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INTRODUÇÃO 1 TIMÓTEO Autoria Recentemente, alguns biblistas e comentaristas têm questionado a autoria, tradicionalmente aceita, de que Paulo é o autor desta carta endereçada ao seu jovem e fiel discípulo e companheiro de missões. Um dos argumentos levantados é o de que as viagens de Paulo, relatadas nas chamadas “cartas pastorais”, não correspondem a nenhuma época narrada no livro de Atos. A forma de organização eclesiástica, nelas descritas, tem mais a ver com o segundo século. O vocabulário e o estilo empregados são bastante diferentes daqueles usados nas demais epístolas paulinas. Entretanto, é importante notar que Lucas não se dispôs a contar a história da vida de Paulo, mas, sim, os principais momentos das ações dos apóstolos e da Igreja, em que Paulo tem, evidentemente, participação destacada. Uma vez que sua morte não é relatada no livro de Atos, isto sugere que ele foi libertado e deu prosseguimento ao seu sonho de evangelizar na Espanha, continuando por muitos anos ainda a viajar por todo Império romano, até ser preso novamente em Roma e martirizado por ordem do governo de Nero. Quanto às questões concernentes à organização da igreja, nenhuma colocação ou instrução con- tida nas “cartas pastorais” exige uma data posterior. As orientações sobre liderança espiritual dadas por Paulo, antes do final do primeiro século, valeram perfeitamente para a igreja primitiva, assim como para a Igreja em todos os séculos até a volta iminente de Cristo (At 14.23; Fp 1.1). Assuntos diferentes e específicos necessitam, muitas vezes, de vocabulário pprio e especial. Portanto, não há argumento, até hoje, suficientemente forte que possa alterar a clássica autoria das conhecidas e amadas “cartas pastorais” de Paulo. Além do mais, e sobretudo, as pprias epístolas confirmam a autoria paulina (1Tm 1.1,2; 2Tm 1.1,2). Propósitos Como nos revelam as primeiras linhas da carta, Paulo está escrevendo para Timóteo (1.2), seu verdadeiro filho na fé” (essa é uma expressão e um conceito de discipulado cristão que deve ser resgatado pela igreja moderna). O jovem líder e missionário Timóteo, natural de Listra (hoje Turquia), era filho de pai grego e de uma piedosa mãe judia cristã, chamada Eunice (At 16.1). Desde seus primeiros dias, Timóteo havia sido instruído sobre a Lei e os Profetas (o Antigo Testamento judaico – 2Tm 1.5; 3.15). O próprio Paulo foi a pessoa a quem Deus dirigiu para levar o Evangelho ao coração de Timóteo, durante a primeira visi- ta do apóstolo à Listra. Já na segunda visita, Paulo o convidou para ser seu companheiro nas viagens missionárias que realizava. Assim, Timóteo participou efetivamente dos esforços de evangelização da Macedônia e da Acaia (At 17.14,15; 18.5). O carinho e o respeito de Paulo por Timóteo era tão expressivo que o apóstolo fez questão de men- cionar o querido companheiro de missões como co-remetente em seis das suas epístolas canônicas (2Co, Fp, Cl, 1 e 2Ts e Fm). Ao final da vida, Paulo solicita que seu “filho na fé” vá ao seu encontro em Roma (2Tm 4.9,21). Segundo a carta aos Hebreus, o próprio Timóteo foi também encarcerado e liberto mais tarde (Hb 13.23). Timóteo não chegou a ser reconhecido como apóstolo, mas destacou-se como missionário e líder cristão altamente respeitado por toda a Igreja de sua época. Durante sua quarta grande viagem missionária, Paulo deu ordens expressas a Timóteo para que cuidasse espiritualmente da Igreja em Éfeso (1.3), enquanto o apóstolo seguia viagem para a Macedônia. No entanto, quando percebeu que provavelmente não voltaria a Éfeso tão logo quanto imaginara, escreveu essa primeira carta a Timóteo para detalhar as atribuições que o jovem líder teria sob sua responsabilidade (3.14,15; 1.3,18), que incluíam uma boa dose de segurança doutrinária e personalidade forte para combater os falsos ensinos e heresias da época, uma mistura de gnosticismo com judaísmo místico (1.3-7; 4.1-8; 6.3-5,20,21). Além disso, Timóteo deveria servir como pastor e bispo das almas dos efésios, enquanto a igreja crescia em número e demandas, a saber: a organização dos cultos e reuniões comunitárias (2.1-15), bem como a nomeação e capacitação de bons e fiéis líderes espirituais para pastorear a Igreja do Senhor (3.1-13; 5.17-25). O 1TM_B_Backup.indd 2 8/8/2007, 16:40:28

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INTRODUÇÃO

1 TIMÓTEO

Autoria Recentemente, alguns biblistas e comentaristas têm questionado a autoria, tradicionalmente

aceita, de que Paulo é o autor desta carta endereçada ao seu jovem e fiel discípulo e companheiro de missões. Um dos argumentos levantados é o de que as viagens de Paulo, relatadas nas chamadas “cartas pastorais”, não correspondem a nenhuma época narrada no livro de Atos. A forma de organização eclesiástica, nelas descritas, tem mais a ver com o segundo século. O vocabulário e o estilo empregados são bastante diferentes daqueles usados nas demais epístolas paulinas. Entretanto, é importante notar que Lucas não se dispôs a contar a história da vida de Paulo, mas, sim, os principais momentos das ações dos apóstolos e da Igreja, em que Paulo tem, evidentemente,participação destacada. Uma vez que sua morte não é relatada no livro de Atos, isto sugere que ele foi libertado e deu prosseguimento ao seu sonho de evangelizar na Espanha, continuando por muitos anos ainda a viajar por todo Império romano, até ser preso novamente em Roma e martirizado por ordem do governo de Nero.

Quanto às questões concernentes à organização da igreja, nenhuma colocação ou instrução con-tida nas “cartas pastorais” exige uma data posterior. As orientações sobre liderança espiritual dadas por Paulo, antes do final do primeiro século, valeram perfeitamente para a igreja primitiva, assim como para a Igreja em todos os séculos até a volta iminente de Cristo (At 14.23; Fp 1.1). Assuntosdiferentes e específicos necessitam, muitas vezes, de vocabulário próprio e especial. Portanto, nãohá argumento, até hoje, suficientemente forte que possa alterar a clássica autoria das conhecidas eamadas “cartas pastorais” de Paulo. Além do mais, e sobretudo, as próprias epístolas confirmam a autoria paulina (1Tm 1.1,2; 2Tm 1.1,2).

Propósitos Como nos revelam as primeiras linhas da carta, Paulo está escrevendo para Timóteo (1.2), seu

“verdadeiro filho na fé” (essa é uma expressão e um conceito de discipulado cristão que deve ser resgatado pela igreja moderna).

O jovem líder e missionário Timóteo, natural de Listra (hoje Turquia), era filho de pai grego e de uma piedosa mãe judia cristã, chamada Eunice (At 16.1). Desde seus primeiros dias, Timóteo havia sido instruído sobre a Lei e os Profetas (o Antigo Testamento judaico – 2Tm 1.5; 3.15). O próprio Paulo foi a pessoa a quem Deus dirigiu para levar o Evangelho ao coração de Timóteo, durante a primeira visi-ta do apóstolo à Listra. Já na segunda visita, Paulo o convidou para ser seu companheiro nas viagens missionárias que realizava. Assim, Timóteo participou efetivamente dos esforços de evangelização da Macedônia e da Acaia (At 17.14,15; 18.5).

O carinho e o respeito de Paulo por Timóteo era tão expressivo que o apóstolo fez questão de men-cionar o querido companheiro de missões como co-remetente em seis das suas epístolas canônicas (2Co, Fp, Cl, 1 e 2Ts e Fm).

Ao final da vida, Paulo solicita que seu “filho na fé” vá ao seu encontro em Roma (2Tm 4.9,21).Segundo a carta aos Hebreus, o próprio Timóteo foi também encarcerado e liberto mais tarde (Hb 13.23).

Timóteo não chegou a ser reconhecido como apóstolo, mas destacou-se como missionário e líder cristão altamente respeitado por toda a Igreja de sua época.

Durante sua quarta grande viagem missionária, Paulo deu ordens expressas a Timóteo para que cuidasse espiritualmente da Igreja em Éfeso (1.3), enquanto o apóstolo seguia viagem para

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a Macedônia. No entanto, quando percebeu que provavelmente não voltaria a Éfeso tão logo q p g j ( ), q p g g p

quanto imaginara, escreveu essa primeira carta a Timóteo para detalhar as atribuições que o jovem líder teria sob sua responsabilidade (3.14,15; 1.3,18), que incluíam uma boa dose de segurança doutrinária e personalidade forte para combater os falsos ensinos e heresias da época, uma mistura de gnosticismo com judaísmo místico (1.3-7; 4.1-8; 6.3-5,20,21). Além disso, Timóteo deveria servir como pastor e bispo das almas dos efésios, enquanto a igreja crescia em número e demandas, a saber: a organização dos cultos e reuniões comunitárias (2.1-15), bem como a nomeação ecapacitação de bons e fiéis líderes espirituais para pastorear a Igreja do Senhor (3.1-13; 5.17-25). O

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grande tema, portanto, desta carta é: “lutar o bom combate” (1.8), quer em relação à vida e atitudepastoral do próprio Timóteo, quer em relação ao comportamento dos efésios como Igreja – Corpode Cristo (3.15).

Data da primeira publicaçãoPaulo escreveu sua primeira carta a Timóteo na Macedônia (norte da Grécia), em Filipos, algum

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tempo depois dos acontecimentos narrados em Atos 28, por volta do ano 64 d.C., durante o intervaloentre a primeira e a segunda prisão do apóstolo em Roma.

Esboço geral de 1 Timóteo 1. Saudação ao discípulo amado e filho na fé (1.1,2)2. Orientações referentes à sã doutrina (1.3-11)

A. A natureza das heresias (1.3-7)B. O objetivo da Lei (1.8-11)

3. Testemunho sobre a graça de Deus (1.12-17)4. O objetivo das orientações de Paulo (1.18-20)

5. Instruções sobre o culto da Igreja (2.1-15)A. Oração e adoração (2.1-8)B. Procedimento das mulheres cristãs (2.9-15)

6. Preparação de uma liderança pastoral (3.1-13)A. Presbíteros (3.1-7)B. Diáconos (3.8-13)

7. A Igreja é a coluna da verdade (3.14-16)8. Advertências quanto à apostasia (4.1-16)

A. Descrevendo o mal do esfriamento espiritual (4.1-5) B. Como se deve combater a apostasia (4.6-16)

9. Orientações sobre os diversos grupos na Igreja (5.1 – 6.21)A. Homens e mulheres, jovens e idosos (5.1-2)B. Viúvas, e pessoas sem amparo (5.3-16)C. O comportamento dos anciãos deve ser exemplar (5.17-25)D. A atitude dos escravos – trabalhadores (6.1,2)E. Cuidado com o engano dos falsos mestres (6.3-10)F. Apelo pessoal e final ao jovem líder Timóteo (6.11-21)

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1 TIMÓTEO

Prefácio e saudação

1Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por ordem de Deus, nosso Salvador, e de

Cristo Jesus, a nossa esperança,1

2 a Timóteo, meu verdadeiro fi lho na fé:graça, misericórdia e paz da parte de DeusPai e de Cristo Jesus, nosso Senhor.2

Cuidado com os falsos mestres3 Conforme te solicitei, quando partia para a Macedônia, permanece em Éfeso

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para advertires a certas pessoas que não mais ensinem doutrinas falsas,3

4 e que parem de dar atenção a mitos egenealogias intermináveis, que causamdiscórdias em lugar de propagarem a obra de Deus, que tem como fundamento a fé. 5 O alvo dessa orientação é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sincera.6 Alguns, contudo, se desviaram desses princípios, e se entregaram a discussões sem valor algum,7 intentando ser mestres da Lei, quando não compreendem nem o que propalam nem os assuntos sobre os quais fazem afi rmações com tanta convicção.

A Lei e os seus reais objetivos 8 Sabemos, todavia, que a Lei é boa, se alguém a usa de forma adequada.

9 De igual modo, sabemos que ela não é feita para os justos, mas para os transgres-sores e insubmissos, para os perversos e pecadores, para os profanos e irreveren-tes, para os que matam pai e mãe, para os assassinos,10 para os que vivem na prática de imo-ralidades sexuais e os homossexuais em geral, para os seqüestradores, para os mentirosos e os que fazem juramentos falsos; e para todo aquele que se revolta contra a sã doutrina. 11 Esta sã doutrina encontra-se no glo-rioso Evangelho que me foi outorgado, a saber, o Evangelho do Deus bendito!

A efi cácia da graça de Deus 12 Sou grato para com aquele que me for-taleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me concedeu forças e me considerou fi el, designando-me para o ministério,13 a mim, que em tempos passados fui blasfemo, perseguidor e insolente; con-tudo, Ele me concedeu misericórdia, porquanto fi z o que fi z mediante minha ignorância e incredulidade;14 e a graça de nosso Senhor transbordou sobre mim, com a fé e o amor que há em Cristo Jesus.4

15 Esta declaração é fi el e digna de plena aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo

1 Paulo registra a formalidade da carta ao afirmar sua autoridade apostólica, isto é, especialmente comissionado por JesusCristo como seu mensageiro e missionário (Mc 6.30; 1Co 1.1; Hb 3.1). Ao usar a expressão “esperança”, Paulo não está apenas“desejando”, mas expressando claramente sua “certeza futura” quanto ao estabelecimento perfeito da vontade e do Reino doSenhor (Tt 2.13). O termo grego “Salvador” tradicionalmente se aplicava à pessoa de Deus Pai. Em hebraico, no AT, a mesma expressão tem o sentido de “Libertador” (Fp 3.20-21).

2 Timóteo, cujo nome significa “aquele que adora a Deus”, tornou-se cristão e filho espiritual de Paulo por ocasião do apedreja-mento sofrido pelo apóstolo em Listra (At 14.19-20). Mais tarde, Timóteo se tornaria também seu “companheiro de lutas” na causado Evangelho (At 16.1-4; 1Co 4.17; 2Tm 1.2; 2.1; Fm 10).

3 Paulo usa literalmente a expressão grega heterodoxia, “radicalmente diferente”, para admoestar os mestres heréticos queestavam na Igreja em Éfeso, cujas atitudes gnósticas e anticristãs se caracterizavam por: ensinar falsas doutrinas e inverdades (6.3), pregar mitos judaicos (Tt 1.14), arrogar-se como mestres da Lei (v.7), ensinar práticas ascéticas (4.3), fazer uso da posiçãopara obter lucros pessoais ilícitos (6.5), pregar histórias mentirosas sobre a origem do povo judeu (4.7; Tt 3.9), orgulho earrogância (1.7; 6.4), promover polêmicas com finalidades escusas (6.4; 2Tm 2.23; Tt 3.9).

4 Paulo é uma demonstração evidente do amor e misericórdia de Deus que pode transformar o mais vil dos homens num santo para sua glória (At 9.4; 22.4,5,19; 26.10,11; 1Co 15.9; Gl 1.13; Fp 3.6).

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para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior.16 Todavia, por este motivo mesmo, me foi concedida misericórdia, para que em mim, o pior dos pecadores, Cristo Jesus, demonstrasse toda a grandeza da sua pa-ciência, e me tornasse num modelo para todos quantos haveriam de crer nele para a vida eterna.17 Portanto, ao Rei eterno, imortal, invi-sível, Deus único, sejam honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém!

Combater o bom combate18 Timóteo, meu fi lho, dirijo essa orien-tação a ti, levando em consideração o que as profecias anunciaram a teu respeito; com base nelas, luta o bom combate,5

19 preservando a fé e a boa consciência; porquanto algumas pessoas, vindo a re-jeitá-la, naufragaram na fé.20 Entre esses estão Himeneu e Alexan-dre, os quais entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar.6

Adoração e intercessão

2Antes de tudo, recomendo que sefaçam súplicas, orações, intercessões

e ações de graças, em favor de todas aspessoas;1

2 pelos reis e por todos os que exercemautoridade, para que tenhamos uma vidatranqüila e pacífi ca, com toda a piedadee dignidade.2

3 Isto é bom e agradável diante de Deus,nosso Salvador,4 o qual deseja que todas as pessoas sejamsalvas e cheguem ao pleno conhecimentoda verdade.3

5 Porque há um só Deus e um só Media-dor entre Deus e o ser humano, CristoJesus, homem. 6 Ele se entregou em resgate por todos,para servir de testemunho a seu própriotempo.4

7 Afi rmo-vos a verdade, e não mintoao declarar que para isso fui designadopregador e apóstolo, mestre dos gentiosna fé e na verdade.5

5 Era comum, na igreja primitiva, Deus revelar sua vontade específica de várias maneiras; uma delas era por intermédiodos profetas. Em At 13.1-3, por exemplo, temos a participação de alguns profetas de Deus no envio de Paulo e Barnabé, emmissão aos gentios. Em relação a Timóteo, profecias acerca da sua notável liderança cristã, foram entregues muito antes de suaordenação formal ao ministério, durante a segunda viagem missionária de Paulo (4.14; At 16.3). Segundo historiadores, depoisque Paulo foi solto da prisão em Roma, voltou a Éfeso, deixando ali Timóteo como missionário e líder espiritual; obra que realizoude maneira esplêndida, enquanto o apóstolo seguiu para a Macedônia (v.3).

6 Himeneu, por exemplo, foi um cristão que decidiu criar uma teologia própria, e pregava que a ressurreição já havia ocorrido(2Tm 2.17-18). Alexandre, outro exemplo, era um empresário crente que havia criado muitos problemas, e não aceitava conselhosnem admoestações dos irmãos (2Tm 4.14,15). Paulo foi obrigado a exercer mais severa “disciplina eclesiástica” (Mt 18.17), istoé, a exclusão desses homens do âmbito da proteção da Igreja, considerada com “santuário contra o poder de Satanás e seusdemônios”. Fora da comunhão da Igreja – com a ação do seu ministério de consolar, exortar e admoestar em Cristo – seriam“disciplinados” (ensinados), por meio dos sofrimentos que o Diabo naturalmente impõe ao mundo. É preciso notar que o alvodesse corretivo de Paulo era mais restaurador do que punitivo (1Co 5.5,13; Lc 13.16; 2Co 12.7).

Capítulo 21 Paulo exorta a todo cristão que leve ao Senhor, por meio de orações e súplicas, todas as suas petições, com “ações de

graças”, no original grego eucharistias (Fp 4.16). 2 Os cristãos são incentivados a orar por todas as autoridades, quer sejam boas ou más. O diabólico imperador Nero exercia

seus plenos poderes na época em que Paulo escreveu essa carta (54 – 68 d.C.). O apóstolo usa a palavra “piedade”, exclusiva-mente em suas cartas pastorais, a fim de recomendar que os crentes, especialmente os líderes espirituais, sejam profundamentereverentes a Deus (3.16; 4.7,8; 6.3,5,6,11; 2Tm 3.5; Tt 1.1).

3 Deus alimenta o sentimento de que sua infinita graça encontre morada em todos os corações humanos, por isso a expressãogrega usada por Paulo aqui é thelõ, que tem a conotação de “desejo sentimental”, e não boulomai, que seria “deliberação oudeterminação”. Embora o Senhor aspire pela salvação de todos, sua onisciência o faz saber que nem todas as pessoas se apro-priarão da graça em Cristo, como filhos eleitos (1Pe 1.2; Rm 8.29).

4 A expressão original grega lutron, que significa “preço pago para libertar” (resgate), aparece em Mt 20.28 e Mc 10.45, erefere-se ao testemunho apostólico de que Cristo se entregou a si mesmo para pagar toda fiança exigida para nossa liberdade(Gl 4.4-5).

5 Paulo assevera que foi convocado por Deus para anunciar o Evangelho da Salvação ao mundo e testificar que, por meio damorte e ressurreição de Cristo, o Senhor construiu uma ponte, única e exclusiva, capaz de superar o abismo existente entre Deuse a humanidade, por conta da Queda (Gn 3).

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61 TIMÓTEO 2, 3

Recomendações aos homens8 Portanto, determino que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem discussões.6

Recomendações às mulheres9 Semelhantemente, recomendo que as mulheres se vistam com decência, mo-déstia e discrição, não com tranças; nem com ouro ou pérolas, nem com roupas muito caras,10 mas que se vistam de boas obras, como convém a mulheres que professam servir ao Senhor.7

11 A mulher deve aprender em silêncio, com toda a reverência. 12 E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade sobre o homem. Esteja, portanto, em silêncio.13 Porque Adão foi criado primeiro, e Eva depois.14 E mais, Adão não foi enganado; mas a mulher é que foi enganada e caiu em transgressão.8

15 Contudo, a mulher será restaurada dando à luz fi lhos, desde que permane-çam na fé, no amor e na santidade, com bom senso.9

Recomendações aos líderes

3Esta é uma declaração digna de todo crédito: Se alguém almeja o episcopa-

do, de fato, deseja algo excelente.1

2 É fundamental, pois, que o bispo seja j g

irrepreensível, marido de uma só esposa, equilibrado, tenha domínio próprio, seja respeitável, hospitaleiro, capacitado para ensinar;3 não deve ser apegado ao vinho, nem violento, mas sim amável, pacífi co e não amante do dinheiro.4 O bispo deve também governar bem sua própria família, sabendo educar seus fi lhos a lhe serem submissos com todo o respeito. 5 Porquanto, se alguém não sabe gover-nar sua própria família, como poderá cuidar da Igreja de Deus?

6 Paulo usa a expressão original grega boulomai, “determinar”, para enfatizar seu pedido solene, algo como um decreto real. Otermo grego usado para “homens”, neste versículo, não se refere à humanidade como um todo, mas especificamente ao gêneromasculino adulto, apesar de ser evidente que as mulheres também oravam em público (1Co 11.5).

7 Os apóstolos usavam a expressão original grega7 katastole, que significa “traje”, para referir-se ao comportamento geral docristão, e não apenas a um estilo único de se vestir. Paulo e Pedro, por exemplo, recomendam às mulheres, especialmente, queusem a moda e não sejam usadas por ela, pois a maneira como nos vestimos revela muito sobre o que pensamos de nós mesmose como gostaríamos de ser tratados. Portanto, as mulheres cristãs devem, de certa forma, criar a própria “moda”, testemunhandoseu “bom senso cristão”, no original grego kosmios, “decência”. Paulo as exorta a uma atitude marcadamente feminina, de bomgosto, sensibilidade e simplicidade; em contraste com o conceito de moda propagado pelo sistema mundial, e que sempreenvolve luxo, exibicionismo, sensualidade apelativa e falsidade (1Pe 3.3-4).

8 Paulo refere-se à vontade ideal do Senhor (Gn 2 e 3). O desejo de Deus é que não houvesse outro governante (reis, chefesde estado) sobre os homens além dele próprio (teocracia). Também não é da vontade de Deus que haja divórcios entre homense mulheres que um dia juraram amor e fidelidade até a morte (Jz 21.25; 1Sm 8.4-9; Mt 5.31-32; 19.3-9). Da mesma forma,originalmente, a mulher foi criada para ser a melhor amiga e companhia do homem, que, por sua vez, deve amar e respeitar suaesposa todos os dias de sua vida. Contudo, à medida que nos aproximamos da volta de Cristo, o homem se afasta do planoideal do Senhor, e as sociedades passam a exercer mais pressão para que as Escrituras Sagradas se encaixem às suas normase procedimentos seculares do que para que o ser humano compreenda e se submeta à vontade de Deus. As mulheres foramcriadas para respeitar, ajudar e cooperar com seus maridos; os homens, para amar suas esposas como Cristo amou a sua Igreja(Ef 5.25). As mulheres de Éfeso, por influência do pensamento pagão que permeava a cultura helênica daqueles dias, tornaram-se pessoas autoritárias e tiranas. A sociedade grega vivia, em termos práticos, sob um sistema matriarcal. As mulheres mandavamna família e ditavam o que seus maridos deviam ou não fazer.

9 Paulo enfatiza a piedade da mulher que se entregou plenamente ao amor e à autoridade do Espírito Santo em Cristo, e que,portanto, se realiza na sua missão prioritária de ser esposa, mãe e administradora do lar. O apóstolo ainda faz um paralelo com apreciosa salvação espiritual que veio do nascimento mais importante de todos: a encarnação de Deus em Jesus Cristo.

Capítulo 31 A expressão grega original ejpiskoph'", “episcopado” era usada para identificar o dirigente de uma organização pública ou reli-

giosa. Aqui, se refere ao “supervisor” espiritual de uma congregação cristã, equivalente à expressão judaica “ancião”. Os termos “bispo” e “presbítero” (derivado de “ancião”) são empregados de forma intercambiável em várias passagens do NT. A função do líder espiritual é pregar e ensinar, dirigir o ministério geral da igreja (3.2-5; 5.17), pastorear com amor e zelo o rebanho quepertence a Deus (At 20.28) e cuidar para que a igreja seja abençoada com uma teologia bíblica, livre de heresias (At 20.28-31).

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7 1 TIMÓTEO 3, 4

6 Não deve ser recém convertido, a fi m de que não se ensoberbeça e caia na mesmacondenação em que caiu o Diabo.7 Também é necessário que tenha bom testemunho dos de fora, para que não seja envergonhado nem caia na armadi-lha do Diabo.8 Quanto aos diáconos, da mesma forma, devem ser honrados, de uma só palavra, não dados a muito vinho, nem tampou-co dominados pelo amor ao dinheiro.2

9 Devem permanecer no ministério da fé com consciência pura. 10 Devem também, antes de tudo, passar por experiência; depois, se não houver nada que os desabonem, que exerçam o diaconato. 11 As mulheres, da mesma maneira, de-vem ser respeitáveis, não caluniadoras, moderadas e fi éis em tudo.12 Os diáconos devem ser maridos de uma só esposa e governar bem os fi lhos e a própria casa.13 Pois todos aqueles que servirem bem como diáconos alcançarão uma posição de honra e muita intrepidez na fé que há em Cristo Jesus.14 Ainda que alimente a esperança de ver-te em breve, escrevo-te estas orien-tações;

15 contudo, se eu demorar, fi ques cientede como as pessoas devem comportar-sena casa de Deus, que é a Igreja do Deusvivo, coluna e fundamento da verdade.16 Sem dúvida, grande é esse mistério dafé: Aquele que se manifestou em carne,foi justifi cado no Espírito, contempladopelos anjos, pregado entre as nações,crido no mundo e recebido acima daglória.3

Recomendações a Timóteo

4O Espírito Santo afi rma expressa-mente que, nos últimos tempos,

alguns se desviarão da fé e darão ouvidosa espíritos enganadores e à doutrina dedemônios,1

2 sob a infl uência da hipocrisia de pes-soas mentirosas, que têm a consciênciacauterizada.2

3 São líderes que proíbem o casamento eordenam a abstinência de alimentos queDeus criou para serem recebidos comações de graças pelos que são fi éis e estãobem fi rmados na verdade.3

4 Pois tudo o que Deus criou é bom,e, nada deve ser rejeitado, se puder serrecebido com ações de graças.5 Porquanto é santifi cado pela Palavra deDeus e pela oração.

2 O significado do termo grego original “diácono” (servo) está ligado ao “serviço dedicado” de alguém em qualquer área de neces-sidade da igreja ou da comunidade por amor a Cristo. Esse ministério se iniciou formalmente na igreja primitiva por motivos práticos,visando a ajuda e a cooperação, a fim de que nenhum membro da igreja passasse falta de assistência espiritual e material (At 6.1-7).As qualificações espirituais e morais exigidas são semelhantes às exigidas dos pastores (bispos, presbíteros ou anciãos).

3 Paulo gostava de se valer das letras de hinos e cânticos conhecidos pela igreja primitiva para ilustrar suas teses teológicas.Aqui ele usa a poesia da letra de parte de um credo que se tornou hino (Ef 5.19; Cl 3.16). O Espírito Santo de Deus capacitouJesus a expulsar demônios, a operar milagres, e foi responsável por ressuscitar Jesus dentre os mortos (Mt 12.28; Rm 1.4; 1Pe3.18); sendo Cristo louvado e admirado pelos anjos na sua ressurreição e ascensão (Mt 28.2; At 1.10).

Capítulo 41 A “apostasia” (rebeldia e afastamento dos verdadeiros ensinos de Deus) já era um tema tratado pela igreja primitiva. Todo o

período compreendido entre a primeira vinda de Jesus Cristo e sua volta gloriosa é chamado de “a Era da Igreja” ou “os últimostempos”, anunciado por profetas do AT e do NT, inclusive pelo próprio Cristo (Dn 7.25; Mt 24.4; 2Ts 2.3; 2Pe 3.3; Jd 18). Oscristãos são capazes de distinguir os “falsos mestres” ou “apóstatas” por meio do Espírito Santo que habita em suas almas (1Jo4.1). A apostasia tem três características principais e visíveis: surge a partir de “espíritos enganadores”; é alimentada por “ensinosdemoníacos”, e alguns de seus mais importantes agentes estão, infelizmente, dentro da própria comunidade eclesiástica. Umavisita pela história da Igreja até nossos dias não deixa a menor dúvida sobre isso.

2 Um cristão que não avalia e corrige sua vida e comportamento à luz da Palavra de Deus e dos conselhos do Espírito Santo,entrega-se progressivamente ao encantamento do pecado, que usa, como anestesia da consciência cristã, a mentira. Com opassar do tempo, instala-se na alma dessa pessoa uma crosta de insensibilidade ao Espírito e às pessoas, sua consciência entraem profundo processo de cauterização, como resultado da constância (escravidão) no pecado (1Co 11.28; 2Co 13.5; Tg 5.16; 1Jo1.6). A conseqüência será sempre o afastamento e a rebeldia a tudo quanto se refere ao Senhor e à sua Igreja.

3 Paulo refere-se tanto aos alimentos quanto ao matrimônio; bênçãos de Deus para a humanidade, que são intrinsecamentetodas boas e saudáveis (Mc 7.15).

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6 Orientando aos irmãos quanto a esses assuntos serás bom ministro de Cristo Jesus, nutrido pelas palavras da fé e daboa teologia que tens seguido.7 Mas rejeita as fábulas profanas e os fala-tórios dos insensatos. Exercita-te, porém, na piedade.8 O exercício físico, de fato, é de algum valor; no entanto, a piedade para tudo é proveitosa, porquanto traz consigo a promessa da vida presente e futura.9 Esta palavra é uma afi rmação digna de todo crédito e plena aceitação! 10 Pois é justamente para isso que tra-balhamos e lutamos, porquanto temos depositado nossa esperança no Deus vivo, o Salvador de todos os homens, especialmente dos que crêem.11 Ordena, pois, e transmite esses ensi-nos!12 Ninguém menospreze o fato de seres jovem, mas procura ser exemplo para os fi éis, na palavra, no comportamento, no amor, na fé e na pureza.4

13 Enquanto aguardas a minha chega-da, aplica-te à leitura, à exortação e aoensino.5

14 Não deixes de desenvolver o dom que há em ti, que te foi outorgado por men-sagem profética, com imposição de mãos por parte dos presbíteros.15 Dedica-te plenamente ao cumpri-mento dessas responsabilidades, para

que todos possam testemunhar o teu progresso.16 Tem cuidado de ti mesmo e do teu ensino; persevera nesses deveres, pois agindo assim, salvarás tanto a tua pró-pria vida quanto a todos que te derem ouvidos.6

Recomendações aos pastores

5Não repreendas o idoso com aspere-za, mas admoesta-o como a um pai;

bem como aos jovens, como a irmãos;1

2 às mulheres idosas, como a mães; às jo-vens, como a irmãs, com toda a pureza.3 Tratai com toda atenção as viúvas que, de fato, são necessitadas de ajuda.2

4 Todavia, se alguma viúva tiver fi lhos ou netos, que estes aprendam primei-ramente a colocar a sua religião em prática, zelando por sua própria família e retribuindo os bens recebidos de seus pais e avós, pois isso é agradável diante de Deus.5 A viúva realmente necessitada e sem amparo espera em Deus e persevera noi-te e dia em suas orações e súplicas;6 no entanto, a que somente busca pra-zeres, embora esteja viva, na realidade está morta.7 Ordena esses procedimentos, para que elas sejam irrepreensíveis.8 Contudo, se alguém não cuida dos seus, especialmente dos de sua própria famí-

4 Timóteo tinha cerca de trinta anos quando assumiu as responsabilidades de bispo da Igreja em Éfeso. Um cargo de tamanhaimportância e influência não era, normalmente, entregue a um homem tão jovem. Paulo, entretanto, o conhecia bem, e exortaseu “filho na fé” a mostrar, por meio de um testemunho imaculado, ser um verdadeiro homem de Deus e pastor do rebanho doSenhor (1.2; 1Pe 5.1-4).

5 A quarta viagem missionária de Paulo o levará de Éfeso à Macedônia; contudo, esperava muito em breve poder reencontrar-se com seu discípulo amado em Éfeso (3.14).

6 É claro nas Escrituras que somente Deus tem o poder de perdoar e salvar a humanidade. Todavia, Deus aprecia capacitar os cristãos com seu Espírito para que testemunhem de Cristo e levem a efeito a salvação (libertação) do próximo, numa demons-tração evidente de amor e adoração ao Senhor. Somos salvos por ocasião do arrependimento pessoal de nossos pecados e,portanto, da conversão. Entretanto, continuamos a ser salvos (santificação) à medida que nos entregamos cada vez mais aoscuidados do Espírito de Deus e nos tornamos mais semelhantes à Imagem de Cristo (em latim, Imago Dei), em nossos pensa-mentos e atitudes (1Co 1.18).

Capítulo 51 Embora a palavra “idoso”, no original grego, seja presbuteros, seu sentido aqui está relacionado a homens com mais de

sessenta anos, e não à função eclesiástica do presbítero.2 Na época da igreja primitiva, as viúvas, assim como os órfãos, de modo geral, viviam em completo desamparo, pois a

sociedade não dispunha de mecanismos de assistência social como em nossos dias. Paulo, entretanto, faz duas observaçõesinteressantes: a igreja deve cuidar (amparar) dos verdadeiros necessitados em seu meio, de maneira que a ninguém falteo necessário para viver dignamente. Entretanto, adverte aos líderes cristãos para que tenham cuidado com os “falsosdesamparados”, pessoas que usam sua situação de penúria e ociosidade para viverem às custas do trabalho do próximo.

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lia, este tem negado a fé e se tornou pior que um descrente.9 Portanto, deve ser inscrita na relação das viúvas apenas aquela que contar com mais de sessenta anos, e que tenha sido esposa de um só marido,10 cujas boas obras possam lhe servir de bom testemunho, tais como se criou fi lhos, se exerceu hospitalidade, se lavou humildemente os pés dos santos, se so-correu os atribulados, e se praticou todo tipo de boa obra.11 Mas não inclua as viúvas mais jovens, pois quando as paixões sensuais as afas-tam de Cristo, querem casar-se12 e, por violar o primeiro compromisso de fé, tornam-se condenáveis.13 Mais do que isso, aprendem tam-bém a ser desleixadas em relação ao trabalho, perambulando de casa em casa, e não somente dadas ao ócio, mas também fofoqueiras e indiscretas, co-mentando assuntos que não lhes dizem respeito.14 Sendo assim, aconselho que as viúvas mais jovens se casem, tenham fi lhos, administrem suas próprias casas e nãodêem ao inimigo nenhum pretexto para maledicência.3

15 Algumas, de fato, já se desviaram, se-guindo a Satanás.16 Se uma mulher crente tem viúvas em sua família, esta deve cooperar com elas. Evitai que a igreja seja sobrecarregada com o trabalho de ajudá-las. As viúvas realmente desamparadas são as que de-

vem receber a ministração desse auxíliopor parte da igreja.17 Os presbíteros que administram bema igreja são dignos de dobrados honorá-rios, principalmente os que se dedicamao ministério da pregação e do ensino.4

18 Porquanto, afi rma a Escritura: “Nãoamordaces a boca do boi quando estiverdebulhando o cereal”, e ainda, “digno éo trabalhador do seu salário”.5

19 Não aceites acusação contra um pres-bítero, se não houver mais duas ou trêstestemunhas.20 Quanto aos que vivem na prática dopecado, repreende-os na presença detodos, para que os outros, de igual ma-neira, se encham de temor.21 Eu te exorto solenemente, diante deDeus, de Cristo Jesus e dos anjos elei-tos a que procures obedecer todas essasinstruções sem parcialidade; e não façasnada por partidarismo.22 Não imponhas as mãos precipitada-mente sobre alguém, nem participes dospecados dos outros; conserva-te, pois,em pureza de vida.23 Por causa do teu estômago e das tuasfreqüentes enfermidades, não bebassomente água, mas também um poucode vinho. 24 Os pecados de alguns homens apare-cem antes mesmo de serem julgados; osde outros são descobertos depois.25 Da mesma forma, as boas obras se tor-nam evidentes, enquanto as obras másnão podem permanecer ocultas.

3 Paulo entende que o cristão vive em constante guerra contra Satanás (o Inimigo) e seus demônios. Aqui, o apóstolo aproveitao contexto para transmitir mediante uma palavra grega tipicamente militar, aphorme (pretexto ou brecha), a perspicácia do inimigoem se aproveitar de toda a “oportunidade estratégica” para desferir seus ataques, especialmente contra os filhos de Deus (Rm7.8,11; 2Co 5.12; Gl 5.13).

4 É parte vital do serviço episcopal a liderança espiritual, como modelo da congregação; a pregação do Evangelho, o ensino ea aplicação da Palavra de Deus às necessidades dos membros da Igreja (3.2-5). Todos os presbíteros chamados para exerceremesse ministério deveriam receber grande honra por parte da comunidade. Entretanto, aqueles cuja liderança e ensino fossem ex-celentes, merecem “honra em dobro”, expressão que significa: completo sustento e apoio financeiro (v.18), respeito e comunhãosolidária (em grego koinõnia). Considerando que na Igreja não deve haver “maiores e mais importantes” (parcialidade), pois todossão membros do Corpo de Cristo (Tg 2.1 – 4.4).

5 Paulo cita o AT (Dt 25.4) e o NT (Lc 10.7) para reforçar sua tese sobre a importância da Igreja assumir o sustento completodos pastores e ministros que dedicavam tempo integral à obra. Fica evidente também que, já nessa época, os textos canônicosdos evangelhos, bem como outros que viriam formar o NT, e que circulavam nas comunidades cristãs juntamente com o AT, eramreconhecidos com toda a autoridade de Escrituras Sagradas.

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Recomendações aos que servem

6Todos os servos que são escravos de-vem considerar seus senhores dignos

de toda a honra, para que o nome de Deus e o nosso ensino não sejam blas-femados.2 E os que possuem senhores crentes não devem alimentar por eles respeito me-nor, isso pelo fato de serem irmãos; ao contrário, devem servi-los ainda melhor, porquanto os que se benefi ciam do seu serviço são fi éis e amados. Ensina, pois, essas orientações.1

O perigo fatal da cobiça3 Se alguém ensina falsas doutrinas e não concorda com a sã doutrina de nosso Se-nhor Jesus Cristo e com a teologia que é segundo a piedade,4 é arrogante e nada compreende; todavia, delira em questões e controvérsias acerca de palavras. Dessa atitude, brotam as invejas, brigas, difamações, suspeitas malignas,5 batalhas constantes entre aqueles que têm a mente corrompida e que são pri-vados da verdade, os quais imaginam que a piedade é fonte de lucro.6 De fato, a piedade acompanhada de ale-gria espiritual é grande fonte de lucro.2

7 Porque ingressamos neste mundo sem absolutamente nada, e ao partirmos da-qui, nada podemos levar;

8 por isso, devemos estar satisfeitos se tiver-mos com o que nos alimentar e vestir.9 No entanto, os que ambicionam fi car ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitas vontades loucas e nocivas, que atolam muitas pessoas na ruína e na completa desgraça. 10 Porquanto, o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e por causa dessa cobiça, alguns se desviaram da fé e se atormentaram em meio a muitos sofrimentos.

Exortações aos homens de Deus11 Porém, tu, ó homem de Deus, foge dessas ciladas e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância e a mansidão.12 Combate a boa batalha da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual foste convocado, tendo já realizado boa con-fi ssão diante de muitas testemunhas.3

13 Na presença de Deus, que a tudo dá vida, e de Cristo Jesus, que perante Pôn-cio Pilatos fez o perfeito testemunho, eu te exorto:4

14 Guarda este mandamento imaculado e irrepreensível até a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, 15 a qual Deus fará com que se cumpra no seu devido tempo. Ele é o bendito e único soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores,5

16 o único que é imortal e habita em luz

1 Aqui Paulo está abordando especificamente o comportamento dos crentes em relação ao trabalho (serviço) para com seuspatrões, considerando o sistema escravocrata da sua época. A palavra grega douloi, “servos escravos”, indica que os crentes, emquestão, “pertenciam” a mestres pagãos. Paulo vai além e afirma que mesmo os servos crentes de senhores crentes não devemconfundir a igualdade espiritual com sua desigualdade social (v.2). Evidentemente, Paulo e as Escrituras não apóiam a escravidãonem a exploração do homem pelo homem. Entretanto, o crente (que é absolutamente livre em Cristo) deve testemunhar tambémpor meio do seu trabalho dedicado, de sua confiança na justiça e intervenção divina (1Co 7.20-24; Gl 3.28; Gl 4.1-7; Fm 16).

2 Paulo usa a palavra grega autarkeia, que significa “aquilo que é suficiente em si mesmo”, para indicar que os crentes sãoabençoados com tudo o que necessitam para serem felizes, ainda que atravessando momentos de crise e sofrimento (2Co 9.8;Fp 4.11). A fé humilde e resignada (piedade), aliada à satisfação em Cristo (contentamento), produz o grande lucro do crente(At 3.6).

3 Timóteo havia recebido a vida eterna desde quando fora salvo ao confessar sua fé, por ocasião do seu batismo, durante aprimeira viagem missionária de Paulo. Contudo, Paulo o encoraja a que agora, mais maduro no Senhor, aproprie-se do segredo de uma vida controlada e capacitada (plenitude) pelo Espírito Santo, que é a absoluta e corajosa entrega do nosso ser nas mãosdo Senhor (vv.17-19; 4.16).

4 Jesus proclamou diante das autoridades lideradas por Pôncio Pilatos que seu Reino não é deste mundo (Jo 18.36), e quequalquer poder ou autoridade procedem exclusivamente de Deus (Jo 19.11).

5 Da mesma maneira como a primeira vinda do Senhor Jesus Cristo ocorreu, exatamente, no momento planejado por Deus(cerca de 400 anos após o último profeta do AT), assim também seu glorioso retorno acontecerá no tempo determinado por Deus(Gl 4.4; Ap 19.16).

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inacessível a quem ninguém viu nem po-de ver. A Ele sejam honra e poder para sempre. Amém!

Recomendações aos ricos17 Ordena aos que são ricos no presente mundo que não sejam orgulhosos, nem depositem a esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus que nos concede generosamente tudo o que precisamos para viver satisfeitos;18 Orienta-os a praticarem o bem, e que sejam ricos em boas obras, sensíveis, solidários e generosos.

6 Paulo chama a atenção de Timóteo para posicionar-se à frente da batalha teológica em defesa da fé. Desde temposimemoráveis, a verdadeira fé em Deus é considerada alvo de oposição. Na época de Paulo e da igreja primitiva, alguns dosgrandes inimigos da fé eram: falsos mestres (vv.3-4), materialismo e paixões da carne (vv.8-10), ciência falsa (v.20). A igrejaprimitiva sofreu muitas baixas com os ataques do gnosticismo (expressão grega que significa “conhecimento”), corrente depensamento filosófico segundo a qual as pessoas podem ser salvas mediante o saber. A bênção apostólica soa como umbálsamo de consolo e alívio às almas de todos os crentes contemplados com a divina graça da salvação em Cristo Jesus.

19 Dessa maneira, acumularão um valio-so tesouro para si mesmos, um fi rmefundamento para a era que há de vir, eassim alcançarão a verdadeira vida.

Apelo fi nal e bênção apostólica 20 Timóteo, guarda o tesouro que te foiconfi ado, evitando as conversas inúteise profanas, assim como as elucubraçõessem fundamento que muitos chamamde “saber”.21 Ora, alguns professando tal “conheci-mento” se desviaram da fé. A graça sejaconvosco!6

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