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  • PILARES DA

    DUQUE DE CAXIAS E BAIXADA FLUMI NENSEano 3 - nmero 5maio / 2005

    XERM E SEUS NICHOS DE HISTRIACAPELA DE SANTA RITA DA POSSE:HISTRIA, CADEIA SUCESSRIA EDESCRIO ARQUITETNICAA IMPORTNCIA DA MULHERNA ECONOMIA DE XERM NAS DCADAS 1970/90ENSAIO SOBRE A SOPEIRA OU O CUSPE DO IMPERADOREM MARO DE 1963, UM DIA NA CAMPANHA ELEITORAL DA UNIO CAXIENSE DE ESTUDANTESA DEGRADAO DOS RIOS NA BAIXADA FLUMINENSE: UMA ANLISE SOBRE O RIO BOTAS _NO BAIRRO ITAIPU BELFORD ROXOOS CAMINHOS DA F COMA HISTRIA DE MAGLANGSDORFF EM INHOMIRIMNEM CES, NEM LOBOS: OS GUERREIROS GOITACENTRE ARQUIVOS E MEMRIAS: EXPERINCIAS DE VIDA E FORMAO DE PROFESSORAS NO MUNICPIO DE

    DUQUE DE CAXIAS (1997 - 2002)VISES UNIVERSITRIAS SOBRE A BAIXADA FLUMINENSE

    XERM E SEUS NICHOS DE HISTRIACAPELA DE SANTA RITA DA POSSE:HISTRIA, CADEIA SUCESSRIA EDESCRIO ARQUITETNICAA IMPORTNCIA DA MULHERNA ECONOMIA DE XERM NAS DCADAS 1970/90ENSAIO SOBRE A SOPEIRA OU O CUSPE DO IMPERADOREM MARO DE 1963, UM DIA NA CAMPANHA ELEITORAL DA UNIO CAXIENSE DE ESTUDANTESA DEGRADAO DOS RIOS NA BAIXADA FLUMINENSE: UMA ANLISE SOBRE O RIO BOTAS _NO BAIRRO ITAIPU BELFORD ROXOOS CAMINHOS DA F COMA HISTRIA DE MAGLANGSDORFF EM INHOMIRIMNEM CES, NEM LOBOS: OS GUERREIROS GOITACENTRE ARQUIVOS E MEMRIAS: EXPERINCIAS DE VIDA E FORMAO DE PROFESSORAS NO MUNICPIO DE

    DUQUE DE CAXIAS (1997 - 2002)VISES UNIVERSITRIAS SOBRE A BAIXADA FLUMINENSE CONSIDERAES PRELIMINARES ACERCA DA REORGANIZAO ESPACIAL DO BAIRRO _ _CENTENRIO DUQUE DE CAXIAS RJ

    HISTRIA URBANA E DO COTIDIANO DE UM BAIRRO DA BAIXADA FLUMINENSE: HELIPOLIS

    CONSIDERAES PRELIMINARES ACERCA DA REORGANIZAO ESPACIAL DO BAIRRO _ _CENTENRIO DUQUE DE CAXIAS RJHISTRIA URBANA E DO COTIDIANO DE UM BAIRRO DA BAIXADA FLUMINENSE: HELIPOLIS

    Nesta edio:Nesta edio:

    E mais:na Seo Memria Viva, entrevista com Rogrio Torres.

    ano 3 -

    nme

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    005

    edio conjunta: instituto histrico vereador thom siqueira barreto / cmara municipal de duque de caxias e associao dos amigos do instituto histrico.

  • O Instituto Histrico Vereador Thom Siqueira Barreto / Cmara Municipal

    de Duque de Caxais e a Associao dos Amigos do Instituto Histricoagradecem o apoio:

    Dos AutoresCEMPEDOCH-BF

    Centro de Memria, Pesquisa e Documentao da Histria da Baixada Fluminense

    FEUDUCFundao Educacional de Duque de Caxias

    IPAHBInstituto de Pesquisas e Anlises Histricas e de Cincias

    Sociais da Baixada Fluminense

    PINBA / FEBF / UERJPrograma Integrado de Pesquisas e Cooperao Tcnica na

    Baixada FluminenseDe todos que participaram direta ou indiretamente da

    produo deste trabalho edaqueles que se empenham no difcil processo

    da permanente construo e reconstruo da nossa histria.

    O Conselho Editorial est aberto ao recebimento de artigos para possvel publicao.

    As idias e opinies emitidas nos artigos so da

    responsabilidade de seus autores.

    REVISTA PILARES DA HISTRIAEdio conjunta:INSTITUTO HISTRICO VEREADOR THOMSIQUEIRA BARRETO / CMARA MUNICIPAL DE DUQUE DE CAXIAS e ASSOCIAO DOS AMIGOS DOINSTITUTO HISTRICOPRESIDENTE DA CMDC:Divair Alves de Oliveira JuniorDIRETOR GERAL DA CMDC:Srgio Locatel BarretoDIRETORA DO INSTITUTO HISTRICO:Tania Maria da Silva Amaro de AlmeidaPRESIDENTE DA ASAMIH:Maria Vitria Souza Guimares LealASSESSORIA DE IMPRENSA E DIVULGAO DA CMDC:Anne MoreiraCONSELHO EDITORIAL:Alexandre dos Santos MarquesCarlos S BezerraOdemir Capistrano SilvaRogrio TorresRuyter PoubelSandra Godinho Maggessi PereiraTania Maria da Silva Amaro de Almeida COLABORADORES:Alda Regina Siqueira AssumpoJos Rogrio Lopes de OliveiraManoel Mathias Thibrcio FilhoRoselena Braz VeillardSuely Alves SilvaCAPA:Agnaldo WerneckFOTO / CAPA:ARCO-CRUZEIRO DA CAPELA-MOR /IGREJA VELHAXERM - DUQUE DE CAXIAS - 05/02/2004Foto: Tania AmaroAcervo sob a guarda do Instituto Histrico

    CORRESPONDNCIA:Rua Paulo Lins, 41 - Jardim 25 de AgostoCEP: 25071-140 - Duque de Caxias - RJTelefone: 2671-6298 ramal 247e-mail: [email protected] site: http://www.cmdc.rj.gov.br/

    EditorialDESTINO E CASTIGO

    Todo mundo faz histria, ainda quando no sabe o que faz ou nega o que faz. Com essa convico, seguimos abrindo as pginas da Pilares, agora em novo formato, a quem se prope registrar caminhos e passos que configuram o nosso hoje e amanh em funo do nosso ontem. Com efeito, se a fase outra, se a aparncia mudou, o logotipo foi recriado, os propsitos so os mesmos e o projeto vai amadurecendo.

    Um dia, em algum momento do futuro, a cidade e a Baixada tero uma fachada diferente a refletir, esperamos, uma qualidade de vida altura dos nossos ideais e do valor de nossa gente. Quem sabe que paisagem urbana surgir ento? Que construes, que nomes, que mitos e lendas se inscrevero nas atas, nos anais, nos microfilmes, nos discos e vdeos compactos, nos livros dessas improvveis Alexandrias do porvir?

    Sonhos que se acumulam, que se acava lam fe i to os en jambements das interpretaes de Nlson Cavaquinho, um verso que termina no outro, um plano que se estende para um sem-fim de planos, continuidade buscada sem trgua. Mas igualmente sonhos que se articulam com o refro das demandas de rua, com os acenos dos transeuntes, com o ombrear dos que permanecem, com o suor dos que se debruam nas obras e com elas se erguem acima da dor e do desalento.

    Seno para isso, para que a histria serviria? Para empilhar biografias de supostos heris e seus feitos exemplares? Para purgar nossos erros, revelar nossos fracassos, anunciar-nos um melanclico e inescapvel destino? Para incutir-nos pacincia e humildade enquanto o castigo no vem? Ora, o castigo j chegou montado na Internet. O destino tambm?

  • O Instituto Histrico Vereador Thom Siqueira Barreto / Cmara Municipal

    de Duque de Caxais e a Associao dos Amigos do Instituto Histricoagradecem o apoio:

    Dos AutoresCEMPEDOCH-BF

    Centro de Memria, Pesquisa e Documentao da Histria da Baixada Fluminense

    FEUDUCFundao Educacional de Duque de Caxias

    IPAHBInstituto de Pesquisas e Anlises Histricas e de Cincias

    Sociais da Baixada Fluminense

    PINBA / FEBF / UERJPrograma Integrado de Pesquisas e Cooperao Tcnica na

    Baixada FluminenseDe todos que participaram direta ou indiretamente da

    produo deste trabalho edaqueles que se empenham no difcil processo

    da permanente construo e reconstruo da nossa histria.

    O Conselho Editorial est aberto ao recebimento de artigos para possvel publicao.

    As idias e opinies emitidas nos artigos so da

    responsabilidade de seus autores.

    REVISTA PILARES DA HISTRIAEdio conjunta:INSTITUTO HISTRICO VEREADOR THOMSIQUEIRA BARRETO / CMARA MUNICIPAL DE DUQUE DE CAXIAS e ASSOCIAO DOS AMIGOS DOINSTITUTO HISTRICOPRESIDENTE DA CMDC:Divair Alves de Oliveira JuniorDIRETOR GERAL DA CMDC:Srgio Locatel BarretoDIRETORA DO INSTITUTO HISTRICO:Tania Maria da Silva Amaro de AlmeidaPRESIDENTE DA ASAMIH:Maria Vitria Souza Guimares LealASSESSORIA DE IMPRENSA E DIVULGAO DA CMDC:Anne MoreiraCONSELHO EDITORIAL:Alexandre dos Santos MarquesCarlos S BezerraOdemir Capistrano SilvaRogrio TorresRuyter PoubelSandra Godinho Maggessi PereiraTania Maria da Silva Amaro de Almeida COLABORADORES:Alda Regina Siqueira AssumpoJos Rogrio Lopes de OliveiraManoel Mathias Thibrcio FilhoRoselena Braz VeillardSuely Alves SilvaCAPA:Agnaldo WerneckFOTO / CAPA:ARCO-CRUZEIRO DA CAPELA-MOR /IGREJA VELHAXERM - DUQUE DE CAXIAS - 05/02/2004Foto: Tania AmaroAcervo sob a guarda do Instituto Histrico

    CORRESPONDNCIA:Rua Paulo Lins, 41 - Jardim 25 de AgostoCEP: 25071-140 - Duque de Caxias - RJTelefone: 2671-6298 ramal 247e-mail: [email protected] site: http://www.cmdc.rj.gov.br/

    EditorialDESTINO E CASTIGO

    Todo mundo faz histria, ainda quando no sabe o que faz ou nega o que faz. Com essa convico, seguimos abrindo as pginas da Pilares, agora em novo formato, a quem se prope registrar caminhos e passos que configuram o nosso hoje e amanh em funo do nosso ontem. Com efeito, se a fase outra, se a aparncia mudou, o logotipo foi recriado, os propsitos so os mesmos e o projeto vai amadurecendo.

    Um dia, em algum momento do futuro, a cidade e a Baixada tero uma fachada diferente a refletir, esperamos, uma qualidade de vida altura dos nossos ideais e do valor de nossa gente. Quem sabe que paisagem urbana surgir ento? Que construes, que nomes, que mitos e lendas se inscrevero nas atas, nos anais, nos microfilmes, nos discos e vdeos compactos, nos livros dessas improvveis Alexandrias do porvir?

    Sonhos que se acumulam, que se acava lam fe i to os en jambements das interpretaes de Nlson Cavaquinho, um verso que termina no outro, um plano que se estende para um sem-fim de planos, continuidade buscada sem trgua. Mas igualmente sonhos que se articulam com o refro das demandas de rua, com os acenos dos transeuntes, com o ombrear dos que permanecem, com o suor dos que se debruam nas obras e com elas se erguem acima da dor e do desalento.

    Seno para isso, para que a histria serviria? Para empilhar biografias de supostos heris e seus feitos exemplares? Para purgar nossos erros, revelar nossos fracassos, anunciar-nos um melanclico e inescapvel destino? Para incutir-nos pacincia e humildade enquanto o castigo no vem? Ora, o castigo j chegou montado na Internet. O destino tambm?

  • MENSAGEM DO PRESIDENTE DACMARA MUNICIPAL DE DUQUE DE CAXIAS

    UMA CIDADE QUE NO PRESERVA SEU PASSADO UMA CIDADE SEM FUTURO.

    Nos ltimos anos, a preservao da memria tem se caracterizado como uma das preocupaes marcantes em diversas instituies pblicas e privadas. Temos presenciado iniciativas individuais ou coletivas em prol da criao de centros de memria, instalao de ncleos de documentao e pesquisa, projetos de revitalizao de stios histricos, entre outros projetos maravilhosos que s se realizaram atravs da participao popular em que a comunidade procura recuperar suas memrias.

    Uma cidade no feita apenas de casas, ruas, paisagens, praas e monumentos. A cidade tem vida, pessoas e relaes que traduzem o seu esprito. Minha famlia se radicou em Xerm h alguns anos e teve a oportunidade de fazer parte da histria do nosso municpio. Meu av e meu pai foram operrios da Fbrica Nacional de Motores, que se instalou aqui na dcada de 1940, inicialmente projetada para produzir motores de avies, mais tarde passando a fabricar caminhes e automveis. Como fui nascido, criado, e ainda resido em Xerm, sempre tive vontade de discutir melhor a histria da nossa cidade.

    Devemos trabalhar para desconstruir a idia de que Duque de Caxias uma cidade sem memria e sem histria. Com o envolvimento e o reconhecimento de toda a sociedade, poderemos reforar, ainda mais, a importncia da preservao como um instrumento de afirmao de nossa identidade cultural, de registro de nossos direitos de cidadania e de participao no processo dirio de construir nossa prpria histria.

    A Cmara Municipal de Duque de Caxias tem tido a preocupao de apoiar e incentivar o registro e a recuperao da nossa memria histrica e cultural atravs do incentivo ao Instituto Histrico e da publicao da Revista Pilares da Histria.

    Sendo assim, penso ser fundamental o apoio preservao da nossa histria, atendendo s necessidades daqueles que desejam participar desse projeto de conhecimento e valorizao dos elementos que formam o nosso patrimnio cultural.

    Desejo que a publicao da Revista Pilares da Histria seja responsvel por democratizar o conhecimento historicamente produzido e preparar as atuais e futuras geraes para a construo de novos conhecimentos, j que uma cidade que no preserva seu passado uma cidade sem futuro.

    Divair Alves de Oliveira Junior

  • MENSAGEM DO PRESIDENTE DACMARA MUNICIPAL DE DUQUE DE CAXIAS

    UMA CIDADE QUE NO PRESERVA SEU PASSADO UMA CIDADE SEM FUTURO.

    Nos ltimos anos, a preservao da memria tem se caracterizado como uma das preocupaes marcantes em diversas instituies pblicas e privadas. Temos presenciado iniciativas individuais ou coletivas em prol da criao de centros de memria, instalao de ncleos de documentao e pesquisa, projetos de revitalizao de stios histricos, entre outros projetos maravilhosos que s se realizaram atravs da participao popular em que a comunidade procura recuperar suas memrias.

    Uma cidade no feita apenas de casas, ruas, paisagens, praas e monumentos. A cidade tem vida, pessoas e relaes que traduzem o seu esprito. Minha famlia se radicou em Xerm h alguns anos e teve a oportunidade de fazer parte da histria do nosso municpio. Meu av e meu pai foram operrios da Fbrica Nacional de Motores, que se instalou aqui na dcada de 1940, inicialmente projetada para produzir motores de avies, mais tarde passando a fabricar caminhes e automveis. Como fui nascido, criado, e ainda resido em Xerm, sempre tive vontade de discutir melhor a histria da nossa cidade.

    Devemos trabalhar para desconstruir a idia de que Duque de Caxias uma cidade sem memria e sem histria. Com o envolvimento e o reconhecimento de toda a sociedade, poderemos reforar, ainda mais, a importncia da preservao como um instrumento de afirmao de nossa identidade cultural, de registro de nossos direitos de cidadania e de participao no processo dirio de construir nossa prpria histria.

    A Cmara Municipal de Duque de Caxias tem tido a preocupao de apoiar e incentivar o registro e a recuperao da nossa memria histrica e cultural atravs do incentivo ao Instituto Histrico e da publicao da Revista Pilares da Histria.

    Sendo assim, penso ser fundamental o apoio preservao da nossa histria, atendendo s necessidades daqueles que desejam participar desse projeto de conhecimento e valorizao dos elementos que formam o nosso patrimnio cultural.

    Desejo que a publicao da Revista Pilares da Histria seja responsvel por democratizar o conhecimento historicamente produzido e preparar as atuais e futuras geraes para a construo de novos conhecimentos, j que uma cidade que no preserva seu passado uma cidade sem futuro.

    Divair Alves de Oliveira Junior

  • Seo TRANSCRIO

    Seo MEMRIA VIVAEntrevista com Rogrio TorresAntnio Augusto Braz /Odemir Capistrano Silva..........................................................................................................................................101Seo ICONOGRAFIA ................................................................................................................................................. 115A ASSOCIAO DOS AMIGOS DO INSTITUTO HISTRICO.............................................................................125

    Alexandre dos Santos Marques /Rogrio Torres /Tania Maria da Silva Amaro de Almeida..............................................................................................................................97

    SumrioXERM E SEUS NICHOS DE HISTRIA

    CAPELA DE SANTA RITA DA POSSE: HISTRIA, CADEIA SUCESSRIA E DESCRIO ARQUITETNICA

    A IMPORTNCIA DA MULHER NA ECONOMIA DE XERM NAS DCADAS 1970/90

    ENSAIO SOBRE A SOPEIRA OU O CUSPE DO IMPERADOR

    EM MARO DE 1963, UM DIA NA CAMPANHA ELEITORAL DA UNIO CAXIENSE DE ESTUDANTES

    A DEGRADAO DOS RIOS NA BAIXADA FLUMINENSE: _UMA ANLISE SOBRE O RIO BOTAS NO BAIRRO ITAIPU BELFORD ROXO

    OS CAMINHOS DA F COM A HISTRIA DE MAG

    LANGSDORFF EM INHOMIRIM

    NEM CES, NEM LOBOS: OS GUERREIROS GOITAC

    ENTRE ARQUIVOS E MEMRIAS: EXPERINCIAS DE VIDA E FORMAO DE PROFESSORAS NO MUNICPIO DE DUQUE DE CAXIAS (1997 - 2002)

    VISES UNIVERSITRIAS SOBRE A BAIXADA FLUMINENSE:

    Gnesis Torres...................................................................................................................................................................7

    Ubiratan Cruz Cherem.........................................................................................................................................................10

    Maria Mnica Sarandy.........................................................................................................................................................16

    Odemir Capistrano Silva......................................................................................................................................................20

    Stlio Jos da Silva Lacerda................................................................................................................................................29

    Vitor Oliveira de Vasconcelos..............................................................................................................................................35

    Estela Mrcia da Paz Moreira de Arajo.............................................................................................................................48

    Maria Beatriz Leal da Silva..................................................................................................................................................53

    Jeanne Cordeiro..................................................................................................................................................................55

    Fatima Bitencourt David.......................................................................................................................................................69

    CONSIDERAES PRELIMINARES ACERCA DA REORGANIZAO _ _ESPACIAL DO BAIRRO CENTENRIO DUQUE DE CAXIAS RJAndr Santos da Rocha /Sidney Cardoso Santos Filho..............................................................................................................................................87HISTRIA URBANA E DO COTIDIANO DE UM BAIRRO DA BAIXADA FLUMINENSE: HELIPOLISCristiane da Silva Pontes /Mnica Marinho Senna Pimenteal /Patrcia Aparecida Viana Morais.........................................................................................................................................92

  • Seo TRANSCRIO

    Seo MEMRIA VIVAEntrevista com Rogrio TorresAntnio Augusto Braz /Odemir Capistrano Silva..........................................................................................................................................101Seo ICONOGRAFIA ................................................................................................................................................. 115A ASSOCIAO DOS AMIGOS DO INSTITUTO HISTRICO.............................................................................125

    Alexandre dos Santos Marques /Rogrio Torres /Tania Maria da Silva Amaro de Almeida..............................................................................................................................97

    SumrioXERM E SEUS NICHOS DE HISTRIA

    CAPELA DE SANTA RITA DA POSSE: HISTRIA, CADEIA SUCESSRIA E DESCRIO ARQUITETNICA

    A IMPORTNCIA DA MULHER NA ECONOMIA DE XERM NAS DCADAS 1970/90

    ENSAIO SOBRE A SOPEIRA OU O CUSPE DO IMPERADOR

    EM MARO DE 1963, UM DIA NA CAMPANHA ELEITORAL DA UNIO CAXIENSE DE ESTUDANTES

    A DEGRADAO DOS RIOS NA BAIXADA FLUMINENSE: _UMA ANLISE SOBRE O RIO BOTAS NO BAIRRO ITAIPU BELFORD ROXO

    OS CAMINHOS DA F COM A HISTRIA DE MAG

    LANGSDORFF EM INHOMIRIM

    NEM CES, NEM LOBOS: OS GUERREIROS GOITAC

    ENTRE ARQUIVOS E MEMRIAS: EXPERINCIAS DE VIDA E FORMAO DE PROFESSORAS NO MUNICPIO DE DUQUE DE CAXIAS (1997 - 2002)

    VISES UNIVERSITRIAS SOBRE A BAIXADA FLUMINENSE:

    Gnesis Torres...................................................................................................................................................................7

    Ubiratan Cruz Cherem.........................................................................................................................................................10

    Maria Mnica Sarandy.........................................................................................................................................................16

    Odemir Capistrano Silva......................................................................................................................................................20

    Stlio Jos da Silva Lacerda................................................................................................................................................29

    Vitor Oliveira de Vasconcelos..............................................................................................................................................35

    Estela Mrcia da Paz Moreira de Arajo.............................................................................................................................48

    Maria Beatriz Leal da Silva..................................................................................................................................................53

    Jeanne Cordeiro..................................................................................................................................................................55

    Fatima Bitencourt David.......................................................................................................................................................69

    CONSIDERAES PRELIMINARES ACERCA DA REORGANIZAO _ _ESPACIAL DO BAIRRO CENTENRIO DUQUE DE CAXIAS RJAndr Santos da Rocha /Sidney Cardoso Santos Filho..............................................................................................................................................87HISTRIA URBANA E DO COTIDIANO DE UM BAIRRO DA BAIXADA FLUMINENSE: HELIPOLISCristiane da Silva Pontes /Mnica Marinho Senna Pimenteal /Patrcia Aparecida Viana Morais.........................................................................................................................................92

  • O crescimento urbano da cidade do Rio de Janeiro, em fins do sculo XIX, e o estilo predatrio na ocupao dos espaos acabaram levando ao fim dos mananciais hdricos que abasteciam os bairros centrais da capital federal. A soluo encontrada foi a captao das guas que desciam pelos vrios pontos da serra do Mar. Escolheu-se trs importantes pontos de captao: So Pedro, Tingu e Xerm.

    A captao das guas em Xerm mostrou para a cidade do Rio de Janeiro os horrores em que viviam as populaes que habitavam as terras da Baixada Fluminense. O Jornal Gazeta de Notcias do Rio de Janeiro, em 02 de maio de 1907, trazia como manchete: Na captao das guas a febre palustre dizima.

    Ali estava presente algumas centenas de homens (1400 ao todo), todos macilentos, a tremerem de frio, apesar do calor ambiente e da pele que os escaldava. No lamentavam, justificavam o que se faziam. preciso ganhar a vida, ter dinheiro, sustentar a famlia. Sabiam que a febre que mata, ela a desgraa. noite, o terror da noite enluarada em plena floresta, a zona era inexplorada. noite, os homens armavam grandes fogueiras em frente de cada tenda para espantar os mosquitos, verdadeiras nuvens de pernilongos a transmitir a febre amarela. O trabalhador Jos dizia: moo h jacars, h muitos jacars. Vivem nos charcos os jacars... Os jacars e os mosquitos nesta terra nascem dos paus como o capim na terra. Dizia o reprter: Ns estvamos nas saias dos rgos, a pegar, entre os horrores da morte, a gua para a civilizao".

    Trmino da 2 Guerra Mundial e, em 1947, a regio recebe a primeira grande indstria de caminhes FNM (Fbrica Nacional de Motores), transportadores valentes que cortavam a Rio-Bahia e outras muitas estradas de cho para o sul deste imenso pas. Xerm torna-se conhecida como terra dos caminhes fnm. De uma pacata regio rural plantadora de mandioca, bananas e de uma agricultura de subsistncia, passa a receber um grande contingente populacional como mo-de-obra para a fbrica. Aparecem, entre a floresta de rvores centenrias, os conjuntos residenciais e as vilas operrias. Xerm passa a gozar de uma renda que destoava dos demais habitantes da cidade. Trabalhar na fnm dava status, era a garantia de uma boa renda, um emprego garantido e um bom casamento. Xerm, num pas que se industrializava, era o sonho do eldorado.

    O espao ocupado anteriormente pela FNM hoje a industria Ciferal, empresa que se destaca por seu pioneirismo em carrocerias para nibus em duralumnio. Est em Xerm desde 1992 e, em 2001, a Ciferal tornou-se uma empresa da Marcopolo. A partir deste momento passou a aumentar seus ndices de produo e diminuir custos. Hoje se consolida como uma nova empresa, especializada na produo de carrocerias de nibus urbanos. uma especialista em construir produtos de qualidade e funcionalidade para o desenvolvimento dos transportes coletivos urbanos.

    Tambm est em Xerm a Turbomeca que uma lder mundial na fabricao e venda de turbinas para helicpteros, de pequena e mdia potncia. A Turbomeca tambm comercializa turbinas para avies de treinamento e msseis, e para aplicaes industriais e navais. Em Xerm a empresa trabalha com reparos de sua produo, centro de servios e suporte aos clientes.

    A construo da rodovia Washington Luiz, ainda na primeira metade do sculo XX, garantindo a ligao entre o Rio de Janeiro ao sudeste e nordeste do pas, possibilitou mostrar para quem desce a serra pela primeira vez, vindo do interior, uma viso indescritvel de beleza natural, com suas represas de captao das guas dos rios Joo Pinto, Registro e Xerm.

    Xerm continua recebendo importantes investimentos: est em gestao o Plo de Tecnologia de Xerm com investimentos entre R$ 70 milhes e R$ 100 milhes; e, a sediar rgos e autarquias pblicas com grandes revelaes na sociedade como o Instituto de Metrologia. Suas

    8

    localidade de Xerm nas encostas da serra do Mar, hoje importante distrito que compe o territrio de Duque de Caxias, tem exercido ao longo do tempo um papel decisivo no processo ocupacional e, ao mesmo tempo, servido aos diversos interesses das diversas almas que ali se estabeleceram ao longo dos sculos XVIII ao XX.A

    Efetivamente a regio comeou a ser ocupada com a construo do Caminho Novo de Garcia Paes, pelo stio do Couto. O rio Pilar teve papel decisivo no ciclo do ouro nos primeiros tempos, levando a populao e suas mercadorias at as praas do Rio de Janeiro.

    A f a se estabeleceu com a Igreja de Santa Rita da Posse; a colonizao se fez presente desenvolvendo as atividades do plantio da cana de acar, do arroz, do milho, do feijo e todos os gneros para o sustento de uma rala populao.

    As fazendas, comprimidas entre a serra e as terras alagadas dos baixios, permitiam o desenvolvimento de uma lavoura de subsistncia, que abastecia as muitas tropas que desciam a serra do Mar, depois de uma longa e penosa viagem, vindas da regio das Minas Gerais. Galgar a Pedra do Couto, por mais um dia, j era a garantia de chegada ao porto do Pilar. Fazer o peadouro e descansar a tropa, trocar as ferraduras, recompor os arreios, comprar algumas fazendas (tecidos), nutrir de informaes e levar as noticias s regies mineradoras era, na verdade, uma odissia que s se permitiam aos homens daquele tempo.

    Um local buclico, habitado e visitado por homens que, num vai e vem, traziam o ouro do interior e levavam os importados vindos da Revoluo Industrial inglesa. O local tambm assistiu s concesses privilegiadas do piloto ingls John Charing e do Vigrio fazendeiro Joo Alvares de Barros com seu filho Loureno Alvares de Barros, nascido antes do ordenamento clerical. Senhor Joo Charem emprestou o nome a localidade e o Vigrio deixa o carter do colonizador explicitado nas lutas por privilgios.

    A aura de Xerm assim se conservou at as primeiras dcadas da Repblica, com colonizadores e colonizados isolados do contexto da capital, criando um estilo prprio, uma espcie de zona de transio entre o litoral e o hinterland.

    XERM E SEUS NICHOS DE HISTRIA

    1Gnesis Torres

    1Licenciado em Histria pela Universidade Federal Fluminense. Professor das redes pblicas estadual, municipal e particular. Ex-Chefe de Gabinete do Prefeito, ex-Secretrio de Educao e Cultura e, ex-Vereador do Municpio de So Joo de Meriti Membro das Academias de Letras e Artes de Nova Igua e de So Joo de Meriti.Presidente do Instituto de Pesquisas e Anlises Histricas e de Cincias Sociais da Baixada Fluminense - IPAHB. Subsecretrio de Cultura de So Joo de Meriti.

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  • O crescimento urbano da cidade do Rio de Janeiro, em fins do sculo XIX, e o estilo predatrio na ocupao dos espaos acabaram levando ao fim dos mananciais hdricos que abasteciam os bairros centrais da capital federal. A soluo encontrada foi a captao das guas que desciam pelos vrios pontos da serra do Mar. Escolheu-se trs importantes pontos de captao: So Pedro, Tingu e Xerm.

    A captao das guas em Xerm mostrou para a cidade do Rio de Janeiro os horrores em que viviam as populaes que habitavam as terras da Baixada Fluminense. O Jornal Gazeta de Notcias do Rio de Janeiro, em 02 de maio de 1907, trazia como manchete: Na captao das guas a febre palustre dizima.

    Ali estava presente algumas centenas de homens (1400 ao todo), todos macilentos, a tremerem de frio, apesar do calor ambiente e da pele que os escaldava. No lamentavam, justificavam o que se faziam. preciso ganhar a vida, ter dinheiro, sustentar a famlia. Sabiam que a febre que mata, ela a desgraa. noite, o terror da noite enluarada em plena floresta, a zona era inexplorada. noite, os homens armavam grandes fogueiras em frente de cada tenda para espantar os mosquitos, verdadeiras nuvens de pernilongos a transmitir a febre amarela. O trabalhador Jos dizia: moo h jacars, h muitos jacars. Vivem nos charcos os jacars... Os jacars e os mosquitos nesta terra nascem dos paus como o capim na terra. Dizia o reprter: Ns estvamos nas saias dos rgos, a pegar, entre os horrores da morte, a gua para a civilizao".

    Trmino da 2 Guerra Mundial e, em 1947, a regio recebe a primeira grande indstria de caminhes FNM (Fbrica Nacional de Motores), transportadores valentes que cortavam a Rio-Bahia e outras muitas estradas de cho para o sul deste imenso pas. Xerm torna-se conhecida como terra dos caminhes fnm. De uma pacata regio rural plantadora de mandioca, bananas e de uma agricultura de subsistncia, passa a receber um grande contingente populacional como mo-de-obra para a fbrica. Aparecem, entre a floresta de rvores centenrias, os conjuntos residenciais e as vilas operrias. Xerm passa a gozar de uma renda que destoava dos demais habitantes da cidade. Trabalhar na fnm dava status, era a garantia de uma boa renda, um emprego garantido e um bom casamento. Xerm, num pas que se industrializava, era o sonho do eldorado.

    O espao ocupado anteriormente pela FNM hoje a industria Ciferal, empresa que se destaca por seu pioneirismo em carrocerias para nibus em duralumnio. Est em Xerm desde 1992 e, em 2001, a Ciferal tornou-se uma empresa da Marcopolo. A partir deste momento passou a aumentar seus ndices de produo e diminuir custos. Hoje se consolida como uma nova empresa, especializada na produo de carrocerias de nibus urbanos. uma especialista em construir produtos de qualidade e funcionalidade para o desenvolvimento dos transportes coletivos urbanos.

    Tambm est em Xerm a Turbomeca que uma lder mundial na fabricao e venda de turbinas para helicpteros, de pequena e mdia potncia. A Turbomeca tambm comercializa turbinas para avies de treinamento e msseis, e para aplicaes industriais e navais. Em Xerm a empresa trabalha com reparos de sua produo, centro de servios e suporte aos clientes.

    A construo da rodovia Washington Luiz, ainda na primeira metade do sculo XX, garantindo a ligao entre o Rio de Janeiro ao sudeste e nordeste do pas, possibilitou mostrar para quem desce a serra pela primeira vez, vindo do interior, uma viso indescritvel de beleza natural, com suas represas de captao das guas dos rios Joo Pinto, Registro e Xerm.

    Xerm continua recebendo importantes investimentos: est em gestao o Plo de Tecnologia de Xerm com investimentos entre R$ 70 milhes e R$ 100 milhes; e, a sediar rgos e autarquias pblicas com grandes revelaes na sociedade como o Instituto de Metrologia. Suas

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    localidade de Xerm nas encostas da serra do Mar, hoje importante distrito que compe o territrio de Duque de Caxias, tem exercido ao longo do tempo um papel decisivo no processo ocupacional e, ao mesmo tempo, servido aos diversos interesses das diversas almas que ali se estabeleceram ao longo dos sculos XVIII ao XX.A

    Efetivamente a regio comeou a ser ocupada com a construo do Caminho Novo de Garcia Paes, pelo stio do Couto. O rio Pilar teve papel decisivo no ciclo do ouro nos primeiros tempos, levando a populao e suas mercadorias at as praas do Rio de Janeiro.

    A f a se estabeleceu com a Igreja de Santa Rita da Posse; a colonizao se fez presente desenvolvendo as atividades do plantio da cana de acar, do arroz, do milho, do feijo e todos os gneros para o sustento de uma rala populao.

    As fazendas, comprimidas entre a serra e as terras alagadas dos baixios, permitiam o desenvolvimento de uma lavoura de subsistncia, que abastecia as muitas tropas que desciam a serra do Mar, depois de uma longa e penosa viagem, vindas da regio das Minas Gerais. Galgar a Pedra do Couto, por mais um dia, j era a garantia de chegada ao porto do Pilar. Fazer o peadouro e descansar a tropa, trocar as ferraduras, recompor os arreios, comprar algumas fazendas (tecidos), nutrir de informaes e levar as noticias s regies mineradoras era, na verdade, uma odissia que s se permitiam aos homens daquele tempo.

    Um local buclico, habitado e visitado por homens que, num vai e vem, traziam o ouro do interior e levavam os importados vindos da Revoluo Industrial inglesa. O local tambm assistiu s concesses privilegiadas do piloto ingls John Charing e do Vigrio fazendeiro Joo Alvares de Barros com seu filho Loureno Alvares de Barros, nascido antes do ordenamento clerical. Senhor Joo Charem emprestou o nome a localidade e o Vigrio deixa o carter do colonizador explicitado nas lutas por privilgios.

    A aura de Xerm assim se conservou at as primeiras dcadas da Repblica, com colonizadores e colonizados isolados do contexto da capital, criando um estilo prprio, uma espcie de zona de transio entre o litoral e o hinterland.

    XERM E SEUS NICHOS DE HISTRIA

    1Gnesis Torres

    1Licenciado em Histria pela Universidade Federal Fluminense. Professor das redes pblicas estadual, municipal e particular. Ex-Chefe de Gabinete do Prefeito, ex-Secretrio de Educao e Cultura e, ex-Vereador do Municpio de So Joo de Meriti Membro das Academias de Letras e Artes de Nova Igua e de So Joo de Meriti.Presidente do Instituto de Pesquisas e Anlises Histricas e de Cincias Sociais da Baixada Fluminense - IPAHB. Subsecretrio de Cultura de So Joo de Meriti.

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  • CAPELA DE SANTA RITA DA POSSE:HISTRIA, CADEIA SUCESSRIA EDESCRIO ARQUITETNICA

    1Ubiratan Cruz Cherem

    10

    m dos primeiros proprietrios do lugar onde se encontra a capela de Santa 2Rita de Cssia da Posse, foi o Capito-Mor Francisco Gomes Ribeiro (o

    velho). Era senhor da Fazenda e Engenho da Posse, como tambm administrador do Oratrio de Santo Antnio da Posse. U

    Nasceu por volta de 1650, no lugar da Bufaria, freguesia de Sant' Anna da Carnota, termo e arcebispado de Lisboa. Casou-se com Dona Mariana Cabral em 1680, veio para o Brasil com alguns parentes das famlias Rodrigues Cruz, Gomes, Ribeiro, constituindo a famlia Gomes Ribeiro no Brasil, sendo seu Patriarca. Esta famlia continuou atravs da conhecida famlia Gomes Ribeiro de Avellar, que deu vrios bares do caf no Vale do Paraba.

    O oratrio do Capito-Mor tinha permisso para celebrar missas, batismos e casamentos. Como exemplo, podemos citar o casamento realizado em 5/12/1741, porm registrado no Livro 5, folha 69 v, da freguesia de Nossa Senhora da Candelria, entre o Capito Jos Fiza Lima e Dona Estcia Correia Pimenta.

    Este registro de casamento realizado no Oratrio do Engenho da Posse encontra-se no Arquivo da Cria do Rio de Janeiro e mostra que antes de existir a Capela de Santa Rita, existia o Oratrio de Santo Antnio no mesmo local. Provavelmente, pelo seu tamanho pequeno e pouco durvel, exigia a construo de uma nova e maior capela que pudesse atender aos convidados nos casamentos, batismos e a todo o povo daquela regio na celebrao das missas. Contudo, a deciso de realizar esta obra no foi do Capito-Mor e sim de seu sobrinho, o Capito das Ordenanas Francisco Gomes Ribeiro (o moo).

    Como descendentes o Capito-Mor, teve vrias filhas e nenhum filho homem que desse continuidade ao seu sobrenome. No entanto, seu sobrinho homnimo foi seu testamenteiro, comprou-lhe terras, bem como tambm de parentes e vizinhos. Emprestou dinheiro a parentes, vizinhos e s Irmandades da Igreja Matriz para reforma do altar. Fabricava acar branco e aguardente. Com todas essas suas atividades, formou grande fortuna que pode ser vista em boa parte no seu 1 _ _ Mestrando em Histria Social do Brasil pela Universidade Severino Sombra (USS) Vassouras RJ._Ps-graduao em Histria Social do Brasil pela FEUDUC Duque de Caxias RJ. _ _Licenciado em Cincias Biolgicas pela FAMATh Niteri RJ.Professor da Rede Pblica Estadual. Leciona Educao Ambiental, Biologia e Histria._Scio do Colgio Brasileiro de Genealogia Rio de Janeiro RJ.2 Autoridade Colonial que numa Vila ou Distrito, comandava as tropas de milcia, chamadas Companhias de Ordenanas.Era necessrio ser pessoa dos principais da terra, da melhor nobreza e manter residncia na regio.

    aes e atuaes na proteo do consumidor tm nos feito lembrar de uma regio privilegiada pelos bons ares e de um verde luxuriante, que tem encantado as diversas categorias privilegiadas da sociedade, que buscam seus recantos para se deliciar de um ambiente ecologicamente perfeito.

    Localizado no Vale das Laranjeiras, est o Centro de Treinamento Desportivo Sylvio Kelly do Santos. Inaugurado em dezembro de 1995, o Centro possui uma rea de 80 mil metros quadrados do Fluminense Futebol Clube e mais 50 mil arrendadas por 20 anos da Sociedade Universitria Madeira de Lei. Foi construdo com a ajuda de scios e empresrios. Com a aquisio do terreno, doado pela Unio, o Fluminense Futebol Clube terminou a primeira etapa das obras. Abriga as categorias mirim, infantil, juvenil e juniores, com atletas de vrios estados brasileiros.

    Charing, Charem e Xerm, do piloto ingls ao portugus arrumado e adaptado do homem simples, abasteceu as torneiras e banheiras do Imprio e da Repblica, dilatou fronteiras pelas rodas do fnm e vem defendendo o consumidor, nas suas muitas pesquisas, pelo Instituto de Metrologia. Do latim flumem (regio de muitas guas), no poderia ser melhor a presena do Fluminense Futebol Clube. Passando pela estrada, ainda se v, pelas margens das rodovias, as marcas da agricultura atravs das muitas barracas onde se encontram dependurados lindos cachos de banana e amontoados de razes de mandioca.

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  • CAPELA DE SANTA RITA DA POSSE:HISTRIA, CADEIA SUCESSRIA EDESCRIO ARQUITETNICA

    1Ubiratan Cruz Cherem

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    m dos primeiros proprietrios do lugar onde se encontra a capela de Santa 2Rita de Cssia da Posse, foi o Capito-Mor Francisco Gomes Ribeiro (o

    velho). Era senhor da Fazenda e Engenho da Posse, como tambm administrador do Oratrio de Santo Antnio da Posse. U

    Nasceu por volta de 1650, no lugar da Bufaria, freguesia de Sant' Anna da Carnota, termo e arcebispado de Lisboa. Casou-se com Dona Mariana Cabral em 1680, veio para o Brasil com alguns parentes das famlias Rodrigues Cruz, Gomes, Ribeiro, constituindo a famlia Gomes Ribeiro no Brasil, sendo seu Patriarca. Esta famlia continuou atravs da conhecida famlia Gomes Ribeiro de Avellar, que deu vrios bares do caf no Vale do Paraba.

    O oratrio do Capito-Mor tinha permisso para celebrar missas, batismos e casamentos. Como exemplo, podemos citar o casamento realizado em 5/12/1741, porm registrado no Livro 5, folha 69 v, da freguesia de Nossa Senhora da Candelria, entre o Capito Jos Fiza Lima e Dona Estcia Correia Pimenta.

    Este registro de casamento realizado no Oratrio do Engenho da Posse encontra-se no Arquivo da Cria do Rio de Janeiro e mostra que antes de existir a Capela de Santa Rita, existia o Oratrio de Santo Antnio no mesmo local. Provavelmente, pelo seu tamanho pequeno e pouco durvel, exigia a construo de uma nova e maior capela que pudesse atender aos convidados nos casamentos, batismos e a todo o povo daquela regio na celebrao das missas. Contudo, a deciso de realizar esta obra no foi do Capito-Mor e sim de seu sobrinho, o Capito das Ordenanas Francisco Gomes Ribeiro (o moo).

    Como descendentes o Capito-Mor, teve vrias filhas e nenhum filho homem que desse continuidade ao seu sobrenome. No entanto, seu sobrinho homnimo foi seu testamenteiro, comprou-lhe terras, bem como tambm de parentes e vizinhos. Emprestou dinheiro a parentes, vizinhos e s Irmandades da Igreja Matriz para reforma do altar. Fabricava acar branco e aguardente. Com todas essas suas atividades, formou grande fortuna que pode ser vista em boa parte no seu 1 _ _ Mestrando em Histria Social do Brasil pela Universidade Severino Sombra (USS) Vassouras RJ._Ps-graduao em Histria Social do Brasil pela FEUDUC Duque de Caxias RJ. _ _Licenciado em Cincias Biolgicas pela FAMATh Niteri RJ.Professor da Rede Pblica Estadual. Leciona Educao Ambiental, Biologia e Histria._Scio do Colgio Brasileiro de Genealogia Rio de Janeiro RJ.2 Autoridade Colonial que numa Vila ou Distrito, comandava as tropas de milcia, chamadas Companhias de Ordenanas.Era necessrio ser pessoa dos principais da terra, da melhor nobreza e manter residncia na regio.

    aes e atuaes na proteo do consumidor tm nos feito lembrar de uma regio privilegiada pelos bons ares e de um verde luxuriante, que tem encantado as diversas categorias privilegiadas da sociedade, que buscam seus recantos para se deliciar de um ambiente ecologicamente perfeito.

    Localizado no Vale das Laranjeiras, est o Centro de Treinamento Desportivo Sylvio Kelly do Santos. Inaugurado em dezembro de 1995, o Centro possui uma rea de 80 mil metros quadrados do Fluminense Futebol Clube e mais 50 mil arrendadas por 20 anos da Sociedade Universitria Madeira de Lei. Foi construdo com a ajuda de scios e empresrios. Com a aquisio do terreno, doado pela Unio, o Fluminense Futebol Clube terminou a primeira etapa das obras. Abriga as categorias mirim, infantil, juvenil e juniores, com atletas de vrios estados brasileiros.

    Charing, Charem e Xerm, do piloto ingls ao portugus arrumado e adaptado do homem simples, abasteceu as torneiras e banheiras do Imprio e da Repblica, dilatou fronteiras pelas rodas do fnm e vem defendendo o consumidor, nas suas muitas pesquisas, pelo Instituto de Metrologia. Do latim flumem (regio de muitas guas), no poderia ser melhor a presena do Fluminense Futebol Clube. Passando pela estrada, ainda se v, pelas margens das rodovias, as marcas da agricultura atravs das muitas barracas onde se encontram dependurados lindos cachos de banana e amontoados de razes de mandioca.

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    Infelizmente no sabemos mais dessa Irmandade, pois s achamos o Termo de Ereo. No foram encontrados os Livros de Compromisso e os demais, assim como outros documentos que falem sobre ela.

    O quinto proprietrio foi o herdeiro do Capito Manoel, seu filho - o Tenente-Coronel Carlos Jos Moreira de Barbosa - , que faz de prprio punho, declarao de sua fazenda da Posse, para o Registro Paroquial de Terras, na Matriz da Freguesia do Pilar, em 01 de outubro de 1856.

    O sexto proprietrio foi o herdeiro do Tenente-Coronel Carlos, seu filho - Carlos Jos Moreira Barbosa (filho). Seu nome aparece no Almanak Lammaert na Lista de Fazendeiros e Lavradores, em 1862. Seu pai deve ter falecido no final de 1859, j que seu nome aparece no Almanak Lammaert at este ano e, no Almanak de 1860, j aparece registrado a palavra herdeiros. Procuramos, mas infelizmente, ainda no encontramos o registro de bito do Tenente-Coronel Carlos Jos Moreira de Barbosa.

    No ano de 1862 surge o nome do stimo proprietrio, designado como senhor do Engenho da Posse, Guilherme Telles Ribeiro, que supomos tenha sido casado com filha do Tenente-Coronel Carlos. At agora no foi encontrada, nos Livros de Registros de Casamentos, a confirmao de tal hiptese.

    Curiosamente, ambos os nomes do sexto e stimos proprietrios aparecem na mesma lista dos anos de 1866 a 1881, levando a crer que houve diviso do Engenho do restante da Fazenda, pelo menos na parte administrativa. E, por ltimo, aparece apenas o nome de Carlos Jos Moreira Barbosa (filho) nos anos de 1882 e 1883. A partir de 1884 no se encontra mais nenhum nome nos ltimos anos do Almanak, e no fizemos mais nenhum levantamento, que devem ser feitos agora em cartrios e Livros Paroquiais da Cria do Rio de Janeiro, pois os descendentes devem ter ido morar na cidade do Rio de Janeiro.

    Com respeito ao stimo proprietrio Carlos Jos Moreira Barbosa (filho), este aparece tambm como proprietrio da Fazenda Mato Grosso, no local hoje conhecido como vale do Avirio em Xerm, cortado pelo rio Mato Grosso, que ainda , na maior parte do tempo, tem as suas guas limpas e cristalinas. Sabe-se, tambm, que a casa da Fazenda Mato Grosso possua um Oratrio com permisso de realizar missas, batismos e casamentos. Mas, a falar da Fazenda Mato Grosso continuaremos em outra oportunidade.

    Alm de verificar o que foi e representou a Capela de Santa Rita da Posse, pensamos tambm em estudar a sua parte fsica. O que resta hoje metade de um templo em runas e totalmente abandonado a prpria sorte, e nada se faz para conter a sua contnua destruio. Quem sabe ao fazermos uma Descrio Arquitetnica, podemos ver a jia rara que esta capela por ter sido uma das poucas construes da poca colonial que ainda existem nesta regio. Descrio Arquitetnica

    A capela de Santa Rita da Posse, em Xerm, tem tipologia de arquitetura Barroca, onde o Arquiteto ou construtor a quem se poderia atribuir o trao da capela, infelizmente desconhecido.

    Trata-se de um templo que tem seu espao definido pelos elementos arquitetnicos de 3 4cantaria , com o partido de planta retangular da nica nave e capela-mor, tendo possudo telhado com

    3 Pedras para construo, medidas, esquadrejadas e cortadas com rigor. 4 Organizao geral de uma edificao, onde pode ser vista a forma de distribuio e articulao dos espaos e identificao do estilo.

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    testamento. S para se ter uma idia, a relao dos valores dispostos da Tera, inclui 37 beneficirios colocados em Tabelas por ns elaboradas, fora aqueles ilegveis e, portanto, no includos. O total de dinheiro distribudo foi de 3.435.400 Reis. Em outra relao, consta 2.000 missas ditas pela sua alma e mais 1.216 por vrias outras almas, num total de 3.216 missas, no valor de 971.920 Reis.

    Sua produo no Engenho consta de 40 caixas de acar e 17 pipas de aguardente, no sendo ditas de quantas arrobas eram as caixas. Estas podiam ser de vrias medidas de arrobas; no entanto, a caixa mais utilizada era de 35 arrobas. Sua produo de 40 caixas dava um total de 1400 arrobas. Considerando que os grande Engenhos de acar tinham uma produo de, no mnimo, 10.000 arrobas por ano, as 1.400 j referidas, provavelmente, eram mensais, perfazendo um total anual de 480 caixas ou 16.800 arrobas. Cada arroba corresponde a cerca de 15 Kg, dando um total de 252 toneladas. Se considerarmos que as caixas eram de 20 arrobas, ento teramos uma produo anual de 9.600 arrobas ou 144 toneladas. Alm desses exemplos do poder econmico do Capito Francisco Gomes Ribeiro (o moo), temos o que mais nos interessa sobre a capela, que sua determinao ao seu sobrinho e testamenteiro Antonio Ribeiro de Avelar, morador no Rio de Janeiro, que construsse a capela com o dinheiro de sua Tera. Sua morte acontece em 14 de outubro de 1763. Sendo 1766 o ano da fundao da capela e 1768 o ano do trmino da construo, possui portanto, 239 anos de existncia.

    Ainda atravs do seu Testamento, o Capito passa por herana a Fazenda, Engenho e Capela para aqueles que viriam a ser os terceiros proprietrios, seus filhos Thimteo Gomes Ribeiro e Capito Luciano Gomes Ribeiro, com a expressa recomendao de no serem vendidas as terras e negcios. No entanto, pouco adiantou, pois depois de certo tempo o Capito Luciano vende para o Capito Manoel Jos Moreira Barbosa. Eis o que diz Pizarro sobre o Capito Luciano:

    o desleixamento, com que tratou aquele Herdeiro, e administrador, fez padecer algum deterioramento: e passando por venda, a Fazenda ao Capito Manoel Jos Moreira, este procura s zelo, e religio reparar os danos passados, e conserv-la com asseio, que Lhe devida, e merece a mesma capela.

    O Capito Manoel Jos Moreira Barbosa solicita e consegue do rei do Reino Unido de Portugal e do Brasil e Algarves, D. Joo, a aprovao para ereo da Irmandade de Santa Rita da Posse na capela da mesma invocao, em sua fazenda e Engenho da Posse, sendo seu administrador e protetor.

    A freguesia de Nossa Senhora do Pilar do Morobah j possua quatro irmandades e uma confraria, todas segundo Pizarro, subsistindo deterioradas. Constatao feita por ele, em 1794, quando de suas visitas pastorais. Mesmo assim, alguns anos depois o Capito Manoel Jos Moreira Barbosa, alegando a grande distncia da Matriz e pela grande devoo que ele e seus vizinhos tinham com a Santa Rita de Cssia, resolve erigir a Irmandade de Santa Rita da Posse em 1820. Como homem livre, Capito, senhor do maior Engenho da regio, de grande cabedal, de sangue limpo, no padecendo de acidentes mecnicos, vivendo a lei da nobreza, certamente pertencia a elite do local como um dos principais. Suas intenes alm da grande devoo, era tambm obter cada vez mais prestgio social, poder poltico e assistncia aos futuros irmos, j que as Irmandades alm de cultuar um Orago, tambm atendiam aos irmos associados, ajudando-os em suas doenas, invalidez e sepultamento.

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    Infelizmente no sabemos mais dessa Irmandade, pois s achamos o Termo de Ereo. No foram encontrados os Livros de Compromisso e os demais, assim como outros documentos que falem sobre ela.

    O quinto proprietrio foi o herdeiro do Capito Manoel, seu filho - o Tenente-Coronel Carlos Jos Moreira de Barbosa - , que faz de prprio punho, declarao de sua fazenda da Posse, para o Registro Paroquial de Terras, na Matriz da Freguesia do Pilar, em 01 de outubro de 1856.

    O sexto proprietrio foi o herdeiro do Tenente-Coronel Carlos, seu filho - Carlos Jos Moreira Barbosa (filho). Seu nome aparece no Almanak Lammaert na Lista de Fazendeiros e Lavradores, em 1862. Seu pai deve ter falecido no final de 1859, j que seu nome aparece no Almanak Lammaert at este ano e, no Almanak de 1860, j aparece registrado a palavra herdeiros. Procuramos, mas infelizmente, ainda no encontramos o registro de bito do Tenente-Coronel Carlos Jos Moreira de Barbosa.

    No ano de 1862 surge o nome do stimo proprietrio, designado como senhor do Engenho da Posse, Guilherme Telles Ribeiro, que supomos tenha sido casado com filha do Tenente-Coronel Carlos. At agora no foi encontrada, nos Livros de Registros de Casamentos, a confirmao de tal hiptese.

    Curiosamente, ambos os nomes do sexto e stimos proprietrios aparecem na mesma lista dos anos de 1866 a 1881, levando a crer que houve diviso do Engenho do restante da Fazenda, pelo menos na parte administrativa. E, por ltimo, aparece apenas o nome de Carlos Jos Moreira Barbosa (filho) nos anos de 1882 e 1883. A partir de 1884 no se encontra mais nenhum nome nos ltimos anos do Almanak, e no fizemos mais nenhum levantamento, que devem ser feitos agora em cartrios e Livros Paroquiais da Cria do Rio de Janeiro, pois os descendentes devem ter ido morar na cidade do Rio de Janeiro.

    Com respeito ao stimo proprietrio Carlos Jos Moreira Barbosa (filho), este aparece tambm como proprietrio da Fazenda Mato Grosso, no local hoje conhecido como vale do Avirio em Xerm, cortado pelo rio Mato Grosso, que ainda , na maior parte do tempo, tem as suas guas limpas e cristalinas. Sabe-se, tambm, que a casa da Fazenda Mato Grosso possua um Oratrio com permisso de realizar missas, batismos e casamentos. Mas, a falar da Fazenda Mato Grosso continuaremos em outra oportunidade.

    Alm de verificar o que foi e representou a Capela de Santa Rita da Posse, pensamos tambm em estudar a sua parte fsica. O que resta hoje metade de um templo em runas e totalmente abandonado a prpria sorte, e nada se faz para conter a sua contnua destruio. Quem sabe ao fazermos uma Descrio Arquitetnica, podemos ver a jia rara que esta capela por ter sido uma das poucas construes da poca colonial que ainda existem nesta regio. Descrio Arquitetnica

    A capela de Santa Rita da Posse, em Xerm, tem tipologia de arquitetura Barroca, onde o Arquiteto ou construtor a quem se poderia atribuir o trao da capela, infelizmente desconhecido.

    Trata-se de um templo que tem seu espao definido pelos elementos arquitetnicos de 3 4cantaria , com o partido de planta retangular da nica nave e capela-mor, tendo possudo telhado com

    3 Pedras para construo, medidas, esquadrejadas e cortadas com rigor. 4 Organizao geral de uma edificao, onde pode ser vista a forma de distribuio e articulao dos espaos e identificao do estilo.

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    testamento. S para se ter uma idia, a relao dos valores dispostos da Tera, inclui 37 beneficirios colocados em Tabelas por ns elaboradas, fora aqueles ilegveis e, portanto, no includos. O total de dinheiro distribudo foi de 3.435.400 Reis. Em outra relao, consta 2.000 missas ditas pela sua alma e mais 1.216 por vrias outras almas, num total de 3.216 missas, no valor de 971.920 Reis.

    Sua produo no Engenho consta de 40 caixas de acar e 17 pipas de aguardente, no sendo ditas de quantas arrobas eram as caixas. Estas podiam ser de vrias medidas de arrobas; no entanto, a caixa mais utilizada era de 35 arrobas. Sua produo de 40 caixas dava um total de 1400 arrobas. Considerando que os grande Engenhos de acar tinham uma produo de, no mnimo, 10.000 arrobas por ano, as 1.400 j referidas, provavelmente, eram mensais, perfazendo um total anual de 480 caixas ou 16.800 arrobas. Cada arroba corresponde a cerca de 15 Kg, dando um total de 252 toneladas. Se considerarmos que as caixas eram de 20 arrobas, ento teramos uma produo anual de 9.600 arrobas ou 144 toneladas. Alm desses exemplos do poder econmico do Capito Francisco Gomes Ribeiro (o moo), temos o que mais nos interessa sobre a capela, que sua determinao ao seu sobrinho e testamenteiro Antonio Ribeiro de Avelar, morador no Rio de Janeiro, que construsse a capela com o dinheiro de sua Tera. Sua morte acontece em 14 de outubro de 1763. Sendo 1766 o ano da fundao da capela e 1768 o ano do trmino da construo, possui portanto, 239 anos de existncia.

    Ainda atravs do seu Testamento, o Capito passa por herana a Fazenda, Engenho e Capela para aqueles que viriam a ser os terceiros proprietrios, seus filhos Thimteo Gomes Ribeiro e Capito Luciano Gomes Ribeiro, com a expressa recomendao de no serem vendidas as terras e negcios. No entanto, pouco adiantou, pois depois de certo tempo o Capito Luciano vende para o Capito Manoel Jos Moreira Barbosa. Eis o que diz Pizarro sobre o Capito Luciano:

    o desleixamento, com que tratou aquele Herdeiro, e administrador, fez padecer algum deterioramento: e passando por venda, a Fazenda ao Capito Manoel Jos Moreira, este procura s zelo, e religio reparar os danos passados, e conserv-la com asseio, que Lhe devida, e merece a mesma capela.

    O Capito Manoel Jos Moreira Barbosa solicita e consegue do rei do Reino Unido de Portugal e do Brasil e Algarves, D. Joo, a aprovao para ereo da Irmandade de Santa Rita da Posse na capela da mesma invocao, em sua fazenda e Engenho da Posse, sendo seu administrador e protetor.

    A freguesia de Nossa Senhora do Pilar do Morobah j possua quatro irmandades e uma confraria, todas segundo Pizarro, subsistindo deterioradas. Constatao feita por ele, em 1794, quando de suas visitas pastorais. Mesmo assim, alguns anos depois o Capito Manoel Jos Moreira Barbosa, alegando a grande distncia da Matriz e pela grande devoo que ele e seus vizinhos tinham com a Santa Rita de Cssia, resolve erigir a Irmandade de Santa Rita da Posse em 1820. Como homem livre, Capito, senhor do maior Engenho da regio, de grande cabedal, de sangue limpo, no padecendo de acidentes mecnicos, vivendo a lei da nobreza, certamente pertencia a elite do local como um dos principais. Suas intenes alm da grande devoo, era tambm obter cada vez mais prestgio social, poder poltico e assistncia aos futuros irmos, j que as Irmandades alm de cultuar um Orago, tambm atendiam aos irmos associados, ajudando-os em suas doenas, invalidez e sepultamento.

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    Quanto as imagens perfeitssimas, ainda existem, so elas, segundo o Catlogo Devoo e 6Esquecimento : a de Santo Antonio de Lisboa, dos sculos XVII e XVIII, em madeira entalhada e

    policromada, medindo 94 X 38 X 25 cm; e, a imagem de Santa Rita de Cssia da Posse, do sculo XVIII, em madeira entalhada, policromada e dourada, medindo 135 X 70 X 45 cm.

    Para terminar, nada melhor que parte da descrio de Pizarro: O seu risco muito perfeito e proporcionado ...

    portanto muito digna esta Capela.... A capela de Santa Rita da Posse, da Fazenda e Engenho da Posse, trata-se de uma

    construo simples e bela. Fontes1.ALMANAK LAEMMERT ADMINISTRATIVO, MERCANTIL E INDUSTRIAL DA CRTE E PROVNCIA DO RIO DE JANEIRO. Rio de Janeiro, Laemmert, dos anos 1846 a 1890. Arquivo do Museu Imperial de Petrpolis, Arquivo Nacional e Site Universidade de Chicago: www.vfco.com.br/noticia/20011208crlChicago.htm-11k-ou mecanismo de busca Google: Documentao Brasileira On-line Almanak Laemmert.

    o2. ARQUIVO DA MITRA DO RIO DE JANEIRO. Ordens Rgias do Ano de 1809. Livro 2 , folha 37 v. No Livro de Ordens Rgias da Cmara Eclesistica. Proviso da Mesa daConscincia e Ordens aprovando a Ereo da Irmandade de santa Rita da Posse da Capela da mesma devoo, Freguesia de N. Sra. do Pilar do Iguass.

    3. ARQUIVO NACIONAL. Relao de algumas Sesmarias concedidas em Territrio da Capitania do Rio de Janeiro 1714 - 1800. Rio de Janeiro, 1968.

    4. ARQUIVO PUBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Registros Paroquiais de Terras da Freguesia de N. Sra. do Pila do Iguass. Livro 34. Fichas de detalhamentos do Livro 34 nmeros: 122, 123, 155, 173, 174, 175, 177, 184 e 211. Total de 233 fichas analisadas.

    5. PIZARRO E ARAUJO, Jos de Souza Azevedo. Relao das Sesmarias da Capitania do Rio extrada dos Livros de Sesmarias e Registros do Cartrio de Tabelio Antonio Teixeira de Carvalho. De 1565 a 1796. Revista do IHGB.

    6. ___________ Visitas Pastorais na Baixada Fluminense feitas pelo Monsenhor Pizarro no ano de 1794. Arquivo da Mitra do Rio de Janeiro. Impresso pela Secretara Municipal de Cultura de Nilpolis em Abril de 2000, por Marcus Antnio Monteiro Nogueira.

    6 Ver na Bibliografia deste trabalho.

    13

    duas guas. A sua edificao est localizada acima do nvel da rua em pouco mais de 2 metros ao p de uma colina. Faz testada com a hoje conhecida estrada da Igreja Velha, antiga Estrada Real para as

    2Minas. Possua uma rea construda de cerca de 100 m , estando a edificao inserida em rea livre 2de aproximadamente 250 m . Sua fundao data de 1766 e o trmino da construo 1768,

    perfazendo um total de 239 anos de existncia. O seu endereo atual Estrada da Igreja Velha, 03, no _ _bairro Santa Alice, em Xerm 4 Distrito de Duque de Caxias RJ. Seu enquadramento rural, isolado, fundos para encosta de morro, frente para estrada. O adro aproveita o desnvel do terreno com a estrada e o seu acesso por escadaria O seu frontispcio (fachada principal) no pode ser visto, por no existir mais, tendo sido totalmente arruinado.

    No entanto, baseado no tamanho da capela, nos modelos construdos em 1766 e nas pistas observadas na fachada dos fundos que ainda existe, com sua empena que coroa a parte central, bem como a cimalha que corre lateralmente, podemos fazer uma descrio e desenhos de um dos frontispcios possveis: Com uma nica porta de madeira, centralizada, com ombreiras e verga alteada (tipo canga de boi), em cantaria. Com um fronto triangular, aberto (com culo) e cornija de linhas retas na parte superior, encimado por uma cruz. As fachadas laterais possuem uma janela prxima a fachada principal, provavelmente para servir ao Coro (balco de madeira para cantores),

    5pelo grande tamanho que tem, trata-se de uma porta-sacada . Tambm nessa mesma fachada lateral, prxima a altura da referida janela do Coro, porm bem mais abaixo, a rs do cho, existe uma porta travessa (porta da fachada lateral), naturalmente em ambos os lados do templo. A sacristia encontra-se em parte arruinada ao lado direito da capela-mor, possuindo um nicho (cavidade na parede para colocao de imagens, ornamentos e altares), na parede divisria que faz com a referida capela-mor. H possibilidades de ter existido uma torre sineira (torre junta ao corpo da igreja) e no um campanrio, que uma pequena torre separada do corpo da igreja, como o exemplo da capela do Padre Faria em Ouro Preto, Minas Gerais.

    Os materiais de construo utilizados foram: cantaria, madeiras para as portas, janelas, Coro e telhado. Tambm alguns poucos tijolos, utilizados apenas na elaborao da curvatura dos arcos dos nichos, altares e no arco-cruzeiro (arco da capela-mor) e as telhas do telhado.

    Como material agregado foram utilizadas pedras e areia, j como aglutinante talvez leo de baleia. Porm, com certeza, foi utilizado cal, fabricada no prprio local com conchas de moluscos, possivelmente dos Sambaquis da regio da Baixada. Foram modas e queimadas; no entanto, encontram-se muitas ainda inteiras nas paredes. Este tipo de construo que utiliza tais materiais conhecido como pedra e cal. As paredes do templo possuem 30 a 40 cm de largura, sendo do tipo autoportante (sustentam a si mesmas), rebocadas com argamassa de cal e areia fina e caiadas de cor branca. Nas laterais junto a capela-mor, na altura do transepto, existem dois enormes arcos, que aos menos atentos, podem parecer portas ou passagens, principalmente por estarem vazados; no entanto, so nichos para altares. E se tais nichos eram para colocar as imagens e servir de altares, estranho o fato de na poca da visita de Pizarro, no estarem sendo utilizadas ,e mais estranho ainda, a sua afirmao de ter um nico altar o templo. Como ele diz nas suas Visita Pastorais:

    as suas imagens, que se acham colocadas no nico altar que tem, so perfeitssimas.

    5 Janela rasgada por inteiro, s vezes com guarda corpo de balaustrada, entalada ao plano da parede. Semelhante as existentes na Fazenda So Bento no municpio de Duque de Caxias RJ.

  • 14

    Quanto as imagens perfeitssimas, ainda existem, so elas, segundo o Catlogo Devoo e 6Esquecimento : a de Santo Antonio de Lisboa, dos sculos XVII e XVIII, em madeira entalhada e

    policromada, medindo 94 X 38 X 25 cm; e, a imagem de Santa Rita de Cssia da Posse, do sculo XVIII, em madeira entalhada, policromada e dourada, medindo 135 X 70 X 45 cm.

    Para terminar, nada melhor que parte da descrio de Pizarro: O seu risco muito perfeito e proporcionado ...

    portanto muito digna esta Capela.... A capela de Santa Rita da Posse, da Fazenda e Engenho da Posse, trata-se de uma

    construo simples e bela. Fontes1.ALMANAK LAEMMERT ADMINISTRATIVO, MERCANTIL E INDUSTRIAL DA CRTE E PROVNCIA DO RIO DE JANEIRO. Rio de Janeiro, Laemmert, dos anos 1846 a 1890. Arquivo do Museu Imperial de Petrpolis, Arquivo Nacional e Site Universidade de Chicago: www.vfco.com.br/noticia/20011208crlChicago.htm-11k-ou mecanismo de busca Google: Documentao Brasileira On-line Almanak Laemmert.

    o2. ARQUIVO DA MITRA DO RIO DE JANEIRO. Ordens Rgias do Ano de 1809. Livro 2 , folha 37 v. No Livro de Ordens Rgias da Cmara Eclesistica. Proviso da Mesa daConscincia e Ordens aprovando a Ereo da Irmandade de santa Rita da Posse da Capela da mesma devoo, Freguesia de N. Sra. do Pilar do Iguass.

    3. ARQUIVO NACIONAL. Relao de algumas Sesmarias concedidas em Territrio da Capitania do Rio de Janeiro 1714 - 1800. Rio de Janeiro, 1968.

    4. ARQUIVO PUBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Registros Paroquiais de Terras da Freguesia de N. Sra. do Pila do Iguass. Livro 34. Fichas de detalhamentos do Livro 34 nmeros: 122, 123, 155, 173, 174, 175, 177, 184 e 211. Total de 233 fichas analisadas.

    5. PIZARRO E ARAUJO, Jos de Souza Azevedo. Relao das Sesmarias da Capitania do Rio extrada dos Livros de Sesmarias e Registros do Cartrio de Tabelio Antonio Teixeira de Carvalho. De 1565 a 1796. Revista do IHGB.

    6. ___________ Visitas Pastorais na Baixada Fluminense feitas pelo Monsenhor Pizarro no ano de 1794. Arquivo da Mitra do Rio de Janeiro. Impresso pela Secretara Municipal de Cultura de Nilpolis em Abril de 2000, por Marcus Antnio Monteiro Nogueira.

    6 Ver na Bibliografia deste trabalho.

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    duas guas. A sua edificao est localizada acima do nvel da rua em pouco mais de 2 metros ao p de uma colina. Faz testada com a hoje conhecida estrada da Igreja Velha, antiga Estrada Real para as

    2Minas. Possua uma rea construda de cerca de 100 m , estando a edificao inserida em rea livre 2de aproximadamente 250 m . Sua fundao data de 1766 e o trmino da construo 1768,

    perfazendo um total de 239 anos de existncia. O seu endereo atual Estrada da Igreja Velha, 03, no _ _bairro Santa Alice, em Xerm 4 Distrito de Duque de Caxias RJ. Seu enquadramento rural, isolado, fundos para encosta de morro, frente para estrada. O adro aproveita o desnvel do terreno com a estrada e o seu acesso por escadaria O seu frontispcio (fachada principal) no pode ser visto, por no existir mais, tendo sido totalmente arruinado.

    No entanto, baseado no tamanho da capela, nos modelos construdos em 1766 e nas pistas observadas na fachada dos fundos que ainda existe, com sua empena que coroa a parte central, bem como a cimalha que corre lateralmente, podemos fazer uma descrio e desenhos de um dos frontispcios possveis: Com uma nica porta de madeira, centralizada, com ombreiras e verga alteada (tipo canga de boi), em cantaria. Com um fronto triangular, aberto (com culo) e cornija de linhas retas na parte superior, encimado por uma cruz. As fachadas laterais possuem uma janela prxima a fachada principal, provavelmente para servir ao Coro (balco de madeira para cantores),

    5pelo grande tamanho que tem, trata-se de uma porta-sacada . Tambm nessa mesma fachada lateral, prxima a altura da referida janela do Coro, porm bem mais abaixo, a rs do cho, existe uma porta travessa (porta da fachada lateral), naturalmente em ambos os lados do templo. A sacristia encontra-se em parte arruinada ao lado direito da capela-mor, possuindo um nicho (cavidade na parede para colocao de imagens, ornamentos e altares), na parede divisria que faz com a referida capela-mor. H possibilidades de ter existido uma torre sineira (torre junta ao corpo da igreja) e no um campanrio, que uma pequena torre separada do corpo da igreja, como o exemplo da capela do Padre Faria em Ouro Preto, Minas Gerais.

    Os materiais de construo utilizados foram: cantaria, madeiras para as portas, janelas, Coro e telhado. Tambm alguns poucos tijolos, utilizados apenas na elaborao da curvatura dos arcos dos nichos, altares e no arco-cruzeiro (arco da capela-mor) e as telhas do telhado.

    Como material agregado foram utilizadas pedras e areia, j como aglutinante talvez leo de baleia. Porm, com certeza, foi utilizado cal, fabricada no prprio local com conchas de moluscos, possivelmente dos Sambaquis da regio da Baixada. Foram modas e queimadas; no entanto, encontram-se muitas ainda inteiras nas paredes. Este tipo de construo que utiliza tais materiais conhecido como pedra e cal. As paredes do templo possuem 30 a 40 cm de largura, sendo do tipo autoportante (sustentam a si mesmas), rebocadas com argamassa de cal e areia fina e caiadas de cor branca. Nas laterais junto a capela-mor, na altura do transepto, existem dois enormes arcos, que aos menos atentos, podem parecer portas ou passagens, principalmente por estarem vazados; no entanto, so nichos para altares. E se tais nichos eram para colocar as imagens e servir de altares, estranho o fato de na poca da visita de Pizarro, no estarem sendo utilizadas ,e mais estranho ainda, a sua afirmao de ter um nico altar o templo. Como ele diz nas suas Visita Pastorais:

    as suas imagens, que se acham colocadas no nico altar que tem, so perfeitssimas.

    5 Janela rasgada por inteiro, s vezes com guarda corpo de balaustrada, entalada ao plano da parede. Semelhante as existentes na Fazenda So Bento no municpio de Duque de Caxias RJ.

  • ste texto faz parte de pesquisa em andamento e foi apresentado na Semana Integrada de Histria e Geografia da FEUDUC no ano de 2003, sob a orientao do professor mestrando Alexandre Marques, orientanda Maria Mnica Sarandy, ps-graduanda em Histria Social do Brasil.E

    Em nossa pesquisa estaremos primeiramente levantando a hiptese de que uma grave crise econmica em Xerm, o quarto distrito do Municpio Duque de Caxias, tenha sido ocasionada pela venda da Fbrica Nacional de Motores no ano de 1968, para empresa do setor automobilstico Alfa Romeo. Com a venda da Alfa Romeo para a empresa italiana Fiat, no incio da dcada de setenta, a fbrica instalada no Brasil passa para o controle da Fiat em 1976. O seu fechamento acontece no

    2incio da dcada de 80 , tendo como resultado direto a desestruturao da sociedade que surgiu em decorrncia da construo da fbrica estatal na dcada de quarenta, com padres de comportamento baseados nos usos e costumes do homem ser o provedor da famlia e a mulher a coordenadora do lar e educadora dos filhos. Esta sociedade no se preparou para uma possvel desvinculao da proteo do Estado em relao s famlias dos trabalhadores da fbrica nos seus mais variados nveis hierrquicos e as suas relaes indiretas de dependncia.

    Diante desta situao de desemprego masculino e crise social, restou s mulheres de Xerm a soluo de retornar aos bancos escolares, sejam eles formais ou informais, para se prepararem ou se aperfeioarem no exerccio de atividades que pudessem garantir em parte ou na totalidade o sustento da famlia.

    O nosso estudo procura estabelecer uma relao entre a crise iniciada com o fechamento da fbrica e as mudanas operadas nas famlias locais e, particularmente nas mulheres, inserindo-se desta forma num estudo de gnero.

    3Para Margareth Rago , as relaes de gnero e seu reconhecimento atravs do estudo cientfico comearam a acontecer de forma mais acentuada a partir da dcada de setenta, pois antes existiam apenas estudos de casos especficos de uma histria de algumas mulheres que se destacaram no universo histrico masculino, que so as biografias.

    A IMPORTNCIA DA MULHERNA ECONOMIA DE XERM NAS DCADAS 1970/90

    1 Ps-graduanda em Histria Social do Brasil / Feuduc. Professora do pr-vestibular para Negros e Carentes. Membro colaborador da APPH-Clio.2 CANUTO, Carla de P. SOUZA, Mrcia E. SILVA, Ricardo S. da. Xerm, 4 distrito de Duque de Caxias. RJ,1994.3 RAGO, Magareth. Descobrindo historicamente o gnero. 1998.

    1Maria Mnica Sarandy

    1615

    Referncias Bibliogrficas1. ANTONIL, Andr Joo. (Joo Antonio Andreoni). Cultura e Opulncia do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Ed. da Universidade de So Paulo, 1982.2. BARATA, Carlos Eduardo de Almeida. e BUENO, Antonio Henrique da Cunha. Famlia Gomes Ribeiro. Dicionrio das Famlias Brasileira.3. CARRARA, Josiane e CHEREM, Ubiratan Cruz. Capela Santa Rita da Posse: Runas de antiga capela em Xerm escondem passado importante. In artigo: Nossas Igrejas, Nossa Histria Jornal Pilar, n 166 de Abril de 2004. pg. 14.4. CHEREM, Ubiratan Cruz. A freguesia de Nossa Senhora do Pilar do Morobah no acervo do arquivo eclesistico da Cria Diocesana de Petrpolis. In Documentos: Interpretaes e Transcries, Revista do IHGB.5. FILHO, Enas Martins. Os trs Caminhos para as Minas Gerais. Revista IHGB, 1963.6. __________. Vias e Meios de Comunicao. Revista do IHGB, vol.288, 1970.7. HOORNAERT, E.; AZZI, R. ; GRIJP, K.V.D.; BROD, E. Histria da Igreja no Brasil: Ensaio de interpretao a partir do povo. Rio de Janeiro: Vozes, 1979.8. MONTEIRO, Marcus e LAZARONI, Dalva. Devoo e Esquecimento: Presena do Barroco na Baixada Fluminense. Obra de referncia sobre o Barroco na Baixada. Catlogo das Imagens de Esculturas dos Santos das Igrejas e Capelas da Baixada. Exposio de 19 de novembro a 16 de dezembro de 2001, na Casa Frana Brasil. Rio de Janeiro, 2001.9. PERES, Guilherme. Baixada Fluminense: Os Caminhos do Ouro. Duque de Caxias: Register, 1993. 10. PRADO, Walter de Oliveira. Histria Social da Baixada Fluminense: das Sesmarias a foros da cidade. Rio de Janeiro: Ecomuseu Fluminense, 2000. 11. VALENTE, Armando. Uma Igreja na Colina. Revista Caxias Magazine, abril de 1986, Ano II, n* 20. Duque de Caxias, 1986. 12. WERNECK, Francisco Klrs. Histria e Genealogia Fluminense. Rio de Janeiro: Edio do Autor, 1947.

  • ste texto faz parte de pesquisa em andamento e foi apresentado na Semana Integrada de Histria e Geografia da FEUDUC no ano de 2003, sob a orientao do professor mestrando Alexandre Marques, orientanda Maria Mnica Sarandy, ps-graduanda em Histria Social do Brasil.E

    Em nossa pesquisa estaremos primeiramente levantando a hiptese de que uma grave crise econmica em Xerm, o quarto distrito do Municpio Duque de Caxias, tenha sido ocasionada pela venda da Fbrica Nacional de Motores no ano de 1968, para empresa do setor automobilstico Alfa Romeo. Com a venda da Alfa Romeo para a empresa italiana Fiat, no incio da dcada de setenta, a fbrica instalada no Brasil passa para o controle da Fiat em 1976. O seu fechamento acontece no

    2incio da dcada de 80 , tendo como resultado direto a desestruturao da sociedade que surgiu em decorrncia da construo da fbrica estatal na dcada de quarenta, com padres de comportamento baseados nos usos e costumes do homem ser o provedor da famlia e a mulher a coordenadora do lar e educadora dos filhos. Esta sociedade no se preparou para uma possvel desvinculao da proteo do Estado em relao s famlias dos trabalhadores da fbrica nos seus mais variados nveis hierrquicos e as suas relaes indiretas de dependncia.

    Diante desta situao de desemprego masculino e crise social, restou s mulheres de Xerm a soluo de retornar aos bancos escolares, sejam eles formais ou informais, para se prepararem ou se aperfeioarem no exerccio de atividades que pudessem garantir em parte ou na totalidade o sustento da famlia.

    O nosso estudo procura estabelecer uma relao entre a crise iniciada com o fechamento da fbrica e as mudanas operadas nas famlias locais e, particularmente nas mulheres, inserindo-se desta forma num estudo de gnero.

    3Para Margareth Rago , as relaes de gnero e seu reconhecimento atravs do estudo cientfico comearam a acontecer de forma mais acentuada a partir da dcada de setenta, pois antes existiam apenas estudos de casos especficos de uma histria de algumas mulheres que se destacaram no universo histrico masculino, que so as biografias.

    A IMPORTNCIA DA MULHERNA ECONOMIA DE XERM NAS DCADAS 1970/90

    1 Ps-graduanda em Histria Social do Brasil / Feuduc. Professora do pr-vestibular para Negros e Carentes. Membro colaborador da APPH-Clio.2 CANUTO, Carla de P. SOUZA, Mrcia E. SILVA, Ricardo S. da. Xerm, 4 distrito de Duque de Caxias. RJ,1994.3 RAGO, Magareth. Descobrindo historicamente o gnero. 1998.

    1Maria Mnica Sarandy

    1615

    Referncias Bibliogrficas1. ANTONIL, Andr Joo. (Joo Antonio Andreoni). Cultura e Opulncia do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Ed. da Universidade de So Paulo, 1982.2. BARATA, Carlos Eduardo de Almeida. e BUENO, Antonio Henrique da Cunha. Famlia Gomes Ribeiro. Dicionrio das Famlias Brasileira.3. CARRARA, Josiane e CHEREM, Ubiratan Cruz. Capela Santa Rita da Posse: Runas de antiga capela em Xerm escondem passado importante. In artigo: Nossas Igrejas, Nossa Histria Jornal Pilar, n 166 de Abril de 2004. pg. 14.4. CHEREM, Ubiratan Cruz. A freguesia de Nossa Senhora do Pilar do Morobah no acervo do arquivo eclesistico da Cria Diocesana de Petrpolis. In Documentos: Interpretaes e Transcries, Revista do IHGB.5. FILHO, Enas Martins. Os trs Caminhos para as Minas Gerais. Revista IHGB, 1963.6. __________. Vias e Meios de Comunicao. Revista do IHGB, vol.288, 1970.7. HOORNAERT, E.; AZZI, R. ; GRIJP, K.V.D.; BROD, E. Histria da Igreja no Brasil: Ensaio de interpretao a partir do povo. Rio de Janeiro: Vozes, 1979.8. MONTEIRO, Marcus e LAZARONI, Dalva. Devoo e Esquecimento: Presena do Barroco na Baixada Fluminense. Obra de referncia sobre o Barroco na Baixada. Catlogo das Imagens de Esculturas dos Santos das Igrejas e Capelas da Baixada. Exposio de 19 de novembro a 16 de dezembro de 2001, na Casa Frana Brasil. Rio de Janeiro, 2001.9. PERES, Guilherme. Baixada Fluminense: Os Caminhos do Ouro. Duque de Caxias: Register, 1993. 10. PRADO, Walter de Oliveira. Histria Social da Baixada Fluminense: das Sesmarias a foros da cidade. Rio de Janeiro: Ecomuseu Fluminense, 2000. 11. VALENTE, Armando. Uma Igreja na Colina. Revista Caxias Magazine, abril de 1986, Ano II, n* 20. Duque de Caxias, 1986. 12. WERNECK, Francisco Klrs. Histria e Genealogia Fluminense. Rio de Janeiro: Edio do Autor, 1947.

  • No nosso estudo de caso, so as mulheres, que no perodo da crise econmica e social em Xerm comeam a ter esta postura de reformulao do seu espao social de forma quase inconsciente, como verificamos durante algumas entrevistas preliminares.

    Para exemplificarmos, na Igreja Metodista de Mantiquira, nos anos setenta, foram implantados cursos voltados basicamente para as mulheres da localidade e arredores, para que estas pudessem participar do oramento domstico de forma ativa. Como podemos perceber na entrevista concedida pela senhora Ana Pereira Silva que, na dcada de setenta, era casada e exercia a presidncia do Ministrio de Ao Social da Igreja Metodista em Mantiquira. Hoje ela uma dona de _casa e viva. Ela diz surgiu a necessidade de ajudar, principalmente aquelas esposas que estavam com dificuldades, at porque os esposos estavam desempregados, ento surgiu a necessidade de ensinar alguma coisa para que elas pudessem manter a sua famlia, ajudar na manuteno do lar,(...) _ _ eu no diria tirar o sustento (hoje) mas que ajuda, ajuda bastante. se a mulher no tiver uma escolaridade boa ela no consegue um bom emprego e emprego aqui em Xerm naquela poca

    7estava complicado at para os homens, imagine para as mulheres (...) A especializao tcnica masculina dentro da indstria automobilstica deixou muitos

    homens bem preparados para o exerccio daquela funo; porm, o encerramento das atividades da empresa e a impossibilidade de adaptarem-se imediatamente em outra atividade profissional, faz sobressair o instinto natural de sobrevivncia das famlias, sendo que as mulheres esto mais sensveis esta necessidade imediata. Com o apoio institucional da Igreja Metodista em Mantiquira, inicia-se o despertar da capacidade feminina em exercer, dentro da nova realidade, as mltiplas atividades ela culturalmente impostas, como o zelo com o bem estar da famlia. A adaptao e reorganizao faz-se necessria, ainda que em compasso acelerado para algumas e lento para outras. a estrutura familiar que entra em estado de fortes mudanas.

    O apoio scio-educacional que servir de suporte para esta nova realidade em construo no vem das polticas pblicas do Estado, que at ento havia sido o tutor, mas de instituies e iniciativas privadas, como a j citada Igreja Metodista em Mantiquira, de profissionais da antiga Fbrica Nacional de Motores e de profissionais de educao locados no Colgio Estadual Baro de Mau em Xerm. A preocupao com a preparao profissional deste contingente de desamparados do Estado, na dcada de setenta, faz a igreja implantar cursos de corte e costura, culinria, pintura em tecidos e datilografia, voltados, principalmente, para o pblico feminino e jovens das famlias que esto com problemas econmicos, sem que estas pessoas tenham que se afastar diretamente de suas residncias.

    Enquanto isso, no colgio so implantados cursos tcnicos objetivando a insero de jovens estudantes no mercado de trabalho, principalmente dentro de empresas, como mecnica, qumica, secretariado, contabilidade e enfermagem. O mercado de trabalho escasso e muito exigente para os homens e as mulheres de uma sociedade que est em transio.

    Percebemos, porm que conforme muda a situao econmica, mudam tambm os conceitos sobre o trabalho feminino. Antes da dcada de setenta, as atividades destas mulheres eram quase que, exclusivamente, no mbito familiar.

    A partir dos anos seguintes, iro servir para sustentar a famlia, porm com uma estabilizao na dcada de noventa, mesmo que pequena, volta-se para uma interpretao patriarcal sobre o trabalho das mesmas mulheres. Por esta concepo elas apenas ajudam, mas no sustentam uma

    7 Ana Pereira Silva; viva, dona de casa. Entrevistada em 2003.

    18

    No esta histria que Rago pesquisa junto com outras intelectuais do universo acadmico, pois mesmo nos pases considerados intelectualmente mais amadurecidos que o Brasil, o tema ainda muito recente, levando a quem pesquisa o gnero feminino a enfrentar uma srie de dificuldades e barreiras, muitas vezes, impostas por seus pares do gnero masculino, como se houvesse uma necessidade de se medir fora no mbito cientfico para provar se este ou aquele gnero de maior ou menor valor social ou histrico.

    A histria enfocada do gnero feminino no se espelha apenas no campo acadmico, mas 4tambm nos mbitos privado e pblico, conforme a pesquisa realizada por Luciene Medeiros em sua

    tese de mestrado. A discusso de gnero, neste caso, ocorre quando as mulheres por ela pesquisadas, tem na participao poltica uma forma de alavancar os movimentos populares para melhorias de vida, principalmente na Baixada Fluminense.

    Neste caso, foi uma instituio de representao popular e jurdica, o MUB, o palco das disputas entre homens e mulheres que causaram tais transformaes, pois os pares masculinos aceitavam os pares femininos apenas dentro de alguns espaos de ao considerados femininos ou subalternos, enquanto os mesmos ficavam com os cargos de direo poltica e administrativa.

    5H pesquisadoras de gneros como Maria Lygia Quartim que, para melhor explicar este intrincado universo, classificou de forma simplificada, porm acadmica, em que o estudo de gnero no o movimento social feminista, que se baseia na diferena de sexo e tendo como bandeira as reivindicaes de igualdade de direitos polticos e sociais, enquanto a teoria feminina faz uma anlise mais complexa com o agrupamento de aspectos sociais, culturais e psicolgicos da feminilidade sem as distores que, por vezes, acontecem quando se faz este tipo de trabalho.

    Para Maria Lygia faz-se necessrio o cuidado de no transformar o uso de gnero relacional em um tema sob um determinado enfoque e caindo na contradio de classificao de categoria ou classe, como defende a teoria marxista, com suas relaes de poder distribudo e hierarquizado, sem levar em considerao as especificidades que cada gnero em separado ou em conjunto tem de universal. So as diferenas psico-biolgicas e as semelhanas sociais com valores e regras dentro das suas dimenses de homem/mulher, regendo a histria e a sociedade dentro das suas redes de relacionamentos.

    Para provarmos estas hipteses, de que a crise econmica se instalou em Xerm aps o fechamento da fbrica e as transformaes sociais ocorridas com retorno das mulheres aos bancos escolares esto relacionadas diretamente com a necessidade das mulheres entrarem no mercado de trabalho, estaremos recorrendo ao mtodo de coleta de dados em fontes orais, atravs de entrevistas, e documentais em instituies que se relacionem direta ou indiretamente sobre o gnero feminino e a construo da identidade social em Xerm atravs do trabalho.

    Para esta comprovao de hiptese estaremos tomando por base o retorno feminino adulto aos bancos escolares formais e informais nos anos setenta e oitenta, como preparao para uma vida econmica ativa reconhecida ou no, pois acreditamos que a partir da educao e da aquisio de conhecimentos que o(a) trabalhador(a) poder deixar de ser subjugado pelo sistema. O ambiente

    6domstico j no comporta de forma simplria as transformaes sociais .

    4 MEDEIROS, Luciene A. de. Mulheres no espao poltico: uma construo na e da vida. Dissertao de Mestrado. RJ:Puc, 1998.5 MORAES, Maria Lygia Quartim de. Usos e Limites da Categoria de Gnero. 1998.6 BERTONCINI, Cristina e COELHO, Renata. Gramsci E Weber: Duas formas de se trabalhar a questo da subjetividade. S/d.

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  • No nosso estudo de caso, so as mulheres, que no perodo da crise econmica e social em Xerm comeam a ter esta postura de reformulao do seu espao social de forma quase inconsciente, como verificamos durante algumas entrevistas preliminares.

    Para exemplificarmos, na Igreja Metodista de Mantiquira, nos anos setenta, foram implantados cursos voltados basicamente para as mulheres da localidade e arredores, para que estas pudessem participar do oramento domstico de forma ativa. Como podemos perceber na entrevista concedida pela senhora Ana Pereira Silva que, na dcada de setenta, era casada e exercia a presidncia do Ministrio de Ao Social da Igreja Metodista em Mantiquira. Hoje ela uma dona de _casa e viva. Ela diz surgiu a necessidade de ajudar, principalmente aquelas esposas que estavam com dificuldades, at porque os esposos estavam desempregados, ento surgiu a necessidade de ensinar alguma coisa para que elas pudessem manter a sua famlia, ajudar na manuteno do lar,(...) _ _ eu no diria tirar o sustento (hoje) mas que ajuda, ajuda bastante. se a mulher no tiver uma escolaridade boa ela no consegue um bom emprego e emprego aqui em Xerm naquela poca

    7estava complicado at para os homens, imagine para as mulheres (...) A especializao tcnica masculina dentro da indstria automobilstica deixou muitos

    homens bem preparados para o exerccio daquela funo; porm, o encerramento das atividades da empresa e a impossibilidade de adaptarem-se imediatamente em outra atividade profissional, faz sobressair o instinto natural de sobrevivncia das famlias, sendo que as mulheres esto mais sensveis esta necessidade imediata. Com o apoio institucional da Igreja Metodista em Mantiquira, inicia-se o despertar da capacidade feminina em exercer, dentro da nova realidade, as mltiplas atividades ela culturalmente impostas, como o zelo com o bem estar da famlia. A adaptao e reorganizao faz-se necessria, ainda que em compasso acelerado para algumas e lento para outras. a estrutura familiar que entra em estado de fortes mudanas.

    O apoio scio-educacional que servir de suporte para esta nova realidade em construo no vem das polticas pblicas do Estado, que at ento havia sido o tutor, mas de instituies e iniciativas privadas, como a j citada Igreja Metodista em Mantiquira, de profissionais da antiga Fbrica Nacional de Motores e de profissionais de educao locados no Colgio Estadual Baro de Mau em Xerm. A preocupao com a preparao profissional deste contingente de desamparados do Estado, na dcada de setenta, faz a igreja implantar cursos de corte e costura, culinria, pintura em tecidos e datilografia, voltados, principalmente, para o pblico feminino e jovens das famlias que esto com problemas econmicos, sem que estas pessoas tenham que se afastar diretamente de suas residncias.

    Enquanto isso, no colgio so implantados cursos tcnicos objetivando a insero de jovens estudantes no mercado de trabalho, principalmente dentro de empresas, como mecnica, qumica, secretariado, contabilidade e enfermagem. O mercado de trabalho escasso e muito exigente para os homens e as mulheres de uma sociedade que est em transio.

    Percebemos, porm que conforme muda a situao econmica, mudam tambm os conceitos sobre o trabalho feminino. Antes da dcada de setenta, as atividades destas mulheres eram quase que, exclusivamente, no mbito familiar.

    A partir dos anos seguintes, iro servir para sustentar a famlia, porm com uma estabilizao na dcada de noventa, mesmo que pequena, volta-se para uma interpretao patriarcal sobre o trabalho das mesmas mulheres. Por esta concepo elas apenas ajudam, mas no sustentam uma

    7 Ana Pereira Silva; viva, dona de casa. Entrevistada em 2003.

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    No esta histria que Rago pesquisa junto com outras intelectuais do universo acadmico, pois mesmo nos pases considerados intelectualmente mais amadurecidos que o Brasil, o tema ainda muito recente, levando a quem pesquisa o gnero feminino a enfrentar uma srie de dificuldades e barreiras, muitas vezes, impostas por s