1 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL ANIMAÇÃO DA VIDA LITÚRGICA NO BRASIL Elementos da Pastoral Litúrgica 27ª Assembléia Geral Itaici, SP, 5 a 14 de abril de 1989 INTRODUÇÃO 1. Este texto é conseqüência da pesquisa feita pela Linha 4, Dimensão Litúrgica da CNBB, quando se completaram 20 anos da promulgação da Sacrosanctum Concilium em 1983. O resultado colhido sobre a caminhada da reforma e renovação litúrgicas pós-conciliares, foi devolvido às bases através do livro Estudos da CNBB, n 42: Liturgia, 20 anos de caminhada pós-conciliar. 2. Tendo a CNBB dedicado esforços especiais às diversas dimensões da vida da Igreja, urge refletir, agora e de modo bem abrangente, sobre a dimensão celebrativa, que tem aspecto profético e transformador e é a alma de todas as outras 1 . Para unir a dimensão celebrativa à dimensão profética e transformadora, o fundamental é prover de modo positivo e permanente, a formação de todos os agentes de pastoral, começando pelos mais responsáveis pela vida litúrgica nas diversas igrejas. 3. Não pretendemos aqui apresentar um Manual de liturgia nem um Diretório dos Sacramentos, mas Elementos de Pastoral Litúrgica. Desejamos contribuir para promover e animar a Pastoral Litúrgica na formação dos agentes de Pastoral, para dinamizar as celebrações, para a constituição de suas equipes e para impulsionar a adaptação litúrgica conforme os apelos do Espírito na Igreja. 4. Este trabalho contém duas partes: Na 1ª parte refletimos sobre a caminhada litúrgica pós-conciliar, a natureza da liturgia, sua linguagem e suas múltiplas expressões, a importância da espiritualidade litúrgica e a urgência, tanto da aculturação e inculturação como da formação para a necessária adaptação e criatividade. Esta parte termina com algumas orientações pastorais sobre a liturgia em geral. Já na 2ª, mais prática, são apresentadas orientações pastorais sobre a Celebração Eucarística. I. A VIDA LITÚRGICA CAPÍTULO I: A CAMINHADA LITÚRGICA PÓS-CONCILIAR E SEUS ATUAIS DESAFIOS
1. 1 CONFERNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL ANIMAO DA VIDA
LITRGICA NO BRASIL Elementos da Pastoral Litrgica 27 Assemblia
Geral Itaici, SP, 5 a 14 de abril de 1989 INTRODUO 1. Este texto
conseqncia da pesquisa feita pela Linha 4, Dimenso Litrgica da
CNBB, quando se completaram 20 anos da promulgao da Sacrosanctum
Concilium em 1983. O resultado colhido sobre a caminhada da reforma
e renovao litrgicas ps-conciliares, foi devolvido s bases atravs do
livro Estudos da CNBB, n 42: Liturgia, 20 anos de caminhada
ps-conciliar. 2. Tendo a CNBB dedicado esforos especiais s diversas
dimenses da vida da Igreja, urge refletir, agora e de modo bem
abrangente, sobre a dimenso celebrativa, que tem aspecto proftico e
transformador e a alma de todas as outras1 . Para unir a dimenso
celebrativa dimenso proftica e transformadora, o fundamental prover
de modo positivo e permanente, a formao de todos os agentes de
pastoral, comeando pelos mais responsveis pela vida litrgica nas
diversas igrejas. 3. No pretendemos aqui apresentar um Manual de
liturgia nem um Diretrio dos Sacramentos, mas Elementos de Pastoral
Litrgica. Desejamos contribuir para promover e animar a Pastoral
Litrgica na formao dos agentes de Pastoral, para dinamizar as
celebraes, para a constituio de suas equipes e para impulsionar a
adaptao litrgica conforme os apelos do Esprito na Igreja. 4. Este
trabalho contm duas partes: Na 1 parte refletimos sobre a caminhada
litrgica ps-conciliar, a natureza da liturgia, sua linguagem e suas
mltiplas expresses, a importncia da espiritualidade litrgica e a
urgncia, tanto da aculturao e inculturao como da formao para a
necessria adaptao e criatividade. Esta parte termina com algumas
orientaes pastorais sobre a liturgia em geral. J na 2, mais prtica,
so apresentadas orientaes pastorais sobre a Celebrao Eucarstica. I.
A VIDA LITRGICA CAPTULO I: A CAMINHADA LITRGICA PS-CONCILIAR E SEUS
ATUAIS DESAFIOS
2. 2 5. Apresentamos inicialmente uma viso geral da caminhada
litrgica no Brasil a partir do Conclio Vaticano II, realando dois
aspectos: uma viso de conjunto das trs dcadas e os desafios atuais.
1. Viso de conjunto das trs dcadas 6. Quem lembra como era celebrar
a Liturgia h 25 anos e pensa como se apresenta hoje, percebe uma
transformao imensa, realizada gradativamente. H, nesse processo,
caractersticas significativas em cada uma das trs dcadas passadas.
1.1. Os anos 60 7. Um grande entusiasmo marcou a acolhida da
Sacrosanctum Concilium. O uso do vernculo modificou profundamente o
estilo das celebraes. No altar, o sacerdote voltado para o povo, ps
a presidncia face a face com o povo, criando novo espao e nova
comunicao na assemblia litrgica. Aboliu-se de imediato a duplicao
que se havia introduzido na celebrao da missa, com textos
proclamados em latim e repetidos em vernculo. Os ritos foram
simplificados e tornados mais claros para facilitar a compreenso e
a participao do povo. O canto das partes do Comum da missa, em
vernculo, e sobretudo a possibilidade de cantar os textos da missa
em ritmo popular, tambm deram nova vida celebrao. 8.
Multiplicaram-se os cursos de Liturgia, onde se insistiu na
necessidade da participao ativa dos fiis e do exerccio das diversas
funes, como o comentarista, os leitores, o animador e os grupos de
canto. Aos poucos foram sendo introduzidos, tambm, novos
instrumentos musicais. 9. Alm disso, foram-se realizando Encontros
Nacionais e Regionais de Liturgia. Surgiram obras nossas e outras
traduzidas. A reflexo e a prtica litrgicas tornaram-se vivas nos
vrios cursos do ISPAL (Instituto Superior de Pastoral Litrgica),
que prestaram inestimvel servio renovao litrgica no Brasil. 10.
Neste perodo aparecem tambm algumas dificuldades. A lentido e a
demora da reforma e renovao oficiais ensejou a alguns interpretar e
aplicar o documento conciliar de maneira autnoma e, por vezes,
arbitrria. As iniciativas, tomadas nem sempre de acordo com os
critrios emanados do Conclio, exageraram, sobretudo, o descaso pelo
aspecto jurdico do culto que, sendo comunitrio, dele tambm
necessita. Por isso, avanaram o sinal de tal modo que no foi fcil
retroceder quando necessrio. 11. Por outro lado, a descoberta do
sentido e do valor da Liturgia como cume e fonte da vida da Igreja
fez com que se abandonassem com certo desprezo outras formas de
culto como os exerccios de piedade e as devoes populares2 . No se
conseguiu ainda preencher o vazio deixado pelo seu abandono. 1.2.
Os anos 70 12. Trs principais aspectos caracterizam este perodo: A
introduo dos novos livros litrgicos, os Documentos pastorais e a
abertura da Igreja para a dimenso social de sua vida e,
conseqentemente, de sua Liturgia3 . 13. Os livros foram apenas
traduzidos e no adaptados. A Liturgia das Horas teve de se
contentar com a traduo da Orao do Tempo Presente, editada na Frana.
Infelizmente os documentos litrgico-pastorais da CNBB, bem como as
Introdues teolgico-pastorais aos novos Rituais, apesar de seu
grande valor, no tiveram a esperada influncia na caminhada de nossa
vida litrgica.
3. 3 14. A realidade sofrida do povo fez a Igreja crescer na
conscincia de sua dimenso proftica e evangelizadora. De fato, em
Medelln (1968) os Bispos latino- americanos, apontavam os rumos da
promoo social. J em 1974, o Snodo dos Bispos testemunha que a
Igreja toda caminhava nessa direo, esplendidamente exposta na
Evangelii Nuntiandi, que a Conferncia Latino-americana em Puebla
buscou aplicar nossa realidade4 . 15. Enquanto as atenes da Igreja
se concentravam nos grupos marginalizados, nas grandes massas
empobrecidas e oprimidas e desejosas de libertao integral,
germinavam as sementes de uma nova expresso litrgica ligada vida.
16. Sobretudo nas CEBs, sob a influncia crescente da Teologia da
Libertao, a nova reflexo sobre a Cristologia e Eclesiologia na
Amrica Latina inova maneiras de celebrar a F. 17. Nesse contexto
aparecem elementos positivos e negativos da caminhada litrgica. Foi
positivo o novo modo de celebrar os sacramentos. A Penitncia, por
exemplo, se enriqueceu com as celebraes comunitrias, segundo o novo
Ritual. E a Uno dos Enfermos tomou outras dimenses, mais na linha
da Pastoral da Sade. 18. A Orao do Tempo Presente levou o clero, as
comunidades religiosas e no poucos cristos leigos a redescobrir o
valor e as riquezas da orao comunitria da Igreja. 19. A valorizao
dos ministrios na assemblia litrgica estimula o aparecimento de
novos ministrios na pastoral. E a mulher consegue lugar de destaque
na Liturgia mais participada. Enfim, tem incio a valorizao da
religiosidade popular em suas diversas formas e expresses. 20. H,
porm, elementos negativos nessa dcada. Com a deficiente formao
litrgica nos seminrios e a insuficiente reciclagem oferecida ao
clero, os padres, em geral, ficaram privados da espiritualidade
litrgica, ao mesmo tempo em que, no culto, infiltrava-se descabido
desprezo pelas rubricas indispensveis e novo rubricismo, na execuo
material dos ritos e no uso servil dos folhetos. Sensvel foi nesse
perodo como diminuiu a participao na confisso auricular. O exerccio
da celebrao penitencial, com absolvio geral, no bem orientado, fez
diminuir a participao na confisso auricular, privando o povo das
riquezas desta forma de penitncia sacramental. 21. Aqui e ali
reduziu-se a celebrao a mero meio de mentalizao ideolgica. E em que
pese benfica integrao da religiosidade do povo, parece, s vezes,
que se alimenta a possibilidade de outra Liturgia, a popular, em
oposio oficial. 1.3. Os anos 80 e a situao atual 22. Trs fatos
marcam esta dcada: a pesquisa sobre a situao da vida litrgica no
Brasil (1983), a ampla avaliao das Diretrizes Gerais da Ao Pastoral
da CNBB (1987) e o estudo provocado pelo instrumento de trabalho
Por um novo impulso vida litrgica (1988). 23. Deles se depreendem
certos dados importantes: junto com um certo cansao no campo da
Liturgia cresce uma busca de solues em nvel mais profundo.
4. 4 24. Persistem falhas j apontadas, como deficiente formao
litrgica dos agentes em todos os nveis, com uma defasagem agravante
entre leigos que estudam e um clero pouco interessado. 25.
Descobriu-se toda a amplido de um dado relativamente novo: Cerca de
70% das celebraes, no Dia do Senhor, so realizadas por comunidades
que vivem e celebram sua f sem a presidncia de um ministro
ordenado. 26. Nem todas as deficincias que vm tona no culto so
falhas da dimenso litrgica: muitas devem ser atribudas falta de
evangelizao, catequese incompleta e ausncia de vida comunitria. 27.
promissor o fato de uma pastoral litrgica mais integrada na
pastoral orgnica, como se verifica na presena, em cada Regional, de
um bispo responsvel pela Liturgia, suscitando equipes animadoras
desta pastoral em vrios nveis. Abrem-se assim perspectivas para a
difcil tarefa de fazer confluir numa Liturgia viva as riquezas da
tradio romana, da religiosidade popular, da orao comprometida com a
transformao do mundo e a orao de louvor cada vez mais difundida,
sobretudo nas grandes cidades nos grupos de orao5 . 2. Desafios 28.
Na situao atual da vida litrgica surgem alguns desafios mais
urgentes: Participao: o Conclio preconiza a participao ativa,
consciente e frutuosa6 . Como promov-la sempre mais? At que ponto
os meios atuais, como folhetos, cantos, smbolos, concorrem ou
impedem essa participao? 29. Criatividade e adaptao: a participao
reclama criatividade e adaptao. Como ampliar as oportunidades
existentes na Liturgia, para isso? 30. Civilizao urbano-industrial:
a maioria do nosso povo vive na cidade secularizada e massificada
pelos Meios de Comunicao Social. Que smbolos, gestos e sinais sero
realmente significativos dentro deste novo contexto? 31. A Palavra
de Deus: A Palavra de Deus sempre eficaz e transformadora (cf. Is
55,10-11; Hb 4,12)7 . O que falta para que as assemblias litrgicas
levem a maior compromisso de f e melhor ligao entre f, Palavra e
vida? 32. O Ano Litrgico: como superar o paralelismo entre as
celebraes do Ano Litrgico e os dias, semanas e meses temticos (Ms
da Bblia, Dia das Misses, Ms Vocacional)? 33. A Piedade Popular:
como redescobrir a riqueza da religiosidade popular e integr-la na
Liturgia? 34. A Aculturao e Inculturao: como concretamente levar
adiante o processo de aculturao e de inculturao desejado pelo
Conclio, para que se chegue a uma expresso litrgica sempre mais de
acordo com a ndole do povo brasileiro constitudo de tantas etnias?
35. Todos estes desafios deixam claro quanto e como necessrio
desencadear um processo de formao litrgica sistemtica e permanente.
Formao que se baseia na compreenso teolgica da Liturgia e faa
superar tanto o no-rubricismo quanto a improvisao arbitrria.
CAPTULO II: LITURGIA: CELEBRAO DO MISTRIO DA SALVAO
5. 5 1. A Celebrao 36. Em todos os tempos e lugares, homens e
mulheres de todos os meios e nveis sociais, de todas as culturas e
religies, costumam realar, ao longo da existncia, aspectos
fundamentais da vida individual, familiar, social e religiosa. 37.
Celebrar parte integrante da vida humana, que tecida de trabalhos e
de festas, de horas gastas na construo e espaos destinados a
usufruir de seus resultados. 38. A celebrao nos leva a descortinar
a grandeza de nosso ser e de nosso destino de imagens de Deus,
grandeza que corremos o perigo de esquecer nas lutas pela vida, nas
frustraes da existncia. A celebrao nos abre espao para vivermos em
comunho que o anseio profundo de nosso ser social. E completamos
com nossa fantasia o que a dura realidade cerceia em nossa vocao
para a plenitude e para a auto-realizao. 39. Sendo um momento em
que se evoca o fato passado para reviv-lo intensamente no nosso
hoje, a celebrao ocupa, na Religio, um lugar privilegiado: porque
pe homens e mulheres em comunho entre si e com Deus atravs de
smbolos ou sinais. No cristianismo, a celebrao consiste na memria
do acontecimento fundante do Povo de Deus, isto , a morte e
ressurreio do Senhor, que perpetua na Histria a salvao que Cristo
veio trazer a todos. 40. Em nossas celebraes religiosas h muitos
objetos, gestos e atitudes especiais de pessoas: altar, cruz,
livros, luzes, toalhas, palavras, mos postas, mos estendidas, sinal
da cruz, genuflexo, procisses Eles entram na Liturgia como smbolos
ou sinais significativos. 41. Smbolos chamamos os objetos ou gestos
que contm e expressam, de forma analgica, a realidade evocada, que
ento aparece de outra maneira. Lavar as mos na missa, por exemplo,
hoje, smbolo do esforo de purificao interior. Mostra uma pureza que
deve existir, aqui e agora no interior de quem participa de tal
gesto. Todos os sinais empregados na liturgia so simblicos. 42. A
celebrao litrgica, estruturada em smbolos e sinais, corresponde
perfeitamente psicologia do homem e da mulher, sobretudo dos mais
simples, que preferem manifestar seus sentimentos por atitudes,
gestos, objetos: uma visita, um abrao, um presente. 43. De modo
especial, ns latino-americanos, preferimos reforar assim a
exuberncia de nossos sentimentos. Por essa razo, nossa Liturgia
deve abrir espaos para as expresses de nosso povo. Assim nossas
celebraes conseguem a participao de todas as pessoas e da pessoa
toda, envolvendo tambm seus corpos e a maneira caracterstica de
alimentar e exprimir seus sentimentos. 2. Celebrao do mistrio da
salvao 44. O projeto de comunho de Deus conosco, que chamamos de
obra da salvao, foi prenunciado pelo prprio Deus no Antigo
Testamento e realizado em Cristo. Hoje a Liturgia o celebra, isto ,
o rememora e o torna presente na Igreja. 45. De fato, Israel foi o
povo convocado pelo Senhor em assemblia para o culto do Deus nico
dos pais, que se revelou como Senhor: um Deus para ns, portanto,
vivo e atuante na Histria. Marcou profundamente Israel a libertao
exaltada no
6. 6 xodo, que junto com a criao, a eleio e a aliana so os
motivos do culto do Povo ao Senhor. 46. Libertando Israel da
escravido para ser seu povo, ou seja, povo sacerdotal, real e
proftico, o Senhor enseja aos profetas a releitura destes
acontecimentos como encaminhamento da humanidade para a nova
Aliana: nesta aliana nova, o culto crescer em intensidade, em
compromisso e justia com os irmos e abertura para a universalidade,
at que um dia Jesus o proclame como adorao em esprito e verdade
(cf. Jo 4,23)8 . 47. Em Jesus Cristo, o projeto de Deus se realiza
plenamente, pois nele, se unem o divino e o humano. Por isso, no
Filho que nos tornamos filhos. Sua humanidade instrumento de nossa
salvao9 . Jesus juntou s palavras, aes e atitudes significativas
que mostram que o Reino anunciado por Ele j se tornou presente. Seu
agir em favor dos marginalizados do seu tempo expresso do plano de
Deus: conduzir, a partir dos pobres, todos os homens e mulheres
comunho com o Pai. 48. O mistrio pascal de Cristo o centro da
Histria da salvao e por isso o encontramos na Liturgia como seu
objeto e contedo principal. Esse mistrio envolve toda a vida de
Cristo e a vida de todos os cristos. Por sua obedincia perfeita na
cruz e pela glria da sua ressurreio, o Cordeiro de Deus tirou o
pecado do mundo e abriu-nos o caminho da libertao definitiva. Por
nosso servio e nosso amor, mas tambm pelo oferecimento de nossas
provaes e sofrimentos, ns participamos do nico sacrifcio redentor
de Cristo, completando em ns o que falta s tribulaes de Cristo pelo
seu corpo que a Igreja10 . 49. Assim se entende como e por que sem
a ao do Esprito Santo no pode haver Liturgia. A Pscoa de Cristo que
celebramos fruto do Esprito Santo que impulsionou o Filho de Deus a
realizar a vontade do Pai at as ltimas conseqncias (cf. Hb 9,14)11
. E quem envolve no mistrio pascal a vida, as lutas e as esperanas
de todas as pessoas o mesmo Esprito, que na Liturgia invocado para
a santificao do po e do vinho e a unio dos fiis. O Esprito continua
exortando-nos a que ofereamos nossa vida e nosso compromisso de
servir aos irmos na construo do Reino, como hstias vivas, santas e
agradveis a Deus. Alis, este o nosso culto espiritual (cf. Rm
12,1)12 . 50. Nesta perspectiva, acolhemos com alegria o atual
anseio de, nas aes litrgicas, celebrar os acontecimentos da vida
inseridos no Mistrio Pascal de Cristo. De fato, na Liturgia sempre
se celebra a totalidade do Mistrio de Cristo e da Igreja, com todas
as suas dimenses. A vida se manifesta no apenas nos momentos fortes
do culto, mas tambm no esforo por crescente comunho participativa;
na conscincia de sua vocao missionria; no empenho pela acolhida e
animao catequtica da Palavra; no esprito de amplo dilogo ecumnico e
na sria, corajosa e proftica ao transformadora do mundo. 51. Quando
os Bispos explicitaram estas seis dimenses nas Diretrizes Gerais da
Ao Pastoral da Igreja no Brasil, tiveram em mente o fato de que a
Liturgia o cume e a fonte de toda a ao pastoral13 . Estas dimenses
no existem isoladamente e, ao mesmo tempo, tem cada qual sua
identidade: Liturgia no se confunde com Catequese, nem com ao
transformadora do mundo, embora deva estar presente e penetrar
todas as aes da pastoral. 52. Mas em cada uma dessas dimenses todas
as aes verdadeiramente pastorais tm um carter pascal, pois so
vivncias da Pscoa da Igreja, imagem e pela fora da Pscoa de Cristo.
E por isso a Liturgia as celebra. CAPTULO III: O POVO DE DEUS
CELEBRA A SALVAO
7. 7 53. As maravilhas operadas por Deus no xodo visavam reunir
o povo no Sinai para constitu-lo povo sacerdotal. Jesus Cristo, o
sumo sacerdote da f que professamos (cf. Hb 3,1)14 tambm rene seu
povo, a quem, pelo Batismo, deu participar do seu sacerdcio. Assim
o novo Povo de Deus, que est no mundo vivenciando as alegrias e as
esperanas, as tristezas e as angstias com todos os homens e
mulheres de hoje, sobretudo com os pobres, convocado para
assemblias, a fim de exercer de modo eminente o seu sacerdcio com
Cristo, por Cristo e em Cristo. 54. O Povo de Deus, sobretudo na
Assemblia litrgica se expressa como um povo sacerdotal e
organizado, no qual a diversidade de ministrios e servios concorrem
para o enriquecimento de todos. Sua unidade e harmonia um servio do
ministrio da presidncia. Convocada por Deus, a assemblia litrgica,
expresso sacramental da Igreja, unida a Jesus Cristo, o sujeito da
celebrao. 55. O Povo de Deus convocado para o culto o mesmo povo
que trabalha, faz festa, sofre, espera e luta na Histria. Por isso,
as nossas assemblias so diversificadas. mister abrir espaos de
esperana manifestao das ricas expresses religiosas das comunidades,
dos grupos tnicos e das grandes massas empobrecidas. Porque no
possvel celebrar um ato litrgico alheio ao contexto da vida real do
povo, em sua dimenso pascal. 56. essa diversificada assemblia, que
servida por ministrios e servios multiformes, que o Esprito suscita
em sua Igreja. Entre os ministrios distinguem- se os ordenados, do
bispo, do presbtero e do dicono, participao especfica no mnus dos
apstolos, mnus este, institudo por Jesus Cristo. Hoje temos os
ministrios institudos do aclito e do leitor; e chamamos de
credenciados os servios que o cristo leigo exerce em virtude de seu
batismo sob a coordenao de seu Bispo: so assim, o ministrio
extraordinrio do Batismo, da Comunho Eucarstica e da assistncia ao
Matrimnio. H tambm determinados servios litrgicos que, de modo
estvel, desempenham leitores, comentaristas, recepcionistas,
componentes do coral e, sobretudo, as Equipes de Pastoral Litrgica.
Esta diversidade de ministrios fortalece a Igreja como comunidade e
reala a dimenso comunitria da ao litrgica. 57. Nessa exuberante
manifestao do Esprito, que so os ministrios, h que se destacar
alguns aspectos mais significativos. 58. O servio da presidncia,
como sinal visvel de Cristo-Cabea, implica para Bispos, presbteros
e diconos uma renovada postura quando celebram com seu povo. 59. O
dicono, como o presbtero e o bispo, no s presidem a assemblia, mas
a preparam, no sentido de que a eles incumbe a responsabilidade de
construir a comunidade, condio importante para a celebrao litrgica.
60. Onde a necessidade da Igreja o aconselhar, podem tambm os
leigos, na falta de ministros, mesmo no sendo leitores ou aclitos,
suprir alguns de seus ofcios, a saber, exercer o ministrio da
palavra, presidir s oraes litrgicas, administrar o Batismo e
distribuir a Sagrada Comunho, de acordo com as prescries do
direito15 . 61. Hoje, para a Liturgia, o leitor institudo para
servir Palavra, proclamando-a no culto e fazendo-a mais conhecida
na Catequese; o aclito, no seu servio
8. 8 prestado ao altar e distribuio da Eucaristia, acrescenta a
preocupao com a caridade, pois, sem amor ao prximo no tem sentido
partilhar o Po eucarstico16 . 62. Alm dos aclitos e leitores,
inmeros homens e mulheres assumem na celebrao servios espontneos,
que a tornam mais participada. A Equipe de Pastoral Litrgica,
responsvel pela animao da vida e ao litrgicas, deve dar especial
ateno a estas Equipes de Celebrao, que ajudam o presidente e a
assemblia nas celebraes litrgicas. 63. Assim, a assemblia litrgica,
servida por um conjunto de ministros, manifesta e realiza a Igreja
toda ministerial17 e a diaconia que a sua vocao. A presena e
participao dos fiis atravs de gestos, palavras, aclamaes e posturas
corporais tornam visvel esplendidamente a Igreja em ao18 . CAPTULO
IV: AS DIMENSES DA LITURGIA 64. A Liturgia, como exerccio do
sacerdcio de Jesus Cristo, tem duas dimenses fundamentais: a
glorificao de Deus e a santificao da humanidade19 . Trata-se de
duas dimenses e no de dois tempos ou duas atividades estanques20 .
A Comunidade que celebra tem o compromisso de evangelizar o mundo21
. Neste fluxo e refluxo de realidades ns destacamos alguns aspectos
relevantes. 1. Memorial 65. A ao litrgica memorial: atualiza os
fatos passados que, em Cristo e por Cristo, so sacramentos de
salvao. Alm disso, tem a fora de tornar presentes as realidades
futuras, levando os que a celebram a se inserirem no projeto de
Deus. Como torrente de graas transbordando na histria, o memorial
celebra tambm em Cristo, os acontecimentos da vida do Povo de Deus.
Os milhares de homens e mulheres individual ou comunitariamente,
sob a ao do Esprito Santo, encheram de vida, sentido e luz a sua
histria, revivendo nela o mistrio pascal de Jesus Cristo. 2. A
glorificao da Trindade 66. Porque a Trindade fonte e fim da
Liturgia, o louvor, a glorificao do Senhor uma constante do culto
cristo. No nos esquecemos, porm, de que a glria de Deus nas alturas
realiza a paz na terra para as pessoas que Ele ama. A transformao
do homem e da mulher e do seu mundo o meio seguro de glorificar a
Deus que os quer sua imagem e semelhana e participando do dom da
vida com abundncia (cf. Jo 10,10; Is 44,23)22 . 3. Ao de graas 67.
Nesta perspectiva, torna-se mais compreensvel o hino que h sculos
ressoa nas igrejas: Ns vos damos graas por vossa imensa glria. A ao
de graas importante porque, alm do mais, sublinha a gratuidade do
dom de Deus que celebramos. 68. Dar graas exigncia do corao que se
v assim beneficiado. Insistir, nas celebraes, em considerar
demasiadamente a presena do pecado deturpa a realidade e esvazia a
Liturgia, que nos convoca a louvar, bendizer, dar graas e esperar
contra toda esperana.
9. 9 4. Splica e intercesso 69. Toda orao litrgica feita na
unidade do Esprito Santo. Precisamos dele para que nossa orao no
seja um programa que impomos a Deus em nosso favor, mas
reconhecimento do poder e bondade sem limites do Senhor que,
fazendo vir a ns o seu Reino, nos livra de todo o mal. Pedimos por
ns e pelo mundo. 70. A splica sobretudo reconhecimento da grandeza
de Deus, que nos socorre, e no apenas conscincia de nossa
incapacidade. Por isso, pedimos ao Esprito que nos ensine o que
devemos pedir (cf. Rm 8,26)23 . 5. Pedido de perdo 71. A nossa
condio de humanidade pecadora pe em realce a misericrdia de Deus.
Pedir perdo orao humilde, sincera e alegre, no encontro com a
Misericrdia infinita, que perdoa os muitos pecados a quem muito ama
(cf. Lc 7,47)24 . Cristo vtima, que morre e ressuscita e celebrado
na Liturgia, quem d sentido tambm aos nossos sofrimentos;
transformados em atitudes de orao penitencial, completam em ns,
seus membros, a sua Paixo dolorosa (cf. Cl 1,24)25 . 6. Compromisso
72. Quando se tem conscincia de que pecar condio da humanidade
toda, de que a unidade de todos os homens e mulheres obra do
Esprito Santo, e de que a glria de Deus a realizao de seu povo
tambm na Histria, fcil compreender que a Liturgia, alm da converso
pessoal, comporta um compromisso social. 73. O Reino de Deus que se
realiza onde Deus reina por sua graa, tambm se explicita no po de
cada dia, na convivncia fraternal e nos anseios de libertao de todo
o mal. A Liturgia no nos convida apenas para ouvirmos falar do
Reino, mas para nos impelir e animar a constru-lo. 7. Escatologia
74. Entretanto, sabemos que a construo da sociedade justa e
fraterna esforo para implantar um sinal do Reino definitivo, no
qual j se encontram os nossos santos. Se fazemos memria deles,
prelibando suas alegrias, porque toda a Liturgia antegozo da
realidade que aguardamos, vivendo a esperana: na dimenso
escatolgica de nossa Liturgia26 , celebramos, de fato, a ao
salvadora e perene de Deus, que comea na criao, manifesta-se na
Histria e se coroa na Ptria definitiva. CAPTULO V: ELEMENTOS E
FORMAS DO CULTO CRISTO 1. Elementos da celebrao 75. No projeto do
Senhor de ser o nosso Deus e fazer de ns o seu Povo (cf. Lv
26,12)27 , a comunicao fundamental e a linguagem de capital
importncia. A Liturgia exprime e constri, sempre mais, a comunho
que o Pai decidiu levar avante pela misso do Verbo, que se fez
carne para habitar, como um dos nossos, entre ns e pelo envio do
Esprito Santo. Por isso, a Liturgia faz sua a linguagem humana e
comunica e celebra os mistrios com os mesmos elementos com que as
pessoas celebram a sua vida.
10. 10 76. O primeiro elemento litrgico so as pessoas. A
presena de homens e mulheres no recinto em que se encontram,
felizes por se reconhecerem como convocados por Deus, faz de nossas
assemblias reunies diferentes das que concentram pessoas em teatros
ou estdios, em reunies sindicais, ou encontros partidrios, como
tambm diante da TV. Elas se renem na f, em nome de Cristo,
conduzidas pela ao misteriosa do Esprito que as transforma em
sinais do Reino do Pai. Da emerge o sentido da assemblia litrgica.
77. A seguir, a Palavra de Deus, comunicao do prprio Deus, que nos
convoca para celebrar a Aliana, ilumina nosso caminho e alimenta
nossa vida. Primeiro porque Deus mesmo revelou o seu plano atravs
de acontecimentos, cujo sentido foi captado e transmitido, sob
inspirao do prprio Deus, atravs de palavras humanas, que hoje
constituem o texto sagrado, objeto e alimento de nossas celebraes.
78. A celebrao da Palavra de Deus na Liturgia presena do mistrio de
Cristo agindo aqui e agora, com sua divina proposta, que aguarda
nossa resposta concreta e generosa. 79. A Pastoral litrgica
esmera-se em pr em relevo o sentido e o valor da Palavra na
celebrao, quando proclamada na assemblia, atualizada pela homilia e
se faz resposta orante nos salmos e preces28 . 80. Alm da Palavra
divina, o Povo de Deus escolhe cuidadosamente palavras que exprimem
sua f, sua esperana, seus sentimentos e suas necessidades numa
primorosa e venervel coleo de oraes e hinos29 . 81. Ajudam muito a
comunicao humana e, portanto, fazem parte da linguagem litrgica,
muitos elementos visuais, acsticos e os que falam por seu
movimento. Enriquecem visualmente a celebrao no s a arte dos
arquitetos, pintores, escultores e artistas populares, mas tambm o
bom gosto nas vestes litrgicas, a tradio das cores, a presena das
luzes e a preocupao com a beleza at nos menores objetos de que o
culto se utiliza. 82. Auxiliam nossa prece, reforando a palavra que
ouvimos, a linguagem universal da msica, cantada ou instrumental,
que os momentos de silncio ressaltam e, ao mesmo tempo, abrem espao
para outro tipo de orao. E at mesmo a simples modulao da voz pode
expressar nossa alegria, nossa confiana ou nossa dor. 83. Nosso
corpo, sensvel e dcil ao movimento, uma fonte inesgotvel de
expresso. Por isso, na liturgia tm importncia os gestos, as
posturas, as caminhadas e a dana. 84. A fora dos smbolos e sinais,
sobretudo quando retirados da vida e cultura do povo, completa a
grande variedade de elementos da nossa Liturgia. 2. Formas de
celebrao 85. A salvao que o Pai nos oferece chega at ns por Cristo,
na Igreja. Temos ali a graa de vivenciar, em momentos diversos, a
ntima comunho com Deus e com os irmos. Esta a nossa vocao. Chamamos
formas de celebrao os diversos momentos rituais que nos permitem
experimentar esta comunho. 2.1. Os Sacramentos
11. 11 86. Os momentos mais intensos dessa comunho so os
sacramentos. A Igreja cresce constantemente com novos membros que
se convertem ao caminho de Jesus e aderem Aliana. Ela a celebra no
Batismo, fazendo-os passar pela gua numa nova pscoa e ungindo-os na
Crisma com o perfume do Esprito para que, conformados e fiis a
Cristo, vivam sua vocao e misso na construo do Reino. 87. A Igreja
constantemente recriada pela Eucaristia. Nela faz o memorial da
morte e ressurreio de Cristo, o sacrifcio da nova Aliana, no po
partido e repartido entre a comunidade, no vinho vertido no clice.
Aqui o Esprito que transforma a matria; comprometida com ele, a
Igreja leva cada um a partilhar o que tem, dando um novo sentido
sacralizado ao universo material e aos acontecimentos de nossa
vida. 88. Jesus Cristo no s exortou os homens e as mulheres
penitncia, a fim de que deixassem os pecados e de todo corao se
convertessem ao Senhor, mas tambm acolheu os pecadores,
reconciliando-os com o Pai e com os irmos. Seguindo os seus passos,
a Igreja no cessa de convidar seus membros converso e restaurao da
vida e a manifestarem a vitria de Cristo sobre o pecado pela
celebrao da Penitncia, esmerando-se em valorizar a prtica da
confisso. 89. Atravs da Uno dos Enfermos, a comunidade eclesial
concede o alvio nos sofrimentos e liberta dos pecados e Cristo une
o doente ao mistrio de sua Paixo e pela graa do Esprito Santo, o
associa sua ao redentora. E d ainda ao doente, que v sua existncia
desestruturada pela enfermidade, a fora suficiente para rever seu
projeto de vida crist. 90. A Igreja escolhe alguns homens no meio
do povo, os quais marcados pelo sacramento da Ordem, agem in
persona Christi e, assim, unidos ao Cristo Sacerdote, se tornam
ministros da unidade e servidores do povo. 91. Atravs do Matrimnio
cristo a Igreja celebra a Aliana de amor de Deus com os homens e
mulheres e o amor de Cristo e da Igreja. Os esposos, mergulhados,
desta forma, neste profundo mistrio de amor, proclamam, pela vida
afora, a fidelidade de Deus humanidade. 92. Vemos aqui como pelos
sacramentos a Liturgia leva a f e a celebrao da f a se inserirem
nas situaes concretas da vida30 . 2.2. Celebraes na ausncia do
presbtero 93. No Brasil a maioria do povo fiel, em milhares de
comunidades, que no contam ordinariamente com o presbtero, atravs
da Palavra celebram o mistrio de Cristo em suas vidas. E sendo a
Palavra de per si, depois dos sacramentos, o modo mais importante
de celebrar, temos mais de um motivo para refletir sobre esta forma
de celebrao, como o vem fazendo, alis, a prpria S Apostlica em nvel
universal31 . 94. A partir do dia de Pentecostes a Igreja no mais
deixou de reunir-se em assemblia, no Dia do Senhor, para celebrar o
mistrio pascal de Jesus pela proclamao da Palavra e a Frao do Po32
. A Celebrao eucarstica, portanto, a celebrao mais plena e mais
apropriada do Dia do Senhor. 95. O surgimento rpido de inmeras
comunidades eclesiais, ultrapassando a capacidade de atendimento
dos presbteros, leva o Povo de Deus a reencontrar no tesouro da
tradio litrgica da Igreja a celebrao da Palavra para alimento de
sua f, de sua comunho e de seu compromisso33 .
12. 12 96. Nesta celebrao da Palavra, o Cristo se faz
verdadeiramente presente, pois ele mesmo que fala quando se lem, na
Igreja, as Sagradas Escrituras34 . Alm de sua presena na
Eucaristia, eventualmente distribuda, est tambm, na assemblia, pois
prometeu estar entre os seus que se renem em seu nome (cf. Mt
18,20)35 . 97. nesta celebrao que muitas de nossas comunidades
encontram o alimento de sua vida crist. Formadas por gente simples,
em luta pela sobrevivncia e mais abertas solidariedade, estas
comunidades espontaneamente unem a Escritura vida e, criativamente,
integram preciosos elementos da religiosidade popular. 98. Contudo,
no confundimos nunca estas celebraes com a Eucaristia36 . Missa
missa. Celebrao da Palavra, mesmo com a distribuio da Comunho, no
deve levar o povo a pensar que se trata do sacrifcio da missa.
errado, por exemplo, apresentar as oferendas, proclamar a Orao
eucarstica, rezar o Cordeiro de Deus e dar a bno prpria dos
ministros ordenados37 . 99. A celebrao da Palavra tem seus prprios
valores nos vrios elementos que a integram: reunio dos fiis para
manifestar a Igreja38 proclamao e atualizao da Palavra que a faz
transformadora; preces, hinos, cantos de louvor e agradecimento,
que so a resposta orante dos fiis; saudao da paz, ofertas de bens
e, quando houver, Comunho eucarstica que, a um tempo, expressam a
solidariedade eclesial e o compromisso de transformar o mundo. 100.
A coordenao desses elementos exige um servio de presidncia. Os
diconos so os primeiros encarregados de dirigir esta celebrao39 .
Entretanto, quando no houver dicono ou ministro institudo, todo o
cristo leigo, homem e mulher, por fora de seu Batismo e Confirmao,
assume legitimamente este servio40 . Recomenda-se que os
encarregados desta atividade sejam apresentados comunidade em
celebrao especial para tornar mais evidente a comunho eclesial.
Seja feita esta designao por um perodo determinado de tempo. 101.
Assim presidida, a celebrao se desenvolve num ritmo, que exprime
bem o dilogo entre Deus e a assemblia: Os Ritos iniciais expressam
o Senhor, que chama e rene seu povo, e o povo que alegremente vem e
se apresenta. Breve monio lembrar comunidade sua unio com a Igreja
local, onde os irmos celebram e lutam na construo do Reino41 . Na
Liturgia da Palavra, proclamada e explicada, o Senhor fala da
salvao ao seu povo, que responde professando a f, pedindo perdo,
suplicando, louvando e bendizendo. A ao de graas um ponto alto,
porque a grande resposta ao Deus que se faz Salvador o homem e a
mulher agradecendo. Por ela se louva e se bendiz a Deus por seu
grande amor. Um hino, um canto, uma orao litnica podem exprimi-la
aps a Orao dos fiis, da Comunho ou no final da celebrao42 . Pela
Comunho eucarstica, a assemblia exprime e realiza a ntima unio com
Cristo e com a Igreja. Pelos Ritos de concluso os fiis, que tomaram
conscincia de que so enviados, assumem o compromisso da sua misso a
servio do Reino na vida concreta. 102. Finalmente, no podemos
esquecer que a celebrao da Palavra tem uma ampla dimenso educativa,
levando o povo sadia criatividade, valorizao dos
13. 13 ministrios, ao compromisso com o Reino e ao amor
Eucaristia, como expresso da plena comunho eclesial. 2.3.
Sacramentais 103. Na vida celebrativa do nosso povo tm relevo tambm
as bnos, as exquias, as oraes comunitrias. A Santa Igreja mostra
seu apreo aos lugares e pessoas consagradas atravs de ritos
solenes, por exemplo, para a dedicao das igrejas e a profisso
religiosa. 104. As bnos. A Igreja, que louva e bendiz a Deus, tambm
abenoa e consagra as pessoas e tudo que concorre para sua vida.
Benzer, para a Igreja, significa afastar o vu que encobre o bem que
j na criao o Senhor depositou nas coisas e o Redentor deseja e
oferece aos homens e mulheres que ele salva. 105. nos
acontecimentos e situaes de sua vida que o povo deseja e procura os
vestgios da bondade de Deus. Abenoando, sempre a partir da
proclamao da Palavra, a Liturgia d resposta plena a estes anseios
humanos43 . 106. As bnos, alm de sua dimenso evangelizadora, abrem
perspectivas para a pastoral, que busca a mtua fecundao entre
Liturgia e religiosidade popular. 107. Exquias. A dura realidade da
morte com seu doloroso cortejo de sofrimentos e separaes de entes
queridos toca no mais profundo anseio de toda a humanidade: anseio
de vida e convvio perene e feliz. Nossa f no mistrio pascal, no
sentido da morte e ressurreio de Cristo, nos conduz Pastoral da
esperana, celebrada na Liturgia com grande respeito pelos
sentimentos e costumes do povo nas diversas regies. Na ausncia do
ministro ordenado, os ministros de culto, especialmente, nas
capelas rurais, presidam as exquias, com ritual prprio, ressaltando
a liturgia da Palavra e as oraes adequadas ocasio. 2.4. Orao
comunitria 108. A nossa orao participao no dilogo de Cristo com o
Pai e da orao que lhe dirigiu durante sua vida terrena em nome e
pela salvao de todo o gnero humano44 . essa piedade de Cristo que
continua na Igreja de modo eminente na Liturgia das Horas. 109.
Santificando o dia, ela santifica os homens e as mulheres em todas
as suas atividades e louva a Deus em todos os momentos: porque
preciso orar sempre sem nunca interromper esse dilogo (cf. Lc 18,1;
1Ts 5,17)45 . Todos, portanto, so convidados a participar da
Liturgia das Horas, fazendo seus os sentimentos e desejos da
Igreja46 . 110. Quando circunstncias diversas privaram o povo das
riquezas desta orao, os fiis se refugiaram na chamada piedade
popular, e, conservando as reminiscncias do culto de louvor,
chegaram, a seu modo, a expressar sua f, celebrar sua vida e
cultuar o seu Deus. Haja vista o Rosrio de Nossa Senhora, o
Angelus, celebrando a Encarnao nas horas marcantes do dia e a Via
sacra, explicitando os passos da Paixo. E as romarias rumo aos
santurios traduzem de modo concreto a nossa caminhada, seguindo o
Cristo peregrino e festejam a universalidade da Igreja aberta para
todos. No ser demais, por isso mesmo, recordar que os santurios
devem dar Liturgia uma especialssima ateno.
14. 14 CAPTULO VI: A IGREJA CELEBRA NO TEMPO 111. O Domingo,
como um dia especial, Natal e Pscoa, como tempo de festa, so
realidades na vida de todas as pessoas, sejam ou no membros da
comunidade eclesial47 . 112. Nossa f, porm, v mais em tudo isso.
Tem conscincia da plenitude da salvao realizada por Cristo, em quem
tudo foi criado, razo por que sua misso recapitular em si todas as
coisas (cf. Cl 1,16)48 . Seguindo a sucesso de dias e noites e o
movimento regular do sol, que pe ritmo evidente no nosso universo,
o cristo se compraz em celebrar tambm ritmadamente o mistrio de
Cristo. O Senhor santificou todo o tempo e, por isso, todos os dias
so santificados. Na vida concreta, porm, para recordarmos esta
verdade, chamamos de santos certos dias e certos tempos em que
abrimos mais espao para celebrar o mistrio de Cristo ou algum
aspecto da salvao. 1. O Domingo 113. O cristo, semelhana dos
judeus, consagrou um dia por semana celebrao de seus mistrios. A
escolha recaiu sobre o primeiro dia da semana, dia da Ressurreio do
Senhor, dia tambm que recorda a criao em Cristo, o recapitulador da
Histria. Por isso, alm de ser o Dia do Senhor, o Domingo tambm o
dia do Homem que busca viver a liberdade49 . 114. Em nenhum
momento, homens e mulheres seguidores de Cristo se sentem melhor
como filhos de Deus do que na celebrao da Eucaristia. O memorial da
morte e ressurreio de Cristo, que nos faz filhos no Filho (cf. Jo
1,12; Gl 3,26)50 , nos une de tal modo a Jesus que em Cristo, com
Cristo e por Cristo, na unidade do Esprito Santo, damos ao Pai toda
a honra e toda a glria. Por isso, a Eucaristia a celebrao
primordial do Domingo. Celebrao eucarstica a que esto ligadas de
certo modo as inmeras celebraes da Palavra nas comunidades que no
tm padre. 115. Mas no s a missa que celebra o Dia do Senhor. As
primitivas celebraes do Domingo, centradas na Frao do Po se
realizavam dentro da reunio alegre dos que juntos comiam com
simplicidade de corao (cf. At 2,26)51 . Cessar o trabalho neste dia
no s para descansar, que tem tambm o seu valor, mas para oferecer
oportunidade de encontro com os irmos. So celebraes do Domingo,
acolhendo o Ressuscitado, que deseja nossa unio fraterna (cf. Jo
17,21)52 , as horas de convvio alegre e gratificante com os seus,
as obras de misericrdia com os que sofrem e a partilha da Palavra
em momentos de aprofundamento e reflexo. 116. O Senhor, dizendo aos
homens e mulheres dominai a terra (cf. Gn 1,28)53 , nos fez
senhores deste mundo. Este senhorio restaurado por Cristo deve ser
intensa e conscientemente celebrado. Urge ver no descanso no apenas
um espao para o cio, mas a proclamao crist da libertao dos filhos
de Deus de todo o mal, que o pecado injetou no trabalho atravs do
suor, da ganncia, da competio e explorao. E ver ainda no passeio,
na recreao e no esporte o exerccio daquela realeza com que Deus
coroou seus filhos e suas filhas, capacitando-os para dominar a
natureza, brincar com ela e usufruir de suas riquezas inesgotveis.
117. Sentimos fundo no corao a deturpao do Domingo, imposta pelas
injustias e pelo consumismo de nossa poca dominada pelo esprito
secularista. Alguns so obrigados a trabalhar no Domingo por imposio
de suas profisses. A caridade com que exercem seus deveres seu
sacrifcio espiritual, j que esto
15. 15 impedidos de celebrar plenamente o Dia do Senhor.
Inaceitvel, outrossim, a sociedade que obriga multides luta pela
sobrevivncia por causa do trabalho mal remunerado, que desfigura o
Domingo feito dia de horas-extras. A prpria realidade urbana
dificulta, muitas vezes, a vivncia crist do Dia do Senhor. 118.
Lamentamos tambm o consumismo secularista, que leva centenas de
pessoas ao mero lazer, viagens e programas, que mais parecem
criados para distrair ou dirigir as atenes em direo oposta ao culto
e religio. 119. Corremos tambm o risco de esvaziar o sentido do
Domingo com o excesso e superposio de comemoraes, que pretendemos
realar neste dia, sem notar que no sobra espao para celebrar o
mistrio pascal. Ncleo de todo o Ano Litrgico e ponto de convergncia
de todos os dias da semana, o Domingo espera, urgentemente, mais
ateno de nossa pastoral. Nas parquias com muitas comunidades,
programe-se a celebrao das missas dominicais de modo a
possibilitar, por turno, o Santo Sacrifcio em todas elas. Para isso
necessrio reeducar as comunidades centrais no sentido de se
contentarem com a celebrao da Palavra, quando a missa celebrada nas
outras. 120. A Semana tem tonalidade pascal particular, quando
celebrada luz do Domingo. Elementos do mistrio de Cristo e da
Igreja so recordados na sucesso de seus dias, sendo que a consagrao
do Sbado a Maria muito cara piedade popular. Se a Liturgia das
Horas faz deste ltimo dia, o dia da feliz consumao, com razo
celebramos aquela que, assunta ao cu em corpo e alma, j se encontra
na glria. Associada ao Cristo, ela tambm prottipo da pessoa humana
glorificada. 2. Os Ciclos do Ano Litrgico 121. A Pscoa e as
alegrias de celebr-la so grandes demais para caberem nos limites de
um Domingo. Desde cedo a Igreja passou a consagrar a isso o ano
todo, dividindo-o em ciclos: um conjunto de domingos para celebrar
o Salvador, que se manifesta ao mundo; e outro grupo dedicado
Paixo-Morte e Ressurreio de Cristo, que nos envia o Esprito Santo.
E entremeando estes dois ciclos, numa longa srie de domingos,
revive-se o que Jesus fez e disse como nosso Redentor. 122. Trduo
Pascal. Assim como o Domingo o ponto alto da semana, o Trduo pascal
da Paixo-Morte, Sepultura e Ressurreio do Senhor o pice luminoso de
todo o Ano litrgico54 . 123. O Trduo pascal comea na Quinta-Feira,
hora da Ceia do Senhor, quando Cristo antecipa sacramentalmente sua
Morte e Ressurreio. Aps um dia de penitncia, que a Sexta-feira
Santa e um dia de silncio, o Sbado, o povo cristo concentra suas
atenes na Viglia pascal, me de todas as viglias55 , porque celebra
a Ressurreio de Jesus e a dos cristos com ele. 124. Tempo pascal.
Os cinqenta dias entre o Domingo da Ressurreio do Senhor e o
Domingo de Pentecostes sejam celebrados como um grande domingo, um
s dia de festa56 . So celebraes que convergem para o Cristo
vitorioso e entre ns, enquanto Pentecostes, com a vinda do Esprito
Santo, lembra o coroamento e a culminncia da Pscoa do Senhor. 125.
Pscoa festa e novo ritmo de vida. O Esprito que o Senhor nos d nos
impulsiona continuamente a viver a nossa pscoa, que so as mltiplas
passagens da morte para a vida.
16. 16 126. Quaresma. A Igreja preparou os catecmenos para a
iniciao crist nos quarenta dias que precedem a Pscoa. Hoje a
Quaresma convoca-nos para a orao, o jejum e a caridade expressa
pela esmola. Assim manifestamos a nossa abertura para a Palavra de
Deus, que nos leva converso de nossos pecados, para vivermos a
fraternidade em que fomos inseridos pelo Batismo. 127. A Campanha
da Fraternidade, com que a Igreja, no Brasil, desencadeia um grande
movimento de evangelizao, recebe da Liturgia o incentivo para seu
esprito de caridade e o desejo de converso com que anima sua pregao
nos Meios de Comunicao Social, nas aulas de religio e grupos de
estudo e orao. A Campanha da Fraternidade, por outro lado, cada ano
pede Liturgia, um gesto concreto de converso para todas as
comunidades do pas. 128. Advento, Natal e Epifania. A salvao comea
com o mistrio do Natal, quando Cristo, edificando sua tenda entre
ns (cf. Jo 1,14)57 , une o homem a Deus e aos irmos, reconstituindo
a grande famlia humana. 129. A preparao para o Natal tem
caractersticas prprias. Evocando a expectativa que precedeu a vinda
do Messias, nos pe no corao toda a alegria e gratido por sermos
salvos. Ao mesmo tempo aprofunda o sentido da segunda vinda, o fim
dos tempos, onde teremos em plenitude os bens que o Natal comea a
dar-nos e nos convida a procurar. 130. A Liturgia do Natal celebra
ainda a visita dos magos, o Batismo de Jesus e o Casamento de Can:
porque Cristo quis revelar-se desde o princpio como o Salvador de
todos, veio capacitar-nos para sermos filhos no Filho e santificar
as grandes realidades humanas. 131. Chamamos, de maneira no
completamente feliz, de Tempo comum o mais longo tempo de celebraes
litrgicas em que evocamos o mistrio de Cristo em sua plenitude: so
33 ou 34 semanas dedicadas ao memorial do que Cristo fez e disse,
esclarecendo as dimenses de nossa salvao. Foi para pregar e operar
sinais que ele nasceu; morreu para se mostrar fiel sua misso; e
ressuscita para continuar suas atividades na Igreja de maneira
sacramental. 132. O Tempo comum no tempo vazio. tempo de a Igreja
continuar a obra de Cristo nas lutas e nos trabalhos pelo Reino.
133. O Santoral. Temos na Liturgia, sobretudo no Tempo comum, um
calendrio de comemoraes e festas dos santos e, em especial, da
Virgem Maria. Ningum desconhece quanto cara ao nosso povo a devoo
aos santos, abrindo-nos horizontes para nossa pastoral. A Liturgia
valoriza este culto. Se nos ciclos do Natal e da Pscoa celebramos o
que Cristo fez para sua Igreja, j na comemorao da Me de Deus e de
todos os santos evocamos o que a Igreja realiza, em Cristo, para a
glria do Pai. 134. Por isso, no basta procurar nos santos apenas
proteo nas diversas contingncias da vida; impe-se mais t-los como
verdadeiros modelos de vida, inspiradores de nosso projeto cristo.
135. Assim, Maria, para alm de toda ternura que sua devoo inspira,
deve ser vista sobretudo como Me da Igreja; pois assim como o filho
traz em seu rosto os traos de sua me, ns cristos nos empenhamos por
marcar nossa vida com a escuta da Palavra, o amor incondicional a
Cristo e a caridade solcita para com os irmos, que caracterizam a
santidade de Maria.
17. 17 136. Finalmente, no podemos deixar de notar uma certa
defasagem que sofremos, celebrando a Liturgia nica em nossas
regies. O Ano litrgico, calcado sobre os ciclos csmicos, encontra
maior fora de expresso quando se celebra a Pscoa para a nova Vida
num cenrio em que a natureza eclode numa florao de cores e vida.
Cabe-nos suprir esse desencontro, ressaltando na Liturgia outros
sinais; em vez da vida que ressurge no cosmos, uni-la Vida que
anseia na Histria. Nesta linha se compreende melhor, por exemplo, a
Campanha da Fraternidade, que nos faz refletir sobre os sinais de
morte, que marcam nossa sociedade para nos abrir, na Pscoa e pela
Pscoa, s perspectivas de Vida, que Cristo nos oferece e ns devemos
construir. Por isso tambm merece ateno a iniciativa de algumas
regies do Brasil, que celebram no ltimo domingo de maio, final das
grandes colheitas, o Dia do Louvor. CAPTULO VII: ESPAOS E OBJETOS
PARA A CELEBRAO 137. No nosso pas, por toda parte, onde quer que se
aglomerem moradias, o povo sente necessidade de local de reunio
para celebrar sua f. 138. No Missal e na Liturgia das Horas tm um
natural destaque as festas de Dedicao das igrejas. Embora as
exigncias pastorais faam surgir hoje novos lugares para celebrao
litrgica, o templo o espao mais conveniente para nosso culto. 139.
O templo sinal da presena e ao salvfica do Pai; imagem do Corpo
Mstico de Jesus Cristo, nico e verdadeiro templo, construdo com
pedras vivas para oferecer sacrifcios novos (cf. Jo 2,19 e 21)58 .
O prprio Deus consente que nossos edifcios sejam sua casa59 , pois
nesse espao ele nos d vivenciar a sua unio conosco e a unio
fraterna entre ns. 140. Por isso, a igreja-edifcio sinal tambm da
Igreja-Comunidade60 . Assim este edifcio no uma construo qualquer:
sinal da Igreja peregrina, imagem da Igreja celeste61 . 141. A
Igreja, como famlia de Deus, precisa de uma casa para reunir-se,
dialogar, viver na alegria e na comum-unio os grandes momentos de
sua vida religiosa. Tendo em vista a crescente urbanizao, os
pastores cuidem, devidamente, de que todas as comunidades sejam
dotadas de locais de culto identificados claramente. Para manter a
memria do sagrado no mundo que se dessacraliza, valorize-se o toque
dos sinos nos horrios devidos. 142. A Igreja-edifcio deve ser
funcional e significativa, favorecendo, atravs de configurao e
distribuio dos dois espaos fundamentais, tanto a execuo da ao
litrgica quanto a participao ativa dos fiis62 . Para que cada um
possa exercer corretamente a sua funo, tenham o devido destaque, o
presbitrio, o altar, a sede da presidncia, a mesa da Palavra, a
cruz, o tabernculo e lugar para os diferentes ministrios, para
favorecer a participao dos fiis63 . 143. A ornamentao do local
concorre muito para expressar o sentido do templo. Por isso, nossas
igrejas e tambm os outros lugares onde se celebra o culto, devem
recorrer arte e ao bom gosto para criar um ambiente religioso
digno, cmodo,
18. 18 funcional e simples, sem ser banal. Cuidado especial se
deve ter com a acstica, para possibilitar a comunicao da palavra e
a execuo da msica, que pode impregnar o ambiente de nobreza e
religiosidade quando ressoa bem. 144. Os vasos sagrados, os
lugares, os livros e as vestes merecem ateno especial. No altar
mantenha-se apenas o estritamente necessrio para a Celebrao
eucarstica. tradicional o costume de empregar material nobre para
os vasos sagrados, dando-se liberdade aos artistas para execut-los
com criatividade e bom gosto64 . 145. Os livros litrgicos sempre
foram cercados de especial venerao e trabalhados com arte esmerada
por conterem a Palavra de Deus. Proclam-la, lendo folhetos, no
expressa a dignidade da Palavra e o apreo que por ela temos. Urge
reintroduzir em nossas celebraes o uso dos Lecionrios ou ao menos
da Bblia, para que possamos melhor sentir e expressar o apreo por
Deus que nos fala. 146. As vestes litrgicas com suas formas
especiais e cores variadas65 , so sinais para o povo e para os
prprios ministros de que eles agem aqui e agora em nome e na pessoa
de Cristo e da Igreja. Indicam ainda a diversidade dos servios
prestados na celebrao atravs do ministro66 . 147. A CNBB aprovou o
uso da tnica ampla de cor neutra com a estola da cor do tempo ou da
festa. Na confeco destas vestes deixa-se campo aberto criatividade
artstica, que sabe respeitar o decoro do culto e a expresso de
nossa cultura. 148. Os elementos-sinais na celebrao. Como
sacramento de Cristo, a Igreja revela e realiza a glorificao de
Deus e a santificao da humanidade atravs de elementos naturais: po,
vinho, leo, gua, luz, fazem parte do comer, beber, ungir, lavar e
iluminar, que so sinais nos sacramentos. A Liturgia recupera assim
o sentido do mundo criado, revelando nos vrios elementos a sua
capacidade de expressar simbolicamente a bondade do Criador.
conveniente que esses elementos, para melhor serem sinais, sejam
usados com certa abundncia, que represente a refeio, o banho
purificador, a uno reconfortante. CAPTULO VIII: LITURGIA E
ESPIRITUALIDADE 149. Vida espiritual uma vida orientada e
alimentada pelo Esprito, que Cristo prometeu e derramou em
Pentecostes. Desde ento o prprio Esprito que, dando testemunho ao
nosso esprito de que somos filhos de Deus, nos leva a viver como
irmos e irms e a construir o mundo, sinal do Reino, que Deus quer
para sua famlia. 150. Como testemunham os Atos dos Apstolos (At
2,42)67 os primeiros cristos assimilaram logo as dimenses bblica,
comunitria, sacramental e de compromisso da vida crist. Pois
freqentavam a doutrina das testemunhas da Ressurreio, o encontro
com os irmos, o partir do po entre oraes, conquistando a simpatia
de todo o povo (cf. At 2,27)68 . 151. Na Igreja existem diversas
formas de espiritualidade, nascidas do modo de viver o seguimento
de Cristo sob o impulso do Esprito Santo, que sempre o mesmo e,
entretanto, distribui generosamente sua diversidade de dons (cf.
1Cor 12,4-11)69 .
19. 19 152. Muitos santos, e alguns deles fundadores de
Congregaes e Ordens religiosas, graas ao carisma que lhes prprio,
iniciam um estilo de vida expresso na maneira de aceitar o dom da
filiao e o projeto do Pai. E para felicidade da Igreja, fizeram
escola. 153. A Liturgia fonte de vida e expresso celebrativa da
comunidade eclesial. Nela, homens e mulheres chegam ao mais alto
patamar da comunho com Deus, quando a criatura amada e redimida por
seu Senhor, dilata seu corao numa perene ao de graas, que se torna,
por sua vez, bendita escola de gratuidade. Por outro lado, os
leigos encontram fundamento para sua espiritualidade no Evangelho
vivido por tantos cristos leigos ao longo da histria da Igreja.
154. Alm disso, as comunidades eclesiais encontram na Liturgia os
grandes elementos de toda vida espiritual: ali est a Palavra nos
espaos privilegiados que as celebraes lhe do. 155. Nunca rezamos to
unidos como na Liturgia, que se define como ao comunitria por
excelncia e vista como escola e expresso alta de comunho. 156. A
Liturgia sinal e instrumento da graa e se desenvolve na celebrao da
Palavra, da Eucaristia e dos outros sacramentos. 157. E porque o
mistrio pascal de Cristo celebrado e atualizado em cada sacramento
deve ressoar e completar-se na vida, toda a Liturgia deve levar a
um compromisso social. O cristo celebrante sinal vivo do mistrio
pascal e portanto instrumento de salvao integral. Por outro lado,
na medida em que as comunidades esto comprometidas com a
transformao do mundo, seu engajamento repercute na Liturgia, fonte
e pice de toda a vida crist. 158. A espiritualidade ou seja a vida
que o Esprito implanta na escuta da Palavra, na construo da
comunidade, na Frao do Po, a vida dos seguidores de Cristo.
Portanto, Cristo o centro de toda espiritualidade. E para
aliment-la que ele se encontra no centro da Liturgia. 159. As
celebraes so o exerccio do sacerdcio de Cristo, revelam, anunciam e
tornam presentes as aes redentoras do Filho de Deus, sacrificado
pela libertao e salvao da humanidade. 160. Ligada a Cristo, que o
Verbo feito carne para viver as realidades humanas, a Liturgia
anima a vida crist como a alma, todo o corpo. D dimenso espiritual
Semana pela celebrao do Domingo, ao Ano todo pela seqncia dos
ciclos; est presente nos pontos altos da vida, pelos sacramentos e
nos acontecimentos e situaes do dia-a-dia, atravs da celebrao de
bnos apropriadas. Em sntese, pode-se dizer: a espiritualidade
litrgica o exerccio autntico da vida crist, como vida em Cristo,
enraizada nos sacramentos da Iniciao Cris CAPTULO IX: ADAPTAO E
CRIATIVIDADE 161. A reforma litrgica provocou uma onda de reflexes
e iniciativas, visando a encarnao das celebraes na vida, na ndole e
expresso do nosso povo. Para torn-la mais atraente, buscaram-se
meios, nem sempre felizes, de torn-la menos desencarnada, fria e
sem vida e mais espontnea, alegre e popular70 .
20. 20 162. Este esforo de incorporao das expresses culturais
em nosso culto tem suas razes de ser. A longa histria da Liturgia
nos mostra como e quanto as adaptaes lhe so conaturais. 163. Haja
vista o apelo que nos vem, neste sentido nos grandes documentos da
renovao litrgica, pois a Igreja no deseja impor forma nica e rgida
de celebrao, sem atender s legtimas variaes exigidas pela
diversidade dos grupos, regies e povos71 . 164. Entretanto, estamos
aqui num terreno complexo e difcil, no s devido herana pesada de
quatro sculos de imobilismo, mas tambm porque no fcil mudar as
formas da celebrao sem violentar a identidade da Liturgia. Alm de
um profundo conhecimento da Liturgia em suas dimenses teolgicas e
histrica, impe-se formar uma idia clara e firme do que se pretende
com as vrias adaptaes que buscamos72 . 165. A este propsito as
palavras que mais se repetem so: adaptao, criatividade, aculturao e
inculturao. So noes ricas, mas s vezes no bem e inteiramente
compreendidas. 166. Adaptao. O objetivo da Liturgia comunicar
humanidade a vida de Cristo e apresentar ao Pai seu culto de
glorificao. Ela o alcana atravs de formas litrgicas renovveis
conforme os tempos e situaes culturais dos povos. Essa renovao
pedaggica e pastoral que chamamos adaptao. 167. O grande motivo
para mudar palavras, gestos, sinais e ritos no o gosto das pessoas
celebrantes ou a moda em voga em determinados momentos, mas a maior
participao no culto a Deus73 integrado em nossa vida atual. 168.
Por isso, a adaptao litrgica se faz com critrios: para tornar os
sinais mais transparentes mentalidade e cultura do povo; para
conseguir aquela participao consciente e ativa que nos pe em
comunho com a Igreja local e universal; para ressaltar melhor o
contedo fundamental de nossa Liturgia, que celebrao da f no mistrio
de Cristo, ponto culminante do projeto de Deus. 169. Esta adaptao
com estes critrios se exerce em vrios nveis: tem lugar tanto na
traduo dos textos e modificao dos ritos, como na celebrao dos
sacramentos e da Eucaristia, atenta ndole das diferentes
assemblias. 170. Criatividade. Tanto a adaptao, como a aculturao e
a inculturao, exigem muita sensibilidade e inteligncia clara na
hora de se reformular ritos, gestos, sinais e textos. Por
criatividade no se deve entender tirar como que do nada expresses
litrgicas inditas. Pelo contrrio, a verdadeira criatividade
orgnica: est ligada aos ritos precedentes como o celebrante de hoje
aos do passado. Uma f, que no cria cultura, no foi suficientemente
anunciada, no foi completamente assimilada ou no foi plenamente
vivida. 171. Para melhor entender a criatividade mais prtico
observar onde ela se realiza. Celebrar bem o primeiro princpio da
criatividade. O presidente da assemblia, por exemplo, no pode
executar gestos e textos sempre do mesmo modo, quando est s com
crianas ou num pequeno grupo ou numa igreja lotada.
21. 21 172. E sobretudo, em qualquer situao, fazer com que os
ritos e as palavras tenham vida e exprimam a f que desperta a
Palavra proclamada, a oferta trazida ao altar, a procisso rumo mesa
eucarstica. Nada disto se encontra nas rubricas: preciso criar.
173. J h espao para a criatividade nas opes oferecidas pelos livros
para vrios ritos, como o ato penitencial, leituras para os
sacramentos e para o canto. com as atenes voltadas para a assemblia
que a escolha deve ser feita, quando se prepara seriamente a
celebrao. O mesmo se diga, com mais razo, das vrias aberturas que
so dadas ao presidente para fazer a sua exortao ao seu povo. Os
folhetos deveriam oferecer possibilidades para as devidas adaptaes
dentro de uma sadia criatividade. 174. meta da criatividade a
introduo de novos smbolos, mais compreensveis do povo de hoje,
porque criados pela piedade popular ou experimentados nas CEBs e
outros grupos de orao74 . Para isso inaugure-se um processo de
pesquisa, reflexo e anlise, com ajuda de um grupo de trabalho,
integrado por telogos, liturgistas, pastoralistas e outros
especialistas. 175. Finalmente, a Igreja vista hoje como toda
ministerial e Cristo, compreendido como Libertador do homem todo,
sob a ao do Esprito que a anima, ho de levar o homem todo a novas
maneiras de celebrar, na Liturgia, a f que professamos na vida.
176. Aculturao. A criatividade vai alm da adaptao que transplanta
ou enxerta elementos culturais na Liturgia. Por ela espera-se mais,
e quer se chegar a um nvel mais profundo que se chama aculturao.
177. De modo geral, aculturao acontece no encontro de duas culturas
resultando da uma sntese ou a dominao de uma pela outra. Aplicado
Liturgia, o termo designa o processo dinmico que se desencadeia
quando a f se instala nas bases de uma cultura. H elementos
culturais prprios de cada povo que so compatveis com a liturgia
romana, primeiro porque so isentos de erro e superstio e assim,
facilmente, podem ser incorporados por ela; alm disso, se a Igreja
cultiva os valores das vrias naes, no apenas para atender ao desejo
dos povos, mas para secundar as exigncias da prpria Liturgia. 178.
Na medida em que este processo leva elaborao de novos elementos nos
ritos, preciso aprovao da Conferncia Episcopal e da S Apostlica75 ,
pois cabe a essas instncias garantir o autntico esprito litrgico e
preservar a unidade substancial do rito romano. 179. Inculturao. A
inculturao j processo mais profundo: simplesmente incorpora ritos
sociais ou religiosos, dando-lhes sentido cristo, sem desfigurar
sua natureza. A prpria liturgia romana assim se formou,
incorporando, por exemplo, a festa pag do Sol invicto na celebrao
do Natal. 180. Por esta inculturao a Liturgia se prope continuar na
Histria o milagre de Pentecostes quando, sob o impulso do Esprito,
multides entendiam a linguagem nica do amor e proclamavam as
maravilhas de Deus, expressando-se cada um em sua lngua (cf. At
2,4.6)76 .
22. 22 181. Nas Misses modernas, voltando ao esprito de So
Paulo, missionrio das naes, a Igreja descobriu na florao dos
valores culturais dos povos, as sementes do Verbo presentes no
ntimo das pessoas espera da luz do Evangelho. 182. O Conclio
confiou competncia e ao zelo das Conferncias Episcopais de todo o
mundo a incumbncia de estudar com seus peritos os elementos que
oportunamente podem ser incorporados na Liturgia. Isto vem ao
encontro dos anseios de integrar em nossas celebraes expresses da
religiosidade popular. 183. Entre ns os vrios grupos tnicos, como
os ndios, os negros, os orientais, apresentam muitos desses
elementos, que j merecem ser inculturados em nossas celebraes,
sobretudo nos sacramentos. CAPTULO X: A PASTORAL LITRGICA 184. Uma
viso geral da Liturgia abre novos horizontes para a vida da Igreja
e no dissimula, mas ressalta os grandes desafios que urge
enfrentar. 185. A reflexo que empreendemos tem um objetivo concreto
e premente que a Pastoral litrgica, ou seja, a ao organizada e
corajosa da Igreja para levar o Povo de Deus participao consciente,
ativa e frutuosa na Liturgia. 186. Promover a Liturgia j ao
pastoral pelas dimenses comunitria e ministerial, catequtica,
missionria, ecumnica e transformadora que ela possui. Ela no esgota
toda a ao da Igreja, mas promovendo-a, estamos desencadeando o
dinamismo de todas as pastorais, pois a Liturgia fonte e pice de
toda atividade eclesial77 . 187. Corao e crebro desta pastoral a
Equipe de Pastoral Litrgica em nvel nacional, diocesano e
paroquial. Cabe-lhe com a CNBB, com o bispo ou com o proco
planejar, nos respectivos campos de ao, a Pastoral litrgica, o que
ser mais eficiente se continuamente pesquisar a situao real dos que
celebram, aprofundar sempre mais seu contedo teolgico, formar
agentes e organizar sua ao. 188. Estas equipes, grande anseio do
Conclio, ns as estamos organizando de modo lento demais face s
urgncias desta pastoral78 . 189. A grande tarefa destas equipes
dinamizar um processo de formao de todos os participantes da
Liturgia, visando, de um lado, que a celebrao seja sempre mais
expressiva e, de outro lado, o enriquecimento espiritual de todo o
povo. 190. fundamental que os seminaristas se familiarizem com o
esprito litrgico e se preparem bem para presidir as celebraes; para
isso importa que os diversos aspectos da formao no seminrio
encontrem expresso privilegiada nas celebraes litrgicas, alm de
observar atentamente a carga horria mnima e o contedo programtico
estabelecido79 . Assim, a vivncia da Liturgia acompanha todas as
etapas da vida do formando. importante que desde o incio do
seminrio tenha uma participao consciente e ativa na Liturgia e
aprenda gradativamente a celebrar a Liturgia das Horas. O Ano
Litrgico deve orientar a espiritualidade comunitria do seminrio.
191. Que os presbteros se aprimorem de modo permanente para
crescerem na compreenso e animao dos vrios ministrios80 , j que
para a maioria do nosso povo a celebrao da Liturgia a nica
evangelizao de que participam de fato ao longo de sua vida. E no se
esquea que a Liturgia mal celebrada causa
23. 23 freqentemente o afastamento dos fiis. Os presbteros
valorizem, a celebrao da Liturgia das Horas, como parte de seu
ministrio. 192. Os homens e mulheres que assumem funes ou s
participam na Liturgia sejam imbudos do esprito litrgico, tenham
conscincia dos mistrios que celebram e sejam capacitados para
executar as suas funes81 ; e que os irmos e irms religiosos tenham
no programa de seu processo formativo a preocupao de transformarem
a Liturgia em fonte da prpria espiritualidade e de se tornarem
animadores da celebrao litrgica82 , inclusive, participando de
cursos promovidos pela CRB e dioceses. 193. A nossa comunidade
eclesial caminha na Histria, interpretando o homem luz de Cristo na
Igreja. Portanto, que a formao litrgica se aprofunde, estudando o
mistrio de Cristo e da Igreja. Pois as variaes nos enfoques da
Cristologia e Eclesiologia determinam maneiras diversificadas de
celebrar. A Liturgia tem a tarefa de construir comunidades
eclesiais vivas e missionrias. 194. Por outro lado, a pessoa humana
que celebra, sendo profundamente marcada pelas circunstncias
histricas, sociais, culturais e polticas, tem naturalmente maneiras
diferentes de se expressar. Isso importante para a Liturgia, que
dever ser sensvel s condies da populao: se urbana ou rural, se vive
em ambiente secularizado, ou dominada pelos Meios de Comunicao
Social83 . preciso estudar esta antropologia que d to precioso
contributo para a formao litrgica. 195. Tenha-se presente que a
grande meta desta formao ampla e profunda preparar agentes para a
aculturao e a inculturao da Liturgia, porque homens e mulheres que
vivem as duas realidades, a scio-cultural e a celebrativa, podero
facilitar a tarefa para os responsveis por esse processo. 196.
importante, enfim, partir para este enriquecimento da Liturgia,
porquanto, precisamos fazer a celebrao sempre mais autntica, mais
unida vida, para transformar a vida toda em orao. II. ORIENTAES
PASTORAIS SOBRE A CELEBRAO EUCARSTICA 197. Tendo em mente o que
vimos na I PARTE, vamos agora considerar apenas a missa dominical
celebrada com o povo. Esta a forma de celebrao denominada tpica
pela Instruo Geral sobre o Missal Romano (cf. n.77-78)84 .
Eventualmente, pela escassez de padres, pode acontecer,
especialmente em ambientes rurais, que esta forma, infelizmente, s
deva realizar-se em dias de semana. 198. Estas celebraes da
comunidade reunida para a Ceia no Dia do Senhor, embora tenham uma
unidade fundamental, so muito diferentes, dependendo do lugar e dos
grupos de pessoas. No o mesmo celebrar no centro da cidade ou na
periferia, na capela rural ou numa catedral, com muitos fiis ou
poucas pessoas numa CEB. O mesmo se pode dizer de celebraes no
Norte, Nordeste, ou no Extremo Sul. No se pode deixar de levar em
considerao estas particularidades, em conseqncia do princpio: o
sujeito da celebrao a Igreja reunida em assemblia, com suas
particularidades prprias. 199. com profundo respeito por esta
diversidade da Igreja reunida para a celebrao que foram elaboradas
as orientaes que se seguem. Elas ho de contribuir para uma celebrao
mais ativa, consciente e frutuosa da missa na Igreja no Brasil, que
quer dar novo nimo vida litrgica. 200. Estas orientaes pastorais no
substituem a Instruo Geral sobre o Missal Romano e demais
diretrizes dos Dicastrios Romanos ou as orientaes do
24. 24 Episcopado. Querem, apenas, sublinhar alguns pontos que
parecem mais importantes, interpretando-os luz da realidade do
nosso povo, simples e sedento da Palavra. 201. Queremos incentivar
as comunidades a valorizar ainda mais a celebrao da missa e
encorajar pastores e Equipes de Pastoral Litrgica a prosseguirem no
esforo de tornar mais evidentes suas riquezas. A celebrao da Ceia
do Senhor , de fato, o grande momento da ao do Esprito Santo sobre
a comunidade. Nela se realiza o verdadeiro encontro celebrativo de
irmos, num momento comunitrio, festivo, participativo e orante, que
brota do cho da vida, ao mesmo tempo, ponto de partida e de chegada
da vida crist. 202. Primeiramente se trata de alguns elementos que
dizem respeito missa em geral, mas do ponto de vista pastoral,
complementando as consideraes da I PARTE. Em seguida, se abordam,
pormenorizadamente, as diversas partes da missa. CAPTULO I: A
CELEBRAO DA EUCARISTIA 1. Celebrao da Eucaristia e Comunidade 203.
Ser cristo fundamentalmente, pelo Batismo, seguir o caminho de
Cristo na vida e entrar como Igreja na caminhada pascal do Senhor.
A celebrao da missa, como toda celebrao, sempre tempo especial, que
os batizados tomam para fazer o memorial da ao de Deus em favor de
seu povo: o que Deus fez ontem, faz hoje e far sempre. A vida
antecede e sucede celebrao, porque celebrar um momento de nossa
vida, mas diferente da labuta cotidiana. Existncia crist e celebrao
esto intimamente relacionadas, pois a vida precisa de momentos de
celebrao para ser vivida em Cristo. 204. Com freqncia, porm, no
Brasil como em outras partes, sente-se um anseio para que a relao
entre Liturgia e vida aparea melhor na celebrao. Ora, na
Eucaristia-Pscoa do Senhor, onde a vida se articula mais com a
celebrao; pois a missa que melhor celebra a Morte e Ressurreio de
Cristo, acontecimento fundante no s da Liturgia, mas de toda a
Histria. 205. Celebrar o mistrio de Cristo celebrar Cristo em nossa
vida e a nossa vida em Cristo. luz do mistrio pascal, a caminhada
do continente latino-americano, marcado pelo mal e em busca de uma
libertao integral, deve ser interpretada como processo pascal.
Portanto, no alheia celebrao. 206. As comunidades, na sua
caminhada, sabero como integrar Liturgia e vida. A tradio litrgica
da Igreja lhes apontar outros dois caminhos: a aculturao e a
integrao dos acontecimentos na celebrao. 207. A fidelidade
linguagem litrgica nos dar segurana no aproveitamento desse terreno
novo. Sobretudo na missa, forma mais freqente e mais freqentada de
Liturgia, deve transparecer prevalentemente a ao e no s longa
comunicao verbal. Uma leitura dramatizada, uma procisso em ritmo de
dana esto nessa perspectiva. A missa, que sempre comportou os
elementos visuais que ajudam a orao, pode hoje beneficiar-se com os
modernos recursos, como slaides, posters, vdeos e retro-projetores.
208. A recomendao para dar no s valor, mas grande valor ao canto e
msica nos leva a insistir neste particular.
25. 25 Fundamental que a assemblia se expresse a seu modo e por
isso, ela escolha e at, sem excluir outros, componha seus prprios
cantos. Para que o povo tenha formao para isso e produza letra e
msica adequadas missa e outras celebraes, preciso educ-lo. Um
subsdio, por exemplo, o Hinrio publicado pela CNBB. 209. Alm disso,
necessrio ampliar a rea do canto, hoje ainda um tanto restrita em
nosso meio. A Orao eucarstica, nas partes permitidas ou ao menos o
Prefcio e a Narrao da Instituio; as leituras ou a sua concluso so
um campo quase inexplorado ainda. E as aclamaes, pelo seu valor de
dilogo, comunicao e participao dos fiis, devem ter mais incentivo e
ser mais variadas: cantos, palmas ou vivas. 210. Os instrumentos
musicais disponveis em cada regio podem ser admitidos no culto
divino a juzo e com o consentimento do Bispo Diocesano contanto que
sejam adequados ao uso litrgico ou possam a ele se adaptar,
condigam com a dignidade do templo e favoream realmente a edificao
dos fiis85 . 2. Preparao da Celebrao da Eucaristia 211. Todas as
recomendaes e perspectivas acima lembradas exigem que a missa no
seja uma celebrao improvisada ou rotineira, mas preparada com
esmero. 212. A missa renovada pelo Vaticano II ao de Cristo e do
Povo de Deus hierarquicamente organizado86 , reunido em assemblia,
onde cada um tem o direito e o dever de participar segundo a
diversidade de ministrios, funes e ofcios87 . 213. Mas no basta a
mera distribuio de tarefas ou a simples escolha de cantos, como
muitas vezes ocorre, fazendo o povo ser apenas executor de funes e
no verdadeiro agente da ao litrgica88 . 214. Por isso, necessrio
envolver a comunidade de modo mais amplo e mais ativo, por exemplo,
na seleo e ensaio dos cantos e na preparao prvia das leituras
bblicas: na escolha de gestos e ritos expressivos, conforme seus
costumes, bem como possa sugerir pistas para monies e introdues.
Pode ainda colaborar na escolha do rito penitencial, com eventuais
questionamentos ou invocaes, propondo intenes para a Orao dos fiis,
e at sugestes para a homilia. 215. Sobretudo nesta busca de uma
missa sempre bem preparada, indispensvel ter uma Equipe estvel de
Pastoral Litrgica, distinta eventualmente de Equipes de Celebrao.
No h evidentemente normas quanto a constituio e ao funcionamento de
uma Equipe de Pastoral Litrgica. As experincias das comunidades so
importantes neste ponto. Assim a Equipe de Pastoral Litrgica aquela
que, de modo estvel, se preocupa com a vida litrgica da comunidade
local, que celebra no somente a Eucaristia, mas tambm os outros
sacramentos e sacramentais. 216. A Equipe h de reunir pessoas que
tenham dom e capacidade ou que j exeram ou gostariam de exercer
funes especficas na celebrao. O ideal que ela reflita a assemblia
na sua diversificao de idades, sensibilidades e engajamentos nas
diversas dimenses da pastoral da Igreja. A renovao peridica dos
seus membros, para evitar monoplios, cansao, rotina e permitir
efetivamente a participao da comunidade, muito importante.
26. 26 217. Quanto s Equipes de Celebrao, alm de estarem
abertas participao para um nmero maior e mais varavel de pessoas,
podem ser constitudas por grupos definidos, sob a orientao da
Equipe de Pastoral Litrgica. A Parquia ter ento a equipe dos
jovens, dos casais, das catequistas, do quarteiro, do bairro ou do
movimento, que vo se revezando na animao das missas e dos
sacramentos. 218. O padre participar o mais possvel da preparao. De
qualquer forma, antes da celebrao, por exemplo, atravs de uma
folha-roteiro e de um breve encontro, o sacerdote e cada um dos que
iro exercer uma funo particular, saibam quais os textos, cantos,
ritos, oraes que lhes competem, pois a boa ordenao da celebrao
importante para a participao de todos89 . 219. Haver certamente
muitas maneiras de se preparar uma celebrao. Indicamos uma, ao lado
de outras possveis: 220. 1 Passo: situar a celebrao no Tempo
litrgico e na vida da comunidade. 1) Situar a celebrao no Tempo
litrgico: ver o Domingo e o Tempo litrgico. Por exemplo: IV Domingo
da Pscoa, Evangelho do Bom Pastor. No incio de um novo Tempo
litrgico ser til aprofundar o sentido do Tempo, discutir algumas
caractersticas prprias que daro um estilo sua celebrao. No se
celebra do mesmo jeito na Quaresma ou no Tempo pascal. 221. 2)
Situar a celebrao na vida da comunidade: auscultar os
acontecimentos que marcam a vida de nossa comunidade que passaram
ou que vm: sociais, religiosos; do dia-a-dia, da comunidade, da
regio; nacionais, internacionais Para enraizar a celebrao no cho da
vida, na histria onde nos atinge o mistrio de Cristo que
celebramos, bom ver a realidade que marca as nossas vidas. 222. 3)
Ver outros acontecimentos que marcam a celebrao: por exemplo, uma
data especial, dia da Bblia, ms de maio, dia das mes, aniversrio do
proco e outros j citados, marcaro a orao dos fiis, o rito
penitencial, a homilia. 223. 4) Ver com quem se vai celebrar: o
conhecimento da assemblia com suas caractersticas prprias, sem
esquecer os grupos minoritrios, importante, tambm, para situar a
celebrao no tempo e na histria. 224. 2 Passo: Aprofundar as
leituras. Neste segundo passo da preparao lem-se os textos bblicos
luz dos acontecimentos da vida e do mistrio celebrado (1 passo).
Convm iniciar pelo Evangelho que a leitura principal do mistrio de
Cristo celebrado; e, a seguir, a 1 leitura, o salmo responsorial e
a 2 leitura. 225. Opera-se, ento, o confronto entre a Palavra de
Deus e a vida ajudado pelas perguntas: o que dizem as leituras? o
que significam para a nossa vida? como podem orientar o nosso agir?
quais os desafios de nossa realidade hoje? como a palavra de Deus
ilumina nossa realidade? como ligamos a Palavra com o mistrio
celebrado? 226. 3 Passo: Exerccio de criatividade. luz dos passos
anteriores vida da comunidade, Tempo litrgico, Palavra de Deus
procura-se, num exerccio de criatividade, fazer surgir idias, mesmo
sem ordem, maneira de uma tempestade mental. Selecionar depois as
idias a respeito de ritos, smbolos, cantos, para os ritos da
entrada, o ato penitencial, o gesto da paz, a proclamao das
leituras etc.
27. 27 227. 4 Passo: Elaborar o roteiro da celebrao, levando em
conta os passos anteriores. Define-se primeiramente o tom da
celebrao, isto , o estilo global que convm a uma missa de Pscoa, ou
de 7 Dia, ou com crianas A seguir, passando em revista as diversas
partes da missa, escolhem-se os cantos, os ritos etc., para cada
momento da mesma, registrando tudo numa folha-roteiro, que servir
de guia para os diversos ministros. 228. A tambm se distribuem as
tarefas e os servios; anotam-se coisas a fazer antes da celebrao,
como cartazes decorao, ensaios etc; e tambm o que deve ser feito
durante a celebrao: no s o que fazer, mas quem o faz e quando.
CAPTULO II: AS PARTES DA CELEBRAO EUCARSTICA 229. A missa compe-se
das seguintes partes: A) Ritos iniciais; B) Liturgia da Palavra; C)
Liturgia Eucarstica; D) Rito de Encerramento90 . importante que
saibamos reconhecer estas diversas partes, que formam a espinha
dorsal da celebrao, pois no interior deste esquema fundamental que
sero feitas as escolhas que visam a eficcia pastoral. 230. Ao
considerar as diversas partes da celebrao, sublinhamos apenas
aquelas que parecem mais importantes nas circunstncias pastorais
diversificadas da Igreja no Brasil, luz da caminhada de 25 anos de
celebrao da Eucaristia, desde o Vaticano II. 1. Ritos iniciais da
missa: formar assemblia, entrar no clima da celebrao. 231. O
ESQUEMA RITUAL Canto de abertura Sinal da Cruz, Saudao, Acolhida
Ato penitencial Hino Glria a Deus Orao do dia AMM 232. As partes
que precedem a Liturgia da Palavra, isto , introduo eventual
celebrao pelo(a) animador(a), entrada dos ministros, saudao, ato
penitencial, Senhor, tende piedade, Glria e Orao do dia (Coleta) tm
carter de exrdio, introduo, preparao91 . Por isso mesmo tem grande
importncia para uma boa celebrao. 233. Esses ritos tm por
finalidade fazer com que os fiis reunidos constituam a comunidade
celebrante, se disponham a ouvir atentamente a Palavra de Deus e
celebrar dignamente a Eucaristia92 . 234. Para suscitar estas
disposies poder ser oportuno, sempre segundo as circunstncias
locais, desenvolver ou sublinhar mais um ou outro elemento inicial,
evitando acentuar tudo ao mesmo tempo. 235. O Diretrio para missas
com crianas prev, para evitar a disperso, que se possa omitir um ou
outro elemento do rito inicial, exceto a Orao do dia (Coleta) e sem
que nenhum seja sempre desprezado93 .
28. 28 236. Em certas circunstncias tradicionais, o Missal
Romano prev tambm a omisso parcial ou total dos ritos iniciais,
excetuada a Orao do dia, quando outros ritos precedem e integram a
liturgia do dia, por exemplo, no Domingo de Ramos e da Paixo e na
Apresentao do Senhor, aps a procisso. Nestes casos, os ritos de bno
e procisso desempenharo tambm a funo dos ritos iniciais, que a de
constituir a assemblia, bastando a Orao do dia e o Glria, quando
previsto. O mesmo poder dar-se, se oportuno, em certas
circunstncias de nossas comunidades, por exemplo, na Festa do
Padroeiro ou encerramento do ms de Maio etc., quando a missa segue
imediatamente a procisso solene. Tambm no caso de integrao da
Liturgia das Horas com a missa, h substituio de ritos iniciais.
Nunca h de faltar, no entanto, a Orao do dia (Coleta), que a mais
tradicional forma de abertura de uma celebrao. Entrada 237. Nossas
celebraes costumam ser precedidas por breves palavras iniciais
do(a) animador(a). Mais do que uma exortao ou de uma introduo
temtica, prefervel situar a celebrao deste Domingo particular no
contexto do Tempo litrgico e das circunstncias concretas da vida da
comunidade; evocar algumas grandes intenes subjacentes orao,
suscitar atitudes de orao e convidar ao incio da celebrao com o
canto da entrada. 238. Enquanto o sacerdote entra com os demais
ministros, a assemblia convidada a levantar-se, para dar incio
celebrao com o canto da entrada. A finalidade deste canto
justamente dar incio celebrao, criar o clima que vai promover a
unio orante da comunidade e introduzir no mistrio do Tempo litrgico
ou da festa94 . Por isso, pode ser til prolongar o tempo deste
primeiro canto, para que atinja a sua finalidade. 239. Este canto
de abertura acompanha tambm a entrada do sacerdote e dos
ministros95 . Onde for possvel, conveniente valorizar uma
verdadeira procisso de entrada do sacerdote e dos demais ministros,
que prestaro um servio especfico na celebrao: aclitos, ministros
extraordinrios da Comunho, leitores e outros ministros, como, por
exemplo, os que vo ler as intenes da Orao dos fiis, os que vo
trazer as oferendas, eventualmente, cantores etc. Estes ministros,
oportunamente, tomaro lugar no presbitrio. 240. H possibilidade de
uma grande variedade nesta procisso. O Missal Romano96 prev, se
oportuno, o uso de cruz processional acompanhada de velas acesas,
turbulo j aceso, livro dos Evangelhos ou Lecionrio. Outras
circunstncias podero sugerir novos elementos como crio pascal, gua
benta, bandeira do padroeiro numa festa de santo, ramos, cartazes
com dizeres, participao de representantes da comunidade (adultos,
jovens, crianas)97 . 241. A introduo da dana litrgica na procisso
de entrada, onde for conveniente e a juzo e consentimento do bispo
diocesano, poder ser de grande proveito para criar o clima de
celebrao festiva da f. 242. No havendo nenhuma possibilidade de
procisso de entrada, como ocorre freqentemente em capelas com muita
gente, o sacerdote poder fazer primeiramente a saudao, para
convidar, em seguida, o povo a cantar o canto inicial98 . Saudao ao
povo reunido
29. 29 243. Para saudar o povo reunido, expressando a presena
do Senhor nele e o mistrio da Igreja99 , o sacerdote convidado a
usar uma frmula ritual de inspirao bblica qual o povo responde com
uma frmula conhecida e sempre a mesma. Eventualmente, a saudao
ritual ganhar mais significado se for cantada. 244. desejvel que
aps esta saudao ritual haja uma palavra mais espontnea de introduo
do sacerdote ou de outro ministro idneo100 . Uma sadia criatividade
saber desenvolver com fruto diversas inovaes possveis como: saudao
espontnea aos presentes, em particular aos visitantes ou novos
membros da comunidade que se apresentam; a categorias especficas,
conforme as circunstncias (jovens, casais, mes etc.), seguida
eventualmente por um breve canto de boas vindas. A motivao para a
celebrao pode incluir intenes da assemblia, ou acontecimentos a
comemorar luz do mistrio pascal. Oportunamente, gestos da assemblia
podero intervir, por exemplo, acolher-se mutuamente atravs de
saudaes aos vizinhos, bater palmas, dar vivas em honra do Cristo
Ressuscitado, a Nossa Senhora, ao Padroeiro(a) em dia de festa etc.
245. Em tudo isso, trata-se de ajudar a criar um ambiente
acolhedor, fraterno e formar uma verdadeira comunho na f, usando de
discernimento e variedade, conforme as circunstncias do Tempo
litrgico, de lugar e de cultura. Ato penitencial 246. Em seguida, o
sacerdote convida ao ato penitencial, realizado ento por toda a
comunidade, por uma confisso geral, sendo concludo com a absolvio
geral101 . 247. Geralmente, entre ns, o ato penitencial um momento
importante da celebrao, valorizado por uma sadia criatividade.
Muito bem acolhido em nossas comunidades, tem como funo preparar a
assemblia para ouvir a Palavra de Deus e celebrar dignamente os
santos mistrios102 . 248. Alm de celebrar a misericrdia divina,
duas atitudes bsicas podem ser sublinhadas: o reconhecer-se
pecador, culpado e necessitado de purificao, na atitude do
publicano descrita em Lucas 18,9-14, e o reconhecer-se pecador como
expresso de temor diante da experincia do Deus Santo e
Misericordioso, a exemplo de Pedro, conforme Lucas 5,8 e Isaas
6,1-7. De acordo com as circunstncias, pode-se acentuar um ou outro
aspecto. 249. O Missal Romano prev o seguinte esquema: Introduo do
rito pelo sacerdote momento de silncio frmulas vrias para
reconhecer-se pecador: a) Confesso a Deus (Ato de contrio) b)
Versculos: Tende compaixo c) Forma litnica: invocao escolha e
resposta: Senhor, tende piedade Concluso: absolvio geral 250.
Temos, pois, os seguintes elementos: a) introduo pelo sacerdote; b)
parte central do rito, que permite a interveno de outros ministros
que no sejam o sacerdote; c) concluso com a absolvio geral, onde o
sacerdote tambm se inclui para deixar claro que no se trata do
sacramento da Penitncia.
30. 30 Todo o rito, por sua vez, pode ser substitudo pelo Rito
da Bno e Asperso da gua103 . O ponto central do rito comporta, alm
de um tempo de silncio, frmulas diversas de reconhecer-se pecador:
1) Ato de contrio (Confesso a Deus); 2) Versculos: Tende compaixo;
3 Forma litnica com invocaes escolha e resposta: Senhor, tende
piedade de ns. 251. Este esquema, respeitando o esprito da
variedade, poder ser usado com grande flexibilidade. Um ministro
que no seja o sacerdote poder orientar o momento de silncio com um
exame de conscincia para cada um olhar a sua vida e deixar que Deus
olhe o seu corao ou orientar as invocaes livres do Senhor, tende
piedade104 . 252. Existe a possibilidade de o rito penitencial
integrar ou ser complementado por cantos populares de carter
penitencial, refres variados, atitudes corporais (inclinar-se,
ajoelhar-se, erguer as mos em splica, bater no peito, fechar os
olhos, colocar a mo no corao etc.), smbolos (objetos ou gestos),
bem como de elementos visuais (cartazes, slaides) que se julgarem
mais aptos para externar os sentimentos de penitncia e de converso.
253. Os tempos penitenciais como a Quaresma e outros, quando no se
canta o Glria, sero mais propcios para um rito penitencial mais
desenvolvido, de acordo com a pedagogia do Ano litrgico, permitindo
assim maior variedade. 254. Embora se deva educar a conscincia
moral, cuidar-se- para no se cair nem no perigo do moralismo nem no
de acusao aos outros nem ainda no psicologismo atico; devem ser
valorizadas sobretudo as dimenses teolgicas, experienciais e
libertadoras do amor de Deus e da reconciliao. 255. O rito
penitencial bem realizado pode tornar-se um lugar importante para o
ministrio pastoral da educao ao senso do pecado pessoal,
comunitrio, social e do ministrio da reconciliao de toda a Igreja,
que encontra o seu pice de sacramentalidade no Batismo e na
Penitncia. Kyrie eleison - Senhor, tende piedade 256. De vez em
quando convm valorizar o Senhor, tende piedade em si, sem ser
integrado no rito penitencial, como canto em que os fiis aclamam o
Senhor e imploram a sua misericrdia105 , a sua ateno. uma aclamao
pela qual podemos louvar o Senhor Jesus pelo perdo, por olhar por
ns na sua misericrdia. Glria 257. O Glria um hino antiqussimo e
venervel, pelo qual a Igreja glorifica a Deus Pai e ao Cordeiro. No
constitui uma aclamao trinitria. Orao do dia (Coleta) 258. A seguir
o sacerdote convida o povo a rezar; todos conservam-se em silncio
com o sacerdote por alguns instantes, tomando conscincia de que
esto na presena de Deus e formulando interiormente os seus
pedidos106 . 259. Se os ritos anteriores tiveram bastante
dinamismo, fcil para o sacerdote motivar com poucas palavras o povo
para uma orao silenciosa de alguns
31. 31 instantes. Ser um verdadeiro momento de recolhimento
profundo, onde se experimentar a presena de Deus que fala nos
coraes. 260. A orao presidencial, a seguir, rezada pelo sacerdote
reassumindo em Cristo toda a orao do povo, exprime em geral a ndole
da celebrao. O tom de voz e a maneira de rezar, o gesto de mos
abertas, que o povo, eventualmente, poderia acompanhar, uma palavra
melhor explicitada, ajudaro a fazer deste momento o lugar de uma
verdadeira splica a Deus Pai, expresso de sua vida e de sua
experincia religiosa107 . 261. A coleo das Oraes do dia (Coletas),
as Oraes sobre as oferendas e Depois da Comunho do Missal Romano
constituem um acervo de valor teolgico inestimvel. Nem sempre, no
entanto, a sua linguagem e contedo correspondem s sensibilidades
culturais de nosso tempo. Por isso, na 2 edio tpica do Missal
Romano a ser aprovada pela S Apostlica, a CNBB oferece uma traduo
mais popular dessas oraes dos domingos, e uma srie de Oraes do dia
alternativas para cada um dos domingos dos Anos A, B e C,
inspiradas no Evangelho do dia. 2. Liturgia da Palavra: Celebrar a
Palavra 262. Resumindo