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DIÓGENES GOMES VIEIRA 81 VENDA PROIBIDA - CORTESIA DO DR. DIÓGENES GOMES Acesse: www.militaresdepernambuco.com.br CAPÍTULO 4 HABEAS CORPUS NAS TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES 4. Introdução 4.1. Conceituação de transgressão disciplinar 4.2. Como identificar se uma punição é ilegal? 4.3. O que é o habeas corpus? 4.4. É possível impetrar habeas corpus contra punição disciplinar ilegal? 4.5. É necessário esgotar as vias administrativas para somente após impetrar habeas corpus? 4.6. Qual órgão do Poder Judiciário é competente para analisar o habeas corpus contra punição disciplinar imposta aos militares das Forças Armadas? 4.7. Policiais e Bombeiros militares: competência da Justiça Militar Estadual para processar e julgar o habeas corpus contra punição disciplinar 4.8. Quem pode impetrar (ajuizar) um habeas corpus? É obrigatória a contratação de um Advogado? Há despesas com o Poder Judiciário? 4.9. Como elaborar uma petição de habeas corpus? 4.9.1. Espécies de habeas corpus: preventivo e liberatório 4.9.2. Quem é a autoridade coatora na habeas corpus? 4.9.3. Quais os documentos necessários para juntar à petição inicial do habeas corpus? 4.9.4. Como ajuizar o habeas corpus perante o Poder Judiciário? 4.9.5. Modelos simples de petições de habeas corpus 4.9.6. A liminar em sede de habeas corpus 4.10. Recursos em caso de indeferimento da petição inicial ou denegação da ordem de habeas corpus? 4.11. A autoridade coatora está passível de ser processada criminalmente por algum crime, caso a prisão disciplinar seja considerada ilegal pelo Poder Judiciário? 4.12. É possível obter indenização por danos morais devido à prisão disciplinar ilegal? 4.13. Relação dos endereços do Supremo Tribunal Federal e das principais Varas Federais (Justiça Federal) para impetração do habeas corpus 4.14. Conclusão Esta é uma cortesia do Dr. Diógenes Gomes a todos os militares deste País. O site do autor é: www.diogenesadvogado.com Visite o site de Pernambuco: www.militaresdepernambuco.com.br Visite a Revista do Direito Militar: www.revistadodireitomilitar.com O livro completo pode ser adquirido no seguinte site: www.editoradfjuridica.com

HABEAS CORPUS NAS TRANSGRESSÕES DISCIPLINARES

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CAPÍTULO 4

HABEAS CORPUS NASTRANSGRESSÕES DISCIPLINARES

4. Introdução4.1. Conceituação de transgressão disciplinar4.2. Como identificar se uma punição é ilegal?4.3. O que é o habeas corpus?4.4. É possível impetrar habeas corpus contra punição disciplinar ilegal?4.5. É necessário esgotar as vias administrativas para somente após impetrar habeas corpus?4.6. Qual órgão do Poder Judiciário é competente para analisar o habeas corpus contra punição

disciplinar imposta aos militares das Forças Armadas?4.7. Policiais e Bombeiros militares: competência da Justiça Militar Estadual para processar e

julgar o habeas corpus contra punição disciplinar4.8. Quem pode impetrar (ajuizar) um habeas corpus? É obrigatória a contratação de um

Advogado? Há despesas com o Poder Judiciário?4.9. Como elaborar uma petição de habeas corpus?4.9.1. Espécies de habeas corpus: preventivo e liberatório4.9.2. Quem é a autoridade coatora na habeas corpus?4.9.3. Quais os documentos necessários para juntar à petição inicial do habeas corpus?4.9.4. Como ajuizar o habeas corpus perante o Poder Judiciário?4.9.5. Modelos simples de petições de habeas corpus

4.9.6. A liminar em sede de habeas corpus

4.10. Recursos em caso de indeferimento da petição inicial ou denegação da ordem de habeas

corpus?4.11. A autoridade coatora está passível de ser processada criminalmente por algum crime,

caso a prisão disciplinar seja considerada ilegal pelo Poder Judiciário?4.12. É possível obter indenização por danos morais devido à prisão disciplinar ilegal?4.13. Relação dos endereços do Supremo Tribunal Federal e das principais Varas Federais

(Justiça Federal) para impetração do habeas corpus

4.14. Conclusão

Esta é uma cortesia do Dr. Diógenes Gomes a todos os militares deste País.O site do autor é: www.diogenesadvogado.com

Visite o site de Pernambuco: www.militaresdepernambuco.com.br

Visite a Revista do Direito Militar: www.revistadodireitomilitar.com

O livro completo pode ser adquirido no seguinte site:www.editoradfjuridica.com

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4. INTRODUÇÃO

Durante os últimos anos de minha carreira militar, vários foram os habeas corpus ou writ104 pormim impetrados contra punições disciplinares ilegais e arbitrárias, sendo que em muitos obtivevitória. Ocorreu, entretanto, que um deles acabou por atingir um Coronel da Força Aérea Brasileira –Comandante de uma Base Aérea – que foi processado pelo crime de abuso de autoridade por ter meprendido ilegalmente com 06 (seis) dias de prisão disciplinar, e atualmente está cumprindo um“acordo criminal” proposto pelo MPF (ver anexo 1).

No decorrer deste tópico citarei exemplos práticos, demonstrando, inclusive, matériasjornalísticas, documentos oficiais e decisões judiciais, ressaltando que não pretendo ofender qualquermilitar das Forças Armadas ou mesmo a Instituição. Meu objetivo é unicamente dar esclarecimentosaos militares, estudantes e Advogados, sobre o instituto do habeas corpus nas transgressõesdisciplinares militares, e nada melhor do que estudar um assunto com exemplos práticos quefuncionaram comigo quando militar da Aeronáutica.

Alguns poderão, desde logo, ter feito o seguinte questionamento: mas isso não vai “me queimar”,não vai atrapalhar minha carreira, não vou ser perseguido se impetrar um habeas corpus contra meusuperior hierárquico, etc., etc.??? É possível sim!!! Assim como será possível, também, que estesuperior hierárquico tenha grandes “dores de cabeça”105 com um processo criminal por abuso deautoridade: isso acaba com a carreira de qualquer Oficial, ainda mais quando desejam passar doposto de Coronel.

Porém, existe um meio do militar ficar imune às perseguições, pelo menos na teoria: qualquerpessoa pode impetrar habeas corpus em favor de um militar preso: esposa, filho, colega, primo oudesconhecido (isso mesmo, até pessoas estranhas: não há necessidade de procuração para terceirosimpetrarem habeas corpus).

A prisão disciplinar ilegal, arbitrária ou abusiva pode gerar, pelo menos, 02 (duas)conseqüências, que serão discorridas no decorrer deste tema: a) a autoridade militar que abusou desua autoridade, agindo ilegalmente, quando ordenou a prisão disciplinar do militar estará passível deser processada106 e julgada por crime de abuso de autoridade e b) o militar preso ilegalmente poderárequerer indenização por danos morais na Justiça Federal.

Pretendo que, após a leitura deste capítulo, qualquer pessoa, civil ou militar, possa elaborar eajuizar uma ação de habeas corpus perante ao Poder Judiciário. E, como sempre, utilizarei a linguagemmais simples possível e caso tenha que utilizar termos técnicos, farei esclarecimentos: este livro édirigido, especialmente para leigos (militares e civis) e não voltado para a seara acadêmica, logo alinguagem tem que ser simples e será este meu objetivo. Também não discorrei sobre o histórico doinstituto do habeas corpus, como origem, desenvolvimento e teorias, por exemplos, pois este livro é,conforme o título, um manual prático. Todavia, caso o leitor queira se aprofundar no tema, bastarárecorrer aos livros disponíveis em livrarias ou bibliotecas públicas.

E por último uma reflexão: já pararam para pensar porque a Aeronáutica, Exército e Marinhanão divulgam nos Boletins Oficiais a íntegra das decisões judiciais que favorecem os militares? Mas,entretanto, já repararam que quando a decisão é desfavorável ao militar, divulgam a íntegra da mesma?

104 Writ é uma expressão inglesa utilizada no direito brasileiro, comumente, para identificar o mandado de segurança, o habeas

corpus e o habeas data.105 É possível até mesmo a perda do posto.106 Prevê o art. 41 do Estatuto dos Militares: “Art. 41. Cabe ao militar a responsabilidade integral pelas decisões que tomar, pelasordens que emitir e pelos atos que pratica.”.

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4.1. CONCEITUAÇÃO DE TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR

Primeiramente, não há de se confundir transgressão disciplinar107 com crime militar108, poissão delitos distintos, sendo possível, obviamente, a utilização do habeas corpus em ambos, desdeque presente ilegalidade ou abuso de poder.

Célio Lobão109, após discorrer sobre teorias nacionais e estrangeiras, concluiu que o crimemilitar pode ser assim conceituado:

“Nessa linda de raciocínio, em face do direito positivo brasileiro, o crime militar éa infração penal prevista na lei penal militar que lesiona bens ou interessesvinculados à destinação constitucional das instituições militares, às suasatribuições legais, ao seu funcionamento, à sua própria existência, no aspectoparticular da disciplina, da hierarquia, da proteção à autoridade militar e ao serviçomilitar.”

Há militares que acreditam que somente o militar poderá cometer delitos penais militares, oque não é verdade, pois há crimes militares que poderão ser cometidos por civis110.

As transgressões disciplinares estão previstas nos regulamentos militares111, sendo que aconceituação mais recente é a fornecida pelo Regulamento do Exército que muito se aproxima dasgarantias constitucionais de 1988. Ou seja, está em mais harmonia com a CF/88, já os regulamentosda Marinha e Aeronáutica foram elaborados quando o País estava sob a Ditadura Militar.

Então vejamos o art. 14 do Decreto nº 4.346/02:

“Art. 14. Transgressão disciplinar é toda ação praticada pelo militar contrária aospreceitos estatuídos no ordenamento jurídico pátrio ofensiva à ética, aos deverese às obrigações militares, mesmo na sua manifestação elementar e simples, ou,ainda, que afete a honra pessoal, o pundonor militar e o decoro da classe.§ 1º Quando a conduta praticada estiver tipificada em lei como crime oucontravenção penal, não se caracterizará transgressão disciplinar....”

O § 1º faz uma importante ressalva, onde esclarece que se a transgressão estiver tambémtipificada como crime ou contravenção penal, não estará caracterizado a falta disciplinar, mas sim ocrime ou a contravenção.

Vejamos um exemplo do próprio regulamento do Exército que no caso é o inciso 12 do anexoI (Relação de Transgressões):

“12. Desrespeitar, retardar ou prejudicar medidas de cumprimento ou ações deordem judicial, administrativa ou policial, ou para isso concorrer;”

Agora vejamos o art. 330 do Código Penal:

107 A transgressão disciplinar é um “delito” administrativo.108 Crime Militar é o delito penal especial definido no Código Penal Militar de 1969. (Elaborado pelos Ministros da Aeronáutica,Exército e Marinha em pleno auge máximo da Ditadura Militar, assim como seu Código de Processo Penal Militar, sendo umCódigo muito “severo”).109 LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. Editora Brasília Jurídica, 2006. 3ª edição. pág. 56.110 Não me aprofundarei nesta questão, talvez em outro livro, mas dou exemplos de 02 (dois) clientes civis que estão sendoacusados por cometimento de crime militar e estão sendo defendidos por mim na 7ª Circunscrição da Justiça Militar (Recife/PE).111 Marinha: Decreto nº 88.545/83 - Exército: Decreto nº 4.346/02 - Aeronáutica: Decreto nº 76.322/75.

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“DesobediênciaArt. 330. Desobedecer a ordem legal de funcionário público:Pena – detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, e multa.”

Desta forma, se o militar, por exemplo, desrespeitar uma ordem judicial, praticará, em tese, odelito penal previsto no art. 330 e não transgressão disciplinar.

4.2. COMO IDENTIFICAR SE UMA PUNIÇÃO DISCIPLINAR É ILEGAL?

Primeiramente, deve-se, desde já, deixar muito bem esclarecido que não é possível questionaro mérito da punição112 disciplinar perante o Poder Judiciário. Ou seja, não é cabível questionar se apunição foi justa ou injusta: isso não é possível, pois é matéria atinente somente à AdministraçãoCastrense, é uma questão discricionária das Forças Armadas e das Forças Auxiliares (Polícia eBombeiros Militares).

Celso Antônio Bandeira de Mello113 assim conceitua o que seja um ato discricionário:

“Atos “discricionários”, pelo contrário, seriam os que a Administração praticacom certa margem de liberdade de avaliação ou decisão segundo critérios deconveniência e oportunidade formulados por ela mesma, ainda que adstrita à lei

reguladora da expedição deles.”

Após a leitura do ensinamento do Mestre Bandeira de Mello, podemos, sem sombra dedúvidas, afirmar o seguinte: a) os Regulamentos Militares Disciplinares são normas específicas aserem aplicadas aos integrantes de cada Força Armada ou Força Auxiliar; b) os própriosRegulamentos Disciplinares conferem poderes discricionários aos superiores hierárquicos parapunirem seus subordinados; e c) nestas Normas Disciplinares há grande poder de discricionariedadede avaliação e decisão por parte dos superiores hierárquicos.

Devido a tais poderes de avaliação e decisão, que poderão ser identificados na leitura dosregulamentos disciplinares das Forças Armadas114 e Auxiliares, é que o Poder Judiciário está impedidode analisar o mérito (justo ou injusto) da punição disciplinar, pois tal ato administrativo está adstritounicamente à Administração.

Entretanto, importante ressaltar que a Administração Castrense não possui poder discricionárioilimitado, pois nos próprios regulamentos constam atos vinculados, que assim são definidos porBandeira de Mello:

“Atos vinculados seriam aqueles em que, por existir prévia e objetiva tipificaçãolegal do único possível comportamento da Administração em face de situaçãoigualmente prevista em termos de objetividade absoluta, a Administração, aoexpedi-los, não interfere com apreciação subjetiva alguma.”

Mas, então, o que isso tudo quer dizer? Significa que o superior hierárquico detém poderesdiscricionários para avaliar a transgressão disciplinar e poder decisório sobre a mesma. Entretanto,àquele está obrigado a cumprir certas regras discriminadas nos regulamentos, na CF/88 e demais

112 O Advogado poderá ser contratado para acompanhar todo o processo administrativo disciplinar, acompanhando o depoimentodo militar, requerer diligências e cópias dos autos, arrolar testemunhas, elaborar a defesa técnica, recursos, etc.113 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. Malheiros Editora: São Paulo, 2002. 14ª ed., pág. 380.114 Os regulamentos das Forças Armadas e alguns das Forças Auxiliares poderão ser visualizados no meu site www.diogenesadvogado.com(link “Manual Prático do Militar”).

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normas115 jurídicas superiores. Se descumprir uma norma jurídica, estará cometendo um ato ilegalou inconstitucional. E se descumprir a “lei” estará ultrapassando de seu poder administrativo, e emconsequência o Poder Judiciário poderá analisar a punição disciplinar.

Porém, ressalte-se, a ilegalidade da punição disciplinar não estará restrita ao descumprimentodos regulamentos militares, mas sim, ou melhor, principalmente, quando houver quaisquerdesconformidades com a CF/88 e demais leis do País, e ainda, a alguns Tratados Internacionais deque o Brasil faça parte. Ademais, oportuno mencionar que os Regulamentos Disciplinares daAeronáutica e Marinha foram promulgados antes da promulgação da CF/88, ambos possuindo, nãoraro, normas incompatíveis com a Carta Maior Democrática de 1988 e demais leis e darei comoexemplo o inciso 5 do art. 34 do RDAER:

“Art. 34. Nenhuma punição será imposta sem ser ouvido o transgressor e semestarem os fatos devidamente apurados....5 - Os detidos para averiguações podem ser mantidos incomunicáveispara interrogatório da autoridade (grifo meu) a cuja disposição se achem. Acessação da incomunicabilidade depende da ultimação das averiguaçõesprocedidas com a máxima urgência, não podendo, de qualquer forma, o períodode incomunicabilidade ser superior a quatro dias.”

Entretanto, se algum superior hierárquico aplicar tal dispositivo regulamentar, proibindo umAdvogado de se comunicar116 com seu cliente, estará descumprindo o art. 7ª, inciso III, do Estatutoda Advocacia (Lei nº 8.906/94), que assim proíbe a incomunicabilidade entre Advogado e cliente:

“Art. 7º São direitos do advogado:...III - comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo semprocuração, quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos emestabelecimentos civis ou militares, ainda que considerados incomunicáveis;...”

Caso o Advogado seja proibido de comunicar-se com seu cliente militar ou impedido departicipar de audiência de interrogatório de algum processo administrativo disciplinar e o cliente viera ser punido ou estar na iminência de o ser; será possível ao Judiciário analisar o mérito da puniçãoou de sua iminência através do habeas corpus liberatório117 ou preventivo.

115 Quando citar a palavra “norma” neste livro, estarei me referindo, genericamente, a qualquer portaria, decreto, lei ordinária, leicomplementar, CF/88, tratado internacional, etc.116 E estará, também, cometendo o delito de abuso de autoridade contra o exercício profissional da Advocacia, nos termos doart. 2º, letra “a” da Lei nº 4.898/65.117 No decorrer deste capítulo há um tópico especial para definir as modalidades do writ.

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Agora, voltando ao nosso estudo prático, o que podemos fazer para descobrir se há algumailegalidade no trâmite do processo administrativo disciplinar. Ou seja, nos procedimentos, nojulgamento, na definição da pena imposta ou na própria execução118 da pena disciplinar? Dou asseguintes orientações sobre como identificar se uma punição é ilegal:

a) PRIMEIRO: ler o Regulamento Disciplinar da respectiva Força Armada ou Auxiliar, a fim deverificar se os trâmites processuais estão sendo respeitados, como, por exemplo, o prazopara apresentação de defesa escrita119; e analisar se a punição imposta está em consonânciacom o Regulamento, etc.; e

b) SEGUNDO: verificar se a norma porque está sendo punido é legal, ou seja, se está emconsonância com norma legal superior. Exemplo: o RDAER é um decreto120, logo, se algumdispositivo desta norma for contrário a CF/88 ou outra norma superior, a aplicação da puniçãoserá ilegal. Certa vez fui punido por não ter esgotado previamente a esfera administrativa antesde impetrar um habeas corpus, ou seja, fui acusado de ter descumprido o art. 51, § 3º, doEstatuto dos Militares (Lei nº 6.880/80). Porém, esta norma militar não foi recepcionada pelaCF/88, logo, a punição imposta era ilegal (ver capítulo 5), onde, inclusive foi deferida liminar,com expedição de alvará de soltura, sendo que a autoridade coatora (Coronel) foi processadapor crime de abuso de autoridade (ver anexo 8). O MPF também fez uma recomendação aoCoronel, conforme se poderá averiguar na notícia (ver anexo 15) publicada no Jornal de Hoje(Natal/RN).

Em relação à parte processual do processo administrativo, em regra, será ilegal qualquer atoque descumpra o preceito constitucional à ampla defesa e ao contraditório no âmbito administrativo,conforme disposição contida no inciso LV do art. 5º da CF/88:

118 É possível, também, impetrar habeas corpus em relação à execução da pena disciplinar, pois esta poderá estar sendo abusivae darei um exemplo ocorrido comigo na Base Aérea do Recife: em 2006 fui preso disciplinarmente por 6 (seis) dias no Hotelde Trânsito dos SO e SGT e o Comandante da OM ordenou aos seus Oficiais que me acordassem de hora em hora durante todanoite durante os 6 (seis) dias! Isso mesmo, tortura psicológica!!! Ocorreu, entretanto, que na mesma noite preparei (escondido)um habeas corpus escrito à mão e consegui passar para um colega de farda dar entrada (dei-lhe as mesmas orientações que façoneste capítulo) na Justiça Federal e que após entregasse uma cópia no Ministério Público Federal. Ocorreu, que no dia seguinte:um Juiz Federal marcou uma audiência com o Comandante da OM (que faltou!) e comigo (imaginem como as autoridadesmilitares ficaram). À época houve grande resistência de me levarem para frente do Juiz Federal, sendo que até ordem de prisãocontra o Ex-Comandante da BARF havia sido expedida pelo Juiz Federal, não sendo cumprida porque a Aeronáutica me levoupara a Justiça Federal a tempo! Na audiência estava um Advogado da União e o Procurador da República (Ministério PúblicoFederal) que recebeu a cópia da petição de habeas corpus escrita à mão. Nesta audiência judicial, o Juiz me perguntou se eraverdade que eu estava sendo acordado de hora em hora, e quando confirmei este fato, foi concedida liminar a fim de queparassem de me acordar de hora em hora. O que aconteceu com este Comandante da BARF? Teve e ainda está tendo muitasdores de cabeça: foram abertos inquéritos policiais, representações por abuso de autoridade, tortura, e sabe-se lá o que mais.Numa outra oportunidade, noutro livro, quem sabe, faça uma narrativa dos fatos que ocorreram na BARF e com este Coronel.Leitores, percebam, então, o poder de um habeas corpus escrito à mão e sem livros por perto (foi um writ simples de 3 folhas)119 Se quiser que alguma testemunha seja ouvida ou algum documento em posse da Administração Militar seja juntado aosautos do processo disciplinar, faça tal pedido explicitamente quando da elaboração da defesa escrita.120 O RDAER é um Decreto, todavia, a princípio, foi recepcionado como Lei pela CF/88.

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“LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados emgeral são assegurados o contraditório121 e ampla defesa122, com os meios e recursosa ela inerentes;”

Assim, tem-se que é possível verificar se uma punição administrativa disciplinar é ilegal,quando estiver em desacordo, seja no aspecto material123 ou processual124, com alguma normajurídica (próprio regulamento, CF/88 e demais normas jurídicas, como lei, decretos, etc.).

4.3. O QUE É O HABEAS CORPUS?

Primeiramente, tem-se que o habeas corpus tem índole constitucional, então vejamos oinciso LXVIII do art. 5º da Constituição Federal de 1988:

“LXVIII - conceder-se-á “habeas-corpus” sempre que alguém sofrer ou se acharameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, porilegalidade ou abuso de poder;”

Já no art. 647 do CPP125 em vigor, que é de 1941, assim se refere ao habeas corpus:

“Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar naiminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvonos casos de punição disciplinar.”

Alexandre de Moraes126 assim conceitua o habeas corpus:

“Portanto, o habeas corpus é uma garantia individual ao direito de locomoção,consubstanciada em uma ordem dada pelo Juiz ou Tribunal ao coator, fazendocessar a ameaça ou coação à liberdade de locomoção em sentido amplo – odireito do indivíduo de ir, vir e ficar.”

“O habeas corpus é uma ação constitucional de caráter penal e de procedimentoespecial, isenta de custas e que visa evitar ou cessar violência ou ameaça naliberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Não se trata,portanto, de uma espécie de recurso, apesar de regulamentado no capítulo aeles destinado no Código de Processo Penal.”

O art. 648 do CPP explicita quando a coação do direito de ir e vir é considerada ilegal, porémas hipóteses enunciadas no dispositivo não são exaustivas127, mas sim exemplificativas. Ou seja, é

121 Contraditório aqui, significa, resumidamente, no direito de se defender de uma acusação, antes de sofrer uma punição.122 Já a ampla defesa, sinteticamente, é o direito a que se permita ao acusado utilizar todos os meios que dispuser com o fimde provar sua inocência por meio de provas testemunhais, documentais, depoimento pessoal, etc. Por isso que, caso sejaindeferido o pedido do militar de apresentação (arrolamento) de testemunha para provar sua inocência, é motivo suficientede impetração de habeas corpus, pois tal ato além de ilegal é, sobretudo, inconstitucional.123 Direito material é o direito objetivo que vem estabelecer a substância, a matéria da norma agendi, fonte geradora eassegurada de todo direito. E assim se diz para contrapor-se ao direito formal (processual), que vem instituir o processo ouforma de proteger tal direito objetivo (exemplo: o cidadão possui o direito de petição aos órgãos públicos). Já o direitoprocessual (formal) denomina-se como todo complexo de regras instituídas pelo poder público no sentido de determinar aforma por que serão os direitos protegidos pelo Poder Judiciário.124 A Lei nº 9.784/99 (Regula o processo administrativo no âmbito federal) tem aplicação, em determinadas situações(subsidiariamente, por exemplo), nos processos administrativos disciplinares.125 O CPPM dispõe sobre o remédio heróico a partir do art. 466.126 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. Editora Atlas: São Paulo, 2002. 11ª edição. págs. 138 e 140.127 Aqui, o termo “exaustiva” significa dizer que é possível que haja a configuração de uma prisão ilegal em hipótese nãodefinida nestes 7 (setes) incisos, ou seja, outras possibilidades.

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possível que a coação seja ilegal por outro motivo, além dos explicitados nos incisos I a VII a seguirtranscritos:

“Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal:I - quando não houver justa causa;II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei aautoriza;VI - quando o processo for manifestamente nulo;VII - quando extinta a punibilidade.”

Importante mencionar que não cabe a utilização do writ constitucional para questionar exclusãodas Forças Armadas, conforme entendimento recente128 do STF:

“EMENTA: HABEAS CORPUS. Militar. Condenação. Pena acessória. Exclusãodas forças armadas. Não conhecimento. Inexistência de risco ou dano à liberdadede locomoção. Aplicação da súmula 694. Agravo improvido. Não cabe habeascorpus contra imposição de pena de exclusão das forças armadas (grifomeu).” (STF - HC nº 89198 AgR, Relator(a):  Min. CEZAR PELUSO, SegundaTurma, julgado em 14/11/2006, DJ 01-12-2006 PP-00092 EMENT VOL-02258-03 PP-00449 RT v. 96, n. 858, 2007, pág. 518-521)

Eis a Súmula citada na ementa acima:

SÚMULA Nº 694“Não cabe “habeas corpus” contra a imposição da pena de exclusão de militarou de perda de patente ou de função pública.”

Do exposto, tem-se que o habeas corpus é uma ação constitucional popular, chamado tambémde writ que objetiva, precipuamente, resguardar o direito de liberdade de ir e vir de qualquer um dopovo.

4.4. É POSSÍVEL IMPETRAR HABEAS CORPUS CONTRA PUNIÇÃO DISCIPLINAR ILEGAL?

Inicialmente, cumpre informar que, pelo menos na Aeronáutica, pois foi a Força Armada quetrabalhei por 18 (dezoito) anos, costuma-se ser divulgado, até oficialmente, que o habeas corpus éincabível para discutir punições disciplinares, tendo como fundamento jurídico o art. 142, § 2º daCF88 que faz a seguinte exceção na utilização do habeas corpus:

128 Digo recente, em virtude de que há decisão do STF conhecendo do HC para questionar exclusão das Forças Armadas:“EMENTA: HABEAS CORPUS - ADEQUAÇÃO - PERDA DE GRADUAÇÃO. Decorrendo a exclusão - pena acessória- do fato de a praça ser condenada a pena privativa de liberdade superior a dois anos - artigo 102 do Código PenalMilitar -, o habeas corpus é instrumento hábil a questioná-la (grifo meu). GRADUAÇÃO - PRAÇA - PERDA. Anteo disposto no artigo 125, § 4º, da Constituição Federal, não subsiste, no que exigido procedimento específico, a pena acessóriaprevista no artigo 102 do Código Penal Militar. Precedente: Recurso Extraordinário nº 121.533, relatado, perante o Pleno,pelo Ministro Sepúlveda Pertence, com acórdão publicado no Diário da Justiça de 30 de novembro de 1990. (STF - HC 68656,Relator (a):  Min. FRANCISCO REZEK, Relator(a) p/ Acórdão:  Min. MARCO AURÉLIO, Segunda Turma, julgado em 16/06/1992, DJ 04-05-2001 PP-00003 EMENT VOL-02029-02 PP-00370).” .

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“Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pelaAeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadascom base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidenteda República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderesconstitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem....

§ 2º - Não caberá “habeas-corpus” em relação a punições disciplinaresmilitares (grifo meu);...”

O art. 466 do CPPM, em seu parágrafo único, letra “a” e “b” já fazia ressalva quanto a utilizaçãodo habeas corpus nas punições disciplinares, então vejamos:

“Art. 466. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se acharameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, porilegalidade ou abuso de poder.ExceçãoParágrafo único. Excetuam-se, todavia, os casos em que a ameaça ou a coaçãoresultar:a) de punição aplicada de acordo com os Regulamentos Disciplinares dasForças Armadas;b) de punição aplicada aos oficiais e praças das Polícias e dos Corpos deBombeiros, Militares, de acordo com os respectivos Regulamentos Disciplinares;...”

Entretanto, já se firmou jurisprudência, inclusive no STF, que é o guardião e interpretador finalda Constituição Federal, que é possível a utilização de habeas corpus para discutir punição disciplinar.Todavia, ressalte-se, não é cabível discutir o mérito da punição, ou seja, em síntese, se “foi justa ouinjusta”, conforme se depreende da leitura do voto129 da Ministra Ellen Gracie de nossa CorteConstitucional:

“A concessão de habeas corpus impetrado contra punição disciplinar militar,desde que voltada tão-somente para os pressupostos de sua legalidade(grifo meu), excluindo a apreciação das questões referentes ao mérito, nãoconfigura violação ao art. 142, § 2º, da CF.” (STF - RE nº 338.840-1/RS - 2ªTurma - Rel. Ministra Ellen Gracie, j. 19.08.03, DJU de 12.09.2003)

Desta forma, tem-se que o militar punido disciplinarmente detém o direito constitucional aimpetrar habeas corpus quando a punição estiver eivada de ilegalidade. Entretanto, o writ não poderáser utilizado para se questionar o mérito da mesma, conforme entendimento do STF.

O STJ também possui jurisprudência consolidada sobre o tema desde 1997, então vejamos:

“EMENTA: Concede-se ordem de habeas corpus para o fim de obstar aplicaçãode punição administrativa, consubstanciada em processo administrativo disciplinarque inobservou as formalidades legais pertinentes, cerceando o direito de defesado paciente.” (STJ – RHC nº 6529 – 5ª Turma – Rel Min. Cid Fláquer Scartezzini– j. 23.06.97, DJU 1.09.97, pág. 40854)

129 Tratava-se de habeas corpus impetrado em desfavor do Comandante do 7º Batalhão de Infantaria Blindado.

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“EMENTA: HABEAS CORPUS. MILITAR. SANÇÃO DISCIPLINAR (PRISÃO).PACIENTE REFORMADO. COAÇÃO ATUAL E IMINENTE INEXISTENTE.AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR. WRIT NÃO CONHECIDO. 1. A puniçãodisciplinar por transgressão militar tem a natureza jurídica de ato administrativo,e o seu exame, por meio de Habeas Corpus, embora possível, fica restrito àregularidade formal do ato (competência, cerceamento de defesa,cumprimento de formalidades legais) (grifo meu). 2. A ação de Habeas

Corpus só pode ser instaurada quando se constatar coação ilegal atual e iminenteà liberdade de ir e vir, o que não ocorre no caso concreto, pois, segundo ressaido acórdão proferido pela autoridade ora apontada como coatora, o paciente foireformado. 3. Destarte, não sendo atual ou iminente; ao contrário, sequer sedivisando a possibilidade de cumprimento da referida punição, falece interessena presente impetração. 4. Writ não conhecido, em consonância com o parecerministerial.” (STJ – HC nº 80.852/RS, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIAFILHO, QUINTA TURMA, julgado em 27/03/2008, DJe 28/04/2008)

O STJ já julgou um writ de militar da reserva e também Advogado, ordenando o encerramentode uma sindicância130 ilegal, então vejamos:

“EMENTA: Militar (da reserva). Advocacia (atividade). Disciplina (militar).Inviolabilidade (advogado). Habeas corpus (cabimento). 1. Os membros das ForçasArmadas estão sujeitos, é claro, à hierarquia e à disciplina militares. 2. Todavia omilitar da reserva remunerada no exercício da profissão de advogado há de estarprotegido pela inviolabilidade a que se referem os arts. 133 da Constituição e 2º,§§ 2º e 3º, do Estatuto da Advocacia (Lei nº 8.906, de 1994). 3. A imunidade, ébem verdade, não é ampla nem é absoluta. Protege, isto sim, os razoáveis atose as razoáveis manifestações no salutar exercício da profissão. 4. Há ilegalidadeou abuso de poder ao se pretender punir administrativamente o militar que, noexercício da profissão de advogado, praticou atos e fez manifestações, num enoutro caso, sem excesso de linguagem nas petições por ele assinadas. 5. Élivre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, bem como oadvogado é inviolável por seus atos e manifestações no exercício daprofissão. 6. Habeas corpus deferido a fim de se determinar o trancamentoda sindicância (grifo meu).” (STJ – HC nº 44.085/RJ, Rel. Ministro NILSONNAVES, SEXTA TURMA, julgado em 18/10/2005, DJ 15/05/2006 pág. 293)

O TRF1 assim tem entendido:

“EMENTA: PROCESSUAL PENAL. RECURSO DE HABEAS CORPUS. PRISÃODISCIPLINAR MILITAR. CONTROLE JUDICIAL. 1. Tem entendido a jurisprudência,interpretando o § 2º do art. 142 da CF (“Não caberá habeas corpus em relação apunições disciplinares militares”), que o controle judicial da punição disciplinarmilitar na via do habeas corpus restringe-se à sua legalidade (competência,

130 É possível utilizar o habeas corpus para trancar (arquivar) processo administrativo disciplinar ilegal. Assim como tambémé possível obter um arquivamento de inquérito policial (até mesmo militar) mediante o writ. Não me aprofundarei neste tema,pois foge do presente estudo e é mais complexo. E aproveito para aconselhar os militares a contratarem um Advogadoespecializado no assunto, quando estiverem “respondendo” a sindicância, IPM ou submetidos ao Conselho de Disciplina.

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forma, devido processo legal etc), não se estendendo ao segmento demérito, radicado na conveniência e na oportunidade da punição (grifomeu). 2. “Ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita efundamentada de autoridade judiciária competente” (CF - art. 5º, LXI), excetonos casos de transgressão militar 3. Improvimento do recurso.” (TRF1 – RCHCnº 2002.34.00.035931-5 – 3ª Turma – Rel. Des. Federal Olindo Menezes, j. 11/03/2003)

Em regra, então, saber-se-á se é possível que o Poder Judiciário “aceite” um habeas corpus

em relação à punição disciplinar quando a resposta à seguinte indagação for negativa: “o objetivo dahabeas corpus é discutir se a punição foi justa ou injusta?”.

Do exposto, inegável que o militar pode utilizar o habeas corpus quando pretender discutir alegalidade131 da punição disciplinar.

4.5. É NECESSÁRIO ESGOTAR AS VIAS ADMINISTRATIVAS PARA SOMENTE APÓSIMPETRAR HABEAS CORPUS?

Este é um tema importante e interessante que, inclusive, foi objeto de impetração de habeas

corpus por mim quando militar, pois fui punido por ter impetrado um habeas corpus contra prisãoilegal sem antes esgotar as vias administrativas.

O Estatuto dos Militares (norma inferior) foi elaborado antes da CF88 (norma superior) e navigência da Ditadura Militar. Logo é óbvio que àquele detém normas conflitantes com a nova OrdemDemocrática e em especial o § 3º do art. 51 que exige o esgotamento da esfera administrativa,quando assim discorre:

“Art. 51. O militar que se julgar prejudicado ou ofendido por qualquer ato administrativoou disciplinar de superior hierárquico poderá recorrer ou interpor pedido dereconsideração, queixa ou representação), segundo regulamentação específica decada Força Armada....§ 3º O militar só poderá recorrer ao Judiciário após esgotados todos os recursosadministrativos e deverá participar esta iniciativa, antecipadamente, à autoridadeà qual estiver subordinado.”

Agora vejamos o inciso XXXV do art. 5º da CF/88:

“XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça adireito;”

O TRF4, desde 1998, pacificou que tal dispositivo não foi recepcionado132 pela CF88, entãovejamos as seguintes decisões:

131 A ilegalidade será verificada por como: erros formais do procedimento, incompetência da autoridade militar parainstaurar o processo disciplinar, irregularidades de prazos para a defesa, indeferimento abusivos de diligências requeridaspela defesa, dentre outros.132 Diz-se que não foi recepcionado, pois a CF/88 é posterior à Lei nº 6.880/80, logo não é correto dizer-se que o § 3º foirevogado, sequer tacitamente. Assim, o termo técnico correto é dizer que o § 3º não foi recepcionado pela CF/88, pois àquelaé norma incompatível com o Texto Maior de 1988.

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“EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. ANULAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVODISCIPLINAR. MILITAR PUNIDO COM PENA DE PRISÃO POR TER IMPETRADOMANDANDO DE SEGURANÇA PARA DEFESA DE SEUS DIREITOS. O Dec.90608/84, item 15 do Anexo 1, ao estabelecer que caracteriza infração disciplinar “recorrerao judiciário sem antes esgotar todos os recursos administrativos” e o ART. 51,PAR-3, DO Estatuto dos Militares (Lei-6880/80), ao enunciar que “ O militar sópoderá recorrer ao Judiciário após esgotados todos os recursos administrativos edeverá participar esta iniciativa, antecipadamente, à autoridade à qual estiversubordinado”, não foram recepcionados pela Magna Carta de 1988 (grifosmeus), onde é assegurado o direito de acesso ao Judiciário, sem a necessidadede esgotar previamente a via administrativa.” (TRF4 - 3ª Turma - REO nº9404393118/RS - Rel. Juíza Luiza Dias Cassales, j. 30/09/98, DJU de30.08.1998, pág. 489)

“EMENTA - ADMINISTRATIVO. MILITAR. ACESSO AO JUDICIÁIO. ATO PUNITIVO-DISCIPLINAR. NULIDADE. O disposto no regulamento castrense (Lei-6880/80,art-51), que prevê que o militar só pode recorrer ao judiciário após esgotadostodos os recursos administrativos e, ainda assim, desde que previamentecientificado seu superior, não encontra mais respaldo frente à Constituiçãode 1988 (grifo meu). A punição imposta afronta o art-5, inc-35, da Carta de 1988,motivo pelo qual bem lançada a sentença que a declarou nula.” (TRF4 - 5ª Turma- REO nº 9004143173/RS - Rel. Juíza Marga Inge Barth Tessler, j. 24/08/1995,DJU de 18.10.1995, pág. 71.609)

O TRF5 também segue tal posicionamento, quando assim discorreu:

“EMENTA:... A norma que prevê o esgotamento da instância administrativa (art.51, § 3º, da Lei n. 6.880/80) como condição de procedibilidade para o exercíciodo direito de ação pelos militares não foi recepcionada pela ConstituiçãoFederal de 1988 (grifo meu).” (TRF5 – CT nº 722/AL – Primeira Turma – Rel.Des. Federal Francisco Wildo, j. 16.12.2004)

“EMENTA: ...O disposto no § 3º do art. 51 da Lei nº 6.880/80, que exige cientificação préviaao superior hierárquico pelo subordinado de que ingressará em Juízo para adefesa de seus direitos, não foi recepcionado pela Constituição Federal (art. 5º,inc. XXXV)...” (TRF5 – RSE nº 737/RN – Terceira Turma – Rel. Des. FederalRidalvo Costa, j. 31.03.2005)

Após vários questionamentos perante o Poder Judiciário, devido à ilegalidade desta normaadministrativa militar, o Ministério da Defesa decidiu não mais exigir o prévio esgotamento da esferaadministrativa. A Assessoria Jurídica do Ministério da Defesa emitiu o Parecer nº 121/CONJUR-2005,onde após aprovação pelo Vice-Presidente da República, à época Ministro da Defesa – José Alencar– passou a ter força vinculativa nas Forças Armadas, então vejamos as letras “b” e “c” do item 28:

“28. Assim, os Comandos da Marinha, do Exército e da Aeronáutica quandocientificados de que um dos seus militares ingressou no Judiciário questionandoato, negócio ou qualquer outra relação jurídica, administrativa ou de qualqueroutra natureza, estarão sujeitos a:

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a) reconhecer que o § 3º do art. 51 do Estatuto dos Militares não mais vigora,pois a nova ordem jurídica trazida pela Constituição Federal de 1988 não lheconfere validade, nem lhe recebeu, restando o texto abaixo como se não escritofosse no Estatuto:§ 3º O militar só poderá recorrer ao Judiciário após esgotados todos osrecursos administrativos e deverá participar esta iniciativa, antecipadamente, àautoridade à qual estiver subordinado. (Lei nº 6.880 de 10 de dezembro de 1980)b) absterem-se de aplicar qualquer sanção disciplinar fundada, direta ouindiretamente, no supracitado dispositivo do item 01, em combinação ou nãocom os Estatutos disciplinares das Forças, seja em função do não esgotamentodos recursos administrativos a serem julgados pelas Forças, seja em funçãoda não comunicação prévia de medida judicial;”

Logo, não há necessidade de esgotar a esfera administrativa133, para somente após, impetrarhabeas corpus contra prisão disciplinar ilegal.

4.6. QUAL ÓRGÃO DO PODER JUDICIÁRIO É COMPETENTE PARA PROCESSAR E JULGARO HABEAS CORPUS CONTRA PUNIÇÃO DISCIPLINAR ILEGAL IMPOSTA AOSMILITARES DAS FORÇAS ARMADAS?

Vários são os órgãos do Poder Judiciário, discriminados no caput do art. 92 da CF/88, entãovejamos:

“Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:I - o Supremo Tribunal Federal;I-A o Conselho Nacional de Justiça;II - o Superior Tribunal de Justiça;III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho;V - os Tribunais e Juízes Eleitorais;VI - os Tribunais e Juízes Militares;VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.”

A competência dos Tribunais e Juízes para processarem e julgarem demandas judiciais estáprevista nos arts. 102 a 126 da CF/88.

Vejamos os arts. 102, 109 e 124:

“Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guardada Constituição, cabendo-lhe:I - processar e julgar, originariamente:a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estaduale a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e oProcurador-Geral da República;

133 Da mesma forma, obviamente, não é necessário informar previamente à autoridade superior que será impetrado umhabeas corpus ou mesmo que ajuizará qualquer outro tipo de ação judicial para reivindicar quaisquer direitos.

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c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministrosde Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica,ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os doTribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráterpermanente;d) o “habeas-corpus”, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nasalíneas anteriores (grifos meus); o mandado de segurança e o “habeas-data”contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados edo Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral daRepública e do próprio Supremo Tribunal Federal;...”

“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:...VII - os “habeas-corpus”, em matéria criminal de sua competência ou quandoo constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejamdiretamente sujeitos a outra jurisdição (grifos meus);...”

“Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militaresdefinidos em lei.Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e acompetência da Justiça Militar.”

Como se pode perceber na leitura das normas constitucionais acima transcritas, a CF/88define qual órgão (art. 92) do Poder Judiciário é competente134 para processar e julgar o habeascorpus.

Em resumo, de forma prática e objetiva, para se saber qual órgão do Judiciário é competentepara processar e julgar o habeas corpus, teremos que responder às seguintes perguntas: a) aprisão é decorrente do cometimento de crime militar ou transgressão disciplinar militar? e b) quemé a autoridade coatora135, ou seja, contra quem se impetrará o habeas corpus?

Se for crime militar caberá ao STM136, independentemente da prisão ter sido efetuada por ummilitar, civil137 ou Juiz-Auditor. Entretanto, como este artigo não é voltado para a utilização dohabeas corpus na Justiça Militar, não tecerei maiores comentários.

Se for transgressão disciplinar caberá o processamento e julgamento pela Justiça Comum enão pela Justiça Militar138, sendo que tal conclusão se dá por exclusão, pois o art. 109, inciso VII, daCF/88 afirma que os Juízes Federais processarão e julgarão o writ quando a ilegalidade

134 Neste momento citei apenas os dispositivos dirigidos às Forças Armadas, posteriormente, discorrerei sobre a competênciado Judiciário para processamento e julgamento de habeas corpus em favor de Policiais e Bombeiros Militares.135 A identificação da autoridade coatora será discorrida em tópico 4.9.2, pois é de suma importância para o processamento ejulgamento do habeas corpus.136 Na Justiça Militar Federal, somente os Ministros do STM são competentes para processar e julgar habeas corpus contraprisões ilegais, ou seja, nem o Juiz-Auditor, monocraticamente, e nem tampouco os Conselhos de Justiça das CircunscriçõesMilitares detêm tal competência. Assim, resumidamente, pode-se dizer que qualquer habeas corpus contra prisão ilegal (crimemilitar) por ordem de um soldado, cabo, capitão, comandante de unidade militar, Juiz-Auditor ou Conselho de Justiça, comoexemplos, será processado e julgado pelo STM, de acordo com o art. 6º, inciso I, letra “c” da Lei nº 8.457/1992.137 O civil pode prender um militar que estiver em flagrante delito.138 Tramita no Congresso Nacional proposta de emenda constitucional a fim de alterar o art. 124. A nova redação seria;” Àjustiça militar da União compete processar e julgar os crime militares definidos em lei bem como exercer o controlejurisdicional sobre as punições disciplinares aplicadas aos membros das forças armadas.”

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(constrangimento) provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição.E como o art. 124 da CF/88 conferiu à Justiça Militar processar e julgar apenas crimes militares,tem-se que o habeas corpus contra prisão disciplinar ilegal não poderá ser discutido por uma CorteMilitar (STM), logo, conclui-se que, a princípio, caberá aos Juízes Federais processar e julgar ohabeas corpus contra prisão disciplinar.

Disse “a princípio”, em virtude de que se a autoridade coatora for um dos Comandantes daMarinha, Exército ou Aeronáutica, caberá ao STF139 processar e julgar o habeas corpus, conformedisposto no art. 102, I, letras “d” da CF/88.

E, aqui, também, utilizamos o “método de exclusão” para afirmar que não sendo a autoridadecoatora um dos Comandantes das Forças Armadas, a competência será do Juiz Federal dePrimeira Instância140.

Entretanto, embora a CF/88 não tenha conferido competência para o STM processar e julgarhabeas corpus contra punições disciplinares, este Tribunal tem conhecido e julgado o writ. Eis umade muitas decisões, conhecendo141 da impetração:

“EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCEDIMENTO PARA APURAÇÃO DEPUNIÇÃO DISCIPLINAR. APLICAÇÃO E CUMPRIMENTO DE PENA.ANULAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO. 1. A impetração almeja dois objetivos:a suspensão do procedimento de apuração de transgressão disciplinar e, nomérito, sua anulação. 2. A inexistência de qualquer vício de legalidade no atoadministrativo afasta, de plano, a concessão do pedido liminar. 3. A aplicação eo cumprimento da pena disciplinar prejudica o pedido por perda de seu objeto.4. Habeas Corpus conhecido e ordem denegada por falta de amparo legal.Unânime.” (STM – HC nº 2006.01.034203-6/SP – Relator Ministro José CoelhoFerreira, j. 25.08.06, DJ de 19.09.2006)

Ocorre, entretanto, que o STF, interpretador final da Constituição de nosso País, em decisãodatada de 03.04.2007, afirmou que cabe à Justiça Federal Comum e não à Justiça Militar processare julgar ações contra punições disciplinares, então vejamos:

“EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSUALPENAL. INFRAÇÃO DISCIPLINAR. PUNIÇÃO IMPOSTA A MEMBRO DASFORÇAS ARMADAS. CONSTRIÇÃO DA LIBERDADE. HABEAS CORPUSCONTRA O ATO. JULGAMENTO PELA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO.IMPOSSIBILIDADE. INCOMPETÊNCIA. MATÉRIA AFETA À JURISDIÇÃO DAJUSTIÇA FEDERAL COMUM. INTERPRETAÇÃO DOS ARTS. 109, VII, e 124, §2º. I - À Justiça Militar da União compete, apenas, processar e julgar oscrimes militares definidos em lei, não se incluindo em sua jurisdição asações contra punições relativas a infrações (grifo meu) (art. 124, § 2º, daCF). II - A legalidade da imposição de punição constritiva da liberdade, emprocedimento administrativo castrense, pode ser discutida por meio de habeas

corpus. Precedentes. III - Não estando o ato sujeito a jurisdição militar, sobressaia competência da Justiça Federal para o julgamento de ação que busca

139 Isso mesmo que você está pensando: é possível impetrar um writ no STF por leigo, sem necessidade de Advogado.140 No anexo 2, constam os respectivos endereços das Seccionais (Varas Federais) da Justiça Federal dos Estados do País.141 Quando o STM diz que o habeas corpus foi conhecido, significa dizer que se considerou, dentre outros, competente paraprocessar e julgar a writ.

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desconstituí-lo (art. 109, VII, CF). IV - Reprimenda, todavia, já cumprida naintegralidade. V - HC prejudicado.” (STF – RHC nº 88543/SP – 1ª Turma – Rel.Min. Ricardo Lewandoesk, j. 03.04.07, DJe de 26.04.2007, pág. 70)

Concluindo, tem-se que cabe à Justiça Federal Comum processar e julgar habeas corpus

contra punições disciplinares, embora o STM considere-se competente para solucionar tal lide. Seum militar requerer que o STM julgue um habeas corpus, este será julgado, todavia, não é aconselhável,pois na Justiça Federal, sem dúvidas será um civil formado em Direito e que passou por um concursomuito disputado que irá julgar seu writ. Já no STM, dentre 15 (quinze) Ministros, somente os 05(cinco) civis, necessariamente, são formados em Direito, os outros 10 (dez) não necessariamentesão Bacharéis em Direito, bastando que sejam do posto mais elevado da carreira de suas Armas(sequer é necessário ter nível superior).

O art. 123 da CF/88 dispõe sobre o STM:

“Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios,nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação peloSenado Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha, quatrodentre oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-generais daAeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira (grifomeu), e cinco dentre civis.Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente daRepública dentre brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo:I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com maisde dez anos de efetiva atividade profissional;II - dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do MinistérioPúblico da Justiça Militar.”

Interessante é a exigência de que o Advogado exerça, efetivamente, a profissão a no mínimo10 (dez) anos, além de notório saber jurídico e conduta ilibada para ser escolhido como Ministro“Civil” do STM. Já para ser escolhido como Ministro Militar, basta estar ocupando o maior posto deOficial-General, ou seja, sequer sendo necessário conhecer um “pouquinho” de Direito.

4.7. POLICIAIS E BOMBEIROS MILITARES: COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUALPARA PROCESSAR E JULGAR HABEAS CORPUS CONTRA PUNIÇÃO DISCIPLINAR

Em relação aos policiais e bombeiros militares, a competência para o processamento ejulgamento do habeas corpus contra punições disciplinares é exclusiva da Justiça Militar Estadual.Entretanto, ressalte-se que quem julgará será o Juiz de Direito Militar (Juiz-Auditor), singularmente(sem a participação dos demais Juízes Militares leigos), conforme se depreende da leitura do art.125, § 4º, da CF/88, então vejamos:

“Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípiosestabelecidos nesta Constituição....§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dosEstados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atosdisciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima forcivil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patentedos oficiais e da graduação das praças.

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§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar,singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciaiscontra atos disciplinares militares (grifos meus), cabendo ao Conselho deJustiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimesmilitares....”

Desta forma, o policial militar ou bombeiro militar que estiver sendo punido disciplinarmente eentender que a punição é ilegal, deverá, necessariamente, impetrar o writ junto à respectiva AuditoriaMilitar (Justiça Estadual).

4.8. QUEM PODE IMPETRAR (AJUIZAR) UM HABEAS CORPUS? É OBRIGATÓRIA A CONTRATAÇÃO DE UM ADVOGADO? HÁ DESPESAS COM O PODER JUDICIÁRIO?

Para iniciar este tópico, transcreverei o inciso LXXVII do art. 5º da CF/88:

“LXXVII - são gratuitas as ações de “habeas-corpus” (grifo meu) e “habeas-data142”, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania.”

Este dispositivo constitucional informa que a impetração de habeas corpus é gratuita, todavia,a gratuidade se refere ao pagamento de custas processuais143, que são as despesas ou encargosdecorrentes do ajuizamento, processamento e julgamento de uma ação judicial. Isso não quer dizerque o Advogado, se for contratado, não cobrará por seus serviços (honorários advocatícios).

Há, inclusive, instituições que oferecem, gratuitamente para pessoas mais carentes, os serviçosdo Advogado, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Defensoria Pública, Associações,dentre outras.

Mas é obrigatória a participação do Advogado na confecção da petição144 com sua assinatura,ou seja, para o ajuizamento da ação de habeas corpus? A resposta é negativa, embora, sem dúvidas,ninguém melhor do que o Advogado para confeccionar a petição, já que detém os conhecimentostécnicos jurídicos necessários para cessar ou impedir prisões ilegais.

O § 1º do art. 1º da Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia) prevê que não é privativo doAdvogado a impetração do writ constitucional, então vejamos:

“Art. 1º São atividades privativas de advocacia:I - a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais;II - as atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas.§ 1º Não se inclui na atividade privativa de advocacia a impetração dehabeas corpus em qualquer instância ou tribunal (grifo meu).”

Aproveito e transcrevo dispositivo da CF/88 que informa que o Advogado é imprescindível paraa concretização da Justiça:

142 O instituto do habeas data é muito interessante e de grande valia para reivindicar direitos perante o Judiciário (ver capítulo 8).143 Por exemplo: quando se ajuíza uma ação por danos morais, paga-se custas processuais, a não ser que seja deferido o pedidode gratuidade judicial, nos termos da Lei nº 1.060/50. Assim, no habeas corpus não se pagará absolutamente nada de custaspara o Poder Judiciário.144 Petição, em síntese, é a formulação escrita de um ou vários pedidos dirigidos a um juiz. Todavia, há inclusive, em algunsórgãos do Poder Judiciário, como no Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte, a possibilidade de impetrar umhabeas corpus via telefone. Seria uma “denúncia” sobre uma prisão ilegal, onde se pedirá (petição) ao Poder Judiciário que façacessar ou impedir uma prisão ilegal.

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“Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça (grifomeu), sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão,nos limites da lei.”

Logo, se não é obrigatória a impetração do habeas corpus por Advogado, concluiu-se, então,que qualquer cidadão poderá confeccionar e assinar uma petição. O militar que estiver na iminênciade ser preso ou se estiver preso disciplinarmente será a única pessoa que poderá elaborar e ajuizaro pedido de habeas corpus? A resposta é negativa, pois o paciente145 poderá ser o próprio impetrante146,assim como qualquer outra pessoa, inclusive pessoa jurídica147, independentemente, ressalte-se,em ambos os casos, de procuração148.

O STJ assim entende sobre a impetração do writ por pessoa jurídica:

“EMENTA: PROCESSUAL E ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.HABEAS CORPUS REQUERIDO POR PESSOA JURÍDICA. DIREITO AEDUCAÇÃO. MINISTÉRIO PÚBLICO. PROCEDIMENTO JUDICIAL. CONDUÇÃOCOERCITIVA. POSSIBILIDADE. 1. É possível a impetração de habeas corpus

por pessoa jurídica (grifo meu) em favor de um de seus sócios, pois não sedeve antepor restrições a uma ação cujo escopo fundamental é preservar aliberdade do cidadão contra quaisquer ilegalidades ou abusos de poder...” (STJ –RHC nº 3.716/PR – Quinta Turma – Rel. Min. Jesus Costa Lima, j. 29.06.1994)

O STF assim se pronunciou sobre a legitimidade ativa de qualquer pessoa para impetrar o writ:

“EMENTA: RECURSO - HABEAS CORPUS - DISPENSA DA CAPACIDADEPOSTULATÓRIA. Versando o processo sobre a ação constitucional de habeas

corpus, tem-se a possibilidade de acompanhamento pelo leigo, que podeinterpor recurso, sem a exigência de a peça mostrar-se subscrita porprofissional da advocacia (grifo meu). Precedentes: Habeas Corpus nº 73.455-3/DF, Segunda Turma, relator ministro Francisco Rezek, Diário da Justiça de 7de março de 1997, e Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº 60.421-8/ES,Segunda Turma, relator ministro Moreira Alves, Revista Trimestral deJurisprudência 108/117-20. O enfoque é linear, alcançando o recurso interpostocontra decisão de turma recursal de juizado especial proferida por força dehabeas corpus.” (STF – HC nº 84716/MG – Primeira Turma – Rel. MinistroMarco Aurélio, j. 19.10.04, DJ de 26.11.2004, pág. 25)

O caput do art. 654 do CPP dispõe sobre a legitimidade para se impetrar o habeas corpus,então vejamos:

145 No ordenamento jurídico brasileiro significa àquele que está sofrendo constrangimento ilegal ou na sua iminência.Exemplo: será paciente o militar que estiver preso ou na iminência de ser preso.146 Impetrante é o autor da petição do habeas corpus, àquele que assina a peça; e como dito, o impetrante poderá ser o própriopaciente. Não há qualquer impedimento legal de que o paciente também assine a petição inicial juntamente com o impetrante.147 Uma associação, sindicato, uma empresa, um partido político, dentre outras pessoas jurídicas, podem impetrar o writ emfavor de qualquer pessoa física. Aliás, o próprio Ministério Público pode impetrar o writ constitucional.148 Procuração, no âmbito judicial, é utilizada, em regra, para que o autor de uma ação judicial confira ao Advogado poderes pararepresentá-lo judicialmente, já que somente o Advogado detém capacidade postulatória, salvo exceções previstas em lei. E,genericamente, uma procuração se resume em que alguém confira poderes a outrem para agir em seu nome, nos termos da lei.

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“Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa(grifo meu), em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público.”

O art. 189 do Regimento Interno do STF define quem poderá impetrar o writ constitucional:

“Art. 189. O habeas corpus pode ser impetrado:I – por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem;II – pelo Ministério Público.”

Mirabete149 discorre muito bem sobre o tema, logo cabível transcrever seus ensinamentos naíntegra:

“O direito constitucional de impetrar habeas corpus é atributo da personalidade.Qualquer pessoa do povo, independentemente de habilitação legal oude representação por advogado, de capacidade política, civil ouprocessual, de idade, sexo, profissão, nacionalidade ou estado mental,pode fazer uso do remédio heróico, em benefício próprio ou alheio (grifomeu). Ao prever que a postulação em juízo é atividade privativa da advocacia, aLei nº 8.906, de 4-7-1994, excetua expressamente a impetração de habeas

corpus em qualquer instância ou tribunal (art. 1º, § 1º). Não há impedimentopara que o façam os incapazes, ainda que sem assistência ou representação.Tratando-se de analfabeto é suficiente que alguém assine a petição a seu rogo,não bastando a aposição de sua impressão digital na petição. Também não háimpedimento que pessoa jurídica impetre habeas corpus em favor de quem(pessoa física) está submetido a constrangimento ilegal na liberdade de coação,já que o artigo faz referência a “qualquer pessoa”. É necessário porém que osubscritor da impetração comprove a condição de representante da pessoajurídica. Tratando-se de procurador constituído pelo impetrante, a desistência150

do pedido depende de poderes especiais constantes do instrumento domandato.”

Resumindo com um exemplo prático: digamos que um militar será preso por cometimento detransgressão disciplinar daqui a 3 (três) dias. Se a punição for ilegal, ele mesmo poderá confeccionare assinar a petição (paciente será o próprio impetrante). Porém, qualquer outra pessoa,independentemente de parentesco151 ou qualquer outra coisa, poderá impetrar a habeas corpus emfavor do militar, mesmo sem a prévia autorização deste (paciente) e, sobretudo, sem necessidade152

de procuração. Isso quer dizer, na prática, o seguinte: um desconhecido pode requerer a um JuizFederal que liberte um militar que estiver sofrendo constrangimento ilegal no seu direito de ir e vir! E,apenas a título de conhecimento, isso também poderá ser feito principalmente, quando se questionar

149 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código de processo penal interpretado. Editora Atlas: São, Paulo, 2000. 7ª edição. pág. 1460.150 A título de informação tem-se que no mandado de segurança o pedido de desistência não dependerá da concordância daautoridade coatora, ou seja, independerá de manifestação da parte contrária para o magistrado deferir o pedido.151 Ou seja, se um civil, por exemplo, for preso por suposto cometimento de homicídio, qualquer cidadão, sendo ou nãoAdvogado, poderá peticionar para o Poder Judiciário, a fim de que o paciente seja libertado.152 O Advogado quando impetra habeas corpus em favor de um cliente não necessita de procuração para que a petição sejaconhecida (aceita), a fim de que, posteriormente, o writ seja julgado.

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a legalidade de uma prisão criminal (roubo, furto, homicídio, etc.), até mesmo perante o STF.O que não se pode, de jeito nenhum, é o impetrante deixar de assinar153 a petição do writ,

conforme decisão recente do STF:

“EMENTA: DIREITO PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. PETIÇÃOINICIAL SEM ASSINATURA. DECISÃO MONOCRÁTICA DO RELATOR.SUPERAÇÃO DAS ALEGAÇÕES. LIBERDADE PROVISÓRIA NO CRIME DETRÁFICO DE ENTORPECENTES. IMPOSSIBILIDADE. NÃO CONHECIMENTO.1. Há obstáculos intransponíveis ao conhecimento do habeas corpus: a)a ausência de assinatura da impetrante na petição inicial deste writ, acaracterizar ato inexistente; b) a orientação contida na Súmula n° 691, doSTF, eis que se trata de impetração de habeas corpus contra decisãomonocrática que indeferiu pedido de liminar requerida em outro writ anteriormenteaforado perante o STJ. 2. Ainda que se admita a impetração do habeas

corpus pelo próprio paciente e por pessoa que não possua capacidadepostulatória em juízo, no caso concreto não se observa a assinatura daimpetrante na petição inicial, a caracterizar ato inexistente e, por isso,insuscetível de propiciar qualquer apreciação acerca do mérito (grifosmeus). 3. Houve mera decisão monocrática do relator do STJ no sentido doindeferimento do pedido de liminar, incidindo o óbice representado pela orientaçãoacolhida na Súmula 691, desta Corte. 4. Esta Corte tem adotado orientaçãosegundo a qual há proibição legal para a concessão da liberdade provisória emfavor dos sujeitos ativos do crime de tráfico ilícito de drogas (art. 44, da Lei n11.343/06), o que, por si só, é fundamento para o indeferimento do requerimentode liberdade provisória. 5. HC não conhecido.” (STF – HC nº 90937/GO – SegundaTurma – Rel. Ministra Ellen Gracie, j. 02.09.08, DJe de 25.09.2008)

O instituto do habeas corpus é, em minha opinião, o mais importante instrumento jurídicodisponibilizado ao cidadão e que deveria ser ensinado aos nossos filhos nas escolas. Pois vocês,leitores, concluirão ao final deste capítulo que é muito simples154 confeccionar um habeas corpus,bastando, apenas, algumas informações e esclarecimentos pertinentes.

Alguns militares poderão estar se perguntando: mas qual o interesse para nós saber queterceiros poderão impetrar habeas corpus, já que o próprio paciente-militar poderá ser o impetrante?A resposta é simples: você não estará questionando uma decisão de um superior hierárquico, logo,a princípio, não sofreria “perseguições”, e importante destacar, mais uma vez, que é o impetrantequem questionará a ilegalidade da prisão disciplinar.

4.9. COMO ELABORAR UMA PETIÇÃO DE HABEAS CORPUS?4.9.1. ESPÉCIES DE HABEAS CORPUS: PREVENTIVO E LIBERATÓRIO

São 02 (duas) as espécies de habeas corpus: preventivo (alvará de salvo-conduto) e liberatórioou repressivo (alvará de soltura).

O writ preventivo é utilizado quando alguém se achar na iminência (ameaça) de sofrer violência153 O paciente não está obrigado a assinar a petição do writ, embora, caso queira, não há qualquer problema em que assine.154 Imaginem se a coletividade detivesse conhecimento para elaborar um habeas corpus contra prisões ilegais. Certamente,muitas ilegalidades cometidas por policiais, delegados e militares seriam cessadas no menor prazo possível e a um baixo custo(sem necessidade de contratação de Advogado). E certamente estas autoridades ficariam mais apreensivas ao prender cidadãosilegalmente ou com abuso de autoridade, o que não é incomum, pois, como será demonstrada neste capítulo, a prisão ilegalsujeita o coator a responder um processo criminal por abuso de poder.

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ou coação em sua liberdade de locomoção por ilegalidade ou abuso de poder. Ou seja, ainda nãohouve o cerceamento da liberdade, não há prisão ou detenção ilegal, há apenas uma ameaça, umapossibilidade de restrição da liberdade do direito de ir e vir.

Importante deixar consignado que o Juiz Federal ou o Ministro do STF, por exemplos, nãoserão tão rigorosos com a “forma” da petição inicial do writ, pois há certa “compreensão” quanto àsua forma, haja vista ter sido subscrita por leigo. E podemos citar como exemplo a seguinte ementade autoria do Ministro do STF Marco Aurélio:

“EMENTA: HABEAS CORPUS - PETIÇÃO INICIAL - PARÂMETROS -FLEXIBILIDADE. No exame de petição inicial em habeas corpus, há de proceder-se sem a visão ortodoxa, estritamente técnica, imposta pela legislaçãoinstrumental no tocante à peça primeira de outras ações. A premissa mais serobustece quando a inicial é da autoria do próprio paciente, mostrando-se este leigo relativamente à ciência do Direito. Esforços devem serempregados objetivando o aproveitamento do que redigido (grifo meu).”(STF – HC nº 80145/MG – Segunda Turma – Rel. Min. Marco Aurélio, j. 20.06.00,DJ de 08.09.2000, pág. 06)

Um exemplo prático da utilização do writ preventivo em sede de transgressão disciplinar:instauração ilegal de um processo administrativo disciplinar, ainda não concluído, e obviamente, nãohavendo, no momento, qualquer restrição de liberdade. Neste caso, o militar ainda não foi punido enem há uma punição (prisão ou detenção) a ser executada, porém como a princípio haveria umailegalidade no processo que induziria, ao final, na restrição da liberdade do militar, perfeitamentepossível a utilização do writ preventivo.

O objetivo do habeas corpus preventivo155 é a obtenção de um alvará de salvo-conduto156,onde, por exemplo, um Juiz Federal expedirá uma ordem mandamental contra a autoridade coatora,a fim de que esta fique impedida157 de prender disciplinarmente o militar.

Em 2004, quando ainda era militar da Aeronáutica, impetrei um writ preventivo contra um ex-Comandante da Base Aérea de Natal, em virtude de que havia sido instaurado contra minha pessoaum processo disciplinar absolutamente ilegal. E como havia ameaça de prisão disciplinar, o JuizFederal Francisco Eduardo acatou meu pedido e ordenou a expedição do Alvará de Salvo Condutonº 003/2004, proibindo158 a autoridade coatora de me prender disciplinarmente, devido àquele processoser ilegal (ver anexo 3).

Já o habeas corpus liberatório também chamado de repressivo é utilizado quando, por exemplo,o militar já está preso ou detido ilegalmente, onde se pedirá ao Juiz Federal, no caso de transgressãodisciplinar, que expeça alvará de soltura, ordenando à autoridade coatora a libertação do paciente.

Logo, é simples a identificação do liberatório e do preventivo, não merecendo maioraprofundamento técnico-jurídico159.155 Importante, entretanto, esclarecer que não é obrigatório citar na petição inicial do writ que este é preventivo ou repressivo,pois tal omissão não impedirá o conhecimento do mesmo pelo Judiciário. Como dito, a ação de habeas corpus é bem informal,não se prendendo à forma, importando o conteúdo, a fim de que se permita ao magistrado verificar se há ou não ilegalidade naameaça (preventivo) ou na restrição (repressivo) do direito de liberdade.156 Na petição inicial do writ preventivo, no tópico “PEDIDO” da inicial, requerer-se-á a expedição de alvará de salvo-condutopara o paciente. Já na petição do writ liberatório, será requerida a expedição de alvará de soltura em favor do paciente.157 Se a autoridade militar coatora descumprir a ordem judicial, estará passível de ser processada e julgada por crime dedesobediência, previsto no art. 330 do Código Penal.158 Observa-se neste Salvo Conduto, que o Juiz Federal faz a ressalva de que a autoridade coatora poderia instaurar novoprocesso administrativo disciplinar, caso, contudo, respeitasse a legislação. Então, como já dito anteriormente, em havendoferimento pela autoridade militar de alguma norma jurídica (lei, decreto, portaria, etc) é possível questionar atos administrativoseivados de ilegalidade através do habeas corpus.159 Ressalte-se que se o impetrante não informar na inicial qual a espécie do habeas corpus, tal omissão em nada irá prejudicaro writ, pois caberá ao Juiz Federal verificar se é o caso de preventivo ou liberatório.

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4.9.2. QUEM É A AUTORIDADE COATORA NO HABEAS CORPUS?

Muitas vezes, leigos, e até mesmo Advogados costumam identificar erroneamente a autoridadecoatora, pois dependendo da situação poderá haver dificuldades sobre quem de fato e de direito sejaa autoridade coatora na petição de habeas corpus.

Na petição de habeas corpus, a autoridade coatora é chamada de IMPETRADO, e nada maisé do que a autoridade que está exercendo ilegalmente ou com abuso de poder a violência, a coaçãoou ameaça da liberdade de ir e vir.

Alexandre de Moraes160 assim discorre sobre a legitimidade passiva no writ:

“O habeas corpus deverá ser impetrado contra o ato do coator, que poderá sertanto autoridade (delegado de polícia, promotor de justiça, juiz de direito, tribunal,etc) como particular. No primeiro caso, nas hipóteses de ilegalidade e abuso depoder, enquanto no segundo caso, somente nas hipóteses de ilegalidade. Poróbvio, na maior parte das vezes, a ameaça ou coação à liberdade de locomoçãopor parte de particular constituirá crime previsto na legislação penal, bastandoa intervenção policial para fazê-la cessar. Isso, porém, não impede a impetraçãodo habeas corpus, mesmo porque existirão casos em que será difícil ouimpossível a intervenção da polícia para fazer cessar a coação ilegal (internaçõesem hospitais, clínicas psiquiátricas).”

Na seara administrativa disciplinar, a autoridade coatora será sempre um militar, já que osprocessos administrativos são processados e julgados por autoridades militares.

Mas como identificar a autoridade coatora militar? Será o militar (Oficial) que está investigando(processando e julgando) o fato cometido pelo subordinado? Ou será o chefe imediato? Ou será oComandante da Unidade Militar? Ou será o Comandante de uma Força Armada? Sem dúvidas, oleigo poderá ter dificuldades em identificar a autoridade coatora, entretanto, pode-se identificar coma resposta à seguinte pergunta: qual autoridade tem poder para cancelar a punição disciplinar?Lembremo-nos que, em regra, o processamento e julgamento de processos disciplinares sãodelegados aos Oficiais subordinados ao Comandante de uma Organização Militar (OM).

Exemplificando: um Sargento comete uma transgressão disciplinar dentro de uma Base Aérea,comandada por um Coronel, sendo que àquele exerce suas funções no Almoxarifado. Ocorre, emregra, que será o chefe imediato deste militar, um tenente, por exemplo, que notificará (na verdadeele estará exercendo uma função delegada pelo comandante da unidade militar, ou seja, quem pordireito pune é o comandante) o militar sobre a instauração do processo disciplinar, ouvirá seudepoimento, testemunhas, etc., e ao final, considerando que houve transgressão disciplinar, iráproferir sua decisão, punindo o militar a cumprir detenção ou prisão161. Neste caso, se a puniçãodisciplinar for ilegal, a autoridade coatora não será o tenente, pois este não poderá cancelar apunição, mas sim o Comandante da Base Aérea, pois somente este poderá cancelá-la. Todavia, eu,particularmente162, considero adequado que sejam indicadas como autoridades coatoras tanto oComandante da Unidade Militar quanto o Oficial que processou e julgou o processo disciplinar.

160 MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. Editora Atlas: São Paulo, 2002. 11ª edição. pág. 144.161 Há regulamentos, como da Aeronáutica, prevendo que a primeira prisão de militar deverá ser decretada pelo Comandante daOrganização Militar.162 Tal dificuldade poderá ser enfrentada pelo próprio Juiz Federal, pois oportuno ressaltar, que é possível que um Juiz Federalem início de carreira não conheça adequadamente a utilização do writ nas punições administrativas disciplinares. E isso jáaconteceu comigo: em 2004, um Juiz Federal entendeu que não era cabível o writ para questionar punição disciplinar, emborao STF já conheça do writ nas transgressões há muito tempo atrás.

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Não há qualquer problema nisso, ocorrerá que o Juiz irá definir quem é a autoridade coatora,inclusive, eu mesmo fiz isto algumas vezes e nunca tive problemas no processamento e julgamentodos writs. Logo, na dúvida, coloque como autoridade coatora a maior autoridade de sua OrganizaçãoMilitar e àquela que o notificou e realizou todos os trâmites no processo administrativo disciplinar.

A regra, entretanto, é a seguinte: a autoridade coatora será àquela que, pelos regulamentosdisciplinares, detém o poder de impor a punição disciplinar.

O art. 10 do Regulamento Disciplinar do Exército (RDE), o art. 42 do RDAER e o art. 19 doRDM enumeram as autoridades competentes para a aplicação da punição disciplinar. Assim, estasserão as autoridades coatoras (impetrados) nos habeas corpus em caso de punições disciplinaresilegais.

Vejamos o art. 42 do RDAER, a fim de melhor visualização da autoridade coatora “em potencial”no writ constitucional:

“Art.42. Tem competência para aplicar punições disciplinares:1 - A todos os que estão sujeitos a este regulamento:a) o Presidente da República;b) o Ministro da Aeronáutica.2 - A todos os que servirem sob seus respectivos comandos ou foremsubordinados funcionalmente (grifo meu):a) os Oficiais-Generais em função;b) os Oficiais Comandantes de Organização;c) os Chefes de Estado-Maior;d) os Chefes de Gabinete;e) os Oficiais Comandantes de Destacamento, Grupamento e Núcleo;f) os Oficiais Comandantes de Grupo, Esquadrão e Esquadrilha.3 - Os Chefes de Divisão e Seção administrativas ou outros órgãos, responsáveispela administração de pessoal, quando especificamente previsto no Regulamentoou Regimento Interno da Organização.Parágrafo único. O Quadro Anexo II especifica a punição máxima que pode seraplicada pelas autoridades referidas neste artigo.”

Todavia, mesmo que a autoridade coatora seja indicada erroneamente, é possível que o habeas

corpus seja processado e julgado, caso seja possível ao Juiz, com base nos fatos e/ou documentosjuntados163 à inicial do writ, identificar a autoridade coatora, conforme a seguinte decisão do STM:

“EMENTA: HABEAS CORPUS. IPM. TRANCAMENTO. FATOS JÁ APURADOSEM OUTRO PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO. AUSÊNCIA DE FATOSNOVOS. PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE DE PARTE. AUTORIDADECOATORA IMPROPRIAMENTE INDICADA. Somente em casos especialíssimosse procede a trancamento de IPM através de “habeas corpus”. Constitui evidente

163 Junte a notificação da instauração do processo disciplinar ou mesmo cópia de todo o processo, caso já concluído e seja-lheentregue. Não se surpreendam se a autoridade militar de sua OM se negar a fornecer cópias do processo disciplinar (isso é ilegal,ou melhor, inconstitucional). Porém, se isso ocorrer, deverá ser informado na petição do habeas corpus. E é adequado que façao pedido (parte s/nº, por exemplo) por escrito (em 2 vias) de cópias do processo disciplinar e peça para que uma cópia sejaassinada ou protocolada no quartel, conforme for o caso, e após junte tal cópia à inicial do writ e solicite ao juiz que intime aautoridade coatora para que a mesma entregue as referidas cópias em juízo. Pois assim, o Juiz saberá que você requereu as cópiasdo processo disciplinar e que a autoridade coatora, a princípio, negou-lhe um direito constitucional, e isso, certamente, iráinfluenciar em seu favor perante o magistrado.

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constrangimento ilegal submeter alguém novamente à condição de indiciado,em razão dos mesmos fatos já apurados e esclarecidos em outro IPM, que jáfoi alvo de manifestação judicial, sem a ocorrência de fatos novos. A ação penalmilitar é publica por excelência (art. 29, do CPM) e, por tal razão não prescindede representação do ofendido, mesmo nos crimes contra a honra. Na açãodeclaratória de “habeas corpus” a indicação equivocada da autoridadecoatora pelo Impetrante não impede o conhecimento da causa se, pelosdocumentos instrutórios, o juiz identifica quem está praticando a supostacoação (grifos meus). Ordem concedida. Decisão majoritária.” (STM – HC nº2000.01.033560-9/RJ – Rel. Min. João Felippe Sampaio de Lacerda Júnior, j.12.09.00, DJ de 24.10.2000)

Na decisão acima está destacado em negrito: “preliminar de ilegitimidade de parte”, que étecnicamente, em síntese, um pedido da autoridade coatora para que o habeas corpus não sejaconhecido, e assim não seja julgado, sob a alegação de que não foi indicada corretamente a autoridadecoatora pelo impetrante.

E, neste caso, o Tribunal Militar rejeitou essa preliminar, em virtude de que foi possível identificara autoridade coatora nos autos do habeas corpus e, por isso, foi concedido o writ para cessar ailegalidade da constrição da liberdade do militar.

Importante, ainda, tecer comentários sobre o princípio da encampação, também utilizado nohabeas corpus, ocorrendo quando a autoridade coatora é erroneamente identificada. Todavia, devidoao fato de a mesma ser superior à erroneamente identificada e prestar informações, ou seja, defender-se do writ, acaba por ratificar a ilegalidade, e assim fazendo, passará (encampação – ratificação dapunição ilegal) a ser a autoridade coatora.

Vejamos uma decisão judicial sobre o tema encampação em sede de mandado de segurança,que pode, certamente, ser utilizada como exemplo para o habeas corpus:

“EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DESEGURANÇA. AUTORIDADE IMPETRADA. INDICAÇÃO DE LEGITIMAÇÃODO INFERIOR HIERÁRQUICO. ATAQUE AO ATO IMPUGNADO. ENCAMPAÇÃODA LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. PRECEDENTES. 1. Recursoordinário em mandado de segurança oposto contra acórdão que extinguiu writ

ante o reconhecimento da ilegitimidade passiva ad causam da autoridade coatora.2. Pacificou-se de forma contundente nesta Corte Superior o entendimento deque se a autoridade, indicada como coatora, em suas informações, encampa oato atacado na impetração praticado por autoridade de hierarquia inferior, a elasubordinado, e contesta o mérito da impetração, embora não o tenha praticado,passa a ter legitimidade para a causa, com o conseqüente deslocamento dacompetência. Inaplicabilidade do art. 267, VI, do CPC. 3. Precedentes dasegrégias 1ª e 3ª Seção, e 1ª, 2ª, 5ª e 6ª Turmas desta Corte Superior. 4. Recursoprovido. Baixa dos autos ao egrégio Tribunal de origem para que prossiga nojulgamento da ação, com o exame das demais questões.” (STJ – ROMS nº20422/RN – Primeira Turma – Rel. Min. José Delgado, j. 13.09.05, DJ de10.10.2005, pág. 221)

Assim, restou esclarecido quem poderá figurar como autoridade coatora no writ constitucional.

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4.9.3. QUAIS OS DOCUMENTOS NECESSÁRIOS PARA JUNTAR À PETIÇÃO INICIAL DO WRIT?

Primeiramente, importante frisar que a ação de habeas corpus exige prova pré-constituída164,ou seja, é necessário que todas as provas sejam juntadas com a petição inicial. Não é possível, emregra165, que sejam produzidas provas posteriormente (dilação probatória), embora, ressalte-se, sejapossível impetrar o writ sem qualquer documento. Entretanto, obviamente, irá ser prejudicial aopaciente, pois o Juiz poderá não ter subsídios suficientes para concluir pela ilegalidade da prisãodisciplinar.

Assim o STF tem entendido sobre a prova pré-constituída:

“A ação de habeas corpus – que possui rito sumaríssimo – não comporta, emfunção de sua própria natureza processual, maior dilação probatória, eis que aoimpetrante compete, na realidade – sem prejuízo da complementação instrutóriaministrada pelo órgão coator -, subsidiar, com elementos documentais pré-constituídos (grifo meu), o conhecimento da causa pelo Poder Judiciário. Autilização adequada do remédio constitucional do habeas corpus impõe, emconseqüência, seja o writ instruído, ordinariamente, com documentos suficientese necessários à análise da pretensão de direito material nele reduzida.” (JSTF161/311).

O STJ segue tal entendimento, impossibilitando a dilação probatória em sede de habeas

corpus, então vejamos:

“O habeas corpus, remédio constitucional assecuratório da liberdade física oudo direito de locomoção, tem rito especial, não comportando, no seu curso,dilação probatória” (RSTJ 76/42-3).

“EMENTA: CRIMINAL. RHC. MILITAR. PENA DISCIPLINAR. PRETENSÃO DEAFASTAMENTO DA SUBORDINAÇÃO DIRETA À AUTORIDADE APONTADACOMO COATORA. ANULAÇÃO DA MEDIDA RESTRITIVA DE LIBERDADE.SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. NÃO CONHECIMENTO. PLEITO DE ANULAÇÃODA PUNIÇÃO INJUSTAMENTE APLICADA E DE POSSÍVEIS PUNIÇÕES.DILAÇÃO PROBATÓRIA. IMPROPRIEDADE DO WRIT. RECURSOPARCIALMENTE CONHECIDO E DESPROVIDO. I. Pretensão de afastamentoda subordinação direta em relação à autoridade apontada como coatora, assimcomo de anulação da medida restritiva de liberdade aplicada. II. Matérias nãoapreciadas em 2º grau de jurisdição. III. Exame que ocasionaria indevidasupressão de instância. IV. Pretensão de anulação da punição injustamenteaplicada, assim como das possíveis punições advindas dos memorandosexpedidos que demandaria análise do conjunto fático-probatório, inviávelem sede de habeas corpus (grifos meus). V. Recurso parcialmente conhecido

164 Ou seja, não admite dilação probatória, isto é, que sejam realizadas provas após sua impetração, como, exemplo, a provatestemunhal.165 Digo em regra, porque poderá ocorrer, por exemplo, da autoridade coatora estar de posse de documentos necessários à provada prisão ilegal e ter se negado a fornecer ao militar, logo, será possível requerer tais documentos ao Juiz para serem juntadosposteriormente aos autos.

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e desprovido.” (STJ - RHC nº 16.299/AM, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTATURMA, julgado em 07/10/2004, DJ 16/11/2004, pág. 302)

Sendo assim, o impetrante deverá juntar quaisquer documentos que possam demonstrar ailegalidade da prisão disciplinar, sendo que é conveniente que sejam juntados, pelo menos, osseguintes: a) cópias166 da identidade e CPF167 do paciente e do impetrante; b) cópia dos autos168 doprocesso administrativo disciplinar ou da notificação sobre a instauração do processo e c) cópia dodocumento oficial (boletim interno, etc.) da respectiva Força Armada decretando a punição disciplinar.

É obrigação da respectiva Força Armada entregar cópias dos autos do processo disciplinarao militar punido, sendo que tal pedido deve ser formal169 (por escrito) e caso a AdministraçãoCastrense se negue170 a fornecer os autos, deve-se informar tal fato ao Juiz na petição de habeas

corpus e juntar cópia do comprovante do seu pedido administrativo.Entretanto, caso a autoridade militar se negue a fornecer cópia dos autos do processo disciplinar

ou quaisquer outros documentos de vital importância para se identificar a ameaça ou ilegalidade daprisão, dou a dica para que, dentre os pedidos constantes na petição inicial (ver anexo 4), sejaacrescido o seguinte: “requer-se a intimação da autoridade coatora para, no prazo de 24 (vinte equatro) horas de sua intimação171 pessoal, juntar aos autos cópia do processo administrativodisciplinar”.

Por analogia, podemos demonstrar tal possibilidade de requisição de documentos pelo JuizFederal, respectivamente, com a leitura do art. 191 do Regimento Interno do STF e do art. 140 doRegimento Interno do TRF5, que tratam do habeas corpus de competência originária172, então vejamos:

“Art. 191. O Relator requisitará informações do apontado coator e, sem prejuízodo disposto no art. 21, IV e V, poderá:...II – ordenar diligências necessárias à instrução do pedido, no prazo queestabelecer, se a deficiência deste não for imputável ao impetrante (grifomeu);...”

“Art. 140. O Relator requisitará, se necessário, informações à autoridadeimpetrada, no prazo que fixar, podendo ainda:I – deferir os pedidos liminares;

166 Não é necessário autenticação das cópias dos documentos anexados à petição inicial.167 Não há nenhuma lei obrigando a juntada de cópia de identidade ou CPF para impetrar habeas corpus ou ajuizar uma açãocível, entretanto há órgãos do Poder Judiciário, como, por exemplo, as Varas Federais do RN que exigem, obrigatoriamente,o CPF. Logo, é sensato, se possível, é claro, juntar, desde logo, tais documentos, a fim de não atrasar o processamento do writ.168 O militar detém o direito a uma cópia dos autos do processo disciplinar, sendo que tal pedido deve ser feito por escrito aosuperior hierárquico, a fim de que, futuramente, possa se provar que foi solicitado.169 Lembre-se: quando for protocolar na Organização Militar seu pedido de cópia dos autos, leve 02 (duas) cópias do pedido eexija que o responsável pelo setor competente assine (ou protocole) o recebimento de uma cópia, a fim de que receba 1 (uma)cópia que comprovará seu pedido administrativo.170 O habeas data (Art. 5º, inciso LXXII, da CF/88 e Lei nº 9.507/97) é um dos instrumentos jurídicos adequados para obrigara Administração Castrense a entregar documentos de seu interesse (ver capítulo 8).171 Na Justiça Federal Comum, os prazos processuais são contados a partir do momento em que o mandado judicial cumpridopelo Oficial de Justiça é juntado aos autos do processo. Assim, caso não seja pedido e deferido o pedido para que a contagemdo prazo seja a partir da intimação pessoal da autoridade coatora, ocorrerá, sem dúvidas, maior demora na entrega dadocumentação.172 Competência originária, neste caso, em resumo, quer dizer que o habeas corpus será iniciado, impetrado, diretamente noTribunal Federal da 5ª Região.

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II – sendo relevante a matéria, nomear advogado para acompanhar e defenderoralmente o pedido, se o impetrante não for bacharel em Direito;III – ordenar diligências necessárias à instrução do pedido (grifo meu);IV – se convier, ouvir o paciente.”

Se a petição do habeas corpus estiver instruída, pelo menos, com os autos do processoadministrativo disciplinar, isso permitirá ao Juiz verificar se houve alguma ilegalidade na imposiçãoda punição disciplinar.

4.9.4. COMO AJUIZAR O HABEAS CORPUS PERANTE O PODER JUDICIÁRIO?

Primeiramente, importante informar que o habeas corpus poderá ser impetrado em qualquerhorário e em qualquer dia da semana, mesmo feriado, sábado ou domingo, pois há plantões judiciaisna Justiça Federal. O impetrante, ao chegar ao Fórum173 em dias e horários fora do expediente,deverá informar ao segurança174 que quer impetrar um habeas corpus e que o Diretor plantonistaseja comunicado imediatamente.

Com a petição pronta e assinada mais os documentos, leve175 03 (três) cópias ao setor deprotocolo (distribuição) do Fórum Federal, onde será recebida pelo funcionário. O servidor irá protocolaras petições, devolvendo-lhe uma cópia: simples!!! (lembre-se que não precisa pagar nada!).

Importantíssimo esclarecer o seguinte: os Comandantes das Forças Armadas detêm foroprivilegiado, logo a impetração do writ deverá ser necessariamente perante o STF situado176 em Brasília/DF. As demais impetrações de writ contra atos ilegais de superiores hierárquicos deverão ser impetradasno local177 em que os mesmos exerçam suas atividades militares. (se for de Manaus, deverá serimpetrado, necessariamente, em Manaus, e assim por diante).

173 O ideal é ligar antes para a Justiça Federal ou STF para saber sobre os procedimentos para impetrar habeas corpus fora doexpediente.174 Como dito, o Fórum federal fica fechado fora dos horários de expediente e o Juiz de plantão e sua equipe, em regra, nãoficam no Fórum, como é o caso do Rio Grande do Norte, por isso disse “segurança”, pois eles possuem os nomes da equipe doplantão. Nos sites do Poder Judiciário costuma-se informar a tabela dos plantões. Em regra, os nomes dos servidores e juízesde plantão ficam disponíveis no respectivo site da Justiça Federal. Ressalte-se que cada Estado poderá ter seu próprioprocedimento para a equipe de plantão. Apenas a título de curiosidade, no RN, ocorre que o segurança liga para o Diretor deSecretaria do Juízo de Plantão e este recebe o writ, e após o encaminha para o Juiz Federal de plantão. Já em alguns fórunsfederais (seções ou subseções) há telefone especial para o plantão, como no Pará e no Mato Grosso do Sul, conforme se poderáobservar na relação de fóruns (ver anexo 2).175 É possível enviar as petições via correio, sendo que no endereçamento deverá ser escrito, também, o seguinte: “SETOR DEPROTOCOLO - PETIÇÃO DE HABEAS CORPUS”. Pode-se, também, enviar via fax, contanto que em seguida sejamenviadas via correio ou protocoladas pessoalmente as petições e documentos originais, devendo, obrigatoriamente, chegar aoFórum no prazo de até 05 (cinco) dias contados do dia seguinte ao envio do FAX, conforme previsão contida na Lei nº 9.800/99, sob pena de não conhecimento do writ. Por isso, é ideal mandar via SEDEX. Em fevereiro de 2009 fui contratado por ummilitar da Base Aérea de Santa Cruz (Rio de Janeiro) para impetrar um habeas corpus contra o respectivo Comandante. Envieivia FAX no sábado e os originais na segunda-feira, via SEDEX, tendo sido aceito o pedido via fac-símile e concedida liminar,impedindo-se, assim, a prisão do paciente.176 Os endereços e os telefones do STF e das principais Varas Federais (Justiça Federal) do País estão dispostos no anexo 2.177 Ver o tópico 9.9 sobre o local da impetração de mandado de segurança.

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A partir de então, a petição e os documentos farão parte dos autos178 do processo de habeas

corpus, onde o Juiz Federal179 irá analisar e, dependendo do caso, poderá tomar as seguintes decisões:a) deferir imediatamente liminar180, a fim de cessar a ilegalidade ou impedir (writ preventivo), notificandopessoalmente a autoridade coatora militar para soltar o preso disciplinar ou ficar impedida de prendê-lo; b) ordenar a intimação da autoridade coatora, para no prazo de 24 (vinte e quatro) horas ou mais,manifestar-se sobre o pedido181 de liminar, para após conceder ou não a liminar; ou c) indeferir aliminar e intimar (notificar) a autoridade coatora para oferecer defesa (prestar informações) em 10(dez) dias.

Após a autoridade coatora oferecer as informações, em regra, o Juiz Federal182 manda osautos para o MPF oferecer parecer183. Somente após, o Juiz proferirá a sentença: como se percebe,em não sendo concedida liminar, praticamente, o writ não servirá para nada, já que o militar poderájá ter cumprido toda a punição disciplinar.

Vejamos uma decisão do STJ que considerou prejudicado184 o writ, em virtude de que omesmo seria julgado após terminado o cumprimento da punição disciplinar:

“EMENTA: HABEAS CORPUS. PENA DISCIPLINAR. Inexistindo ameaça oucoação à liberdade de locomoção, do paciente, ante o exaurimento da puniçãodisciplinar, desapareceu o pressuposto do habeas corpus (grifo meu),previsto no texto constitucional (art. 5., lV, da constituição). Precedentesjurisprudenciais. Habeas corpus julgado prejudicado.” (STJ – HC nº 1.001/DF,Rel. Ministro ASSIS TOLEDO, TERCEIRA SECAO, julgado em 20/02/1992, DJ09/03/1992, pág. 2.531)

Logo, como se observa, não há dificuldade alguma para a impetração do writ, sendo que oacompanhamento185 do processo, seja na Justiça Federal ou no STF, poderá ser observado nossites da internet (ver anexo 5).

178 Autos, tecnicamente falando, são os documentos constantes do processo, ou seja, as folhas, fotos, dentre outros, quecompõem o caderno processual.179 Lembre-se: se a autoridade coatora for um dos Comandantes das Forças Armadas, a impetração deverá ser protocolizada noSTF. Outra informação importante: não precisa ir até Brasília ou pedir a alguém de lá para protocolar pessoalmente o writ,mande via FAX e após encaminhe os originais via correio, de preferência por SEDEX, a fim de cumprir a exigência previstana Lei nº 9.800/99.180 Liminar é a antecipação da decisão final da sentença de habeas corpus, quando o Juiz Federal verificando que há ilegalidadeou abuso de poder e perigo na demora do processamento e julgamento do writ (periculum in mora e fumus boni iuris), decideemitir ordem liminar de habeas corpus, ordenando a soltura imediata do paciente. Ou então, quando o writ é preventivo,ordena que a autoridade coatora fique impedida de prender o militar. Digamos que um militar seja preso por 10 (dez) dias: se oJuiz não der a liminar, certamente, o militar cumprirá toda a punição antes de proferida a sentença final.181 Em regra, pelo menos aqui no RN, os Juízes Federais pedem um prévio pronunciamento da autoridade coatora, por isso éimportante que o habeas corpus seja impetrado o mais rápido possível antes do dia de início do cumprimento da puniçãodisciplinar.182 Os procedimentos perante o STF estão dispostos no seu Regimento Interno, que poderá ser baixado de meu site pessoal.183 Parecer é o documento jurídico onde o Procurador da República (Ministério Público Federal) irá dar sua opinião jurídica sobreo pedido de habeas corpus, pronunciando-se sobre a concessão ou denegação da ordem de habeas corpus. Tal parecer nãovincula o Juiz Federal a proferir decisão no writ de acordo com o entendimento do Ministério Público.184 Este termo, em outras palavras, quer dizer o seguinte: não adianta mais julgar o writ, em virtude de que o paciente já cumpriutoda a punição disciplinar, logo não há mais restrição ilegal de liberdade (ou seja, o Judiciário não vai se pronunciar, pelo menosnos autos do habeas corpus, se a prisão disciplinar foi ou não ilegal). Porém, futuramente, o militar poderá requerer a anulaçãoda punição através de um mandado de segurança (o prazo para impetração é de até 120 dias a contar do ato ilegal) ou açãoordinária.185 Porém cabível esclarecer que os sites oficiais do Poder Judiciário, em regra, não servem como instrumentos de comunicaçõesoficiais dos despachos ou das decisões judiciais, pois na prática, funcionam como uma ajuda informal ao jurisdicionados.

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4.9.5. MODELOS SIMPLES DE PETIÇÕES DE HABEAS CORPUS

Primeiramente, interessa saber que a petição do writ constitucional deverá conter, no mínimo,os seguintes requisitos, conforme disposições contidas do art. 654 do CPP:

“Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seufavor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público.§ 1º A petição de habeas corpus conterá:a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coaçãoe o de quem exercer a violência, coação ou ameaça;b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaçade coação, as razões em que funda o seu temor;c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ounão puder escrever, e a designação das respectivas residências....”

O art. 190 do Regimento Interno do STF explicita quais os requisitos mínimos da petiçãoinicial do writ:

“Art. 190. A petição de habeas corpus deverá conter:CPP: § 1° do art. 654.I – o nome do impetrante, bem como o do paciente e do coator;II – os motivos do pedido e, quando possível, a prova documental dos fatosalegados;III – a assinatura do impetrante ou de alguém a seu rogo, se não souber ou nãopuder escrever.”

Há um detalhe muito relevante neste inciso II, quando prevê que “... e, quando possível, a provadocumental dos fatos alegados;”. Digo importante, porque embora não seja obrigatória a comprovaçãopor documentos do ato dito ilegal, ocorre que em sendo possível juntar documentos à petição inicial,estes poderão comprovar, por si sós186, a prisão ilegal ou sua iminência. Além de que tais documentospoderão contribuir, significativamente, para a concessão de liminar e para a sentença do writ, conformejá comentado anteriormente.

Exporei 04 (quatro) modelos, bem simples de petições iniciais de habeas corpus, sendo as 02(duas) primeiras impetradas perante a Justiça Federal de Primeira Instância (Juiz Federal), a terceiraperante o STM e a última perante o STF:

a) PETIÇÃO INICIAL DE HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO (Juiz Federal): (ver anexo 4 – modelo 1)

b) PETIÇÃO INICIAL DE HABEAS CORPUS PREVENTIVO (Juiz Federal): (ver anexo 4 – modelo 2)

c) PETIÇÃO INICIAL DE HABEAS CORPUS COM PEDIDO LIMINAR (STM): (ver anexo 4 – modelo 3)

d) PETIÇÃO INICIAL DE HABEAS CORPUS (STF): (ver anexo 4 – modelo 4)

Desta forma, percebe-se o quanto é fácil elaborar uma petição de habeas corpus.

186 A primeira atitude do Juiz Federal ao receber a petição inicial do writ será verificar se existe prova documental dos fatosalegados. Verificando que existe prova suficiente e concluindo pela ilegalidade será possível que conceda a ordem liminarmente.Todavia, caso não disponha de documentos suficientes, irá intimar (notificar) a autoridade coatora para que preste asinformações (defesa) e somente após irá decidir sobre pedido liminar, ou então, decidir o mérito definitivo do habeas corpus.

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4.9.6. A LIMINAR EM SEDE DE HABEAS CORPUS

A CF/88 não previu a concessão de liminar187, assim como não há previsão nos CódigosProcessuais Penais e nem em leis esparsas, entretanto, tanto a doutrina quanto à jurisprudência denossos Tribunais são unânimes em possibilitar a concessão de liminar. Há regimentos internos deTribunais que prevêem a concessão de liminar pelo relator nos habeas corpus, assim como oRegimento Interno do STJ prevê no § 1º do art. 83 a concessão de liminar em pedido de habeas

corpus, então vejamos:

“Art. 83. Suspendem-se as atividades judicantes do Tribunal nos feriados, nasférias coletivas e nos dias em que o Tribunal o determinar.§ 1º. Nas hipóteses previstas neste artigo, poderá o Presidente ou seu substitutolegal decidir pedidos de liminar em mandado de segurança e habeas corpus,determinar liberdade provisória ou sustação de ordem de prisão, e demaismedidas que reclamem urgência...”

O inciso IV do art. 201 do Regimento Interno do STJ prevê a concessão de liminar188, inclusive,em sede de writ preventivo, conforme se depreende da leitura189 do referido dispositivo:

“Art. 201. O relator requisitará informações do apontado coator, no prazo quefixar, podendo, ainda:I - nomear advogado para acompanhar e defender oralmente o pedido, se oimpetrante não for bacharel em Direito;II - ordenar diligências necessárias à instrução do pedido;III - se convier ouvir o paciente, determinar sua apresentação à sessão dejulgamento;IV - no habeas corpus preventivo, expedir salvo-conduto em favor do paciente,até decisão do feito, se houver grave risco de consumar-se a violência(grifo meu).”

O art. 140 do Regimento Interno do TRF5, que trata do habeas corpus de competênciaoriginária190, assim prevê a concessão de liminar:

“Art. 140. O Relator requisitará, se necessário, informações à autoridadeimpetrada, no prazo que fixar, podendo ainda:I – deferir os pedidos liminares (grifo meu);II – sendo relevante a matéria, nomear advogado para acompanhar e defenderoralmente o pedido, se o impetrante não for bacharel em Direito;

187 Liminar no writ é uma decisão anterior ao julgamento do mérito, visando, precipuamente, preservar o direito de ir e vir dopaciente até o julgamento do writ, seja preventivo ou liberatório.188 Um detalhe muito importante: o fato de ser concedida a liminar, não quer dizer que o mérito do writ será pela concessão daordem, pois há casos em que após a prestação de informações da autoridade coatora, o Juiz Federal ou o Plenário do STF(conforme a competência) entenda que a prisão foi legal. E neste caso, o Juiz Federal, por exemplo, irá expedir ordemrevogando o alvará de salvo-conduto ou alvará de soltura, possibilitando, assim, a prisão do “paciente”.189 Não consta a palavra liminar, todavia, quando o texto diz “até decisão do feito”, conclui-se que se trata de liminar.190 Competência originária, neste caso, em resumo, quer dizer que o habeas corpus será iniciado, impetrado, diretamente noTribunal Federal da 5ª Região.

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III – ordenar diligências necessárias à instrução do pedido;IV – se convier, ouvir o paciente.”

Mas o que é a liminar191? Qual sua pertinência ou utilidade prática? Como obtê-la?Alexandre de Moraes192, citando o mestre Mirabete, faz o seguinte comentário sobre o tema

que pode ser utilizado como resposta às indagações acima:

“1.7.3. Liminar em habeas corpusEm ambas as espécies haverá possibilidade de concessão de medida liminar,para se evitar possível constrangimento à liberdade de locomoção irreparável.Julio Fabbrini Mirabete lembra que “embora desconhecida na legislação referenteao habeas corpus, foi introduzida nesse remédio jurídico, pela jurisprudência, afigura da “liminar”, que visa atender casos em que a cassação da coação ilegalexige pronta intervenção do Judiciário. Passou, assim, a ser mencionada nosregimentos internos dos tribunais a possibilidade de concessão de liminar pelorelator, ou seja, a expedição do salvo conduto ou a ordem liberatória provisóriaantes do processamento do pedido, em caso de urgência”, concluindo que “comomedida cautelar excepcional, a liminar em habeas corpus exige requisitos: opericulum in mora (probabilidade de dano irreparável) e o fumus boni iuris (elementosda impetração que indiquem a existência da ilegalidade no constrangimento).””

Com a transcrição doutrinária acima, surgem 02 (dois) novos termos técnicos estrangeiros:periculum in mora e fumus boni iuris.

Como dito acima, o primeiro refere-se à probabilidade de dano irreparável, ou seja, o perigo dademora da prestação jurisdicional. Esta demora poderá resultar em graves malefícios ao paciente,caso se aguarde todos os procedimentos necessários ao processamento e julgamento do mérito dowrit. Ressalte-se que o simples fato de a pessoa ter restringido o seu direito de ir e vir ou na iminênciade sua restrição, por si só, configura o perigo da demora193 (periculum in mora) da prestaçãojurisdicional194. Já o segundo refere-se a um indício de que há ilegalidade, o termo fumus boni iuris

significa “fumaça do bom direito”. Significa, em síntese, não ser necessário que o Juiz tenha absolutacerteza de que haja ilegalidade na prisão ou na sua iminência, mas sim que haja probabilidade (suspeita)de que a prisão ou ameaça possa ser ilegal.

Caso, por exemplo, o Juiz Federal convença-se da existência do perigo da demora (danoirreparável) e probabilidade de que o direito (haja indicação de ilegalidade) do paciente seja relevante,é possível que seja concedida a liminar.

Então, dou uma dica: sempre peça liminar no habeas corpus, seja ele preventivo ou repressivo,embora não consiga identificar o periculum in mora e fumus boni iuris, posto que como já dito, o JuizFederal ao ler a petição irá verificar se existem ou não os requisitos mínimos necessários para aconcessão de liminar.

191 Em resumo: neste caso, liminar é uma antecipação da concessão da ordem de habeas corpus, antes de findado o regularprocesso judicial, ou seja, antes de proferida a sentença definitiva de mérito, que considerará ou não a prisão ou a ameaça ilegal.192 MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. Editora Atlas: São Paulo, 2002. 11ª edição. pág. 144/145.193 Em regra, os magistrados federais e estaduais verificam em primeiro lugar se há perigo da demora, para somente apósverificar se existe a fumaça do bom direito. E quando não vislumbra o primeiro, costumam não analisar o segundo requisitonecessário para a concessão de liminar.194 Prestação Jurisdicional, em resumo, significa ter um pedido (direito) analisado (sentenciado) pelo Poder Judiciário.

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4.10. RECURSOS EM CASO DE INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL OU DENEGAÇÃO195

DA ORDEM DE HABEAS CORPUS

E, agora, poderá surgir uma pergunta? E se o pedido de habeas corpus preventivo ou liberatóriofor indeferido pelo Juiz Federal ou STF? Caberá recurso desta decisão para instância superior? Aresposta é afirmativa! Será necessária a intervenção de Advogado nos recursos em habeas corpus?A resposta é negativa, conforme entendimento pacificado do STF:

“EMENTA: RECURSO - HABEAS CORPUS - DISPENSA DA CAPACIDADEPOSTULATÓRIA. Versando o processo sobre a ação constitucional dehabeas corpus, tem-se a possibilidade de acompanhamento pelo leigo,que pode interpor recurso, sem a exigência de a peça mostrar-sesubscrita por profissional da advocacia (grifo meu). Precedentes: Habeas

Corpus nº 73.455-3/DF, Segunda Turma, relator ministro Francisco Rezek, Diárioda Justiça de 7 de março de 1997, e Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº60.421-8/ES, Segunda Turma, relator ministro Moreira Alves, Revista Trimestralde Jurisprudência 108/117-20. O enfoque é linear, alcançando o recursointerposto contra decisão de turma recursal de juizado especial proferida porforça de habeas corpus.” (STF – RHC nº 84716/MG – Primeira Turma – Rel.Min. Marco Aurélio, j. 19.10.04, DJ de 26.11.2004, pág. 25)

O STJ segue tal entendimento, então vejamos:

“EMENTA: PROCESSUAL PENAL. HABEAS-CORPUS. RECURSOINTERPOSTO POR PESSOA SEM O JUS POSTULANDI. POSSIBILIDADE.PRECEDENTES DO STF E DO STJ. RECURSO PROVIDO. I - Seria um ilogismoadmitir o mais: a impetração de habeas-corpus por leigo (CPP, art. 654; EOAB,art. 71, p.1.) e inadmitir o menos: o recurso no caso de sucumbimento.Precedentes do STF e do STJ. II - Recurso provido.” (STJ – RHC nº 2.342/SP,Rel. Ministro ADHEMAR MACIEL, SEXTA TURMA, julgado em 14/12/1992, DJ01/03/1993, pág. 2.535)

Entretanto, há uma decisão do TRF5 entendendo que é obrigatória196 a capacidade postulatória(intervenção197 de Advogado) para interpor recursos nos habeas corpus:

“EMENTA: PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.PROPOSITURA POR ESTUDANTE DO CURSO DE DIREITO.IMPOSSIBILIDADE. DEFEITO DE REPRESENTAÇÃO. NÃO CONHECIMENTO.É possível a impetração de habeas corpus por estudante de direito, mas não ainterposição de eventual recurso (grifo meu). Vício de representação que

195 Denegação é o termo utilizado no dispositivo da sentença que julga improcedente o pedido de habeas corpus.196 Os TRFs e os Juízes Federais não são obrigados a seguir o entendimento jurídico dos Ministros do STF, a não ser em casosespecíficos, como por exemplos, súmulas vinculantes (matéria recentemente incorporada no direito brasileiro) e decisões emAções Diretas de Inconstitucionalidades. Assim, quando for interpor um recurso em qualquer TRF, é oportuno citar jurisprudênciado STF, que dispensa a intervenção de Advogado, para assim, quem sabe, o TRF siga o entendimento da Maior Corte de Justiçade nosso País.197 O MPF, obviamente, detém também capacidade postulatória para recorrer.

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impede o conhecimento do recurso.” (TRF5 – RSE nº 1027/PE – 4ª Turma –Rel. Desembargador Federal Lázaro Guimarães, j. 27.11.07, DJ de 08.02.2008,pág. 2.084)

Ressalte-se, todavia, que existem requisitos obrigatórios para a interposição de recursos,logo há necessidade de grande atenção quando se pretender recorrer (sem a ajuda de Advogado)para instâncias superiores. Entretanto, não adentrarei no estudo aprofundado destes requisitos oupressupostos necessários para interposição198 de recursos, posto que extrapolam o objetivo destecapítulo. Porém, apenas a título de informação, passarei a citar os seguintes recursos cabíveis noshabeas corpus, pois de interesse neste capítulo:

a) recurso contra indeferimento de pedido liminar (periculum in mora e fumus boni iuris) nowrit: não há recurso previsto em lei e a jurisprudência entende que é uma decisãoirrecorrível;

b) recurso contra decisão do Juiz Federal que indefere a petição (não conhece) do writ, ouseja, sequer analisando o mérito: por inexistência de recurso próprio, tem-se aceitadoo recurso em sentido estrito para o TRF (art. 581, inciso X, do CPP). Entretanto, hátribunais que não aceitam o recurso em sentido estrito, mas o recurso simples (inominado),e há ainda decisões que entendem não haver recurso próprio, logo cabível a impetração denovo habeas corpus, entretanto, neste figurará como autoridade coatora o magistrado queindeferiu a inicial liminarmente, sem apreciação do mérito, então vejamos algumas dessasdecisões:

“EMENTA: PENAL - RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - INDEFERIMENTOLIMINAR DO HABEAS CORPUS (grifo meu) - EXTINÇÃO SEM JULGAMENTODO MÉRITO - AUSÊNCIA DE SUPORTE PROBATÓRIO A DEMONSTRAR REALAMEAÇA AO DIREITO DE IR E VIR DO PACIENTE - INFORMAÇÕES DAAUTORIDADE IMPETRADA QUANTO À INEXISTÊNCIA DE RISCO DOPACIENTE SOFRER CONSTRANGIMENTO ILEGAL - MANUTENÇÃO DASENTENÇA A QUO - RECURSO EM SENTIDO ESTRITO IMPROVIDO. I - Orecorrente pretende garantir salvo-conduto a notório criminoso de guerra nazista,de forma a possibilitar a permanência do paciente em território brasileiro, semque sofra qualquer lesão ao seu direito de ir e vir. II - Inexistem provas nos autosque demonstrem o fundado receio do paciente de ser preso ilegalmente. III - Aprópria autoridade impetrada informa que inexiste risco do paciente sofrerconstrangimento ilegal em sua liberdade. IV - Ausente a ameaça à liberdade delocomoção do paciente, descabe a análise de mérito do habeas corpus. V -Recurso em sentido estrito improvido. Sentença mantida integralmente.” (TRF2

198 Há ainda a possibilidade de utilização do habeas corpus como substitutivo de recurso ordinário em habeas corpus junto aoSTF, STJ ou STF, que pode ser utilizado em casos excepcionais. Em regra é possível quando há flagrante ilegalidade ou abuso,ou ainda, quando a instância anterior está “atrasando” sem razoabilidade o processamento do recurso interposto contra decisãoindeferitória do writ. Em 2007 tive a oportunidade de utilizar este tipo de writ substitutivo perante o STF, em virtude de umhabeas corpus originário impetrado junto ao STM, que permaneceu por 02 (dois) meses sem que o acórdão indeferitório dowrit fosse publicado (sem a publicação do acórdão, não há como interpor recurso para o STF, ou seja, ficou travado no STM).Aleguei ao STF que o paciente não poderia ser prejudicado pela inércia (demora) do STM, tendo o STF aceitado meusargumentos e julgado o writ substitutivo de recurso ordinário. Contudo, não me aprofundarei no tema, haja vista que talmodalidade de utilização do writ é bem complexa para ser utilizada por um leigo.

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– RCHC nº 257/RJ – Segunda Turma Especializada – Rel. DesembargadorFederal Messod Azulay, j. 13.05.08, DJU de 21.05.2008, pág. 132)

Já o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3) entende que não cabe o recurso emsentido estrito, então vejamos:

“EMENTA: PROCESSO PENAL - RECURSO EM SENTIDO ESTRITOINTERPOSTO CONTRA DECISÃO QUE EXTINGUIU HABEAS CORPUS SEMJULGAMENTO DO MÉRITO - INADEQUAÇÃO DA VIA RECURSAL ELEITA(grifo meu) - CASO CONCRETO QUE NÃO SE AMOLDA A NENHUMA DASHIPÓTESES PREVISTAS NO ART. 581 DO CPP - RECURSO NÃOCONHECIDO. 1. Trata-se de Recurso em Sentido Estrito interposto contra adecisão judicial que extinguiu “habeas corpus preventivo”, sem julgamento domérito, sob o fundamento de inadequação da via eleita e ilegitimidade passiva,“aplicando, por analogia, o disposto no artigo 267, inciso VI, do Código deProcesso Civil”. 2. Existente questão preliminar no presente caso, qual seja, ado não conhecimento do recurso em sentido estrito, pois no rol do artigo 581 doCódigo de Processo Penal não há previsão legal para o cabimento do referidorecurso contra a decisão que indefere a inicial de habeas corpus. 3. O referidoartigo 581 do Código de Processo Penal prevê que caberá recurso em sentidoestrito da decisão, despacho ou sentença que “conceder ou negar a ordem dehabeas corpus”. Ora, o indeferimento liminar da inicial - como aqui ocorrido -em nada se confunde com a concessão ou denegação da ordem de habeas

corpus. 4. Não cabe ao juiz criar novas hipóteses de cabimento para o recursoem sentido estrito, alargando a enumeração taxativa do artigo 581 do CPP, sobpena de se tornar indevidamente legislador positivo. Por conta disso, não épossível aplicar o artigo 581, cujas hipóteses são numerus clausus. Aliás, éjurisprudência desta Turma que as decisões que admitem recursos em sentidoestrito são numerus clausus, não sendo possível a aplicação de analogia,interpretação analógica ou extensiva. 5. Ademais, no caso em concreto, não épossível a aplicação do princípio da fungibilidade, dado o caráter grosseiro doerro ocorrido. 6. Recurso não conhecido.” (TRF3 – RHC nº 579/SP – PrimeiraTurma - Rel. Juiz Johonson Di Salvo, j. 16.10.07, DJU de 04.12.2007, pág. 477)

“EMENTA: RECURSO EM HABEAS CORPUS - PRISÃO DISCIPLINAR MILITAR– INICIAL INDEFERIDA (grifos meus) - CABIMENTO DA VIA ELEITA PARA SEAPRECIAR EVENTUAL VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA EDO DEVIDO PROCESSO LEGAL - RECURSO PROVIDO. 1. O § 2º do art. 142da Constituição tem sido interpretado como proibição do exame do mérito dapena disciplinar militar, não, porém, da legalidade dos seus aspectos extrínsecos,notadamente da observância do devido processo legal e do princípio da ampladefesa. 2. Em tema de liberdade física e da correspondente garantia constitucionalnão é possível o indeferimento liminar de inicial porque traduz obstáculo inaceitávelao acesso ao Poder Judiciário, única via capaz de assegurá-la no regime deEstado de Direito. 3. Peças liberadas pelo Relator em 28/08/2001 para publicaçãodo acórdão.” (TRF1 – RHC nº 200134000087920/DF – Rel. Juiz Luciano Tolentino,j. 28.08.01, DJ de 28.09.2001, pág. 173)

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Mas aí surge uma pergunta: mas qual é o recurso adequado ou não há recurso? Ou seránecessário impetrar habeas corpus contra ato ilegal do Juiz Federal que indeferiu a petição inicial?Pergunta interessante, pois foi observado que TRFs não têm um posicionamento pacificado. Nacondição de Advogado, aconselho a que antes de tomar tal decisão cabível procurar descobrir qualé o entendimento do TRF199 a que se pretende recorrer.

Bastará acessar a página do tribunal na internet (ver anexo 5), encontrar o link jurisprudência200

e após procurar uma decisão sobre recurso em habeas corpus.Apenas a título didático, quando há o indeferimento liminar201 da petição do writ (habeas

corpus originário) no TRF5, o recurso utilizado é o agravo regimental202, então vejamos:

“Art. 148. Quando o pedido for manifestamente incabível, ou for manifesta aincompetência do Tribunal para dele tomar conhecimento originariamente, oufor reiteração de outro com os mesmos fundamentos, o Relator o indeferiráliminarmente.Parágrafo único. Da decisão de indeferimento liminar, cabe agravo regimental.”

c) recurso contra decisão do Juiz Federal que denega (indefere) o pedido do writ (julga omérito): recurso em sentido estrito para o TRF (art. 581, inciso X, do CPP) no prazo de05 (cinco) dias;

d) recurso contra decisão do STF que indefere a petição (não conhece) do writ, ou seja,sequer analisando o mérito: o recurso previsto é o agravo regimental no prazo de 5(cinco) dias, nos termos do art. 317 do Regimento Interno do STF.

e) recurso contra decisão do STF que denega (indefere) o pedido do writ (julga o mérito): nãohá recurso.

199 São 05 (cinco) os Tribunais Regionais Federais.200 Um detalhe importante: a jurisprudência é dinâmica, ou seja, o entendimento, às vezes, é modificado. Além de que, osTribunais são divididos em Turmas, ou seja, é possível e não raro que Turmas do próprio Tribunal possuam entendimentosdiferentes sobre os mesmos assuntos jurídicos.201 A palavra liminar aqui utilizada não possui o mesmo significado que liminar (periculum + fumus) requerida no writ, poisnaquela significa a não aceitação pelo Relator da petição inicial do writ.202 O agravo regimental (conhecido popularmente na seara jurídica como “agravinho”) não está previsto nas leis processuaispenais, pois na verdade, como o nome sugere, é um recurso previsto nos regimentos internos dos Tribunais. Ou seja, quemvai analisar o recurso (agravo regimental) é o próprio Tribunal. Neste caso previsto no art. 148, o indeferimento liminarocorre por ato do Relator, assim, o agravo regimental é um meio para que a Turma (Colegiado de Desembargadores) analisea petição inicial e caso mantenham o indeferimento, o writ não será conhecido, logo o mérito do writ não será julgado, eassim, posteriormente, será arquivado.

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Ademais, em caso do recurso ser improvido203 no TRF, caberá, ainda, caso presentes osrequisitos específicos204 (principalmente o prequestionamento205 e a repercussão geral206), ainterposição de recurso especial (prazo de 15 dias) para o STJ e recurso extraordinário207 (prazo de15 dias) para o STF.

Finalizando, tem-se que a autoridade coatora não detém legitimidade para interpor recursos,em virtude de não possuir capacidade postulatória, conforme já decidido pelo STJ:

“EMENTA: CRIMINAL. RECURSO ESPECIAL INTERPOSTO CONTRA A DECISÃOQUE CONCEDEU HABEAS CORPUS PARA SUSTAR OS EFEITOS DE SANÇÃODISCIPLINAR MILITAR. INTERPOSIÇÃO PELAS AUTORIDADES COATORAS.IMPOSSIBILIDADE. LEGITIMIDADE PERTENCENTE À PESSOA JURÍDICA DEDIREITO PÚBLICO. RECURSO NÃO CONHECIDO. I – A autoridade apontadacomo coatora no habeas corpus não tem legitimidade recursal, tendopapel restrito ao fornecimento das informações solicitadas pela autoridadecoatora e ao eventual cumprimento da decisão proferida, neste tipo deação constitucional. II – Se possível o recurso, como no caso do mandadode segurança, a legitimidade é da pessoa jurídica interessada na puniçãodisciplinar, e não da própria autoridade coatora (grifo meu). III – Recursonão conhecido.” (STJ – Resp nº 260655/SE, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTATURMA, julgado em 14/05/2002, DJ 05/08/2002, pág. 372)

Entretanto, tal entendimento não é seguido por alguns TRFs, então vejamos:

“EMENTA: PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. PUNIÇÃODISCIPLINAR MILITAR. ATO ADMINISTRATIVO. ILEGITIMIDADE DA UNIÃO PARARECORRER. EXAME DOS REQUISITOS FORMAIS. 1. A União não possuilegitimidade ad causam para recorrer da decisão que concede ordem dehabeas corpus, mesmo que tal decisão tenha por objeto matériaadministrativa (grifo meu), como no caso ora em análise (prisão disciplinar de

203 Nos Tribunais não há sentença (que é exclusiva do Juiz Singular), mas sim acórdão, que é a decisão do colegiado(Desembargadores Federais, por exemplo). Quando o mérito de um recurso é julgado em favor do recorrente, diz-se que orecurso foi provido (provimento) e sendo desfavorável ao recorrente, diz-se que o recurso foi improvido (improvimento oumesmo desprovimento).204 Ver a CF/88, CPP e Regimentos Internos do STJ e do STF (ver no site www.diogenesadvogado.com – link “Manual Prático do Militar”)205 Prequestionamento, em síntese, é a obrigatoriedade de que a matéria jurídica a ser analisada pelo STJ ou STF tenha sidoexplicitamente analisada na instância anterior.206 Repercussão geral, de índole constitucional, é matéria jurídica nova em nosso ordenamento jurídico (2004), exigida,exclusivamente, para o recurso extraordinário no STF. O recurso extraordinário somente será analisado se a matéria objetodo mesmo tiver repercussão geral, ou seja, resumindo, surtir efeitos sobre a coletividade, não sendo, em síntese, uma questãode repercussão individual. Sendo que é obrigatória a fundamentação deste requisito pelo Advogado por meio de preliminar(o Advogado vai ter que convencer o Ministro-Relator do STF de que há repercussão geral no Recurso Extraordinário), sobpena de não conhecimento do recurso. O objetivo da inclusão deste requisito foi diminuir os processos no STF. O art. 322do Regimento Interno do STF assim define a repercussão geral: “O Tribunal recusará recurso extraordinário cuja questãoconstitucional não oferecer repercussão geral, nos termos deste capítulo. Parágrafo único. Para efeito da repercussão geral,será considerada a existência, ou não, de questões que, relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico,ultrapassem os interesses subjetivos das partes.”.207 Em um dos muitos habeas corpus que impetrei quando militar da ativa, um deles chegou ao STF, pois a União Federal(somente a União Federal poderá interpor recurso no writ e não a autoridade coatora, já que esta não é parte na relaçãoprocessual no writ) recorreu de todas as decisões em que eu era beneficiado com alvará de salvo conduto. No ano de 2008,foi julgado pelo STF, que não conheceu do recurso extraordinário interposto pela União Federal, ou seja, o STF não aceitouo recurso, mantendo-se, assim, a decisão de primeira instância (Juiz Federal) que me concedeu a ordem de habeas corpus.

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militar). 2. Conquanto os arts. 142, § 2º, da Constituição Federal e 647 do Códigode Processo Penal prevejam expressamente não ser cabível habeas corpus paradiscutir punição disciplinar militar, a jurisprudência tem entendido que,caracterizando-se como ato administrativo, seus aspectos formais podem seranalisados pelo Poder Judiciário, sendo vedado apenas o exame do mérito dapunição disciplinar militar. 3. Para a concessão do writ, faz-se necessário que oreceio ou a iminência de sofrer constrangimento ilegal seja real, baseado em fatoconcreto e não apenas em meras presunções. Precedentes do eg. SuperiorTribunal de Justiça e deste Tribunal Regional Federal. 4. Demonstrada a existênciade fatos concretos que indiquem o constrangimento ilegal que o paciente estariana iminência de sofrer, merece ser concedida a presente ordem de habeas corpus.5. Recurso da União não conhecido, por falta de legitimidade ad causam. 6. Recursooficial não provido.” (TRF1 – RSE nº 200735020047325/GO – 4ª Turma – Rel. JuízaFederal Rosimayre Gonçalves, j. 04.11.08, e.DJF1 de 21.11.2008, pág. 815)

“EMENTA: PENAL E PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. UNIÃO.ILEGITIMIDADE RECURSAL. SANÇÃO DISCIPLINAR MILITAR. CF, ART. 142, §2º. CABIMENTO DO WRIT PARA A ANÁLISE DA LEGALIDADE DA PUNIÇÃOADMINISTRATIVA. DEFINIÇÃO DAS HIPÓTESES DE PRISÃO E DETENÇÃODISCIPLINARES. RESERVA LEGAL. CF, ART. 5º, XLI. NÃO-RECEPÇÃO DOART. 47 DA LEI Nº 6.880/80. ILEGALIDADE DO ART. 24, IV E V, DO DECRETONº 4.346/02. 1. A União carece de legitimidade para interpor recurso contrasentença concessiva de ordem de habeas corpus, porquanto, em matériapenal e processual penal, o interesse público é resguardado através daatuação do Ministério Público Federal. Precedentes (grifo meu). 2. Assanções de detenção e prisão disciplinares, por restringirem o direito de locomoçãodo militar, somente podem ser validamente definidas através de lei stricto sensu(CF, art. 5º, LXI), consistindo a adoção da reserva legal em uma garantia para ocastrense, na medida que impede o abuso e o arbítrio da Administração Públicana imposição de tais reprimendas. 3. Ao possibilitar a definição dos casos deprisão e detenção disciplinares por transgressão militar através de decretoregulamentar a ser expedido pelo Chefe do Poder Executivo, o art. 47 da Lei nº6.880/80 restou revogado pelo novo ordenamento constitucional, pois queincompatível com o disposto no art. 5º, LXI. Conseqüentemente, o fato de oPresidente da República ter promulgado o Decreto nº 4.346/02 (RegulamentoDisciplinar do Exército) com fundamento em norma legal não-recepcionada pelaCarta Cidadã viciou o plano da validade de toda e qualquer disposição regulamentarcontida no mesmo pertinente à aplicação das referidas penalidades, notadamenteos incisos IV e V de seu art. 24. Inocorrência de repristinação dos preceitos doDecreto nº 90.604/84 (ADCT, art. 25).” (TRF4 – RSE nº 200471020085124/RS –8ª Turma – Rel. Des. Federal Paulo Afonso Brum Vaz, j. 09.08.06, DJ de23.08.2006, pág. 1.397)

“EMENTA: PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO.TRANSGRESSÃO DISCIPLINAR MILITAR. CONCESSÃO DE HABEASCORPUS. ILEGITIMIDADE AD CAUSAM DA UNIÃO FEDERAL PARAINTERPOSIÇÃO DO RECURSO. CONHECIMENTO COMO REMESSAOBRIGATÓRIA. SINDICÂNCIA MILITAR. SUBMISSÃO À DISCIPLINA GERALDO PROCESSO ADMINISTRATIVO. OBSERVÂNCIA DO DEVIDO PROCESSO

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LEGAL (CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA). REMESSA IMPROVIDA. 1. AUnião Federal não tem legitimidade para interpor recurso em sentindoestrito em face de decisão que soluciona relação jurídica na qual nãopoderia figurar como parte; ademais, o Ministério Público é o únicolegitimado para interposição de recurso em sentido estrito na hipótesede decisão concessiva da ordem de Habeas Corpus (grifo meu) (art. 581, Xdo CPP). 2. Matéria conhecida a título de remessa obrigatória (art. 574, I doCPP). 3. É certo que compete à Autoridade Militar decidir a respeito das faltasdisciplinares perpetradas pelo servidor militar, podendo, no caso de transgressãomilitar ou crime propriamente militar, aplicar o ato punitivo disciplinar cabível;entretanto, o processo administrativo disciplinar, do qual resultará a sanção,deverá respeitar o devido processo legal, assegurando ao militar o contraditórioe o direito de defesa (art. 5º, LV da Constituição Federal de 1988). 4. O processoadministrativo disciplinar que resultou na aplicação da penalidade de 10 dias deprisão rigorosa ao paciente, não lhe assegurou condições suficientes paraesclarecer a verdade dos fatos, afrontando, sobremaneira, o exercício do seudireito de defesa. 5. Recurso em sentido estrito não conhecido. 6. Remessanecessária improvida.” (TRF5 – RSE nº 200684000002748/RN – 2ª Turma –Rel. Des. Federal Napoleão Maia Filho, j. 06.06.06, DJ de 04.07.2006, pág.393)

Entendo, respeitando posicionamentos divergentes, que a autoridade coatora é parte ilegítimapara interpor recursos em sede de habeas corpus.

4.11. A AUTORIDADE COATORA ESTÁ PASSÍVEL DE SER PROCESSADA CRIMINALMENTEPOR ALGUM CRIME, CASO A PRISÃO DISCIPLINAR SEJA CONSIDERADA ILEGAL PELOPODER JUDICIÁRIO?

A resposta a esta indagação pode ser respondida através do art. 653 do CPP, do art. 195 doRegimento Interno do STF e do art. 205 do Regimento Interno do STJ, que assim prevêem,respectivamente, o que poderá ocorrer quando a prisão for considerada ilegal, arbitrária ou abusiva208

nos autos do habeas corpus:

“Art. 653. Ordenada a soltura do paciente em virtude de habeas corpus, serácondenada nas custas a autoridade que, por má-fé ou evidente abuso de poder,tiver determinado a coação.Parágrafo único. Neste caso, será remetida ao Ministério Público cópiadas peças necessárias para ser promovida a responsabilidade daautoridade (grifo meu).”

“Art. 195. Ordenada a soltura do paciente, em virtude de habeas corpus, aautoridade que, por má-fé ou evidente abuso de poder, tiver determinado a coação,

208 O artigo cita o Ministério Público, que é neste caso, o detentor exclusivo da ação penal. Entretanto, ressalte-se que opróprio impetrante ou paciente, ou mesmo terceiros podem, mediante representação criminal dirigida ao MinistérioPúblico, solicitar que este efetue a denúncia por crime de abuso de autoridade para o início da ação penal (ver capítulo 5).

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será condenada nas custas, remetendo-se ao Ministério Público trasladodas peças necessárias à apuração de sua responsabilidade penal (grifomeu).”

“Art. 205. Ordenada a soltura do paciente, em virtude de habeas corpus, aautoridade que, por má-fé ou evidente abuso de poder, tiver determinado a coação,será condenada nas custas, remetendo-se ao Ministério Público trasladodas peças necessárias à propositura da ação penal (grifo meu).”

A competência para processar e julgar delitos de abuso de autoridade cometidos por militaresestá consignado na Súmula nº 172 do STJ, então vejamos:

SÚMULA nº 172“Compete à Justiça comum processar e julgar militar por crime de abuso deautoridade, ainda que praticado em serviço.”

Logo, em sendo praticado o delito de abuso de autoridade por militar das Forças Armadas,será competente a Justiça Federal Comum e não a Justiça Militar Federal para o processamento ejulgamento da Ação Penal Pública. Se for praticado por militares da Polícia Militar e Bombeiros serácompetente a Justiça Estadual Comum e não a Justiça Militar Estadual.

Importante destacar fato ocorrido comigo quando era militar, onde um Coronel foi investigadoe processado perante a Justiça Federal Criminal, tendo, antes, sido investigado pelo MinistérioPúblico Federal após efetivação de representação criminal formulada por mim e tal episódio foidivulgado por Jornal de grande circulação de Natal/RN (ver anexo 6). Consta na matéria jornalísticaque a soltura foi mediante habeas corpus, onde o Juiz Federal Walter Nunes concluiu pela ilegalidadeda prisão (ver anexo 7).

Em consequência da concessão do habeas corpus por um Juiz Federal e da representaçãocriminal efetivada por mim perante o MPF, o Procurador da República Dr. Marcelo Alves Dias deSouza apresentou denúncia contra o Coronel, sendo esta recebida pelo Juiz Federal Walter Nunese assim instaurada a competente Ação Penal Pública pelo cometimento do crime de abuso deautoridade (ver anexo 8).

Tanto o MPF quanto o Judiciário Federal do Rio Grande do Norte entenderam que era possívela transação penal209 para delitos de abuso de autoridade. Logo, a autoridade coatora militar foibeneficiada, e obviamente, concordou com a proposta do MPF, a fim de que não fosse julgada econdenada por penas privativas de liberdade ou restritivas de direitos.

Consta no anexo 1 a íntegra da proposta do Procurador da República ao Coronel, a fim deque, sendo aceito, ocorresse a suspensão condicional do processo, nos termos da Lei dos JuizadosEspeciais.

O Coronel participou da audiência criminal210, mesmo quando estava na reserva remunerada,ou seja, não há como “fugir” da aplicação da lei penal, mesmo quando o militar não mais está naativa. Ressalte-se que o Coronel, em audiência criminal, aceitou todos os termos do acordo criminal(ver anexo 9) e certamente, se tivesse permanecido na ativa, tomaria mais cuidado ao prenderoutros militares.

209 Ver tópico 5.7.210 A audiência ocorreu no Município onde o militar da reserva fixou residência, por meio de carta precatória, embora oprocesso criminal tenha sido instaurado em Natal/RN. E claro que o acusado teve que contratar Advogado e cumprir todo oacordo criminal firmado com o Ministério Público: viva a Democracia!

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Sem dúvidas tal “acordo criminal211” foi um “grande negócio” para o Coronel, entretanto é umaprova para todos os militares de que as autoridades militares que abusam de sua autoridade podemser punidas criminalmente.

Seria muito interessante se todos os superiores hierárquicos tivessem a consciência de quepodem ser processados da mesma forma que este Coronel, pois assim, quem sabe passariam acumprir com mais atenção a CF/88 e demais normas infraconstitucionais.

4.12. É POSSÍVEL OBTER INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS DEVIDO À PRISÃODISCIPLINAR ILEGAL?

A prisão administrativa disciplinar ilegal é indenizável e cito sentença proferida pela JustiçaFederal, onde a União Federal foi condenada em primeira instância a indenizar-me em R$ 20.000,00212

(vinte mil reais) pela detenção disciplinar ilegal de 04 (quatro) (ver anexo 10).Os TRFs têm ratificado a condenação da União Federal por danos morais213 em decorrência

de prisões disciplinares ilegais praticadas por seus militares, e aproveito para transcrever 02 (duas)decisões importantes, então vejamos:

“EMENTA: MILITAR. DETENÇÃO. DANOS MORAIS. CORREÇÃO MONETÁRIA.O ato que determina detenção indevida de militar – que importa restriçãoao direito da parte - é passível de indenização por danos morais (grifosnossos), mesmo que grau leve, já que caracterizado tal gravame. A atualizaçãomonetária dos valores devidos deve se dar nos moldes da lei nº 6.899/1981.”(TRF4 - Apelação Cível nº 687866 – Processo nº 200370000023660/PR – QuartaTurma – Rel. Juiz Edgard Alippmann Júnior, un., j. 01.12.2004)

“EMENTA: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE DAUNIÃO POR DANOS MORAIS CAUSADOS A MILITAR EM RAZÃO DE PRISÃODISCIPLINAR. ILEGALIDADE DO ATO, PRATICADO TAMBÉM EMDESRESPEITO A DECISÃO JUDICIAL. CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇACONDENATÓRIA. 1. Revelando-se ilegal e arbitrária a prisão disciplinarimposta a militar, merece confirmação a sentença que condenou a UniãoFederal à indenização por danos morais a ele causados (grifo nosso),mormente se o ato impugnado foi praticado em flagrante ofensa a sentençajudicial, que reconhecera ao Autor o direito à aquisição do imóvel funcional emque residia. 2. Disciplinar e hierarquia, princípios inerentes à situação jurídicaespecial dos militares, não se confundem com ilegalidade e arbitrariedade. 3.Valor indenizatório corretamente fixado. 4. Apelações e remessa improvidas.”(TRF1 - Apelação Cível – Processo nº 199901000071965/DF – Terceira Turma –Rel. Juiz Osmar Tognolo, j. 10.11.1999)

211 O que aconteceria se o Coronel não tivesse aceitado o acordo? Certamente seria condenado por crime de abuso deautoridade!212 Ainda está em grau de recurso, pois a União Federal, obviamente, recorreu desta decisão.213 Ver tópico 12.4.

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Desta forma, sendo a punição disciplinar ilegal será possível obter indenização por danosmorais por meio de Ação de Indenização por Danos Morais perante a Justiça Federal, conformeentendimento pacificado de nossos Tribunais Federais.

4.13. RELAÇÃO DOS ENDEREÇOS DO STF E DAS PRINCIPAIS VARAS FEDERAIS (JUSTIÇAFEDERAL) PARA IMPETRAÇÃO DO HABEAS CORPUS

Várias são as Varas (Seções e Subseções) Federais (Justiça Federal de Primeira Instância)instaladas no País, tanto nas Capitais quanto em alguns Municípios214, entretanto, relacionareiapenas os fóruns federais das capitais (ver anexo 2).

Quando houver alguma dúvida se há Vara Federal no município de seu Estado, bastará telefonarpara a Vara da capital que lhe darão informações.

4.14. CONCLUSÃO

Como visto no decorrer de toda explanação, o habeas corpus é um instrumento jurídico devital importância para qualquer pessoa do povo e muito simples de ser elaborado, assim como é fácila impetração perante o Poder Judiciário.

Espero ter conseguido utilizar uma linguagem mais simples possível, a fim de que qualquerpessoa e principalmente os militares detenham conhecimentos suficientes para confeccionarem eimpetrarem o writ contra abusos e ilegalidades cometidas por superiores hierárquicos nastransgressões disciplinares

214 Rio Grande do Norte possui Varas Federais instaladas em Natal, Mossoró e Caicó. Já em São Paulo e Rio de Janeiropossuem dezenas espalhadas pelos Estados.

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ANEXO 4EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DE UMA DAS VARAS1 DA SECCIONAL DO ESTADO DO CEARÁ2, AQUEM COUBER NA DISTRIBUIÇÃO.

FULANO DE TAL, brasileiro, separado judicialmente, empresário, CPF n° _________________, Identidade n° ______________,residente e domiciliado na Rua __________________________________________________, Fortaleza/CE, CEP 49.000-000, vem àpresença de V. Exa., com apoio no art. 5°, LV e art. 102, inciso I, letra “d”, da CF/88 e nos termos dos arts. 647 e seg. do CPP, impetrar

HABEAS CORPUS LIBERATÓRIOcom pedido de liminar inaudita altera pars3

em favor de CICRANO DE TAL, brasileiro, casado, militar, CPF n° _________________, Identidade n° ______________,expedida pelo Comando da Aeronáutica, residente e domiciliado na Rua __________________________________________________,Fortaleza/CE, CEP 49.000-000 , contra ato ilegal do COMANDANTE DA BASE AÉREA DE FORTALEZA - Coronel Aviador DECANODE TAL - que fica assim apontado como autoridade coatora, com exercício de suas funções naRua________________________________________, Fortaleza/CE, pelas razões de fato e de direito que passarei a expor:

1. DOS FATOS

O paciente é militar do Comando da Aeronáutica e está preso na Base Aérea do Recife desde o dia 28.02.2008, em virtude de prisãoadministrativa disciplinar de 20 (vinte) dias, conforme demonstra Boletim Interno Reservado (ou processo administrativo disciplinar ou outrodocumento).

A prisão é ilegal, haja vista que não foi oportunizado ao paciente o direito à ampla defesa, já que não lhe foi permitido arrolartestemunhas de defesa, embora tenha requerido formalmente tal pedido.

Requer-se a concessão de liminar inaudita altera pars, pois presentes os requisitos autorizadores, ou seja, o periculum in mora e ofumus boni iuris.

A autoridade coatora negou-se a fornecer cópias do processo disciplinar, logo, requer-se, também, liminarmente, seja a mesmaintimada para fornecer cópias no prazo de 24 (vinte e quatro) horas a contar de sua intimação pessoal, a fim de que reste comprovadadocumentalmente a ilegalidade da prisão.

Destaque-se que não se pretenderá neste writ questionar o mérito da punição disciplinar, mas sim sua legalidade, o que éperfeitamente possível, conforme entendimento do STF.

Ao final, requer-se a concessão da ordem de habeas corpus.É o importante a relatar.

2. DA FUNDAMENTAÇÃO

Nobre Magistrado, a ilegalidade da prisão disciplinar está no fato de que não foi oportunizado ao paciente o direito à ampladefesa no processo administrativo disciplinar; em virtude de que lhe foi negado a oportunidade de apresentar testemunhas de defesa,mesmo após ter requerido tal direito formalmente junto à autoridade responsável pelo processo, conforme comprova documento oraanexado.

O inciso LV do art. 5º da CF/88 prevê que: “LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geralsão assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;”.

Do exposto, inegável que foi desrespeitado o direito constitucional do paciente à ampla defesa no processo administrativo,logo, a prisão disciplinar é ilegal, assim, cabível o pedido e a concessão da ordem de habeas corpus.

3. DOS REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR3.1. DO FUMUS BONI IURIS

Excelência, a plausibilidade do direito invocado pode ser muito bem observada na fundamentação anterior; logo, numacognição sumária, é possível verificar que a prisão, a princípio, aparenta ser ilegal, desta forma, presente a fumaça do bom direito.

Presente, sem dúvidas, a aparência do direito alegado, logo, um dos requisitos autorizadores da concessão de liminar.

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3.2. DO PERICULUM IN MORA

O perigo da demora na apreciação regular do mérito do writ está em que o paciente está preso, e tal fato, por si só, é suficientepara a demonstração do risco irreparável da manutenção de sua prisão.

Ademais, caso ao final do processo, a prisão seja considerada legal, revogar-se-á o alvará de soltura, podendo, assim, opaciente ser novamente custodiado pela autoridade coatora, sem prejuízo algum para a instituição militar.

4. DO PEDIDO

Desta forma, requer a V. Exa. que:

a) receba o presente habeas corpus, pois adequado, em virtude de que não se ataca questões meritórias da puniçãodisciplinar;

b) conceda liminarmente, inaudita altera pars, o writ, expedindo-se, assim, alvará de soltura;c) a notificação da autoridade coatora para, querendo, prestar as informações de estilo;d) a intimação da autoridade coatora para que forneça, no prazo de 24 (vinte e quatro horas) a contar de sua intimação

pessoal, cópias do respectivo processo disciplinar,e) a intervenção do Ministério Público; ef) ao final, ouvido o Ministério Público, a concessão definitiva da ordem, nos termos da fundamentação.

Termos em quepede e espera deferimento.

Ceará/CE, 28 de fevereiro de 2009.

_____________________________________________________FULANO DE TAL

CPF ___________________________

1 Dependendo da Seccional (Fórum Federal) poderá haver vara especializada para processar e julgarhabeas corpus, então, sugiro tal cabeçalho na petição inicial. Por exemplo: no RN, é a 2ª Vara Federal competente paraquestões criminais, inclusive para writ contra prisões disciplinares.2 Atenção: excluindo os Comandantes das Forças Armadas, que detém foro privilegiado, e por isso, a impetração dowritdeverá ser, necessariamente, perante o STF, situado em Brasília/DF. As demais impetrações contra atos ilegais desuperiores hierárquicos deverão ser impetradas noEstado em que os mesmos exerçam suas atividades militares.3 Este termo é utilizado a fim de que o Relator defira a liminar, sem antes, requerer informações ou esclarecimentos préviosda autoridade coatora.

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DE UMA DAS VARAS DA SECCIONAL DO ESTADO DO CEARÁ, AQUEM COUBER NA DISTRIBUIÇÃO.

FULANO DE TAL, brasileiro, separado judicialmente, empresário, CPF n° _________________, Identidade n° ______________,residente e domiciliado na Rua __________________________________________________, Fortaleza/CE, CEP 49.000-000, vem àpresença de V. Exa., com apoio no art. 5°, LV e art. 102, inciso I, letra “d”, da CF/88 e nos termos dos arts. 647 e seg. do CPP, impetrar

HABEAS CORPUS PREVENTIVOcom pedido de liminar inaudita altera pars

em favor de CICRANO DE TAL, brasileiro, casado, militar, CPF n° _________________, Identidade n° ______________,expedida pelo Comando da Aeronáutica, residente e domiciliado na Rua __________________________________________________,Fortaleza/CE, CEP 49.000-000 , contra ameaça de cometimento de ato ilegal e arbitrário por parte do COMANDANTE DA BASEAÉREA DE FORTALEZA - Coronel Aviador DECANO DE TAL - que fica assim apontado como autoridade coatora, com exercício desuas funções na Rua________________________________________, Fortaleza/CE, pelas razões de fato e de direito que passarei aexpor:

1. DOS FATOS

O paciente é militar do Comando da Aeronáutica, respondendo a processo administrativo disciplinar por ter, supostamente, cometidotransgressão disciplinar, conforme demonstra notificação oficial para apresentação de defesa. Ocorreu, Excelência, que não foi oportunizado ao paciente o direito à ampla defesa, já que não lhe foi permitido arrolar testemunhasde defesa, embora tenha requerido formalmente tal pedido, conforme comprova documento anexado.

Em virtude do indeferimento do pedido de arrolamento de testemunhas, o processo administrativo está praticando terminado,restando, apenas, a conclusão do mesmo pela autoridade coatora, que poderá punir o paciente com detenção ou prisão, nos termos doRegulamento Disciplinar Militar.

Em virtude da iminência de uma possível prisão disciplinar, restou necessário a impetração do writ preventivo; sendo necessário,principalmente, o pedido de concessão de liminar inaudita altera pars, a fim de que seja expedido imediatamente o alvará de salvo-conduto,pois presentes os requisitos autorizadores, ou seja, o periculum in mora e o fumus boni iuris.

A autoridade coatora negou-se a fornecer cópias do processo disciplinar, logo, requer-se, também, liminarmente, seja a mesmaintimada para fornecer cópias no prazo de 24 (vinte e quatro) horas a contar de sua intimação pessoal, a fim de que reste comprovadadocumentalmente a ilegalidade da prisão.

Destaque-se que não se pretenderá neste writ questionar o mérito da possível punição disciplinar, mas sim sua legalidade, o que éperfeitamente possível, conforme entendimento do STF.

Ao final, requer-se a concessão da ordem de habeas corpus, ratificando-se, assim, o alvará de salvo-conduto.É o importante a relatar.

2. DA FUNDAMENTAÇÃO

Excelência, a ameaça da provável ilegalidade da prisão disciplinar está no fato de que não foi oportunizado ao paciente o direitoà ampla defesa no processo administrativo disciplinar; em virtude de que lhe foi negado a oportunidade de apresentar testemunhas dedefesa, mesmo após ter requerido tal direito formalmente junto à autoridade responsável pelo processo, conforme comprova documentoora anexado.

O inciso LV do art. 5º da CF/88 prevê que: “LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geralsão assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;”.

Do exposto, inegável que foi desrespeitado o direito constitucional do paciente à ampla defesa no processo administrativo,logo, a ameaça de prisão disciplinar ilegal e arbitrária é iminente, assim, cabível o pedido e a concessão da ordem de habeas corpus

preventivo.

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3. DOS REQUISITOS PARA CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR3.1. DO FUMUS BONI IURIS

Excelência, a plausibilidade do direito invocado pode ser muito bem observada na fundamentação anterior; logo, numacognição sumária, é possível verificar que a possível e iminente prisão, a princípio, aparenta ser ilegal, desta forma, presente a fumaçado bom direito.

Presente, sem dúvidas, a aparência do direito alegado, logo, um dos requisitos autorizadores da concessão de liminar.

3.2 DO PERICULUM IN MORA

O perigo da demora na apreciação regular do mérito do writ está em que o paciente poderá ser preso disciplinarmente aqualquer momento, e tal fato, por si só, é suficiente para a demonstração do risco irreparável em caso de execução da medidadisciplinar prisional.

Ademais, caso ao final do processo, o processo disciplinar seja considerada legal, revogar-se-á o alvará de salvo-conduto,podendo, assim, o paciente custodiado pela autoridade coatora, sem prejuízo algum para a instituição militar.

4. DO PEDIDO

Desta forma, requer a V. Exa. que:

a) receba o presente habeas corpus preventivo, pois adequado, em virtude de que não se ataca questões meritórias dapossível punição disciplinar;

b) conceda liminarmente, inaudita altera pars, o writ, expedindo-se, assim, alvará de salvo-conduto;c) a notificação da autoridade coatora para, querendo, prestar as informações de estilo;d) a intimação da autoridade coatora para que forneça, no prazo de 24 (vinte e quatro horas) a contar de sua intimação

pessoal, cópias do respectivo processo disciplinar,e) a intervenção do Ministério Público; ef) ao final, ouvido o Ministério Público, a concessão definitiva da ordem, nos termos da fundamentação.

Termos em quepede e espera deferimento.

Ceará/CE, 06 de abril de 2009.

___________________________________________________FULANO DE TAL

CPF ___________________________

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