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FIBRAS VERMELHAS Escrito por Danilo Peixoto & Renan David Revisão Final 14 de junho de 2015

Fibras vermelhas - Danilo Peixoto e Renan David

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FIBRAS VERMELHAS

Escrito por

Danilo Peixoto & Renan David

Revisão Final

14 de junho de 2015

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O MOTEL

É como uma necessidade, mas não sinto nada. Meu corpo se

atrita sobre o dela, mas não sinto prazer, nada parecido com

matar. Todas as vezes, são os olhos que me fazem pensar o

que ela teria sido se não fosse uma prostituta.

Um último suspiro de prazer para vítima e então posso começar

a sentir algo. O sangue borbulha em minhas mãos e seus

gemidos são sádicos. Apenas eu posso ouvi-los, mesmo que

percorram pelos corredores do motel e passem pelos vidros

finos, não há ninguém lá fora para escutar.

Estou tentando chamar a atenção, sem que seja óbvio demais,

além de uma assinatura.

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O COSTURADOR

Steven David, como um investigador da Cidade de Prata. Na

maior parte, há algo entre meus lábios e pode acreditar, não

é a língua de uma mulher, eu não poderia tirar uma da caixinha

a cada vez que vejo algo novo.

Eu não entendo a hipocrisia dos locais, mas sei que todos

querem chamar a minha atenção, mostrar o que gostam de fazer.

Se você não quer que alguém te entenda, não crie fatos e se

estou aqui, algo já foi criado.

Esse cara pode estar em qualquer lugar, mas caçar alguém que

está caçando tem suas vantagens, às vezes ele deixa sua caça.

— 32 anos, cabelos castanhos, caucasiana. Mas está faltando

algo...

— Acho que não. Olhe as genitais dela.

Ele se acanhou apenas em ouvir, então não hesitei em fazer

o trabalho de um novato. Removi a calça e lá estava o que

faltará, costurada como os dois últimos casos, era uma

assinatura em série de um patife com extrema frieza.

— Acabamos por aqui. Ligue para a LCC.

— Acho que nem vai precisar, está limpo demais. O serviço de

limpeza de um motel barato não ganha para isso.

Quando a LCC chegasse, deixaríamos mais uma cena de crime,

com as mãos vazias e um corpo.

— O que aconteceu aqui?

— Sexo e morte. Vocês não vão demorar muito.

— Ele é habilidoso para limpar?

— Ele é um maníaco.

— Essa cidade está cheia de maníacos com habilidades.

— Como se chama?

— Me chame de J.J.

— Não há como não deixar nada, J.J.

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A GAROTA

Ela é diferente, trabalha numa cafeteria perto de onde eu

trabalho. Na verdade, talvez esteja confundindo as coisas,

é a única garota com quem converso todos os dias. Cabelos

castanhos, claros e longos, é melhor observar de longe

tomando café.

— São fotos assustadoras.

— Desculpa, como?

Ela desentortou o pescoço e apanhou do chão as fotos. Agora

suas sobrancelhas pareciam torcidas.

— O que elas são? Tem muito vermelho, mas estão borradas.

Você é algum tipo de artista?

O compreendimento precoce dela havia me curado da euforia.

— O que elas fazem você sentir?

Ela sentou-se na minha frente, olhando os lados

apressadamente.

— Hum... Parece uma pizza gigante de cima.

— Gosta de pizza, senhorita?

— Oh... Catarina, senhorita está no céu.

— Joseph James.

Nós cumprimentamos um ao outro. Minha mão esquerda encontrou

a dela no centro da mesa.

— Gostaria de ir à uma pizzaria?

— Como um encontro?

— Sim. Como um encontro, se você aceitar...

— Claro, eu aceito. Talvez às 7 p.m.

— Talvez às 7 p.m.

Um sorriso riscou meu rosto, interpretei-o de modo que ela

não notasse.

— O que foi?

— É que... Ninguém fala assim.

— Eu falo, p.m.

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A RECEPÇÃO

Ele está cada vez mais esperto, se um dia ele já foi

desleixado. Outro motel, prostituta, linha de costura e uma

assinatura pela mão esquerda. É só isso, e o chão mais limpo

que já vi.

O tempo limita os humanos, mas não há nenhum limite aqui e

quanto mais tempo, mais coisas acumulam. Alguém viu algo.

— Não há registro?

— Não registramos nossos clientes para garantir a privacidade

deles.

— Descaso. Nenhum registro, toda a discrição possível, mas

uma câmera enorme apontada para o caixa.

O recepcionista passou as mãos lentamente por baixo do

balcão.

— Não! Nem pense nisso ou eu coloco uma bala na sua testa.

Você está preso e tem o direito de permanecer calado.

Dinheiro, o pecado do mundo, mas isso é até onde chegamos

fisicamente. Desejos, medos, todos os tipos de sentimentos

e fetiches humanos, o verdadeiro pecado é o que o dinheiro

pode comprar.

— Senhor Jeffrey. O que ele ofereceu-lhe para que ficasse

tão quieto num interrogatório simples.

O desgraçado permaneceu calado, cortando sua própria

respiração.

— Resposta errada. Garanto a você que podemos lhe oferecer

algo melhor, nada mal para um balconista de motel que será

preso por proteger alguém que nem conhece. Me diga, como ele

se registrou?

— Jeffrey Jacobsen.

— Olha só, seu xará. Obrigado, Senhor Jeffrey.

— E minha recompensa?

— Simples, estamos deixando o senhor ficar com o que ele te

deu. Mas acho que terá que gastar pagando a fiança por porte

de arma sem registro. Sem registro, não é?

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O INTERROGATÓRIO

Eu busquei aquele nome durante semanas. Jeffrey Jacobsen

nunca existiu. Mas havia milhares de J.J.

— Senhor, temos mais uma vítima?

— Dele?

— Sim, ela conseguiu sobreviver por um milagre, mas está em

coma.

Eu segui até aquela cena, a primeira diferente. Ela não havia

sido limpa, nem higienizada. Mas não precisei de nada que

estava lá.

J.J., se alguém trabalha como limpador, vendo todos aqueles

crimes, o quanto ele seria bom limpando a sua própria cena?

— Senhor, Joseph James. Senhor?

— Sabe por que está aqui?

Ele balançou a cabeça dizendo não, mas para mim soava como

um sim.

— Está aqui pelo assassinato de 7 prostitutas e uma tentativa

de homicídio seguido de estupro. Como você faz?

— É preciso traçar uma linha e então coloco minhas mãos por

baixo...

— Não. Sua mãe foi espancada pelo seu pai com as mãos e um

bastão de beisebol até a morte. A mãe atormentada que ganhava

sua vida costurando roupas para operários de indústria.

— Não fale da minha mãe.

— Não temos provas, a não ser pela última vítima.

— Eu sei como funciona, vocês não podem me manter aqui.

A porta esfolou o chão produzindo um zunido estridente sobre

o interrogatório.

— Senhor, o advogado dele está aqui e ele tem um álibi.

Ele se levantou, passou na minha frente. Era como se me

atravessasse. Naquele mesmo dia, 45 minutos depois,

recebemos uma ligação. A garota em coma havia acordado e

descrito um homem tal como ele estava na minha frente, cara

a cara.

Nós criamos nossos próprios demônios, Joseph se refletia na

sua infância. Bom ou mal, tudo está sobre um ponto de vista

e em relação a todas as coisas, apenas diferenças.

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