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Revista bimestral do Lectorium Rosicrucianum “MEU MOMENTO AINDA NÃO CHEGOU...” O HOMEM VERDADEIRO NÃO MORRE O SOL ESPIRITUAL O JUGO DO INTELECTO CORAGEM, TEMERIDADE, HUMILDADE AMPLIAÇÃO E APROFUNDAMENTO DA INFRA-ESTRUTURA A MÚSICA DAS ESFERAS O PROFETA NIKOLAI BERDIAIEV O FILÓSOFO DA LIBERDADE NADA DE PRESENTE, TUDO EMPRESTADO PentagramA 2004 número 1

PentagramA · vros A doutrina secretae A chave pa-3 As montanhas do Himalaia,nas quais o pintor Roerich se inspirou.Foto Pentagrama. São Petersburgo. 4 ra a Teosofiade Blavatsky

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Revista bimestral do

Lectorium Rosicrucianum

MEU MOMENTO AINDA NO CHEGOU...

O HOMEM VERDADEIRO NO MORRE

O SOL ESPIRITUAL

O JUGO DO INTELECTO

CORAGEM, TEMERIDADE, HUMILDADE

AMPLIAO E APROFUNDAMENTO DA INFRA-ESTRUTURA

A MSICA DAS ESFERAS

O PROFETA

NIKOLAI BERDIAIEV O FILSOFO DA LIBERDADE

NADA DE PRESENTE, TUDO EMPRESTADO

PentagramA2004 nmero 1

PENTAGRAMA

C O N T I N U A O D O T E M A :

A promessa espiritual

da Europa oriental

O conceito Gnosis remete ao Conhecimento,

o conhecimento misterioso e secreto.

No sentido original, Gnosis a soma das

antigas sabedorias, o conjunto do conhecimento

relativo vida original divina, corrente de

vida verdadeiramente humano-divina.

(De leste para oeste, pgina 9)

Pgaso. Pgina de rosto de

Unparteyische Kirchen und Ketzer-

Historie de Gottfried Arnold,

Frankfurt-am-Mayn, 1699.

NDICE

2 MEU MOMENTO AINDANO CHEGOU...

6 O HOMEM VERDADEIRONO MORRE

9 O SOL ESPIRITUAL

15 O JUGO DO INTELECTO

19 CORAGEM, TEMERIDADE,HUMILDADE

22 AMPLIAO EAPROFUNDAMENTO DA

INFRA-ESTRUTURA

32 A MSICA DAS ESFERAS

36 O PROFETA

38 NIKOLAI BERDIAIEV OFILSOFO DA LIBERDADE

42 NADA DE PRESENTE,TUDO EMPRESTADO.

ANO 26NMERO 1

Meu momento ainda no chegou...

Alexander Nicolaievitch Skriabin(1872-1915) foi um fenmeno na cul-tura russa. Suas idias e sentimentosultrapassavam os da mdia dos russos.Ele trouxe uma nova viso de mundo.Sua presena era irradiante e vivente etinha claro carter proftico.

kriabin desenvolveu pensamentosextremamente pessoais. Ele absorveua idia teosfica de ciclos csmicos,nos quais se desenrola a evoluo su-perior da humanidade, porm, era daopinio de que o ser humano no pre-cisa esperar indefinidamente para al-canar um alto nvel espiritual. Comsua arte, ele tentou forar o surgimen-to de uma conscincia universal e colo-car fora de ao a dimenso do tempoe destru-la. Suas composies estavamcompletamente impregnadas dessafilosofia. Com sua msica ele preten-dia curar a humanidade. Ele dizia quetodas as artes deveriam fundir-se emuma poderosa sntese que ajudaria ahumanidade a experimentar o mist-rio do mundo. Tal acontecimento mo-dificaria toda a humanidade.

Na transmisso dessa mensagemele no era, de maneira alguma, humil-de. Em sua poca viviam grandes per-sonalidades que, aos olhos do ser hu-mano moderno e realista, se compor-tavam de forma muito teatral. Era apoca dos grandes poetas que, comuma mar de quadros brilhantes,trouxeram tona novas formas e co-

res. Assim tambm surgiu no palco davida, o muito talentoso, Alexander Ni-colaievitch Skriabin, compositor, pia-nista, poeta e filsofo, famoso duran-te a vida, porm rapidamente esqueci-do aps a morte. Ele via como sua mis-so, transmitir humanidade, comsua msica, uma mensagem elevada.

Sua educao foi determinada portrs mulheres. Alguns crticos so daopinio de ser essa a razo de sua pos-tura exaltada. Mas Skriabin vivia naidade de prata russa (fim do sculoXIX, incio do sculo XX), quando acultura da Europa oriental teve umrpido e elevado impulso. Era umapoca de florescimento, em que mui-tos grandes personagens tiveram umimportante, mas sobretudo estimu-lante, papel na msica, na literatura etambm na poesia. Era uma poca

S

2

O compositor

russo Skriabin.

inspiradora, intrigante e colorida, cu-jos principais personagens eram certa-mente influenciados pelo Esprito.Novas idias acerca do futuro da hu-manidade ganharam vida. Um novocaminho deveria ser aberto, novas di-menses deveriam ser pesquisadas.Tambm foi a poca em que H. P.Blavatsky realizou sua obra. Ela de-nominou este tempo como o fim do

Kali Yuga o fim de um perodo e oincio de um novo desenvolvimentopara o homem e a criao. Outras no-vas e renovadoras foras e pensamen-tos abriam caminho. Tradies e anti-gos hbitos de vida e de pensamentoforam descartados.

Skriabin foi inspirado pelo pensa-mento teosfico, que estudou nos li-vros A doutrina secreta e A chave pa-

3

As montanhas

do Himalaia, nas

quais o pintor

Roerich se

inspirou. Foto

Pentagrama.

So Petersburgo.

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ra a Teosofia de Blavatsky. No entan-to, apesar de ele ter sido tocado poressas idias, no se sentiu atrado poresse movimento, no se tornando mem-bro dele e nem de outra sociedadeesotrica. Mesmo assim, mantinhacontato com ocultistas e esotricos,como era costume entre as camadasdirigentes daquela poca.

O brilho do ao

Sem descanso ele procurava pornovos temas, novas tcnicas, novostons, combinados com um espectrode doze cores, que estavam em con-traposio com os espectros de seteou oito cores usados na poca. Por servidente, ele podia perceber a analogiaentre cores e tons, e para expressartais relaes, utilizava, por exemplo,trs cores azuis. Com o brilho doao, ele caracterizava a emergentetecnologia do perodo industrial, po-rm no so conhecidos os significa-dos de todas as cores que utilizava,nem o que queria expressar com elas.Em todo caso, na viso do mundo teo-sfico, cores esto relacionadas com oestado de alma do homem. O azul in-

tenso indica, por exemplo, sentimen-tos puros e religiosos; vermelho escu-ro, ganncia, egosmo e raiva. Tais in-dicaes tambm se encontram napartitura da gnea poesia de Skriabin,Prometeu (1908-1910). Nela existemduas vozes associadas a luz e cor. Eleindicou a cor pertencente a determi-nada nota e a atmosfera que ela deveriatransmitir: misteriosa, fogosa, refleti-va, ou ainda o despertar da conscinciado ser humano, alegria de viver, dor,xtase. Desse modo ele tentou expres-sar a transcendncia do ego. Ele de-signava a base de todas as experinciascomo pleroma. Esta uma expres-so gnstica que significa plenitude,ou seja, o mundo divino, completa-mente apartado da realidade terrena.

Alexander Skriabin buscava con-cretizar seus pensamentos em umafilosofia absolutamente pessoal. Comisso ele se distanciava de forma mar-cante do cristianismo, o que indicamsuas anotaes de 1894. Regularmen-te ele tomava parte nos encontros daassociao religioso-filosfica de Mos-cou, nos quais tambm teve contatocom as idias de Soloviev sobre omundo. No incio, no deu muito va-lor s tendncias msticas desse autor,pois, para Skriabin, era mais umrenunciar ao pequeno eu para con-quistar o grande eu (a conscincia uni-versal, liberta do tempo e espao).Portanto, estou consciente de que omundo minha criao, de que tudodeve ser resultado de meu livre-arb-trio e de que nada pode existir fora demim. Eu sou um ser absoluto. Todo orestante so fenmenos nascidos dasradiaes da minha conscincia.

Templo de matria etrica

Esse processo de desenvolvimentointerior encontrava expresso nas com-

Prometeu e

a guia.

Litogravura de

Michelangelo

posies de Skriabin. Ele experimen-tava combinaes com muitos instru-mentos, no estilo de Richard Wagner,em moda na poca. Mas Skriabin foimais longe do que Wagner, a quematribua pouca profundidade.

Nas suas obras sobressai, acima detudo, sua dedicao ao Mistrio, as-sim como ele mesmo o definia e escre-via com letra maiscula. Esse Mistriodevia se consumar na ndia, em umtemplo de finssima matria etrica,um templo feito de msica, cores eluz. Eu pensei muito a respeito de co-mo seria possvel vocs fazerem a es-trutura do templo fludica e criativa. Ede repente ocorreu-me que as colunaspoderiam ser de incenso. Elas seroirradiadas pelas luzes da orquestra deluz, expandindo-se e contraindo-se!Sero enormes mastros de fogo. E otemplo interior deve ser feito deles. Aconstruo deve ser fludica e mutvelcomo a msica. Suas formas devemrefletir as esferas da msica e dos sons.

Quem adentrar esse templo deveiniciar como candidato e percorrer asdiversas fases da iniciao. Aps a re-velao desse Mistrio, o tempo, comodimenso, no deveria mais existir.Com essa viso Skriabin esteve muitoalm de seu tempo. Na sua opinio,atravs desse Mistrio, toda a huma-nidade percorreria um outro caminhoevolutivo, que a levaria a um planosuperior.

Todas as msicas sinfnicas escritaspor Skriabin foram especialmentepensadas para a preparao desse gran-de Mistrio. Ele assim pensou, pres-sentiu e o expressou. Mas ele no erao nico que refletia a respeito de m-sica, luz e cor. Ainda no sculo XVII,o jesuta francs Castel tinha cons-trudo uma espcie de cmbalo comteclado, com o qual ele podia combi-nar msica e cor e, em 1863, o fsico

alemo von Helmholz fazia experi-mentos com sons e cores. Sendo as-sim, a idia de Skriabin no era nova,mas foi ele quem realmente comeoua apresent-la, e em grande estilo. Di-ferente de Wagner que, por exemplo,expressava seus mistrios em peras,Skriabin procurava por novas expres-ses de estilo. Ele recebia os impul-sos da nova poca e estava conscien-te de no dispor de muito tempopara a obteno de resultados positi-vos. Portanto, tinha de duplicar seusesforos. Incansavelmente ele cha-mava a ateno da elite social parasuas vises e experimentos, pois esta-va convicto de que existia um princ-pio superior, do qual tudo provinha:a unidade da criao.

No lhe foi possvel realizar suasidias de forma completa. Morreu re-lativamente jovem, de uma infecoinicialmente inofensiva. Muitos escri-tores, poetas, compositores e pinto-res, tanto de sua poca quanto poste-riores a ela, foram por ele inspirados.

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Skriabin: Em uma sociedade verdadeira e sincera,os artistas devem estar no topo da hierarquia. Os artistas e as pessoas sbias, pois so eles que tmas mais elevadas e maiores idias e que possuem amais elevada clareza. Montanhas e massas sosempre matria, mas ns precisamos aspirar desmaterializao.Da mesma maneira, msicos modernos fazem experimentos com luz. Nos concertos de msicapop, rock e em discotecas, provocada a iluso deum majestoso templo musical atravs de fumaa eluz colorida. Mas no era a isso que Skriabin aludia.

migo: Diga-me, Pamwa, tu, queestudas h tanto tempo, conheces umsalmo de Davi?Pamwa: Sim, conheo um.Amigo: S um?Pamwa: Sim, s um.Amigo: Qual?Pamwa: Aquele que inicia assim:Disse comigo mesmo: Guardarei osmeus caminhos, para no pecar com alngua (Salmo 39 red.). Mas j notenho medo disso porque pus um fer-rolho em minha boca e um selo emminha velha lngua.Amigo: Falar verter um fluxo depalavras cuja fonte a lngua. Porm,meu caro Pamwa, se o Senhor te liber-tou da vaidade de tua lngua, porqueEle te revelou a exatido da lngua deDavi, que estudou cada dia a verdadedivina e anunciou seu poder para aposteridade.Kwadraat: Sim, claro. Podemosfalar do branco sem conhecer o preto? o mesmo sentido do paladar que nosensina ao mesmo tempo o amargo e odoce. Similarmente, se o Senhor per-mite a uma lngua melflua que se ex-presse, no inspirar Ele tambm a pa-lavra justa ao que estudou a sabedoria?Anton: Ah, dizes aqui algo de for-midvel. Aquele que, portanto, no co-nhece a palavra nova s pode ignorara antiga, no mesmo?Pamwa: Sem dvida nenhuma. Oantigo ressoa at o momento em queo novo se afirma. J se viu algumatestar da escurido sem conhecer a

luz? Dize-me, ser que uma toupeirapoderia nos explicar a diferena entreo dia e a noite?Anton: Uma toupeira no poderia,mas um homem, sim.Pamwa: Acreditas que um cego po-deria, diante de um quadro, dizer on-de se encontra a parte clara?Anton: No, isso ele no poderia.Pamwa: E por que no?Anton: Porque ele nunca viu o escuro.Se ele conhecesse uma das duas coresopostas, ele poderia identificar a outra.

O homem verdadeiro no morreConversa entre o staretz Pamwa, Anton, Kwadraat e Amigo.Trecho extrado de Narciso de Grigori Skovoroda.

Pomba em

mrmore. Foto

Pentagrama.

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A

Pamwa: Sim, e isso tambm vlidono caso que nos interessa. Se compre-endemos a juventude, podemos com-preender a velhice.Anton: O que me surpreende, mes-mo assim, que no temos um conhe-cimento inato nem sobre a juventude,nem sobre a velhice, e muito menossobre nascer de novo.Pamwa: A luz ilumina o que no dis-tinguimos no escuro. Do mesmo mo-do, somente Deus pode conceder averdade absoluta. O homem terrenotende a compreender. Mas no tam-bm desse modo que um recm-nas-cido v coisas, num estado de semi-conscincia, em realidade, invisveis?A Luz nascente apaga todos os outrosclares. Cada um conhece conceitoscomo tempo, vida, morte, amor, pen-samento, alma, paixo, conscincia,graa, eternidade. Acreditamos sabero que significam. Mas quando se tratade explic-los, esgotamo-nos ao refle-tir sobre eles. Quem pode dizer o quesignifica o conceito de tempo antes deter penetrado at as profundezas divi-nas? O tempo, a vida, e todas essasidias esto em Deus. Quem pode com-preender alguma coisa dessas criaesvisveis e invisveis, se no discerniudelas nem o princpio nem o funda-mento[...]?

Se, portanto, queres conhecer eanalisar uma coisa, deves primeiro es-calar a montanha do conhecimento deDeus. L, sers iluminado pela irradia-o secreta de Deus e poders explo-rar tudo o que quiseres. No somentea primeira infncia e a velha veste gas-ta, mas tambm tempos muito maisantigos e at mesmo o cu dos cus.Mas, quem nos alar para fora doabismo da ignorncia? Quem nosconduzir montanha de Deus? On-de ests, Tu, nossa Luz, Jesus Cristo?Somente Tu exprimes a Verdade em

teu corao. Tua Palavra a Verdade.Teu evangelho uma lmpada acesa.Tu s a Luz das Luzes. Esse o nicomeio de escapar iluso e s trevasgeradas pela ignorncia. Essa a casa

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Grigori Skovoroda (ver Pentagrama n6, ano 25,p.24) chamou ao seu dilogo Narciso (ca. 1870)seu filho primognito. As cinqenta pginas desselivro encerram numerosos aspectos do caminho espi-ritual. No prlogo, Skovoroda oferece uma visoinslita do mito de Narciso e define o transfiguris-mo como uma doutrina relativa a um processo deunio, de fuso e de transformao. O staretz Pamwatoma parte dessa stima conversao, que acabou deser apresentada. At o sculo XX, o staretz (o ancio)era um conselheiro amado e respeitado. Em Os ir-mos Karamazov, Dostoievski faz o retrato de umstaretz. Mas, o que um staretz seno uma espciede eremita ou de monge? Na poca muito ilumina-da em que vivemos, ouvimos muitas vezes pronun-ciar a palavra monge com uma ponta de ironia; tor-nou-se at mesmo um insulto. E quanto mais se fa-la, pior fica. verdade, infelizmente mais do queverdade que entre os monges perambulam malan-dros, lbricos, glutes, os que fogem das tarefas e osque no tm nem f, nem lei. contra esses que aspessoas honestas tm algo: Em nossos dias, nosmeios esclarecidos, pronuncia-se este termo com iro-nia, por vezes mesmo como uma injria. E isto vaiaumentando. verdade, ai, que se contam, mesmoentre os monges, muitos mandries, sensuais, libidi-nosos e desavergonhados vagabundos. No passaisde preguiosos e membros inteis da sociedade, vi-vendo do trabalho alheio, mendigos sem vergonha.Entretanto, quantos monges so humildes e mansos,aspiram solido para nela se entregar a fervorosaspreces! No se fala deles, cercam-nos de silncio ecausarei espanto a muita gente dizendo que so elesque salvaro, talvez, ainda uma vez a terra!Porque esto verdadeiramente prontos para o dia ea hora, o ms e o ano. Guardam na sua solido aimagem do Cristo, esplndida e inata, na pureza daverdade divina.Dostoievski, F.M., Os irmos Karamazov, So Paulo:

Abril Cultural, 1970.

de Davi, onde o Trono da Justia con-dena e aniquila toda mentira. O quemais queres saber, Anton? Busca o in-terior dessa casa bem-amada. E se noencontrares a entrada da primeira sa-la, bate a uma outra porta, dcima, centsima, milsima, dcima mil-sima. Exteriormente a casa de Deus semelhante a um estbulo, mas, no in-terior, a Virgem d a luz queles aquem os anjos louvam sem cessar. [...]No entres l como um ladro. Buscaas portas e bate at que elas se abram.No sers encontrado digno de entrarenquanto concederes tua prefernciaa este mundo em vez de preferires amontanha de Deus. Ningum teracesso a ela se ainda tiver a menor resis-tncia. E no tentes forar uma porta,pois, ento, sers mergulhado em tre-vas ainda mais profundas.

Amigo: J no posso me calaragora que ouvi a santa e suave mensa-gem da serena ressurreio. Emborapermanea na escurido gelada emortal, percebo em mim mesmo ummisterioso raio que aquece meu cora-o. Ah, Pamwa, que possamosimpedir essa centelha divina de ser

sufocada sob o granito e a cinza dostmulos que somos! divina cente-lha, semente e embrio! Semente deAbrao. Filho de Davi. Jesus Cristo.O novo homem celeste. Cabea, co-rao e Luz da criao inteira. Centroabsoluto. Fora, Lei e Reino da Li-berdade. Destra de Deus. Res-surreio! Quando poderei provartua Graa? Tu s o verdadeiro ho-mem, a carne tornada pura. Esse ho-mem, ns no o conhecemos; s co-nhecemos o homem mortal comum.O homem verdadeiro no morre.Aquele que conhece o homem verda-deiro, imperecvel, se torna imortal.A morte no tem mais poder sobreele. Como fiel servo, ele governa comseu Senhor para todo o sempre. Eledespojou-se da carne como de umaveste usada e recebeu um novo cor-po, criado para ele. Ele no adorme-cer na morte, mas se transformar;mos inalterveis substituiro suasmos carnais, e no lugar de seus ouvi-dos, de seus olhos, de sua lngua deanimal e de todos os seus membros,ele receber os membros verdadeirosocultos em Deus.

Canios

ondulantes

vergam, mas no

se rompem.

Lago Balaton.

Hungria. Foto

Pentagrama.

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O sol espiritual

Visto da terra, o sol caminha de lestepara oeste. Ele se levanta no leste, co-mo se costuma dizer, e se pe no oeste;e esse movimento se repete indefini-damente. A vida na superfcie da ter-ra depende do sol visvel. Mas htambm um sol invisvel, que coman-da mecanismos imperceptveis e osconserva.

sol visvel uma expresso do solinvisvel que os egpcios chamavam deAton, os gregos de Hefestos e os ro-manos de Vulcano. O sol visvel, toda-via, mais do que a contraparte mate-rial do sol invisvel. Ele tambm pro-digaliza as foras que o sol espirituallibera em proveito do sistema solar.Ele um chamado que ressoa doOriente.

O leste e o oeste so representaesgeogrficas determinadas pela rotaoda terra. Se os plos mudassem deposio, o leste e o oeste tambm mu-dariam de localizao, como mencio-nado nos arquivos dos templos egp-cios. Na ndia, na Grcia e na Romaantigas, as palavras usas, eos e auroraeram utilizadas. Essas palavras signifi-cavam tanto o ciclo diurno, a deusado dia, como o brilho do ouro. A pa-lavra oeste derivada do snscritoantigo avas, do grego hespera e do la-tim vesper que significam descer (na ma-tria), ir para baixo, e tambm a estre-la do pastor, o ocidente, l onde o soldesaparece e onde nascem as trevas.

Segundo os ensinamentos univer-sais que descrevem seu plano de evo-luo, a humanidade encontra-se hojena era ariana, que toma seu nome dapalavra arya. Na ndia antiga, esta pa-lavra significa nobre. O bero daraa ariana est na sia central. De lprovieram os sete impulsos espirituaisque esto na origem das sete grandesreligies mundiais. Estas sete religies,assim como as grandes civilizaesque surgiram delas, deixaram vest-gios materiais, etricos e astrais aolongo de seu avano de leste paraoeste, iluminando as trevas em suapassagem.

Uma grande parte desses vestgios invisvel, mas encontramos nos tem-plos palavras, smbolos e imagens quetestemunham do futuro do homem ede seu retorno origem. No Evan-gelho de Joo (1:1-3), est escrito: Noprincpio, era o Verbo, e o Verbo esta-va com Deus, e o Verbo era Deus. Eleestava no princpio com Deus. Todasas coisas foram feitas por ele, e sem elenada do que foi feito se fez. A foradesta sentena mgica parece ter-seperdido. Em todo caso, ela no se di-rige ao homem materialista, assentadoem suas bases, e que muitas vezes dum sentido comum s divisas bblicas,empregando-as sem discernimentopara corroborar suas opinies. A for-a mgica, ento, teria aparentementese perdido. Na realidade, no assim.Sem o Verbo de que trata o Evangelhode Joo, nada do que foi feito teria

9

O

sido feito. Esse Verbo a fora decrescimento e de realizao de todasas coisas. A fora que aperfeioa aCriao irresistivelmente, metodica-mente. O acaso e o arbitrrio estototalmente excludos disso.

O conhecimento vivo da vida original

O Livro dos preceitos ureos, doqual ignora-se as fontes e do qual H.P.Blavatsky tirou A voz do silncio, tra-ta do Jnna, que significa o puro co-nhecimento ou sabedoria. Infeliz dacora que alcanada pelos demniosladradores antes de ter atingido o valedo refgio chamado de Jnna Mrga.Jnna Mrga traduzido literalmentepor senda do puro conhecimento. Umlivro snscrito, o Jnanashwari, traz,em uma magnfica exposio, o teordo ensinamento que Krishna transmi-te a Arjuna.

Os gregos chamam de Gnosis esseconhecimento vivente da vida original.Quando o conceito cristo Deuscomeou a perder seu contedo, a pa-lavra Gnosis foi redescoberta e re-cuperou toda a sua importncia. De-pois da Renascena, os tempos esta-vam maduros para investigar as razes

da vida gnstica e passar prtica.Depois de um longo perodo de clan-destinidade e uma breve fase prepara-tria, levada a bom termo por pionei-ros como H.P. Blavatsky, Max Hein-del, Rudolf Steiner e muitos outros, aGnosis foi desvelada. Esse novo passofoi decisivo para levar a humanidade aum outro estgio de desenvolvimento.

Extrado das cavernas e dos deser-tos do esquecimento, um ensinamen-to intacto apareceu luz do dia. Des-cobertas como a de Nag Hammadi,no Egito, voltaram a colocar a Gnosisem foco. Apesar da oposio inicialde um grupo de conservadores, osmanuscritos foram traduzidos e apre-sentados a um grande pblico. A sa-bedoria dos antigos gnsticos ressur-giu em nossa poca e pouco a poucoobteve reconhecimento.

A Gnosis amplamente recebidacomo uma fonte secreta de inspirao,como a voz de um outro mundo, deum mundo que, especialmente noscrculos esotricos, objeto de pro-fundos estudos. Porm Herodes,ainda sempre presente como eternoadversrio, tenta manter o controle.Ele joga sobre a Gnosis uma luz sinis-tra, ao mesmo tempo em que reco-nhece a marca que ela deixou como

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O deus Dionsio,

nascido do

abrao de Zeus

e criado por

Hermes.

Baixo-relevo,

Museu do

Vaticano, Roma.

fenmeno histrico. Mas pouco im-porta, pois isso no impede a Gnosisde envolver a humanidade com amorinefvel e de gui-la com pacincia nocaminho da evoluo. preciso que acriana cresa, torne-se robusta e sedesembarace das faixas do tempo e dailuso.

Para o homem do presente, damais alta importncia respirar coma cabea e o corao, preencher-se dafora divina, vivente e regeneradora, aGnosis, a fim de se elevar acima doscaminhos de perdio nos quais se en-contra extraviado. Essa a condiobsica. Somente um corao e umacabea iluminados fazem de ns ser-vidores da Gnosis. O caminho gns-tico de evoluo rico de testemu-nhos. Ele foi seguido por todas as ci-vilizaes. No decorrer de um passa-do mais recente, esse fio condutor foiagarrado pelos bogomilos, os ctaros,os franco-maons e os rosacruzes.

Pesquisar todos os nveis de vida

No tumulto de nossa poca, muitaspessoas esto conscientes de uma mo-tivao interior desconhecida e supe-rior. Eles formam grupos de pesquisa-dores de todos os nveis. Alguns sejuntam, como no passado, em frater-nidades que professam ideais eleva-dos. Em funo dos novos poderes daalma, eles constroem uma unidade quelhes permite ultrapassar os limites daforma e do contedo e colocar-se a ser-vio de seus semelhantes. A fora deluz que eles recebem e liberam servede alvio para o sofrimento humano.

Ao ter xito em realizar o Graal ou,como diz a Bblia, o mar vtreo, elesmostram que triunfaram da vida infe-rior. Uma tal comunidade de ho-mens-alma se eleva ao patamar onde a

Gnosis se revela a eles, a servio dahumanidade em busca da Libertao.

A Gnosis onipresente e penetra todos os seres

s vezes ouvimos dizer que ostempos esto maduros: na prtica, amaturidade significa que o tempo dacolheita chegou. O mesmo acontecena vida espiritual. A Gnosis fala por sis. Sua fora onipresente e envolve epenetra todos os seres. E aquele que abusca deve poder reconhec-la na-queles que a transmitem. No entanto,ela s se torna reconhecvel aos queso conscientes e que a liberam e acomunicam a servio da vida total.Chega, ento, um tempo em que a hu-

Schamash, deus

do sol, alimenta um

prncipe babilnico.

Baixo-relevo, Suza,

Mesopotmia,

sculo XII,

Louvre, Paris.

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manidade se beneficia dessa ajuda. poca do trabalho para o homem

e com o homem segue-se a poca emque a Gnosis trabalha por meio dohomem, desde que ele esteja prepara-do. O gnosticismo pode representaraos olhos de algum autoritrio e con-servador uma corrente hertica; aosolhos de um outro, ele ser uma fontedessedentadora para sua rida visoda Criao e de sua prpria existnciae o far descobrir numerosas possibi-lidades e, acima de tudo, o alvo novoe libertador a ser alcanado.

A Gnosis no est ligada ao tempo.Ela o transcende. Ela a verdadevivente desde a aurora da Criao, oVerbo do princpio pelo qual todas ascoisas foram feitas, e sem ele nada doque foi feito se fez.

A humanidade chegou ao final deum perodo de desenvolvimento. Aluz matinal de uma nova era de evolu-o anunciou-se. O homem de hojedeve testemunhar do Verbo, da Gno-sis, em ao e em verdade. Na Bblia dito que Jesus Cristo se fez carne. Issosignifica que o Conhecimento vivo e aVerdade desceram no homem paraserem revelados nele e por ele.

O gnstico transfigurista J. vanRijckenborgh escreve, em A GnosisUniversal, que o conceito gnosisremete ao Conhecimento, o conheci-mento misterioso e secreto. No senti-do original, ela a soma das antigassabedorias, o conjunto do conheci-mento relativo vida original divina, corrente de vida verdadeiramente hu-mano-divina. A Gnosis no est noslivros. Isso no possvel. Ela s setransmite oralmente, onde for til enecessrio, e no momento exigido.Est fora de questo que a Gnosis serevele e se transmita em sua integrali-dade, como um sistema.

O Graal uma baliza na noite dos tempos

Todos os livros de sabedoria uni-versal, inclusive a Bblia, no so reve-laes da Gnosis; ainda no. Essestextos especiais testemunham da Gno-sis, do informaes sobre a intang-vel unidade original e sobre o aconte-cimento que constituiu a separaoentre o divino e o no divino. Elesaparecem muitas vezes em forma dedilogo entre um mestre e um aluno

Hefestos forja

um escudo. Novo

museu do Palazzo

Conservatori, Roma.

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em busca da unidade original. Muitaslendas e relatos aludem tambm ori-gem e ao caminho que leva a ela. OGraal muitas vezes mencionadocomo o smbolo final desse processo.O Graal segue de leste para oeste, daluz para as trevas, e representa umabaliza na noite dos tempos.

Ele o emblema deste segundo pe-rodo do cristianismo: o tempo da co-lheita e do testemunho daqueles queencontraram o caminho do Graal epuseram em prtica suas exigncias.Esse caminho est registrado nos qua-tro Evangelhos da Bblia. Mas elesno so os nicos a dar testemunho dis-so. Um certo nmero de escritos ap-crifos lanou uma nova luz sobre pas-sagens obscuras dos Evangelhos elevantou o vu da Gnosis, revelando-a.

Em sua maioria, os prprios men-sageiros da Gnosis no deixaramescritos. Suas palavras foram transmi-tidas por outros, e as transcries ori-undas dessas tradies foram objetode uma recompilao.

Cada batida do corao um chamado

Esse processo s vezes descrito deforma to lmpida que podemos nosperguntar como proporcionalmenteto poucas pessoas vejam e encon-trem o caminho gnstico de liberta-o. Tero elas to pouca compreen-so? Sero elas letrgicas ou no sen-tem necessidade disso? Ser que elass priorizam suas preocupaes eseus prazeres cotidianos? No tmelas nenhuma idia da situao emque se encontram? Conscientementeou no, em dado momento, num bati-mento do corao, mais de uma pes-

soa tocada pela Gnosis. Elas podemfechar o corao, mas tambm podemabri-lo. Neste caso, elas se tornarocada vez mais conscientes do sentidoverdadeiro da vida e sentiro como apromessa da aurora surge no oriente ecomo aproxima-se o dissipar das tre-vas. O tempo chegou, e elas percebemo impulso que as impele para umanova evoluo.

Para compreender a Gnosis preci-so uma nova alma. As consideraesfilosficas sobre o passado gnstico eseus vestgios na Histria so, para anova alma, de um interesse secund-rio. O que conta, antes de tudo, oato, reagir de forma positiva ao cha-mado da Gnosis. O conhecimentoadquirido pela nova alma , assim,ampliado, pois a Gnosis o conheci-mento vivente alimentado pelo fogooriginal. Quando o candidato se tornaconsciente do processo, essa realidade

Relevo de uma

palmeira.

Palmira, Sria.

Foto

Pentagrama.

permeia totalmente sua vida. Porm,ele deve velar para no deixar seusconceitos sobre Gnosis e gnsticoescorregarem para o nvel do desco-nhecimento generalizado. So concei-tos muito elevados e, com a ausnciade pura compreenso, existe o terrvelrisco de nivelar por baixo: cai-se facil-mente no falatrio e na disperso,acarretando mais mal-entendidos econfuso.

Filosofar sobre Gnosis uma ilu-so, diz J. van Rijckenborgh. Segundoele, a Gnosis no nem filosofia, nemreligio, nem mtodo do que querque seja. Ela no apela nem aos nos-sos poderes intelectuais, nem aosemocionais. No incio, ela se apresen-ta ao pesquisador sob uma formaespecial. Ela justamente a fora doverdadeiro reino, que veio unir-se aomicrocosmo da maneira mais simples.

No livro Os mistrios gnsticos daPistis Sophia, ele escreve: Quandovoltais vosso olhar para a aurora evosso inteiro comportamento est emsintonia com ela, ento a Luz se elevano oriente. A vibrao do microcosmose eleva e as correntes magnticas dooriente e as do ocidente devem se har-monizar com ela. A corrente que saiexpulsa o que mpio, e a corrente queentra evoca o passado original dosfilhos de Deus.

Em seu livro O anjo na janela doocidente, Gustav Meyrink descreve omodo pelo qual as foras que repeli-mos continuam tentando exercer suainfluncia magntica, batendo muitotempo na porta do eu, para a seremadmitidas novamente. por isso quea neutralidade do eu a base e o pon-to de partida do processo de liberta-o. A Gnosis trabalha na cmara in-terior quando o candidato, na Suafora, d forma ao trabalho exterior.Todos os homens de nosso tempo sochamados a essa nobre tarefa. O tra-balho sobre o exterior uma colabo-rao consciente com a colheita, pelapreparao daqueles que no encon-traram ainda o caminho. O trabalhona cmara interior prepara para a re-cepo da descida da Gnosis no cora-o ardente de desejo.

O sol avana infalivelmente de lestepara oeste, em toda a vida materialassim como em toda a vida espiritual.Por isso dito: Trabalha enquanto dia e aguarda tua hora.

Assim testemunhamos da Glriaintangvel de Deus.

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A terra, como todos os corpos celestes do sistemasolar, alimentada, mantida e purificada pelaenergia do sol. A corrente de energia chamadavento solar, emanada do sol, lanou, nestes ltimosonze anos, chamas a at um milho de quilmetrosde altura. Em outubro e novembro de 2003, essacirculao sangunea do sol mostrou sinais dearritmia. Entre dois batimentos do coraohouve uma erupo, no dia 28 de outubro, depotncia estimada em sete megatons, seguida, nodia 29 de outubro, de uma erupo de dez mega-tons e, no dia 4 de novembro, por uma tempestadesolar de potncia de vinte e oito megatons. Em dezdias foram contadas seis erupes muito fortes,mais fortes do que normal. A ltima erupo foifilmada e vemos uma chama gigantesca, como a deum cuspidor de fogo. Mas os aparelhos medidoresdos satlites, ultrapassados por uma tal violncia,ficaram momentaneamente em pane.

O jugo do intelecto

O mais elevado saber nada saber.No mundo inteiro, h pessoas que che-garam a esta concluso. Para os ou-tros, a antiga sentena dos rosacruzes um paradoxo incompreensvel. O que, pois, a verdade?

classificao em categorias e os li-mites estabelecidos pelo intelecto po-dem servir para ordenar a vida co-mum. Mas enquanto esses mtodosgovernam o pensamento, eles blo-queiam sua expanso e novamentenos encontramos no caminho errado.O filsofo russo Leon Chestov(1866-1938) um dos maiores pensa-dores que desenvolveram a filosofiareligiosa. Para ele, o intelecto pordemais limitativo. Em Paris, ele fre-qentou os encontros semanais de seuamigo, o filsofo russo Berdiaiev. Nas-cido em Kiev, seu nome civil era LeonIsaak Schwarzmann. Ele estudou nasuniversidades de Moscou, Roma eBerna e, fugindo dos bolcheviques,foi para Genebra. Convidado pelaSorbonne, passou seus ltimos anosem Paris. Faleceu em 1938, deixandouma importante obra filosfica.

No decorrer de sua busca pela ver-dade, Chestov concebe muitos pensa-mentos profundos que incessante-mente reformula. Ele descreve o mo-do como cada pessoa, constrangidapelo mental, desvia-se do caminhotraado. Ele se pergunta quem for-mou sua vida e por que sua pesquisa o

leva sempre de volta do exterior parao interior, para a enigmtica e inson-dvel profundeza. Ele orienta sua pes-quisa especialmente para as motiva-es de nossos atos e luta a vida todacontra o domnio do crebro biolgi-co. Essa uma das razes pela qual contado entre os filsofos mais im-portantes do sculo XX. Ele fala dacompreenso objetiva ilimitada, por-que ele mesmo venera esse conceitoque domina todos os poderes supe-riores do ser humano. A tendncia dereprimir a vida puramente interior ecolocar frente o intelecto de manei-ra parcial no nova.

O filsofo das profundezas

Para se distinguir de todos os mo-vimentos que se ocupam dessa ques-to, ele se autodesigna como o fil-sofo das profundezas; contra a ten-dncia extenso ilimitada do intelec-to, prope a apoteose da profundezainsondvel. Ele quer mostrar que asprofundezas enigmticas e ocultas soinacessveis ao intelecto, porm, que nelas que se revela a dimenso espiri-tual, pois justamente essa profunde-za que abre espao para a manifesta-o de aspectos espirituais. Ele fala daprpria vivncia porque tudo o queexperimenta do Mistrio e do inefvellhe oferece finalmente a chave para aprofunda compreenso da existncia.Ele sente e supe uma tremendamen-te criadora liberdade por detrs dos

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A

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limites do intelecto. Portanto, ele uti-liza sua prpria energia e ateno parase livrar de princpios intelectuais pr-estabelecidos.

Chestov observa com preciso queater-se ao racional em tudo represen-ta um perigo para a vida espiritual.No livro O poder das chaves ele mos-tra como o intelecto cultivado teme-rrio e presunoso: ele quer at de-monstrar Deus. O que a razo j nose permitiu no decorrer da histria! Arazo extraviada at estabeleceu seusprprios critrios da existncia dadivindade, e Deus s precisa ajustar-se a esses critrios. Com que compla-cncia o pretensioso intelecto dignou-se a demonstrar a existncia de Deus!

A soluo est onde no h mais soluo

Aonde leva a via que Chestov to-mou? Ele afirma: A nica verdadeirasoluo comea quando j no h maissoluo segundo os critrios humanos.Precisamos nos voltar para o insond-vel para nos aproximarmos do impos-svel [...] L est Deus. E isso justa-mente porque o insondvel no cor-responde a nenhuma categoria inte-lectual. Num outro relato, ele explica:Devemos mergulhar em Deus e nos li-bertar de um s golpe de todo o racio-nal. Podemos fazer um paralelo entreChestov e um dos primeiros autorescristos, Tertuliano, que declara: Cre-do quia absurdum! Creio porque absurdo, porque isso ultrapassa os li-mites da compreenso. Em Atenas eJerusalm (1938), Chestov d sua vi-so do mundo: Jerusalm deve ir aAtenas para receber a beno. E nolivro A balana de J, nas fontes da

verdade eterna (1929), ele emprega amesma imagem: dito que tudo o quevem de Jerusalm deve ser pesado emAtenas. O que isso significa? Chestovdesigna por Atenas a capital do purointelecto, e Jerusalm, a do sentimen-to religioso. Ele no v nenhum com-promisso possvel entre a intelectuali-dade de Atenas e a espera cheia deesperana de Jerusalm. As duas seexcluem. O saber no pode ser o maiselevado objetivo do homem! porisso que Chestov condena a caa aosaber em filosofia. Segundo ele, todosos conhecimentos impedem de perce-ber o verdadeiro dom de Deus. Comessa expresso ele designa a liberdadeabsoluta e criadora surgida da f que,ela sim, pode perceber. preciso re-jeitar o jugo do intelecto: Deus estonde nenhum saber domina, mas on-de a liberdade respira e vive. Ele estconvencido de que a primeira precau-o em relao s atividades do inte-lecto ressoa no mito da queda. ParaChestov, a queda exclusivamente deordem intelectual, tendo o homem sefechado penetrao do Mistrio in-sondvel. A queda foi provocada pelodesejo do saber, por comer dos frutosvenenosos.

O fechamento do caminho da verdade

Chestov qualifica a cincia moder-na de tumor cancergeno. A cinciaganha terreno de hora em hora e tor-na as nuvens em torno do Mistriooriginal mais espessas. Como todos osautnticos exploradores das frontei-ras, ele sente intensamente o muro deseparao da contra natureza, que seergue entre o ser e o insondvel. Des-

se aprisionamento, ele diz: como seuma fora houvesse resolvido, desdeantes da criao do mundo, fechar ocaminho da verdade. Depois, a razoerra por caminhos obscuros. Ou nos-sa construo do mundo falsa, ou en-to temos tomado o caminho erradopara ir para a verdade!

Chestov no reprova o pensamen-to, porm volta-se contra sua depen-dncia, que provoca todo tipo de des-vios de modo que o mais sutil intelec-to j no compreende a si mesmo. Elebusca em vo a harmonia entre o co-rao e a cabea. Para ele, a conscin-cia est envolta em vus. O homemvive envolto por um nmero infinitode mistrios [...] A forma pela qual elese separou de sua origem, da fonte desua vida, permanece um enigma. Eleest convencido de que imensas for-as dormitam na alma humana e quesomente elas podem induzir a expe-rincia direta da profundeza insond-vel. Em 1898, no livro A idia do bem,ele mostra como isso pode acontecer:O amor fraterno no Deus. prefe-rvel encontrar o que ultrapassa a com-paixo, a comiserao, o bem. preci-so buscar a Deus! Sua busca comeaonde o caminho ultrapassa a razo e amoral. Depois da publicao de suasobras, Chestov passou a ser conside-rado como o mais importante repre-sentante do renascimento religioso naRssia.

Quais so os pontos culminantesde sua busca? Ele experimenta que acontradio entre f e cincia irredu-tvel. Alm disso, ele prova que, pelasua f, recebeu revelaes interiores eque a revelao absolutamente dife-rente do saber; que ela s acontece namontanha. Ele v Moiss no Sinai e

Jesus no Monte das Oliveiras, e apre-senta esta imagem a seus irmos hu-manos para que reflitam. Os esforosintelectuais intensivos s concernemaos domnios inferiores da vida. Asverdades materiais alcanadas dessemodo so para ele apenas erros encar-nados. Ele sente sua filosofia comouma msica superior. No sentido dePlato.

O homem deve se manter sobre sua balana interior

Chestov, como filsofo, no viviaretirado. Ele manteve intercmbio compensadores famosos como MartinBuber, Albert Einstein, Marinan Zve-taeva, Martin Heidegger e EdmondHusserl. Boris Pasternak foi inspiradopor sua viso do mundo. Seu jovemamigo filsofo, Serguei Bulgakov, es-creveu: Era impossvel no amar Ches-tov e no compartilhar de sua viso de

As funes

cerebrais

representadas

num modelo em

porcelana.

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mundo. Sua extraordinria delicade-za, sua surpreendente bondade e suabenevolncia o explicam. Essa era anota fundamental de suas relaescom outrem, sem a menor ambio doque quer que seja. Ao mesmo tempo,ele travava um duro combate para suarealizao espiritual.

Para ele, o mais importante semanter sobre sua balana interior. Opotencial da alma deve se revelar. Eleescolhe como exemplo o personagemde J, do Antigo Testamento. J per-manece fiel a sua conscincia. Elemantm sua confiana em Deus ape-sar de seus sofrimentos e de sua mis-ria. Quando estes se tornam mais pe-sados do que a areia dos mares, elegrita em sua angstia e desespero (J6:3 e 31:6): Pese-me em balanas fiise saber Deus a minha sinceridade!Chestov profundamente impressio-nado pelos males suportados por Jem seu caminho, mas acima de tudopor sua tenacidade. Sem protestar, eleaceita e suporta seu destino. Se tivessese confiado ao intelecto, ele teriaentrado em contenda com Deus. Suaaceitao fascina Chestov, que consi-dera essa a marca do verdadeiro bemem um ser humano. Sedutores cercamJ nas pessoas de sua esposa e de seusamigos que lhe do, com bons moti-vos pensam eles o conselho de ab-jurar Deus, pois onde est a justia di-vina quando algum sofre tanto? MasJ nada quer saber desses conselhosrazoveis, e permanece surdo a eles.

A apoteose do insondvel

Com o tema de A balana de J,Chestov quer mostrar que em sentidoprofundo o que importa no a com-preenso intelectual porque Deus v ocorao. Ele ouve os gritos desespera-dos que saem das profundezas, mas

Ele ignora os raciocnios dos amigos deJ. Assim se manifesta a lei das leis e areconhecemos. Eis a apoteose das pro-fundezas, uma realidade superior quepermanece oculta inteligncia isola-da. Deus uma fora que ultrapassa arazo humana. A compreenso, talcomo ela se desenvolve no gnero hu-mano atual, no seno temporal.Quem se agarra a ela se enraza naescurido.

Chestov mostra que o buscadordeve se subtrair tutela do intelectopara experimentar a verdadeira vida. renunciando viso do mundo de-finida pela razo que ele encontrar ocaminho de retorno para a ptria espi-ritual. Como J, ele no deve alimen-tar a menor esperana no mundo. Eleest consciente de ser um estrangeirono mundo dirio e ao mesmo tempoexperimenta-o como uma graa, poispode se libertar do jugo do intelecto.No livro A voz do silncio, traduzidopor H.P.Blavatsky, dito: o mental o grande destruidor. preciso aniqui-l-lo e, segundo Chestov, substitu-lopor um novo pensar. A filosofia daRosacruz urea descreve em detalhescomo se desenvolve esse novo pensarque ultrapassa os limites do humano.

Fontes:Leo Schestow: Athen und Jerusalem, Versucheiner religisen Philosophie, Matthes & Seits,Munique, 1994.Idem, Potestas clavium die Schlsselgewalt,Verlag Lambert Schneider, Heidelberg, 1956.Idem, Tolstoj und Nietsche, die Idee desGuten in iheren Lehren, Matthes & Stein,Munique, 1994.Idem, Auf Hiobs Waage, Wanderungen durchdas Seelenreich, Verlag Herder, Viena, 1950.Sergei Bulgakow, citando Gustav A. Conradiem: Leo Schestow oder das paradiesischeLeben in der Schrift die Idee des Guten.Antigo Testamento, Livro de J, 31:6.

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Coragem, temeridade, humildade

A palavra coragem remete a diferentesassociaes de idias. Quanto a mostrarcoragem, cada um tem sua prpria in-terpretao. H a coragem fsica, a so-cial, a moral e a capacidade de suportar.Examinaremos se existe uma coragemespiritual e quais seriam suas relaescom as formas de coragem conhecidas.

ma definio simples de coragem :ousar fazer algo difcil. Para uma crian-a, preciso coragem para dar a mo auma pessoa estranha, andar de bicicle-ta sem o apoio de outra pessoa, pularnuma piscina, pedir a outra criana pa-ra devolver-lhe seu brinquedo. Os paisesto a para encoraj-la. Eles se esfor-am por desenvolver a coragem dascrianas, sua vontade, sua capacidadede suportar, a fim de que ela possa, umdia, tomar seu lugar na vida. As crian-as, por sua vez, respeitam aquele quetudo ousa: ele se torna seu heri.Nos contos de fadas, o personagemprincipal convida coragem. Na Ho-landa, o jornal da Escola contm umarubrica intitulada O heri da semana.Ela faz parte de um programa que tempor objetivo dar exemplos s crianase contribuir com a luta contra a bagun-a, o racismo e a violncia gratuita. Osazes do futebol e outras pessoas cons-tituem pretexto para mostrar princ-pios e valores justos. A Histria evocaos heris de tempos passados que sedestacaram pelos seus atos de grandevalor. Assim, as crianas aprendem adistinguir a coragem moral da cora-

gem fsica. Depois, as situaes se tor-nam mais provocantes: por exemplo,em uma discusso, atacar algum quejulgamos ter uma idia errada; arriscartomar parte em atos de violncia naescola ou na rua; jogar-se de uma alturade cem metros preso a uma corda els-tica amarrada na perna; ou partir sozi-nho, de mochila, para a Austrlia...

Os jovens querem determinar quaisso seus limites, dominar o instinto queos impele a fugir, ou seja, a levantar odesafio e, pela vontade, vencer o medoda existncia ou o medo de ter de ex-pressar suas convices. Isso lhes dautoconfiana e a percepo de sua for-a. Resulta da que corajosamente olha-ro de frente qualquer situao e aban-donaro facilmente caminhos j per-corridos. s vezes a indignao quesustenta a coragem e que impele a com-bater a injustia; por exemplo, passarpara a ao e, em casos extremos, pro-curar unir-se a um grupo decidido afazer uma guerrilha e defender pelaviolncia os oprimidos desta terra. Es-sa coragem vai at o desprezo pela mor-te. No entanto, a fora assim adquiri-da pode suscitar orgulho, arrogncia,crueldade e outros abusos de poder.

Quem tem coragem de considerarhonestamente o conceito de amor uni-versal s pode concluir: essa espcie decoragem no resolve, e jamais resolveu,o problema da injustia neste mundo.Lao Ts disse: As melhores armas soinstrumentos de infelicidade. Aqueleque possui Tao, portanto, no se preo-cupa com isso. Porm, para o idealista

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U

que est no impasse, j no mais pos-svel deixar covardemente tudo acon-tecer. preciso que ele aja: o homemno chamado a ser guardio de seusirmos? Em seus comentrios sobre oTao Te King, J. van Rijckenborgh diz:O nico meio de ajudar a humanida-de na aplicao mais radical da forado amor universal. Esse amor divino, oamor que est acima de tudo, podenascer naquele cuja alma liberta.

O que isso significa? Primeiramen-te, que h uma possibilidade de auxiliaro homem de maneira absoluta; em se-gundo lugar, que preciso ter uma al-ma liberta. Poderamos expressar essaidia com as palavras: estar no mundo,mas no ser mais do mundo. Ser issopossvel? Supondo que algum esco-lha esse rumo, que queira alcanar esseestado, uma coisa certa: para isso preciso coragem, mas uma espcie decoragem pouco comum. preciso, deincio, ousar examinar todas as liga-es que retm o eu e o mantm presoa este mundo. preciso, portanto, ad-quirir um rigoroso autoconhecimentopara, em seguida, usar o machado demodo radical e renunciar a todo ego-centrismo. Na Bblia dito a respeitodaquele que domina semelhante medo:Aquele que vence a si mesmo maisforte do que aquele que conquista umacidade. E no budismo: O sbio no temnenhum medo.

Esse processo uma penosa luta in-terior que exige uma coragem formi-dvel. De fato, ver cada vez melhor ecompreender quem somos traz muitasdesiluses, e o desnimo pode ser togrande que camos no desespero di-zendo a ns mesmo: No conseguirei.No, no conseguirei me tornar umaalma liberta capaz de pr em prtica oamor universal. Em Os versos ureos,

Pitgoras d o seguinte conselho: Se notens coragem, toma, contudo, coragem.Quando a fora da vontade j no po-de dar coragem porque o eu foi neu-tralizado, possvel haurir coragemno corao renovado pela Alma. J nose trata da coragem do eu, mas da mo-dstia, da humildade ou auto-rendio fora do amor universal. assim quea nova alma cresce e que, graas a umcomportamento verdadeiramente pu-ro, podemos liberar uma corrente deamor contnua.

Bem-aventurados os mansos

O que segue inspirado nas trs pri-meiras bem-aventuranas do Sermoda Montanha relatadas no Evangelhode Mateus. A primeira assim conce-bida: Bem-aventurados os pobres emesprito pois deles o Reino dos Cus.Trata-se de seres humanos que, apsterem corajosamente combatido nestemundo, se afastam dele, consternados,pois se do conta de que so realmen-te pobres em esprito. So aquelesaos quais se refere J. van Rijckenborghem O Mistrio das bem-aventuranas:Tendo experimentado tudo no terrenodas experincias e tentativas humani-trias, alguns chegaram concluso deque eram habitantes de feso, ou seja,sujeitos s limitaes de uma bondadeque a cada momento pode se transfor-mar em seu contrrio, pois o humanita-rismo a bondade organizada quepersegue o mal, sem jamais alcan-lo.O humanitarismo tenta neutralizar omal; ora, ao longo dos sculos, em suacorrida na natureza dialtica, ele estatrasado em muitas voltas.

Encontrar-se em tal impasse trazprofundo desespero de alma, at quese reconhea estar desprovido de es-

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prito. Essa humildade, que nos fazver nossa fraqueza e nossa impotncia, a condio necessria para sentir ochamado do amor universal. Pensamosaqui no oitavo cntico de arrependi-mento da Pistis Sophia, do qual J. vanRijckenborgh diz: Ela renuncia a to-das as afirmaes de sua personalidadeat os recnditos mais afastados do bem.Ela se entrega e engaja-se no perododa humildade. Ela tem a coragem deaceitar o no-agir com a prece: Lem-bra-te de mim, segundo tua graa e emnome de tua bondade, Senhor. Assimela realiza o maior ato que poderia exe-cutar segundo seu estado natural, emrelao Gnosis.

A segunda bem-aventurana aseguinte: Bem-aventurados os aflitos,pois sero consolados. Trata-se aqui daaflio do corao e da alma dilacera-da pelo imenso sofrimento do mundoe da humanidade. O idealista que che-gou ao impasse est profundamenteaflito e cheio de piedade no mais ntimode seu ser. Ento, a Luz responde a elee envia-lhe o consolo que a compreen-so representa: saber como se prepararpara poder verdadeiramente trazer seuauxlio humanidade. A consolao grande quando se compreende que ocaminho da libertao da alma aces-svel e que a alma liberta pode pr emprtica o amor universal.

A terceira bem-aventurana a se-guinte: Bem-aventurados os mansos,pois herdaro a terra. Quando algumse ligou fora do amor universal, re-cebe igualmente a fora para trabalharcom a luz do amor e estabelec-la nanatureza. A nica chave necessria abondade. Deixemos mais uma vez fa-lar J. van Rijckenborgh tal como ele sedirige a seus alunos: Mansido acoragem absoluta que nada fora nem,

alis, poderia faz-lo, em virtude doestado de ser interior do aluno que seapia sobre duas colunas. A primeira a ligao com o Reino, e a segunda afora para executar o trabalho. Estadupla graa divina deve ser estabeleci-da na natureza com doura, e com elaa grande vitria deve ser alcanada.

A coragem segundo a natureza sem-pre tem algo de forado. Freqentemen-te ela a expresso de um instinto, deuma paixo. Agindo sob o seu impulso,tem-se sempre o aspecto de um assal-tante. A coragem segundo a naturezasempre fere; ela dilacera ou destri.Mas a coragem nascida da ordem espi-ritual de Jesus Cristo o efeito de umnovo equilbrio da vontade.

O manso no anseia pelo xito ime-diato e retumbante. Ele sabe que o bri-lho de semelhante xito passageiro.O manso no se desencoraja diante deum trabalho sem resultado aparente,nem mesmo quando o seu campo detrabalho envolvido pelas foras sat-nicas do desentendimento. Por detrsde tudo isso, ele v a consecuo finaldo seu objetivo brilhando como um solque nunca se pe. [...] Em nome daEternidade, o manso brilha no tempocomo uma luz suave e calma; e a con-solao crstica o combustvel queno cessa de afluir para ele com regu-laridade constante.

FontesRIJCKENBORGH, J.V., A Gnosis chinesa, Editora Rosacruz. (No prelo);RIJCKENBORGH, J.V., O mistrio das bem-aventuranas, So Paulo: Lectorium Rosicrucianum, 1983.RIJCKENBORGH, J.V., Os mistrios gnsticos da Pistis Sophia, Editora Rosacruz (no prelo),cap. 4,6.PITGORAS, Os versos ureos.

Quem pesquisa pode se tornar um rosacruz(Jornal de Sofia, Bulgria)

Cento e cinqenta alunos blgaros eoitenta e cinco convidados vindos daAlemanha, da Holanda, da Crocia eda Srvia se encontraram sexta-feira,dia 28 de novembro de 2003, em Lyu-lin-Sofia, para a inaugurao do pri-meiro Centro de Conferncias da Bul-gria. Depois que um pequeno grupode interessados recebeu sua primeiracarta de contato, em 1997, seu nme-ro foi crescendo, em Sofia, a capital,em Burgas e Varna, no Mar Negro, naSilsia, no nordeste, e na Slavnia, emStara Zorga, no centro da Bulgria. Aprimeira Conferncia de Renovao

aconteceu em 1998 e, em 2001, os alu-nos adquiriram um hotel ainda noacabado. Dois anos de trabalhos inin-terruptos transformaram milagrosa-mente essa construo em um Centrode Conferncias adequado ao traba-lho internacional do Lectorium Rosi-crucianum. Trs andares so destina-dos aos servios templrios, s pales-tras pblicas e s atividades de ncleo.No quarto andar encontra-se um dor-mitrio para os alunos que vm delonge.

Se o trabalho espiritual se desenvol-ve to rapidamente na Bulgria devi-do sobretudo ao grande impulso gns-tico dos bogomilos (literalmente osamigos de Deus). Naquela poca essaregio era considerada como a porta

Ampliao e aprofundamento da infra-estrutura

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de costume que a primeira Pentagrama do anod um apanhado geral das atividades da EscolaInternacional da Rosacruz urea no conjunto deseus campos de trabalho. Ela atua agora em 47pases. Num ano, a nfase dada construo e abertura de novos ncleos e Centros de Conferncias, num outro a preferncia dada s atividades destinadas a atrair a ateno dopblico. Durante o ltimo ano, a Escola Espiritualse esforou especialmente por tornar conhecida sua obra mundial, organizando simpsios, ciclosde palestras, exposies, concertos e representaesteatrais, a fim de dar aos pesquisadores interessados uma idia da meta seguida pelos seus alunos e do seu modo de vida.

pela qual o chamado da Gnosis podiatocar a Europa. Onde a Luz brilhouuma vez, para l ela retorna. A Bul-gria a antiga Trcia, o pas dos mis-trios de Dionsio e de Orfeu. A pala-vra Trcia significa espao etrico, etambm firmamento. Para Plato e

seus discpulos, a Trcia era o pas dapura doutrina e das santas lendas. ABulgria era tambm o pas dos pauli-cianos e do messianismo, movimen-tos que atuaram nos primeiros scu-los do cristianismo gnstico. Na Ida-de Mdia, os bogomilos retomaram o

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Inaugurao em

Sofia, Bulgria.

Foto Pentagrama.

Abaixo: Jornal

blgaro:Quem

pesquisa pode se

tornar um

rosacruz.

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archote e o passaram, em seguida, aosctaros. No sculo XX, o mestre espi-ritual Peter Deunov (1864-1944)atraiu aproximadamente quarenta milalunos, cuja inteno era de viversegundo o impulso gnstico. Ele mor-reu uma hora antes que a polciasecreta da Rssia o detivesse. No rela-trio da polcia constava esta frasedele: Meus alunos esto neste mundo,mas no so deste mundo.

Em sua alocuo inaugural, o Sr.G. Friedrich, membro do Presidium,declarou: Pelo que vivemos em con-junto esta noite, o mistrio de Dio-nsio-Orfeu-Cristo se liga novamenteao pas blgaro. Uma base colocadae, pelo trabalho a servio da EscolaEspiritual, um espao etrico puropde ser novamente formado para ospesquisadores.

Em A pedra do cume de abril de1976, J. van Rijckenborgh escreveu so-bre o carter muito peculiar dessa re-gio em Os mistrios de Orfeu: Nscompreendemos que h doze mil anosos mistrios rficos e dionisacos des-pertaram para a nova vida milharesde pessoas; ocorreu a uma reao po-

derosa e macia, de tal magnitude, que,mesmo aps todos esses sculos, per-maneceram mitos e contos extrema-mente surpreendentes, apesar de esta-rem misturados com relatos insensatos,deformados pelos que no compreen-diam nada disso. H milhares de anos,essa parte do mundo foi um vasto focode um toque universal e os povos quehabitavam esse grande territrio vi-venciaram essa graa. O Egito, Cana,a Sria, a Prsia e o sul dos Blcs fo-ram o objeto de uma grandiosa colhei-ta por parte dos santos mistrios daFraternidade Universal. Podemos di-zer que a colheita daquela poca con-tava muito mais do que dez mil almaslibertadas para a nova vida.

No decorrer da consagrao do tem-plo, o Sr. A.H. van den Brul, da Di-reo Espiritual Internacional, pro-nunciou estas palavras: Na Idade M-dia a Bulgria era considerada comofonte de todas as heresias, o que ar-rastou a Igreja a perseguies sangren-tas. Podemos, no entanto, afirmar quea luz da Gnosis brilha novamente naBulgria e que o chamado dos Amigosde Deus, nunca foi totalmente apaga-do. O fato de a chama ter-se perpetua-do, apesar da extrema fora da contra-natureza, comprovado pela ao dePeter Deunov, que realizou um imen-so trabalho preparatrio. Citamosdele as seguintes palavras: Vossa al-ma um boto de rosa que aguardadesabrochar. Se vossa conscincia seconcentra nela, vivereis, ento, o ins-tante mais grandioso de vossa vida.Abrireis vossa alma aos raios do soluniversal que ilumina o mundo divi-no. Pois bem meus amigos! As semen-tes que foram assim espalhadas na Bul-gria, atravs dos sculos, comearama germinar. Entramos, meus amigos,

Programa

do simpsio

Retorno

Fonte.

em um perodo de forte atividadegnstica. O Sr. van den Brul terminousua alocuo com esta prece bogomila:Purifica-me, meu Deus, purifica meu interior e meu exterior.Purifica Corpo, Alma e Esprito paraque em mim cresa a semente de Luze eu possa me tornar um archote.Possa eu ser minha prpria chamapara levar para a Luz tudo o que estem mim e ao meu redor.

Dia de palestras no Centro J. van Rijckenborgh

No Centro J.van Rijckenborgh, emHaarlem, trs palestras foram realiza-das, no domingo 12 de janeiro de 2003,sobre a vida e a obra de J. van Rijcken-borgh. O convite para esse animadodia dizia: Em estreita colaborao comZ.W.Leene e Catharose de Petri, J.van Rijckenborgh fundou a modernaEscola de Mistrios, cujo princpio cen-tral a transfigurao. Ele explicou osmistrios da Rosacruz clssica, queconstituem aspectos viventes e indis-pensveis da pesquisa atual. O apogeudesse mistrio universal o nascimen-to, o crescimento e a ressurreio deum novo tipo humano: o homem inte-rior, o homem de Aqurio. A Escola daRosacruz urea trabalha em 47 pa-ses; e muitos milhares de alunos, comohomens desta natureza, esto diaria-mente voltados para sua transforma-o em homens-alma-Esprito.

Retorno s fontes

No Centro de Conferncias Reno-va, em Bilthoven, aconteceu, em maiode 2003, um simpsio com o tema:Retorno s fontes. Foi empreendidauma pesquisa sobre as razes comuns

da Gnosis do cristianismo primitivo,do sufismo e do pensamento gnsticomoderno. As razes se encontram nosescritos atribudos a Hermes Trisme-gisto. O professor G. Quispel falouda filosofia potica e do grande alcan-ce de Valentinus, um dos mais pro-fundos representantes da sabedoriahermtica e autor de O Evangelho daVerdade. Ele salientou a conexo en-tre os ensinamentos de Valentinus eos mistrios egpcios.

O professor H. Witteveen mostrouque a sabedoria hermtica enriqueceuprofundamente o sufismo. A influnciado hermetismo sobre a religio e a li-teratura foi maior no Oriente Mdiodo que no Ocidente, onde os escritoshermticos no foram conhecidosantes dos sculos XIV e XV.

Durante a terceira apresentao, oSr. J. R. Ritman mostrou as perspecti-vas do futuro contidas nesses 4500anos de pensamento hermtico. Segun-do ele, uma vez atravessada a fronteirado terceiro milnio, defrontamo-noscom um novo desafio: o retorno daGnosis original e a possibilidade denosso retorno a ela. A rica tradiohermtica responde pergunta: Que o homem e quem ele? O apro-fundamento interior, em vista de uma

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verdadeira elevao espiritual, exige aformao de uma nova comunidadede homens, uma comunidade originalhermtica.

Atividades dos jovens alunos no Brasil e na Frana

Em julho, uma centena de jovensalunos e membros do staff foi ao Cen-tro de Conferncias do Rio de Janeiropara renov-lo. Eles pintaram a facha-da, as grades e embelezaram o jardim.

Jovens alunos que vieram de dezes-sete pases se encontraram no Centrode Conferncias La Licorne, no Sul daFrana, durante um final de semana deconferncia europia, em agosto de2003. Apesar do calor que ultrapassavaos 35 graus, esses jovens reformaramos caminhos e os jardins, iniciaram asobras de um local para o armazena-mento de gua e de uma livraria. Elescortaram rvores de trinta metros queatrapalhavam o escoamento das guas.

Novo prdio em Koblenz,Alemanha

Aps trs anos, o novo ncleo deKoblenz havia se tornado muito pe-

queno. Instalado em 23 de outubrode 1999, a nova construo foi postaem uso no domingo 31 de agosto de2003. Com uma rea de 305 m2, olocal oferecia suficiente espao paraampliaes futuras. O ncleo estsituado na Schlosstrasse, no caladodo centro da cidade. As numerosasjanelas do terceiro andar abrem-separa uma praa tranqila. O p direi-to alto e as salas so claras e demuito bom gosto. O proprietriodo imvel escreveu: Sem exagerar,podemos dizer que algo de espiritualse tornou aqui visvel e tangvel. Co-mo especialista, admiro os acabamen-tos em todos os seus detalhes. Essegrupo dispe agora de suficienteespao para as conferncias, as diver-sas reunies, as exposies e os inter-cmbios.

Reunio de mdicos e de terapeutas vindos de doze pases

Cento e sessenta participantes esta-vam presentes numa reunio interna-cional de mdicos, no final de semanade 31 de agosto de 2003, no Centro deConferncia Christianopolis, emBirnbach. O tema escolhido era: Fun-

Ncleo de

Koblenz,

Alemanha.

26

Grupo de jovens

alunos no Centro

de Conferncias

Novo Sol, Rio de

Janeiro, Brasil.

Centro de

Conferncias Foyer

Catharose de Petri,

Caux, Sua.

es fisiolgica e espiritual do cora-o. Aps um relatrio dos desenvol-vimentos e resultados dos cinco lti-mos anos, em quatro lnguas, a Sra.Hamelink-Leene concluiu: precisocompreender bem que em todo o vos-so trabalho a fora da intuio divi-na que inspirar a compreenso neces-sria para vossa ao. A fora de Be-thesda alimentada e mantida de ml-tiplas maneiras. Saibam que a foracolocada disposio do doente queest voltado para ela absolutamenteimpessoal.

O vigsimo quinto aniversriodo Lar Catharose de Petri

Dia 9 de setembro de 1978 foi con-sagrado o primeiro templo no que foio Grande Hotel de Caux, depois oHotel Regina. No dia 22 de janeiro de1989 aconteceu a consagrao do tem-plo atual, o stimo Grande Templo dotrabalho gnstico. Anteriormente, asConferncias de Renovao ocorriamem Zurique.

Entre as duas guerras, esse hotel eraconsiderado o mais amplo e confort-vel da Sua. Durante sua construochegava-se a ele por uma trilha poronde subiam burrinhos carregados demateriais de construo. A rainha Eli-zabeth da Inglaterra ficou nesse hotelquando pequena, e a imperatriz da -ustria, Sissi, tinha a sua residncia. Em1899 foram acrescidos um andar eduas torres. O hotel tem 400 quartos esalas. Em 1947, ele foi comprado pelaUnio do Rearmamento Moral e, em1978, pelo Lectorium Rosicrucianum.Por causa do estado deteriorado e dameta almejada, foi necessrio realizarreformas indispensveis: foram res-taurados o telhado, o elevador, as

fachadas, escadarias, quartos e corre-dores, bem como o aquecimento cen-tral. Foi construdo um galpo subter-rneo utilizado como garagem. Novosprojetos relacionados com os sanit-rios e o aquecimento so difceis de serbem resolvidos.

Muito rapidamente o primeiro tem-plo, provisrio, revelou-se muito pe-queno e foram feitas plantas para oconjunto templrio exterior ao prdioprincipal. Essa magnfica construofoi consagrada dia 22 de janeiro 1989por Catharose de Petri.

No campo de trabalho brasileiro

Com a unificao nacional dos te-mas das palestras, o Trabalho Pblicobrasileiro tomou um novo impulso.Em muitas cidades palestras foramrealizadas, tambm fora do mbito daEscola. Em 2003, novas salas de con-tato foram instaladas em Jundia eRibeiro Preto. Em Goinia, Salvadore num lindo local na Vila Madalenaem So Paulo, as palestras das quar-tas-feiras foram iniciadas.

Graas ao empenho e unidade degrupo dos alunos de Patos de Minas,a doaes e ao financiamento da fun-dao internacional, foi possvel com-

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prar um terreno de aproximadamentedez mil metros quadrados para a Es-cola. Dessa forma, a rea templria es-t agora protegida tanto na parte pos-terior como na lateral.

A mesma dedicao ocorre em Vi-tria, onde os alunos se empenham nareforma da futura sede do Ncleo deVitria, para inaugur-lo em 2004.

Tambm em Manaus os alunos tra-balham ativamente para a transforma-o de sua sala de contato em Ncleode Manaus.

O templo de Lorena, inauguradoem 2002, teve sua fachada e a varandade 160 m2 terminadas.

Para os obreiros de Fortaleza, 2003foi muito dinmico, com muitas via-gens a Macei, Teresina, Recife e JooPessoa, com a realizao de palestras,servios templrios e atividades damocidade.

Ampliao do ncleo de Bonn,Alemanha

Durante um ano, os alunos do N-cleo de Bonn no pararam de cons-truir e de pintar, para tornar seu ncleocompatvel com sua misso. O antigoprdio havia se tornado pequeno. Emnove anos de atividade, o nmero dealunos aumentou cinqenta por cen-to. Dia 21 de setembro de 2003, o no-vo ncleo abriu suas portas no HoheStrass, de acesso fcil. Os cerca de du-zentos convidados que vieram para ainaugurao ficaram um pouco aper-tados na nova oficina templria, ques conta com cento e sessenta lugaressentados.

Reconstruo do ncleo de Milo, Itlia

Em Milo, a primeira palestra p-blica do Lectorium Rosicrucianumocorreu em setembro de 1981 e emdezembro de 1983 foi a consagrado oprimeiro ncleo da Itlia. Em 1989,um novo ncleo foi adquirido nessa

Convite para a

inaugurao do

Ncleo de Milo,

Itlia.

28

Ncleo de Bonn,

Alemanha.

cidade e adaptado, tendo em vista asConferncias de Renovao que acon-teceram ali at 1995. Depois disso, LaNuova Arca, em Dovadola, tornou-seo Centro de Conferncias Nacional.Como o ncleo de Milo ficou, ento,muito grande, buscou-se um novo locale, em 25 de setembro de 2003, os alunositalianos, e em especial os de Milo,abriram as portas do lindo novo ncleo.

preciso pedras vivas paraconstruir o Templo

Esta divisa presidiu a celebrao dosdez anos de existncia do ncleo deEindhoven, na Dierenriemstraat, no dia16 de setembro de 2003. Muitos alu-nos e membros da Escola assim comoos construtores da primeira hora seencontraram em torno de um buf friopara fazer uma retrospectiva do passa-do e lanar um olhar no futuro. Nodomingo 21 de setembro houve outrafestividade para a qual foram convida-dos todos os habitantes do bairro.

O trabalho de Eindhoven comeouno dia 9 de setembro de 1979 em umaantiga fbrica situada na Kleine Berg,onde foi realizado um dos desejos maisexplcitos de J. van Rijckenborgh. Eleconsiderava a regio de Brabant como

uma cabea-de-ponte para a difusoda Escola Espiritual em direo ao sul.

Aquisio de um Centro deConferncias em Oristano,Sardenha

Em setembro de 1997, os alunos daSardenha haviam alugado uma cons-truo modesta, em Oristano, paraevitar fazer a cada vez a longa viagemat o Centro de Conferncia La Nuo-va Arca, em Dovadola. Um pequenotemplo foi a consagrado para Con-ferncias locais, mas faltavam dormi-trios. Ento, esse pequeno ncleo foicomprado e totalmente reformado.

Em tua Luz contemplamos a Luz

No Centro de Conferncias Reno-va, aproximadamente quatrocentos e

Jardim do ncleo

de Eindhoven,

Holanda.

Alojamentos

em Oristano,

Sardenha.

A torre de Babel.

Athanasius

Kircher,

Amsterdam, 1679.

Alojamentos

em Melbourne,

Austrlia.

cinqenta convidados assistiram, emnovembro, a um simpsio sobreRobert Fludd (1574-1637), tambmconhecido como De Fluctibus, odefensor da herana hermtica dosrosacruzes clssicos. Fludd consa-grou uma grande parte de sua vida

redao de comentrios e defesa daFraternidade da Rosacruz. Em todasas suas publicaes, ele se destacavapor um conhecimento enciclopdicosobre as leis do macrocosmo e domicrocosmo. Uma projeo de slidesmostrou claramente at que pontosua viso das coisas era justa e uni-versal e quanto sua obra e seu enga-jamento contriburam para a trans-misso da sabedoria, muitas vezesincompreendida, da Rosacruz.

Um templo provisrio emMelbourne, Austrlia

Os alunos da Austrlia alugaramum pequeno espao para servir detemplo e fazer nele Conferncias deRenovao.

Dante e a Torre de Babel

Em Graz, capital cultural da Eu-ropa 2003, houve uma bela represen-tao teatral sobre o tema da Torre deBabel. Ao mesmo tempo, os alunos aus-tracos organizaram uma projeo deslides sobre A divina comdia. Essasduas manifestaes estavam em per-feita harmonia entre si. Pode-se conje-turar se a forma em espiral da torre,

No livro de Fludd, Summum Bonum (1629) (O Bemsupremo), aparece uma representao da Rosacruzsob a forma de uma rosa com sete vezes sete ptalas,cercada de colmias e teias de aranha. Uma abelhaest sobre uma rosa, uma outra voa em direo a ela.No fundo, direita, encontram-se quatro colmiascercadas de abelhas, esquerda uma cerca coberta deteias de aranha. Essa ilustrao tem por legenda: Arosa d seu mel s abelhas. A rosa representa a forae a sabedoria da Rosacruz. A abelha simboliza ozelo. Ela deposita o mel na colmia, onde se alimentaquando os tempos so difceis. As operrias traba-lham para sua rainha. Elas sacrificam sua vida paraas prximas geraes. possvel ver a a imagem deuma meta sublime.O inverso da abelha a aranha. Esta tece sua teiacomo a abelha forma os raios de sua colmia. Ela noa tece para acumular o doce mel da rosa, mas parasugar at a morte os insetos capturados. O que a ara-nha produz um veneno mortal, enquanto a abelhaelabora a vida nova.

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que aparece em ilustraes dos sculosXV, XVI e XVII no corresponde dupla espiral do Inferno e do Purgat-rio de A divina comdia de Dante. Arelao tornou-se flagrante graas aosslides e aos comentrios que foramacompanhados com grande ateno.

Novos desenvolvimentos nos Blcs

Neste ltimo ano foram inaugura-dos dois ncleos: em Maribor e emBelgrado. O nmero de alunos e deinteressados est crescendo rapida-mente e planos para novas ampliaesesto sendo desenvolvidos. Esto sen-do preparados uma nova oficina tem-plria e dormitrios.

Koszalin, quarto ncleo na Polnia

Oito de janeiro de 2004: os 35 alunosdo norte da Polnia possuem final-mente um ncleo. Ele est situado emKoszalin, no mar Bltico, entre Szc-zecin e Gdansk. Como a maioria per-tencia ao ncleo de Vroclav, precisa-vam viajar 415 km para assistir s reu-nies e aos servios templrios. Suaalegria com esse novo local moderno eiluminado grande. consagrao pormembros da Direo Espiritual Inter-nacional, assistiam o Presidium e alu-nos dos trs outros ncleos poloneses.Havia um magnfico buf nesse dia,assim como na vspera, dia de portasabertas, no decorrer do qual muitosconvidados, entre os quais represen-tantes das autoridades locais, vizinhos,famlia e amigos dos alunos se benefi-ciaram de palestras sobre a Escola Es-piritual e sobre as tradies gnsticasda Polnia. Para encerrar esse dia, umaluno polons deu um concerto dedi-cado msica de Chopin.

Inaugurao do Ncleo de Rennes, Frana

Rennes tem agora um belssimo n-cleo, cercado por um amplo jardim.No dia 24 de junho de 2000 foi desati-vado o ncleo da rua Vasselot. Em no-vembro de 1999, os alunos haviam ad-quirido um terreno e comearam atraar planos. Em forma de Pentagra-ma, o templo previsto para 50 pessoas,com possibilidade de expanso paraconter 80, ocupa agora o corao doprdio. consagrao dessa oficina detrabalho no oeste da Fran-a, dia 3 de janeiro 2004,assistiram alunos holande-ses, suos e franceses.

O novo ncleo

de Rennes,

Frana.

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Planta do

Ncleo de

Koszalin,

Polnia.

Todos j provaram a grande influnciada msica, que tanto pode ser sublimequanto diablica. Ela tambm tantocapaz de inspirar a paz ou a alegriaquanto de deixar depressivo. A msicade base catica perturba a alma.

m ns e ao nosso redor, o barulhono cessa, e sons de diferentes foras ealturas escapam nossa conscincia.Ns estamos habituados a eles. O cor-rer da gua, o canto de um pssaro, sonsde passos, o tilintar do vidro, o rangerde uma porta, o ronco dos motores, avoz humana, todos esses rudos for-mam o pano de fundo de nossa vidadiria. O silncio tambm ressoa, mes-mo que a vibrao seja totalmente di-ferente. O cosmo tem igualmente umacerta sonoridade; o universo inteiro emi-te um hino alegria, mas nosso ouvi-do no est em condio de perceb-lo.

O cosmo est sujeito lei da har-monia. Conscientemente ou no, to-das as criaturas sentem que h umarelao entre sua vida e a dos deuses.Desde o remoto passado tudo mostraao homem que romper a harmoniadessa troca entristece o cu e irrita osdeuses. por isso que as vibraesemitidas pelas criaturas devem corres-ponder s da criao.

Os sons, entre si, esto na mesmarelao que as foras. O acorde har-monioso dos sons age de modo po-tente e positivo; as dissonncias per-turbam e destroem. Em A doutrina

secreta, H.P.Blavatsky escreveu: Pit-goras considerava a Divindade, o Lo-gos, como o centro da unidade e a fon-te da harmonia [...] Por essa razo, es-perava-se dos candidatos que estudas-sem aritmtica, astronomia, geometriae msica como preparao suaadmisso aos Mistrios [...] Os pitag-ricos afirmavam que o mundo foi for-mado, a partir do caos, por sons orde-nados segundo uma certa harmonia,segundo as leis das relaes musicais,que os sete planetas evoluiriam emharmonia e que o valor dos intervalosentre os diferentes sons musicais, quedeterminam seu acorde, produz a har-monia perfeita, uma msica na qual asublimidade nos inaudvel pois nos-sos ouvidos no esto adaptados a ela.

Pitgoras considerava a msica co-mo sons em movimento, entrecortadosou ininterruptos. Esses sons se ajus-tam segundo o tom e o modo. Os in-tervalos esto em relao com o de-senvolvimento espiritual dos seres hu-manos e com a harmonia do cosmo.Para Pitgoras, a distncia da Terra Lua representa um tom. Da Lua a Mer-crio e de Mercrio a Vnus h umsemitom; de Vnus ao Sol, um tom emeio; do Sol a Marte, um tom; de Mar-te a Jpiter e de Jpiter a Saturno, umsemitom; e de Saturno ao Zodaco, umtom e meio. Esses tons formam juntosuma oitava, base da harmonia universal.

Na Grcia antiga, a msica e os deu-ses estavam em estreita ligao. Apolotrazia uma lira como smbolo de sua

A msica das esferas

32

E

vitria sobre o caos. Quando ele toca-va, todas as criaturas ficavam ensimes-madas a ouvi-lo, todos os conflitos emesmo as guerras eram interrompidos,ries (Marte) cessava de fazer corrersangue. A msica de Apolo elevava oesprito dos homens e lhes dava paz dealma. A alma que experimenta a har-monia contempla o cosmo (cosmo sig-nifica ordenao). Nos mistrios rfi-cos aparece Dionsio, que leva o homemao xtase. Segundo J. van Rijckenborgh,Dionsio o terrvel guardio do Es-prito. Quem estuda esse personagempode afirmar, com grande seriedade,que ele encarna a atividade do EspritoSanto, o Esprito que, como um ventode tempestade, sopra sobre o mundopara acordar os seres humanos detodos os lugares (A Pedra do Cume,abril de 1976).

Um dia, o stiro Marsias, que sim-boliza a humanidade metade animal,metade deus encontrou uma flautaenviada por Atenas. Ele comeou atocar e decidiu imediatamente que na-da o impediria de se equiparar a Apo-lo. Sua audcia foi duramente punida,pois ningum pode sobrepujar Deus esua msica. Orfeu, que com sua melo-dia subjugava homens e animais, per-sonificava o ser que compreende aharmonia divina. Seus poderes espiri-tuais eram to grandes que mesmo osespritos infernais se calavam paraouvi-lo. Ele podia atravessar os infer-nos porque se fazia acompanhar desonoridades divinas e estava destitu-do de medo.

No princpio era o Verbo

Deus, criador desconhecido douniverso, imprimiu nos tomos mate-

riais um movimento que emite umsom. No Primeiro Livro de Pimandro(versos 9 a 10), Hermes Trismegistodeclara: Pouco depois surgiu, numaparte dela, horrvel e sombria escuri-do, que se movia para baixo e giravaem espirais tortuosas, tal como umaserpente, segundo me pareceu. Ento,essa escurido transformou-se numanatureza mida e indizivelmente con-fusa, da qual se levantou uma fumaacomo a que provm do fogo, ao passoque ela produzia um som como de umindescritvel gemido. Ento, da midanatureza ressoou um grito, um cha-mado sem palavras, que comparei voz do fogo, enquanto que da Luz sepropagou sobre a natureza um santoVerbo, e um fogo puro ergueu-se ful-

33

A msica das esferas.

Ilustrao de Robert

Fludd em Utriusque

Cosmi, 1617.

gurando da natureza mida, fogo su-til, impetuoso e poderoso.

No estrato terrestre dos arquti-pos (J.v. Rijckenborgh, , O adventodo novo homem, So Paulo, cap. 8) en-contram-se os arqutipos de todas ascriaturas. Cada arqutipo vibra e emi-te um som que lhe prprio. Os to-mos que o arqutipo atrai se agrupamsegundo essa vibrao e constituemuma forma que lhes particular, deacordo com o plano vivente e vibran-te de Deus relativo a cada ser huma-no. pelo arqutipo que podemossentir a harmonia divina e nos mani-festar verdadeiramente.

Cada criatura possui sua prpria nota fundamental

Anteriormente comparamos o serhumano com um instrumento musi-cal. Ele no est consciente disso por-que esse instrumento est em to mauestado que no pode produzir a justasonoridade da harmonia divina. Nocrebro encontram-se sete cavidadesrepletas de teres, cada uma emitindouma entonao de acordo com os tonsda gama stupla. E cada ser humanopossui sua prpria nota fundamental.

Todas essas modulaes tm umatarefa a cumprir, de acordo com seulugar no plano divino. Quando ascavidades cerebrais esto preenchidasde teres terrestres, elas no esto emcondio de reagir ao chamado docampo de vida original. O fogo ser-pentino que, para continuar a analo-gia, pode ser considerado como o dia-paso pessoal de cada um, no emite apura sonoridade e cada ser humanofaz soar uma nota falsa. Se ele no po-de soar de acordo com a harmoniadivina, no pode fazer outra coisa se-no se manifestar em dissonncia e,para ele, uma vida superior est forade questo. Entretanto, sua reminis-cncia lembra-o de que seu ser ressoa-va, antigamente, de acordo com a har-monia das esferas. Podemos conside-rar a msica em geral como uma rea-o a essa reminiscncia.

Pitgoras comeava o dia com msica

Porfrio, o bigrafo de Pitgoras,conta que este ltimo comeava seuscursos tocando a lira e cantando anti-gas melodias, a fim de fazer esqueceras mgoas, acalmar a irritao e apazi-guar as paixes, e tambm para reve-renciar os deuses. As sonoridades

34

Pitgoras

demonstra seu

ensinamento

musical. Gravura

em madeira em

Theorica musica

de F. Gaffario,

Milo, 1492.

35

harmoniosas agem direta e positiva-mente sobre os teres, concorrendopara o justo acorde das sete notas dosistema de cada indivduo e atraindoas foras correspondentes. Encon-tramos as mesmas prticas nas reli-gies de todos os povos, h sculos.

Como as condies etricas so es-pecficas para cada raa, os instru-mentos e formas musicais so diferen-tes. Em certas regies domina o rit-mo, em outras, a melodia. Cada povotem sua prpria msica, mas isso noquer dizer que ela esteja de acordocom a harmonia divina e que tenhaefeitos positivos.

possvel retornar harmonia original?

A vida divina est sempre minima-mente presente no ser humano comocentelha provinda do domnio origi-nal. Podemos reanimar e inflamar no-vamente essa centelha se, como uminstrumento musical, nos ajustamos harmonia divina. Ento voltamos anos ligar fora de Cristo, cuja notafundamental o amor divino. Pode-mos visualizar isso como uma cordaque vibra continuamente, embora,evidentemente, no incio esse aindano seja o caso. Esse processo de vi-brao em acorde perfeito acompanhaa transmutao de todo o ser a fim deque surja uma nova conscincia, umaconscincia gnstica. Ento poderser dito que o homem voltou a se tor-nar um instrumento musical que par-ticipa da harmonia original das esfe-ras. J.van Rijckenborgh descreve esseprocesso no primeiro tomo de AArquignosis egpcia, So Paulo, 1984,p.21: Quando a conscincia hermtica

dirige-se ao Esprito e desse modo oesprito-fogo acende-se, no foco doencontro forma-se uma estruturaluminosa de linhas de fora (como emuma flama red.). ento que ohomem hermtico encontra Piman-dro. E dessa estrutura de linhas de for-a que assim se formou flui uma vibra-o para o interior do homem herm-tico. Esta vibrao tem um som e umacor, os quais esto em perfeita harmo-nia com o propsito do homem herm-tico de elevar-se ao Campo do Es-prito. E, deste modo, esta manifesta-o, este encontro, adquire uma carac-terstica muito especial. S deste modo que Deus fala ao homem. Este oencontrar e ouvir o Nome Inefvel.

possvel que um compositor ou musicista aben-oado pela Gnosis possa servir como ponto focalpara as irradiaes que emanam da harmoniadas esferas, dos ncleos da melodia primordialstupla. Por isso, atravs de gnio musical, cadatom pode ser emitido em toda sua pureza, porm digamo-lo francamente a esfera divina difi-cilmente se deixa circunscrever. Para poder julgarse toda a plenitude gnstica est refletida nesteou naquele repertrio musical clssico elevado,seria necessrio, no mnimo, conhecer o contedode toda a plenitude gnstica.

(Trecho tirado de Cartas, Catharose de Petri, So Paulo: Lectorium Rosicrucianum, 1987)

m busca do Espritoavanava penosamente nas areiasde solides desrticas.Alcancei a extremidade de meu pas.Um anjo, guarnecido de seis asas,ergueu-se diante de mim.

Com as pontas de seus finos dedos de luz,ele tocou meus olhos;minha vista turvou-se como num sonhoe, repentinamente, por um novo dom,minha conscincia iluminou-se.

Mal o anjo roara-me os ouvidos,um oceano de clamores de abalar os cusengoliu-me, e eu pude, desde ento, ouviro elevado vo dos anjos no firmamento,o lamento das criaturas ancoradasnos abismos escuros,como o longnquo vibrar de sarmentoscarregados de promessas.

Depois, inclinando-se sobre mim,ele arrancou minha lngua mpia,abundante fonte de malcia,de impostura e de orgulho,infligindo-me um horrvel ferimento.Com sua destra ensangentada,ele enfiou em minha boca moribundao aguilho da sabedoria.

Com um golpe de seu gldio cortante,ele abriu-me o peito e empunhou meu corao todo palpitanteantes de depositar em meu seiouma centelha do fogo divino.Meu corpo jazia, morto, no deserto.

Ouvi, ento, a voz de Deus ressoar:Levanta-te, profeta, levanta-te e v.Pe-te a caminho. Percorre as terras e os mares.Anuncia minha Palavra aos coraes dos homens.(Traduo Pentagrama)

O ProfetaAlexandre Puchkin (1799-1837)

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O profeta. Bronze de Pablo Cargallo,1933.

direita: Serafim de seis asas, cada uma representando uma virtude.

Pintura sobre pergaminho. Bibliothque de lArsenal, Paris.

E

Nikolai Berdiaiev, nascido em 6 de mar-o de 1874, em Kiev, foi um dos pensa-dores russos mais incisivos e radicais.Ele era tido como o Filsofo da Li-berdade. A liberdade era a fonte de seupensar, de sua inquietude e de sua per-severana. Em funo de seu indefect-vel amor liberdade ele se tornou umpensador radical. A Rssia dos tzares oexilou e a dos comunistas o expulsou.

pesar de tudo, sua ligao com aigreja ortodoxa russa sempre perma-neceu profunda. A igreja no sabia sedeveria aceit-lo como filho crenteou bani-lo como herege. Da Ale-manha, onde fundou em Berlim umaacademia filosfico-religiosa, ele che-gou Frana, onde veio a falecer em1948. Ele se tornou mundialmente co-nhecido por seus muitos livros tradu-zidos em vrios idiomas. Hoje, exata-mente na Rssia, esses livros experi-mentam um renascimento atravs dereedies. Sua interpretao da liber-dade foi o resultado de seu profundoautoconhecimento e de suas anlisessobre o sentido da existncia humana.Ele escreve: Liberdade pressupe aexistncia de um princpio espiritualque no determinado pela naturezanem pela sociedade. Liberdade umprincpio espiritual no ser humano.Quando o ser humano totalmentedominado pela natureza e pela socie-dade nenhuma liberdade possvel.

Em seu livro Autoconhecimento Ber-diaiev escreve: Eu te amo, oh eterni-

dade, diz Zaratustra. O mesmo eudisse a mim mesmo a vida inteira. Anada podemos amar, seno to so-mente eternidade, e com nenhumoutro amor podemos am-la seno como amor eterno. No existindo a eterni-dade, absolutamente nada existe. Oesprito pede pela eternidade. A mat-ria, porm, somente conhece o tempo-ral. Para Berdiaiev o motivo de todafilosofia no o ser, mas sim a liberda-de. A liberdade, no entanto, provocasofrimento. Ela um impulso interiorque surge to logo limitaes so im-postas. Muitas vezes essa liberdade um bem natural, simples e evidente,

Nikolai Berdiaiev o filsofo da liberdade

38

O saber necessrio para nos defen-dermos das potestades negativas danatureza. No somente um sabermecnico, qual um escudo tcnico,mas tambm um saber da vidainterna do cosmos, da estruturainterna do mundo. Para esse saber oser humano precisa estar preparadoespiritualmente. Ele deve possuir amente crstica, no a mente naturale racional sobre a qual fala o conc-lio do vaticano, porm uma menteiluminada. Ento o ser humano nocorre mais o perigo de ser rasgadoem pedaos pelas foras csmicas ecair no poder dos demnios. AGnosis crstica repousa na aquisioda mente crstica, do saber humano-divino em Cristo e atravs deCristo.(Do livro: Liberdade e Esprito)

A

porm pode tambm ser um fardo in-conveniente que jogado fora de bomgrado na esperana de aliviar o desti-no. Para Berdiaiev liberdade umafora de uma totalmente outra dimen-so, algo transcendente. Ele escreve:A liberdade humana consiste no fatode existir fora do reino de Csar nos-so mundo estruturado pelo poder oreino do Esprito. A existncia de Deus revelada na existncia do esprito nohomem. E Deus no se iguala forada natureza e menos ainda ao poderda sociedade e do Estado.

Toda a vida de Berdiaiev foi acom-panhada de uma forma especial de t-dio doloroso do mundo. No era atristeza de um ser humano que sentefalta de algo ou que perdeu algo. Noo afligia a falta de algum bem materialterreno especfico. Esse tdio dolo-roso do mundo tambm no era me-lancolia e nem fruto de seu tempera-mento. Ele mesmo o denominou co-mo uma saudosa dor pelo transcen-dente. Essa dor era a constante com-panheira que estimulava seu desen-volvimento espiritual. Muitas vezesela se tornava cheia, qual mar, torna-va-se forte e mais forte, para entovazar. Essa dor do mundo muitasvezes tornava-se muito mais intensaquando ele experimentava momentosde grande felicidade. Exatamente nes-ses momentos ele se lembrava espe-cialmente do sofrimento da vida. EmO sentido da Histria (1950) ele assimexpressa a causa da dor: Isto , enfim,a questo entre a relao de tempo eeternidade. Existe como que uma opo-sio sem trgua entre tempo e eterni-dade, e nenhuma conexo poder serestabelecida entre eles. O tempo co-mo que a negao da eternidade, umestado que no possui nenhuma raizna vida eterna.

Em suas obras, Berdiaiev muitas

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O filsofo russo

Berdiaiev.

Nikolai Alexandrovich Berdiaievnasceu em Obuchovo (estado deKiev) em 6 de maro de 1874. Sob a influncia do filsofo religiosoVladimir Soloviev, ele se ocupou dequestes religiosas. Em 1919, fundoua Academia Moscovita Livre para aCultura Espiritual. Em funo desuas atividades inimigas ao idealis-mo comunista foi expulso da UnioSovitica em 1922, fixando-se em Berlim, onde fundou aAcademia de Filosofia das Religiese teve uma participao considervelna estruturao do InstitutoCientfico Russo em Berlin. Em1924, mudou-se para Paris, ondeigualmente inaugurou a Academiade Filosofia das Religies. Faleceuem 23 de maro de 1948, emClamart, Paris.

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vezes denomina o homem de micro-cosmo, no qual esto compreendidasestruturas do divino, do terrestre, dohumano e do pessoal. Interessavam-lhe o desenvolvimento e o objetivo dohomem e a poca na qual este vivia.Nunca me interessou a pesquisa domundo tal qual ele , porm o destinodo mundo e o meu prprio. A mim in-teressam, portanto, a finalidade dascoisas. Minha filosofia no cientfica,porm proftica e escatolgica quanto sua classificao [...] Trinta anos atrseu imaginava saber muito mais do queacredito saber hoje, no nvel atual demeus conhecimentos [...] Eu principio asaber que nada sei (Autoconhecimen-to, 1950). Ele sempre via todas as ex-perincias, consigo mesmo e com aspessoas de sua poca, tendo como pa-no de fundo a evoluo at o homem-divino: Nos homens, um eu inferior eum eu superior muitas vezes me decep-cionaram; eu experimentei muitas bai-xarias, mentiras, armadilhas, dureza decorao, traio, inmeras decepesnas relaes com os seres humanos, efui eu mesmo o causador e o culpadodessas decepes [...] E mesmo assim eupreservei a f no plano de Deus com oshomens (Autoconhecimento).

Autoconhecimento para Berdiaievo instrumento que permite a viagempara o imutvel. O Homem conhece-te a ti mesmo o incio de todo pen-

sar filosfico que inicia com o autoco-nhecimento e avana em direo aoconhecimento do homem e do mun-do. Ele descreve a essncia de seuautoconhecimento da seguinte forma.Eu descubro o significado de meu pen-samento existencial quando compreen-do que h dois caminhos: o caminhoda objetividade e o da transcendncia.No primeiro somos prisioneiros de umpoder perfeitamente fantasmagrico emacio, e no segundo estamos no cami-nho da transcendncia em direo aum mundo transfigurado e liberto, omundo divino. No somente o pensa-mento criativo, porm a paixo criado-ra e o sentir apaixonado tm de abrir aconscincia petrificada e torn-la flui-da ao mundo objetivado por ela. Eupude me manter no mundo sem meapoiar em nada a no ser na busca pelaverdade divina (Autoconhecimento).

Na histria, bem como na natureza,ex