Habeas Corpus - Modelo

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EXCELENTSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5 REGIO

FULANO DE TAL, QUALIFICAO, vem presena de Vossa Excelncia, mui respeitosamente, com fulcro no artigo 5, incisos LVIII e LXVI, da Constituio Federal, bem como nos artigos 647 e 648, inciso I, ambos do Cdigo de Processo Penal, impetrar a presente ordem de

HABEAS CORPUS COM PEDIDO LIMINAR

em favor de PACIENTE, qualificao, atualmente recluso no Complexo Penitencirio Carvalho Neto, desde o dia 04 de maio de 2011, localizado no XXX, mas que possui como residncia fixa um imvel na endereo fixo, com base nos argumentos fticos e jurdicos doravante delineados, em face da deciso de segregao cautelar proferida pelo Dignssimo Juiz Titular da 3 Vara Federal da Seo Judiciria de Sergipe, nome do Juiz.

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1 CONTORNO FTICO

A Polcia Federal realizou operao investigatria denominada XXX, na qual foram efetuadas 16 (dezesseis) prises cautelares, dentre elas a do paciente.

Segundo o procedimento administrativo inquisitrio supracitado, o paciente foi inserido em um grupo de pessoas, hoje encarcerados cautelarmente teriam, supostamente, fraudado arrematao judicial, atravs da inibio de outros concorrentes do certame, utilizando-se, para tanto, de falsificaes de autos de arrematao.

Diante de tais atos, o d. juiz Titular da 3 Vara Federal da Seo Judiciria de XXXX, o Dr. XXX, decretou a priso preventiva de 11 (onze) indivduos, e a priso temporria de 5 (cinco), dentre estas a do paciente, atendendo a requerimento da Polcia Federal.

Ao paciente foram, hipoteticamente, imputadas as condutas tipificadas nos arts. 288 (formao de quadrilha), 299 (falsidade ideolgica) e 358 (fraude em arrematao), todos do CP.

A deciso que decretou as prises, concessa venia, merece reforma, em face das determinaes Constitucionais e legais que incidem sobre o caso concreto.

Quanto ao paciente, afirmou o d. Magistrado, que:

a) Deciso

Verifica-se, diante de uma breve anlise da deciso, que ao paciente imputado o fato de ter descrio da conduta.

Realmente, o paciente participou dos XXXXXX, mas no da forma como presumiu a Polcia Federal.

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Como ser devidamente analisado, em seu depoimento na Polcia Federal, o paciente esclarece que adquiriu para si mesmo os imveis, juntamente com o seu scio (XXXXX) e que jamais participou do leilo ocorrido no Municpio de XXXXXX.

Entretanto, desde j, destaque-se que o paciente jamais arrematou os bens para terceiros, mas para si e para seu scio, eis que negociam com imveis. O paciente, como dito em sua qualificao, corretor de imveis.

A deciso ora repudiada, que culminou na segregao cautelar do requerente, no possui, apesar do esmero costumeiro, fundamentao bastante e suficiente a ensejar a medida excepcional supracitada.

Vale ressaltar que, quando da efetivao da priso temporria do paciente, esse entregou, voluntariamente, aos agentes da polcia federal, de forma espontnea, arma de fogo de uso permitido e da qual possua o registro e a posse apenas vencidos, sendo preso em flagrante pelo delito tipificado no art. 12 do estatuto do desarmamento.

Os argumentos acima aduzidos sero demonstrados nos tpicos que se seguem de forma minuciosa.

Esse , resumidamente, o contorno ftico.

2 DECISO GENRICA AUSNCIA DOS PRESSUPOSTOS QUE DETERMINAM A SEGREGAO CAUTELAR ART. 312 DO CPP FALTA DE FUNDAMENTAO.

A Constituio Federal, diploma maior do ordenamento jurdico brasileiro, determina que a segregao cautelar do indivduo medida de exceo, sendo a liberdade a regra.

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Tal entendimento no pode ser subvertido, principalmente em um Estado Democrtico de Direito, em que a nossa Carta Magna no funciona apenas como um diploma dotado de diretrizes, mas com verdadeira fora normativa. Preceitua o artigo 5, inciso LXI que ningum ser preso seno em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciria competente, salvo nos casos de transgresso militar ou crime propriamente militar, definidos em lei. (grifo nosso)

Logo, o decreto prisional no pode abster-se de trazer argumentos concretos para que se caracterize a situao de excepcionalidade prevista na lei.

Ou seja, no pode ser realizado de forma geral e genrica.

Deve, antes de tudo, especificar as condutas de cada um dos agentes, deve delimitar os fatos, deve apresentar os requisitos determinados pela lei processual penal, no se resumindo a transcrever a lei, tentando transparecer uma suposta situao de legalidade.

A fundamentao a que se refere anteriormente est prevista no art. 312 do CPP.

Em verdade, so as situaes excepcionais nas quais o legislador entendeu que seria possvel restringir o direito fundamental liberdade do cidado, segregando-o no crcere, na busca de um bem maior: o bem estar da coletividade e a devida instruo criminal.

Prescreve o art. 312 do CPP:

Art. 312. A priso preventiva poder ser decretada como garantia da ordem pblica, da ordem econmica, por convenincia da instruo criminal, ou para assegurar a aplicao da lei penal, quando houver prova da existncia do crime e indcio suficiente de autoria.

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A leitura do dispositivo esclarecedora, pois indica: que o simples fato de estar respondendo a um processo criminal no argumento suficiente para cercear a liberdade do ru.

A explicao para tal assertiva simples.

A Constituio Federal, em seu art. 5, inciso LVII, consagrou o princpio da presuno de inocncia, afirmando que ningum ser considerado culpado at o trnsito em julgado de sentena penal condenatria.

Portanto, devem estar presentes outros elementos, sem os quais se faz impossvel a priso.

Os requisitos do crcere preventivo, associados aos indcios de autoria e certeza da pratica delituosa, legitimam e fundamentam a deciso judicial que efetiva o decreto prisional cautelar.

Mas, deve-se observar que, para que tal deciso seja vlida, no suficiente uma mera transcrio dos elementos exigidos pela lei.

Eles devem ser comprovados de forma objetiva na deciso judicial, ou seja, a deciso deve trazer um arcabouo probatrio mnimo, que demonstre a real ocorrncia dos requisitos legais.

Apesar do esmero costumeiro, a deciso proferida pelo Excelentssimo Magistrado da 3 Vara Federal de Sergipe no rene as condies necessrias para legitimar o estado prisional do paciente.

A fim de atender aos requisitos legais, deveria ser procedida uma anlise da situao de cada indiciado, separadamente, jamais de forma conjunta, pois, cada agente, supostamente, praticou uma conduta, sendo imputados delitos diversos.

Transcreva-se trecho da deciso para melhor elucidao:

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Urge que a ordem pblica seja imediatamente restabelecida, restaurando-se a legalidade, moralidade, credibilidade dos leiles pblicos, livrando a Administrao Pblica da ao delituosa da quadrilha ora investigada, o que somente ser possvel com a desarticulao do bando, atravs das prises pretendidas.

O decisum em quaestio traz baila a garantia da ordem pblica como forma de fundamentar o decreto prisional, sem apontar qualquer prova nos autos de que esta estaria sendo ferida, caso o paciente permanea em liberdade.

Utiliza-se, para tanto, da mera materialidade delitiva.

Materialidade delitiva uma coisa. Garantia da ordem pblica outra.

A narrativa ftica do modus operandi dos alvos do decreto prisional no preenche o requisito que autoriza a segregao em face da garantia da ordem pblica.

Deve ser demonstrado, efetivamente, sem meras suposies, sem meras presunes.

Mas no s.

A referida deciso tambm se pauta na convenincia da instruo criminal, seno veja-se:

A convenincia da instruo criminal tambm fundamenta as prises em tela, eis que, pela forma que atuam os membros do bando, podero, assim que tomarem conhecimento dos fatos apurados, manipular provas ou faz-las desaparecer, bem assim constranger ou intimidar testemunhas, como fazem intimidando e constrangendo licitantes e membros de outros grupos interessados em licitar durante os leiles de que participam.

Veja-se que, mais uma vez, a dignssima deciso apenas faz referncia ao requisito legal da convenincia da instruo criminal, sem trazer qualquer prova de que os agentes, efetivamente, iriam interferir na produo probatria.6

Pauta-se em meras conjecturas, meras suposies, sem indicao de qualquer probabilidade concreta de prejuzo instruo criminal.

Pergunta-se: como poderia, ou de que modo, o paciente, corretor de imveis que , com filhos, esposa, residncia fixa, primrio e sem antecedentes desfavorveis, poderia prejudicar a instruo criminal?

A d. deciso no diz e o seu silncio manteve o paciente em crcere.

Vale ressaltar que, conforme j explicitado, a Polcia Federal realizou uma investigao de aproximadamente 18 (dezoito) meses, angariando um vasto arcabouo probatrio nos autos. De tal maneira, a soltura do paciente jamais influenciaria os trabalhos investigativos, que, conforme manchete de jornal inclusa, j foram concludos.

Tambm, deve-se atentar para o fato de que todos os supostos envolvidos, inclusive o paciente, j foram ouvidos.

Insista-se exausto: no h qualquer prova que demonstre a periculosidade do requerente ou a possibilidade de destruir provas ou coagir testemunhas.

A deciso em comento tratou todos indistintamente, sem observar a peculiaridade e necessidade de cada caso. Valiosa a jurisprudncia da Corte Superior de Justia, que diz:

PROCESSO PENAL - HABEAS CORPUS - RECEPTAO LIBERDADE PROVISRIA MEDIANTE FIANA (1) PRISO DE UM DOS PACIENTES - INCIO DO CUMPRIMENTO DE PENA - MODIFICAO DO QUADRO FTICO - WRIT EM PARTE PREJUDICADO (2) QUEBRA - MOTIVAO IMPROPRIEDADE (3) FUNDAMENTO PARA PRISO PREVENTIVA - REFERNCIAS GENRICAS - IDONEIDADE - AUSNCIA (4) PRIMARIEDADE - CRIME SEM VIOLNCIA OU GRAVE AMEAA - PRISO - PROPORCIONALIDADE VIOLAO (...) 2- A priso processual medida odiosa, marcada pelo signo da imprescindibilidade, sendo imperioso alinhar-se, para tanto, elementos concretos. 3- A simples meno, 7

genrica, aos termos do art. 312 do Cdigo de Processo Penal , no autoriza a providncia extrema. 4- Sendo os pacientes primrios, presos em flagrante pelo art. 180 do Cdigo Penal - Delito sem violncia ou grave ameaa-, com pena mnima de um ano de recluso, revela-se como excessiva a priso provisria, tendo em conta o carter instrumental das cautelares penais e o princpio da proporcionalidade. 5- Ordem prejudicada em relao ao paciente FLVIO RODRIGUES (cassada a liminar que lhe foi deferida), e, no tocante ao paciente MARCELO DA SILVA XAVIER, acolhido o parecer ministerial e confirmada a liminar, concedo a ordem para assegurar a liberdade provisria, mediante compromisso de comparecimento a todos os atos processuais, especificamente em relao aos autos da Ao Penal controle 276/2008, da 2 Vara Judicial da Comarca de Mairipor/SP. (STJ - HC 127.615 (2009/0019977-0) - 6 T. - Rel Min Maria Thereza de Assis Moura DJe 21.02.2011 - p. 1468) grifo intencional

Por fim, afirmou que h necessidade de se assegurar a futura aplicao da lei penal:A necessidade de se assegurar a aplicao da lei penal tambm fundamento para as prises cautelares em apreo, posto que os integrantes do bando podero fugir ou esconder-se, dificultando a marcha das investigaes ou do provvel processo criminal e, qui, ensejando suas impunidades.

Mais uma vez, o decreto prisional se pauta em meras conjecturas, sem qualquer prova substancial da real possibilidade de frustrao da aplicao das reprimendas penais pelo paciente.

Alm de tratar todos indistintamente, afirmou que todos podem fugir, sem qualquer embasamento probatrio.

De tal modo, toda deciso que segregou a liberdade do paciente de forma preventiva padece, data vnia, de ausncia de fundamentao concreta e individualizada.

Impende observar que o prprio Ministrio Pblico, quando se manifesta sobre a manuteno da priso do paciente, afirma que deve ser mantida a segregao cautelar em face do delito de posse ilegal de arma de fogo de uso

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permitido (art. 12 do estatuto do desarmamento), com nico fundamento, sendo que tal infrao afianvel, seno veja-se (fls. 2076):

Em relao a Geovane Souza Simes, merece ser mantida a deciso que decretou a priso preventiva, no lugar da temporria. No por causa dos eventuais crimes tributrios que as novas conversas revelaram, pelas razes j aduzidas, mas em funo de sua priso em flagrante, quando da operao, pelo crime de posse de arma de fogo sem registro. (grifo nosso) (...) Da mesma forma, relao ao requerimento de Cludio, vale invocar os fundamentos acima expendidos, tendo em vista que com ele tambm foi apreendida arma em situao irregular devendo ser denegado.

Nada mais disse o Ministrio Pblico sobre o paciente.

Assevere-se que o delito de posse irregular de arma de fogo afianvel e jamais poderia ser justificativa para a manuteno do paciente em crcere.

Entretanto, com a finalidade de melhor expor os motivos de revogao da priso preventiva, sero analisados um a um os requisitos legais, como se far doravante:

2.1.1. Caractersticas pessoais do paciente

Antes de adentrar aos requisitos objetivos da priso preventiva, de se analisar as caractersticas pessoais do paciente.

O paciente um cidado que nunca foi preso ou, sequer, investigado por qualquer outro delito (primariedade e bons antecedentes).

Logo, no h qualquer precedente criminal na sua vida pregressa. Trata-se de ru primrio.

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O fato de ser uma pessoa primria e que goza de bons antecedentes fato importante, pois demonstra o seu carter inofensivo, com um passado sem mcula.

O requerido sempre exerceu a sua profisso de corretor de imveis e, mesmo a deciso que determinou a priso preventiva, reconheceu que o suplicado, ainda que em tese, somente participou de 02 (dois) leiles judiciais, arrematando bens de menor valor. Logo, mesmo a deciso judicial e a prpria investigao policial reconheceu que sua presena em hastas pblicas, se deu apenas em duas oportunidades, ou seja, no era corriqueira.

Como dito, no se pretende atribuir responsabilidade a quem quer que seja, mas o demandante deve ser visto de forma diferenciada, pois no se trata de um suposto delinqente contumaz, ainda que apenas em fase investigativa.

Portanto, seu crcere deve ser interpretado como fato isolado na sua vida e que gerou e continua a gerar conseqncias desastrosas em sua famlia e na comunidade em que est inserido.

O paciente pai de famlia e nunca foi investigado por qualquer delito. Possui residncia fixa e patrimnio compatvel com a sua renda.

Neste entendimento, as caractersticas pessoais possuem relevncia para o caso concreto, onde amparam a revogao da priso preventiva.

O processo originrio deveras extenso, pois conta com inmeros rus.

Os rus so diferentes, com circunstncias completamente distintas e as caractersticas e particularidades do requerente devem ser analisadas em separado, pois contra ele no existe prova slida.

Assim, no h preenchimento das condies do art. 312 do CPP.

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2.1.2. Garantia da ordem pblica

A situao do demandante alheia ao requisito de garantia da ordem pblica.

O delito imputado ao requerente no foi praticado com o uso da fora ou de qualquer outro meio que demonstre violncia.

O paciente uma pessoa sem qualquer antecedente de violncia e no representa qualquer ofensa ordem pblica.

A garantia da ordem pblica e econmica, esta deve atender ao binmio: gravidade da infrao + repercusso social.

Primeiramente, a gravidade da infrao est intimamente ligada violncia do fato e ou pena cominada para o caso concreto. Geralmente, o emprego de violncia na execuo do delito o principal critrio para a avaliao da gravidade do delito, que representa uma temeridade social.

Ora, que temeridade social representa um homem casado, pai de famlia, mero corretor de imveis, sem antecedentes criminais e com residncia fixa? Nenhuma.

Ainda que o delito esteja tipificado, e apenas tipificado pela autoridade inquisitria, como formao de quadrilha, falsidade ideolgica e fraude em arrematao judicial, no h qualquer sinal de comoo pblica pela gravidade do delito.

No h registro de emprego de violncia ou grave ameaa na execuo dos delitos e no h registro de tentativa de linchamento ou pnico com a reinsero do demandante no seio da sociedade.

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Como reitera Guilherme de Souza Nucci, a cessao dos motivos que ensejaram a decretao da priso cautelar impe-se a revogao, uma vez que a priso, repita-se, sempre exceo, enquanto a liberdade a regra1.

Ademais, bem asseverou o Desembargador do Estado de Sergipe Gilson Gis Soares que para haver o confinamento, mesmo que provisrio, imprescindvel a demonstrao quantum satis da coliso do princpio da preservao da paz social sobre o da liberdade individual e, o eventual comprometimento daquela por esta. No evidenciado esse conflito, impe-se a liberao do paciente, notadamente quando no mais evidenciado os pressupostos do artigo 312 do CPP, ensejando a revogao prisional do acusado2.

Ora, a paz social no foi alterada com a priso do acusado e no ser modificada com a sua soltura, de forma que no est atendido o requisito da concesso da priso preventiva em relao ao demandante.

Mais claro: a opinio pblica somente teve conhecimento do fato pela prpria Polcia Federal, que inclusive concedeu uma entrevista coletiva, permitindo a divulgao do acontecimento em toda a mdia.

Mas nenhuma animosidade pblica foi demonstrada.

Pior: a concesso da revogao da priso do demandante, no implica dizer que ele venha a cometer delitos, vindo a prejudicar a ordem pblica.

A prova, apresentada no corpo do inqurito, no revelou em momento algum, a participao ativa do requerente na execuo dos delitos investigados.

Mais: o seu depoimento, prestado na Polcia Federal, esclarece as supostas situaes que fundamentaram seu crcere, como, por exemplo, a sua sociedade com o tambm indiciado XXXXX interpretada como algo ilcito.1 2

Cdigo de Processo Penal Comentado. 5 ed. So Paulo: editora Revista dos Tribunais, 2006, pg. 612. Recurso em Sentido Estrito N 0018/2005, Tribunal de Justia de Sergipe, Relator: Gilson Gis Soares, Julgado em 31/08/2006.

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O suplicado, por seu turno, contribuiu, atravs das suas declaraes, com a investigao, esclarecendo os sobre os quais foi inquirido.

Entretanto, a todo momento, pode-se observar que o paciente diz:

Declarao

Como se v, o suplicado adquiriu para si o imvel, pagando parceladamente o seu dbito, a fim de us-lo na sua atividade venda de imveis.

O suplicado corretor de imveis e adquiriu os dois imveis para us-los na sua atividade, nada mais.

Os bens adquiridos no foram vendidos a qualquer grupo participante da suposta organizao criminosa.

Mais: o indiciado sequer possui qualquer tipo de amizade com os demais presos, salvo o seu scio XXXX e o cunhado dele, XXXXX.

Veja-se que as gravaes das escutas telefnicas no comprometem o demandante em nenhuma ocasio, pelo contrrio, o que se v que ele no participa delas.

Em verdade, o paciente foi inserido, pela Polcia Federal, em um grupo ao qual no pertence.

Portanto, observe que a soltura do demandante em nada ameaa a ordem pblica, da a necessidade da revogao da sua priso.

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2.1.3. Convenincia da instruo criminal e garantia da aplicao da Lei

O crcere do suplicado no est amparado na convenincia da instruo criminal.

Descreve o requisito Guilherme de Souza Nucci:

Trata-se de motivo resultante da garantia de existncia do devido processo legal, o seu aspecto procedimental. A convenincia de todo processo que a instruo criminal seja realizada de maneira lisa, equilibrada e imparcial, na busca da verdade real, interesse maior no somente da acusao, mas sobretudo do ru. Diante disso, abalos provocados pela atuao do acusado, visando perturbao do desenvolvimento da instruo criminal, que compreende a colheita de provas de um modo geral, motivo para ensejar a priso preventiva.3

O demandante j prestou seu depoimento pessoal, contribuindo assim com as investigaes, e dessa forma no servir a manuteno do seu crcere, para a convenincia da instruo criminal, alis, todos os acusados j prestaram seus depoimentos pessoais.

Reitere-se ainda, que o suplicado possui residncia fixa e no pretende dela evadir-se, pois acredita na sua inocncia. A deciso combatida, tambm, no apontou qualquer dado concreto de possibilidade de fuga.

Da, dessume-se que a priso do demandante tem se mostrado incua e desnecessria, porquanto seu comportamento no se amolda a quaisquer das situaes que autorize sua segregao.

Mais: o preso um homem casado, pai de famlia, com dois filhos impberes, e que tem o seu trabalho como meio de sustento e, por isso, no representa qualquer perigo para a ordem pblica ou instruo.

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Idem, p. 611.

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Calha frisar, por oportuno, que no existe razo para que no seja concedida a liberdade provisria, vez que o acusado no preenche, em absoluto, os requisitos arrolados no art. 312, do CPP, consigne-se:

a) garantia da ordem pblica, ou econmica; b) convenincia da instruo criminal; c) para assegurar a aplicao da lei penal.

Conforme a lio, o que preocupa o legislador a fruio do bom andamento da instruo criminal, sem a interferncia dos acusados na produo probatria.

Admitir que a liberdade do requerente representa bice instruo admitir que, pela sua atitude e pelas suas caractersticas pessoais ele possa alterar o bom andamento de uma instruo e isso no possvel concluir com o que se tem nos autos.

Mais: a instruo processual j se encontra robusta, diante do acervo probatrio j colhido atravs das escutas telefnicas e dos depoimentos e testemunhos colhidos na Polcia Federal. Desta forma, a soltura do paciente ser indiferente para o andamento da instruo criminal. Ora, a operao xxxxx fruto de, aproximadamente, 02 (dois) anos de investigaes e, neste momento, no seria a soltura do paciente que ocasionaria um entrave s investigaes, eis que as provas que deveriam ser produzidas pela Polcia Federal j esto inseridas no inqurito policial, j concludo neste momento.

Inclusive, o paciente deseja, o mais rpido possvel, retomar as suas atividades normais e ter de volta a sua vida normal, eis que seus filhos dependem do seu trabalho para o sustento, assim como da sua esposa, que dona de casa.

Enquanto preso, os filhos do paciente e sua esposa esto passando privaes e dependendo da ajuda de familiares para sobreviver.15

Manter o paciente em crcere condenar sua famlia desgraa, faz-la passar por privaes, obrig-la a viver em misria pior: sem os requisitos legais autorizadores da sua priso.

No caso presente a manuteno da priso est a garantir a aplicao da lei, ou a ordem pblica.

No isso que se v.

Est a adiantar a aplicao de uma pena por um suposto crime, que sequer se sabe cometido pelo paciente.

Por fim, coteje-se o ementrio do Superior Tribunal de Justia acerca da excepcionalidade da priso preventiva e dos seus requisitos, in verbis:

HABEAS CORPUS - QUADRILHA E CORRUPO ATIVA PRISO PREVENTIVA - FUNDAMENTOS - REVOGAO - 1. "O juiz poder revogar a priso preventiva se, no correr do processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decret-la, se sobrevierem razes que a justifiquem" (art. 316 - CPP). 2. Logo, no mais persistindo os motivos autorizadores da custdia cautelar, revoga-se a priso ante tempus, outorgando ao paciente o benefcio da liberdade provisria, mormente quando no h, na espcie, a incidncia de dispositivos vedando concesso do aludido benefcio legal. 3. Ordem concedida. (TRF-4 R. - HC 2001.04.01.018033-7 - RS - 2 T. - Rel. Juiz lcio Pinheiro de Castro DJU 06.06.2001 - p. 1385)

o caso dos autos, onde no persistem as condies de segregao, previstas no art. 312 do CPP.

Reitere-se que a situao do paciente deve ser analisada individualmente, pois o processo principal conta com inmeros requeridos, em situaes distintas.

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O conjunto probatrio, todavia, favorece o requerido, se analisado individualmente, pois contra ele no h prova robusta, nem presuno de que, ainda que fosse verdadeira a imputao (mas no ), tornaria a delinqir.

A continuidade da produo probatria independe da priso do requerente e no h indcio de que ele venha a abalroar-lhe, de forma que a sua segregao dispensvel e somente servir para favorecer o seu suplcio - dispensvel at ento.

Importante destacar, nesse momento, que a situao das investigaes foi alterada, pois, hoje, todos os investigados j foram ouvidos e o inqurito policial j se encontra em vias de encerramento.

Neste momento, todos os investigados j foram ouvidos e todas as diligncias policiais j foram encerradas, mesmo porque foram iniciadas 02 (dois) anos antes, aproximadamente.

questionvel que, passados quase 02 (dois) anos de investigaes policiais e interceptaes telefnicas, o paciente ainda possa atrapalhar a investigao policial.

No existem razes para a manuteno do suplicante em crcere.

3 DO DEPOIMENTO PRESTADO PELO PACIENTE NO INQURITO ESCLARECIMENTO SOBRE OS FATOS MANUTENO A PRISO QUE SEQUER ANALISOU A DESNECESSIDADE DA PRISO

O presente tpico visa demonstrar que o depoimento do paciente, em sede de inqurito policial, foi esclarecedor e, por tal razo, enseja a sua soltura, pois revela sua inteno de cooperar e sua vontade de esclarecer os fatos pormenorizadamente.

Novamente, transcrevam-se os motivos explicitados pela autoridade coatora, em sua deciso, ora guerreada:17

b) Deciso

Conforme a deciso, a participao do paciente, em tese, de: a) funcionava como um laranja para o Sr. XXX, pois seguia as suas ordens e arrematava bens para ele; b) participou fraudulentamente de 02 (dois) leiles, o primeiro entregando dinheiro a Paixo e o segundo o auxiliou, juntamente com Paulo Afonso; c) indicativos de que participou da caixinha do Leilo do Municpio de Lagarto.

No que diz respeito aos fatos, respondeu o paciente em seu interrogatrio:

XXX

A transcrio acima reveladora e demonstra, como dito antes, a vontade do interrogado, ora paciente, em falar tudo o que sabe sobre os fatos.

Tambm, as declaraes revelam: i que XXX scio do paciente, o que esclarece a situao dita na deciso, de que o ltimo seria um laranja do primeiro; ii que XXX cunhado de XXX e, por isso mesmo, no cobrou qualquer valor do paciente e do seu scio para represent-los no Leilo; iii que no participou do Leilo da XXXX.

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Os fatos acima esclarecidos so importantes, pois esclarecem a situao perfeitamente: inexiste qualquer fraude, ou simulao na compra dos imveis do paciente.

Na investigao, existe uma tentativa de imputar uma manobra ilcita entre XXXXXX e o paciente fls. 747 do inqurito. Mas a situao ftica esclarecida, quando se observa que o paciente scio de fato do Sr. XXXX.

A defesa sabe que os fatos se revelam questo de mrito, mas a sua elucidao precoce serve para demonstrar que a verso apresentada pelo paciente, em seu depoimento, faz sentido, verdica.

Destaque-se que o paciente no teve o direito de se consultar com o seu advogado, antes de ser ouvido e apenas contou com o auxlio profissional no curso do seu depoimento.

De qualquer modo, importante destacar que, quanto ao Leilo da XXXXX, o paciente sequer participou.

Vale ressaltar que o Supremo Tribunal Federal, em sua jurisprudncia, consolidou a necessidade de se demonstrar, efetivamente, com provas reais, o decreto prisional cautelar:

"HABEAS CORPUS" - DENEGAO DE MEDIDA LIMINAR - SMULA 691/STF - SITUAES EXCEPCIONAIS QUE AFASTAM A RESTRIO SUMULAR - PRISO CAUTELAR DO PACIENTE ORDENADA SEM QUALQUER MOTIVAO JUSTIFICADORA DE SUA REAL NECESSIDADE POSSIBILIDADE DE DECRETAO DA PRISO CAUTELAR (OU DE SUA MANUTENO), DESDE QUE SATISFEITOS OS REQUISITOS MENCIONADOS NO ART. 312 DO CPP - NECESSIDADE DA VERIFICAO CONCRETA, EM CADA CASO, DA IMPRESCINDIBILIDADE DA ADOO DESSA MEDIDA EXTRAORDINRIA SITUAO EXCEPCIONAL NO VERIFICADA NA ESPCIE - CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO "HABEAS CORPUS" CONCEDIDO DE OFCIO - A MERA EXISTNCIA DE PROCEDIMENTOS PENAIS EM CURSO NO AUTORIZA, S POR SI, A DECRETAO DA PRISO 19

CAUTELAR DE QUALQUER PESSOA, SOB PENA DE DESRESPEITO PRESUNO CONSTITUCIONAL DE INOCNCIA - A existncia, contra o indiciado ou o ru, de inquritos policiais em curso ou de processos penais em andamento no basta, s por si, para justificar a privao cautelar de sua liberdade, eis que a ausncia, em tais situaes, de condenao penal transitada em julgado no permite nem legitima, para efeito de decretao da priso meramente processual, a formulao, contra aquele que sofre a persecuo penal promovida pelo Estado, de inferncias negativas, de presunes desabonadoras ou, at mesmo, de juzo de desvalor, sob pena de grave ofensa ao postulado constitucional que garante, a qualquer pessoa, o direito de no ser tratada como se culpada fosse, exceto quando j tornada irrecorrvel eventual sentena condenatria. P recedentes. A PRISO CAUTELAR CONSTITUI MEDIDA DE NATUREZA EXCEPCIONAL - A privao cautelar da liberdade individual reveste-se de carter excepcional, somente devendo ser decretada em situaes de absoluta necessidade. A priso preventiva, para legitimarse em face de nosso sistema jurdico, impe - Alm da satisfao dos pressupostos a que se refere o art. 312 do CPP (prova da existncia do crime e presena de indcios suficientes de autoria) - Que se evidenciem, com fundamento em base emprica idnea, razes justificadoras da imprescindibilidade dessa extraordinria medida cautelar de privao da liberdade do indiciado ou do ru. A PRISO PREVENTIVA - ENQUANTO MEDIDA DE NATUREZA CAUTELAR - NO PODE SER UTILIZADA COMO INSTRUMENTO DE PUNIO ANTECIPADA DO INDICIADO OU DO RU - A PRISO PREVENTIVA NO PODE - E NO DEVE - Ser utilizada, pelo Poder Pblico, como instrumento de punio antecipada daquele a quem se imputou a prtica do delito, pois, no sistema jurdico brasileiro, fundado em bases democrticas, prevalece o princpio da liberdade, incompatvel com punies sem processo e inconcilivel com condenaes sem defesa prvia. AUSNCIA DE DEMONSTRAO, NO CASO, DA NECESSIDADE CONCRETA DE DECRETAR-SE A PRISO CAUTELAR DO PACIENTE - Sem que se caracterize situao de real necessidade, no se legitima a privao cautelar da liberdade individual do indiciado ou do ru. Ausentes razes de necessidade, revela-se incabvel, ante a sua excepcionalidade, a decretao ou, quando for o caso, a subsistncia da priso meramente processual. (STF - HC 95.632 - Rel. Min. Celso de Mello - DJe 26.02.2010 - p. 90)

HABEAS CORPUS - PRISO PREVENTIVA - INCREPAES DE FORMAO DE QUADRILHA E ESTELIONATO DECRETO DE PRISO QUE FAZ MERA REFERNCIA S EXPRESSES DO ART. 312 DO CPP - FALTA DE FUNDAMENTAO REAL DA ORDEM DE PRISO EXCESSO DE PRAZO - TESE NO ENFRENTADA PELAS INSTNCIAS PRECEDENTES - ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESSA EXTENSO, CONCEDIDA - 1- No cabe ao Supremo Tribunal Federal examinar a tese do excesso de prazo na custdia cautelar do paciente. Isso porque se trata de u'a matria que no foi apreciada pelo Superior Tribunal de Justia. Pior: 20

nem sequer passou pelo crivo do Tribunal de Justia do Estado de So Paulo, instncia judicante que se limitou a examinar os fundamentos da priso processual do paciente. O que impede o julgamento do tema diretamente por esta nossa Corte, pena de indevida supresso de instncia. Precedentes: HCs 86.990, da relatoria do ministro Ricardo Lewandowski; 84.799, da relatoria do ministro Seplveda Pertence; 82.213, da relatoria da ministra Ellen Gracie; E 83.842, da relatoria do ministro Celso de Mello. 2- Em matria de priso provisria, a garantia da fundamentao das decises judiciais implica a assuno do dever da demonstrao de que o aprisionamento satisfaz pelo menos um dos requisitos do art. 312 do Cdigo de Processo Penal . Sem o que se d a inverso da lgica elementar da Constituio, segundo a qual a presuno de no culpabilidade prevalece at o momento do trnsito em julgado da sentena penal condenatria. 3No caso, tenho por desatendido o dever jurisdicional de fundamentao real das decises. que a ordem constritiva est assentada, to somente, na reproduo de algumas das expresses do art. 312 do Cdigo de Processo Penal . Pelo que no se enxerga no decreto de priso o contedo mnimo da garantia da fundamentao real das decises judiciais. Garantia constitucional que se l na segunda parte do inciso LXI do art. 5 e na parte inicial do inciso IX do art. 93 da Constituio e sem a qual no se viabiliza a ampla defesa nem se afere o dever do juiz de se manter equidistante das partes processuais em litgio. Noutro falar: garantia processual que junge o magistrado a coordenadas objetivas de imparcialidade e propicia s partes conhecer os motivos que levaram o julgador a decidir neste ou naquele sentido. 4- Pedido parcialmente conhecido e, nessa extenso, concedido para cassar a ordem de priso. (STF - HC 98006 - 1 T. Rel. Min. Carlos Britto - DJ 05.02.2010)

DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL - HABEAS CORPUS - GARANTIA DA ORDEM PBLICA E CONVENINCIA DA INSTRUO CRIMINAL SEGREGAO - PACIENTE PRIMRIO, COM RESIDNCIA FIXA E SEM ANTECEDENTES - PRISO PREVENTIVA REVOGAO QUE SE IMPE FACE A IRRAZOABILIDADE DE SUA FUNDAMENTAO - DESNECESSIDADE DA MANUTENO DA PRISO - PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL: A vedao legislativa da liberdade provisria inconstitucional porque ofende os direitos fundamentais presuno de inocncia, ao devido processo legal e proporcionalidade; A priso preventiva enquanto medida cautelar de natureza instrumental e excepcional no pode e no deve ser utilizada pelo Poder Pblico como instrumento de punio antecipada daquele a quem se imputou a prtica do delito, pois num sistema democrtico prevalece o princpio da liberdade, incompatvel com punies e condenaes sem o exerccio da ampla defesa. necessria, portanto, a demonstrao de situaes supervenientes e efetivas que justifi quem o sacrifcio da liberdade individual em prol da viabilidade do processo, frente aos requisitos legais do art. 312, do Cdigo de Processo Penal , devendo ser interpretados de acordo com as fi nalidades constitucionalmente legtimas da priso processual, quais sejam, que no se confunde com o cumprimento de pena antecipada; O clamor pblico, ou expresses equivalentes, ainda que se trate de 21

crime hediondo, no justifi ca, por si s, a decretao ou a manuteno da priso cautelar, sob pena de completa aniquilao do postulado fundamental da liberdade e de ganhar a medida contornos de pena ainda no imposta; Transposta a necessidade da priso provisria por um de seus requisitos, face a regular tramitao do feito, sem surgimento de fato superveniente que assegure sua manuteno, assumindo ntido carter de pena antecipada sujeita a juzos incompatveis com a segurana jurdica, por violar o devido processo legal, a presuno de inocncia e os princpios da razoabilidade e proporcionalidade. ORDEM CONCEDIDA, em dissonncia com parecer ministerial. Acordam os Desembargadores que compem a Egrgia Segunda Cmara Criminal do Tribunal de Justia do Estado do Amazonas, por unanimidade CONCEDER ORDEM, em dissonncia com o parecer do Ministrio Pblico, nos termos e fundamentos do voto do relator. (TJAM - HC 2010.001939-2 - 2 C.Crim. - Rel. Des. Rafael de Arajo Romano - DJe 02.06.2010 - p. 10)

Ora, de tal modo, a manuteno do paciente em crcere revela-se medida completamente desnecessria, eis que falou tudo o que sabia sobre os fatos e no seria sua soltura que desencadearia problemas para as investigaes.

O paciente precisa voltar ao trabalho e tal situao apenas lhe causa temor no esprito, pois sua famlia est desamparada.

4 DA PENA PREVISTA, EM TESE, PARA OS TIPOS PENAIS PRINCPIO DA CONSUNO DEMANDADO QUE NO PARTICIPA DE QUALQUER QUADRILHA DESPROPORCIONALIDADE DA MEDIDA CAUTELAR

Os delitos, em tese imputado ao suplicado, so de menor relevncia.

Ora, o delito de fraude a arrematao judicial, art. 358, possui como pena prevista a deteno de 02 (dois) meses a um ano.

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No que tange ao delito de falsidade ideolgica, utilizado para incrementar a tipicidade da suposta conduta, ele absorvido, pelo princpio da consuno, pelo delito do art. 358 do CP, eis que se trata de um delito meio.

A fraude pressuposto para a realizao da suposta fraude arrematao judicial. Logo, tratando-se a falsidade como meio de alcanar a fraude, seria ela absorvida pelo delito central.

Neste entendimento, analisando friamente o caso concreto, os delitos imputados ao suplicado no seriam suficientes para uma pena de recluso e, portanto, insuficientes para a sua manuteno no crcere.

De tal modo, a priso preventiva seria medida mais grave que a sua condenao, se condenado fosse.

H desproporcionalidade.

Mas no basta.

O demandado sequer conhece os demais presos, no mantendo qualquer relao negocial ou de amizade com eles.

Os nicos envolvidos na Operao Arremate, que o conhecem so o seu scio, Paulo Afonso, e o cunhado do seu scio, XXX.

A prpria deciso judicial, que determinou o crcere e a investigao policial no demonstra qualquer contato do suplicante com as pessoas que, supostamente, integram a operao ilcita.

Assim, ainda que embrionariamente, questionvel a imputao ao suplicante do delito de formao de quadrilha ou bando.

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O raciocnio imprescindvel para comprovar que, ainda que em tese, os delitos imputados ao suplicado no so de grande relevncia, considerando a pena abstratamente cominada.

Ao paciente, como j dito, so imputadas as condutas tipificadas nos artigos 288, 299, 358, todos do CP.

O delito de formao de quadrilha traz, em seu preceito secundrio, uma pena de 01 (hum) a 03 (trs) anos de recluso.

J a falsidade ideolgica prevista no art. 299 do CP, comina uma reprimenda de 01 (hum) a 05 (cinco) anos de recluso.

No que concerne ao art. 358 do CP (fraude em arrematao judicial), a lei penal atribui uma pena de 02 (dois) meses a 01 (hum) ano de deteno.

Veja-se que, muitos dos delitos acima delineados so de menor potencial ofensivo (Art. 358 do CP e 2, I, Lei 8.137/90) e, se analisados separadamente, seriam passiveis de transao penal.

Aos remanescentes, nos termos do art. 89 da lei 9.099/99, caberia a aplicao da suspenso condicional do processo.

De plano, verifica-se que os delitos atribudos so de menor lesividade social, sendo medida desproporcional a manuteno do paciente no crcere.

Nenhum deles foi, supostamente, praticado mediante o uso de violncia ou grave ameaa.

Por outro lado, a manuteno da priso do suplicado apenas lhe afastar do seu trabalho e da sua famlia, privando-o do seu sustento e da manuteno do seu lar, como dito anteriormente.

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O suplicado profissional liberal e cada dia que passa no crcere uma ndoa sua imagem perante a sociedade, o que, aliado interrupo do seu trabalho, poder lhe reduzir condio de miserabilidade.

Muito pior: no h certeza do envolvimento do paciente no esquema criminoso, como se nota da prpria deciso que concedeu a priso preventiva:

a) indicativos de que fez parte da diviso da caixinha do Leilo do Municpio de Lagarto/SE (03/12/2010).

A fragilidade da prova tal, que a prpria deciso diz que apenas existem indicativos de participao.

Imagine-se, ento, Preclaro Julgador, que o demandado esteja preso preventivamente, por exatos 14 (catorze dias) e, posteriormente, venha-se a verificar que ele est preso sem possuir qualquer relevncia para a operao arremate.

O prejuzo para a sua imagem e para o seu trabalho j incomensurvel, e no se pode tentar adiantar uma pena, em tese, atravs da priso cautelar.

O paciente, como dito, participou de leiles para arrematar bens e us-los em sua atividade comercial, pois se trata de um corretor de imveis.

Os delitos a ele imputados possuem uma pena cominada de baixa relevncia e, portanto, falta proporcionaldiade medida cautelar. Valioso o ensinamento do STJ:

PROCESSO PENAL - HABEAS CORPUS - RECEPTAO LIBERDADE PROVISRIA MEDIANTE FIANA (1) PRISO DE UM DOS PACIENTES - INCIO DO CUMPRIMENTO DE PENA - MODIFICAO DO QUADRO FTICO - WRIT EM PARTE PREJUDICADO (2) QUEBRA - MOTIVAO IMPROPRIEDADE (3) FUNDAMENTO PARA PRISO PREVENTIVA - REFERNCIAS GENRICAS - IDONEIDADE - AUSNCIA (4) PRIMARIEDADE - CRIME SEM VIOLNCIA OU GRAVE AMEAA - PRISO - PROPORCIONALIDADE VIOLAO (...) 2- A priso processual medida odiosa, 25

marcada pelo signo da imprescindibilidade, sendo imperioso alinhar-se, para tanto, elementos concretos. 3- A simples meno, genrica, aos termos do art. 312 do Cdigo de Processo Penal , no autoriza a providncia extrema. 4- Sendo os pacientes primrios, presos em flagrante pelo art. 180 do Cdigo Penal - Delito sem violncia ou grave ameaa-, com pena mnima de um ano de recluso, revela-se como excessiva a priso provisria, tendo em conta o carter instrumental das cautelares penais e o princpio da proporcionalidade. 5- Ordem prejudicada em relao ao paciente FLVIO RODRIGUES (cassada a liminar que lhe foi deferida), e, no tocante ao paciente MARCELO DA SILVA XAVIER, acolhido o parecer ministerial e confirmada a liminar, concedo a ordem para assegurar a liberdade provisria, mediante compromisso de comparecimento a todos os atos processuais, especificamente em relao aos autos da Ao Penal controle 276/2008, da 2 Vara Judicial da Comarca de Mairipor/SP. (STJ - HC 127.615 (2009/0019977-0) - 6 T. - Rel Min Maria Thereza de Assis Moura DJe 21.02.2011 - p. 1468) grifo intencional

HABEAS CORPUS - LESO CORPORAL E AMEAA CRIMES ABRANGIDOS PELA LEI N 11.340/2006 (LEI MARIA DA PENHA) - PRISO PREVENTIVA DESCUMPRIMENTO DE MEDIDA PROTETIVA DE URGNCIA FUNDAMENTO INSUFICIENTE NECESSIDADE DE DEMONSTRAO DOS REQUISITOS QUE AUTORIZAM A CUSTDIA CAUTELAR - ART. 312 DO CDIGO DE PROCESSO PENAL - ORDEM CONCEDIDA (...) 2- imprescindvel que se demonstre, com explcita e concreta fundamentao, a necessidade da imposio da custdia para garantia da ordem pblica, da ordem econmica, por convenincia da instruo criminal ou para assegurar a aplicao da Lei penal, sem o que no se mostra razovel a privao da liberdade, ainda que haja descumprimento de medida protetiva de urgncia, notadamente em se tratando de delitos punidos com pena de deteno. 3- Ordem concedida. (STJ - HC 100.512 - (2008/0036514-3) - Rel. Min. Paulo Gallotti - DJe 23.06.2008 - p. 2578)

Portanto, o crcere do suplicado revela-se medida extrema, cujos fundamentos no mais persistem.

5 DA PRISO EM FLAGRANTE POR POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DELITO AFIANVEL DESPROPORCINALIDADE ARMA DE FOGO QUE FOI ENTREGUE ESPONTANEAMENTE E DE BOA F, SEM A NECESSIDADE DE BUSCA E APREENSO

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No presente remdio herico, tambm, analisada a desnecessidade da priso em flagrante, decorrente da posse e porte irregular de arma de fogo.

Conforme os termos do auto de priso em flagrante e conforme os depoimentos dos condutores, por ocasio da busca e apreenso de documentos na residncia do paciente, lhe foi questionado se ele possua arma de fogo.

Prontamente, o paciente revelou que possua a arma e que seu porte estava irregular, indicando onde estava a arma e a sua munio.

A arma, conforme o documentrio, estava guardada em local apropriado e desmuniciada. Seus projteis, por sua vez, estavam acondicionados dentro do estojo prprio.

A despeito da sua priso em flagrante, o demandado no tentou justificar sua conduta, ou mesmo criar verses para evadir-se.

De fato, o requerido tinha a posse de arma de fogo, permitida, cujo porte e registro esto vencidos, desde o ano de 2009.

A falta de renovao do registro e do porte decorre do desuso da arma, eis que no mais a utiliza.

O que motivou o suplicado a adquirir a arma de fogo e tirar o seu porte foi a necessidade que tinha de viajar, constantemente, a trabalho.

Hoje, o suplicado no mais viaja e o uso da arma no mais necessrio. Todavia, por descuido, deixou de renovar o seu registro e porte, em decorrncia de contnuas postergaes.

De qualquer modo, o delito pelo qual o suplicado est preso no motivo para a sua manuteno no crcere, eis que apenas punido com deteno:

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Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessrio ou munio, de uso permitido, em desacordo com determinao legal ou regulamentar, no interior de sua residncia ou dependncia desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsvel legal do estabelecimento ou empresa: Pena deteno, de 1 (um) a 3 (trs) anos, e multa.

Tambm, por tal razo, a manuteno do suplicado em crcere medida deveras desproporcional.

Ademais, observa-se que o delito pelo qual o suplicado est preso admite a concesso de fiana.

No caso presente, inexistem razes para a negativa da fiana, mas ela simplesmente no foi concedida pela autoridade policial, sem qualquer motivo.

O Cdigo de Processo Penal estabelece:

Art. 323. No ser concedida fiana: I - nos crimes punidos com recluso em que a pena mnima cominada for superior a 2 (dois) anos; (Redao dada pela Lei n 6.416, de 24.5.1977) II - nas contravenes tipificadas nos arts. 59 e 60 da Lei das Contravenes Penais; (Redao dada pela Lei n 6.416, de 24.5.1977) III - nos crimes dolosos punidos com pena privativa da liberdade, se o ru j tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentena transitada em julgado; (Redao dada pela Lei n 6.416, de 24.5.1977) IV - em qualquer caso, se houver no processo prova de ser o ru vadio; V - nos crimes punidos com recluso, que provoquem clamor pblico ou que tenham sido cometidos com violncia contra a pessoa ou grave ameaa. (Includo pela Lei n 6.416, de 24.5.1977)

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Art. 324. No ser, igualmente, concedida fiana: I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiana anteriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigaes a que se refere o art. 350; II - em caso de priso por mandado do juiz do cvel, de priso disciplinar, administrativa ou militar; III - ao que estiver no gozo de suspenso condicional da pena ou de livramento condicional, salvo se processado por crime culposo ou contraveno que admita fiana; IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretao da priso preventiva (art. 312). (Includo pela Lei n 6.416, de 24.5.1977)

No caso presente, inexistem razes para que a fiana seja negada ao suplicante, que, inclusive, confessou o delito.

Manter o suplicado no crcere, sobretudo, afast-lo do seu trabalho e da sua famlia, podendo lev-lo condio de miserabilidade.

Eis o que diz a jurisprudncia:

HABEAS CORPUS - POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO - PRISO EM FLAGRANTE Pedido de liberdade provisria indeferido ao fundamento de garantia da ordem pblica. Reiterao criminosa. Ordem denegada. 1- No obstante o crime de posse irregular de arma de fogo de uso restrito tenha sido praticado sem violncia ou grave ameaa pessoa, a folha penal do paciente justifica a manuteno de sua priso, em atendimento ao requisito de garantia da ordem pblica, diante da probabilidade de que volte a delinquir. 2- O paciente ostenta uma condenao, mantida em sede de apelao, mas no transitada em julgado, pela prtica dos crimes previstos no artigo 180, caput, do cdigo penal , e artigo 16, pargrafo nico, inciso IV, da lei 10.826/03 , alm de que responde a uma ao penal pelo crime de tentativa de homicdio, o que demonstra que o paciente revela destemor e no se intimida com a aplicao da lei penal, voltando a delinquir. 3- Habeas corpus admitido e ordem denegada para manter a deciso que indeferiu pedido de liberdade provisria em favor do paciente. (TJDFT - HC 20100020152531 - (468155) - Rel. Des. Roberval Casemiro Belinati - DJe 10.12.2010 - p. 105)

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HABEAS CORPUS - PRISO EM FLAGRANTE POR INFRAO AOS ARTS. 12 E 14 DA LEI 10.826/03 - Alegao de atipicidade da conduta em face do disposto no art. 32 do mesmo diploma legal. Trancamento da ao penal - Impossibilidade. Conduta descrita que se ajusta ao tipo de porte ilegal de arma e no de posse irregular. Concesso parcial da ordem para que a paciente responda a ao penal em liberdade. Se os fatos narrados no auto de priso em flagrante esto a revelar que a paciente, no interior dos muros de seu terreno apontava a arma para terceiros, essa conduta, em tese, amoldase ao tipo previsto no art. 14 do estatuto do desarmamento, e no conduta tipificada como posse irregular de arma de fogo de uso permitido. Por isso mesmo, no h que se falar em atipicidade da conduta em face do que dispe o art. 32 da Lei 10.826/03. Conseqentemente, no merece ser acolhido o pleito de trancamento da ao penal, concedendo-se, no entanto, a ordem impetrada, para que a paciente responda ao processo em liberdade, sob o compromisso de comparecimento a todos os seus atos ( art. 310, caput, in fine, do CPP ). (TJDFT - HBC 20040020087978 - 2 T.Crim. - Rel. Des. Romo C. Oliveira - DJU 12.05.2005 - p. 64)

HABEAS CORPUS - POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO - LIBERDADE PROVISRIA - INDEFERIMENTO - DECISO PRIMEVA CARENTE DE FUNDAMENTAO - INTELIGNCIA DO ART. 93, IX, DA CONSTITUIO DA REPBLICA - CONSTRANGIMENTO ILEGAL - OCORRNCIA - ORDEM CONCEDIDA - I- A doutrina e jurisprudncia entendem que toda e qualquer espcie de priso, antes do trnsito em julgado da sentena condenatria, tem natureza cautelar, o que significa dizer, deve estar devidamente comprovada a necessidade de tal restrio da liberdade. II- Se a deciso que contm o indeferimento de pedido de liberdade provisria no est fundamentada em dados concretos dos autos, deve ser cassada, para que se veja restabelecida a liberdade do paciente. IIIOrdem concedida. (TJMG - HC 1.0000.09.495853-5/000 - 5 C.Crim. - Rel. Alexandre Victor de Carvalho - J. 22.06.2009 )

Conforme se verifica da transcrio acima, a ausncia de grave ameaa e violncia permite que o paciente seja posto em liberdade.

, justamente, o caso dos autos, em que o paciente entregou espontaneamente a sua arma de fogo, cujo o registro e porte estavam apenas vencidos.

Por todo o exposto que a priso do paciente deve ser revogada, permitindo ao autor rever a sua famlia e seguir com seu trabalho, que digno, apenas lhe garante o sustento dos seus, permitindo, tambm que ele diga.30

5 REQUERIMENTOS

Diante de todo o exposto, requer, mui respeitosamente, a concesso da ordem no presente habeas corpus, para que o paciente possa ser imediatamente reintegrado ao convvio social, vez que no esto presentes os requisitos determinados pelo art. 312 do CPP, mediante o compromisso de comparecer a todos os atos do processo e da investigao policial.

Requer tambm o arbitramento de fiana quanto ao delito tipificado no art. 12 do estatuto do desarmamento, uma vez que se trata de infrao afianvel.

Nestes termos, pede deferimento.

Aracaju, 12 de maio de 2011.

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