Upload
others
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
À SUPERINTENDÊNCIA DE RELAÇÕES COM EMPRESAS
ABRADIN - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
INVESTIDORES, inscrita sob o CNPJ 31.111.089/0001-97, associação
civil de direito privado, sem fins econômicos, sediada na Rua Sete de
Setembro, nº 111/9º andar, CEP- 20050-901, Rio de Janeiro/RJ, neste ato
representada pelo Sr. JOSÉ AURÉLIO VALPORTO DE SÁ JUNIOR,
brasileiro, empresário, portador da carteira de identidade nº 09868928-2,
expedida pelo DETRAN/RJ, inscrito no CPF/MF sob o nº 343.384.701-00,
vem apresentar RECLAMAÇÃO e solicitar a apuração de eventuais
responsabilidades, relativamente às oscilações extraordinárias das ações
das Cias MMX Mineração e Metálicos S.A e OSX Brasil S.A, nos termos
que seguem:
(I) FATOS
No dia 5/10, a ação da MMX era negociada em torno de R$ 1,80, e o
volume diário ficava na casa dos R$ 50 mil, patamares de todo o ano. No dia
seguinte o volume de negociações começou a subir e chegou a quase R$ 1
milhão (20 vezes mais que o dia anterior), enquanto a cotação da ação chegou
a R$ 1,88.
Daí em diante o movimento da ação foi vertiginoso, chegando a R$
58,45 na quarta-feira, dia 14/10, ou 3.009,04% em relação ao fechamento do dia
5/10, com um volume de negociação de R$ 110 milhões.
A própria MMX informou à CVM que a alta de seus papéis deveria estar
ligada a um processo que a empresa iniciou para reaver o direito de exploração
de uma mina em Corumbá, Mato Grosso do Sul, a Mina Emma, informação
enviada ao mercado via Fato Relevante, no dia 30 de setembro.
A questão ainda sem resposta é por que o mercado demorou tanto tempo
para reagir a esse informe do dia 30 de setembro? Coincidência ou não, o
movimento de alta da MMX começou por volta das 14h30 da quarta-feira, dia
7/10, ao mesmo tempo que o Fato Relevante circulava em grupos de investidores
do WhatsApp (notícia veiculada em vários canais de comunicação).
A partir de então, o que os gráficos mostram é efeito manada e
especulação pura. E, como era de costume na “era Eike”, se espalhou para a
OSX, sua empresa de construção naval. A OSXB3 subiu de R$ 4,4 para R$ 44
na quarta, dia 14/10, e o volume de negócios, que antes ficava em torno de R$
5.000, se aproximou dos R$ 45 milhões.
Fato é que o saldo entre o fechamento do dia 5/10 até 16/10 foi
de +941% para a MMX e +258% para OSX.
Essa valorização pode parecer maravilhosa à primeira vista, mas esta
volatilidade anormal, sem embasamento fático, certamente arruinou muitos
bolsos, principalmente os novos investidores, recém-chegados na bolsa de
valores, que desconhecem o histórico de golpes aplicados por meio destas
bolhas, usualmente frutos de manipulação.
Vejamos o gráfico dos dias 13 e 14/10: MMXM3 fechou no dia 13
valendo R$ 36. Abriu no dia seguinte a R$ 41,50 e às 11h20 chegou ao topo, R$
58,45. Duas horas depois, valia R$ 12,99 e fechou a R$ 17.
Os compradores que começaram o dia pagando R$ 41,50 terminaram o
pregão perdendo 52% do capital. Quem comprou no topo, saiu com
apenas 30% do dinheiro.
Esta volatilidade certamente provocou ganhos ilegítimos e prejuízos a
inúmeros investidores menos informados acerca da história de fraudes no
mercado de capitais nacional. Confira-se o gráfico das ações da OSX na mesma
data:
Importante relembrar aqui o currículo das empresas X. Tanto OSX
quanto MMX estão há anos em recuperação judicial e seu controlador foi
condenado por manipulação do mercado e está impedido de dirigir empresas de
capital aberto.
Frisa-se que na segunda-feira seguinte à semana de alta, o valor das ações
da MMX caíram 32,77%, fechando a R$ 12,11, em um movimento ao que
parece associado à resposta da Vetorial, empresa que atualmente explora a mina
Emma, A Vetorial disse ser “impossível” a MMX retomar a posse e exploração.
Por sua vez as ações da OSX caíram 27,62%, fechando a R$ 12,00.
Mesmo com o movimento de queda, ainda não se pode dizer que a bolha
acabou.
Vejamos que em 21/10 as ações da MMX registraram alta de 122,89%,
chegando a valer R$ 14,02. Já os papéis da OSX registraram valorização de
71,63%, chegando ao valor de R$ 14,40.
Os papéis das duas empresas chegaram a atingir suas maiores cotações em
cinco anos. No acumulado de 30 dias, a alta da MMX é de mais de 600% e da
OSX é de 224%.
(II) FUNDAMENTOS JURÍDICOS
A Resolução CVM 168/91 assim dispõe:
Art. 1º As Bolsas de Valores deverão adotar procedimentos
especiais de negociação para as operações que representem:
I - quantidade de ações ou direitos sensivelmente superior à média
diária negociada nos últimos pregões, ou qualquer bloco
substancial, mesmo que a negociação não envolva transferência de
controle;
II - preço sensivelmente superior ou inferior à média dos últimos
pregões.
Art. 2º Deverão, também, as Bolsas de Valores adotar
procedimentos especiais para as operações que envolvam:
...
VIII - qualquer negociação atípica ou cujas características não
estejam contempladas nos regulamentos de operações das Bolsas
de Valores.
Art. 8º Para efeitos desta Instrução entende-se por procedimentos
especiais aqueles que visem o oferecimento de condições
adequadas à participação eqüitativa dos investidores nas operações
realizadas em Bolsas de Valores, bem como a observância de
procedimentos específicos exigidos na legislação para
determinadas operações.
§1º Visando o pleno atendimento das disposições previstas nesta
Instrução, as Bolsas de Valores, tendo em vista as características
próprias de cada operação, deverão adotar, entre outros, os
seguintes procedimentos especiais:
...
e) Leilão precedido de aviso, elaborado nos termos do Anexo I,
publicado no boletim diário de informações, se houver, da bolsa de
valores onde será realizada a operação e divulgado através de telex
ou fax às demais bolsas no dia útil anterior à operação. -
Independente da média nacional, de 3% a 6% das ações ordinárias
ou de 5% a 20% das ações preferenciais.
f) Leilão precedido de aviso, elaborado nos termos do Anexo I,
publicado no boletim diário de informações, se houver, da bolsa de
valores onde será realizada a operação e divulgado através de telex
ou fax às demais bolsas, com antecedência mínima de dois dias
úteis.
Necessário destacar que, se as situações elencadas no tópico
anterior se enquadraram nas hipóteses das alíneas "e" "f" do
mencionado artigo 8 da Instrução 168, deveria ter ocorrido Leilão nos
termos do Anexo I, da referida instrução, sendo que uma das
"INFORMAÇÕES MÍNIMAS DO AVISO DE LEILÃO" deve ser o
"Vínculo do vendedor com o controle ou administração da empresa
emissora."
Pede-se, então, quer seja verificado se todos os parâmetros contidos
na Inst CVM 168, em especial o que se refere à obrigatoriedade do
emprego do ANEXO I, foram cumpridos.
Trata-se de medida necessária para evitar a repetição do que já
presenciamos, em passado recente, com relação às empresas do grupo X .
Não é demais, inclusive, relembrar o contexto fático e jurídico de
algumas das operações realizadas por Eike Batista, detalhadamente
contadas na peça elaborada pelo Ministério Público Federal do Rio de
Janeiro, quando da operação Segredo de Midas, realizada em julho de
2019, que tratou de crimes cometidos contra o mercado de capitais.
Confira-se:
Conforme narrado na peça do MPF, interposta pessoa realizava
operações de compra e venda de ativos, mas na verdade trata-se de Eike
Batista, sendo que o objetivo desse era de simular operação ou executar
manobra fraudulenta, com o fim de burlar regras legais e de compliance
dos órgãos reguladores e instituições financeiras oficiais.
Prossegue, brilhantemente, o MPF:
A petição elaborada pelo Ministério Público Federal segue anexa,
sendo imperiosa sua leitura para compreensão do que não podemos admitir,
nunca mais, no âmbito de fraudes no mercado de capitais no país, ainda
mais em se tratando de possível caso de reincidência e de empresas do
Grupo X.
No próprio fato relevante protocolado na CVM no dia 30 de
setembro de 2020, a MMX Mineração e Metálicos S.A informa que pediu
suspensão do julgamento do recurso judicial atinente à falência decretada
da Cia. Da mesma forma, vemos como Eike Batista está agindo perante a
Cia OSX. Está muito claro que, mesmo impedido por decisão desta
autarquia, está tentando retomar a direção das referidas empresas.
Dado o passado criminoso de Eike Batista, não é permitido, portanto,
descurar-se da análise dos fatos que envolvem a evidente bolha tangente às
ações da MMX e OSX.
Faz-se mister, ainda, a apuração das compras e vendas de ações da
OSX por parte do investidor Roberto Lombardi de Barros, que no
formulário de referência do ano de 2019 não figura sequer como acionista
com participação relevante na empresa, mas no formulário de julho de
2020 aparece com participação de 7,72%, vendendo quase 4% no auge da
bolha, recomprando em seguida, ampliando sua posição para 8,38%.
(III) CONCLUSÃO
Fica registrada, portanto, a reclamação dos investidores minoritários,
esperando que este órgão apure os graves fatos aqui narrados.
Diante do exposto, serve a presente Reclamação para pedir e requerer o
que segue:
a) que sejam investigados os fatos aqui narrados;
b) que seja assegurada proteção aos investidores do mercado de
capitais, fazendo-se cumprir a Lei 6404/76 e Resoluções da CVM;
c) apuração de possível cometimento de atos ilegais e práticas não-
equitativas, aplicando-se as penalidades previstas em lei.
Rio de Janeiro, 22 de outubro de 2020.
__________________________________________________
ABRADIN - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INVESTIDORES
José Aurélio Valporto de Sá Junior.