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Avaliação da Qualidade de Energia Elétrica S.M.Deckmann e J. A. Pomilio 2. Tratamento estatístico de sinais aleatórios Até aqui se considerou que os sinais, no domínio do tempo, eram periódicos. Vai-se tratar agora de sinais não-periódicos, para descrever uma aplicação com sinais aleatórios. Um problema típico com variáveis elétricas é verificar se uma determinada grandeza viola um limite pré-fixado por mais de alguma fração do tempo de observação. Esse problema ocorre, por exemplo, com as flutuações de tensão em redes de distribuição que alimentam cargas variáveis. Dependendo da faixa de freqüências dessas flutuações e da amplitude das variações, podem ocorrer problemas que afetam outras cargas e consumidores. Por exemplo, se as flutuações ocorrerem na faixa 0-30Hz, poderá ocorrer o fenômeno da cintilação luminosa ("lamp flicker"), que éo incômodo visual provocado pela variação da luminosidade das lâmpadas devido às variações da tensão. O problema torna-se crítico em algumas instalações porque uma flutuação sustentada de apenas 0,2% da tensão em torno de 9Hz torna-se perceptível como efeito flicker no sistema de iluminação. Uma maneira simples de se constatar esse efeito é através da modulação da amplitude da tensão. Figura 2.1 Tensão modulada senoidalmente. No caso de um sinal modulado senoidalmente, a expressão da tensão resultante é dada por: v(t )= V sen ω p t[1 + m .sen ω m t ] onde ω p = freqüência da portadora (2π .fp) ω m = freqüência da modulante (2π.fm) Δ V V m = = índice de modulação 0≤ m ≤1; Na prática, o sinal modulante varia em amplitude e freqüência em decorrência da variação aleatória das diversas cargas do sistema. O tratamento da envoltória da tensão, chamada tensão de flutuação V f nessas condições torna-se mais complexo. Variações mais elevadas na tensão podem afetar dispositivos sensíveis como microcomputadores, equipamentos hospitalares, instrumentos de medição, etc. As normas prevêem limites para essas variações, tanto em termos de "flicker" como de sub- e sobretensão, e da duração dos eventos. Vamos supor que são dados os limites máximo (Vmax) e mínimo (Vmin) da tensão e a duração relativa (1%) que esses limites podem ser violados. DSCE-FEEC-UNICAMP 1

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    2. Tratamento estatstico de sinais aleatrios

    At aqui se considerou que os sinais, no domnio do tempo, eram peridicos. Vai-se tratar

    agora de sinais no-peridicos, para descrever uma aplicao com sinais aleatrios.

    Um problema tpico com variveis eltricas verificar se uma determinada grandeza viola

    um limite pr-fixado por mais de alguma frao do tempo de observao.

    Esse problema ocorre, por exemplo, com as flutuaes de tenso em redes de distribuio

    que alimentam cargas variveis. Dependendo da faixa de freqncias dessas flutuaes e da

    amplitude das variaes, podem ocorrer problemas que afetam outras cargas e consumidores.

    Por exemplo, se as flutuaes ocorrerem na faixa 0-30Hz, poder ocorrer o fenmeno da

    cintilao luminosa ("lamp flicker"), que o incmodo visual provocado pela variao da

    luminosidade das lmpadas devido s variaes da tenso. O problema torna-se crtico em algumas

    instalaes porque uma flutuao sustentada de apenas 0,2% da tenso em torno de 9Hz torna-se

    perceptvel como efeito flicker no sistema de iluminao.

    Uma maneira simples de se constatar esse efeito atravs da modulao da amplitude da

    tenso.

    Figura 2.1 Tenso modulada senoidalmente.

    No caso de um sinal modulado senoidalmente, a expresso da tenso resultante dada por:v(t) = V sen p t[1+ m .sen mt]

    onde p = freqncia da portadora (2 .fp)m = freqncia da modulante (2.fm)

    V

    Vm = = ndice de modulao 0 m 1;

    Na prtica, o sinal modulante varia em amplitude e freqncia em decorrncia da variaoaleatria das diversas cargas do sistema. O tratamento da envoltria da tenso, chamada tenso de flutuao Vf nessas condies torna-se mais complexo.

    Variaes mais elevadas na tenso podem afetar dispositivos sensveis como

    microcomputadores, equipamentos hospitalares, instrumentos de medio, etc.

    As normas prevem limites para essas variaes, tanto em termos de "flicker" como de sub- e

    sobretenso, e da durao dos eventos.

    Vamos supor que so dados os limites mximo (Vmax) e mnimo (Vmin) da tenso e a

    durao relativa (1%) que esses limites podem ser violados.

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    Figura 2.2 Flutuaes aleatrias dos valores eficazes da tenso.

    T2

    VmaxVref

    Vmin

    T5T4T3T1

    0 t

    To

    Figura 2.3 Intervalo de observao

    Para o limite mnimo queremos saber se a durao da violao menor que 1% do intervalo

    de observao, ou seja:

    T1 +T3 +T4 +T5 .100 < 1%To

    Te, para o limite mximo, se: 2 .100TR + ADSUP + PRSUP ou

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    O PRODIST estabelece que o conjunto de leituras para gerar os indicadores individuais deve

    compreender o registro de 1008 leituras vlidas, obtidas em intervalos consecutivos (perodo de

    integralizao) de 10 minutos cada, salvo as que eventualmente sejam expurgadas (por erros de

    medio ou outras circunstncias estabelecidas no documento). No intuito de se obter 1008 leituras

    vlidas, intervalos adicionais devem ser agregados, sempre consecutivamente.

    Os valores eficazes devem ser calculados a partir das amostras coletadas em janelas

    sucessivas. Cada janela compreender uma seqncia de doze ciclos (0,2 segundos) a quinze ciclos

    (0,25 segundos).

    Aps a obteno do conjunto de leituras vlidas, quando de medies oriundas por

    reclamao ou amostrais, devem ser calculados os ndices de durao relativa da transgresso para

    tenso precria (DRP) e o para tenso crtica (DRC) de acordo com as seguintes expresses:

    Onde nlp e nlc representam o maior valor entre as fases do nmero de leituras situadas nas faixas

    precria e crtica, respectivamente.

    Etapa 3 - Classificar as amostras em funo dos nveis discretizados

    Uma outra maneira de verificar, graficamente, as violaes feito a partir do "histograma de

    ocorrncias". Isso corresponde a contar o nmero de vezes em que cada nvel observado,

    eliminando-se a varivel temporal.

    O histograma mostra qual a distribuio das observaes sobre os diferentes nveis de

    discretizao. Notar que se perdeu o vnculo temporal das amostras, ou seja, no se sabe mais

    quando cada amostra foi observada.

    No.

    Observaes

    n1 2 30Nveis

    Figura 2.7 Histograma de observaes por nvel.

    Etapa 4 - Normalizar o histograma

    Como a soma do contedo de todas as classes deve ser igual ao nmero total de observaes,

    ou seja:n

    ni = Ni=1

    A normalizao do histograma consiste em dividir todos os valores por N, resultando:

    ni = 1

    n

    Ni1Dessa forma podemos interpretar o histograma normalizado como sendo a curva de

    distribuio das freqncias (duraes) estatsticas dos nveis da tenso amostrada.

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    Etapa 5 - Obter a curva das freqncias acumuladas

    A soma acumulada das freqncias normalizadas produz a curva de probabilidade de "estari ni

    i Nabaixo" de um dado nvel i: FA =1

    FAi

    1.0

    10%

    n1 2 30 Nveis ii

    Figura 2.8 Funo Acumulativa de Probabilidades

    A interpretao de "estar abaixo" decorre do fato de que qualquer valor de FAi expressa a

    probabilidade de uma amostra estar abaixo do nvel i, e, portanto, uma curva de violao de

    limites mnimos.

    Etapa 6 - Obter a curva complementar

    A funo cumulativa complementar dada por: FACi = 1 FAi

    e, portanto, assume a forma complementar da curva anterior:Essa curva interpretada como probabilidade de "estar acima", e por isso uma curva de

    violao de limites mximos. O valor de FACi expressa a probabilidade de uma amostra estar acima

    do nvel i, ou de ultrapassar o limite i.

    FACi

    1.0

    10%

    n1 2 30 Nveis iiFigura 2.9 Funo acumulativa complementar

    Etapa 7 - Determinao de pontos de teste

    Como a discretizao produz curvas descontnuas (degraus), necessrio utilizar

    interpolaes para se testar os limites fixados.

    Uma outra possibilidade consiste em suavizar as curvas por linearizao ou aproximao por

    polinmios para fazer o teste de limites:

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    FACi

    100%

    50%

    0 Max Nveis iMin Med

    Figura 2.10 Funo complementar suavizada.

    A determinao dos nveis Max e Min quase imediata (pontos extremos). O nvel mdio

    (Med) tambm pode ser obtido com facilidade.

    Uma vez que a amostragem foi feita com intervalos regulares de tempo t, pode-se relacionardiretamente o nmero de amostras com o tempo de observao. Assim a frao de amostras que

    ultrapassam um certo nvel mede tambm a frao do tempo que durou essa violao:

    x% =t viol .100% =

    nviol . t .100% =nviol .100%

    N .tTo N

    2.2 Exemplo:

    Uma classe de 100 alunos apresenta a seguinte distribuio de alturas:

    1,50-1,60m 5%1,80-1,90m 8%

    1,60-1,70m 49% 1,70-1,80m 37%1,90-2,00m 1%

    a) Supondo representao central por classe, estimar a altura mdia da turma;

    b) Estimar a altura ultrapassada por 10% dos alunos usando interpolao linear;

    c) Qual a altura que no alcanada por 10% dos alunos?

    Soluo

    1) Histograma de distribuio dos alunos por altura:

    49%

    1,5 1,6 1,7 1,8 1,9 2,0 altura

    a) Mdia ponderada

    hi . pi % 1,55.5+1,65.49 +1,75.37 +1,85.8+1,95.1hmed = = = 1,701m

    pi % 100

    b) Funo acumulativa

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    5%

    37%

    8%

    1%

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    100%99%

    1,5 1,6 1,7 1,8 1,9 2,0 altura

    Verificamos que os 10% de alunos mais altos tem altura entre 1,65 e 1,75m.

    interpolao linear entre os pontos mdios dessas classes temos:91

    Fazendo

    90

    1,65 1,75

    x =

    90 54=

    36 x =

    3,6= 0,0973

    0,10 91 54 37 37+Portanto a altura ultrapassada pelos 10% mais altos vale: h10 = 1,65 + 0,0973 = 1,7473m

    c) Os 10% alunos mais baixos:

    54

    5

    1.55 1.65

    Neste caso, tem-se:

    y =

    10 5=

    5

    0,1 54 5 49

    y = 0,1. = 0,0055

    49

    = 1,55 + 0,005 = 1,555mh10

    Notar que a hiptese de representar cada classe pelo valor mdio pode afetar bastante o

    de classesresultado, principalmente quando so poucas as classes. Porm, quando o nmero

    aumenta, esse erro diminui.

    2.3 Exemplos de medies

    As figuras a seguir mostram resultados de medies em uma subestao. No primeiro caso

    tem-se a tenso de uma fase (valor eficaz) e a correspondente funo cumulativa complementar.

    DSCE-FEEC-UNICAMP 7

    10

    y

    54

    x

    91%

    54%

    5%

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    Pode-se verificar, facilmente, a probabilidade de um nvel de tenso estar acima de um certo valor.

    Figura 2.11 Valor eficaz de tenso e funo cumulativa complementar.

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  • Extrado do Anexo 1 PRODIST, Mdulo 8