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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Carla Klassen
A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA REVERSA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
CURITIBA
2012
1
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Carla Klassen
A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA REVERSA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
Artigo apresentado à Universidade Tuiuti do
Paraná como requisito parcial para a
conclusão da Pós-Graduação em MBA em
Marketing e Logística.
Orientador:
Prof. MSc. Ubiracir Mazanek de Almeida
CURITIBA
2012
2
A IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA REVERSA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
Carla Klassen*
RESUMO
O presente trabalho trata da importância da logística reversa na sociedade
contemporânea e, foi resultado da preocupação com a preservação ambiental do
planeta e do considerável aumento dos estudos relacionados ao tema em pauta.
Propõe realizar uma revisão bibliográfica dos conceitos da logística reversa, seus
canais de distribuição, fatores condicionantes para a cadeia de distribuição e fatores
críticos para a eficiência do processo logístico, além de abordar os aspectos
relacionados a importância do tema na sociedade contemporânea, como os
aspectos ambientais, econômicos e sociais; também analisa a legislação e a
influência de todos esses aspectos no âmbito das empresas.
Palavras-chave: Logística reversa, importância da logística reversa.
3
1 INTRODUÇÃO
O rápido crescimento da tecnologia da informação, a velocidade de
lançamentos de produtos, o ciclo de vida dos produtos reduzindo e os impactos que
essas transformações geram no meio ambiente e a conscientização ecológica, além
da sustentabilidade empresarial, geraram mudanças na logística e, principalmente,
na logística reversa.
Este artigo visa apresentar um breve resumo dos principais conceitos de
logística reversa e dos canais de distribuição reversos, pós-venda e pós-consumo.
Os fatores que condicionam a cadeia de distribuição reversa e os fatores críticos que
influenciam a eficiência do processo de logística reversa. Para finalizar os aspectos
que tornam a logística reversa importante na sociedade contemporânea, constam
aspectos ambientais, econômicos e sociais, além da legislação e como todos esses
aspectos influenciam as empresas.
Objetiva-se obter informações dos vários aspectos que influenciam de forma
positiva a logística reversa na sociedade contemporânea e que justifiquem a
logística reversa.
2 CONCEITOS DA LOGÍSTICA REVERSA
As discussões sobre a preservação do meio ambiente e o uso equilibrado dos
recursos naturais vêm crescendo com o passar do tempo. Os primeiros conceitos de
logística reversa surgiram no final da década de 70 e estão associados a essa
preocupação com o meio ambiente. Ginter e Starling (1978 apud FELIZARDO, 2005,
p. 41) utilizaram o termo canais de distribuição reversos, onde o foco era a
reciclagem e as vantagens econômicas e ecológicas, que juntamente com os canais
de distribuição reversos, eram fator fundamental para a viabilidade econômica na
recuperação dos materiais.
O Reverse Logistics Executive Council (RLEC), uma organização profissional
não lucrativa, define a logística reversa de uma forma mais ampla e detalhada,
“Logística reversa é o processo de movimentação de produtos da sua típica destinação final para outro ponto, com o propósito de capturar valor ou enviá-lo para o destino adequado. As atividades da logística reversa incluem processar a mercadoria retornada por razões como dano, sazonalidade, reposição, recall ou excesso de inventário; reciclar materiais de embalagens e reusar contêineres; recondicionar, remanufaturar e reformar produtos; dar disposição a equipamentos obsoletos; programa para materiais perigosos; e recuperação de ativos.” (2003 apud FELIZARDO, 2005, p. 45).
4
Leite inclui as duas áreas de atuação da logística reversa, pós-consumo e
pós-venda, e define logística reversa como,
“A área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valores de diversas naturezas: econômico, de prestação de serviços, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, dentre outros.” (LEITE, 2009, p. 17).
Conforme Felizardo a diferenciação e a vantagem competitiva devem ser o
foco, “a logística reversa deve existir como uma competência e não como suporte, a
fim de almejar diferenciação e alcançar vantagem competitiva.” (FELIZARDO, 2005,
p.43).
O conceito de logística reversa vem evoluindo e abrange diferentes aspectos,
como os canais de distribuição, a preocupação ambiental, a destinação dos
materiais – reciclagem, reuso, retorno; além da questão econômica; tornando-se
dessa forma uma das preocupações da logística empresarial moderna.
3 CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO REVERSOS
Segundo Leite,
"É recente a preocupação [...] com relação aos canais de distribuição reversos, ou seja, às etapas, às formas e aos meios em que uma parcela desses produtos, com pouco uso após a venda, com ciclo de vida útil ampliado ou após a extinção de sua vida útil, retorna ao ciclo produtivo ou de negócios, readquirindo valor de diversas naturezas, no mesmo mercado original, em mercados secundários, por meio de seu reaproveitamento, de seus componentes ou de seus materiais constituintes.” (LEITE, 2009, p. 6).
De acordo com Leite (2009) o estudo dos canais de distribuição reversos
(CDRs) é recente. Havia uma falta de interesse para estudar os CDRs, quando
comparado aos canais de distribuição diretos (etapas pelas quais os bens
produzidos passam até chegar ao consumidor final), pois o volume de transações
nos CDRs era bem menor do que nos canais diretos, ocasionando desvalorização
econômica dos CDRs. Porém com o crescimento das quantidades e variedades de
bens que vão para o mercado, e geram excesso de bens de pós-venda e de pós-
consumo a retornar, juntamente com os novos valores de sustentabilidade
empresarial, os CDRs vêm se tornando um fator importante da logística empresarial
moderna.
Leite (2009) separa a logística reversa em duas áreas de atuação, que são
diferenciadas pelo estágio ou fase do ciclo de vida útil do produto retornado: a
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logística reversa de pós-venda e a logística reversa de pós-consumo, conforme
Figura 1:
FIGURA 1 – Logística reversa – área de atuação e etapas reversas
FONTE: Leite (2002, p. 19).
Na Figura 2 o campo de atuação da logística reversa, baseada nos fluxos
reversos da logística de pós-consumo e pós-venda e suas interdependências,
incluindo as classificações de acordo com o motivo do retorno dos materiais.
FIGURA 2 – Foco de atuação da logística reversa
FONTE: Leite (2009, p.20)
6
3.1 Logística reversa de pós-venda
A logística reversa de pós-venda para Leite é:
“A área de atuação específica que se ocupa do equacionamento e da operacionalização do fluxo físico e das informações logísticas correspondentes de bens de pré-venda, não usados ou com pouco uso, os quais, por diferentes motivos, retornam aos diferentes elos da cadeia de distribuição direta, que se constituem de uma parte dos canais reversos pelos quais esses produtos fluem. Seu objetivo estratégico é agregar valor a um produto logístico que é devolvido por razões comerciais, erros no processamento dos pedidos, garantia dada pelo fabricante, defeitos ou falhas de funcionamento, avarias no transporte, entre outros motivos. Esse fluxo de retorno se estabelecerá entre os diversos elos da cadeia de distribuição direta, dependendo do objetivo estratégico ou do motivo do retorno”. (2009, p.18).
Os produtos retornados da pós-venda recebem classificações de acordo com
o motivo do retorno: garantia / qualidade, comerciais e substituição de componentes,
como se pode observar na Figura 2.
Para Leite (2009) classificam-se produtos por garantia / qualidade, aqueles
que possuem defeitos de fabricação ou de funcionamento, avarias no produto ou
embalagem. Esses serão submetidos a consertos ou reformas, para que retornem
ao mercado, agregando novamente a eles um valor comercial.
Os produtos com motivo de retorno comercial subdividem-se em estoques e
embalagens retornáveis. O estoque caracteriza-se por retorno de materiais por erros
de expedição, excesso de estoque no canal de distribuição, mercadorias em
consignação, liquidação de estação de vendas, pontas de estoque, dentre outros. As
embalagens retornáveis referem-se as embalagens que transitam entre clientes e
fornecedores.
E a classificação como substituição de componentes ocorre pela substituição
de componentes de bens duráveis e semiduráveis em consertos, manutenções ao
longo da vida útil e o produto retorna ao mercado ou é enviado à reciclagem ou uma
disposição final, caso não seja reaproveitado.
3.2 Logística reversa de pós-venda
A logística reversa de pós-consumo, também de acordo com Leite, é definida
como:
"A área de atuação da logística reversa que equaciona e operacionaliza igualmente o fluxo físico e as informações correspondentes de bens de pós-consumo descartados pela sociedade em geral, que retornam ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo por meio dos canais de distribuição reversos específicos. Seu objetivo estratégico é agregar valor a um produto logístico constituído por bens inservíveis ao proprietário original ou que ainda
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possuam condições de utilização, por produtos descartados pelo fato de terem chegado ao fim da vida útil e por resíduos industriais. Esses produtos de pós-consumo poderão se originar de bens duráveis ou descartáveis e fluir por canais reversos de reuso, remanufatura ou reciclagem até a destinação final.” (2009, p. 18-19).
Os produtos retornados do pós-consumo ou de seus materiais constituintes
são classificados de acordo com seu estado de vida e origem em: em condições de
uso, fim de vida útil e resíduos industriais, conforme Figura 2.
Na classificação em condições de uso há interesse em reutilizar o produto,
estendendo a vida útil, entrando no canal reverso de reuso, até atingir o fim de vida
útil.
No fim da vida útil existem duas atuações, nos bens duráveis e os
descartáveis. Nos duráveis ou semiduráveis os bens entram no canal reverso de
remanufatura e reciclagem industrial, sendo desmanchados e seus componentes
aproveitados ou remanufaturados, retornando ao mercado ou a indústria. Nos bens
de pós-consumo descartáveis, havendo condições os produtos retornam por meio
do canal reverso de reciclagem industrial, onde os materiais serão reaproveitados,
tornando-se matéria-prima secundária e voltando ao ciclo produtivo ou não havendo
condições de reaproveitamento são classificados como disposição final e
encaminhados a aterros sanitários, lixões ou incineração.
4 FATORES QUE CONDICIONAM A CADEIA DE DISTRIBUIÇÃO REVERSA
Para Leite existem alguns fatores que condicionam a necessidade de tornar
possível o fluxo da logística reversa e fatores que podem modificar a estrutura e
organização dos canais reversos, conforme Figura 3.
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FIGURA 3 – Fatores que condicionam a cadeia de distribuição reversa
FONTE: Leite (1999, p.47)
Abaixo uma breve descrição de cada um dos fatores, apresentados na Figura
3, conforme Felizardo (2005):
• “Custos: ainda não bem definidos e de difícil avaliação; • Oferta: de materiais reciclados, permitindo a continuidade industrial
necessária; • Qualidade: adequada ao processo industrial e constante para garantir
rendimentos operacionais economicamente competitivos; • Tecnologia: a tecnologia e o teor de determinada matéria-prima podem
variar em função do produto de pós-consumo utilizado, redundando em custos diferentes e orientando o mercado de pós-consumo para aquele que se apresente mais conveniente;
• Logística: a característica logística dos materiais de pós-consumo, e em particular a transportabilidade dos mesmos, revela-se de enorme importância na estruturação e eficiência dos canais reversos;
• Mercado: é necessário que haja quantitativa e qualitativamente mercado para os produtos fabricados com materiais reaproveitáveis;
• Ecologia: novos comportamentos passam a exigir novas posições estratégicas das empresas sobre o impacto de seus produtos e processos industriais;
• Governo: deve atuar na formação de legislação e subsídios que afetam o interesse nos materiais reaproveitáveis;
• Responsabilidade Social: valorização social e possibilidade de fabricação e consumo de produtos ecologicamente corretos.” (FELIZARDO, 2005, p. 49).
Leite (2009) relata um aumento da sensibilidade ecológica, um fator
modificador, na sociedade atual, que gera pressão sobre as cadeias reversas e
9
assim, reflexos na organização e na estruturação dos canais de distribuição
reversos.
“O aumento da velocidade de descarte dos produtos de utilidade após seu primeiro uso, motivado pelo nítido aumento da descartabilidade dos produtos em geral, ao não encontrar canais de distribuição reversos de pós-consumo devidamente estruturados e organizados, provoca desequilíbrio entre as quantidades descartadas e as reaproveitadas, gerando um enorme crescimento de produtos de pós-consumo.” (LEITE, 2009, p. 21).
Esse aumento da sensibilidade foi acompanhado por ações de empresas e
governos, com objetivo de minimizar os efeitos mais visíveis dos diversos tipos de
impactos causados ao meio ambiente, protegendo a sociedade e seus próprios
interesses. As empresas buscam oportunidades econômicas dos reaproveitamentos,
reutilizações, reprocessamentos e reciclagens, além de defender assim sua imagem
corporativa, e de seus negócios. A sociedade se defende através de legislações e
regulamentações específicas. Dessa forma o conceito do desenvolvimento
sustentável é abordado, onde o objetivo é crescer economicamente e minimizar os
impactos ambientais.
Apesar da conscientização da sociedade, legislações restritivas, as vantagens
competitivas para as empresas, existem dificuldades relacionadas à reintegração de
produtos ao ciclo produtivo, segundo Leite:
“Para a maior parte dos bens descartados existe algumas condições necessárias para a reintegração ao ciclo produtivo, como a tecnologia de reciclagem, ou o mercado para aplicações dos materiais etc., mas nem sempre todas as condições necessárias são apresentadas para completar o ciclo de retorno. Em alguns casos, a causa principal pode ser a baixa disponibilidade de produto de pós-consumo, em razão das dificuldades de captação que impedem as escalas econômicas de atividade; em outros, a causa pode ser a característica monospsônica ou oligopsônica dos mercados de matérias-primas secundárias, que desencoraja investimentos não verticalizados, dificultando a estruturação logística adequada e o desenvolvimento de novas aplicações para os materiais reciclados.” (LEITE, 2009, p. 22).
5 FATORES CRÍTICOS QUE INFLUENCIAM A EFICIÊNCIA DO PROCESSO DE
LOGÍSTICA REVERSA
Para que o desempenho do processo de logística reversa possua maior ou
menor eficiência, os seguintes fatores críticos foram identificados por Lacerda
(2009):
• Bons Controles de Entrada: identificação adequada do estado dos materiais
que retornam, evitando retrabalho posteriormente e conflitos entre
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fornecedores e clientes. É solucionado com treinamento adequado de
pessoal.
• Processos Mapeados e Padronizados: processos corretamente mapeados e
procedimentos formalizados facilitam o controle e as melhorias.
• Ciclo do Tempo Reduzido: tempo entre a identificação da necessidade de
reciclagem, disposição ou retorno de produtos e seu efetivo processamento.
Podem gerar custos desnecessários.
• Sistemas de Informação: capacidade de rastreamento de retornos, medição
dos tempos de ciclo, medição do desempenho de fornecedores.
• Rede Logística Planejada: definição de uma infraestrutura logística apropriada
para lidar com os fluxos de entrada de materiais usados e fluxos de saída de
materiais processados.
• Relações Colaborativas entre Clientes e Fornecedores: definição da
responsabilidade sobre os danos causados aos produtos.
É importante levar em consideração os fatores acima citados, pois o sucesso
de um negócio ligado à logística reversa depende deles. Todos os fatores também
estão relacionados à sustentabilidade do negócio, caso um esteja deficiente, pode
comprometer todo o processo da logística reversa.
6 IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA REVERSA NA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA
Com o avanço tecnológico e o aumento na quantidade e variedade de
produtos, aumenta o consumo destes e o ciclo de vida desses produtos diminui,
gerando aumento no lixo urbano, principalmente em países com menor
desenvolvimento econômico e social. Esse lixo que pode ser reutilizado, reciclado e
retornar ao ciclo produtivo é uma oportunidade de negócio e gera empregos formais
e informais, como o dos catadores e carrinheiros, que coletam recicláveis. Com a
logística reversa, ou seja, o produto pós-venda e pós-consumo retornando ao ciclo
produtivo, há economia no uso da energia, como é o exemplo da reciclagem do
alumínio, além da preservação ambiental, economia de recursos naturais. A
associação do aumento do lixo, a sensibilidade ecológica e a sustentabilidade
ambiental motivaram a criação de legislações, certificações e selos verdes. A
logística reversa também propicia redução de custos, quando os produtos retornam,
11
pode haver diminuição no consumo de energia elétrica, menor custo com extração
de matéria-prima do meio ambiente, dentre outros. As legislações, preocupações
ambientais incentivaram as empresas a preocuparem-se com a sua
responsabilidade social, podendo assim transmitir uma imagem diferenciada perante
o consumidor. Todo esse conjunto de preocupações e ações busca um objetivo
comum o desenvolvimento sustentável, que é o crescimento econômico com
minimização dos impactos ambientais e que vai de encontro com o conceito da
logística reversa. Assim sendo, a logística reversa é de grande importância para a
sociedade contemporânea, pois trata-se de uma solução para diversas dificuldades,
que não existiam há alguns anos, já que os primeiros estudos sobre logística reversa
são da década de 1970 e 1980.
Conforme descrito resumidamente no parágrafo anterior são vários os
aspectos que tornam a logística reversa importante, e todos são interdependentes.
Neste artigo serão abordados os aspectos ambientais, aspectos econômicos,
aspectos sociais, além da legislação, e as ações das empresas.
6.1 Aspectos ambientais
O conceito de desenvolvimento sustentável vêm sendo amplamente discutido,
pois ele considera o crescimento econômico aliado a minimização dos impactos
ambientais, e portanto há uma preocupação com o equilíbrio ecológico. Alguns
desses aspectos afetam os canais de distribuição reversos, como por exemplo, o
lixo urbano e o aumento na porcentagem de reciclagem das embalagens
descartáveis e produtos passíveis de reciclagem ou de reutilização (LOPES, 2009).
“Porém, com os problemas de poluição ambiental, os aterros superlotados e a escassez de incineradoras em número e capacidade, têm sido envidados esforços no sentido de reintegrar os resíduos nos processos produtivos originais tendo em vista a minimização das substancias descartadas na natureza bem como a redução do consumo de recursos naturais. A reintegração dos resíduos nos processos produtivos permite um desenvolvimento mais sustentável, reduzindo o risco para as gerações futuras.” (SHIBAO, MOORI e SANTOS, 2010, p. 9).
Portanto, além do lixo urbano devem ser considerados a poluição provocada
pelos resíduos, a saturação dos aterros e a escassez de matérias-primas. No Brasil
há uma deficiência na coleta do lixo urbano, dificultando o processo da logística
reversa, como citado nos fatores críticos.
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“O avanço tecnológico acelerou a introdução de novos produtos no mercado, levando a maiores condições de consumo e ao crescimento do descarte de produtos usados, aumentando o lixo urbano, principalmente em países com menor desenvolvimento econômico e social. Isto ocorre porque os canais reversos de distribuição, normalmente, não estão estruturados, havendo desequilíbrio entre as quantidades de material descartado e reaproveitado. Como exemplo, pode-se citar o Brasil, onde a coleta seletiva do lixo urbano não é prática comum, dificultando o estabelecimento de um canal de distribuição reverso, porque produtos recicláveis, como as embalagens de PET, vidro, papelão, são descartados junto a quaisquer outros tipos de lixo, inviabilizando parte destes produtos para reaproveitamento.” (COSTA, 2012, p.3).
O exemplo da coleta de lixo urbano e da reciclagem no Brasil, citada acima é
constatado na reportagem da Veja Edição Especial Sustentabilidade. Apenas 1,4%
do lixo é reciclado no Brasil, os Estados Unidos recicla 34% e regiões como a União
Européia, 45%. De acordo com o CyclOpe, um instituto de pesquisas francês, os
países ricos gastam em torno de 120 bilhões de dólares por ano na eliminação dos
resíduos municipais e 150 bilhões com os resíduos industriais. O Brasil gasta
apenas 5 bilhões de dólares por ano com a coleta e tratamento da sujeira urbana
(ESPECIAL VEJA SUSTENTABILIDADE, 2011, p. 12).
A coleta seletiva realizada pelos municípios funciona como um canal reverso,
permitindo que os produtos reutilizáveis retornarem ao ciclo produtivo. Porém nem
todos os municípios brasileiros possuem coleta seletiva, conforme o Panorama dos
Resíduos Sólidos no Brasil 2011, uma pesquisa realizada pela ABRELPE –
Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais,
descreve que 58,6% dos municípios brasileiros indicaram a existência de iniciativas
para a coleta seletiva.
6.2 Aspectos econômicos
Segundo Lacerda (2009) as iniciativas relacionadas a logística reversa têm
trazido retornos consideráveis para as empresas. As economias estão relacionadas
as embalagens retornáveis ou com reaproveitamento de materiais para produção e
esses ganhos têm estimulado a busca por novas iniciativas e melhorias no processo
da logística reversa.
Por isso a importância das alternativas de recapturar valor pelo retorno de
produtos e materiais ao ciclo de negócios, permitindo competitividade de custos a
partir de um bom gerenciamento da logística reversa.
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Para Leite (2009) faltam informações confiáveis a respeito do que denomina
de economia reversa nos canais de distribuição reversos do brasil. É possível
evidenciar a importância da economia reversa através de algumas estimativas. Por
exemplo, o caso do alumínio, melhor exemplo de revalorização econômica. O
processo de reciclagem do alumínio economiza 95% de energia na produção, além
de apresentar índices de investimento em fábricas de reciclagem muito inferiores
àquelas de fábricas de alumínio primário, ou seja, proveniente da bauxita. As latas
de alumínio para embalagens no Brasil possuem um índice de reciclagem de
praticamente 98% e um faturamento de 3 bilhões de dólares em 2006, pode-se
estimar o valor equivalente do canal reverso quando aferido pelo mesmo valor de
venda do produto. Outro exemplo, é o plástico, a produção de todas as resinas, no
ano de 2007, foi de cerca de 5 milhões de toneladas, com vendas aproximadamente
de 18 bilhões de dólares. Adotando-se o nível de reciclagem médio do setor de 15%,
tem-se uma parcela estimada de 3 bilhões de dólares ao ano.
Portanto a economia reversa, depende do processo logístico reverso de cada
produto. Caso esteja bem estruturado, como no caso das latas de alumínio para
embalagem, haverá um ganho proporcional.
6.3 Aspectos sociais
A criação de empregos, além de ser um aspecto econômico, está ligada aos
aspectos sociais. Para a implantação da logística reversa é necessária a criação de
novos postos de trabalho, para o recolhimento dos produtos descartados, separação
dos materiais e o seu beneficiamento permitindo, assim, que os materiais retornem
ao ciclo produtivo.
Segundo os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável de 2008,
desenvolvido pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, os altos
índices de reciclagem no Brasil, estão relacionados aos níveis de pobreza:
“No caso do Brasil, os altos níveis de reciclagem estão mais associados ao valor das matérias-primas e aos altos níveis de pobreza e desemprego do que à educação e à conscientização ambiental. É por conta disto que o papel, o vidro, a resina PET, as latas de aço, e as embalagens cartonadas, de mais baixo valor de mercado, apresentam índices de reciclagem bem menores que as latas de alumínio.” (IBGE, 2008, p. 354).
Com a queda no preço de algumas matérias-primas e a recuperação dos
níveis de empregos os índices de reciclagem de alguns materiais se estabilizaram.
14
“Apenas uma pequena parte do lixo produzido no País é seletivamente coletado. A maior parte da reciclagem é feita por catadores, autônomos ou associados em cooperativas, que retiram do lixo os materiais de mais alto valor, sendo esta atividade insalubre, de baixa remuneração, realizada muitas vezes em lixões e aterros, ocupando trabalhadores de baixa qualificação profissional, muitos deles menores de idade, quase sempre à margem dos direitos trabalhistas, e que cresce nos períodos de crise econômica e de aumento do desemprego.” (IBGE, 2008, p. 354).
Se a população separar os resíduos antes de descartar e houver uma coleta
seletiva de lixo, poderá haver um aumento na eficiência da reciclagem e também
melhorias na qualidade de vida de catadores e outros trabalhadores que lidam com
resíduos.
6.4 Legislação e certificações
A legislação ambiental sobre os resíduos sólidos têm origem na reação aos
impactos ao meio ambiente, que podem ser causados por dificuldades de
desembaraço dos resíduos até a sua disposição final ou pelo impacto negativo ao
meio ambiente devido ao desequilíbrio entre oferta e a capacidade de
processamento dos resíduos. O governo brasileiro tem buscado compartilhar a
responsabilidade pelos resíduos sólidos com os fabricantes dos produtos.
No Código de Defesa do Consumidor é prevista a devolução de um produto
por parte do consumidor, podendo gerar um fluxo reverso para as empresas
produtoras.
O CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente vem editando resoluções
referentes a coleta e tratamento de resíduos sólidos de construção civil, pilhas e
baterias, pneumáticos, lâmpadas de mercúrio e construção de aterros sanitários.
Porém por se tratarem de resoluções, elas não podem imputar obrigação.
Porém o ato mais significativo do governo federal foi a instituição da PNRS –
Política Nacional de Resíduos Sólidos, lei nº 12.305, em 02 de agosto de 2010. A
PNRS procura organizar a forma como o lixo é tratado, incentiva a reciclagem e a
sustentabilidade. Os principais pontos abordados são o fechamento de lixões até
2014, somente os rejeitos poderão ser encaminhados aos aterros sanitários, ou seja,
somente o lixo não reciclável, e a elaboração de planos de resíduos sólidos nos
municípios. A PNRS cita a logística reversa e a define como:
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“XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada.” (LEI Nº 12.305, 2010).
A logística reversa é uma alternativa citada pela PNRS, justificando assim sua
importância na sociedade contemporânea.
6.5 Empresas e sua imagem corporativa
Para Leite (2009) as visões modernas de marketing social, ambiental e a
responsabilidade ética empresarial, levam as empresas, que geram problemas
ecológicos, a se preocuparem mais com suas imagens corporativas que estão
comprometidas com as questões de preservação ambiental. Assim sendo, ações
ligadas à preservação ambiental são relacionadas a uma imagem diferenciada,
sendo então uma vantagem competitiva.
“É nesse contexto que se insere o problema ecológico e de sustentabilidade ambiental nos canais de distribuição reversos e o campo de atuação da logística reversa, pois se observa um crescente interesse de empresas modernas, entidades governamentais, partidos políticos ‘verdes’ e comunidade em geral pelo envolvimento ativo, diretamente ou por meio de associações, nos problemas ecológicos, na defesa de sua própria perenidade econômica e no posicionamento de sua imagem corporativa. Esse interesse e essas ações orientadas deverão contribuir para a melhoria da estruturação e organização desses canais reversos.” (LEITE, 2009, p.27).
A imagem corporativa é um dos principais motivadores para os programas de
logística reversa. Algumas empresas criam associações que incentivam a
reciclagem e reuso, investem em programas educacionais de conscientização da
sociedade, para adaptar-se as legislações e garantir a continuidade dos negócios.
Empresas líderes de seus setores já agregaram valor a seus produtos e imagem,
através da logística reversa, estabelecendo suas redes de distribuição reversas.
(LEITE, 2009).
As empresas são impactadas por todos os aspectos citados anteriormente, os
ambientais influenciam em suas matérias-primas, caso sejam recursos naturais, e
seus produtos acabados, através da destinação adequada do pós-venda e pós-
consumo. Os aspectos econômicos influenciam no desenvolvimento sustentável da
empresa, além de sua lucratividade. As empresas geram empregos e, portanto, os
aspectos sociais também as influencia. E as legislações determinam os deveres das
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empresas com os seus resíduos e também com a destinação final adequada de
seus produtos.
Portanto, as empresas modernas são confrontadas com os desafios da
globalização e estão se conscientizando de que investimentos em responsabilidade
social traz impactos econômicos e sobre sua imagem corporativa.
7 CONCLUSÃO
Através deste artigo pode-se obter uma definição da logística reversa, seus
canais de distribuição, os fatores que condicionam a cadeia de distribuição reversa e
os fatores críticos que influenciam a eficiência dos processos logísticos reversos.
Pode-se analisar os aspectos relacionados a importância da logística reversa na
sociedade contemporânea, tema deste artigo.
A importância da logística reversa está ligada a vários aspectos e situações, e
todos estão interligados. Os avanços tecnológicos e aumento da variedade e
quantidade de produtos, está relacionada ao aspecto econômico, porém esse
aumento acaba reduzindo o ciclo de vida do produto. Assim, caso o produto seja
descartado, de forma incorreta, é destinado aos aterros sanitários, influindo no
aspecto ambiental. Caso seja descartado corretamente, tem a possibilidade de
retornar ao ciclo produtivo; porém, depende da qualidade do produto e das
condições de uso. A destinação adequada pode acontecer pela ação dos
carrinheiros e catadores, influenciando assim o aspecto social. As recentes
legislações têm estimulado a logística reversa, tornando-se um forte aliado da
sociedade contemporânea. As empresas, pela legislação vigente e diversas
resoluções buscam a logística reversa como forma de manter o desenvolvimento
sustentável, voltando-se, com isso, aos aspectos econômico e ambiental.
A sociedade contemporânea já não pode mais conviver sem a logística
reversa, ela não é mais apenas importante, porém é fundamental para o bem-estar
da sociedade pelo incremento do manejo sustentado dos recursos naturais.
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REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em 17 jul. 2012. COSTA, Luciangela G. da; VALLE, Rogério. Logística reversa: importância, fatores para a aplicação e contexto brasileiro. III SEGeT – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia. Disponível em: http://www.aedb.br/seget/artigos06/616_Logistica_Reversa_SEGeT_06.pdf. Acesso em: 16 jul. 2012. ESPECIAL VEJA SUSTENTABILIDADE. Como o lixo vira riqueza. São Paulo: Editora Abril, ano 44, dez. 2011. Edição especial. FELIZARDO, Jean Mari. Logística reversa: competitividade com desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Papel Virtual, 2005. Indicadores de Desenvolvimento Sustentável 2008. IBGE, Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: http://www.abralatas.org.br/downloads/ids2008.pdf. Acesso em: 01 jul. 2012. LACERDA, Leonardo. Logística Reversa: Uma visão sobre os conceitos básicos e as práticas operacionais. Sargas Competência Logística. Mai. 2009. Disponível em: http://www.sargas.com.br/site/artigos_pdf/artigo_logistica_reversa_leonardo_lacerda.pdf. Acesso em: 17 jul. 2012. LEITE, Paulo Roberto. Logística reversa: meio ambiente e competitividade. 2ª Ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. LOPES, Diana M. M.. Uma contribuição na estruturação dos fluxos logísticos reversos das lojas de departamentos. Rio de Janeiro: UFRJ / COPPE, 2009. Disponível em: http://www.ltc.coppe.ufrj.br/dissertacoes/arquivos/df05_diana.pdf. Acesso em: 17 jul. 2012. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2011. ABRELPE, São Paulo, mai. 2012. Disponível em: http://www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2011.pdf. Acesso em: 24 jun. 2012.
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