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BIBLIOTECA ESCOLAR ESAS GAIA PRÉMIOS NOBEL 2016 http://www.nobelprize.org/

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BIBLIOTECA ESCOLAR ESAS GAIA PRÉMIOS NOBEL 2016

http://www.nobelprize.org/

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Nobel da Medicina vai para a descoberta dos mecanismos da

autofagia

ANDREA CUNHA FREITAS

03/10/2016

http://www.publico.pt/n1745973

A investigação do japonês Yoshinori Ohsumi foi reconhecida pelo comité do Nobel.

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O prémio Nobel da Medicina de 2016 foi atribuído ao investigador Yoshinori Ohsumi, do Instituto de Tecnologia de Tóquio (Japão), pelas “descobertas sobre os mecanismos da autofagia”, anunciou esta segunda-feira o comité do Nobel no Instituto Karolinska, em Estocolmo (Suécia). "Foi uma surpresa", reagiu o cientista japonês numa primeira entrevista para o responsável científico no departamento de comunicação do comité do Nobel, adiantando: "Hoje ainda temos mais questões sobre a autofagia para esclarecer do que quando comecei."

A autofagia (ou autofagocitose) é um processo celular que dá origem à degradação de componentes da própria célula. É um processo estreitamente regulado que desempenha uma função normal no crescimento celular, diferenciação e na homeostase, e é um dos principais mecanismos por meio dos quais uma célula em estado de desnutrição redistribui os nutrientes.

“O laureado com o prémio Nobel deste ano descobriu e esclareceu mecanismos da autofagia, um processo fundamental para a degradação e reciclagem dos componentes das células”, refere o comunicado do comité.

Foi durante os anos 60 que os investigadores perceberam que a célula conseguia destruir o seu conteúdo envolvendo-o em membranas e formando pequenos sacos, que eram transportados para um comportamento de reciclagem – chamado “lisossoma” – e degradados. A palavra “autofagia” vem do grego e significa comer-se a si mesmo. Em 1974, o Prémio Nobel da Medicina foi atribuído ao cientista belga Christian de Duve pela descoberta dos lisossomas. Foi este investigador que “baptizou” este complexo sistema de reciclagem celular de autofagia.

Este processo de autodestruição tinha muitos passos por esclarecer. No início dos anos 90, Yoshinori Ohsumi realizou uma série de experiências com leveduras (do vulgar

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fermento do padeiro) para identificar os genes essenciais na autofagia. Depois, esclareceu alguns dos mecanismos da autofagia nessas leveduras e mostrou como o sofisticado processo funciona nas nossas células.

“As descobertas de Ohsumi levaram-nos até um novo paradigma no conhecimento da forma como as células reciclam o seu conteúdo”, refere o comunicado de imprensa, que adianta ainda que os avanços do investigador japonês revelaram a importância fundamental da autofagia em processos fisiológicos como a adaptação à fome ou a resposta a infecções.

Na sua investigação, Yoshinori Ohsumi usou células de levedura – um modelo experimental que é muito utilizado para estudar células humanas, apesar do desafio colocado por se tratar de células muito pequenas com estruturas que não são facilmente visíveis no microscópio. No laboratório, o cientista cultivou células do fermento do padeiro sem as enzimas que ajudam o processo de reciclagem em pequenas estruturas (que equivalem aos lisossomas nas células humanas). Depois, fez com que estas células com mutações passassem fome, sujeitando-as a uma situação de stress e obrigando-as a reagir. Observou que os reservatórios de reciclagem eram preenchidos com pequenas vesículas (nas células estas vesículas – ou autofagossomas – servem para o transporte celular até ao lisossoma) e como eles funcionavam. “Com esta experiência, Yoshinori Ohsumi provou que a autofagia também existia nas células de leveduras. Mas, mais importante ainda, encontrou um método para identificar e caracterizar os genes fundamentais para este processo”, explica o comunicado do comité do Nobel.

O cientista quis explorar estas células de fermento com vesículas acumuladas em situação fome. Esta acumulação, concluiu, não poderia acontecer se os genes determinantes para a autofagia estivessem inactivos. Quais genes? Yoshinori Ohsumi introduziu mutações em vários genes e depois induziu a autofagia. Em apenas um ano, o cientista japonês identificou os primeiros genes essenciais para a autofagia e, mais tarde, caracterizou as proteínas fabricadas por esses genes. Assim, mostrou que a autofagia era controlada por várias proteínas (e por sua vez) e que cada uma delas regulava uma fase distinta da formação dos autofagossomas. Rapidamente se percebeu que os mecanismos observados nestes modelos experimentais também aconteciam nas nossas células.

“Graças a Ohsumi e outros que seguiram os seus passos, hoje sabemos que a autofagia controla funções fisiológicas importantes que são necessárias quando há componentes nas células que é preciso eliminar ou reciclar”, nota o comunicado do comité.

O processo de autofagia pode proteger-nos e funcionar como um sistema de defesa em diversas situações como as infecções. Quando uma célula é submetida a uma situação de stress, como uma infecção ou fome, ela é capaz de activar um sistema em que vai buscar os nutrientes necessários para se reciclar e sobreviver a esse momento. Nos casos em que há um stress contínuo e a célula não se consegue reciclar, ela pode acabar por se autodestruir.

Mas este sistema de defesa também tem um lado mau. No caso do cancro, por exemplo, este mecanismo de degradação das células pode ter um efeito negativo, promovendo o crescimento de células cancerosas. O que acontece aqui é que a autofagia acaba por garantir que a célula cancerosa sobreviva numa situação de stress provocada por uma mutação genética, reciclando-se e adaptando-se a um ambiente sem nutrientes e oxigénio, e assim potenciando o crescimento destas células. Também há situações em que mutações nos genes envolvidos na autofagia podem provocar doenças neurológicas

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e genéticas. As perturbações no processo de autofagia já foram associadas a doenças como a Parkinson e a diabetes do tipo 2.

Galardão para um só cientista Yoshinori Ohsumi tem 71 anos e obteve o seu doutoramento em 1964 na Universidade de Tóquio. Após alguns anos a trabalhar na Universidade de Rockefeller, em Nova Iorque, nos EUA, regressou a Tóquio para criar o seu próprio laboratório. Desde 2009 que investiga e lecciona no Instituto de Tecnologia de Tóquio. Yoshinori Ohsumi recebeu um telefonema do secretário do júri, Thomas Perlmann, pouco antes do anúncio oficial. “Ficou um pouco surpreendido”, contou este membro do comité, citado pela agência de notícias AFP. Na curta entrevista que deu a Adam Smith, do departamento de comunicação do comité Nobel, o cientista japonês comentou ainda que "o facto de ser o único laureado" também foi uma surpresa.

Desde 2000 que este Prémio Nobel era dividido por mais do que um investigador, existindo apenas uma outra excepção em 2010, quando o cientista britânico Robert Geoffrey Edwards foi reconhecido pelo desenvolvimento na área de fertilização in vitro. Em 2015 o Prémio Nobel da Medicina foi atribuído ao norte-americano William Campbell e ao japonês Satoshi Omura “pelas suas descobertas de um tratamento inédito contra as infecções causadas por parasitas nemátodos”; e também à cientista chinesa Tu Youyou, “pelas suas descobertas de um tratamento inédito contra a malária”.

O prémio atribuído esta segunda-feira é o primeiro da edição dos Nobel de 2016. Esta próxima terça-feira será feito anúncio dos premiados na área da Física e na próxima quarta-feira será a vez da Química. O Nobel da Paz é conhecido na sexta-feira e na próxima segunda-feira, dia 10, é a vez da Economia. Por fim, o Prémio Nobel da Literatura será revelado a 13 de Outubro.

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Agora falta saber como manipular a autofagia

ANDREA CUNHA FREITAS

03/10/2016

http://www.publico.pt/n1746044

Investigadora portuguesa fala sobre a investigação premiada com o Nobel da Medicina.

A levedura é um dos modelos experimentais usados para o estudo da autofagia DR

Raquel Lima já usa nas suas investigações o conhecimento adquirido e divulgado pelo cientista japonês Yoshinori Ohsumi. A investigadora no Instituto de Inovação e Investigação em Saúde (I3S), no Porto, estuda a perigosa relação entre a autofagia e o cancro. Ao PÚBLICO explica que o que tenta fazer no seu laboratório é evitar que a reciclagem celular permita a sobrevivência das células cancerosas. Ou seja, quer incentivar o momento em que as células se comem a si mesmas até ao limite, até ao ponto em que se matam. E isto é bom quando falamos de células más.

Qual é a importância da descoberta dos mecanismos de autofagia das células?

Os estudos do cientista Yoshinori Ohsumi permitiram a descoberta de genes essenciais para a autofagia. Este é um mecanismo que ocorre normalmente em todas as células, em que estas degradam os seus próprios componentes (levando à sua reciclagem), permitindo-lhes assim sobreviver em situações mais adversas (como falta de nutrientes e de oxigénio e infecção). Sabe-se que alterações na autofagia estão associadas ao desenvolvimento de diferentes doenças, como doenças neurodegenerativas (Alzheimer e Parkinson) e cancro. A elucidação das causas que levam a alterações na autofagia, bem

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como de que modo é que estas podem levar à doença, têm sido assuntos muito estudados nos últimos anos, com vista a desenvolver e melhorar as estratégias de tratamento.

O que ainda falta saber sobre a autofagia?

Embora a autofagia tenha sido classicamente vista como um mecanismo de sobrevivência celular, há cada vez mais estudos que a associam a processos de morte da célula. Sabe-se ainda que é um processo altamente regulado (com envolvimento de várias moléculas de vias de sinalização diferentes) e que pode ser induzido por diferentes estímulos, o que aumenta a sua complexidade. É preciso perceber melhor os mecanismos de regulação e em que contexto ocorrem para desenvolver abordagens que permitam a sua modulação.

Se conseguirmos de alguma forma (de que forma?) intervir na autofagia, ajudando as

células neste processo de reciclagem, teremos uma resposta para algumas doenças?

Quais?

São várias as doenças em que se observaram alterações na autofagia, como cancro, doenças metabólicas, doenças neurodegenerativas, cardiomiopatias, miopatias e doença de Crohn. Sabendo de que modo as alterações na autofagia (nomeadamente o seu aumento ou diminuição) se associam a uma determinada doença, e compreendendo de que modo a autofagia é regulada, será possível desenvolver novas estratégias e fármacos que permitam melhorar o tratamento destas doenças.

Raquel Lima é investigadora no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S) DR

Que modelos animais e outros (como a levedura) são usados para o estudo da autofagia?

Além dos estudos usando leveduras como modelo, como os de Yoshinori Ohsumi, a investigação sobre autofagia tem utilizado outros modelos como linhas celulares, vermes (C. elegans), mosca da fruta (Drosophila) e ratinhos.

Na sua investigação o que está a tentar perceber na relação da autofagia com o cancro?

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Sabendo que a autofagia está envolvida no desenvolvimento do cancro e que poderá contribuir para a sua resistência à terapia, os intervenientes no processo de autofagia poderão ser considerados potenciais alvos terapêuticos. Nos últimos anos, temos estado envolvidos no estudo do efeito de novas pequenas moléculas, que modulam a autofagia em linhas celulares de vários tipos de cancro humano, tentado potenciar a morte destas células. Temos estudado o efeito destas moléculas em linhas celulares de cancro do pulmão, da mama e do melanoma. E verificámos que, através da indução de autofagia, as moléculas levam à diminuição das células tumorais.

Nobel da Física leva-nos até aos estados exóticos da

matéria

Por Nicolau Ferreira e Teresa Firmino

04/10/2016 http://www.publico.pt/n1746107

(actualizado às 19:36)

Novos materiais, novos supercondutores, computadores incrivelmente rápidos – eis algumas aplicações possíveis da física por trás do prémio deste ano. Há três galardoados.

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O Prémio Nobel da Física de 2016, anunciado esta terça-feira, leva-nos numa viagem até aos estados exóticos da matéria. Até ao mundo das temperaturas muito baixas (muito para lá dos zeros graus Celsius) e de átomos em películas tão finas que estão quase só

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numa ou em duas dimensões. Neste mundo da matéria fria, o que acontece? Será que a matéria muda de estado ou, como dizem os físicos, há transição de fases?

No mundo que todos conhecemos, vemos que as moléculas da água, por exemplo, podem estar no estado gasoso, líquido ou sólido. E que, às temperaturas que nós próprios podemos suportar, as moléculas de água passam de um estado para o outro. Ou seja, ocorre a tal transição de fases. Mas os três premiados com o Nobel da Física deste ano – os britânicos David Thouless, Duncan Haldane e Michael Kosterlitz, todos físicos teóricos a trabalhar nos EUA – ajudaram-nos a compreender o que se passa com a matéria a temperaturas muito baixas, perto do chamado “zero absoluto” (que é de 273 graus Celsius negativos), e em sistemas com uma ou duas dimensões.

Até às suas investigações, nas décadas de 70 e 80, achava-se que nada acontecia nesses mundos da matéria fria com menos de três dimensões (comprimento, altura e largura). Que não havia transição de fases. David Thouless (da Universidade de Washington em Seattle), Duncan Haldane (da Universidade de Princeton) e Michael Kosterlitz (da Universidade de Brown) viram que sim, que a matéria mudava de estado. E que tinha propriedades físicas bizarras. Esta mudança chama-se “transição de fase topológica”.

“Ninguém tinha considerado essa possibilidade”, explica-nos Pedro Sacramento, físico da matéria condensada no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. “Essa ideia nova não estava em desacordo com a teoria anterior. O que adicionou foi mais uma via”, acrescenta.

“Pelas descobertas teóricas das transições de fase topológicas e fases topológicas da matéria”, a Real Academia Sueca das Ciências atribui-lhes agora o Nobel da Física. Os três cientistas vão receber ao todo 833.000 euros. Metade irá para David Thouless e a outra metade para Michael Kosterlitz e Duncan Haldane.

“Fiquei muito surpreendido e satisfeito. Só agora é que há um número tremendo de novas descobertas com base no trabalho inicial. Isto ensinou-nos que a mecânica quântica se pode comportar de uma forma muito mais estranha do que poderíamos adivinhar”, disse Duncan Haldane ao telefone durante o anúncio do prémio, citado pelo site Physics World. “Era apenas um modelo que demonstrava algo… E como muitas descobertas, tropeça-se nelas e é preciso perceber que há uma coisa interessante ali.”

Regressando um pouco atrás, as mudanças de estado da matéria no nosso quotidiano são bem conhecidas. Os físicos sabem que as moléculas da água, por exemplo, estão organizadas de formas diferentes consoante a temperatura (e a pressão). No estado sólido, as moléculas de água encontram-se ligadas umas às outras, enquanto no líquido estão aos trambolhões. E que no estado gasoso ficam ainda mais soltas. Estes saltos entre fases ocorrem de forma brusca, quando a temperatura muda (basta pensar numa panela com água a ferver).

Também já se sabia que, perante temperaturas muito baixas, a matéria podia ganhar propriedades físicas invulgares. É o caso do hélio-4, que a 271 graus Celsius negativos se comporta como um superfluido, perdendo a viscosidade. Há vídeos incríveis que mostram que hélio líquido num frasco, quando arrefecido até àquela temperatura extrema, começa a subir pelas paredes do recipiente. As experiências da superfluidez do hélio-4 foram realizadas nos 30 pelo russo Pyotr Kapitsa e valeram-lhe o Nobel da Física em 1978, década em que David Thouless e Michael Kosterlitz começaram os seus trabalhos.

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Os dois físicos teóricos começaram a trabalhar juntos em Birmingham, no Reino Unido. “O que fizeram, através do pensamento, usando a matemática, foi ver como é que a matéria se comportava em situações extremas”, diz o físico Carlos Fiolhais, da Universidade de Coimbra. Mais concretamente, pensaram nas mudanças das propriedades da matéria não só quando ela é submetida a temperaturas muito baixas, próximas do zero absoluto, mas também quando está a duas dimensões. Por outras palavras ainda, num mundo plano. E o que acontece então?

“A transição de fase topológica não é uma transição de fase vulgar, como entre o gelo e a água líquida. Num material plano, o papel principal na transição topológica é desempenhado por pequenos vórtices”, lê-se no comunicado da Real Academia Sueca das Ciências. Pode-se dizer que estes vórtices são formados por pequenos ímanes dos átomos que estão orientados de determinadas formas. “A temperaturas baixas os vórtices estão juntos aos pares. Quando a temperatura aumenta, ocorre a transição de fase: subitamente, os vórtices afastam-se um do outro e navegam pelo material”, acrescenta o comunicado. Esta proposta teórica foi demonstrada mais tarde, em experiências.

Mas se esta parte do trabalho de David Thouless e Michael Kosterlitz foi teórica, a investigação que se seguiu também premiada pelo Nobel teve origem em observações. Em 1980, o físico alemão Klaus von Klitzing descobriu (em experiências numa fina camada condutora de electricidade entre dois materiais semicondutores) que os electrões têm um comportamento também estranho a baixas temperaturas. Esta camada fininha é submetida a um campo magnético. Ao variar este campo magnético, a sua condutância eléctrica sofre alterações em “degraus” e não gradualmente, como seria esperado.

Na altura, a física teórica não tinha explicação para o que Klaus von Klitzing tinha observado. Mas David Thouless e Duncan Haldane conseguiram explicar fenómeno a nível teórico, socorrendo-se de um ramo da matemática, a topologia – que estuda as propriedades que permanecem intactas de um objecto quando é esticado, dobrado e deformado. E aplicaram esses métodos para descrever os saltos, ou degraus, que tinham sido observados nos valores da condutância eléctrica.

Que aplicações pode ter esta área da física, evoluiu bastante nas últimas décadas? Pode ter em novos materiais, novos supercondutores ou na criação de computadores quânticos com capacidades de cálculo imensas. Os cientistas designam estas tecnologias do futuro como “novos materiais topológicos”.

“A mente vai primeiro e depois lá vai o corpo atrás”, diz Carlos Fiolhais, resumindo o caminho desta e de outras descobertas que começam com cientistas teóricos, são comprovadas em experiências nos laboratórios e acabam no nosso quotidiano em diversas tecnologias, mesmo que isso demore. “Muitas vezes, surgem aplicações ao fim de 40 ou 50 anos.”

[email protected], [email protected]

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Da topologia para a física

NICOLAU FERREIRA e TERESA FIRMINO

04/10/2016 http://www.publico.pt/n1746210

Bolos usados para explicar a matemática do prémio.

Thomas Hans Hansson, membro da Real Academia Sueca das Ciências, a explicar o trabalho

premiado JONATHAN NACKSTRAND/AFP

No anúncio do Nobel da Física deste ano houve direito a mostrar bolos, e com formas diferentes. Um croissant, um donut e um pretzel também têm o mesmo tipo de formas dos bolos exibidos – e que serviram para explicar o que é a topologia, um ramo da matemática, e como esse ramo foi aplicado à investigação em física agora distinguida com o Nobel.

A topologia estuda as propriedades que permanecem estáveis de um objecto quando é esticado, dobrado e deformado – mas que já não são estáveis quando ele é partido – e que apenas mudam em números inteiros: 1, 2, 3, 4…

“O número de buracos de um bolo é uma invariante topológica que é sempre um número inteiro, mas nunca alguma coisa no meio”, lia-se no PowerPoint em que Thomas Hans Hansson, membro da Real Academia Sueca das Ciências, apresentou esta terça-feira o trabalho premiado.

Um croissant, um donut e um pretzel, sem nenhum e com um e três buracos, respectivamente, pertencem a categorias topológicas diferentes, pelo que são descritos pelos números zero, 1 e 3. Os três premiados foram “os primeiros a vislumbrar que a topologia poderia ter uma certa pertinência em física”, comentou, citado pela agência AFP, Manuel Asorey, da Universidade de Saragoça, Espanha.

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Thomas Hans Hansson, membro da Real Academia Sueca das Ciências, a explicar o trabalho

premiado ANDERS WIKLUND/AFP

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Nobel da Química para as máquinas mais pequenas do mundo

NICOLAU FERREIRA

05/10/2016 http://www.publico.pt/n1746237

Um elástico, um elevador, um motor e um carro são algumas das máquinas moleculares desenvolvidas por Jean-Pierre Sauvage, Fraser Stoddart e Bernard Feringa. Pensa-se que estas nanotecnologias vão ser tão importantes como é hoje o motor eléctrico.

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As palavras podiam entrar numa conversa de oficina: motores, rotores, elevadores, chassis. Este léxico, cujo imaginário remonta ao início da revolução industrial, traz imagens de óleo, fumo, barulho e trabalho. Mas nesta quarta-feira o mundo associou-as a uma realidade completamente diferente, onde impera a escala dos átomos. O Prémio Nobel da Química de 2016 foi para os três cientistas que desenvolveram máquinas moleculares: o francês Jean-Pierre Sauvage, o escocês Fraser Stoddart e o holandês Bernard Feringa. Em menos de 20 anos, eles puseram moléculas a mexer e a trabalhar, com pouca energia.

Estas são as máquinas mais pequenas de sempre fabricadas pelo homem, mil vezes mais pequenas do que a espessura de um fio de cabelo. Onde irá parar o mundo

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movimentado (e fascinante) das máquinas moleculares? A Real Academia Sueca das Ciências, que atribui os Prémios Nobel, explica que estamos na alvorada de uma nova tecnologia. As próximas décadas trarão novidades, mas da informática à medicina, muitas áreas serão transformadas.

“Em termos de desenvolvimento, o motor molecular está no mesmo estado de desenvolvimento do que o motor eléctrico na década de 1830, quando os cientistas exibiam máquinas eléctricas capazes de mover pedais e rodas, mas não sabiam que essas máquinas se iriam tornar comboios, máquinas de lavar, ventoinhas”, lê-se no comunicado. “Estas máquinas moleculares podem vir a ser usadas no desenvolvimento de coisas como novos materiais, sensores e sistemas de armazenamento de energia.”

Por isso, “pela concepção e síntese de máquinas moleculares”, nas palavras do comité que atribuiu esta quarta-feira o Nobel, Jean-Pierre Sauvage (Universidade de Estrasburgo, em França), Fraser Stoddart (Universidade Northwestern em Evanston, nos Estados Unidos) e Bernard Feringa (Universidade de Groningen, na Holanda) irão dividir o prémio de oito milhões de coroas suecas (833 mil euros).

“Não soube o que dizer e fiquei um pouco chocado. Foi uma surpresa”, disse ao telefone Bernard Feringa, durante uma breve sessão de perguntas de jornalistas no anúncio do prémio, em Estocolmo, lembrando o que sentiu quando lhe deram a notícia. Bernard Feringa acredita que estas máquinas moleculares poderão vir a estar na origem de robôs (que viajarão até células cancerosas para administrarem medicamentos que as matem) ou de novos materiais (que recebem estímulos químicos para fazerem uma qualquer tarefa), entre muitas outras possibilidades.

Um avanço em três passos

“Para uma máquina ser capaz de executar uma tarefa tem de ser composta por partes que se movem umas em relação às outras”, explica-se no comunicado. Ao longo da evolução, a natureza já criou mecanismos moleculares que produzem movimento. Os flagelos das bactérias, com forma em espiral como os saca-rolhas, giram e permitem que elas se movam. No entanto, apesar de a ideia de máquinas microscópicas construídas pelo homem já ser antiga, o seu desenvolvimento a sério começou há menos de 35 anos.

Em 1983, Jean-Pierre Sauvage conseguiu ligar moléculas em forma de anel, formando uma “corrente” com elas. Nas décadas anteriores, outros químicos tinham conseguido fazer estas correntes moleculares, mas a muito custo e este ramo da química estava praticamente esgotado. Jean-Pierre Sauvage usou um truque com um ião de cobre para obter a estrutura dos elos que formam a corrente. Depois de os anéis estarem presos um ao outro com ajuda do ião, ele é removido. Com esta nova técnica, a produção destes

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elos moleculares subiu de 10% para 42%. “De repente, as correntes de moléculas eram mais do que uma mera curiosidade científica”, explica o comunicado.

Oito anos depois, Fraser Stoddart desenvolveu o rotaxano: uma estrutura de duas moléculas em que uma se parece com um pequeno eixo, com rodas na extremidade, e a outra com uma argola. A argola está presa ao eixo e é capaz de se movimentar, de uma forma que os cientistas conseguem controlar, entre as suas extremidades.

Finalmente, Bernard Feringa produziu em 1999 o primeiro motor molecular. O cientista construiu um rotor molecular, estrutura que se movimenta circularmente sob o seu próprio eixo, com ajuda da energia dos raios ultravioletas e um sistema de pás que permite que o movimento se faça num só sentido. A equipa de Feringa aperfeiçoou depois o sistema, transformando-o num motor capaz de fazer algo como 12 milhões de revoluções por segundo. Com estes motores, a equipa conseguiu rodar um cilindro de vidro 10.000 vezes maior do que os próprios motores.

Entretanto, já se produziram “carros” moleculares, elevadores moleculares, sistemas semelhantes aos músculos que se esticam e se contraem e um robô molecular capaz de ligar aminoácidos (os tijolos das proteínas). Já foi produzida uma malha de polímeros em cima de motores moleculares que são accionados quando expostos à luz, enrolando a malha. “Desta forma, a energia solar é armazenada nas moléculas e, se os cientistas descobrirem uma técnica para retirar esta energia [acumulada na malha de polímeros], poderá desenvolver-se um novo tipo de bateria”, adianta o comunicado.

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Durante a conversa entre Bernard Feringa e os jornalistas, o cientista holandês explicou como nasceu o seu motor molecular: “Comecei por construir interruptores moleculares, que davam informação [no sistema binário] de zeros e uns. O objectivo era ter uma alternativa para armazenar informação.”

Mas rapidamente o cientista percebeu que tinha à sua frente um rotor molecular, capaz de criar movimento. “Quando se consegue controlar o movimento, então é possível pensar em todo o tipo de funções mecânicas, como caminhar e transportar coisas, e ter pequeníssimas máquinas”, disse. “Mas tudo começou a partir de interruptores, de uma ideia muito simples.” E assim nasceu um mundo novo de possibilidades.

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NOBEL DA PAZ

Nobel da Paz para presidente da Colômbia Juan

Manuel Santos 7/10/2016

http://observador.pt/2016/10/07/nobel-da-paz-vai-para-presidente-da-colombia-juan-manuel-santos/

O Prémio Nobel da Paz de 2016 foi atribuído ao presidente da Colômbia Juan Manuel Santos pelos esforços para pôr fim à guerra civil dos últimos 50 anos. Anúncio foi feito esta manhã em Oslo, Noruega.

Juan Manuel Santos (à esquerda) na assinatura do acordo de paz com as FARC, no passado dia 26 de setembro

AFP/Getty Images

O presidente da Colômbia Juan Manuel Santos venceu o Prémio Nobel da Paz 2016, distinção atribuída pelos seus esforços para pôr fim à guerra civil daquele país, que durou mais de 50 anos e matou pelo menos 220.000 colombianos, informou o Comité Nobel norueguês esta sexta-feira. Juan Manuel Santos chegou à presidência da Colômbia em 2010 e no passado dia 26 de setembro assinou, com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) um acordo de paz histórico, prevendo a desmobilização dos 5.765 combatentes da guerrilha e a conversão das FARC em movimento político legal.

A distinção foi vista como um “tributo ao povo colombiano que, apesar dos abusos, nunca perdeu a esperança de paz”, assim como um “tributo a todos os partidos que ajudaram no processo de paz”. “O tributo vai ainda para os representantes das inúmeras vítimas desta guerra civil”, acrescenta o Comité em comunicado.

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“Ao atribuir este ano o Prémio Nobel da Paz ao Presidente Juan Manuel Santos, o Comité Nobel norueguês pretende encorajar todos aqueles que lutam por conquistar a paz, a reconciliação e a justiça na Colômbia”, explica o Comité, sublinhando que espera que o prémio “dê ao Presidente mais força para continuar o trabalho de conquista do direito à paz até ao último dia em que estará no cargo”. “É esperança do Comité que nos próximos anos o povo colombiano colha os frutos do processo de reconciliação e paz que ainda decorre”, diz.

Juan Manuel Santos chegou a ser dado como um dos favoritos à vitória, mas depois de os colombianos terem chumbado, em referendo, o acordo assinado com as FARC a 26 de setembro, começou a especular-se que teria menos hipóteses de ganhar. Agora, o Comité justifica que o facto de a maior parte dos votantes ter dito que não ao acordo “não significa que o processo de paz esteja morto“. “O referendo não foi um voto a favor ou contra a paz”, diz o Comité do Nobel em comunicado, explicando que o “não” no referendo apenas rejeitou um acordo específico e não o acordo de paz. O Comité expressa agora o desejo de que os partidos colombianos assumam a sua parcela de responsabilidade no processo construtivo de paz.

No comunicado, o Comité Nobel norueguês recorda que Juan Manuel Santos iniciou as negociações que levaram ao acordo de paz entre o Governo colombiano e as guerrilhas da FARC, procurando consistentemente levar o processo de paz adiante. Embora

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soubesse que o acordo era controverso, o Presidente garantiu que os eleitores colombianos podiam manifestar a sua opinião sobre o acordo em referendo, relembra a organização do Nobel.

“O resultado do referendo não foi o que o Presidente Santos queria: uma curta maioria dos mais de 13 milhões de colombianos que votaram disse não ao acordo. Este resultado criou grande incerteza sobre o futuro da Colômbia. Há um perigo real de o processo de paz parar e de a guerra civil recomeçar. Isto torna ainda mais importante que as partes, lideradas pelo Presidente Santos e pelo líder das guerrilhas das FARC, Rodrigo Londoño, continuem a respeitar o cessar-fogo”.

Questionada pelos jornalistas sobre se o comité considerou atribuir o prémio a mais partes, nomeadamente ao líder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que a 26 de setembro assinou um acordo de paz histórico com Juan Manuel Santos, a presidente do Comité Nobel Norueguês escusou-se a comentar outros candidatos. “Há muitas partes no processo de paz. O Presidente Santos tomou uma iniciativa histórica, ele dedicou-se completamente, com grande força de vontade, para alcançar o resultado”, disse a presidente, Kaci Kullmann Five, acrescentando que o comité vê este prémio como “um forte encorajamento para todas as partes neste processo negocial”.

O Comité norueguês recebeu este ano um número recorde de candidaturas, um total de 376: 228 de pessoas e 148 de organizações. Numa edição sem claros favoritos, além do presidente colombiano, também os habitantes das ilhas gregas que têm ajudado milhares de refugiados, os intervenientes no acordo nuclear iraniano, os “capacetes brancos” sírios e vários ativistas russos chegaram a ser apontados como potenciais vencedores.

No ano passado, o galardão sobre a paz mundial foi atribuído ao Quarteto de Diálogo para a Tunísia, uma composição de quatro organizações que negociaram uma forma de garantir que a Tunísia se mantivesse plural e democrática depois da Primavera Árabe, tendo sido considerado o único caso de sucesso das revoltas no mundo árabe.

Curiosamente este é o segundo prémio Nobel atribuído a um colombiano, sendo que o primeiro foi para Gabriel García Márquez, em 1982, mas na área da Literatura.

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10.10.2016

Economia

http://expresso.sapo.pt/economia/2016-10-10-Teoria-dos-Contratos-vale-Nobel-da-Economia-a-uma-dupla

“Teoria dos Contratos” vale Nobel da Economia a uma dupla

Oliver Hart (à esq.) e Bengt Holmström

JONATHAN NACKSTRAND / AFP / Getty Images

Oliver Hart e Bengt Holmström foram distinguidos esta manhã pela Academia sueca

Jorge Nascimento Rodrigues

A teoria dos contratos foi, este ano, destacada com o Prémio do Banco da Suécia para as Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel, vulgo Prémio Nobel da Economia (ainda que, na realidade, não seja atribuído pela Fundação Nobel). Os contratos são um elemento fundamental das relações económicas e sociais.

O finlandês Bengt Holmström e o britânico e norte-americano Oliver Hart desenvolveram a teoria dos contratos nas suas diversas formas e o desenho de incentivos que lhe estão associados e partilham o prémio de 2016.

Os dois laureados publicaram no Massachusetts Institute of Technology (MIT) em conjunto em 1986 um trabalho precisamente intitulado "A Teoria dos Contratos", apresentado na Sociedade de Econometria em Cambridge, Estados Unidos. Os dois autores afirmavam que, "em certo sentido, os contratos são a base de uma grande parte da análise económica".

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A investigação desenvolvida pelos dois economistas permite resolver o melhor desenho de resolução de problemas reais como opções de privatização, a remuneração de gestores com prémios e opções de ações, ou mesmo de professores, trabalhadores da saúde e guardas prisionais em função do desempenho, até ao desenho de legislação sobre bancarrotas.

Segundo o comunicado desta segunda-feira do Comité da Real Academia de Ciências da Suécia, que escolheu os premiados, "as novas ferramentas teóricas criadas por Hart e Holmström são valiosas para a compreensão dos contratos na vida real e das instituições, bem como das armadilhas potenciais no desenho contratual".

Bengt Holmström nasceu em Helsínquia em 1949 e é atualmente professor de Economia e de Economia e Gestão no MIT. Oliver Hart nasceu em Londres em 1948 e é atualmente professor de Economia na Universidade de Harvard, também em Cambridge, EUA.

Este ano, a academia optou por galardoar uma dupla. Nos dois anos anteriores, optou por atribuir o prémio individualmente, a Jean Tirole em 2014 e Angus Deaton em 2015.

Tal como os Prémios Nobel, o prémio do Banco da Suécia sobre Economia será entregue no dia 10 de dezembro, aniversário da morte de Alfred Nobel, e tem o valor de 8 milhões de coroas suecas (cerca de 830 mil euros), a ser dividido entre os dois laureados.

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Bob Dylan é o Nobel da Literatura 2016

CLÁUDIA LIMA CARVALHO, ISABEL SALEMA, LUÍS MIGUEL QUEIRÓS e ISABEL COUTINHO

13/10/2016 http://www.publico.pt/n1747239

Grande surpresa no anúncio feito na manhã desta quinta-feira.

Bob Dylan em 1963

Bob Dylan nasceu no Minnesota em 1941 como Robert Allen Zimmerman

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Concerto em 1998 no Royal Albert Hall

Em 1990, Bob Dylan foi condecorado pela Ordem de Artes e Letras francesa

Em Maio de 2012, o presidente americano Barack Obama condecorou o músico com a Medalha da Liberdade

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Bob Dylan em 1984 durante um concerto em Sceaux, França

Papa João Paulo II com Bob Dylan em 1997, em Bolonha, Itália

Dylan interpreta o tema "Maggie's Farm" na 53ª edição dos Grammy em Los Angeles, 2011

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Concerto de Bob Dylan em 2012

Livros de Bob Dylan expostos na Academia Sueca, em Estocolmo. "Ele pode ser lido e deve ser lido", resumiu a secretária da Academia

O Prémio Nobel da Literatura foi esta quinta-feira atribuído em Estocolmo a Bob Dylan. O músico norte-americano tornou-se o 113.º escritor a receber o mais cobiçado prémio literário do planeta. "Por ter criado novas formas de expressão poética no quadro da grande tradição da música americana", foi assim que a Academia Sueca justificou a entrega do Nobel ao cantor norte-americano.

É o primeiro norte-americano a ganhar o prémio desde Toni Morrison, em 1993. Mais relevante, porém, é o facto de, depois de vários anos em que o seu nome foi avançado como possível vencedor, a atribuição do Nobel a Dylan servir como legimitação literária da canção popular, de que o cantor de Blowing in the wind é um dos maiores representantes. Não por acaso, Sara Danius, Secretária Permanente da Academia Sueca, reconhecendo que a distinção de alguém cujo ofício é o das canções pode ser controverso, manifestou a esperança de a Academia não ser criticada pela escolha. "The times they are-a changing, perhaps" ("Talvez os tempos estejam a mudar"), afirmou, citando o título de uma das mais famosas canções de Dylan.

Nascido em Dulluth, no Minnesota, a 24 de Maio de 1941, Bob Dylan foi uma figura fulcral na revolução musical e cultural da década de 1960. Partindo da tradição folk, blues e country americanas, mas transportando-a para uma nova era de convulsão política e agitação social, levou a palavra, como nunca antes, para o centro da criação pop. Assinou 37 álbuns desde a estreia homónima em 1962. Fallen Angels, editado em 2016, é o último até ao momento.

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Se descontarmos os livros de arte, o essencial da bibliografia de Bob Dylan está publicada em Portugal. A Relógio D’Água publicou em dois volumes, respectivamente editados em 2006 e 2008, as suas Canções: 1962-2001, em tradução de Angelina Barbosa – os dois tomos perfazem mais de 1400 páginas – e a Ulisseia editou em 2005, com tradução de Bárbara Pinto Coelho, Crónicas, que constitui o primeiro volume da sua autobiografia e foi originalmente lançado pela Simon & Schuster em 2004. O projecto inicial previa três volumes, mas o músico não se tem apressado: a última notícia em primeira mão sobre o andamento da obra é uma entrevista de Dylan à Rolling Stone, em 2012, na qual este diz que está “a trabalhar” no segundo tomo.

Na extinta editora Quasi, de V. N. de Famalicão, que foi co-gerida por Jorge Reis-Sá e Valter Hugo Mãe, saiu ainda o primeiro livro de Bob Dylan, Tarântula, traduzido pelo poeta Vasco Gato. Escrito numa prosa poética de carácter fortemente experimental, provavelmente influenciada por autores da beat generation, como Jack Kerouac, William S. Burroughs ou Allen Ginsberg, Tarântula data dos anos 1965 e 1966 e é contemporâneo de discos como Bringing It All Back Home e Highway 61 Revisited, ambos de 1965. Uma primeira edição de 50 exemplares, impressa em páginas A4, saiu numa editora marginal de São Francisco, e seguiram-se várias edições piratas até a Macmillan lançar, em 1971, aquela que é considerada a primeira edição oficial, recebida pela crítica literária com reacções de escárnio mais ou menos generalizadas.

COMENTÁRIO

Bob Dylan, um herói político

relutante

VÍTOR BELANCIANO

13/10/2016 http://www.publico.pt/n1747253

A três semanas das eleições presidências americanas Bob Dylan recebe o Nobel da Literatura. Talvez seja abusivo delinear-se uma leitura política do acontecimento até porque o seu nome já havia constado da lista de favoritos em anos anteriores. Mas é inevitável que essas leituras venham a ocorrer, afinal Bob Dylan é hoje um dos símbolos eternos da América. Não se lhe conhece nenhuma frase acerca de Donald Trump, mas não é preciso.

Se Trump representa a insatisfação em relação aos diversos impasses do sistema sociopolítico actual, mas apenas na sua forma negativa, reactiva, grosseira e básica, Dylan é a garantia de que aquilo que, em determinado momento, consideramos essencial não se desagregará. Já se sabe. O mundo não anda muito bem. Provavelmente nunca andou, mas há alturas em que disfarça. Parece que voltámos a uma espécie de guerra-fria, com a diferença de que agora não sabemos que designação lhe atribuir.

Em alturas assim o que é natural ocorrer é regressar-se aquilo que, em determinado momento, consideramos essencial. Resistir a um mundo em desagregação pode significar retornar aos valores basilares – àquilo que lhe pode atribuir inteligibilidade e sentido.

Dylan, como Springsteen de outra forma, reavivam a tradição, as raízes, a memória, o tronco, devolvendo-nos os valores perenes, a sobriedade, a austeridade, um certo misticismo. Ou uma certa ideia de fé. Mesmo que seja apenas uma sensação. Parte do fascínio que Dylan desperta nas novas gerações advém daí. A sua forma de se insurgir, ou de resistir, já não é compor canções de protesto, mas sim devolvendo-nos uma

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qualquer noção de autenticidade, verificável até numa carreira que foi sobrevivendo a todas as contradições – e que o tempo acabou por rasurar.

Claro que Dylan seria o primeiro a recusar tudo o que foi dito. Ele diria que não representa nada, a não ser ele próprio. É um herói relutante. Mas já não há nada a fazer. Mesmo alguém como ele, sempre pronto a reescrever a sua história, deixou de ter controlo sobre o seu legado. Uma certa América que não se revê na América de hoje não necessita de o ouvir gritar que é contra Donald Trump. A sua simples presença, a música, a escrita ou a forma como gere a mitologia, chegam. Existir já é resistir.

OPINIÃO

Bob Nobel, nem menos

MIGUEL ESTEVES CARDOSO http://www.publico.pt/n1747246

13/10/2016

Dylan inventou um mundo cheio de personagens, histórias e encantamentos, denúncias, crenças e fantasmas.

Bob Dylan merece o prémio Nobel da literatura. Bob Dylan escreve ensaios, ficção e poesia há mais de meio século. Inventou um mundo cheio de personagens, histórias e encantamentos, denúncias, crenças e fantasmas.

Desde que Christopher Ricks defendeu Dylan como um grande autor da literatura mundial que há outros críticos académicos que se divertem a fazer pouco de Ricks. Mas a verdade é que Ricks foi o primeiro a ter a coragem de reconhecer o génio de Bob Dylan.

Dantes toda a literatura se dividia em categoriazinhas de merda – canções, contos, ensaios, reportagens, ficções, peças teatrais, poesia. O júri do Nobel tem feito o enorme favor de voltar a confundir tudo. No ano passado deu o prémio à jornalista Svetlana Alexievich, uma grande escritora que utiliza as entrevistas como matéria-prima para construir textos empolgantes sobre a condição humana.

Está fora de moda falar na eternidade mas tanto Alexievich como Dylan serão imortais. Escrever é escrever. Um mau poeta será sempre pior do que um bom jornalista. Dylan é inegavelmente um grande escritor. A Academia sueca está a usar o Prémio Nobel para restaurar a literatura. Tomara que regresse à literatura oral. As histórias que não são escritas também podem ser grandes e imortais.

A obra de Dylan – que é caoticamente desigual, havendo coisas terríveis ao lado de obras-primas – é uma gloriosa colecção de todas as tradições literárias da humanidade, desde os trovadores aos cantores de blues, desde os contos de fada às orações.

Finalmente temos um Nobel à altura de Dylan.

Announcement of the Nobel Prize in Literature 2016

https://www.youtube.com/watch?v=RZDPKYuI6DQ

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Prémios Ig Nobel. Calças para ratos e a veracidade

de mentirosos

23/9/2016.

http://observador.pt/2016/09/23/premios-ig-nobel-calcas-para-ratos-e-a-veracidade-de-mentirosos/

A festa dos Prémios Ig Nobel, que celebra os estudos mais bizarros do ano, realizou-se esta quinta feira. Entre os vencedores estão estudos sobre calças para ratos ou a veracidade dos mentirosos.

Como limitar a atividade sexual dos ratos usando calças de poliéster www.moosecraft.org

Annals of Improbable Research

A 26ª Edição dos Prémios Ig Nobel, que congratulam os estudos mais estranhos do ano, realizaram-se esta quinta-feira. Os vencedores foram dois estudos sobre calças para ratos e a veracidade dos mentirosos. A cerimónia que decorreu na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, entregou prémios no valor de 36 cêntimos.

Um urologista egípcio Ahmed Shafik desenhou umas calças para ratos masculinos, com um pequeno orifício para a cauda. As calças de poliéster diminuíram a atividade sexual dos animais. Segundo o The Guardian, o investigador, que também experimentou outros materiais (algodão e lã), afirmou que as cargas eletrostáticas criadas pelo poliéster podem ser as responsáveis.

Mark Avis, Sarah Forbes e Shelagh Ferguson, de uma equipa da Nova Zelândia e Reino Unido, venceram o prémio em economia com um estudo que investigou a personalidade das rochas. Os investigadores mostraram fotografias de diferentes rochas a estudantes da Nova Zelândia que tinham de relacionar a aparência do objeto com determinadas

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personalidades. As conclusões revelaram, por exemplo, que uma das rochas foi descrita como “um homem de negócios de Nova Iorque, rico”.

Mas os estudos bizarros não ficam por aqui. O prémio da psicologia foi entregue a investigadores dos Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Bélgica e Holanda por uma investigação que questionou cerca de mil “mentirosos” que admitem mentir com muita frequência. As crianças e os adolescentes foram considerados os mais mentirosos. Já os adultos mentem em média duas vezes por dia. O estudo revelou também que as pessoas têm menos tendência a mentir à medida que envelhecem.

Os vencedores viajaram de todo o mundo, com o seu próprio dinheiro, para receber estes prémios e participar numa cerimónia muito diferente do habitual.

http://www.muyinteresante.es/ciencia/fotos/premios-ig-nobel-2016/ig-nobel-de-biologia

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