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www.cers.com.br OAB XIV EXAME DE ORDEM 2ª FASE Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 1 HABEAS CORPUS 1.1 CARACTERÍSTICAS O habeas corpus é um instituto processual que, assim como a revisão criminal, também tem a natureza jurídica de ação de impugnação, tendo em vista que não possui algumas características inerentes aos recursos: - É cabível o habeas corpus contra atos que não sejam emanados de juiz, como contra decisões de autoridade policial e até mesmo contra atos de particulares que venham a violar a liberdade de ir e vir. - O habeas corpus desencadeia o início de um novo processo, surgindo uma nova relação processual independente da existência de um processo prévio. - Outra característica marcante do habeas corpus é não possuir prazo para ser impetrado, sendo cabível toda vez em que alguém estiver ameaçado ou cerceado em sua liberdade ambulatorial, ou seja, em sua liberdade de ir, vir ou até mesmo permanecer, por ato ilegal ou abuso de poder. Assim, desde que presentes os seus requisitos, não há preclusão pela não utilização do habeas corpus em determinado momento procedimental. 1.2 CONCEITO Desta forma, o habeas corpus pode ser conceituado como uma ação autônoma de impugnação que tem a finalidade de restabelecer a liberdade de ir e vir, sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar, nos termos do art. 647 do CPP. A doutrina reconhece, pacificamente, a existência de duas espécies de habeas corpus, quais sejam: Liberatório – ocorre todas as vezes que o paciente estiver preso. Preventivo – ocorre todas as vezes que o paciente esteja prestes a ser preso, havendo a iminência da prisão. Há ainda quem defenda uma terceira modalidade: Profilático – ocorre todas as vezes que existir uma possibilidade remota de aplicação de pena privativa de liberdade. 1.3. SUJEITOS No tocante aos sujeitos do habeas corpus existem três sujeitos:

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Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça

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HABEAS CORPUS

1.1 CARACTERÍSTICAS

O habeas corpus é um instituto processual que, assim como a revisão criminal,

também tem a natureza jurídica de ação de impugnação, tendo em vista que não possui

algumas características inerentes aos recursos:

- É cabível o habeas corpus contra atos que não sejam emanados de juiz, como contra

decisões de autoridade policial e até mesmo contra atos de particulares que venham a

violar a liberdade de ir e vir.

- O habeas corpus desencadeia o início de um novo processo, surgindo uma nova relação

processual independente da existência de um processo prévio.

- Outra característica marcante do habeas corpus é não possuir prazo para ser impetrado,

sendo cabível toda vez em que alguém estiver ameaçado ou cerceado em sua liberdade

ambulatorial, ou seja, em sua liberdade de ir, vir ou até mesmo permanecer, por ato ilegal

ou abuso de poder. Assim, desde que presentes os seus requisitos, não há preclusão pela

não utilização do habeas corpus em determinado momento procedimental.

1.2 CONCEITO

Desta forma, o habeas corpus pode ser conceituado como uma ação autônoma de

impugnação que tem a finalidade de restabelecer a liberdade de ir e vir, sempre que alguém

sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e

vir, salvo nos casos de punição disciplinar, nos termos do art. 647 do CPP.

A doutrina reconhece, pacificamente, a existência de duas espécies de habeas

corpus, quais sejam:

Liberatório – ocorre todas as vezes que o paciente estiver preso.

Preventivo – ocorre todas as vezes que o paciente esteja prestes a ser preso, havendo a

iminência da prisão.

Há ainda quem defenda uma terceira modalidade:

Profilático – ocorre todas as vezes que existir uma possibilidade remota de aplicação de

pena privativa de liberdade.

1.3. SUJEITOS

No tocante aos sujeitos do habeas corpus existem três sujeitos:

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Paciente – é aquele que sofre a coação ilegal, ainda que esta coação esteja na iminência de

ocorrer ou seja remotamente possível. Um detalhe muito importante é que apenas pessoas

físicas podem ser pacientes do habeas corpus, já que a pessoa jurídica não pode sofrer

restrição na liberdade de locomoção.

Portanto, não se esqueça: pessoas jurídicas NÃO poderão figurar como paciente

em um habeas corpus, pois a estas não podem ser aplicadas prisões ou ainda penas

privativas de liberdade, somente sendo sujeitas a penas restritivas de direito.

O habeas corpus é um remédio constitucional, daí a pessoal em favor de quem o

mesmo é impetrado ser chamada de paciente.

Impetrante – é justamente a pessoa que promove, propõe, impetra o habeas

corpus, ou seja, aquele que confecciona a peça processual e a ajuíza. Vale ressaltar que nada

impede que o impetrante seja o próprio paciente, tendo em vista que o habeas corpus não é

considerado uma peça privativa de advogado. O impetrante pode ser qualquer pessoa do

povo (inclusive analfabetos e estrangeiros), pessoas jurídicas, o Ministério Público, o

Defensor Público e o advogado do paciente, como uma decorrência da interpretação do

art. 654, do CPP.

Já os juízes e tribunais, enquanto órgãos jurisdicionais, possuem competência para

expedir de ofício ordem de habeas corpus (art. 654, § 2º, do CPP), desde que estejam acima

e na linha de reforma em relação à autoridade coatora, que é aquela responsável pela

coação ilegal. Desta forma, se um juízo ou tribunal, no exercício de sua função jurisdicional,

tiver conhecimento de uma coação ilegal ocorrida em um processo que seja de sua

competência, deverá o mesmo conceder a ordem ex officio, independentemente de

provocação, não havendo necessidade, ou mesmo possibilidade, de um juiz ou tribunal

impetrar um HC.

Assim, não é possível que um juiz conceda ordem de habeas corpus de ofício se o

mesmo estiver no mesmo grau ou instância daquele que proferiu a decisão a ser

impugnada.

Coator ou autoridade coatora – é quem exerce a coação ilegal, nos termos do art.

654, § 1º, “a”, do CPP, podendo ser autoridade ou particular.

1.4. HIPÓTESES DE CABIMENTO

As hipóteses de cabimento do habeas corpus estão previstas no art. 648 do CPP

Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:

I - quando não houver justa causa;

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A falta de justa causa para se ingressar com o habeas corpus ocorrerá todas as vezes

que o motivo da coação ilegal for ilegítimo, sendo mais ampla que a justa causa referente as

causas de rejeição liminar da denúncia, prevista no art. 395, III, do CPP, tendo em vista que

nesta última somente poderá ser alegada se ocorrer a falta de indícios suficientes de

autoria e falta de prova da materialidade do fato.

É lógico que na eventualidade de uma denúncia ser oferecida e recebida sem que

estejam presentes a prova da materialidade da infração e os indícios suficientes de autoria,

ou seja, sem o lastro probatório mínimo que caracteriza a justa causa para ação penal, será

possível impetrar habeas corpus com a finalidade de buscar o "trancamento" da ação penal,

isto é, a extinção do processo sem julgamento do mérito.

II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;

Ocorrerá esta situação todas as vezes que a lei prever um prazo específico para a

duração de uma prisão e este prazo se esgotar sem ter o réu sido posto em liberdade.

III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;

Nesta hipótese especifica, a autoridade que ordenou a coação simplesmente não

tem autoridade para determiná-la, ou seja, a princípio, caso o ato fosse realizado por

autoridade competente não haveria coação, entretanto, como a autoridade é

incompetente, há coação ilegal.

IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;

Nesta situação, inicialmente não havia coação ilegal, entretanto, os motivos que

autorizaram a coação não mais subsistem e o sujeito ainda permanece preso.

V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza;

Esta hipótese de impetração de habeas corpus é bastante peculiar, tendo em vista

que o objeto da coação ilegal é a falta de prestação de fiança mesmo existindo previsão

expressa de seu arbitramento. Ou seja, a impetração com base neste fundamento é tão

somente para que seja arbitrada fiança ao impetrante. O CPP, inclusive, traz previsão

expressa neste sentido em seu Art. 660, § 3º.

VI - quando o processo for manifestamente nulo;

Esta hipótese de impetração de habeas corpus também é bastante peculiar, pois

possui a finalidade especifica de anular o processo, seja de forma total ou parcial.

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Quando a ordem de habeas corpus é concedida com base neste inciso, o processo

será, em regra, devolvido ao momento do ato nulo, para que os atos sejam renovados,

agora de forma válida.

VII - quando extinta a punibilidade.

Esta hipótese de impetração do habeas corpus tem como fundamento a ocorrência

de alguma hipótese de extinção de punibilidade prevista no art. 107 do Código Penal, que,

por alguma razão, ainda não foi reconhecida em favor do paciente, ou ainda cujo

reconhecimento foi negado.

1.5. REQUISITOS DA INICIAL

Os requisitos da petição inicial do habeas corpus estão previstos expressamente

previstos no Art. 654, § 1º, do CPP da seguinte forma:

Art. 654, § 1º - A petição de habeas corpus conterá:

a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação e

o de quem exercer a violência, coação ou ameaça;

b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça de

coação, as razões em que funda o seu temor;

c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou

não puder escrever, e a designação das respectivas residências.

OBS 1: Conforme a doutrina e jurisprudência majoritária os Tribunais costumam

flexibilizar os requisitos da petição inicial do habeas corpus, uma vez que é possível a concessão de ofício do habeas corpus pelo órgão jurisdicional competente.

OBS 2: É perfeitamente possível o pedido de liminar na petição inicial do habeas

corpus com a finalidade de suspender o processo, concessão liminar da ordem com a consequente expedição do alvará de soltura, por uma interpretação do art. 660, § 2º, do CPP, ao prever que o juiz ou o tribunal poderá ordenar que cesse imediatamente o constrangimento. Entretanto vale lembrar que uma vez indeferida a liminar NÃO cabe, via de regra, impetração de novo Habeas Corpus para atacar a decisão que julgou a liminar, neste sentido é o teor da Súmula n. 691 do STF.

“Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do Relator

que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar.”

Negada a liminar, o recurso cabível seria o agravo regimental, previsto no

Regimento Interno dos tribunais. Apesar da aplicabilidade da Súmula 691 do STF, a jurisprudência do próprio STF vem

relativizando o teor da mesma em situações excepcionais, como nos casos de flagrante ilegalidade ou abuso de poder ou em contrariedade a princípios constitucionais ou legais na decisão

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questionada, nestes casos específicos o STF vem admitindo a impetração de novo habeas corpus contra decisão liminar que tinha indeferido habeas corpus anterior, neste sentido os seguintes julgados da 1ª e 2ª Turma do STF: HC 98687 / SP - SÃO PAULO HABEAS CORPUS

Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI

Julgamento: 03/08/2010 Órgão Julgador: Primeira Turma

Publicação: DJe-159 DIVULG 26-08-2010 PUBLIC 27-08-2010

EMENT VOL-02412-02 PP-00242

Parte(s)

PACTE.(S) : FRANCISCO DE ASSIS DE MELO

IMPTE.(S) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

COATOR(A/S)(ES) : RELATORA DO HC Nº 131267 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL. PROCESSO PENAL. WRIT IMPETRADO CONTRA DECISÃO

QUE INDEFERIU MEDIDA LIMINAR NO STJ. INCIDÊNCIA DA SÚMULA 691 DO SUPREMO

TRIBUNAL FEDERAL. VERBETE QUE SÓ PODE SER FLEXIBILIZADO EM SITUAÇÕES

EXCEPCIONAIS. INDEVIDA SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. IMPETRAÇÃO NÃO CONHECIDA.

I - Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de writ impetrado contra decisão que, em habeas

corpus requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar. Incidência da Súmula 691 do STF.

II - A relativização do entendimento sumulado só é admitida por este Tribunal em casos de flagrante

ilegalidade ou abuso de poder, o que não se verifica nos autos. Precedentes. I

II - O pleito não pode ser conhecido, sob pena de indevida supressão de instância e de extravasamento dos

limites de competência do STF descritos no art. 102 da Constituição Federal. IV - Habeas corpus não

conhecido.

HC 120274 / ES - ESPÍRITO SANTO

HABEAS CORPUS

Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA

Julgamento: 10/06/2014 Órgão Julgador: Segunda Turma

Publicação

PROCESSO ELETRÔNICO

DJe-118 DIVULG 18-06-2014 PUBLIC 20-06-2014

Parte(s)

PACTE.(S) : DANIEL SIMÕES REIS

IMPTE.(S) : HIGOR SIQUEIRA AZEVEDO

COATOR(A/S)(ES) : RELATORA DO HC Nº 281.902 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

EMENTA: HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DA

PENA. NECESSIDADE DE MOTIVAÇÃO IDÔNEA. PRECEDENTES. SUPERAÇÃO DA SÚMULA

691DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. CONCESSÃO DA

ORDEM, DE OFÍCIO. 1. Este Supremo Tribunal tem admitido, em casos excepcionais e em

circunstâncias fora do ordinário, o temperamento na aplicação da Súmula n. 691 do Supremo Tribunal

(“Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do

Relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar”). Essa excepcionalidade

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fica demonstrada nos casos em que se patenteie flagrante ilegalidade ou contrariedade a princípios

constitucionais ou legais na decisão questionada. 2. Não evidencia fundamentação idônea e suficiente,

decisão que impõe o regime inicial fechado de cumprimento de pena, baseada, objetiva e exclusivamente

na norma inscrita no art. 2º, §1º, da Lei 8.072/90, declarada incidentalmente inconstitucional por este

Supremo Tribunal, no HC 111.840 (Relator o Ministro Dias Toffoli, de 27.6.2012). 3. Inexequível a pena

de prisão imposta na condenação sem a correspondente motivação idônea. Súmula 719 do Supremo

Tribunal Federal. Precedentes. 4. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício.

HC 103673 / SP - SÃO PAULO

HABEAS CORPUS

Relator(a): Min. AYRES BRITTO

Julgamento: 14/09/2010 Órgão Julgador: Segunda Turma

Publicação: DJe-200 DIVULG 21-10-2010 PUBLIC 22-10-2010

EMENT VOL-02420-03 PP-00602

Parte(s)

PACTE.(S) : RENATO CEZAR RODRIGUES ALVES BATISTA

IMPTE.(S) : FRANCISCO JOSÉ GÁY E OUTRO(A/S)

COATOR(A/S)(ES) : RELATOR DO HC Nº 165785 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

EMENTA: HABEAS CORPUS. SÚMULA 691/STF. CRIMES DE ROUBO MAJORADO E RECEPTAÇÃO. PRISÃO EM

FLAGRANTE. PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA. INDEFERIMENTO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DA

NECESSIDADE DA CUSTÓDIA CAUTELAR, NOS TERMOS DO ART. 312 DO CPP. AÇÃO CONSTITUCIONAL NÃO

CONHECIDA. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.

1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido da inadmissibilidade de impetração sucessiva de

habeas corpus, sem o julgamento de mérito da ação constitucional anteriormente ajuizada (cf. HCs 79.776, da

relatoria do ministro Moreira Alves; 76.347-QO, da relatoria do ministro Moreira Alves; 79.238, da relatoria do

ministro Moreira Alves; 79.748, da relatoria do ministro Celso de Mello; e 79.775, da relatoria do ministro

Maurício Corrêa). Jurisprudência, essa, que deu origem à Súmula 691, segundo a qual "não compete ao

Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas

corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar".

2. Tal entendimento jurisprudencial sumular comporta relativização, quando de logo avulta que o cerceio à

liberdade de locomoção do paciente decorre de ilegalidade ou de abuso de poder (inciso LXVIII do art. 5º da

CF/88).

3. A garantia da fundamentação importa o dever judicante da real ou efetiva demonstração de que a segregação

atende a pelo menos um dos requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal. Sem o que se dá a inversão da

lógica elementar da Constituição, segundo a qual a presunção de não-culpabilidade é de prevalecer até o

momento do trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Por isso mesmo foi que este Supremo

Tribunal Federal, no julgamento do HC 84.078, por maioria, entendeu inconstitucional a execução provisória da

pena. Na oportunidade, assentou-se que o cumprimento antecipado da sanção penal ofende o direito

constitucional à presunção de não-culpabilidade. Direito subjetivo do indivíduo, que tem a sua força

quebrantada numa única passagem da Constituição Federal. Leia-se: "ninguém será preso senão em flagrante

delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de

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transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei" (inciso LXI do art. 5º).

4. No caso, a decisão que indeferiu o pedido de liberdade provisória do acusado - que não foi preso em flagrante

por crime hediondo - não demonstrou, minimamente que fosse, o vínculo operacional entre a necessidade da

segregação cautelar e os pressupostos do art. 312 do Código de Processo Penal, tal como estabelece o

parágrafo único do art. 310 do mesmo diploma processual.

5. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício, nos termos do voto do relator

1.6. COMPETÊNCIA

Em relação à competência para julgamento do habeas corpus, a regra é a de que ele

seja julgado pela autoridade imediatamente superior à autoridade coatora, desta forma,

pode-se fazer o seguinte esquema:

1.7. PROCEDIMENTO

Quanto ao procedimento do habeas corpus deverá ser observada a seguinte ordem:

COMPETÊNCIA EM HABEAS CORPUS

STJ STJ TSE STF

roc roc roc roc

TJ TRF TRE STJ STF

hc hc hc hc hc

AUTORIDADE

COATORA

JUIZ

ESTADUAL

JUIZ

FEDERAL

JUIZ

ELEITORAL TJ ou TRF STJ STF

COMPETÊNCIA EM HABEAS CORPUS (cont.)

STJ STJ TJ ou TRF TJ

roc roc rese rese

TURMA

RECURSAL TJ ou TRF TJ JUIZ JUIZ

hc hc hc hc hc

AUTORIDADE

COATORA è JECRIM

TURMA

RECURSAL

JUIZADO DE

VIOLÊNCIA

DOMÉSTICA

DELEGADO

DE POLÍCIA PARTICULAR

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Recebida a petição de habeas corpus, o juiz, se julgar necessário, e estiver preso o

paciente, mandará que este Ihe seja imediatamente apresentado em dia e hora que

designar. (art. 656. CPP)

Haverá a requisição de informações a autoridade coatora, determinando prazo para

sua apresentação.

Poderá o juiz requerer diligências e interrogar o paciente;

Efetuadas as diligências, e interrogado o paciente, o juiz decidirá,

fundamentadamente, dentro de 24 (vinte e quatro) horas, nos termos do art. 660, CPP.

Se a decisão for favorável ao paciente, será logo posto em liberdade, salvo se por

outro motivo dever ser mantido na prisão conforme art. 660, § 1º, CPP.

Será incontinenti enviada cópia da decisão à autoridade que tiver ordenado a prisão

ou tiver o paciente à sua disposição, a fim de juntar-se aos autos do processo. (art. 660,§ 5º,

CPP).

No caso de julgamento de habeas corpus por Tribunal deverá ser observado o

seguinte procedimento:

A petição de habeas corpus será apresentada ao secretário, que a enviará

imediatamente ao presidente do tribunal, ou da câmara criminal, ou da turma, que estiver

reunida, ou primeiro tiver de reunir-se. (art. 661, CPP)

Se a petição contiver os requisitos do art. 654, § 1º, o presidente, se necessário,

requisitará da autoridade indicada como coatora informações por escrito. Faltando, porém,

qualquer daqueles requisitos, o presidente mandará preenchê-lo, logo que Ihe for

apresentada a petição. (art. 662. , CPP).

As diligências do artigo anterior não serão ordenadas, se o presidente entender que

o habeas corpus deva ser indeferido in limine. Nesse caso, levará a petição ao tribunal,

câmara ou turma, para que delibere a respeito. (art. 663, CPP)

Recebidas as informações, ou dispensadas, o habeas corpus será julgado na

primeira sessão, podendo, entretanto, adiar-se o julgamento para a sessão seguinte.

(art. 664, CPP).

A decisão será tomada por maioria de votos. Havendo empate, se o presidente não

tiver tomado parte na votação, proferirá voto de desempate; no caso contrário,

prevalecerá a decisão mais favorável ao paciente. (art. 664, parágrafo único, CPP).

DICA:

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NÃO CABERÁ HABEAS CORPUS:

1. Das punições disciplinares militares no que diz respeito ao mérito da decisão, com

fundamento no art. 142, §2º da Constituição e art. 647 do Código de Processo Penal.

2. Durante o Estado de Sítio, vedação indireta dada pela Constituição Federal nos arts. 138,

caput e 139, I e II, salvo se a prisão for determinada por quem não seja competente ou em

desacordo com as formalidades legais.

3. Contra imposição da pena de exclusão de militar ou de perda de patente ou de função

pública, nos moldes da Súmula 694 do STF.

4. Quando já extinta a pena privativa de liberdade, com fundamento na Súmula 695 do STF.

5. Se o intuito for resolver sobre o ônus das custas, por não estar mais em causa a liberdade

de locomoção, nos termos da Súmula 395 do STF.

6. Da decisão condenatória a pena de multa ou relativo a processo em curso por infração

penal a que a pena pecuniária seja a única cominada, nos termos da Súmula 693 do STF.

7. Contra omissão do relator de extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja

prova não constava dos autos, nem foi ele provocado a respeito, a teor da Súmula 692 do

STF.

1.8. ESTRUTURA DO HABEAS CORPUS.

Endereçamento: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA CRIMINAL DA COMARCA DE

_______________________ (Coator = delegado de polícia estadual)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ____ VARA CRIMINAL FEDERAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA

DE _______________________ (Coator = delegado de polícia federal)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA COMARCA

DE_______________________ (Coator = delegado de polícia estadual nos crimes de menor potencial ofensivo)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL FEDERAL DA SEÇÃO

JUDICIÁRIA DE _________ (Coator = delegado de polícia federal nos crimes de menor potencial ofensivo)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE

_______________________ (Coator = Delegado nos crimes dolosos contra a vida, tentados ou consumados)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA ____ VARA DO TRIBUNAL DO JÚRI DA SEÇÃO

JUDICIÁRIA DE _______________________ (Coator = Delegado nos crimes dolosos contra a vida, tentados ou

consumados da Competência da Justiça Federal)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO

DE_________________ (Coator = Juiz de Primeiro Grau Estadual ou Ministério Público Estadual)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA

____ REGIÃO (Coator = Juiz de Primeiro Grau Federal ou Ministério Público)

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE DO COLÉGIO RECURSAL DO JUIZADO ESPECIAL

CRIMINAL DA COMARCA DE _____________ (Coator = Juizado Especial Criminal Estadual)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE DO COLÉGIO RECURSAL DO JUIZADO ESPECIAL

CRIMINAL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DA COMARCA DE ____________ (Coator = Juizado Especial Criminal Federal)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

(Coator = Tribunal Inferior ou pessoa com prerrogativa de foro no STJ)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

(Coator = Tribunal Superior ou pessoa com prerrogativa de foro no STF ou Tribunais Superiores)

Identificação

(NOME DO IMPETRANTE), nacionalidade, identidade, CPF, profissão, residente e

domiciliado no _______, (por seu advogado formalmente constituído que esta subscreve,

procuração em anexo) (se for o caso), vem respeitosamente à presença de Vossa

Excelência, Com fundamento no art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal, e no art. 647 e

seguintes do Código de Processo Penal, impetrar

HABEAS CORPUS

em favor de (nome do paciente), nacionalidade, estado civil, profissão, portador da

Cédula de Identidade número _________, expedida pela __________inscrito no Cadastro de

Pessoa Física do Ministério da Fazenda sob o número ___________, residência e domicílio,

que se encontra atualmente custodiado na ___________________ (indicar o local em que

se encontra preso o paciente, se for o caso), em razão de decisão manifestamente ilegal

proferida pelo __________, ora identificado como autoridade coatora, pelas razões de fato

e direito a seguir expostas:

1. Dos Fatos

Falar os pontos principais dos fatos que ensejam a impetração do habeas corpus, ou

seja, indicar que foi, por exemplo, decretada uma prisão pelo Juízo ___, autoridade coatora,

e que tal prisão é manifestamente ilegal, indicando os motivos pelos quais a prisão é ilegal,

ou qual(is) a(s) ilegalidade(s) existente(s) que caracteriza(m) ameaça ou cerceamento ao

direito de liberdade, ensejando o habeas corpus.

2. Do Direito

Ressaltar onde está a ilegalidade na prisão ou na ameaça ao direito de liberdade do

paciente.

3. Do pedido liminar.

Indicar encontrarem-se presentes o fumus boni iuris, caracterizado pela

violação/cerceamento/ameaça ao direito de liberdade do paciente, e também o periculum

in mora, que reside no fato de já estar o paciente submetido à uma prisão flagrantemente

ilegal, que não pode prosperar.

4. Do Pedido

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Indicar ainda a necessidade de concessão da ordem liminarmente, bem como seja

oficiada a autoridade coatora para que preste informações, e intimação do Ministério

Público.

AO FINAL, deve-se fazer o pedido pleiteando a consequente concessão da ordem de

Habeas Corpus para ... , com a consequente expedição do alvará de soltura.

Termos em que,

Pede deferimento.

Comarca, data

Advogado, OAB

1.9. CASOS PRÁTICOS

CASO PRÁTICO RESOLVIDO

Robson, famoso empresário do ramo hoteleiro da cidade H foi denunciado pela

prática do crime de omitir informação às autoridades fazendárias, com a finalidade de

suprimir tributo estadual devido (art. 1º, inciso I, da lei 8.137/1990). Robson impugnou

administrativamente o lançamento do tributo, tendo em vista que, no seu entender, este

não ocorreu. O juiz criminal da 5ª Vara Criminal da Comarca X recebeu a denúncia e citou o

réu para apresentar defesa, alegando a independência da via judicial frente à

administrativa.

Em face da situação hipotética, na qualidade de advogado contratado por Robson,

apresente a medida processual mais rápida para impugnar a decisão do magistrado.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE

_______________

Nome do impetrante, advogado, conforme procuração anexa a este instrumento, vem, com

fundamento no art. 5º, LXVII da Constituição Federal e artigo art. 647 e 648, I, do Código de Processo Penal

impetrar a presente ordem de

HABEAS CORPUS

em favor de Robson, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da Cédula de Identidade número

_________, expedida pela ___________inscrito no Cadastro de Pessoa Física do Ministério da Fazenda sob o

número ___________, residência e domicílio, ora paciente, que encontra-se ameaçado em sua liberdade de

locomoção em face da decisão proferida pelo Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 5ª Vara Criminal

da Comarca X, ora apontado como autoridade coatora, pelas razões de fato e direito a seguir expostas:

1. Dos Fatos

O paciente é um famoso empresário do ramo hoteleiro da cidade H e foi denunciado pela suposta

prática do crime contra a Ordem Tributária de omitir informação às autoridades fazendárias para suprimir

tributo estadual devido art. 1º, inciso I, da lei 8.137/1990).

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O paciente impugnou administrativamente o lançamento do tributo, tendo em vista que no seu

entender este não ocorreu. O juiz criminal da 5ª Vara Criminal da Comarca X, autoridade coatora, de forma

equivocada, recebeu a denúncia e citou o réu para apresentar defesa, alegando a independência da via judicial

frente a administrativa.

2. Do Direito

Conforme se depreende da narração dos fatos agiu de forma equivocada a autoridade coatora ao ter

recebido a denúncia. Como é sabido, via de regra existe a independência da esfera judicial e da esfera

administrativa, entretanto, existem ressalvas que ora são trazidas pela própria lei e ora pela jurisprudência

pátria.

No caso em concreto existe uma visível coação ilegal contra o paciente uma vez que não se tipifica

crime material contra a ordem tributária de omitir informação a autoridade fazendária estadual para suprimir

tributo devido, previsto no art. 1º, inciso I, da lei 8.137/1990, antes do lançamento definitivo do tributo, nos

temor da Súmula Vinculante 24 do STF.

Ora como ainda não houve, no presente caso, o lançamento definitivo do tributo, tendo em vista que

ainda existe um processo administrativo pendente, não há como se tipificar o crime acima referido, havendo

uma coação ilegal por falta de justa causa, pois o motivo que ensejou o recebimento da denúncia é ilegítimo,

nos termos do art. 647 e 648, I, do Código de Processo Penal.

3. Do Pedido

Desta forma, requer-se a concessão da presente ordem de habeas corpus para que seja anulado o

recebimento da denúncia e decretar a extinção do processo em face da visível coação ilegal sofrida pelo

paciente.

Termos em que,

Pede deferimento.

Comarca, data

Advogado, OAB

CASO PRÁTICO PROPOSTO

Juliano cometeu o crime de roubo na cidade Sossego, uma pacata cidade no interior da Paraíba que nunca tinha tido nenhuma ocorrência de um crime desta gravidade. Como o crime teve uma grande repercussão social, apesar de ter havido uma condenação com pena mínima de 3 anos de reclusão e multa, o juiz estabeleceu o regime prisional mais gravoso para o réu, o regime fechado, alegando a gravidade em abstrato do delito. Ocorre que a decisão transitou em julgado.

Em face da situação hipotética, na qualidade de advogado contratado por Juliano,

apresente a medida processual mais rápida para impugnar a decisão do magistrado.

RESPOSTA:

Peça – Habeas Corpus.

Endereçamento – Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba

Tese – alegar que o juiz não agiu corretamente tendo em vista que a gravidade em abstrato

do crime, por si só, não é fundamento suficiente para o estabelecimento de regime

prisional mais severo do que o que o réu teria direito, conforme consolidado entendimento

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do STJ na Súmula 440, bem como afronta o art. 33, § 2.º, “c” do CP, tendo em vista que o

condenado a pena igual ou inferior a 4 anos e não reincidente, como no caso em análise,

pode cumprir a pena, desde o início, no regime aberto, existindo não existindo justa causa

para a coação ilegal sofrida pelo paciente, conforme art. 648, I, do Código de Processo

Penal.

Pedido – concessão da ordem para que se estabeleça, na sentença condenatória, o regime

prisional aberto para o paciente.