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Qualidade de vida de crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Samira Kestering Viel¹; Msc. Fabiana Durante de Medeiros² (orientadora)
Resumo: O TDAH é distúrbio que tem sido diagnosticado com maior frequência nos
últimos anos, sua sintomatologia é ampla e abrangem vários segmentos, indo desde o
psicológico até o motor, acarretando em comprometimentos na qualidade de vida dos
indivíduos portadores do mesmo. Buscando diminuir as consequências desse impacto na
qualidade de vida, é necessário investigar o acometimento causado pelo TDAH na
qualidade vida das crianças. O estudo teve como objetivo geral a avaliação da qualidade
de vida de crianças em idade escolar com transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade. Quanto a metodologia, os participantes do estudo foram crianças
portadoras de TDAH de todos os subtipos, com registro no Ambulatório Materno
Infantil (AMI) da cidade de Tubarão-SC, entre os anos de 2012 e 2014, possuindo idade
entre 6 e 11 anos, de ambos os gêneros e etnias. O questionário AUQEI foi aplicado em
10 crianças com diagnóstico de TDAH e hiperatividade, que compareceram a Clínica
Escola de Fisioterapia da Unisul Tubarão (CEFU). A idade média das crianças foi de
9,5 anos, sendo 9 do sexo masculino e 1 do sexo feminino. Foi verificado que o
questionário apresentado mostra-se de fácil utilização na população infantil e, embora
necessite de supervisão quando aplicada a crianças menores, ainda assim dispensa
pouco tempo para aplicação. Portanto é possível concluir que faz-se necessário estudos
quanto a qualidade de vida de crianças portadoras de TDAH, já que muitas vezes só são
considerados os sintomas motores desses pacientes.
Palavras-chaves: Hiperatividade, déficit de atenção, qualidade de vida.
_____________________1 Acadêmica de Fisioterapia da Unisul. Bolsista do artigo 171. E-mail: samira.viel@unisul.br2 Professora do Curso de Fisioterapia e coordenadora do curso de cosmetologia e estética da Unisul. E-mail: Fabiana.medeiros@unisul.br
Introdução
.
Para Amaral e Guerreiro (2001) o Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH) se caracteriza pela presença constante de desatenção e/ou
hiperatividade/impulsividade com maior frequência e intensidade comparativamente
com indivíduos do mesmo nível de desenvolvimento. O TDAH se destaca entre as
desordens comportamentais ocorridas na infância, pois tem sido diagnosticado com
grande frequência nos últimos anos. Tal transtorno afeta tanto a área mental da criança
quanto a área motora, resultando em alterações em seu equilíbrio.
De acordo com Barkley (2008) a apresentação clínica do TDAH compreende
três categorias principais de sintomas, sendo elas: desatenção, impulsividade e
hiperatividade, que se apresentam em diferentes ambientes e causam comprometimento
funcional. As manifestações dos sintomas são amplas e variadas, abrangendo uma gama
de comprometimentos. Distúrbios motores, perceptivos, cognitivos e comportamentais
refletem em prejuízos na vontade da criança ou em sua capacidade de controlar seu
próprio comportamento relativo à passagem do tempo. Uma das alterações apontadas
em estudo de Suzuky, Gugelmim e Soares (2005) é o déficit de equilíbrio estático de
crianças portadoras de TDAH comparadas a crianças na mesma faixa etária, ressaltando
a importância do acompanhamento sistemático do desenvolvimento motor das mesmas.
A classificação internacional de doenças (CID-10, 2009) elaborada pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica com o código F-90.0 o transtorno do
déficit de atenção e hiperatividade.
O diagnóstico do TDAH, por apresentar grande complexidade, não exige
somente que a criança seja examinada, também se faz necessário que os pais sejam
entrevistados e que informações sejam buscadas na escola, junto a professores e
funcionários, pois grande parte dos diagnósticos são dados a crianças em idade escolar,
visto que muitas dessas manifestações comportamentais são identificadas pelos
professores no decorrer do ano letivo. Estudo realizado por Coutinho et al. (2009),
mostra que professores demonstram pouco conhecimento à respeito da sintomatologia
deste transtorno, se fazendo necessário maiores treinamentos informativos para que os
mesmos possam aprimorar sua capacidade de identificar crianças com possível TDAH e
as encaminharem para serviços especializados buscando diagnóstico e tratamentos
corretos e eficazes, evitando assim maiores prejuízos relacionados aos estudos.
O portador de TDAH não diagnosticado e tratado corretamente acarretará
diversos prejuízos em sua vida, não só motores e cognitivos, mas principalmente no que
diz respeito à vida social e desempenho escolar. Barkley (2008) aponta que essas
crianças possuirão uma vida repleta de fracassos e malogros, sendo que 30 e 50%
podem estar sujeitas a repetirem de ano ao menos uma vez, cerca de 35% não
conseguem concluir o ensino médio, para metade dessas crianças os relacionamentos
sociais ficam gravemente comprometidos e, para mais de 60% das crianças portadoras
de TDAH os comportamentos severamente desafiadores levam a mal-entendidos e
mágoas por parte das pessoas que convivem com elas, também ocorrem com frequência
desentendimentos e punições o que resultam em um grande potencial para a
delinquência e uso de substâncias ilícitas mais tarde.
A qualidade de vida é vista principalmente como um resultado de um relato
do paciente (SPITZER; KROENKE; LINZER, 1995; MATZA et al., 2004) com uma
diferença fundamental entre avaliação independente – por exemplo, ele não consegue se
concentrar e isso o prejudica na escola; podemos pensar que ele deve sentir mal sobre a
vivência do sintoma – e da avaliação subjetiva’ – eu não consigo me concentrar, isso me
atrapalha na escola e me sinto mal sobre esta falta, tendo um impacto geral em relação à
forma como sinto sobre eu mesmo. A este respeito, o próprio relatório de uma criança
parece ser essencial para capturar com precisão a sua qualidade de vida.
Em estudos realizados (DANCKAERTS et al., 2010; KLASSEN; MILLER;
FINE, 2006) foi observada discrepância entre a avaliação da qualidade de vida das
crianças portadoras de TDAH no que se refere aos pais e às crianças. Os pais relataram
que as crianças tinham uma qualidade de vida pior, e estas relataram ter uma qualidade
de vida normal, se comparada com outras crianças sem TDAH. Klassen, Miller e Fine
(2006), sugeriram algumas possíveis razões para a discrepância encontrada entre os
relatórios de qualidade de vida dos pais e dos filhos. As crianças podem querer esconder
os seus problemas, talvez por ignorá-los numa tentativa de lidar com os mesmos,
possivelmente sofrendo um processo de adaptação à desordem, o que leva a uma
mudança em suas normas internas que conduzem a alterações na avaliação da qualidade
de vida. Elas também podem cometer erros sistemáticos na realização dos questionários
por causa do seu estilo cognitivo impulsivo, bem como seus aspectos emocionais.
Porém, devemos sempre estar ávidos em reconhecer que ainda no cotidiano de nossos
pequenos, a razão instrumental, herdada das ciências positivistas, ainda silencia os
mesmos a dizer suas verdades.
Para Eiser e Morse (2001), a qualidade de vida pode ser influenciada por
diversos fatores próximos (relações familiares, amizades) e distantes (cultura e condição
socioeconômica) e também as doenças apresentam grande contribuição. A saúde mental
comprometida tem impacto negativo na capacidade das pessoas em participar efetiva-
mente das atividades diárias, e isto pode ter consequências negativas para o seu estado
geral e sensação de bem-estar. Um reduzido senso de bem-estar também pode gerar
impacto sobre a saúde mental, por exemplo, produzindo maior labilidade no humor
dessa criança. Na infância, os efeitos da saúde mental comprometida, sobre a qualidade
de vida, são talvez mais óbvios e mais graves nas formas extremas de problema desta
natureza (por exemplo, o autismo) ou aqueles que têm impacto direto no sentido do
indivíduo em relação à autoestima (por exemplo, ansiedade e depressão). No entanto, há
crescente evidência de que os assim chamados transtornos de externalização, como o
TDAH, também reduzem substancialmente a qualidade de vida das crianças e dos
jovens em relação aos seus sentimentos subjetivos de bem-estar e à sua capacidade de
funcionamento cotidiano (DANCKAERTS et al., 2010).
Objetivos
Avaliou-se a qualidade de vida de crianças em idade escolar com transtorno
de déficit de atenção e hiperatividade.
Descreveu-se o efeito do transtorno no déficit de atenção e hiperatividade na
qualidade de vida de crianças em idade escolar.
Relacionou-se os resultados obtidos nesse estudo com a sintomatologia do
transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
Metodologia
Os indivíduos participantes do estudo foram crianças portadoras de TDAH de
todos os subtipos, com registro no Ambulatório Materno Infantil (AMI) da cidade de
Tubarão-SC, entre os anos de 2012 e 2014, possuindo idade entre 6 e 11 anos, de ambos
os gêneros e etnias.
A amostra foi composta pelas crianças que estivessem de acordo com os
critérios de inclusão e exclusão, sendo que foram utilizados como critérios de inclusão:
Assinar o Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e ter disponibilidade de
horário e transporte para a clínica escola de fisioterapia. Critérios de exclusão: possuir
deficiência auditiva, não conseguir se comunicar verbalmente.
Para caracterizar a amostra foi elaborado pela pesquisadora um protocolo de
coleta de dados (APÊNDICE B) composto de perguntas tais como: idade da criança,
gênero, nível escolar, medicação em uso e medicamentos já utilizados e diagnóstico
médico, tais questões serão aplicadas ao responsável pela criança.
Após a aprovação da pesquisa pelo comitê de ética e pesquisas da Unisul,
foi fornecida a lista de pacientes portadores do TDAH em tratamento no AMI pelo
médico neurologista pediátrico do mesmo, posteriormente os pacientes foram
contatados pela pesquisadora e convidados a comparecem, juntamente com seus
responsáveis, na Clínica Escola de Fisioterapia da Unisul (CEFU) onde foram
informados sobre a realização da pesquisa, bem como, receberam o TCLE com todas as
informações necessárias à cerca do presente estudo, em seguida os pacientes que
aceitaram participar do estudo foram submetidos ao protocolo de coleta de dados para
caracterização da amostra (APÊNDICE A). Após foi aplicado pela pesquisadora o
AUQEI.
Os dados da pesquisa foram armazenados em planilha do Microsoft Excel®
para posterior análise estatística dos dados.
Resultados
O questionário AUQEI (Tabela1) foi aplicado em 10 crianças com diagnóstico
de TDAH e hiperatividade, que compareceram a Clínica Escola de Fisioterapia da
Unisul Tubarão (CEFU).
A idade média das crianças foi de 9,5 anos, sendo 9 do sexo masculino e 1 do
sexo feminino.
Tabela 1. AUQEI- Escala de Avaliação da Qualidade de Vida
Algumas vezes você Algumas vezes você Algumas vezes você Algumas vezes você está muito infeliz? Está infeliz? Diga está feliz? Diga está muito feliz? Diga por quê: Por quê: por quê: Diga por quê:Diga como você se sente: Muito infeliz Infeliz Feliz Muito feliz
1. à mesa, junto com sua família.
2. à noite, quando você se deita
3. se você tem irmãos, quando brinca com eles.
4. à noite, ao dormir.
5. na sala de aula.
6. quando você vê uma fotografia sua.
7. em momentos de brincadeiras, durante o recreio escolar.
8. quando você vai a uma consulta médica.
9. quando você pratica um esporte.
10. quando você pensa em seu pai.
11. no dia do seu aniversário.
12. quando você faz lições de casa.
13. quando você pensa em sua mãe.
14. quando você fica internado no hospital.
15. quando você brinca sozinho.
16. quando seu pai ou sua mãe falam com você.
17. quando você dorme fora de casa.
18. quando alguém te pede que mostre alguma coisa que você sabe fazer.
19. quando os amigos falam de você.
20. quando você toma os remédios.
21. durante as férias.
22. quando você pensa em quando tiver crescido.
23. quando você está longe de sua família.
24. quando você recebe as notas da escola.
25. quando você está com seus avós.
26. quando você assiste televisão.
O questionário representa as respostas das crianças diante das questões
apresentadas, observou-se, que em sua maioria as questões relacionadas ao lazer,
família e diversão foram positivas. Já questões relacionadas a saúde e escolares foram
em sua maioria negativas.
Nas perguntas relacionadas à família, foi observada uma maior variação nas
respostas.
Segue abaixo fotos que foram registradas durante a realização do
questionário.
Figura 1. Aplicação do questionário AUQEI.
Figura 2. Aplicação do questionário AUQEI.
Discussão
O TDAH é muito mais frequente do que se imaginava, e já existem estudos
suficientes confirmados que, em grande número de casos, persiste durante toda a vida.
Estudo realizado por De Nucci sugere, que as crianças com TDAH têm alteração
no desenvolvimento psicomotor e qualidade de vida, avaliou que, com este tipo de
correlação direta entre as escalas estudadas, uma abordagem para a melhoria do
desenvolvimento motor, pode interferir de forma positiva na qualidade de vida desta
criança.
Para Francisco, Assumpção Jr, Kuczynski, Sprovieri, Aranha (2000), qualidade
de vida é um termo cada vez mais citado nas mais variadas publicações sobre evolução
e terapêutica em diversas condições clínicas. A criança e o adolescente têm diferentes
graus de percepção de si mesmos e do mundo, em função da sua fase desenvolvimental,
e com isso dificilmente podem ser uniformizados numa só concepção de satisfação
pessoal.
Francisco, Assumpção Jr, Kuczynski, Sprovieri, Aranha (2000), sugerem que
para obtermos o máximo de nossos esquemas terapêuticos e evoluir cada vez mais no
sentido de um tratamento "ideal", seguindo os interesses do maior beneficiário, a
criança, urge que nos desfaçamos de nossos preconceitos para explorar com nossos .
Ainda no mesmo estudo os autores abordam que o questionário apresentado
mostra-se de fácil utilização na população infantil e, embora necessite de supervisão
quando aplicada a crianças menores, ainda assim dispensa pouco tempo para aplicação,
sendo que isto também pode ser observado durante a aplicação do questionário para este
estudo.
Conclusão
Portanto é possível concluir que faz-se necessário estudos quanto a qualidade de
vida de crianças portadoras de TDAH, já que muitas vezes só são considerados os
sintomas motores desses pacientes.
Isto torna-se possível por meio de questionários, como neste estudo onde foi
utilizado o AUQEI, que avaliem o impacto do TDAH na qualidade de vida. O mesmo
faz-se necessário na elaboração de estratégias que visem diminuir esse impacto e que
melhorem a qualidade de vida dessas crianças.
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FOMENTO
O trabalho teve a concessão de Bolsa proveniente do Fundo de Apoio à
Manutenção e ao Desenvolvimento da Educação Superior – Fumdes, concedido pela
Secretaria do Estado da Educação de Santa Catarina - SED, pela Bolsa de Extensão do
Artigo 171 da Constituição Estadual de Santa Catarina.
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