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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS E ATUARIAIS Caroline dos Santos Alves Mensuração e evidenciação de ativos intangíveis nas demonstrações contábeis: um estudo de caso em um clube de futebol Trabalho de Conclusão de Curso em cumprimento às exigências do Curso de Ciências Contábeis e Atuariais para a obtenção do diploma de graduação. Orientadora: Simone Letícia Raimundini Co-orientador: Ariel Behr PORTO ALEGRE 2010

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

    FACULDADE DE CINCIAS ECONMICAS

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS CONTBEIS E ATUARIAIS

    Caroline dos Santos Alves

    Mensurao e evidenciao de ativos intangveis nas demonstraes contbeis: um

    estudo de caso em um clube de futebol

    Trabalho de Concluso de Curso em

    cumprimento s exigncias do Curso de Cincias

    Contbeis e Atuariais para a obteno do diploma

    de graduao.

    Orientadora: Simone Letcia Raimundini

    Co-orientador: Ariel Behr

    PORTO ALEGRE

    2010

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    Mensurao e evidenciao de ativos intangveis nas demonstraes contbeis: um

    estudo de caso em um clube de futebol

    RESUMO

    O presente artigo trata de ativos intangveis, o crescimento da sua importncia no

    cenrio atual e o seu reconhecimento nas demonstraes contbeis das entidades, na busca por

    uma maior transparncia nas informaes. Para isso, buscamos mostrar o que a legislao

    vigente e o Comit de Pronunciamentos Contbeis definem como ativos intangveis, e o

    critrio para reconhecimento e mensurao. Trazemos um exemplo de uma entidade

    desportiva, entidade que tem o seu valor formado por atletas, recurso humano - intangvel.

    Com esse exemplo, vamos mostrar como a entidade vem evidenciando seu ativo intangvel

    nas demonstraes contbeis e se elas esto de fato de acordo com as normas vigentes.

    Palavras-Chave: Ativos intangveis, reconhecimento, recurso humano, atletas.

    1. INTRODUO

    Os ativos intangveis acentuam seu importante papel no atual cenrio econmico, onde

    os mercados so globalizados e a competio entre as empresas se d em nvel internacional.

    Neste ambiente, condio ao crescimento das empresas a busca por novos benefcios para

    seus clientes e colaboradores. Coelho e Lins (2010, p. 66) afirmam a competitividade

    acirrada faz com que haja uma busca pela primazia de ser o melhor, ou o primeiro a oferecer

    determinado benefcio. No entanto, muitos desses benefcios no esto visveis, pois so

    imateriais, e muitas vezes esto implcitos nos produtos e servios gerados pela atividade

    empresarial. Esse benefcio o recurso intangvel, e devido a sua subjetividade, muitas vezes

    no quantificado.

    Hatfield (apud Schmidt et al., 2006) antecipou a ideia do declnio do valor dos servios

    dos ativos fixos ao longo do tempo e, por isso, foi um dos pioneiros a desenvolver uma

    frmula para quantificar ativos intangveis. Corroborando com esta idia da perda de valor

    dos ativos tangveis, Coelho e Lins (2010) tambm afirmam que antes era possvel olhar um

    ativo tangvel e entender sua composio e funcionamento, porm hoje isso j no mais

    possvel, pois os equipamentos esto carregados de contedo intangvel, que representa

    grande parte do valor de um produto ou servio. Sendo assim, a relevncia que os ativos

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    intangveis tm adquirido torna sua avaliao cada vez mais importante para que se conhea o

    verdadeiro valor de uma empresa.

    So objetos claros deste tipo de dificuldade os clubes de futebol, que so entidades que

    movimentam um grande volume de receitas, as quais so provenientes da negociao de

    jogadores, recurso intangvel, e que compem seu patrimnio. Segundo Silva et al. (2009), no

    ano de 2007, o futebol brasileiro atingiu o montante de R$ 1,34 bilho em receitas,

    apresentando um aumento de 36,33% em relao a 2006. Esses valores tendem a aumentar

    ainda mais, tendo em vista o elevado valor que muitos atletas (recurso intangvel) esto sendo

    negociados. Bastos et al. (2005) dizem que o futebol deixou de ser apenas uma atividade de

    mero entretenimento para uma atividade com finalidades econmicas, e dessa forma, de

    grande importncia que essas empresas tenham em suas demonstraes contbeis as

    informaes necessrias para auxiliar os processos de tomada de deciso.

    Neste contexto, observa-se a importncia do reconhecimento dos ativos intangveis nas

    demonstraes contbeis das empresas, tanto que este reconhecimento foi alvo das alteraes

    propostas pela Lei 11.638/07, ao reconhecer o grupo Intangvel, mostrando a evoluo no

    conceito, que converge no sentido de harmonizar as prticas brasileiras s demonstraes

    contbeis internacionais, propiciando uma melhor comparao e avaliao das empresas.

    Contudo, a Lei restringe a utilizao deste grupo contbil, devido dificuldade de

    quantificao de diversos intangveis, uma vez que muitos deles possuem aspectos subjetivos,

    prejudiciais mensurao de forma precisa e confivel.

    Ciente dessas dificuldades na mensurao dos ativos intangveis, de seu impacto nas

    demonstraes contbeis de empresas que tm a sua principal atividade dependendo desses

    ativos e, considerando os mtodos utilizados para reconhecer os ativos intangveis; este

    trabalho procura responder seguinte questo de pesquisa: Como reconhecer e evidenciar os

    ativos intangveis em um time de futebol profissional brasileiro?

    Para tanto, o presente trabalho tem como objetivo geral identificar as prticas de

    reconhecimento e evidenciao de ativos intangveis em um time de futebol brasileiro. Para

    atingir este objetivo geral, atentaremos aos seguintes objetivos especficos: apresentar os

    ativos intangveis e sua importncia no contexto atual; abordar tcnicas de reconhecimento de

    ativos intangveis; comparar os resultados encontrados com os Procedimentos Contbeis

    vigentes, quanto ao reconhecimento, mensurao e evidenciao de ativos intangveis

    passveis de contabilizao; e evidenciar qual o impacto nas demonstraes contbeis da

    avaliao de ativos intangveis.

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    Segundo Antunes et al. (2007) muitas das informaes retiradas das demonstraes

    contbeis, elaboradas de acordo com a regulamentao em vigor, no contemplam diversos

    ativos intangveis, ou somente os contemplam quando da aquisio deles por terceiros, na

    forma do goodwill adquirido. Nesse contexto, h a necessidade que a contabilidade encontre

    formas especficas de reconhecer, avaliar e mensurar os ativos intangveis por ela controlados.

    Pois, para Antunes e Martins (2002) os recursos intangveis fazem parte do mundo

    empresarial e o seu gerenciamento indispensvel para a continuidade das empresas. Hoss et

    al. (2010, p. 1) concordam com esse pensamento dizendo os ativos intangveis so a fonte de

    vantagens sustentveis. A agregao de valor pode e deve ser medida propiciando condies

    de negociao com financiadores, alm de atrair recursos de investidores. Portanto, esse

    trabalho justifica-se, pois de suma importncia que a contabilidade demonstre as

    informaes sobre os ativos intangveis, para uma melhor gesto da entidade. Sendo assim,

    visamos apresentar a forma que um clube de futebol profissional evidencia seus ativos

    intangveis e a qualidade de tal informao nas demonstraes contbeis. Para tanto,

    dividimos este trabalho em cinco sees, sendo nesta primeira introduzido o tema, na segunda

    revisto o referencial terico, na terceira descrito o mtodo de pesquisa, na quarta apresentados

    e discutidos os resultados encontrados, e por fim, na ltima seo, realizadas as consideraes

    finais da pesquisa.

    2. REVISO DE LITERATURA

    Nesta seo sero apresentadas as principais referncias que guiam esta pesquisa, bem

    como o entendimento da autora deste trabalho acerca da legislao pertinente.

    2.1. DEFINIO DE ATIVOS INTANGVEIS

    Na tentativa de buscar o real valor das empresas, os ativos intangveis tm conseguido

    maior destaque no mundo dos negcios. Porm achar uma definio de ativo intangvel uma

    tarefa complexa, principalmente, segundo Schmidt et al. (2010, p. 2) devido s incertezas a

    respeito da mensurao de seus valores e de sua vida til.

    Para Hoss et al. (2010) ativos intangveis so bens que no podem ser tocados porque

    no tem corpo. Apesar de no possurem corpo, Hendriksen e Van Breda (1999) dizem que

    para reconhecer um ativo intangvel, ele deve primeiramente se enquadrar segundo as

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    definies de ativo tangvel, as quais, segundo Hill (apud Santos et al., 2007) so: ser objeto

    sobre o qual os direitos de propriedade podem ser estabelecidos e dos quais derivam

    benefcios aos seus proprietrios.

    Para Schmidt et al. (2009), uma das caractersticas dos ativos intangveis no possuir

    dimenses fsicas no espao, ou seja, no so palpveis; porm, h vrios ativos que carecem

    de substncia fsica e que no so considerados como se intangveis fossem, como, por

    exemplo, as despesas antecipadas, considerada como recurso tangvel. Por fim, Santos et al.

    (2007) definem ativo intangvel como sendo os recursos incorpreos que so controlados pela

    empresa e que so capazes de produzir benefcios futuros. Apesar da definio, os ativos

    intangveis so de difcil de identificao, pois muitas vezes no so gerados por si prprios,

    mas em conjunto com outros ativos que tambm contribuem para a criao de valor dentro da

    empresa, tornando sua mensurao mais difcil.

    Segundo Hall (apud Santos et al., 2006) os ativos intangveis apresentam uma relao

    detalhada das possveis fontes de gerao de recursos intangveis, em sua maioria ativos,

    afirmando que os recursos intangveis provm de direitos de propriedade intelectual,

    contratos, segredos de comercializao, recursos objetivos de know-how, redes, cultura

    organizacional, reputao e produto da companhia. Dessa forma, os ativos intangveis

    podem ser criados a partir dessas fontes, bem como atravs de sua combinao.

    A competitividade est cada vez mais acirrada no ambiente globalizado. A busca de

    mercados faz com que as empresas precisem estar em constante processo de desenvolvimento

    na busca de inovaes, a fim de se tornarem os primeiros a oferecer determinado produto ou

    servio para seus clientes.

    2.2. EVIDENCIAO DOS ATIVOS

    A fim de se diferenciarem de seus concorrentes e se destacarem no mercado

    competitivo, surge o ativo intangvel, um ativo singular, responsvel por oferecer determinado

    benefcio para quem o possui, tornando-se um diferencial que garante certo status para a

    organizao (COELHO E LINS, 2010). Segundo Perez e Fam (2006) as empresas buscam

    novas formas de gerao de valor, procurando a melhor interao entre ativos tangveis e

    intangveis. Coelho e Lins (2010) corroboram com a idia de relevncia e interao entre

    esses ativos, dizendo que antes era possvel identificar uma empresa de grande porte pelo

    nmero de empregados que ela possua, hoje isso no mais possvel, pois o recurso

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    intangvel se torna cada vez mais importante, sendo responsvel pelo aumento do valor em

    muitas organizaes.

    Para Hoss et al. (2010) no ambiente competitivo, os ativos intangveis so a fonte de

    vantagens sustentveis, as quais, haja vista a sua crescente relevncia, so elementos que

    representam o seu desempenho e continuidade. Isso porque o recurso intangvel uma fonte

    de informao estratgica, que deve ser utilizada para a tomada de deciso e para o

    crescimento e evoluo da companhia. Hoss et al. (2010) afirmam que a vantagem sustentvel

    est na agregao de valor, suportada pelo ativo intangvel, e que deve ser medida,

    propiciando condies de negociao com financiadores e tambm atraindo recurso dos

    investidores.

    Dada a sua relevncia para promover um diferencial competitivo e agregar valor para a

    empresa e, assim para seus investidores, Queiroz (apud Antunes et al., 2007) considera que

    existe uma percepo no mercado de que as finanas corporativas sero regidas por novos

    paradigmas e as companhias que evidenciarem seus ativos intangveis sero mais valorizadas.

    Em estudo sobre a divulgao das informaes sobre ativos intangveis, Antunes et al.

    (2007) concluem que

    so escassas as fontes de informao sobre o assunto e que a falta de uma

    regulamentao especfica sobre a sua divulgao, mesmo como informao

    adicional, faz com que analistas tenham que percorrer vrias fontes a fim de obter

    informaes sobre ativos intangveis.

    Apesar do papel importante que os ativos intangveis tm assumido para as empresas no

    seu desenvolvimento e perenidade, a maioria das organizaes no divulga informaes sobre

    tais ativos. Tal escassez de informao ocorre devido complexidade de mensurar um ativo

    intangvel, pois so bens incorpreos e so altamente subjetivos. E devido a falta de um

    mtodo que seja aceito em consenso geral, muitos ativos so no retratados no ativo e so

    omitidos das demonstraes contbeis, o que, segundo Hoss et al. (2010) provoca um lapso na

    fonte de informao empresarial.

    Nesse contexto, surge o questionamento sobre qual a funo das demonstraes

    contbeis. Para Colauto et al. (2009) as demonstraes contbeis materializam a teoria do

    conhecimento comum, onde a informao est disponvel para todos, visando a reduo de

    conflitos, que possam surgir entre os agentes. E sendo os ativos intangveis, muitas vezes,

    responsveis pela agregao de valor para as empresas, a sua divulgao deve ser incentivada,

    a fim de que tanto usurios internos e externos das informaes geradas pela contabilidade

    possam tomar a deciso.

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    Porm, segundo Colauto et al. (2009) o processo de avaliao de ativos intangveis, para

    evidenci-los nas demonstraes contbeis, carece de uma metodologia praticvel pelas

    empresas, pois muitas delas ainda geram dvidas, e no h como indicar qual a correta. Para

    Silveira et al. (2009) h apenas mtodos que apresentam menos desvantagens na aplicao, ou

    ainda aqueles que renem as maiores vantagens. Ainda destacam que como vantagens da

    mensurao h a diminuio da distoro entre o valor de mercado e o valor patrimonial de

    uma empresa; e como desvantagem a distoro de informaes que pode gerar expectativas

    falsas.

    Devido a dificuldade de avaliao, um dos instrumentos utilizados pelas companhias

    para divulgar informaes sobre ativos intangveis o Relatrio de Administrao, que

    segundo Colauto et al. (2009) evidenciam as estratgias adotadas durante o exerccio e

    tambm os negcios sociais e principais fatos administrativos ocorridos, alm de

    investimentos.

    2.3. NORMAS BRASILEIRAS RELATIVAS A ATIVOS INTANGVEIS

    Levando em considerao a importncia assumida pelos ativos intangveis e visando

    maior transparncia nas demonstraes contbeis e harmonizao de acordo com as normas

    internacionais de contabilidade, a Lei 11.638/07 trouxe uma nova redao para a Lei 6404/76

    e inseriu o grupo de Ativos Intangveis nas demonstraes contbeis, onde sero registrados,

    conforme o Art.179, VI: no intangvel: os direitos que tenham por objeto bens incorpreos

    destinados manuteno da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo

    de comrcio adquirido.

    A Lei 11.638/07 tornou o processo de normatizao contbil centralizado no Comit de

    Pronunciamentos Contbeis (CPC), validando a adoo das regras contbeis que este emitir. E

    no CPC 04, baseado na norma internacional IAS 38, que os ativos intangveis so

    abordados. O CPC 04 tem como objetivo

    Definir o tratamento contbil dos ativos intangveis que no so abrangidos

    especificamente em outro Pronunciamento. Este Pronunciamento estabelece que

    uma entidade deve reconhecer um ativo intangvel apenas se determinados critrios

    especificados neste Pronunciamento forem atendidos. O Pronunciamento tambm

    especifica como mensurar o valor contbil dos ativos intangveis, exigindo

    divulgaes especficas sobre esses ativos.

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    O CPC 04, trs como definio para ativo intangvel uma caracterstica a mais alm do

    controle e benefcios futuros citados por Santos et al.(2007), que a identificao: a

    definio de ativo intangvel requer que ele seja identificvel, para diferenci-lo do gio

    derivado da expectativa de rentabilidade futura (goodwill).

    Conforme o CPC 04, o critrio de identificao ser satisfeito quando o ativo intangvel:

    (a) for separvel, ou seja, puder ser separado da entidade e vendido, transferido, licenciado,

    alugado ou trocado, individualmente ou junto com um contrato, ativo ou passivo relacionado,

    independente da inteno de uso pela entidade; ou (b) resultar de direitos contratuais ou

    outros direitos legais, independentemente de tais direitos serem transferveis ou separveis da

    entidade ou de outros direitos e obrigaes.

    Com relao ao controle sobre o ativo intangvel, o CPC 04 explicita que

    a entidade controla um ativo quando detm o poder de obter benefcios econmicos

    futuros gerados pelo recurso subjacente e de restringir o acesso de terceiros a esses

    benefcios. Normalmente, a capacidade da entidade de controlar os benefcios

    econmicos futuros de ativo intangvel advm de direitos legais que possam ser

    exercidos num tribunal.

    E os benefcios econmicos futuros

    gerados por ativo intangvel podem incluir a receita da venda de produtos ou

    servios, reduo de custos ou outros benefcios resultantes do uso do ativo pela

    entidade. Por exemplo, o uso da propriedade intelectual em um processo de

    produo pode reduzir os custos de produo futuros em vez de aumentar as receitas

    futuras.

    No que se refere evidenciao dos ativos intangveis, ainda no h uma forma de

    mensurao nica ou uniforme para a avaliao dos mesmos, h sim diversas abordagens de

    mensurao que renem ou menos benefcios ou mais benefcios. Coulauto et al. (2009)

    dizem que o processo de avaliao de ativos intangveis gera dvidas quanto a praticabilidade

    das metodologias sugeridas pelas bibliografias pertinentes devido a grande subjetividade que

    envolve esses ativos.

    Apesar da relevncia que o recurso intangvel tem assumido, ele no , muitas vezes,

    mensurado nas demonstraes contbeis das empresas por restries legais e contbeis

    (HOSS et al. 2010). Com isso, os relatrios financeiros fornecidos pela contabilidade acabam

    por no retratar a realidade das empresas. Antunes e Martins (2002) dizem que h uma falha

    na contabilidade em lidar com os novos valores da sociedade; por isso, preciso que se

    encontre uma forma de evidenciar ativos to relevantes para as empresas.

    Desde a dcada de 1980, os ativos intangveis despertaram o interesse dos estudiosos

    da contabilidade, e o desenvolvimento de estudos cientficos sobre esse assunto continua e as

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    incertezas com relao mensurao dos ativos intangveis se mantm. Segundo Colauto et

    al. (2009) as especificidades que envolvem os ativos intangveis e seus meios de expresso

    ainda no possuem uma aceitao geral pela comunidade cientfica. Apesar disso, as empresas

    tm buscado formas de evidenciar esses ativos em suas demonstraes, visando tornar as suas

    demonstraes contbeis mais prximas do valor real da empresa de forma transparente e

    confivel.

    As normas surgem para atender s exigncias dos stakeholders por informaes

    transparentes e de qualidade, que possam ser passveis de comparao e sejam eficientes para

    a tomada de deciso. Por isso, a contabilidade, vista como a linguagem dos negcios e

    principal fonte de informaes econmico-financeiras (NIYAMA, 2005), deve atender tais

    exigncias. O CPC 04 visa esclarecer definies sobre ativos intangveis e incentivar sua

    evidenciao nas demonstraes contbeis a fim de fazer com que as demonstraes contbeis

    se aproximem cada vez mais do valor real da empresa.

    2.4. ATIVOS INTANGVEIS E CLUBES DE FUTEBOL

    Clubes de futebol so empresas que movimentam grandes valores, maior parte deles

    provenientes de recursos intangveis, que so os atletas e suas habilidades. Segundo Bastos et

    al. (2005) os atletas so cada vez mais importantes para o patrimnio dos clubes, devido as

    altas cifras envolvidas nas negociaes.

    Antes o futebol era visto como uma forma de entretenimento e sua principal fonte de

    renda era proveniente da venda dos ingressos para as partidas. Porm, atualmente, h outras

    fontes de recursos, tendo em vista que se adquire receitas tambm atravs da venda do direito

    de transmisso das partidas, dos patrocinadores que querem expor suas marcas, e tambm

    querem utilizar a imagem do time e dos jogadores para vender seus produtos, mas a principal

    fonte de receita ainda aquela proveniente das negociaes de jogadores. Segundo Romo e

    Castellar (apud Custdio e Rezende, 2009) as receitas dos clubes, individualmente,

    ultrapassaram a receita total de R$11 milhes em 2007, e que, totalizando os 21 clubes,

    arrecadou R$ 1,34 bilhes de reais, o que para Custdio e Rezende (2009) demonstra o

    motivo pelo qual os clubes brasileiros tm sido alvo de investidores interessados em explorar

    economicamente o futebol brasileiro.

    Nesse contexto, o esporte deixa de ser visto apenas como uma forma de entretenimento

    e se torna uma forma de investimento. E como todo investimento, importante que se tenha

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    relatrios econmicos e financeiros adequados para a tomada de deciso, tanto que Silva et al.

    (2009) afirmam cada vez mais se busca informao sobre a gesto das entidades desportivas,

    sejam elas informaes de responsabilidade social, gesto administrativa ou, principalmente,

    informaes sobre a gesto de recursos financeiros. A importncia de uma gesto

    transparente dos clubes de futebol visa evitar problemas de endividamento excessivo, falta de

    controle financeiro e prticas inadequadas de governana corporativa (Silva et al. 2009).

    Tentando buscar uma padronizao das demonstraes contbeis e maior transparncia

    nas informaes, a Lei 9.615 implementou o conceito de clube empresa, onde, conforme o

    artigo 27 , pargrafo 9, facultado s entidades profissionais constiturem sociedade

    empresria, segundo os tipos regulados nos artigos 1.039 a 1092 da Lei 10.406/02 (Silva et al.

    2009). Ainda assim, a gesto dos clubes feita de forma a se atingir objetivos de curto prazo,

    onde segundo Leoncini (apud Custdio e Rezende, 2009) os dirigente dos clubes brasileiros,

    em sua maioria, agem segundo motivaes pessoais, em prejuzo aos clubes, mostrando que

    questes pessoais podem interferir na gesto do clube e interferir na sua continuidade.

    Anteriormente no havia uma uniformidade nas demonstraes contbeis dos clubes de

    futebol, onde os atletas eram classificados por alguns clubes como ativo realizvel a longo

    prazo e em outros como ativo intangvel (Szuster apud Silva et al. 2009). Dessa forma no

    havia uma padronizao e, conseqentemente, as comparaes entre os diversos clubes

    ficavam comprometidas. Porm, aps denncias de irregularidades sobre sonegao de

    impostos, no pagamento de salrios, corrupo e lavagem de dinheiro, a Lei 10.672, em 15

    de maio de 2003 entra em vigor, destacando princpios a serem observados pelas entidades

    desportivas, entre eles a transparncia financeira e administrativa. Para tanto a lei diz que as

    entidades devem elaborar suas demonstraes financeiras na forma da Lei 6.404/76 e que as

    mesmas devem ser auditadas (SILVA et al., 2009).

    Aps, visando uma maior uniformidade nas demonstraes contbeis aplicadas s

    entidades desportivas, o CFC criou em 2004 a NBC T 10.13, que entrou em vigor em janeiro

    de 2005, e que trata unicamente de normas aplicveis s sociedades desportivas (clubes). A

    norma estabelece critrios e procedimentos especficos de avaliao, de registro e de

    estruturao das demonstraes contbeis das entidades de futebol profissional e demais

    prticas desportivas profissionais. A norma tambm explicita que o direito de explorao da

    atividade profissional de um atleta, por compra, cesso de direitos contratuais ou por

    formao na entidade um ativo intangvel e que no pode ser objeto de reavaliao.

    Em pesquisa realizada por Rezende et al., em 2008 (apud Custdio e Rezende, 2009)

    utilizando 70 demonstraes contbeis de clubes de futebol brasileiros no perodo de 2001 a

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    2007, comprovou que aps a publicao da NBC T 10.13, diminuiu a disparidade de

    tratamentos contbeis adotados principalmente com relao aos gastos com contratao e

    formao de atletas.

    Os atletas se enquadram no conceito de ativo intangvel, onde eles representam o capital

    humano, considerado um dos principais fatores de vantagens competitivas para as empresas, e

    se enquadram no conceito proposto pelo CPC 04, onde o atleta reconhecido como um

    recurso identificvel e controlado, em virtude do contrato que possui junto ao clube em que

    atua, o qual se espera que trar benefcios econmicos futuros devido ao seu bom desempenho

    na equipe, e que contribuam para aumentar os fluxos de caixa futuros do clube e os seus

    rendimentos (CRUZ et al., 2010). Diferentemente do capital humano representado pelos

    funcionrios de uma empresa, por exemplo, o clube de futebol detm o direito legal para reter

    o funcionrio e registr-lo em suas demonstraes contbeis. No caso do funcionrio, como

    citam Rezende et al. (2010) esse pode entregar sua carta de demisso a qualquer momento,

    desligando-se da empresa, por isso no poderia ser registrado contabilmente.

    Dentro desse contexto, o maior questionamento est em relao contabilizao dos

    jogadores formados internamente, e como reconhecer seus custos de formao e identificar

    quais custos podem ser reconhecidos e divulgados no balano patrimonial para determinar o

    real valor do jogador. Para um melhor reconhecimento, Cruz et al. (2010) compara a

    contabilizao do jogador formado internamente com a fase de pesquisa e desenvolvimento,

    onde a fase de pesquisa passaria para a de desenvolvimento a partir da assinatura de um

    contrato de formao ou profissional, reconhecendo o jogador e sua capacidade de obter

    benefcios econmicos futuros e contabilizando seus custos de formao.

    A formao corresponde ao processo que visa desenvolver o potencial, o conhecimento

    e capacidade dos jogadores, porm os gastos com a formao dos jogadores variam de clube

    para clube, devido s particularidades e a subjetividade envolvida no reconhecimento dos

    mesmos. Segundo Cruz et al. (2010) tanto os jogadores formados internamente como aqueles

    cujos direitos desportivos so adquiridos por meio de transaes entre os clubes devem ser

    registrados na contabilidade, a diferena , todavia, que os direitos desportivos sobre os

    jogadores formados internamente muitas vezes no so reconhecidos no balano, ao contrrio

    dos direitos relativos aos jogadores adquiridos a terceiros por meio de transferncias e

    transaes, cujo custo de aquisio facilmente identificvel.

    Michie e Verna (apud Rezende et al., 2010) apresentam como mtodo de avaliao para

    jogadores de futebol o valor de reposio, equivalente a contabilizar a quantia necessria para

    a substituio do jogador no mercado. Porm, esse mtodo bastante subjetivo, j que o valor

  • 11

    referente reposio do jogador s ser conhecido quando houver sua negociao de fato.

    Cruz et al. (2010) prope um modelo de valorizao para o jogador formado internamente,

    utilizando o mtodo dos centros de custo, porque este permite que sejam acumulados somente

    os custos necessrios na formao do jogador:

    Figura 01: Etapas da valorizao do direito desportivo do jogador formado internamente, atravs da aplicao

    do mtodo dos centros de custo

    Fonte: Adaptado de Cruz (2006 apud Cruz et al, 2010)

    Para Cruz (2010) a partir do momento que o jogador j pode firmar um contrato

    profissional e entrar na categoria juvenil ou juniores, seus custos de formao j podero ser

    capitalizados. Os gastos anteriores a essa fase no so capitalizados, sendo, portanto,

    reconhecidos como despesas do perodo, pois ainda no possvel se esperar benefcios

    econmicos futuros do atleta, o que s confirmado atravs da celebrao do contrato

    profissional entre o clube e o jogador. A partir desse ponto ento, os custos de formao

    devem ser capitalizados em diretos e indiretos para cada jogador formado internamente.

    Segundo Cruz et al. (2010) existem trs formas para saber o montante acumulado pelo

    jogador: 1) imputar ao direito desportivo apenas a frao do custo total que corresponde ao

    formando; 2) imputar ao direito desportivo a totalidade do custo apurado na categoria a que o

    formando pertenceu; 3) imputar ao direito desportivo uma proporo do custo total apurado

    na categoria a que o formando pertenceu durante a poca desportiva. Sendo que o autor

    defende que, por se tratar de um esporte coletivo, a totalidade dos custos deve ser

    contabilizada, pois afirma s considerando o grupo possvel atender aspectos

    comportamentais na formao do jogador. Com efeito, o comportamento do desportista pode

    ser visto como varivel decisiva no sucesso profissional [...]. Logo, somente em funo do

    coletivo em que atua que o jogador profissional conseguir destaque e, por isso, os custos

    Custos por natureza

    Custos diretos

    Custos indiretos

    Centros de custos

    - juvenis

    -juniores

    Direitos desportivos sobre jogadores

    formados

  • 12

    totais devem ser reconhecidos como custo de formao do atleta e, caso dois ou mais

    jogadores se tornarem profissionais, os custos totais devero ser repartidos em partes iguais

    para ambos, sendo que se em algum momento os custos superarem a expectativa de

    rentabilidade futura, dever ser feito o teste de recuperabilidade dos ativos.

    Em estudo, Custdio e Rezende (2010) buscaram analisar a adequao de onze clubes

    brasileiros da primeira diviso do Campeonato Brasileiro do ano de 2007, onde, com relao a

    jogadores formados internamente buscou-se evidenciar os seguintes aspectos:

    Aspecto estudado: Tratamento previsto pela norma NBC 10.13

    Gastos

    com atletas

    em

    formao

    Registro em conta especfica do imobilizado (custo como base de valor)

    Transferncia para conta especfica do imobilizado quando da profissionalizao do atleta

    Evidenciao das transferncias para o imobilizado e baixas (atletas dispensados) em notas

    explicativas

    Quadro 01: Gastos com atletas em formao

    Fonte: Adaptado de Custdio e Rezende (2009)

    Com relao a esse estudo, Custdio e Rezende (2009) concluem dizendo que:

    muito embora tenha havido um esforo dos agentes normativos para padronizar as

    informaes contbeis dos clubes, prevalece a diversidade de tratamentos contbeis

    para eventos semelhantes entre as entidades.

    Isso mostra que ainda no h a transparncia necessria e a comparabilidade entre as

    entidades, visto que muitas informaes no so detalhadas da forma que a norma explicita.

    Aps a pesquisa terica, vamos apresentar os resultados encontrados em um clube de futebol

    brasileiro.

    3. MTODO DE PESQUISA

    Para este estudo, o clube de futebol escolhido foi o Grmio Foot-ball Porto Alegrense,

    fundado em 1903 e que no ano de 2009 j contava com 53 mil scios (Futebol Finance,

    2009). No ano de 2008 o clube obteve uma receita de R$ 99.038,00, contabilizando a sexta

    maior receita no ano dentre os clubes brasileiros. O clube se encontra na primeira colocao

    do ranking nacional de clubes da CBF devido ao grande nmero de ttulos brasileiros

    conquistados ao longo do tempo.

    Este trabalho, segundo Gil (apud Raupp e Beuren, 2006, p. 81) se enquadra no conceito

    de pesquisa descritiva, que tem como principal objetivo descrever caractersticas de

    determinada populao ou fenmeno ou o estabelecimento de relaes entre as variveis. A

  • 13

    anlise descritiva vai observar os fatos, registr-los e analis-los para que se possa relatar os

    fenmenos e compar-los.

    A pesquisa descritiva pode assumir diversas formas sendo uma delas o Estudo de Caso

    que, segundo Cervo et al. (2007, p. 62) a pesquisa sobre determinado indivduo, famlia,

    grupo ou comunidade que seja representativo de seu universo, para examinar aspectos

    variados de sua vida.

    A fase de coleta de dados ser subsidiada por duas tcnicas: a anlise documental e a

    entrevista semi-estruturada. Na fase de anlise documental sero verificadas as demonstraes

    contbeis publicadas pelo Grmio. A fase de entrevista, conforme Cervo et al. (2007), ir

    fornecer as informaes que no foram encontradas em registros e fontes documentais e que

    podem ser fornecidas por certas pessoas. Portanto, esta tcnica de coleta ser desenvolvida

    quando as informaes j adquiridas por meio documental necessitarem de complementao.

    Optou-se pela entrevista semi-estruturada para que no ficssemos restritos a respostas

    pr-concebidas, e esta ser conduzida junto ao contador responsvel pelas demonstraes

    contbeis do Grmio Foot-ball Porto Alegrense, onde sero questionadas as normas que so

    utilizadas para a mensurao dos atletas, sobre como realizada alocao dos custos de

    formao para os atletas profissionais formados pelas categorias de base e os atletas em

    formao, se as normas esto sendo de fato seguidas e qual a importncia da evidenciao de

    tais informaes para a gesto do clube e para os demais interessados. A seguir, no Quadro

    02, apresentada a pauta do roteiro utilizado.

    1. A NBC T 10.13

    2. Direitos sobre os atletas em formao

    2.1. Registro

    2.2. Composio dos gastos por tipo

    2.3. Composio dos gastos por categorias

    2.4. Controle dos gastos

    3. Transferncia do atleta formado, quando da sua profissionalizao

    3.1. Custos contidos

    3.2. Baixas e transferncia

    3.3. Segregao dos jogadores

    4. Notas explicativas

    5. Teste de recuperabilidade de ativos intangveis

    Quadro 02: Pauta do roteiro de entrevista com contador do Grmio Foot-ball Porto Alegrense

    Fonte: Elaborado pela autora

  • 14

    Para a anlise dos dados coletados, a tcnica a ser utilizada ser a anlise de contedo

    documental e entrevista semi-estruturada.

    Para anlise dos dados coletados ser utilizada a analise de contedo (BARDIN, 2002),

    de forma qualitativa, a qual proporciona aprofundamento das questes levantadas, devido

    maior riqueza de dados, facilitando o desenvolvimento da compreenso dos fenmenos

    evidenciados na pesquisa.

    4. RESULTADOS

    Estando ciente da existncia da norma e suas exigncias, vamos evidenciar como o

    Grmio Foot-ball Porto Alegrense apresenta suas demonstraes contbeis, salientando os

    pontos que esto de acordo com a norma e os que divergem em relao mesma,

    principalmente em relao ao reconhecimento do atleta em formao e aos seus custos. Para

    isso entrevistamos o Contador do Grmio, Paulo Salermo, que comentou sobre a introduo

    da NBC T 10.13 e alguns procedimentos praticados pelo Grmio.

    A NBC T 10.13, que entrou em vigor em 2005, surgiu para padronizar o tratamento

    contbil aplicvel sobre as entidades desportivas, pois antes dessa data no havia uma

    uniformidade de tratamento contbil. Segundo o Salermo, s em 2005 que, em funo do

    conhecimento e da discusso que comeou a ocorrer sobre o investimento que os clubes fazem

    massiamente na categoria de base, e utilizando isso como um ativo intangvel efetivamente, o

    Conselho federal resolveu criar uma norma, para que assim os clubes de futebol brasileiros

    tivessem seus registros contbeis padronizados. Porm, aps 2005, ainda percebe-se que h

    certa disparidade em relao ao tratamento contbil em determinados aspectos da norma,

    sendo que uma delas est em relao ao reconhecimento do atleta em formao e a sua

    transferncia quando profissionalizado. Alguns clubes entendem que o atleta em formao

    aquele que ainda no assinou um contrato profissional e, para o contador do Grmio,

    o atleta em formao se encontra em formao at o momento em que ele no seja

    entregue ao departamento de futebol profissional, que v disputar as competies

    pelo clube, [...] se ele assinar ou no assinar o contrato profissional, no o que

    determina estar ou no estar em formao.

    Portanto, independente da assinatura do contato profissional, o atleta em formao ser

    contabilizado conforme o custo incorrido da sua formao. Segundo Salermo, o contrato

    uma obrigatoriedade pro clube, porque se o clube no fizer o contrato com este atleta, ele

  • 15

    perde o atleta [...] Esse contrato, com 16 anos, o primeiro para ser feito, ele d uma garantia

    pro clube de vnculo com esse atleta. Ento, no entendimento do Grmio Foot-ball Porto

    Alegrense, o contrato uma mera formalidade, e o atleta em formao s deixa de estar em

    processo de formao quando ele passar para o time profissional e assim comear a gerar

    receita para o clube.

    At o momento da transferncia do atleta formado internamente para a categoria

    profissional, o atleta em formao ser contabilizado pelo custo, onde, segundo a NBC T

    10.13.2.3 todos os gastos diretamente ligados a formao devem ser registrados, e isso feito

    com o auxlio de registros de custos auxiliares.

    Segundo Paulo Salermo, o clube investe entorno de 8 milhes de reais na formao de

    atletas, onde a maior parte desse valor contabilizado como custo indireto e rateado, ento

    todos eles (atletas) levam a princpio o rateio de custo pelos mesmos valores, diferenciados

    por categorias.

    Seguindo o que a norma exige no item 10.13.3.1, o clube faz o rateio dos custos

    segregando-os por tipo, por categoria e individualmente. Os valores dos custos referentes a

    atletas que se desligaram do clube, so levados resultado, como despesa do exerccio.

    Atravs desse controle, que se saber o valor que o atleta formado internamente ser

    avaliado quando estiver apto a passar para a categoria profissional ser registrado em outra

    categoria, como afirma Paulo Salermo quando ele tiver j 18, 19, e for passar para o

    profissional, ele trs todo aquele custo histrico e ele vai ser transferido pra outro nvel de

    ativo intangvel que seria profissionais, a, com o acmulo daquele custo que ele trouxe

    agregado na formao. Esse entendimento divergente do apresentado por Cruz (2010) que

    diz que a totalidade de custos incorridos no perodo deve ser contabilizada para valorar o

    atleta formado internamente, quando da sua profissionalizao, visto que um esporte

    coletivo. Para Paulo Salermo, o critrio (custos totais) fica aleatrio demais; tu pegar o

    custo dos demais que, por exemplo, vinham sendo formados e foram dispensados, e jogar

    aquele bolo todo (no custo dos atletas remanescentes) e no jogar a resultado.

    Seguindo as exigncias da norma, o Grmio segrega em seu balano patrimonial os

    atletas profissionais formados internamente dos demais atletas adquiridos, calculando as

    amortizaes, baseando-se nas datas de vencimento dos contratos dos atletas, como pode ser

    observado na Figura 02.

  • 16

    Figura 02: Evidenciao da composio do ativo intangvel do Grmio e da distino entre atletas profissionais

    formados internamente e os adquiridos

    Fonte: Demonstraes contbeis Grmio Foot-ball Porto Alegrense (2009)

    O Grmio segrega em suas demonstraes contbeis os atletas por categorias, e os

    mesmos so contabilizados ao valor do custo incorrido na sua formao. Porm, o clube no

    faz distino dos valores que foram baixados do seu ativo, ou os que foram transferidos, como

    podemos ver na Figura 03.

    Figura 03: Segregao dos custos dos atletas em formao, por categorias

    Fonte: Demonstraes contbeis Grmio Foot-Ball Porto Alegrense (2009)

    O fato de os jogadores formados internamente s poderem ser registrados pelo seu custo

    histrico pode causar uma certa distoro na avaliao do real valor do clube, pois, como

    afirma Salermo,

    os atletas chegam no profissional apenas com o custo de formao, que um custo

    na verdade nem perto do que tu podes realizar depois, porque ele irrisrio, ento

    [...] no passivo tu jogas todas as tuas obrigaes pelos valores reais, corrigidos, com

    todos os encargos que so passveis de serem registrados, mas no teu ativo, tu no

    registras os teus ativos da mesma forma

  • 17

    isso visto que a legislao no permite tal avaliao, por isso, segundo Salermo, comum ver

    times de futebol com valores no passivo maiores que no ativo, pois um atleta que est sendo

    formado e h a expectativa de rentabilidade futura, que se sabe que tem potencial, ele no

    pode ser registrado pelo seu valor de mercado, pois ele ainda no foi negociado, somente da

    efetivao da negociao que o valor poder ser apurado com preciso e reconhecido no

    balano patrimonial.

    Em relao transferncia do custo dos atletas de base que se profissionalizaram, h a

    transferncia para conta especfica do atleta profissional formado internamente, porm o clube

    no evidencia os valores transferidos, como confirma Salermo no balano de publicao,

    efetivamente, a gente no coloca essa transposio de quantos atletas formados foram para a

    categoria profissional, a gente tem essas informaes praticamente a nvel gerencial.

    Somente os valores referentes s baixas que so evidenciados nas notas explicativas. O

    Quadro 03 demonstra exemplo evidenciando o registro da movimentao relativa a atletas em

    formao e que aplicada por alguns clubes.

    Movimentao relativa a atletas em formao

    2009 2008

    Saldo Inicial 4.000.000 3.600.000

    Gastos ativados 3.000.000 2.700.000

    Baixa por desvinculao -1.800.000 -2.000.000

    Transferncia por contratao dos atletas formados -800.000 -900.000

    Saldo Final 4.400.000 3.400.000

    Quadro 03: Movimentao relativa a atletas em formao

    Fonte: Elaborado pela autora

    A norma exige que seja feita, pelo menos pela ocasio do encerramento do exerccio o

    teste de recuperabilidade dos ativos, porm a norma no explicita de que forma dever ser

    feito esse teste de recuperabilidade. Segundo Salermo, a subjetividade que paira sobre o

    atleta de futebol muito grande. Para uma pessoa, aquele atleta pode ter um futuro

    promissor, pra outro pode ser que no. Por isso, o clube no possui nenhum tipo de dados

    oficiais ou planilhas que representem o teste, o que h a permanncia no clube ou no,

    conforme explica Salermo o teste de recuperabilidade dele (atleta) o transpasse dele para

    a categoria seguinte que a juvenil e assim sucessivamente. Se o atleta foi avaliado, por

    exemplo, e ele no passou nos critrios que o clube tinha pra ele [...], ele vai ser dispensado,

    vai ser baixado.

  • 18

    Com relao evidenciao de informaes, podemos ver que O Grmio no abre a

    informao de forma individual, informando o percentual dos direitos que possui sobre o

    atleta e os seus custos individuais, pois segundo Salermo essa informao individualizada

    por atleta no vai(nunca vai) ver no nosso balano; nosso balano, a gente faz sempre por

    grupos fechados e a informao interna sim, nvel interno, a gente abre nos relatrios

    gerenciais, e quando questionado sobre o grau de evidenciao das informaes para o

    usurio externo, seja ele investidor, torcedor ou scio do clube, diz que

    a configurao societria do Grmio formado por um nmero X de scios e esses

    scios elegem um conselho deliberativo de 300 pessoas que representam esse

    associado. Esses 300 conselheiros recebem todas as informaes detalhadas ao nvel

    que eles desejarem, ento toda vez que tu fazes prestao de contas de balancetes, tu

    detalhas pra eles a informao da forma que eles necessitam.

    Ento, a informao est disposio do associado, porm, o fato das informaes

    ficarem restritas a um grupo, pode gerar conflitos de agncia, onde o interesse dos gestores

    internos pode divergir do interesse dos scios. Perguntado sobre a evidenciao dessas

    informaes, principalmente com o objetivo de promover uma melhor qualidade das mesmas,

    atravs de uma gesto mais transparente, onde os interesses particulares dos gestores da

    entidade no se sobressaiam em relao aos interesses do coletivo, Paulo Salermo concorda

    que esse tipo de cultura ainda vai demorar a aparecer e afirma que cada novo presidente que

    assume se preocupa com a sua gesto. Ele no olha muito o clube como um todo, [...] dando

    ateno apenas ao que vai ser feito agora pra fazer o time, pra montar o time, pra poder ser

    competitivo, pra poder fazer sua histria ali. Isso demonstra que apesar de existir uma

    norma, que exige um determinado grau de evidenciao, os clubes apresentam uma gesto

    amadora, onde muitas informaes no esto disponveis de forma transparente, so omitidas,

    o que pode prejudicar a continuidade da empresa. Salermo diz que previsto em estatuto a

    existncia de um conselho de administrao, assim como um diretor presidente, ambos

    contratados, que so responsveis pela gesto, porm, no clube no funciona assim, no clube

    os prprios caras que foram eleitos, eles que fazem a gesto.

    Isso demonstra que apesar da existncia de uma norma visando uma padronizao das

    demonstraes contbeis das entidades desportivas, por se tratar de ativos to particulares

    como ativos intangveis, a legislao ainda deixa margem para avaliao de forma subjetiva, o

    que dificulta a comparao entre as entidades, j que cada uma tem um entendimento da

    norma. E como os gestores, presidentes, dessas entidades possuem gestes amadoras,

    preocupando-se apenas com sua administrao de curto prazo, eles no buscam evidenciar em

  • 19

    suas demonstraes os ativos com um grau de detalhamento elevado, restringindo em colocar

    os valores em grupos fechados, no explicando a sua origem, como a norma exige.

    5. CONSIDERAES FINAIS

    Apesar da dificuldade de avaliao dos ativos intangveis, a nsia dos usurios externos

    por maior transparncia nas informaes contbeis das empresas age como propulsor desta

    ideia, afim de que estas informaes os auxiliem na tomada de deciso, seja gerencial ou para

    uso de investidores externos.

    Clubes de futebol so empresas que movimentam grandes valores tanto referentes a

    transaes de jogadores - ativos intangveis, como receitas provenientes da venda do direito

    de uso da marca ou de um jogador. Por isso, de suma importncia que as demonstraes

    contbeis dessas empresas, que trabalham com ativos to particulares, como os seus atletas,

    devem mensurar de forma adequada seus ativos, a fim de proporcionar aos usurios de suas

    demonstraes contbeis uma fonte segura de informaes, para que essas entidades tenham

    um bom processo de gesto e tenham sua continuidade garantida, para o bem de todos os

    scios e torcedores.

    Porm, no isso que ocorre, vemos que a entidade segue apenas em parte a norma

    vigente, e no que no especificado com preciso, os critrios se tornam subjetivos, onde

    cada clube aplica o seu prprio entendimento, mostrando que ainda h disparidade entre as

    entidades.Os atletas so avaliados seguindo a norma, atravs dos custos, no caso do atleta

    formado internamente e pelo custo de transao, no caso de atleta adquirido. Hendriksen e

    Van Breda (1999) afirmam que os contadores tm preferido usar artifcios externos

    legislao contbil, como a teoria dos custos da transao, para avaliar intangveis, em funo

    de uma maior preciso presumida. Porm, destaca-se que o valor de custo pode no

    representar o valor real do atleta, visto que os custos muitas vezes so bem menores que o

    valor do atleta e, por conseqncia, seu valor no ativo no pode ser mensurado fielmente.

    A norma exige que sejam feita de forma detalhada registros auxiliares para maior

    controle dos atletas formados internamente, porm o clube no evidencia tais informaes,

    somente a nvel interno. preciso que os scios dos clubes exijam que seus gestores

    evidenciem as prticas que esto sendo adotadas, para uma melhor gesto, onde os gestores

    no busquem apenas um bom desempenho a curto prazo, que dure apenas o perodo de sua

    gesto, mas que se preocupem com o longo prazo, pois muitas vezes os clubes passam por

  • 20

    altos e baixos e assumem despesas elevadas, sem se preocupar com a continuidade da

    entidade.

    Nesse sentido, percebemos que o Grmio est ciente das normas, mas no demonstra

    interesse em abrir suas informaes nas demonstraes contbeis, por se tratar de informao

    interna do clube, e que a gesto feita de forma amadora, no se preocupando em evidenciar

    em um maior grau de detalhamento as informaes sobre os seus ativos intangveis, de forma

    acessvel para todos os interessados.

    ABSTRACT

    This article deals with intangible assets, the growth of its importance in the current

    scenario and its acknowledgment in the financial reports of entities in the search for greater

    transparency in information. For this, we show what the current legislation and the Committee

    for Accounting Pronouncements defined as intangible assets, and the criteria for recognition

    and measurement. We bring an example of a sports entity, the entity that has its value consists

    of athletes, human resource - intangible. With this example, we are going to show how the

    organization has been demonstrated its intangible assets in the financial reports and whether

    they are indeed in accordance with the standards.

    Key-Words: Intangible assets, acknowledge, human resource, athletes.

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