25
ANTROPOLOGIA ESTRUTURAL ARTE Elis Mendes Jessica Xavier Sofia Miers

Antropologia arte levistrauss (2)

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Antropologia arte levistrauss (2)

ANTROPOLOGIA ESTRUTURAL

ARTE Elis Mendes

Jessica Xavier

Sofia Miers

Page 2: Antropologia arte levistrauss (2)

O DESDOBRAMENTO DA REPRESENTAÇÃO NAS ARTES DA ÁSIA E DA AMÉRICA

Etnólogos diferem sobre alguns conceitos em relação a semelhança da arte primitiva em certos lugares ao redor do mundo. E, quando encontra-se algo, é procurado um ponto em comum -ignorando distância geográfica e afastamento histórico, gerando assim analogias a "qualquer preço".

Page 3: Antropologia arte levistrauss (2)
Page 4: Antropologia arte levistrauss (2)

1. Estilização acentuada

2. Simbolismo (ênfase nos traços característicos)

3. Representação do corpo através da split representation

4. Remoção dos detalhes isolados quando em conjunto

5. Indivíduo representado por dois perfis

6. Simetria elaborada, possuindo assimetria nos

detalhes

7. Transformação ilógica de detalhes em novos

elementos. Exemplo: pata vira bico

8.Representação intelectual, esqueleto ou órgãos

internos se sobrepõem ao corpo.

Page 5: Antropologia arte levistrauss (2)

• A arte chinesa arcaica e da costa noroeste foram aproximadas (individualmente) da dos Maori da Nova Zelândia. Além disso -segundo alguns autores- a arte primitiva do rio Amur apresenta:

"Uma surpreendentemente rica ornamentação curvilínea semelhante à dos Ainu e Maori, de um lado, e às culturas neolíticas da China (Yangshao) e do Japão (Jomon), do outro; que consiste particularmente no tipo de faixa decorativa caracterizada por motivos complexos, tais como serpentinas, espirais e meandros, que se contrapõem à ornamentação geométrica retangular da cultura do Baikal." (Field & Prostov 1942: 396).

• Essas artes de regiões e épocas distintas apresentam semelhanças, porém são incompatíveis em relação à geografia e história.

Estaríamos presos num dilema, que nos condena a negar a história ou a fechar os olhos para essas semelhanças tantas vezes verificadas?

Difusionistas: determinada inovação foi iniciada em um cultura para que, posteriormente, seja difundida de diversas maneiras.

Os difusionistas utilizam a história para explicar, mais quando a mesma não traz um retorno, recorre-se a outras áreas com a psicologia ou a analise estrutural da forma para achar respostas as semelhanças da arte.

Page 6: Antropologia arte levistrauss (2)

O animal é imaginado cortado da cabeça à cauda [...] há uma depressão entre os olhos, que se prolonga para baixo pelo nariz. Isso mostra que a cabeça em si não é vista de frente, mas como que formada por dois perfis que se tocam na boca e no nariz, e não entram em contato no mesmo nível com os olhos e a testa [...] ou o animal ou é representado como cortado ao meio, de modo que os perfis se juntam no meio, ou uma vista frontal da cabeça é apresentada com dois perfis do corpo adjacentes

Boas, 1927: 223-4

FRANZ BOAS (1858-1942)

Page 7: Antropologia arte levistrauss (2)

"[...] A enorme abertura da boca que se observa é produzida pela junção de dois perfis que formam a

cabeça. O corte da cabeça aparece mais claramente na fig. 20, que também representa o urso. [...] O

animal é fendido ao longo do corpo, de modo que apenas a parte frontal da cabeça combina. As duas

metades da mandíbula inferior não se tocam. O lombo é representado pelas linhas externas pretas, nas

quais o pêlo é indicado por linhas finas. Os Tsimshian chamam esse desenho de 'encontro de ursos' [...]."

Page 8: Antropologia arte levistrauss (2)

"Uma das características mais distintivas da arte decorativa shang

é um método peculiar de representar os animais em superfícies

planas ou arredondadas. É como se pegasse o animal e se o

fendesse longitudinalmente, começando pela ponta do rabo e

prosseguindo a operação até quase, mas não completamente, a

ponta do focinho; então, as duas metades são afastadas e o

animal bisseccionado é colocado estendido sobre a superfície,

com as duas metades unidas apenas pela ponta do focinho."

"Estudando os desenhos shang, tenho constantemente

tido a sensação de que essa arte é muito semelhante,

certamente no espírito e possivelmente nos detalhes,

à dos [...] índios da costa noroeste."

- Herlee Glessner Creel (1905-1994), 1935:64.

Page 9: Antropologia arte levistrauss (2)

Além de ser encontrada na China arcaica, entre os primitivos da Sibéria e

na Nova Zelândia, essa técnica aparece também entre os índios Kadiwéu.

Page 10: Antropologia arte levistrauss (2)

KADIWÉUS

• Pequena tribo do sul do Brasil, um dos últimos vestígios da nação dos Guaicuru.

• Essas pinturas são conhecidas desde o primeiro contato com os Guaicuru (no século XVII) e não evoluíram desde então.

• As pinturas precisam ser renovadas após alguns dias e são executadas com uma espátula de madeira mergulhada em caldos de frutas e folhas selvagens.

• As mulheres não trabalham a partir de um modelo, mas improvisam dentro dos limites de uma temática tradicional complexa.

• Não existem desenhos perfeitamente iguais, as diferenças estão na disposição variada dos elementos fundamentais (espirais, tracejados, cruzes, ondulações, etc.)

• É descartada a possibilidade de influência espanhola - dada a antigüidade da data em que esta arte foi descrita pela primeira vez.

Page 11: Antropologia arte levistrauss (2)

VÍDEOS: Kadiwéus | Pintura Indígena

Page 12: Antropologia arte levistrauss (2)
Page 13: Antropologia arte levistrauss (2)

COSTA NOROESTE KADIWÉU

• Escultura apresenta caráter realista enquanto o desenho é simbólico e decorativo.

• A arte masculina é centrada na escultura representativa e a feminina, na tecelagem e o desenho não representativos.

• O caráter primitivo das pinturas faciais guaicuru é desconhecido, porém, é possível que seus temas tenham tido um sentido realista ou pelo menos simbólico.

• Ambas artes praticam a decoração por meio de padrões e estão fortemente ligadas à organização social: serviam para traduzir e reafirmar os graus da hierarquia.

Page 14: Antropologia arte levistrauss (2)

Fig. 26. Pintura facial Kadiwéu executado por uma mulher indígena numa folha de

papel.

Fig. 27. Mulher Kadiwéu, 1892.

Page 15: Antropologia arte levistrauss (2)

KADIWÉU MAORI

• Em nenhum lugar fora essas duas regiões (Guaicuru-Nova Zelândia) a ornamentação facial e corporal atingiu um desenvolvimento comparado ou tamanho refinamento.

• Contraste entre a simetria das tatuagens maori, em relação a assimetria de alguns desenhos kadiwéu.

• As ornamentações de ambas são feitas em uma atmosfera semi-religiosa.

• Além de representarem emblemas, marcas de beleza e hierarquia, também são mensagem com função espiritual e lições.

• A tatuagem Maori marca na pele as tradições e a filosofia da raça, espírito.

Page 16: Antropologia arte levistrauss (2)

Fig. 28. Desenho de um chefe maori, séc. XIX.

Fig. 29. Modelos indígenas de tatuagem, escultura em madeira, final do século XIX. Em

cima, dois rostos de homem. Em baixo, um rosto de mulher.

Page 17: Antropologia arte levistrauss (2)

VÍDEO: Os segredos da tatuagem (History)

Page 18: Antropologia arte levistrauss (2)

Em que momento os elementos plásticos e gráficos se ligam?

• Conectados por uma relação funcional de modo que o modelo de um muda o do outro e vice-e-versa.

• Comparando a arte maori e guaicuru, temos a resposta. O plástico é o rosto e corpo e o gráfico a pintura ou tatuagem que se aplica neles.

Page 19: Antropologia arte levistrauss (2)

MÁSCARAS

Todas são consideradas culturas de máscaras.

• Guaicuru e maori: tatuagem

• Costa noroeste: a máscara na vida social

• China Arcaica: as máscaras tinham a função de espantar maus espíritos, assim como no Alasca.

• As máscaras estão mais ligadas ao panteão do que a ancestralidade. Nesse caso o ator só faz o

deus de tempos e tempos nas festas e cerimônias.

• Elementos gráficos e plásticos estão ligados entre a ordem social e a ordem sobrenatural, do

mesmo modo que a representação explica a junção do ator a seu papel, status sociais e os mitos e

culto e pedigrees.

Page 20: Antropologia arte levistrauss (2)

LINHAGEM

• Mesmo não sabendo nada da China Arcaica, o estudo de sua arte nos leva a perceber a disputa por autoridade, a concorrência entre hierarquias e os privilégios econômicos e sociais. Tudo isso a partir das máscaras e adoração das linhagens.

• Perceval Yetts: “A intenção parece ter sido quase que invariavelmente a de auto glorificação, mesmo quando o que se exibe é o consolo dos ancestrais ou o incremento do prestígio da família”.(1939:75)

• Nas tumbas de Anyang encontraram bronzes que festejavam as pessoas de uma mesma linhagem.

Page 21: Antropologia arte levistrauss (2)

• Creel explica que “(objetos) requintados e toscos eram produzidos

concomitantemente em Anyang, para pessoas de diferentes status

econômicos de prestígio”.

• Nos resta saber ainda se essas sociedades hierarquizadas e

fundadas em prestígios, apareceram de forma independente pelo

mundo ou tiveram uma origem em comum em algum momento.

• Ainda que houvesse esse contato, não poderia ser por detalhes,

dos traços a viajar por conta própria, indo à vontade de uma cultura

para chegar a outra, mas pelas partes orgânicas do estilo, estéticas,

vida social e espiritual estão unidas de forma estrutural.

Page 22: Antropologia arte levistrauss (2)

A SERPENTE DO CORPO REPLETO DE PEIXES

• O texto foi publicado originialmente nos Anais do XVIII Congresso de Americanistas, em 1948.

• Alfred Métraux (1902-1963) coletou um mito esclarecedor sobre duas ilustrações pré-colombianas: a lenda da serpente Lik.

"Lik é um animal sobrenatural, uma enorme serpente que leva os peixes dentro de seu rabo. Pessoas especialmente favorecidas pelo destino podem encontrar Lik encalhado na terra firme [...]. Lik lhes pede que para levá-lo para uma lagoa cheia de água. Os que não se apavoram [...] geralmente respondem que ele é pesado demais para ser carregado, porém, graças à sua magia, Lik sempre se faz de leve. Quando volta a nadar em águas profundas, promete dar aos que o ajudaram todo o peixe que desejarem, sempre que pedirem com a condição de jamais revelarem como o peixe foi obtido."

Page 23: Antropologia arte levistrauss (2)
Page 24: Antropologia arte levistrauss (2)

Às vezes, Lik engole as pessoas. Se elas ainda tiverem uma faca quando chegarem dentro da serpente, podem rasgar-lhe o coração e fazer uma saída; ao mesmo tempo, pegam todos os peixes que estão em seu rabo.

- Alfred Métraux

• Representa um animal sobrenatural: corpo humano, cabeça coberta por tentáculos;

• É possível ver um homem sendo devorado.

Page 25: Antropologia arte levistrauss (2)

O tio de Kidos'k disse-me que realmente viu Lik certa vez. Um dia, quando ele estava pescando de barco, de repente ouviu um grande barulho e reconheceu que era produzido por Lik. Imediatamente, ele remou com toda a força para a margem.

É possível ver a mesma criatura (Lik) sumergida no rio (sugerido pela

faixa decorada com ondas); rio em cuja superfície está um homem

navegando em seu barco.