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CLÍNICA NÔMADE• .U Suely Rolnik ,, .. .. Todos conhecem essa história: décadas atrás, um verda- deiro reboliço internacional começa a convulsionar o território psi- quiátrico, lugar do confinamento da loucura na condição de doença mental. A falta de ar atingira um limiar insuportável, não dava mais para continuar desse jeito: uma questão político-ideológica, com certeza, mas sobretudo uma questão de desejo; não eram apenas os pacientes que se asfixiavam nessa paisagem, mas tam- bém os profissionais que nela atuavam. E aí foi aquela avalanche Reelaboração da participação na mesa-redonda "Fronteiras do terapêutico", no D Encontro Paulista de Acompanhantes Terapêuticos. São Paulo, 17/4/1994. • Psicanalista; professora-titular da PUC-SP (Núcleo de Estudos e Pes- quisas da Subjetividade, Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica); autora de ensaios publicados no Brasil e no exterior e dos livros Cartografia senttmental. Transformações contemporélneas do desejo (São Paulo, Estação Liberdade, 1989) e, em co-autoria com Félix Guattari, Mícropolíttca. Cartografias do desejo (3ª edição, Pe- trópolis, Vozes, 1993); organizadora da coletânea de textos de Félix Guattari, Revolução molecular. Pulsações políticas do desejo (3ª edi- ção, São Paulo, Brasiliense, 1987); tradutora de livros e ensaios.

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CLÍNICA NÔMADE•

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Suely Rolnik

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Todos conhecem essa história: há décadas atrás, um verda­deiro reboliço internacional começa a convulsionar o território psi­quiátrico, lugar do confinamento da loucura na condição de doença mental. A falta de ar atingira um limiar insuportável, não dava mais para continuar desse jeito: uma questão político-ideológica, com certeza, mas sobretudo uma questão de desejo; não eram apenas os pacientes que se asfixiavam nessa paisagem, mas tam­

bém os profissionais que nela atuavam. E aí foi aquela avalanche

• Reelaboração da participação na mesa-redonda "Fronteiras do terapêutico", no D Encontro Paulista de Acompanhantes Terapêuticos. São Paulo, 17/4/1994.

• Psicanalista; professora-titular da PUC-SP (Núcleo de Estudos e Pes­quisas da Subjetividade, Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica); autora de ensaios publicados no Brasil e no exterior e dos livros Cartografia senttmental. Transformações contemporélneas do desejo (São Paulo, Estação Liberdade, 1989) e, em co-autoria com Félix Guattari, Mícropolíttca. Cartografias do desejo (3ª edição, Pe­trópolis, Vozes, 1993); organizadora da coletânea de textos de Félix Guattari, Revolução molecular. Pulsações políticas do desejo (3ª edi­ção, São Paulo, Brasiliense, 1987); tradutora de livros e ensaios.

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brigado a utilizar-se ele l.emen os das v1rias paisagens entre as quais circu la. Essa inislltrn bviamente não é neuua, ela a aba provocando erosões nas paisagens. Os relevos vão ficando im­precisos, a própria fronLeira que, mal ou b m , era sua trilha dissipa-se em muitos de seus pontos e, em outros, sofre desvios, deixando no~so A.T. sem referências para seus movimentos. Confrontado com um além do espaço no qual costumava re­presentar seu território de trabalho e a si mesmo nesse território, ele é obrigado a reconhecer qu só a representa. ões de que dispõe nào lhe bastarão para situar-se. Atordoado, ele se dá conta ele que se não construir novos território e delinear novos mapas, seu trabalho corre seriamente o risco ele invJabiliza.r-se.

Ele não sabe nem por onde começar. De repente nosso A.T. vutual parece ter encontrado uma

pista para seu problema: interno e externo t,'llvez não se·am a enas espaços, nem apenas reptesentáveis, mas muito menos e m lito mais ciÕ que isso. Decide aventurar-se por essa via. Tentara des­locar-se de modo a explorar o interno e o externo para além de uma perspectiva meramente espacial. Para não se confundir, usará

os termos "dentro" e "fora". 3- Ele faz uma primeira constatação, mais óbvia: o fora de

v-~ que está tentando se :tproximar é um aquém ou além dos con­. ~ ( tomos visíveis e dizíveis do mundo objetivo e subjetivo; um \ ~ aquém ou além também da 1·epresentação. Isto não quer dizer

tf .. , que se situe fora do mundo; na v rdade, é um:t dimensão desse mesmo mundo, tão real quanto. 1ntrigado, nosso personagem A.T. quer saber c!_e que natureza é essa dimensào . P~~ lsso, ele se em enha em ampliar em sua própria subjetividade a ca~de de vi~ção em r lação às intensidades desse fôra.

Com~ç_a, c:nyto,_a qbserv:u que a esta a e s espaços é_j~só · : sob essa imp!essào de qui ~de, agitam-se forg,s ~l toda espé~ue cor!!éem os ambientes de que é fe ita cada . pa1sagem; inclusive subjeLivil - l'orças do a- n e eco m co, po I co, $exuall ~-ric~ lnformáti~ ~te. Se~ue, com seuJ -

esl camen[opara a fronteir,1, entraram em jogo em su·1 prática multes ambientes qu ~ não costumavam integrnr o t rritório. clí­nico e, junto çgm l.es multas fÔ rças _mM.l~, forman lo uma

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de i~iciat_ivas - _abrir as portas dos manicômios, formar equipes ~ult1prof1ss1o~a1s, criar ambuL:ttórios de saúde mental, hospitais­dta, etc. -, diferentes territórios que, somados, aumentavam as chances da loucura libertar-se de sua condição de existência d?ente. Depois veio a necessidade de construir mediações não so entre esses vários territórios, mas também entre cada um deles e o da família, entre todos eles e a paisagem da cidade - era preciso criar possibilidades reais de vida não doente A figura do acompanhante terapêutico (A.T.) se ~u-ma das atualizações dessa necessidade. Esta é sua genealogia.

Encarnação das questões que se colocam h;)e no têi'ritório da clínica, a figura do A.T. pode ser um interessante analisador dos movimentos que agitam sua paisagem. Na intenção de ex­plorar :ssa poteqcialidade, vamos acompanhar passo a passo a formaçao de um A.T. imaginário.

Entra em cena nosso simulacro de A.T. Em tomo de sua apariç~~• percebe-se um certo entusiasmo. Figura em princípio frontemça, o A.T. circulará nas adjacências dos vários territórios da_ clínica de saúde mental, ocupando os espaços vazios que existem entre eles; nesses intervalos, construirá modos de exis­tência não doente, ~que _i~to impliqu e qualquer mud~ em cada uma das a1sagens v1zmhas. Tudo se manterá no mes­mo lugar - como se hospitru, ambulatório, consultório casa da família fossem meros espaços, cujos contornos del~itam de um lado, uma ~~erioridade com seus respectivos· códigos ~. de outro, uma espec1e de no mans land, exterioridade que, a partir de ag~ra, será habitada. Da perspectiva dessa visão espacial, anuncia-se uma certa garantia de tranqüilidade: nessa nova e°;"~reitada,, poderemos continuar nos guiando pelos mapas te~nc~s . e tecnicos das paisagens definidas da psicanálise, da ps1qmatr1a, etc.

Bem, ist~ ~oi só o começo - e, provavelmente, não poderia ser d!:: outro 1e1to. Mas, rapidamente, a coisa se mostrou bem mais complicada do que parecia. É que, à medida que nosso personagem procura desenvolver uma performance adequada para a tarefa que lhe cabe em sua pQ§..!f~_Jronteiriça _ compor com os loucos possíveis territórios de existência -, ele se vê

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..f\t\ ~ m processo de subjetivação de um novo tipo. A .subjetividade, 0,•' portap~ ~ª..'.'. próprias partícl:!_!~s _d~ f_95a; ela é o dentro

do ÍÇ)rª, Um dentro que, como um cristal do fora qu'e teria ediment.ado em determinada forma, continua a ser trabalhado

pelas forças até que a dobra que o constitui se desfaça e outras dobras se façam, num só e mesmo movimento. Nesse processo que nunca pára, somos levados para fora de nós mesmos e nos

1 tomamos '\1m sempre outro" . A subje_tividade, então, é esse dentro-e-fora indissociáveis, mas, também, inconciliáveisi "um si e não-si", concomitantemente.

Nosso hipotético A.T. começa a se entusiasmar com si.las descobertas: o fora é nada mais nada menos do que a n~e c!:is linhas de tempo. Cada linha de tempo concretiza-se num certo modo de existência, com uma certa figura da subjetividade, formando um dentro que dura tanto quanto uma certa mistura de forças, o híbrido que imprimiu essa direção ao fora.

Nosso personagem se dá conta de que a essas alturas de sua exploração ficaram realmente para trás as noções de interior e exterior que tinha no início, quando se posicionava da pers­pectiva de uma lógica espacial e binária, que o fazia concebê-los como um par de opostos. Entende, no entanto, q'ue quando pensava desse jeito ele não estava equivocado, alucinando coisas que não existem; apenas sua compreensão estava restrita a uma só dimensão da realidade - _o campo do visível e do <:iizível, isto é, o mundo como forma em vigência. o que percebe ag()ra é que não só os espaços, mas as próprias fronteiras que os separam, sio inteiramente móveis;traçândõ-=se· incessantemente e que, sendo as-sim, ficar somente na dimensão espacial diminui suas chances de obter algum efeito clínico na fronteira que lhe coube habitar. Os pacientes que ele acompanha o obrigam a enfrentar e a problematizar o fora temporal e sua inconciliabilidade em rela­ção aos dentro espacializados que nele se engendram.

De posse desses conceitos recém-elaborados, ele tenta pro­blematizar as noções de saúde e doença, perguntando-se, aliás, se ainda cabe falar nesses termos. ~ saúde, ele supõe, depende ) do jogo de cintura que se tem para investir ao mesmo tempo o fora e o dentro. Jogo para lidar com o irremediável de sua

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.1 série de relações desc;onh ·cidas. Pstas foram e soma ndo ,· Lé se ·, tomarem incoi:!J_)atív~ co~ de força que regem os

comamo da aisa m clínica na qual clc costu--;-nava circulãr. /~Nosso A.T. começa a entender seu a1.ordoamento: é a eslra_!lb za f { dessa incompaUbil~ 1u~eixa _s!_esse jelLo. Uma pa so a

mais em sua exploração: o fora ' essa mislura de forças formando --.....-~posições iI:~ditas, espécie de híbridos ~o efeito é o de 3 -sest.:1.b · · ar os contornos nos quais ele se reconh ce,$gindo qu e_ncontre um novo modo de funcionamento. P ' rcebe, ent.:1.0, qu construir um modo mais de acordo com · os híbridos que já o habitam, quando este é o caso, será sua única chance de con­quistar uma nova consistência em seu trabalho.

Nosso A.T. Ílllaginário começa a entender por que o inco-mo1~va _tanto_ficar _numa leitura exclusiv~ te espacial da __ rea-

t !idade. É que o_ fora que ele está ·xplorando nadí!_ tem a ver

Eºm e~?i ao contrário, __prose~ o iocessàflle de ~iQri~ações decorré~te da _ mi~~~-ra __ de forç~s , anti as e ~s, ele tende a convulsionar os espaços constitu idos, pro luzindo mutações ir­

reversíveis. Em outras palavras, o fora é uma dimensão da real d/ /, :-, !idade que incuba terremotos que mais cedo ou mais tar~ ']

1

( acabarão por se manifestar.

\ r Por incrível que pareça, com essas descobertas nosso per-

1 k~ ronage~-f~ca me~os perdido e assustado;_ é 91!!! se desconfundir 'rf · do temtono çllmco em que estava habituado a circular deixa

1

de_ s:r tão ameaçador,' E~e começa_ a vislumbrar por onde se guiara para formar terntónos singular s em sua fronteira e, junto com eles, renovar s us mapas: as---!ozes dos híbridos que el:7 traz em si mesmo1 que lhe chegam por melo das sensaçõ~) passarão a consti tuir sua principarl5Ussõ a nessa ern~

Feitos e es esclarecimentos, novas perguntas lhe vem à

.J II / ·0,

mente. Se o fora nào é um 1 1gar, como fl_ca então o den~

Onde _ s~ ~ão ~ss~ s~ões e esse es menta? C _g ~ ~ bJel.Ul.ldade? Pois bem, para sua surpresa ele constata que o denlro nada.mais é do qu e o interior de uma dobra do fora~ estralificaçào temporária de cerms relações de força - exatamenr0 1 aquelas r lações cuja diferença incompatível tivera por efeito · ·r, desestabilizar os contornos que lhe ram familiares e lhe exigir -

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{ blema do louco é que seus territórios trazem a marca de uma. \ \acentuada singularidade, e isto não tem lugar numa. sociedade

na qual impera uma política de subjetivação neurótica. Para essa política, tudo o que se distingue, em maior ou menor grau, do dentro encruado, tomado como padrão universal, tende a ser segregado. Essa segregação se opera por diferentes estigmas, cabendo ao louco o de doente. Mas como o louco se transforma em doente? Eis o que acontece: os singulares territórios que o louco. ~ não fazem sentido para ninguém; com isso eles vão perdendo consistência ou, pior, não chegam nem mesmo a vin­gar; míngua seu desejo - essa potência de hibridação e de criação de territórios de existência. Perdido na estonteante dis­per~ã() __ d.2,_ fora, sem a promessa do calor de um dentro, do repouso no aconchego de um território de vida, ele passa a ter um çom ortameoto destrutivo. Então, e só então, é que o louco adoece: e le psicoliz.::t. A partir desse momento ele será tutelado pela medicina mental, com seu vasto espectro de especialidades. O louco __ p_a.ss_a_ ___ a_ser-.vis~ tratado como um ser desprovido de subjetividade e de desejo.

E nosso A.T. imaginário avança em sua elaboração. A mo­dalidade neurótica de subjetivação que, fechada em sua dobra, reduz fora e dentro a uma visão espacial, lembra-o o modo como concebia seu trabalho quando se lançou nessa aventura. Isto o leva a se dar conta de que naquele começo ele se colocou numa posição defensiva contra os efeitos do fora em suas pró-

. prias cartografias teóricas e pragmáticas. Entende agora por que não conseguia conceber mudança alguma e ficava perdido, sem saber como operar em sua situação fronteiriça.

Nosso personagem vai mais longe: ele descobre que o próprio território clínico no qual ele habitava antes de dirigir-se à fronteira j significativamente marcado por um modo neurótico ~e. subE,tiv~ção, O indivíduo é visto aí apenas como um espaço, CUJOS contornos delimitam de um lado uma interioridade psí-

· lj quica, morada de suas fantasias, e, de outro, uma exterioridade, morada da realidade em sua materialidade ou do conjunto de códigos compartilhados por um coletivo. E mais: a exterioridade é filtrada por um mundo interno - conjunto de fantasias de

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disparidade, de forma a embarcar nos movimentos que vão nos levando para longe de nós mesmos e a criar novas figuras de existência, novos modos de subjetivação, novas temporalidades. Se a saúde é a fluidez desse processo, já a doença é seu em­perramento. Nosso A.T. se propõe a réexarninar brevemente duas das inúmeras modalidades em que esse processo pode emperrar, aquelas com as quais ele mais convive e que se convencionou chamar de neurose e psicose. Novamente ele se pergunta se ainda cabe falar nesses termos, já que o contexto em que estarão defi­nidas tais modalidades é muito distinto d~quele em que elas são tradicionalmente problematizadas. Para facilitar as coisas, decide primeiro examiná-las, para depois resolver se manterá ou não os

mesmos termos. /-·. O neurótico· é aquele que tem horror à vertigem provocada

\gelos efeitos do fpra em sua subjetividade. Para sobreviver a esse horror ele investe na direção de um encruamento da dobra em que s~ encontra, deixando vibrar em seu corpo, de todas as in­tensidades do fora, apenas aquelas que não põem em risco a es­tabilidade de seu dentro. Para obter o resultado que busca -anestesia aos efeitos do movimento de forças em seu corpo e surdez às vozes dos hfüridos -, ele se encarcera no espaço, agar­rando-se às paredes de seu dentro, como a uma droga. Com esse recalcamento dos efeitos do fora, ele consegue temporariamente de­sacelerar o processo, mas não consegue, é claro, aplacar o mal-estar.

Já o psicótiéo, modalidade que nosso A.T. mais encontra em sua prática, encontra-se inteiramente vulnerável ao turbilhão do fon!. - perdido e dilacerado pe la tempestade de forças em seu corpo, atordoado pelas vozes estranhas dos híbridos e, ao mesmo tempo, impossibilitado de constituir modos_ d~ existência

. · t:om base nesses afetos, de fazer dobras. É como se estivesse f encarcerado _.!!9 fora. ··--- - - -- - ·

~ Não é por acaso que nosso personagem A.T. vê aí apenas uma impossibilidade e não uma incapacidade: é que em sua prática, e_le foi se dando conta de que a loucura na verdade pouco imp"'ede seus acompànhados de constituírem territórios de existência; aliás, a própria loucura já é um território criado para sobreviver ao furacão quando se é prisioneiro do fora. O _p~e>.:

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CLÍNlCA NÔMADE 91

ções, além do mais estabelecidas a pn·ori. Neste sentido lhe parece interessante manter o termo i~, pois além de enfatizar a idéia de que a interpretação t um ato - e não só dJ~o -, ele chama a atenção para a _natureza experiment~l desse ato, essencial em seu trabalho. Por que experimental? É

que sua tarefa consiste em tentar tecer junto com o louco que ele acompanha redes para as quais seus investimentos façam sentido, de tal modo que o que era subjetividade petrificada

) possa vir a revitalizar-se, o que era desejo despontencializado, reativar-se. A experimentação consiste em fisgar no contexto problemático que se delineia ao longo das errâncias do acom-panhamento elementos que possam eventualmente funcionar como componentes dessas redes; identificar focos suscetíveis de fazer a existência do louco bifurcar em novas direções, de modo que territórios de vida possam vir a ganhar consistência./

Nosso A.T. virtual cogita que essa sua p;s-tu;~ . 1r~ma es-

O~'Av) _ _...> pécie .:!_e contemplação ativa. Assim ele a- define: pr~curar dei­xar-se impregnar pela atmosfera gerada no reboliço das forças, para farejar o aparecimento de agendamentos virtuais; ao pres­sentir a possibilidade de uma construção, arriscar apontá-la mes­mo sabendo que pode se enganar, pois não fazê-lo reitera· o que provocou a doença - o fato de o louco ser rodeado por um deserto afetivo, composto de partículas de descrença em sua capacidade de construção, partículas venenosas de desqua­lificação. Nosso personagem pondera que, feitas as contas, faz sentido dizer que suas intervenções não são da ordem de uma interpretação propriamente dita; na verdade, elas têm mais um sentido de exploração experimental do dobrar-se e desdobrar-se do fora e dos dentro que se fabricam nesse movimento. É um sentido de existencialização que prevalece em suas intervenções, ele completa.

-, Nosso A.T. imaginário se conscientiza de que seu trabalho / depende, antes de mais nada, da conquista em sua p rópria

subjetiv ' · d ma disponibilidade para as reverb raçõesdo fo as desestabilizadoras torm~ tas. Uma clisponibilidad~ para desencruar e acolher aquilo que excede a si mesmo, que

;. ~:xcede os territórios càõnec.Iclos ~ suas respectivas cartografias \

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cada indivíduo, espec1e de filme imaginário rodado em sua in­fância que jamais saiu nem sairá de cartaz. Nessa concepção, tudo está dado desde sempre e para sempre e não há como pensar a mudança. Há nessa posição uma domesticação das forças do fora: anulam-se sua condição de desconhecido e o estranhamento que essa condição provoca, neutralizando-se as­sim seus efeitos disruptivos. Nosso simulacro de A.T. só pôde se dar conta disto porque sua posição fronteiriça e a convivência com os psicóticos desterritorializaram em sua alma essa paisagem que lhe era tão familiar.

Cada vez mais convulsionado pelas turbulências do fora, nos-so A.T. se vê exigido a fazer novas dobras. Ele sente que é preciso c r-u~a~alho em sua própria subjetividade, no sentido de livrar o fora c:iã"{ersào psicológica, libertá-lo de sua subordinação ao equilíbrio, à. forma e à raz~o, resgatar sua natureza inumana, selvagem, intempestiva. Ele está convencido de que mais vale tentar vitalizar~se, suportando a dor do inevitável turbilhão que isto im­plica, do que a desvitalização de uma posição bovinamente ins­talada num determinado dentro teórico e/ou técnico - mesmo porque não tem outro jeito; se não fizer isto, não terá como mover-se na fronteira e encontrar meios de cumprir sua função.

Nosso A.T. começa a situ:u melhor seu trabalho. Não é na ditª-l!"onteira, su asco intervalo indiferenciado entre espaçmr,---que ele intervém, como íniaginou no come ·o mas nas lnterrupções­de J;iC~O: ele é chamado a procurar meios para favorecer a reativação dos movimentos de invaginação do fora, de consti­tuição do dentro; favorecer a aquisição de uma dupla capacidade - administrar a inconciliabilidade entre o fora e os dentro e resistir ao despotismo da dobra dominante contra tudo o que dela se distingue.

De repente, o A.T. imaginário nota intrigado que chamou sua prática de "~rven.ção". Mas logo entende por que o fez: se esse termo o incomoda, por trazer no contexto da política o ranço de uma in_gerêncJa , uto ritária .na vida alheia, o termo "in.:_~pr~tação", que ele normalmente teria usado em seu lugar,

\

az um ranço que o incomoda muito mais, desta vez no con­exto da clínica - a prática de substituir vivências por significa-

/ [U) t/.lM V(W · ~ ·t;u I.AIÂl1 (Vlii ~ e&, 1w Ui

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do acaso, incluindo marcas de dobras anteriores, apropriadas por novas relações de força. E mais, nomadizar entre as dobras de teorias e práticas que vão se desenhando ã medida que ele embarca nas linhas de tempo que se apresentam é condição para que obtenha efeitos clínicos em seu trabalho. Trata-se de um nomadismo temporal; uma viagem imóvel. Baseado nessa sua ética do desejo, investir na hegemonia de qualquer modelo seria paralisar a viagem, estancar a vida, adoecer.

Nosso simulacro de A.T. volta para seu consultório, con­fiante que pelo menos aí reencontrará sua velha paisagem clínica conhecida e poderá manter o mesmo tipo de referências. Mas não é nada disso o que se passa. Ele constata que, evidente­mente, a dobra do consultório não escapa da erosão das forças do fora e que seu deslocamento para a fronteira com certeza provocou também aí conturbações. Além do mais, conviver tão de perto com a ferida da indissociabilidade inconciliável entre o fora e os dentro, especialmente exposta na vida desajeitada de seus pacientes psicóticos, o fez descobrir que a vida é sempre - ~ desajeitada. E m~s. ele descÔbre que o objeto dã clinica, sêy,I. ql!al for seu âmbito, é exatamente a relação qu e cada um es­tabelece com esse desajeitamento: é de dentro dele que mundos -"e

po- em vir ou não a se consutuir a cada momento da existência, mundos sempre singulares. O que sem dúvida dificulta as coisas é que esse desajeitamento, por ser efeito da irrupção de uma nova relação de forças na subjetividade, .. é ir~ei:iresentável;?ão 1 l ; se pode acedê-lo-pela ·c-oriipreensão, explicação ou~ gnificação; f/1

~

o uê se~ e é a enas resentiflcá-lo, fazê-lo existir. Nosso ·­personagem aprendeu que no delicado acompanhamento desse processo é preciso ser cauteloso, para não abafar com excesso de falatório aquilo que o desajeitamento anuncia.

Perplexo, nosso A.T. imaginário reconhece que a paisagem de seu consultório não só já não é a mesma, mas curiosamente está mais analítica do que nunca. Isto o leva a pensar que o que define o analítico não é nenhum de seus territórios com seus respectivos mapas. O que o define, fundamentalmente, é

4 o exerc1c10 ex ·. entaLd · _ a função que incide nos emper­ram ntos da processualidade pot ncial do desejo, o mesmo que -~--..-,s.---------=--- - -- - -. --- --

. ... • I

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----- especialmente as instituições a que pertence, as teorias que lhe servem de referência, as técnicas que costuma usar. Nosso hipotético A.T. lembra cow o no começo ele se desanimava a cada vez q ue -lhe da~ u112__!:>ranco em seu trabalho, pois supunha que--ist_o~~a um sinal de incompetência ou de falta de formação. Agora pensa que essa condição de falta de parâmetros que \! marcou o início de seu trabalho foi muito interessante: partir j

de uma espécie de tela branca, vazia de imagens, é o que o 1

impeliu a explorar o fora para dele extrair figuras, conduzido pelas vozes dos híbridos que foram se engendrando em sua prática experimental. Sem imagem alguma se antepondo ao seu olhar ele teve de situar seus adentes desde os af _to.s de .. seu

' ---------- -encontro. ,. .,r--•-,,. - -

Nosso A.T. virtual toma consciência de que o que mudou não foram exatàmente seus modelos - mesmo porque seus no­vos modelos incluem marcas de modelos seus antigos, o psica­nalítico, por exemplo. apropriados por out.ras forças · ·e r,eacualizados em OPYM direções, p las sucessivas hibridaçôes. Na verdade, o que mudou foi o lugar atrlbu.íaoaosmodelos. Ele se dá conta de ue em s rática não é mais num modelo,

' sej~al for, que ele se apóia efetivamente . S~ re erenc:.!! ~) p~u a ser baslcmteiile Omã et1ca:Jal~LNe ~ rç_as da pro7es-

' sualidad«::,, buscando meios para fazê-las passar, já que 1Stô e con-dição para a vida fluir e afirmar-se em sua potência criadora;

"aUar-se a essas .forças e esperar - confiando na possibilidade de ~- · que algo venha a se agenciar e, a partir dai, um território venha

a ganhar consistência, de modo que uma saúde se faça possível. ~ ~onfiança no desejo como mot9r de..p.rg_ç_e ualidade. Quan­

to aos modelos, agora ele sabe que forçosamente eles variam, pois à medida que novas relações de força se compõem no fora de sua dobra profissional, outras dobras vão se fazendo e, junto com elas, outras cartografias teóricas e pragmáticas.

Nosso personagem tem a impressão de que está ficando cada vez mais claro em que consiste seu lugar: é uma espécie de nomadismo permanente o que ele faz - não entre espaços constituídos de teorias e práticas clínicas como pensava no co­meço, mas entre dobras da clínica que se produzem ao sabor

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()/Ju ;ÇJJ /)Â/y{I;, . ~ ,,Q dr f C(/41 ~

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dando conta, nômade deve ser em princípio todo analista, in­dependentemente de onde atue.

Essas ponderações deixam nosso simulacro de A.T. mais à vontade em seu consultório para desgarrar-se da parafernália de que dispunha em suas interpretaçõe,s. P~ceber que sua po­sição, embora singu lar, nào é solitária, já gue a singularidade é urna marca e to o nômade, vaciná-ó contra o veneno da culpa e seu poder paralisa.dor que essa posição poderia eventualmente produzir, a cada vez que destoa dos territórios instituídos. Isto o deixa mais à vontade para guiar-se por sua ética: ouvir a voz dos híbridos gerados ao sabor do acaso; embarcar nas linhas de tempo que eles anunciam; investir experimentalmente novas dobras teóricas e práticas. Em suma, nosso A.T. virtual está se sentindo mais à vontade para praticar, também em seu consul­tório, uma clínica nômade.

Prestes a encerrar sua exploração, nosso personagem se dá conta de que suas elucubrações lhe provocam um certo incô­modo; tem a impressão de estar um pouco empolgado demais com essa história toda e de que seria bom ficar atento para que esse entusiasmo não se transformasse em resistência ao reco­nhecimento daquela irt:~mediável i.qcpnciliabilidade, resistência que p~de "éomprometer sua. escuta -~nalíti~a. D~~ide,· então, ano­tar duas observações que gostaria de ter sempre em mente.

Primeira: deslocar-se concretamente - para fora dos con­sultórios, dos ambulatórios ou dos hospitais (sejam eles dos que funcionam dia e noite ou apenas de dia) - em nada garante uma sensibilidade ao fora como nascente de linhas de tempo e, menos ainda, uma capacidade de acolher a dor da desesta­bilização que ·o surgimento de tais linhas provoca.

Segunda:- é prudente precaver-se do perigo de constituir na rua, por meio do acompanhamento terapêutico, um novo dentro absolutizado, uma nova insensibilidade às reverberações das diferenças que se engendram no fora da subjetividade. Pe­rigo d~_p~rar de nomadizar no tempo e de sedentarizar-se numa nova seção do supermercado de saúde mental, para a infelici­dade de nossos pacientes e de nós mesmos.

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ele havia pensado a respeito de seu trabalho como acompa­nhante. Ele compreende, então, que sua prática como A.T. pode e deve ser tão analítica quanto sua clínica no consultório e, mais, que a função analítica p.arle__e_ deve ser exercida no~

- --., variados contextos - nos consultórios, mas também nas institui-ções públicas e privadas ou mesmo nas rnas; com neu róLicos,

' rn"as também com psicóticos, com mongolóides ou com sofri­mentos psíquicos não classificáveis nas nosografias disponíveis; com ricos, mas também com médios, pobres o_u 01iseráveis. O que varia são as cartografias teóricas e· té;ni~-;_s a serem traçadas em função de cada contexto problemático no qual se está en-

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volvido. A ética da rálica ~ iQ]. lica~ m compromisso J Í com os movimen~qu a y~z....n t~nta_\j_Vl'!_ de encontrar '\ · vias de ama ., o criado o que é incompatível com uma ade-

sic; não proble111atizada a qualquer teoria, técnica ou instituição. E ele prossegu~: nessa aventura não há garantia de verdade ou de científicidade, pois a prática analítica implica uma apreensão do problema singular que se coloca em cada contexto no qual se é chamado a intervir, correndo-se sempre o risco de fracassar.

Isto torna esta prática uma arte ~-º~-~~perimenta~ ~, conclui nosso A.T. virtual.

Surpreso, nosso personagem percebe que até sua idéia ini­cial de que seu lugar é na fronteira, foi por água abaixo. De fato, só faz sentido pensar em fronteira quando se tem uma concepção unicamente espacial da realidade. Ter se colocado à

escuta do fora, desterritorializou não só os espaços vigentes, mas também a suposta fronteira entre eles. No lugar do par interior/exterior dos espaços constituídos da clínica, foi se deli­neando o par vida/singularidade - vida do fora em seus movi­mentos de dobrar-se e desdobrar-se, singularidade das dobras que se fazem no fora, formando efêmeros dentro. Junto com isso, deslocou-se também o lugar de nosso A.T. imaginário: de habitante do espaço fronteiriço entre o interior das instituições e seu exterior, a cidade, ele se transformou em habitante do tempo, nômade entre as dobras . Aliviado, ele constata que não está tão sozinho como pensava no começo, pois como foi se

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96 SUEL Y ROLNIK

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82 ELIANE BERGER

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CLÍNICA NÔMADE 97

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