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C M Y K C M Y K A-30 A-30 Ciência Editora: Ana Paula Macedo [email protected] 3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155 30 CORREIO BRAZILIENSE Brasília, sábado, 8 de agosto de 2009 Mistura protéica é desenvolvida em São Paulo e melhora a qualidade de vida de pacientes que não conseguem mastigar. O alimento pode acompanhar receitas doces e salgadas, como vitaminas e sopas U ma pesquisa realizada por nutricio- nistas da Universidade de São Paulo (USP), de Bauru, e da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), de Botucatu, desenvolveu um tipo de carne em pó. Chamada de mistura protéica, o produto vai ajudar pessoas que têm difi- culdade de mastigar, ou não podem ingerir alimentos sólidos. O benefício atinge pa- cientes que se submeteram a cirurgia de redução de estômago, lábio leporino, aci- dente vascular cerebral (AVC), mal de Alzheimer, problemas na boca e tratamen- to quimioterápico. Na mistura protéica, pedaços de carne magra são cozidos, depois passam por um processo especial de secagem e são moí- dos. O resultado é um pó bastante fino e fa- cilmente solúvel em água, que pode ser adicionado a sopas e caldos. Além de pre- servar praticamente todas as suas vitami- nas e proteínas, a mistura protéica é mais saudável do que a normal, pois é feito com cortes somente de carne magra e não pos- sui adição de conservantes ou temperos. Em 100g da mistura, 80g são de proteí- nas de alto valor biológico. A quantidade de gordura na mesma amostra é de 1,6g, muito menor do que de carne normal. A cada 100g de contrafilé, 2,02g são gordura, já no lom- bo grelhado essa quantidade sobe para 3,30g. Outra vantagem da carne em pó é o preço. Ela custa, em média 60%, menos que os suplementos de proteína já existentes no mercado, feitos à base de soja e milho. Suely Prieto Barros, nutricionista do Hos- pital de Reabilitação de Anomalias Cranio- faciais da USP, que trabalha há 25 anos com pacientes que fizeram operações na boca, ajudou a desenvolver a carne em pó. Ela ex- plica que para seus pacientes existia uma grande dificuldade de se conseguir nutrien- tes provenientes da carne, já que todos os alimentos devem ser líquidos. “Quando co- locávamos carne nas sopas e coávamos, ela ficava quase toda na peneira. Tínhamos uma perda financeira e um aproveitamento mínimo dos nutrientes, com prejuízo à cica- trização cirúrgica”, conta. Depois de desenvolvido, o pó passou por um teste de palatabilidade, ou sabor. Ele foi oferecido a 32 pacientes que passa- ram pela cirurgia bariátrica, em um hospi- tal em Jaú, no interior de São Paulo. O teste foi coordenado por Silvia Papini-Berto, professora da Faculdade de Medicina da Unesp. Segundo ela, o sabor da carne foi aprovado. “Os pacientes consideraram a carne em pó bastante leve e saborosa”, conta. “Esses pacientes passarão pelo me- nos dois meses se alimentando somente de líquidos, por isso a importância do gosto ser agradável”, justifica. A fase seguinte da pesquisa foi adaptar o produto para fabricação em escala indus- trial. Uma indústria de alimentos adaptou a fórmula. De acordo com Lúcio Caleffi, geren- te de Pesquisa e Desenvolvimento da Bertin Alimentos, foram feitos vários testes de for- mulação para chegar a uma mistura ideal. “Testamos várias formas de aplicação, tais como sopas, vitaminados, sucos e caldos. Também fizemos as análises de perfil de ami- noácidos e tabela nutricional.” Desses testes, resultou a mistura atualmente desenvolvida. No futuro, o alimento poderá ser usado para complementação da merenda escolar, e por pessoas que não estão doentes. “O produto não tem contraindicação, pois é baseado nas proteínas da carne. Seu con- sumo pode contribuir para uma dieta ba- lanceada”, completa Lúcio. A carne em pó está atualmente em fase de registro na à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e deve chegar aos consumidores até o fim do ano. Carne em pó A carne em pó é colocada no liquidificador e misturada à sopa, ou à vitaminas: nutrição balanceada para pacientes que têm problemas para engolir Mistura protéica tem a cor e sabor natural da carne: os pacientes consideraram o alimento bastante leve e saboroso Suely Prieto Barros (á esquerda), nutricionista do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP, demonstra como usar a carne em pó Fotos: Camila Alvarez/SerCom Centrinho-USP

Carne em Pó

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Correio Braziliense - Editoria Ciência - 08/08/2009

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Page 1: Carne em Pó

C M Y K C M YK

A-30A-30

Ciência EEddiittoorraa:: Ana Paula [email protected]

3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155

30 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, sábado, 8 de agosto de 2009

Mistura protéica é desenvolvida em São Paulo e melhora a qualidade de vida de pacientes que não conseguem mastigar. O alimento pode acompanhar receitas doces e salgadas, como vitaminas e sopas

Uma pesquisa realizada por nutricio-nistas da Universidade de São Paulo(USP), de Bauru, e da UniversidadeEstadual de São Paulo (Unesp), de

Botucatu, desenvolveu um tipo de carneem pó. Chamada de mistura protéica, oproduto vai ajudar pessoas que têm difi-culdade de mastigar, ou não podem ingeriralimentos sólidos. O benefício atinge pa-cientes que se submeteram a cirurgia deredução de estômago, lábio leporino, aci-dente vascular cerebral (AVC), mal deAlzheimer, problemas na boca e tratamen-to quimioterápico.

Na mistura protéica, pedaços de carnemagra são cozidos, depois passam por umprocesso especial de secagem e são moí-dos. O resultado é um pó bastante fino e fa-cilmente solúvel em água, que pode seradicionado a sopas e caldos. Além de pre-servar praticamente todas as suas vitami-nas e proteínas, a mistura protéica é maissaudável do que a normal, pois é feito comcortes somente de carne magra e não pos-sui adição de conservantes ou temperos.

Em 100g da mistura, 80g são de proteí-nas de alto valor biológico. A quantidade degordura na mesma amostra é de 1,6g, muitomenor do que de carne normal. A cada 100gde contrafilé, 2,02g são gordura, já no lom-bo grelhado essa quantidade sobe para3,30g. Outra vantagem da carne em pó é opreço. Ela custa, em média 60%, menos queos suplementos de proteína já existentes nomercado, feitos à base de soja e milho.

Suely Prieto Barros, nutricionista do Hos-pital de Reabilitação de Anomalias Cranio-faciais da USP, que trabalha há 25 anos compacientes que fizeram operações na boca,ajudou a desenvolver a carne em pó. Ela ex-plica que para seus pacientes existia umagrande dificuldade de se conseguir nutrien-tes provenientes da carne, já que todos osalimentos devem ser líquidos. “Quando co-locávamos carne nas sopas e coávamos, elaficava quase toda na peneira. Tínhamosuma perda financeira e um aproveitamentomínimo dos nutrientes, com prejuízo à cica-trização cirúrgica”, conta.

Depois de desenvolvido, o pó passoupor um teste de palatabilidade, ou sabor.Ele foi oferecido a 32 pacientes que passa-ram pela cirurgia bariátrica, em um hospi-tal em Jaú, no interior de São Paulo. O testefoi coordenado por Silvia Papini-Berto,professora da Faculdade de Medicina daUnesp. Segundo ela, o sabor da carne foiaprovado. “Os pacientes consideraram acarne em pó bastante leve e saborosa”,conta. “Esses pacientes passarão pelo me-nos dois meses se alimentando somente delíquidos, por isso a importância do gostoser agradável”, justifica.

A fase seguinte da pesquisa foi adaptar oproduto para fabricação em escala indus-trial. Uma indústria de alimentos adaptou afórmula. De acordo com Lúcio Caleffi, geren-te de Pesquisa e Desenvolvimento da BertinAlimentos, foram feitos vários testes de for-mulação para chegar a uma mistura ideal.“Testamos várias formas de aplicação, taiscomo sopas, vitaminados, sucos e caldos.Também fizemos as análises de perfil de ami-noácidos e tabela nutricional.” Desses testes,resultou a mistura atualmente desenvolvida.

No futuro, o alimento poderá ser usadopara complementação da merenda escolar,e por pessoas que não estão doentes. “Oproduto não tem contraindicação, pois ébaseado nas proteínas da carne. Seu con-sumo pode contribuir para uma dieta ba-lanceada”, completa Lúcio. A carne em póestá atualmente em fase de registro na àAgência Nacional de Vigilância Sanitária(Anvisa) e deve chegar aos consumidoresaté o fim do ano.

Carne em pó

A carne em pó é colocada no liquidificador e misturada à sopa, ou à vitaminas:nutrição balanceada para pacientes que têm problemas para engolir

Mistura protéica tem a cor e sabor natural da carne: os pacientes consideraram o alimento bastante leve e saboroso

Suely Prieto Barros (á esquerda), nutricionista do Hospital de Reabilitação deAnomalias Craniofaciais da USP, demonstra como usar a carne em pó

Fotos: Camila Alvarez/SerCom Centrinho-USP