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POSSE Duas grandes teorias procuram explicar o conceito de posse: 1- Teoria subjetiva , idealizada por SAVIGNY, segundo o qual a posse era definida como sendo o poder físico sobre a coisa com a intenção de tê-la para si. Para a caracterização da posse exigia-se, portanto, 2 elementos: o corpus (poder físico) e o animus (intenção de tê-la para si). Savigny não admitia a posse em nome alheio e, portanto, para ele, o locatário, o comodatário, não tinham posse. 2- Teoria objetiva , cujo idealizador foi IHERING, que deu um novo conceito ao elemento corpus, sendo certo que nesse novo conceito o elemento animus estava inserido. Corpus para IHERING é comportamento de dono. E, portanto, possuidor é todo aquele que se comporta como real proprietário. Assim, define posse como sendo a exteriorização, a visibilidade da propriedade. Ihering admitia posse em nome alheio. Dessa forma, locatário, comodatário têm posse. De acordo com a doutrina, o atual Código Civil adotou integralmente a teoria objetiva de IHERING, conforme se verifica pelos arts. 1.196, 1.204 e 1.223 1 . 1 Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196. ANUAL FEDERAL MATUTINO PAULISTA MATÉRIA: D. CIVIL PROF: MARIA CRISTIANA SIMÕES AMORIM ZIOUVA [email protected] 1

 · Web viewReferida distinção é importante porque somente a posse produz efeitos jurídicos sendo que os principais são o direito a proteção possessória a possibilidade de

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POSSE Duas grandes teorias procuram explicar o conceito de posse: 1-Teoria subjetiva , idealizada por SAVIGNY, segundo o qual a

posse era definida como sendo o poder físico sobre a coisa com a intenção de tê-la para si. Para a caracterização da posse exigia-se, portanto, 2 elementos: o corpus (poder físico) e o animus (intenção de tê-la para si). Savigny não admitia a posse em nome alheio e, portanto, para ele, o locatário, o comodatário, não tinham posse.

2-Teoria objetiva , cujo idealizador foi IHERING, que deu um novo conceito ao elemento corpus, sendo certo que nesse novo conceito o elemento animus já estava inserido. Corpus para IHERING é comportamento de dono. E, portanto, possuidor é todo aquele que se comporta como real proprietário. Assim, define posse como sendo a exteriorização, a visibilidade da propriedade. Ihering admitia posse em nome alheio. Dessa forma, locatário, comodatário têm posse.

De acordo com a doutrina, o atual Código Civil adotou integralmente a teoria objetiva de IHERING, conforme se verifica pelos arts. 1.196, 1.204 e 1.2231.

Adquire-se posse quando o indivíduo passa a se comportar como se dono fosse. Aquele que se comporta como dono, tem aparência de dono, possuidor é.

Modernamente, alguns civilistas sustentam uma 3ª teoria, qual seja, a teoria social da posse, que exige, para a caracterização da posse, um requisito a mais, qual seja, o cumprimento da função social da posse. Quem descumpre a função social da propriedade também não tem posse. É certo que a função social da propriedade está prevista na Constituição; porém, ela não é fato inibitório da posse.

Nem sempre porém, a aparência de dono revela a existência da posse, pois podemos esta diante das seguintes situações:

a) do detentor ou servidor da posse ou fâmulo, conforme previsto no artigo 1.1982 do CC. Por exemplo: o caseiro.

1 Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196.2 Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário.

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b) são aquelas mencionadas no artigo 1.2083 do CC, ou seja,

os atos de mera permissão e mera tolerância. Permissão é a concessão expressa e tolerância é concessão tácita, ambos são atos de favor, de gentileza, revogáveis portanto a qualquer tempo e ademais não induzem posse. Portanto, não se confundem com o comodato, que é contrato, portanto irrevogável antes do prazo e ademais induz posse.

Exemplo: permito que meu vizinho estacione os seus carros na minha garagem. Tenho que deixar claro que se trata de mera permissão, de ato de gentileza, pois do contrário pode caracterizar comodato.

Em conclusão temos que a posse é a exteriorização da propriedade excetuando-se no entanto as hipóteses acima mencionadas.

Referida distinção é importante porque somente a posse produz efeitos jurídicos sendo que os principais são o direito a proteção possessória a possibilidade de gerar a usucapião. A mera detenção não gera efeitos jurídicos. O único efeito jurídico atribuído ao detentor é a possibilidade de fazer uso da defesa direta para a proteção da posse. (defesa direta: legítima defesa/ turbação e desforço imediato/ esbulho ou interditos possessórios/reintegração, manutenção e interdito proibitórios).

Do Objeto da Posse:É pacífica a incidência da posse sobre coisa corpóreas e

direitos reais. Quando a posse recai sobre direitos reais ela também se denomina quase-posse. Questão controvertida diz respeito a incidência da posse sobre os direitos pessoais, exemplo, funcionário público suspenso ou demitido das suas funções, para retornar ao seu exercício pode propor ação de reintegração de posse?

Violado um direito autoral é possível ação possessória?A violação do nome comercial autoriza a propositura de ação

possessória?De acordo com um posicionamento intermediário admite-se a

posse sobre os diretos pessoais que tenham caráter patrimonial e cujo exercício esteja vinculado à detenção de uma coisa corpórea. Assim o comodatário disputa de posse, em razão do contrato, direito pessoal que é, e pode invocar os interditos para a defesa da sua posse. Entretanto, os direitos pessoais cujo o exercício não esteja condicionado ao uso de uma coisa corpórea são insuscetíveis de posse, como é caso dos três exemplos acima mencionados.

3 Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade

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Obs.: o STJ editou a Súmula 2284 proibindo ação possessórias

para defender os direitos autorais não admitindo portanto posse sobre direitos pessoais. O mesmo STJ no entanto, admitiu a usucapião de linha telefônica que é direito pessoal conforme Súmula 1935.

Espécies de posse1) Da posse direta e indireta, também denominada bifurcação

ou bipartição ou concorrência ou sobre posição de posses. Ocorre quando duas pessoas tem posse sobre a mesma coisa, mas em graus diferentes, ficando uma delas privada do uso imediato da coisa,se no mesmo grau haverá composse).

Possuidor direto é aquele que detém materialmente a coisa, como por exemplo, o locatário, comodatário, depositário, etc,. Possuidor indireto é aquele que concedeu ao direto o direito de possuir, por exemplo, locador, comodante, etc,.

Conforme artigo 1.1976 do CC, a principal característica da posse direta é a temporariedade. Ambos os possuidores, direto e indireto, tem posse logo ambos tem legitimidade para mover ação possessória em face de terceiro intruso.

O possuidor indireto pode mover ação possessória, contra o possuidor direto? Pode sim, quando a posse do possuidor direto tornar-se precária.

O possuidor indireto antes de mover a ação possessória, precisa notificar o possuidor direto?

Depende. Se o contrato tem data certa de vencimento, a mora é “ex re”, ou seja, é automática. Logo, a ação pode ser movida sem prévia notificação. Se o contrato não tem data certa de vencimento, ou tem mas é compromisso de compra e venda, a mora é “ex persona”, e, neste caso é preciso notificar antes de mover a ação sob pena de carência.

Obs.: não basta mover ação de rescisão contratual para recuperar a posse do bem, sendo necessária cumulá-la com ação de reintegração de posse.

E o possuidor direto, pode mover ação possessória em face do indireto?

Pode sim, quando o possuidor indireto antes do término do contrato pratica ato de turbação ou de esbulho.

4 SÚMULA: 228É INADMISSÍVEL O INTERDITO PROIBITÓRIO PARA A PROTEÇÃO DO DIREITO AUTORAL.5 SÚMULA: 193O DIREITO DE USO DE LINHA TELEFONICA PODE SER ADQUIRIDO POR USUCAPIÃO.6 Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.

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Obs.: na relação “ex locato” o locador não pode mover ação

posessória em face do locatário pois a lei prevê ação específica de despejo.

2) Posse justa e posse injusta. Posse justa é aquela que não é violenta, não é clandestina e não é precária, (artigo 1.2007 do CC). Será inmjusta quando apresentar um desses vícios.

Posse violenta é aquela adquirida mediante esforço próprio ou grave ameaça. É o inverso de possse mansa e pacífica. Nem toda posse violenta foi adquirida de má-fé. Trata-se de vício de aquisição ou de origem.

Posse clandestina, é aquela adquirida as escondidas do proprietário ou possuidor. É o inverso de posse pública e trata-se de vício de origem ou de aquisição.

Posse precária é aquela em que o possuidor direto, vencido o prazo de duração, se recusa a restituir a coisa ao possuidor indireto. Não se trata de vício de aquisição, mas sim de vício que surge no final da posse.

Os vícios da posse se convalidam?Os vícios da violência e da clandestinidade sim. Porém, quando

se convalidam? Duas são as posições:3)desde o dia em que cessa a violência ou a clandestinidade,

tornado-se a posse justa.4)somente ano e dia após cessar a violência ou a

clandestinidade. Neste caso, a usucapião de 10 anos passaria a ser de 11 anos e 1 dia. Este prazo, não consta da lei mas sim é derivado dos costumes oriundo do direito Romano antigo. Importa notar que o prazo de ano e dia previsto no CPC não se refere à convalidação dos vícios, mas sim, a data da turbação ou do esbulho para a propositura da ação possessória com vistas à concessão de liminar, ou seja, é para sabermos se é caso de ação de força nova ou se é ação de força velha. A que prevalece é a primeira posição.

Quanto ao vício da precariedade dois são os entendimentos:1) De acordo com o código civil a posse precária e eternamente

injusta. Logo, nunca se convalida e nunca gera a usucapião.2) De acordo com o STJ, a posse precária pode sim se

convalidar desde que o possuidor direto, através de atos exteriores, altere o ânimus da posse, ou seja, o jeito de possuir. Exemplo: dou a minha casa em comodato e findo o prazo do contrato o sujeito não a devolve. Enquanto ele estiver como “comodatário” naquele imóvel a sua posse não se convalida, continuando a ser precária. Porém se ele

7 Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.

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derruba a casa e no local constrói um bar, mudando o jeito de possuir, a sua posse se convalida.

Importa anotar que para fazer-se uso das ações possessórias e para gerar a usucapião é necessário, ter ou ter tido, posse justa. A boa-fé ou a má-fé da posse repercutem nos efeitos secundários da posse, como por exemplo, no que tange aos frutos as benfeitorias e etc,.

Ademais, também importa anotar que a justiça e a injustiça da posse é relativa pois devem ser analisadas sempre em função do adversário. Portanto o ladrão pode sim ter posse justa.

6. DA POSSE DE BOA-FÉ E DA POSSE DE MÁ-FÉDe acordo com o artigo 1.2018 do CC é de boa-fé a posse em

que o possuidor, mediante erro escusável ignora o vício ou obstáculo que impedia a sua aquisição.

A posse é de má-fé quando o possuidor tem ciência do vício ou então possibilidade de conhece-lo se empregar a diligência ordinária.

De acordo com o parágrafo único9 do mencionado dispositivo presume-se de boa-fé aquele que tem justo título, ou então que prove em contrário.

Justo título é aquele formalmente apto a transferir o domínio, porém não o transmite por que contém um defeito intrínseco. Por exemplo: escritura de compra e venda outorgada porque não é o verdadeiro proprietário; compromisso de compra e venda sem a autorização do cônjuge; escritura de compra e venda lavrada por menor púlbere, sem a assistência de seu representante legal.

Importa anotar que a posse de boa-fé transmuda-se para posse de má-fé a partir do momento que o possuidor de boa-fé sabia do defeito da sua aquisição. Exemplo: com a citação, com a contestação e quando surgirem circunstância indicativas de que o possuidor sabia que possuída indevidamente.

De acordo com o artigo 1.20310 do CC, é perfeitamente admissível a existência da posse justa de má-fé, assim como posse injusta de boa-fé.

1)DA POSSE NOVA E DA POSSE VELHAPosse nova é a de menos de ano e dia, posse velha é a de

mais de ano e dia. Referida classificação é baseada no tempo de posse e não se confunde com ação de força nova e ação de força velha, cuja

8 Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa.Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção.9 Vide nota de rodapé 1.10 Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida.

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caracterização é determinada pelo tempo de turbação ou de esbulho com vistas à concessão de liminar. Assim, ação de força nova é aquela proposta por quem foi turbado ou esbulhado amenos de ano e dia e confere direito a concessão de liminar. Já a ação de força velha é aquela movida por quem foi turbado ou esbulhado a mais de ano e dia, não conferindo direito à concessão de liminar. Permite porém, a antecipação da tutela com base no artigo 27311 do CPC.

Obs.: O atual código não traz mais a expressão posse nova e posse velha.

5)POSSE “AD INTERDICTA” E POSSE “AD USUCAPIONEM”

Posse ad interdicta é aquela que confere direito ao uso das ações possessórias, devendo ser justa mas podendo ser exercida em nome próprio ou em nome alheio.

Posse ad ucucapionem, é aquela capaz de gerar a usucapião, devendo ser justa e devendo ser exercida com ânimus de dono , além de preencher os demais requisitos da usucapião, como por exemplo o tempo.

6)POSSE “PRO DIVISO” E POSSE “PRO INDIVISO”Este tema está relacionado à composse, que é a posse em

comum e no mesmo grau entre duas ou mais pessoas. Por exemplo os cônjuges no regime da comunhão universal e os herdeiros antes da partilha do acervo. (se em graus diferentes termos bifurcação da posse). Posse pró indiviso é a composse de direito e de fato (artigo 1.19912 do CC). Isso porque a coisa ainda não foi partilhada, por acordo ou acomodação natural, entre os compossuidores. Todos tem posse sobre o todo e um não pode excluir a posse do outro. Qualquer deles no entanto, tem ação possessória em face de terceiro.

11 Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. § 1o Na decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo claro e preciso, as razões do seu convencimento. § 2o Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado. § 3o A efetivação da tutela antecipada observará, no que couber e conforme sua natureza, as normas previstas nos arts. 588, 461, §§ 4o e 5o, e 461-A. § 4o A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo, em decisão fundamentada. § 5o Concedida ou não a antecipação da tutela, prosseguirá o processo até final julgamento. § 6o A tutela antecipada também poderá ser concedida quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso. § 7o Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo ajuizado.12 Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores.

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Posse pró diviso, é a composse de direito mas não de fato, pois

cada compossuidor por acordo ou acomodação natural já se apossou com exclusividade de parte determinada do imóvel. Um não pode possuir a parte do outro, mas qualquer deles tem ação possessória em face de terceiro visando a defesa do todo, pois juridicamente ainda há composse.

7) “juis possidendi” e “jus possessionis”Jus possidendi é o direito À aposse derivado do direito de

propriedade. É o caso do proprietário que também tem posse. Jus possessionis é a posse adquirida sem título de propriedade. Para o titular do jus possessionis, a única chance de recuperar a posse perdida é por meio de uma ação possessória. No entanto, a tutela jurisdicional da ação possessória é provisória pois quem vence a ação possessória é o melhor possuidor, que pode não se o proprietário. Portanto, esse melhor possuidor pode vir a perder a sua posse se o proprietário ingressar com ação petitória, onde se discute propriedade.

já o titular do jus possidendi tem duas opções para recuperar a posse: mover a ação possessória e caso peca esta ação ingressar com ação petitória. nada impede que o proprietário ingresse diretamente com a petitória, mas na prática prefere-se primeiro propor a possessória ema razão da possibilidade de concessão de liminar.

DA AQUISIÇÃO DA POSSEConforme artigo 1.20413 adquire-se a posse no momento em

que é possível exercer em nome próprio, qualquer dos poderes inerentes a propriedade (ou seja, adquire-se pose a partir do momento em que se passa a comportar-se como se dono fosse). A aquisição de posse á ato de forma livre, não havendo qualquer solenidade, podendo ser adquirida inclusive por meio de procurador (artigo 1.20514do CC).

O incapaz sem representação pode adquirir posse?O código de 1.916 proibia a aquisição da posse pelo incapaz

sem o seu representante legal, pois aquele diploma exigia para tanto capacidade. O atual código é omisso e duas posições se formaram :

13 Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade.14 Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante;II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação.

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- não pode, e caso ocorra o ato será nulo em se tratando de

pessoa absolutamente incapaz, conforme art. 166, inciso I15, ou então anulável, se relativamente incapaz, por força do art. 171, I16.

- pode sim, pois a posse não é um negócio jurídico, mas sim um ato-fato jurídico e o requisito da capacidade não é exigido para a prática deste, salvo nos casos expressos em lei, conforme art. 18517. Ademais, o Código adotou a teoria objetiva, pela qual se dispensa para a aquisição da posse qualquer indagação sobre a intenção do agente.

Também é forma de aquisição da posse o CONSTITUTO possessório, que é o ato pelo qual aquele que possuía em nome próprio passa a possuir em nome alheio. O CONSTITUTO possessório nunca se presume, devendo constar expressamente do ato de alienação. Ex18.: vendo o meu apartamento, porém continuo na posse do mesmo agora como inquilino.

É possível a posse de um bem público? Sim, em se tratando de bem de uso comum do povo e bem

especial há necessidade de prévia autorização do Poder Público que, no entanto, pode ser revogada a qualquer tempo. Sem autorização não há posse, apenas detenção.

Em se tratando de bens dominiais, não há necessidade de autorização, pois após o decurso do prazo de ano e dia convalida-se a posse.

Da acessão da posseÉ a soma do tempo de posse do atual possuidor como de seus

antecessores. Tem por finalidade obter uma maior rapidez para a usucapião.

Nem sempre, porém, a soma das posses é interessante, pois com ela a posse atual passa a ter as mesmas características da anterior, ou seja, se esta é injusta aquela também o será.

É certo, no entanto, que em uma das espécies de acessão, a soma é obrigatória.

Duas são as espécies de acessão: 1)Acessão por sucessão – que ocorre na sucessão a título

universal e, neste caso, a soma é obrigatória, conforme art. 1.207, 1ª parte19, CC.

15 Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;16 Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:I - por incapacidade relativa do agente;17 Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Título anterior.18 Proprietário que aliena bem imóvel e se torna locatário.

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2)Acessão por união – que ocorre na sucessão a título

singular, como no caso do comprador, do donatário e etc. Aqui, a soma é facultativa, conforme art. 1.207, 2ª parte20, CC..

Com relação ao legatário21, 3 são as posições quanto à aquisição da posse pelo mesmo:

1)Ocorre por sucessão, conforme art. 1.207, 1ª parte, CC; 2)Ocorre por união, conforme art. 1.207, 2ª parte, CC, porque o

legatário é sucessor a título singular, portanto somará se quiser;3)Ocorre por sucessão, mas com base no art. 1.20622, CC que,

apenas para fins de aquisição da posse, trata de forma igual herdeiros e legatários. É a posição que tem prevalecido, sido aceita.

Da perda da possePerde-se a posse a partir do momento em que o sujeito deixa

de se comportar como se dono fosse. Ver arts. 1.223 e 122423, CC. Dos efeitos da PosseSão os seguintes:1. Defesa direta2. Direito aos interditos possessórios3. Percepção dos frutos 4. Indenização pelas benfeitorias5. Direito de retenção pelas benfeitorias6. Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa7. Usucapião

Observações: I. Os itens 1 e 2 compõem a denominada proteção

possessória. II. A detenção, à exceção da defesa direta, não gera nenhum

dos efeitos acima mencionados.

19 Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.20 Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.21 O legatário é sucessor a título singular.22 Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres.23 Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196.Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido.

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1. Defesa direta – art. 1.210, §1º24, CC – é o ‘fazer justiça com

as próprias mãos’, sendo reminiscência da vingança privada sem que tipifique o crime do art. 34525, CP. Duas são as formas de defesa direta:

1.1. Legítima defesa que é a reação imediata e moderada à turbação da posse. Turbação é molestação, perturbação da posse, sem que tenha havido perda.

1.2. Desforço imediato que é a reação imediata e moderada ao esbulho possessório. Esbulho é a perda da posse, seja em razão de violência, clandestinidade ou precariedade.

Em ambas as espécies, a reação deve ser imediata, pois, se tardia, configura vingança. O que se entende por reação imediata? Não é apenas aquela que se dá incontinenti, imediatamente, mas também aquela em que tão logo seja possível ao agente agir, conforme ensinamento do Professor Carvalho Santos.

Ex.: 30 dias após o furto do seu automóvel, você vê o ladrão passando com ele pela rua. Você pode ir até lá e restituir-se na posse do seu bem.

Ademais, a reação deve ser moderada, ou seja, proporcional ao bem jurídico lesado e, segundo a doutrina, o juiz deve considerar a reação do homem-médio. Admite-se, inclusive, o emprego de armas desde que necessário à manutenção ou restituição da posse.

2. Uso dos interditos possessórios – são as ações possessórias e são apenas 3 as ações tipicamente possessórias26:

2.1. Reintegração de posse – a ação de reintegração de posse é aquela que visa recuperar a posse perdida, sendo cabível, portanto, nos casos de esbulho. Esbulho é perda da posse, seja em razão de violência, clandestinidade ou precariedade.

2.2. Manutenção de posse – é aquela cabível quando houver turbação, ou seja, perturbação da posse.

Em ambas as ações, reintegração e manutenção, a petição inicial deve mencionar a data do esbulho ou turbação, respectivamente, com vistas a saber-se se a ação é de força nova ou de força velha por 24 Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse.§ 2o Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.25 Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite:Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência.Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.26 Existem outras ações (dominiais, petitórias) que se prestam à defesa da posse, mas as tipicamente possessórias são apenas estas.

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causa da concessão de liminar (lembrar, porém, da possibilidade de antecipação da tutela, por força do art. 27327, CPC).

2.3. Interdito proibitório – já o interdito proibitório é cabível quando houver justo receio de turbação ou esbulho. Ainda não aconteceu nem turbação, nem esbulho, mas há uma ameaça concreta da ocorrência deles. Portanto, é uma ação preventiva, sendo certo que na inicial deve-se pedir ao juiz que expeça mandado de proibição de turbação e esbulho, sob pena de multa diária.

Ex.: o movimento dos sem-terra diz na televisão que a próxima fazenda a ser invadida é a sua.

Para a propositura destas ações é necessário ter ou ter tido posse justa. É bom lembrar que o possuidor injusto, também tem direito aos interditos desde que a sua posse seja justa com relação ao adversário.

DOS PRINCÍPIOS ATINENTES ÀS AÇÕES TIPICAMENTE POSSESSÓRIAS

1)Da fungibilidade ou da conversibilidade dos interditos , segundo o qual a propositura de uma ação possessória28 ao invés de outra não impedirá que o juiz conheça do pedido, conferindo a proteção possessória necessária ao caso concreto. Isso é possível porque o pedido em todos os interditos possessórios é de proteção possessória, variando apenas a situação fática.

2) Da natureza dúplice das ações possessórias:

Ação dúplice é aquela em que o réu pode formular pedido na contestação como se fosse também autor, ampliando dessa forma os limites do julgamento. Nas ações dúplices, os litigantes podem assumir, simultaneamente, a posição de autor ou réu. Por esse motivo não se admite reconvenção, pois a contestação pode servir como meio de defesa e petição inicial (posição civilista).27 Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. § 1o Na decisão que antecipar a tutela, o juiz indicará, de modo claro e preciso, as razões do seu convencimento. § 2o Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado. § 3o A efetivação da tutela antecipada observará, no que couber e conforme sua natureza, as normas previstas nos arts. 588, 461, §§ 4o e 5o, e 461-A. § 4o A tutela antecipada poderá ser revogada ou modificada a qualquer tempo, em decisão fundamentada. § 5o Concedida ou não a antecipação da tutela, prosseguirá o processo até final julgamento. § 6o A tutela antecipada também poderá ser concedida quando um ou mais dos pedidos cumulados, ou parcela deles, mostrar-se incontroverso. § 7o Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo ajuizado. 28 Atenção: só é possível entre as ações possessórias (as 3 espécies).

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Observação: Para os processualistas, as ações possessórias

não são ações de natureza dúplice. Quando muito, pode-se dizer que elas são dúplices pelo procedimento. Isso porque elas dependem de pedido de proteção possessória expresso do réu na contestação em face do autor (pedido contraposto), pois essa proteção possessória não é automática (só é automática nas ações de natureza dúplice – Ex: ação de prestação de contas). O que se tem, segundo os processualistas, é apenas uma situação de pedido contraposto (posição processualista mais moderna).

3) Da Proibição da “ Exceptio Proprietatis” : Em uma ação possessória não se discute propriedade, mas

apenas posse.Instaurado o juízo possessório, vence aquele que provar ser o

melhor possuidor, ainda que o proprietário seja o adversário.No entanto, pelo Código de 1916 admitia-se duas exceções a

esse princípio, isto é, em duas situações o juiz julgava a possessória em favor do proprietário e essas situações são as seguintes:

a) quando os ambos os contendores disputavam a posse com base no título de propriedade. Aplicava-se nesse caso a Súmula 48729 do STF, segundo a qual “será deferida à posse a quem, evidentemente, tiver o domínio, se com base neste for disputada”.

b) quando duvidosa a posse dos litigantes, ou seja, nenhuma das partes comprovou de forma suficiente a sua posse e, nesse caso, o juiz a entregava ao proprietário. Esta segunda situação dava margem a muitas discussões, pois neste caso entendia-se que o juiz deveria julgar a possessória improcedente.

Essas duas exceções surgiram por conta da redação do art. 505 do CC de 1916. Referido dispositivo era composto por duas partes, sendo certo que a segunda acaba por contradizer o disposto na primeira.

O atual CC, no entanto, não reproduziu a segunda parte do art. 505 do CC de 1916 (art. 1.210, § 2º30, do CC/2002). Mas, apesar disso, prevalece na doutrina o entendimento de que nas duas situações acima mencionadas o juiz continua podendo entregar a posse ao proprietário.

OBSERVAÇÃO AO ART. 92331 DO CPC:29 SÚMULA Nº 487: SERÁ DEFERIDA A POSSE A QUEM, EVIDENTEMENTE, TIVER O DOMÍNIO, SE COM BASE NESTE FOR ELA DISPUTADA.30 Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado.(...)§ 2o Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.31 Na pendência do processo possessório, é defeso, assim ao autor como ao réu, intentar a ação de reconhecimento do domínio.

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A primeira vista, referido dispositivo dá a entender que no curso

de uma ação possessória não se pode ingressar com ação dominial em paralelo, visando reconhecer o direito de propriedade. Referido entendimento, no entanto, viola preceito constitucional que garante a todos o direito de ação. Diante disso, o melhor entendimento para o dispositivo acima é aquele que sustenta que o art. 923 do CPC só é aplicável quando a posse estiver sendo disputada na ação possessória com base no domínio, isto é, naqueles casos em que se admite a exceptio proprietatis.

Das Ações Dominiais:Referidas ações instauram o denominado juízo petitório, em

que se discute propriedade, sendo certo que quem vencerá referida ação é aquele que provar que tem a propriedade.

Embora sejam ações dominiais ou petitórias elas também se prestam à defesa da posse e são as seguintes:

a) ação de imissão de posse;b) ação reivindicatória;c) ação publiciana;d) ação negatóriae) ação declaratória, positiva ou negativa;

a) Da Ação de Imissão de Posse:É aquela proposta pelo proprietário que nunca teve posse.O pedido é de aquisição da posse, que ele nunca teve.Com a inicial é preciso juntar a matrícula do imóvel para provar

que é proprietário. Não adianta juntar mero compromisso de compra e venda, pois é insuficiente.

O rito será o ordinário ou o sumário, dependendo do valor da causa, mas não há rito especial.

b) Ação Reivindicatória:É aquela proposta pelo proprietário que já teve posse, mas a

perdeu.O pedido aqui é de recuperação da posse.

Ação De Reintegração De Posse Recuperação da posseAção Reivindicatória Recuperação da posse

É o mesmo pedido da ação de reintegração de posse. O que muda é a causa de pedir, pois na reivindicatória discute-se propriedade.

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O rito é o ordinário ou o sumário, dependendo do valor da

causa.Observação: Se o autor-proprietário que nunca teve posse, ao

invés de ingressar com ação de imissão de posse, erra e propõe ação reivindicatória, o que você, como juiz, faria?

Duas são as posições.1) Extinguiria o processo sem julgamento de mérito, pois o

autor propôs a ação errada. Essa posição é criticada em razão do seu formalismo excessivo.

2) O juiz deve receber a reivindicatória como imissão da posse fosse e prosseguir com o processo. Esse entendimento sustenta que a reivindicatória é gênero e abrange, portanto, a imissão de posse (posição prevalecente).

c) Ação Publiciana:É aquela movida pelo proprietário que, após completar o prazo

da usucapião, acabou perdendo a posse.Aludida ação visa à recuperação da posse, sendo movida pelo

proprietário que não dispõe de título dominial.Trata-se de uma ação rara na prática, pois se prefere o

ajuizamento da reintegração de posse. No entanto, a ação publiciana será útil quando o sujeito perdeu a posse a mais de ano e dia, pois nesse caso ele pedirá a posse, mas discutindo a propriedade que ele tem.

d) Ação Negatória:É aquela movida pelo proprietário que sofrer atos de turbação

da posse. Visa, portanto, a cessação da turbação da posse. Portanto, é o mesmo pedido da ação de manutenção de posse, o que muda é a causa de pedir, pois na negatória discute-se propriedade.

AÇÃO OBJETO CAUSA DE PEDIRAção Negatória Cessação da

turbação da posse.Fundada no direito de propriedade.

Ação de Manutenção de Posse

Cessação da turbação da posse.

Não se discute propriedade.

e) Ação Declaratória:Pode ser positiva ou negativa.Tem por finalidade obter uma sentença que torne incontroverso

o direito de propriedade.É cabível, portanto, quando houver dúvida sobre a

autenticidade do título de propriedade.

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Observação: Existem ações que não são nem possessórias

nem petitórias, mas que também se prestam à defesa da posse e são conferidas tanto ao proprietário como ao possuidor e são as seguintes:

1) Embargos de Terceiro;2) Nunciação de Obra Nova; e,3) Ação de Dano Infecto.

Percepção dos Frutos:Frutos são as produções normais e periódicas da coisa, sem

que haja destruição da mesma. Ou seja, os frutos se reproduzem periodicamente e quando destacados do principal não acarretam na destruição deste (diferentemente dos produtos, que não são periódicos e acarretam a destruição do principal – Ex: extração de minérios).

Não se confundem com os produtos, pois estes quando extraídos do principal acarretam na destruição deste, ainda que de forma paulatina e, ademais, não se reproduzem periodicamente.

O possuidor de boa-fé tem direito aos frutos colhidos tempestivamente durante a boa-fé. Quanto aos frutos civis, reputam-se colhidos dia-a-dia, não precisam ser sacados. O possuidor de boa-fé a eles terá direito até o dia em que esteve de boa-fé. Quanto aos demais frutos, esse possuidor somente terá direito se os colheu efetivamente durante a boa-fé.

Quanto aos frutos colhidos pelo possuidor de boa-fé antecipadamente ele terá que devolver ou indenizar, ainda que de boa-fé.

O possuidor de má-fé tem que devolver ou indenizar todos os frutos colhidos ou que se perderam por sua culpa. Ele não tem direito a fruto nenhum, mas tem sim o direito de ser indenizado pelas despesas de produção e custeio dos frutos, com vistas a evitar o enriquecimento ilícito da outra parte.

Tanto o possuidor de boa-fé quanto o de má-fé tem que devolver ou indenizar os produtos colhidos.

Indenização pelas Benfeitorias:De acordo com o profº Clóvis Beviláqua, benfeitorias são obras

ou despesas efetuadas numa coisa (pré-existente) com a finalidade de conservá-la (benfeitoria necessária), melhorá-la (benfeitoria útil) ou simplesmente embelezá-la (benfeitoria voluptuária) (diferente da acessão industrial, que também decorre do trabalho do homem).

O possuidor de boa-fé tem direito de ser indenizado pelas benfeitorias necessárias e úteis. Ademais, tem que ser indenizado pelo valor atual delas, e não pelo valor de custo.

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Quanto às benfeitorias voluptuárias, o possuidor de boa-fé não

tem direito à indenização, mas tem o jus tollendi, ou seja, o direito de levantá-las e levá-las consigo, desde que isso seja possível, isto é, desde que não haja dano à coisa principal.

Se o levantamento não for possível, pois haverá dano à coisa principal, o possuidor de boa-fé a perde sem qualquer direito de indenização. Se o levantamento for possível, mas o proprietário quer ficar com a benfeitoria, ele fica, mas deverá indenizar o possuidor de boa-fé.

Quanto ao possuidor de má-fé, somente tem direito à indenização pelas benfeitorias necessárias, mas cabe ao proprietário optar se indeniza pelo valor atual ou se pelo valor de custo (art. 1.22232 do CC). Quanto às úteis e as voluptuárias, ele as perde sem qualquer indenização.

De acordo com o art. 1.22133 do CC, o proprietário pode compensar o valor das benfeitorias com os danos causados no imóvel pelo possuidor (seja este de boa ou má-fé).

Do Direito de Retenção pelas Benfeitorias:É a faculdade concedida ao possuidor de boa-fé de manter-se

na posse do bem até ser indenizado pelas benfeitorias necessárias e úteis. Não há direito de retenção com relação às benfeitorias voluptuárias.

O possuidor de má-fé tem direito de ser indenizado pelas benfeitorias necessárias, mas não lhe assiste o direito de retê-las até ser indenizado pelas mesmas.

O direito de retenção para a posição dominante é um direito de caráter real, pois pode ser exercido contra qualquer pessoa que pretenda recuperar o bem. Se tivesse natureza de direito pessoal seria relativo e, portanto, somente poderia ser invocado perante a pessoa que transmitiu a posse.

O direito de retenção deve ser argüido na contestação da ação que visa a retomada do bem, podendo ser uma ação possessória, uma ação petitória ou uma ação de despejo.

Apesar da omissão do Código, por lógica, entende-se que também é cabível o direito de retenção quanto às acessões industriais.

Da Responsabilidade pela Perda ou Deterioração da Coisa:

32 Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual.33 Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem.

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O possuidor de boa-fé é obrigado a indenizar se teve culpa.

Portanto, ele não precisa indenizar as perdas e os danos decorrentes de caso fortuito ou de força maior.

Já o possuidor de má-fé tem responsabilidade objetiva, pois ele tem que indenizar os danos oriundos de caso fortuito e força maior, salvo se conseguir provar que a perda ou então o dano ocorreria do mesmo jeito, ainda que a coisa estivesse em poder do proprietário.

Usucapião:A usucapião é o modo originário de aquisição da propriedade e

também de certos direitos reais (servidão, usufruto, uso, habitação, superfície, etc.), pela posse prolongada da coisa no tempo.

É modo originário de aquisição pois se adquire a propriedade pelo decurso do tempo, independentemente de qualquer relação jurídica com o proprietário anterior [diferente do modo de aquisição derivado, que exige uma relação jurídica anterior – Ex: compra e venda].

O fato de ser a usucapião modo originário de aquisição da propriedade trás as seguintes conseqüências:

a) não haverá incidência do Imposto de Transmissão Inter Vivos quando se registra a sentença de usucapião;

b) os direitos reais que oneravam o bem, como, por exemplo, a hipoteca, são extintos;

Observações:1) Entendimento minoritário susta que os direitos reais que

incidem sobre o bem, como, por exemplo, a hipoteca, não são extintos, pois como são registrados no Cartório de Registro de Imóveis, logo, o usucapiente deles tem conhecimento.

2) No concurso para Procuradoria analisar a possibilidade de sustentar que a usucapião é modo derivado de aquisição da propriedade, pois neste caso haverá a incidência de Imposto e o que a Fazenda quer é justamente a cobrança do Imposto Inter Vivos.

A usucapião é uma das espécies de prescrição, ou seja, é prescrição aquisitiva e, portanto, nós vamos aplicar à usucapião as causas de impedimento, suspensão e interrupção da prescrição. Ex.: a prescrição não corre contra o absolutamente incapaz. Logo, não é possível bens do mesmo.

Observação: Entre os companheiros, durante a união estável, também não corre a prescrição e, portanto, um não pode usucapir o bem do outro, por analogia ao art. 197, I34, do CC, o qual, segundo o 34 Art. 197. Não corre a prescrição:I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;

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profº Serpa Lopes, não é taxativo, admitindo o uso da analogia por razões de equidade, pois “contra o incapaz de agir não corre a prescrição”. Ex: como nos casos de guerra, caso fortuito e força maior. Ademais, entendimento diverso violaria princípio constitucional que protege a entidade familiar.

Em regra, todos os bens podem ser objeto de usucapião, salvo os bens públicos.

As terras devolutas são bens públicos e, portanto, não podem ser usucapidas.

Bens Gravados com as Cláusulas de Inalienabilidade e Impenhorabilidade:

Bens Gravados com as Cláusulas de Inalienabilidade e Impenhorabilidade:

O bem gravado com cláusula de inalienabilidade pode ser usucapido?

Duas são as posições:1)não, pois a inalienabilidade acarreta na imprescitibilidade do

bem;2)pode sim, pois de acordo com o STJ a inalienabilidade não é

uma característica da coisa, mas sim uma proibição ditada ao proprietário.

Observação: como a usucapião é modo originário de aquisição da propriedade, a questão de ser ou não alienável o bem é irrelevante.

A usucapião em todas as suas espécies, exige os seguintes requisitos:

1)Posse justa, que é aquela que não é violenta, nem clandestina nem precária;

2)Posse “ad uso capionem”, é aquela capaz de gerar a usucapião, devendo ser justa e devendo ser exercida com ânimo de dono, além, de preencher os demais requisitos da usucapião.

3)O tempo de posse, que varia conforme a espécie de usucapião.

4) Posse contínua, a continuidade é fática. Portanto, se o sujeito perdeu a sua posse, mas a recuperou dentro do prazo de ano e dia, ele pode somar ao seu tempo o tempo de posse do usurpador. Em contrapartida, se ele demorou mais de ano e dia para recuperar a sua posse, operou-se a descontinuidade e neste caso ele perde todo o tempo anterior, devendo começar a contar tudo de novo.

5) Posse Ininterrupta: aqui a interrupção é civil e não fática. Como se interrompe a usucapião?

Pela mesma forma que se interrompe a prescrição, ou seja, basicamente pela citação e pela notificação judicial.

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Posse mansa e pacífica, que significa a ausência de litígio

judicial com o proprietário do bem durante todo o tempo da usucapião. O litígio judicial com terceiro, não impede a usucapião, até porque entendimento diverso premiaria a inércia do proprietário.

Da Sentença de UsucapiãoPrevalece o entendimento que referida sentença é meramente

declaratória, pois não é sentença que transmite a propriedade mas sim o decurso do tempo.

Tanto isso é real, que o CC traz como meios de aquisição da propriedade o registro, a usucapião, e o direito sucessório. Portanto, menciona expressamente a usucapião como forma de aquisição da propriedade separando-a do registro. O registro da sentença de usucapião, tem por finalidade preservar o princípio da continuidade dos registros públicos e ainda para dar publicidade.

São consequências de ser a sentença de usucapião meramente declaratória:

1)Não haverá incidência do imposto de transmissão intervivos quando se registra a sentença de usucapião.

2)A usucapião pode ser alegada em matéria de defesa, antes mesmo, de se ajuizar ação de usucapião (Súmula 23735 do STF)

3)Se após completar o prazo da usucapião a pessoa vier a perder a posse, ela pode sim, requerer a usucapião, pois já adquiriu a propriedade.

O proprietário ingressa com uma ação reivindicatória do bem. O réu pode se defender alegando a usucapião na contestação. E se o réu alegar a usucapião após a contestação, é possível?

Dois são os entendimentos:1)não, pois houve preclusão, restaurando-se o direito do

proprietário.2)pode ser alegada a qualquer tempo pois é matéria de ordem

pública, aplicando-se por analogia as regaras da prescrição. Somente não poderá ser alegada em Recurso Especial e Recurso Extraordinário se a matéria não foi pré questionada.

Das Espécies de Usucapião Usucapião extraordinária (artigo 1.23836do CC): exige posse

justa durante 15 anos se o bem for imóvel e 5 em se tratando de bem móvel. De acordo com o parágrafo único desse dispositivo o prazo da

35 SÚMULA Nº 237: O USUCAPIÃO PODE SER ARGÜÍDO EM DEFESA.36 Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.

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usucapião de imóvel, reduz para 10 anos se o usucapiente nele estabelecer a sua moradia habitual ou então se nele realizar obras ou serviços produtivos.

2)Usucapião ordinária (artigo 1.24237 do CC): exige justo título e boa-fé e em se tratando de bem imóvel o prazo é de 10 anos, pouco importa se entre ausentes ou presentes; se móvel, o prazo é de 3 anos.

Conforme parágrafo único desse dispositivo, se o título chegou a ser registrado no cartório do registro de imóveis e depois esse registro foi cancelado, o prazo da usucapião passa a ser de 5 anos, desde que além da alienação ter sido onerosa, o usucapiente estabeleça no imóvel a sua moradia ou então nele realize investimentos de interesse social e econômico.

3)Usucapião urbana ou para moradia (artigo 18338 da CF, artigo 9º39 do Estatuto da Cidade e artigo 1.24040 do CC): não há qualquer conflito entre esses dispositivos, pois todos eles referem-se ao mesmo instituto. Porém o artigo 9º do Estatuto da Cidade é mais amplo, pois menciona além de área urbana, edificação urbana. Ocorre para imóvel urbano de ate 250 m2. O prazo é de 5 anos e não exige justo título nem boa-fé. Só pode ser requerido por quem não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. A pessoa só pode ser beneficiada uma única vez com esta espécie e deve fazer do imóvel a sua moradia ou de sua família.

Na usucapião urbana é possível a soma das posses?

37 Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.38 Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.§ 1º - O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.§ 2º - Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.§ 3º - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.39 Art. 9o Aquele que possuir como sua área ou edificação urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.§ 1o O título de domínio será conferido ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.§ 2o O direito de que trata este artigo não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.§ 3o Para os efeitos deste artigo, o herdeiro legítimo continua, de pleno direito, a posse de seu antecessor, desde que já resida no imóvel por ocasião da abertura da sucessão.40 Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1o O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. § 2o (VETADO).

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Em regra não, pois a moradia é requisito de caráter pessoal.

Porém, pelo Estatuto da Cidade pode, no caso de herdeiro legítimo que continua com a posse do morto. Esse herdeiro, no entanto, somente poderá somar o tempo de posse, se ao tempo da abertura da sucessão já morava com o morto, § 3º41do artigo 9º. (A questão é polêmica pois há entendimentos no sentido de que pode sendo herdeiro, legítimo ou testamentário, morando ou não com o morto quando da abertura da sucessão com força do artigo 1.20642 do CC). O artigo 1443 do Estatuto prevê para esta espécie o rito sumário. O artigo 1344 admite que a usucapião urbana, seja alegada em defesa, valendo inclusive a sentença que a reconhecer como título para registro no cartório de registro de imóveis.

O artigo 1145 do Estatuto diz que na pendência de ação de usucapião urbana, ficam suspensas as ações petitórias e as possessórias referentes ao imóvel.

Observação: a Lei 12.241/201146 incluiu no sistema a usucapião especial urbana, por abandono do lar que encontra-se prevista no artigo 1.240-A47 do CC.

Observação: a Lei 12.241/201148 incluiu no sistema a usucapião especial urbana por abandono do lar, que encontra-se prevista no artigo 1.240-A49 do CC.41 Vide nota de rodapé 5.42 Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres.43 Art. 14. Na ação judicial de usucapião especial de imóvel urbano, o rito processual a ser observado é o sumário.44 Art. 13. A usucapião especial de imóvel urbano poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo a sentença que a reconhecer como título para registro no cartório de registro de imóveis.45 Art. 11. Na pendência da ação de usucapião especial urbana, ficarão sobrestadas quaisquer outras ações, petitórias ou possessórias, que venham a ser propostas relativamente ao imóvel usucapiendo.46 Lei nº 12.424, de 16 de junho de 2011 , Altera a Lei no 11.977, de 7 de julho de 2009, que dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas, as Leis n os

10.188, de 12 de fevereiro de 2001, 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 4.591, de 16 de dezembro de 1964, 8.212, de 24 de julho de 1991, e 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil; revoga dispositivos da Medida Provisória no 2.197-43, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/Lei/L12424.htm47 Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1o O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. § 2o (VETADO).

48 Lei nº 12.424, de 16 de junho de 2011 , Altera a Lei no 11.977, de 7 de julho de 2009, que dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV e a regularização fundiária de assentamentos localizados em áreas urbanas, as Leis n os

10.188, de 12 de fevereiro de 2001, 6.015, de 31 de dezembro de 1973, 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 4.591, de 16 de dezembro de 1964, 8.212, de 24 de julho de 1991, e 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil; revoga dispositivos da Medida Provisória no 2.197-43, de 24 de agosto de 2001; e dá outras providências.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/Lei/L12424.htm49 Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1o O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.

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Usucapião Urbana por Abandono do Lar Considerações:1)É o menor tempo previsto para todas as espécies de

usucapião;2)Deve haver o abandono do lar, somado ao estabelecimento

da moradia com posse direta e, pode atingir cônjuges ou companheiros, inclusive homoafetivos.

Em havendo disputa, judicial ou extrajudicial relativa ao imóvel, não ficará caracterizada a posse “ad usucapionem”.

Portanto, o requisito “abandono do lar” deve ser interpretado de forma cautelosa e em conjunto com a quebra de outros deveres conjugais, por exemplo, o dever de sustento e assistência material, fato que onera de maneira desigual aquele que se manteve no imóvel, e, que, sozinho se responsabiliza pela manutenção da família e do próprio imóvel, o que justifica a perda da propriedade e a alteração do regime de bens quanto ao imóvel objeto da usucapião, conforme enunciado 499 da 5ª Jornada de Direito Civil.

3) No que diz respeito a questão intertemporal, tem prevalecido o entendimento de que o prazo para o exercício desse novo direito deve ser contado por inteiro, a partir do início da alteração legislativa.

4)De acordo com o Enunciado 501 da 5ª Jornada não é requisito indispensável para a nova espécie, o divórcio ou a dissolução da união estável, bastando a mera separação de fato. Ex-cônjuge e ex-companheiro correspondem apenas à situação fática da separação.

5)Não há necessidade de que o ex-cônjuge ou ex-companheiro tenha a posse direta do imóvel, podendo o bem estar locado para terceiro. Portanto, não impede a usucapião o fato de eles terem apenas a posse indireta do bem.

Usucapião Rural, Especial ou Pró-labore artigo 191 50 da CF e 1.239 51 do CC): é aquela prevista para imóvel rural de até 5 hectares. O

§ 2o (VETADO).

50 Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.51 Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.

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prazo é de cinco anos e não exige justo título. O usucapiente não pode ser proprietário, de outro imóvel urbano ou rural, mas já pode ter sido beneficiado com esta espécie anteriormnete. Ele deve morar no imóvel durante os 5 anos e, sendo esse requisito de caráter pessoal, não se admite a soma das posses,(mas, lembrar dos artigos 1.20652 e 1.20753, primeira parte do CC).

Tem por objetivo fixar o homem no campo, mas a terra tem que cumprir com a sua função social.

A Lei 6.969/8154 permite que esta espécie seja alegada em matéria de defesa, valendo a sentença que a reconhecer como título no cartório no registro de imóveis. O rito é o sumário.

Usucapião de Aeronaves (artigo 116, III 55 da Lei 7.565/85) . Exige justo título, boa-fé e 5 anos de posse.

Usucapião Urbana Coletiva (artigo 10 56 do Estatuto da Cidade) . Visa a regularização de áreas de favelas ou de aglomerados residenciais sem condições de legalização do domínio. Não se trata, portanto, de terra bruta, mas sim de terra ocupada por pessoas que vivem em barracos ou habitações precárias construídas com material frágil e até mesmo com cobertura improvisada (Profº Carlos Roberto Gonçalves).

Referida espécie veio para atender a população de baixa renda.

Porém, o que se entende por população de baixa renda?

52 Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres.53 Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.54 Lei no 6.969, de 10 de dezembro de 1981:Dispõe Sobre a Aquisição, Por Usucapião Especial, de Imóveis Rurais, Altera a Redação do § 2º do art. 589 do Código Civil e dá outras providências.http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6969.htm55 Art. 116. Considera-se proprietário da aeronave a pessoa natural ou jurídica que a tiver:(...)III - adquirido por usucapião, por possuí-la como sua, baseada em justo título e boa-fé, sem interrupção nem oposição durante 5 (cinco) anos;56 Art. 10. As áreas urbanas com mais de duzentos e cinqüenta metros quadrados, ocupadas por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.§ 1o O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas.§ 2o A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz, mediante sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro de imóveis.§ 3o Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais diferenciadas.§ 4o O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio.§ 5o As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão tomadas por maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também os demais, discordantes ou ausentes.

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O assunto é polêmico, e a doutrina tem entendido que deve o

juiz decidir de acordo com a situação concreta.Requisitos necessários para usucapião urbana coletiva: 1)área urbana com mais de 250m2.2)5 anos de posse.3)que o local se utilizado efetivamente para moradia.2) impossibilidade de delimitar a área de cada possuidor no

cartório do registro de imóveis (haverá uma só matrícula para toda a área) e

3)o usucapiente não pode ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

O artigo 10 do Estatuto da Cidade admite a soma das posses, contanto que sejam contínuas. Para a propositura da ação, são partes legítima, de acordo com o artigo 1257 do Estatuto:

1) cada possuidor, isolodamente ou em litisconsórcio;2) os compossuidores, quando houver composse;3) associação de moradores constituída para esse fim.Na sentença, o juiz atribui uma fração igual do terreno para

cada possuidor, caso não haja acordo entre eles. Ademais a sentença, constitui um condomínio indivisível, isto é, que não poderá ser extinto, salvo deliberação de 2/3 dos condôminos, no caso de reurbanização posterior (ver artigo 10 e parágrafos58 do Estatuto da Cidade).

PROCEDIMENTO DA USUCAPIÃO (ARTIGOS 941 A 94559 DO CPC)

O rito é o ordinário, ou, o sumário, conforme o valor da causa, seja o bem móvel ou imóvel. Em se tratando de usucapião especial, urbana ou rural, o rito é o sumário.

57 Art. 12. São partes legítimas para a propositura da ação de usucapião especial urbana:I – o possuidor, isoladamente ou em litisconsórcio originário ou superveniente;II – os possuidores, em estado de composse;III – como substituto processual, a associação de moradores da comunidade, regularmente constituída, com personalidade jurídica, desde que explicitamente autorizada pelos representados.§ 1o Na ação de usucapião especial urbana é obrigatória a intervenção do Ministério Público.§ 2o O autor terá os benefícios da justiça e da assistência judiciária gratuita, inclusive perante o cartório de registro de imóveis.58 Ver nota de rodapé 9.59 Art. 941. Compete a ação de usucapião ao possuidor para que se Ihe declare, nos termos da lei, o domínio do imóvel ou a servidão predial.Art. 942. O autor, expondo na petição inicial o fundamento do pedido e juntando planta do imóvel, requererá a citação daquele em cujo nome estiver registrado o imóvel usucapiendo, bem como dos confinantes e, por edital, dos réus em lugar incerto e dos eventuais interessados, observado quanto ao prazo o disposto no inciso IV do art. 232. Art. 943. Serão intimados por via postal, para que manifestem interesse na causa, os representantes da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios. Art. 944. Intervirá obrigatoriamente em todos os atos do processo o Ministério Público.Art. 945. A sentença, que julgar procedente a ação, será transcrita, mediante mandado, no registro de imóveis, satisfeitas as obrigações fiscais.

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O foro competente é o do local da situação do imóvel, na Vara

de Registro Público onde houver, ou então na vara cível.Se a União intervém no processo demonstrando interesse no

imóvel, a competência é da justiça federal ainda que o Estado ou o Município também intervenham.

Se o Estado ou o Município ingressam no processo, dizendo que o bem é público, a competência é da Vara da Fazenda Pública.

A petição inicial deve ser instruída, com a planta do imóvel, pois não podem ser usucapidos os bens que não estejam perfeitamente individualizados (tem que ser a planta do imóvel, não serve o croqui).

São réus na ação de usucapião: 1) o proprietário do imóvel;2) o confinante ou vizinho ou confrontante e3) eventuais interessados, incertos e não sabidos.Todos eles deverão ser citados, sendo que os últimos o serão

por edital. Há portanto, um litisconsórcio passivo necessário. O juiz nomeia um curador especial (advogado dativo) para os réus citados por edital.

Serão notificados para participarem do processo:1) o MP que atua como fiscal da lei;2) as fazendas pública (Municipal, Estadual e Federal).

Fim

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