
criança estabelece com o livro desde que nasce; qual
a importância da ilustrações do livro infantil; quais
as últimas ações que o governo fez para o incentivo à
leitura; e, por fim, demonstrar como a literatura
influencia no desenvolvimento do imaginário e da
criatividade da criança para que ela possa ser tornar
um exemplo de futura-cidadã.
Ao final de todo o trabalho de pesquisa
bibliográfica, pude concluir que: crianças que têm
oportunidade de ouvir histórias infantis nos
primeiros anos de vida conseguem desenvolver, com
mais facilidade, o seu poder de criatividade e
imaginação e, conseqüentemente, terão maiores
condições de se tornarem cidadãos seguros, com
pensamento claro, crítico, inventivo e inovador.
Capítulo II Como Tudo Começou
2.1 - A visão histórica
A humanidade sempre contou histórias para se
comunicar, se entender, se explicar, para provocar
emoções, informar, passar valores e ensinamentos.
Tudo isso mesmo antes da escrita.
Sabe-se que há muitos e muitos séculos,
quando os homens viviam nas cavernas,
costumavam participar de um ritual: reuniam-se em
volta de uma fogueira e o feiticeiro da tribo
contava uma história. As primeiras histórias
falavam da origem dos seres e das coisas, de
heróis invencíveis, deuses em seus mundos encantados
e viagens extraordinárias.
Muitas coisas aconteceram desde aquela época.
Agora temos automóveis, aviões e computadores, mas as
histórias jamais perderam a sua importância. As
lendas do folclore mundial continuam a nos encantar
em livros, revistas em quadrinhos, peças de teatro,
desenhos animados, filmes para televisão ou cinema.
E, até hoje, sempre que alguém senta para contar uma
história, pratica a deliciosa arte de abrir as portas
da imaginação. Afinal, o tempo passa, as pessoas
mudam, mas certas coisas, de tão boas, permanecem.
O ato de contar histórias consiste numa das
primeiras necessidades culturais – já que permite a
transmissão de expectativas coletivas – cada época
dita a forma pela qual tais necessidades
corporificam-se. Com o avanço da tecnologia, novas
técnicas de impressão, de ilustração, de utilização
da linguagem foram sendo apropriadas ao texto
literário, bem como novas idéias foram sendo
transmitidas. Assim também aconteceu com a literatura
infantil quando passou a constituir uma estrutura
literária permeável ao progresso da civilização e às
novas necessidades da sociedade.
2.2 - A Literatura Infantil
A origem da literatura infantil aconteceu ao
final do século XVII, quando surgiu uma nova
mentalidade em relação à criança. Até então, a
infância, enquanto período do desenvolvimento humano,
com particularidades que deveriam ser respeitadas,
era inexistente. Quando a estrutura econômica e
social passou por drásticas transformações (com a
decadência do modelo aristocrático) a família começou
a se organizar diferentemente. Então, o modelo
burguês de sociedade propôs uma nova estrutura
familiar, tornando-se exclusivista e protecionista em
relação à criança. A partir daí surgiram estudos
sobre a infância nas várias áreas do conhecimento, já
que era preciso formar homens melhor preparados para
a vivência social.
A literatura infantil passou a desempenhar um
papel fundamental neste contexto: contribuir na
formação dos futuros cidadãos. Assim, apareceram, a
princípio, Jean La Fontaine, Charles Perrault, Mme.
D’Aulnoy e Fénelon.
Nessa medida, foram produzidos textos
especialmente destinados à criança e outros, que
embora, a priori, tenham sido propostos aos adultos,
foram adotados pelo público mirim por atenderem aos
seus interesses ou porque passaram por um processo de
adaptação. Assim, a literatura infantil surgiu
vinculada a uma clara proposta pedagógica, o que
deixa marcas ao longo de sua evolução, comprometendo
o seu valor artístico.
A obra literária infantil promove um repensar
sobre a realidade do infante; realidade que pressupõe
entre outras coisas, a submissão ao mundo adulto e o
conseqüente desejo de superação da fase infantil,
como forma de aquisição de uma identidade
independente e/ou a rejeição dessa realidade que
pressiona, dirige, oprime. É através da linguagem
simbólica que essa realidade se “reapresenta” à
criança, oferecendo uma possibilidade de reflexão, já
que é proposta em termos de ficção, de representação
de mundo.
Capítulo III A Magia dos Contos de Fadas
3.1 - Um mundo encantado
Embora outras formas de criação literária
destinadas ao público infantil tenham surgido, os
contos de fadas, efetivamente, imprimem uma marca à
literatura infantil, já que, por muito tempo, se
configuram como paradigma do gênero.
Todos nós, em algum momento de nossas infâncias,
já vivemos sob os encantos dos contos de fadas.
Também já vimos nossos filhos ou alunos se deleitarem
com eles. É indescritível a riqueza pedagógica que os
contos de fadas podem trazer para a escola. O susto,
o prazer, o medo, o encanto, a tristeza, a alegria,
enfim, as dezenas de sentimentos misturados e
expressos nos rostos das crianças, ao ouvir histórias
na roda, nos faz perguntar: O que os contos de fadas
despertam no imaginário das crianças que tanto as
fascina, e por que são tão importantes para elas?
Como explicar o eterno encantamento que os contos de
fadas provocam nas pessoas? Por que gerações e
gerações de pais continuam a ler e a transmitir para
seus filhos essas e outras histórias infantis? A
resposta para todas estas questões está resumida numa
simples frase dita por Friedrich Schiller:
“Há mais sentido nos contos de fadas
que me contaram na
infância do que qualquer verdade que é
ensinada na vida”.
3.2 - Breve histórico dos contos de
fadas
Os contos de fadas existem há milênios. Em
diversas culturas, em todos os continentes, existem
histórias com estruturas e narrativas semelhantes aos
contos que conhecemos hoje, e que são de origem
européia. Apenas para citar um exemplo, a história de
Cinderela tem um registro, de narrativa muito
semelhante à sua, na China do século IX d.C. A origem
da literatura infantil se confunde com o registro
escrito dos contos de fadas (pois eles já existiam na
cultura oral muito antes disso).
Considerado por muitos, o primeiro autor a
escrever para crianças, no século XVII, o francês
Charles Perrault, foi o primeiro a coletar e
organizar contos de fadas em um livro. Perrault
ouvia as histórias de contadores populares, e
então as adaptava ao gosto da corte
francesa, acrescentando ricos detalhes
descritivos, bem como diminuindo os trechos que
conotavam os rituais da cultura pagã popular (pois
vivia sob o contexto de conflito religioso entre
católicos e protestantes da época da Contra-Reforma
Católica). Também, ao final da narrativa, escrevia
sob a forma de versos, a “moral da história”,
traduzindo sua preocupação pedagógica, segundo a qual
as histórias deveriam servir para instruir moralmente
as crianças. Assim, desde o seu primeiro registro, os
contos de fadas já começaram a ter seus detalhes, de
enorme riqueza simbólica, deturpados. Perrault
escreveu várias obras para adultos, mas foi
imortalizado pelo único volume que escreveu para
crianças, “Contos da Mãe Gansa”.
Na Alemanha do século XIX, os irmãos Jacob e
Wihelm Grimm também realizaram um trabalho de
coletânea de contos populares. Sendo filólogos, seus
interesses iniciais eram de coletar tais contos para
estudar a língua alemã e registrar seu folclore, de
modo a recuperar a realidade histórica do país. Os
contos que coletaram foram publicados nos dois
volumes de sua obra, “Contos da Criança e do Lar”,
que jamais pretendeu ser um livro infantil (dado seu
objetivo inicial) mas que foi adotado e lido por
crianças e famílias do mundo inteiro.
Os Grimm jamais escreveram qualquer dos contos
incluídos em suas obras. Eles meramente compilaram,
com base nos relatos de amigos e parentes sobre as
histórias que circulavam a séculos por toda a Europa
Central. Tiveram o mérito de registrar suas histórias
nas versões originais, sem as adaptações e lições
morais de Perrault.
Somente a partir do século XIX, os contos de
fadas se transformaram em literatura infantil. Isso
aconteceu, em parte, em função das atividades de
vendedores ambulantes, conhecidos como “mascates” que
viajavam de povoado em povoado vendendo artigos
domésticos, partituras e pequenos volumes, chamados
cheap books, ou livros baratos (em português).
Custavam apenas alguns centavos e continham histórias
folclóricas drasticamente cortadas e contos de fadas
simplificados de modo a atrair públicos menos
literatos.
Depois da publicação dos trabalhos de Perrault e
dos Grimm é que surgiu a literatura infantil de fato,
com vários autores do mundo inteiro escrevendo para
crianças.
3.3 - Desvendando um mito
Um número substancial dos contos de fadas
escritos nos séculos XVII e XIX nunca chegaram a
fazer parte das coletâneas das obras publicadas para
o público infantil. A razão é simples: originalmente,
os contos de fadas nunca foram feitos para as
crianças. Isso é um mito. Concebidos como
entretenimento para os adultos, os contos de fadas
eram contados em reuniões sociais, nas salas de fiar,
nos campos e em outros ambientes onde os adultos se
reuniam – não nas creches. É por isso, que muitos
destes, em suas versões integrais, incluem
exibicionismo, estupro e voyeurismo. Em uma das
versões de Chapeuzinho Vermelho, a heroína faz um
strip-tease para o lobo, antes de pular na cama com
ele. Numa das primeiras interpretações de A Bela
Adormecida, o príncipe abusa da princesa em seu sono
e depois parte deixando-a grávida. E no conto A
Princesa que Não Conseguia Rir, a heroína é condenada
a uma vida de solidão porque, inadvertidamente, viu
determinadas partes do corpo de uma bruxa. Até o
século XVIII, os contos de fadas eram dramatizados
exclusivamente em salões parisienses, onde eram
considerados divertissements para a elite mais culta.
Observa-se então que a nossa sociedade encontrou
uma saída para resolver esse problema: realizou um
crescente processo de banalização dessas histórias.
Sob o império de Walt Disney ou de acordo com
puritanismos religiosos, os contos, herança
cultural da humanidade, têm sido deturpados,
perdendo suas características originais. Mas as
razões comerciais também tiveram o seu papel nisso.
Esses contos disneyficados têm um efeito extremamente
mais vendável que os contos originais. O mercado
infantil para os contos de fadas, alimentado por um
crescente reconhecimento de que as crianças tinham
interesses próprios e exclusivos, aumentava
tremendamente – e os editores estavam mais dispostos
a investir seu dinheiro em livros que os pais
consideravam aceitáveis.
3.4 - O significado dos contos de
fadas
Então, o que torna os contos de fadas tão
cativantes? A explicação mais óbvia é que os contos
de fadas são uma fonte incomparável de aventuras
repletas de suspense que exercitam a imaginação; são
mais do que mero entretenimento. Por trás das cenas
de perseguição e dos resgates no último minuto, há
dramas sérios que refletem eventos que acontecem no
mundo interior da criança. Embora o atrativo inicial
de um conto de fada possa estar em sua capacidade de
encantar e entreter, seu valor duradouro reside no
poder de ajudar as crianças a lidarem com seus
conflitos internos enfrentados no seu processo de
crescimento. Além de serem aventuras mágicas, esses
contos auxiliam as crianças a conviverem com as lutas
internas que são partes da sua vida diária. Mas que
lutas são essas? Sheldon Cashdan, autor do livro “Os
sete pecados capitais nos contos de fadas”, diz que:
“Os contos de fadas ajudam as crianças a
lidarem com seus conflitos psicológicos,
ao projetarem nos personagens suas lutas
internas entre o bem e o mal, além de
proporcionarem a elas a chance de lidar
com seus pecados capitais: vaidade,
gula, inveja, luxúria, mentira, avareza
e preguiça”.
• VAIDADE - Branca de Neve pode ter um significado
especial para uma criança que esteja lidando com
questões ligadas à aparência e ao potencial de ser
desejada – assunto que costuma preocupar muito as
crianças. Nesta clássica história, a vaidade é levada
até as últimas conseqüências. Não apenas a rainha é
obcecada por se a mais bela do reino, como também
Branca de Neve deseja possuir fitas e pente para
mostrar a sua sensualidade (na história original, a
bruxa tenta envenená-la com fitas e com um pente
antes de oferecer-lhe a maçã). O ato dos anões de
colocarem a princesa num caixão de vidro também
demonstra como a vaidade pode encobrir tudo.
A embalagem transparente transforma Branca de Neve
num objeto de exibição e diminui a importância de
outros aspectos da suas personalidade.
• GULA - Num conto de fada, para qualquer lado que se
olhe tem alguém tentando conseguir comida, ou
tentando, desesperadamente, não virar comida. João e
Maria é um clássico que retrata os perigos potenciais
da gula em termos claros e diretos, porém começa com
uma família que sofre com a escassez de comida. Ele é
o mais importante conto sobre a auto-indulgência em
relação aos abusos alimentares. Demonstra o que pode
acontecer quando o apetite de alguém fica fora de
controle. Embora João e sua irmã tenham boas razões
para estar com fome, eles continuam a devorar a casa
da bruxa mesmo que já saciados e com isso se expõem
ao perigo.
• INVEJA - Na versão de Cinderela dos irmãos Grimm, a
inveja emerge como uma dinâmica bastante notória, e
transparece tanto a inveja que a madrasta tem da
posição inicial de Cinderela no seio da família, como
a inveja que Cinderela tem dos privilégios usurpados
por suas irmãs adotivas. Se o dilema tem de ser
resolvido com sucesso, ou seja, se a história tem que
ter um final feliz – a inveja precisa ser encarada ou
destruída, ou pelo menos, condenada. Isso é
nitidamente retratado na vida real, de modo a expor
às crianças as conseqüências do ciúmes. O conto
explica que dominar o ciúme é um objetivo louvável e
traz a esperança de relacionamentos mais
satisfatórios.
• MENTIRA - A Menina dos Gansos é um conto que mostra
o preço que se paga quando se leva a mentira às
últimas conseqüências. Essa história, da coleção dos
irmãos Grimm, fala de uma serva que usurpa a
identidade de sua dona para poder se casar com um
príncipe numa terra distante. Logo ao chegar, ela
engana a corte e faz com que todos acreditem que ela
é a verdadeira princesa. Os contos de fadas que
retratam a mentira ajudam a combater certas
tendências do eu que minam os relacionamentos
importantes. As situações que envolvem a mentira
avolumam ao longo da vida e às vezes é difícil saber
o que fazer. Os contos não pretendem dar as
respostas, mas ensinam aos leitores que há questões
importantes a serem consideradas quando a verdade
está na berlinda.
• LUXÚRIA - Nas primeiras versões de Rapunzel, a
bruxa descobre as visitas do príncipe quando percebe
que a cintura de Rapunzel está engrossando e
desconfia de algum indício de gravidez. Algumas
histórias, como esta, podem ser úteis para explorar
os aspectos físicos e psicológicos da luxúria. Os
contos de fadas que têm conotações sexuais
normalmente não lidam com o sexo em si, e sim com a
sexualidade precoce. As mensagens sexuais são
normalmente indiretas de modo que a criança não tem
de lidar com um assunto que não tem condição de
administrar. Vivemos numa época em que as crianças
são cada vez mais expostas aos aspectos mais vulgares
do sexo na televisão e nas revistas, e pode ser bom
apresentar para elas um contexto de que sexo é
comprometimento e carinho.
• AVAREZA - João e o Pé de Feijão é um dos primeiros
entre os contos de fadas cujo foco é avareza. As
crianças que ouvem a história costumam ficar
impressionadas com a esperteza e a ousadia de João,
e de que ele é tão avarento quanto o gigante.
Afinal, ele sobe no pé de feijão uma
terceira vez para roubar uma harpa dourada e se
expõe ao perigo desnecessariamente, já que tinha em
suas mãos uma fonte inesgotável de riqueza: a galinha
dos ovos de ouro.
• PREGUIÇA - Pinóquio, de Collodi, é a história de
uma marionete que precisa superar a sua preguiça de
modo a se tornar um menino de verdade. É uma
representação clássica da preguiça e de suas
conseqüências.
3.5 - Um olhar psicanalítico sobre os
contos de fadas
Com o advento da psicanálise, estudiosos do
mundo inteiro passaram a se interessar não apenas
pela interpretação de sonhos, mas também pela análise
de mitos, lendas e ... contos de fadas! Hoje, pode-se
compreender a profunda riqueza simbólica e a
utilidade dessas histórias, que são parte importante
de nosso patrimônio cultural. Segundo Cashdan, os
contos de fadas têm uma missão psicológica: resolver
lutas internas entre as forças positivas e negativas
do eu.
Diante de uma visão psicanalítica, pode-se
responder à seguinte pergunta: o que os contos de
fadas despertam no imaginário das crianças que tanto
as fascina, e porque eles são importantes para elas?
Ou, em outras palavras: afinal, porque as crianças
adoram, pedem para que sejam recontados centenas de
vezes, e assim fazem com que essas narrativas venham
perdurando através dos séculos?
Para entender essa questão é preciso pensar um
pouco sobre o desenvolvimento da psique humana, pois
os contos de fadas são tão fascinantes porque
simbolizam o processo que percorremos nesse
desenvolvimento. Para a psicanálise, nossa psique se
constitui de três estruturas dinâmicas: o id
(princípio do prazer), o ego (princípio da realidade)
e superego (princípio moral). Dessas três estruturas,
nascemos dotados apenas do id, sendo que as outras
duas estruturas terão de ser construídas na relação
do sujeito com o mundo que o cerca. O id é a fonte de
nossa energia original (libido), que nos sustenta e
motiva a mover-nos em direção ao mundo, buscando
satisfazer nossos desejos (pulsões). Mas o id não se
preocupa que esses desejos se realizem de forma
correta. Ele se satisfaz com realizações
alucinatórias, através de imagens que condensam
muitos desejos num só objeto criado pela imaginação.
Também não se preocupa com o tempo e espaço. Para o
id tudo o que acontece é aqui e agora.
As crianças pequenas, que passarão ainda por
longo processo de sublimação dos desejos libidinais
do id, estão sob forte influência desse aparelho da
mente, e a linguagem simbólica não-verbal desses
contos comunica-se diretamente com o imaginário da
criança. Como nos diz a pedagoga brasileira Fanny
Abramovich, tentando responder à nossa mesma pergunta
do porquê os contos de fadas causam tanto fascínio:
“Por que? Porque os contos de fadas
estão envolvidos no maravilhoso, um
universo que denota fantasia, partindo
sempre de uma situação real, concreta,
lidando com emoções que qualquer criança
já viveu... Porque se passam num lugar
que é apenas esboçado, fora dos limites
do tempo e do espaço, mas onde qualquer
um pode caminhar ... (...) Porque todo
esse processo é vivido através da
fantasia, do imaginário, com intervenção
de entidades fantásticas (bruxas, fadas,
duendes, animais falantes, plantas
sábias...).”
Em outras palavras, os contos de fadas, ao se
iniciarem com sua clássica forma do “Era uma vez um
reino distante...” são tão atemporais quanto o id. O
reino do qual o conto fala pode ser qualquer um, em
qualquer lugar, bem como ser aqui e agora,
despertando assim a identificação imediata da criança
com o conto.
3.6 - Bruxas, fadas e heróis... e
suas significações
Os personagens típicos (bruxas, fadas etc) dos
contos não são puras criações da mente de seus
autores. São representantes talhadas pela humanidade
durante os milênios para simbolizar os seus
sentimentos mais profundos. Eles condensam todos
esses sentimentos numa forma de representação não-
verbal que também é utilizada pelo id, muito
semelhante à forma como as crianças pensam sobre suas
próprias emoções. Os personagens dos contos de fadas
têm determinadas características que provocam esses
sentimentos. Em primeiro lugar, eles não têm nome
próprio, mas sim nomes que são ligados às suas
características físicas e emocionais: “Branca de
Neve” tem esse nome porque sua pele é branca como a
neve; “Bela Adormecida” assim se chama porque de fato
adormece por 100 longos anos e “Gata Borralheira” tem
essa alcunha porque suas irmãs invejosas obrigam-na a
dormir no borralho (cinza), significado de onde
também vem seu outro nome “Cinderela”. Isso faz com
que identificar-se com o personagem torne-se mais
fácil. Não tendo nome, ele não tem uma identidade
própria, e assim pode emprestar sua personalidade ao
ouvinte enquanto ele acompanha a narrativa.
Também os personagens de contos de fadas não têm
idade cronológica definida; podemos dizer que sua
idade situa-se, aproximadamente, entre 8 e 80 anos.
Os heróis em geral são dotados de características tão
presentes na infância (medo, vergonha, ingenuidade
etc) quanto na adolescência (desejo de conhecer e
dominar o mundo, autonomia, espírito aventureiro,
paixões arrasadoras e platônicas). Seus familiares
também não têm idade definida; a mãe tem idade para
ser qualquer mãe e o pai idade para ser qualquer pai,
sejam brotinhos ou quarentões. Os personagens que se
interpõem em seus caminhos, como gnomos, duendes
feiticeiros, espíritos de toda a sorte (que podem,
inclusive, estar encarnados em plantas ou animais)
são, em geral, anciões, velhos muito velhos,
apresentando a sabedoria advinda de bastante
experiência pela vida e que será passada ao jovem
aventureiro. Desse modo, os contos encantam pessoas
de qualquer faixa etária, pois reproduzem, em seu
enredo, a passagem por todos os estágios da vida
humana.
Outra característica peculiar dos personagens de
contos de fadas é o maniquísmo. Nos contos, ou o
personagem é o herói “completamente bom”, ou o vilão
“completamente mau”. Dessa forma, os personagens
funcionam da mesma maneira que a mente infantil. A
criança pensa sob uma espécie de esquizofrenia, na
qual ela tende a separar os objetos de sua afeição em
bons ou maus, pois é difícil para ela aceitar que
alguém que ela ama possa negar-lhe, por vezes, a
realização de seus desejos, e desgostar-se com isso,
sem , contudo, deixar de amar a pessoa querida. Essa
é uma característica advinda ainda do bebê, que ao
ser amamentado, vê a mãe “boa” que o alimenta, bem
como a mãe “má” que o desmama. A fim de assim poder
manter o relacionamento amoroso com a mãe, projeta as
características negativas em algum outro objeto que
ele possa rejeitar.
Esse pensamento mágico, que projeta no outro as
suas próprias deficiências, perdura durante toda a 1ª
infância e retorna na adolescência. Por isso, é muito
fácil para as crianças e jovens identificarem-se com
os personagens do conto, que também assim se
estruturam. É bom ressaltar que ao fazê-lo, a criança
não nega sua própria parte má, pois ela não
identifica apenas com a “Chapeuzinho Vermelho”
boazinha, mas também com o “Lobo Mau” (cujo nome
já dispensa comentários acerca do seu caráter).
Dessa forma, os contos de fadas, através das
identificações que os ouvintes estabelecem com seus
personagens, desempenham um importante papel para a
saúde mental das crianças, permitindo-lhes elaborar
seus sentimentos mais profundos e contraditórios. É
bem verdade que esse tipo de identificação, através
do jogo simbólico, está presente em muitas das
brincadeiras espontâneas infantis, como brincar de
casinha, médico, e tantas outras brincadeiras que
qualquer criança faz, sem que seja necessária a
intervenção de um adulto. Mas nos contos, essas
fantasias adquirem uma dimensão mais ampla e
profunda. Segundo Bruno Bettelheim:
“Na brincadeira normal, objetos tais
como bonecas e animais de brinquedo são
usados para incorporar vários aspectos
da personalidade da criança que são
muito complexos, inaceitáveis e
contraditórios para ela enfrentar. Isso
permite que o ego da criança consiga
algum domínio sobre estes elementos, o
que ela não pode fazer quando solicitada
ou forçada pelas circunstâncias a
reconhecê-los como projeções de seus
processos internos. Algumas pressões
inconscientes nas crianças podem ser
elaboradas na brincadeira. Mas muitas
não se prestam a isso porque são muito
complexas e contraditórias, ou muito
perigosas e socialmente desaprovadas.”
Essas pressões inconscientes profundas não
poderiam ser representadas pela criança numa
brincadeira, devido ao seu conteúdo potencialmente
violento e destrutivo, mas estão representadas no
universo simbólico dos contos de fadas, através das
vitórias dos heróis e da crueldade que os vilões dos
contos de fadas podem desempenhar.
3.7 - Visões moralizantes X momentos
aterrorizantes
Há quem se arrepie só de pensar no Lobo
engolindo a Vovozinha, na Madrasta lambendo os beiços
ao comer os pulmões e o fígado da Branca de Neve (na
versão original é assim), ou nos pais desnaturados de
João e Maria abandonando-os à própria sorte na
floresta escura. Como criancinhas tão inocentes podem
gostar de histórias tão horripilantes? – pensam
alguns adultos. Assim, começa-se a censurar os
contos, dando-lhes um aspecto moralizante, como fez
Perrault na corte francesa, e Walt Disney nos tempos
atuais, esvaziando seu potencial conteúdo mágico. Sob
esse aspecto, vale lembrar duas características dos
contos de fadas: uma histórica e outra psicológica.
Esses contos são originados da tradição oral popular,
portanto de classes sociais cuja vida era triste e
dura como as crueldades das histórias que criaram.
Diz-nos Lígia Cadermatori sobre o aparente horror dos
contos de fadas:
“Esses aspectos estão no âmago dos
contos de fadas e, malgrado a
cristianização e os propósitos
moralizantes, eles permanecem perversos,
amorais e angustiantes como legítimo
produto da classe sofrida e
marginalizada que os gerou.”
Já sob a faceta psicológica, podemos afirmar que
são exatamente os detalhes escabrosos dos contos os
de maior significado na história. Invariavelmente,
qualquer conto de fadas segue um enredo no qual o
herói abandona a casa de seus pais, passa por
diversas privações (seja na floresta escura, na casa
de doces da bruxa, no castelo mal-assombrado) e
então, como Fênix, renasce das cinzas glorioso e
triunfante, e vive “feliz para sempre”. Caso o herói
não fosse capaz de superar as privações por que
passa, personificadas nas crueldades dos vilões, ele
não conseguiria triunfar no final da história – é
exatamente aí que reside a mensagem positiva que as
crianças guardam dos contos e seus horrores. Isso
porque a narrativa dos contos reproduz a história de
vida de qualquer criança. Ela nasce protegida pela
família (equivalente à casa paterna dos contos), e
vive nesse meio até alcançar a maturidade. Quando já
está madura o suficiente, também é obrigada a deixar
a segurança do lar para alcançar outros mundos:
começa a freqüentar a escola, a fazer amigos fora de
casa e a ter de resolver seus conflitos com eles. É
esse processo que fará dela um adulto autônomo e
independente.
Os contos asseguram à criança que, por mais que
ela possa ter problemas (notas baixas na escola, ser
desajeitado no jogo de futebol, perder um grande
amigo, enfrentar o divórcio dos pais etc) será capaz
de atravessar a “floresta escura” e superá-los, como
o herói dos contos. Segundo Marly Amarilha:
“Pelo processo de “viver”
temporariamente os conflitos, angústias
e alegrias dos personagens da história,
o receptor multiplica as suas próprias
alternativas de experiências do mundo,
sem que com isso corra risco algum.”
Por isso, as adaptações moralizantes dos contos
ou o temor do adulto em contar certos trechos quando
os está lendo em voz alta para crianças, tornam os
textos sem significados para elas. Alerta Abramovich:
“Se o adulto não tiver condições
emocionais para contar a história
inteira, com todos os seus elementos,
suas facetas de crueldade, de angústia
(que fazem parte da vida, senão não
fariam parte do repertório popular...),
então é melhor dar outro livro para a
criança ler... Ou esperar o momento em
que ela queira ou necessite dele e que o
adulto esteja preparado para contá-lo...
De qualquer maneira, ou se respeita a
integridade, a inteireza, a totalidade
da narrativa, ou se muda a história...
(e isso vale, aliás, como conduta para
qualquer obra literária, produzida em
qualquer época, por qualquer autor...
Mutilar a obra alheia, acho que é um dos
pouco pecados indesculpáveis...)”.
Porém, da mesma forma como não cabe ao adulto que
conta a história modificá-la, retirando-lhes os
detalhes que lhe parecem violentos ou aterrorizantes,
também não lhe cabe interpretar diretamente a
história para a criança. E isso Bruno Bettelheim nos
esclarece muito bem:
“Explicar para uma criança porque um
conto de fadas é tão cativante para ela
destrói, acima de tudo, o encantamento
da história que depende, em grau
considerável, da criança não saber
absolutamente porque está maravilhada. E
ao lado do confisco desse poder de
encantar vai também uma perda do
potencial da história em ajudar a
criança a lutar por si só e dominar
exclusivamente por si só o problema que
fez a história significativa para ela.
As interpretações adultas, por mais
corretas que sejam, roubam da criança a
oportunidade de sentir que ela, por sua
própria conta, através de repetidas
audições e de ruminar acerca da
história, enfrentou com êxito uma
situação difícil.”
Não cabe a pais e professores interpretar, ou
exigir da criança uma interpretação direta da
história, através de “fichas literárias” ou coisas do
gênero, da moral do conto ouvido (como pretendeu
Perrault ao escrever a suposta mensagem final ao cabo
do texto). Mas cabe-lhes instrumentalizar o
pensamento e a fantasia da criança sobre o conto,
sugerindo-lhe que desenhe livremente sobre a
história, reconte-a a seu próprio modo, deixando-a
brincar de faz-de-conta com fantasias, bonecos,
maquiagem etc e, sobretudo, contando outra vez a
história, quantas e quantas vezes ela pedir, de novo,
desde o começo e com todos os detalhes e vírgulas...
Isso porque ao ouvir de novo o conto, a criança está
empenhada em uma das mais importantes tarefas,
segundo a psicanálise, para a construção da sua
personalidade.
3.8 - Por que a bruxa tem que
morrer no final?
Em todos os contos de fadas a morte da bruxa
está presente e ela não apenas morre, como morre
violentamente. Mas por que isso tem que acontecer? E
por que tem que morrer de um modo tão horrível? As
respostas para essas perguntas não estão na história
e sim no leitor.
É impressionante como dentre as várias figuras
que marcam presença em um conto de fadas, a bruxa é a
mais atraente. Ela é a diva, a figura que dimensiona
a luta entre o bem e o mal. Ela tem habilidade de
colocar as pessoas em transes mortais e com a mesma
facilidade, trazê-las de volta a ida. Poucas figuras
são tão poderosas ou cheias de autoridade como a
bruxa. Mas para que um conto de fadas tenha sucesso,
ou seja, para que ele cumpra o seu objetivo
psicológico, a bruxa tem que morrer, porque ela
personifica as partes pecaminosas do eu. Ela é um
obstáculo que a criança precisa ultrapassar para que
a jornada tenha sucesso. Somente com a destruição da
bruxa é que a criança consegue garantir a erradicação
das partes más do próprio eu e a superioridade das
partes boas. E a justiça num conto de fadas, é
líquida e certa.
3.9 - O complexo edípico
O Complexo de Édipo é um dos mais controversos
postulados defendidos por Freud, porém, nenhum
psicanalista, nem mesmo os que mais discordam das
idéias freudianas, como Jung, pôde negá-lo ou fugir
integralmente à sua idéia original. Mas o que isso
tem a ver com os contos de fadas?
Segundo á psicanálise, por volta dos 4 aos 7
anos de idade, a criança desenvolve um profundo
desejo pelo seu progenitor do sexo oposto (o menino
pela mãe e a menina pelo pai). Esse desejo é na
verdade uma primeira tentativa da criança para
compreender e vivenciar, a nível simbólico, a
sexualidade adulta, e é motivado pela erotização,
nessa faixa etária, dos órgãos genitais,
devido a razões maturacionais e biológicas. Na
tentativa de conquistar o progenitor que é o
objeto de seu desejo, a criança passa a identificar-
se e a imitar o progenitor de seu sexo – a
menina passa a imitar papéis femininos que vê a sua
mãe desempenhando, como cuidar da casa, filhos,
trabalhar, enfeitar-se com jóias; e o menino,
passa a imitar seu pai, brincando de dirigir, lutar,
trabalhar, cuidar dos filhos etc. Porém, logo a
criança percebe que é inadmissível para a sociedade
que ela se case com o pai ou com a mãe, e sublima
seus interesses sexuais, voltando-se para as
atividades aceitas e valorizadas pela sociedade –
como para a escola, a prática de esportes,
brincadeiras etc. Esses desejos, ao serem sublimados,
de certa forma “adormecem” até o início da
adolescência, quando retornam voltados para a busca
de parceiros sexuais fora da família. Portanto, a
vivência e a resolução do conflito edipiano, fazem
com que a criança defina as bases de sua futura
sexualidade adulta. Ao identificar-se como o pai e a
mãe ela introjeta os valores morais e sociais, dando
início à formação do superego.
Como porém os contos de fadas expressam
simbolicamente a resolução do Complexo de Édipo, e
assim ajudam as crianças a superarem tais conflitos?
Todos os contos de fadas têm uma narrativa muito
parecida, reproduzindo todos os estágios da vida
humana. Essa narrativa também reconta, de várias
maneiras, o Complexo de Édipo. As histórias
geralmente se iniciam com o herói deixando a sua
casa. Esse fato simboliza tanto a criança pequena,
que parte para a conquista de suas identificações
sexuais precoces, quanto o adolescente, que deixa o
ambiente familiar para buscar parceiros sexuais fora
de casa. Via de regra, os heróis saem de casa por
ordem de seus pais: Chapeuzinho Vermelho é enviada
por sua mãe para levar doces à avó, Branca de Neve é
expulsa pela madrasta invejosa, e assim por diante.
A sublimação do Complexo de Édipo também
acontece devido à intervenção da sociedade, de
maneira geral, e dos pais, de maneira mais direta. A
criança abandona o desejo de casar-se com o pai ou a
mãe porque a sociedade o desaprova, mas
principalmente porque percebe que, por mais que ela
imite o progenitor do mesmo sexo, sempre haverá
relacionamentos que seu parente desejado manterá
apenas com outros adultos e não com a criança. Quando
o herói parte para suas aventuras, enfrentando
assombrações, lobos, bruxas ou qualquer outro tipo de
dificuldade, ele introjeta papéis adultos: torna-se
capaz de assegurar a sua própria existência, de
superar as dificuldades sozinho, é autônomo e
independente. Como João e Maria, que não apenas foram
capazes de escapar da bruxa, mas também encontram um
rico tesouro escondido na casa de doces, que os
tornou capazes de sustentar a si e à sua família,
superando o estado de pobreza do início da história.
O herói é capaz de encontrar o seu próprio
parceiro, formar família, casa-se, ter filhos. No
conto, o sapo transforma-se em príncipe para casar
com a princesa, o cavaleiro desperta a Bela
Adormecida de seu sono profundo; o Patinho Feio
torna-se um lindo e esplendoroso cisne. Ouvir essas
histórias assegura à criança que ela também será
capaz de superar as dificuldades, os sentimentos
profundos e contraditórios, despertados por seu
delicado e completo conflito emocional, e virá a
encontrar a felicidade. Por isso, cabe a ela mesma
vivenciar o conto e tirar dele a mensagem que lhe é
útil – e não ao adulto. Quando o adulto se apressa em
fazê-lo, como disse Bettelheim, ele não apenas acaba
com a magia do conto, mas também priva a criança de
satisfação em conseguir chegar à mensagem positiva
que o conto carrega, sozinha. É a mensagem embutida
no simbolismo do conto que a criança busca dominar
quando nos pede que recontemos uma mesma história
infinitas vezes, sabendo que, ao ouvi-las, está de
certo modo ouvindo a sua própria história, e dessa
forma tornando-se mais capaz de superar seus próprios
conflitos.
Este é o poder mágico do conto de fadas – o
poder de fazer-nos conhecer e compreender melhor a
nós mesmos – e esta a razão de sua permanência entre
nós através dos séculos, bem como a razão do fascínio
que o simples ato de sentar-se junto a um adulto para
ouvir uma história ainda consegue despertar, mesmo
frente a um mundo cheio de brinquedos e maravilhas
tecnológicas.
A mensagem de sucesso e a segurança que os
contos carregam os fazem não apenas sempre presentes
e fascinantes, mas sobretudo únicos e insubstituíveis
em sua importância para o imaginário infantil.
CAPÍTULO IV A Importância da Família
4.1 - Ouvir histórias: um momento
de prazer
Para penetrar na experiência dos primeiros anos
de vida de uma criança, o adulto está limitado a se
servir, por sua vez, da imaginação. Primeiro de tudo,
a história é o melhor instrumento para entreter essa
criança com esse adulto, principalmente na relação
mãe X filho.
Enquanto entre eles dois passa tranqüilo o rio
da história, a criança tem a oportunidade de
finalmente apreciar com calma sua mãe, observar
o seu rosto em todas as suas particularidades,
estudar-lhes os olhos, a boca, a pele. Ela está
escutando, mas permite-se eventualmente se distrair
do que ouve, se por exemplo ela já conhece o
conto (e por isso, talvez, ela tenha maliciosamente
pedido a repetição). Até o fim da história a mãe está
ali, toda para a criança, com uma presença duradoura,
fonte de proteção e segurança. Quando a criança pede
uma segunda história, depois da primeira, talvez não
esteja realmente interessada na narrativa. Ela pode
estar querendo apenas prolongar o mais que puder
aquela sensação agradável, continuar ter a mãe ao
lado de sua cama, ou sentada na sua própria poltrona,
mas bem cômoda, para que não queira escapar muito
rápido.
A voz da mãe não lhe fala só de Chapeuzinho
Vermelho ou de Pequeno Polegar: fala de si própria.
Um semiólogo dizia que a criança está interessada,
neste caso, não só no conteúdo e em suas formas, não
só nas formas de expressão, mas na substância da
expressão, isto é, na voz materna, na sua modulação,
no seu volume, na música que comunica ternura, que
desata os nós da inquietação, que desaparece com os
fantasmas do medo. Se a criança experimenta um medo
angustiante do qual não consegue defender-se, seria
de se concluir que o medo já estava nela. Se é a mãe
que conta a história do Pequeno Polegar abandonado no
bosque com seus irmãozinhos, a criança não teme que a
mesma sorte recaia sobre ela e pode prestar toda
atenção na astúcia do minúsculo herói. Se é a voz da
mãe que evoca o lobo, na paz e segurança da situação
familiar, a criança pode desafiá-lo sem medo. Ela
pode brincar de ter medo (um jogo que tem seu
significado na construção dos mecanismos de defesa)
segura de que para afugentar o lobo bastaria a força
do pai ou uma chinelada da mãe.
4.2 - Família – a primeira
medidora
Todo o processo de relação criança X livro passa
pela motivação de um mediador – o que intermedia a
ligação entre o acervo passivo e o leitor ativo.
Muitas vezes as crianças até manuseiam os
livros, seja em casa ou na escola. Só que,
normalmente, estão sozinhas. Como criar o prazer da
leitura sem ter alguém que partilhe esse gosto de
ler? Como desenvolver as competências da criança de
uma outra forma? É esse o grande papel do mediador,
principalmente dos pais: motivar, dinamizar,
dramatizar, provocar sentimentos de alegria, susto,
prazer, emoção... É na família que a criança vai
encontrar os primeiros estímulos para a leitura. É
importante que essa instituição, que é a primeira da
qual participamos, tenha a nítida consciência disso:
é de sua inteira responsabilidade “salpicar” nos seus
filhos esse primeiro “pozinho mágico” que o levará ao
entusiasmo do que é a delícia de viajar através da
fantasia de um livro.
O desafio também faz parte das responsabilidades
de um mediador da família. Ele pode se arriscar em
oferecer outras propostas ao seu filho na primeira
infância, dando-lhe livros que lhe possibilitem o
treino da capacidade de questionar critérios e
desenvolver suas potencialidades. Assim, ao se
tornarem adultas, as crianças terão condições, quando
tiverem que tomar alguma importante decisão, de
fantasiar as diferentes escolhas, imaginar os
diversos caminhos e poder optar por aquele que lhe
deu mais segurança. Sem imaginação não se pode fazer
suposições. O hábito de ouvir histórias na infância
vai permitir ao ser humano, por toda a sua vida, ter
a imaginação suficiente para sempre escolher o seu
melhor caminho.
CAPÍTULO V Contar Histórias: Uma Arte Mágica
Emprestar a emoção, transmitir confiança,
motivar a atenção e despertar admiração são alguns
dos preciosos papéis de um leitor/contador de
histórias.
No universo da fantasia tudo é possível
acontecer! Quando uma criança escuta uma história a
sua “orelha que existe atrás da orelha” conserva a
significação do conto e o revela muito mais tarde.
Ela mergulha naquele mundo, identifica seus
personagens e faz uma interação com o seu real. A boa
contação não é aquela que só passa valores e
moralismos e sim aquela que permite a transgressão
para o universo da magia e fantasia. Aí está a grande
importância de um leitor/contador de histórias.
Segundo alguns autores, este profissional deve tomar
alguns cuidados para que o seu trabalho tenha um bom
resultado. Aqui estão algumas recomendações:
• o momento da contação é um momento que deve ser
valorizado. É bom pedir que as crianças aproximem-
se e façam uma roda para viverem algo de especial.
Que cada um encontre um jeitinho gostoso de ficar:
sentado, deitado, enroladinho, não importa
como...cada um a seu gosto. E depois quando todos
estiverem acomodados, aí começar: “Era uma vez...”;
• o critério de seleção da história fica por conta do
contador/leitor, que deve respeitar o momento que
as crianças estão vivendo, os referenciais de que
necessitam e do quanto saibam aproveitar o texto.
“A criança é um ser onde a imaginação
predomina em absoluto. Nos livros ela
quer que lhe demos cartolas, coisas mais
altas que podem entender. Isso a
lijonseia tremendamente. Mas se o tempo
inteiro a tratamos puerilmente, ela nos
manda às favas.”
Monteiro Lobato
• para transmitir confiança, motivar a atenção e
despertar admiração, deve-se estudar bastante a
história antes de contá-la;
• é preciso que seja criado um clima de encanto, de
envolvimento. Intervalos e pausas servem para
respeitar o tempo para que o imaginário de cada
criança construa seu cenário, visualize seus
monstros, crie seus dragões, vista a princesa,
pense na cara do padre, sinta o golpe do
cavalo, imagine o tamanho do bandido, entre outras
coisas mais;
• as pausas também são fundamentais logo após o
“então” ... Elas servem para dar o tempo para cada
criança imaginar o que vem depois. No momento do
conflito ela dá tempo, muito tempo, para que cada
ouvinte vivencie e tome a sua posição;
• nunca esquecer de usar modalidades e possibilidades
de voz. Falar bem baixinho nos momentos de reflexão
ou de dúvida e valorizar o momento do conflito;
• é importante mostrar à criança que o que ela ouviu
está impresso num livro (se for o caso);
• quando conta-se um texto de autoria, é bom procurar
manter ao máximo as palavras. A sua modificação
seria uma espécie de traição ao autor;
• quando a história apresentar termos desconhecidos,
é bom explicá-los no momento certo em que aparecem
para que o entendimento da mensagem não fique
comprometido;
• é importante que se contem os contos com lobos e
bruxas, porque afinal isso é um processo de
desafios e conquista de maturidade. A criança tem
que passar pelas diversas fases da história para
que haja essa conquista.
Na escola, a roda da história é um dos momentos
mais ricos para a alfabetização, já que ali as
crianças, ao ouvirem as narrativas contadas pelo
professor, podem experimentar diferentes estilos
literários e enriquecer seu repertório para o
desenvolvimento da leitura e da escrita. É importante
que o prazer de ouvir histórias seja retomado,
recuperado e ressignificado principalmente na fase da
Educação Infantil.
Diante de um ensino democrático, o educador deve
proporcionar à crianças de diferentes camadas sociais
o contato com a literatura rica, que estimula a
imaginação, e fazê-la descobrir que é capaz de contar
histórias a seu modo, mesmo que ainda não seja capaz
de escrever convencionalmente, num trabalho rico de
alfabetização.
CAPÍTULO VI Muito Prazer Sr. Livro
6.1 - O primeiro presente
Cada criança deveria receber, quando nasce,
entre os presentes tradicionais, ursinhos, bonecos de
borracha ... um livro. Porque não é dado um livro a
um recém-nascido? Talvez, a principal razão seja
porque não é dado o valor, nem é lembrada a relação
que a criança pode e deve ter, desde muito cedo,
também com esse objeto.
É natural que um bebê de dias não vai explorar
um ursinho assim que ganhá-lo. Só mais tarde ele irá
agarrá-lo, abraçá-lo, embalá-lo, dar-lhe de comer,
levá-lo para passear... num jogo simbólico cada vez
mais elaborado. Mesmo os pais que não tiveram
formação como educadores, sabem, intuitivamente, que
há etapas que a criança tem que passar na relação com
os objetos/brinquedos que têm a ver com o seu
desenvolvimento psicomotor. Ao achar que tudo isso é
realmente muito natural, o adulto não exige que o
bebê descubra, desde que nasce, todas as
potencialidades lúdicas e afetivas que esse brinquedo
poderá lhe proporcionar. E o mesmo se passa com todos
os
outros objetos que a criança vai ganhando.
Então porque o livro não faz parte dos objetos
com que ela contacta diariamente? Da mesma forma que
o ursinho e os bonecos estão no berço para que a
criança vá familiarizando e criando laços afetivos
com eles, porque é que o livro não pode estar? Num
primeiro momento ela irá tocá-lo sem nenhuma
intenção. Mas, quando conseguir agarrá-lo ela estará
se relacionando com um objeto a que chama-se livro.
Depois, passa-o de uma mão para outra, mete-o na boca
para melhor conhecê-lo, deixa-o de lado e volta a
pegá-lo. Como disse Madame Gratiot-Alphanderry –
primeira assistente de Wallon – interrogada durante
uma conferência em Lisboa, sobre quando dar livros às
crianças:
“O mais cedo possível, desde que nascem
e quando começam a agarrar os objetos”.
A realidade é que a maioria das crianças que
freqüentam as creches do nosso país continua sem
livros.
6.2 - A criança e o livro
A primeira relação que a criança estabelece com
o livro é a relação lúdica. Depois, mais tarde, irá
descobrir e talvez reconhecer e identificar a imagem
que está na capa. E vai assim iniciando a leitura da
linguagem visual, linguagem essa que é dominada por
ela, mesmo sem se apropriar do conteúdo do livro.
Chegará um dia em que o bebê, involuntariamente,
conseguirá abri-lo. Isto, é claro, se o adulto lhe
der a oportunidade de o manusear, não deixando-o fora
de alcance com o pretexto de estragá-lo. E, ao
abrir o livro – que é mais um degrau do seu
manuseio – a criança terá prazer em ler as
ilustrações relacionadas com o seu cotidiano, se
elas forem semelhantes com o que ela conhece.
Ao identificar as imagens, a criança está
desenvolvendo um processo mental muito complexo. Ela
não está perante o objeto, mas perante a sua
representação. Ela reconhece e faz a correspondência
entre algo que já viu e conheceu e lê as imagens
encontrando-lhes um significado. Mesmo que ainda não
domine a linguagem verbal ela aponta e dá nomes às
coisas usando sons e onomatopéias. Quando começam a
aparecer, além dos objetos, as personagens – crianças
ou animais antropomorfizados – interagindo com os
objetos e vivendo situações que ela já viveu, ela
identifica-se e projeta-se. Uma relação com o livro
que até aqui tinha sido sobretudo lúdica, passa agora
a ter uma relação afetiva.
“Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n’alma
É germem – que faz a palma
É chuva – que faz o mar.”
Castro Alves
6.3 - Ilustração: uma importante
linguagem
O livro infantil apresenta duas linguagens: a
ilustração e a escrita. As duas se completam. Não se
consegue escrever histórias para crianças sem
sintonizar muito bem esses dois aspectos: o desenho e
as palavras. É importante quando se lê
histórias para crianças apresentar a ilustração do
livro. Ela seria uma espécie de “sobremesa”. Não é a
toa que o livro infantil
é formado por dois autores: o escritor e o
ilustrador. Se o contador/leitor passar a substimar a
imagem, não mostrando cada detalhe dela, as crianças
crescerão perdendo o interesse pela arte.
A boa ilustração é aquele que consegue dar uma
boa interpretação do texto e não copiá-lo. É certo
que ela também conta uma história porque ela tem uma
narratividade. A imagem dá possibilidade ao leitor de
perceber muito mais coisas na história.
Foi na Inglaterra do século XIX, em razão da
revolução industrial, que o livro para criança
desenvolveu-se com maior cuidado gráfico e encontrou
condições econômicas favoráveis para uma adequada
distribuição. As primeiras obras que visavam o
público infantil apareceram no mercado livreiro na
primeira metade do século XVIII. Embora nesse momento
começasse a existir um campo gráfico propício à
ilustração, foi em plena era vitoriana que se
presenciou a realização de um maior número de livros
ilustrados feitos especialmente para crianças. Esses
livros traziam imagens atraentes e interessantes,
elaboradas não apenas com a intenção de educar, mas
também de promover o prazer estético.
Assim como o escritor, o ilustrador é um autor.
Na seqüência de imagens, cria uma história, podendo
atuar de forma semelhante ao cineasta, quando adapta
uma obra literária para o cinema. Sem o recurso do
som, organiza os elementos figurativos conforme a
especificidade da sua linguagem, interpreta o verbal
e o traduz na sua visualidade.
“ A ilustração convive e faz parte do
contexto da história da arte. Ela é um
objeto de reprodução e está inserida em
uma indústria cultural. Relaciona-se com
outras linguagens, transita em uma
espaço multifacetado. Dialoga com o
verbal mas pode utilizar recursos
advindos do cinema, da pintura e dos
quadrinhos. Ao se observar o trabalho
desenvolvido pelos ilustradores,
percebe-se que é composto por formas que
trazem em si um significado próprio.
Linhas, manchas, cores, composições,
enfim, todos os elementos plásticos que
compõe a ilustração poderão revelar um
conteúdo que diz respeito à sua
linguagem.”
(Marisa Mokarzel)
No caso específico da ilustração, muitas vezes
as figuras são retiradas de um mundo fantástico, não
sendo, por isso mesmo, extraídas da realidade. Isto
não quer dizer que não existem formas realistas, mas
elas acontecem em número bem menor. Em geral, na
literatura infantil, os bichos falam, há personagens
e elementos mágicos. Além de figurativa, a imagem
seqüencial dos livros para criança contam uma
história que é lida com grande satisfação e
entusiasmo.
CAPÍTULO VII A Biblioteca Escolar
7.1 - O acesso aos livros
Para que haja uma prática de leitura, o primeiro
passo é que livros variados e de qualidade estejam ao
alcance de todos. O acesso aos livros proporciona às
crianças e aos jovens uma
escrita e uma leitura que os conduzem
à aprendizagem e à captação do
conhecimento. Ler e ouvir histórias em
espaços sociais dos mais diversos
contribui para a formação de pessoas
com capacidade de escrever de maneira
autônoma, original, crítica e criadora, tornando-as
cidadãs responsáveis e participativas. Por este
motivo, é preciso resgatar a importância da
biblioteca e da escola como instituições
complementares e indispensáveis.
7.2 - Escola e biblioteca: duas
aliadas
A biblioteca tem dupla função: preserva a
produção do conhecimento humano e também a dissemina.
Na escola, seu principal objetivo é tornar-se uma
aliada no que tange o acesso à leitura. Por ser um
espaço aberto, ela representa um eficaz instrumento
de mudança social e por esse motivo, escola e
biblioteca precisam atuar conjuntamente. Trata-se de
uma parceria que compreende a escola com o encargo de
motivar o indivíduo para a utilidade da leitura, e a
biblioteca, com a sua função comunicadora cada vez
mais acentuada, de exercitá-la de modo regular
operando transformações em quem a freqüenta.
Formar leitores é dever da família, do grupo
social e do poder público. Talvez possa ser dito que
é principalmente do “poder público”, uma vez que a
formação de cidadãos-leitores é peça fundamental na
construção de uma sociedade verdadeiramente
democrática. Mas hoje, no ano 2000 e nos 500 anos de
Brasil, sabe-se que não é possível simplesmente jogar
sobre qualquer governo esta responsabilidade. O ideal
é que cada lado deste tripé – família, sociedade
civil e estado – faça a sua parte, seja através de
parcerias ou de iniciativas autônomas.
7.3 - As ações
No estado do Rio de Janeiro, projetos como
“Biblioteca para Todos” têm mostrado que é possível
unir governo e sociedade em torno de um ideal comum:
formar cidadãos-leitores. Já na cidade do Rio de
Janeiro, a prefeitura, por sua vez, tem diversificado
as ações na área de incentivo à leitura buscando
alternativas que, entre outras coisas, supram a
deficiência da rede municipal de bibliotecas.
A capital cultural do país que, segundo dados da
própria prefeitura, tem hoje uma população de
aproximadamente seis milhões de habitantes espalhada
por 158 bairros, conta com uma rede de 75
bibliotecas, sendo apenas 25 públicas (destas, cinco
são unidades volantes). Por isso, a Secretaria
Municipal de Cultura – SMC, responsável pela
coordenação dessa rede, tem investido em eventos que
envolvam outras instituições, principalmente as
escolas, para tentar atingir o maior número de
pessoas.
Durante todo o ano, a Diretoria de Bibliotecas
da SMC oferece à população, através de 20 bibliotecas
fixas, uma série de serviços e atividades culturais.
Hoje, segundo dados da SMC, a rede municipal atende
mensalmente cerca de 40 mil estudantes de 1º e 2º
graus e conta com um acervo que não chega a 400 mil
volumes. Deste total, 52 mil são títulos infantis e
juvenis. Já as bibliotecas volantes contam, cada uma,
com 4 mil títulos, e percorrem periodicamente 40
bairros que não têm unidades fixas, realizando
empréstimos de livros. A atualização do acervo é
feita anualmente através da compra de novos títulos
pela SMC. A escolha dos títulos a serem adquiridos
parte de pesquisa em livrarias e publicações
literárias.
Outro projeto da SMC é a implantação de
bibliotecas comunitárias em áreas carentes, em
parceria com a Secretaria Municipal de
Desenvolvimento Social, dentro do Projeto Favela-
Bairro. Esse projeto tem como objetivo integrar a
favela à cidade, fornecendo à população de renda
baixa condições básicas para uma vida digna.
7.4 - Serviços e atividades
oferecidas pela Rede de
Bibliotecas Populares do Rio de
Janeiro:
• CAIXA ESTANTE: serviço volante de empréstimo de
livros que atende comunidades com dificuldades de
acesso às bibliotecas, tais como hospitais, asilos,
creches, orfanatos. Atualmente atende os bairros de
Jacarepaguá e Grajaú e conta com 39 instituições
cadastradas.
• BRAILLE: atende leitores portadores de deficiência
visual com acervo especial em braille e fitas
gravadas. Funciona nas bibliotecas populares de
Jacarepaguá e Penha.
• GIBITECA: espaço destinado à leitura e empréstimo
de gibis. Funciona nas bibliotecas populares de
Bangu, Campo Grande, Irajá, Méier, Olaria, Ramos e
Santa Teresa.
• CORDELTECA: espaço destinado à pesquisa da cultura
popular através do acervo especializado em
literatura de cordel. Funciona na biblioteca da
Penha que, anualmente, realiza um concurso de
literatura de cordel.
• BRINQUEDOTECA: espaço para atividades recreativas
que utiliza brinquedos e jogos educativos com a
finalidade de atrair o público infantil às
bibliotecas. Funciona em Bangu, Campo Grande,
Engenho Novo, Gamboa, Glória, Grajaú, Ilha do
Governador, Irajá, Jacarepaguá, Leblon, Méier,
Paquetá, Penha e Santa Teresa.
• HORA DO CONTO: narrativa de histórias para
crianças, jovens e público da terceira idade.
Acontece nas unidades de Bangu, Campo Grande,
Engenho Novo, Gamboa, Grajaú, Ilha do Governador,
Jacarepaguá, Méier, Paquetá e Santa Teresa.
• ENCONTRO DA TERCEIRA IDADE: tem como objetivo
integrar o idoso às atividades da biblioteca
através de seus interesses próprios, valorizando o
livro como fonte de conhecimento e lazer. Funciona
em Botafogo, Campo Grande e Paquetá.
• JOGOS EDUCATIVOS NO COMPUTADOR: lazer destinado a
crianças adolescentes que visa familiarizá-las com o
computador. Nas bibliotecas de Bangu, Botafogo,
Campo Grande, Gamboa, Ilha do Governador, Irajá,
Paquetá e Penha.
• CONCURSO DE POESIAS: concurso literário de âmbito
municipal, realizado anualmente, com o objetivo de
estimular a criação poética de crianças, jovens e
adultos. Em Bangu, Campo Grande, Ilha do Governador
e Jacarepaguá.
• ACESSO À INTERNET: uso livre pelos usuários para
pesquisa. Disponível em Copacabana, Ilha do
Governador, Irajá, Paquetá, Rio Comprido e Santa
Teresa.
CAPÍTULO VIII O Potencial Criador da Criança
8.1 - Criatividade é um dom?
Aquela idéia de que criatividade é um dom divino
ou privilégio de poucos, já faz parte do século
passado. No momento atual é necessário expandir e
aproveitar, o máximo possível, o talento e o
potencial criador presente em cada criança. Hoje, é
uma questão de sobrevivência ter a consciência
crescente de que a solução para os problemas exige
muito esforço e criatividade. Pais e professores têm
um importante papel no processo de crescimento das
crianças e no desenvolvimento de suas habilidades
criativas. Estes adultos têm, efetivamente um enorme
poder e influência sobre esse ser, podendo contribuir
ou não para a construção de um processo de descoberta
de si mesmo e de suas habilidades. A maneira cruel
de como hoje a vida é encarada pelos adultos, não os
deixa perceber que naquela “coisinha” amassada e de
olhos fechados que eles colocam no mundo, existe um
poço enorme de potencialidades a serem exploradas.
8.2 – Imaginação, criatividade,
escola
Sem dúvida nenhuma, trabalhar com os recursos
oferecidos pela literatura infantil nos primeiros
anos de vida de uma criança, contribui muito para que
ela tenha oportunidade de desenvolver, com mais
facilidade, o seu poder de criatividade e imaginação
e, consequentemente, terá maiores condições de se
tornar uma cidadã segura, com pensamento claro,
crítico, inventivo e inovador.
O que aconteceria se “uma expingarda com x no
lugar do s disparasse balas de açúcar, plumas e
violetas?” ou se a “hora transformada em ora, pedisse
demissão do relógio e fosse trabalhar na gramática
como advérbio?”. Estas são apenas algumas amostras
da riqueza, da criatividade e da fantasia que pais e
educadores podem propor às suas crianças.
Várias destas atividades que podem ser
apresentadas a partir dos três anos de idade, têm
como objetivo não só o contato afetivo com a criança
(contato esse que não deve ser desprezado), o
desenvolvimento da linguagem, da lógica, da estética,
mas principalmente, a liberação da criatividade, da
imaginação, da fantasia.
“Para mudá-la (a sociedade) são
necessários homens criativos que saibam
usar a sua imaginação. ...
desenvolvamos... a criatividade de todos
para mudar o mundo.”
(Gianni Rodari)
8.3 – Algumas práticas que dão
certo
• TEMA FANTÁSTICO 1: exercício que parte de uma só
palavra e daí nascem estranhas aproximações.
EX: PEDRA = Pequenos Elefantes Dormiam Roncando
Alto
• TEMA FANTÁSTICO 2: as crianças são solicitadas a
anotar todos os usos possíveis e imagináveis de uma
determinada palavra. EX: tijolo
• BINÔMIO FANTÁSTICO: As palavras não estão presas ao
seu significado cotidiano, mas libertas da cadeia
verbal da qual fazem parte cotidianamente. São
“estranhas”, desambientadas”, jogadas umas contra
as outras em mares nunca dante navegados. Só então
encontram-se em condições ideais para gerar uma
história. As palavras devem ser escolhidas ao
acaso. EX: cão e armário. O procedimento mais
simples para se criar uma relação entre elas é
ligá-las com uma preposição articulada: o cão com o
armário (seria um cão com um armário nas costas),
ou o armário do cão (para guardar sua coleção de
coleiras), ou o cão sobre o armário (para se
esconder), ou o cão no armário (vivia dentro dele
porque tinha vergonha de algo).
• HIPÓTESES FANTÁSTICAS: “O que aconteceria se ... ?”
As hipóteses são como retas: você as lança e,
alguma coisa, em algum momento, as encontra. Basta
perguntar “O que aconteceria se ... ?”. Para se
formular a pergunta, escolhe-se ao acaso o sujeito
e o predicado. A sua união fornecerá a hipótese
sobre a qual se deve trabalhar.
• PREFIXO ARBITRÁRIO: Um dos modos de tornar
produtivas as palavras, em sentido fantástico, é o
de deformá-las. Isso deve ser feito como um jogo: o
jogo do conteúdo. O espírito desse jogo está no uso
de um prefixo arbitrário.
EX: basta um “des” para transformar um canivete, que
é um objeto perigoso, em um “descanivete”, objeto
fantástico e pacifista, que não serviria para fazer
a ponta do lápis, mas que, quem sabe, ajudaria a
fazê-la crescer de novo, contra a vontade dos donos
das papelarias e contra a ideologia do consumo.
Outro exemplo é o “descabide”, que ao invés de
pendurar roupas serve para dependurá-las quando
precisamos delas.
• ERRO CRIATIVO: de um lapso pode nascer uma
história.
EX: um “livvro” com dois “v”, seria um livro mais
pesado que os outros; um “otomóvel” seria um
carro com oito rodas. É errando que se aprende!
• VELHOS JOGOS 1: consiste em recortar as manchetes
dos jornais e
misturá-las entre si, para encontrar notícias de
acontecimentos absurdos, sensacionais ou
simplesmente divertidos.
• VELHOS JOGOS 2: jogo dos bilhetinhos de perguntas
e respostas. Parte-
se de um bloco de perguntas que por si configuram
uma narração.
EX: Quem era? Onde estava? O que fazia? O que
disse? O que disseram as pessoas? Como acabou? O
primeiro grupo responde a primeira pergunta e
dobra a folha para que ninguém possa ler a
resposta. O segundo responde a segunda e assim
por diante.
Conclusão
Ao terminar todo o meu estudo de pesquisa
bibliográfica, pude concluir que crianças que têm
oportunidade de ouvir histórias infantis nos
primeiros anos de vida conseguem desenvolver, com
mais facilidade, o seu poder de criatividade e
imaginação e, consequentemente, terão maiores
condições de se tornarem cidadãos seguros, com
pensamento claro, crítico, inventivo e inovador.
Não é à toa que a contação de histórias faz
parte do cotidiano das pessoas desde a antigüidade,
mesmo antes da escrita. Este ato consiste numa das
primeiras necessidades culturais, já que permite a
transmissão de fatos que organizam a história da
humanidade.
A literatura infantil passou a desempenhar um
papel fundamental ao final do século XVII, quando a
sociedade sentiu necessidade de formar homens melhor
preparados para a vivência social. Este fato vem
afirmar ainda mais a importância da literatura e do
acesso aos livros na vida de qualquer ser humano,
principalmente nos seus primeiros anos de vida. Logo,
chego à conclusão que a obra literária infantil é
capaz de promover um repensar sobre a realidade
porque oferece uma possibilidade de reflexão através
da linguagem simbólica.
Embora outras formas de criação literária
destinadas ao público infantil tenham surgido, os
contos de fadas, efetivamente, imprimem uma marca à
literatura infantil. O poder mágico dos contos de
fadas de fazer-nos conhecer melhor a nós mesmos, é
que determina a sua permanência entre nós através dos
séculos, bem como a razão do fascínio que o simples
ato de sentar-se junto a um adulto para ouvir uma
história, ainda consegue despertar emoção, mesmo
frente a um mundo cheio de brinquedos e maravilhas
tecnológicas. A mensagem de sucesso e a segurança que
os contos carregam os fazem não apenas sempre
presentes e fascinantes, mas sobretudo únicos e
insubistituíveis em sua importância para o imaginário
infantil.
Já que chegou-se à conclusão de que a literatura
infantil é tão importante nos primeiros anos de vida
de uma criança, é imprescindível valorizarmos o papel
da família como a principal mediadora entre os
leitores e os livros. É nesta primeira instituição
que a criança tem grandes chances de adquirir o
prazer pela leitura. Os pais devem oferecer aos seus
filhos livros que possibilitem o treino da capacidade
de questionar critérios e desenvolver suas
potencialidades. Assim, ao se tornarem adultas, as
crianças terão condições, quando tiverem que tomar
alguma importante decisão, de fantasiar diferentes
escolhas, imaginar diversos caminhos e poder optar
por aquele que lhe deu mais
segurança. O hábito de ouvir histórias na infância
vai permitir ao ser humano, por toda a sua vida, ter
a imaginação suficiente para sempre escolher o seu
melhor caminho.
No universo da fantasia tudo é possível
acontecer. E para que a história se torne mais
atraente e emocionante ela pode contar com um
“artista” muito especial: o contador de histórias.
Quando alguém se propõe a contar histórias para outro
alguém terá que emprestar a sua emoção, transmitir
confiança e despertar admiração naqueles que lhe
ouvem. A boa contação não é aquela que só passa
valores e moralismos, e sim a que permite a
transgressão para o universo da magia e fantasia.
A primeira relação que a criança estabelece com
o livro é a relação lúdica, principalmente se este
lhe for oferecido nos primeiros anos de vida. Ao
identificar as imagens impressas, o bebê está
desenvolvendo um processo mental de representação.
Ele reconhece e faz correspondência entre algo que já
viu e conhece, lê as imagens e encontra-lhes um
significado, mesmo que ainda não domine a linguagem
verbal. É por isso que o livro infantil sempre tem
dois meios de linguagem: a ilustração e a escrita. As
duas se complementam. Não se consegue escrever
histórias para crianças sem sintonizar muito bem
esses dois aspectos: o desenho e as palavras.
Para que haja uma prática de leitura, o primeiro
passo é que livros variados e de qualidade estejam ao
alcance de todos. Ler e ouvir histórias em espaços
sociais dos mais diversos contribui para a formação
de pessoas com capacidade de escrever de maneira
autônoma, original, crítica e criadora, tornando-as
cidadãs responsáveis e participativas. Por este
motivo, é preciso resgatar a importância da
biblioteca e da escola como instituições
complementares e indispensáveis.
Hoje, é uma questão de sobrevivência ter a
consciência crescente de que a solução para os
problemas exige muito esforço e criatividade. Por
isso, pais e professores têm um importante papel no
processo de crescimento das crianças e no
desenvolvimento de suas habilidades criativas. Sem
dúvida nenhuma, trabalhar com os recursos oferecidos
pela literatura infantil nos primeiros anos de vida,
contribui muito para que ela tenha oportunidade de
desenvolver, com mais facilidade o seu poder de
criatividade e imaginação.
Referência Bibliográfica
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