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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 031.529/2010-0 GRUPO II – CLASSE IV – Plenário TC 031.529/2010-0 [Apenso: TC 023.585/2006-5] Natureza: Tomada de Contas Especial Órgão/Entidade: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – Dnit Responsáveis: Rui Barbosa Egual, Laércio Coelho Pina, Eduardo Calheiros de Araújo, Antônio Carlos de Melo Vitório e Construtora Sanches Tripoloni Ltda. Advogados constituídos nos autos: Luis Justiniano de Arantes Fernandes (OAB/SP 119.324 e OAB/DF 2.193/A), Eduardo Rodrigues Lopes (OAB/DF 29.283) e outros. SUMÁRIO: FISCOBRAS 2006. TOMADA DE CONTAS ESPECIAL INSTAURADA EM DECORRÊNCIA DO ACÓRDÃO 2.587/210-TCU-PLENÁRIO. OBRAS DE REFORÇO E RECUPERAÇÃO DA PONTE MARECHAL RONDON EM CÁCERES/MT. PROGRAMA EMERGENCIAL DE TRAFEGABILIDADE E SEGURANÇA NAS ESTRADAS (PETSE). CONSTATAÇÃO DE IRREGULARIDADES NA EXECUÇÃO DAS OBRAS. CITAÇÃO DOS RESPONSÁVEIS. ACOLHIMENTO PARCIAL DAS ALEGAÇÕES DE DEFESA. CONTAS IRREGULARES. DÉBITO. MULTA. RELATÓRIO Adoto como relatório a instrução elaborada no âmbito da Secretaria de Fiscalização de Obras Aeroportuárias e de Edificação (SecobEdif) acostada à peça 41: “I. INTRODUÇÃO Trata-se de tomada de contas especial constituída em razão do Acórdão 2.587/2010 – Plenário em virtude de suposto superfaturamento constatado nas obras de reforço e recuperação da Ponte Marechal Rondon sobre o Rio Paraguai, na BR-070/MT, situada em Cáceres/MT, sob a responsabilidade do Dnit. 2. Dentre outras, foram apuradas as seguintes irregularidades na obra, justificando a instauração da presente TCE: sobrepreço no serviço de execução de estacas-raiz, perfazendo um prejuízo de R$ 1

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GRUPO II – CLASSE IV – PlenárioTC 031.529/2010-0 [Apenso: TC 023.585/2006-5]Natureza: Tomada de Contas EspecialÓrgão/Entidade: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DnitResponsáveis: Rui Barbosa Egual, Laércio Coelho Pina, Eduardo Calheiros de Araújo, Antônio Carlos de Melo Vitório e Construtora Sanches Tripoloni Ltda.Advogados constituídos nos autos: Luis Justiniano de Arantes Fernandes (OAB/SP 119.324 e OAB/DF 2.193/A), Eduardo Rodrigues Lopes (OAB/DF 29.283) e outros.

SUMÁRIO: FISCOBRAS 2006. TOMADA DE CONTAS ESPECIAL INSTAURADA EM DECORRÊNCIA DO ACÓRDÃO 2.587/210-TCU-PLENÁRIO. OBRAS DE REFORÇO E RECUPERAÇÃO DA PONTE MARECHAL RONDON EM CÁCERES/MT. PROGRAMA EMERGENCIAL DE TRAFEGABILIDADE E SEGURANÇA NAS ESTRADAS (PETSE). CONSTATAÇÃO DE IRREGULARIDADES NA EXECUÇÃO DAS OBRAS. CITAÇÃO DOS RESPONSÁVEIS. ACOLHIMENTO PARCIAL DAS ALEGAÇÕES DE DEFESA. CONTAS IRREGULARES. DÉBITO. MULTA.

RELATÓRIO

Adoto como relatório a instrução elaborada no âmbito da Secretaria de Fiscalização de Obras Aeroportuárias e de Edificação (SecobEdif) acostada à peça 41: “I. INTRODUÇÃO

Trata-se de tomada de contas especial constituída em razão do Acórdão 2.587/2010 – Plenário em virtude de suposto superfaturamento constatado nas obras de reforço e recuperação da Ponte Marechal Rondon sobre o Rio Paraguai, na BR-070/MT, situada em Cáceres/MT, sob a responsabilidade do Dnit. 2. Dentre outras, foram apuradas as seguintes irregularidades na obra, justificando a instauração da presente TCE:

sobrepreço no serviço de execução de estacas-raiz, perfazendo um prejuízo de R$ 870.214,72; superfaturamento e sobrepreço no serviço de fornecimento e cravação de camisas metálicas,

gerando um prejuízo de R$ 980.059,80; ausência de desconto de 20% previsto na Instrução de Serviço 2/2006-Dnit para obras

integrantes do Programa Emergencial de Trafegabilidade e Segurança nas Estradas - Petse, e incidência do Adicional de Mão de Obra sobre encargos sociais, resultando em um prejuízo de R$ 616.946,42, relativos a todos os serviços à exceção de estacas raiz e camisas metálicas;

superfaturamento no serviço de monitoramento de tráfego ocasionado pela mão de obra considerada na execução do serviço, considerando o emprego de serventes, ao invés de ajudantes, resultando em prejuízos de R$ 53.797,93;

3. Ante o exposto, a presente instrução tem como objetivo analisar as alegações de defesa apresentadas pelos responsáveis em face às citações determinadas pelo referido Acórdão.

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II. HISTÓRICO

4. No âmbito do TC-002.079/2006-9, foi realizado levantamento de auditoria nas obras rodoviárias emergenciais na BR-070/MT, na ponte sobre o Rio Paraguai, no entroncamento com a BR-174 e a MT-343 (Cáceres) - km 733. 5. As obras rodoviárias emergenciais na ponte sobre o Rio Paraguai faziam parte do Programa Emergencial de Trafegabilidade e Segurança nas Estradas - Petse, tendo sido contempladas com recursos no valor de R$ 10.648.692,00, provenientes de créditos extraordinários abertos pelas Medidas Provisórias nºs 276 e 282/2006. 6. O trecho em questão foi incluído no Anexo I da Portaria nº 357/2006, do Dnit, relacionando os trechos rodoviários que, em razão da situação emergencial em que se encontravam, poderiam ser objeto de contratação direta, por dispensa de licitação, com fundamento no art. 24, inciso IV, da Lei nº 8.666/1993. 7. As obras foram objeto do Contrato n.º 11 017/2006, firmado entre a Superintendência Regional do Dnit no Mato Grosso e a Construtora Sanches Tripoloni Ltda., no valor de R$ 10.261.232,67. 8. Os trabalhos de fiscalização do TCU foram executados no período de 6 a 10/2/2006, com vistas a examinar os serviços de restauração executados pela Construtora Sanches Tripoloni Ltda. na ponte mencionada. 9. A equipe de auditoria encontrou, durante seus trabalhos, algumas irregularidades tais como a realização de dispensa de licitação para execução dos serviços e obras de reforço e recuperação das fundações e estruturas da ponte sem a existência de projeto básico, infringindo o art. 7º, inciso I c/c art. 6º, inciso IX, da Lei nº 8.666/1993. 10. Também não existiam, no processo de dispensa de licitação, especificações técnicas dos serviços a serem executados, infringindo o art. 7º, inciso I c/c art. 6º, inciso IX, alínea ‘c’ da Lei nº 8.666/1993. 11. Ademais, os serviços estavam sendo realizados sem amparo de instrumento contratual, ocasionando insegurança jurídica e imprevisibilidade de fatores inerentes aos serviços executados e aos valores que lhes foram atribuídos. Tal situação infringia o disposto no art. 60, parágrafo único, da Lei nº 8.666/1993, que reza ser nulo e de nenhum efeito o contrato verbal firmado com a administração, salvo nas hipóteses de pequenas compras de pronto pagamento. 12. A planilha orçamentária utilizada como base para o processo de contratação, por dispensa de licitação, era meramente estimativa, não tendo sido apresentadas memórias de cálculo que demonstrem que ela tenha sido elaborada com base em quantitativos propriamente avaliados, como determina o art. 6º, inciso IX, alínea ‘f’ da Lei nº 8.666/1993. Não existiam no processo de dispensa de licitação nem foram apresentadas posteriormente à requisição da equipe as composições de custo unitário dos serviços constantes da planilha orçamentária, infringindo o art. 7º, § 2º, inciso II, da Lei 8.666/1993. 13. Também não foi demonstrado que os preços unitários constantes dessa planilha estimativa fossem inferiores a 80% daqueles obtidos pela aplicação do Sistema de Custos Rodoviários - Sicro, como determina o art. 1º, § 1º inciso II, da Instrução de Serviço nº 2/Dnit, de 7 de janeiro de 2006. Para a utilização dos recursos extraordinários do Petse, era necessário que os preços unitários atendessem às exigências das Instruções de Serviço nºs 1 e 2 do Dnit, que são preço global não superior ao Sicro, e preços unitários com valor máximo de 80% do Sicro, salvo justificativa do coordenador da Unit, devidamente homologada pelo Diretor de Infraestrutura Terrestre. 14. Constatou-se também a ausência de apropriações diárias dos materiais e da mão de obra utilizados nos serviços emergenciais de difícil quantificação posteriormente a sua execução. O serviço de grauteamento das estacas, executado em caráter emergencial no período de 25/11 a 8/12/2005, não estava quantificado pelo Dnit na data da vistoria. Na ocasião, o Dnit limitou-se a informar que foram utilizados 2,5 t de grout. Como a mão de obra e os materiais não foram levantados diariamente pela fiscalização, não havia como verificar se o quantitativo de grout informado pela empresa, para

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posterior medição, seria integralmente utilizado na obra. 15. Após o exame das audiências determinadas pelo Ministro-Relator do TC-002.079/2006-9, o Tribunal julgou a fiscalização por meio do Acórdão 1.664/2006 – Plenário, rejeitando as razões de justificativa apresentadas pelo Sr. Laércio Coelho Pina, Superintendente Regional do Dnit no Estado de Mato Grosso, e aplicando-lhe multa no valor de cinco mil reais, em virtude da ausência de cobertura contratual durante a execução das obras, em afronta ao art. 60, parágrafo único, da Lei nº 8.666/1993. 16. No entanto, outras questões suscitadas na fiscalização ficaram pendentes, entre as quais a avaliação da adequação dos projetos básico e executivo às sondagens realizadas posteriormente e o exame do preço global ofertado pela Construtora Sanches Tripoloni Ltda., no processo de dispensa de licitação. Assim, o referido Acórdão também trouxe as seguintes deliberações:

9.4. determinar à SECEX/MT que converta os presentes autos em processo de monitoramento, a ser instruído com a participação da Secob, visando verificar, em especial: 9.4.1. a validade dos projetos básico e executivo elaborados para execução dos serviços emergenciais de recuperação e reforço da ponte Marechal Rondon, em consonância com os resultados dos serviços de sondagem realizados; 9.4.2. a coerência do cronograma físico-financeiro estabelecido, a procedência da composição de preços unitários e o orçamento apresentado, bem como se as memórias de cálculos demonstram os quantitativos a serem executados, com a finalidade de examinar as medições e os correspondente pagamentos efetuados; 9.4.3. a legitimidade/legalidade da contratação de serviços, sob a alegação de situação emergencial, no bojo da obra de recuperação da ponte Marechal Rondon - rodovia BR 070/174/MT, tendo em vista sinais veementes do aproveitamento indevido da intervenção na ponte, deixando-se com isso de promover a regular licitação de vários itens de serviços que não deveriam ser executados com dispensa de licitação fundamentada no art. 24, inciso IV, da Lei nº 8.666/1993, a exemplo dos itens “Recuperação do Tabuleiro - Pavimentação - Sobrelaje e Guarda-Corpos”; “Demolição e Reconstrução das Cortinas das Extremidades e Consoles”; “Recuperação da Cortina Atirantada”; “Execução de Consoles e Implantação de Aparelhos de Apoio de Neoprene”; “Recuperação da Mesoestrutura”; “Recuperação e Reforço da Superestrutura”; e “Execução de Lajes de Transição”, perfazendo valor da ordem de R$ 3.353.005,44 (aproximadamente 33% da obra), pois somente deveriam ser considerados urgentes os reparos na base de sustentação da aludida ponte, a recuperação e reforço das sapatas e estacas de fundação, ou seja, o item “Recuperação e Reforço da Infraestrutura”; 9.4.4. a viabilidade do preço de R$ 440.000,00 estipulado para o item “Instalação, mobilização e desmobilização”, analisando ainda se parte do serviço de mobilização está sendo cobrado em duplicidade, tanto no item “Serviços Gerais” como no “Instalação, Mobilização e Desmobilização”; 9.4.5. a procedência do custo total apresentado pela Construtora Sanches Tripoloni Ltda., cotado no valor de R$ 10.261.232,67, a preços iniciais, dos serviços de restauração da ponte Marechal Rondon, que possui 300 metros de comprimento, enquanto essa mesma empresa foi contratada pelo Dnit para construção de uma ponte, na rodovia BR-174, divisa MT/AM, sobre o rio Guaporé, com extensão de 176 metros de comprimento, ao preço global de R$ 4.176.715,75; 9.4.6. a pertinência dos valores contratados em relação ao serviço de monitoramento e controle de tráfego, no período de 24 horas, na ponte Marechal Rondon;

17. O Sr. Laércio Coelho Pina interpôs pedido de reexame contra o Acórdão 1.664/2006 – Plenário. Todavia, o Acórdão 1.454/2007 – Plenário negou provimento ao referido recurso. 18. Em cumprimento ao monitoramento determinado pelo Acórdão 1.664/2006 – Plenário, foi autuado o TC-023.585/2006-5 pela Secex-MT. Naquela oportunidade, a unidade técnica constatou sobrepreço de R$ 1.260.262,30 na obra, propondo a conversão do processo em Tomada de Contas Especial. Em vista das irregularidades apontadas pela Secex-MT, o Ministro-Relator determinou o pronunciamento da Secob acerca da matéria. 19. Após realização de inspeção no Dnit, em setembro de 2008, a Secob emitiu instrução confirmando as conclusões da Secex/MT quanto ao cálculo incorreto do adicional de mão de obra e à ausência de desconto de 20% nos preços do Sicro 2 para as obras do Petse. A unidade especializada também encontrou indícios de duas novas irregularidades, ambas relacionadas com os dois únicos itens da planilha contratual direcionados ao reforço das fundações da ponte. A primeira dizia respeito ao preço contratual, considerado excessivo, do serviço de execução de estaca-raiz, fixado

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indiscriminadamente na planilha para os trechos livre, em lâmina d’água, em solo e em rocha. 20. A segunda relacionava-se ao item de fornecimento de camisas metálicas utilizadas nas fundações dos pilares localizados na calha do rio. De acordo com o projeto executivo aprovado, que seria pouco mais do que a própria planilha contratada, a camisa metálica deveria ter comprimento médio de dezessete metros, assim distribuídos: um metro para o trecho livre, acima do nível da água, oito metros para o trecho em lâmina d’água e oito metros para o trecho cravado no solo do leito do rio. 21. Na inspeção realizada, a Secob teve acesso a excerto de memória de cálculo de um dos tipos de fundações cogitadas na época da construção da ponte, em 1958, em que a altura da lâmina d’água era fixada em 3,10 metros, menos da metade da espessura considerada na planilha. Seguindo em suas investigações, a unidade encontrou confirmação dessa informação nos dados hidrométricos registrados em estação hidrológica existente junto à ponte, operada pela Companhia de Pesquisas em Recursos Minerais – CPRM. De acordo com esses dados, a média das espessuras anuais máximas verificadas naquele ponto do rio chega a apenas 4,5 metros. 22. Além disso, a unidade especializada não abonou o comprimento de cravação de oito metros previsto no projeto executivo. Entendeu que a cravação se estenderia até apenas dois metros, suficientes para permitir que a camisa metálica cumpra sua função de servir de fôrma para a concretagem das estacas. Com isso, em vez do comprimento total de 1.190 metros previsto no projeto executivo, correspondente a dez camisas de dezessete metros para cada um dos sete pilares molhados da ponte, a extensão correta seria, no máximo, 525 metros, correspondentes a setenta camisas com 7,5 metros de comprimento. O débito daí resultante resultava em R$ 905.684,93. 23. Após análise de nova manifestação dos responsáveis, a Secob-2, nova unidade encarregada da instrução do feito, agravou seu entendimento sobre a matéria, considerando que essa distância era ainda menor do que os 4,5 metros estimados no pronunciamento anterior da Secob. Considerava agora que o comprimento médio de travessia molhada era de apenas 2,6 metros, a despeito de reconhecer que a profundidade máxima da calha era aproximadamente de 1,5 a 2,0 metros maior que os 4,5 metros indicados pelos dados hidrológicos da estação da CPRM. A unidade técnica manteve, ainda, os dois metros de cravação no solo do leito do rio, rejeitando os esclarecimentos dos responsáveis que postulavam os oito metros fixados no projeto. 24. A nova profundidade média do rio apontada pela Secob-2 parte da fotografia 6, presente à fl. 53 do anexo 10 do TC-023.585/2006-5, mostrando o detalhe do bloco de fundação de um dos pilares molhados da ponte. Essa fotografia teria sido tirada em 22/11/2005, quando, de acordo com os dados da estação da CPRM, a profundidade da lâmina d’água, na régua de medição, era de 1,45 metros. Pelas dimensões da estaca, a Secob-2 conclui que as faces inferiores dos blocos de fundação estavam a 2,6 metros, em média, do fundo do rio. 25. Em suma, o raciocínio formulado pela Secob-2 estabelecia que, como a fotografia foi tirada em época de forte estiagem, a imagem deveria mostrar parte maior das estacas, e não apenas cerca de meio metro do topo delas. A suspeita também ganha força diante da defesa apresentada pelos responsáveis, que não encaminharam nem o projeto de engenharia da intervenção, com os desenhos técnicos relativos às fundações, nem qualquer outro elemento técnico relevante, a exemplo da “memória de cálculo do Projeto Executivo”, na qual, segundo os responsáveis estaria demonstrado “o dimensionamento estrutural das estacas-raiz”. 26. Ante o exposto, o Acórdão 2.587/2010 – Plenário determinou a constituição da presente tomada de contas especial, além de fazer as seguintes deliberações, dentre outras:

9.2. nos termos do art. 12, inciso II, da Lei 8.443/1992, c/c o art. 202, inciso II, do RI/TCU, promover a citação solidária dos Srs. Rui Barbosa Egual e Laércio Coelho Pina, na condição de superintendente do Dnit no Estado de Mato Grosso, do Sr. Eduardo Calheiros de Araújo, coordenador de estruturas da DPP/Dnit, responsável pela aprovação do projeto e orçamento, e da Empresa Construtora Sanches Tripoloni Ltda. para que, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentem alegações de defesa ou recolham aos cofres daquela autarquia o débito de R$ 2.521.018,87 (dois milhões, quinhentos e vinte e um mil, dezoito reais e oitenta e sete centavos), decorrente das seguintes irregularidades: 9.2.1. sobrepreço no serviço de execução de estacas-raiz, no valor total de R$ 870.214,72 (oitocentos e

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setenta mil, duzentos e quatorze reais e setenta e dois centavos); 9.2.2. superfaturamento e sobrepreço no serviço de fornecimento e cravação de camisas metálicas, no valor de R$ 980.059,80 (novecentos e oitenta mil, cinquenta e nove reais e oitenta centavos); 9.2.3. ausência de desconto de 20% para obras integrantes do Petse, e incidência do Adicional de Mão-de-Obra sobre encargos sociais, resultando em R$ 616.946,42 (seiscentos e dezesseis mil, novecentos e quarenta e seis reais e quarenta e dois centavos), relativos a todos os serviços à exceção de estacas raiz e camisas metálicas; 9.2.4. superfaturamento no serviço de monitoramento de tráfego, no valor de R$ 53.797,93 (cinquenta e três mil, setecentos e noventa e sete reais e noventa e três centavos), decorrente de alteração de ajudantes para serventes; 9.3. nos termos do art. 12, inciso II, da Lei 8.443/1992, c/c o art. 202, inciso II, do RI/TCU, promover a citação do Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório, supervisor da Unit/Dnit da UL em Cáceres/MT e Fiscal da obra, para que apresente alegações de defesa ou recolha aos cofres do Dnit, em solidariedade com os responsáveis identificados no subitem anterior, a quantia de R$ 727.970,55 (setecentos e vinte e sete mil, novecentos e setenta reais e cinquenta e cinco centavos), decorrente das seguintes irregularidades: 9.3.1. superfaturamento nas quantidades do serviço de camisas metálicas no valor de R$ 651.477,00 (seiscentos e cinquenta e um mil, quatrocentos e setenta e sete reais) [valor correspondente ao produto do quantitativo de camisas metálicas medido a maior (1.190 m - 396 m = 794 m) pelo preço unitário do serviço (R$ 820,50)]; 9.3.2. superfaturamento no serviço de execução de estacas raiz no valor de R$ 22.695,62 (vinte e dois mil, seiscentos e noventa e cinco reais e sessenta e dois centavos), relativo ao consumo de argamassa; 9.3.3. superfaturamento no serviço de monitoramento de tráfego, no valor de R$ 53.797,93 (cinquenta e três mil, setecentos e noventa e sete reais e noventa e três centavos) [alteração de ajudantes para serventes]; 9.4. determinar a promoção de diligência ao Dnit, a fim de que disponibilize todas as medições mensais com respectivas datas de pagamento, inclusive reajustamento, bem como as planilhas demonstrativas mensais de todas as quantidades medidas.

III. EXAME TÉCNICO

27. Os responsáveis foram devidamente citados e apresentaram suas alegações de defesa conforme indicado na tabela a seguir:

Número do Ofício de Citação

Responsável Alegações de defesa apresentadas

1197/2010- TCU/SECOB-2 Rui Barbosa Egual Peça n. 361198/2010- TCU/SECOB-2 Laércio Coelho Pina Peça n. 371199/2010- TCU/SECOB-2 Eduardo Calheiros de

AraújoPeça n. 26

1200/2010- TCU/SECOB-2 Construtora Sanches Tripoloni Ltda.

Peças n. 32, 33, 34 e 35

1201/2010- TCU/SECOB-2 Antonio Carlos de Melo Vitório

Peça n. 29

28. Para melhor entendimento da matéria, a apresentação das alegações de defesa dos responsáveis e a respectiva análise serão segregadas por parcela do superfaturamento imputada aos responsáveis. Posteriormente, são avaliadas em separado as alegações dos responsáveis sobre os aspectos subjetivos da culpa. III.a ausência de desconto de 20% previsto na IS 2/2006-Dnit para obras do Petse, e incidência do Adicional de Mão de Obra sobre encargos sociais 29. Quanto à essa parcela do débito, foram citados os seguintes responsáveis solidariamente com a Construtora Sanches Tripoloni Ltda.: Rui Barbosa Egual, Laércio Coelho Pina, Eduardo Calheiros de Araújo. 30. A Construtora Sanches Tripoloni apresenta as seguintes alegações com relação ao superfaturamento oriundo da não aplicação do desconto de 20% previsto na IS 2/2006-Dnit:

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A obrigatoriedade de concessão de desconto de 20% previsto no normativo do Dnit é de legalidade duvidosa, não encontrando amparo no direito administrativo. Nesse sentido, cita doutrina de Celso Antônio Bandeira de Mello.

A impossibilidade de concessão do desconto foi devidamente justificada, nos termos do art. 1°, III, da citada Instrução de Serviço, inexistindo margem para o desconto sem tornar o contrato deficitário para a empresa.

A declaração de estado de emergência não decorreu da Portaria Dnit 1.806/2005, sendo anterior a ela. Tal situação de emergência para a restauração da Ponte Marechal Rondon já havia sido decretada antes mesmo criação do Petse.

A regra da Instrução de Serviço para utilização dos recursos do Petse desmoraliza o Sicro-2, utilizado para os fins do art. 43, IV, da Lei 8.666/93. Portanto, a empresa que elabora sua proposta coerente com os custos de mercado, não tem condições de oferecer desconto de tal monta. A não ser, como se observou no voto condutor do Acórdão 686/2006 - Plenário, que os preços do Sicro estejam muito acima do mercado, o que constitui premissa da qual este Tribunal não pode partir, tendo em vista que a sua metodologia é justamente voltada a identificar preços de mercado para os insumos em cada região.

O Sicro-2 representa os preços de mercado, sendo que raramente em licitação para serviços de obras rodoviárias alguma empresa oferece para todos os preços unitários a redução proposta da Instrução Normativa.

31. No tocante à incidência de adicional de mão de obra sobre os encargos sociais, a construtora faz referência ao Acórdão 798/2008 — Plenário, que afastou a responsabilização em caso semelhante porque a controvérsia ainda não estava definida até a determinação contida no Acórdão 1.592/2006 — Plenário. Da mesma forma, os parâmetros da presente contratação são anteriores à definição do TCU a respeito da incidência de adicional de mão de obra sobre os encargos sociais, razão pela qual deve ser afastada qualquer determinação que implique devolução de valores. 32. O Sr. Eduardo Calheiros de Araújo, embora instado a se manifestar sobre essa irregularidade por meio do Ofício 1199/2010-TCU/SECOB-2 (peça n. 6), não apresentou alegações de defesa justificando a ausência de desconto de 20% no orçamento da referida obra, bem como a incidência de encargos adicionais sobre o custo total da mão de obra, também incidindo sobre os respectivos encargos sociais. Suas alegações de defesa se limitaram a refutar os itens 9.2.1 e 9.2.2 do Acórdão 2.587/2010 – Plenário, que tratam do superfaturamento e sobrepreço nos serviços de cravação de camisas metálicas e execução de estacas-raiz. 33. Os senhores Rui Barbosa Egual e Laércio Coelho Pina apresentam alegações de defesa de teor semelhante relacionadas com essa parcela do débito. Os defendentes apresentam os seguintes argumentos:

O Dnit estimou as obras em R$ 10.648.692,81. A Construtora Sanches Tripoloni já estava mobilizada perto do local das obras, possibilitando

início imediato para execução dos serviços. A publicação da IS 02/2006 excepcionava a regra estabelecendo o desconto de 20%,

permitindo a apresentação de justificativas que demonstrassem a impossibilidade de aplicação do referido desconto.

Nesse sentido, a construtora apresentou justificativas detalhadas da impossibilidade da incidência de desconto de 20%, alegando, entre outros fatores, que foi convocada anteriormente à expedição da Portaria 1.806/2005, instituindo o Petse, bem como que parte dos serviços a serem executados teria apoio subaquático e náutico, demandando equipes especializadas.

Tais justificativas foram aprovadas pela Coordenação Geral da 11ª Unit e, posteriormente, ratificada pela Diretoria Colegiada do Dnit, sendo aceito um desconto de 3,64% ofertado pela Sanches Tripoloni.

Sobre o adicional de mão de obra, o defendente alega que o orçamento foi feito em

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conformidade com a Instrução de Serviço nº 15/2005 e com as diretrizes do Manual de Custos Rodoviários do Dnit.

Análise 34. As disposições legais tratando sobre o uso do Sicro encontram-se consubstanciadas no recente Decreto 7.983/2013, bem como em sucessivas leis de diretrizes orçamentárias. A partir da LDO/2010, o Sicro passou a ser referência oficial de custos para obras rodoviárias com recursos da União, de observância obrigatória pelos gestores públicos. 35. Os referidos normativos dispõem que o custo de referência dos serviços e obras de infraestrutura de transportes será obtido a partir das composições dos custos unitários previstas no projeto que integra o edital de licitação, menores ou iguais aos seus correspondentes nos custos unitários de referência do Sicro. 36. Pacífica jurisprudência desta Corte de Contas também entende que os preços de referência do Sicro devem ser adotados como paradigmas de preços de mercado, com os ajustes necessários para cada caso. Nesse sentido, citam-se, a título de exemplo, os Acórdãos 2.350/2007, 2.062/2007, 1.947/2007, 2.063/2007, 1.891/2008, 2.150/2008, 2.483/2008, 462/2010, 1.789/2011, 2.012/2011, 1.922/2011 e 3.272/2011, todos do Plenário. 37. Tais fatos já são suficientes para afastar a imputação dessa parcela do débito aos responsáveis, pois a legislação e a jurisprudência consideram que o preço cheio do Sicro corresponde ao preço paradigma de mercado. Além disso, não se localizaram julgados do TCU, além do próprio Acórdão 2.587/2010 – Plenário, adotando 80% do preço do Sicro como preço paradigma, bem como casos de imputação de débito aos gestores por não terem observado a disposição do normativo do Dnit prevendo a aplicação de 20% de desconto nas contratações efetuadas no âmbito do Petse. Ao contrário, tese semelhante já foi refutada pelo TCU uma vez em importante deliberação que julgou auditoria operacional realizada no Sicro, tratada no TC-021.288/2006-1. 38. Na ocasião, o Diretor responsável pela supervisão da referida fiscalização e o então Secretário da Secob propuseram determinar ao Dnit que inserisse no Sistema Sicro fator de barganha em percentual mínimo de 10%, a ser deduzido dos preços coletados para equipamentos e materiais. Enquanto não fosse efetivada a mudança no sistema informatizado, deveria ser aplicado um redutor de, no mínimo, 10% em todos os preços orçados com base no Sicro, nas próximas licitações deflagradas pelo Dnit. Entre outras fundamentações embasando tal proposta, foram utilizados dados demonstrando descontos expressivos verificados em diversas licitações promovidas pelo Dnit. 39. No entanto, tal proposta não foi acolhida pelo Plenário. Na oportunidade, o Ministro-Relator apresentou as seguintes considerações no voto condutor do Acórdão 1.692/2007 – Plenário:

5. ... Já o Sr. Diretor da Secob, pelas razões que aduz, acredita que o problema poderia ser reduzido mediante a implantação de um fator de barganha, que incidiria no preço de tabela fornecido pelas firmas consultadas, para capturar os descontos que as empreiteiras o mais das vezes conseguem nas suas compras de equipamentos e insumos. Por isso propõe que seja determinado ao Dnit que passe a aplicar nos preços coletados pelo sistema um desconto de 10%, a título de fator de barganha. 6. A taxa referida seria um valor mínimo, deduzido dos procedimentos licitatórios indicados no parecer transcrito no Relatório que antecede a este Voto, principalmente o que foi realizado para a duplicação da BR-101/SC. 7. Observo inicialmente que a medida proposta tem a vantagem de gerar efeitos práticos imediatos, inclusive com o poder de atenuar o viés superestimativo evidenciado pelo trabalho da equipe de auditoria. Conta também com precedente da própria administração do Dnit, que, para o Programa Emergencial de Trafegabilidade e Segurança nas Estradas - Petse, exigiu que os preços dos contratos celebrados com dispensa de licitação fossem descontados de 20% em relação ao Sicro2. Com base nesse antecedente, a medida proposta pela Secob, é até conservadora. Contudo, traz alguns inconvenientes. 8. O mais sério deles, possivelmente, seja o fato de que a redução atenua o problema da defasagem de preços crescentes das cotações do Sicro2 em relação aos índices da FGV, mas não o resolve de forma definitiva. Com efeito, o redutor de preços não tem nenhum efeito sobre a inclinação maior da trajetória do Sicro2, que é devida a uma maior inflação das cotações do sistema. Para constatar isso, basta ver que, se o redutor fosse aplicado nas cotações desde outubro de 2000, a trajetória resultante estaria desviada dos índices da FGV no mesmo montante atualmente verificado, em torno dos cinqüenta por cento.

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9. No caso do Petse, o desconto linear de 20% procurava de alguma forma compensar a inexistência de competição, com efeito exclusivamente nas planilhas contratuais. Aqui, a medida proposta procura afetar os próprios orçamentos de referência das licitações, anteriormente, portanto, à instalação da competição. E o faz interferindo diretamente no próprio sistema, destoando, inclusive, das características fundamentais desse mesmo sistema, que se baseia em parâmetros deduzidos teoricamente e em pesquisas mercadológicas espontâneas, cuja isenção não está sendo posta em dúvida neste trabalho. Além disso, o redutor proposto pela Secob tem incidência universal, contrariando outra característica do sistema que é a de tratar os componentes de custo de acordo com as respectivas especificidades. Ora, se o problema, como parece, está na coleta de custos dos equipamentos, que é um setor muito mais concentrado que os dos insumos restantes, não me parece razoável que as cotações dos materiais e da mão-de-obra sofram indiscriminadamente o desconto sugerido nos autos. 10. Na verdade, creio que a vantagem primordial do Sicro é justamente a sua constituição lógico-formal estrita, com cada parâmetro de custo resultando de fundamentos bem conhecidos e facilmente acessíveis, permitindo um encadeamento altamente suscetível à análise de aspectos específicos dos custos, característica que tem sido de grande utilidade para as atividades desta Corte, a despeito da grave fragilidade que agora se revela. Por isso, e apesar do respeitável precedente invocado no parecer do Sr. Diretor, tenho relutado à expectativa de realimentar o sistema a partir de dados oriundos do resultado das licitações. Vejo pouquíssimas vantagens em aproximar o Sicro ou o orçamento de referência das obras do padrão de desconto verificado nas licitações. Entendo, aliás, que o próprio desconto resulta da característica básica de o orçamento básico resultar de uma função de produção totalmente destituída de fatores individuais de redução de custo e das vantagens comparativas de que as empresas eventualmente possam desfrutar. Dado que os ganhos de escala são um fator importante de redução de custos, só vejo malefícios na tentativa de aproximar o orçamento de referência do patamar médio que se observa nas contratações passadas, como o alijamento das pequenas e médias empresas das licitações públicas, e consequente predomínio das grandes empresas e formação de cartéis estáveis, além do aumento do risco de inexequibilidade e insolvência das contratadas. Um orçamento neutro teria, assim, ao meu ver, melhores condições de favorecer uma maior dispersão dos meios materiais e humanos alocados à execução das obras, e também a especialização e regionalização desses mesmos recursos. (...) 13. Posso não concordar com a proposta de inserção de um redutor no interior do Sicro2, mas é forçoso reconhecer que, a perdurar essa situação, esta Corte terá que adotar alguma solução de natureza cogente na saída do sistema com o inafastável objetivo de preservar a consistência dos orçamentos básicos das licitações, que não podem em hipótese alguma incorporar folgas ou vazios arbitrários, provocando o encarecimento sem causa das obras públicas. Nem muito menos pode o sistema ficar à mercê dos orçamentos elaborados pelas projetistas contratadas. Em um quadro contaminado por outras graves distorções que imperam no setor rodoviário - como as deficiências dos projetos das obras, a banalização das alterações contratuais e a extrema suscetibilidade às interferências externas - os órgãos de controle não podem de modo algum prescindir de um sistema referencial de preços minimamente confiável com base no qual possa avaliar corretamente as inúmeras intercorrências, variações e procedimentos excepcionais que são a regra na prática contratual do Dnit (grifos nossos).

40. O trecho do voto condutor transcrito acima apresenta a fundamentação para o percentual de desconto de 20% previsto no Petse, justificando a adoção de tal medida com a ausência de um procedimento licitatório que, se fosse realizado, permitira a obtenção de um desconto em relação ao orçamento base da licitação. 41. Também se pode citar, conforme alegado pela Sanches Tripoloni, o Voto Condutor do Acórdão 686/2006 – Plenário, no qual o Ministro-Relator manifestou suas preocupações quanto ao desconto de 20% previsto nas obras do Petse:

48. Devo ressaltar, todavia, minha preocupação preliminar com a situação do PETSE. Digo preliminar, porque esta preocupação pode, ou não, vir a ser confirmada, mas tarde, quando da apreciação do mérito de cada um dos 101 processos de fiscalização do referido programa. É que, diante das leis de mercado em que o empresário busca sempre maximizar lucros, não consigo compreender o porquê de as empresas contratadas no âmbito do PETSE terem aceito a contratação de itens de serviços, recebendo obrigatoriamente 20% a menos do que o preço de referência previsto na tabela SICRO. Nesse ponto, em especial, algumas dúvidas me incomodam. É possível que a empresa contratrada pretenda promover modificações nos quantitativos de serviços, buscando compensar-se do referido desconto obrigatório.

42. Os trechos citados acima mostram que deve haver cautela para a aplicação de um percentual de desconto linear no Sicro, pois, pode haver diferenciação entre os descontos obtidos nas licitações de obras de construção rodoviária e de obras de conservação/manutenção. Ocorre que nos contratos de

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conservação rodoviária é possível haver maior dificuldade por parte da fiscalização do Dnit em controlar os quantitativos de serviços efetivamente executados, justificando o mergulho de preços de licitantes nos referidos certames licitatórios. Tal fato inclusive foi apontado pela Secob no âmbito do TC-021.288/2006-1. (auditoria operacional no Sicro-2), em que foi feito um estudo sobre o deságio obtido em licitações de conservação e manutenção rodoviárias realizadas pelo Dnit. 43. Dessa forma, o desconto de 20% previsto na IS 2/2006-Dnit pode não ser um parâmetro adequado para servir como referência de preços de mercado para os serviços de construção rodoviária. 44. Eventual superestimativa de preços no Sicro-2 e as providências adotadas pelo Dnit para o aprimoramento do Sistema são objeto de monitoramento no âmbito do TC-002.546/2011-6, dispensando qualquer medida ou deliberação a respeito nos presentes autos. 45. Ante todo o exposto, propõe-se acolher as alegações de defesa dos responsáveis quanto à ausência da utilização do desconto de 20% sobre os preços do Sicro na celebração do contrato em questão, por absoluta falta de embasamento da utilização desse percentual no Decreto 7.983/2013, nas leis de diretrizes orçamentárias e na jurisprudência do Tribunal. Ademais, vislumbra-se que em diversas circunstâncias a aplicação de tamanho desconto sobre os custos referenciais de mão de obra e materiais pode se demonstrar inviável, produzindo custos referenciais de salários abaixo dos pisos estabelecidos em convenções coletivas de trabalho ou custos de materiais inexequíveis. 46. Ainda que se afaste a imputação dos débitos aos responsáveis, seria ainda possível cogitar a aplicação de multa, tendo-se como fundamento o art. 58 da LOTCU, pois teria havido descumprimento do normativo do Dnit, no caso a IS 2/2006. Todavia, os responsáveis demonstraram que a contratação em tela foi anterior ao referido normativo. Além disso, após a publicação da referida IS, efetivamente tentaram obter um desconto, mas a contratada se negou a concedê-lo, justificando tal fato pelas características singulares da obra de recuperação da Ponte Marechal Rondon. A justificativa apresentada pela contratada também foi aceita pela Diretoria Colegiada do Dnit, sendo ainda obtido um desconto de 3,64% em relação ao Sicro. 47. Com relação, à parcela do débito oriunda da incidência dos encargos adicionais sobre os salários acrescidos dos encargos sociais, faz-se oportuno apresentar um breve histórico do tema. 48. No Sicro, as composições de custo unitário presentes no sistema contêm um percentual de 20,51% sobre o custo total com a mão de obra, correspondente a: 1,12% para cobrir custos com equipamentos de proteção individual dos trabalhadores (EPI), 4,79% para transporte de empregados, 9,60% para alimentação e 5,00% para ferramentas manuais. O referido percentual de 20,51% é utilizado em composições de custo unitário com serviços manuais. Nos serviços predominantemente mecanizados de escavação, carga e transporte, o percentual é de 15,51%, por não ser necessária a consideração de ferramentas manuais. Tais percentuais estão há vários anos presentes nas composições do Sicro incidindo cumulativamente sobre os salários e os respectivos encargos sociais de 126,3%. 49. O Manual de Custos Rodoviários contém o detalhamento do cálculo dos referidos adicionais sobre a mão de obra, reproduzidos a seguir para melhor entendimento da matéria:

a) Demonstrativo do Adicional à Mão de obra Para considerá-los no cálculo dos custos da mão de obra, foram calculados percentuais correspondentes aos itens acima relacionados. • Equipamento de Proteção Individual Percentual mínimo de equipamento de proteção individual de segurança sobre a mão de obra é de1,12% • Transporte - percentual do transporte em relação ao salário médio 6,8% - participação dos empregados de acordo com art. 9 inciso I do decreto 95.247 de 87=6% - percentual de dedução fiscal de acordo com instrução do MAJUR de 1996 = 25% Transporte = [0,068 x (1-0,06)] X ( 1-0,25) X 100% = 4,79% • Alimentação - percentual do custo médio de alimentação em relação ao salário médio - 16% - percentual da participação máxima do trabalhador permitida de acordo com a Lei 6321 de 14 de abril de1976 - 20% - percentual de dedução fiscal (instrução do MAJUR de 1996) - 25%

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Alimentação = [0,16 x (1-0,20)] X (1-0,25) X 100% = 9,60% • Ferramentas Manuais - percentual sobre a mão de obra do custo com ferramentas manuais, necessária a execução de determinados serviços, é de 5,00%.

50. Observa-se, assim, que algumas parcelas do referido adicional foram calculadas sobre o salário médio, originando toda a confusão e controvérsia sobre o assunto. 51. O assunto também foi abordado pela IS DG/Dnit 01/2004, de 26/5/2004, ao estabelecer a metodologia a ser considerada para a elaboração do orçamento. Tal documento apresenta a seguinte informação sobre a inclusão dos adicionais de mão de obra, não esclarecendo se tal percentual deve incidir apenas sobre os salários ou se deve incidir sobre o custo total com a mão de obra, acrescendo os encargos sociais de 126,3% ao salário dos empregados:

Inclusão do Adicional de Mão-de-Obra em todas as composições de preço unitário onde esteja discriminada a mão-de-obra complementar, de acordo com os percentuais abaixo discriminados, conforme estabelecido no Manual de Custos Rodoviários, cuja edição final foi aprovada, pela Diretoria do Dnit, em 16/12/03:

52. Posteriormente, a IS DG/Dnit 15/2006 finalmente esclareceu o assunto, estabelecendo o seguinte: Inclusão do Adicional de Mao-de-Obra em todas as composições de preço unitário onde esteja discriminada a mão-de-obra complementar, de acordo com os percentuais a seguir discriminados, incidentes sobre o salário acrescido de leis sociais, conforme estabelecido no Manual de Custos Rodoviários, cuja edição final foi aprovada pela Diretoria do Dnit em 16/12/2003:

53. Vê-se, portanto, que o assunto está pacificado no âmbito do Dnit, admitindo a incidência do referido adicional sobre a mão de obra também sobre os encargos sociais. 54. Todavia, o Tribunal, mediante o Acórdão 1.592/2006 – Plenário, fez a seguinte determinação ao Dnit:

9.2.6. apliquem, nas composições de custos unitários dos serviços, percentuais referentes a gastos com ferramentas, transportes, alimentação e Equipamentos de Proteção Individual - EPI que incidam no valor da mão-de-obra, sem o cômputo dos encargos sociais;

55. Posteriormente, o TCU, mediante o Acórdão 798/2008 – Plenário, fez a seguinte determinação ao Dnit:

9.5.6. elabore e apresente a este Tribunal, no prazo máximo de 45 dias, estudo capaz de demonstrar a adequabilidade dos percentuais que compõem a parcela de "adicional à mão-de-obra" (equipamento de proteção individual, transporte, alimentação e ferramentas) - adotada no Sicro 2 - à realidade dos custos, tendo em vista a sua incidência sobre o custo total da mão-de-obra (salário-hora acrescido dos encargos sociais);

56. Aparentemente, tal estudo jamais foi entregue ao Tribunal pelo Dnit, pois não foi localizado processo tratando do assunto. No voto condutor da referida decisão, o Ministro-Relator fez as seguintes considerações sobre o assunto:

82. Outra irregularidade anotada pela equipe de fiscalização referiu-se à ocorrência de sobrepreço no orçamento-base e no contrato, em razão da aplicação indevida, nas composições de custo, do percentual relativo ao adicional de mão-de-obra (15,51%), uma vez que incidiu sobre o total de mão-de-obra acrescido dos encargos sociais (irregularidade nº 17 do RA). 83. Assiste razão à Secob quando afirma que não se poderia exigir conduta diversa dos gestores do Dnit, já que aplicaram a metodologia definida no Manual de Custos Rodoviários na formulação do orçamento-base, de maneira que podem ser aceitas as razões de justificativa apresentadas. No entanto, segundo aquela unidade, persiste a controvérsia relacionada à melhor interpretação daquele normativo, razão pela qual propõe determinar-se à autarquia que, doravante, ajuste as composições de custo unitário do Sicro 2 às premissas estabelecidas naquele manual, de tal modo que os percentuais atinentes ao adicional de mão-de-obra (ferramentas, equipamentos de proteção individual, transporte e alimentação) passem a incidir apenas sobre o salário-hora dos profissionais. 84. Nesse ponto, tenho por justificada a determinação sugerida, porquanto a interpretação levada a cabo pela unidade instrutiva é passível de acatamento sob a ótica da razoabilidade. Contudo, é plausível exigir que aquela autarquia apresente a este Tribunal estudo capaz de demonstrar a adequabilidade dos percentuais que compõem a parcela de "adicional à mão-de-obra" à realidade dos custos, tendo em vista que incidem sobre o custo da mão-de-obra (salário-hora acrescido dos encargos sociais). Em outras palavras, a medida visa a colher os elementos suficientes para se analisar a memória de cálculo utilizada na formulação dos percentuais hoje preconizados no normativo do Dnit, sob o aspecto da economicidade.

57. Nos presentes autos, tem-se situação similar à tratada no Acórdão 798/2008 – Plenário, entendendo-se que não seria cabível exigir conduta diversa dos responsáveis arrolados no processo,

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que, sempre que possível, aplicaram fielmente a metodologia e as composições de custo padrão do Sicro na orçamentação dos serviços de recuperação da Ponte Marechal Rondon. Se alguém tivesse que ser responsabilizado pela suposta base de incidência indevida dos adicionais sobre a mão de obra seriam os gestores responsáveis pela manutenção do Sicro, a cargo da CGCI (Coordenação Geral de Custos de Infraestrutura) do Dnit, mas, conforme será demonstrado a seguir, entende-se não ser a medida mais adequada, pois não existem indícios de que a incidência do percentual de 15,51% (ou 20,51%, conforme o caso) sobre os salários acrescidos dos encargos sociais enseje a superestimativa dessa parcela de custo.58. Nos tópicos seguintes será demonstrado não haver evidências concretas de que os valores com EPI, alimentação, transporte e ferramentas manuais produzam superestimativas em relação aos parâmetros de mercado, quando incidem cumulativamente sobre salários e respectivas leis sociais. 59. Nesse ponto, embora não faça parte das alegações apresentadas pelos responsáveis, em prol do princípio da verdade material, é pertinente fazer algumas outras considerações. Uma parcela dos custos de permanência dos empregados na empresa não está contida nos grupos A, B, C e D das rubricas que compõem os encargos sociais em sentido estrito. Podem ser elencados os seguintes custos, variáveis conforme disposições das convenções coletivas de trabalho:

Equipamentos de proteção individual; Transporte dos empregados; Alimentação; Ferramentas manuais; Seguro de vida em grupo e; Fornecimento de cestas básicas.

60. É prática comum incluir tais gastos, dentre outros, nas rubricas de encargos sociais. Tais valores, assim calculados, podem ser considerados encargos sociais no sentido amplo. Tais rubricas recebem a denominação de “adicionais sobre a mão de obra”. É exatamente esse procedimento utilizado pelo Sicro, que utiliza os encargos adicionais sobre mão de obra compostos pelos os seguintes itens: Equipamento de Proteção Individual (1,12%);

Transporte (4,79%); Alimentação (9,60%) e; Ferramentas Manuais (5,00%).

61. Na forma como são computados pelas composições do Sicro, os custos totais com mão de obra são compostos pelos salários dos trabalhadores, acrescidos de leis sociais (no sentido estrito) de 126,3%. Sobre esse montante, correspondente a 226,3% da remuneração da mão de obra, há incidência de 15,51% (ou 20,51%, conforme o caso) de adicionais sobre a mão de obra. Portanto, tais percentuais representam 35,1% (ou 46,4%) de incidência direta apenas sobre os salários. Somando-se estes últimos percentuais com os encargos sociais (em sentido estrito) de 126,3% adotados pelo Dnit obtêm-se percentuais de encargos sociais (em sentido amplo) de 161,4% (ou de 172,71%). 62. A título de comparação, a Revista “Guia da Construção”, publicada pela Editora Pini, utiliza um percentual de encargos sociais (no sentido amplo) de 185,51%, composto por encargos sociais (no sentido estrito) de 129,34% e de encargos sociais complementares de 56,47%. Esta última parcela é composta pelos seguintes itens:

Equipamento de Proteção Individual (1,88%); Vale-transporte (22,65%); Refeição (23,14%) Café da manhã (7,29%) e; Seguro de vida e acidentes em grupo (1,51%).

63. Até março de 2013, o Sinapi também adotava encargos sociais amplos em três unidades federativas. Nos estados do Acre, Paraná e Rio Grande do Sul, o referido sistema utilizava os percentuais de 165,90%, 155,71% e 157,52%. A partir de abril/2013, por força do Acórdão 261/2013 - Plenário, o Sinapi passou a utilizar encargos sociais em sentido estrito em todas as unidades da

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federação. 64. Vê-se, portanto, que os percentuais de encargos adicionais do Sicro, quando incidem sobre o custo total de mão de obra (incluindo os salários e respectivos encargos sociais), não se mostram desarrazoados. Os valores apresentados por Aldo Dórea Mattos em seu livro1 também fundamentam essa conclusão:

Equipamento de Proteção Individual (2,45%); Vale-transporte (21,72%); Alimentação (13,03%); Cesta básica (6,36%) Café da manhã (6,11%) e; Seguro de vida e acidentes em grupo (0,82%).

65. Por fim, não é objeto desta instrução fazer um estudo pormenorizado dos referidos adicionais utilizados pelo Sicro, até mesmo porque tal providência foi determinada pelo Acórdão 798/2008- Plenário ao Dnit. Porém, julga-se cabível apresentar um exemplo demonstrando que não existe superestimativa de custos quando tais adicionais incidem também sobre os encargos sociais. Para isso, utilizando os preços referenciais do Cadastro de Serviços Terceirizados do Estado de São Paulo (Cadterc), podem ser obtidos custos referenciais para alimentação de trabalhadores. O referido documento possui elevado rigor técnico e sua metodologia é amplamente aceita pela jurisprudência do Tribunal de Contas da União, conforme demonstram os Acórdãos 1.624/2009, 3.071/2010, 3.069/2010, 168/2011, 362/2011, 1.789/2011, todos do Plenário. 66. Os preços referenciais do Cadterc (junho/2012) para o café da manhã e almoço/jantar são de R$ 1,93 e R$ 9,46, respectivamente. Considerando 26 dias úteis por mês (jornada de segunda a sábado), teríamos R$ 50,18 e R$ 245,96 de custo mensal, respectivamente, para café da manhã e almoço/jantar. Considerando os salários previstos para o Sicro para o Estado de São Paulo na mesma data base, podem-se calcular os percentuais relativos ao valor da alimentação em relação ao valor do salário de algumas categorias profissionais. Tais valores estão demonstrados na tabela a seguir:

Profissional Salário Café da Manhã (%)

Almoço ou Jantar (%)

Café, Almoço e Jantar (%)

Encarregado de turma R$ 2.736,80 1,83% 8,99% 19,81% Pedreiro, carpinteiro, ferreiro, armador, pintor, soldador e outros oficiais

R$ 1.306,20 3,84% 18,83% 41,50%

Servente R$ 970,32 5,17% 25,35% 55,87%

67. Considerando que o percentual médio de gasto com alimentação pode representar até 41% do valor do salário; considerando o benefício fiscal previsto para o fornecimento de alimentação aos empregados; e considerando a necessidade de ofertar três refeições diárias para trabalhadores alojados em uma obra rodoviária típica; o percentual de encargo adicional a título de alimentação seria de [0,41 x (1-0,20)] X (1-0,25) X 100% = 24,6%. Esse percentual é superior ao valor de 21,7%, obtido pela multiplicação do percentual de 9,6% (adicional de alimentação previsto no Sicro) pelo fator 2,263 (resultando do salário acrescido de encargos de 126,3%). 68. Ante o exposto, não se evidencia indício de sobrepreço na sistemática atualmente adotada nas composições do Sicro. Assim, propõe-se considerar a referida irregularidade elidida, acolhendo-se as alegações de defesa apresentadas pelos responsáveis. 69. Observa-se que se o Dnit tivesse dado cumprimento tempestivo à determinação do TCU exarada no item 9.5.6 do Acórdão 798/2008 – Plenário, provavelmente o presente apontamento teria sido 1 Mattos, Aldo Dórea; Como Preparar Orçamento de Obras. São Paulo: Editora Pini, 2006, páginas 89/90.

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esclarecido sem a necessidade de conversão dos autos em tomada de contas especial. III.b superfaturamento no serviço de monitoramento de tráfego, resultante da alteração de serventes para ajudantes 70. Com relação a tal parcela do débito, foram citados os seguintes responsáveis solidariamente com a Construtora Sanches Tripoloni Ltda.: Rui Barbosa Egual, Laércio Coelho Pina, Eduardo Calheiros de Araújo e Antônio Carlos de Melo Vitório. Esses responsáveis respondem pelo débito de R$ 53.797,93, decorrente da alteração na composição da mão de obra de serventes (mais baratos) para ajudantes (mais caros). 71. O Sr. Eduardo Calheiros de Araújo, não se manifestou em suas alegações de defesa sobre essa parcela do débito. 72. O Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório, alega que nenhuma responsabilidade lhe pode ser atribuída, pois atuou apenas na qualidade de fiscal da obra, e dessa forma, não teve qualquer ingerência sobre a escolha dos trabalhadores e no número de profissionais utilizados. Nesses termos, nenhuma responsabilidade pode ser atribuída ao manifestante, uma vez que sua função se limitava à análise do projeto aprovado e a efetiva execução dos serviços em observância ao projeto. 73. Por sua vez, os senhores Rui Barbosa Egual e Laércio Coelho Pina enfatizam que inexiste norma técnica estabelecendo que o monitoramento de tráfego deva ser realizado por servente e que a Secob não apresenta justificativa (além do preço) para a utilização de um profissional em detrimento do outro. Além disso, o Ministério do Trabalho não faz distinção entre o ajudante de obra civil e o servente. 74. Todos os gestores do Dnit também apresentam alegações com relação ao aspecto subjetivo da culpa que serão oportunamente apresentadas e analisadas nesta instrução. 75. Por fim, os representantes legais da Construtora Sanches Tripoloni, referindo-se ao custo horário do servente, que é de apenas R$ 0,92 inferior ao do ajudante, afirma que a função de sinalização do fluxo de trânsito exige mais experiência e treinamento específico, mormente porque lida com o público, e que qualquer falha na execução do serviço pode comprometer a segurança dos usuários. Tendo em vista as questões de segurança envolvidas no serviço de monitoramento de tráfego, alocou funcionários melhor remunerados. 76. Também enfatiza que não há orientação técnica da ABNT, do Dnit e do TCU a esse respeito, bem como que os seus funcionários também contribuíram para desmobilizar cargas de veículos cujo peso excedesse o permitido para transpor a ponte durante o período de obras.

Análise 77. Antes de adentrar no exame das alegações de defesa dos responsáveis, preliminarmente, há de se ressaltar que a argumentação dos responsáveis ganharia maior força persuasiva se fosse acompanhada dos custos efetivos incorridos pela construtora no pagamento dos seus funcionários, no caso as folhas de pagamento do pessoal da obra, acompanhadas dos respectivos comprovantes de recolhimento do FGTS e da previdência social. Tal documentação demonstraria eventualmente que os preços contratados estavam de fato compatíveis com os alegados e que os profissionais contratados pela construtora eram ajudantes. 78. Não obstante tal documentação não ter sido apresentada, entende-se que o débito imputado deva ser elidido, pois se refere a um sobrepreço unitário de um único serviço. A obra foi contratada com um desconto de 3,64% em relação ao Sicro, conforme alegado pelos responsáveis. Elidindo-se o superfaturamento oriundo da não adoção do desconto de 20% do Petse da incidência dos adicionais de mão de obras sobre encargos sociais, não existe mais superfaturamento global por preços excessivos no presente contrato. As demais parcelas do débito têm natureza de liquidação irregular de despesa, oriunda da medição e pagamento de quantitativos de serviços a maior do que foi efetivamente executado. 79. Observa-se, que as unidades instrutivas utilizaram o método de cálculo de sobrepreço preconizado pelo Acórdão 2.319/2009 – TCU – Plenário (sigiloso), orientando as unidades técnicas a adotarem o

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denominado “Método da Limitação dos Preços Unitários Ajustado” como método padrão para a quantificação de sobrepreço no âmbito desta Corte de Contas. O Acórdão 2.319/2009 – TCU – Plenário (sigiloso) apreciou estudo produzido pelo Grupo de Trabalho constituído pela Ordem de Serviço n. 03/2006 da Segecex, que teve por objetivo apresentar metodologia a ser empregada na apuração de sobrepreço nas auditorias de obras públicas realizadas pelo TCU. 80. Naquela ocasião, ao ponderar vantagens e desvantagens, o Grupo de Trabalho concluiu pela adoção do Método da Limitação dos Preços Unitários Ajustados (MLPUA) “como método de adoção preferencial no âmbito do Tribunal, especialmente pelo seu forte embasamento jurídico, simplicidade de aplicação e de compreensão pelos Analistas do Tribunal e pelos auditados, bem como pela facilidade de implantação nos contratos em curso e nos a firmar pela Administração Pública”. 81. Em essência, tal método caracteriza-se por considerar como débito qualquer pagamento de serviço com sobrepreço unitário, independentemente de o preço global do orçamento estar compatível com os parâmetros de mercado. Em outras palavras, o Método de Limitação dos Preços Unitários Ajustado parte da premissa de que o preço unitário de nenhum serviço, contratado originalmente ou posteriormente acrescido, pode ser injustificadamente superior ao paradigma de mercado, não se admitindo nenhum tipo de compensação entre sobrepreços e subpreços unitários. 82. Entretanto, diversos Acórdãos do TCU adotaram outras formas de cálculo de superfaturamento, em especial o denominado “Método da Limitação do Preço Global”, que admite no cálculo do débito a compensação dos serviços com preço excessivo com outros serviços cujo preço se encontra inferior ao preço de mercado. Os excertos transcritos a seguir ilustram tal entendimento:

“23. Há que se nortear pelo entendimento, já comum no Tribunal, de que, estando o preço global no limite aceitável, dado pelo orçamento da licitação, os sobrepreços existentes, devido à falta de critérios de aceitabilidade de preços unitários, apenas causam prejuízos quando se acrescentam quantitativos aos itens de serviço correspondentes, porque, até esse momento, como disse antes, o valor contratado representava o equilíbrio entre preços altos e baixos, apesar do vício de origem.” (Acórdão 583/2003 – Plenário). “3. Na avaliação econômica do contrato, o eventual sobrepreço existente deve ser apurado de forma global, isto é, fazendo-se as compensações do preços excessivos de alguns itens com os descontos verificados em outros, principalmente se os preços são os mesmos oferecidos na licitação da obra e se pode constatar que a proponente sopesou de forma diferenciada o custo dos diversos serviços, tirando proveito das possíveis vantagens comparativas, desde que de forma legítima. Situação diversa ocorre com itens eivados de ilegalidade, tais os que apresentaram modificação sensível dos parâmetros eleitos na licitação, justificando a impugnação individual do item anômalo.”(grifo nosso) (Acórdão 1.551/2008-Plenário) “Segundo a jurisprudência deste Tribunal, ainda que existam distorções nos preços unitários de determinados itens, caso se mantenham as condições originais da contratação, não haverá sobrepreço no contrato celebrado por valor global compatível com o mercado (Acórdãos 583/2003, 388/2004, 1245/2004 e 2137/2005, 2635/2007, todos do Plenário)”. (Acórdão 2.482/2008 – Plenário). “11. Ora, é pacífico nesta Corte (vide, dentre outros, os Acórdãos nº 798/2008, 1.414/2003, 388/2004 e 1.746/2003, todos do Plenário) que, estando o preço global no limite aceitável dado pelo orçamento da licitação, as discrepâncias de preços existentes, devido à ausência de critério de aceitabilidade de preços unitários, apenas causam prejuízos quando se realizam aditivos em que são acrescidos quantitativos para itens de serviço cujos valores eram excessivos em relação aos demais licitantes, ou, ainda, quando suprimidas as quantidades daqueles itens cujos preços eram vantajosos para a administração contratante, o que não ocorreu na hipótese dos autos. Nesse sentido, descabe a constatação da unidade técnica de que teria havido prejuízo a compensar em pagamentos futuros, o que me leva a acolher as razões apresentadas.” (Acórdão 1.064/2009-Plenário). “Com efeito, se os preços globais estão compatíveis com os de mercado, a existência de determinados itens com sobrepreço deve ser correspondida pela existência de itens cujos preços estão abaixo dos de mercado, havendo assim uma compensação entre os valores desses dois diferentes grupos de insumos. Assim, a redução dos valores dos itens com sobrepreço afetaria o equilíbrio econômico-financeiro da contratação e possibilitaria o auferimento de vantagens indevidas por parte da Administração”. (Acórdão 1.887/2010- Plenário)

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83. A situação ora em análise é exatamente análoga, pois o contrato foi celebrado com um desconto de 3,64% em relação ao Sicro e foi integralmente concluído sem aditamento. Assim, o sobrepreço unitário observado no serviço de monitoramento de tráfego não causa prejuízo ao erário, pois é compensado por outros serviços com subpreço. 84. A despeito de o Acórdão 2.319/2009 – TCU – Plenário (sigiloso) ter orientado as unidades técnicas a adotarem o Método da Limitação dos Preços Unitários Ajustado, observa-se que tal método tem sido acolhido pela jurisprudência recente apenas nos casos em que se está analisando um orçamento de uma obra ainda em fase de licitação. Nesse sentido, pode-se citar o voto condutor do Acórdão 2.086/2012 – Plenário.

Por fim, falhas na orçamentação que resultaram em possível sobrepreço de R$ 8.732.052,08, quase 9% do valor total orçado, também sustentaram a paralisação cautelar da concorrência. Na oportunidade, deixei assente concordância com a metodologia adotada pela Secob-1 para análise dos preços registrados na licitação, com a avaliação de cada preço unitário à luz de sua referência de mercado, sem compensações entre subpreços e sobrepreços. Repito que, na fase licitatória, essa sistemática de verificação dos preços consagra a exigência das leis de diretrizes orçamentárias de que as tabelas referenciais, notadamente Sicro e Sinapi, sejam os preços máximos adotados pela Administração Pública em suas licitações. Ademais, vai ao encontro do entendimento fixado na Súmula 259 desta Corte, que aduz ser obrigação do gestor fixar critério de aceitabilidade de preços unitários.

85. Ante o exposto, propõe-se o afastamento do débito imputado aos responsáveis quanto a essa parcela do superfaturamento da obra. 86. Obviamente, tal raciocínio não é aplicável às parcelas do débito oriundas do superfaturamento decorrente de pagamento a maior de quantitativos de serviços ou de serviços não executados, tais como os casos dos superfaturamentos apurados nos serviços de fornecimento e cravação de camisas metálicas ou de execução de estacas-raiz. Tal entendimento fica bem assente no voto condutor do Acórdão 2.731/2012 – Plenário:

Em seu pedido de reexame, a empresa [omissis] alega, em resumo: (...) b) ausência de sobrepreço global nos contratos firmados com a recorrente; c) ausência de materialidade dos valores cobrados em razão das diferenças de preços entre os serviços de transporte local e de transporte comercial; (...) nenhum dos argumentos apresentados pela recorrente merece prosperar. Isso porque os débitos ora questionados decorreram de inconsistências, no edital de licitação e nos contratos, no que tange à classificação dos serviços de transporte. Tal fato afasta a aplicabilidade, ao caso concreto, da jurisprudência deste Tribunal acerca da caracterização de sobrepreço de modo global, não unitário. (...) débitos apontados no âmbito do Acórdão 2.579/2010-TCU-Plenário, que ressalte-se, ocorrem de liquidação irregular de despesa; não de sobrepreço. Os serviços efetivamente executados pela recorrente foram de transporte comercial, mais barato, e não local. São serviços distintos.

87. Inicia-se, agora, o exame das alegações de defesa apresentadas pelos defendentes com relação ao serviço de monitoramento de tráfego. 88. De fato, não há nenhuma orientação da ABNT, do Dnit ou do próprio TCU quanto ao uso das categorias “servente” e “ajudante”. Também é pertinente a afirmação de que o Ministério do Trabalho não faz qualquer diferenciação entre as categorias, pois tanto o “servente de obras” quanto o “ajudante de obra” são classificados no mesmo Código Brasileiro de Ocupações (CBO), com o código 717020. Contudo, os relatórios do Sicro apresentam custos diferenciados para o servente e para o ajudante. 89. Assim, os argumentos apresentados não permitem acolher as alegações de defesa dos responsáveis. Ao contrário, agravam o juízo sobre a sua conduta. Afinal, se são categorias semelhantes; se os serviços poderiam ser prestados por um ou por outro; não fica justificado porque o profissional de maior salário foi escolhido para compor o preço do serviço de monitoramento de tráfego.

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90. É oportuno relembrar que o processo de contratação em tela se deu por dispensa de licitação, sendo obrigatória a observância do art. 26 da Lei 8666/93, que exige a justificativa de preço por parte do gestor. 91. Em face dos princípios da economicidade, da moralidade e da probidade administrativa, o mínimo que se espera de um gestor público, diante de duas possibilidades igualmente aceitáveis para compor o preço de um serviço, é que adote aquela de menor custo, especialmente se o objeto será contratado diretamente por dispensa de licitação. 92. Ante o exposto, as alegações de defesa apresentadas pela Construtora Sanches Tripoloni Ltda. e pelos senhores Rui Barbosa Egual, Laércio Coelho Pina e Eduardo Calheiros de Araújo devem ser rejeitadas, no entanto sem a imputação do débito de R$ 53.797,93. Propõe-se aplicar a multa prevista no art. 58 da LOTCU aos responsáveis em virtude do sobrepreço unitário constatado na execução do serviço e por terem realizado uma escolha injustificada e antieconômica do profissional a ser utilizado no serviço de monitoramento de tráfego. 93. Enfatiza-se que diversos julgados do TCU admitem a aplicação concomitante das multas do art. 57 e do art. 58 aos mesmos responsáveis, consagrando o princípio da individualidade da pena, e quando presentes simultaneamente irregularidades que originaram débito e outras irregularidades que caracterizem infrações às normas legais, embora não tenham causado prejuízo ao erário. Nesse sentido, podem-se citar os Acórdãos 5.165/2011 – 2C, 3.491/2010 – 1C, 4.856/2010 – 2C, 7.194/2010 – 2C e 1.791/2012 – Plenário. 94. Por outro lado, as alegações de defesa do Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório devem ser acolhidas, pois na condição de fiscal da obra, o referido servidor não teve participação no processo de orçamentação e de contratação do referido serviço, sendo exigível apenas que fiscalizasse a execução do serviço, efetuando medições e atestando a execução dos serviços. III.c superfaturamento e sobrepreço no serviço de fornecimento e cravação de camisas metálicas 95. Quanto a essa parcela do débito, foram citados os seguintes responsáveis solidariamente com a Construtora Sanches Tripoloni Ltda.: Rui Barbosa Egual, Laércio Coelho Pina, Eduardo Calheiros de Araújo. Esses responsáveis respondem pelo débito de R$ 980.059,80, correspondente ao pagamento de quantitativo a maior do referido serviço e ao pagamento do serviço com sobrepreço. 96. O Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório, fiscal da obra, foi citado apenas pelo superfaturamento de quantitativo das camisas metálicas, no valor de R$ 651.477,00. 97. O Sr. Eduardo Calheiros de Araújo apresenta as seguintes alegações:

A lâmina d'água à época da execução da obra está demonstrada em fotos que seguem anexas à sua manifestação.

Também apresenta uma reprodução do perfil, que aponta o nível da água na época das sondagens, medições de profundidades e comprimentos de estacas obtidas em inspeção realizada pelo Corpo de Bombeiros Militar do Mato Grosso.

É o que se observa do relatório de inspeção datado de 25 de outubro de 2005, realizado a pedido da Defesa Civil do Mato Grosso, que, a propósito, deu origem à emergência da obra, posterior batimetria desenvolvida pela empresa responsável pela execução da obra de reforço e recuperação da ponte e posicionamento da rocha de acordo com o boletim de cravação fornecido pela fiscalização.

As medidas obtidas pelo corpo de bombeiros são bem próximas da batimetria contida no projeto original aprovado em 23/04/1958.

Esclarece, ainda, que a correta interpretação da lâmina d'água adotada, pois tanto dos elementos obtidos do relatório dos Bombeiros, quanto dos desenhos do projeto original, o que se obteve de estimativa foi a distância entre o fundo dos blocos existentes e o leito do rio. Neste ponto, se obteve uma média dessas alturas da ordem de 3,564 m. Tal valor não é medida da lâmina d'água a ser estimada; é, simplesmente, uma estimativa média de alturas entre os fundos de blocos e o leito do rio.

Para efeitos de quantificação de projeto e de orçamentação da obra, com o objetivo de não

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errar o quantitativo, subestimando-os em projeto, e considerando que (i) os serviços executados seriam medidos na obra e (ii) o tipo de contratação de caráter emergencial não permite aditivos contratuais, adotou-se a altura média retro indicada, porém com o arredondamento superior para exatos 4,0 metros, cuja confirmação é de responsabilidade da fiscalização.

Foram considerados encamisamentos destes blocos existentes, por um novo bloco de concreto para coroamento das novas estacas tipo raiz de reforço com altura total, contada a partir do fundo do bloco existente, com 2,5 m (em detalhe da folha 13 – peça n. 26). Ou seja, a soma total já era de 6,50 m.

Considerando uma máxima e provável cheia do rio durante a implantação dos serviços, partiu-se de uma referência real de campo das alturas das cheias do rio. Por todas essas razões é que tais medidas, tomadas na obra, preliminarmente, foram adotadas nos projetos com uma altura de 1,50 m, e adotadas nos projetos para execução dos colarinhos de encamisamento da base dos pilares acima da cota de topo dos novos blocos de coroamento das novas estacas de reforço.

Considerando que os topos das camisas metálicas nunca poderiam ser ultrapassados pelo nível do rio em nenhum momento das obras, definiu-se que elas se estenderiam por mais 1,5 m, até atingir as marcas de água visíveis nos pilares.

Com base em tais fatores, as camisas metálicas foram estimadas com urna altura média do leito do rio com 4,0 m, mais a altura dos novos blocos com 2,5 m e, ainda, uma provável cota de água na cheia do rio, conforme sinais observados nos colarinhos dos pilares, com mais 1,50 m.

Todas essas referências levam à estimativa de uma lâmina d'água média máxima de 8,0 m a ser adotada para o cálculo das quantidades iniciais para projeto e orçamento da obra de caráter emergencial. O desenho esquemático apresentado pelo responsável ilustra o teor de suas alegações:

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Sobre a fixação da profundidade da camisa metálica abaixo do leito do rio, o defendente informa que ele depende de uma série de variáveis, tais como a correnteza do rio, a natureza do subsolo, a resistência à cravação da camisa, a permeabilidade do solo, entre outros. Para a profundidade das camisas metálicas, foi considerado o solo de baixíssima resistência (areia fina fofa), fato este que foi confirmado pelos resultados das sondagens executadas durante o desenvolvimento do projeto executivo. Além disso, a camisa deveria atingir uma profundidade suficiente o bastante para que os trabalhos de perfuração abaixo de sua extremidade garantissem a estabilidade da escavação; A camisa deveria garantir que, após a concretagem, o concreto em processo de cura não fosse solicitado, o que poderia causar danos irremediáveis ao fuste da estaca. Essa solicitação, decorrente do carregamento lateral imposto pela correnteza à estaca, somente não ocorre a partir de uma profundidade mínima, conhecida como comprimento crítico, a partir da superfície do terreno. Tal profundidade pode ser avaliada com base nos métodos consagrados em mecânica dos solos e engenharia de fundações, disponíveis na bibliografia especializada.

98. O Sr. Rui Barbosa Egual apresenta alegações semelhantes às apresentadas pelo Sr. Eduardo Calheiros de Araújo. Além disso, relata dificuldades para executar os serviços devido ao elevado número de estacas por pilar já existentes no local. Também ressalta que os técnicos da Secob deveriam analisar a obra sobre o mesmo prisma que norteou a elaboração de projetos de reforçoestrutural, realizados à época. Caso contrário, as dúvidas e críticas continuarão a ocorrer sistematicamente. 99. Por sua vez, o Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório inicia suas alegações de defesa enfatizando que sua atribuição na obra se limitou à fiscalização do contrato, acompanhando medições e atestando os serviços efetivamente executados. Aduz o defendente que seguiu fielmente o projeto executivo e a necessidade de estabilidade para que as estacas fossem feitas. Afirma que os quantitativos executados estavam coerentes com os que as planilhas determinavam, motivo que levou à sua medição. 100. Afirma que os quantitativos apresentados pelo TCU partem de premissas que estão divergentes do que fora indicado nas planilhas e no projeto executivo, não cabendo ao manifestante tecer comentários sobre os seus cálculos e considerações. 101. O Sr. Laércio Coelho Pina inicia suas alegações apresentando as atribuições de superintendente regional do Dnit, enfatizando que as competências da chefia são realizadas com base no recebimento de informações daqueles que atuam diretamente na obra. Assim, não é função do Chefe de Engenharia nem do Superintendente a verificação e conferência das medições de quantitativos, não havendo qualquer responsabilidade a ser atribuída ao signatário em função do contrato em questão. 102. As demais considerações do defendente com relação a essa irregularidade são de idêntico teor às apresentadas pelo Sr. Rui Barbosa Egual. 103. Por fim, a Construtora Sanches Tripoloni Ltda. expõe argumentos de semelhante teor aos apresentados pelo Sr. Eduardo Calheiros de Araújo, justificando o comprimento da camisa metálica acima do leito do rio. 104. Com relação ao comprimento necessário de cravação das camisas metálicas no leito do rio, a contratada alega que o solo existente no local não apresenta boas condições de suporte, indicando um parâmetro inferior a 5 golpes nas sondagens do tipo SPT realizadas no local. Apresenta estudo técnico em anexo a sua manifestação em que foi realizada verificação de qual seria a flexibilidade da camisa metálica mediante a introdução de esforços horizontais para todos os apoios localizados em lâmina d'água. Os cálculos realizados estudaram o comportamento das camisas metálicas ao longo de todo o seu comprimento, inclusive a parcela enterrada. 105. O referido estudo foi realizado pela CAF Engenharia e encontra-se autuado à peça n. 35, fls. 6 a 41. As últimas folhas do referido estudo não foram incluídas na referida peça. 106. Segundo a defendente, a cravação de 8,00 m de camisa metálica em solo de baixa resistência e submerso é o mínimo que deveria ser utilizado para garantir que esforços superficiais não provocassem a perda da função da estaca raiz por romper a estrutura do concreto durante o processo de concretagem e de cura. 107. Salienta, por fim, que, durante as obras, as camisas metálicas foram cravadas até se obter a

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nega, ou seja, quando a camisa metálica não mais respondia à energia de cravação, deixando de se movimentar perante os esforços introduzidos pelo martelo do bate-estacas. Verifica-se, então, que ficou demonstrada a necessidade de cravação de, no mínimo, 8,00 m das camisas metálicas no solo submerso. Análise 108. Antes de iniciar a análise, enfatiza-se que a questão da quantidade do fornecimento e da cravação das camisas metálicas poderia ser facilmente e definitivamente esclarecida pelos responsáveis mediante a apresentação de notas fiscais comprovando a aquisição dessas camisas na época de execução dos serviços. Em diversas oportunidades, os defendentes poderiam ter elucidado a questão, mas em todas elas se limitaram a apontar supostas falhas na análise técnica efetuada pela Secex-MT e pela Secob-2. 109. Um segundo procedimento muito simples também permitiria esclarecer ao menos parte da dúvida existente no quantitativo desses serviços. Está se discutindo há anos a profundidade da lâmina d’água nos locais onde os serviços de reforço estrutural foram executados. Bastaria realizar um simples serviço de batimetria nos locais para se obter a profundidade exata do leito do rio. 110. Em instrução anterior, realizada no âmbito de TC-023.585/2006-5, a Secob não recomendou a realização de ensaios para verificação do comprimento total das estacas, tendo em vista as dificuldades práticas envolvidas. No entanto, pelo menos a profundidade do leito do rio pode ser obtida de forma simples. 111. Não se propõe tal medida, pois a construtora dispõe de um meio simples e isento de custos para comprovar suas alegações. Basta que apresente as notas fiscais de aquisição das camisas metálicas. 112. Além disso, é de se enfatizar que todos os estudos técnicos ora apresentados pela Sanches Tripoloni, inclusive os boletins de sondagem, têm reduzido poder probatório. Isso porque na obra em questão ocorreu uma verdadeira engenharia reversa. A contratação da recuperação da Ponte Marechal Rondon se deu com um projeto incipiente e sem a realização prévia de sondagens e de serviços de batimetria. Ainda assim, a área de projetos do Dnit conseguiu prever as profundidades de lâmina d’água e os comprimentos de cravação das camisas metálicas com absoluta precisão. As unidades técnicas deste Tribunal tentaram por anos obter as memórias de cálculo, projetos e justificativas técnicas para os parâmetros e quantitativos adotados. Agora, com a obra pronta e em pleno processo de Tomada de Contas Especial, os responsáveis começam a apresentar estudos técnicos comprovando os quantitativos medidos na obra. Nesse processo de “engenharia às avessas” faz-se a obra primeiro, sem projeto e sem nenhum controle, para depois elaborar e apresentar ao TCU estudos justificando as medições e pagamentos efetuados. 113. De imediato, chama a atenção o fato de que a solução apontada para reforço estrutural da ponte, ainda em fase de estudos preliminares, sem execução de qualquer trabalho de reconhecimento do solo, tenha sido exatamente aquela adotada pela empresa.114. Em expediente enviado à 11ª Unit, o Engenheiro Eduardo Calheiros, Coordenador da Diretoria de Planejamento e Pesquisa — DPP/Dnit, explica que "embora houvesse informações de quais capacidades de cargas haveriam de ser necessárias de se implantar (estimadas pelos documentos obtidos, tais como memórias de cálculo originais) possíveis de cravação, não havia como estimar se aquelas unidades de estacas tipo raiz (...) seriam capazes de atingir a capacidade estrutural." Em exame realizado no projeto original que foi apresentado à equipe de fiscalização, não foi encontrado nenhuma referência quanto às capacidades de carga ou comprimentos possíveis de cravação e, principalmente, camada de rocha. 115. Não há, a princípio, explicação para estimativa tão precisa. A parcela de serviços correspondentes à cravação de estacas raiz em rocha foi estimada em exatos 8 m. Com relação aos comprimentos das estacas, a distribuição está indicada na tabela a seguir, constante do TC-023.585/2006-5 - peça n. 1, fl. 33. O que se percebe é que foi previsto comprimento de cravação em camada de rocha de valor idêntico a espessura da lâmina d’água:

Sondagem Lâmina d’ Solo (metros) Rocha Total por

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água (metros) (metros) Bloco (metros)Sm 01 0,00 27,00 8,00 350,00Sm 02 8,00 15,00 8,00 310,00Sm 03 8,00 14,00 8,00 300,00Sm 04 8,00 13,00 8,00 290,00Sm 05 8,00 13,00 8,00 290,00Sm 06 8,00 13,00 8,00 290,00Sm 07 8,00 15,00 8,00 310,00Sm 08 8,00 17,00 8,00 330,00Sm 09 0,00 18,00 8,00 260,00Sm 10 0,00 27,00 8,00 350,00

Quantidade Total 3.080,00

116. Há, portanto, indícios de que os quantitativos de serviços pagos não correspondam aos efetivamente executados. 117. Após essas breves considerações, inicia-se o exame dos argumentos apresentados pelos responsáveis. 118. Com relação ao estudo técnico apresentado pela Construtora (peça n. 35, fls. 6 a 41), verifica-se que tal documento foi embasado nos mesmos boletins de sondagem existentes às fls. 34 a 64, anexo 7, do TC-023.585/2006-5 (processo de monitoramento que originou a presente TCE). Tais boletins de sondagem apresentam espessuras de lâmina d’água muito superiores ao parâmetro indicado pelos próprios responsáveis, 3,564 metros de profundidade média, segundo relatório do Corpo de Bombeiros, anexado às alegações de defesa apresentadas. A tabela a seguir, extraída da fl. 144, vol. Principal, do TC-023.585/2006-5, sintetiza as espessuras de lâmina d’água apresentadas nos referidos boletins de sondagem.

Furo de sondagem Lâmina de água (m)

Sm 01 0Sm 02 5,85Sm 03 9,35Sm 04 10,08Sm 05 10,3Sm 06 9,7Sm 07 9,7Sm 08 8,85Sm 09 4,25Sm 10 0

119. Tais espessuras também são incompatíveis com o projeto original da ponte de 1958, o qual apresenta nas memórias de cálculo a previsão de uma lâmina de água de 3,10 m (fls. 7 a 9, anexo 10, TC-023.585/2006-5). Por fim, também difere da espessura levantada pela Secob-2 (2,6 m). 120. Ainda que as referidas sondagens tenham sido realizadas na época de cheias, as discrepâncias nas espessuras das lâminas d’água são evidentes. 121. Nas referidas sondagens, observa-se a falta de identificação dos responsáveis diretos pelos serviços. Ainda que não se questione a responsabilidade da Construtora pela sondagem, não há razão alguma para não existir registro dos profissionais sondadores e dos engenheiros ou geólogos responsáveis, bem como da empresa especializada em sondagem geotécnica, haja vista que tais serviços costumam ser subcontratados. 122. Trata-se de informação vital do ponto de vista técnico paras as obras de infraestrutura, sendo

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inaceitável o emprego de sondagens sem a indicação de responsáveis e sem a apresentação da Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). Nos termos da Lei 6.496/1977:

“Art. 1º - Todo contrato, escrito ou verbal, para a execução de obras ou prestação de quaisquer serviços profissionais referentes à Engenharia, à Arquitetura e à Agronomia fica sujeito à ‘Anotação de Responsabilidade Técnica’ (ART). Art. 2º - A ART define para os efeitos legais os responsáveis técnicos pelo empreendimento de engenharia, arquitetura e agronomia.”

123. Nesse sentido, o Tribunal consolidou entendimento sobre o assunto consubstanciado na Súmula 260/2010:

“É dever do gestor exigir apresentação de Anotação de Responsabilidade Técnica – ART referente a projeto, execução, supervisão e fiscalização de obras e serviços de engenharia, com indicação do responsável pela elaboração de plantas, orçamento-base, especificações técnicas, composições de custos unitários, cronograma físico-financeiro e outras peças técnicas.”

124. Por sua vez, a Lei 5.194/1966, art. 13, dispõe que os estudos, plantas, projetos, laudos e qualquer outro trabalho de engenharia, de arquitetura e de agronomia somente terão valor jurídico quando seus autores forem profissionais habilitados de acordo com essa lei. O art. 14 da mesma lei, estabelece que, nos trabalhos gráficos, especificações, orçamentos, pareceres e laudos é obrigatória além da assinatura, precedida do nome da empresa, sociedade, instituição ou firma a que interessarem, a menção explícita do título do profissional que os subscrever e do número da carteira profissional. 125. Por fim, o art. 15 da lei que regula o exercício da profissão de engenheiro declara que são nulos de pleno direito os contratos referentes a qualquer ramo da engenharia, arquitetura ou da agronomia, inclusive a elaboração de projeto, direção ou execução de obras, quando firmados por entidade pública ou particular com pessoa física ou jurídica não legalmente habilitada a praticar a atividade nos termos desta lei. 126. Ante o exposto, os referidos boletins de sondagem têm reduzido poder probatório, assim como os demais cálculos apresentados no estudo técnico em anexo à peça de defesa da Construtora (peça n. 35, fls. 6 a 41), pois estão baseados nos referidos boletins de sondagem. 127. Ainda que se aceite como válidas as referidas sondagens, o citado estudo técnico ainda não demonstra a necessidade de cravação das camisas metálicas na profundidade de 8 metros no leito do rio, pois a execução propriamente dita das estacas-raiz se deu em condições normais de lâmina de água, conforme se comprova pelas imagens contidas no relatório fotográfico de junho de 2006 (fls. 114 a 132 do Anexo 1, TC-023.585/2006-5, em especial nas fotos 20, 24, 25 e 26), não se justificando a utilização das espessuras de lâmina d’água utilizadas nas simulações de deslocamento da estaca. 128. É de se destacar também que os resultados apresentados foram obtidos por simulação computacional, realizada no programa SAP 2000, desacompanhada de qualquer memória de cálculo e das hipóteses e equações utilizadas, impossibilitando a sua conferência. 129. Neste ponto é necessário esclarecer que o serviço de execução das camisas de aço de 500 mm de diâmetro a serem cravadas 2,0 m no leito do rio, se estendendo 1,0 m acima do nível de água, tem como objetivo servir como uma fôrma perdida para concretagem da estaca dentro da água. A extensão de camisas metálicas 1,0 acima do nível de água é necessária para a solidarização das estacas raiz nos reforços dos blocos de fundação a serem concretados acima do nível de água. O embutimento das camisas metálicas no fundo do rio é necessário para que, quando da concretagem das estacas raiz no trecho em água, não haja fuga de argamassa ou calda pelo fundo do tubo metálico de encamisamento. 130. Devem ser refutados os argumentos do Sr. Eduardo Calheiros de Araújo, atribuindo um inusitado sentido ao termo “lâmina d’água” que, na sua visão, se prolonga por vários metros acima da superfície do rio, bem como os argumentos tentando justificar o comprimento das camisas metálicas. O próprio desenho esquemático apresentado pelo responsável demonstra que suas alegações não estão corretas.

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131. O defendente pretende justificar que os topos das camisas metálicas nunca poderiam ser ultrapassados pelo nível das águas em nenhum momento das obras. Para isso, aduz que as camisas metálicas seriam executadas até 2,5 metros acima da face superior dos blocos, sendo efetuado um arrasamento das estacas com cota coincidente com a face superior do bloco, conforme indicado no desenho apresentado em sua peça de defesa e reproduzido nesta instrução. 132. Se os serviços fossem executados da forma prevista no croqui esquemático, os blocos não ficariam solidarizados com as estacas, o que só é garantido quando a estaca é arrasada na cota da superfície inferior do bloco, deixando-se uma armadura de arranque para ser concretada juntamente com o bloco. Garante-se, assim, a continuidade da estrutura de concreto das estacas com os blocos de fundação, criando uma estrutura monolítica. 133. Se os serviços foram executados da forma indicada pelo defendente, pode ter ocorrido uma grave falha na execução dos mesmos, pois a fundação executada não teria função alguma, haja vista que a carga estrutural seria depositada sobre um bloco que não está solidarizado com as estacas da fundação. Uma simples inspeção visual da superfície superior dos blocos mostraria se as estacas foram ou não arrasadas nesse nível. 134. Com relação à informação do Sr. Eduardo de que a espessura média de lâmina d’água, segundo relatório do Corpo de Bombeiros, de 3,564 metros de profundidade foi “arredondada” para 4,0 metros, haja vista que, na sua acepção, o tipo de contratação de caráter emergencial não permite aditivos contratuais, entende-se que tal procedimento não tem embasamento legal e técnico, não se podendo deixar a confirmação do quantitativo de serviço sob a responsabilidade da fiscalização. Nesse sentido, pode-se citar o Sumário do Acórdão-1874/2007-Plenário:

1. Falece de fundamentação legal e respaldo técnico a elaboração de planilhas orçamentárias de obras públicas com injustificada superestimativa dos quantitativos dos serviços previstos. Não se pode deixar à fiscalização do contrato a tarefa de reter os quantitativos excedentes uma vez que ela própria deve estar sujeita aos controles internos ditados naturalmente pelo projeto da obra, que se constitui no referencial físico e financeiro do empreendimento.

135. Além disso, é bom lembrar que, nos exatos termos do art. 7º, § 4º, da Lei 8.666/1993, é vedada a inclusão, no objeto da licitação, de fornecimento de materiais e serviços sem previsão de quantidades ou cujos quantitativos não correspondam às previsões reais do projeto básico ou executivo. O art. 7º, § 6º, da Lei 8.666/1993, declara como nulos de pleno direito contratos que infringirem tal disposição, devendo tal fato ensejar não a alteração do contrato visando à correção das imperfeições, mas sua anulação, bem como a responsabilização do gestor faltoso. 136. Por fim, observa-se que as alegações dos defendentes se limitaram a explicitar a divergência nos quantitativos de serviços, não adentrando no sobrepreço apurado na execução das camisas metálicas. 137. Todavia, em prol do princípio da verdade material, observa-se que o sobrepreço em relação a esse ponto decorre de três aspectos: (i) correção do adicional de mão de obra; (ii) ausência do desconto de 20% do Petse; e (iii) supressão do compressor de ar da composição. 138. As parcelas de sobrepreço oriundas da falta de desconto de 20% do Petse e da incidência do adicional de mão de obra sobre os encargos sociais nas composições do Sicro foram esclarecidas, conforme análise anteriormente efetuada nesta instrução. Com relação ao compressor de ar, na análise realizada pela Secob-2 que originou o Acórdão 2.587/2010 - Plenário, o AUCF encarregado da instrução assim se manifestou (fl. 320, volume principal, TC-023.585/2006-5):

Em relação ao compressor de ar, admitem os gestores que o equipamento fora indevidamente previsto. Contudo, alegam que outro equipamento necessário à realização dos serviços não teria sido previsto na composição, no caso, um caminhão carroceria com guindaste para colocação das camisas metálicas no flutuante, pelo que, informam que seria corrigida a composição, conforme apresentado à fl. 290, e providenciada a devolução dos valores indevidamente medidos e pagos no valor total calculado em R$ 78.028,30.

33. Com relação a este ponto, considera-se aceitável a necessidade de se prever o caminhão com guindaste para apoio às atividades de cravação das camisas metálicas. No entanto, a composição de custo unitário do serviço apresentada pelos gestores à fl. 290, não considera o desconto de 20% das obras do Petse e a

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exclusão do adicional de mão de obra sobre os encargos sociais. Aplicando-se esta correção, temos que o preço unitário do serviço passa a ser de R$ 820,50 (a composição corrigida encontra-se anexada a esta instrução).

139. A composição de preço unitário a que se refere o AUFC encontra-se à fl. 329, volume principal, TC-023.585/2006-5. Na referida composição, observa-se que o preço unitário do serviço, sem o desconto de 20% do Petse e com os adicionais sobre mão de obra incidindo sobre os encargos sociais é de R$ 1.031,07. Na referida composição, houve glosa do compressor de ar e inclusão do caminhão carroceria com guindaste para apoio às atividades de cravação das camisas metálicas. Considerando-se o valor contratual de R$ 1.096,62 e os 1.190 metros de serviço pagos, resultam em um superfaturamento por preços excessivos de R$ 78.004,00 (1.190 metros x (R$ 1.096,62 – R$ 1.031,07) ). Tal valor é semelhante à parcela incontroversa do sobrepreço, R$ 78.028,30, conforme reconhecido pelos responsáveis por ocasião das audiências realizadas no TC-023.585/2006-5. 140. Ainda há de se ressaltar que a composição referencial presente à fl. 329 ainda apresenta algumas possíveis inconsistências. Por exemplo, o custo operativo do equipamento de solda é de apenas R$ 0,04/hora e o coeficiente de consumo (5 Kg) e o preço unitário (R$ 102,49/Kg) do fornecimento de tubos metálicos estão aparentemente invertidos. Na verdade, o coeficiente de consumo do insumo deve ser de 102,49 Kg, ao passo que o seu custo unitário deve corresponder a R$ 5,00/Kg. O ajuste no custo horário da maquina de solda reduziria um pouco o sobrepreço. 141. Considerando que existe uma diferença da ordem de 5% entre o custo referencial e o preço contratado; considerando que se trata de um serviço com composição inexistente no Sicro ou no Sinapi; considerando que se trata de um sobrepreço unitário, compensado pelo desconto observado em outros serviços, conforme já observado na análise das alegações de defesa relacionados com o serviço de monitoramento de tráfego, julga-se cabível propor o afastamento do débito relacionado com os preços excessivos no serviço de cravação das camisas metálicas. 142. Por outro lado, propõe-se refutar as alegações de defesa relacionadas com o superfaturamento de quantitativos verificado no serviço de cravação das estacas, imputando-se um débito de R$ 870.716,30 aos responsáveis. Tal montante decorre da multiplicação do preço contratual do fornecimento e cravação da camisa metálica (R$ 1.096,62) pela diferença de quantitativo supostamente medida a maior (1.190 metros – 396 metros = 794 metros). Tal montante deve ser imputado aos responsáveis Rui Barbosa Egual, Laércio Coelho Pina e Eduardo Calheiros de Araújo, solidariamente com a construtora Sanches Tripoloni Ltda. 143. Ao Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório, propõe-se imputar um débito de R$ 651.477,00, valor no qual foi citado. Tal montante foi calculado pela diferença entre os quantitativos (794 metros) multiplicada pelo preço unitário referencial do serviço (R$ 820,50). Em nosso entendimento, o Sr. Antônio Carlos, ao atestar a execução de quantitativos a maior, na condição de fiscal do contrato, sabia qual era o preço unitário contratual (R$ 1.096,62) e, portanto, poderia inferir o valor do dano que seria causado à União. Assim, em nosso entendimento, deveria ter sido citado por R$ 870.716,30, valor do superfaturamento decorrente dos quantitativos pagos a maior. 144. No atual estágio processual, não se propõe nova citação do responsável, mas tal informação é fundamental para a formação de um juízo sobre o montante da multa a lhe ser imposta com fundamento no art. 57 da LOTCU. III.d Sobrepreço no serviço de execução de estacas-raiz. 145. Quanto a essa parcela do débito, foram citados os seguintes responsáveis solidariamente com a Construtora Sanches Tripoloni Ltda.: Rui Barbosa Egual, Laércio Coelho Pina, Eduardo Calheiros de Araújo. Esses responsáveis respondem pelo débito de R$ 870.214,72, correspondente ao sobrepreço no serviço de execução de estacas-raiz. Dentre outras causas, tal sobrepreço é decorrente da comparação dos custos unitários dos serviços de perfuração de vários diâmetros de estaca raiz em solo e em rocha com custos unitários obtidos na revista “Construção Mercado”, bem como do excesso de consumo de argamassa e do valor excessivo do coeficiente de consumo de aço utilizado pelo Dnit (24,75 kg/m) contra o que a Secob apurou como devido (17,70 kg/m). 146. O Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório, fiscal da obra, foi citado apenas pelo pagamento do

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serviço com consumo excessivo de argamassa, ocasionando superfaturamento na execução de estacas-raiz, no valor de R$ 22.695,62. 147. O Sr. Eduardo Calheiros de Araújo apresenta os seguintes argumentos relacionados com o coeficiente de consumo de aço:

O consumo de 17,7 kg/m, apurado pela Secob, não é condizente com a obra em questão. A tabela utilizada como parâmetro pelo órgão técnico propõe uma estimativa mínima de armaduras necessárias, o que pode não corresponder à realidade da obra. Isso, aliás, sem considerar as emendas de transpasse, que, segundo o defendente, não foi considerada pela Secob.

Com efeito, a apuração feita com base em estudos divulgados pela FUNDESP e pelo Professor Luiz Naresi Junior, especialista na área de geotécnica, leva a resultados diferentes do apontado pela Secob.

A tabela da FUNDESP apresentada pelo defendente sugere um consumo de aço de 22,495 Kg/m.

Por sua vez, o estudo do Professor Luiz Naresi chega a um consumo de 30,49 kg/m. 148. Quanto ao consumo de argamassa, o defendente apresenta as seguintes alegações:

A Secob-2 reputa como razoável a perda da ordem de 8% para estacas executadas em solo/rocha, e de 2% para estacas executadas em camisa metálica, contra as perdas de 24% e 15% contratadas.

O estudo da FUNDESP comprova a regularidade dos quantitativos contratados, pois demonstra que se forem utilizadas as tabelas existentes no mercado, adotadas em geral pelos projetistas, chega-se a valores muito próximos daqueles adotados no projeto.

Apresenta cálculos demonstrando que o consumo de argamassa é de 0,2054 m3/m, considerando a proporção real entre estacas 410 mm e 310 mm (a estaca de 410 mm tem um consumo de 0,24202 m3/m e a estaca de 310 mm tem um consumo de 0,12302 m3/m).

Pelo estudo do Professor Naresi, na proporção real entre estacas de 410 mm e 310 mm tem um consumo de 0,2072 m3/m (0,12876 m3/m para a estaca de 310 mm e 0,21460 m3/m para a estaca de 410 mm).

149. Informa o responsável que não foi possível identificar qual foi o valor de referência utilizado pela Revista Construção Mercado. 150. Por sua vez, o Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório argumenta que no consumo de argamassa para a estaca raiz sua apropriação foi feita de acordo com o consumo previsto em projeto. Também enfatiza que ocorrem perdas com a utilização do método escolhido, “porém, não se determina o volume perdido por estaca cravada, somente o previsto em projeto.” 151. O Senhores Rui Barbosa Egual e Laércio Coelho Pina apresentam alegações de teor semelhante para esse quesito. Destacam manifestação já apresentada de que o consumo de aço para estacas em obras de edificações constitui apenas uma estimativa de armadura mínima necessária, que podem variar em função dos arranjos construtivos sugeridos. 152. Em seguida, referem-se à tabela da Fundesp de que o consumo de aço por metro linear de estacas raiz para obras comuns, ou seja, em solo, sem a presença de rios, é de 6 barras de 20 mm de aço CA-50, tanto para o diâmetro de 310 mm quanto para o diâmetro de 410 mm. Considerando-se os estribos e as emendas de transpasse, obtém-se um coeficiente de 22,495 kg/m, o que é bem próximo dos 24,75 Kg/m utilizado pelo Dnit. Considerando as situações adversas da obra, exigindo a consideração de esforços de flexão nas estacas, além dos esforços normais, as armaduras propostas no relatório da Secob tornam-s insuficientes. 153. Com relação ao consumo de argamassa, os signatários argumentam que as críticas apresentadas pelos técnicos da Secob não se sustentam tecnicamente. Uma dessas críticas é de que a proporção de 75/25 de estacas raiz de 410 e 310 mm acabou não se confirmando. Os gestores rebatem tal fato afirmando que tal proporção foi elaborada e deu origem aos quantitativos que foram apresentados para a empresa contratada. Os gestores não acompanharam a obra, efetuando medições, tarefa

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desenvolvida por outros técnicos do Dnit. 154. No mais, os defendentes afirmam que os cálculos elaborados pelo engenheiro Eduardo Calheiros de Araújo demonstram que o coeficiente apurado está na faixa de 0,2 m3/m, bem distante daquele sugerido pela Secob. 155. Por fim, os responsáveis fazem diversas críticas aos custos unitários da revista “Construção Mercado” para os serviços de execução de estaca raiz. Refutam o uso do custo obtido no Estado do Pará para a obra em Mato Grosso. Concluem que “cabe aos técnicos da Secob justificarem o que os motivou a adotar um valor a esmo para permitir que o gestor tenha condições de responder sobre aquela premissa escolhida aleatoriamente.” 156. A Construtora Sanches Tripoloni inicia suas alegações quanto a esse quesito indicando que o parâmetro adotado pelo TCU para consumo de argamassa está inadequado e anexa estudo técnico a sua manifestação justificando os coeficientes de consumo adotados. Com base no referido estudo técnico, autuado à peça n. 24, obteve-se um consumo de argamassa de 0,236633 m3/m para a estaca raiz de 410 mm. 157. À peça n. 32, a Construtora apresenta memória de cálculo com o dimensionamento das armaduras das estacas raiz, determinando que a área de ferro deveria corresponder a oito barras de 20 mm, pois as estacas raiz estão sujeitas a esforços transversais, causadas por diversas outras ações. Em função desse dimensionamento, a defendente obtém um consumo de aço de 28,49 Kg/m. 158. A Construtora também faz uma série de questionamentos sobre os valores de estaca raiz indicados na Revista Construção Mercado, observando que não há cotação específica para o Estado do Mato Grosso, o que levou a unidade técnica a adotar imotivadamente os preços praticados no Estado do Pará. Afirmando que a cidade de Cáceres está localizada a 1900 km da Capital do Pará, aduz que seria mais razoável a utilização do valor de cravação de estacas obtidos para Minas Gerais, que era de R$ 633,33/m para estaca de 310 mm cravada em rocha e R$ 170,00 para a estaca com 410 mm cravada em solo. 159. Finalmente, a construtora enfatiza que o custo de mobilização indicado pela Pini refere-se às mobilizações que ocorram dentro do mesmo Estado e dentro de raio não muito elevado. 160. A Sanches Tripoloni conclui suas alegações afirmando não haver sobrepreço nos serviços de estaca raiz. Análise 161. Antes de adentrar no exame dos argumentos apresentados, novamente deve-se ressaltar que, até o presente momento, passados vários anos de execução da obra, os responsáveis não trouxeram aos autos os projetos executivos da obra, acompanhados das respectivas anotações de responsabilidade técnica. Nesse ponto é interessante trazer a baila um trecho do Voto Condutor do Acórdão 2.587/2010 – Plenário, que determinou a conversão do presente processo em tomada de contas especial:

15(...) A suspeita também ganha força diante da defesa apresentada pelos responsáveis, que não encaminhou nem o projeto de engenharia da intervenção, com os desenhos técnicos relativos às fundações, nem qualquer outro elemento técnico relevante, a exemplo da “memória de cálculo do Projeto Executivo”, na qual segundo os responsáveis estaria demonstrado “o dimensionamento estrutural das estacas-raiz”. 16 Na verdade, não se tem certeza sequer de que tais elementos existam, o que seria inconcebível diante da magnitude e complexidade da intervenção implícita no assim chamado projeto executivo da obra, que como dito antes, pouco mais seria do que a planilha de preços e quantitativos. Note-se, ainda, que a empresa contratada, a quem caberia “a elaboração e detalhamento do projeto executivo de recuperação e reforço” e também a contratação de “serviços de consultoria de estruturas e assistência técnica para implantação da obra”, limitou-se a aderir ao pronunciamento dos dirigentes do Dnit/MT, na resposta à oitiva que lhe foi facultada.

162. Novamente, é pertinente a alusão à engenharia “às avessas” praticada pelos responsáveis. O Sr. Eduardo Calheiros de Araújo, responsável pelo projeto da intervenção da ponte, não se sabe como, elaborou uma planilha estimativa de serviços. Tal planilha foi elaborada sem sondagens ou outros levantamentos, sem cálculos das estruturas e das cargas atuantes, elementos indispensáveis para que se pudesse calcular a quantidade de estacas, as respectivas profundidades, bem como o consumo de aço e argamassa em cada uma delas.

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163. Novamente, os quantitativos “estimados” dessa forma acabaram sendo efetivamente verificados, medidos e pagos pelos gestores da Superintendência do Dnit em Mato Grosso. O projeto executivo da obra jamais foi apresentado ao TCU. 164. Agora os responsáveis encaminham cálculos e estudos justificando os coeficientes utilizados nas composições de custo unitário, mas continuam sem encaminhar o projeto e as respectivas anotações de responsabilidade técnica. 165. Inicia-se, assim, a análise das alegações de defesa com a afirmação do Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório de que o “consumo de argamassa para a estaca raiz sua apropriação foi feita de acordo com o consumo previsto em projeto”. Tal afirmação poderia ser aceita se existisse um projeto e se o mesmo fosse encaminhado ao TCU, mostrando que o consumo medido correspondia ao realmente necessário para execução do serviço. Novamente, todas as falhas já apuradas na fiscalização da obra no âmbito do TC-002.079/2006-9 justificam a rejeição das alegações de defesa apresentadas. No referido levantamento de auditoria, foi apurado que houve fiscalização deficiente no contrato, infringindo o art. 67 e parágrafos, da Lei 8.666/1993. O diário de obras estava com registros insuficientes e atraso na sua elaboração, não indicando os equipamentos utilizados no serviço, nem o quantitativo de pessoal envolvido por categoria, além de não registrar precisamente os serviços executados no dia. No dia da inspeção realizada pela equipe de auditoria do TCU na obra, 7/2/2006, só havia registro no diário de obras até o dia 31/01/2006. Também foi constatada a ausência de apropriações diárias dos materiais e da mão de obra utilizados nos serviços emergenciais de difícil quantificação posteriormente à execução. 166. O argumento do Sr. Eduardo Calheiros de que a Secob não considerou o transpasse das armaduras no cálculo do coeficiente do aço também não é procedente. No verso da fl. 145, vol. Principal, do TC-023.585/2006-5, consta o seguinte texto no parágrafo 68, contradizendo a afirmação do defendente:

“...A quantidade de aço por metro de estaca para suportar 100 toneladas apresentada nas composições da proposta foi reavaliada com base nas tabelas de projeto do livro “Fundações, Teoria e Prática”, Editora Pini, 2ª Edição, pág. 368, tabela 9.7, que prevê para estacas com diâmetro de 31 cm o emprego de cinco barras longitudinais de 22 mm e estribos de 6,3 mm a cada 20 cm. Esta ferragem consome 17,7 kg/m, compostos por 15,25 Kg/m de aço para as barras longitudinais e 1,4 kg/m para os estribos, acrescidos de 6,7% de consumo relativo às emendas por transpasse. O consumo de aço por metro de estaca raiz foi reduzido, no presente relatório, de 24,75 quilogramas para 17,7 Kg/m na composição da construtora.” (grifo nosso).

167. Com relação ao estudo apresentado pela Construtora Sanches Tripoloni com o dimensionamento das armaduras das estacas raiz (peça n. 32), apresenta-se a análise nos tópicos a seguir. 168. Inicialmente o referido estudo informa que os esforços sobre as estacas, em forma de combinações máximas e mínimas, foram obtidos das memórias de cálculo estrutural do projeto. Novamente, a análise do referido documento fica prejudicada sem o projeto executivo do serviço de recuperação estrutural da Ponte Marechal Rondon. Não se sabe que parâmetros permitiram que se chegasse aos carregamentos normais e transversais em cada estaca utilizados no citado estudo, pois não se tem uma memória de cálculo estrutural demonstrando tais esforços. 169. Os cálculos efetuados no referido estudo levaram em consideração um coeficiente de confinamento lateral do solo de fundações (Kh) de 40 Tf/m3, considerando que o solo submerso é areia fofa. Tal premissa foi obtida nos mesmos boletins de sondagem existentes às fls. 34 a 64, anexo 7, do TC-023.585/2006-5, sobre os quais já se enfatizou terem reduzido poder probatório, dadas as discrepâncias existentes nos dados reais de lâmina d’água obtidos a partir de outras fontes. 170. Sobre a memória de dimensionamento das armaduras das estacas raiz, podem-se tecer ainda os seguintes comentários:

As simulações estruturais foram feitas utilizando o software SAP-2000. O referido programa trabalha com o usuário fornecendo os elementos de rigidez da estrutura como dados de entrada. Assim, as 8 barras de aço de 20 mm são fornecidas como dado de entrada da simulação estrutural, não sendo resultados obtidos diretamente a partir do uso do programa.

O programa SAP-2000, com base nos carregamentos e na geométrica com elementos da 27

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estrutura informados, realiza simulações numéricas na estrutura, apresentando como resultados as reações vertical e horizontal do elemento estrutural simulado, as deformações finais na estrutura e as tensões obtidas. Os relatórios enviados ao TCU apresentam as conclusões de que o “pilar é estável” e que “não há ruptura”.

Tal resultado é óbvio, pois a taxa de armação utilizada como dado de entrada está muito elevada.

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Para invalidar o coeficiente de consumo de armadura sugerida pela bibliografia utilizada pela Secob na sua estimativa de consumo de aço, no caso 5 barras longitudinais de 22 mm, a Sanches Tripoloni deveria apresentar simulação estrutural com os referidos parâmetros. Obviamente, qualquer simulação estrutural com elevada taxa de armação, como a ora analisada, resultará na estabilidade e integridade do elemento estrutural analisado. Até dado limite, quanto maior for a quantidade de aço, maior será o fator de segurança da estrutura projetada. Contudo, tal majoração no consumo de aço se constituiu em um gasto desnecessário e antieconômico, pois resulta em um fator de segurança superior ao exigido pelas normas técnicas.

À fl. 2, peça n. 32, observa-se que a estaca raiz foi simulada como um pilar biarticulado. Tal hipótese no modelo de cálculo gera um grande acréscimo na quantidade de armadura em virtude dos efeitos de flambagem. Como comparação, se for adotado o modelo de um pilar biengastado, hipótese mais razoável no caso em questão, gera-se expressiva economia no consumo de aço. O modelo de pilar biengastado é válido caso o local previsto para a inserção do elemento estrutural forneça condições para que o engaste seja aceito naturalmente. No caso da obra em análise, a extremidade inferior da estaca-raiz estará encravada vários metros em leito rochoso, sendo razoável considerar que tal vínculo seja considerado como um engaste. A extremidade superior da estaca fará contato com um bloco de concreto armado de grande dimensão, demonstrando-se também uma hipótese razoável que as estacas e o bloco formem um único elemento monolítico, caracterizando outro engaste.

Na simulação estrutural efetuada, considerou-se que a parte superior encamisada da estaca raiz, com diâmetro de 500 mm, é o local mais solicitado do elemento estrutural, pois é a parte da estaca que não está confinada em solo, sofrendo maior incidência de esforços transversais e de momentos fletores. Assim, o dimensionamento foi feito utilizando o elemento estrutural de concreto armado sem nenhuma consideração relacionada com a carga suportada pela camisa metálica externa de 500 mm de diâmetro e 8 mm de espessura. Tal camisa metálica foi completamente desconsiderada na simulação estrutural, premissa que certamente aumentará a taxa de armação da estaca raiz.

A camisa metálica possui seção transversal com elevado momento de inércia, capaz de resistir a elevados momentos fletores e carregamentos normais, de forma que sua consideração no cálculo reduziria a taxa de armação necessária. A empresa CAF Consultoria e Projetos de Engenharia SC Ltda., responsável pelo estudo autuado à peça n. 32, afirma que “...nos casos mais solicitados em região de fustes de Φ500 mm no interior de camisas metálicas em aço A-36 #8mm, onde seria possível, por especificações de norma (NBR-6122/1996) a utilização das seções destes aços como resistentes na seção de concreto...”. No entanto, a citada empresa não considerou a resistência da camisa metálica nas simulações efetuadas.

As simulações efetuadas consideraram uma distância “dlinha” equivalente a 14,1 centímetros. Tal medida corresponde à distância entre as barras de aço da armadura e o centro geométrico da seção da estaca, ou seja, a armadura terá um diâmetro externo de 28,2 cm. Considerando que o diâmetro externo da estaca na parte encamisada é de 500 mm, seria possível aumentar “dlinha” para 22 centímetros, ou seja, uma armadura cilíndrica com 44 cm de diâmetro, mantendo o recobrimento de 3 cm de concreto nas armaduras. Esta redução teórica da distância das armaduras até a superfície externa da estaca seria suficiente para reduzir o dimensionamento das armaduras.

A CAF Consultoria discorda desse entendimento, alegando que, por dificuldades práticas de execução, não seria recomendável fazer variações nos diâmetros das armações. A nosso ver, a armação do trecho de estaca raiz em rocha, com 310 mm, poderia ser feito com um determinado arranjo e diâmetro da armadura, o trecho de escada raiz em solo, com 410 mm, poderia ser armado com outro arranjo e geometria e o trecho encamisado poderia ser armado com um terceiro arranjo com “dlinha” ainda mais elevado. A própria tabela da FUNDESP

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apresentada pelos responsáveis apresenta tal informação (peça n. 26, fl. 29): “as armaduras das estacas podem ser alteradas ao longo do fuste em função do diagrama de atrito lateral”.

171. Ante o exposto, o estudo encaminhado pela Sanches Tripoloni não comprova a taxa de armação alegada pela empresa nas estacas raiz. 172. Com relação à tabela da FUNDESP apresentada como defesa pelo Sr. Eduardo Calheiros, admitindo que as estacas estejam sujeitas ao carregamento máximo indicado, admite-se que o parâmetro de seis barras de 20 mm é aceitável. Enfatiza-se que, se as estacas suportarem cargas inferiores, poderão ser utilizadas apenas quatro barras de 20 mm para a estaca de 410 mm ou 4 barras de 16 mm para a estaca de 310 mm. Como a memória de cálculo do dimensionamento nas cargas nas fundações não foi encaminhado, a referida análise fica prejudicada. 173. Para fins de análise, utiliza-se o parâmetro de seis barras de 20 mm apresentada na tabela da Fundesp. Observa-se que o Sr. Eduardo considerou um comprimento de transpasse de 1,5 metros, o que se afigura muito elevado em relação aos parâmetros da NBR 6118/2003 (projeto de estruturas de concreto – procedimento). Segundo referida norma, o comprimento básico de ancoragem (lb) para um concreto de classe C20 (resistência característica à compressão de 20 MPa) é de 44 vezes o diâmetro da barra. Para se calcular o comprimento de transpasse, deve-se levar em conta que as barras da armadura estão comprimidas, existindo o efeito favorável da ponta da barra. Por esse motivo, o comprimento da emenda não é majorado como no caso de emendas de barras tracionadas. A NBR 6118 aponta que o comprimento do transpasse será de 0,6 x lb, aproximadamente 27 vezes o diâmetro da barra, ou 540 mm, o que representa 4,5% do peso da armadura longitudinal. Se fosse adotada a barra de 22 mm, conforme sugerido pela bibliografia consultada anteriormente pela Secob, haveria um transpasse de 594 mm, ou 5% do comprimento das barras longitudinais da armadura. 174. O cálculo do Sr. Eduardo ainda considerou a hipótese que as emendas de transpasse ocorrerão em gaiolas de 4 metros, o que resulta num consumo muito elevado de aço para o transpasse, equivalente a mais de um terço do aço total consumido na armação da estaca. As emendas serão feitas em gaiolas de 12 metros, obtidas a partir de barras inteiras de aço. A hipótese de cortar uma barra inteira de aço de 12 metros em três pedaços de 4 metros, para emendá-las posteriormente, não foi justificada pelo defendente. 175. A densidade linear das barras de aço utilizada pelo Sr. Eduardo também se encontra superestimada quando comparada com os parâmetros da NBR 7480. A barra de 20 mm tem densidade de 2,466 Kg/m na referida norma, ao passo que o Sr. Eduardo arredondou a densidade para cima, utilizando um valor de 2,5 Kg/m. O estribo de 6,3 mm tem densidade linear de 0,245 Kg/m, ao passo que o Sr. Eduardo utilizou um valor de 0,315 Kg/m. 176. O cálculo do consumo de estribo feito pelo Sr. Eduardo também resulta superestimado, pois foi considera a estaca raiz com 41 cm de diâmetro. A estaca Raiz com 31 cm de diâmetro, mantendo o mesmo recobrimento de 4 cm sugerido pelo Sr. Eduardo, com a correção na densidade linear da barra, resultaria em um consumo de aço de 1,07 Kg/m. 177. Por fim, a tabela da FUNDESP trazida aos autos pelo próprio responsável serve como prova em seu desfavor. É fácil ilustrar tal fato. A quantidade, bitola e espaçamento dos estribos de 6,3 mm é fator incontroverso, pois tanto a análise da Secob quanto a tabela da FUNDESP utilizam estribos de 6,3 mm espaçados a cada 20 cm. A tabela da FUNDESP propõe que a armação seja feita com 6 barras de 20 mm. Com o peso linear de cada barra de 20 mm em 2,466 kg/m, há um consumo de 14,796 Kg de armadura longitudinal por metro. A Secob havia utilizado anteriormente 5 barras de 22 mm. Considerando que tais barras tem massa linear de 2,984 kg/m, há um consumo de 14,92 kg/m. Ou seja, o parâmetro trazido pelos responsáveis resulta em um cálculo ainda menor de consumo de aço por metro de estaca. Tal fato reforça ainda mais a tese de que houve superfaturamento de quantitativo no pagamento do serviço de armação das estacas. 178. Com relação ao estudo do Professor Naresi trazido pelo defendente, de fato tal documento utiliza sete barras de aço com 22 mm de bitola na armação de estacas raiz com 310 e 400 mm. Se fosse aceito tal parâmetro, o superfaturamento no quantitativo de aço estaria praticamente esclarecido. No

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entanto, entende-se que a quantidade efetiva de aço utilizada na obra deva ser comprovada pelo seu projeto executivo, acompanhado da respectiva memória de cálculo e anotações de responsabilidade técnica, motivo pelo qual se mantém a imputação do débito oriundo da superestimativa de quantitativo de aço para os serviços de armação das estacas raiz. 179. Para corroborar tal conclusão, pode-se apresentar ainda outra fonte de referência para o serviço de estaca raiz. A Tabela de Custos da Seinfra/CE apresenta composições de custo para as estacas-raiz com os seguintes parâmetros:

A estaca de 410 mm tem um consumo de 17 Kg de aço, um consumo de 0,141 m3 de areia grossa e de 84,876 Kg de cimento, por metro de estaca.

A estaca de 310 mm tem um consumo de 10,90 Kg de aço por metro de estaca. Também apresenta um consumo de 0,081 m3 de areia grossa e de 48,4822 Kg de cimento.

180. Ante o exposto, em que pese os dados encaminhados pelos responsáveis do Professor Naresi, há sólidas fontes de consulta respaldando a estimativa de 17,7 Kg/metro utilizada na quantificação do débito, não se afigurando razoável adotar a o parâmetro mais elevado encontrado na bibliografia como uma estimativa realista da obra. 181. Verificou-se, portanto, uma superestimativa de 7,05 kg de aço por metro linear de estaca raiz. Considerando-se o montante pago de 2.500 metros de estacas raiz, considerando os três diâmetros executados por um preço unitário único (310 mm, 410 mm e 500 mm), conclui-se que houve o pagamento a maior de 17.625 kg de aço. O preço unitário do aço constante da composição auxiliar à fl. 163, anexo 8, TC-023.585/2006-5, incluindo o BDI de 23,9% , corresponde a R$ 4,06 (fl. 29, vol. principal, TC-023.585/2006-5). Portanto, há um superfaturamento de quantitativos de R$ 71.557,50 no aço utilizado para execução das estacas raiz. Tal montante deve ser imputado aos senhores Eduardo Calheiros de Araújo, Rui Barbosa Egual e Laércio Coelho Pina, solidariamente à Construtora Sanches Tripoloni Ltda. 182. É relevante destacar que o tratamento dado até então nos autos para essa parcela do débito caracterizava o elevado coeficiente de armação utilizado na estaca-raiz como um superfaturamento decorrente de preço excessivo, pois o serviço foi orçado incluindo a armação como um insumo interno à composição da estaca raiz. Todavia, a real natureza dessa parcela do débito é de um superfaturamento por quantitativo excessivo, pois a taxa elevada de armação se traduz no pagamento de uma quantidade de armação superior à efetivamente comprovada. O superfaturamento de quantitativo seria a irregularidade apontada nesse serviço se a obra tivesse sido orçada de outra maneira, com o serviço de armação em aço Ca-50 medido em item específico da planilha. O mesmo se pode afirmar quanto ao consumo excessivo de argamassa, irregularidade que tem a natureza de um superfaturamento por pagamento de quantitativo indevido. 183. Como já foi enfatizado anteriormente nessa instrução, o superfaturamento decorrente do pagamento de quantitativos de serviços não executados não pode ser compensado com eventual desconto verificado no preço global do contrato, entendimento consubstanciado no voto condutor do Acórdão 2.731/2012 - Plenário. 184. Com relação aos coeficientes de consumo de argamassa, os argumentos apresentados afastam o débito apurado. Para melhor entendimento da matéria, a Secob havia apurado tais coeficientes da seguinte forma (fl. 146, volume principal, TC-023.585/2006-5):

Trecho em rocha (31 cm): (0,31/2)2 x π x 1,04 = 0,0785 m3/m; Trecho em solo (41 cm): (0,41/2)2 x π x 1,10 = 0,1452 m3/m; Trecho em lâmina d’água (50 cm): (0,50/2)2 x π x 1,02 = 0,2002 m3/m;

185. Na instrução efetuada pela Secob, o cálculo do consumo de argamassa se deu considerando os volumes geométricos das estacas, acrescidos de perdas de, respectivamente, 4%, 10% e 2% para os trechos em rocha, solo e lâmina d’água. 186. Agora os responsáveis trazem tabelas da FUNDESP e do Professor Naresi com consumos efetivos de cimento e areia. Conhecendo-se as massas específicas de ambos os materiais (3.150 Kg/m3, para o cimento, e 2.650 Kg/m3 para a areia), é possível calcular o volume efetivo da

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argamassa. Para isso também é necessário conhecer a massa específica da água (1.000 kg/m3) e os consumos de cimento e areia. Utilizando os dados da FUNDESP, teríamos para a estaca de 410 mm:

Consumo de argamassa = (135/3150) + (226 x 1,5)/2650 + 67,5 = 0,2382 m3/m 187. O volume de areia foi convertido em massa multiplicando o valor pela densidade do material (1,5 kg/litro). Procedendo-se de igual forma para a estaca de 310 mm, obtêm-se um consumo de argamassa de 0,1212 m3/m. Na proporção medida real informada pelo responsável de 69,3% de estacas no diâmetro de 410 mm e 30,7% de estacas na proporção de 310 mm, obtém-se um valor de 0,2023 m3/m. Tal consumo elide o presente superfaturamento de quantitativo de argamassa na execução de estacas raiz. 188. Com relação aos argumentos criticando o uso da cotação obtida pela Secob na revista “Construção e Mercado”, os defendentes pretendem uma verdadeira inversão do ônus da prova. O ônus de demonstrar a boa e regular aplicação dos recursos públicos cabe exclusivamente ao próprio gestor, por força do que dispõe o art. 70, parágrafo único, da Constituição Federal, bem assim o art. 93 do Decreto-Lei 200/1967 c/c o art. 66 do Decreto 93.872/1986. O Supremo Tribunal Federal (STF), quando provocado no âmbito do Mandato de Segurança 20.335/82, teve o mesmo entendimento. Dessa forma, a opção dos responsáveis por contestar a análise promovida pela equipe de auditoria, em lugar de apresentar informações que justifiquem a regularidade dos dispêndios incorridos, mostra-se inócua quanto ao objetivo primordial de afastar os indícios de irregularidade apontados. 189. Nesse sentido, parecer do Ministério Público junto ao TCU emitido nos autos do TC-008.472/2008-3, a seguir transcrito, traz esclarecedora análise sobre tal ocorrência em caso concreto.

Observo, por oportuno, que a cada avaliação técnica produzida pela secretaria especializada, os interessados oferecem nova impugnação. Isso se deve ao fato, como já disse antes, de o procedimento de contratação (...) não declarar adequadamente a motivação dos preços unitários máximos para a contratação. A situação enseja anômala e improdutiva inversão de papéis. O controle externo é quem busca motivar os preços que devem ser praticados, enquanto as empresas contratante e contratada exercem suas críticas. Em minha manifestação anterior, destaquei a gravidade dessa irregularidade e os transtornos que traz ao TCU no desempenho de sua missão constitucional de avaliar a regularidade da contratação, em especial, o alinhamento dos preços praticados (...) com os preços de mercado. Mencionei, então, que, embora o TCU já tivesse observado o devido processo legal, concedendo ampla oportunidade de defesa, deveria insistir uma vez mais junto aos interessados para que apresentassem todas as composições de custos unitários, de forma a permitir o desenvolvimento de discussão exaustiva e definitiva de todos os fatores que teriam influência sobre os preços controversos neste processo. O Consórcio contratado, em vez disso, insistiu na apresentação de novas impugnações aos critérios adotados pela Secob. Mais uma vez foram respondidas suas indagações e apresentados novos cálculos. É certo que se pode esperar nova impugnação. Creio, contudo, que a citação dos responsáveis não pode aguardar mais.

190. Assim, o órgão de controle, quando na execução de uma fiscalização de obras, deve encontrar a demonstração de que o orçamento-base da licitação (ou do contrato, se já foi firmado) cumpre os preceitos da lei e atende ao princípio constitucional da economicidade, não extrapolando os preços de mercado. Detectada a inexistência ou o detalhamento insuficiente do orçamento – o que por si só já constitui uma irregularidade -, restará ao órgão de controle avaliar se há indícios de sobrepreço na contratação valendo-se dos meios disponíveis, inclusive da utilização de estimativas expeditas de custos. 191. A conduta dos gestores ainda é agravada diante do fato de que a contratação em tela se deu por dispensa de licitação. Nos termos do art. 26, III, é obrigatória a justificativa de preço nos processo de dispensa de licitação, formalidade que não foi observada pelos defendentes. 192. Com relação ao argumento da Sanches Tripoloni de que o custo de mobilização indicado pela Pini refere-se às mobilizações que ocorram dentro do mesmo Estado e dentro de raio não muito elevado, não se deve acolhê-lo, pois o custo de mobilização da perfuratriz já é remunerado no item de

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mobilização da planilha. A fl. 212, anexo 8, do TC-023.585/2006-5 mostra que a mobilização de três perfuratrizes foi considerada no cálculo do custo da mobilização total, sendo, portanto, indevido remunerar novamente esse custo na execução da estaca raiz. A planilha orçamentária da obra previu um montante de R$ 85.000,00 para remunerar a mobilização da obra. 193. Por fim, analisa-se o argumento de que seria razoável mobilizar o equipamento para execução da estaca raiz a partir de Minas Gerais e, consequentemente, utilizar a referência de custo publicada pela Editora Pini daquele estado. De fato, a referência utilizada para quantificação do débito não possui referencial próprio para o Estado do Mato Grosso. Foi utilizada a referência do Estado do Pará, por apresentar um valor intermediário e, provavelmente, pelo fato de a referida Unidade Federativa ter fronteira com o Estado do Mato Grosso. A nosso ver, seria preferível utilizar o preço obtido no Distrito Federal ou um Goiânia, por serem locais mais próximos de Cuiabá. 194. Todavia, tratando-se de serviço não contemplado pelo Sicro ou pelo Sinapi e considerando a grande variação observada no custo dos serviços de estaca raiz entre os diversos estados com preços coletados pela Pini, a utilização de cotação de preço obtida em estado distinto daquele em que os serviços serão executados merece ser vista com ressalvas. Ante o exposto, primando-se pelo conservadorismo em prol dos responsáveis, propõe-se elidir tal parcela do débito, pois a ligação rodoviária entre Belém/PA e Cáceres/MT apresenta elevada distância, superior a 2.800 km. 195. Ante o exposto, da parcela original do débito imputado aos responsáveis no montante de R$ 870.214,72 referente ao sobrepreço no serviço de execução de estacas-raiz, permanece não elidido o valor de R$ 71.557,50 resultante da superestimativa do aço utilizado para execução das estacas raiz. Propõe-se, assim, acolher parcialmente as alegações de defesa da Construtora Sanches Tripoloni e dos senhores Eduardo Calheiros de Araújo, Rui Barbosa Egual e Laércio Coelho Pina, imputando-lhes um débito de R$ 71.577,50 oriundo da superestimativa de aço na execução das estacas-raiz. III.e análise da responsabilização e dos aspectos subjetivos das alegações de defesa 196. Com relação ao aspecto subjetivo da culpa, o Sr. Eduardo Calheiros de Araújo afirma que o cargo ocupado à época, coordenador de estruturas, tem como atribuições analisar e recomendar a aprovação de projetos, baseado no recebimento de informações constantes dos volumes de projeto, e que não é de sua competência a verificação da medição dos quantitativos quando da fase de realização das obras. Tal competência é do fiscal de campo, conforme Resolução n° 10 de 31 de Janeiro de 2007, em anexo à sua defesa. 197. O Sr. Rui Barbosa Egual também se manifesta sobre as atribuições do cargo de Chefe do Serviço de Engenharia do Dnit, agindo com base nas informações recebidas daqueles que atuam diretamente na obra, não sendo sua função aferir in loco os quantitativos empregados na obra. 198. Por sua vez, o Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório enfatiza que suas atribuições na obra se limitaram à fiscalização do contrato, acompanhando medições e atestando os serviços efetivamente executados. Aduz o defendente que seguiu a risca o projeto executivo. Afirma que os quantitativos executados estavam coerentes com os que as planilhas determinavam, motivo que levou à sua medição. 199. Por fim, o Sr. Laércio Coelho Pina apresenta as atribuições de superintendente regional do Dnit, enfatizando que as competências da chefia são realizadas com base no recebimento de informações daqueles que atuam diretamente na obra. Assim, não é função do Chefe de Engenharia nem do Superintendente a verificação e conferência das medições de quantitativos, não havendo qualquer responsabilidade a ser atribuída ao signatário em função do contrato em questão. Análise 200. Com relação aos aspectos subjetivos da culpa alegados pelos responsáveis, o Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório, fiscal da obra, não afastou sua responsabilidade pelo débito de R$ 651.477,00. Na linha do que foi alegado pelo defendente, o fiscal da obra é responsável pela diferença entre a quantidade medida de camisas metálicas (1.190 m), e o quantitativo que foi apurado pela Secob-2 (396 m). É de sua competência a verificação in loco das hipóteses assumidas no projeto e a medição dos serviços efetivamente executados.

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201. Entende-se que o Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório é o principal responsável pelo superfaturamento de quantitativo, pois foi o responsável pela medição e atestação dos serviços. Tal dano não teria se verificado sem sua a participação. 202. Ademais, o relatório de levantamento de auditoria realizado nas obras em questão (TC-002.079/2006-9) apurou que houve fiscalização deficiente no contrato, infringindo o art. 67 da Lei 8.666/1993. O diário de obras estava com registros insuficientes e atraso na sua elaboração, não indicando os equipamentos utilizados no serviço, nem o quantitativo de pessoal envolvido por categoria, além de não registrar precisamente os serviços executados no dia. No dia da inspeção realizada pela equipe de auditoria do TCU na obra, 7/2/2006, só havia registro no diário de obras até o dia 31/01/2006. Também foi constatada a ausência de apropriações diárias dos materiais e da mão de obra utilizados nos serviços emergenciais de difícil quantificação posteriormente à execução. 203. Por sua vez, o Coordenador de Estruturas da DPP/Dnit, Sr. Eduardo Calheiros de Araújo, emitiu relatório em 15 de dezembro de 2005 (fl.07, anexo 7, TC-023.585/2006-5, em apenso ao presente processo) com planilha dos serviços necessários para a restauração da ponte. Ele aprovou/elaborou o projeto de restauração com as quantidades de serviço de camisas metálicas de seu relatório. Considerando que o quantitativo de serviço medido foi exatamente igual ao quantitativo de serviço estimado pelo Sr. Eduardo Calheiros, verifica-se que o responsável efetivamente concorreu para a efetivação do dano. 204. No âmbito do TCU, o autor do projeto pode ser condenado ao ressarcimento do prejuízo decorrente de falhas na elaboração do projeto (art. 16, §2º, alínea “b”, da Lei 8.443/92). Especificamente no que tange à execução de estudos, projetos, orçamentos e atividades afins, o TCU já se manifestou quanto à possibilidade de responsabilização por falhas na execução de tais serviços, conforme se verifica no relatório que subsidiou a prolação do Acórdão 768/2010-TCU-Plenário, evidenciando situação semelhante à verificada no presente caso, em que a análise das circunstâncias fáticas demonstrou que as falhas poderiam e deveriam ter sido detectadas pelo agente.

20. Destarte, o responsável, por força de suas atribuições como ocupante do ápice da cadeia decisória da Caema à época, tinha a obrigação de bem escolher o Diretor de Projetos e Obras, o Superintendente de Projetos e, especialmente, o responsável pela Divisão de Projetos da referida empresa, além de ordenar, coordenar, orientar e corrigir as atividades de seus subordinados, de molde a certificar-se da regularidade do projeto básico da obra em testilha.Tivesse o aludido gestor agido com diligência e com zelo no exercício de suas atribuições, poderia ter obstado a elaboração de um projeto básico deficiente, impedindo a ocorrência de dano ao Erário, o qual, no caso, era plenamente previsível e provável.

205. É de se ressaltar que o Sr. Eduardo Calheiros de Araújo já foi apenado em duas ocasiões pelo TCU com a multa prevista no Art. 58 da LOTCU por conta de falhas em projetos do DNIT (Acórdãos 2.352/2006 e 1.841/2008, ambos do Plenário). 206. Os Sr. Laércio Coelho Pina e Rui Barbosa Egual ocuparam a função de Superintendente do Dnit no Estado de Mato Grosso, devendo responder solidariamente pelo dano. No Direito Financeiro, cabe ao ordenador de despesa provar que não é responsável pelas infrações que lhe são imputadas, quanto à aplicação de recursos públicos. Uma vez identificada irregularidade material ou formal na liquidação da despesa, presume-se que a responsabilidade cabe ao ordenador de despesa, salvo se ele conseguir justificar que a irregularidade foi praticada exclusivamente por subordinado que exorbitou das ordens recebidas (Decreto 93.872/1986, art. 39, § único), o que não se verifica nos presente autos. Nessa linha de entendimento, há diversos exemplos de responsabilização de ordenadores de despesa por esta Corte de Contas:

Acórdão 7.311/2011-TCU-2ª Câmara (Voto condutor): 20. (...) no que se refere ao Sr. [responsável 2], então Diretor do Departamento de Compras da Secretaria de Finanças do município, citado por ser o responsável pelo saque dos recursos, deve ser mantida a sua responsabilização de forma solidária com o ex-prefeito, uma vez que foi o responsável pelo pagamento relativo aos materiais. Acórdão 1.651/2010-TCU-Plenário (Voto condutor): Como se vê nos trechos a seguir do parecer do MPTCU, expressamente incluído entre as razões de decidir

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deste relator, o embargante foi responsabilizado pelo débito em virtude da inadequada supervisão dos atos de seus subordinados e da ausência da conferência até mesmo de aspectos formais dos processos de pagamento, nos quais havia inconsistências cronológicas e ausências de assinaturas que seriam perceptíveis em um exame realizado com o rigor exigido pela matéria: ‘ (...)

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A atuação do ordenador de despesas no processo de pagamento não é meramente formal, figurativa, sem poder decisório. No âmbito da Administração Pública, a exigência de sua assinatura tem por intuito justamente obstar eventuais pagamentos irregulares. No caso, não se pode cogitar, pela importância do cargo que exercia, que um Superintendente do Incra pudesse autorizar dispêndios sem avaliar, de forma aprofundada, se estariam certos ou errados, se seriam devidos ou indevidos. Deve, pois, no caso, o Sr. [omissis] responder pelos prejuízos advindos de decisões danosas ao patrimônio público, pois agiu de maneira temerária e assumiu o risco dos danos decorrentes da má aplicação dos recursos públicos.” Conforme entendimentos assentes na jurisprudência predominante desta Casa: a) "a afirmação de que apenas deram sequência a ato já previamente constituído não pode ser acolhida. O poder/dever de diligência do ordenador de despesas impõe a ele a verificação da regularidade dos atos de gestão sob todos os aspectos, sobretudo da adequação do valor do contrato ao seu objeto. O exame da regularidade da despesa não se exaure na verificação da adequada formalização do processo. A demonstração da despesa realizada deve induzir à compreensão de que a observância das normas que regem a matéria proporcionou o máximo de benefício com o mínimo de dispêndio (Constituição Federal, art. 70, parágrafo único e DL 200/1967, arts. 90 e 93)" (voto condutor da Decisão 661/2002 - Plenário, transcrito no voto que precede o Acórdão 918/2005-TCU-2ª Câmara); b) "(...) a função de ordenador de despesa, à luz das disposições do Decreto-lei 200/1967 e do Decreto 93.872/1986, não está adstrita ao mero acatamento ou acolhimento das solicitações de outras instâncias administrativas, devendo exercer um verdadeiro controle quanto à regularidade e à legalidade da despesa pública" (Acórdão 985/2007 - Plenário);

c) "a lei exige a assinatura nos documentos exatamente para delimitar responsabilidades. A participação de vários agentes na conformação do ato também é um método de controle, sendo que a assinatura é condição de eficácia e de vinculação de responsabilidade de seu autor. No caso dos responsáveis em questão, sem a assinatura deles, como ordenadores de despesa, não haveria o pagamento indevido" (Acórdão 343/2007 - Plenário).’

207. Tratando-se de servidores graduados do Dnit, deveriam conferir os quantitativos executados nos processos de medição e pagamento, averiguando a procedência dos mesmos. No presente caso, chama a atenção que o quantitativo executado tenha sido exatamente o quantitativo previsto, quando este último foi “estimado” sem um único boletim de sondagem. Esse tipo de ocorrência poderia ser facilmente identificado. Ressalte-se que os referidos responsáveis tinham pleno conhecimento de que os quantitativos de serviços da obra haviam sido estimados sem nenhum levantamento geotécnico, conforme documentação acostada nos TC-002.079/2006-9 e TC-023.585/2006-5. 208. A participação do Sr. Laércio nas irregularidades não se limitou ao exercício do cargo de superintendente. Ele também assinou o contrato com a Construtora contendo os quantitativos superestimados (fls. 133/137 do anexo 1, TC-023.585/2006-5) e foi multado pelo Tribunal (Acórdão 1.664/2006 – Plenário) devido à ausência de termo de contrato no decorrer da obra, pois as obras em questão tiveram início em 19/11/2005, e o termo de contrato somente veio a ser publicado no Diário Oficial da União em 17/7/2006. Assim, restou caracterizada a ausência de cobertura contratual durante a execução integral das obras, em afronta ao art. 60, parágrafo único, da Lei na 8.666/1993. 209. Com relação ao aspecto subjetivo da responsabilização do Sr. Rui Barbosa Egual, observa-se que sua participação nas irregularidades se iniciou com a assinatura do Ofício n° 018/2005, dando notícias sobre a crítica situação estrutural da Ponte Marechal Rondon (fls. 5/6, anexo 2, TC-023.585/2006-5). Posteriormente, encaminhou a estimativa de custos elaborada pelo Sr. Eduardo Calheiros de Araújo ao Sr. Laércio (fls. 33/34, anexo 2, TC-023.585/2006-5). Ocupando o cargo de chefe de serviço na 11ª Unit, o Sr. Rui Barbosa estava diretamente vinculado ao superintendente e era o responsável pelos assuntos de engenharia da referida Unit. Posteriormente, assumiu o cargo de Superintendente e o Sr. Laércio tornou-se o novo Chefe de Engenharia. Vê-se, portanto, que durante o transcurso da obra, ambos os responsáveis se revezaram nos postos de Superintendente e Chefe do Serviço de Engenharia. 210. É digno de nota também que se iniciou o processo de dispensa de licitação para execução dos serviços e obras de reforço e recuperação das fundações e estruturas da ponte sem a existência de projeto básico, infringindo o art. 7°, inciso I c/c art. 6°, inciso IX da Lei n° 8.666/1993. Não existem, no processo de dispensa de licitação, especificações técnicas dos serviços a serem executados,

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infringindo o art. 7°, inciso I c/c art. 6°, inciso IX, alínea “c” da Lei n° 8.666/1993. A planilha orçamentária utilizada como base para o processo de contratação, por dispensa de licitação, é meramente estimativa, não tendo sido apresentadas memórias de cálculo que demonstrem que ela tenha sido elaborada com base em quantitativos propriamente avaliados, como determina o art. 7°, inciso I c/c art. 6°, inciso IX, alínea “f” da Lei n° 8.666/1993. Tal irregularidade, apontada no relatório de levantamento de auditoria das obras em questão (TC-002.079/2006-9), indiscutivelmente deveria ter sido observada pela autoridade que efetuou a contratação emergencial e está diretamente relacionada com o superfaturamento de quantitativos ora apurado. 211. Além de todo o exposto acima, é de se ressaltar que o levantamento de auditoria do TCU ocorreu no mês de fevereiro de 2006, conforme ofícios de requisição presentes no anexo 1 do TC-023.585/2006-5. Todos os ofícios foram endereçados ao Sr. Laércio e respondidos pessoalmente pelo defendente. Tendo ciência que a obra estava em pleno processo de auditoria pelo TCU, seria exigível do Superintendente do Dnit e do Chefe do Serviço de Engenharia um acompanhamento pessoal e particular da obra, redobrando-se os cuidados e controles que seriam normalmente exigíveis por parte de um gestor público. 212. Não obstante, o Sr. Laércio e o Sr. Rui tiveram conhecimento das irregularidades apontadas pela equipe de auditoria, sendo que o Sr. Laércio chegou a ser inclusive multado pelo TCU na sessão plenária do dia 13/9/2006 (Ac. 1664/2006 – Plenário). O citado Acórdão 9.4. determinou o monitoramento, a ser instruído com a participação da Secob, visando verificar, em especial, a validade dos projetos básico e executivo elaborados para execução dos serviços emergenciais de recuperação e reforço da ponte Marechal Rondon, em consonância com os resultados dos serviços de sondagem realizados; e a coerência do cronograma físico-financeiro estabelecido, a procedência da composição de preços unitários e o orçamento apresentado, bem como se as memórias de cálculos demonstram os quantitativos a serem executados, com a finalidade de examinar as medições e os correspondente pagamentos efetuados. 213. Pois bem, os serviços executados pela Sanches Tripoloni foram pagos com grande atraso pelo Dnit. Conforme medições encaminhadas pelo Dnit em atendimento ao item 9.4 do Acórdão 2.587/2010 – Plenário (peça n. 23), a totalidade do valor contratual foi pago a partir do dia 20/11/2006. Apesar de terem ciência das irregularidades apontadas pelo TCU nas obras, o Sr. Laércio Coelho Pina e o Sr. Rui Barbosa Egual não tomaram nenhuma providência para evitar o pagamento dos serviços com o suposto superfaturamento. Eles poderiam ter evitado todo o dano abstendo-se de pagar os valores que estavam sendo questionados pelo TCU. 214. Vê-se, portanto, que a participação do Sr. Laércio e do Sr. Rui no contrato em questão foi ampla, geral e irrestrita, atuando desde o processo de contratação, até o pagamento final da obra, podendo-se concluir que os defendentes devem ser responsabilizados por culpa in vigilando. O Sr. Laércio também poderia responder por culpa in eligendo, pois deixou de designar tempestivamente um fiscal para a obra. Nos termos do relatório que fundamentou o Acórdão 1.664/2006 – Plenário, que apreciou o primeiro levantamento de auditoria realizado nas obras de recuperação da Ponte Marechal Rondon, foi constatada pela equipe de auditoria ausência de ato de designação de representante da administração para acompanhar e fiscalizar os serviços e obras executados no período de 19/11/2005 a 6/2/2006, infringindo o art. 67 da Lei 8.666/1993. O fiscal da obra só foi formalmente designado por meio da Portaria n° 79 do Dnit, em 7/2/2006, publicada no DOU, Seção 2, de 13/2/2006 (à fl. 21, Vol. Principal, TC-002.079/2006-9). IV. DA PROPOSTA DE INABILITAÇÃO PARA O EXERCÍCIO DE CARGO EM COMISSÃO

215. O Sr. Laércio Coelho Pina e o Sr. Rui Barbosa Egual já foram diversas vezes penalizados pelo TCU por irregularidades observadas na Superintendência do Dnit em Mato Grosso. O Sr. Rui Barbosa Egual foi condenado pelo Acórdão 1.534/2012-Plenário a restituir valores aos cofres da União, tendo suas contas julgadas irregulares e sendo-lhe imputada multa prevista no art. 57 da

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LOTCU. As ocorrências apuradas naquele processo guardam semelhança com as apontadas nos autos, referindo-se também ao pagamento de serviços não executados. 216. O Sr. Rui Barbosa Egual também foi multado pelo Acórdão 278/2002 – Plenário por falhas do gênero. Na ocasião, o Ministro-Relator teceu as seguintes considerações em seu voto condutor.

Considero graves os fatos e merecedores de justa reprimenda por esta Corte, no caso, a aplicação da multa prevista no inciso II do art. 58 da Lei 8.443/92, no valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais), aos servidores (...), Rui Barbosa Egual (Chefe Setor de Construção do 11º DRF/DNER/MT). Ressalto que a prática de medições incompatíveis com o efetivamente realizado tem sido recorrente no DNER, conforme se verifica na Decisão 45/2001 - Plenário, na qual o Tribunal determinou ao DVOP/MT que “atente para que as medições, mesmo de caráter provisório, em obras com recursos federais, não sejam discrepantes dos serviços efetivamente executados, conforme ocorrido nas obras de restauração das Rodovias MT-170 e MT-175”. No mesmo sentido, a Decisão 829/1999-Plenário. (grifo nosso)

217. Mediante o Acórdão 1.936/2011 – Plenário, o Sr. Rui Barbosa Egual foi multado em R$ 10 mil por abertura de licitação sem previsão orçamentária. Na mesma oportunidade, o Sr. Laércio Coelho Pina foi multado em R$ 5 mil, com base no art. 58 da LOTCU. 218. O Sr. Laércio também foi multado em R$ 5 mil por meio do Acórdão 585/2009 – Plenário, uma vez que, na qualidade de fiscal do Contrato TT 076/2002, que tinha por objeto a Construção e Reconstrução da BR 364/MT, segmento km 614,40 - km 675,90, atestou a 33ª medição parcial, correspondente a julho de 2007, em que consta a execução de plantio de 20.200 árvores e arbustos a um preço de R$ 101.808,00 (preços de maio de 2002), sem que tais serviços tenham sido executados, permitindo, assim, o pagamento antecipado da despesa, em desrespeito aos arts. 62 e 63 da Lei nº 4.320/64, aos arts. 65, inciso II, e 67, § 1º da Lei nº 8.666/93 e ao art. 38 do Decreto nº 93.872/86. 219. Com base no Acórdão 1.096/2012 – Plenário, foi aplicada multa de R$ 6 mil ao Sr. Rui Barbosa Egual, em razão de aprovar projeto com deficiências e homologação do certame e emissão de ordem de serviço com ausência de licença ambiental prévia, dos estudos de impacto ambiental e do relatório de impacto ambiental. 220. Os dois gestores, Sr. Laércio e Sr. Rui, foram novamente multados em, respectivamente, R$ 10 mil e R$ 20 mil, por meio do Acórdão 1.232/2012 – Plenário, dessa vez por realizarem obras em terrenos não desapropriados. 221. O Sr. Rui Barbosa Egual ainda recebeu outra penalização mediante o Acórdão 1.455/2012 Plenário, no valor de R$ 5 mil. 222. O Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório também é reincidente em irregularidades da espécie e já foi apenado em outras ocasiões pelo Tribunal por ocorrências semelhantes às apuradas no referido processo. Por exemplo, o Acórdão 1534/2012-Plenário julgou suas contas irregulares, impondo-lhe diversos débitos e aplicando-lhe a multa prevista no art. 57 da LOTCU. Em outra ocasião, mediante o Acórdão 1.731/2009-Plenário, o Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório foi multado em R$ 4.000,00 em face das seguintes irregularidades:

deficiência grave de fiscalização e acompanhamento da execução das obras, sob violação do art. 67 da Lei nº 8.666/1993, tendo em vista a falta de controle e procedimento sistemático de mensuração dos serviços executados ao longo dos diversos segmentos rodoviários, como no caso do transporte e espalhamento de cascalho;

falta de elaboração do livro diário de obras, inexistindo, portanto, registro de ocorrências relacionadas com a execução dos serviços, em desrespeito ao que dispõe o art. 67, §1º, da Lei 8.666/1993;

223. Em face da gravidade e da reincidência das infrações apuradas nos presentes autos, propõe-se, além das multas previstas nos arts 57 e 58 da LOTCU, a inabilitação para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no âmbito da administração pública federal, nos termos do art. 60 do mesmo diploma legal. Tal penalidade deve ser imputada aos servidores da Superintendência do Dnit no Estado de Mato Grosso, senhores, Antônio Carlos de Melo Vitório, Rui Barbosa Egual e Laércio Coelho Pina, em face das diversas irregularidades constatadas naquele órgão regional, que se repetem desde 2002. 224. No caso do Sr. Eduardo Calheiros de Araújo, entende-se que tal medida de exceção seja

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desproporcional com a conduta apurada nos presentes autos, sendo proposta a imputação do débito apurado ao responsável e a sua apenação com as multas previstas nos arts. 57 e 58 da LOTCU. V. DATA DE ORIGEM DO DÉBITO

225. As medições dos serviços foram encaminhadas pelo Dnit, em atendimento ao item 9.4 do Acórdão 2.587/2010 – Plenário. Em sua resposta (peça n. 23), a autarquia informa que, ao todo, foram realizadas sete medições e que a primeira medição (parcial) está em processo de reconhecimento de dívida. As fls. 3 e 4 da referida peça consta o detalhamento dos pagamentos, totalizando R$ 10.118.301,16, conforme discriminado a seguir:

Data da OB Valor Pago (%) Acumulado20/11/2006 593.218,16 5,87% 20/11/2006 37.864,99 6,24% 20/11/2006 16.181,62 6,40% 20/11/2006 1.025.412,36 16,55% 20/11/2006 65.451,85 17,20% 20/11/2006 27.970,88 17,47% 20/11/2006 1.100.091,75 28,35% 20/11/2006 70.218,62 29,05% 20/11/2006 30.007,96 29,35% 20/11/2006 1.828.069,81 47,43% 20/11/2006 117.323,61 48,59% 20/11/2006 50.138,29 49,09% 20/11/2006 105.631,15 50,13% 24/11/2006 3.208.941,73 81,88% 24/11/2006 297.314,60 84,82% 24/11/2006 127.057,52 86,08% 24/11/2006 1.343.355,86 99,37% 12/01/2007 58.702,19 99,95% 12/01/2007 3.746,95 99,98% 12/01/2007 1.601,26 100,00%

Total 10.108.301,16 100,00%

226. Assim, pode-se concluir que as sete medições foram pagas em apenas 3 datas, 20/11/2006, 24/11/2006 e 12/01/2007. Pode-se afirmar com segurança que mais de 99% do valor contratual foi pago até o dia 24/11/2006, ressaltando-se que o superfaturamento de quantitativos apontados nos serviços de fornecimento e cravação das camisas metálicas, por uma sequência lógica de execução dos serviços, foram verificados logo no início da obra. Grosso modo, metade do contrato foi pago no dia 20/11/2006 e a outra metade foi paga no dia 24/11/2006. Uma parcela irrelevante, de apenas 0,63%, foi paga no dia 12/1/2007. 227. Torna-se, portanto, desnecessário e contraproducente individualizar os débitos para cada medição, haja vista que os serviços ora questionados foram certamente pagos nas primeiras medições. Assim, propõe-se que o débito atualizado a partir da data-base de 24/11/2006. VI. CONCLUSÃO

228. Ante todo o exposto, propõe-se acolher as alegações de defesa dos responsáveis quanto à ausência da utilização do desconto de 20% sobre os preços do Sicro na celebração do contrato em questão, por absoluta falta de embasamento da utilização desse percentual na legislação em vigor e

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na jurisprudência do Tribunal. 229. Com relação à parcela do débito decorrente do incidência dos percentuais de adicionais sobre a mão de obra cumulativamente sobre salários e valores de leis sociais, entende-se que não seria cabível exigir conduta diversa dos responsáveis arrolados no processo, que, sempre que possível, aplicaram fielmente a metodologia e as composições de custo padrão do Sicro na orçamentação dos serviços de recuperação da Ponte Marechal Rondon. 230. Ademais, não existem indícios de que a incidência do percentual de 15,51% (ou 20,51%, conforme o caso) sobre os salários acrescidos dos encargos sociais enseje a superestimativa dessa parcela de custo. 231. O sobrepreço unitário no serviço de monitoramento de tráfego ocasionado pela mão de obra considerada na sua execução não foi elidido pelas alegações de defesa apresentadas pelos responsáveis, mas pode ser compensado por eventuais subpreços em outros itens de serviço. Os argumentos apresentados não permitem acolher as alegações de defesa dos responsáveis, pois o processo de contratação em tela se deu por dispensa de licitação, sendo obrigatória a observância do art. 26 da Lei 8666/93, que exige a justificativa de preço por parte do gestor. 232. Ante o exposto, as alegações de defesa apresentadas pela Construtora Sanches Tripoloni e pelos senhores Rui Barbosa Egual, Laércio Coelho Pina e Eduardo Calheiros de Araújo devem ser rejeitadas, no entanto sem a imputação do débito de R$ 53.797,93, propondo-se aplicar a multa prevista no art. 58 da LOTCU aos servidores do Dnit em virtude de terem realizado uma escolha injustificada e antieconômica do profissional a ser utilizado no serviço de monitoramento de tráfego. 233. Por outro lado, as alegações de defesa do Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório devem ser acolhidas, pois na condição de fiscal da obra, o referido servidor não teve participação no processo de orçamentação e de contratação do referido serviço, sendo exigível apenas que fiscalizasse a execução do serviço, efetuando medições e atestando a execução dos serviços. 234. Com relação ao superfaturamento por preços excessivos verificado no serviço de fornecimento e cravação das camisas metálicas, considera-se que a diferença inferior a 5% entre o custo referencial e o preço contratado e o fato de que se trata de um serviço com composição inexistente no Sicro ou no Sinapi ensejam o afastamento dessa parcela do débito. 235. Por outro lado, propõe-se refutar as alegações de defesa relacionadas com o superfaturamento de quantitativos verificado no serviço de cravação das estacas, imputando-se um débito de R$ 870.716,30 aos senhores Rui Barbosa Egual, Laércio Coelho Pina e Eduardo Calheiros de Araújo, solidariamente com a construtora Sanches Tripoloni Ltda. 236. Ao Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório, propõe-se imputar um débito de R$ 651.477,00 referente ao superfaturamento de quantitativos no serviço de fornecimento e cravação das camisas metálicas, valor pelo qual foi citado. 237. Com relação ao superfaturamento no serviço de execução das estacas-raiz, considera-se elidida a superestimativa no consumo de argamassa de cimento e areia, devendo ser acolhidas as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório quanto a essa parcela do débito. 238. Também se conclui pelo saneamento da parcela do débito na execução das estacas-raiz oriunda do sobrepreço constatado a partir da comparação dos preços contratados com os obtidos na revista Construção Mercado nr. 83, publicada pela Editora Pini. 239. As alegações de defesa apresentadas pelos responsáveis não elidiram a parcela do débito oriunda da superestimativa do consumo de aço das estacas raiz. 240. Ante o exposto, da parcela original do débito imputado aos responsáveis no montante de R$ 870.214,72, referente ao sobrepreço no serviço de execução de estacas-raiz, permanece não elidido o valor de R$ 71.557,50 resultante da superestimativa do aço utilizado para execução das estacas raiz. 241. Propõe-se, assim, acolher parcialmente as alegações de defesa da Construtora Sanches Tripoloni e dos senhores Eduardo Calheiros de Araújo, Rui Barbosa Egual e Laércio Coelho Pina quanto ao item 9.4.1 do Acórdão 2.587/2010 – Plenário. 242. Em face da gravidade e da reincidência das infrações apuradas nos presentes autos, propõe-se,

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além das multas previstas nos arts 57 e 58 da LOTCU, a inabilitação dos senhores, Antônio Carlos de Melo Vitório, Rui Barbosa Egual e Laércio Coelho Pina para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no âmbito da administração pública federal, nos termos do art. 60 do mesmo diploma legal. 243. Finalmente, destaca-se que a SecobEdif atua no presente processo com base no art. 19, §2º, da Portaria-Segecex n. 7, de 18/3/2013. VII. PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO

244. Ante o exposto, submete-se o presente processo à consideração superior com as seguintes propostas de encaminhamento:

a) acolher as alegações de defesa apresentadas pelos Srs. Eduardo Calheiros de Araújo, CPF 036.771.337-34, Rui Barbosa Egual, CPF 361.213.046-34, Laércio Coelho Pina, CPF 545.363.911-34, e Construtora Sanches Tripoloni Ltda., CNPJ 53.503.652/0001-05, pela a ausência de desconto de 20% para obras integrantes do Petse, e incidência do Adicional de Mão de Obra sobre encargos sociais;

b) rejeitar as alegações de defesa apresentadas pelos Srs. Eduardo Calheiros de Araújo, CPF 036.771.337-34, Rui Barbosa Egual, CPF 361.213.046-34, Laércio Coelho Pina, CPF 545.363.911-34, e Construtora Sanches Tripoloni Ltda., CNPJ 53.503.652/0001-05, pela utilização de ajudantes, ao invés de serventes, no serviços de monitoramento de tráfego;

c) acolher as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório, CPF 127.025.361-15, pela utilização de ajudantes, ao invés de serventes, no serviços de monitoramento de tráfego;

d) rejeitar as alegações de defesa apresentadas pelos Srs. Eduardo Calheiros de Araújo, CPF 036.771.337-34, Rui Barbosa Egual, CPF 361.213.046-34, Laércio Coelho Pina, CPF 545.363.911-34, e Construtora Sanches Tripoloni Ltda., CNPJ 53.503.652/0001-05, pelo superfaturamento no serviço de fornecimento e cravação de camisas metálicas;

e) acolher parcialmente as alegações de defesa apresentadas pelos Srs. Eduardo Calheiros de Araújo, CPF 036.771.337-34, Rui Barbosa Egual, CPF 361.213.046-34, Laércio Coelho Pina, CPF 545.363.911-34, e Construtora Sanches Tripoloni Ltda., CNPJ 53.503.652/0001-05, pelo sobrepreço no serviço de execução de estacas-raiz resultante da superestimativa no consumo de aço;

f) rejeitar as alegações de defesa apresentadas pelos Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório, CPF 127.025.361-15, pelo superfaturamento de quantidades do serviço de camisas metálicas;

g) acolher as alegações de defesa apresentadas pelos Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório, CPF 127.025.361-15 referentes ao consumo excessivo de argamassa no serviço de execução de estacas-raiz;

h) com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea “c”, e § 2º da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com arts. 1º, inciso I, 209, inciso III, e §5º, 210 e 214, inciso III, do Regimento Interno, que sejam julgadas irregulares as contas do Sr. Eduardo Calheiros de Araújo, CPF 036.771.337-34, na condição de coordenador de estruturas da DPP/Dnit; do Sr. Rui Barbosa Egual, CPF 361.213.046-34, na condição de superintendente do Dnit no Estado do Mato Grosso; do Sr. Laércio Coelho Pina, CPF 545.363.911-34, na condição de superintendente do Dnit no Estado do Mato Grosso, em virtude do superfaturamento verificado no Contrato n.º 11 017/2006, e condená-los, em solidariedade com a Construtora Sanches Tripoloni Ltda., CNPJ 53.503.652/0001-05, ao pagamento das quantias a seguir especificadas, com a fixação do prazo de quinze dias, a contar das notificações, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno), o recolhimento das dívidas aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente e acrescidas dos juros de mora, calculados a partir das datas discriminadas, até a data dos recolhimentos, na forma prevista na legislação em vigor:

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Data de Origem do Débito Valor do Débito24/11/2006 R$ 870.716,3024/11/2006 R$ 71.557,50

i) com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea “c”, e § 2º da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 19 e 23, inciso III, da mesma Lei, e com arts. 1º, inciso I, 209, inciso III, e §5º, 210 e 214, inciso III, do Regimento Interno, que sejam julgadas irregulares as contas do Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório, CPF 127.025.361-15, na condição de supervisor da Unit/Dnit da UL em Cáceres/MT e Fiscal da obra, em virtude do superfaturamento verificado no Contrato n.º 11 017/2006, e condená-lo, em solidariedade com a Construtora Sanches Tripoloni Ltda., CNPJ 53.503.652/0001-05, ao pagamento da quantia a seguir especificada, com a fixação do prazo de quinze dias, a contar das notificações, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno), o recolhimento da dívida aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente e acrescida dos juros de mora, calculados a partir da data discriminada, até as datas dos recolhimentos, na forma prevista na legislação em vigor:

Data de Origem do Débito Valor do Débito24/11/2006 R$ 651.477,00

j) aplicar à Construtora Sanches Tripoloni Ltda., CNPJ 53.503.652/0001-05, e aos Srs. Eduardo Calheiros de Araújo CPF 036.771.337-34, Rui Barbosa Egual, CPF 361.213.046-34, Laércio Coelho Pina, CPF 545.363.911-34, e Antônio Carlos de Melo Vitório, CPF 127.025.361-15, individualmente, a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992, em virtude do superfaturamento verificado no Contrato n.º 11 017/2006, com a fixação do prazo de quinze dias, a contar das notificações, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno), o recolhimento das dívidas aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente desde a data do acórdão que vier a ser proferido até a do efetivo recolhimento, se forem pagas após o vencimento, na forma da legislação em vigor;

k) aplicar aos Srs. Eduardo Calheiros de Araújo, CPF 036.771.337-34, Rui Barbosa Egual, CPF 361.213.046-34, Laércio Coelho Pina, CPF 545.363.911-34, individualmente, a multa prevista no art. 58 da Lei 8.443/1992, em virtude da escolha antieconômica do ajudante para compor os serviços de monitoramento de tráfego, violando o disposto no art. 26 da Lei 8.666/93, com a fixação do prazo de quinze dias, a contar das notificações, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno), o recolhimento das dívidas aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente desde a data do acórdão que vier a ser proferido até a do efetivo recolhimento, se forem pagas após o vencimento, na forma da legislação em vigor;

l) inabilitar os senhores Rui Barbosa Egual, CPF 361.213.046-34, Laércio Coelho Pina, CPF 545.363.911-34, e Antônio Carlos de Melo Vitório, CPF 127.025.361-15, para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança no âmbito da administração pública federal, nos termos do art. 60 da Lei n. 8.443/1992 e do art. 270 do Regimento Interno do TCU;

m) autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial das, dívidas caso não atendidas as notificações;

n) autorizar, desde logo, se assim for solicitado, o pagamento da dívida dos responsáveis em 36 parcelas mensais e consecutivas, nos termos do art. 26 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 217 do Regimento Interno, fixando-lhes o prazo de quinze dias, a contar do recebimento da notificação, para comprovarem perante o Tribunal o recolhimento da primeira parcela, e de trinta dias, a contar da parcela anterior, para comprovarem os recolhimentos das demais parcelas, devendo incidir sobre cada valor mensal, atualizado monetariamente, os juros de mora devidos, na forma prevista na legislação em vigor;

o) alertar aos responsáveis que a falta de comprovação do recolhimento de qualquer parcela importará o vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos do parágrafo único do art. 26 da Lei nº 8.443/1992, c/c o art. 217, § 2º, do Regimento Interno do TCU;

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p) encaminhar cópia da deliberação que vier a ser proferida, bem como do relatório e do voto que a fundamentarem:

i. ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes; ii. à Procuradoria da República no Estado de Mato Grosso, com fundamento no art. 16, § 3º, da Lei n. 8.443/1992, para adoção das medidas que entender cabíveis. iii. ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, para que adote as providências necessárias à inclusão do nome dos Responsáveis no cadastro de gestores inabilitados para o exercício de cargo em comissão ou função de confiança, com base no art. 60 da Lei n. 8.443/1992 e no art. 270 do Regimento Interno do TCU”.

2. O dirigente da SecobEdif ratificou a instrução acima transcrita (peça 42).3. O d. representante do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (MP/TCU), em sua intervenção regimental, manifestou sua concordância com o posicionamento alvitrado pela Unidade Técnica (peça 48).4. No dia 10/12/2013, os representantes da construtora arrolada nos autos apresentaram memorial.

É o relatório.

VOTO

Trata-se, como visto, de tomada de contas especial instaurada em razão do Acórdão 2.587/2010-Plenário, em decorrência de suposto superfaturamento constatado nas obras de reforço e recuperação da Ponte Marechal Rondon sobre o Rio Paraguai, na BR-070/MT, situada em Cáceres/MT, sob responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

2. As obras, executadas no âmbito do Programa Emergencial de Trafegabilidade e Segurança nas Estradas (Petse), foram objeto do Contrato 11 017/2006, firmado entre a Superintendência Regional do Dnit no Mato Grosso e a Construtora Sanches Tripoloni Ltda., no valor de R$ 10.261.232,67 (dez milhões, duzentos e sessenta e um mil e duzentos e trinta e dois reais e sessenta e sete centavos).

3. As benfeitorias foram objeto de contratação direta (dispensa de licitação), com fundamento no art. 24, inciso IV, da Lei 8.666/1993, em razão da situação emergencial em que se encontra o trecho rodoviário em questão.

4. Adianto que, quanto ao mérito das irregularidades atribuídas aos responsáveis, concordo com a essência dos fundamentos fáticos e de direito aduzidos na instrução elaborada pela SecobEdif e chancelados pelo Ministério Público junto ao TCU (MP/TCU), os quais, desde logo, incorporo às minhas razões de decidir. A única divergência diz respeito à inabilitação dos responsáveis para o exercício de cargo em comissão e função de confiança, pois a meu ver não estão presentes as condições para aplicação de tal medida.

5. Entre as irregularidades que ensejaram a instauração da presente tomada de contas especial, destacam-se: i) ausência de desconto de 20% previsto na Instrução de Serviço 2/2006-Dnit para obras integrantes do Petse; ii) incidência do adicional de mão de obra sobre encargos sociais, relativos a todos os serviços à exceção de estacas raiz e camisas metálicas; iii) superfaturamento e sobrepreço no serviço de fornecimento e cravação de camisas metálicas; iv) sobrepreço no serviço de execução de estacas raiz; e v) superfaturamento no serviço de monitoramento do tráfego devido à mão de obra utilizada na execução do serviço, que empregou ajudantes em vez de serventes.

6. Os destinatários das citações foram os seguintes: Construtora Sanches Tripoloni Ltda., Srs. Rui Barbosa Egual (chefe do serviço de engenharia e, posteriormente, superintendente do Dnit no Estado do Mato Grosso), Laércio Coelho Pina (superintendente do Dnit no Estado do Mato Grosso e,

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posteriormente, chefe do serviço de engenharia), Eduardo Calheiros de Araújo (coordenador de estruturas da Diretoria de Planejamento e Pesquisa - DPP/Dnit) e Antônio Carlos de Melo Vitório (supervisor da Unit/Dnit em Cáceres/MT e fiscal da obra).

II

7. Entendo que as análises realizadas pela SecobEdif sobre as alegações de defesa apresentadas pelos responsáveis contêm elementos robustos acerca da existência de superfaturamento e da responsabilidade dos mencionados gestores/empresa.

8. Inicialmente, cumpre destacar que, muito embora solicitados pela unidade técnica, não foram apresentados documentos indispensáveis para a correta estimativa da contratação realizada, tais como: projeto básico e executivo da obra; especificações técnicas dos serviços a serem executados; e memórias de cálculo que demonstrassem que a planilha orçamentária tivesse sido elaborada com base em quantitativos propriamente avaliados.

9. A ausência desses elementos, além de afrontar diversos dispositivos da Lei de Licitações, reforça a tese defendida pela SecobEdif no sentido de a execução da obra não estar lastreada em um projeto que a defina.

10. Especificamente no que se refere às alegações de defesa apresentadas pelos responsáveis, entendo que são pertinentes as análises técnicas realizadas pela secretaria especializada.

11. Como já mencionado neste Voto, as obras rodoviárias emergenciais na ponte sobre o Rio Paraguai faziam parte do Programa Emergencial de Trafegabilidade e Segurança nas Estradas (Petse). As despesas custeadas por esse programa, conforme Instrução de Serviço nº 2/Dnit/2006, deveriam apresentar custos unitários com desconto de 20% sobre aqueles previstos no Sistema de Custos Rodoviários (Sicro).

12. Discute-se aqui se a ausência desse desconto seria elemento apto a condenar em débito os gestores e a empresa. Tenho que a presença de sobrepreço/superfaturamento deve ocorrer quando houver pagamento por serviços em valores superiores aos praticados no mercado. Sendo assim, a jurisprudência desta Corte é pacífica no sentido de que, para obras rodoviárias, o parâmetro seria o estabelecido no Sicro, mas não fração dos valores, razão pela qual as alegações de defesas apresentadas quanto a esse ponto devem ser acatadas.

13. Quanto à aplicação de percentual para custear equipamento de proteção individual, transporte de empregados, alimentação e ferramentas manuais (este último se for o caso) incidindo sobre o total dos custos de mão de obra, montante sobre o qual já recaem encargos sociais, verifico que os gestores seguiram a metodologia e as composições de custo padrão do Sicro. Além disso, por não existirem indícios de que a incidência do percentual de 15,51% (ou 20,51%, conforme o caso) sobre os salários acrescidos dos encargos sociais enseje a superestimativa dessa parcela de custo, acolho as alegações de defesa dos responsáveis.

14. No que tange ao serviço de fornecimento e cravação de camisas metálicas, o superfaturamento/sobrepreço existente se refere tanto a preços excessivos quanto à quantidade paga a maior.

15. O débito relacionado aos preços excessivos deve ser afastado, pois, além de envolver pequena monta, inferior a 5%, aborda itens pontuais, não sendo constatado sobrepreço global em decorrência de preços unitários superiores aos praticados no mercado. Assim, esses valores em excesso foram compensados com os subpreços existentes para os demais itens da planilha analisada. Some-se a isso o

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fato de não existir, nos sistemas oficiais de custo do Governo Federal (Sicro e Sinapi), composição de preços unitários para o serviço.

16. Passo ao quantitativo impugnado. Enquanto a planilha contratada previa, para o fornecimento de camisas metálicas utilizadas nas fundações dos pilares localizados na calha do rio, o comprimento médio de dezessete metros, sendo um metro para o trecho livre, acima do nível da água, oito metros para o trecho em lâmina d’água e oito metros para o trecho cravado no solo do leito do rio, a unidade técnica chegou a um valor médio final de 5,6 metros, sendo um metro para o trecho livre, acima do nível da água, 2,6 metros para o comprimento médio de travessia molhada e dois metros para o trecho cravado no solo do leito do rio.

17. Os defendentes apresentaram argumentos que pugnavam, especialmente, pela necessidade de o comprimento de cravação ser de oito metros.

18. Contudo, a documentação apresentada pelos defendentes, baseada nos boletins de sondagens, apresenta dados incompatíveis com os parâmetros indicados pelos próprios responsáveis e com o projeto original da ponte. Além disso, diferem dos quantitativos levantados pela SecobEdif. A detida análise realizada pela unidade técnica demonstrou que a profundidade de dois metros de comprimento de cravação seria suficiente.

19. Deve-se ressaltar também que a análise realizada pela unidade técnica apontou que os resultados apresentados na defesa dos responsáveis foram obtidos por simulação computacional, desacompanhada de qualquer memória de cálculo e das hipóteses e equações utilizadas, tornando impossível sua conferência.

20. Assim, concordo com a proposição feita pela unidade técnica no sentido de rejeitar as alegações de defesa relacionadas ao superfaturamento de quantitativos verificado no serviço de cravação de estacas, imputando-se um débito de R$ 870.716,30 aos responsáveis. Tal montante decorre da multiplicação do preço contratual do fornecimento e cravação da camisa metálica (R$ 1.096,62) pela diferença de quantitativo medida a maior (1.190 metros – 396 metros = 794 metros).

21. Pela mesma irregularidade, observo um equívoco no ofício de citação do Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório, citado pela importância de R$ 651.477,00. Opto por não restituir os autos à unidade técnica, tendo em vista o princípio da celeridade processual, e Voto para que sua condenação seja limitada ao valor pelo qual foi notificado.

22. Passo à análise do quarto ponto (sobrepreço no serviço de execução de estacas raiz – valor de R$ 870.214,72). Compulsando os autos, verifico que a irregularidade é motivada em razão das seguintes razões: i) valor excessivo do coeficiente de consumo de aço utilizado pelo Dnit; ii) excesso de consumo de argamassa; e iii) comparação dos custos unitários dos serviços de perfuração de vários diâmetros de estaca raiz em solo e em rocha com custos unitários obtidos em revista especializada.

23. A partir das informações trazidas aos autos pelos defendentes, verifica-se que o consumo de aço para as armaduras das estacas raiz foi majorado, constituindo gasto desnecessário e antieconômico, pois resulta em fator de segurança superior ao exigido pelas normas técnicas. As simulações efetuadas pela empresa construtora apresentaram falhas, como, por exemplo, o fato de não ter considerado a resistência da camisa metálica durante a realização dos testes. Além disso, as simulações apresentadas contêm falhas que acarretam aumento da taxa de armação da estaca raiz.

24. Outras referências trazidas pelos defendentes não elidiram as falhas encontradas. O parâmetro trazido por um dos responsáveis para o comprimento de transpasse é muito superior aos parâmetros da NBR 6118/2003. Também a densidade linear das barras de aço apresentada na argumentação do responsável encontra-se superestimada quando comparada com os parâmetros da NBR 7480. Do mesmo modo, o cálculo do consumo de estribo foi superestimado.

25. De fato, a partir dos cálculos efetuados, restou comprovada uma superestimativa de 7,05 kg de

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aço por metro linear de estaca raiz, resultando em débito de R$ 71.557,50 (setenta e um mil, quinhentos e cinquenta e sete reais e cinquenta centavos) a ser imputado aos Srs. Srs. Rui Barbosa Egual, Laércio Coelho Pina e Eduardo Calheiros de Araújo, solidariamente à Construtora Sanches Tripoloni Ltda..

26. Já o suposto débito referente aos coeficientes de consumo de argamassa deve ser afastado. Também deve ser afastada a parcela do débito referente ao custo de mobilização do equipamento para execução de estacas raiz. Como bem alvitrado pela SecobEdif, os preços de referência, baseados em publicação da Editora Pini, apresentavam grande variação entre os diversos estados em que foram coletados os dados. Em virtude de não haver referência para o Estado de Mato Grosso, a utilização de cotação de preço obtida em estado distinto (havia sido utilizado o Estado do Pará como referência) não pode ser vista de forma absoluta. Tal referência deve ser vista com ressalvas, primando pelo conservadorismo em prol dos responsáveis.

27. Assim, do débito inicialmente proposto de R$ 870.214,72 (oitocentos e setenta mil, duzentos e quatorze reais e setenta e dois centavos), remanesce o valor de R$ 71.557,50, que corresponde ao excessivo coeficiente de consumo de aço utilizado pelo Dnit.

28. Por fim, no que se refere a eventual superfaturamento no serviço de monitoramento de tráfego (item “v” previsto no parágrafo 5º deste Voto), supostamente causado pela contratação de ajudantes em vez de serventes, tendo aquele custo maior que este, entendo que o débito imputado aos responsáveis deve ser elidido, pois se refere a sobrepreço unitário de um único serviço. Chego a essa convicção reafirmando ponto já mencionado neste Voto: não foi constatado sobrepreço global em decorrência de preços unitários superiores aos praticados no mercado, devendo esse item ser compensado com todos os demais que apresentaram subpreço.

29. Contudo, como bem ressaltado pela unidade técnica, a contratação de profissionais de custo mais elevado para realização de serviços que podiam ser feitos por empregados com custo menor caracteriza escolha antieconômica. Tal fato se agrava ao rememorar que a contratação sob análise foi realizada de forma direta, por dispensa de licitação, em que é exigida a justificativa de preço pelo gestor.

30. Ressalte-se que, quanto a esse ponto, o fiscal da obra não deve ser responsabilizado, pois não teve participação no processo de orçamentação e de contratação do referido serviço. Em relação aos demais gestores responsáveis (Srs. Eduardo, Rui e Laércio), levo em consideração a prática desse ato antieconômico na fixação da multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992 imputada a eles.

III

31. Passo às considerações finais.

32. Em alguns processos anteriores (a exemplo do analisado no Acórdão 2.971/2013-Plenário), tenho defendido a tese de não ser razoável nem exigível condenar solidariamente superintendentes e chefes regionais por débitos decorrentes de serviços não executados – tarefa para a qual são designados servidores específicos (fiscais de contratos e de obras) que se tornam responsáveis pelo acompanhamento cotidiano das benfeitorias. Isso porque detectar a ocorrência de pagamentos por serviços não executados exigiria, no limite, que o superintendente visitasse cada um dos empreendimentos custeados pela regional, o que não me parece adequado em razão do cargo que exercem, voltado mais às questões finalísticas e gerenciais.

33. Entretanto, no caso concreto, entendo que as instâncias superiores deveriam ter atuado de

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forma diversa – motivo suficiente para responsabilizar o superintendente e o chefe de engenharia. Explico. Quando os pagamentos à empresa responsável pelas obras ocorreram, os Srs. Laércio Coelho Pina e Rui Barbosa Egual já haviam tomado conhecimento das irregularidades levantadas pelo TCU nas obras, mas não adotaram nenhuma providência para evitar que o dano ao erário ocorresse.

34. Em relação à inabilitação para exercício do cargo em comissão ou função de confiança, não vejo presentes as condições para a aplicação de tal medida. Assim, deixo de levar a este Colegiado proposta nesse sentido.

35. Portanto, as evidências conduzem ao julgamento pela irregularidade das contas dos Srs. Laércio Coelho Pina, Rui Barbosa Egual, Eduardo Calheiros de Araújo, Antônio Carlos de Melo Vitório e da Construtora Sanches Tripoloni Ltda., nos termos dos arts. 1º, I, e 16, III, alínea “c”, da Lei 8.443/1992 c/c os arts. 1°, I, e 209, III, do Regimento Interno do TCU, condenando-os em débito e aplicando-lhes multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992.

36. Na presente data, os representantes da construtora distribuíram memorial no qual criticam as premissas utilizadas pela unidade técnica especializada. No entanto, não foram juntados documentos capazes de justificar as quantidades pagas, razão pela qual mantenho minha convicção postulada neste Voto.

Ante todo o exposto, ratificando minha concordância com a essência dos pareceres precedentes, VOTO por que seja adotado o acórdão que ora submeto à deliberação deste Colegiado.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 10 de dezembro de 2013.

BENJAMIN ZYMLER Relator

ACÓRDÃO Nº 3631/2013 – TCU – Plenário

1. Processo nº TC 031.529/2010-0. 1.1. Apenso: 023.585/2006-52. Grupo II – Classe de Assunto: IV - Tomada de Contas Especial3. Responsáveis: Rui Barbosa Egual, Laércio Coelho Pina, Eduardo Calheiros de Araújo, Antônio Carlos de Melo Vitório e Construtora Sanches Tripoloni Ltda.4. Órgão/Entidade: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – Dnit.5. Relator: Ministro Benjamin Zymler.6. Representante do Ministério Público: Procurador Sergio Ricardo Costa Caribé.7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Obras Aeroportuárias e de Edificação (SecobEdif).8. Advogados constituídos nos autos: Luis Justiniano de Arantes Fernandes (OAB/SP 119.324 e OAB/DF 2.193/A), Eduardo Rodrigues Lopes (OAB/DF 29.283) e outros.

9. Acórdão:VISTOS, relatados e discutidos estes autos de tomada de contas especial instaurada em razão

do Acórdão 2.587/2010-Plenário, em decorrência de superfaturamento constatado nas obras de reforço e recuperação da Ponte Marechal Rondon sobre o Rio Paraguai, na BR-070/MT, situada em Cáceres/MT, sob responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), objeto do Contrato 11 017/2006, firmado entre a Superintendência Regional do Dnit no Mato Grosso e

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a Construtora Sanches Tripoloni Ltda., no valor de R$ 10.261.232,67 (dez milhões, duzentos e sessenta e um mil e duzentos e trinta e dois reais e sessenta e sete centavos).

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em:

9.1 acolher as alegações de defesa apresentadas pelos Srs. Eduardo Calheiros de Araújo, CPF 036.771.337-34, Rui Barbosa Egual, CPF 361.213.046-34, Laércio Coelho Pina, CPF 545.363.911-34, e Construtora Sanches Tripoloni Ltda., CNPJ 53.503.652/0001-05, pela a ausência de desconto de 20% para obras integrantes do Petse, e incidência do Adicional de Mão de Obra sobre encargos sociais;

9.2 rejeitar as alegações de defesa apresentadas pelos Srs. Eduardo Calheiros de Araújo, CPF 036.771.337-34, Rui Barbosa Egual, CPF 361.213.046-34, Laércio Coelho Pina, CPF 545.363.911-34, e Construtora Sanches Tripoloni Ltda., CNPJ 53.503.652/0001-05, pela utilização de ajudantes, ao invés de serventes, no serviços de monitoramento de tráfego;

9.3 acolher as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório, CPF 127.025.361-15, pela utilização de ajudantes, ao invés de serventes, no serviços de monitoramento de tráfego;

9.4 rejeitar as alegações de defesa apresentadas pelos Srs. Eduardo Calheiros de Araújo, CPF 036.771.337-34, Rui Barbosa Egual, CPF 361.213.046-34, Laércio Coelho Pina, CPF 545.363.911-34, e Construtora Sanches Tripoloni Ltda., CNPJ 53.503.652/0001-05, pelo superfaturamento no serviço de fornecimento e cravação de camisas metálicas;

9.5 acolher parcialmente as alegações de defesa apresentadas pelos Srs. Eduardo Calheiros de Araújo, CPF 036.771.337-34, Rui Barbosa Egual, CPF 361.213.046-34, Laércio Coelho Pina, CPF 545.363.911-34, e Construtora Sanches Tripoloni Ltda., CNPJ 53.503.652/0001-05, pelo sobrepreço no serviço de execução de estacas raiz resultante da superestimativa no consumo de aço;

9.6 rejeitar as alegações de defesa apresentadas pelos Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório, CPF 127.025.361-15, pelo superfaturamento de quantidades do serviço de camisas metálicas;

9.7 acolher as alegações de defesa apresentadas pelos Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório, CPF 127.025.361-15 referentes ao consumo excessivo de argamassa no serviço de execução de estacas raiz;

9.8 julgar irregulares, com fundamento nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea “c”, e § 2º, 19, e 23, inciso III, da Lei nº 8.443, de 1992, c/c os arts. 1º, inciso I, 209, inciso III, e §5º, 210 e 214, inciso III, do Regimento Interno, as contas dos responsáveis abaixo arrolados, condenando-os solidariamente ao pagamento dos débitos a seguir especificados, fixando-lhes o prazo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação, para que efetuem e comprovem perante este Tribunal o recolhimento das referidas dívidas aos cofres do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, atualizadas monetariamente e acrescidas de juros de mora, calculados a partir das datas especificadas até a data do efetivo recolhimento, na forma da legislação em vigor:

9.8.1 Srs. Eduardo Calheiros de Araújo, CPF 036.771.337-34, coordenador de estruturas da DPP/Dnit, Rui Barbosa Egual, CPF 361.213.046-34, superintendente do Dnit no Estado do Mato Grosso, Laércio Coelho Pina, CPF 545.363.911-34, superintendente do Dnit no Estado do Mato Grosso, Antônio Carlos de Melo Vitório, CPF 127.025.361-15, supervisor da Unit/Dnit em Cáceres/MT e fiscal da obra, e da Construtora Sanches Tripoloni Ltda., CNPJ 53.503.652/0001-05, em virtude do superfaturamento verificado no Contrato n.º 11 017/2006:

Data de Origem do Débito Valor do Débito24/11/2006 R$ 651.477,00

9.8.2 Srs. Eduardo Calheiros de Araújo, CPF 036.771.337-34, coordenador de estruturas da DPP/Dnit, Rui Barbosa Egual, CPF 361.213.046-34, superintendente do Dnit no Estado do Mato Grosso, Laércio Coelho Pina, CPF 545.363.911-34, superintendente do Dnit no Estado do Mato Grosso, e da Construtora Sanches Tripoloni Ltda., CNPJ 53.503.652/0001-05, em virtude do superfaturamento verificado no Contrato n.º 11 017/2006:

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Data de Origem do Débito Valor do Débito24/11/2006 R$ 219.239,3024/11/2006 R$ 71.557,50

9.9 aplicar à Construtora Sanches Tripoloni Ltda., CNPJ 53.503.652/0001-05, e aos Srs. Eduardo Calheiros de Araújo CPF 036.771.337-34, Rui Barbosa Egual, CPF 361.213.046-34, Laércio Coelho Pina, CPF 545.363.911-34, e Antônio Carlos de Melo Vitório, CPF 127.025.361-15, individualmente, a multa prevista no art. 57 da Lei 8.443/1992, nos valores discriminados abaixo, em virtude do superfaturamento verificado no Contrato 11 017/2006, com a fixação do prazo de 15 (quinze) dias, a contar das notificações, para comprovarem, perante o Tribunal (art. 214, inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno), o recolhimento das dívidas aos cofres do Tesouro Nacional, atualizadas monetariamente desde a data do acórdão que vier a ser proferido até a do efetivo recolhimento, se forem pagas após o vencimento, na forma da legislação em vigor:

Responsável Valor (em R$)Construtora Sanches Tripoloni Ltda. 81.000,00

Sr. Eduardo Calheiros de Araújo 34.000,00 Sr. Rui Barbosa Egual 34.000,00

Sr. Laércio Coelho Pina 34.000,00 Sr. Antônio Carlos de Melo Vitório 47.000,00

9.10 autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial das dívidas caso não atendidas as notificações;

9.11 autorizar, desde logo, se assim for solicitado, o pagamento da dívida dos responsáveis em 36 (trinta e seis) parcelas mensais e consecutivas, nos termos do art. 26 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 217 do Regimento Interno, fixando-lhes o prazo de 15 (quinze) dias, a contar do recebimento da notificação, para comprovarem perante o Tribunal o recolhimento da primeira parcela, e de 30 (trinta) dias, a contar da parcela anterior, para comprovarem os recolhimentos das demais parcelas, devendo incidir sobre cada valor mensal, atualizado monetariamente, os juros de mora devidos, na forma prevista na legislação em vigor;

9.12 alertar aos responsáveis que a falta de comprovação do recolhimento de qualquer parcela importará o vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos do parágrafo único do art. 26 da Lei 8.443/1992, c/c o art. 217, § 2º, do Regimento Interno do TCU;

9.13 encaminhar cópia desta deliberação, acompanhada do Relatório e do Voto que a fundamentam, ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, aos responsáveis e à Procuradoria da República no Estado de Mato Grosso, nos termos do art. 16, § 3º, da Lei 8.443/1992, para adoção das medidas que entender cabíveis.

10. Ata n° 49/2013 – Plenário.11. Data da Sessão: 10/12/2013 – Extraordinária.12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-3631-49/13-P.13. Especificação do quorum: 13.1. Ministros presentes: Aroldo Cedraz (na Presidência), Valmir Campelo, Walton Alencar Rodrigues, Benjamin Zymler (Relator), Raimundo Carreiro, José Jorge, José Múcio Monteiro e Ana Arraes.13.2. Ministros-Substitutos presentes: Marcos Bemquerer Costa e Weder de Oliveira.

(Assinado Eletronicamente) (Assinado Eletronicamente)

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AROLDO CEDRAZ BENJAMIN ZYMLERVice-Presidente, no exercício da Presidência Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)PAULO SOARES BUGARIN

Procurador-Geral

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