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Joilson Dias e Maria helena Ambrosio dias
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UM ENSAIO SOBRE AS TEORIAS DOS CICLOS E DAS FLUTUAÇÕES
ECONÔMICAS: CARACTERÍSTICAS E MÉTODOS DE ANÁLISE
Profa Dr
a Maria Helena Ambrosio Dias*
Prof. Dr. Joilson Dias*
I. Introdução
O propósito deste capítulo é expor, de forma sucinta, os principais aspectos das teorias
dos ciclos predominantes a partir das décadas de 80 e 90, tratando desde os conceitos básicos
de ciclos e suas fases até as aplicações empíricas para a economia brasileira. Iniciamos com um
breve histórico sobre as primeiras teorias de ciclos econômicos e então evoluímos para as
teorias dos ciclos dos negócios dos novos-clássicos e novos-econômicos, em uma comparação
de suas explicações para as fontes de flutuações. Ambas as teorias utilizam a modelagem como
instrumento de análise.
As teorias novo-clássicas de ciclos apresentam duas explicações distintas. Uma
primeira, com base no trabalho de Lucas (1972,1973), que preconiza a importância de choques
de demanda agregada, admitindo que choques não antecipados de política monetária poderiam
causar flutuações nos agregados econômicos, em especial, produto e preços. Os efeitos dos
choques seriam possíveis por meio do mecanismo de formação das expectativas, considerando
informação incompleta dos agentes ao tomarem suas decisões de produção e preços.
A segunda vertente desta corrente destaca os fatores reais como determinantes da maior
parte das flutuações econômicas e dos ciclos dos negócios em particular. Nesta interpretação,
são os choques tecnológicos os principais responsáveis dos ciclos econômicos, admitindo ainda
choques advindos de variações das preferências dos agentes. As expectativas racionais são
utilizadas como fundamentação microeconômica para a formação de decisões dos agentes
econômicos, com base na hipótese forte de previsão perfeita. Ainda, se admite mudanças
setoriais como causadoras de ciclos dos negócios.
*Professores Titulares em Teoria Econômica, Departamento de Economia e Programa de Pós-Graduação em
Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Maringá (PCE-UEM).
2
No entanto, o problema com os modelos apresentados pelos novos-clássicos, em
especial dos ciclos reais dos negócios, é que, apesar da robustez dos modelos matemáticos,
suas simulações nem sempre replicavam o comportamento cíclico dos agregados econômicos,
ou seja, havia consistência interna mas não necessariamente externa. Dessa forma, houve um
retorno aos modelos de rigidez de preços e salários ao estilo keynesiano, porém com uma
preocupação visível com os fundamentos microeconômicos para explicar rigidezes.
Assim, as teorias novo-keynesianas colocam as rigidezes de preços e salários como
principais causas dos ciclos de negócios, e admitem tanto imperfeições reais nos mercados de
bens e de trabalho como rigidezes nominais de contratos, realçando portanto que, tanto fatores
reais como monetários podem gerar flutuações econômicas e ciclos. As decisões econômicas
são abordadas dentro do contexto de expectativas racionais, em sua hipótese fraca, de
informação incompleta.
Após esta exposição, citamos como exemplo o trabalho de Dias (2002b) que faz uma
combinação das duas abordagens, consideradas como pertencentes ao mainstream, tendência
atual da macroeconomia.
Além disso, o capítulo demonstra a contribuição dos modelos teóricos e dos métodos
econométricos para a evolução das teorias que abordam os ciclos dos negócios. Então, a
terceira seção apresenta alguns dos métodos de aplicação empírica mais utilizados para tratar
ciclos dos negócios. Um elemento chave das aplicações econométricas das séries temporais
para a análise dos ciclos econômicos é o método de suavização das tendências das séries, para
sua identificação e/ou exclusão. Portanto, atribuímos ênfase para os modelos de suavização
alternativos ao filtro de Hodrick e Prescott (1981), como Dias, Dias e Evans (2004).
Ainda, selecionamos alguns dos trabalhos aplicados para a análise dos ciclos na
economia brasileira, tentanto buscar fatos sobre o comportamento cíclico dos principais
agregados econômicos.
Vale ressaltar que o desenvolvimento aqui proposto segue os trabalhos de Lucas (1977,
1980), Mankiw (1989, 1990) e Plosser (1989), além de Dias (1998), uma primeira versão deste
trabalho.1
1 Maiores detalhamentos sobre as teorias aqui apresentadas, podem ser encontradas em Magalhães (2000) e
Magalhães (2005), que têm a preocupação em especificar as contribuições teóricas de vários autores para a
formação das teorias dos ciclos dos negócios.
3
I. Conceitos e Fases dos Ciclos de Negócios
1.1. Conceitos
Os ciclos de negócios foram inicialmente entendidos como flutuações conjuntas dos
principais agregados econômicos em torno de suas respectivas tendências ao longo do tempo.
Um conceito genérico é que ciclos dos negócios representam as flutuações, periódicas
ou não, que ocorrem nos principais agregados econômicos, apresentando fases específicas de
crise e prosperidade.
A análise dos ciclos de negócios implica em estudar os componentes das séries
econômicas no tempo, que podem ser descritos como: a sazonalidade, que é a variação
estacional da série ao longo das quatro estações do ano, com forma periódica; a tendência, que
indica a trajetória de longo prazo da série, ou seja, a evolução temporal média da estrutura da
série; o ciclo, que demonstra os desvios de curto prazo da série em relação a sua média de
longo prazo; o componente aleatório e imprevisível da série.
Sob a ótica dos ciclos dos negócios, as variáveis são analisadas em relação às seguintes
características:
1. Co-movements: movimentos conjuntos;
2. Persistência;
3. Direção: procíclico, acíclico ou contra-cíclico;
4. Correlação: alta ou baixa;
5. Timing: leading, lagging, e coincidente.
Os movimentos comuns, inicialmente quantificados por Burns e Mitchell (1947),
referem-se a respostas conjuntas dos agregados econômicos a um choque ou evento. Os autores
identificaram também as fases dos ciclos dos negócios como de expansão e contração.
Entendendo mais tarde que os ciclos não se apresentam de forma periódica, a
persistência, termo classificado por Long e Plosser (1983), é o período de tempo de duração em
que as séries se desviam para cima ou para baixo de sua trajetória média de longo prazo.
Segundo os autores, uma vez que o desvio ocorre para cima, as séries tendem a permanecer
4
acima da média por alguns períodos, e vice-sersa.2 Campbell e Mankiw (1987) encontraram
que, para um processo autoregressivo de ordem 3, AR(3), os choques sobre o produto têm
persistência relativamente alta, com coeficiente acima de 1, indicando que variações do produto
são seguidas por variações no próprio produto na mesma direção.
No que se refere às reações das variáveis aos choques, que indica a direção do
comportamento dos agregados econômicos durante o ciclo, pode ser classificada, de acordo
com Dias (1998), como: procíclicas, que acompanham o movimento do ciclo, aumentam nas
prosperidades e diminuem nas crises; contra-cíclica, que são contrárias ao movimento cíclico; e
acíclicas, que não se alteram durante o ciclo.
Além disso, os ciclos dos negócios são observados de acordo com o comportamento de
indicadores cíclicos. Os ciclos diferem em duração e amplitude, e esses indicadores apresentam
as diferenças de abrangência e propagação dos ciclos dos negócios entre as unidades
observadas (regões, indústrias, setores de atividades). De acordo com Zarnowitz (1996, p. 289),
as fases de expansões (contrações) fortes tendem a se espalharem mais do que as expansões
(contrações) mais fracas. Os indicadores de difusão são componentes de maior peso percentual
nas séries de tempo, e, portanto têm maior correlação com as taxas de variação das séries.
Dessa forma, os indicadores de propagação são os líderes no movimento cíclico, e então são
objeto de previsões para os agregados econômicos. Assim, para verificar agentes de propagação
implica em identificar a variação característica dos indicadores cíclicos referente ao seu tempo
relativo de reação (timing). Dentro desta classificação, os agregados podem ser indicadores
líderes (leading indicators), se seus pontos de desvio costumam reagir antes do ponto de
inflexão ou reversão cíclica, e indicadores defasados (lagging indicators), se reagem depois dos
pontos de inflexão do ciclo econômico, sendo estes últimos menos voláteis. Os indicadores
coincidentes (coincident indicators) caminham próximos aos movimentos cíclicos,
demonstrando uma correspondência quase proporcional, tanto em expansões como em
recessões. 3
2Inicialmente, a perodicidade dos ciclos econômicos, como um todo, foi classificada por Schumpeter (1950) em
uma investigação experimental como: ondas longas, chamadas de ciclos de Kondratieff, com 54 a 60 anos de
duração; ondas de duração entre 9 e 10 anos, chamadas de ciclos de Juglar; e ondas curtas de periodicidade
próxima de 40 meses, denominadas de ciclos de Kitchin.
5
1.2. Fases dos Ciclos de Negócios
As componentes dos ciclos podem ser apresentadas como crise e prosperidade. A crise
é composta pela recessão (ou contração), fase econômica entre o pico (cume ou topo) e o fundo
(piso ou vale), e pela depressão, quando tal fase é extremamente profunda, e atingiu o ponto
mais baixo do nível de atividade econômica, por exemplo, momento em que o desvio do nível
do produto em relação a sua média de longo prazo é o maior. A prosperidade é formada pela
recuperação, fase econômica entre o fundo e o pico, e a fase de expansão, quando tal fase está
se aproximando do pico.
Um ciclo econômico completo pode ser medido através da extensão entre um fundo e
outro, ou através da extensão que vai de pico a pico. Uma representação gráfica de ciclo está
apresentada na Figura 1.
Figura 1: Picos e Fundos dos Ciclos de Negócios
Neste contexto, as flutuações econômicas podem ser analisadas por meio dos choques
advindos da oferta ou da demanda, principalmente. Choques de oferta são considerados como
resultado de choques tecnológicos, de alteração na produtividade média, ou causados por
fatores exógenos como furacões e guerras. Os choques de demanda são principalmente
causados por variações nas preferências dos agentes, variações na moeda, ou ainda, variações
de políticas fiscais.
Dentro do exposto, destacamos a seguir um breve histórico das teorias dos ciclos
econômicos, com o intuito de identificar suas causas, por meio da oferta agregada ou da
3Zarnowitz (1996, p. 293). Tradução nossa.
6
demanda agregada. Considerando o avanço no entendimento dos ciclos econômicos e o
dinamismo da produção acadêmica recente na área, ênfase é dada para as teorias novo-clássica
e novo-keynesiana.
II. As Teorias dos Ciclos de Negócios e suas Principais Características
2.1. Breve Histórico das Teorias dos Ciclos
Apesar de que alguns ensaios teóricos sobre possíveis causas dos ciclos econômicos
precedem o século XIX,4 os ciclos dos negócios recebeu atenção científica a partir da década de
trinta, em decorrência das grandes flutuações que ocorreram nas economias industrializadas.
Em 1898, Knut Wicksell, em sua contribuição da teoria quantitativa da moeda, associou
as expansões econômicas com taxas de juros de mercado abaixo das taxas de juros naturais,
provocando aumento de preços. Mais tarde, essa idéia foi aplicada para os ciclos dos negócios
que conciliava à política do Banco Central, em que expansões monetárias causariam quedas na
taxa de juros de mercado em relação à taxa de equilíbrio (natural), implicando aumento na
demanda por investimento e conseqüente aumento dos preços, criando um período de expansão
econômica, ou boom.5 Hawtrey colocava que ―...uma queda na taxa de desconto [taxa real de
juros] ocasionada pelo sistema bancário, em especial o Banco Central, induziria pessoas a
emprestar mais, de tal forma que o montante de meio circulante aumentaria e preços
elevariam.‖ Sobre esta abordagem, Haberler (1932, p. 5) completa que,
―Agora, de acordo com o Sr. Hawtrey, existe uma tendência em nosso sistema bancário a manter
a taxa de juros muito baixa durante o movimento de expansão (upward swing) do ciclo; então os
preços sobem, nós incorremos em uma inflação de crédito, e mais cedo ou mais tarde os bancos
são forçados a tomar medidas para proteger suas reservas—eles aumentam a taxa e trazem à tona
a crise ou a depressão.‖
A explicação de Wicksell sobre o processo de acumulação mostrou influência nos trabalhos de
Keynes (1936) e Schumpeter (1939) sobre o processo pelo qual a propagação do ciclo de
negócios ocorre.
4Jevons (1875) defendia que variações meteriológicas causavam variações de radiação solar e afetavam a
produção de milho, e, portanto, os preços dos produtos agrícolas, comprometendo a confiança nos negócios,
surgindo crises comerciais. Jevons calculou ciclos econômicos de 10,5 anos que não foram confirmados no Reino
Unido. No entanto, o tema dos ciclos econômicos marcava seu início. 5Hawtrey (1934) apud Simonsen e Cysne (1994).
7
Keynes (1936) enfatizou a demanda efetiva como determinação de produto e emprego.
No entanto, colocou que nem todas as flutuações na demanda efetiva, por meio dos gastos de
investimentos e da propensão marginal a consumir, seriam de ordem cíclica.6
Inicialmente, Keynes (1936, 293-394) descreve os movimentos cíclicos de forma
simplista, como um movimento de variação física, enfatizando a existência de certo grau de
regularidade e duração dos ciclos.
Além disso, Keynes coloca que os gastos autônomos dos investimentos são
relacionados com as expectativas dos agentes de negócios quanto às vendas futuras. Assim, o
comportamento pessimista ou otimista do empresário quanto às variações esperadas dos
negócios, inspirado pelo caráter intuitivo dos empresários, animal spirit, poderiam criar
variações abruptas dos investimentos privados, causando recessões e expansões.7 Como
exemplo, selecionamos a descrição de Keynes típica de fases de expansões e de recessões.
―As últimas etapas da expansão são caracterizadas por expectativas otimistas relativas ao
rendimento futuro dos bens de capital suficientemente fortes para compensar a abundância
crescente desses bens, a alta de seus custos de produção e, provavelmente, também, a alta taxa
de juros. (...) Além disso, o pessimismo e a incerteza a respeito do futuro que acompanham um
colapso da eficiência marginal do capital suscitam, naturalmente, um forte aumento da
preferência pela liquidez e, conseqüentemente, uma elevação da taxa de juros. (...) [Isso] pode
agravar seriamente o declínio do investimento‖ (KEYNES, 1936, p. 295).
―Nos primeiros momentos de uma depressão típica verifica-se provavelmente um investimento
no aumento dos estoques, que ajuda a compensar o desinvestimento no capital circulante; na fase
seguinte pode haver um curto período de desinvestimento, tanto em estoques como em capital
circulante; depois que se alcançou o nível inferior da depressão aparece, em geral, um
desinvestimento suplementar nos estoques que equilibra parcialmente os reinvestimentos no
capital circulante; e, finalmente, quando a recuperação tiver avançado bastante, ambos os fatores
serão simultaneamente favoráveis ao investimento‖ (KEYNES, 1936, p. 297).
Haberler (1937) mostrou a controvérsia existente na época sobre a importância relativa
das causas dos choques e dos seus mecanismos de propagação.8 De acordo com Haberler
(1932, p.1), ―o ciclo econômico é um movimento em forma de onda das atividades dos
negócios [do nível da produção] (...) períodos de progresso rápido são seguidos de períodos de
6 “Qualquer flutuação no investimento, não compensada por uma variação correspondente na propensão a
consumir, resulta, necessariamente, numa flutuação no emprego. Portanto, dado que o fluxo de investimento está
sujeito a influências bastante complexas, é muito improvável que todas as flutuações, tanto as do próprio
investimento como as da eficiência marginal do capital, sejam de caráter cíclico‖ (KEYNES,1936, p. 294). 7Esta visão sobre as expectativas Keynes conjugava com Pigou apud Zarnowitz (1992, p.16), que também
observava uma propagação de superotimismo em expansões e desapontamento ou superpessimo em contrações. 8Haberler (1932).
8
estagnação.‖ Além disso, o autor enfatiza que as ―teorias‖ dos ciclos dos negócios, em geral,
não distinguem as fontes alternativas de quedas de preços, se resultam de uma contração do
meio circulante (que provocaria uma depressão) ou de uma queda nos custos de produção,
como conseqüência de inovações ou melhorias tecnológicas (em que preços cairiam
gradualmente).9 De qualquer forma, para Haberler as expansões econômicas, sendo ou não
causadas por mudanças nas expectativas dos investidores, precisam ser financiadas por algum
montante de crédito, propriciado por recursos aplicados por indivíduos ou corporações
previamente, relacionando as flutuações econômicas com as expansões monetárias.
Na década seguinte, Burns e Mitchell (1946, p. 3) publicaram um trabalho empírico
formal sobre a quantificação dos ciclos econômicos, aplicado para a economia dos Estados
Unidos. Então, a partir deste trabalho, os ciclos de negócios passaram a ser entendidos da
seguinte forma:
―Os ciclos de negócios são um tipo de flutuação encontrado na atividade econômica agregada
das nações que organizam seu trabalho principalmente em empresas de negócios; um ciclo
consiste em expansões que ocorrem ao mesmo tempo em muitas atividades econômicas,
seguidas por recessões, contrações e recuperações igualmente generalizadas, que se fundem com
a fase de expansão do ciclo seguinte; essa seqüência de mudanças é repetitiva mas não é
periódica; a duração dos ciclos de negócios varia de mais de um ano a dez ou doze anos; eles
não são divisíveis em ciclos menores de caráter semelhante com amplitudes as suas‖.
As flutuações econômicas posteriores à II Guerra Mundial apresentaram padrões de
variação nas séries temporais recorrentes e próximas dos ciclos de Mitchell, resgatando o
respeito às teorias dos ciclos, ofuscadas com o evento da Grande Depressão, pois seus efeitos
foram se dissipando ao longo do tempo, e o sistema econômico como um todo não foi impelido
eternamente à crise.
A partir de então, a análise macroeconômica utilizou uma interpretação para a teoria
geral do equilíbrio, a abordagem IS-LM de Hicks (1937) e Hansen (1953), para tratar os
problemas predominantes entre o período que compreende os anos 50 e início da década de 70.
O debate acadêmico marcou uma época de relativo entendimento e convergência de idéias
econômicas, classificado como a Síntese Neoclássica-Keynesiana.10
No entanto, como o modelo IS-LM, amplamente difundido na academia, toma o nível
geral de preços como dado e a inflação era cada vez mais um fenômeno preocupante das
9Tradução nossa.
9
economias do pós-guerra, a curva de Phillips foi criada como uma emenda para explicar o
ajustamento de preços.11 Na abordagem IS-LM, os preços são considerados dados, em virtude
da fundamentação microeconômica da concorrência perfeita e da moderna teoria quantitativa
da moeda, propondo relação direta entre moeda e preços, implicando que a política de regra de
crescimento do estoque de moeda deveria estar de acordo com o crescimento do produto para
manter estável a variação dos preços, evitando as flutuações econômicas.
A curva de Phillips, proposta originalmente por Phillips (1958), mostrava a existência
de uma relação negativa entre a variação dos salários nominais e a taxa de desemprego. Tal
abordagem foi então ampliada por Friedman (1968) e Phelps (1968) para incorporar as
expectativas sobre as variações de preços pois, ambos concordavam que é o salário real que
aumenta quando a demanda por mão-de-obra aumenta. A análise da curva de Phillips até então
permitia atingir e manter um nível permanentemente baixo de desemprego, desde que se
tolerasse um nível permanentemente alto de inflação. Assim, políticas econômicas eram
conduzidas de forma a reduzir flutuações, em especial no desemprego, conforme fossem os
pesos da inflação e do desemprego na função de perdas sociais de cada economia. Porém,
Friedman e Phelps mostraram que políticas econômicas que explorassem tal relação falhariam
pois, de acordo com os princípios microeconômicos, a taxa de desemprego de equilíbrio, ou
natural, deveria depender da oferta e demanda por mão-de-obra, do tempo ótimo de procura de
vagas (optimal search time), entre outras variáveis, e não da taxa média de crescimento da
moeda.12 De acordo com Lucas (1980, p. 705), por razões diferentes,
―...ambos os papers de Friedman e Phelps carregavam a implicação clara que ‗excesso de
demanda‘ não era necessária nem suficiente para inflação de preços ou salários, e que qualquer
taxa média de inflação era teoricamente consistente com qualquer nível de desemprego. Essa
conclusão, atingida via racionalidade neoclássica impecável, conflitava com a predição de um
tradeoff produto real-inflação, o qual estava no centro dos modelos fundamentados na síntese
neoclássica.‖13
Dessa forma, Blanchard (1992, p.19) aponta que a preocupação com os fundamentos
microeconômicos dos modelos macro se apresentava desde os anos 60, quando o chamado
10De acordo com Lucas (1980), complentações à teoria de Keynes seguiram vários temas a partir de então. 11Mankiw (1990, p. 1645). 12Mankiw. Op. cit. p. 1647. 13Tradução nossa.
10
bloco salário-preço foi amplamente explorado, com o intuito de entender seu funcionamento e
aplicabilidade para o mundo real. Diversas linhas de pesquisas surgiram e
―...muitas delas foram apresentadas no volume de Phelps sobre emprego e inflação. Essas linhas
também chamavam a atenção para o importante papel das expectativas, e o palco estava
montado para a introdução de expectativas racionais. Obstáculos técnicos foram eliminados no
início dos anos 70, e o trabalho sobre as suas implicações se encaminhou rapidamente.‖
Portanto, a maturidade intelectual e os problemas do início da década de 70 nas
principais economias mundiais exigiram avanços da teoria econômica. Um dos avanços que se
seguiu foi a forma de como interpretar as expectativas dos agentes e sua formulação nos
modelos econômicos.
2.2. A Incorporação das Expectativas Racionais
A partir da década de 70, a teoria dos ciclos econômicos desenvolveu-se
substancialmente com os modelos de expectativas racionais, nos quais os agentes econômicos
têm ampla informação sobre o sistema econômico e suas tendências e corrigem seus erros
periodicamente de forma a estar no longo prazo, em média, corretos. Tais modelos têm como
marco inicial Muth (1961), que fora amplamente difundido por Lucas (1972), o qual trata da
discussão sobre a neutralidade da moeda e evidencia a influência das expectativas nos modelos
que tentam explicar as flutuações econômicas. De acordo com Lucas, os erros de expectativas
provocam custos advindos das decisões equivocadas ou subótimas tomadas com base em tais
expectativas. Dessa forma, os agentes tentam evitar tais erros, principalmene os sistemáticos.
De acordo com Hoover (1990, p.16), as expectativas racionais apresentam duas
hipóteses: a hipótese fraca refere-se à formação de expectativas na qual as pessoas aprendem
com seus erros e não persistem em cometê-los, os agentes detêm informação imperfeita; e a
hipótese forte é aquela em que as pessoas realmente conhecem a estrutura do modelo que
descreve o mundo verdadeiro e usam tal conhecimento para formar suas expectativas,
implicando em previsão perfeita.
Lucas, em seu trabalho "Understanding Business Cycles" (1977), conceitua os ciclos
dos negócios como: as regularidades dos ciclos dos negócios são movimentos comuns
(comovements) de desvios da tendência em diferentes séries temporais agregadas.
11
Na tentativa de capturar todos os elementos centrais dos ciclos, alguns modelos da
década de 70 colocavam que a explicação dos ciclos econômicos exigia um retorno às
discussões sobre as influências psicológicas no comportamento dos agentes. No entanto, uma
explicação mais plausível esclareceu que os modelos individuais existentes colocam em
evidência as ocorrências específicas que são importantes e que a acumulação gradual de
conhecimento sobre os choques e os mecanismos de propagação fazem com que os modelos de
expectativas racionais estejam consistentes com os ciclos econômicos observados.
Neste contexto, ciclos de negócios são conceituados como sendo os componentes
estocásticos das séries temporais macroeconômicas, em que ciclos são classificados como
processos estocásticos (aleatórios) estacionários (transitórios).14 Nelson e Plosser (1982, p.
160) consideram que os dois principais componentes do produto agregado são o componente
tendência (não-estacionário), normalmente associado ao crescimento (growth) de longo prazo,
e o componente cíclico estacionário, associados às flutuações de curto prazo. Choques sobre o
componente crescimento (trend) tenderiam a ser permanentes, de tal forma, que esta não
poderia ser considerada uma tendência determinística.
A partir daqui, optamos por tratar principalmente os modelos de ciclos de negócios
classificados sob dois contextos teóricos, os primeiros dentro da abordagem teórica
neoclássica, os modelos novos-clássicos, e os de base teórica keynesiana, os novos-
keynesianos, analisados de acordo com as causas dos choques.
2.3. Os Modelos Novos-Clássicos dos Ciclos de Negócios
De acordo com a classificação proposta, os modelos de base teórica na abordagem
clássica enfatizam três interpretações: modelos dos ciclos reais de negócios (CER), modelos de
ciclos monetários e modelos de ciclos de mudanças setorias. Tais propostas contemplam a
participação das expectativas nos ciclos econômicos em modelos de equilíbrio com preços
flexíveis. No entanto, essas teorias apontam para diferentes causas dos ciclos dos negócios, que
aprentamos a seguir.
2.3.2. Modelos de Ciclos Monetários: A Percepção Equivocada Local conforme Lucas
14Veja por exemplo, Nelson e Plosser (1982).
12
A partir do desenvolvimento das expectativas racionais, os modelos de ciclos
monetários foram incialmente tratados por Lucas (1972, 1973, 1976), os quais utilizam
informação incompleta como racionalidade para explicar os efeitos temporários das
disturbâncias monetárias sobre as variáveis reais.
O modelo apresentado por Lucas (1972, 1973), conhecido como modelo de percepção
equivocada monetária local dos agentes, enfatiza as flutuações cíclicas como resultado de
choques de demanda advindos de variações na moeda. Neste tipo de modelo, apesar das
expectativas racionais, a falta de informação imediata no que se refere aos choques monetários
implica que os agentes possam interpretar os movimentos do nível geral de preços
errôneamente, como se fossem mudanças nos preços relativos, referentes à demanda de seu
produto. Então, o indivíduo acaba por alterar a quantidade produzida quando não deveria fazê-
lo.
Assim, na existência de um choque inesperado de política monetária, que cause uma
pertubação suficiente para atingir a demanda agregada e aumente os preços dos bens, os
vendedores não conseguem distinguir se esse aumento de preços refere-se ao aumento da
demanda relativa de seu produto ou apenas a um aumento do nível geral de preços. Dessa
forma, como a percepção local quanto aos movimentos de monetários é equivocada, os
produtores-vendedores acabam por decidir em aumentar a produção de seu produto, gerando
uma fase expansionista da produção, quando só deveria fazê-lo se o aumento do preço fosse
reflexo do aumento da demanda específica do bem que ele produz e vende. Uma vez iniciado o
processo, o ciclo de negócio ocorre até que passado a fase de expansão, o agente detêm
melhores informações sobre a variação dos agregados monetários e percebe a política
praticada, e observa que nem todos seus novos produtos são vendidos, então o ciclo cessa e o
sistema volta para a situação anterior, de acordo com a taxa natural de desemprego.
O modelo formal de Lucas (1972, 1973) da teoria da falta de percepção monetária local
pode ser apresentado como em McCallum (1989, p. 185-7).
Considere um mercado individual de uma mercadoria específica z. Se pt(z) é o preço de
venda do produto z formado no mercado z e pt o nível geral de preços. Assim, a oferta do
produto z é uma função positiva de do diferencial de preços do mercado individual e do
mercado geral, [pt(z)–pt]. Porém, os agentes no mercado z não conhecem pt, então eles formam
13
uma expectativa sobre esta variável, [Ezpt], com base nas informações disponíveis para eles até
aquele momento, [ t–1], tal que:15
Ezpt = E(ptpt(z), t–1)
Ainda, Lucas mostrou que a percepção dos agentes produtores-vendedores seria igual, sob as
condições gerais de mercado, para uma média ponderada de pt(z) e Et-1pt, em que e (1-) são
os pesos, então:
Ezpt = pt(z) + (1-) Et–1pt
Combinando essas duas relações de comportamento, a oferta do produto z no período t
será:
yt(z) = _
y (z) + (1-)[pt (z) – Et-1 pt]
Em que _
y (z) é a oferta normal no mercado z e é uma constante positiva. Considerando a
equação no agregado, a soma desses rendimentos pode ser descrita como:
yt = _
y + (1-)[pt – Et–1 pt]
_
y denota a média da economia como um todo para o produto normal, já que pt é uma média
dos vários preços dos produtos individuais. Essa última equação é uma representação da teoria
da percepção monetária equivocada local (misperception) de oferta agregada de Lucas.16 Ainda,
com algumas manipulações matemáticas pode ser demonstrado que:
pt – Et–1pt = pt – Et–1pt
Substituindo na equação agregada do modelo, se obtém uma interpretação da relação de
Phillips:
(yt -_
y ) = (1-)[pt – Et–1pt]
Assim, esse modelo implica que o produto será alto quando a inflação atual for maior
do que seu valor esperado. Dado que na Lei de Okun, (yt–_
y ) será alto sempre que UNt for
baixo, o modelo é similar à relação Friedman–Phelps. Além disso, esse modelo combinado
com as funções do modelo IS e LM poderia compor um modelo que descreveria a conduta
15 McCallum (1989, p. 186). 16 McCallum. Op. cit.
14
dinâmica de produto, dos preços e da taxa de juros, permitindo a análise de choques advindo
sobre a demanda agregada, advindos de política monetária inesperada, em pt, ou de fatores
reais, como choques tecnológicos que aumentassem a capacidade produtiva, em _
y .
No entanto, tal mecanismo foi criticado pelo avanço das comunicações e porque alterar
quantidades é mais difícil do que alterar valores monetários. Assim, apesar de tais críticas se
tornarem menos importantes mais tarde, uma nova geração de modelos de ciclos de negócios
surgiu, a teoria dos ciclos reais dos negócios, atendendo as críticas de Lucas quanto à robustez
do modelo no que se refere ao tratamento do comportamento dos agentes econômicos,
inserindo as expectativas racionais em modelos de maximização, em que o equilíbrio do
sistema ocorre.
2.3.1. Modelos dos Ciclos Reais de Negócios
De acordo com esses modelos, a dinâmica dos ciclos dos negócios reflete a interação
entre os choques reais temporários e a produção intertemporal, enfatizando os choques de
oferta por meio de alterações na tecnologia. Os choques de demanda, menos importantes,
poderiam ser capturados por variações nas preferências dos agentes econômicos.17
De acordo com Barro (1992, p. 7), as principais características dos modelos de ciclos
econômicos reais são:
―Os modelos são de equilíbrio em estilo, apresentando mercados competitivos, ajustados
[cleared]; agentes otimizadores que são tipicamente modelados como famílias representativas
com horizontes infinitos; e funções de produção neoclássicas que são sujeitas a distúrbios
estocásticos.‖
Em decorrência da crítica de Lucas, a teoria macroeconômica novo-clássica propõe
então modelos internamente consistentes, aproximando a análise macroeconômica da análise
dinâmica dos modelos de crescimento econômico ao estilo dos modelos originados em Solow.
Seus modelos são fundamentados em três características principais: as decisões econômicas
reais dos agentes - e.g. consumo, investimento e poupança - são embasadas em fatores reais,
não nominais ou monetários (neutralidade da moeda); os agentes são, de acordo com o limite
17Em McCallum (1989, p. 42) encontramos a seguinte comparação: ―Claramente, choques reais poderiam em
princípio estar associados também às preferências dos indivíduos, mas de fato, a literatura tem enfatizado
disturbâncias tecnológicas.‖
15
de suas informações, otimizadores consistentes e bem sucedidos, eles estão continuamente em
equilíbrio; os agentes não cometem erros sistemáticos ao avaliar o ambiente econômico, eles
detêm expectativas racionais.18
Nessa abordagem os modelos de Kydland e Prescott (1982) e Long e Plosser (1983) se
colocam em destaque, liderando as discussões.
Kydland e Prescott (1982) desenvolveram e aplicaram um modelo de crescimento com
equilíbrio competitivo neoclássico para a economia dos Estados Unidos, com o intuito de
analisar os efeitos de choques tecnológicos nessa economia. O modelo incluiu a variável lazer
nas preferências individuais e os serviços do trabalho na função de produção. A proposta dos
autores era construir um modelo teórico em que choques de produtividade eram incluídos mas
com uma estrutura de decisões de investimento diferente dos modelos tradicionais, por um
lado, os quais exigiam que o preço sombra do capital existente fosse o mesmo que o preço do
bem de investimento. Porém, o preço sombra do investimento, obtido via dados do mercado de
capitais (stock market), varia consideravelmente com os ciclos econômicos, o que não condizia
com a tecnologia assumida nos modelos. Por outro lado, propunham uma alternativa aos
modelos de um bem único de capital de tecnologia com custo de ajustamento, em que o preço
do bem de investimento é qt. O problema do modelo de custo de reposição de capital implica
em uma curva q-investimento onde as elaticidades de oferta de curto e longo prazo seriam
iguais, sendo que se espera que as primeiras sejam menores.19
Assim, Kydland e Prescott (1982, p. 1348-9) enfatizam que o fato de tecnologia
requerer estágios múltiplos para a produção do capital não implica no problema de defasagem
de entrega (delivery lag) do bem de investimento, pois o tempo necessário para a produção de
fato do bem de capital é curto e a defasagem de entrega está relacionada com uma fila de espera
para a entrega.20 Por isso, os autores consideram que um único período é requerido para cada
estágio de construção do capital novo, e que o time-to-build o capital novo é constante.
18Hoover (1990). 19Os autores se referem à equação tradicional que descreve a acumulação de capital como:
k =I-k, sendo a taxa
de depreciação. Por outro lado, os modelos com custos de ajustamento são os modelos ao estilo do q de Tobin. 20 Nesse ponto, os autores contestam os modelos de ciclos econômicos com base na defasagem de tempo
necessária entre a decisão do investimento, a produção do bem de capital e a entrega do bem de capital, como de
Jorgenson (1965) apud Kydland e Prescott (1982), colocando que os modelos não eram consistentes o suficiente
para incorporar o comportamento necessário dos vendedores e compradores, nem para incluir assimetria de
informações ou linha de espera.
16
Além disso, o modelo teórico inclui um processo estocástico para a estrutura dos
choques tecnológicos (t), com componentes permanentes e transitórios, (1t,2t)
respectivamente, tal que:
t = 1t + 2t + _
Em que _
representa um parâmetro de produtividade. Ainda, os autores consideram os
choques tecnológicos contendo uma persistência alta:
1,t+1 = 1t + 1t
Em que =0,95 e 1t é o choque permanente. Moeda não faz parte da análise do modelo e todas
as equações de equilíbrio resultantes do problema de maximização do agente representativo
dependem apenas de variáveis reais, como: o capital (kt), relacionado à capacidade produtiva
nova, investimento líquido; as decisões sobre investimentos, ou novos projetos de
investimento, que seguem uma estrutura de formação de capital que inclui todo o processo
desde a concepção, fabricação do bem de capital, até a inserção do capital na produção (sjt,
j=1,..,J); o produto (yt), relacionado ao investimento bruto; a relação entre horas trabalhadas (nt)
e a taxa de substituição intertemporal de lazer (); e da estrutura dos choques tecnológicos,
permanentes e temporários, suas médias e variâncias.
Dessa forma, a metodologia de análise inclui a análise das estruturas de erros das
variáveis obtidas via simulações dos choques tecnógicos, com base nas autocorrelações e nas
co-variâncias das séries, indicando uma abordagem dos co-moviments, com a especificação de
leadings e lags. A aplicação do modelo teórico utilizou o recurso da calibragem com base em
estatíticas sobre o comportamento dos agregados da economia americana.
Os resultados mostraram, por meio dos exercícios de calibragem, que o modelo teórico
condizia com o observado na economia americana, porém não para todas as respostas das
variáveis. Além disso, como as variabilidades do produto dependiam da existência de uma alta
taxa de substituição intertemporal da variável lazer, os resultados mereciam cautela. Ademais,
se consideramos os resíduos da função de produção como choques tecnológicos, não é
surpreendente que as economias industrializadas apresentem flutuações cíclicas; sugerindo,
portanto, que os ciclos e suas flutuações são resultados dos choques tecnológicos.
17
Nelson e Plosser (1982) encontraram que a variância das inovações sobre o componente
tendência (não-estacionário) da série era grande e maior que a variância do componente
transitório (estacionário). Em face dos resultados acerca da transitoriedade das disturbâncias
monetárias sobre variáveis reais, os autores indicam, portanto, que disturbâncias reais (não
monetárias) são mais relevantes como fonte de flutuações do produto do que disturbâncias
advindas de choques monetários.
Long e Plosser (1983) constroem um modelo com vários setores, demonstrando como
os choques econômicos setoriais se propagam na economia como um todo, afetando o produto
agregado. As flutuações são colocadas como naturais de economias de mercado, não havendo
relação negativa com o bem-estar. Assim, a atuação de políticas econômicas com o intuito de
reduzir as flutuações seriam desnecessárias.
King e Plosser (1984) introduzem a moeda e o setor bancário na análise dos ciclos reais
dos negócios. Os serviços bancários são realizados para intermediar a produção de bens e
serviços cujas quantidades variam com o produto real da economia, ou seja, serviços de
transação são considerados como um insumo das indústrias.
Os autores analisam as relações entre moeda, produto e preços sem e com regulação na
atividade bancária. A conduta de política assumida inicialmente é que as autoridades
monetárias controlam o estoque de moeda. Porém, como resultado, depósitos, a variável que
representa os serviços de transação, são ―inside money‖.
A partir daí, em um ambiente sem regulação, se observa que os preços de equilíbrio são
determinados independentes da demanda nominal por depósitos, então uma variação na
quantidade ofertada de moeda seria neutra. Apesar dos desenvolvimentos teóricos, os mesmos
resultados ocorreriam com um sistema sob regulação bancária, com a diferença de que, se o
banco central controla o estoque de moeda de forma exógena, combinando controle sobre as
reservas e sobre os meios de pagamentos, o nível de preços de equilíbrio seria determinado pela
quantidade de moeda sob controle, porém, esta seria aproximadamente super-neutra. O modelo
teórico indica um comportamento contra-cíclico para os preços sob choques inesperados para a
produção real.
18
Ainda, os resultados demonstraram comportamento distinto entre as variáveis reais e
nominais, e que a maior parte da correlação entre a atividade econômica e moeda ocorreu com
―inside money‖.21
Tais modelos apresentam fundamentos microeconômicos bem formalizados, mas
receberam críticas importantes. Inicialmente, a literatura econômica chegou à conclusão de que
é mais provável que as variações tecnológicas ocorram gradualmente do que por meio de
choques. As variações no emprego, formadas por mudanças nas quantidades de horas que os
agentes desejam trabalhar, foram combatidas pela literatura empírica, pois este comportamento
requer que lazer seja altamente substituível ao longo do tempo e, no entanto, os resultados
empíricos apontam para uma elasticidade substituição intertemporal pequena entre trabalho e
lazer.22
Nesse contexto, a teoria novo-clássica dos ciclos reais dos negócios é mais pré-
keynesiana do que a análise econômica moderna monetarista. A teoria novo-clássica utiliza
suposições convencionais de como o mercado se equilibra, as quais podem ser justificadas
como implicações lógicas do comportamento de maximização individual.
Contudo, Mankiw (1990) resume como principal objetivo da teoria novo-clássica a
reconstrução da macroeconomia começando pelos primórdios microeconômicos de
preferências e tecnologias, e mantendo a premissa de que os indivíduos sempre otimizam e que
os mercados sempre se equilibram (clear).
2.3.3. Modelos de Ciclos de Mudanças Setorias
Uma terceira versão dos ciclos econômicos, menos explorada que a dos ciclos reais dos
negócios, é a das mudanças setoriais, que enfatizam os custos de ajustamento da mão-de-obra
entre os setores. Dentro deste contexto, quando os trabalhadores mudam de um setor para
outro, um período de desemprego faz-se necessário para a busca de novas oportunidades e
vagas. Porém, a evidência empírica tem mostrado que o mais comum é que haja uma queda nas
21Ademais, os autores discordam do ponto de vista daqueles que classificam a teoria dos ciclos reais como uma
visão particular do senso comum combinada a teorias monetárias existentes, que escolhem modelos preferíveis aos
―oucomes‖ desejados. Pois, tais críticas decorrem de teorias enquadradas na visão Keynesiana dos ciclos, inclusive
teorias anteriores, em que os ciclos dos negócios e os ciclos econômicos eram também explicados por causas reais,
como as variações no comportamento dos investimentos e o próprio processo de produção do capital, (King e
Plosser, 1984, p. 378).
19
mudanças de trabalhadores entre os setores durante as recessões e não um aumento da
rotatividade dos trabalhadores entre os setores.23
2.4. Os Modelos Novos-Keynesianos dos Ciclos de Negócios
De acordo com o segundo contexto teórico, o de base keynesiana, em geral, a hipótese é
que os preços apresentam algum grau de rigidez para baixo. No que se refere às expectativas,
ainda são consideradas as expectativas racionais, em especial, sob a hipótese que admite
informações incompletas, que apóiam a assimetria de informação relacionada à volatilidade dos
mercados.24
Segundo Mankiw (1990), o elo de ligação entre os estudiosos da teoria novo-keynesiana
é a “crença de que as flutuações econômicas não refletem a resposta Pareto-eficiente da
economia a mudanças nos gostos e tecnologias, mas, de outra forma, algum tipo de falhas de
mercado em grande escala.”25 As principais imperfeições de mercado são os ajustamentos
lentos dos salários e preços no curto prazo. Apresentar o fundamento microeconômico para
explicar tal lentidão foi então um dos desafios da teoria novo-keynesiana.
Dessa forma, podemos selecionar as seguintes características para a teoria novo-
keynesiana:26 a teoria não considera a dicotomia clássica, pois as flutuações em variáveis
nominais, como a oferta de moeda, influenciam flutuações em variáveis reais, como o produto
e o emprego; a teoria assume que as imperfeições reais de mercado são cruciais para entender
as flutuações econômicas. Tais imperfeições podem ser classificadas como: a) competição
imperfeita; b) informação imperfeita e assimétrica; c) rigidez dos preços relativos.
De uma forma crítica, Barro (1992, p.1) aponta que o modelo de base keynesiana,
existente no início da década de 70,
―enfatizou a falha das economias de empresa privada em garantir emprego e produção plenos, e
o conseqüente papel para as políticas macro ativas como instrumentos para melhorar os
resultados. Choques na demanda agregada - mas não na oferta agregada - eram a chave para as
flutuações econômicas, e meras mudanças no otimismo ou pessimismo revelaram ser auto-
realizáveis.‖
22Mankiw (1990). 23Mankiw. Op. cit. 24Assim, nesses novos modelos se aplica a hipótese fraca das expectativas racionais. 25Mankiw (1990, p. 1654).
20
Barro refere-se à formação exógena de expectativas consideradas nos modelos pós-
keynesianos que utilizam as expectativas no sentido de Keynes, de acordo com o caráter
intuitivo dos empresários em relação aos movimentos esperados por estes para o futuro da
economia.
Desde então, os modelos keynesianos destinados a explicar as flutuações econômicas
evoluiram consideravelmente, enfocando diferentes aspectos dos ciclos dos negócios. Assim,
nesse outro grupo de modelos podemos destacar modelos de rigidez de contratos, salariais ou
de preços, fundamentados ainda por rigidezes reais no mercado de trabalho e/ou na estrutura de
concorrência imperfeita.
2.4.1. Modelos de Ciclos dos Negócios com Rigidez de Contratos
Estes modelos são construídos sob o postulado das expectativas racionais que
formalizam rigidez temporária dos salários advinda dos contratos de salários nominais. Os
choques de oferta e demanda aqui classificados operam principalmente por meio de variações
na produtividade marginal do trabalho e de variações nas contas públicas (especialmente nos
gastos governamentais), respectivamente.
Podemos destacar os trabalhos pioneiros de Gray (1976) de salários indexados e Fischer
(1977) de contratos rígidos. A teoria dos salários rígidos de Fischer considera um modelo em
que os preços nominais são determinados por dois (ou mais) grupos e permanecem em efeito
por dois (ou mais) períodos. Os preços pré-determinados são os salários e apresentam o
seguinte raciocínio: enquanto os salários são determinados (por metade da força de trabalho) no
início de cada período (t) para permanecer nos dois períodos subseqüentes (t e t+1), seus
valores são tipicamente diferentes; o valor determinado para cada período é igual ao valor de
equilíbrio de mercado. Como, por hipótese, o produto (emprego) é determinado pelas firmas de
acordo com a regra de equilíbrio da firma, de que produto marginal do trabalho deve ser igual
ao salário real; se o produto marginal do trabalho cai conforme o emprego aumenta, então o
produto está negativamente relacionado a salário real. Assim, para cada grupo, o desvio do
produto real em relação ao produto de equilíbrio é uma função negativa do salário real.
Portanto, produto e emprego são funções crescentes das surpresas de preços. No que se refere à
26Mankiw e Romer et al. (1992).
21
relação de Phillips existente no modelo de Fischer, este se aproxima do modelo de Lucas, pois
atende à hipótese de taxa natural de desemprego.27
De acordo com Dias (2002a), Phelps e Taylor (1977) mostraram que a política
monetária pode estabilizar flutuações no produto e no emprego num modelo estocástico de
expectativas racionais. A inovação estava no comportamento das firmas que, considerando uma
lucratividade média, estabelecem seus preços antes do período de venda dos produtos.
Portanto, o modelo comporta rigidez de preços e salários com a pré-determinação de contratos.
Como resultado, os autores encontraram que a pré-determinação dos preços aumenta as
flutuações do produto em torno de seu nível normal de emprego.
Além disso, Taylor (1979, 1980) apresentou um modelo de contratos pré-determinados
de salários e, posteriormente de preços, ao estilo de Fischer (1977). A principal diferença é que
os salários ou preços determinados para vigorar em período posteriores não seriam,
necessariamente, diferentes nos períodos subseqüentes. Ainda, o salário a vigorar de forma
escalonada não foi especificado como o salário de equilíbrio.
O modelo de Taylor (1980) incorpora uma função de demanda agregada com uma
estrutura de choques correlacionados no tempo e uma curva de Phillips de determinação de
preços, tal que:
yt = 1yt-1 +2yt-2 +3(mt-pt) +4(mt-1-p
t-1) +5Et-1
t +6T +0 +t
t = t - 1t-1
Em que yt representa os gastos reais, medido através do desvio em relação a sua tendência no
tempo (trend); mt refere-se aos encaixes monetários durante o período t; pt é o nível geral de
preços no período t; t é a taxa de inflação no período t (pt+1
-pt); T é a variável trend para o
período respectivo; t representa choques randômicos que possam ocorrer no produto; e, t-1
captura choques randômicos sobre a inflação no período t-1.28
t = t-1
+ 1Et-1yt + 0 + t
t =
t - 2
t-1
Em que t é a estrutura estocástica dos choques randômicos sobre a inflação e
t representa
qualquer choque aleatório sobre a inflação advindo de variações na moeda. A variável yt é o
27McCallum (1989, p. 191). 28Todas as variáveis são consideradas em termos de logaritmos (log).
22
logaritmo da taxa de emprego, o log do produto real atual menos o log do produto real
potencial. Dessa forma, o sinal esperado de 1 é positivo, pois quando a taxa de emprego
aumenta, o preço também aumenta, dada uma estrutura de markup dos preços. Se o produto
atual for menor que o produto potencial, então yt representa a taxa de desemprego, que é
negativa, e a variável terá efeito negativo sobre a inflação. Assim, a equação dos preços de
Taylor implica uma Curva de Phillips perfeitamente aceleracionista, em que, se o produto real
t irá acelerar. Incorporando a
taxa natural de desemprego no modelo para desenvolver uma regra de política ótima, a curva
de Phillips de Taylor mostra uma relação de segunda-ordem no longo prazo, sobre a variância
da inflação e a variância do produto em torno do potencial, ou o desvio dessas variáveis em
relação as suas respectivas médias.
Os resultados dos modelos de contratos de trabalho pré-determinados mostraram
implicações importantes para políticas macroeconômicas, que foram contrárias aos resultados
de Sargent e Wallace (1975) de que a moeda é neutra. Pois, a hipótese de salários nominais
rígidos proporcionava às autoridades monetárias controle sobre os salários reais, via preços, e
portanto, sobre o emprego. Por outro lado, as teorias de ciclos econômicos de abordagem novo-
clássica, mostravam que apenas movimentos não esperados da moeda eram causadores de
flutuações. Sargent e Wallace (1975) afirmava que política monetária sistemática é irrelevante
para a trajetória do produto e emprego.
Alguns anos mais tarde, foi demonstrado que as expectativas racionais por si só não
torna a política econômica irrelevante, pois é possível construir modelos com expectativas
racionais, segundo os quais política monetária é capaz de estabilizar a economia, e pode
portanto, afetar produto e emprego, em especial, no curto prazo. Além disso, em modelos com
contratos rígidos, os efeitos da surpresa monetária perdurariam durante o período de vigência
dos contratos, e não apenas imediatamente após a surpresa, e a persistência da política
dependeria do grau de rigidez existente no sistema. Ainda, nos modelos de expectativas
racionais, em que os preços são tratados em multi-períodos, o processo de revisão de
expectativas depende não apenas das surpresas monetárias, mas também dos parâmetros da
conduta de política. Assim, o desvio do produto em relação ao seu nível normal médio é
afetado pela surpresa monetária e pelos parâmetros da conduta de política. No entanto, se não
23
houver choques mas houver mudanças estruturais nos parâmetros da política monetária, por
exemplo, haveria efeitos sobre o desvio do produto em relação ao seu nível normal. Porém, a
Crítica de Lucas destaca que o modelo estrutural deve ser preservado, de tal forma que, sua
construção não esteja sujeita a alterações de parâmetros, que indicassem quebras estruturais,
caso este em que não seria possível tratar análises de estática comparativa.29
Entretanto, as críticas principais para as teorias de contratos pré-determinados podem
ser resumidas como as seguintes: estudos exploravam outras formas de relacionamento entre
firmas e trabalhadores, como os de partilha de riscos (risk-sharing); nas relações de longo
prazo, outros modelos mostraram que o salário pago não teria que ser igual ao produto
marginal do trabalho em todos os períodos, os mercados spot; os movimentos cíclicos do
salário real não são consistentes em modelos com contratos pré-determinados.30
Além disso, enfatiza Barro (1992, p. 11) que
―Basicamente, a introdução de uma capacidade de realizar contratos de longo prazo tende a
fazer os mercados privados funcionar mais eficientemente, ao invés de menos eficientemente
como no modelo keynesiano. Se o problema básico das flutuações econômicas é uma
incapacidade dos agentes em coordenar decisões, então seria de fato surpreendente se esse
problema se originasse da capacidade de se fazer contratos.‖
Tal interpretação de Barro refere-se às suposições dos novos-keynesianos sobre falhas de
coordenação conjunta nos mercados serem suficientes para criar flutuações cíclicas.
2.4.2. Modelos de Ciclos dos Negócios com Rigidez de Preços
Esses modelos, sob o postulado das expectativas racionais, enfatizam a rigidez dos
preços das mercadorias, advinda do comportamento das firmas que não alteram os preços por
um determinado período de tempo para economizar custos, acomodando variações da demanda
agregada e relativa através de variações na produção e estoques. Desta forma, choques
monetários têm efeitos reais. No entanto, como os ajustamentos de preços são incorporados nas
antecipações que as firmas projetam com relação à política monetária, as conseqüências sobre
29O que deveria variar com a dinâmica da política econômica seriam os desvios do produto no tempo em relação a
sua tendência e não o comportamento da relação oferta agregada e demanda agregada, por exemplo, McCallum
(1989, p. 211-15, p. 225-30). 30Mankiw (1990, p. 1656-7).
24
as variáveis reais de movimentos antecipados na moeda são menores que os movimentos não
antecipados da moeda, podendo, o primeiro, ser neutralizado. Os principais modelos deste
subgrupo são McCallum (1980), Rotemberg (1982), Mankiw (1985) e Blanchard e Kiyotaki
(1987).
De acordo com Mankiw (1990), os custos de menu têm duas definições: a literal,
segunda a qual os custos de menu são os custos requeridos para enviar novas listas de preços; a
realista, onde os custos de menu incluem o tempo requerido para se informar os clientes, o
afastamento de clientes por causa de mudanças de preços, e o esforço requerido para se
considerar uma mudança de preços. A partir dessa análise, as ponderações de teoria de jogos
que ocorrem na prática de concorrência imperfeita e do comportamento rival entre as firmas,
podem ser adicionadas como custos envolvendo o ajustamento de preços.
Dentro do contexto da estrutura de concorrência imperfeita, os modelos evitam alguns
problemas que ocorrem com outros instrumentos de análise. Com a firma sob concorrência
monopolística, é possível explicar com fundamentação microeconômica rigorosa porque as
firmas que determinam preços falham em reestabelecer equilíbrio; e observar a função da
rigidez de preços em alocar recursos. Ainda, estes modelos com custos de menu não implicam
em salários reais contra-cíclicos.
Blanchard e Kiyotaki (1987, p. 650) discutem o papel da estrutura de concorrência
monopolística para entender os efeitos da demanda agregada sobre a atividade econômica.
Consideram equilíbrio como sendo uma relação entre os encaixes reais e demanda agregada,
um par de funções de demanda por bens e por trabalho e um par de regras de preços e salários.
A regra de preços descreve a determinação do preço relativo (real) do bem produzido pela
firma monopolista, enquanto a regra de salários indica o comportamento dos agentes em
maximizar o excedente por ofertar trabalho.
25
Além disso, Blanchard e Kiyotaki (1987, p. 654) mostram que o fato de existir
externalidades da demanda agregada31 no mercado de bens com concorrência monopolística
implica em quantidade produzida menor, portanto, gera ineficiências, porém não implica que
movimentos na demanda agregada afetam a produção. Para que movimentos na demanda
agregada atinjam produção e bem-estar, é necessário que a estrutura de concorrência
monopolística seja associada a outras rigidezes, como os custos de menu. Dessa forma, se as
autoridades monetárias são capazes de alterar a quantidade ofertada de moeda, podem afetar,
com preços e salários que não se ajustam, a quantidade real de moeda, que por sua vez,
interfere na quantidade demandada de bens, atingindo produto e bem-estar econômico. Assim,
na presença de custos fixos, aumentos na oferta monetária provocam variações no produto, na
produtividade e na profitabilidade na mesma direção.32
Dessa forma, tanto Mankiw (1985) quanto Blanchard e Kiyotaki (1987) apresentam
modelos com estruturas de mercado sob o regime de concorrência monopolística com rigidez
de preços advindos de custos de menu, analisando o efeito de choques nominais. Como esses
modelos não eram dinâmicos, a distinção entre políticas que utilizam variáveis nominais
antecipadas e não-antecipadas não foram exploradas. No entanto, é esperado que os resultados
sejam diferentes do modelo de McCallum (1982), no qual existem efetivamente custos zero de
mudanças de preços entre períodos e custos infinitos de mudanças de preços dentro do período,
ou durante a vigência do contrato. Nesse último modelo, como em Mankiw (1985), choques
nominais, antecipados ou não, tenderiam a ser neutralizados. Porém, variações pequenas e
antecipadas na moeda poderiam não ser neutralizadas se os custos de menu fossem
suficientemente proibitivos.
31Blanchard e Kiyotaki (1987, p. 653), considerando a existência de equilíbrio em mercado de concorrência
monopolística, uma queda no preço da firma ―levaria a uma pequena queda no nível de preços e, portanto, um
pequeno aumento na demanda agregada. Enquanto as outras firmas e famílias se beneficiariam pelo aumento da
demanda agregada, a firma original não conseguiria capturar todos os benefícios e, portanto, não teria incentivo
algum para diminuir seus preços.‖ 32Blanchard e Kiyotaki. Op. cit. p. 663.
26
Ball e Romer (1990) argumentam que, nesse caso, a rigidez nominal se torna um
equilíbrio se o agente ao resistir à mudança de preço se encontra em uma posição em que o
custo privado (PC)33 da rigidez nominal for menor que o custo de menu decorrente do
ajustamento de preços.
Conforme Mankiw (1990, p. 1658), Ball e Romer (1990) mostram que as rigidezes
nominais causadas por custos de menu são ampliadas com as rigidezes reais, como, por
exemplo, os salários de eficiência. De acordo com este conceito, desenvolvido por Yellen
(1984)34, as firmas não reduzem salários em época de desemprego para evitar quedas de
produtividade. Se os salários resistem a quedas, os custos das firmas se mantém altos e as
firmas ficam inabilitadas de reduzir preços.
Desse modo, os modelos novos-keynesianos para assegurar que choques à demanda
agregada causem flutuações requerem que os custos do trabalho não caiam tanto quanto
cairiam se o mercado de trabalho estivesse sob condição de concorrência. Ball e Romer (1990)
apresentam um modelo básico que replica as condições de Akerlof e Yellen (1985), de
pequenos desvios da otimização completa (near rationality), e Mankiw (1985), de pequenos
custos de mudanças em preços (menu costs), para demonstrar que as rigidezes reais apenas se
manteriam diante de valores implausíveis dos parâmetros, entre eles que a oferta de trabalho
deveria ser altamente elástica.
Dessa forma, Ball e Romer (1990) desenvolvem um modelo com uma imperfeição
adicional ao custo de menu e à concorrência imperfeita, uma imobilidade no fator trabalho. Os
autores incluem uma demanda assimétrica para as firmas com inclinação alta, resultante da
concorrência imperfeita, mas que não é necessariamente quebrada como em Stiglitz (1979) e
Woglom (1982) apud Ball e Romer (1990). Então, o modelo básico é modificado de forma que:
cada bem é produzido por vários produtores, ao invés de um; cada produtor vende para um
33O custo privado de rigidez nominal é a perda que o agente produtor-vendedor incorre por não manter seu preço
relativo igual ao nível de sua maximização de utilidade. 34Ball e Romer (1990) apontam que a teoria dos salários de eficiência estava presente nos trabalhos de Solow
(1979), Shapiro e Stiglitz (1984) e Bulow e Summers (1986).
27
grupo de consumidores, ao invés de para todos; e há heterogeneidade nos gostos, tal que uma
proporção dos clientes do produtor-vendedor se comportam de acordo com o preço deste
produtor. A assimetria da demanda implica que os consumidores reagem diferente para
aumentos e quedas no preço de seu vendedor. O número de clientes que passam a comprar seu
produto e o número de clientes que deixam de comprar seu produto quando ocorre ajustamento
de preços pela firma não é simétrico. Assim, um aumento de preços afugenta clientes, mas uma
queda não necessariamente atrai novos consumidores pois os clientes de outros vendedores não
acompanham o preço dessa firma. Portanto, diferente dos modelos anteriores é que se a firma
ajusta preços, na ocorrência de uma choque negativo de demanda, causa perda de clientes.
A rigidez real no mercado de trabalho é incluída por meio da hipótese dos salários de
eficiência. Sob essa hipótese, os salários reais dependem não dependem da oferta de trabalho.
Então, os salários não se ajustam instantaneamente aos choques de demanda agregada. Ainda,
não há consenso sobre o comportamento acíclico dos salários reais, mas se concorda que o
salário real sob a hipótese de salários de eficiência é menos procíclico que no caso de
concorrência perfeita no mercado de trabalho.
Assim, os autores demonstram que um modelo em que os preços dos bens são rígidos,
os salários são flexíveis e imperfeições reais no mercado de trabalho, pequenos custos de menu
são capazes de criar grandes flutuações, na ocorrência de choques da demanda agregada
advindos de variações no agregado monetário.
No entanto, os trabalhos de Dias (1997, 2002b) desenvolvem um modelo
macroeconômico que incorpora características novo-clássica e novo-keynesiana, com o intuito
de possibilitar a análise das flutuações cíclicas nos agregados econômicos. O fundamento
microeconômico da estrutura de mercado é a concorrência monopolística, como em Blanchard
e Kiyotaki (1987), que tornou possível capturar tanto efeitos de choques reais, como os
tecnológicos, quanto choques nominais, como de surpresas monetárias. Pois, considerando a
hipótese de livre entrada, o equilíbrio do modelo no longo prazo se aproxima da concorrência
28
perfeita, o qual é derivado através do estado estável. Dessa forma, os movimentos de curto e
médio prazo com os de longo prazo podem ser distinguidos.
A formulação do modelo implica que os consumidores consideram os custos advindos
do tempo gasto nas transações, como o shopping-time cost de Bordo e Evans (1991), em que
moeda não é neutra; e que os produtores observam o preço relativo entre seus preços
individuais e o nível geral de preços em suas decisões de preço e produção. Ainda, os
resultados do modelo teórico sugerem que o consumo no estado estável depende positivamente
do salário real, negativamente dos custos referentes ao tempo gasto com transações e
positivamente dos encaixes reais; e a demanda por moeda depende positivamente do nível geral
de preços ocorrido no estado estável, do volume de transações e do salário nominal. Assim,
avanços nos custos de transações podem ampliar o consumo agregado, assim como ganhos no
poder de compra da moeda são capazes de aumentar o consumo.
Portanto, os modelos novos-keynesianos e novos-clássicos de ciclos dos negócios
apresentados nas décadas de 80 e 90 acabaram por utilizar os mesmos instrumentos para a
formalização dos modelos e a análise das flutuações econômicas, fatos que unem as duas
correntes numa interpretação conhecida como mainstream, porém enfatizam causas
predominantes diferentes para os ciclos dos negócios. Os novos-clássicos indicam os choques
tecnológicos como principal causa dos ciclos, apesar de reconhecer outras fontes de flutuações.
Os novos-keynesianos não negam que choques de produtividade possam causar ciclos de
negócios, mas apresentam fundamentação teórica que demonstra que choques nominais podem
desviar as séries de suas trajetórias de longo prazo. Os resultados teóricos dos modelos dos
novos-clássicos e novos-keynesianos para o comportamento cíclico dos agregados estão
resumidos no Quadro 1. Como se pode observar as divergências quanto aos efeitos finais dos
choque reais são poucas.
29
Quadro 1: Comparação Teóricas das Causas de Choques Reais
Abordagens
Abordagem
Novo-Keynesiana
Abordagem
Novo-Clássica
Choques
Variáveis
Choque de
Demanda
(aumento dos
gastos gov.)
Choque de
Oferta
(aumento da
PMg. do trab.)
Choque de
Demanda
(variação dos gastos,
mudança nas prefer.)
Choque de
Oferta
(melhoria na
tecnologia)
Produto (y) procíclico procíclico procíclico procíclico
Emprego (n) procíclico procíclico procíclico procíclico
Taxa de Juros (r) procíclica contra-cíclica procíclica contra-cíclica
Preços (p) procíclico contra-cíclico procíclico contra-cíclico
Salários Reais (w/p) contra-cíclico procíclico procíclico procíclico
Nota: Considerando inflação estável e moeda sob controle das autoridades monetárias. Elaboração nossa.
Ademais, em face da proximidade do método utilizado pelas teorias novo-clássicas e
novo-keynesianas, vem se delineando uma proposta de análise, dentro da abordagem
mainstream, chamada de ―Novo Consenso Macroeconômico‖. Um modelo representante desta
interpretação está em Ireland (2001). O trabalho investiga o papel do agregado monetário, em
especial, dos encaixes reais. A estrutura do modelo teórico segue o problema de maximização
do agente representativo consumidor-produtor, do qual se extrai uma curva IS, uma relação
demanda por moeda, em que descreve o comportamento do agente referente às variações na
moeda, e uma curva de Phillips forward-looking. Além disso, o modelo inclui uma regra de
política monetária para a taxa de juros. Então, o modelo é aplicado para a economia dos
Estados Unidos para o período de 1980 a 1999, utilizando o método de máxima
verossimilhança, e analisando as funções de correlações resultantes do VAR. Os resultados
mostraram que, o ajustamento dos movimentos dos encaixes reais a movimentos na demanda
por moeda deve ser realizado, e mesmo que se considere uma conduta de controle do agregado
monetário, choques monetários que alterem os encaixes reais são capazes de atingir os
movimentos do produto e inflação se e apenas se os encaixes reais são incluídos na forma
correta da curva de Phillips forward-looking.
30
III. Métodos de Análise das Teorias dos Ciclos e das Flutuações Econômicas
Como apontado anteriormente, os ciclos podem ser observados nos agregados
econômicos por meio da análise empírica das séries temporais. As séries temporais
representam uma sequência de informações para cada variável, que são coletadas em intervalos
iguais (anual, trimestral, mensal, semanal, diária) por um período de tempo determinado. Para
análise dos ciclos dos negócios, as séries são coletadas em periodicidade trimestral, e
apresentam quatro componentes básicos: a tendência, o ciclo, a sazonalidade e o elemento
aleatório. Então, as séries de tempo podem ser representadas da seguinte forma:
Yt = St+ T + CLt+ ERt
Em que: Y é a série temporal econômica, S representa o componente sazonal, T é a tendência
(trend), CL representa o componente cíclico, e ER é o erro aleatório existente na série.
3.1. A Contribuição dos Modelos
No que se refere aos métodos de análise dos ciclos econômicos, podemos citar o
conhecido trabalho de Lucas (1980, p. 696), no qual destaca que a teoria econômica utiliza a
modelagem para satisfazer uma de suas funções, qual seja: “providenciar sistemas econômicos
artificiais completamente articulados que possam servir como laboratórios nos quais políticas
que são proibitivamente caras para se experimentar na economia real possam ser testadas
com custos baixos.”35 De qualquer forma, como aponta o autor, os modelos são construções
artificiais, abstratas e irreais. No entanto, os modelos diferem em qualidade e, como enfatiza
Lucas, os quais oferecem melhores imitações.
De acordo com Lucas (1980, p. 697), os desenvolvimentos mais importantes em teoria
dos ciclos dos negócios se devem a três fatores principais: melhoramentos nos métodos
matemáticos e computacionais; às questões e os fenômenos que desejamos entender ou
explicar; e às atividades dos economistas que se especializaram neste campo de estudo,
combinando suas experiências técnicas com seus conhecimentos científicos.
35Tradução nossa.
31
Nesse contexto, Lucas (1980, p. 698) apresenta uma revisão histórica das teorias de
ciclos. Destaca Mitchell (1913), o qual inicialmente mostrou que os ciclos de épocas de paz
eram muito similares, desde que ajustadas as diferenças em duração.
Corroborando a essa interpretação, Lucas (1977, p. 217) resume os principais resultados
de trabalhos que classificam os ciclos dos negócios como regularidades observadas nos co-
moviments entre diferentes séries agregadas econômicas, considerando as economias de
mercado descentralizadas durante os 25 anos que se seguiram à II Guerra Mundial:
(i) Movimentos da produção ao longo dos setores, definidos de forma geral, ocorrem de maneira
conjunta. (Na terminologia de Mitchell, eles exibem conformidade alta; na linguagem moderna
de séries temporais, eles têm coerência alta.) (ii) A produção de bens de consumo ou insumos
duráveis apresentam amplitude bem maior do que dos bens não-duráveis. (iii) Produção e preços
de produtos agrícolas e recursos naturais demonstram conformidade menor que a média. (iv)
Lucros empresariais mostram conformidade alta e amplitude muito maior que a maioria das
séries. (v) Preços são geralmente procíclicos. (vi) Taxas de juros de curto prazo são procíclicas.
(vii) Agregados monetários e medidas de velocidade são procíclicas.36
Além disso, Lucas (1980) destaca que Keynes colocou adequadamente que os debates
de então sobre flutuações que se pautassem no comportamento da velocidade não eram
produtivos, referindo-se à tentativa de alguns autores da época de explicar os ciclos com base
na equação da teoria quantitativa da moeda. Keynes enfatizou, em sua obra científica da Teoria
Geral, em 1936, o papel da demanda efetiva na produção e emprego. As flutuações econômicas
estariam em grande parte associadas às variações no investimento, advindas principalmente do
caráter intuitivo dos empresários quanto às variações no comportamneto de suas expectativas
sobre ganhos futuros na economia, tema pioneiro na época. Assim, Keynes favorecia análises
embasadas na composição dos gastos durante os ciclos, em cujo ponto Lucas acredita que
Keynes se reconcilia com a visão teórico-quantitativa de variações de longo prazo, quando os
gastos se estabilizariam. De acordo com Lucas, a visão de Keynes sobre os ciclos econômicos
se resumia em eventos recorrentes de prosperidades e crises. Pois, o modelo apresentado na
Teoria Geral se limitou a examinar o nível de produto e emprego em um ponto no tempo, e
não permitia a análise dinâmica do curto prazo, existente no Tratado sobre a Moeda (1930) de
Keynes, no qual o entendimento sobre as flutuações das séries temporais poderiam ter evoluído
substancialmente. Em seguida, a propagação da teoria keynesiana foi beneficiada pela evolução
dos modelos e suas aplicações via métodos estatíticos, no período pós-guerra.
32
Ainda, a ciência econômica como um todo foi beneficiada pela modelagem e pelo
avanço da econometria. Os precursores dessa abordagem são, principalmente, Slutsky (1937) e
Tinbergen (1939) apud Lucas (1980), nos quais a economia é descrita como um sistema de
equações diferenciáveis com distubâncias estocásticas, entendendo a teoria dos ciclos dos
negócios como a ‗imitação‘ de uma economia plenamente articulada; mais tarde aprimorada
pelos estudos de Samuelson, Foundations of Economic Analysis, de equilíbrio geral estático
compatível com alocações de recursos num sistema Pareto-ótimo. O modelo estático promove
uma previsão de como a economia se comportaria na ausência de choques. No entanto, Lucas
acredita que Samuelson propôs, de fato, um modelo dinâmico de ajustamento de preços, no
qual as taxas de variação dos preços ocorridas em mercados individuais estavam relacionadas
ao nível de excesso de demanda em todos os mercados.
De toda forma, a análise do equilíbrio geral, estática ou não, permitiu incorporar uma
variedade de comportamentos compatíveis com os ciclos dos negócios. De acordo com Lucas
(1980), o problema era que, por considerar flutuações como comportamento de desequilíbrio,
apenas análises de bem-estar sobre o comportamento médio do sistema poderiam ser realizadas
e não fluctuações em relação a essa média.37 No entanto, como proposto por Tobin (1977) apud
Lucas (1980), o modelo permitia utilizar instrumentos de política econômica para aproximar a
trajetória atual do sistema àquela de equilíbrio. Assim, para a síntese neoclássica, em que ciclos
dos negócios são entendidos como falhas de mercado, qualquer política econômica capaz de
mover o sistema em direção ao equilíbrio deveria ser implementada.
Essa análise de equilíbrio geral da síntese neoclássica iniciou com o trabalho de Hicks
(1939)38. Apesar de suas contribuições sobre o papel da moeda no sistema econômico, seu
trabalho sobre ciclos econômicos estabelecia que as flutuações macroeconômicas eram
procedentes de fenômenos reais. Em 1950, Hicks interpretou o problema de instabilidade das
taxas de crescimento econômico de Harrod (1949) como o comportamento cíclico do
mecanismo multiplicador-acelerador.
36Tradução nossa. 37Tradução nossa. 38Hicks (1939) introduziu a decomposição de Slutsky da demanda, especificando os princípios de economia sobre
efeito-substituição e efeito-renda, bens substitutos e complementares, derivação das curvas de demanda com o uso
das curvas de indiferença e restrições orçamentárias, além das equações sobre taxas marginais de substituição e
preços relativos.
33
Por outro lado, Lucas (1980, p. 706) destaca as expectativas nos modelos
macroeconômicos, então expõe que Hicks não atribuiu devida atenção para a incerteza e o
papel das expectativas nas decisões dos agentes pois,
―Hicks acreditava que a presença da incerteza [quanto às expectativas de preços futuros] em
situações reais originou um modelo realçando contratos futuros que era inaplicável na maior
parte das situações dinâmicas de interesse real, e então colocou a maior parte de sua ênfase
numa discussão sobre uma sequência de equilíbrios ‗spot‘.‖39
Nesse contexto, equilíbrio geral no longo prazo é entendido como um sucessão de equilíbrios
de curto prazo interligados.
No entanto, a incerteza nos sistemas econômicos foi incluída com os trabalhos de
Arrow (1964) e de Debreu (1959), os quais incorporaram a incerteza na teoria estática de
equilíbrio geral, proposta em Hicks, que indexou as mercadorias pela data em que elas são
trocadas, acrescentando nessa teoria uma sequência intertemporal de bens de consumo e de
investimento e o “estado da natureza” (estocasticamente selecionada) em que a troca ocorre,
dentro de um horizonte de programação para os agentes.40
―De acordo com o equilíbrio temporário, os agentes formam ex ante expectativas sobre preços
em mercados ‗spot‘ futuros e tomam decisão do tipo mercado do produto-mercado de ativos
seqüencial, decidindo quais bens consumir e produzir agora e quantos ativos financeiros
comprar ou vender de forma a assegurar poder de compra para ou do futuro em antecipação à
compra de uma determinada cesta de bens posteriormente‖ (SCEPA, 2008).
Uma primeira interpretação ficou conhecida como contingent-claim. Este tipo de
sistema de equilíbrio implica preços determinados previamente, para o ajustamento de um
único e grande mercado futuro. Neste sistema, os indivíduos têm acesso às probabilidades das
39Tradução nossa. O mercado spot é aquele em que bens (mercadorias ou propriedades) são vendidos com
pagamento à vista em moeda e entregues imediatamente ao vencimento do contrato, que pode operar desde que
haja estrutura para conduzir a transação. Assim, podemos chamá-lo de mercado de troca imediata, cujos contratos
de compra e venda têm efeitos imediatos. Dentro do contexto de economia seqüencial, sucessivos mercados spot
de bens são interligados por meio do mercado de ativos. Mais tarde se entendeu com Arrow e Debreu que existe
―...uma sequência de equilíbrios „temporários‟ de mercado „spot‟ com expectativas sendo contrariadas ou
realizadas em cada „semana‟ sucessiva” SCEPA (2008). 40 ―A state-contingent commodity is a contract that promises to deliver to the holder of that contract a particular
commodity when a particular state occurs at a particular time (and delivers nothing at any other state and/or
time). Thus, a "commodity" in the Arrow-Debreu world is a good which is described by its physical properties, its
location in time, and the state of the world in which it is delivered, e.g. „eggs delivered on June 2, 2001 if it is
sunny‟.” “…is a sequence of spot-market "temporary" equilibria with expectations being contradicted or fulfilled
in every successive week” SCEPA (2008).
34
ocorrências futuras, com preços e quantidades sempre em equilíbrio, então os agentes detêm
previsão perfeita.
Numa segunda interpretação, atendida mais tarde pela sistematização de Muth (1961)
que ficou conhecida como as expectativas racionais, requeria um princípio que reconciliasse as
distribuições de preços resultantes do mercado de equilíbrio com as distribuições usadas pelos
agentes para formar suas próprias visões sobre o futuro.
Uma crítica feita sobre a primeira interpretação, contingent-claim do mercado de
equilíbrio de Arrow e Debreu, é que esta toma toda informação como sendo simultaneamente e
livremente disponível para todos os agentes envolvidos na troca. Assim, não existe custo para
se obter informações, informação imperfeita ou assimétrica nas trocas. Ponto este, informação
imperfeita, de destaque na teoria dos ciclos de Robert Lucas.
Até o início da década de setenta, havia um relativo consenso entre os estudiosos da
macroeconomia. Porém, as altas taxas de inflação e desemprego dos anos setenta e a distância
entre os postulados teóricos e a aplicação prática da macroeconomia mostraram falhas que
trouxeram a quebra do consenso intelectual.41 A crítica de Lucas (1976) se apresentou então em
momento propício, mostrando que a forma pela qual os economistas conduziam a teoria e as
aplicações econométricas da macroeconomia estava equivocada, pois não considerava a correta
racionalidade dos agentes econômicos em formar suas expectativas.
De acordo com Lucas (1976), as decisões que determinam a maior parte das variáveis
macroeconômicas, por exemplo, sobre consumo e investimento, depende crucialmente das
expectativas que os agentes fazem a respeito do futuro da economia, e uma vez que as políticas
econômicas são aplicadas, tais expectativas podem mudar. Portanto, o comportamento do
agente racional deve ser considerado e quantificado nos modelos macroeconômicos, utilizando-
se as expectativas racionais.
Em seguinda, os modelos dos novos-clássicos dos ciclos reais dos negócios se colocam
com robustez em sua formalização, contribuindo para aprimorar os fundamentos
microeconômicos dos modelos macro com o intuito de propiciar o complemento entre os
modelos de crescimento econômico e de ciclos, de forma teórica e empírica. Mankiw (1990)
resume como principal objetivo da teoria novo-clássica a reconstrução da macroeconomia
41Mankiw (1990, p. 1647).
35
começando pelos primórdios microeconômicos de preferências e tecnologias, e mantendo a
premissa de que os indivíduos sempre otimizam e que os mercados sempre se equilibram
(clear).
Assim, essa geração de modelos vieram mais tarde demonstrar, corroborados com o
avanço da econometria, que as flutuações de caráter cíclico existem e são diferentes conforme a
época, distinto do que encontrara Mitchell anteriormente. Por exemplo, Kydland e Prescott
(1982), Prescott (1986), Cooley e Hansen (1989) Christiano e Eichenbaum (1991) encontraram
que no período pós-guerra, a partir de 1954, os ciclos dos negócios foram predominantemente
causados por choques advindos da oferta, como variações na tecnologia. Kydland e Prescott
(1990) mostram que o nível de preços apresentou comportamento contra-cíclico e a
produtividade do trabalho procíclico no período posterior à II Guerra Mundial. Por outro lado,
Evans e Bordo (1991) demonstraram que no período entre guerras, os ciclos dos negócios
foram marcados por choques advindos da demanda por moeda, com variações acentuadas nos
custos de transação. Os resultados encontrados eram contrários aos de Kydland e Prescott
(1990). Além disso, em Bordo, Erceg e Evans (2000), outro canal de transmissão da política
monetária restritiva, anterior à Grande Depressão, foi incluído por meio da hipótese de salários
nominais rígidos e de política não antecipada. Os resultados corroboram com os achados
anteriormente, atribuindo a queda na atividade econômica dos anos 30 à restrição monetária,
forçada pelo regime do padrão ouro, induzindo a queda de preços e aumento dos salários reais.
Assim, a rigidez dos salários nominais pioraram a crise.
O desenvolvimento rápido da econometria propiciou uma revisão de vários resultados e
acertativas na teoria econômica a respeito dos ciclos dos negócios, que é apresentado de
maneira resumida a seguir.
3.2. Avanços Empíricos
A análise quantitativa dos ciclos dos negócios vem desenvolvendo técnicas
matemáticas e econométricas para separar os componentes das séries, identificando o cíclico,
para classificar os pontos de inflexão entre picos e fundos, aplicações de modelos de
movimentos comuns e de simulações dos choques.
36
Lucas (1980, p. 709) sugeriu que o desafio para os modelos de então e estudiosos dos
ciclos econômicos seria:
―escrever um programa de FORTRAN que aceitará regras específicas de política como ‗input‘ e
gerará como ‗output‘ estatísticas descrevendo as características operacionais de séries de tempo
que nos interessa, as quais são previstas como resultado destas políticas.‖
Foi exatamente esse o caminho seguido pelas teorias apresentadas posteriormente, buscando
uma modelagem matemática do comportamento cíclico dos agregados econômicos, que
pudesse ser testada pelos métodos econométricos. Apresentamos a seguir os objetivos de
alguns dos métodos da análise do ciclo de negócios.
3.2.1. Métodos de Suavização das Séries
Para a análise dos ciclos de negócios precede a dentificação do componente cíclico das
séries econômicas. Desde Burns e Mitchell (1946), que apresentaram resultados sobre a
medição e classificação dos ciclos dos negócios, utilizando a técnica de média móvel, a análise
empírica dos ciclos recebeu substancial avanço.
Provavelmente, o método de suavização de tendências (trend) para identificar o
componente cíclico das séries mais utilizado nas análises empíricas é o Filtro Hodrick-Prescott
(1980). Desde então, os ciclos dos negócios têm sido entendidos como desvios com relação à
tendência em uma série temporal econômica, considerando que estas tendências podem mudar
no tempo.
No entanto, diante da investigação de uma relação entre crescimento econômico e
ciclos, tanto Hodrick e Prescott (1980) como Nelson e Plosser (1982) indicaram que as séries
de interesse à análise dos ciclos de negócios, tratados como os desvios de tendências das séries,
podem apresentar diferentes comportamentos de tendência, em especial, determinísticas ou
estocásticas.
Hamilton (1989) advertiu sobre a natureza de tendências ao longo do tempo,
desenvolvendo um filtro não linear iterativo que tem por base um algoritmo que identifica
mudanças de regimes, de um estado de taxa de crescimento positiva para um estado de taxa de
crescimento negativa das séries. Tais mudanças descrevem as flutuações dos ciclos
econômicos.
37
Por outro lado, Harvey e Jaeger (1993) construíram modelos estruturais de séries de
tempo para isolar a componente cíclica. Harvey e Jaeger (1993, p. 231) indicou cautela na
aplicação de filtros, enfatizando que ―mechanical detrending based on the Hodrick-Prescott
filter can lead investigators to report spurious cyclical behavior.‖ Em especial, isto ocorre
quando o filtro Hodrick-Prescott é aplicado a séries econômicas diferentes daquelas dos
Estados Unidos (1993, p. 236). Pois, se comparadas a outras economias, as séries econômicas
americanas seriam, em geral, menos voláteis.
Além disso, Cooley e Prescott (1995) alertam que o crescimento econômico e os ciclos
podem afetar um ao outro. Assim, para isolar a componente cíclica de uma variável faz-se
necessário considerar sua taxa de crescimento. Então, mudanças em tendências poderiam estar
ocorrendo através de choques exógenos, gerando flutuações de curto prazo, assim como
movimentos de longo prazo na atividade econômica.
Ainda, vários trabalhos contribuíram para evoluções na medição de mudanças de
tendências temporais, entre os quais podemos citar: Phillips (1987), Perron (1988), Phillips e
Perron (1988), Perron e Vogelsang (1992), Vogelsang (1997). O principal propósito desses
trabalhos foi detectar possíveis quebras em séries de tempo com mudanças de intercepto ou
inclinação (DIAS, DIAS e EVANS, 2004).
Dentro do exposto, Dias, Dias e Evans (2004) investigam um método de suavização de
tendência, chamado de DDME, que pudesse identificar uma quebra no comportamento da série
em qualquer ponto no tempo. O trabalho utilizou simulações de Monte Carlo para testar quatro
modelos com comportamento de tendências diferentes. Em um processo recurssivo, os testes
identificaram que as simulações dos ciclos por meio do método DDME mostraram um
desempenho superior ao filtro Hodrick-Prescott. Assim, através da suavização da tendência
utilizando o filtro HP para identificar o ciclo não foi possível determinar o ciclo verdadeiro em
dois modelos. Tal resultado era esperado porque o filtro Hodrick-Prescott considera que o
termo irregular (ER) seja estável e insignificante, o que poderia não ser o caso para economias
com flutuações de maior amplitude ou menos estáveis. Especialmente no caso do segundo
modelo, a tendência estocástica era relativamente complexa, dificultando a determinação do
ciclo verdadeiro. Por fim, os autores aplicaram o método para identificar o componente cíclico
do produto brasileiro.
38
3.2.1. Os Instrumentos Puros
Uma contribuição importante foi feita por Hall (1987), que prevê a utilização de poucos
e ―puros‖ instrumentos, claramente não-correlacionados com o termo distúrbio. De acordo com
Campbell e Mankiw (1989), com o objetivo de apresentar uma alternativa à hipótese de Hall42,
criando dois grupos de consumidores, o que segue variações transitórias na renda e outro que
atende às variações da renda permanente. O método de variáveis instrumentais foi utilizado,
para testar a equação ct-ct-1 = (zt) + vt, em que é a fração dos agentes que gastam de acordo
com a renda corrente, zt = (yt-yt-1) e vt = (1-)et, et são os choques advindo das variações da
renda permanente. Como consumo e renda devem ser correlacionados, uma variável que se
aproxima do comportamento da renda e não esteja correlacionada com os erros do consumo é
então escolhida. Considerando um instrumento zt =~
tz , estimá-se em primeiro estágio a
equação do consumo. Em seguinda, utilizá-se os valores resultantes, plotados de zt =^
tz , e
estimá-se novamente, em segundo estágio, a equação do consumo, agora como: ct-ct-1 = (^
tz )+
(zt -^
tz ) + vt. Assim, se obtém: ct-ct-1 = (^
tz )+~
tv , em que ~
tv = (zt -^
tz ) + vt. Como espera-se
que~
tz seja não correlacionado com vt, espera-se que ^
tz seja também não correlacionado
com~
tv . Como resultado, os autores encontraram que valores defasados da renda não eram
apropriados para predizer a própria renda, portanto, não poderiam compor a função consumo.
Assim, indicavam que os resultados de Hall não eram suficientes para refutar a visão
tradicional do comportamento do consumo (ROMER, 2006, 357-358).
No entanto, esta contribuição necessitou avanços, pois “os instrumentos puros são
provavelmente não-correlacionados com o termo distúrbio, todavia também o são com relação
às variáveis que estão sendo instrumentalizadas.”43
42Hall (1978) propos um comportamento para o consumo no tempo, que não seria previsível e que responderia
apenas às variações na renda permanente. Pois choques à renda permanente afetariam o consumo, porém não
teriam a tendência de conduzí-lo à trajetória inicial.
39
3.2.2. A Calibragem
O procedimento de calibragem, em geral, considera as relações econômicas indicadas
pela teoria microeconômica entre os agregados para determinar os valores dos parâmetros das
equações do modelo teórico, utilizando ainda estimativas de resultados obtidos em pesquisas
empíricas. Então, gera via simulações empíricas dos modelos teóricos as estatíticas de
variâncias e co-varâncias das variáveis. Em seguida, as séries econômicas são utilizadas para
estimar suas variâncias e co-variâncias. Por fim, são comparadas as duas estimativas, por meio
do modelo teórico e diretamente das séries. Uma vantagem é que a calibragem utiliza mais
informações que os modelos de regressão e seus resultados não dependem de significância
estatística.44 No entanto, nem sempre os modelos teóricos conseguem gerar as variâncias exatas
de alguns agregados, como comenta Barro (1992).
Nos exercícios de calibragem estão principalmente modelos de ciclos reais de negócios
(CER). Como o próprio Barro (1992, p. 7-8) lembra,
―Vários autores simularam versões de modelos CER com dados dos Estados Unidos, nas quais
os parâmetros subjacentes de preferências e tecnologia são calibrados para ser consistentes com
os achados de estudos cross-section. Em muitos aspectos os resultados estão de acordo com as
características observadas dos ciclos econômicos. Por exemplo, os modelos CER conseguem
exatamente obter as variâncias relativas de consumo, investimento, estoques de capital, e horas
de trabalho; e também explicam o comportamento procíclico destas variáveis. Contudo, os
modelos tendem a exagerar os padrões procíclicos de horas, produtividade, taxas de juros reais,
e taxas salariais reais. Além disso, para explicar o desvio-padrão do crescimento do produto, os
modelos requerem um desvio-padrão para os distúrbios tecnológicos que pode ser excessivo.
Entretanto, até agora, tais julgamentos são baseados somente em introspecção.‖
Assim, os modelos de ciclos reais de negócios eram ajustados em seus parâmetros de
preferências e tecnologia de acordo com as especificidades das economias que se desejava
estimar. No entanto, Barro (1992) lembra que para explicar os desvios do produto, os choques
tecnológicos deveriam ser bem mais amplos e profundos.
3.2.3. Os Modelos VAR (Vetores Auto-Regressivos)
Os avanços da econometria munidos de instrumentos matemáticos sofisticados
marcaram os modelos dos anos oitenta de ciclos dos negócios. Em particular, de acordo com
Blanchard (1992), a primeira contribuição importante feita por Sims foi a introdução dos
43Blanchard. Op. cit. 44 Romer (2006).
40
modelos VAR, segundo o qual as aplicações econométricas com estruturas colocadas em
defasagem eram mais confiáveis. Os modelos VAR colaboram à análise do impacto dinâmico
de disturbâncias aleatórias sobre o sistema de variáveis relevante. Porém, em primeiro
momento, tais modelos de simultaneidade eram difíceis de se interpretar economicamente.
Então, surgiram os VAR estruturais, os quais alcançam identificação através das restrições de
covariância. Pois, assume-se que um choque pode afetar mais uma variável
“contemporaneamente do que uma outra, ou que não a afeta no longo prazo.” Assim,“um
choque da i-ésima
variável diretamente afeta a i-ésima
variável, e é também transmitido para
todas as variáveis endógenas através da estrutura dinâmica do VAR.”45
No entanto, na opinião de Blanchard, no que se refere às aplicações desses modelos
para explicar o comportamento associado a mais de duas variáveis, tais modelos não passam de
“pobres esquemas de comunicação (um problema que compartilham com os exercícios de
calibragem).”46
De acordo com formulações apresentadas por vários autores sobre o método empírico
VAR, este implica um Vetor Auto-Regressivo com ordem p de defasagem, segundo o qual
modela-se cada variável endógena do sistema como uma função dos valores defasados de todas
variáveis endógenas deste sistema, além de admitir a possibilidade de incluir-se outras
variáveis exógenas relevantes ao sistema, cuja formulação pode ser descrita como segue.47
yt = A1yt-1 + … + Apyt-p + Bxt + t
Em que yt é um vetor de variáveis endógenas, xt é um vetor d de variáveis exógenas, A1,…,Ap,
e B são matrizes de coeficientes a serem estimados e t é um vetor de inovações (choques), os
quais devem ser contemporaneamente correlacionados entre si mas devem ser não-
correlaciondos com seus próprios valores defasados, assim como não-correlacionados com
todas as variáveis no lado direito da equação. De acordo com os procedimentos econométricos
estabelecidos, o número total de parâmetros estimados é igual a n=k(d+pk), em que k é a
dimensão do vetor de resíduos.
Com base nas análises VAR é possível investigar o grau de explicação de cada variável
do sistema de equações sobre todas as variáveis endógenas, por meio de suas significâncias
45 Eviews (1998, p. 497). Tradução nossa. 46Blanchard (1992, p. 26).
41
estatísticas, e, uma vez realizados todos os testes de normalidade dos resíduos, estacionaridade
dos resíduos, estabilidade do VAR, e análise de causalidade de Granger, as séries de resíduos
do VAR são utilizadas para construir respostas a impulsos nas variáveis endógenas. Além
disso, testes mais avançados de exogeneidade forte ou fraca conseguem identificar a variável
origem do choque, membro do sistema de equação do VAR.
3.2.4. Identificação dos Pontos de Inflexão
Mais recentemente, de acordo com Diebold e Rudebusch (1996), a discussão em torno
de metodologias quantitativas utilizadas para o tratamento empírico dos ciclos econômicos tem
se pautado na classificação de modelos de fator dinâmico e de modelos não-lineares de
mudança de regime (regime-switching).
A primeira classe de modelo, de fator dinâmico, conjuga da idéia de que os resultados
de setores, definidos de forma geral, movimentam-se de maneira conjunta, os comovements.
Além disso, Diebold e Rudebusch (1996, p. 68) enfatizam que “Análises de movimentos
comuns em conjuntos dinâmicos fazem tipicamente uso de duas ferramentas não-paramétricas,
a função de autocorrelação e a função densidade.”48
No entanto, os modelos de mudança de regime apresentam comparações entre
diferentes posições no estado da economia, boas e ruins. Porém, Diebold e Rudebusch (1996)
colocam que a discussão entre ―estados latentes‖ em contra-posição a ―estados observados‖
provavelmente é mais apropriada para a modelagem dos ciclos econômicos. Os autores
continuam expondo um modelo do tipo mudança de regime proposto por Hamilton, o qual
chega ao resultado de que o produto movimenta-se em torno de uma média de forma a
representar os eventos de diferentes taxas de crescimento (―expansões‖ e ―contrações‖).
Assim, de acordo com Diebold e Rudebusch (1996, p.69), “A idéia central sobre a
mudança de regime é simplesmente que expansões e contrações devem ser utilmente tratadas
como objetos probabilísticos diferentes.”49
Nesse contexto, Diebold e Rudebusch (1996) propõem uma síntese, segundo a qual a
teoria macroeconômica apresentaria uma união entre modelos de estrutura de fator dinâmico e
47A exposição segue Eviews (1998), Gujarati (2000) e Greene (2000). 48Tradução nossa. 49 Tradução nossa.
42
de mudança de regime. O modelo é então exposto dentro de um processo marckoviano,
incluindo um fator dinâmico que muda de regime, e que demonstra apresentar compatibilidade
com os fatos e a teoria macroeconômica. Porém, o modelo apresentado pelos autores enfatizam
choques advindos de fatores reais, como os tecnológicos e de preferências, através de um
mecanismo macroeconômico de aceleração, sem contudo considerar os efeitos dos choques
monetários sobre a economia.
3.3. Confrontando os Resultados
Os resultados de aplicações econométricas, especialmente no que se refere ao
comportamento procíclico de horas trabalhadas, produtividade, taxas de juros reais e taxas de
salários reais, compõem um ponto central de divergência entre as teorias dos ciclos de
negócios, quais sejam: as teorias desenvolvidas pelos novos-clássicos e pelos novos-
keynesianos.
Como exemplo da discussão acerca da reação dos agregados econômicos aos choques, a
qual tomou corpo na década de 80, tomemos um aumento temporário dos gastos do governo
(G).50 A teoria dos ciclos reais preconiza uma alta taxa de substituição intertemporal entre
consumo e lazer. Então, um aumento em G aumenta a demanda por bens, deslocando a curva
de demanda agregada. A taxa de juros reais aumenta (r), reduzindo consumo e investimento e
alterando a alocação de lazer dos agentes ao longo do tempo. O aumento na taxa de juros real
incentiva o indivíduo a trabalhar mais, poupar mais e usufruir de menor quantidade de horas de
lazer. Portanto, consumo e lazer se movem na mesma direção. As horas destinadas ao trabalho
aumentam, assim como emprego e produto.
Se emprego e produto aumentam com as mesmas condições tecnológicas, então o
produto marginal do trabalho, igual ao salário real no equilíbrio da firma, deve cair, ou seja, ter
um comportamento contra-cíclico.
Porém, como o consumo de bens e lazer se movem na mesma direção, então uma
explicação poderia ser que o preço do lazer relativo aos bens, que é o salário real, aumente
numa época de prosperidade e caia numa época de recessão.
50Exemplo extraído de Mankiw (1989), várias páginas.
43
Se essa explicação é aceita, o esperado é um salário real procíclico e não contra-cíclico
como encontramos acima. Para resolver tal problema, os teóricos dos ciclos econômicos reais
assumem flutuações substanciais na taxa de mudança da tecnologia. Em recessões, a produção
de tecnologia disponível seria desfavorável, o produto marginal do trabalho e a taxa de salários
reais seriam baixos, então os agentes responderiam ao baixo retorno do trabalho, reduzindo
consumo e aumentando lazer. Contudo, como a teoria dos ciclos reais trabalham com equilíbrio
Walrasiano51, as flutuações econômicas são eficientes, e, dados os gostos e tecnologia, não há
como implementar emprego, produto e consumo através de políticas.
Nos modelos de ciclos com base keynesiana, o problema de movimentos dos salários
reais não ocorre, pois o efeito das taxas de juros reais sobre a oferta de trabalho não é crucial. O
aumento do emprego e produto se devem ao fato dos modelos novos-keynesianos considerarem
que possa ocorrer redução no montante de trabalhadores desempregados ou subutilizados
(labor hoarding).52
3.4. A Evolução dos Ciclos dos Negócios
Zarnowitz (1992) elabora um trabalho exaustivo sobre a caracterização dos ciclos dos
negócios e, portanto, de seus fatos estilizados, a relação entre tendência e flutuações, dentro de
modelos e simulações, as regularidades dos ciclos, seus indicadores principais e a previsão.
Nesse contexto, Zarnowitz destaca que, apesar dos ciclos de séries individuais
compartilharem características semelhantes no geral, ―they are by no means all alike‖ (p. 3). O
autor destaca vários aspectos dos ciclos dos negócios da economia norte-americana e ainda
compara com economias com, Reino Unido, França e Alemanha, entre outras. Mostra que a
economia norte-americana se tornou menos volátil no período posterior à II Guerra Mundial,
porém há ressalva. No entanto, os períodos de contração econômica se tornaram mais curtos,
mais leves e menos freqüentes, apesar de a taxa real de crescimento da economia e o
crescimento da inflação apresentaram maior persistência.
51O equilíbrio geral Walrasiano pode ser definido como aquele no qual os preços se ajustam para igualar oferta e
demanda em cada mercado simultaneamente, determinando as quantidades de todos os bens e serviços vendidos
aos seus respectivos preços. Como resultado temos um equilíbrio que é eficiente no contexto de Pareto - não
existe nenhum outro ponto que seja tão bom quanto, nem preferível ao ponto ótimo de Pareto. 52Mankiw (1989, p. 82).
44
Zarnowitz (1992, p. 3) aponta que os seguintes fatores podem ter contribuído para a
relativa estabilidade da economia dos EUA:
1. Mudanças menos cíclicas no emprego, para indústrias produtoras de serviços. Isto é
consistente com o enfraquecimento do papel de alterações na demanda de estoques e bens
duráveis.
2. Ampliação da dimensão acíclica do setor governamental.
3. Ampliação do papel dos estabilizadores automáticos, principalmente fiscais. Pontos 2 e 3
coadunam com a idéia de que o crescimento em atividades governamentais normais pode, até
determinado ponto e dadas certas regras, contrabalançar (offset) alguma das instabilidades da
demanda agregada privada.
4. Redução da freqüência e da intensidade das crises financeiras. Aqui a implicação é
simplesmente que essas crises podem agravar (se não necessariamente causar) ciclos dos
negócios.
5. Algumas políticas fiscais favoráveis, principalmente de taxas de impostos.
6. Volatilidade reduzida do crescimento monetário (à extensão de que moeda participa com um
papel independente ao invés de meramente ajutar a mudanças na renda ou na atividade
econômica). Pontos 5 e 6 implicam que ações de política fiscal e monetária podem adicionar
para ou reduzir instabilidade macroeconômica.
7. Maior confiança dos agentes econômicos privados, ambos, induzida pela moderação
observada nos ciclos dos negócios, por si só, e induzindo comportamento favorável a
crescimento econômico mais estável. Isso sugere um papel para expectativas endógenas e auto-
realizáveis (self-validating) a reinforçar tendências macroeconômicas positivas (ou negativas).53
3.5. Aplicações dos Ciclos de Negócios para a Economia Brasileira
Dentre os vários contextos nos quais a economia brasileira foi analisada, notamos que
as flutuações, apesar de estarem presentes e relevantes em muitos trabalhos científicos
realizados no país e no exterior, receberam menor atenção no que se refere ao contexto das
teorias dos ciclos de negócios. No entanto, na última década a literatura econômica sobre os
movimentos cíclicos no Brasil vem ampliando gradativamente. O grande destaque são os
trabalhos utilizando metodologias econométricas, que evoluíram rapidamente, devido, em
parte, aos novos instrumentos disponíveis, que aumentam a dinâmica das pesquisas.
Um dos primeiros trabalhos a aplicar a teoria dos ciclos para a economia brasileira foi o
de Cribari-Neto (1993). Este apresenta um estudo empírico sobre o componente cíclico do PIB
brasileiro a partir de uma análise de especificação da tendência estocástica. O autor utilizou
dados anuais para o período de 1900 a 1990. Como resultado, encontrou que a contribuição dos
movimentos cíclicos para explicar os movimentos do PIB no Brasil foi pequena e que os
determinantes das flutuações do PIB são predominantemente fatores reais de longo prazo.
53Tradução nossa.
45
Outro trabalho direcionado a apontar alguns dos determinantes do crescimento
econômico no Brasil é Issler, Gonzaga e Marone (1996), que testam a relação de longo prazo
entre produto potencial, educação (escolaridade média e taxa de analfabetismo) e investimento
externo para a economia brasileira, dentro do contexto de modelos VAR. Porém, os autores
encontram o caráter exógeno do PIB potencial quando confrontado com essas outras variáveis
para o período entre 1947 e 1993, com dados anuais. Além disso, os resultados indicam que os
efeitos de choques transitórios de políticas monetárias, por exemplo, são restritos e explicam
apenas 3% da variância do produto.
Em uma abordagem sobre o movimento cíclico do mark-up na indústria, Kannebley Jr.
(1996) aplica um modelo VEC indicando que o mark-up apresenta um comportamento acíclico
para períodos anterior e posterior ao Plano Cruzado na indústria de transformação, utilizando
dados mensais para o período entre 1976 e 1989.
Ainda Fialho (1997) explora a participação dos ciclos políticos na taxa de crescimento
do PIB real na economia brasileira, buscando uma correlação entre políticas monetárias
caracteristicamente expansionistas nos períodos que antecedem eleições, com aplicação de
variáveis dummy, para o período de 1953 a 1994 em termos anuais. Os ciclos políticos
encontraram evidência para o período posterior à abertura política a partir de 1975. Podemos
citar também os trabalhos de Ponta e Silva (1994) e Rosal e Ferreira (1996) como exemplo de
aplicações para a realidade brasileira.
Além desses, o trabalho de Kanczuk (2001) traz uma abordagem de economia aberta
para o tratamento dos ciclos reais dos negócios na economia brasileira. Os resultados
encontrados indicam que as simulações que consideram a formulação das preferências com
custos de ajustamento de capital foram consistentes com as volatilidades das contas nacionais e
com o comportamento contra-cíclico da balança comercial no Brasil, enquanto que as
preferências com custos de transação nos mercados de capitais formuladas de acordo com
Hansen (1985) não o foram. Os dados utilizados foram de periodicidade trimestral entre 1980 e
2000. Assim, as simulações indicam que custos de ajustamentos de capital contribuem para
reduzir as volatilidades do investimento e do produto.
Val e Ferreira (2001) desenvolvem um trabalho para testar entre os modelos, com
trabalho indivisível e a hipótese cash-in-advance com taxação distorciva, aquele mais
46
apropriado à economia brasileira. Foram utilizados dados de consumo e investimento, e, ainda,
construídas séries de horas trabalhadas e capital. Os autores aplicaram o filtro HP e o método
generalizado dos momentos (GMM) para realizar simulações para economia brasileira. Entre
os modelos, apenas um apresentou resultados aceitáveis.
Em Dias, Arita e Dias (2001) os modelos X11-ARIMA são aplicados para séries
brasileiras. Os modelos relativos à produção industrial brasileira e consumo industrial de
energia elétrica no Paraná se mostraram significantes e em favor do modelo X-11 ARIMA, no
que se refere ao aspecto de ajustamento sazonal das séries. Além disso, foi introduzido as
condições para análise de ciclos de negócios utilizando uma combinação entre X11-ARIMA,
que estima a tendência-ciclo das variáveis, com o filtro de Hodrick-Prescott, que separa a
tendência dos ciclos. O resultado foi que a volatilidade dos ciclos são bastante elevadas nas
séries e que os ciclos da produção industrial do Paraná antecedem os do Brasil em cinco meses.
Além disse, o trabalho de Araújo e Gama (2004) testa a veracidade de modelos
aplicados ao estudo de ciclos econômicos para países do G7 e da América Latina, utilizando
séries trimestrais do PIB real, entre 1947 e 2002, com os modelos de Redes Neurais Artificiais
(RNA) e ARIMA. Os resultados indicam que os modelos ARIMA apresentam bom
desempenho para replicar os ciclos, porém, a modelagem via RNA pode ser vantajosa, pois as
características dos ciclos foram, em média, replicadas com mais precisão. Para o Brasil, as
redes neurais conseguiram um desempenho melhor para as características de contração e
expansão, porém, nas características gerais o método ARIMA é mais indicado.
Quanto ao estudo das propriedades do componente cíclico, Cunha, Sandes e Vivanco
(2005) analisam o PIB per capita de dois grupos de países, dez da América Latina e seis da
Ásia, no período de 1970 a 2000. Entre os grupos foram verificadas volatilidades médias
próximas ao dobro da observada nos EUA. A persistência das oscilações dos dois conjuntos de
nações é ligeiramente superior a dos EUA. Ademais, as fases dos ciclos econômicos dos
diversos países não tendem a ser temporalmente coincidentes.
Com o mesmo objetivo e metodologia utilizados por Cunha, Sandes e Vivanco (2005),
Cunha e Moreira (2006) observaram o logaritmo do PIB per capita para o Distrito Federal e os
estados brasileiros, entre 1985 e 2002. Os resultados sugerem que, em média, os estados
tiveram ciclos mais voláteis e menos persistentes do que o ciclo do país, e ainda, que os ciclos
47
de negócios são altamente heterogêneos, ou seja, não há coincidência temporal nas fases de
expansão e recessão, um alerta às políticas anticíclicas.
Teles, Springer, Gomes, Paes e Cavalcante (2005) atendem um ponto crucial para
aplicações econométricas dos ciclos de negócios, a escolha do filtro para suavizar as séries,
preocupação destacada também em Dias, Dias e Evans (2004). Em Teles et al. (2005), sete
métodos de suavização são aplicados para agregados macroeconômicos selecionados,
demonstrando que os ciclos de negócios brasileiros variam incisivamente entre os diferentes
filtros. Os resultados indicam que métodos de filtragem diferentes geram conceitos distintos
para os ciclos de negócios, e implicam em diferentes conjuntos de relações econômicas. Ainda,
a conclusão destaca que choques de produtividade são mais importantes em ciclos advindos do
filtro HP, diferentemente de quando se utiliza outros tipos de filtro.
Ellery e Gomes (2005) comparam as propriedades dos ciclos do Brasil com outras
economias. Utilizam dados referentes ao PIB, ao consumo, ao investimento, aos gastos do
governo, às exportações líquidas e ao nível de preços de dez países para três períodos, pré-
guerra, inter-guerras e pós-guerra. Os resultados apontaram que, apesar da economia brasileira
apresentar as propriedades básicas dos ciclos de negócios, há maior volatilidade que as outras
economias da amostra. O investimento é mais volátil que o produto, e o consumo e o
investimento apresentam correlação alta com o produto, além de serem profundamente
procíclicos.
O trabalho de Pinheiro e Ferreira (2005) verifica as especificações de modelos de ciclos
reais de negócios, para uma pequena economia aberta, e a avaliação do grau de efetividade dos
mesmos em reproduzir as características dos ciclos econômicos brasileiros. Os autores testaram
três modelos: de fator de desconto endógeno; de prêmio de risco elástico à dívida; de mercado
de ativos completo; e, ainda, sujeitos a choques de juros internacional e produtividade. São
utilizados dados referentes aos agregados macroeconômicos do Brasil de 1950 a 2000. A
metodologia engloba a utilização do filtro HP, calibração, simulação e funções de resposta a
impulso. Os resultados indicam que os modelos são capazes de replicar características
relevantes dos ciclos internacionais, como a correlação negativa entre balança comercial e o
produto. Apenas o modelo com prêmio de risco reproduziu a alta volatilidade do consumo. O
48
choque de juros internacional mostrou-se pouco importante para a dinâmica de todos os
modelos e o custo de ajustamento foi essencial para a obtenção dos principais resultados.
Figueirêdo (2006) critica o uso de mínimos quadrados ordinários para o estudo de
ciclos econômicos, pois a presença de outliers e assimetria das flutuações induzem à não-
normalidade das séries temporais. Recomenda-se, então, a adoção variáveis instrumentais não-
lineares. O autor caracteriza o componente permanente das séries do produto internacional para
nove países. Os resultados apresentam dois grupos de resultados: para os países desenvolvidos,
rejeita-se a teoria dos ciclos reais, reacendendo o debate entre os grupos formados por
keynesianos, monetaristas e os proponentes das expectativas racionais; e, por outro lado, para o
Brasil e a Itália, os movimentos do produto real são, de fato, frutos de flutuações na tendência.
Para estes dois países entende-se que os fatores reais são os únicos geradores de flutuações
econômicas, aceitando, assim, a teoria dos ciclos reais dos negócios.
Na mesma direção, Giannini (2009) aplica a metodologia VAR para identificar a
natureza de fontes cíclicas para a economia brasileira no período entre 1992 e 2007. O objetivo
foi testar as hipóteses dos modelos novos-clássicos e novos-keynesianos sobre causas
predominantemente reais ou nominais para os ciclos dos negócios. Junto as significâncias
estatísticas das variáveis do VAR, da análise de resposta a impulso e do teste de exogeneidade,
os resultados indicam que, apesar de choques de produtividades estarem presentes no
comportamento cíclicos das séries brasileiras, não se pode rejeitar a hipótese de que fatores
nominais, como o agregado monetário, sejam capazes de gerar desvios do produto em relação a
sua tendência, favorecendo as análises de modelos novos-keynesianos. Tais resultados foram
encontrados em Giannini, Dias, Dias e Silva (2007) e Teixeira, Galle, Dias e Dias (2007).
Giannini (2009) apresenta as principais características das séries brasileiras
selecionadas, a volatilidade, a persistência e o co-movimento, apresentados na tabela 1.
Confome tabela 1, as taxas de juros nominais e reais são as mais voláteis. No entanto, entre as
variáveis reais, se destaca a volatilidade da formação bruta de capital fixo. Quanto à
persistência, o componente cíclico da variável horas trabalhadas apresenta maior valor, 0,80,
seguido do ciclo do agregado monetário (M1), provavelmente em função da conduta de política
de controle do agregado monetário no Brasil a partir de 1994, e do ciclo do índice BOVESPA.
Isso implica que quando essas variáveis estão em expansão, tendem a permanecer em expansão
49
por mais tempo do que as outras, então dependem mais dos seus valores defasados do que as
outras. No caso das horas trabalhadas, pode ser uma evidência de persistência de contratos de
trabalho.
Tabela 1: Características dos Ciclos da Economia Brasileira
Ciclo da Variável Volatilidade* Persistência** Co-movimento***
Produto 5,28 0,66 1,00
Formação Bruta 10,95 0,13 0,48
Horas Trabalhadas 2,80 0,80 -0,05
Renda 2,68 0,67 0,12
Produtividade 2,56 0,58 -0,06
Juros Reais 75,95 -0,01 0,25
Juros Nominais 269,43 0,65 -0,47
IBOVESPA 11,18 0,78 -0,19
M1 12,80 0,79 0,38
Fonte: Giannini (2009).
*Volatilidade: desvio-padrão do componente cíclico.
**Persistência: correlação entre xct e x
ct-1.
***Co-movimento: correlação da variável cíclica com o componente cíclico do PIB.
Ainda, o co-movimento dos ciclos, analisado como a direção de variação dos agregados
econômicos em relação ao ciclo do produto interno bruto brasileiro, mostram que há uma baixa
correlação do emprego e dos salários com o produto. Esse pode ser um indício da presença de
rigidezes de preços e salários, que novamente podem ser resultados da estrutura de contratos de
trabalhos, hipótese não testada. As que apresentaram maior correlação foram a formação bruta,
a taxa nominal de juros e o M1, com relações procíclica, contra-cíclica e procíclica,
respectivamente, conforme esperado.
IV. Considerações
Os ciclos de negócios, medidos como os desvios em relação à tendência de longo prazo,
observados nas séries econômicas têm sido tratados dentro de diversas abordagens teóricas e
contextos históricos, desde os primórdios da teoria clássica até as versões mais recentes de
teorias macroeconômicas.
50
As abordagens aqui levantadas cobrem o comportamento cíclico dos agregados
econômicos, porém dependendo da origem do choque, uma teoria seria mais capaz de
responder a propagação dos movimentos cíclicos que outra.
Existem causas diversas de ciclos econômicos, incluindo fatores reais de avanços
tecnológicos e aumentos de produtividade, variações de preferências, mudanças nas decisões de
consumo e investimento, variações abruptas do ambiente, bem como mudanças na conduta de
política econômica, além de fatores especificamente nominais, como alterações no agregado
monetário, que normalmente afetam a demanda agregada, ou ainda, as alteraçãoes da
expectativas, exógenas ou endógenas. Ademais, quando se trata de estabelecer fonte única, é
possível resumir as causas dos ciclos dos negócios em três principais, conforme discutidas nas
teorias que são destacadas neste texto: os choques tecnológicos, os choques monetários e os
choques sobre a demanda por investimento.
No entanto, evolução acentuada nos modelos e métodos de avaliação trouxeram
dinâmica para a abordagem dos ciclos dos negócios, trazendo maior robustez às análises e
propiciando algum consenso sobre como interpretar o comportamento geral dos agregados
econômicos, tendência predominante na teoria macroeconômica atual, apesar dos resultados
ainda diferirem.
De toda forma, existem causas múltiplas para explicar os ciclos dos negócios nas
economias de mercado descentralizadas, que diferem conforme a época e o contexto em que a
economia está inserida. Além disso, as aplicações têm demonstrado que as volatilidades dos
ciclos vêm diminuindo nas principais economias.
Contudo, avanços que auxiliem na previsão de expansões e recessões ainda são
necessários, sejam de metodologia de modelagem ou empírica.
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