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LÍNGUA PORTUGUESA I Graduação

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LÍNGUA PORTUGUESA I

LÍNGUA PORTUGUESA I

Graduação

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LÍNGUA PORTUGUESA I

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OS MECANISMOS DE COMBINAÇÃO E

SELEÇÃO: A COERÊNCIA - A ARTICULA-

ÇÃO DE SENTIDOS

Conforme falamos na unidade V, o assunto dessa unidade trata de

como podemos combinar os elementos para a formação de um texto coeso,

claro, conciso e coerente.

OBJETIVO DA UNIDADE:

• Compreender de que maneira os mecanismos de combinação e

articulação agem na língua como suporte para uma comunicação

coesa, clara e coerente.

PLANO DA UNIDADE:

• Os mecanismos de combinação e articulação de sentidos.

• A Coerência Textual.

• Os Tipos de Coerência Textual: a coerência semântica, a

coerência sintática, a coerência estilística, a coerência

pragmática.

• A diferença entre coerência global e coerência local.

Bons Estudos!

UN

IDA

DE 6

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UNIDADE 6 - OS MECANISMOS DE COMBINAÇÃO E SELEÇÃO: A COERÊNCIA - A ARTICULAÇÃO DE SENTIDOS

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Como você já deve ter percebido, escrever não é só colocar as idéias

no papel. Até porque essas idéias não surgem do nada. Elas fazem parte

do processo de comunicação de que participamos e de todas as informações

que nos chegam, através de trocas de experiências com seus interlocutores

e muita, muita leitura.

Veja a manchete de um jornal de grande circulação nacional que

publicou o seguinte:

PROFESSORAS MANDAM CARTA A DEPUTADOS

PROTESTANDO CONTRA O AUMENTO DE SEUS SALÁRIOS.

Repare que, da forma como a manchete foi redigida, o leitor

poderia entendê-la de dois modos diversos: as professoras,

chateadas com o aumento insignificante de seus salários, reclamam,

protestando, através de uma carta, aos senhores deputados; ou

as professoras questionam o aumento de salário que os deputados

tiveram, comparando com o salário delas e escrevem-nos

protestando.

Por que essa dupla interpretação aconteceu e acontece quando menos

esperamos?

Nesse caso, é o emprego do pronome “seus” o causador desse duplo

sentido.

Podemos dizer que o pronome possessivo destacado tanto pode se

referir aos salários das professoras como dos deputados.

Sendo o texto uma ‘unidade de sentido’, os elementos que o

compõem (palavras, orações, períodos) precisam se relacionar

harmonicamente.

A estruturação de uma simples frase pode ser comparada com a

articulação de um esqueleto com seus ossos. Do mesmo jeito que uma

articulação entre dois ou mais ossos acontece, resultando num movimento,

as palavras devem combinar umas com as outras numa articulação de

pensamentos, tornando o texto coeso, com nexo. Não se esqueça de que

nexo significa “ligação, vínculo”

Esse modo de estruturar o texto, a combinação e seleção das palavras

para evitar a falta de nexo, recebe o nome de mecanismos de coesão.

A coesão decorre das relações de sentido que se operam entre os

elementos de um texto. Também resulta da perfeita relação de sentido que

tem de haver entre as partes de um texto. Assim, o uso de conectivos é de

grande importância para que possa haver coesão textual.

Veja o significado da palavra conectivo, tirado do dicionário Michaellis

Eletrônico – Michaellis Moderno Dicionário da Língua Portuguesa – 2000.

co.nec.ti.vo adj (lat connect(ere) +ivo) Que liga, ou une. sm 1 Gram

Vocábulo que estabelece conexão entre palavras ou partes de uma frase.

Em português são conectivos: conjunções, pronomes relativos e preposições

(Matoso Câmara Jr.)

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Leia o texto que se segue:

“Além de ter liberdade para receber e transmitir informações é preciso que todos

sejam livres para manifestar opiniões e críticas sobre o comportamento do

governo. Não basta, porém, dizer na Constituição que essas liberdades existem.

É preciso que existam meios concretos ao alcance de todo o povo para a obtenção

e divulgação de informações, e por esses meios o povo participe constantemente

do governo, que existe para realizar sua vontade, satisfazer suas

necessidades e promover a melhoria de suas condições de vida”.

DALLARI, Dalmo de Abreu. In: Viver em sociedade. São Paulo: Editora Moderna, 1985. p. 41.

Atente para o fato de que as orações que formam esse trecho

apresentam uma perfeita relação de sentido criada com a ajuda dos

conectivos. Vamos analisar um a um os períodos encontrados no texto

transcrito acima para entender esses mecanismos relacionais que os

conectivos nos dão.

“Além de ter liberdade para receber e transmitir informações é preciso que todos

sejam livres para manifestar opiniões e críticas sobre o comportamento do

governo.”

No 1º segmento, encontramos a locução conjuntiva “além de” que

introduz as orações seguintes, ambas subordinadas adverbiais finais ‘para

receber e (para) transmitir’, que por sua vez são coordenadas aditivas

entre si, ou seja, têm a mesma função.

Na 2ª oração “Não basta, porém, dizer na Constituição que essas

liberdades existem”, a conjunção destacada indica contradição, oposição ou

restrição ao que foi dito na oração anterior.

Já, no último segmento do texto, no trecho sublinhado, encontramos

o pronome relativo que retomando o substantivo governo da oração anterior

e que aparece como oração principal de três outras orações subordinadas a

ela, também com o sentido de finalidade – para realizar sua vontade; (para)

satisfazer suas necessidades e (para) promover a melhoria de suas condições

de vida.

VEJA O TRECHO AGORA, POR INTEIRO:

‘É preciso que existam meios concretos ao alcance de todo o povo

para a obtenção e divulgação de informações, e por esses meios o povo

participe constantemente do governo, que existe para realizar sua vontade,

satisfazer suas necessidades e promover a melhoria de suas condições

de vida’.

Repare que trabalhamos com os conectores (outro nome para os

conectivos), visando à perfeita relação de sentido que deve haver entre as

partes que compõem um texto.

Sendo os conectivos elementos que relacionam partes de um discurso,

estabelecendo relações de significado entre essas partes, possuem valores

próprios, uns exprimindo finalidade, outros, oposição; outros, escolha e assim

por diante.

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UNIDADE 6 - OS MECANISMOS DE COMBINAÇÃO E SELEÇÃO: A COERÊNCIA - A ARTICULAÇÃO DE SENTIDOS

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A seleção vocabular é também um importante mecanismo coesivo e a

estamos empregando quando substituímos uma palavra que já foi usada

por outra que lhe retoma o sentido. Podemos usar sinônimos, pronomes

(retos ou oblíquos), pronomes relativos, etc.

Esse mecanismo seletivo, além de dar coesão ao texto, tem função

estilística, pois permite que as palavras não sejam repetidas.

De maneira geral, podemos dizer que temos um texto coerente e coeso

quando este não contém contradições, o vocabulário utilizado está

adequado, as afirmações são relevantes para o desenvolvimento do tema,

os fatos estão corretamente seqüenciados, ou seja, o texto deverá estar

constituído de relações de sentido entre os vocábulos, expressões e frases

e do encadeamento linear das unidades lingüísticas no texto.

O inverso é verdadeiro e podemos dizer que não haverá coesão

quando, por exemplo, empregarmos conjunções e pronomes de modo

inadequado, deixarmos palavras ou até frases inteiras desconectadas e

quando a escolha vocabular for inadequada, levando à ambigüidade, entre

outros problemas.

Aconselhamos que, para se perceber a falta de coesão no texto

produzido por você, o melhor que se tem a fazer é lê-lo atentamente,

estabelecer as relações entre as palavras que o compõem, as orações que

formam os períodos e, por fim, os períodos que formam o texto.

Como você pôde notar a coesão e a coerência textuais são elementos

facilitadores para a compreensão perfeita de um texto.

OS MECANISMOS DE COMBINAÇÃO E SELEÇÃO: A COERÊNCIA - A

ARTICULAÇÃO DE SENTIDOS

Conforme falamos anteriormente, o assunto aqui, ainda diz respeito

à coerência textual. Falaremos de como a coerência se manifesta em um

texto.

Vejamos a acepção do vocábulo coerência, retirado do Dicionário Houaiss

da Língua Portuguesa - Eletrônico / 2001.

CO.E.RÊN.CIA - Substantivo feminino 1. qualidade, condição ou estado

de coerente. 2. ligação, nexo ou harmonia entre dois fatos ou duas idéias;

relação harmônica, conexão. 3. congruência, harmonia de uma coisa com

o fim a que se destina. 4. uniformidade no proceder, igualdade de ânimo.

Como você deve ter percebido, coerência diz respeito a tudo que se

harmoniza entre si, que tem ligação. O conceito da palavra se relaciona à

presença de conexão, de nexo entre as idéias. Isso porque buscamos sempre

a existência de sentido, quer seja ao refletirmos sobre algo; quer seja,

interpretando o que nos rodeia; quer seja, ao tentarmos compreender o

conteúdo daquilo que nos é apresentado em forma de texto escrito.

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Para que possamos exemplificar as acepções do vocábulo, na prática,

leia o texto que se segue que consiste em uma redação de um vestibulando,

cujo conteúdo, como veremos ao lê-lo, é truncado e, por vezes, há a

necessidade da retomada da leitura para a sua melhor compreensão.

“Felicidade é um viver como aprendiz. É retirar de cada fase da vida

uma experiência significativa para o alcance de nossos ideais.

É basear-se na simplicidade do caráter ao executar problemas

complexos; ser catarse permanente de doação sincera e espontânea.

A felicidade, onde não existem técnicas científicas para sua obtenção,

faz-se de pequenos fragmentos captados de sensíveis expressões

vivenciais. Cada dia traz, inserido na sua forma, um momento cujo

silêncio sussurra no interior de cada vivente chamando-o para a reflexão

de um episódio feliz.”

Vestibular – Universidade Federal de Uberlândia. Apud Ingedore Villaça Koch e Luiz Carlos

Travaglia. In. A Coerência Textual. São Paulo: Contexto, 2001. p.36

Assim, podemos inferir que o uso de algumas expressões

compromete o entendimento do texto. Como exemplo, citamos

“simplicidade do caráter ao executar problemas complexos” e “ser

catarse permanente de doação sincera e espontânea”. Também,

o pronome relativo ‘onde’ – indicativo de lugar – na oração “A

felicidade, onde não existem técnicas científicas para sua

obtenção...” está completamente inadequado. Até a construção

inversa da frase, compromete-a.

Mesmo tendo uma incoerência, causada pelo mau uso de elementos

lingüísticos, conseguimos detectar o tema e o assunto do texto. Portanto,

essa incoerência não impede totalmente a sua compreensão.

Sendo assim, a coerência textual é um processo que inclui dois

fatores básicos:

1º) o conhecimento que o emissor e o receptor têm do que está

sendo tratado no texto;

2º) o conhecimento que têm da língua usada: a tipologia textual,

o vocabulário, os recursos da estilística, etc.

É claro que o tipo de texto influencia no processo da construção de

sentido. Os textos literários e publicitários, por exemplo, manifestam a

coerência de um modo diferente da coerência de um texto dissertativo,

em que os recursos lingüísticos devem facilitar a compreensão do

assunto. Um poeta não precisa desses mecanismos da linguagem, pois

o sentido de um texto literário não tem o compromisso de contemplar o

raciocínio lógico-argumentativo de uma dissertação.

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UNIDADE 6 - OS MECANISMOS DE COMBINAÇÃO E SELEÇÃO: A COERÊNCIA - A ARTICULAÇÃO DE SENTIDOS

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No texto do anúncio publicitário que se segue, adaptado da Revista

Set, nº 1 / 1998 – há uma incoerência semântica, quando se inverte o

sentido dos verbos (‘ler o filme, ver o livro, assistir (a)o disco’)

Porém, sendo um texto publicitário, esse ‘jogo de sentidos’ denota a

criatividade, a ousadia, características da sedutora linguagem da

propaganda.

É bom observar também que há um erro de ordem gramatical na oração

‘assista o disco’. O verbo assistir, no sentido de ver, presenciar, pede objeto

indireto; portanto, segundo a NGB (Norma Gramatical Brasileira) seria ‘assista

ao disco’.

As autoras Marina Ferreira e Tânia Pellegrini – em seu livro Redação:

palavra e arte. São Paulo: Atual, 1999. – fazem uma chamada na p. 221 que

vale à pena reproduzir:

“Quando você estiver lendo um texto qualquer; veja se é capaz de

falar sobre seus pontos mais importantes, se consegue discorrer sobre

ele, ligando uma idéia à outra, numa seqüência lógica. Se não

conseguir, é porque ainda não compreendeu esse texto. Nesse caso,

tente identificar se sua dificuldade reside nos termos empregados, na

organização das frases ou no próprio assunto debatido. Leia, então,

de novo, uma vez, outra, até entender”.

E ao escrever sua redação, antes de passá-la a limpo, observe se há

continuidade no desenvolvimento das idéias, se uma ‘puxa’’ a outra, se

você as percebe globalmente, como um todo, se não há contradições, enfim,

se é um texto coerente. E lembre-se de que fazer rascunhos é muito

importante para o exercício da coerência.

A coerência textual tem basicamente a ver com as condições para se

estabelecer um sentido em um determinado contexto.

Sendo assim, coerência textual é a relação harmônica que se dá entre

as partes de um texto, em um contexto específico, sendo responsável pela

percepção de uma unidade de sentido.

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Para detectarmos se um texto é coerente ou incoerente teremos que

levar em conta o contexto em que um texto (ou ainda uma gravura, uma

pintura, uma escultura) foi feito.

Queremos deixar claro que nada é incoerente por si só. Algumaspassagens textuais (quer orais, quer escritas) apresentam incoerênciapor falta de habilidade do emissor no uso da língua, em seus diversosníveis. Muitas vezes, ao indicarmos alguma incoerência ou contradiçãona fala ou no texto escrito por alguém, ouvimos: “Não foi bem isso

que eu quis dizer!” “Eu escrevi isso?”

O livro A Coerência Textual de Ingedore V. Koch e Luiz Carlos

Travaglia (Editora Contexto, 1996) trata dos vários níveis em que a

coerência textual se manifesta.

1. COERÊNCIA SEMÂNTICA: diz respeito à relação entre os significados dos

elementos das frases em seqüência em um texto ou entre os elementos de

um texto como um todo.

A contradição de sentidos também compromete a coerência semântica como

podemos perceber no exemplo que se segue:

“A frente da casa de vovó é voltada para o leste e tem uma enorme varanda.

Todas as tardes ela fica na varanda em sua cadeira de balanço apreciando o pôr-

do-sol.”

Assim, a posição da frente da casa e o fato da avó ver o pôr-do-sol são

contraditórios, visto que o sol se põe a oeste e a localização da casa está no

leste.

2. COERÊNCIA SINTÁTICA: trata dos meios sintáticos para expressar a

coerência semântica, ou seja, o uso de conectivos, pronomes, sintagmas

nominais. A coerência sintática nada mais é do que um dos aspectos da

coesão.

3. COERÊNCIA ESTILÍSTICA: responde pelo fato de um usuário empregar

em seu texto elementos lingüísticos pertencentes ao mesmo registro

lingüístico. Seria, por exemplo, incoerente, o uso de gíria em textos

acadêmicos.

4. COERÊNCIA PRAGMÁTICA: tem a ver com o texto visto como uma

seqüência do ato de falar. Os atos da fala devem satisfazer as condições

presentes em uma dada situação comunicativa. Isso quer dizer que se um

amigo faz um pedido a outro, este deverá responder algo que esteja dentro

do “contexto”, ou seja, dentro de uma situação de comunicação.

Veja, como exemplo, um diálogo com incoerência pragmática para que

você possa entender melhor esse aspecto:

- Você pode me emprestar seu livro do Guimarães Rosa?

- Hoje eu comi um chocolate que é uma delícia.

Existe, também, uma distinção importante que deve ser citada aqui. É

a diferença entre coerência global – propriedade tomada em um texto como

um todo e a coerência local, que pode ser percebida em seqüências textuais

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menores. Muitas vezes, o fato de ocorrer incoerência de ordem local em um

texto, não significa que este foi prejudicado como um todo, pois podemos

entender a sua mensagem, mesmo com trechos incoerentes.

Sendo assim, concluímos que a coerência é resultado da não-

contradição entre os diversos segmentos textuais.

Reiteramos que enquanto a coesão existe no plano lingüístico, isto é,

nas relações semânticas e gramaticais entre as partes de um texto, a

coerência se estende para o plano das idéias, dos conceitos.

LEITURA COMPLEMENTAR

Aprofunde seus conhecimentos lendo:

FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. 8 ed. São Paulo: Ática,

2000.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. & TRAVAGLIA, Luis Carlos. A coerência

textual. 9 ed. São Paulo: Contexto, 1999. (Repensando a Língua Portuguesa)

ABREU, Antônio Suárez. Curso de redação. 11 ed. São Paulo: Ática, 2001.

É HORA DE SE AVALIAR!

Não esqueça de realizar as atividades desta unidade de

estudo, presentes no caderno de exercício! Elas irão ajudá-

lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia

no processo de ensino-aprendizagem. Caso prefira, redija

as respostas no caderno e depois acesse o nosso ambiente

virtual de aprendizagem (AVA) e enviei suas respostas.

Interaja conosco!

Na próxima unidade falaremos dos ‘nós lingüísticos do texto’ e de que

maneira podemos controlá-los através dos mecanismos coesivos.