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A Lanterna
de Lin Yi
Brenda Williams e Benjamin LacombeBrenda Williams e Benjamin Lacombe
— Repete lá o que tens de comprar no mercado —
pediu a mãe de Lin Yi.
Lin Yi repetiu mais uma vez, contando pelos
dedos:
— Bolos de lua, carambolas, arroz, inhames…e
amendoins para o tio Hui.
— Muito bem, meu filho — respondeu a mãe.
— Por favor, mãe, posso também comprar uma
lanterna vermelha em forma de coelho para o
Festival da Lua?— suplicou Lin Yi.
— Bem, depende de ti — disse a mãe. — Só tenho
esse dinheiro para gastar, mas se negociares bem
no mercado, talvez te sobre algum para a tua
lanterna.
Lin Yi sorriu, todo contente.
— Eu sei muito bem negociar….
E logo se pôs a caminho, sempre a recitar a lista,
como se fosse uma canção : “bolos de lua,
carambolas, arroz, inhames…”
— … e não te esqueças dos amendoins para
o tio Hui. Sabes bem que é doido por eles! —
gritou a mãe enquanto ele se afastava.
A caminho do mercado, Lin Yi sorria e
cumprimentava as pessoas que trabalhavam
nos arrozais. Um pouco mais adiante, viu o
tio Hui a inspecionar os peixes que secavam
diante de casa.
— Olá, tio Hui! — saudou Lin Yi.
— Olá! — respondeu o idoso, virando o
último peixe para o sol.
— Vou ao mercado — explicou Lin Yi.— Se
negociar bem e se me sobrar dinheiro, a
minha mãe disse que podia comprar uma
lanterna vermelha em forma de coelho.
— E vais levá-la para o piquenique, logo à
noite? — perguntou o tio Hui.
— Claro! E é certo que vai subir a montanha
connosco, tio Hui?
— Com certeza — respondeu ele. — Já sou
velho, mas gosto sempre muito de bolos
de lua e de amendoins. Boa sorte para os
teus negócios!
Lin Yi sorriu e apressou-se a seguir o seu
caminho.
E sempre a sorrir, passou por debaixo da
Porta da Lua…
“Isto vai trazer-me sorte para as minhas
compras no mercado, pensou ele. E ainda
ganho cinco minutos de vida”.
Uma vez no mercado, Lin Yi parou para ver
com calma as maçãs de amor. Como eram
belas…
— Queres uma?— perguntou o vendedor.
— Não, obrigado — disse Lin Yi.— Tenho
de comprar bolos de lua, carambolas,
arroz, inhames e…e não me posso
esquecer dos amendoins para o tio Hui.
mim uma lanterna vermelha em forma de
coelho. Mas se souber nego-
ciar, a minha mãe disse-me que podia
comprar para mim uma lanterna
vermelha em forma de coelho.
— Mas estas maçãs são deliciosas! —
disse o vendedor.— Podias comprar
uma e ainda ficavas com dinheiro para
as outras compras.
— Sim, têm bom aspeto — respondeu
Lin Yi — mas o que queria mesmo é
uma lanterna para a festa desta noite.
— Nesse caso, até logo — respondeu o
comerciante a sorrir. — Talvez daqui a
pouco mudes de ideias.
Mas Lin Yi sabia que não mudaria.
Queria muito mais a lanterna vermelha
em forma de coelho do que de uma
maçã de amor!
— Quanto custa um quilo de arroz
integral?— perguntou Lin Yi ao
comerciante de arroz.
— Que dinheiro tens? — respondeu o
homem.
—Lin Yi mostrou-lhe.
És mesmo rico! — admirou-se o comerciante. —
Podias comprar arroz do melhor com todo esse
dinheiro!
— Não, obrigado — respondeu Lin Yi. — Tenho
de comprar bolos de lua, carambolas, arroz,
inhames e… e não me posso esquecer dos
amendoins para o tio Hui.
Mas se souber negociar bem, a minha mãe
disse-me que poderia comprar para mim uma
lanterna vermelha em forma de coelho…E eu
tenho mesmo muita vontade de ter uma!
— Sendo assim, vou fazer negócio contigo —
disse o homem a rir. — E fez-lhe um preço muito
elevado.
Chegou a vez de Lin Yi rir com vontade.
— É muito, muito caro. Só lhe ofereço a quarta
parte do que me pede.
— Isso é muito pouco!— disse o comerciante —
Achas que sou tolo?
Regatearam até que Lin Yi acabou por aceitar
um preço razoável, que a mãe aprovaria.
E ficou muito contente consigo mesmo
por ter comprado o arroz por um preço
tão bom.
Começava a gostar de fazer compras. A
seguir, fez o mesmo com o negócio das
carambolas, conseguindo igualmente
um ótimo preço. Na loja seguinte, parou
a olhar para os bonecos. Quis comprar
um para brincar. Mas lembrou--se que
tinha de guardar o dinheiro para poder
oferecer a si mesmo uma lanterna
vermelha em forma de coelho.
E lá continuou o seu caminho até ao
vendedor de inhames.
Mais uma vez soube negociar, e guardou
no cabaz os inhames com as carambolas
e o arroz.
“Agora, pensou Lin Yi, só me falta
comprar os bolos de lua e os amendoins
para o tio Hui.”
Mas, a caminho dos bolos de lua, a loja
das lanternas atraiu a sua atenção. E não
foi capaz de passar sem parar para dar
uma olhadela.
— Queres comprar uma lanterna vermelha
em forma de coelho para o festival desta
noite? — perguntou o vendedor.
Lin Yi fixou os olhos nas lanternas.
Gostava sobretudo das grandes,
vermelhas, decoradas com fios de ouro,
mas sabia que deviam ser demasiado
caras. Virou-se então para duas lanternas
mais pequenas. Depois, pôs-se a contar o
dinheiro.
— Não, é melhor esperar — disse,
meneando a cabeça. — Ainda tenho de
comprar primeiro os bolos de lua. E depois
volto aqui para comprar uma pequena
lanterna.
— Lamento, mas não te posso prometer — disse o vendedor. — Tenho mulher e filhos para alimentar,
portanto, se alguém quiser a última lanterna vermelha em forma de coelho, tenho de a vender. E, vendo
bem, pode ser que não façamos negócio e que já não tenhas dinheiro suficiente para a comprares.
Lin Yi correu a comprar os bolos de lua.
— Mas hoje há muita gente a
comprar lanternas para o
festival desta noite, e tu podias
levar já uma. Pode acontecer
que, quando voltares, eu já
tenha vendido as duas que me
restam.
— Por favor, espere! Por favor!
— suplicou Lin Yi — Tenho
mesmo muita vontade de ter
uma lanterna vermelha em
forma de coelho! Prometa-me
que me guarda uma. Volto daqui
a pouco.
“Pronto, pensou ao arrumar os bolos
no cesto, agora sim, já posso ir
comprar a minha lanterna vermelha.”
Mas precisamente naquele momento
passou uma mulher a mastigar
amendoins e, de repente, Lin Yi
lembrou-se do tio Hui.
— Oh não, esqueci-me dos
amendoins!
Contou as moedas muito bem.
Mesmo negociando, viu que o
dinheiro não chegava para comprar
os amendoins e a lanterna. Partiu-se-
lhe o coração! Tinha feito tanto
esforço e agora o sonho acabava!
Pesaroso, pedalou em direção a casa sem a sua lanterna vermelha
em forma de coelho.
Ficou imóvel por uns instantes, a decidir o que ia fazer. Queria
tanto ter a lanterna, mas também sabia quanto o tio Hui adorava
amendoins. Engoliu a saliva, secou as lágrimas, virou as costas às
lanternas, e foi dali em passo decidido comprar os amendoins do
tio Hui.
— Muito bem, meu filho — disse-lhe a mãe.
— Compraste tudo aquilo que
precisávamos para o piquenique. Temos
lindos bolos de lua enfeitados com a Lebre
de Jade e a Deusa da Lua. Temos as
carambolas, que têm um ar delicioso.
Tenho a certeza que soubeste negociar,
sobretudo em relação ao arroz e aos
inhames. Mas, Lin Yi, onde está a tua
lanterna vermelha em forma de coelho?
Não conseguiste guardar dinheiro para a
comprar?
— Não — respondeu corajosamente Lin Yi,
fazendo um grande esforço para não
chorar. — Mas, no festival desta noite,
poderei ver muitas… Não tem importância.
Bem lá no fundo do coração, Lin Yi sabia
que aquilo tinha mesmo muita
importância. Ainda assim tentou não
deixar transparecer o que sentia, e
despachou-se a pegar nos amendoins e
a ir entregá-los ao tio Hui com um
grande sorriso.
— Obrigado, Lin Yi — disse o ancião. —
Olha, também tenho uma coisa para ti.
Lin Yi ficou sem voz quando viu a
lanterna vermelha em forma de coelho.
— Oh, obrigado! Mil vezes obrigado, tio
Hui! — exclamou. — É magnífica! Ainda
é mais linda do que aquilo que eu
imaginei!
Não podia estar mais feliz…
— Como é que sabia que eu não tinha
dinheiro para comprar uma para mim?
— perguntou ele.
— Ora bem, — disse o tio Hui, a
piscar o olho — digamos que,
durante o período do Festival da
Lua, podem acontecer muitas
coisas especiais, sobretudo se
passares por debaixo da Porta da
Lua. Não se deve fazer muitas
perguntas, o que importa é ser feliz!
Brenda Williams ; Benjamin Lacombe
E lado a lado subiram a montanha
iluminada pela lua,
o tio Hui a trincar os amendoins
e Lin Yi levando orgulhosamente
a sua lanterna em forma
de coelho, a brilhar
como mil fogos…
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