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UM ENSAIO SOBRE AS TEORIAS DOS CICLOS E DAS FLUTUAÇÕES ECONÔMICAS: CARACTERÍSTICAS E MÉTODOS DE ANÁLISE Prof a Dr a Maria Helena Ambrosio Dias * Prof. Dr. Joilson Dias* I. Introdução O propósito deste capítulo é expor, de forma sucinta, os principais aspectos das teorias dos ciclos predominantes a partir das décadas de 80 e 90, tratando desde os conceitos básicos de ciclos e suas fases até as aplicações empíricas para a economia brasileira. Iniciamos com um breve histórico sobre as primeiras teorias de ciclos econômicos e então evoluímos para as teorias dos ciclos dos negócios dos novos-clássicos e novos-econômicos, em uma comparação de suas explicações para as fontes de flutuações. Ambas as teorias utilizam a modelagem como instrumento de análise. As teorias novo-clássicas de ciclos apresentam duas explicações distintas. Uma primeira, com base no trabalho de Lucas (1972,1973), que preconiza a importância de choques de demanda agregada, admitindo que choques não antecipados de política monetária poderiam causar flutuações nos agregados econômicos, em especial, produto e preços. Os efeitos dos choques seriam possíveis por meio do mecanismo de formação das expectativas, considerando informação incompleta dos agentes ao tomarem suas decisões de produção e preços. A segunda vertente desta corrente destaca os fatores reais como determinantes da maior parte das flutuações econômicas e dos ciclos dos negócios em particular. Nesta interpretação, são os choques tecnológicos os principais responsáveis dos ciclos econômicos, admitindo ainda choques advindos de variações das preferências dos agentes. As expectativas racionais são utilizadas como fundamentação microeconômica para a formação de decisões dos agentes econômicos, com base na hipótese forte de previsão perfeita. Ainda, se admite mudanças setoriais como causadoras de ciclos dos negócios. * Professores Titulares em Teoria Econômica, Departamento de Economia e Programa de Pós-Graduação em Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Maringá (PCE-UEM).

Um ensaio sobre as teorias dos ciclos e das flutuações econômicas - caracteristicas e métodos de análise

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Joilson Dias e Maria helena Ambrosio dias

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UM ENSAIO SOBRE AS TEORIAS DOS CICLOS E DAS FLUTUAÇÕES

ECONÔMICAS: CARACTERÍSTICAS E MÉTODOS DE ANÁLISE

Profa Dr

a Maria Helena Ambrosio Dias*

Prof. Dr. Joilson Dias*

I. Introdução

O propósito deste capítulo é expor, de forma sucinta, os principais aspectos das teorias

dos ciclos predominantes a partir das décadas de 80 e 90, tratando desde os conceitos básicos

de ciclos e suas fases até as aplicações empíricas para a economia brasileira. Iniciamos com um

breve histórico sobre as primeiras teorias de ciclos econômicos e então evoluímos para as

teorias dos ciclos dos negócios dos novos-clássicos e novos-econômicos, em uma comparação

de suas explicações para as fontes de flutuações. Ambas as teorias utilizam a modelagem como

instrumento de análise.

As teorias novo-clássicas de ciclos apresentam duas explicações distintas. Uma

primeira, com base no trabalho de Lucas (1972,1973), que preconiza a importância de choques

de demanda agregada, admitindo que choques não antecipados de política monetária poderiam

causar flutuações nos agregados econômicos, em especial, produto e preços. Os efeitos dos

choques seriam possíveis por meio do mecanismo de formação das expectativas, considerando

informação incompleta dos agentes ao tomarem suas decisões de produção e preços.

A segunda vertente desta corrente destaca os fatores reais como determinantes da maior

parte das flutuações econômicas e dos ciclos dos negócios em particular. Nesta interpretação,

são os choques tecnológicos os principais responsáveis dos ciclos econômicos, admitindo ainda

choques advindos de variações das preferências dos agentes. As expectativas racionais são

utilizadas como fundamentação microeconômica para a formação de decisões dos agentes

econômicos, com base na hipótese forte de previsão perfeita. Ainda, se admite mudanças

setoriais como causadoras de ciclos dos negócios.

*Professores Titulares em Teoria Econômica, Departamento de Economia e Programa de Pós-Graduação em

Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Maringá (PCE-UEM).

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No entanto, o problema com os modelos apresentados pelos novos-clássicos, em

especial dos ciclos reais dos negócios, é que, apesar da robustez dos modelos matemáticos,

suas simulações nem sempre replicavam o comportamento cíclico dos agregados econômicos,

ou seja, havia consistência interna mas não necessariamente externa. Dessa forma, houve um

retorno aos modelos de rigidez de preços e salários ao estilo keynesiano, porém com uma

preocupação visível com os fundamentos microeconômicos para explicar rigidezes.

Assim, as teorias novo-keynesianas colocam as rigidezes de preços e salários como

principais causas dos ciclos de negócios, e admitem tanto imperfeições reais nos mercados de

bens e de trabalho como rigidezes nominais de contratos, realçando portanto que, tanto fatores

reais como monetários podem gerar flutuações econômicas e ciclos. As decisões econômicas

são abordadas dentro do contexto de expectativas racionais, em sua hipótese fraca, de

informação incompleta.

Após esta exposição, citamos como exemplo o trabalho de Dias (2002b) que faz uma

combinação das duas abordagens, consideradas como pertencentes ao mainstream, tendência

atual da macroeconomia.

Além disso, o capítulo demonstra a contribuição dos modelos teóricos e dos métodos

econométricos para a evolução das teorias que abordam os ciclos dos negócios. Então, a

terceira seção apresenta alguns dos métodos de aplicação empírica mais utilizados para tratar

ciclos dos negócios. Um elemento chave das aplicações econométricas das séries temporais

para a análise dos ciclos econômicos é o método de suavização das tendências das séries, para

sua identificação e/ou exclusão. Portanto, atribuímos ênfase para os modelos de suavização

alternativos ao filtro de Hodrick e Prescott (1981), como Dias, Dias e Evans (2004).

Ainda, selecionamos alguns dos trabalhos aplicados para a análise dos ciclos na

economia brasileira, tentanto buscar fatos sobre o comportamento cíclico dos principais

agregados econômicos.

Vale ressaltar que o desenvolvimento aqui proposto segue os trabalhos de Lucas (1977,

1980), Mankiw (1989, 1990) e Plosser (1989), além de Dias (1998), uma primeira versão deste

trabalho.1

1 Maiores detalhamentos sobre as teorias aqui apresentadas, podem ser encontradas em Magalhães (2000) e

Magalhães (2005), que têm a preocupação em especificar as contribuições teóricas de vários autores para a

formação das teorias dos ciclos dos negócios.

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I. Conceitos e Fases dos Ciclos de Negócios

1.1. Conceitos

Os ciclos de negócios foram inicialmente entendidos como flutuações conjuntas dos

principais agregados econômicos em torno de suas respectivas tendências ao longo do tempo.

Um conceito genérico é que ciclos dos negócios representam as flutuações, periódicas

ou não, que ocorrem nos principais agregados econômicos, apresentando fases específicas de

crise e prosperidade.

A análise dos ciclos de negócios implica em estudar os componentes das séries

econômicas no tempo, que podem ser descritos como: a sazonalidade, que é a variação

estacional da série ao longo das quatro estações do ano, com forma periódica; a tendência, que

indica a trajetória de longo prazo da série, ou seja, a evolução temporal média da estrutura da

série; o ciclo, que demonstra os desvios de curto prazo da série em relação a sua média de

longo prazo; o componente aleatório e imprevisível da série.

Sob a ótica dos ciclos dos negócios, as variáveis são analisadas em relação às seguintes

características:

1. Co-movements: movimentos conjuntos;

2. Persistência;

3. Direção: procíclico, acíclico ou contra-cíclico;

4. Correlação: alta ou baixa;

5. Timing: leading, lagging, e coincidente.

Os movimentos comuns, inicialmente quantificados por Burns e Mitchell (1947),

referem-se a respostas conjuntas dos agregados econômicos a um choque ou evento. Os autores

identificaram também as fases dos ciclos dos negócios como de expansão e contração.

Entendendo mais tarde que os ciclos não se apresentam de forma periódica, a

persistência, termo classificado por Long e Plosser (1983), é o período de tempo de duração em

que as séries se desviam para cima ou para baixo de sua trajetória média de longo prazo.

Segundo os autores, uma vez que o desvio ocorre para cima, as séries tendem a permanecer

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acima da média por alguns períodos, e vice-sersa.2 Campbell e Mankiw (1987) encontraram

que, para um processo autoregressivo de ordem 3, AR(3), os choques sobre o produto têm

persistência relativamente alta, com coeficiente acima de 1, indicando que variações do produto

são seguidas por variações no próprio produto na mesma direção.

No que se refere às reações das variáveis aos choques, que indica a direção do

comportamento dos agregados econômicos durante o ciclo, pode ser classificada, de acordo

com Dias (1998), como: procíclicas, que acompanham o movimento do ciclo, aumentam nas

prosperidades e diminuem nas crises; contra-cíclica, que são contrárias ao movimento cíclico; e

acíclicas, que não se alteram durante o ciclo.

Além disso, os ciclos dos negócios são observados de acordo com o comportamento de

indicadores cíclicos. Os ciclos diferem em duração e amplitude, e esses indicadores apresentam

as diferenças de abrangência e propagação dos ciclos dos negócios entre as unidades

observadas (regões, indústrias, setores de atividades). De acordo com Zarnowitz (1996, p. 289),

as fases de expansões (contrações) fortes tendem a se espalharem mais do que as expansões

(contrações) mais fracas. Os indicadores de difusão são componentes de maior peso percentual

nas séries de tempo, e, portanto têm maior correlação com as taxas de variação das séries.

Dessa forma, os indicadores de propagação são os líderes no movimento cíclico, e então são

objeto de previsões para os agregados econômicos. Assim, para verificar agentes de propagação

implica em identificar a variação característica dos indicadores cíclicos referente ao seu tempo

relativo de reação (timing). Dentro desta classificação, os agregados podem ser indicadores

líderes (leading indicators), se seus pontos de desvio costumam reagir antes do ponto de

inflexão ou reversão cíclica, e indicadores defasados (lagging indicators), se reagem depois dos

pontos de inflexão do ciclo econômico, sendo estes últimos menos voláteis. Os indicadores

coincidentes (coincident indicators) caminham próximos aos movimentos cíclicos,

demonstrando uma correspondência quase proporcional, tanto em expansões como em

recessões. 3

2Inicialmente, a perodicidade dos ciclos econômicos, como um todo, foi classificada por Schumpeter (1950) em

uma investigação experimental como: ondas longas, chamadas de ciclos de Kondratieff, com 54 a 60 anos de

duração; ondas de duração entre 9 e 10 anos, chamadas de ciclos de Juglar; e ondas curtas de periodicidade

próxima de 40 meses, denominadas de ciclos de Kitchin.

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1.2. Fases dos Ciclos de Negócios

As componentes dos ciclos podem ser apresentadas como crise e prosperidade. A crise

é composta pela recessão (ou contração), fase econômica entre o pico (cume ou topo) e o fundo

(piso ou vale), e pela depressão, quando tal fase é extremamente profunda, e atingiu o ponto

mais baixo do nível de atividade econômica, por exemplo, momento em que o desvio do nível

do produto em relação a sua média de longo prazo é o maior. A prosperidade é formada pela

recuperação, fase econômica entre o fundo e o pico, e a fase de expansão, quando tal fase está

se aproximando do pico.

Um ciclo econômico completo pode ser medido através da extensão entre um fundo e

outro, ou através da extensão que vai de pico a pico. Uma representação gráfica de ciclo está

apresentada na Figura 1.

Figura 1: Picos e Fundos dos Ciclos de Negócios

Neste contexto, as flutuações econômicas podem ser analisadas por meio dos choques

advindos da oferta ou da demanda, principalmente. Choques de oferta são considerados como

resultado de choques tecnológicos, de alteração na produtividade média, ou causados por

fatores exógenos como furacões e guerras. Os choques de demanda são principalmente

causados por variações nas preferências dos agentes, variações na moeda, ou ainda, variações

de políticas fiscais.

Dentro do exposto, destacamos a seguir um breve histórico das teorias dos ciclos

econômicos, com o intuito de identificar suas causas, por meio da oferta agregada ou da

3Zarnowitz (1996, p. 293). Tradução nossa.

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demanda agregada. Considerando o avanço no entendimento dos ciclos econômicos e o

dinamismo da produção acadêmica recente na área, ênfase é dada para as teorias novo-clássica

e novo-keynesiana.

II. As Teorias dos Ciclos de Negócios e suas Principais Características

2.1. Breve Histórico das Teorias dos Ciclos

Apesar de que alguns ensaios teóricos sobre possíveis causas dos ciclos econômicos

precedem o século XIX,4 os ciclos dos negócios recebeu atenção científica a partir da década de

trinta, em decorrência das grandes flutuações que ocorreram nas economias industrializadas.

Em 1898, Knut Wicksell, em sua contribuição da teoria quantitativa da moeda, associou

as expansões econômicas com taxas de juros de mercado abaixo das taxas de juros naturais,

provocando aumento de preços. Mais tarde, essa idéia foi aplicada para os ciclos dos negócios

que conciliava à política do Banco Central, em que expansões monetárias causariam quedas na

taxa de juros de mercado em relação à taxa de equilíbrio (natural), implicando aumento na

demanda por investimento e conseqüente aumento dos preços, criando um período de expansão

econômica, ou boom.5 Hawtrey colocava que ―...uma queda na taxa de desconto [taxa real de

juros] ocasionada pelo sistema bancário, em especial o Banco Central, induziria pessoas a

emprestar mais, de tal forma que o montante de meio circulante aumentaria e preços

elevariam.‖ Sobre esta abordagem, Haberler (1932, p. 5) completa que,

―Agora, de acordo com o Sr. Hawtrey, existe uma tendência em nosso sistema bancário a manter

a taxa de juros muito baixa durante o movimento de expansão (upward swing) do ciclo; então os

preços sobem, nós incorremos em uma inflação de crédito, e mais cedo ou mais tarde os bancos

são forçados a tomar medidas para proteger suas reservas—eles aumentam a taxa e trazem à tona

a crise ou a depressão.‖

A explicação de Wicksell sobre o processo de acumulação mostrou influência nos trabalhos de

Keynes (1936) e Schumpeter (1939) sobre o processo pelo qual a propagação do ciclo de

negócios ocorre.

4Jevons (1875) defendia que variações meteriológicas causavam variações de radiação solar e afetavam a

produção de milho, e, portanto, os preços dos produtos agrícolas, comprometendo a confiança nos negócios,

surgindo crises comerciais. Jevons calculou ciclos econômicos de 10,5 anos que não foram confirmados no Reino

Unido. No entanto, o tema dos ciclos econômicos marcava seu início. 5Hawtrey (1934) apud Simonsen e Cysne (1994).

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Keynes (1936) enfatizou a demanda efetiva como determinação de produto e emprego.

No entanto, colocou que nem todas as flutuações na demanda efetiva, por meio dos gastos de

investimentos e da propensão marginal a consumir, seriam de ordem cíclica.6

Inicialmente, Keynes (1936, 293-394) descreve os movimentos cíclicos de forma

simplista, como um movimento de variação física, enfatizando a existência de certo grau de

regularidade e duração dos ciclos.

Além disso, Keynes coloca que os gastos autônomos dos investimentos são

relacionados com as expectativas dos agentes de negócios quanto às vendas futuras. Assim, o

comportamento pessimista ou otimista do empresário quanto às variações esperadas dos

negócios, inspirado pelo caráter intuitivo dos empresários, animal spirit, poderiam criar

variações abruptas dos investimentos privados, causando recessões e expansões.7 Como

exemplo, selecionamos a descrição de Keynes típica de fases de expansões e de recessões.

―As últimas etapas da expansão são caracterizadas por expectativas otimistas relativas ao

rendimento futuro dos bens de capital suficientemente fortes para compensar a abundância

crescente desses bens, a alta de seus custos de produção e, provavelmente, também, a alta taxa

de juros. (...) Além disso, o pessimismo e a incerteza a respeito do futuro que acompanham um

colapso da eficiência marginal do capital suscitam, naturalmente, um forte aumento da

preferência pela liquidez e, conseqüentemente, uma elevação da taxa de juros. (...) [Isso] pode

agravar seriamente o declínio do investimento‖ (KEYNES, 1936, p. 295).

―Nos primeiros momentos de uma depressão típica verifica-se provavelmente um investimento

no aumento dos estoques, que ajuda a compensar o desinvestimento no capital circulante; na fase

seguinte pode haver um curto período de desinvestimento, tanto em estoques como em capital

circulante; depois que se alcançou o nível inferior da depressão aparece, em geral, um

desinvestimento suplementar nos estoques que equilibra parcialmente os reinvestimentos no

capital circulante; e, finalmente, quando a recuperação tiver avançado bastante, ambos os fatores

serão simultaneamente favoráveis ao investimento‖ (KEYNES, 1936, p. 297).

Haberler (1937) mostrou a controvérsia existente na época sobre a importância relativa

das causas dos choques e dos seus mecanismos de propagação.8 De acordo com Haberler

(1932, p.1), ―o ciclo econômico é um movimento em forma de onda das atividades dos

negócios [do nível da produção] (...) períodos de progresso rápido são seguidos de períodos de

6 “Qualquer flutuação no investimento, não compensada por uma variação correspondente na propensão a

consumir, resulta, necessariamente, numa flutuação no emprego. Portanto, dado que o fluxo de investimento está

sujeito a influências bastante complexas, é muito improvável que todas as flutuações, tanto as do próprio

investimento como as da eficiência marginal do capital, sejam de caráter cíclico‖ (KEYNES,1936, p. 294). 7Esta visão sobre as expectativas Keynes conjugava com Pigou apud Zarnowitz (1992, p.16), que também

observava uma propagação de superotimismo em expansões e desapontamento ou superpessimo em contrações. 8Haberler (1932).

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estagnação.‖ Além disso, o autor enfatiza que as ―teorias‖ dos ciclos dos negócios, em geral,

não distinguem as fontes alternativas de quedas de preços, se resultam de uma contração do

meio circulante (que provocaria uma depressão) ou de uma queda nos custos de produção,

como conseqüência de inovações ou melhorias tecnológicas (em que preços cairiam

gradualmente).9 De qualquer forma, para Haberler as expansões econômicas, sendo ou não

causadas por mudanças nas expectativas dos investidores, precisam ser financiadas por algum

montante de crédito, propriciado por recursos aplicados por indivíduos ou corporações

previamente, relacionando as flutuações econômicas com as expansões monetárias.

Na década seguinte, Burns e Mitchell (1946, p. 3) publicaram um trabalho empírico

formal sobre a quantificação dos ciclos econômicos, aplicado para a economia dos Estados

Unidos. Então, a partir deste trabalho, os ciclos de negócios passaram a ser entendidos da

seguinte forma:

―Os ciclos de negócios são um tipo de flutuação encontrado na atividade econômica agregada

das nações que organizam seu trabalho principalmente em empresas de negócios; um ciclo

consiste em expansões que ocorrem ao mesmo tempo em muitas atividades econômicas,

seguidas por recessões, contrações e recuperações igualmente generalizadas, que se fundem com

a fase de expansão do ciclo seguinte; essa seqüência de mudanças é repetitiva mas não é

periódica; a duração dos ciclos de negócios varia de mais de um ano a dez ou doze anos; eles

não são divisíveis em ciclos menores de caráter semelhante com amplitudes as suas‖.

As flutuações econômicas posteriores à II Guerra Mundial apresentaram padrões de

variação nas séries temporais recorrentes e próximas dos ciclos de Mitchell, resgatando o

respeito às teorias dos ciclos, ofuscadas com o evento da Grande Depressão, pois seus efeitos

foram se dissipando ao longo do tempo, e o sistema econômico como um todo não foi impelido

eternamente à crise.

A partir de então, a análise macroeconômica utilizou uma interpretação para a teoria

geral do equilíbrio, a abordagem IS-LM de Hicks (1937) e Hansen (1953), para tratar os

problemas predominantes entre o período que compreende os anos 50 e início da década de 70.

O debate acadêmico marcou uma época de relativo entendimento e convergência de idéias

econômicas, classificado como a Síntese Neoclássica-Keynesiana.10

No entanto, como o modelo IS-LM, amplamente difundido na academia, toma o nível

geral de preços como dado e a inflação era cada vez mais um fenômeno preocupante das

9Tradução nossa.

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economias do pós-guerra, a curva de Phillips foi criada como uma emenda para explicar o

ajustamento de preços.11 Na abordagem IS-LM, os preços são considerados dados, em virtude

da fundamentação microeconômica da concorrência perfeita e da moderna teoria quantitativa

da moeda, propondo relação direta entre moeda e preços, implicando que a política de regra de

crescimento do estoque de moeda deveria estar de acordo com o crescimento do produto para

manter estável a variação dos preços, evitando as flutuações econômicas.

A curva de Phillips, proposta originalmente por Phillips (1958), mostrava a existência

de uma relação negativa entre a variação dos salários nominais e a taxa de desemprego. Tal

abordagem foi então ampliada por Friedman (1968) e Phelps (1968) para incorporar as

expectativas sobre as variações de preços pois, ambos concordavam que é o salário real que

aumenta quando a demanda por mão-de-obra aumenta. A análise da curva de Phillips até então

permitia atingir e manter um nível permanentemente baixo de desemprego, desde que se

tolerasse um nível permanentemente alto de inflação. Assim, políticas econômicas eram

conduzidas de forma a reduzir flutuações, em especial no desemprego, conforme fossem os

pesos da inflação e do desemprego na função de perdas sociais de cada economia. Porém,

Friedman e Phelps mostraram que políticas econômicas que explorassem tal relação falhariam

pois, de acordo com os princípios microeconômicos, a taxa de desemprego de equilíbrio, ou

natural, deveria depender da oferta e demanda por mão-de-obra, do tempo ótimo de procura de

vagas (optimal search time), entre outras variáveis, e não da taxa média de crescimento da

moeda.12 De acordo com Lucas (1980, p. 705), por razões diferentes,

―...ambos os papers de Friedman e Phelps carregavam a implicação clara que ‗excesso de

demanda‘ não era necessária nem suficiente para inflação de preços ou salários, e que qualquer

taxa média de inflação era teoricamente consistente com qualquer nível de desemprego. Essa

conclusão, atingida via racionalidade neoclássica impecável, conflitava com a predição de um

tradeoff produto real-inflação, o qual estava no centro dos modelos fundamentados na síntese

neoclássica.‖13

Dessa forma, Blanchard (1992, p.19) aponta que a preocupação com os fundamentos

microeconômicos dos modelos macro se apresentava desde os anos 60, quando o chamado

10De acordo com Lucas (1980), complentações à teoria de Keynes seguiram vários temas a partir de então. 11Mankiw (1990, p. 1645). 12Mankiw. Op. cit. p. 1647. 13Tradução nossa.

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bloco salário-preço foi amplamente explorado, com o intuito de entender seu funcionamento e

aplicabilidade para o mundo real. Diversas linhas de pesquisas surgiram e

―...muitas delas foram apresentadas no volume de Phelps sobre emprego e inflação. Essas linhas

também chamavam a atenção para o importante papel das expectativas, e o palco estava

montado para a introdução de expectativas racionais. Obstáculos técnicos foram eliminados no

início dos anos 70, e o trabalho sobre as suas implicações se encaminhou rapidamente.‖

Portanto, a maturidade intelectual e os problemas do início da década de 70 nas

principais economias mundiais exigiram avanços da teoria econômica. Um dos avanços que se

seguiu foi a forma de como interpretar as expectativas dos agentes e sua formulação nos

modelos econômicos.

2.2. A Incorporação das Expectativas Racionais

A partir da década de 70, a teoria dos ciclos econômicos desenvolveu-se

substancialmente com os modelos de expectativas racionais, nos quais os agentes econômicos

têm ampla informação sobre o sistema econômico e suas tendências e corrigem seus erros

periodicamente de forma a estar no longo prazo, em média, corretos. Tais modelos têm como

marco inicial Muth (1961), que fora amplamente difundido por Lucas (1972), o qual trata da

discussão sobre a neutralidade da moeda e evidencia a influência das expectativas nos modelos

que tentam explicar as flutuações econômicas. De acordo com Lucas, os erros de expectativas

provocam custos advindos das decisões equivocadas ou subótimas tomadas com base em tais

expectativas. Dessa forma, os agentes tentam evitar tais erros, principalmene os sistemáticos.

De acordo com Hoover (1990, p.16), as expectativas racionais apresentam duas

hipóteses: a hipótese fraca refere-se à formação de expectativas na qual as pessoas aprendem

com seus erros e não persistem em cometê-los, os agentes detêm informação imperfeita; e a

hipótese forte é aquela em que as pessoas realmente conhecem a estrutura do modelo que

descreve o mundo verdadeiro e usam tal conhecimento para formar suas expectativas,

implicando em previsão perfeita.

Lucas, em seu trabalho "Understanding Business Cycles" (1977), conceitua os ciclos

dos negócios como: as regularidades dos ciclos dos negócios são movimentos comuns

(comovements) de desvios da tendência em diferentes séries temporais agregadas.

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Na tentativa de capturar todos os elementos centrais dos ciclos, alguns modelos da

década de 70 colocavam que a explicação dos ciclos econômicos exigia um retorno às

discussões sobre as influências psicológicas no comportamento dos agentes. No entanto, uma

explicação mais plausível esclareceu que os modelos individuais existentes colocam em

evidência as ocorrências específicas que são importantes e que a acumulação gradual de

conhecimento sobre os choques e os mecanismos de propagação fazem com que os modelos de

expectativas racionais estejam consistentes com os ciclos econômicos observados.

Neste contexto, ciclos de negócios são conceituados como sendo os componentes

estocásticos das séries temporais macroeconômicas, em que ciclos são classificados como

processos estocásticos (aleatórios) estacionários (transitórios).14 Nelson e Plosser (1982, p.

160) consideram que os dois principais componentes do produto agregado são o componente

tendência (não-estacionário), normalmente associado ao crescimento (growth) de longo prazo,

e o componente cíclico estacionário, associados às flutuações de curto prazo. Choques sobre o

componente crescimento (trend) tenderiam a ser permanentes, de tal forma, que esta não

poderia ser considerada uma tendência determinística.

A partir daqui, optamos por tratar principalmente os modelos de ciclos de negócios

classificados sob dois contextos teóricos, os primeiros dentro da abordagem teórica

neoclássica, os modelos novos-clássicos, e os de base teórica keynesiana, os novos-

keynesianos, analisados de acordo com as causas dos choques.

2.3. Os Modelos Novos-Clássicos dos Ciclos de Negócios

De acordo com a classificação proposta, os modelos de base teórica na abordagem

clássica enfatizam três interpretações: modelos dos ciclos reais de negócios (CER), modelos de

ciclos monetários e modelos de ciclos de mudanças setorias. Tais propostas contemplam a

participação das expectativas nos ciclos econômicos em modelos de equilíbrio com preços

flexíveis. No entanto, essas teorias apontam para diferentes causas dos ciclos dos negócios, que

aprentamos a seguir.

2.3.2. Modelos de Ciclos Monetários: A Percepção Equivocada Local conforme Lucas

14Veja por exemplo, Nelson e Plosser (1982).

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A partir do desenvolvimento das expectativas racionais, os modelos de ciclos

monetários foram incialmente tratados por Lucas (1972, 1973, 1976), os quais utilizam

informação incompleta como racionalidade para explicar os efeitos temporários das

disturbâncias monetárias sobre as variáveis reais.

O modelo apresentado por Lucas (1972, 1973), conhecido como modelo de percepção

equivocada monetária local dos agentes, enfatiza as flutuações cíclicas como resultado de

choques de demanda advindos de variações na moeda. Neste tipo de modelo, apesar das

expectativas racionais, a falta de informação imediata no que se refere aos choques monetários

implica que os agentes possam interpretar os movimentos do nível geral de preços

errôneamente, como se fossem mudanças nos preços relativos, referentes à demanda de seu

produto. Então, o indivíduo acaba por alterar a quantidade produzida quando não deveria fazê-

lo.

Assim, na existência de um choque inesperado de política monetária, que cause uma

pertubação suficiente para atingir a demanda agregada e aumente os preços dos bens, os

vendedores não conseguem distinguir se esse aumento de preços refere-se ao aumento da

demanda relativa de seu produto ou apenas a um aumento do nível geral de preços. Dessa

forma, como a percepção local quanto aos movimentos de monetários é equivocada, os

produtores-vendedores acabam por decidir em aumentar a produção de seu produto, gerando

uma fase expansionista da produção, quando só deveria fazê-lo se o aumento do preço fosse

reflexo do aumento da demanda específica do bem que ele produz e vende. Uma vez iniciado o

processo, o ciclo de negócio ocorre até que passado a fase de expansão, o agente detêm

melhores informações sobre a variação dos agregados monetários e percebe a política

praticada, e observa que nem todos seus novos produtos são vendidos, então o ciclo cessa e o

sistema volta para a situação anterior, de acordo com a taxa natural de desemprego.

O modelo formal de Lucas (1972, 1973) da teoria da falta de percepção monetária local

pode ser apresentado como em McCallum (1989, p. 185-7).

Considere um mercado individual de uma mercadoria específica z. Se pt(z) é o preço de

venda do produto z formado no mercado z e pt o nível geral de preços. Assim, a oferta do

produto z é uma função positiva de do diferencial de preços do mercado individual e do

mercado geral, [pt(z)–pt]. Porém, os agentes no mercado z não conhecem pt, então eles formam

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uma expectativa sobre esta variável, [Ezpt], com base nas informações disponíveis para eles até

aquele momento, [ t–1], tal que:15

Ezpt = E(ptpt(z), t–1)

Ainda, Lucas mostrou que a percepção dos agentes produtores-vendedores seria igual, sob as

condições gerais de mercado, para uma média ponderada de pt(z) e Et-1pt, em que e (1-) são

os pesos, então:

Ezpt = pt(z) + (1-) Et–1pt

Combinando essas duas relações de comportamento, a oferta do produto z no período t

será:

yt(z) = _

y (z) + (1-)[pt (z) – Et-1 pt]

Em que _

y (z) é a oferta normal no mercado z e é uma constante positiva. Considerando a

equação no agregado, a soma desses rendimentos pode ser descrita como:

yt = _

y + (1-)[pt – Et–1 pt]

_

y denota a média da economia como um todo para o produto normal, já que pt é uma média

dos vários preços dos produtos individuais. Essa última equação é uma representação da teoria

da percepção monetária equivocada local (misperception) de oferta agregada de Lucas.16 Ainda,

com algumas manipulações matemáticas pode ser demonstrado que:

pt – Et–1pt = pt – Et–1pt

Substituindo na equação agregada do modelo, se obtém uma interpretação da relação de

Phillips:

(yt -_

y ) = (1-)[pt – Et–1pt]

Assim, esse modelo implica que o produto será alto quando a inflação atual for maior

do que seu valor esperado. Dado que na Lei de Okun, (yt–_

y ) será alto sempre que UNt for

baixo, o modelo é similar à relação Friedman–Phelps. Além disso, esse modelo combinado

com as funções do modelo IS e LM poderia compor um modelo que descreveria a conduta

15 McCallum (1989, p. 186). 16 McCallum. Op. cit.

Page 14: Um ensaio sobre as teorias dos ciclos e das flutuações econômicas - caracteristicas e métodos de análise

14

dinâmica de produto, dos preços e da taxa de juros, permitindo a análise de choques advindo

sobre a demanda agregada, advindos de política monetária inesperada, em pt, ou de fatores

reais, como choques tecnológicos que aumentassem a capacidade produtiva, em _

y .

No entanto, tal mecanismo foi criticado pelo avanço das comunicações e porque alterar

quantidades é mais difícil do que alterar valores monetários. Assim, apesar de tais críticas se

tornarem menos importantes mais tarde, uma nova geração de modelos de ciclos de negócios

surgiu, a teoria dos ciclos reais dos negócios, atendendo as críticas de Lucas quanto à robustez

do modelo no que se refere ao tratamento do comportamento dos agentes econômicos,

inserindo as expectativas racionais em modelos de maximização, em que o equilíbrio do

sistema ocorre.

2.3.1. Modelos dos Ciclos Reais de Negócios

De acordo com esses modelos, a dinâmica dos ciclos dos negócios reflete a interação

entre os choques reais temporários e a produção intertemporal, enfatizando os choques de

oferta por meio de alterações na tecnologia. Os choques de demanda, menos importantes,

poderiam ser capturados por variações nas preferências dos agentes econômicos.17

De acordo com Barro (1992, p. 7), as principais características dos modelos de ciclos

econômicos reais são:

―Os modelos são de equilíbrio em estilo, apresentando mercados competitivos, ajustados

[cleared]; agentes otimizadores que são tipicamente modelados como famílias representativas

com horizontes infinitos; e funções de produção neoclássicas que são sujeitas a distúrbios

estocásticos.‖

Em decorrência da crítica de Lucas, a teoria macroeconômica novo-clássica propõe

então modelos internamente consistentes, aproximando a análise macroeconômica da análise

dinâmica dos modelos de crescimento econômico ao estilo dos modelos originados em Solow.

Seus modelos são fundamentados em três características principais: as decisões econômicas

reais dos agentes - e.g. consumo, investimento e poupança - são embasadas em fatores reais,

não nominais ou monetários (neutralidade da moeda); os agentes são, de acordo com o limite

17Em McCallum (1989, p. 42) encontramos a seguinte comparação: ―Claramente, choques reais poderiam em

princípio estar associados também às preferências dos indivíduos, mas de fato, a literatura tem enfatizado

disturbâncias tecnológicas.‖

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15

de suas informações, otimizadores consistentes e bem sucedidos, eles estão continuamente em

equilíbrio; os agentes não cometem erros sistemáticos ao avaliar o ambiente econômico, eles

detêm expectativas racionais.18

Nessa abordagem os modelos de Kydland e Prescott (1982) e Long e Plosser (1983) se

colocam em destaque, liderando as discussões.

Kydland e Prescott (1982) desenvolveram e aplicaram um modelo de crescimento com

equilíbrio competitivo neoclássico para a economia dos Estados Unidos, com o intuito de

analisar os efeitos de choques tecnológicos nessa economia. O modelo incluiu a variável lazer

nas preferências individuais e os serviços do trabalho na função de produção. A proposta dos

autores era construir um modelo teórico em que choques de produtividade eram incluídos mas

com uma estrutura de decisões de investimento diferente dos modelos tradicionais, por um

lado, os quais exigiam que o preço sombra do capital existente fosse o mesmo que o preço do

bem de investimento. Porém, o preço sombra do investimento, obtido via dados do mercado de

capitais (stock market), varia consideravelmente com os ciclos econômicos, o que não condizia

com a tecnologia assumida nos modelos. Por outro lado, propunham uma alternativa aos

modelos de um bem único de capital de tecnologia com custo de ajustamento, em que o preço

do bem de investimento é qt. O problema do modelo de custo de reposição de capital implica

em uma curva q-investimento onde as elaticidades de oferta de curto e longo prazo seriam

iguais, sendo que se espera que as primeiras sejam menores.19

Assim, Kydland e Prescott (1982, p. 1348-9) enfatizam que o fato de tecnologia

requerer estágios múltiplos para a produção do capital não implica no problema de defasagem

de entrega (delivery lag) do bem de investimento, pois o tempo necessário para a produção de

fato do bem de capital é curto e a defasagem de entrega está relacionada com uma fila de espera

para a entrega.20 Por isso, os autores consideram que um único período é requerido para cada

estágio de construção do capital novo, e que o time-to-build o capital novo é constante.

18Hoover (1990). 19Os autores se referem à equação tradicional que descreve a acumulação de capital como:

k =I-k, sendo a taxa

de depreciação. Por outro lado, os modelos com custos de ajustamento são os modelos ao estilo do q de Tobin. 20 Nesse ponto, os autores contestam os modelos de ciclos econômicos com base na defasagem de tempo

necessária entre a decisão do investimento, a produção do bem de capital e a entrega do bem de capital, como de

Jorgenson (1965) apud Kydland e Prescott (1982), colocando que os modelos não eram consistentes o suficiente

para incorporar o comportamento necessário dos vendedores e compradores, nem para incluir assimetria de

informações ou linha de espera.

Page 16: Um ensaio sobre as teorias dos ciclos e das flutuações econômicas - caracteristicas e métodos de análise

16

Além disso, o modelo teórico inclui um processo estocástico para a estrutura dos

choques tecnológicos (t), com componentes permanentes e transitórios, (1t,2t)

respectivamente, tal que:

t = 1t + 2t + _

Em que _

representa um parâmetro de produtividade. Ainda, os autores consideram os

choques tecnológicos contendo uma persistência alta:

1,t+1 = 1t + 1t

Em que =0,95 e 1t é o choque permanente. Moeda não faz parte da análise do modelo e todas

as equações de equilíbrio resultantes do problema de maximização do agente representativo

dependem apenas de variáveis reais, como: o capital (kt), relacionado à capacidade produtiva

nova, investimento líquido; as decisões sobre investimentos, ou novos projetos de

investimento, que seguem uma estrutura de formação de capital que inclui todo o processo

desde a concepção, fabricação do bem de capital, até a inserção do capital na produção (sjt,

j=1,..,J); o produto (yt), relacionado ao investimento bruto; a relação entre horas trabalhadas (nt)

e a taxa de substituição intertemporal de lazer (); e da estrutura dos choques tecnológicos,

permanentes e temporários, suas médias e variâncias.

Dessa forma, a metodologia de análise inclui a análise das estruturas de erros das

variáveis obtidas via simulações dos choques tecnógicos, com base nas autocorrelações e nas

co-variâncias das séries, indicando uma abordagem dos co-moviments, com a especificação de

leadings e lags. A aplicação do modelo teórico utilizou o recurso da calibragem com base em

estatíticas sobre o comportamento dos agregados da economia americana.

Os resultados mostraram, por meio dos exercícios de calibragem, que o modelo teórico

condizia com o observado na economia americana, porém não para todas as respostas das

variáveis. Além disso, como as variabilidades do produto dependiam da existência de uma alta

taxa de substituição intertemporal da variável lazer, os resultados mereciam cautela. Ademais,

se consideramos os resíduos da função de produção como choques tecnológicos, não é

surpreendente que as economias industrializadas apresentem flutuações cíclicas; sugerindo,

portanto, que os ciclos e suas flutuações são resultados dos choques tecnológicos.

Page 17: Um ensaio sobre as teorias dos ciclos e das flutuações econômicas - caracteristicas e métodos de análise

17

Nelson e Plosser (1982) encontraram que a variância das inovações sobre o componente

tendência (não-estacionário) da série era grande e maior que a variância do componente

transitório (estacionário). Em face dos resultados acerca da transitoriedade das disturbâncias

monetárias sobre variáveis reais, os autores indicam, portanto, que disturbâncias reais (não

monetárias) são mais relevantes como fonte de flutuações do produto do que disturbâncias

advindas de choques monetários.

Long e Plosser (1983) constroem um modelo com vários setores, demonstrando como

os choques econômicos setoriais se propagam na economia como um todo, afetando o produto

agregado. As flutuações são colocadas como naturais de economias de mercado, não havendo

relação negativa com o bem-estar. Assim, a atuação de políticas econômicas com o intuito de

reduzir as flutuações seriam desnecessárias.

King e Plosser (1984) introduzem a moeda e o setor bancário na análise dos ciclos reais

dos negócios. Os serviços bancários são realizados para intermediar a produção de bens e

serviços cujas quantidades variam com o produto real da economia, ou seja, serviços de

transação são considerados como um insumo das indústrias.

Os autores analisam as relações entre moeda, produto e preços sem e com regulação na

atividade bancária. A conduta de política assumida inicialmente é que as autoridades

monetárias controlam o estoque de moeda. Porém, como resultado, depósitos, a variável que

representa os serviços de transação, são ―inside money‖.

A partir daí, em um ambiente sem regulação, se observa que os preços de equilíbrio são

determinados independentes da demanda nominal por depósitos, então uma variação na

quantidade ofertada de moeda seria neutra. Apesar dos desenvolvimentos teóricos, os mesmos

resultados ocorreriam com um sistema sob regulação bancária, com a diferença de que, se o

banco central controla o estoque de moeda de forma exógena, combinando controle sobre as

reservas e sobre os meios de pagamentos, o nível de preços de equilíbrio seria determinado pela

quantidade de moeda sob controle, porém, esta seria aproximadamente super-neutra. O modelo

teórico indica um comportamento contra-cíclico para os preços sob choques inesperados para a

produção real.

Page 18: Um ensaio sobre as teorias dos ciclos e das flutuações econômicas - caracteristicas e métodos de análise

18

Ainda, os resultados demonstraram comportamento distinto entre as variáveis reais e

nominais, e que a maior parte da correlação entre a atividade econômica e moeda ocorreu com

―inside money‖.21

Tais modelos apresentam fundamentos microeconômicos bem formalizados, mas

receberam críticas importantes. Inicialmente, a literatura econômica chegou à conclusão de que

é mais provável que as variações tecnológicas ocorram gradualmente do que por meio de

choques. As variações no emprego, formadas por mudanças nas quantidades de horas que os

agentes desejam trabalhar, foram combatidas pela literatura empírica, pois este comportamento

requer que lazer seja altamente substituível ao longo do tempo e, no entanto, os resultados

empíricos apontam para uma elasticidade substituição intertemporal pequena entre trabalho e

lazer.22

Nesse contexto, a teoria novo-clássica dos ciclos reais dos negócios é mais pré-

keynesiana do que a análise econômica moderna monetarista. A teoria novo-clássica utiliza

suposições convencionais de como o mercado se equilibra, as quais podem ser justificadas

como implicações lógicas do comportamento de maximização individual.

Contudo, Mankiw (1990) resume como principal objetivo da teoria novo-clássica a

reconstrução da macroeconomia começando pelos primórdios microeconômicos de

preferências e tecnologias, e mantendo a premissa de que os indivíduos sempre otimizam e que

os mercados sempre se equilibram (clear).

2.3.3. Modelos de Ciclos de Mudanças Setorias

Uma terceira versão dos ciclos econômicos, menos explorada que a dos ciclos reais dos

negócios, é a das mudanças setoriais, que enfatizam os custos de ajustamento da mão-de-obra

entre os setores. Dentro deste contexto, quando os trabalhadores mudam de um setor para

outro, um período de desemprego faz-se necessário para a busca de novas oportunidades e

vagas. Porém, a evidência empírica tem mostrado que o mais comum é que haja uma queda nas

21Ademais, os autores discordam do ponto de vista daqueles que classificam a teoria dos ciclos reais como uma

visão particular do senso comum combinada a teorias monetárias existentes, que escolhem modelos preferíveis aos

―oucomes‖ desejados. Pois, tais críticas decorrem de teorias enquadradas na visão Keynesiana dos ciclos, inclusive

teorias anteriores, em que os ciclos dos negócios e os ciclos econômicos eram também explicados por causas reais,

como as variações no comportamento dos investimentos e o próprio processo de produção do capital, (King e

Plosser, 1984, p. 378).

Page 19: Um ensaio sobre as teorias dos ciclos e das flutuações econômicas - caracteristicas e métodos de análise

19

mudanças de trabalhadores entre os setores durante as recessões e não um aumento da

rotatividade dos trabalhadores entre os setores.23

2.4. Os Modelos Novos-Keynesianos dos Ciclos de Negócios

De acordo com o segundo contexto teórico, o de base keynesiana, em geral, a hipótese é

que os preços apresentam algum grau de rigidez para baixo. No que se refere às expectativas,

ainda são consideradas as expectativas racionais, em especial, sob a hipótese que admite

informações incompletas, que apóiam a assimetria de informação relacionada à volatilidade dos

mercados.24

Segundo Mankiw (1990), o elo de ligação entre os estudiosos da teoria novo-keynesiana

é a “crença de que as flutuações econômicas não refletem a resposta Pareto-eficiente da

economia a mudanças nos gostos e tecnologias, mas, de outra forma, algum tipo de falhas de

mercado em grande escala.”25 As principais imperfeições de mercado são os ajustamentos

lentos dos salários e preços no curto prazo. Apresentar o fundamento microeconômico para

explicar tal lentidão foi então um dos desafios da teoria novo-keynesiana.

Dessa forma, podemos selecionar as seguintes características para a teoria novo-

keynesiana:26 a teoria não considera a dicotomia clássica, pois as flutuações em variáveis

nominais, como a oferta de moeda, influenciam flutuações em variáveis reais, como o produto

e o emprego; a teoria assume que as imperfeições reais de mercado são cruciais para entender

as flutuações econômicas. Tais imperfeições podem ser classificadas como: a) competição

imperfeita; b) informação imperfeita e assimétrica; c) rigidez dos preços relativos.

De uma forma crítica, Barro (1992, p.1) aponta que o modelo de base keynesiana,

existente no início da década de 70,

―enfatizou a falha das economias de empresa privada em garantir emprego e produção plenos, e

o conseqüente papel para as políticas macro ativas como instrumentos para melhorar os

resultados. Choques na demanda agregada - mas não na oferta agregada - eram a chave para as

flutuações econômicas, e meras mudanças no otimismo ou pessimismo revelaram ser auto-

realizáveis.‖

22Mankiw (1990). 23Mankiw. Op. cit. 24Assim, nesses novos modelos se aplica a hipótese fraca das expectativas racionais. 25Mankiw (1990, p. 1654).

Page 20: Um ensaio sobre as teorias dos ciclos e das flutuações econômicas - caracteristicas e métodos de análise

20

Barro refere-se à formação exógena de expectativas consideradas nos modelos pós-

keynesianos que utilizam as expectativas no sentido de Keynes, de acordo com o caráter

intuitivo dos empresários em relação aos movimentos esperados por estes para o futuro da

economia.

Desde então, os modelos keynesianos destinados a explicar as flutuações econômicas

evoluiram consideravelmente, enfocando diferentes aspectos dos ciclos dos negócios. Assim,

nesse outro grupo de modelos podemos destacar modelos de rigidez de contratos, salariais ou

de preços, fundamentados ainda por rigidezes reais no mercado de trabalho e/ou na estrutura de

concorrência imperfeita.

2.4.1. Modelos de Ciclos dos Negócios com Rigidez de Contratos

Estes modelos são construídos sob o postulado das expectativas racionais que

formalizam rigidez temporária dos salários advinda dos contratos de salários nominais. Os

choques de oferta e demanda aqui classificados operam principalmente por meio de variações

na produtividade marginal do trabalho e de variações nas contas públicas (especialmente nos

gastos governamentais), respectivamente.

Podemos destacar os trabalhos pioneiros de Gray (1976) de salários indexados e Fischer

(1977) de contratos rígidos. A teoria dos salários rígidos de Fischer considera um modelo em

que os preços nominais são determinados por dois (ou mais) grupos e permanecem em efeito

por dois (ou mais) períodos. Os preços pré-determinados são os salários e apresentam o

seguinte raciocínio: enquanto os salários são determinados (por metade da força de trabalho) no

início de cada período (t) para permanecer nos dois períodos subseqüentes (t e t+1), seus

valores são tipicamente diferentes; o valor determinado para cada período é igual ao valor de

equilíbrio de mercado. Como, por hipótese, o produto (emprego) é determinado pelas firmas de

acordo com a regra de equilíbrio da firma, de que produto marginal do trabalho deve ser igual

ao salário real; se o produto marginal do trabalho cai conforme o emprego aumenta, então o

produto está negativamente relacionado a salário real. Assim, para cada grupo, o desvio do

produto real em relação ao produto de equilíbrio é uma função negativa do salário real.

Portanto, produto e emprego são funções crescentes das surpresas de preços. No que se refere à

26Mankiw e Romer et al. (1992).

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21

relação de Phillips existente no modelo de Fischer, este se aproxima do modelo de Lucas, pois

atende à hipótese de taxa natural de desemprego.27

De acordo com Dias (2002a), Phelps e Taylor (1977) mostraram que a política

monetária pode estabilizar flutuações no produto e no emprego num modelo estocástico de

expectativas racionais. A inovação estava no comportamento das firmas que, considerando uma

lucratividade média, estabelecem seus preços antes do período de venda dos produtos.

Portanto, o modelo comporta rigidez de preços e salários com a pré-determinação de contratos.

Como resultado, os autores encontraram que a pré-determinação dos preços aumenta as

flutuações do produto em torno de seu nível normal de emprego.

Além disso, Taylor (1979, 1980) apresentou um modelo de contratos pré-determinados

de salários e, posteriormente de preços, ao estilo de Fischer (1977). A principal diferença é que

os salários ou preços determinados para vigorar em período posteriores não seriam,

necessariamente, diferentes nos períodos subseqüentes. Ainda, o salário a vigorar de forma

escalonada não foi especificado como o salário de equilíbrio.

O modelo de Taylor (1980) incorpora uma função de demanda agregada com uma

estrutura de choques correlacionados no tempo e uma curva de Phillips de determinação de

preços, tal que:

yt = 1yt-1 +2yt-2 +3(mt-pt) +4(mt-1-p

t-1) +5Et-1

t +6T +0 +t

t = t - 1t-1

Em que yt representa os gastos reais, medido através do desvio em relação a sua tendência no

tempo (trend); mt refere-se aos encaixes monetários durante o período t; pt é o nível geral de

preços no período t; t é a taxa de inflação no período t (pt+1

-pt); T é a variável trend para o

período respectivo; t representa choques randômicos que possam ocorrer no produto; e, t-1

captura choques randômicos sobre a inflação no período t-1.28

t = t-1

+ 1Et-1yt + 0 + t

t =

t - 2

t-1

Em que t é a estrutura estocástica dos choques randômicos sobre a inflação e

t representa

qualquer choque aleatório sobre a inflação advindo de variações na moeda. A variável yt é o

27McCallum (1989, p. 191). 28Todas as variáveis são consideradas em termos de logaritmos (log).

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22

logaritmo da taxa de emprego, o log do produto real atual menos o log do produto real

potencial. Dessa forma, o sinal esperado de 1 é positivo, pois quando a taxa de emprego

aumenta, o preço também aumenta, dada uma estrutura de markup dos preços. Se o produto

atual for menor que o produto potencial, então yt representa a taxa de desemprego, que é

negativa, e a variável terá efeito negativo sobre a inflação. Assim, a equação dos preços de

Taylor implica uma Curva de Phillips perfeitamente aceleracionista, em que, se o produto real

t irá acelerar. Incorporando a

taxa natural de desemprego no modelo para desenvolver uma regra de política ótima, a curva

de Phillips de Taylor mostra uma relação de segunda-ordem no longo prazo, sobre a variância

da inflação e a variância do produto em torno do potencial, ou o desvio dessas variáveis em

relação as suas respectivas médias.

Os resultados dos modelos de contratos de trabalho pré-determinados mostraram

implicações importantes para políticas macroeconômicas, que foram contrárias aos resultados

de Sargent e Wallace (1975) de que a moeda é neutra. Pois, a hipótese de salários nominais

rígidos proporcionava às autoridades monetárias controle sobre os salários reais, via preços, e

portanto, sobre o emprego. Por outro lado, as teorias de ciclos econômicos de abordagem novo-

clássica, mostravam que apenas movimentos não esperados da moeda eram causadores de

flutuações. Sargent e Wallace (1975) afirmava que política monetária sistemática é irrelevante

para a trajetória do produto e emprego.

Alguns anos mais tarde, foi demonstrado que as expectativas racionais por si só não

torna a política econômica irrelevante, pois é possível construir modelos com expectativas

racionais, segundo os quais política monetária é capaz de estabilizar a economia, e pode

portanto, afetar produto e emprego, em especial, no curto prazo. Além disso, em modelos com

contratos rígidos, os efeitos da surpresa monetária perdurariam durante o período de vigência

dos contratos, e não apenas imediatamente após a surpresa, e a persistência da política

dependeria do grau de rigidez existente no sistema. Ainda, nos modelos de expectativas

racionais, em que os preços são tratados em multi-períodos, o processo de revisão de

expectativas depende não apenas das surpresas monetárias, mas também dos parâmetros da

conduta de política. Assim, o desvio do produto em relação ao seu nível normal médio é

afetado pela surpresa monetária e pelos parâmetros da conduta de política. No entanto, se não

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23

houver choques mas houver mudanças estruturais nos parâmetros da política monetária, por

exemplo, haveria efeitos sobre o desvio do produto em relação ao seu nível normal. Porém, a

Crítica de Lucas destaca que o modelo estrutural deve ser preservado, de tal forma que, sua

construção não esteja sujeita a alterações de parâmetros, que indicassem quebras estruturais,

caso este em que não seria possível tratar análises de estática comparativa.29

Entretanto, as críticas principais para as teorias de contratos pré-determinados podem

ser resumidas como as seguintes: estudos exploravam outras formas de relacionamento entre

firmas e trabalhadores, como os de partilha de riscos (risk-sharing); nas relações de longo

prazo, outros modelos mostraram que o salário pago não teria que ser igual ao produto

marginal do trabalho em todos os períodos, os mercados spot; os movimentos cíclicos do

salário real não são consistentes em modelos com contratos pré-determinados.30

Além disso, enfatiza Barro (1992, p. 11) que

―Basicamente, a introdução de uma capacidade de realizar contratos de longo prazo tende a

fazer os mercados privados funcionar mais eficientemente, ao invés de menos eficientemente

como no modelo keynesiano. Se o problema básico das flutuações econômicas é uma

incapacidade dos agentes em coordenar decisões, então seria de fato surpreendente se esse

problema se originasse da capacidade de se fazer contratos.‖

Tal interpretação de Barro refere-se às suposições dos novos-keynesianos sobre falhas de

coordenação conjunta nos mercados serem suficientes para criar flutuações cíclicas.

2.4.2. Modelos de Ciclos dos Negócios com Rigidez de Preços

Esses modelos, sob o postulado das expectativas racionais, enfatizam a rigidez dos

preços das mercadorias, advinda do comportamento das firmas que não alteram os preços por

um determinado período de tempo para economizar custos, acomodando variações da demanda

agregada e relativa através de variações na produção e estoques. Desta forma, choques

monetários têm efeitos reais. No entanto, como os ajustamentos de preços são incorporados nas

antecipações que as firmas projetam com relação à política monetária, as conseqüências sobre

29O que deveria variar com a dinâmica da política econômica seriam os desvios do produto no tempo em relação a

sua tendência e não o comportamento da relação oferta agregada e demanda agregada, por exemplo, McCallum

(1989, p. 211-15, p. 225-30). 30Mankiw (1990, p. 1656-7).

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as variáveis reais de movimentos antecipados na moeda são menores que os movimentos não

antecipados da moeda, podendo, o primeiro, ser neutralizado. Os principais modelos deste

subgrupo são McCallum (1980), Rotemberg (1982), Mankiw (1985) e Blanchard e Kiyotaki

(1987).

De acordo com Mankiw (1990), os custos de menu têm duas definições: a literal,

segunda a qual os custos de menu são os custos requeridos para enviar novas listas de preços; a

realista, onde os custos de menu incluem o tempo requerido para se informar os clientes, o

afastamento de clientes por causa de mudanças de preços, e o esforço requerido para se

considerar uma mudança de preços. A partir dessa análise, as ponderações de teoria de jogos

que ocorrem na prática de concorrência imperfeita e do comportamento rival entre as firmas,

podem ser adicionadas como custos envolvendo o ajustamento de preços.

Dentro do contexto da estrutura de concorrência imperfeita, os modelos evitam alguns

problemas que ocorrem com outros instrumentos de análise. Com a firma sob concorrência

monopolística, é possível explicar com fundamentação microeconômica rigorosa porque as

firmas que determinam preços falham em reestabelecer equilíbrio; e observar a função da

rigidez de preços em alocar recursos. Ainda, estes modelos com custos de menu não implicam

em salários reais contra-cíclicos.

Blanchard e Kiyotaki (1987, p. 650) discutem o papel da estrutura de concorrência

monopolística para entender os efeitos da demanda agregada sobre a atividade econômica.

Consideram equilíbrio como sendo uma relação entre os encaixes reais e demanda agregada,

um par de funções de demanda por bens e por trabalho e um par de regras de preços e salários.

A regra de preços descreve a determinação do preço relativo (real) do bem produzido pela

firma monopolista, enquanto a regra de salários indica o comportamento dos agentes em

maximizar o excedente por ofertar trabalho.

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25

Além disso, Blanchard e Kiyotaki (1987, p. 654) mostram que o fato de existir

externalidades da demanda agregada31 no mercado de bens com concorrência monopolística

implica em quantidade produzida menor, portanto, gera ineficiências, porém não implica que

movimentos na demanda agregada afetam a produção. Para que movimentos na demanda

agregada atinjam produção e bem-estar, é necessário que a estrutura de concorrência

monopolística seja associada a outras rigidezes, como os custos de menu. Dessa forma, se as

autoridades monetárias são capazes de alterar a quantidade ofertada de moeda, podem afetar,

com preços e salários que não se ajustam, a quantidade real de moeda, que por sua vez,

interfere na quantidade demandada de bens, atingindo produto e bem-estar econômico. Assim,

na presença de custos fixos, aumentos na oferta monetária provocam variações no produto, na

produtividade e na profitabilidade na mesma direção.32

Dessa forma, tanto Mankiw (1985) quanto Blanchard e Kiyotaki (1987) apresentam

modelos com estruturas de mercado sob o regime de concorrência monopolística com rigidez

de preços advindos de custos de menu, analisando o efeito de choques nominais. Como esses

modelos não eram dinâmicos, a distinção entre políticas que utilizam variáveis nominais

antecipadas e não-antecipadas não foram exploradas. No entanto, é esperado que os resultados

sejam diferentes do modelo de McCallum (1982), no qual existem efetivamente custos zero de

mudanças de preços entre períodos e custos infinitos de mudanças de preços dentro do período,

ou durante a vigência do contrato. Nesse último modelo, como em Mankiw (1985), choques

nominais, antecipados ou não, tenderiam a ser neutralizados. Porém, variações pequenas e

antecipadas na moeda poderiam não ser neutralizadas se os custos de menu fossem

suficientemente proibitivos.

31Blanchard e Kiyotaki (1987, p. 653), considerando a existência de equilíbrio em mercado de concorrência

monopolística, uma queda no preço da firma ―levaria a uma pequena queda no nível de preços e, portanto, um

pequeno aumento na demanda agregada. Enquanto as outras firmas e famílias se beneficiariam pelo aumento da

demanda agregada, a firma original não conseguiria capturar todos os benefícios e, portanto, não teria incentivo

algum para diminuir seus preços.‖ 32Blanchard e Kiyotaki. Op. cit. p. 663.

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Ball e Romer (1990) argumentam que, nesse caso, a rigidez nominal se torna um

equilíbrio se o agente ao resistir à mudança de preço se encontra em uma posição em que o

custo privado (PC)33 da rigidez nominal for menor que o custo de menu decorrente do

ajustamento de preços.

Conforme Mankiw (1990, p. 1658), Ball e Romer (1990) mostram que as rigidezes

nominais causadas por custos de menu são ampliadas com as rigidezes reais, como, por

exemplo, os salários de eficiência. De acordo com este conceito, desenvolvido por Yellen

(1984)34, as firmas não reduzem salários em época de desemprego para evitar quedas de

produtividade. Se os salários resistem a quedas, os custos das firmas se mantém altos e as

firmas ficam inabilitadas de reduzir preços.

Desse modo, os modelos novos-keynesianos para assegurar que choques à demanda

agregada causem flutuações requerem que os custos do trabalho não caiam tanto quanto

cairiam se o mercado de trabalho estivesse sob condição de concorrência. Ball e Romer (1990)

apresentam um modelo básico que replica as condições de Akerlof e Yellen (1985), de

pequenos desvios da otimização completa (near rationality), e Mankiw (1985), de pequenos

custos de mudanças em preços (menu costs), para demonstrar que as rigidezes reais apenas se

manteriam diante de valores implausíveis dos parâmetros, entre eles que a oferta de trabalho

deveria ser altamente elástica.

Dessa forma, Ball e Romer (1990) desenvolvem um modelo com uma imperfeição

adicional ao custo de menu e à concorrência imperfeita, uma imobilidade no fator trabalho. Os

autores incluem uma demanda assimétrica para as firmas com inclinação alta, resultante da

concorrência imperfeita, mas que não é necessariamente quebrada como em Stiglitz (1979) e

Woglom (1982) apud Ball e Romer (1990). Então, o modelo básico é modificado de forma que:

cada bem é produzido por vários produtores, ao invés de um; cada produtor vende para um

33O custo privado de rigidez nominal é a perda que o agente produtor-vendedor incorre por não manter seu preço

relativo igual ao nível de sua maximização de utilidade. 34Ball e Romer (1990) apontam que a teoria dos salários de eficiência estava presente nos trabalhos de Solow

(1979), Shapiro e Stiglitz (1984) e Bulow e Summers (1986).

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27

grupo de consumidores, ao invés de para todos; e há heterogeneidade nos gostos, tal que uma

proporção dos clientes do produtor-vendedor se comportam de acordo com o preço deste

produtor. A assimetria da demanda implica que os consumidores reagem diferente para

aumentos e quedas no preço de seu vendedor. O número de clientes que passam a comprar seu

produto e o número de clientes que deixam de comprar seu produto quando ocorre ajustamento

de preços pela firma não é simétrico. Assim, um aumento de preços afugenta clientes, mas uma

queda não necessariamente atrai novos consumidores pois os clientes de outros vendedores não

acompanham o preço dessa firma. Portanto, diferente dos modelos anteriores é que se a firma

ajusta preços, na ocorrência de uma choque negativo de demanda, causa perda de clientes.

A rigidez real no mercado de trabalho é incluída por meio da hipótese dos salários de

eficiência. Sob essa hipótese, os salários reais dependem não dependem da oferta de trabalho.

Então, os salários não se ajustam instantaneamente aos choques de demanda agregada. Ainda,

não há consenso sobre o comportamento acíclico dos salários reais, mas se concorda que o

salário real sob a hipótese de salários de eficiência é menos procíclico que no caso de

concorrência perfeita no mercado de trabalho.

Assim, os autores demonstram que um modelo em que os preços dos bens são rígidos,

os salários são flexíveis e imperfeições reais no mercado de trabalho, pequenos custos de menu

são capazes de criar grandes flutuações, na ocorrência de choques da demanda agregada

advindos de variações no agregado monetário.

No entanto, os trabalhos de Dias (1997, 2002b) desenvolvem um modelo

macroeconômico que incorpora características novo-clássica e novo-keynesiana, com o intuito

de possibilitar a análise das flutuações cíclicas nos agregados econômicos. O fundamento

microeconômico da estrutura de mercado é a concorrência monopolística, como em Blanchard

e Kiyotaki (1987), que tornou possível capturar tanto efeitos de choques reais, como os

tecnológicos, quanto choques nominais, como de surpresas monetárias. Pois, considerando a

hipótese de livre entrada, o equilíbrio do modelo no longo prazo se aproxima da concorrência

Page 28: Um ensaio sobre as teorias dos ciclos e das flutuações econômicas - caracteristicas e métodos de análise

28

perfeita, o qual é derivado através do estado estável. Dessa forma, os movimentos de curto e

médio prazo com os de longo prazo podem ser distinguidos.

A formulação do modelo implica que os consumidores consideram os custos advindos

do tempo gasto nas transações, como o shopping-time cost de Bordo e Evans (1991), em que

moeda não é neutra; e que os produtores observam o preço relativo entre seus preços

individuais e o nível geral de preços em suas decisões de preço e produção. Ainda, os

resultados do modelo teórico sugerem que o consumo no estado estável depende positivamente

do salário real, negativamente dos custos referentes ao tempo gasto com transações e

positivamente dos encaixes reais; e a demanda por moeda depende positivamente do nível geral

de preços ocorrido no estado estável, do volume de transações e do salário nominal. Assim,

avanços nos custos de transações podem ampliar o consumo agregado, assim como ganhos no

poder de compra da moeda são capazes de aumentar o consumo.

Portanto, os modelos novos-keynesianos e novos-clássicos de ciclos dos negócios

apresentados nas décadas de 80 e 90 acabaram por utilizar os mesmos instrumentos para a

formalização dos modelos e a análise das flutuações econômicas, fatos que unem as duas

correntes numa interpretação conhecida como mainstream, porém enfatizam causas

predominantes diferentes para os ciclos dos negócios. Os novos-clássicos indicam os choques

tecnológicos como principal causa dos ciclos, apesar de reconhecer outras fontes de flutuações.

Os novos-keynesianos não negam que choques de produtividade possam causar ciclos de

negócios, mas apresentam fundamentação teórica que demonstra que choques nominais podem

desviar as séries de suas trajetórias de longo prazo. Os resultados teóricos dos modelos dos

novos-clássicos e novos-keynesianos para o comportamento cíclico dos agregados estão

resumidos no Quadro 1. Como se pode observar as divergências quanto aos efeitos finais dos

choque reais são poucas.

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Quadro 1: Comparação Teóricas das Causas de Choques Reais

Abordagens

Abordagem

Novo-Keynesiana

Abordagem

Novo-Clássica

Choques

Variáveis

Choque de

Demanda

(aumento dos

gastos gov.)

Choque de

Oferta

(aumento da

PMg. do trab.)

Choque de

Demanda

(variação dos gastos,

mudança nas prefer.)

Choque de

Oferta

(melhoria na

tecnologia)

Produto (y) procíclico procíclico procíclico procíclico

Emprego (n) procíclico procíclico procíclico procíclico

Taxa de Juros (r) procíclica contra-cíclica procíclica contra-cíclica

Preços (p) procíclico contra-cíclico procíclico contra-cíclico

Salários Reais (w/p) contra-cíclico procíclico procíclico procíclico

Nota: Considerando inflação estável e moeda sob controle das autoridades monetárias. Elaboração nossa.

Ademais, em face da proximidade do método utilizado pelas teorias novo-clássicas e

novo-keynesianas, vem se delineando uma proposta de análise, dentro da abordagem

mainstream, chamada de ―Novo Consenso Macroeconômico‖. Um modelo representante desta

interpretação está em Ireland (2001). O trabalho investiga o papel do agregado monetário, em

especial, dos encaixes reais. A estrutura do modelo teórico segue o problema de maximização

do agente representativo consumidor-produtor, do qual se extrai uma curva IS, uma relação

demanda por moeda, em que descreve o comportamento do agente referente às variações na

moeda, e uma curva de Phillips forward-looking. Além disso, o modelo inclui uma regra de

política monetária para a taxa de juros. Então, o modelo é aplicado para a economia dos

Estados Unidos para o período de 1980 a 1999, utilizando o método de máxima

verossimilhança, e analisando as funções de correlações resultantes do VAR. Os resultados

mostraram que, o ajustamento dos movimentos dos encaixes reais a movimentos na demanda

por moeda deve ser realizado, e mesmo que se considere uma conduta de controle do agregado

monetário, choques monetários que alterem os encaixes reais são capazes de atingir os

movimentos do produto e inflação se e apenas se os encaixes reais são incluídos na forma

correta da curva de Phillips forward-looking.

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30

III. Métodos de Análise das Teorias dos Ciclos e das Flutuações Econômicas

Como apontado anteriormente, os ciclos podem ser observados nos agregados

econômicos por meio da análise empírica das séries temporais. As séries temporais

representam uma sequência de informações para cada variável, que são coletadas em intervalos

iguais (anual, trimestral, mensal, semanal, diária) por um período de tempo determinado. Para

análise dos ciclos dos negócios, as séries são coletadas em periodicidade trimestral, e

apresentam quatro componentes básicos: a tendência, o ciclo, a sazonalidade e o elemento

aleatório. Então, as séries de tempo podem ser representadas da seguinte forma:

Yt = St+ T + CLt+ ERt

Em que: Y é a série temporal econômica, S representa o componente sazonal, T é a tendência

(trend), CL representa o componente cíclico, e ER é o erro aleatório existente na série.

3.1. A Contribuição dos Modelos

No que se refere aos métodos de análise dos ciclos econômicos, podemos citar o

conhecido trabalho de Lucas (1980, p. 696), no qual destaca que a teoria econômica utiliza a

modelagem para satisfazer uma de suas funções, qual seja: “providenciar sistemas econômicos

artificiais completamente articulados que possam servir como laboratórios nos quais políticas

que são proibitivamente caras para se experimentar na economia real possam ser testadas

com custos baixos.”35 De qualquer forma, como aponta o autor, os modelos são construções

artificiais, abstratas e irreais. No entanto, os modelos diferem em qualidade e, como enfatiza

Lucas, os quais oferecem melhores imitações.

De acordo com Lucas (1980, p. 697), os desenvolvimentos mais importantes em teoria

dos ciclos dos negócios se devem a três fatores principais: melhoramentos nos métodos

matemáticos e computacionais; às questões e os fenômenos que desejamos entender ou

explicar; e às atividades dos economistas que se especializaram neste campo de estudo,

combinando suas experiências técnicas com seus conhecimentos científicos.

35Tradução nossa.

Page 31: Um ensaio sobre as teorias dos ciclos e das flutuações econômicas - caracteristicas e métodos de análise

31

Nesse contexto, Lucas (1980, p. 698) apresenta uma revisão histórica das teorias de

ciclos. Destaca Mitchell (1913), o qual inicialmente mostrou que os ciclos de épocas de paz

eram muito similares, desde que ajustadas as diferenças em duração.

Corroborando a essa interpretação, Lucas (1977, p. 217) resume os principais resultados

de trabalhos que classificam os ciclos dos negócios como regularidades observadas nos co-

moviments entre diferentes séries agregadas econômicas, considerando as economias de

mercado descentralizadas durante os 25 anos que se seguiram à II Guerra Mundial:

(i) Movimentos da produção ao longo dos setores, definidos de forma geral, ocorrem de maneira

conjunta. (Na terminologia de Mitchell, eles exibem conformidade alta; na linguagem moderna

de séries temporais, eles têm coerência alta.) (ii) A produção de bens de consumo ou insumos

duráveis apresentam amplitude bem maior do que dos bens não-duráveis. (iii) Produção e preços

de produtos agrícolas e recursos naturais demonstram conformidade menor que a média. (iv)

Lucros empresariais mostram conformidade alta e amplitude muito maior que a maioria das

séries. (v) Preços são geralmente procíclicos. (vi) Taxas de juros de curto prazo são procíclicas.

(vii) Agregados monetários e medidas de velocidade são procíclicas.36

Além disso, Lucas (1980) destaca que Keynes colocou adequadamente que os debates

de então sobre flutuações que se pautassem no comportamento da velocidade não eram

produtivos, referindo-se à tentativa de alguns autores da época de explicar os ciclos com base

na equação da teoria quantitativa da moeda. Keynes enfatizou, em sua obra científica da Teoria

Geral, em 1936, o papel da demanda efetiva na produção e emprego. As flutuações econômicas

estariam em grande parte associadas às variações no investimento, advindas principalmente do

caráter intuitivo dos empresários quanto às variações no comportamneto de suas expectativas

sobre ganhos futuros na economia, tema pioneiro na época. Assim, Keynes favorecia análises

embasadas na composição dos gastos durante os ciclos, em cujo ponto Lucas acredita que

Keynes se reconcilia com a visão teórico-quantitativa de variações de longo prazo, quando os

gastos se estabilizariam. De acordo com Lucas, a visão de Keynes sobre os ciclos econômicos

se resumia em eventos recorrentes de prosperidades e crises. Pois, o modelo apresentado na

Teoria Geral se limitou a examinar o nível de produto e emprego em um ponto no tempo, e

não permitia a análise dinâmica do curto prazo, existente no Tratado sobre a Moeda (1930) de

Keynes, no qual o entendimento sobre as flutuações das séries temporais poderiam ter evoluído

substancialmente. Em seguida, a propagação da teoria keynesiana foi beneficiada pela evolução

dos modelos e suas aplicações via métodos estatíticos, no período pós-guerra.

Page 32: Um ensaio sobre as teorias dos ciclos e das flutuações econômicas - caracteristicas e métodos de análise

32

Ainda, a ciência econômica como um todo foi beneficiada pela modelagem e pelo

avanço da econometria. Os precursores dessa abordagem são, principalmente, Slutsky (1937) e

Tinbergen (1939) apud Lucas (1980), nos quais a economia é descrita como um sistema de

equações diferenciáveis com distubâncias estocásticas, entendendo a teoria dos ciclos dos

negócios como a ‗imitação‘ de uma economia plenamente articulada; mais tarde aprimorada

pelos estudos de Samuelson, Foundations of Economic Analysis, de equilíbrio geral estático

compatível com alocações de recursos num sistema Pareto-ótimo. O modelo estático promove

uma previsão de como a economia se comportaria na ausência de choques. No entanto, Lucas

acredita que Samuelson propôs, de fato, um modelo dinâmico de ajustamento de preços, no

qual as taxas de variação dos preços ocorridas em mercados individuais estavam relacionadas

ao nível de excesso de demanda em todos os mercados.

De toda forma, a análise do equilíbrio geral, estática ou não, permitiu incorporar uma

variedade de comportamentos compatíveis com os ciclos dos negócios. De acordo com Lucas

(1980), o problema era que, por considerar flutuações como comportamento de desequilíbrio,

apenas análises de bem-estar sobre o comportamento médio do sistema poderiam ser realizadas

e não fluctuações em relação a essa média.37 No entanto, como proposto por Tobin (1977) apud

Lucas (1980), o modelo permitia utilizar instrumentos de política econômica para aproximar a

trajetória atual do sistema àquela de equilíbrio. Assim, para a síntese neoclássica, em que ciclos

dos negócios são entendidos como falhas de mercado, qualquer política econômica capaz de

mover o sistema em direção ao equilíbrio deveria ser implementada.

Essa análise de equilíbrio geral da síntese neoclássica iniciou com o trabalho de Hicks

(1939)38. Apesar de suas contribuições sobre o papel da moeda no sistema econômico, seu

trabalho sobre ciclos econômicos estabelecia que as flutuações macroeconômicas eram

procedentes de fenômenos reais. Em 1950, Hicks interpretou o problema de instabilidade das

taxas de crescimento econômico de Harrod (1949) como o comportamento cíclico do

mecanismo multiplicador-acelerador.

36Tradução nossa. 37Tradução nossa. 38Hicks (1939) introduziu a decomposição de Slutsky da demanda, especificando os princípios de economia sobre

efeito-substituição e efeito-renda, bens substitutos e complementares, derivação das curvas de demanda com o uso

das curvas de indiferença e restrições orçamentárias, além das equações sobre taxas marginais de substituição e

preços relativos.

Page 33: Um ensaio sobre as teorias dos ciclos e das flutuações econômicas - caracteristicas e métodos de análise

33

Por outro lado, Lucas (1980, p. 706) destaca as expectativas nos modelos

macroeconômicos, então expõe que Hicks não atribuiu devida atenção para a incerteza e o

papel das expectativas nas decisões dos agentes pois,

―Hicks acreditava que a presença da incerteza [quanto às expectativas de preços futuros] em

situações reais originou um modelo realçando contratos futuros que era inaplicável na maior

parte das situações dinâmicas de interesse real, e então colocou a maior parte de sua ênfase

numa discussão sobre uma sequência de equilíbrios ‗spot‘.‖39

Nesse contexto, equilíbrio geral no longo prazo é entendido como um sucessão de equilíbrios

de curto prazo interligados.

No entanto, a incerteza nos sistemas econômicos foi incluída com os trabalhos de

Arrow (1964) e de Debreu (1959), os quais incorporaram a incerteza na teoria estática de

equilíbrio geral, proposta em Hicks, que indexou as mercadorias pela data em que elas são

trocadas, acrescentando nessa teoria uma sequência intertemporal de bens de consumo e de

investimento e o “estado da natureza” (estocasticamente selecionada) em que a troca ocorre,

dentro de um horizonte de programação para os agentes.40

―De acordo com o equilíbrio temporário, os agentes formam ex ante expectativas sobre preços

em mercados ‗spot‘ futuros e tomam decisão do tipo mercado do produto-mercado de ativos

seqüencial, decidindo quais bens consumir e produzir agora e quantos ativos financeiros

comprar ou vender de forma a assegurar poder de compra para ou do futuro em antecipação à

compra de uma determinada cesta de bens posteriormente‖ (SCEPA, 2008).

Uma primeira interpretação ficou conhecida como contingent-claim. Este tipo de

sistema de equilíbrio implica preços determinados previamente, para o ajustamento de um

único e grande mercado futuro. Neste sistema, os indivíduos têm acesso às probabilidades das

39Tradução nossa. O mercado spot é aquele em que bens (mercadorias ou propriedades) são vendidos com

pagamento à vista em moeda e entregues imediatamente ao vencimento do contrato, que pode operar desde que

haja estrutura para conduzir a transação. Assim, podemos chamá-lo de mercado de troca imediata, cujos contratos

de compra e venda têm efeitos imediatos. Dentro do contexto de economia seqüencial, sucessivos mercados spot

de bens são interligados por meio do mercado de ativos. Mais tarde se entendeu com Arrow e Debreu que existe

―...uma sequência de equilíbrios „temporários‟ de mercado „spot‟ com expectativas sendo contrariadas ou

realizadas em cada „semana‟ sucessiva” SCEPA (2008). 40 ―A state-contingent commodity is a contract that promises to deliver to the holder of that contract a particular

commodity when a particular state occurs at a particular time (and delivers nothing at any other state and/or

time). Thus, a "commodity" in the Arrow-Debreu world is a good which is described by its physical properties, its

location in time, and the state of the world in which it is delivered, e.g. „eggs delivered on June 2, 2001 if it is

sunny‟.” “…is a sequence of spot-market "temporary" equilibria with expectations being contradicted or fulfilled

in every successive week” SCEPA (2008).

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34

ocorrências futuras, com preços e quantidades sempre em equilíbrio, então os agentes detêm

previsão perfeita.

Numa segunda interpretação, atendida mais tarde pela sistematização de Muth (1961)

que ficou conhecida como as expectativas racionais, requeria um princípio que reconciliasse as

distribuições de preços resultantes do mercado de equilíbrio com as distribuições usadas pelos

agentes para formar suas próprias visões sobre o futuro.

Uma crítica feita sobre a primeira interpretação, contingent-claim do mercado de

equilíbrio de Arrow e Debreu, é que esta toma toda informação como sendo simultaneamente e

livremente disponível para todos os agentes envolvidos na troca. Assim, não existe custo para

se obter informações, informação imperfeita ou assimétrica nas trocas. Ponto este, informação

imperfeita, de destaque na teoria dos ciclos de Robert Lucas.

Até o início da década de setenta, havia um relativo consenso entre os estudiosos da

macroeconomia. Porém, as altas taxas de inflação e desemprego dos anos setenta e a distância

entre os postulados teóricos e a aplicação prática da macroeconomia mostraram falhas que

trouxeram a quebra do consenso intelectual.41 A crítica de Lucas (1976) se apresentou então em

momento propício, mostrando que a forma pela qual os economistas conduziam a teoria e as

aplicações econométricas da macroeconomia estava equivocada, pois não considerava a correta

racionalidade dos agentes econômicos em formar suas expectativas.

De acordo com Lucas (1976), as decisões que determinam a maior parte das variáveis

macroeconômicas, por exemplo, sobre consumo e investimento, depende crucialmente das

expectativas que os agentes fazem a respeito do futuro da economia, e uma vez que as políticas

econômicas são aplicadas, tais expectativas podem mudar. Portanto, o comportamento do

agente racional deve ser considerado e quantificado nos modelos macroeconômicos, utilizando-

se as expectativas racionais.

Em seguinda, os modelos dos novos-clássicos dos ciclos reais dos negócios se colocam

com robustez em sua formalização, contribuindo para aprimorar os fundamentos

microeconômicos dos modelos macro com o intuito de propiciar o complemento entre os

modelos de crescimento econômico e de ciclos, de forma teórica e empírica. Mankiw (1990)

resume como principal objetivo da teoria novo-clássica a reconstrução da macroeconomia

41Mankiw (1990, p. 1647).

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35

começando pelos primórdios microeconômicos de preferências e tecnologias, e mantendo a

premissa de que os indivíduos sempre otimizam e que os mercados sempre se equilibram

(clear).

Assim, essa geração de modelos vieram mais tarde demonstrar, corroborados com o

avanço da econometria, que as flutuações de caráter cíclico existem e são diferentes conforme a

época, distinto do que encontrara Mitchell anteriormente. Por exemplo, Kydland e Prescott

(1982), Prescott (1986), Cooley e Hansen (1989) Christiano e Eichenbaum (1991) encontraram

que no período pós-guerra, a partir de 1954, os ciclos dos negócios foram predominantemente

causados por choques advindos da oferta, como variações na tecnologia. Kydland e Prescott

(1990) mostram que o nível de preços apresentou comportamento contra-cíclico e a

produtividade do trabalho procíclico no período posterior à II Guerra Mundial. Por outro lado,

Evans e Bordo (1991) demonstraram que no período entre guerras, os ciclos dos negócios

foram marcados por choques advindos da demanda por moeda, com variações acentuadas nos

custos de transação. Os resultados encontrados eram contrários aos de Kydland e Prescott

(1990). Além disso, em Bordo, Erceg e Evans (2000), outro canal de transmissão da política

monetária restritiva, anterior à Grande Depressão, foi incluído por meio da hipótese de salários

nominais rígidos e de política não antecipada. Os resultados corroboram com os achados

anteriormente, atribuindo a queda na atividade econômica dos anos 30 à restrição monetária,

forçada pelo regime do padrão ouro, induzindo a queda de preços e aumento dos salários reais.

Assim, a rigidez dos salários nominais pioraram a crise.

O desenvolvimento rápido da econometria propiciou uma revisão de vários resultados e

acertativas na teoria econômica a respeito dos ciclos dos negócios, que é apresentado de

maneira resumida a seguir.

3.2. Avanços Empíricos

A análise quantitativa dos ciclos dos negócios vem desenvolvendo técnicas

matemáticas e econométricas para separar os componentes das séries, identificando o cíclico,

para classificar os pontos de inflexão entre picos e fundos, aplicações de modelos de

movimentos comuns e de simulações dos choques.

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36

Lucas (1980, p. 709) sugeriu que o desafio para os modelos de então e estudiosos dos

ciclos econômicos seria:

―escrever um programa de FORTRAN que aceitará regras específicas de política como ‗input‘ e

gerará como ‗output‘ estatísticas descrevendo as características operacionais de séries de tempo

que nos interessa, as quais são previstas como resultado destas políticas.‖

Foi exatamente esse o caminho seguido pelas teorias apresentadas posteriormente, buscando

uma modelagem matemática do comportamento cíclico dos agregados econômicos, que

pudesse ser testada pelos métodos econométricos. Apresentamos a seguir os objetivos de

alguns dos métodos da análise do ciclo de negócios.

3.2.1. Métodos de Suavização das Séries

Para a análise dos ciclos de negócios precede a dentificação do componente cíclico das

séries econômicas. Desde Burns e Mitchell (1946), que apresentaram resultados sobre a

medição e classificação dos ciclos dos negócios, utilizando a técnica de média móvel, a análise

empírica dos ciclos recebeu substancial avanço.

Provavelmente, o método de suavização de tendências (trend) para identificar o

componente cíclico das séries mais utilizado nas análises empíricas é o Filtro Hodrick-Prescott

(1980). Desde então, os ciclos dos negócios têm sido entendidos como desvios com relação à

tendência em uma série temporal econômica, considerando que estas tendências podem mudar

no tempo.

No entanto, diante da investigação de uma relação entre crescimento econômico e

ciclos, tanto Hodrick e Prescott (1980) como Nelson e Plosser (1982) indicaram que as séries

de interesse à análise dos ciclos de negócios, tratados como os desvios de tendências das séries,

podem apresentar diferentes comportamentos de tendência, em especial, determinísticas ou

estocásticas.

Hamilton (1989) advertiu sobre a natureza de tendências ao longo do tempo,

desenvolvendo um filtro não linear iterativo que tem por base um algoritmo que identifica

mudanças de regimes, de um estado de taxa de crescimento positiva para um estado de taxa de

crescimento negativa das séries. Tais mudanças descrevem as flutuações dos ciclos

econômicos.

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37

Por outro lado, Harvey e Jaeger (1993) construíram modelos estruturais de séries de

tempo para isolar a componente cíclica. Harvey e Jaeger (1993, p. 231) indicou cautela na

aplicação de filtros, enfatizando que ―mechanical detrending based on the Hodrick-Prescott

filter can lead investigators to report spurious cyclical behavior.‖ Em especial, isto ocorre

quando o filtro Hodrick-Prescott é aplicado a séries econômicas diferentes daquelas dos

Estados Unidos (1993, p. 236). Pois, se comparadas a outras economias, as séries econômicas

americanas seriam, em geral, menos voláteis.

Além disso, Cooley e Prescott (1995) alertam que o crescimento econômico e os ciclos

podem afetar um ao outro. Assim, para isolar a componente cíclica de uma variável faz-se

necessário considerar sua taxa de crescimento. Então, mudanças em tendências poderiam estar

ocorrendo através de choques exógenos, gerando flutuações de curto prazo, assim como

movimentos de longo prazo na atividade econômica.

Ainda, vários trabalhos contribuíram para evoluções na medição de mudanças de

tendências temporais, entre os quais podemos citar: Phillips (1987), Perron (1988), Phillips e

Perron (1988), Perron e Vogelsang (1992), Vogelsang (1997). O principal propósito desses

trabalhos foi detectar possíveis quebras em séries de tempo com mudanças de intercepto ou

inclinação (DIAS, DIAS e EVANS, 2004).

Dentro do exposto, Dias, Dias e Evans (2004) investigam um método de suavização de

tendência, chamado de DDME, que pudesse identificar uma quebra no comportamento da série

em qualquer ponto no tempo. O trabalho utilizou simulações de Monte Carlo para testar quatro

modelos com comportamento de tendências diferentes. Em um processo recurssivo, os testes

identificaram que as simulações dos ciclos por meio do método DDME mostraram um

desempenho superior ao filtro Hodrick-Prescott. Assim, através da suavização da tendência

utilizando o filtro HP para identificar o ciclo não foi possível determinar o ciclo verdadeiro em

dois modelos. Tal resultado era esperado porque o filtro Hodrick-Prescott considera que o

termo irregular (ER) seja estável e insignificante, o que poderia não ser o caso para economias

com flutuações de maior amplitude ou menos estáveis. Especialmente no caso do segundo

modelo, a tendência estocástica era relativamente complexa, dificultando a determinação do

ciclo verdadeiro. Por fim, os autores aplicaram o método para identificar o componente cíclico

do produto brasileiro.

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38

3.2.1. Os Instrumentos Puros

Uma contribuição importante foi feita por Hall (1987), que prevê a utilização de poucos

e ―puros‖ instrumentos, claramente não-correlacionados com o termo distúrbio. De acordo com

Campbell e Mankiw (1989), com o objetivo de apresentar uma alternativa à hipótese de Hall42,

criando dois grupos de consumidores, o que segue variações transitórias na renda e outro que

atende às variações da renda permanente. O método de variáveis instrumentais foi utilizado,

para testar a equação ct-ct-1 = (zt) + vt, em que é a fração dos agentes que gastam de acordo

com a renda corrente, zt = (yt-yt-1) e vt = (1-)et, et são os choques advindo das variações da

renda permanente. Como consumo e renda devem ser correlacionados, uma variável que se

aproxima do comportamento da renda e não esteja correlacionada com os erros do consumo é

então escolhida. Considerando um instrumento zt =~

tz , estimá-se em primeiro estágio a

equação do consumo. Em seguinda, utilizá-se os valores resultantes, plotados de zt =^

tz , e

estimá-se novamente, em segundo estágio, a equação do consumo, agora como: ct-ct-1 = (^

tz )+

(zt -^

tz ) + vt. Assim, se obtém: ct-ct-1 = (^

tz )+~

tv , em que ~

tv = (zt -^

tz ) + vt. Como espera-se

que~

tz seja não correlacionado com vt, espera-se que ^

tz seja também não correlacionado

com~

tv . Como resultado, os autores encontraram que valores defasados da renda não eram

apropriados para predizer a própria renda, portanto, não poderiam compor a função consumo.

Assim, indicavam que os resultados de Hall não eram suficientes para refutar a visão

tradicional do comportamento do consumo (ROMER, 2006, 357-358).

No entanto, esta contribuição necessitou avanços, pois “os instrumentos puros são

provavelmente não-correlacionados com o termo distúrbio, todavia também o são com relação

às variáveis que estão sendo instrumentalizadas.”43

42Hall (1978) propos um comportamento para o consumo no tempo, que não seria previsível e que responderia

apenas às variações na renda permanente. Pois choques à renda permanente afetariam o consumo, porém não

teriam a tendência de conduzí-lo à trajetória inicial.

Page 39: Um ensaio sobre as teorias dos ciclos e das flutuações econômicas - caracteristicas e métodos de análise

39

3.2.2. A Calibragem

O procedimento de calibragem, em geral, considera as relações econômicas indicadas

pela teoria microeconômica entre os agregados para determinar os valores dos parâmetros das

equações do modelo teórico, utilizando ainda estimativas de resultados obtidos em pesquisas

empíricas. Então, gera via simulações empíricas dos modelos teóricos as estatíticas de

variâncias e co-varâncias das variáveis. Em seguida, as séries econômicas são utilizadas para

estimar suas variâncias e co-variâncias. Por fim, são comparadas as duas estimativas, por meio

do modelo teórico e diretamente das séries. Uma vantagem é que a calibragem utiliza mais

informações que os modelos de regressão e seus resultados não dependem de significância

estatística.44 No entanto, nem sempre os modelos teóricos conseguem gerar as variâncias exatas

de alguns agregados, como comenta Barro (1992).

Nos exercícios de calibragem estão principalmente modelos de ciclos reais de negócios

(CER). Como o próprio Barro (1992, p. 7-8) lembra,

―Vários autores simularam versões de modelos CER com dados dos Estados Unidos, nas quais

os parâmetros subjacentes de preferências e tecnologia são calibrados para ser consistentes com

os achados de estudos cross-section. Em muitos aspectos os resultados estão de acordo com as

características observadas dos ciclos econômicos. Por exemplo, os modelos CER conseguem

exatamente obter as variâncias relativas de consumo, investimento, estoques de capital, e horas

de trabalho; e também explicam o comportamento procíclico destas variáveis. Contudo, os

modelos tendem a exagerar os padrões procíclicos de horas, produtividade, taxas de juros reais,

e taxas salariais reais. Além disso, para explicar o desvio-padrão do crescimento do produto, os

modelos requerem um desvio-padrão para os distúrbios tecnológicos que pode ser excessivo.

Entretanto, até agora, tais julgamentos são baseados somente em introspecção.‖

Assim, os modelos de ciclos reais de negócios eram ajustados em seus parâmetros de

preferências e tecnologia de acordo com as especificidades das economias que se desejava

estimar. No entanto, Barro (1992) lembra que para explicar os desvios do produto, os choques

tecnológicos deveriam ser bem mais amplos e profundos.

3.2.3. Os Modelos VAR (Vetores Auto-Regressivos)

Os avanços da econometria munidos de instrumentos matemáticos sofisticados

marcaram os modelos dos anos oitenta de ciclos dos negócios. Em particular, de acordo com

Blanchard (1992), a primeira contribuição importante feita por Sims foi a introdução dos

43Blanchard. Op. cit. 44 Romer (2006).

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40

modelos VAR, segundo o qual as aplicações econométricas com estruturas colocadas em

defasagem eram mais confiáveis. Os modelos VAR colaboram à análise do impacto dinâmico

de disturbâncias aleatórias sobre o sistema de variáveis relevante. Porém, em primeiro

momento, tais modelos de simultaneidade eram difíceis de se interpretar economicamente.

Então, surgiram os VAR estruturais, os quais alcançam identificação através das restrições de

covariância. Pois, assume-se que um choque pode afetar mais uma variável

“contemporaneamente do que uma outra, ou que não a afeta no longo prazo.” Assim,“um

choque da i-ésima

variável diretamente afeta a i-ésima

variável, e é também transmitido para

todas as variáveis endógenas através da estrutura dinâmica do VAR.”45

No entanto, na opinião de Blanchard, no que se refere às aplicações desses modelos

para explicar o comportamento associado a mais de duas variáveis, tais modelos não passam de

“pobres esquemas de comunicação (um problema que compartilham com os exercícios de

calibragem).”46

De acordo com formulações apresentadas por vários autores sobre o método empírico

VAR, este implica um Vetor Auto-Regressivo com ordem p de defasagem, segundo o qual

modela-se cada variável endógena do sistema como uma função dos valores defasados de todas

variáveis endógenas deste sistema, além de admitir a possibilidade de incluir-se outras

variáveis exógenas relevantes ao sistema, cuja formulação pode ser descrita como segue.47

yt = A1yt-1 + … + Apyt-p + Bxt + t

Em que yt é um vetor de variáveis endógenas, xt é um vetor d de variáveis exógenas, A1,…,Ap,

e B são matrizes de coeficientes a serem estimados e t é um vetor de inovações (choques), os

quais devem ser contemporaneamente correlacionados entre si mas devem ser não-

correlaciondos com seus próprios valores defasados, assim como não-correlacionados com

todas as variáveis no lado direito da equação. De acordo com os procedimentos econométricos

estabelecidos, o número total de parâmetros estimados é igual a n=k(d+pk), em que k é a

dimensão do vetor de resíduos.

Com base nas análises VAR é possível investigar o grau de explicação de cada variável

do sistema de equações sobre todas as variáveis endógenas, por meio de suas significâncias

45 Eviews (1998, p. 497). Tradução nossa. 46Blanchard (1992, p. 26).

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41

estatísticas, e, uma vez realizados todos os testes de normalidade dos resíduos, estacionaridade

dos resíduos, estabilidade do VAR, e análise de causalidade de Granger, as séries de resíduos

do VAR são utilizadas para construir respostas a impulsos nas variáveis endógenas. Além

disso, testes mais avançados de exogeneidade forte ou fraca conseguem identificar a variável

origem do choque, membro do sistema de equação do VAR.

3.2.4. Identificação dos Pontos de Inflexão

Mais recentemente, de acordo com Diebold e Rudebusch (1996), a discussão em torno

de metodologias quantitativas utilizadas para o tratamento empírico dos ciclos econômicos tem

se pautado na classificação de modelos de fator dinâmico e de modelos não-lineares de

mudança de regime (regime-switching).

A primeira classe de modelo, de fator dinâmico, conjuga da idéia de que os resultados

de setores, definidos de forma geral, movimentam-se de maneira conjunta, os comovements.

Além disso, Diebold e Rudebusch (1996, p. 68) enfatizam que “Análises de movimentos

comuns em conjuntos dinâmicos fazem tipicamente uso de duas ferramentas não-paramétricas,

a função de autocorrelação e a função densidade.”48

No entanto, os modelos de mudança de regime apresentam comparações entre

diferentes posições no estado da economia, boas e ruins. Porém, Diebold e Rudebusch (1996)

colocam que a discussão entre ―estados latentes‖ em contra-posição a ―estados observados‖

provavelmente é mais apropriada para a modelagem dos ciclos econômicos. Os autores

continuam expondo um modelo do tipo mudança de regime proposto por Hamilton, o qual

chega ao resultado de que o produto movimenta-se em torno de uma média de forma a

representar os eventos de diferentes taxas de crescimento (―expansões‖ e ―contrações‖).

Assim, de acordo com Diebold e Rudebusch (1996, p.69), “A idéia central sobre a

mudança de regime é simplesmente que expansões e contrações devem ser utilmente tratadas

como objetos probabilísticos diferentes.”49

Nesse contexto, Diebold e Rudebusch (1996) propõem uma síntese, segundo a qual a

teoria macroeconômica apresentaria uma união entre modelos de estrutura de fator dinâmico e

47A exposição segue Eviews (1998), Gujarati (2000) e Greene (2000). 48Tradução nossa. 49 Tradução nossa.

Page 42: Um ensaio sobre as teorias dos ciclos e das flutuações econômicas - caracteristicas e métodos de análise

42

de mudança de regime. O modelo é então exposto dentro de um processo marckoviano,

incluindo um fator dinâmico que muda de regime, e que demonstra apresentar compatibilidade

com os fatos e a teoria macroeconômica. Porém, o modelo apresentado pelos autores enfatizam

choques advindos de fatores reais, como os tecnológicos e de preferências, através de um

mecanismo macroeconômico de aceleração, sem contudo considerar os efeitos dos choques

monetários sobre a economia.

3.3. Confrontando os Resultados

Os resultados de aplicações econométricas, especialmente no que se refere ao

comportamento procíclico de horas trabalhadas, produtividade, taxas de juros reais e taxas de

salários reais, compõem um ponto central de divergência entre as teorias dos ciclos de

negócios, quais sejam: as teorias desenvolvidas pelos novos-clássicos e pelos novos-

keynesianos.

Como exemplo da discussão acerca da reação dos agregados econômicos aos choques, a

qual tomou corpo na década de 80, tomemos um aumento temporário dos gastos do governo

(G).50 A teoria dos ciclos reais preconiza uma alta taxa de substituição intertemporal entre

consumo e lazer. Então, um aumento em G aumenta a demanda por bens, deslocando a curva

de demanda agregada. A taxa de juros reais aumenta (r), reduzindo consumo e investimento e

alterando a alocação de lazer dos agentes ao longo do tempo. O aumento na taxa de juros real

incentiva o indivíduo a trabalhar mais, poupar mais e usufruir de menor quantidade de horas de

lazer. Portanto, consumo e lazer se movem na mesma direção. As horas destinadas ao trabalho

aumentam, assim como emprego e produto.

Se emprego e produto aumentam com as mesmas condições tecnológicas, então o

produto marginal do trabalho, igual ao salário real no equilíbrio da firma, deve cair, ou seja, ter

um comportamento contra-cíclico.

Porém, como o consumo de bens e lazer se movem na mesma direção, então uma

explicação poderia ser que o preço do lazer relativo aos bens, que é o salário real, aumente

numa época de prosperidade e caia numa época de recessão.

50Exemplo extraído de Mankiw (1989), várias páginas.

Page 43: Um ensaio sobre as teorias dos ciclos e das flutuações econômicas - caracteristicas e métodos de análise

43

Se essa explicação é aceita, o esperado é um salário real procíclico e não contra-cíclico

como encontramos acima. Para resolver tal problema, os teóricos dos ciclos econômicos reais

assumem flutuações substanciais na taxa de mudança da tecnologia. Em recessões, a produção

de tecnologia disponível seria desfavorável, o produto marginal do trabalho e a taxa de salários

reais seriam baixos, então os agentes responderiam ao baixo retorno do trabalho, reduzindo

consumo e aumentando lazer. Contudo, como a teoria dos ciclos reais trabalham com equilíbrio

Walrasiano51, as flutuações econômicas são eficientes, e, dados os gostos e tecnologia, não há

como implementar emprego, produto e consumo através de políticas.

Nos modelos de ciclos com base keynesiana, o problema de movimentos dos salários

reais não ocorre, pois o efeito das taxas de juros reais sobre a oferta de trabalho não é crucial. O

aumento do emprego e produto se devem ao fato dos modelos novos-keynesianos considerarem

que possa ocorrer redução no montante de trabalhadores desempregados ou subutilizados

(labor hoarding).52

3.4. A Evolução dos Ciclos dos Negócios

Zarnowitz (1992) elabora um trabalho exaustivo sobre a caracterização dos ciclos dos

negócios e, portanto, de seus fatos estilizados, a relação entre tendência e flutuações, dentro de

modelos e simulações, as regularidades dos ciclos, seus indicadores principais e a previsão.

Nesse contexto, Zarnowitz destaca que, apesar dos ciclos de séries individuais

compartilharem características semelhantes no geral, ―they are by no means all alike‖ (p. 3). O

autor destaca vários aspectos dos ciclos dos negócios da economia norte-americana e ainda

compara com economias com, Reino Unido, França e Alemanha, entre outras. Mostra que a

economia norte-americana se tornou menos volátil no período posterior à II Guerra Mundial,

porém há ressalva. No entanto, os períodos de contração econômica se tornaram mais curtos,

mais leves e menos freqüentes, apesar de a taxa real de crescimento da economia e o

crescimento da inflação apresentaram maior persistência.

51O equilíbrio geral Walrasiano pode ser definido como aquele no qual os preços se ajustam para igualar oferta e

demanda em cada mercado simultaneamente, determinando as quantidades de todos os bens e serviços vendidos

aos seus respectivos preços. Como resultado temos um equilíbrio que é eficiente no contexto de Pareto - não

existe nenhum outro ponto que seja tão bom quanto, nem preferível ao ponto ótimo de Pareto. 52Mankiw (1989, p. 82).

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44

Zarnowitz (1992, p. 3) aponta que os seguintes fatores podem ter contribuído para a

relativa estabilidade da economia dos EUA:

1. Mudanças menos cíclicas no emprego, para indústrias produtoras de serviços. Isto é

consistente com o enfraquecimento do papel de alterações na demanda de estoques e bens

duráveis.

2. Ampliação da dimensão acíclica do setor governamental.

3. Ampliação do papel dos estabilizadores automáticos, principalmente fiscais. Pontos 2 e 3

coadunam com a idéia de que o crescimento em atividades governamentais normais pode, até

determinado ponto e dadas certas regras, contrabalançar (offset) alguma das instabilidades da

demanda agregada privada.

4. Redução da freqüência e da intensidade das crises financeiras. Aqui a implicação é

simplesmente que essas crises podem agravar (se não necessariamente causar) ciclos dos

negócios.

5. Algumas políticas fiscais favoráveis, principalmente de taxas de impostos.

6. Volatilidade reduzida do crescimento monetário (à extensão de que moeda participa com um

papel independente ao invés de meramente ajutar a mudanças na renda ou na atividade

econômica). Pontos 5 e 6 implicam que ações de política fiscal e monetária podem adicionar

para ou reduzir instabilidade macroeconômica.

7. Maior confiança dos agentes econômicos privados, ambos, induzida pela moderação

observada nos ciclos dos negócios, por si só, e induzindo comportamento favorável a

crescimento econômico mais estável. Isso sugere um papel para expectativas endógenas e auto-

realizáveis (self-validating) a reinforçar tendências macroeconômicas positivas (ou negativas).53

3.5. Aplicações dos Ciclos de Negócios para a Economia Brasileira

Dentre os vários contextos nos quais a economia brasileira foi analisada, notamos que

as flutuações, apesar de estarem presentes e relevantes em muitos trabalhos científicos

realizados no país e no exterior, receberam menor atenção no que se refere ao contexto das

teorias dos ciclos de negócios. No entanto, na última década a literatura econômica sobre os

movimentos cíclicos no Brasil vem ampliando gradativamente. O grande destaque são os

trabalhos utilizando metodologias econométricas, que evoluíram rapidamente, devido, em

parte, aos novos instrumentos disponíveis, que aumentam a dinâmica das pesquisas.

Um dos primeiros trabalhos a aplicar a teoria dos ciclos para a economia brasileira foi o

de Cribari-Neto (1993). Este apresenta um estudo empírico sobre o componente cíclico do PIB

brasileiro a partir de uma análise de especificação da tendência estocástica. O autor utilizou

dados anuais para o período de 1900 a 1990. Como resultado, encontrou que a contribuição dos

movimentos cíclicos para explicar os movimentos do PIB no Brasil foi pequena e que os

determinantes das flutuações do PIB são predominantemente fatores reais de longo prazo.

53Tradução nossa.

Page 45: Um ensaio sobre as teorias dos ciclos e das flutuações econômicas - caracteristicas e métodos de análise

45

Outro trabalho direcionado a apontar alguns dos determinantes do crescimento

econômico no Brasil é Issler, Gonzaga e Marone (1996), que testam a relação de longo prazo

entre produto potencial, educação (escolaridade média e taxa de analfabetismo) e investimento

externo para a economia brasileira, dentro do contexto de modelos VAR. Porém, os autores

encontram o caráter exógeno do PIB potencial quando confrontado com essas outras variáveis

para o período entre 1947 e 1993, com dados anuais. Além disso, os resultados indicam que os

efeitos de choques transitórios de políticas monetárias, por exemplo, são restritos e explicam

apenas 3% da variância do produto.

Em uma abordagem sobre o movimento cíclico do mark-up na indústria, Kannebley Jr.

(1996) aplica um modelo VEC indicando que o mark-up apresenta um comportamento acíclico

para períodos anterior e posterior ao Plano Cruzado na indústria de transformação, utilizando

dados mensais para o período entre 1976 e 1989.

Ainda Fialho (1997) explora a participação dos ciclos políticos na taxa de crescimento

do PIB real na economia brasileira, buscando uma correlação entre políticas monetárias

caracteristicamente expansionistas nos períodos que antecedem eleições, com aplicação de

variáveis dummy, para o período de 1953 a 1994 em termos anuais. Os ciclos políticos

encontraram evidência para o período posterior à abertura política a partir de 1975. Podemos

citar também os trabalhos de Ponta e Silva (1994) e Rosal e Ferreira (1996) como exemplo de

aplicações para a realidade brasileira.

Além desses, o trabalho de Kanczuk (2001) traz uma abordagem de economia aberta

para o tratamento dos ciclos reais dos negócios na economia brasileira. Os resultados

encontrados indicam que as simulações que consideram a formulação das preferências com

custos de ajustamento de capital foram consistentes com as volatilidades das contas nacionais e

com o comportamento contra-cíclico da balança comercial no Brasil, enquanto que as

preferências com custos de transação nos mercados de capitais formuladas de acordo com

Hansen (1985) não o foram. Os dados utilizados foram de periodicidade trimestral entre 1980 e

2000. Assim, as simulações indicam que custos de ajustamentos de capital contribuem para

reduzir as volatilidades do investimento e do produto.

Val e Ferreira (2001) desenvolvem um trabalho para testar entre os modelos, com

trabalho indivisível e a hipótese cash-in-advance com taxação distorciva, aquele mais

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46

apropriado à economia brasileira. Foram utilizados dados de consumo e investimento, e, ainda,

construídas séries de horas trabalhadas e capital. Os autores aplicaram o filtro HP e o método

generalizado dos momentos (GMM) para realizar simulações para economia brasileira. Entre

os modelos, apenas um apresentou resultados aceitáveis.

Em Dias, Arita e Dias (2001) os modelos X11-ARIMA são aplicados para séries

brasileiras. Os modelos relativos à produção industrial brasileira e consumo industrial de

energia elétrica no Paraná se mostraram significantes e em favor do modelo X-11 ARIMA, no

que se refere ao aspecto de ajustamento sazonal das séries. Além disso, foi introduzido as

condições para análise de ciclos de negócios utilizando uma combinação entre X11-ARIMA,

que estima a tendência-ciclo das variáveis, com o filtro de Hodrick-Prescott, que separa a

tendência dos ciclos. O resultado foi que a volatilidade dos ciclos são bastante elevadas nas

séries e que os ciclos da produção industrial do Paraná antecedem os do Brasil em cinco meses.

Além disse, o trabalho de Araújo e Gama (2004) testa a veracidade de modelos

aplicados ao estudo de ciclos econômicos para países do G7 e da América Latina, utilizando

séries trimestrais do PIB real, entre 1947 e 2002, com os modelos de Redes Neurais Artificiais

(RNA) e ARIMA. Os resultados indicam que os modelos ARIMA apresentam bom

desempenho para replicar os ciclos, porém, a modelagem via RNA pode ser vantajosa, pois as

características dos ciclos foram, em média, replicadas com mais precisão. Para o Brasil, as

redes neurais conseguiram um desempenho melhor para as características de contração e

expansão, porém, nas características gerais o método ARIMA é mais indicado.

Quanto ao estudo das propriedades do componente cíclico, Cunha, Sandes e Vivanco

(2005) analisam o PIB per capita de dois grupos de países, dez da América Latina e seis da

Ásia, no período de 1970 a 2000. Entre os grupos foram verificadas volatilidades médias

próximas ao dobro da observada nos EUA. A persistência das oscilações dos dois conjuntos de

nações é ligeiramente superior a dos EUA. Ademais, as fases dos ciclos econômicos dos

diversos países não tendem a ser temporalmente coincidentes.

Com o mesmo objetivo e metodologia utilizados por Cunha, Sandes e Vivanco (2005),

Cunha e Moreira (2006) observaram o logaritmo do PIB per capita para o Distrito Federal e os

estados brasileiros, entre 1985 e 2002. Os resultados sugerem que, em média, os estados

tiveram ciclos mais voláteis e menos persistentes do que o ciclo do país, e ainda, que os ciclos

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47

de negócios são altamente heterogêneos, ou seja, não há coincidência temporal nas fases de

expansão e recessão, um alerta às políticas anticíclicas.

Teles, Springer, Gomes, Paes e Cavalcante (2005) atendem um ponto crucial para

aplicações econométricas dos ciclos de negócios, a escolha do filtro para suavizar as séries,

preocupação destacada também em Dias, Dias e Evans (2004). Em Teles et al. (2005), sete

métodos de suavização são aplicados para agregados macroeconômicos selecionados,

demonstrando que os ciclos de negócios brasileiros variam incisivamente entre os diferentes

filtros. Os resultados indicam que métodos de filtragem diferentes geram conceitos distintos

para os ciclos de negócios, e implicam em diferentes conjuntos de relações econômicas. Ainda,

a conclusão destaca que choques de produtividade são mais importantes em ciclos advindos do

filtro HP, diferentemente de quando se utiliza outros tipos de filtro.

Ellery e Gomes (2005) comparam as propriedades dos ciclos do Brasil com outras

economias. Utilizam dados referentes ao PIB, ao consumo, ao investimento, aos gastos do

governo, às exportações líquidas e ao nível de preços de dez países para três períodos, pré-

guerra, inter-guerras e pós-guerra. Os resultados apontaram que, apesar da economia brasileira

apresentar as propriedades básicas dos ciclos de negócios, há maior volatilidade que as outras

economias da amostra. O investimento é mais volátil que o produto, e o consumo e o

investimento apresentam correlação alta com o produto, além de serem profundamente

procíclicos.

O trabalho de Pinheiro e Ferreira (2005) verifica as especificações de modelos de ciclos

reais de negócios, para uma pequena economia aberta, e a avaliação do grau de efetividade dos

mesmos em reproduzir as características dos ciclos econômicos brasileiros. Os autores testaram

três modelos: de fator de desconto endógeno; de prêmio de risco elástico à dívida; de mercado

de ativos completo; e, ainda, sujeitos a choques de juros internacional e produtividade. São

utilizados dados referentes aos agregados macroeconômicos do Brasil de 1950 a 2000. A

metodologia engloba a utilização do filtro HP, calibração, simulação e funções de resposta a

impulso. Os resultados indicam que os modelos são capazes de replicar características

relevantes dos ciclos internacionais, como a correlação negativa entre balança comercial e o

produto. Apenas o modelo com prêmio de risco reproduziu a alta volatilidade do consumo. O

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48

choque de juros internacional mostrou-se pouco importante para a dinâmica de todos os

modelos e o custo de ajustamento foi essencial para a obtenção dos principais resultados.

Figueirêdo (2006) critica o uso de mínimos quadrados ordinários para o estudo de

ciclos econômicos, pois a presença de outliers e assimetria das flutuações induzem à não-

normalidade das séries temporais. Recomenda-se, então, a adoção variáveis instrumentais não-

lineares. O autor caracteriza o componente permanente das séries do produto internacional para

nove países. Os resultados apresentam dois grupos de resultados: para os países desenvolvidos,

rejeita-se a teoria dos ciclos reais, reacendendo o debate entre os grupos formados por

keynesianos, monetaristas e os proponentes das expectativas racionais; e, por outro lado, para o

Brasil e a Itália, os movimentos do produto real são, de fato, frutos de flutuações na tendência.

Para estes dois países entende-se que os fatores reais são os únicos geradores de flutuações

econômicas, aceitando, assim, a teoria dos ciclos reais dos negócios.

Na mesma direção, Giannini (2009) aplica a metodologia VAR para identificar a

natureza de fontes cíclicas para a economia brasileira no período entre 1992 e 2007. O objetivo

foi testar as hipóteses dos modelos novos-clássicos e novos-keynesianos sobre causas

predominantemente reais ou nominais para os ciclos dos negócios. Junto as significâncias

estatísticas das variáveis do VAR, da análise de resposta a impulso e do teste de exogeneidade,

os resultados indicam que, apesar de choques de produtividades estarem presentes no

comportamento cíclicos das séries brasileiras, não se pode rejeitar a hipótese de que fatores

nominais, como o agregado monetário, sejam capazes de gerar desvios do produto em relação a

sua tendência, favorecendo as análises de modelos novos-keynesianos. Tais resultados foram

encontrados em Giannini, Dias, Dias e Silva (2007) e Teixeira, Galle, Dias e Dias (2007).

Giannini (2009) apresenta as principais características das séries brasileiras

selecionadas, a volatilidade, a persistência e o co-movimento, apresentados na tabela 1.

Confome tabela 1, as taxas de juros nominais e reais são as mais voláteis. No entanto, entre as

variáveis reais, se destaca a volatilidade da formação bruta de capital fixo. Quanto à

persistência, o componente cíclico da variável horas trabalhadas apresenta maior valor, 0,80,

seguido do ciclo do agregado monetário (M1), provavelmente em função da conduta de política

de controle do agregado monetário no Brasil a partir de 1994, e do ciclo do índice BOVESPA.

Isso implica que quando essas variáveis estão em expansão, tendem a permanecer em expansão

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49

por mais tempo do que as outras, então dependem mais dos seus valores defasados do que as

outras. No caso das horas trabalhadas, pode ser uma evidência de persistência de contratos de

trabalho.

Tabela 1: Características dos Ciclos da Economia Brasileira

Ciclo da Variável Volatilidade* Persistência** Co-movimento***

Produto 5,28 0,66 1,00

Formação Bruta 10,95 0,13 0,48

Horas Trabalhadas 2,80 0,80 -0,05

Renda 2,68 0,67 0,12

Produtividade 2,56 0,58 -0,06

Juros Reais 75,95 -0,01 0,25

Juros Nominais 269,43 0,65 -0,47

IBOVESPA 11,18 0,78 -0,19

M1 12,80 0,79 0,38

Fonte: Giannini (2009).

*Volatilidade: desvio-padrão do componente cíclico.

**Persistência: correlação entre xct e x

ct-1.

***Co-movimento: correlação da variável cíclica com o componente cíclico do PIB.

Ainda, o co-movimento dos ciclos, analisado como a direção de variação dos agregados

econômicos em relação ao ciclo do produto interno bruto brasileiro, mostram que há uma baixa

correlação do emprego e dos salários com o produto. Esse pode ser um indício da presença de

rigidezes de preços e salários, que novamente podem ser resultados da estrutura de contratos de

trabalhos, hipótese não testada. As que apresentaram maior correlação foram a formação bruta,

a taxa nominal de juros e o M1, com relações procíclica, contra-cíclica e procíclica,

respectivamente, conforme esperado.

IV. Considerações

Os ciclos de negócios, medidos como os desvios em relação à tendência de longo prazo,

observados nas séries econômicas têm sido tratados dentro de diversas abordagens teóricas e

contextos históricos, desde os primórdios da teoria clássica até as versões mais recentes de

teorias macroeconômicas.

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50

As abordagens aqui levantadas cobrem o comportamento cíclico dos agregados

econômicos, porém dependendo da origem do choque, uma teoria seria mais capaz de

responder a propagação dos movimentos cíclicos que outra.

Existem causas diversas de ciclos econômicos, incluindo fatores reais de avanços

tecnológicos e aumentos de produtividade, variações de preferências, mudanças nas decisões de

consumo e investimento, variações abruptas do ambiente, bem como mudanças na conduta de

política econômica, além de fatores especificamente nominais, como alterações no agregado

monetário, que normalmente afetam a demanda agregada, ou ainda, as alteraçãoes da

expectativas, exógenas ou endógenas. Ademais, quando se trata de estabelecer fonte única, é

possível resumir as causas dos ciclos dos negócios em três principais, conforme discutidas nas

teorias que são destacadas neste texto: os choques tecnológicos, os choques monetários e os

choques sobre a demanda por investimento.

No entanto, evolução acentuada nos modelos e métodos de avaliação trouxeram

dinâmica para a abordagem dos ciclos dos negócios, trazendo maior robustez às análises e

propiciando algum consenso sobre como interpretar o comportamento geral dos agregados

econômicos, tendência predominante na teoria macroeconômica atual, apesar dos resultados

ainda diferirem.

De toda forma, existem causas múltiplas para explicar os ciclos dos negócios nas

economias de mercado descentralizadas, que diferem conforme a época e o contexto em que a

economia está inserida. Além disso, as aplicações têm demonstrado que as volatilidades dos

ciclos vêm diminuindo nas principais economias.

Contudo, avanços que auxiliem na previsão de expansões e recessões ainda são

necessários, sejam de metodologia de modelagem ou empírica.

V. Referências

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inertia. Quarterly Journal of Economics, 100: 823-838.

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