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UNICAMP Histórias de quem chegou lá UNICAMP DE PORTAS ABERTAS - Dias 12 e 13 de Setembro de 2008 - 6ª Edição -

UNICAMP · Mão na roda Sem tempo a perder 20 24 28 30 34 Alunos que brilham Casa do saber John vai à luta Passaporte na mão Usina de pesquisas Índice REVISTA DA UPA Coordenação

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UNICAMPHistórias de quem chegou lá

UNICAMP DE PORTAS ABERTAS - Dias 12 e 13 de Setembro de 2008 - 6ª Edição-

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Reitor

José Tadeu Jorge

Coordenador Geral da Universidade

Fernando Ferreira Costa

Pró-reitor de Desenvolvimento Universitário

Paulo Eduardo Moreira Rodrigues da Silva

Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários

Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib

Pró-reitor de Graduação

Edgar Salvadori de Decca

Pró-reitor de Pós-Graduação

Teresa Dib Zambon Atvars

Pró-reitor de Pesquisa

Daniel Pereira

Chefe de Gabinete

José Ranali

UNICAMP DE PORTAS ABERTAS

Coordenação Geral

Fernando Ferreira Costa

Coordenação Executiva

Vera Aparecida Madruga

Administração

Denise Tukaça

Maria Luisa Fernandes Custódio

Programação

Maria Teresa Rodrigues

Infra-Estrutura e Comunicação

Carlos Roberto Fernandes

Divulgação e Imprensa

Eustáquio Gomes

Serviço de Apoio

Massako Toma

Foto: Antoninho Perri

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Caro VisitanteEsta edição da Revista da UPA está recheada de reportagens

que buscam mostrar alguns dos principais aspectos que fazem da Unicamp uma das principais universidades brasileiras. Nela, você obterá dados, entrará em contato com personagens e co-nhecerá histórias que fazem o cotidiano de uma instituição res-ponsável por 15% da pesquisa acadêmica nacional, 66 cursos de graduação e onde estudam cerca de 35 mil alunos oriundos de diferentes regiões do País.

A revista busca fazer uma síntese desse mundo complexo, for-mado por 20 unidades de ensino e pesquisa, quatro hospitais dentro e fora do campus, mais de duas dezenas de bibliotecas e centenas de laboratórios de pesquisa científica e tecnológica.

Fernando Costa Coordenador-geral da Unicamp e coordenador da UPA

Sabemos que, por mais que você tenha se esforçado ao longo do dia, seria impossível conhecer tudo isso em tão pouco tempo. Por isso a revista está chegando às suas mãos não no início, mas no encer-ramento de sua visita. Nela, você poderá aprofundar seu conhecimento sobre esse mundo tão singular e ao mesmo tempo estimulante, que é a Unicamp.

Também gostaríamos que você a levasse como recordação da Universidade que acaba de conhecer e partilhasse o prazer de sua leitura com seus pais, familiares, amigos e colegas de escola. E espera-mos que a experiência que acaba de viver ajude em sua escolha futura – e por que não? – seja um convite para que volte em breve, quem sabe, como um de nossos alunos.

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Da UPA à nanotecnologia

Troféus na estante

‘Bixo’ gosta de carinho

Jovens que fazem

Mão na roda

Sem tempo a perder

2024283034

Alunos que brilham

Casa do saber

John vai à luta

Passaporte na mão

Usina de pesquisas

Índice

REVISTA DA UPA Coordenação Eustáquio Gomes Edição Álvaro Kassab Textos Álvaro Kassab, Clayton Levy, Isabel Gardenal, Luiz Sugimoto, Manuel Alves Filho, Raquel do Carmo Santos, Paulo Cesar Nascimento Concepção gráfica e Edição de arte Luis Paulo Silva Edição de fotografia Antoninho Perri Revisão Isabel Gardenal Serviços técnicos Dulcinéa Bordignon Foto de Capa Antonio Scarpinetti (imagem de escalada na Faculdade de Educação Física) Impressão Gráfica Modelo

Foto: Antonio Scarpinetti

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m 1985, o jovem secundaris-ta Marcelo Knobel preparava-se para prestar o vestibular. Integrante de uma família

formada predominantemente por mé-dicos e psicólogos, era natural que ele se decidisse por uma carreira da área da saúde. Ele próprio mostrava-se inclinado a isso. Antes de enfrentar o processo seletivo, porém, o então estudante participou da Universidade Aberta ao Público (UAP), evento que antecedeu o Unicamp de Portas Aber-tas (UPA). Na oportunidade, circulou por algumas unidades de ensino, mas ficou especialmente impressionado com o que viu e ouviu no Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW). Depois da visita, o adolescente mudou de opi-nião em relação ao futuro profissional. Decidiu que estudaria Física na Uni-camp. Cumprindo o que havia se im-posto, enfrentou o processo seletivo e

De upeiro a docente

ingressou na instituição. Atualmente, Knobel é professor do IFGW e um dos pesquisadores brasileiros mais respei-tados em sua área de atuação.

De acordo com o agora docente da Unicamp, a participação na UAP foi fundamental para orientar a sua esco-lha profissional. “Embora eu já gostas-se da área de exatas, havia uma ten-dência natural que eu optasse por uma carreira relacionada à área de biológi-cas, por conta da influência de fami-liares. Eu mesmo já havia assimilado essa idéia. Entretanto, quando conhe-ci o IFGW, mudei de opinião. Depois de assistir a palestras, conversar com professores e ver alguns experimentos com lasers e holografia, eu disse para mim mesmo: é isso o que eu quero fa-zer”, recorda Knobel. Inicialmente, a decisão do jovem estudante surpreen-deu os parentes. Logo em seguida, po-rém, ele foi apoiado por todos. “Eles perceberam que era realmente o que

TRAJETÓRIA

eu queria”, completa. A despeito de ter sido aprovado em outros vestibula-res, o calouro acabou mesmo optando por cursar Física na Unicamp.

Na opinião do físico, a UPA, a exemplo do que foi a UAP no passado, constitui uma excelente oportunidade para que os estudantes dos ensinos fundamental e médio tomem contato com o ambiente universitário. Mais do que isso, acrescenta Knobel, também é uma chance para que os adolescentes conheçam um pouco do que é produ-zido na Unicamp, uma das melhores escolas de ensino superior do Brasil. “Muitos jovens não fazem sequer idéia de como é a nossa filosofia de ensino nem tampouco da variedade das pes-quisas científicas que são desenvolvidas aqui dentro. Durante a UPA, eles certa-mente têm a chance de se informar so-bre essas e outras questões. É o tipo de vivência que pode ajudar o estudante a definir o seu futuro”, considera.

contato entre os futuros vestibulandos e a Universi-dade, conforme o professor do IFGW, também se re-

veste de importância por ajudar a que-brar alguns mitos criados em torno da instituição. Ainda hoje, diz Knobel, há quem ache ser “impossível” in-gressar na Unicamp ou que a escola é um lugar destinado exclusivamente a jovens pertencentes aos extratos mais elevados da população e egressos das melhores escolas particulares. “Não é nada disso. Ao conhecer melhor a Unicamp, o jovem percebe que estu-dar aqui é uma meta perfeitamente possível de ser alcançada, desde evi-dentemente que ele demonstre vonta-de e dedicação”, assegura o físico.

Professor coordena museu e pesquisas com nanomateriais

MANUEL ALVES FILHO

O professor Marcelo Knobel: visita à Universidade foi decisiva

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Além de desenvolver estudos nas áreas de materiais magnéticos e pro-priedades magnéticas, Knobel tam-bém tem forte envolvimento com a divulgação científica. Dito de outro modo, o físico empreende esforços no sentido de tornar a ciência mais acessí-vel ao público em geral. Um dos traba-lhos executados por ele nesse sentido é a coordenação do projeto NanoA-ventura, desenvolvida pelo Museu Exploratório de Ciências da Unicamp. Trata-se de uma exposição por meio da qual o visitante tem a oportunida-de de travar contato, com o auxílio de vídeos e jogos, com processos e pro-dutos gerados pela nanociência e a na-notecnologia. No nanomundo, tudo é extremamente pequeno. Apenas para se ter uma idéia, um nanômetro cor-responde a um bilionésimo do metro. Estabelecendo outra comparação, um nanômetro equivale ao comprimento de dez átomos de hidrogênio enfilei-rados ou à distância de três pares de base do DNA humano.

Knobel tem um especial apreço pela UPA, com a qual sempre esteve envolvido. “Hoje em dia, o evento é extremamente organizado. Além de

oferecer palestras, mostras e outras atividades aos visitantes, também con-ta com uma logística gigantesca, de modo a assegurar aos ‘upeiros’ infor-mação, segurança e conforto. Embora fosse bem-organizada, a antiga UAP não contava com tanta infra-estrutura assim. Na época, o evento era igual-mente grande, mas um pouco menos estruturado”, analisa o físico.

ntre as pesquisas desenvol-vidas pelo professor Marcelo Knobel, uma chama especial-mente a atenção. Ele e sua

equipe, do Laboratório de Materiais e Baixas Temperaturas (LMBT), inves-tigam as variadas propriedades dos materiais magnéticos, cuja versão mais conhecida é o ímã que a dona de casa gruda na porta da geladei-ra. Embora pouca gente saiba, esses dispositivos fazem parte do dia-a-dia de todos nós. Eles compõem equipa-mentos fundamentais ao lazer ou ao trabalho, como televisores e compu-tadores. O dado, relativamente novo, associado a essa área do conhecimen-to é que tais materiais têm sido pro-duzidos em escala nanométrica. Ao mesmo tempo em que perdem em

tamanho, ganham em eficiência.

O objetivo principal do grupo co-ordenado por Knobel é aperfeiçoar as propriedades dos nanomagnetos, de modo a identificar novas aplicações para eles. Esse tipo de estudo é impor-tante por duas razões. Primeiro, por-que contribui para o avanço científico e tecnológico do Brasil. Segundo, por-que pode gerar riquezas ao país, por meio da eventual inserção de novos produtos no mercado. Como ilustra-ção de uma das aplicações desses na-nomateriais, tome-se como exemplo as gravações magnéticas.

Os discos dos computadores con-têm minúsculas regiões conhecidas por bits. Estes estão magnetizados numa ou noutra direção (lógica binária), o que faz com que possam gravar ou ler infor-mações. Com o passar dos anos, esses dispositivos diminuíram de tamanho, e com isso tiveram sua capacidade de ar-mazenar dados incrivelmente ampliada. Só para se ter uma idéia, em menos de quatro décadas as densidades dos bits nos discos rígidos aumentaram cerca de 8,5 milhões de vezes. Até onde esses materiais poderão evoluir? Somente a ciência será capaz de dizer.

Estudantes visitam o Museu Exploratório de Ciências da Unicamp, que é coordenado por Marcelo Knobel

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Foto: Antoninho Perri

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forte vocação da Unicamp para a pesquisa, que repre-senta algo em torno de 15% de toda a investigação bra-

sileira, não poderia deixar de se refle-tir no desempenho de alunos de dife-rentes áreas, que vêm se distinguindo neste trabalho conquistando prêmios nacionais e internacionais. A aluna de Medicina Gabriela Góes Yamaguti, 21 anos, tomou a acertada decisão de ins-crever suas investigações em uma sé-rie de eventos científicos. Assim como ela, o músico Rodrigo, o engenheiro Mário e a historiadora Juliana resol-veram fazer o mesmo. Foi o primeiro passo para alcançarem realizações e com novas oportunidades abrindo-se para suas vidas. Estes alunos, além de terem em comum o vínculo institucio-nal com a Unicamp, entendem que os estudos na Universidade forneceram as bases para que suas pesquisas obti-vessem prêmios e reconhecimento.

Coleção de

Projetos desenvolvidos por alunos são reconhecidos no Brasil e no Exterior

prêmiosISABEL GARDENAL A experiência de Gabriela é inte-

ressante. Em seis anos de Medicina, curso que neste ano teve 80 candida-tos por vaga do Vestibular – e histori-camente é o mais concorrido da Uni-camp –, ela alcançou sete prêmios. A aluna, que ingressou na Universidade aos 17 anos, recebeu o prêmio “Adol-fo Lutz” do XV Congresso Acadêmi-co (Comau) da Unicamp e o prêmio “Lopes de Faria”, concedido pela FCM aos alunos de iniciação científica, am-bos em 2006. Posteriormente ganhou os prêmios Travel Award do Congres-so Europeu de Hematologia em Viena e também em Copenhague; do Con-gresso Americano de Hematologia, em Atlanta; do Congresso de Onco-logia Clínica, em Belo Horizonte; e, o mais recente, do Congresso Europeu de Oncologia Clínica, que receberá em meados de setembro em Estocolmo.

abriela diz que o seu inte-resse pela Medicina vem da infância. Ela acompa-nhava a mãe em um tra-

balho de apoio a crianças com câncer em São José dos Campos. A Genéti-ca, em particular, a deixava intrigada. Como era possível, numa mesma fa-mília, duas irmãs terem condições de saúde tão distintas? Causava estra-nheza, para ela, o fato de uma gozar de perfeita saúde e a outra nascer com leucemia. Ao ingressar na Universi-dade, em um dos estágios, procurou unir-se a um grupo de seu interesse na área de Oncologia. Foi então que

recebeu orientação em um estudo para avaliar a presença de polimor-fismos genéticos em tumores de dois grupos distintos. O trabalho mostrou que as pessoas mais expostas aos po-limorfismos também estavam mais expostas aos agentes carcinogênicos. E este risco era 12 vezes maior. O es-tudo já tinha sido conduzido em ou-tros países, mas a contribuição maior de Gabriela foi estudar pela primeira vez a população brasileira, com sua expressiva miscigenação. Foi o início para os prêmios que vieram.

Ela conta que um dos atrativos do curso de Medicina na FCM veio com a reforma curricular, iniciada em 2001: uma maneira integrada de entender as diferentes disciplinas, inserção mais precoce do aluno à re-alidade da profissão, ampliação dos campos de estágio para além do hos-pital terciário e maior conhecimento sobre a estrutura do SUS.

A pesquisa, revela a sextanista, é enfatizada desde o primeiro ano do curso e impulsionada pelas lições de Metodologia do Trabalho Científico, em que se aprende a ler papers, a ter uma visão crítica dos trabalhos, a fa-zer referências bibliográficas e a pa-dronizar os trabalhos às normas dos órgãos publicadores. A preocupação é destacar a consciência do profissional cuidador da saúde para além do pro-cesso de formação da doença. É tor-nar-se promotor da saúde. Os calou-ros podem participar de campanhas, de atividades nos postos de saúde ou mesmo acompanhar o tratamento de um dependente químico em progra-mas para estimular a cidadania.

Gabriela Góes Yamaguti, aluna de Medicina: sete prêmios na graduação

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Também muito premiado, o pós-graduando do Instituto de Artes (IA) Rodrigo Lima recebeu dois importan-tes prêmios internacionais neste ano. Com a obra Quando se muda a paisa-gem, escrita para orquestra de câmara, ele concorreu com 58 compositores de 11 países e levou a melhor: o III Prêmio Internacional Iberoamericano “Rodol-fo Halffter” de Composição 2008, na Cidade do México, concedido pelo Governo do Estado de Oaxaca e pela Universidad Nacional Autónoma do México, juntamente com o Consejo Nacional para la Cultura y las Artes y la Secretaría de Relaciones Exteriores do México. Outro prêmio é que será o compositor-residente do 5º Fórum In-ternacional para Jovens Compositores Ensemble Aleph, em Paris. Sua obra premiada desta vez foi Gestuelle, para grupo de câmara. Cento e cinqüenta compositores ficaram para trás.

Para Rodrigo, é muito gratifican-te o reconhecimento e a possibilida-de de compartilhar o prêmio com o

maior número de pessoas, isso por-que em geral é realizada uma audição da obra premiada. A pós-graduação do IA, neste particular, foi para ele um ambiente decisivo para a sua carreira, quando reviu com maior embasamento teórico alguns concei-tos importantes para um músico e compositor, além de lhe proporcionar o convívio com uma nova literatura musical e técnicas de composição fundamentais à formação de um es-tudante de composição.

odrigo, que é compositor de música clássica contem-porânea, se considera um predestinado para a música.

Iniciou sua carreira aos 12 anos to-cando bateria em grupos de rock. Aos 17 anos, já atuava como baterista em Goiânia, tocando em bandas de baile, acompanhando cantores e gravando gêneros musicais que iam do forró ao jazz. Por outro lado, estudava pia-no, percussão sinfônica e rascunhava as primeiras composições. Em 2000,

Rodrigo Lima, pós-graduando do Instituto de Artes: obras reconhecidas no Exterior

concluiu o bacharelado em compo-sição na UnB e continuou atuando como baterista, lecionando música e criando arranjos diversos, mas sempre empenhando-se nas próprias composi-ções. Veio para Campinas e ingressou no mestrado do IA e, no momento, se prepara para o doutorado de 2009.

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Fotos: Antoninho Perri

Aluna de pós-graduação em laboratório do Instituto de Física: equipamentos de ponta à disposição dos estudantes

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Foto: Divulgação

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Na opinião do músico, ter uma carreira premiada ajuda muito. Os prêmios acabam popularizando os trabalhos e, com isso, surgem opor-tunidades profissionais e encomen-das de novas obras. Mas o grande benefício de um prêmio para um jo-vem compositor, verifica Rodrigo, é ouvir sua obra ser tocada e gravada. Lamenta que no Brasil a música con-temporânea tenha pouca saída, não somente por haver poucos grupos se dedicando ao gênero. “As orquestras se mostram resistentes à iniciativa.”

Retrospectivamente, Rodrigo re-cebeu ainda os prêmios “Francisco Guerrero Martín” no XVII Premio Jóvenes Compositores 2006 promo-vido pela Fundación Autor - CDMC e Sociedade General de Autores y Editores (Sgae), pela obra Matizes, para flauta e grupo instrumental. Em 2005, conquistou o 1º prêmio no Concurso Nacional Camargo Guarnieri de Composição pela obra Nomos, escrita para a Orquestra Sinfônica da Universidade de São Paulo (Osusp). Esta obra foi agracia-da ainda com um prêmio extra, que resultou em sua publicação e inclu-são no Banco de Partituras de Músi-ca Brasileira da Academia Brasileira de Música, a ABM.

Em 2004, o jovem ganhou o 1º

prêmio no VI Festival de Música Instrumental Brasileira (Femib), em Brasília, com a obra Quinteto para sopros nº2. No momento, está con-cluindo sua dissertação de mestrado e coloca em dia algumas encomendas para compor. Rodrigo conta que, para alavancar nos estudos e na profissão, tem sempre em mente uma frase de Nietzsche. “Somente somos grandes quando fiéis a nós mesmos”.

á Mário Roberto Maróstica foi um dos nove ganhadores do Prêmio Capes de Teses de 2007, com a pesquisa de doutorado que abordava o aproveitamento

de resíduos das indústrias de laran-ja e mandioca (que são descartados no ambiente, gerando problemas ambientais ou então são subaprovei-tados) em compostos de aroma na-turais de interesse para a indústria. Esse aproveitamento se dava pela biotransformação desses resíduos por meio de fungos filamentosos. Adicionalmente, uma abordagem di-ferenciada do seu estudo indicou que esses aromas naturais produzidos podem também ter atividades que previnem doenças. Dessa forma, o estudo levou à criação de compostos de aroma naturais e funcionais.

Mário fez a graduação e a pós na Unicamp e, segundo ele, estes cur-

sos foram determinantes para a sua profissão. Entende que o prêmio foi fruto de seu trabalho, dedicação e de-corrente do ensino da Universidade, que estimula a publicação de artigos em periódicos indexados e capítulos de livros. “Trata-se de um campo fér-til para o desenvolvimento de teses”. O Prêmio Capes o surpreendeu, por-que jamais subestimou a concorrên-cia – no caso, a seu ver, pesquisado-res de grande envergadura.

Mário Maróstica, que ganhou o Prêmio Capes: reaproveitamento de resíduos

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Trabalhos expostos no Congresso de Iniciação Científica de 2007: pesquisas já nos primeiros anos da graduação

Foto: Antonio Scarpinetti

Foto: Antoninho Perri

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Ele relata um pouco de sua tra-jetória. Fez um estágio em empresa do ramo de alimentos durante um ano. Também dedicou-se à pesquisa acadêmica desde a iniciação cientí-fica. Atuou por dois anos em uma indústria e, em agosto, foi aprovado no processo seletivo para docente do Departamento de Alimentos e Nutrição (Depan) da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA). O prêmio, para Mário, possibilitou contato com pesquisadores de ou-tros ramos e análise das possibilida-des de interações entre grupos com experiências diversificadas.

Mas o ano também muito bom foi para a historiadora e jornalista Juliana Gesuelli Meirelles. Ao enviar o traba-lho “A Gazeta do Rio de Janeiro e o im-pacto na circulação de idéias no impé-rio luso-brasileiro (1808-1821)” para o Prêmio Dom João VI de Pesquisa, pro-movido pelo Arquivo Nacional, con-quistou o primeiro lugar. A pesquisa, decorrente de dissertação apresentada ao Instituto de Filosofia e Ciências Hu-manas (IFCH), não apenas atravessou o Atlântico como também virou livro. Em poucos dias, a ex-mestranda se viu envolvida em uma avalanche de com-

promissos e teve as portas escancara-das para difundir o trabalho nascido de seus estudos na Unicamp.

pós-graduanda recebeu con-vite para dar uma palestra na Universidade de Coimbra no mês de novembro, num

evento em que falará sobre a transfe-rência da família Real Portuguesa para o Brasil. O assédio estava apenas ini-ciando. Concedeu entrevistas a vá-rias emissoras de rádio e tevê, além de ter sua investigação divulgada na mídia impressa. O jornal O Globo, por exemplo, fez um texto de duas páginas para a seção Prosa e Verso. Foi convidada também a fazer uma resenha do livro O Patriota, sobre um jornal do período de D. João VI. A convite da PUC-Campinas, fez uma palestra sobre os 200 anos da criação da imprensa durante a Semana de Jor-nalismo. Ademais, publicou um arti-go na Revista da Universidade Meto-dista sobre o tema da dissertação.

Juliana escreveu, em cinco meses, um livro de 90 páginas sobre a Família Real Portuguesa no Brasil, para a Co-leção História do Povo Brasileiro, pela Editora Perseu Abramo, que está no prelo. Mas este ‘assédio’ não assus-

tou a estudante, que está cursando o doutorado no IFCH. Ela entende-o como uma etapa de preparo para sua vida profissional. Enquanto isso não se define, com o prêmio ela fará uma viagem a Lisboa. Adianta que será uma viagem turística. Esforço recom-pensado. No futuro, Juliana pretende ser docente da Unicamp, Universida-de a quem atribui o seu crescimento e onde estuda desde a graduação.

A historiadora e jornalista Juliana Gesuelli Meirelles: prêmio abriu várias portas

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Foto: Antoninho Perri

Universidade dispõe de 24 bibliotecas: acervo de 772 mil publicações

Foto: Antonio Scarpinetti

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cidadãoNa recepção de calouros, ações sociais

ISABEL GARDENAL

‘Bixo’

ingresso em uma universi-dade pública como a Uni-camp envolve um processo que seleciona não somente

os melhores alunos, mas também os que têm o perfil da Universidade, com grande preparo para provas que exigem raciocínio lógico e abstrato. Os que conseguem vencer a etapa do Vestibular acabam por encarar a apro-vação como um prêmio ao seu desem-penho e à sua dedicação. Em poucos dias, eles começam a cumprir uma série de compromissos até, por fim, iniciarem o ano letivo. Primeiro dia de aula: o calouro, ou ‘bixo”, além da expectativa de viver uma intensa roti-na de estudos, fica ansioso por saber como será recebido, se existe trote na instituição e como será aplicado.

Apesar disso, a notícia é boa para os ingressantes: desde 2003, na Uni-camp, está em vigor o Trote da Cidada-nia, uma forma amistosa e elegante de recepcionar os novos alunos, inclusive com ações sociais, como pouco vistas em outras universidades, que têm como

público-alvo sobretudo a população que reside no entorno de Barão Geraldo, dis-trito onde está localizado o campus.

Aline Cristina Antoniazi é a atual coordenadora do Trote da Cidadania pelo Consumo Consciente e aluna do terceiro ano do curso da Faculdade de Engenharia Química (FEQ). Ela, que tem acompanhado de certa forma a evolução do trote, conta que nun-ca presenciou atos de violência. Mas está certa de que eles têm o poder de comprometer, e muito, o nome da instituição que faz vista grossa a esta prática. Na Unicamp, Aline revela que o caminho trilhado felizmente foi ou-tro. Uma decisão proativa de alunos resultou primeiramente no Trote da Cidadania Integrado, isso porque ou-tras faculdades e institutos já tinham iniciativas, mas isoladas, em torno do trote cidadão. Faltava, em sua opinião, agregar ações que posteriormente levaram ao Trote da Cidadania pelo Consumo Consciente.

m uma animada conversa, três alunos, provenientes da FEQ, da Faculdade de Enge-nharia Elétrica e de Compu-

tação (Feec) e da Faculdade de Edu-cação (FE), tiveram a idéia de realizar um trote para reunir todos os cursos, ainda que mantendo a autonomia das comissões de trotes das unidades. O projeto deu certo e a cada ano as uni-dades separam alguns dias de seu ca-lendário para desenvolver atividades conjuntas.

Os calouros André Caetano e Hei-tor Mobílio, ambos também estudan-tes da FEQ, relataram que nesta sexta edição do trote 2008, foram muito bem-recebidos pela Universidade e que foram consultados pelos vetera-nos se de fato queriam participar do trote. Quiseram e tanto gostaram que já compõem a equipe do Trote. “É uma forma civilizada de agir e que mostra respeito à livre vontade das pessoas”, avalia Heitor.

Ao ingressar em outra Universida-de, comenta André, teve que passar por situações vexatórias, incluindo ter que nadar em uma piscina lodo-sa e limpar a república todos os dias. Pouco depois, por ter feito uma esco-lha inadequada de curso, abandonou a universidade, onde estudava engenha-

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TROTE CONsCIENTE

Crianças participam do Trote da Cidadania pelo Consumo Consciente

Fotos: Antoninho Perri

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André Caetano, Aline Antoniazi e Heitor Mobílio: surpresas no primeiro dia de aula

ria elétrica. Por outro lado, André tem consciência de que o trote não partia daquela universidade e sim das tradi-cionais repúblicas, que reproduziam, sem perdão, o ritual a cada ano. Já na Unicamp, foi apadrinhado por um ve-terano que, até hoje, atua como o seu tutor, orientando alguns passos den-tro e fora da Universidade. Além de serem conselheiros, estes ‘padrinhos’ ajudam os calouros com o forneci-mento de material para estudo.

A recepção na Unicamp foi algo “fora do comum” para Heitor. Jamais esperava que, ao chegar na FEQ, uma das mais renomadas faculdades do país, fosse colocado diante de uma re-alidade tão diferente e distante da que vivia: foi aí que teve o seu primeiro contato com as favelas. “Acabei apren-dendo o lado humano que muitas ve-zes negligenciamos. Jamais imaginei que conheceria determinados luga-res”, testemunha.

Heitor acredita que ser iniciado em um trote consciente colabora para ti-rar o aluno inteiramente do seu foco de preocupação. “No começo, a inten-ção era vir para a Universidade a fim de aproveitar tudo o que ela poderia proporcionar, mas acabei convivendo com outra dimensão de mundo que é até mais importante que a integra-ção entre os alunos. Vários canais vão se abrindo para o futuro profissional, pessoal e social”, comenta.

Os calouros que participaram do Trote Cidadão pelo Consumo Cons-ciente deste ano preencheram um ca-dastro e receberam uma camiseta e uma caneca quando chegaram. Também as-sistiram a palestras sobre alimentação saudável, minimização de resíduos e novas gerações, todas ministradas por docentes que, a cada dia, abraçam a

iniciativa. Para ampliar o alcance das ações sociais, a Comissão Organiza-dora e o Instituto Akatu elaboraram conjuntamente uma cartilha contendo receitas culinárias baseadas no apro-veitamento total dos alimentos. Estas receitas se tornaram populares entre os alunos, principalmente os bolos de berinjela e de casca de abacaxi, garan-tem Aline, André e Heitor. As receitas foram aprendidas em oficinas do Sesi e, as cartilhas, distribuídas a mais de mil pessoas da região de Barão Geraldo.

s canecas de plástico pelo consumo consciente, entre-gues aos alunos, também podem ser trocadas por um

quilo de alimentos não-perecíveis. Estes alimentos serão posteriormen-te encaminhados a entidades caren-tes. A idéia da caneca, destaca Heitor, está ligada ao não-desperdício, já que os copos distribuídos nos restau-rantes da Universidade dificilmente podem ser reciclados a um custo ra-zoável e acabam por permanecer na natureza. A propósito, neste segundo semestre, a comissão planeja realizar o Dia da Caneca, quando não haverá distribuição de copos nestes restau-rantes. A proposta é verificar a ade-são e a receptividade dos alunos.

Outra vertente do projeto neste ano foi a visita dos calouros aos do-micílios da população de bairros pró-ximos à Unicamp. A missão era expli-car para as pessoas os princípios dos alimentos aprendidos nas oficinas e melhorar as suas condições de vida.

Três cooperativas de reciclagem são, atualmente, parceiras da Comis-são do Trote da Cidadania pelo Consu-mo Consciente: a CooperBarão, a Co-operativa de Santa Genebra e a Dom Bosco, iniciada este ano no Parque São Quirino. “O trabalho está se expan-dindo e já envolve 11 bairros. Além do Parque São Quirino, outra iniciativa mais recente é o Alto do Taquaral”, informa Aline.

Os calouros de 2008 também visi-taram a Central de Abastecimento de Campinas (Ceasa), onde fizeram um tour para compreender o processo de reciclagem deste entreposto comer-cial, cuja sobra é enviada ao Banco Municipal de Alimentos, instalado na própria Ceasa. A comissão põe ênfase na programação, buscando equilibrar as atividades que também incluíram uma grande festa, com o mote da in-tegração dos alunos de vários cursos e de vários anos, bem como as Calourí-adas, organizada pela Ligas das Atlé-ticas, um evento esportivo com duas semanas de miniolimpíadas. Foram mais de 1,2 mil participantes ao todo.

No momento, a comissão estuda o trote 2009 com o calendário da Di-retoria Acadêmica (DAC) para divul-gação nas faculdades e institutos. Até o mês de outubro, a programação do Trote deverá estar concluída. O Trote da Cidadania é apoiado pela Universi-dade há nove anos, desde que passou a ser integrado, mas o trote violento é proibido por deliberação do Conselho Universitário (Consu).

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Foto: Antoninho Perri

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Sem

Alunos empreendedores

conciliam o aprendizado com

a iniciativa pessoal

PAULO CESAR NASCIMENTO

reality show

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EMpREENDEDORIsMO Foto: Stockxpert.com

UPA 2008 13

reality show

empreendedorismo é esti-mulado pela Unicamp entre os seus alunos muito antes de virar moda no meio uni-

versitário o reality show televisivo com aprendizes de empresários. Para apro-ximar o aluno de graduação do merca-do de trabalho e complementar o en-sino de sala de aula com sua aplicação prática, as unidades de ensino e pes-quisa da Universidade têm favorecido o desenvolvimento de um importante leque de empresas juniores, apoiando e criando um clima propício à realiza-ção de suas atividades.

Em uma empresa universitária não há disputa encarniçada por emprego com polpudo salário, nem apresenta-dor caricato demitindo concorrentes. O conhecimento teórico é experimentado de maneira séria, e não em um jogo teatral para as câmeras. E, mais im-portante, os ganhos são compartilha-dos por todos: a participação em uma empresa-júnior resulta em benefícios significativos para estudantes e merca-do. Os primeiros têm a possibilidade de adquirir maturidade profissional e desenvolver talentos e competências; o segundo pode contar com projetos elaborados no ambiente de inovação de uma universidade que responde por aproximadamente 15% da pesquisa na-cional e está no topo da lista dos maio-res geradores de patentes no país.

“Participar de uma ‘júnior’ nos per-mite desenvolver habilidades como trabalho em equipe, liderança, adminis-tração de conflitos, organização e res-ponsabilidade, além de ser uma opor-tunidade de atuar em uma empresa que enfrenta situações reais e semelhantes às das organizações do mercado”, teste-munha Fernanda Campos Brito Nuno, quartanista de graduação de Engenha-ria de Alimentos e presidente do Gepea (Grupo de Estudos e Projetos em Enge-nharia de Alimentos), empresa-júnior de consultoria em alimentos fundada pioneiramente na Unicamp há 18 anos e a quarta em atividade no Brasil.

“Sempre procurei me envolver nas atividades existentes além da gradua-ção, e foi no Gepea que pude potencia-lizar o meu aprendizado e crescimen-to”, salienta a estudante.

Com mais de 265 projetos desen-

volvidos, o Gepea é uma das 18 junio-res ativas na Unicamp, abrigadas nas faculdades e nos institutos dos dife-rentes cursos. A estrutura dessas em-presas dirigidas por estudantes é mui-to semelhante àquelas que estão no mercado, com presidência, conselho, e departamentos como administra-tivo-financeiro, marketing, projetos, qualidade e recursos humanos, o que possibilita ao aluno vivenciar experi-ências práticas em todos eles, como ocorreu com Fernanda.

la entrou no Gepea como membro da área de projetos e, até ser eleita presidente no final de 2007, conta que

teve a oportunidade de aprender mui-tos conceitos relacionados à gestão empresarial, gestão de projetos e de pessoas, além de conhecer um pouco mais sobre os aspectos básicos fun-damentais para o suporte do trabalho de uma empresa.

“O dia-a-dia no Gepea não está li-mitado à minha faculdade. Eu e meus colegas mantemos contato com junio-res de outros cursos e universidades, e com empresas do mercado. Com isso, o aluno pode enriquecer sua forma-

ção pessoal, profissional e acadêmi-ca com conhecimentos que vão além do aprendizado na graduação e ter a oportunidade de colocar em prática na ‘júnior’ os conceitos aprendidos em aula. Assim, ele chega ao mercado de trabalho com experiências que farão diferença no início da sua vida profis-sional”, ensina Fernanda.

Aliás, um dos grandes diferenciais da Unicamp é a quantidade de opor-tunidades de desenvolvimento dispo-níveis para os alunos. Aqueles que as-sumirem a responsabilidade por fazer a diferença terão muito incentivo nas diversas atividades extracurriculares existentes, como as empresas junio-res, enfatiza Andre Villela, estudante de Mecatrônica e presidente do Núcleo das Empresas Juniores da Unicamp.

Ele integra o movimento de ju-niores há quatro anos. Foi diretor de qualidade e depois presidente da Me-catron (empresa-júnior do curso de Engenharia Mecatrônica), até chegar apresidente da associação que reúne as juniores da Unicamp.

“Espera-se muito mais de um profissional do que conhecimento técnico. Apenas serão destacados

Fernanda Campos Brito Nuno, presidente do Gepea: colocando em prática conceitos aprendidos em aula

Foto: Antonio Scarpinetti

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aqueles que desenvolverem sua ca-pacidade de enxergar e aproveitar boas oportunidades. Ou seja, serão destacados os que forem capazes de empreender, estejam onde estive-rem”, observa Andre.

Ele reconhece que a atividade em uma ‘júnior’ é bastante exigente, já

que o aluno tem que conciliar seu trabalho na empresa com as tarefas acadêmicas. Mas, conduzida com se-riedade e responsabilidade, mostra-se extremamente recompensadora, já que proporciona aos participantes inúmeras oportunidades que, de outra forma, talvez não fossem possíveis.

No caso de Andre, além do apren-dizado e da enorme rede de contatos criada durante esse período, surgiu a oportunidade de participar, no final de agosto, de um seminário de em-preendedorismo em Boston (EUA), no Babson College, um dos mais im-portantes pólos de dinamização do espírito empreendedor, com enfoque no ensino de empreendedorismo na graduação e pós-graduação.

Com apoio financeiro da Reitoria da Unicamp para a passagem aérea, ele e mais um empresário-júnior da Unicamp passaram duas semanas na instituição norte-americana em um curso intensivo patrocinado pelo ban-co Santander. Nada mal para quem ainda nem pôs os pés no mercado.

Feira de Recrutamento Talento da Unicamp, promovida pelo Núcleo de Empresas Juniores

Andre Villela, presidente do Núcleo das Empresas Juniores: curso intensivo de duas semanas em instituição norte-americana

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Foto: Antonio Scarpinetti

EMpREENDEDORIsMO

Foto: Antoninho Perri

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Há casos em que o espírito em-preendedor é tão forte que o negócio próprio já nasce antes mesmo de o es-tudante da Unicamp receber o diplo-ma de graduação. Fabiano Sant’Ana, aluno de Matemática Aplicada Com-putacional, e José San Martin, de Lingüística, criaram em janeiro des-te ano a Chuva Inc., especializada no desenvolvimento de sites e intranets com o uso de um sistema denomina-do Drupal. A empresa oferece ainda consultoria, treinamento e suporte técnico para sites que utilizam esse software de uso livre.

Oriundos do curso técnico em In-formática do Cotuca (o Colégio Téc-nico da Unicamp), eles começaram a trabalhar com o sistema no ano passa-do, a princípio separadamente, como desenvolvedores free-lancers, até que se uniram para executar alguns proje-tos e, farejando um nicho para explorar profissionalmente, decidiram estrutu-rar e formalizar o negócio. Nem bem chegou ao mercado e a Chuva, segun-do os dois sócios, já tem uma carteira de 13 clientes. O trabalho mais recen-te – e também o de maior visibilidade – foi o site da Unicamp.

mbos reconhecem que di-vidir o tempo entre a sala de aula e os projetos da empresa exige alguns ma-

labarismos. “Mas conseguimos fre-qüentar as aulas, cumprir as tarefas da faculdade e atender as encomen-das dos clientes”, afirma Fabiano. “Não deixamos os estudos em se-gundo plano e temos até bolsas de iniciação científica em nossas áreas de graduação”, salienta José. “Algu-

mas vezes pode ser exaustivo, mas temos tido trabalhos e contatos muito interessantes, que compen-sam todo o esforço.”

A resposta para a inevitável per-gunta: Chuva é uma referência à gota d’água do logotipo do software Dru-pal. Não será surpresa, portanto, se os negócios da dupla empreendedora forem tão torrenciais quanto o suges-tivo nome adotado para a empresa.

Juniores nasceram na FrançaO conceito de empresa-júnior nasceu em 1967,

na França, com o propósito de fazer os alunos coloca-rem em prática técnicas e conceitos aprendidos em aula. As idéias e as propostas fundamentais do mo-vimento foram trazidas para o Brasil, em 1988, pela Câmara de Comércio e Indústria Franco-Brasileira.

Atualmente o segmento reúne mais de 22 mil universitários espalhados em cerca de 700 empre-sas juniores e realizando mais de dois mil projetos por ano, segundo estimativas da Confederação Na-cional das Empresas Juniores.

As empresas juniores são organizações juridica-mente autônomas, dirigidas por alunos sob super-visão docente, aptas a prestar consultoria, apoio técnico, realizar estudos e desenvolver projetos para empresas, entidades e em alguns casos para a própria Universidade.

Sem fins lucrativos, o capital reunido com a exe-cução de seus projetos é usado no pagamento de estagiários e na manutenção da própria empresa. Um requisito importante é que os projetos se rela-cionem com as atividades curriculares do aluno.

Fabiano Sant’Ana e José San Martin, da Chuva Inc.:

carteira de 13 clientes

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Foto: Divulgação

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da guardaServiço auxília estudantes e viabiliza projetos acadêmicos

MANUEL ALVES FILHO

o final dos anos 70, o técnico em eletrônica João Vilhete Viegas d’Abreu deixou São Tomé e Príncipe, na África,

rumo ao Brasil. Seu destino era Campi-nas, onde cursaria Engenharia Elétrica na Unicamp, graças a uma bolsa de es-tudos concedida por um programa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unes-co). Assim que desembarcou no Rio de Janeiro, ele enfrentou uma série de contratempos, agravados pelo fato de

não conhecer nin-

guém no país e não estar familiarizado com os costumes locais. Ao chegar à ci-dade, também passou por alguns maus bocados. “Felizmente, a solidariedade dos colegas e professores me ajudou a superar todos os problemas”, recorda o ex-calouro. Se cumprisse a mesma traje-tória nos dias de hoje, João Vilhete não contaria apenas com a boa vontade dos membros da comunidade acadêmica. Ele também poderia recorrer ao Servi-ço de Apoio ao Estudante (SAE), órgão que atua como uma espécie de “anjo da guarda” dos alunos de graduação e pós-

graduação da Universidade. Atualmente, apenas a área de Assistência Social do SAE realiza algo como 2,8 mil atendimentos por ano.

Quando João Vilhete chegou

à Unicamp, a instituição ainda estava em fase de construção. Literalmente. De acordo com ele, o campus de Ba-rão Geraldo mais parecia um canteiro de obras. O próprio SAE, criado em 1976, ainda não era totalmente conhe-cido pelo corpo discente e nem tinha a mesma estrutura dos dias atuais. “Hoje em dia, a situação é muito diferente. Os alunos, inclusive os estrangeiros, podem contar com o apoio da institui-ção para resolver os seus problemas, embora sempre haja espaço para um ou outro aperfeiçoamento”, analisa o são-tomense, que hoje responde pela coordenação do Núcleo de Informática

Aplicada à Educação (Nied).

A avaliação de João Vilhete está muito próxima da realida-de, pelo que se pode apreender das informações fornecidas pela coordenadora do SAE,

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AssIsTÊNCIA

Foto: Antonio Scarpinetti

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da guarda

Maria Teresa Moreira Rodrigues: ajudando o estudante a solucionar seus problemas

professora Maria Teresa Moreira Rodri-gues. De acordo com ela, o órgão ofe-rece uma extensa gama de serviços aos alunos da Universidade, mas está em contínuo processo de aprimoramento. “Como qualquer pessoa, o estudante universitário também está sujeito a enfrentar uma série de adversidades. Nosso trabalho é ajudá-lo a encontrar a melhor solução possível para o seu problema. Para que isso aconteça, te-mos que estar sempre prontos para dar a resposta mais adequada às demandas que vão surgindo”, explica.

Dito de maneira bem simplificada, o SAE é o que se poderia chamar de “usina de soluções”. Ou seja, o estu-dante aparece com uma dificuldade e a equipe de profissionais do órgão entra em ação para ajudá-lo. “Se chegar um problema novo, nós certamente vamos buscar uma saída igualmente inovado-ra”, assegura a professora Maria Teresa. E não são poucas as desventuras vivi-das pelos alunos, segundo ela. Há des-de aqueles que apresentam um baixo

desempenho acadêmico por causa da saudade de casa até os que não têm o que comer, passando pelos que não conseguem saldar dívidas contra-ídas sem o devido planejamento. Não

fosse a intervenção do SAE nesses ca-sos, infere a coordenadora, muitos des-ses estudantes não teriam condições de se manter na Universidade.

Embora seja um dos mais procu-rados pelos alunos de graduação e pós-graduação, o setor de Assistência Social não é o único serviço ofereci-

do pelo SAE. O órgão dispõe, ainda, de áreas de orientação

Educacional e Jurídica. “A par disso, nós também apoiamos

projetos acadêmicos e so-ciais desenvolvidos pelos

alunos, orientamos inter-câmbio de estudantes com

universidades do exterior e fazemos a gestão da política

de estágio da Universidade”, elenca a professora Maria Teresa. No que se re-fere especificamente ao estágio, acres-centa a coordenadora do SAE, a função do órgão é estabelecer uma ponta entre o universitário e o mercado de traba-lho. “Nós não nos ocupamos apenas do aspecto legal do estágio. Nós também abrimos espaço para que as empresas se apresentem na Unicamp e ainda oferecemos minicursos e workshops gratuitos aos alunos”. Dentro da UPA, por exemplo, o SAE ministrará quatro palestras por dia aos visitantes.

inda como parte da assis-tência estudantil, o SAE coloca à disposição dos in-teressados um amplo pro-

grama de bolsas. A maioria considera, entre os critérios de seleção, a condi-ção socioeconômica do estudante. A Bolsa-Trabalho, por exemplo, tem por objetivo auxiliar o aluno de graduação que tenha dificuldades financeiras. Como contrapartida, o beneficiado co-labora, durante 15 horas semanais, em atividades de cunho específico, como aprimoramento técnico na sua área de conhecimento, apoio à docência ou em projetos sociais. As bolsas-alimentação e transporte destinam-se tanto aos alu-nos de graduação quanto de pós-gradu-ação, que estejam igualmente enfren-tando dificuldades para se manter na Unicamp. Nesses casos, não é exigida contrapartida do assistido.

A bolsa-emergência, como o nome sugere, é destinada aos estudantes de graduação e pós-graduação que estejam passando por problemas financeiros momentâneos. Nesse caso, o solicitante pode recebê-la apenas uma vez ao ano. O beneficiado, em contrapartida, colabora durante 40 horas com alguma atividade da Universidade. A bolsa-pesquisa, por sua vez, tem por finalidade cobrir proje-tos de iniciação científica. A solicitação deve ser feita com a orientação de um professor. A seleção é feita durante o primeiro semestre de cada ano. A dura-ção do benefício é de um ano, com pos-sibilidade de renovação.

Outro programa importante man-tido pelo SAE é a Moradia Estudantil, voltado aos estudantes com dificulda-de de se manter fora de suas cidades de origem. A seleção leva em consi-deração fatores de renda familiar e o desempenho acadêmico do interessa-do. A Moradia Estudantil da Unicamp fica a três quilômetros do campus de Campinas e conta com 226 casas (com capacidade para quatro estu-dantes cada), 27 estúdios (destinados a casais), 13 salas de estudo, quatro centros de vivência e um campo de fu-tebol. De acordo com os dados atuais, o SAE fornece ao ano 758 bolsas-tra-balho, 448 bolsas-alimentação e trans-porte, 928 vagas na Moradia Estudan-til e cerca de 200 bolsas-pesquisa.

João Vilhete Viegas d’Abreu, do Nied: contratempos

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Fotos: Antoninho Perri

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pERsONAGEM

Corra Lilian, corra

O cotidiano de uma aluna que não tem tempo a perder

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Corra Lilian, corra

Na seqüência, Lilian chegando, na pós-graduação, na graduação, na biblioteca do IEL, no Restaurante Universitário, praticando taekwondo, no curso de línguas do CEL e voltan-do para casa: dia cheio

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Fotos: Antoninho Perri

dia da estudante Lilian Nunes da Costa começa cedo. Às 6h50 ela pega um ônibus fretado em Ita-

tiba, onde mora, rumo à Unicamp. Cerca de uma hora depois, quando desembarca na Universidade, come-ça a cumprir uma agenda acadêmica de deixar executivo no chinelo. Não se trata de um fenômeno isolado. A aluna integra um contingente cada vez mais numeroso, composto de centenas de jovens que aproveitam ao máximo o cardápio de opções oferecido pela Unicamp.

Apesar de emblemático, o caso de Lílian guarda algumas peculia-ridades – boa parte motivada pelo ambiente encontrado na Unicamp. A começar do fato de a estudan-te, apesar de contar com apenas 23 anos, ter iniciado neste ano seu segundo curso de graduação. Mais: está matriculada também na pós-graduação.

Essa ligação começou de ma-neira fortuita, quando a estudante acompanhava seu avô, que passava por acompanhamento médico, em consultas no Hospital de Clínicas (HC). “Achava as áreas verdes mui-to bonitas, mas não tinha a míni-ma idéia do que era a Unicamp”. Lílian também não tinha noção do que pretendia cursar. Em 2002, no último ano do ensino médio, fez uma pesquisa para buscar suas afinidades. Decidiu-se pelo curso

de Letras do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp, graduando-se no ano passado. Pe-saram a proximidade de Itatiba, o fato de a Universidade ser pública e a qualidade do curso.

“Quando ingressei, já queria abraçar o que encontrasse pela fren-te”, lembra. Não deu muito certo num primeiro momento, mas a maratona começou a partir do se-gundo ano de curso. “Não respiro desde então, mas eu adoro”. De lá para cá, Lílian fez de tudo a que ti-nha direito. Ao longo do curso de Letras, aprendeu e/ou aprimorou, no IEL e no Centro de Estudos de Línguas (CEL), nada menos que seis idiomas: latim, alemão, italia-no, francês, japonês e grego. “Fui até monitora de latim”, orgulha-se.

Ainda na esfera acadêmica, Lí-lian freqüentou a maioria das 24 bibliotecas espalhadas pelo campus – participou de curso de formação e de busca de dados científicos nas bibliotecas Central e do IEL –, de-senvolveu pesquisa para a Iniciação Científica e fez as disciplinas “His-tória Antiga” e “História Medieval” no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), além de outras, extracurriculares, no Instituto de Artes (IA). “A Unicamp fomenta a pesquisa, e isso é fundamental. As bolsas não apenas viabilizam os projetos como também abrem no-vos horizontes”, observa.

As atividades extraclasse não fi-caram para trás. Lílian praticou tê-nis, participou de caminhadas com os amigos e virou freqüentadora assídua das sessões de cinema da Casa do Lago. Ademais, inscreveu-se em vários eventos. “A Unicamp incentiva duas coisas muito baca-nas: o aspecto cultural e a participa-ção em eventos. Não existe aquela coisa rígida das outras universida-des. Com isso, o aluno sente-se va-lorizado”, pondera a estudante, que foi monitora na última edição da UPA. “Foi muito interessante ter tido a oportunidade de interagir com os alunos visitantes”.

Hoje, Lilian cursa o segundo se-mestre de Lingüística e faz mestra-do em Letras Clássicas, ambos no IEL. De quebra, freqüenta aulas de desenho animado no Instituto de Artes, participa de um grupo temá-tico sobre letras clássicas e teatro, e cursa grego e japonês. É também candidata a uma bolsa de estudos, numa universidade alemã, na área de línguas. Continua a freqüentar as sessões de cinema e a participar de eventos – o último deles foi o centenário da imigração japonesa. No campo, digamos, esportivo, Li-lian trocou o tênis e as caminhadas pelo taekwondo. “Serei faixa preta em dois anos”, comemora. E tempo para tudo isso? Arruma-se, e com prazer. Não por acaso, às vezes, ela só sobe no fretado que volta para Itatiba às 11 da noite...

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Da sala para acenaAlunos do Instituto de

Artes ganham projeção ainda na graduação

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Atores contracenam na peça qiogem?!,

concebida no Instituto de Artes

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Gisele Nunes: projeto de seguir na pesquisa acadêmica e continuar atuando em peças teatrais

everia ser mais raro, mas o Instituto de Artes (IA) já tem alunos de graduação ganhando visibilidade em todos os campos das artes – e alguns deles são entrevistados aqui. A professora Sara Lopes, diretora do IA, afirma que os cursos dão ênfase à prática e à transmissão do conhecimento técnico, preparando

bem os alunos que quiserem enfrentar o mercado de trabalho. Observa, entretanto, que a Unicamp possui mui-tos graduandos que vão se destacar em várias profissões, sem a mídia para divulgar seu trabalho. “Os nossos profissionais são muito mais visíveis, mas só terá sucesso quem tiver vocação. E vocação não é apenas talento. É disposição para enfrentar a rotina dos ensaios e superar os muitos obstáculos para atingir seu objetivo”.

O violão acompanha a voz de Gisele Nunes desde os 15 anos. Ela fez uma incursão pela psicologia, mas tran-cou a matrícula ao perceber que o curso não dava margem às pesquisas que almejava. “Entrei no site da Unicamp e vi na grade curricular das artes cênicas disciplinas que poderiam me formar como artista: expressão vocal, inter-pretação, história e linguagens do teatro, arte circense. O conjunto de matérias também me permitia seguir na mú-sica, em outro patamar”.

Entretanto, Gisele logo descobriu que sua área era mes-mo o teatro, encantada com o processo de criação como um todo. “É um curso muito intenso, em que trabalhamos de manhã, de tarde e de noite. Precisamos preparar quatro

montagens durante a graduação: a primeira peça é temática, em torno de signos; a segunda

trata do épico, focando as figuras que compõem uma narração; na terceira, vem a linguagem realista do teatro clássico; e a última montagem é livre”.

Não raramente, as peças conquistam seu espaço no

mercado, vencendo editais e sendo incluídas em projetos culturais que possibilitam a divulgação do trabalho dos alunos para a comunidade externa. Foi o que aconteceu com Morte e Vida Severina, espetáculo homônimo do poema de João Cabral de Mello Neto, dirigido pela pro-fessora Alice K. “Não queríamos que a peça se perdesse simplesmente porque foi criada aqui dentro”.

Morte e Vida deu a Gisele Nunes o prêmio de melhor atriz no festival de Patos de Minas e arrematou vários outros prêmios, como de melhor espetáculo, direção, cenografia, figurino e concepção sonora. No festival de Blumenau, a estudante recebeu outra indicação e o grupo conquistou mais premiações. A peça foi apresentada no Teatro da USP (Tusp), no Centro de São Paulo, em todos os finais de semana de agosto.

Gisele integra ainda o elenco de A Pérola, outra peça premiada dirigida por Alice K., e de Homens de Papel, peça de Plínio Marcos com direção do professor Roberto Mallet. Ela também prepara a sua montagem de formatura com o tema A gente é brega quando ama. “Para o futuro, pretendo seguir na pesquisa acadêmica e atuando nas peças, além de retomar a música com a Banda Namoradeira, que estuda o universo da cultura popular caipira”.

LUIZ SUGIMOTO

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Foto: Antoninho Perri

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ucas Lima parou de estudar no segundo ano do secundário por causa do ritmo de trabalho da Família Lima, que já está divulgando seu séti-mo disco, Carmina Burana. No grupo, Lucas faz

viola, violão, guitarra, flauta e voz. Ele mudou de Porto Alegre para São Paulo aos 17 anos. Aos 20, quando a fa-mília se assentou, teve vontade de instigar seu pensamen-to musical buscando novas idéias. “Quem lida com arte, quer sempre se aprimorar. Fiz um supletivo na própria Unicamp, onde prestei o vestibular para música”.

Cursando o quinto ano de composição, Lucas Lima afirma que vem mudando seu pensamento musical cons-tantemente, principalmente nos aspectos técnicos, assi-milando novos estilos como das músicas eletroacústica e

bailarina Érica Tessaro-lo, aluna em final de curso pela Unicamp, está se apre-sentando em três espetácu-

los este ano: Beije minha alma, inspi-rado em obra da artista plástica Tracey Emin, pela Cia. Fragmentos de Dança; Tu não te moves de ti, do qual é autora e intérprete, baseado em livro de Hilda Hilst e dirigido pela professora Marisa Lambert, do Instituto de Artes; e Sob a nudez dos olhos, coreografia de Va-nessa Macedo, com direção de Ângela Nolf, também docente do IA.

A transposição de linguagens, es-tudando e se inspirando em obras de arte e da literatura para transformá-las em espetáculos de dança, foi o cami-nho naturalmente seguido por Érica, que dança desde criança, mas antes graduou-se em artes plásticas pelo Ins-tituto de Artes. “Meu trabalho de con-clusão será baseado no pintor Francis

espectral. “Levo tudo o que assimilo para a Família Lima, da música diferenciada de Messiaen e Xenakis às idéias transmitidas pelos professores sobre orquestração, arran-jo, harmonia, software”.

Lucas se constrange ao saber que é apontado como aluno exemplar, mas admite que a disciplina é um dos grandes le-gados de família. “Por estudar música erudita e trabalhar des-de criança, e por ter entrado na faculdade mais tarde, minha abordagem do curso superior é outra. Como não estou ali para ganhar notas e sim para me aprimorar, absorvo mais das au-las. Também adquiri maior comprometimento artístico”.

Embora já tenha se firmado no campo profissional, Lucas Lima está atento às reclamações dos colegas de instituto so-bre o mercado restrito. “Realmente, o mercado não é genero-so. Mas, ao invés de esperar que ele melhore, hoje é possível criar novos nichos recorrendo à Internet e a tecnologias que permitem produzir, gravar e distribuir um disco de dentro do quarto. Além disso, temos outras áreas de atuação, como de jingles e de trilhas sonoras”.

Aos visitantes da UPA que aspiram à música, Lucas Lima recomenda muito estudo, antevendo que o predomínio da tecnologia levará a uma redução do número de instrumentis-tas tradicionais, fazendo com que sejam valorizados os mais competentes. Ele próprio não pretende deixar a academia. “Vou engatar uma pós-graduação, pois pretendo me tornar um dos professores da Unicamp. Assim como eles, quero ser capaz de influenciar a cabeça das pessoas para melhor”.

Lucas Lima: assimilando as idéias transmitidas pelos professores sobre orquestração, arranjo e harmonia

Érica Tessarolo: formação permite atuação na área educa-

cional e em projetos culturais

Bacon, sempre pensando nesta ponte entre diferentes linguagens”.

Mesmo antes de se formar em artes plásticas, a bailarina já sentia imensa necessidade de voltar a dançar, então com outro foco. “No contexto da esco-linha e da academia, eu não tinha esta consciência da dança como linguagem artística. Quis estudá-la mais profissio-nalmente e por isso busquei uma vaga para o curso do IA em 2002”.

Érica teve sua expectativa atendida, já que o curso, ao mesmo tempo em que permite aprofundar as pesquisas, acolhe e incentiva o dançarino que cria. “Existem várias vertentes – como a dança brasileira, a contemporânea e a clássica – e o aluno escolhe que rumo seguir, sempre com o respaldo do cor-po docente. Ele vai se descobrindo aqui dentro, até definir a linha e o professor com os quais tem maior afinidade”.

Érica Tessarolo faz dança contem-porânea. Informa que Beije minha alma começa a percorrer unidades do Sesi no Estado de São Paulo e também será apresentado no Festival do Insti-tuto de Artes (Feia). “Infelizmente, o mercado é difícil e ainda não são mui-tos os alunos que saem para compa-nhias profissionais. Por outro lado, a formação na Unicamp possibilita atu-ar na área educacional e em projetos culturais sérios, além de termos muita gente do IA produzindo e interpretan-do suas próprias criações”.

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atiana Burg, aluna de artes plásticas, quer trabalhar com o que cha-ma de educação estética. Embora seu principal campo de atuação seja a escola, ela acha que ali os educadores em artes não encontram liber-dade para dar vazão à criatividade. Daí ter se engajado em um grupo

formado na maioria por ex-alunos da Unicamp, cuja proposta é fazer teatro em espaços públicos que não sejam a rua e que recebam uma população razoavel-mente fixa. “O albergue surgiu como este espaço”.

O projeto desenvolvido no Instituto de Artes foi adaptado ao Programa para Valorização de Iniciativas Culturais (Vai) e apro-vado no edital da Prefeitura de São Paulo para levar oficinas de arte à periferia. O grupo atua em dois albergues de Santo Amaro, onde cerca de 40 albergados acompanham o trabalho desde o princípio. “O difícil não é atraí-los para o projeto, mas mantê-los, já que a rotatividade é grande”.

Em suas aulas, Tatiana Burg junta exercícios de corpo e de pintura. To-mando livros de pintores conhecidos, propõe a criação de cenas a partir das imagens. Propõe ainda que os alunos recriem imagens dos pintores para a mon-tagem de cenas. “A idéia é integrar o corpo à plástica, como em exercícios in-versos, em que eles fazem o movimento no espaço e colocam no papel o que se vive com o corpo”.

O projeto aprovado no edital prevê a montagem de um espetáculo den-tro dos albergues até o final do ano. Além dos cinco componentes do grupo, outros chegarão para a fase final da produção, que deverá incluir os próprios albergados. “Também queremos atrair profissionais de outras áreas, que te-nham uma visão de fora das artes, pois acabamos lidando com questões de ordem social e psicológica que não dominamos”.

afael de Lima está se for-mando em composição e vai pedir seu reingresso em mú-sica popular, curso do qual

já vem cumprindo matérias eletivas. “O Instituto de Artes é um dos únicos que oferecem cursos de música erudi-ta e de música popular, havendo um forte intercâmbio entre as duas áreas. Sou da composição, mas tenho aulas junto com o pessoal de regência, de instrumentos, de popular. A troca de informações é inevitável”.

Tanto é inevitável que Rafael, que toca sax, vem se apresentando com três grupos de diferentes gêneros: o Coletivo Orquestral Unicamp, de música experimental, regido pelo professor Mário Campos; a gafieira Camisa Amarela, formada por onze músicos, com a participação do pro-fessor Rafael dos Santos; e o Carco-arco, que mistura música erudita e popular e acaba de ter projeto apro-vado num edital de incentivo à cul-tura de Campinas.

Rafael do Santos considera o mer-cado de trabalho complicado, mas

Rafael de Lima: intercâmbio e troca intensa de informações

entre as áreas erudita e popular

Tatiana Burg: aulas e montagens na periferia reúnem exercícios de corpo e de pintura

menos assustador diante da forma-ção que vem recebendo na Unicamp. “É difícil ter emprego fixo e vejo que muitos colegas, e mesmo professores do IA, acabam se tornando profis-sionais polivantes: são professores, instrumentistas, arranjadores, com-positores. Este deve ser meu cami-nho, atuando no meio acadêmico e fazendo apresentações. Mas nunca se sabe, de repente, um dos meus gru-pos pode estourar”.

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Fotos: Antoninho Perri

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AÇÃO sOCIAL

Rafael Valotta Rodrigues, professor do Projeto

Educacional de Jovens e Adultos (Veja):

educação diferenciada

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Lição de Alunos da Moradia da Unicamp idealizam e tocam projetos sociais

RAQUEL DO CARMO SANTOS

Moradia Estudantil da Unicamp é uma confluência de culturas. Residem, no local, pessoas de diversas regiões do país e do mundo. Trata-se, portanto, de um espaço no qual se aprende a convi-ver com as diferenças. Ali, cerca de mil pessoas dividem os 22 mil metros quadrados de construção, entre casas, estúdios para famílias, salas de estudo e centros de vivência. O que chama a atenção,

no entanto, é a quantidade de projetos idealizados e mantidos pelos estudantes lá estabelecidos. Somam cerca de 15 ações, entre as quais: ensino de línguas e de música, atividades culturais, implantação de horta de plantas medicinais, sistema de compostagem, manejo de resíduos sólidos e coleta de lixo orgânico. Essas atividades, na avaliação da coordenadora Josely Rimoli, qualificam e ampliam a formação dos estudantes.

Ao mesmo tempo em que parte dos moradores se envolve nos projetos como coordenadores e professores, há aqueles que participam usufruindo da estrutura oferecida gratuitamente. Josely acredita, por exemplo, que o conteúdo dos cursos de línguas e artes amplia a formação humanista dos estudantes. Já nos progra-mas de ginástica e saúde, o estímulo é o cuidado com o corpo. Trata-se de uma preocupação recorrente da coordenadora, especialista na área de Saúde Pública.

Josely procura estimular todas as iniciativas criativas, sendo que em alguns dos projetos os alunos contam com uma bolsa-trabalho que possibilita compartilhar o apren-dizado em 15 horas semanais. O cursinho pré-vestibu-lar (Proceu) e o de Vivência Educacional para Jovens e Adultos (Veja) são exemplos de programas voltados para a comunidade externa. O Proceu atrai adolescentes que desejam ingressar em uma universidade e esbarram nas deficiências da educação formal. São 21 estudantes da Unicamp envolvidos com os mais de 30 jovens e adoles-centes que compõem o grupo anual. O Veja, por sua vez, propõe um ensino independente da escola pública e for-mal e difere da proposta preconizada pela Educação de Jovens e Adultos (EJA), programa da rede pública.

Em fase de implementação, o projeto de extensão uni-versitária e Cidadania (Crias) pretende contribuir para a reflexão e ações nas comunidades da região do São Mar-

cos, uma das mais carentes de infra-estrutura de Campi-nas. Outro projeto é o de Alfabetização Ecológica, cuja proposta é criar mutirões, palestras sobre Educação Am-biental e buscar aproximação com a Fundação Pró-Menor, em Campinas, para ações nesta linha.

A aluna Márcia Góes integra o contingente de idea-listas. A primeira vez em que a estudante deu uma aula de condicionamento físico foi na Moradia Estudantil da Unicamp – local onde reside. A aluna do quarto ano da Faculdade de Educação Física (FEF) planejou minuto a minuto as atividades que ministraria em uma hora. Não demorou a perceber, no entanto, que seu planejamento, criteriosamente elaborado, não teria o êxito esperado. Ao tomar contato com o programa Moradia Ativa, há dois anos, Márcia pôde efetivamente entender a importância de adequar o aprendizado em sala de aula à aplicação no campo profissional. Isso faz, segundo a estudante, a dife-

casa

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Foto: Antonio Scarpinetti

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rença na sua formação, pois consegue ainda na graduação ter referências da atuação do profissional nas mais variadas dimensões. “É um aprendizado maior”, define.

Mas não é só por meio do Moradia Ativa que Márcia decidiu abrir o leque de possibilidades para ampliar a sua formação. Já estagiou em academias de musculação, par-ticipou da organização de corridas de rua, passeios ciclís-ticos e atletismo. Até decidir que a sua área é mesmo a pesquisa acadêmica. Em especial, dedicar-se aos estudos sobre a ação do doping em atletas que escolhem os espor-tes de alto rendimento. Ela quer investigar quais são os limites do corpo humano e os mecanismos desencadeados pelo uso de substâncias ilícitas.

Natural do município de Carapicuíba, localizado na Grande São Paulo, a estudante não foi adepta da prática de esportes na infância e, tampouco, possuía envolvimento com atividades esportivas, como ocorre com a maioria dos colegas de sala. Sua vocação nasceu na adolescência a partir de um projeto da Prefeitura da cidade, cujo foco era a inser-ção social de detentas de uma unidade da Febem localizada nas imediações de sua residência. O programa oferecia parte das vagas para os adolescentes da região, enquanto outra fatia era destinada aos internos. Os coordenadores ensina-vam um curso profissionalizante ao grupo e incentivavam a prática de uma modalidade esportiva. Foi assim que Márcia tomou gosto pelo esporte e decidiu fazer cursinho, prestan-do vestibular em uma universidade pública.

No Moradia Ativa, ela e mais três alunas dão aulas de ginástica, alongamento e caminhadas, das quais partici-pam não apenas os moradores como também a vizinhança de Barão Geraldo, distrito de Campinas onde está instalada a Moradia. As aulas são gratuitas e acontecem três vezes por semana, durante uma hora. As turmas já chegaram a reunir 27 pessoas – a maioria composta de mulheres. Além dos exercícios físicos, o grupo se encarrega de promover atividades de lazer e recreação para as crianças de várias faixas etárias, filhos de estudantes da Universidade.

Márcia não tem dúvida de que a principal contribuição do programa é promover o benefício do coletivo. No início, conta, eram apenas iniciativas isoladas, como a prática de futebol aos finais de semana. A institucionalização do Mo-radia Ativa trouxe algo mais na prática de exercícios físicos

naquele espaço. Em uma das ações, por exem-plo, que consiste em condicionamento físico em 12 semanas, as estudantes aplicam questioná-rios no início e ao final das sessões com o ob-jetivo de se avaliar as melhoras que o programa proporcionou. A idéia, explica Márcia, é ampliar ainda mais o número de atividades oferecidas.

Já o estudante Luis Henrique dos Santos, alu-no do último ano do curso de Matemática, acre-dita que muito do que se diz sobre a matemática não passa de mito. Para o aluno, ela possui uma linguagem própria e, como ocorre no aprendi-zado de várias disciplinas, deve ter um método adequado para o ensino já nos primeiros anos da infância. Muitas das dificuldades, acredita Santos, são contornáveis. Por isso, ele defende a introdução das primeiras noções da disciplina já na educação infantil, por um professor especializado.

as as idéias e opiniões de Luis Henrique transcendem a matemática. Ele é professor do projeto Vivência Educacional de Jovens e Adultos (Veja), oferecido pelos alunos da

Moradia Estudantil da Unicamp, em Barão Geraldo, des-de 2000. A iniciativa, que começou com a motivação de colocar em prática o conteúdo aprendido no curso, tor-nou-se uma proposta de vida. O Veja, para Santos, “é im-portante porque representa o novo”. Não consiste apenas em ter como alunos a população do entorno e muito me-nos fazer com se obtenha o diploma – isso ocorre como uma conseqüência natural. Mas, opina, são vivências que resultam numa educação diferenciada. “Trata-se de algo alternativo”, define.

Santos reside na Moradia e há quatro anos participa do projeto, visto por ele como sendo de grande alcance social. Nem passa pela sua cabeça deixar o Veja depois de forma-do. Seus planos prevêem a dedicação ao mestrado e douto-rado, acompanhada, é claro, de um envolvimento maior no projeto. “Ser professor pode não oferecer o retorno finan-ceiro esperado, mas é uma realização”, define o estudante, que levou certo tempo para se decidir pela carreira.

A maior parte de sua formação foi em escola pública e, neste ponto, acredita ser sua maior identificação com o Veja. Chegou a cursar Tecnologia e Construção Civil, no Centro Superior de Educação Tecnológica (Ceset), em Limeira, mas a licenciatura sempre foi seu ideal de vida, não hesitando em largar o curso no último ano e se voltar para Matemática. Luis Henrique define que sua satisfação é facilitar o entendi-mento das pessoas sem recorrer a métodos engessados. “É preciso envolver no aprendizado questões que serão vividas no cotidiano”, prega. Já passaram, por suas mãos, desde ido-sos até um grupo de garotos de 16 anos.

As aulas acontecem durante toda a semana, e cada professor parte de uma experiência inovadora, pois não há um material fechado. A cada semestre o conteúdo pode ser diferenciado. São oferecidas oficinas e festas temáticas, que proporcionam o contato com um centro de vivência. As disciplinas são: Português, Matemática, Geografia, História, Ciências, Literatura e Música. Cada turma, que conta com no máximo 15 participantes, per-manece dois anos com as aulas, que ocorrem no período noturno, na própria Moradia. A coordenadora Josely Rimoli: projetos que qualificam a formação

O estudante Luis Henrique

dos Santos: proposta de vida

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AÇÃO sOCIAL

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O estudante Luis Henrique

dos Santos: proposta de vida

Vista parcial da Moradia Estudantil, cujos programas contemplam também crianças

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Fotos: Antoninho Perri

Fotos: AntonioScarpinetti

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uando pisou pela primei-ra vez no então Depar-tamento de Engenharia Elétrica da Unicamp, em 1976, o calouro João de

Deus Rego Lima não podia imaginar o que viria pela frente. De lá para cá, esse nordestino de raciocínio rápido e fala mansa já rodou os quatro can-tos do mundo levado pelo seu espí-rito empreendedor. Nesse percurso, muitas coisas mudaram em sua vida, a começar pelo nome. João passou a ser conhecido como John. E foi como John Lima que ele se projetou para

John ganha o

Engenheiro formado na Unicamp faz sucesso no mercado internacional

CLAYTON LEVY

John Lima ministra palestra a convite

da Inova: “A Unicamp me deu as ferramentas

para chegar até aqui”

mundoo mercado internacional, criando a Cyclades Corporation, uma mul-tinacional no ramo de informática cujo faturamento chegou a US$ 25 milhões por ano. Vendida em 2006 para uma gigante norte-americana, a companhia serviu de trampolim para novos negócios, mostrando que o casamento entre pesquisa e em-preendedorismo pode gerar riqueza e desenvolvimento.

Hoje, de seu rancho encravado em pleno Vale do Silício, na Califór-nia, John Lima comanda outras duas empresas, a Coffee Bean Solution, es-pecializada em software para marke-ting, e a Neocatena Networks, volta-da para chips na área de segurança. O ex-aluno administra os negócios com os olhos no futuro, mas não es-quece dos tempos de estudante. “A Unicamp me deu as ferramentas para chegar até aqui”, diz. Puxando pelo fio da memória, vai desfiando epi-sódios que marcaram sua trajetória de sucesso, iniciada numa garagem da Vila Olímpia, em São Paulo, onde criou a Cyclades em 1989, junto com o sócio Daniel Dalarossa.

Natural de São Miguel, no Rio Grande do Norte, o empresário per-correu um caminho comum a todo estudante antes de dar o passo deci-sivo. John Lima saiu da universida-de para trabalhar como estagiário na Itautec. Ali, participou do desenvol-vimento dos primeiros PCs brasilei-ros. Depois, foi para a Digirede, de onde partiu para o negócio próprio, junto com o sócio. Trabalhavam durante o dia na Digirede e à noi-te desenvolviam o projeto de uma placa de comunicação de dados para Unix, que seria o primeiro produto da empresa, a placa Cyclom-8.

A partir daí, resolveram in-vestir no mercado externo. Dois anos depois de terem fundado a empresa, abriram a Cyclades Cor-poration em Fremont, na Califórnia e, em 1992, transferiram a matriz do Brasil para os Estados Unidos. Os resultados não demoraram a aparecer. Em 1993, a empresa foi a primeira do mundo a oferecer produtos de conectividade para o sistema operacional Lynux, uma

novidade da época. Em 2000 fun-daram a Cyclades Alemanha, onde John Lima passou a morar. De lá, foram abertas filiais na França, In-glaterra, Espanha e Itália. “A nossa vantagem era que atuávamos num nicho em que as margens eram ra-zoáveis”, observa.

O contexto da política econômi-ca vigente na época, caracterizada pela abertura de mercado na área de informática, foi decisiva para o salto internacional. De repente, os sócios estavam diante de duas opções: uma seria atuar como importadores de produtos dos próprios concorrentes, o que era bastante comum na época; a outra seria seguir sua vocação na área de tecnologia e aventurar-se no Vale do Silício, que abrigava o maior centro de desenvolvimento tecnoló-gico do mundo. “Escolhemos a se-gunda opção, e com ela veio nosso maior desafio: entrar no mercado norte-americano”.

ão foi uma tarefa fácil. Para lançar as bases da Cyclades no exterior, John Lima foi morar sozinho

na Califórnia. Todos os dias, ao voltar para casa, ele repetia para si mesmo: “tem de haver um jeito de entrar nes-se mercado”. A solução veio em fins de 1992, com o surgimento do Linux. Como havia necessidade de placas de comunicações para esse sistema operacional, o brasileiro não perdeu tempo. “Desenvolvemos um softwa-re para fazer placas compatíveis com Linux e as vendas subiram rápido. Foi como pôr fogo em gasolina”.

No ano 2000 John Lima mudou-se com a família para a Alemanha a fim de iniciar suas operações na Europa. Dali, abriu filiais na França, Inglaterra, Espanha e Itália. Os ne-gócios prosperaram a tal ponto que entre seus clientes, havia gigantes como Yahoo, Google, Bank of Amé-rica e Nasa. Em 2006, o brasileiro re-solveu fazer o caminho de volta. Ne-gociou a venda da Cyclades para um grupo norte-americano e comprou um rancho no Vale do Silício. Ali, deu início às duas novas empresas que dirige atualmente. “Senti que estava na hora de encerrar um ciclo

e começar outro”, explica.

Para John Lima, o conhecimen-to é a base do empreendedorismo. “Esse é o grande diferencial na for-mação oferecida pela Unicamp”, diz ele. Auto-intitulando-se “prata da casa”, o empresário é uma espécie de paradigma para uma quantidade cada vez maior de estudantes que sonham transformar pesquisa cien-tífica com negócios bem-sucedidos. Nas últimas décadas, cerca de 150 empresas nasceram a partir das salas de aula da Universidade, considera-da um dos pólos de excelência em pesquisa acadêmica no país.

“O conhecimento científico não exclui o empreendedorismo, e vice-versa”, ensina o empresário. Sin-tonizado com o que acontece nos países desenvolvidos, ele está certo de que o crescimento econômico de-penderá cada vez mais da articulação entre centros de pesquisa e empre-sas do setor produtivo. “O processo da inovação tecnológica corresponde ao verdadeiro motor do crescimento, mas, para gerar impacto social e eco-nômico, deve ocorrer nas empresas e não apenas nas universidades”.

Em sua opinião, a Unicamp é uma das poucas universidades brasileiras cujo modelo segue essa tendência. Como exemplo, ele cita o trabalho desenvolvido pela Agência de Inova-ção Inova Unicamp. Das 512 patentes depositadas pela instituição, 50 já fo-ram licenciadas pelo setor produtivo. “Isso vai ao encontro dos objetivos de inúmeros estudantes que têm espíri-to empreendedor mas não querem deixar de fazer ciência”, analisa. Para ele, o ambiente hoje está francamen-te favorável a essa combinação.

“Na minha época, isso era mais difícil devido a uma série de fatores, mas hoje em dia é uma tendência praticamente irreversível”, afirma. “É preciso preparar-se, estar atento e não deixar as oportunidades pas-sarem”, alerta. Pelo menos é isso que John Lima continuará fazendo. Seja do seu rancho na Califórnia ou de qualquer outro ponto do planeta, onde surja uma boa chance de trans-formar conhecimento em riqueza.

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uando pisou pela primei-ra vez no então Depar-tamento de Engenharia Elétrica da Unicamp, em 1976, o calouro João de

Deus Rego Lima não podia imaginar o que viria pela frente. De lá para cá, esse nordestino de raciocínio rápido e fala mansa já rodou os quatro can-tos do mundo levado pelo seu espí-rito empreendedor. Nesse percurso, muitas coisas mudaram em sua vida, a começar pelo nome. João passou a ser conhecido como John. E foi como John Lima que ele se projetou para

John ganha o

Engenheiro formado na Unicamp faz sucesso no mercado internacional

CLAYTON LEVY

John Lima ministra palestra a convite

da Inova: “A Unicamp me deu as ferramentas

para chegar até aqui”

mundoo mercado internacional, criando a Cyclades Corporation, uma mul-tinacional no ramo de informática cujo faturamento chegou a US$ 25 milhões por ano. Vendida em 2006 para uma gigante norte-americana, a companhia serviu de trampolim para novos negócios, mostrando que o casamento entre pesquisa e em-preendedorismo pode gerar riqueza e desenvolvimento.

Hoje, de seu rancho encravado em pleno Vale do Silício, na Califór-nia, John Lima comanda outras duas empresas, a Coffee Bean Solution, es-pecializada em software para marke-ting, e a Neocatena Networks, volta-da para chips na área de segurança. O ex-aluno administra os negócios com os olhos no futuro, mas não es-quece dos tempos de estudante. “A Unicamp me deu as ferramentas para chegar até aqui”, diz. Puxando pelo fio da memória, vai desfiando epi-sódios que marcaram sua trajetória de sucesso, iniciada numa garagem da Vila Olímpia, em São Paulo, onde criou a Cyclades em 1989, junto com o sócio Daniel Dalarossa.

Natural de São Miguel, no Rio Grande do Norte, o empresário per-correu um caminho comum a todo estudante antes de dar o passo deci-sivo. John Lima saiu da universida-de para trabalhar como estagiário na Itautec. Ali, participou do desenvol-vimento dos primeiros PCs brasilei-ros. Depois, foi para a Digirede, de onde partiu para o negócio próprio, junto com o sócio. Trabalhavam durante o dia na Digirede e à noi-te desenvolviam o projeto de uma placa de comunicação de dados para Unix, que seria o primeiro produto da empresa, a placa Cyclom-8.

A partir daí, resolveram in-vestir no mercado externo. Dois anos depois de terem fundado a empresa, abriram a Cyclades Cor-poration em Fremont, na Califórnia e, em 1992, transferiram a matriz do Brasil para os Estados Unidos. Os resultados não demoraram a aparecer. Em 1993, a empresa foi a primeira do mundo a oferecer produtos de conectividade para o sistema operacional Lynux, uma

novidade da época. Em 2000 fun-daram a Cyclades Alemanha, onde John Lima passou a morar. De lá, foram abertas filiais na França, In-glaterra, Espanha e Itália. “A nossa vantagem era que atuávamos num nicho em que as margens eram ra-zoáveis”, observa.

O contexto da política econômi-ca vigente na época, caracterizada pela abertura de mercado na área de informática, foi decisiva para o salto internacional. De repente, os sócios estavam diante de duas opções: uma seria atuar como importadores de produtos dos próprios concorrentes, o que era bastante comum na época; a outra seria seguir sua vocação na área de tecnologia e aventurar-se no Vale do Silício, que abrigava o maior centro de desenvolvimento tecnoló-gico do mundo. “Escolhemos a se-gunda opção, e com ela veio nosso maior desafio: entrar no mercado norte-americano”.

ão foi uma tarefa fácil. Para lançar as bases da Cyclades no exterior, John Lima foi morar sozinho

na Califórnia. Todos os dias, ao voltar para casa, ele repetia para si mesmo: “tem de haver um jeito de entrar nes-se mercado”. A solução veio em fins de 1992, com o surgimento do Linux. Como havia necessidade de placas de comunicações para esse sistema operacional, o brasileiro não perdeu tempo. “Desenvolvemos um softwa-re para fazer placas compatíveis com Linux e as vendas subiram rápido. Foi como pôr fogo em gasolina”.

No ano 2000 John Lima mudou-se com a família para a Alemanha a fim de iniciar suas operações na Europa. Dali, abriu filiais na França, Inglaterra, Espanha e Itália. Os ne-gócios prosperaram a tal ponto que entre seus clientes, havia gigantes como Yahoo, Google, Bank of Amé-rica e Nasa. Em 2006, o brasileiro re-solveu fazer o caminho de volta. Ne-gociou a venda da Cyclades para um grupo norte-americano e comprou um rancho no Vale do Silício. Ali, deu início às duas novas empresas que dirige atualmente. “Senti que estava na hora de encerrar um ciclo

e começar outro”, explica.

Para John Lima, o conhecimen-to é a base do empreendedorismo. “Esse é o grande diferencial na for-mação oferecida pela Unicamp”, diz ele. Auto-intitulando-se “prata da casa”, o empresário é uma espécie de paradigma para uma quantidade cada vez maior de estudantes que sonham transformar pesquisa cien-tífica com negócios bem-sucedidos. Nas últimas décadas, cerca de 150 empresas nasceram a partir das salas de aula da Universidade, considera-da um dos pólos de excelência em pesquisa acadêmica no país.

“O conhecimento científico não exclui o empreendedorismo, e vice-versa”, ensina o empresário. Sin-tonizado com o que acontece nos países desenvolvidos, ele está certo de que o crescimento econômico de-penderá cada vez mais da articulação entre centros de pesquisa e empre-sas do setor produtivo. “O processo da inovação tecnológica corresponde ao verdadeiro motor do crescimento, mas, para gerar impacto social e eco-nômico, deve ocorrer nas empresas e não apenas nas universidades”.

Em sua opinião, a Unicamp é uma das poucas universidades brasileiras cujo modelo segue essa tendência. Como exemplo, ele cita o trabalho desenvolvido pela Agência de Inova-ção Inova Unicamp. Das 512 patentes depositadas pela instituição, 50 já fo-ram licenciadas pelo setor produtivo. “Isso vai ao encontro dos objetivos de inúmeros estudantes que têm espíri-to empreendedor mas não querem deixar de fazer ciência”, analisa. Para ele, o ambiente hoje está francamen-te favorável a essa combinação.

“Na minha época, isso era mais difícil devido a uma série de fatores, mas hoje em dia é uma tendência praticamente irreversível”, afirma. “É preciso preparar-se, estar atento e não deixar as oportunidades pas-sarem”, alerta. Pelo menos é isso que John Lima continuará fazendo. Seja do seu rancho na Califórnia ou de qualquer outro ponto do planeta, onde surja uma boa chance de trans-formar conhecimento em riqueza.

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Uma viagem pelo mundo com os olhos de outras pessoas. É assim que Bruno Passos Terlizzi, aluno do curso de História da Unicamp, resu-me sua experiência de intercâmbio nos Estados Unidos, no primeiro semestre deste ano. Bruno dividiu uma grande casa amarela em Austin com 26 moradores russos, turcos, finlandeses e alemães; na Universi-dade do Texas, participou de grupos de estudos sobre a América Latina com salvadorenhos, nicaragüenses, panamenhos e mexicanos.

“É no exterior que descobrimos a nossa cultura. Achei bem legal o am-biente de patriachica – gente de vários países vivendo num espaço pequeno. Obtive ganhos culturais mesmo nas pequenas diferenças, como na forma de organizar a casa. Também percebi que a aparente frieza e grossura dos europeus, por exemplo, se deve a outra maneira de ver a vida, sem se preocupar com questões que são im-portantes apenas para nós”, afirma.

Na Universidade do Texas, Bruno

Terlizzi escolheu matérias relaciona-das com as pesquisas que já vem rea-lizando aqui, como Introdução à His-tória da América Latina e Revolução Mexicana. “Eles possuem um belo programa de aquisição de acervos, mas ensinam história clássica, pauta-da nos fatos e na linha cronológica. Percebi que as reflexões na Unicamp são mais sofisticadas, com aborda-gens historiográficas criativas”.

Intercâmbios levam aluno a instituições de ensino e pesquisa de todo o mundo

LUIZ SUGIMOTO

Pé na estradaaluno que participa de um intercâmbio no Exterior, jamais esquece a experiência, tanto de ponto de vista acadêmico como pessoal. A Coordenadoria de Relações Institucionais e In-ternacionais (Cori) promove intercâmbios com instituições de ensino e pesquisa de todo o mundo. Por esses acordos, o estudante cumpre parte dos créditos requeridos pela Unicamp

na universidade hospedeira. Os números são crescentes: em 2007, viajaram 108 alunos no primeiro semestre e 126 no segundo; este ano, foram 61 alunos no primeiro e 168 no segundo semestre.

No sentido contrário, a Unicamp acolhe alunos do Exterior. No primeiro semestre de 2008, por exem-plo, a Universidade tinha 27 alunos estrangeiros dentro do Programa Estudante Convênio de Graduação (PEC-G). O PEC-G é um instrumento de cooperação que o governo brasileiro oferece aos países com nível socioeconômico igual ou inferior ao nosso. É oferecido ainda o PEC-PG, para pós-graduação. Estes alunos são assistidos pela Diretoria Acadêmica (DAC) e vêm em maior proporção da América do Sul, havendo os da América Central e da África. Muitos outros estrangeiros chegam por meio de programas de intercâmbio e de agências de fomento.

Nesta e nas próximas páginas, contamos as histórias de alunos da Unicamp que foram para o Exte-rior e, também, de estrangeiros que estudam na Universidade.

O intercâmbio, segundo Bruno, reforçou seu objetivo de buscar a pós-graduação com foco na His-tória das Américas e de tentar, no longo prazo, a carreira diplomática. “Todos que tiverem a chance devem participar de intercâmbios. Você volta mais confiante na sua cultura e nos seus ideais. Agora estou certo do bom nível do nosso curso, mas também de que é preciso dedicação pessoal: ganhar conhecimento é um processo árduo”.

Edgar Koji Okamura, do último semestre de Engenharia Elétrica, gos-ta de desafios no Exterior. Já tinha ido aos Estados Unidos em intercâmbio no secundário e, durante férias na fa-culdade, voltou para lá a trabalho. Na segunda metade de 2007, conseguiu uma vaga na Universidade Técnica de Darmstadt, cidade próxima a Frank-furt – a instituição alemã sustenta a fama de ter formado o primeiro enge-nheiro elétrico do mundo.

O desejo de aprender outra lín-gua e conhecer uma cultura dife-rente também influiu na escolha de Edgar, que confessa sua admiração

Bruno Terlizzi: dividindo a casa em Austin com 26 moradores

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FRONTEIRAs DO CONHECIMENTO

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Pé na estrada

pela perseverança, eficiência e disci-plina dos alemães. “Viajei depois de um curso intensivo da língua, que é relativamente difícil. Tanto que, em Darmstadt, priorizei as disciplinas de alemão, a fim de aproveitar a chance de exercitá-lo. Já as matérias técnicas, eu teria mesmo que estudar aqui”.

a opinião do estudante, que faz estágio na CPFL em Campinas, o intercâm-bio proporciona um dife-

rencial que é bem-visto no mercado globalizado. “Morei com cinco ale-mães e a amizade com eles e os pro-fessores se mantêm. Deixei as portas abertas, pois penso numa pós-gra-duação voltada à área financeira do setor elétrico. Como nosso mercado de trabalho está bastante aquecido, a questão já não é conseguir um em-prego, mas conseguir os melhores”.

Ao retornar da Austrália, neste meio de ano, Natalia Klein, do curso de Economia, ouviu a pergunta inevi-tável: surfou bastante, pulou de bun-gee jump? “Existe esta imagem de que se vai à Austrália só para curtir e não para estudar. Conheci um país realmente divertido, de vida social agitada e sem preconceito contra os estrangeiros. Morei em Melbourne, cidade grande que tem todos os ser-viços, praias e parques”.

O mais interessante das aulas na Universidade de La Trobe, segundo Natalia, foi estudar a economia com um foco diferente do predominante, que está na América Latina, Estados Unidos e Europa. “A economia aus-traliana é mais centrada nos países asiáticos, com os quais se dá a maior

parte das suas relações comerciais. Tanto que, entre os imigrantes, pre-dominam os chineses, coreanos, ja-poneses e tailandeses”.

A estudante tomou o cuidado de comparar as grades curriculares e passou valorizar o curso da Unicamp, que julga muito bom e completo. “Nosso curso possui falhas, sim, que vão sendo corrigidas pela coordena-ção, ouvindo-se os alunos. Temos muito mais disciplinas, como finan-ças, econometria, história, matemáti-ca. Acho que o graduado daqui está no nível de um mestre de lá”.

Natalia Klein prefere a microeco-nomia e vê o intercâmbio como ou-tro ponto a favor na disputa por uma vaga no setor privado. “O intercâmbio traz amadurecimento pessoal e aca-dêmico, além de independência, pois precisamos desenvolver outras habi-lidades para superar as dificuldades lá fora. Muitas empresas perguntam se você tem vivência internacional, pois sabem como é difícil para um aluno passar por esta experiência”.

Edgar Okamura: admiração pela eficiência e disciplina dos alemães

Natalia Klein: economia australiana é mais centrada na Ásia

Natália Frozel Barros cursa Ciên-cias Sociais e ganhou bolsa do ban-co Santander para estudar por seis meses na Universidade de Salaman-ca, Espanha. “Quis conhecer outra língua e cultura. Já havia estudado espanhol, mas lá o patamar é outro. Também quis ver como é a ciência política fora do Brasil. Aqui, ela se volta mais para a investigação crítica da sociedade; lá, o enfoque é jurídico e também econômico, visando à for-mação de quadros para o governo e outras organizações”.

Natália Frozel gostou de Salaman-

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Fotos: Antoninho Perri

Foto: Stockxpert.com

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ca, cidade pequena e acolhedora, o que permitiu absorver bem sua cul-tura. Ali ficou de fevereiro a julho de 2007 e aproveitou a passagem de avião comprada para esticar a estada na Europa. “Como meu grande desejo é fazer mestrado na França, fui apri-morar meu francês na Bélgica, onde a seleção de bolsistas é menos rigorosa e a vida mais barata. Até porque fiz muitos amigos belgas na Espanha”.

No campo cultural, a estudante teve o privilégio de estar em um país que tem fronteiras com França, Holan-da e Alemanha, facilitando as viagens. Em relação aos estudos na Universi-dade de Bruxelas, estranhou os audi-tórios com centenas de alunos e pouco contato com o professor. “O conteúdo também muda bastante. Bruxelas é a capital da União Européia e a ciência política é direcionada aos desafios que eles precisam superar”.

Natália Frozel recebe o diploma no final do ano. O intercâmbio, diz ela, permitiu desmistificar a idéia da Europa como centro mais avançado das ciências sociais. “Os cursos apre-sentam lacunas, assim como os da Unicamp. Aqui temos turmas bem menores, uma interação maior entre alunos e professores, e uma tradição de pesquisa desde a graduação. Gosto deste viés mais investigativo”.

Quando desta entrevista, Fabiano Wataru Takasu tinha voltado havia um mês do intercâmbio de um ano e meio em Montreal, e reclamava da dificuldade de readaptação, embora já estivesse ajudando a organizar os eventos do Centenário da Imigração Japonesa na Unicamp. “Liguei por

esses dias para o pessoal no Canadá, que não acreditou no nosso inverno com mais de 30 graus”.

Fabiano cursa Engenharia Agrí-cola e viajou a convite do pesquisa-dor Clément Vigneault, do Centro de Horticultura do Canadá, que vem anualmente à Unicamp como pro-fessor visitante. “Durante o estágio, desenvolvi um projeto para verificar se a temperatura é a causa de uma praga na alface durante sua matura-ção. A avaliação será feita em quatro verões e o projeto já está estruturado para quem for depois”.

Hóspede do professor, Fabiano Takasu freqüentou uma escola de francês, que aprendeu na marra.

ilvino Santos Cabi chegou ao Brasil em 2005. Se tivesse dinheiro para voltar à Guiné-Bissau, abandonaria o curso

de Engenharia Civil na Unicamp logo nos primeiros meses, diante de tan-tas agruras. “Como se sabe, meu país é um dos mais pobres e o ensino não é bom. Vim com uma base fraca e en-contrei sérias dificuldades, até porque as aulas são diferentes. Eu costumava anotar a matéria e depois ouvir as ex-plicações do professor. Aqui, é preci-so anotar e ouvir ao mesmo tempo, achava que nunca ia aprender”.

Eram igualmente sérias as dificul-dades financeiras e de adaptação, agra-vadas pela saudade da família. Impe-dido legalmente de trabalhar, Silvino recebe bolsas de moradia, transporte e alimentação, mas passou fins-de-semana comendo bolachas por cau-sa do refeitório fechado. “Se a gente tinha o que comer e onde dormir na

Guiné, imaginava que viver no Brasil seria bem mais fácil. Meu irmão, que no início conseguia me mandar cem dólares por mês, não acreditava que esse dinheiro não dava para nada”.

O irmão Carlos Cabi, que é casado e sustenta a própria família, não po-deria amparar o estudante indefinida-mente. “Fiquei seis meses tentando voltar ao meu país, até perceber que não tinha mais dinheiro e que a única coisa a fazer era estudar. Um amigo, Maurício, talvez a melhor pessoa que conheci, me apresentou a colegas e professores que me ajudam muito. Fui me soltando e ganhando coragem para continuar no Brasil”.

Silvino teve especial incentivo do professor Mário Cavichia, coordenador da graduação, com quem passou a re-ver as aulas e a tirar suas dúvidas indi-vidualmente. “Quando comecei a com-preender as matérias, veio a vontade de estudar e de me formar. Até hoje tenho dificuldades, mas melhorou muito. E já sou muito conhecido na faculdade”.

Melhorou também a situação fi-nanceira, graças à rede de amigos que o estudante da Guiné conseguiu tecer. Silvino Cabi afirma que a Engenharia Civil não foi escolha sua, mas uma opção apontada pelo dedo de Deus. Ao concorrer a uma vaga na Unicamp junto à Embaixada do Brasil em Bis-sau, onde estudava literatura brasi-leira, ele escolheu Ciências da Com-putação. “Eu tinha que marcar uma segunda opção e a sugestão, casual, foi do meu professor. Passei, sem nunca ter pensado em ser engenheiro civil, eu tenho medo de altura”.

Natália Barros: absorvendo a cultura espanhola em Salamanca

Fabiano Takasu: investigando praga agrícola no Canadá

Silvino Santos Cabi, da Guiné-Bissau: percalços e adaptação

UPA 200832

Fotos: Antoninho Perri

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FRONTEIRAs DO CONHECIMENTO

UPA 2008 33

A Embaixada promove a seleção, mas todos os custos com documenta-ção, viagem e manutenção do estudan-te são da família. “Quase desisti, tam-bém por causa de dinheiro, mas meu irmão, que sempre fez de tudo para eu estudar, economizou o máximo”.

Silvino mudou sua visão sobre a Engenharia Civil já no primeiro dia de aula, numa palestra oferecendo informações gerais a respeito da pro-fissão. “Vi que havia um campo de atuação amplo e que poderia encon-trar o meu caminho. Vou lutar pelo diploma e voltar para a Guiné, que é um país em construção.

Tsai Yu Liang, aluno da Engenharia Civil, veio de Taiwan, onde ocorre um fenômeno preocupante e comum aos países mais desenvolvidos da Ásia: cada vez mais jovens negligenciam os estudos, protelam ou ignoram o tra-balho e trocam o mundo real pelo vir-tual, imersos nos computadores. “Os pais hoje possuem recursos para as-segurar uma vida material confortável aos filhos, preocupando-se também em cuidar do futuro deles. São jovens superprotegidos, que estão perdendo a habilidade de pensar e de enfrentar as situações do dia-a-dia. Isto quase aconteceu comigo e meu irmão”.

Não aconteceu porque os pais de Tsai Liang tomaram uma decisão drás-tica e corajosa, ao abrir mão de uma vida estável – ainda que não abastada (o pai era bancário e a mãe, dona-de-casa) – para buscar outro país onde educar os filhos. “Eles se recusavam a nos criar daquela forma, raciocinan-do que um dia os dois iriam embora e que eu e meu irmão ficaríamos so-zinhos no mundo. Tomaram a deci-são enquanto a nossa idade ainda era

adequada para a mudança”.

Fracassada uma tentativa de ir para o Canadá, por problemas na documen-tação, os Liang aceitaram o convite de amigos que viviam no Brasil e para cá vieram quando Tsai tinha 15 anos – ele está completando dez no país. “Achei uma atitude audaciosa dos meus pais, pois assim como vocês têm uma ima-gem meio exótica da China, nós achá-vamos que no Brasil só havia carnaval, futebol e a Amazônia”.

Tsai foi aprendendo a língua e a resolver problemas do cotidiano, os seus e dos pais, que se hospedaram com amigos e sobreviviam cozinhan-do e vendendo comidas orientais, que tanto apetecem aos brasileiros. “Hoje temos casa para morar e meu irmão já trabalha, sou o único que só gasta o nosso dinheiro. Minha mãe pede para eu não ficar ‘boiando’ nas matérias. Estou no quinto ano e quero entrar logo no mercado para ajudá-los”.

odas as áreas do conheci-mento atraem o estudante de Taiwan, mas diante dos problemas com a língua,

preferiu a universalidade dos números. Pretendia fazer Engenharia Elétrica, até ser chamado para ajudar na obra de um amigo do pai, sem nada receber, a não ser ensinamentos e amizades. “Foi a primeira vez que vi cimento na vida. Havia muitos jovens na obra e foi mais diversão que trabalho, mas serviu para mudar a minha opção”.

Na Unicamp, Tsai Liang envolveu-se com outras atividades que o agradam: a empresa-júnior e a organização de eventos – participou de uma infinidade, incluindo grandes feiras internacionais em São Paulo, atuando como tradutor. “Na UPA, já sou um ‘dinossauro’ entre os monitores. Trabalhei na SBPC, em trotes da cidadania, no Centenário do Japão. Assim, eu ganho experiência, conheço mais pessoas e colho infor-mações para decidir meu futuro. Fazer amigos já não é difícil para mim”.

Em Trinidad e Tobago, todos tocam os tambores de aço desde criancinha. É uma tradição. Os ste-el drums são cilindros moldados a partir de barris de petróleo, tendo no fundo concavidades de diferentes tamanhos e que, por isso, emitem diferentes timbres, semelhantes aos de instrumentos como baixo, piano

Tsai Yu Liang, de Taiwan: envolvido com várias atividades

e violino. Com eles tocam-se desde o calipso – a tradicional música cari-benha – até jazz, Beatles e composi-ções eruditas. As stell bands geral-mente têm de quatro a dez músicos, mas no país há orquestras com mais de 300 tambores.

Soluna Garnes, aluna do curso de Música, trouxe um tambor de aço dentro do avião quando veio para o Brasil em, 2003. Seu objetivo era estudar piano clássico, mas não se separaria do instrumento de infância e que teve o privilégio de aprender a tocar com a mãe Rosalind, que é musicista. “O still drum está bastan-te disseminado no mundo, menos entre os brasileiros”.

Em Trinidad e Tobago, fala-se o inglês, e Soluna fez um curso de seis meses em Belo Horizonte para apren-der o português, antes de ser encami-nhada para a Unicamp. “Nem sabia que era uma universidade de tanto prestígio. Estudava Letras em meu país, mas minha professora sugeriu que eu viajasse para fazer música. Ela também sugeriu o Brasil e fiquei in-decisa por causa da língua”.

Depois de dois anos de piano, Soluna foi caminhando para a per-cussão e adotou de vez os tambores de aço. Em 2007, a mãe Rosalind trouxe outros dez instrumentos, que doou ao Departamento de Música, depois de promover um workshop com os colegas da filha. “Agora faço apresentações individuais e também com nossa orquestra de dez pessoas. Estou concluindo o curso, mas não sei se volto para Trinidad. Todos pe-dem para eu ficar”.

Soluna Garnes, de Trinidad e Tobago: “Não sei se volto”

UPA 2008 33

Fotos: Antoninho Perri

T

UPA 200834

INDICADORES DA GRADUAÇÃO

16.984

58

46.118

2.830

2.750

Alunos matriculados

Cursos de graduação oferecidos

Inscritos no vestibular 2008

Vagas oferecidas em 2008

Formandos em 2007

Unicamp foi oficialmente fundada em 5 de ou-tubro de 1966, dia do lançamento de sua pedra fundamental. Mesmo num contexto universi-tário recente, em que a universidade brasileira

mais antiga tem pouco mais de sete décadas, a Unicamp pode ser considerada uma instituição jovem que já con-quistou forte tradição no ensino, na pesquisa e nas relações com a sociedade.

O projeto de instalação da Unicamp veio responder à crescente demanda por pessoal qualificado numa região do País, o Estado de São Paulo, que já na década de 60 detinha 40% da capacidade industrial brasileira e 24% de sua popu-lação economicamente ativa.

Uma característica da Unicamp foi ter escapado à tra-dição brasileira da criação de universidades pela simples acumulação de cursos e unidades. Ao contrário da maioria das instituições, ela foi criada a partir de uma idéia que englobava todo o seu conjunto atual. Basta dizer que, an-tes mesmo de instalada, a Unicamp já havia atraído para seus quadros mais de 200 professores estrangeiros das di-ferentes áreas do conhecimento e cerca de 180 vindos das melhores universidades brasileiras.

A Unicamp tem três campi — em Campinas, Piracicaba e Limeira — e compreende 20 unidades de ensino e pes-quisa. Possui também um vasto complexo de saúde (com duas grandes unidades hospitalares no campus de Campi-nas), além de 23 núcleos e centros interdisciplinares, dois colégios técnicos e uma série de unidades de apoio num universo onde convivem cerca de 45 mil pessoas e se de-senvolvem milhares de projetos de pesquisa.

Escola de Universidade conta com 20 unidades de ensino, 58 cursos de

graduação e 135 programas de pós

A Unicamp tem uma graduação for te com um grande leque de cursos nas áreas de ciências exatas, tecnológicas, biomédicas, humanidades e artes. Por outro lado, é a uni-versidade brasileira com maior índice de alunos na pós-graduação – 48% de seu corpo discente – e responde por aproximadamente 15% da totalidade de teses de mestrado e doutorado em desenvolvimento no País.

A qualidade da formação oferecida pela Unicamp tem tudo a ver com a relação que historicamente mantém entre ensino e pesquisa. Tem a ver também com o fato de que 90% de seus 2.087 professores atuam em regime de dedicação exclusiva e 96% têm titulação de no mínimo doutor.

DADOS GERAIS DA UNICAMPNúmero de campi

Unidades de ensino e pesquisa

Docentes

Centros e núcleos interdisciplinares

Colégios técnicos

Bibliotecas

Acervo bibliográfico

3

20

2.087

23

2

24

772.746

escolas

INsTITuCIONAL

Foto: Antoninho Perri

A

UPA 2008 35

PRODUÇÃO CIENTÍFICA (2007)Pesquisadores

Projetos de pesquisa financiadas

Artigos científicos publicados

Patentes depositadas

1.761

4.562

3.714

533

INDICADORES DA PÓS-GRADUAÇÃO (2007)

135

15.230

1.140

795

Cursos de pós-graduação

Alunos matriculados

Teses de mestrado defendidas

Teses de doutorado defendidas

PRODUÇÃO CULTURAL E ARTÍSTICA (2007)705

535

170

90

37

55.750

Exposições de arte e apresentações artísticas

Mostras individuais

Espetáculos

Obras artísticas produzidas

Livros editados

Tiragem

sso faz com que os docentes que ministram as aulas sejam os mesmos que, em seus laboratórios, desen-volvem as pesquisas que tornaram a Unicamp co-nhecida e respeitada. E permite que o conhecimen-

to novo gerado a partir das pesquisas seja repassado aos alunos, muitos dos quais freqüentemente delas participam — como é o caso dos estudantes de pós-graduação —, de um grande número de bolsas de iniciação científica para os alunos de graduação ou das atividades extracurriculares propiciadas pelas empresas juniores existentes em pratica-mente todas as unidades.

Levantamento por amostragem realizado recentemen-te mostra que, dos aproximadamente 40 mil ex-alunos de graduação da Unicamp, 88,2% estavam empregados e que, desses, 48,3% ocupavam cargos de direção em empresas ou instituições públicas, 9,3% davam continuidade a seus estudos em nível de pós-graduação, 2,5% estavam desem-pregados e 1,8% eram constituídos de aposentados.

A tradição da Unicamp na pesquisa científica e no de-senvolvimento de tecnologias deu-lhe a condição de uni-versidade brasileira que maiores vínculos mantém com os setores de produção de bens e serviços. A instituição mantém várias centenas de contratos para repasse de tec-nologia ou prestação de serviços tecnológicos a indústrias da região de Campinas, cidade onde fica seu campus cen-tral. Localizada a 90 quilômetros de São Paulo e com uma população de 1 milhão de habitantes, Campinas é um dos principais centros econômicos e tecnológicos do país.

Para facilitar essa interação, a Unicamp conta desde 2003 com uma Agência de Inovação, serviço que é hoje a porta de entrada para os empresários que necessitam mo-dernizar seus processos industriais, atualizar recursos hu-manos ou incorporar a suas linhas de produção os frutos da pesquisa da universidade.

Nas últimas décadas, o papel da Unicamp como ins-tituição geradora de conhecimento científico e formado-ra de mão-de-obra qualificada atraiu para seu entorno

um complexo de outros centros de pesquisa vinculados ao governo federal ou estadual, além de um importante parque empresarial nas áreas de telecomunicações, de tecnologia da informação e da biotecnologia. Muitas des-sas empresas — quase uma centena somente na região de Campinas — nasceram da própria Unicamp, fruto da capacidade empreendedora de seus ex-alunos e professo-res. São as chamadas “filhas da Unicamp”, quase todas atuando nas áreas de tecnologia de ponta.

Além disso, a Unicamp tem se caracterizado por manter fortes ligações com a sociedade através de suas atividades de extensão e em particular de sua vasta área de saúde. Quatro grandes unidades hospitalares situadas em seu campus de Campinas e fora dele fazem da Unicamp o maior centro de atendimento médico e hospitalar do interior do Estado de São Paulo, cobrindo uma população de cinco milhões de pes-soas numa região de quase uma centena de municípios.

INDICADORES DA ÁREA DE SAÚDE (2007)4

775

35.185

564.952

36.491

4.112.281

176.442

Hospitais

Número de leitos hospitalares

Internações

Consultas médicas

Cirurgias

Exames laboratoriais

Procedimentos odontológicos

Foto: Antoninho Perri

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Fonte: Aeplan

Foto: Antonio Scarpinetti