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PSICANÁLISE PSICOLOGIA GERAL II A palavra Psicologia é formada de duas palavras gregas: “psique”, que significa alma, e “logos”, que significa estudo, ciência. Portanto, etimologicamente, Psicologia significa “estudo da alma”. Hoje em dia é comumente definida como a ciência que estuda o comportamento e os processos mentais. Os assuntos investigados pelos psicólogos incluem todos os que se acham listados abaixo e mais alguns: o desenvolvimento, as bases fisiológicas do comportamento, a aprendizagem, a percepção, a consciência, a memória, o pensamento, a linguagem, a motivação, a emoção, inteligência, a personalidade, o ajustamento, o comportamento anormal, o tratamento do comportamento anormal, as influências sociais e o comportamento social. A psicologia é freqüentemente aplicada na indústria, na educação, na engenharia, em assuntos de consumo e em muitas outras áreas. Desde o tempo de Platão e Aristóteles, têm aparecido estudos e teorias sobre a mente humana, mas a Psicologia só foi considerada ciência no fim do século XIX, quando os estudiosos empregaram métodos de observação cuidadosos e sistemáticos. O primeiro laboratório de psicologia foi fundado por Wilhelm Wundt, em Leipzig no ano de 1879. Esta declaração faz parte quase que invariavelmente de qualquer descrição do desenvolvimento da Psicologia como ciência. Fechner é, às vezes chamado pai da moderna Psicologia, porém é duvidosa a paternidade desta jovem ciência. Foi, às vezes, atribuída a Heleuholtz, Wundt e Galton. Porém a Psicologia está procurando um ancestral sugestivo dentre a imensa gama de pensadores. Tentaremos abordar as dificuldades que esta jovem ciência tem passado, além de contextualizá-la historicamente, necessitando referenciar sua estreita relação com a filosofia e a superação dos padrões rigorosos que a ciência impõe a todo saber, através das teorias psicológicas. 1.1 - DEFINIÇÃO DE PSICOLOGIA A palavra psicologia, remonta a antiga Grécia, cujo significado estava relacionado a discussão, a alma. Na contemporaneidade, grande parte dos especialistas da área - os psicólogos - acordam acerca da seguinte assertiva: “Psicologia é a ciência do comportamento humano”. Posto que a psicologia possui de forma sistematizada um conjunto de conhecimentos, podemos então, denominá-la de ciência. A mutabilidade da definição específica de psicologia está intrinsecamente ligada a mutabilidade dos interesses dos próprios ) 1 1

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Psicologia

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PSICOLOGIA GERAL II

A palavra Psicologia é formada de duas palavras gregas: “psique”, que significa alma, e “logos”, que significa estudo, ciência. Portanto, etimologicamente, Psicologia significa “estudo da alma”. Hoje em dia é comumente definida como a ciência que estuda o comportamento e os processos mentais. Os assuntos investigados pelos psicólogos incluem todos os que se acham listados abaixo e mais alguns: o desenvolvimento, as bases fisiológicas do comportamento, a aprendizagem, a percepção, a consciência, a memória, o pensamento, a linguagem, a motivação, a emoção, inteligência, a personalidade, o ajustamento, o comportamento anormal, o tratamento do comportamento anormal, as influências sociais e o comportamento social. A psicologia é freqüentemente aplicada na indústria, na educação, na engenharia, em assuntos de consumo e em muitas outras áreas.

Desde o tempo de Platão e Aristóteles, têm aparecido estudos e teorias sobre a mente humana, mas a Psicologia só foi considerada ciência no fim do século XIX, quando os estudiosos empregaram métodos de observação cuidadosos e sistemáticos.

O primeiro laboratório de psicologia foi fundado por Wilhelm Wundt, em Leipzig no ano de 1879. Esta declaração faz parte quase que invariavelmente de qualquer descrição do desenvolvimento da Psicologia como ciência. Fechner é, às vezes chamado pai da moderna Psicologia, porém é duvidosa a paternidade desta jovem ciência. Foi, às vezes, atribuída a Heleuholtz, Wundt e Galton. Porém a Psicologia está procurando um ancestral sugestivo dentre a imensa gama de pensadores.

Tentaremos abordar as dificuldades que esta jovem ciência tem passado, além de contextualizá-la historicamente, necessitando referenciar sua estreita relação com a filosofia e a superação dos padrões rigorosos que a ciência impõe a todo saber, através das teorias psicológicas.

1.1 - DEFINIÇÃO DE PSICOLOGIAA palavra psicologia, remonta a antiga Grécia, cujo significado estava relacionado a

discussão, a alma.Na contemporaneidade, grande parte dos especialistas da área - os psicólogos -

acordam acerca da seguinte assertiva: “Psicologia é a ciência do comportamento humano”.Posto que a psicologia possui de forma sistematizada um conjunto de

conhecimentos, podemos então, denominá-la de ciência.A mutabilidade da definição específica de psicologia está intrinsecamente ligada a

mutabilidade dos interesses dos próprios psicólogos, cujo alvo maior está no dizer de Charles w. Telford e James M. Sawrey: “De viverem de acordo com os padrões da ciência”.

A - Segundo Charles W. Telford e James M. SawreyPosto que a Psicologia, como ciência não tenha sequer cem anos de vida, a palavra

“psicologia” remonta à Grécia antiga - onde significava um discurso, ou discussão, acerca da alma. Nos dias atuais, define-se comumente a Psicologia como a ciência do comportamento humano ou como a ciência das experiências e atividades dos seres humanos. O termo passou por diversas definições provisórias: tem sido sucessivamente definido como a ciência da mente, a ciência da atividade mental, a ciência da consciência e a ciência da experiência consciente. Até certo ponto, essas mutáveis definições refletem a natureza mutável dos interesses e preocupações dos que se têm denominado psicólogos.

Parte da razão por que os psicólogos têm redefinido continuamente a Psicologia é o seu desejo de viverem de acordo com os padrões da Ciência. Conceberam as observações científicas como mais imparciais, mais precisas, mais objetivas e mais sujeitas à verificação do que as observações cotidianas comuns. Nessas condições, com o correr dos anos, a

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Psicologia passou das observações introspectivas para as observações e mensurações objetivas. Ao mesmo tempo, novas técnicas, mormente o uso de equipamento eletrônico, possibilitaram a investigação objetiva de muitos aspectos do comportamento e da experiência, antes considerados, por exemplo, como acontecimentos puramente pessoais e subjetivos, ocorridos no cérebro. O comportamento, tal como o encaram os psicólogos, pode ser manifesto ou oculto. Claro está que o comportamento oculto é mais difícil de ser descoberto e, de um modo geral, mais difícil de ser estudado do que o comportamento manifesto.

As classificações apresentadas na Tabela 1-1, como todas as classificações dessa natureza, têm algumas limitações. Por exemplo, incluímos a linguagem oral e escrita as atividades manifestas, simbólicas, comunicativas, quando, na realidade, ela tanto serve às funções comunicativas quanto às funções expressivas e manipulatórias. Utiliza-se a linguagem para comunicar uma informação, para exprimir os sentimentos de uma pessoa, e para controlar outras pessoas. Assim sendo, a linguagem poderia ser relacionada nessas três categorias manifestas.

O principal propósito da Tabela 1-1 é indicar a extensão dos termos “atividades’ e “comportamento”, tais como são usados em Psicologia, O comportamento inclui muito mais do que movimentos flagrantes, como os que fazemos ao andar de um lado para o outro. Inclui atividades relativamente sutis, como perceber, pensar, conceber e sentir. A Psicologia se ocupa de todas as atividades da pessoa total.

Tabela 1-1 Comportamento humano manifesto e oculto

Atividades Manifestas

Atividades Ocultas

Atividades locomotoras

Atividades manipulatórias

Atividades simbólicas(Comunicação)

Movimentos expressivos

Atividades perceptivas(Percepção)

Atividades ideacionais (Pensamento)

Atividades emocionais eSentimentais

(Afeição)

Comunicação artísticaLinguagem oralLinguagem escrita Gestos simbólicosMovimentos faciaisPosturas simbólicas

Expressão Artística Componentes manifestos de sentimentos e emoções.

Processos Cognitivos

SEGUNDO CLIFFORD THOMAS MORGANA definição que a maioria dos psicólogos aceita é a seguinte: Psicologia é a ciência do

comportamento humano e animal. Você pode ficar admirado diante das palavras ciência, animal e comportamento. Será que a psicologia é realmente uma ciência? Por que é que é o

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estudo do comportamento, e não o estudo da mente, dos pensamentos ou dos sentimentos? E que tem o comportamento animal a ver com a psicologia?

Vejamos porque cada uma dessas palavras é essencial. Dizemos que a psicologia é uma ciência, e não uma arte, porque uma ciência é um conjunto de conhecimentos sistematizado, e a psicologia contemporânea evidentemente possui esse conjunto de conhecimento. Este foi obtido da mesma forma que as outras ciências criam o seu conhecimento - através de observação cuidadosa e mensuração de acontecimentos, muitas vezes com o auxílio de experimentos planejados especificamente para isso. Uma arte, ao contrário, é uma habilidade ou aptidão para fazer alguma coisa - aptidão adquirida através de estudo, prática e experiência específica. Os psicólogos hábeis certamente são artistas, na medida em que aprendem a fazer bem algumas coisas. No entanto, na psicologia, da mesma forma que na medicina ou na engenharia, a arte é aprendida mais adequadamente depois do domínio da ciência subjacente. Além disso, as artes psicológicas, tal como são praticadas nas vendas, na psicoterapia e na política, não são eficientes para resolver os problemas humanos mais sérios. De outro lado, os esforços de muitos pesquisadores nos últimos cem anos nos deram um conjunto de conhecimentos que nos ajuda a compreender o comportamento. E por isso que dizemos que a psicologia é uma ciência. -A palavra comportamento está em nossa definição porque aprendemos, na pesquisa psicológica, que o comportamento é a única coisa que podemos estudar. Por comportamento entendemos, geralmente, as respostas de uma pessoa ou de um animal diante de uma situação. Tais respostas são quaisquer movimentos que faz e que possam ser observados ou registrados, onde se incluem as respostas verbais, escritas ou orais. Sob o aspecto fisiológico, tais respostas incluem mudanças no ritmo cardíaco, no ritmo de respiração, na condutividade elétrica da pele, e mesmo na composição sangüínea. Tudo isso pode ser estudado objetivamente. Mas não podemos observar uma mente, um pensamento ou um sentimento. Embora não duvidemos de sua existência, não podemos atingi-los diretamente. Tudo que sabemos, com segurança, é o que uma pessoa faz - isto é, como é que se comporta. Certamente, a partir de seu comportamento, inferimos muita coisa a respeito do que ocorre dentro dela. Mas tudo que podemos realmente estudar é esse comportamento.

Finalmente, consideremos a palavra animal na definição. Falando rigorosamente, os seres humanos são animais, mas aqui queremos indicar outros animais, e não os seres humanos. Neste sentido, há duas razões para que a psicologia inclua o estudo de animais. Uma delas é que o comportamento animal é um campo legítimo de pesquisa, da mesma maneira que a zoologia. Outra razão, ainda mais importante que essa, é que realmente precisamos estudar o comportamento animal para compreender o comportamento humano. Por exemplo, não podemos criar crianças no escuro para ver como as experiências visuais iniciadas influem em sua percepção de objetos. Os experimentadores são muito limitados no uso de pessoas como “cobaias”. Por isso, grande parte do que se sabe sobre pessoas foi obtido no estudo de animais. Evidentemente, isso supõe que os homens e os animais sejam semelhantes: na realidade, sob muitos aspectos é isso que ocorre. Por exemplo, os psicólogos estão certos de que os princípios básicos de aprendizagem se aplicam igualmente bem a animais e homens. Por isso, as freqüentes referências, neste livro, a animais, não são “pouco importantes”. De outro lado, a capacidade para falar ou até para pensar como um ser humano está além da capacidade dos animais. Portanto, existe um ponto em que a semelhança desaparece. Por isso, os psicólogos são cuidadosos ao aplicar a seres humanos seus resultados de estudos com animais.

2- ORÍGENS DA PSICOLOGIA

2.1 - FASE PRÉ-CIENTÍFICA

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Constituiu-se do período no qual consideravam aspectos não científicos como parâmetro para a “analise” das mais diversas situações voltadas ao universo do comportamento.Indicava-se como causas de qualquer variável do comportamento humano, fatores de ordem espiritual e/ou natural.

Com exceção de alguns parcos e modestos avanços impetrados pela cultura grega, um grande “vácuo de tempo” ocorreu, após este período, no qual nada de significativo foi indicado. Tal quadro só, sofreria nova ( e significativa ) alteração com a revolução cultural - denominada renascimento (‘renascer”) - no período de transição de fins da idade média para o alvorecer da idade moderna. A redescoberta do método de observação natural possibilitou o início de uma nova série de observações e descobertas de grande interesse científico, observando-se, evidentemente, os limites do próprio método.

A PSICOLOGIA PRÉ-CIENTÍFICAPraticamente desde o momento em que o homem se tornou homem, vem tentando ser

psicólogo. Pelo menos, apresentou algum tipo de teoria sobre o comportamento humano. Durante vários séculos, essa teoria apresentou a forma de dualismo ou espiritismo. Considerava a mente ou alma - a distinção nunca foi muito clara - como algo imaterial que usualmente habita o corpo durante o estado de vigília, mas pode deixá-lo nos sonhos ou depois da morte. Acreditava que nos caso de posse, o corpo era habitado por demônios ou espíritos maus. Esta noção de mente não-material que habita um corpo material dava pouca esperança para a compreensão do homem, pois incorria numa petição de principio. Simplesmente explicava o comportamento ao atribuí-lo a ações imprevisíveis de um “homem dentro de um homem”.

Evidentemente, essa noção era apenas uma parte da concepção pré-científica que o homem tinha de seu universo. Não apenas o comportamento humano era causado por espíritos, mas o mesmo ocorria com os acontecimentos na natureza. As tempestades, os incêndios, os tremores de terra, e assim por diante eram lançados pela fúria dos deuses ou do demônio. De outro lado, o bom tempo para as plantações era obra de deuses “felizes” - e que muitas vezes ficavam felizes com os sacrifícios ou outras oferendas. Essa interpretação do universo nunca poderia dar qualquer tipo de ciência, psicológica ou de outro campo.

Para o aparecimento de uma ciência havia a necessidade de uma interpretação completamente diferente das coisas, baseadas em duas crenças afins. Uma, a crença de que os acontecimentos naturais são regulares ou obedecem a leis - que de um acontecimento é possível predizer outro. A segunda, de que a regularidade poderia ser descoberta por algum tipo de observação. Assim, a observação cuidadosa de acontecimentos poderia descobrir relações regulares entre eles. Esta é a essência de toda a ciência. Algum progresso nessa direção foi feito pelos gregos antigos, mas limitou-se a coisas físicas. Os gregos trabalharam para a criação da matemática, bem como de pesos e medidas. Reunindo as duas coisas, ás vezes faziam o que poderia ser considerado um experimento - por exemplo, o experimento de Arquimedes sobre o deslocamento da água - mas quase sempre dependiam de observação natural. Esta, que é o primeiro e o mais grosseiro dos métodos científicos, consiste em observar acontecimentos num ambiente natural, sem qualquer manipulação, ao mesmo tempo em que devemos ter o cuidado de distinguir entre os nossos sentimentos e os fatos puramente objetivos.

Como se sabem quase todos os estudantes, por muitos séculos depois dos gregos pouco aconteceu na ciência, até que chegamos ao Renascimento. Neste momento, o método da observação natural foi redescoberto e utilizado com proveito. Dele decorreram vários progressos - por exemplo, a concepção do sistema solar de Galileu, a lei da gravitação de Newton, os princípios de percepção do espaço de Leonardo da Vinci. No entanto, por maiores que fossem tais progressos, eram limitados porque o método de observação natural é limitado. Permite que o cientista apenas observe os acontecimentos e coisas que a natureza lhe entrega. Pode precisar esperar muito tempo para que ocorra alguma coisa e, mesmo quando

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isso se dá, o que ocorre pode estar misturado com acontecimentos não relacionados que dificultam a análise de causa e efeito. Embora a observação natural tenha tido, e ainda tenha o seu lugar - a astronomia, uma ciência por excelência, em grande parte depende de observação - para que a ciência se desenvolvesse em muitos campos de um método mais eficiente.

1.2 CIÊNCIA E SENSO COMUMQuantas vezes, no nosso dia-a-dia, ouvimos o termo psicologia? Qualquer um

entende um pouco dela. Poderíamos até mesmo dizer que “de psicólogo e de louco todo mundo tem um pouco”. O dito popular não é bem este (“de médico e de louco todo mundo tem um pouco”), mas parece servir aqui perfeitamente. As pessoas em geral tem a “sua psicologia”. Usamos o termo psicologia, no nosso cotidiano, com vários sentidos. Por exemplo, quando falamos do poder de persuasão do vendedor, dizemos que ele usa de psicologia” para vender seu produto; e quando nos referimos à jovem estudante que usa seu poder de sedução para atrair o rapaz, falamos que ela usa de “psicologia”; e quando procuramos aquele amigo, que está sempre disposto a ouvir nossos problemas, dizemos que ele tem “psicologia” para entender as pessoas.

Será essa a psicologia dos psicólogos? Certamente não. Essa psicologia, usada no cotidiano pelas pessoas em geral, é denominada de psicologia do senso comum. Mas nem por isso deixa de ser uma psicologia. O que estamos querendo dizer é que as pessoas, em geral, tem um domínio, mesmo que pequeno e superficial, do conhecimento acumulado pela psicologia científica, o que lhes permite explicar ou compreender seus problemas cotidiano de um ponto de vista psicológico.

É a psicologia científica que pretendemos apresentar. Mas, para fazer isto, iniciaremos pela exposição da relação ciência/senso comum; depois falaremos mais detalhadamente sobre ciência e assim esperamos que você compreenda melhor a Psicologia científica.

1.3. SENSO COMUM: CONHECIMENTO DA REALIDADEExiste um domínio da vida que pode ser entendido como vida por excelência: é a

vida do cotidiano. É no cotidiano que tudo flui, que as coisas acontecem, que nos sentimos vivos, que sentimos a realidade. Todos esses conhecimentos do dia-a-dia denunciam que estamos vivos. Já a ciência é uma atividade eminentemente reflexiva. Ela procura compreender, elucidar e alterar esse cotidiano, a partir de seu estudo sistemático. Quando fazemos ciência, baseamo-nos na realidade cotidiana e pensamos sobre ela. Afastamo-nos dela para refletir e conhecer além de suas aparências. O cotidiano e o conhecimento científico que temos da realidade aproximam-se e se afastam: aproximam-se porque a ciência se refere ao real; afastam-se porque a ciência abstrai a realidade para compreendê-la melhor, ou seja, a ciência afasta-se da realidade, transformando-a em objeto de investigação — o que permite a construção do conhecimento científico sobre o real.

Esse tipo de conhecimento que vamos acumulando no nosso cotidiano échamado do senso comum. Sem esse conhecimento intuitivo, espontâneo, de tentativas e erros, seria muito complicado a nossa vida no dia-a-dia. O senso comum na produção desse tipo de conhecimento, percorre um caminho que vai do hábito à tradição, a qual, quando instalada, passa de geração para geração. Assim aprendemos com nossos pais a atravessar uma rua, a fazer o liquidificador funcionar, a plantar alimentos na época e de maneira correta, a conquistar a pessoa que desejamos e assim por diante. E é nessa tentativa de facilitar o dia-a-dia que o senso comum produz suas próprias “teorias”; na realidade, um conhecimento que, numa interpretação livre, poderíamos chamar de teorias médicas, físicas, psicológicas etc.

1.4. SENSO COMUM: UMA VISÃO DE MUNDOEsse conhecimento de senso comum além de sua produção característica, acaba

por se apropriar, de uma maneira muito singular, de conhecimentos produzidos pelos outros

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setores da produção do saber humano. O senso comum mistura e recicla esses outros setores, muito mais especializado, e os reduz a um tipo de teoria simplificada, produzindo uma determinada visão de mundo.

O que estamos querendo mostrar é que o senso comum integra, de um modo precário (mas é esse o seu modo), o conhecimento humano. E claro que isto não ocorre muito rapidamente. Leva um certo tempo para que o conhecimento mais sofisticado e especializado seja absorvido pelo senso comum, e nunca o é totalmente. Quando utilizamos, por exemplo, termos como “ rapaz complexado”, “menina histérica”, “ficar neurótico”, estamos usando termos definidos pela psicologia científica. Não nos preocupamos em definir as palavras usadas e nem por isso deixamos de ser entendidos pelo outro. Podemos até estar muito próximos do conceito científica, mas, na maioria das vezes nem o sabemos. Esses são exemplos da apropriação que o senso comum faz da ciência.

1.5. O QUE É CIÊNCIAA ciência compõe-se de um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou aspectos da

realidade (objeto de estudo), expresso através de uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira programada, sistemática e controlada, para que se permita a verificação de sua validade. Assim, podemos apontar os objetos dos diversos ramos da ciência e saber exatamente como determinado conteúdo foi construído, possibilitando a reprodução da experiência. O saber pode assim ser transmitido, verificado, utilizado e desenvolvido. Essas características da produção científica possibilitam sua continuidade: um novo conhecimento é produzido sempre a partir de algo desenvolvido. Nega-se, reafirma-se, descobrem-se novos aspectos, e assim a ciência avança. Nesse sentido, a ciência caracteriza-se como um processo.

A ciência tem ainda uma característica fundamental: ela aspira à objetividade. Suas conclusões devem ser passíveis de verificação e isentas de emoção, para, assim, tornarem-se válidas para todos. Objeto específico, linguagem rigorosa, métodos e técnicas específicas, processo cumulativo do conhecimento, objetividade fazem da ciência uma forma de conhecimento que supera em muito o conhecimento espontâneo do senso comum. Esse conjunto de características é o que permite que denominemos científico a um conjunto de conhecimentos.

1.6. OBJETO DE ESTUDO DA PSICOLOGIAUm dos motivos responsáveis pela diversidade de objetos da Psicologia é o fato de

este campo do conhecimento, a despeito de existir há muito tempo na filosofia enquanto precaução humana, só muito recentemente (final do século passado) Ter-se constituído como área do conhecimento.

Um segundo motivo é o fato de o cientista e o seu objeto de estudo estarem inseridos numa realidade histórica e social. Assim, ocorre que a psicologia estuda não um homem abstrato, mas o homem que vive seu determinado momento histórico. Diríamos então, que a Psicologia estuda os “diversos homens” concebidos pelo conjunto social. E assim, temos vários objetos de estudo para vários psicólogos.

Se dermos a palavra a um psicólogo comportamentalista, ele dirá: “O objeto de estudo da psicologia é o comportamento humano”. Se a palavra for dada a um psicólogo psicanalista, ele dirá: “O objeto de estudo da psicologia é o inconsciente”. Outros dirão que é a consciência humana, e outros, ainda, a personalidade. Essa diversidade de objetos justifica-se porque os fenômenos psicológicos são tão diversos, que não podem ser acessíveis ao mesmo nível de observação e, portanto, não podem ser sujeitos aos mesmos padrões de descrição, medida, controle e interpretação. O objeto da psicologia deveria ser aquele que reunisse condições de aglutinar uma ampla variedade de fenômenos psicológicos. Ao estabelecer o padrão de descrição, medida, controle e interpretação o psicólogo está também estabelecendo um determinado critério de seleção dos fenômenos psicológicos e assim definindo um objeto.

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Esta situação leva-nos a questionar a caracterização da psicologia como ciência e a postular que no momento não existe uma psicologia, mas ciências psicológicas embrionárias e em desenvolvimento.

2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PSICOLOGIA:Toda e qualquer produção humana — uma cadeira, uma religião, um computador,

uma obra de arte, uma teoria científica — tem por trás de si a contribuição de inúmeros, que, numa dimensão de tempo anterior ao presente, fizeram indagações, realizaram descobertas, inventaram técnicas e desenvolveram idéias, isto é, por trás de qualquer produção material ou espiritual, existe a história.

Para compreender a diversidade com que a psicologia se apresenta hoje, é indispensável recuperar sua história. A história de sua construção está ligada, em cada momento histórico, as exigências de conhecimento da humanidade, às demais áreas do conhecimento humano e aos novos desafios colocados pela realidade econômica e social e pela insaciável necessidade do homem de compreender a si mesmo.

2.1. A PSICOLOGIA ENTRE OS GREGOS: OS PRIMÓRDIOSA história do pensamento humano tem um momento áureo na antigüidade, entre os

gregos, particularmente no período 700 a.C. até a dominação romana, às vésperas da era cristã.

É entre os filósofos gregos que surge a primeira tentativa de sistematizar uma psicologia. O próprio termo psicologia vem do grego, psiquê que significa alma, e de logos que significa razão, por tanto, etimologicamente, psicologia significa “estudo da alma”. A alma ou espírito era concebido como a parte imaterial do ser humano e abarcaria o pensamento, os sentimentos de amor e ódio, a irracionalidade, o desejo, a sensação e a percepção. Mas é com Sócrates (469 — 399 a.C.) que a psicologia na antiguidade ganha consistência. Foi considerado o Pai da Psicologia, pois coube a ele descobrir a existência do mundo interior do homem distinta do universo que o cerca. Era através de sua máxima “conhece-te a ti mesmo” que Sócrates induzia o homem a fazer uma introspecção, isto é, um reflexo do seu EU, um mergulho na sua alma; por isto ser considerado o iniciador dos estudos psicológico.

O mais famoso aluno de Sócrates foi Platão (469 — 399 a.C.), que estabeleceu pela primeira vez uma distinção definida entre a mente e a matéria, distinção essa, que tem aparecido de modo bastante destacado na psicologia até os nossos dias. Em sua vida de contemplação, impressionou-se profundamente pelas diferenças entre as idéias que são manifestadas pela razão e os objetos que são revelados pelos sentidos; e colocando as idéias no mundo a elas pertencente, considerava tão reais quanto às outras do mundo conhecido pelos sentidos. Por tanto, pressupôs um mundo de idéias, do qual, o mundo real, aqueles revelados pelos sentidos — é apenas uma cópia imperfeita. Aristóteles (384 — 322 a.C.), discípulo de Platão, foi um dos mais importantes pensadores da história da filosofia. Sua contribuição foi inovadora ao postular que alma e corpo não podem ser dissociados. Para Aristóteles, a psique seria o princípio ativo da vida. Tudo aquilo que cresce se reproduz e se alimenta possua a sua psique ou alma. Desta forma, os vegetais, os animais e o homem teriam alma. Os vegetais teriam alma vegetativa, que se define pela função de alimentação e reprodução. Os animais teriam essa alma e a alma sensitiva, que tem a função de percepção e movimento. E o homem teria os dois níveis anteriores e a alma racional, que tem a função pensante.

Outra das contribuições de Aristóteles foi a doutrina de que todo o conhecimento decorre da experiência. No nascimento do individuo, a mente é uma “tábula rasa” e a experiência escreve nessa tabula. E um papel em branco, onde nada contém. Portanto, 2.300 anos antes do advento da Psicologia científica, os gregos já haviam formulado duas “teorias”: a platônica que postulava a imortalidade da alma e a concebia separada do corpo, e a aristotélica, que afirmava a mortalidade da alma e a sua relação de pertencimento ao corpo.

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2.2. A PSICOLOGIA NO IMPÉRIO ROMANO E NA IDADE MÉDIAAs vésperas da era cristã surgem um novo império que iria dominar a Grécia, parte

da Europa e do Oriente Médio: o Império Romano. Uma das principais características desse período é o aparecimento e desenvolvimento do cristianismo — uma força religiosa que passa a força política dominante. Mesmo com as invasões bárbaras, por volta de 400 d. C., que levam à desorganização econômica e ao desfalecimento dos territórios, o cristianismo sobrevive e até se fortalece, tornando-se a religião principal na Idade Média. E falar de psicologia nesse período é relacioná-la ao conhecimento religioso, já que, ao lado do poder econômico e político, a Igreja Católica também monopolizava o saber e, conseqüentemente, o estudo do psiquismo.

Nesse sentido, dois grandes filósofos representam esse período: Santo Agostinho (354 — 430) e São Tomás de Aquino (1225 — 1274).

Santo Agostinho, inspirado em Platão, também fazia uma cisão entre alma e corpo. Entretanto, para ele, a alma não era somente a sede da razão, mas a prova de uma manifestação divina no homem. A alma era imortal por ser ele o elemento que liga o homem a Deus. E, sendo a alma também a sede do pensamento, a igreja passa a se preocupar também com sua compreensão.

São Tomás de Aquino viveu num período que prenunciava a ruptura da igreja católica, o aparecimento do protestantismo uma época que preparava a transição para o capitalismo, com a revolução francesa e a revolução industrial na Inglaterra. São Tomás de Aquino foi buscar em Aristóteles a distinção entre essência e existência. Como o filósofo grego considera que o homem, na sua essência, busca a perfeição através dc sua existência. Porém introduzindo o ponto de vista religioso, ao contrário de Aristóteles, afirma que somente Deus seria capaz de reunir a essência e a existência, em termos de igualdade. Por tanto, a busca de perfeição pelo homem seria a busca de Deus.

2.3. A PSICOLOGIA NO RENASCIMENTOPouco mais de 200 anos após a morte de São Tomás de Aquino, tem inicio uma

época de transformações radicais no mundo europeu. E o Renascimento ou Renascença. As transformações ocorrem em todos os setores da produção humana. As ciências também conhecem um grande avanço. Esse avanço na produção de conhecimento propicia o início da sistematização do conhecimento científico. Isto é, começas a se estabelecer métodos e regras básicas para a construção do conhecimento científico. Com o surgimento da Física, Astronomia, Biologia e outras, foram propiciando o caminho para uma nova Psicologia, que abandonando o estudo do espírito, passou a se preocupar com o estudo dos fenômenos psíquicos, ou estudo da mente.

Observa-se então, um despertar de interesses intelectuais voltando-se para o homem em todos os sentidos, surgindo com Descartes (1596 — 1659). A separação fundamental entre matéria e espírito. Segundo ele, o homem seria constituído de duas realidades: uma, material, o corpo, comparável a uma máquina e, portanto, cujos movimentos seriam possíveis a partir do conhecimento de suas “pelas” e relações entre elas (pensamento mecanicista); e de outra realidade, imaterial, a alma, livre dos determinismos físicos.

MATERIAL: correspondem a todas as ações do corpo humano, os movimentos dos músculos e tendões, as atividades da respiração, mesmo os processos de sensação, podem ser explicados de acordo com os princípios de mecânica.

Mente e Corpo — relação de interação.age sobre o corpo e sofre influências deste através da sensação, emoção e ação.Alma ou Mente, domínio da filosofia. Quem estudasse a alma, não se poderia

valer de observações e mensurações, já que é entendida sem extensão e nem localização.

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MÉTODO: dúvida. Poderia duvidar de tudo que fosse possível duvidar, na esperança de chegar ao evidente por si e ao indubitável. Poderia duvidar: da existência de Deus, do mundo, e mesmo da existência de seu próprio corpo. De uma coisa não podia duvidar — era do fato de que estava duvidando, e a certeza de que sua dúvida, isto é, seu pensamento existia, deu-lhe fundamento para seu sistema. “Penso, logo existo”.

DUALISMO: existiam duas substâncias: mente e matéria, a substância pensante e a extensa. Havia separado a mente e a matéria de modo tão completo que achava difícil juntá-las novamente de forma harmônica.

ALMA: provida de razão, uma substância pensante, que tinha o poder de dirigir e alterar o rumo mecânico dos acontecimentos. Esta alma age através da glândula pineal na base do cérebro, e influencia os movimentos do corpo, agindo sobre os espíritos animais no sangue, o qual entrando por um nervo ou outro determina que o movimento deva ser efetuado. Mas a ação do corpo em si, embora sujeito à direção da alma, é puramente mecânica.

Os filósofos ingleses, sobretudo Jonh Lock, David Hume, deram um grande impulso a esta Psicologia, utilizando o método indutivo e tomando por base a experiência individual, daí porque foram chamados “empiristas”. Uma nova forma de pensar o homem alcança espaço nesse cenário, Jonh Lock (1632 — 1704) defensor do empirismo vem contrapor as idéias tão arduamente defendidas por Descartes. Lock comparou a mente como uma “tábula rasa”, onde seriam impressas, pela experiência, todas as idéias e conhecimentos. Nada existiria ali que não tivesse passado pelos sentidos.

Todo conhecimento é derivado de uma única fonte, a experiência. Esta, é de duas espécies: uma provém da sensação e outra da reflexão. Não existe idéias inatas. “Nada existe no intelecto que não tenha passado pelos sentidos”. A sensação e a reflexão nos dão idéias simples, as quais são o material com que é formado todo o pensamento humano.

2.4. A PSICOLOGIA NA IDADE MODERNANo século XIX, o papel da ciência destaca-se, e seu avanço torna-se necessário. O

crescimento da nova ordem econômica — o capitalismo — traz consigo o processo de industrialização, para o qual a ciência deveria dar respostas e soluções práticas no campo da técnica. Há então um impulso muito grande para o desenvolvimento da ciência, enquanto um sustentáculo da nova ordem econômica e social, e dos problemas colocados por ela. A partir dessa época, a noção de verdade passa, necessariamente, a contar com o aval da ciência. A própria Filosofia adapta-se aos novos tempos, com o surgimento do Positivismo de Augusto Comte, que postulava a necessidade de um maior rigor científico na construção dos conhecimentos nas ciências humanas Desta forma, propunha o método da ciência natural, a Física, como modelo de construção de conhecimento.

E em meados do século XIX que os problemas e temas da Psicologia, até então estudados exclusivamente pelos filósofos, passam a ser, também, investigados pela Fisiologia e pela Neurofisiologia em particular. Os avanços que atingiram também essa área levaram à formulação de teorias sobre o sistema nervoso central, demonstrando que o pensamento, as percepções e os sentimentos humanos eram produtos desse sistema. O berço da Psicologia moderna foi na Alemanha no final do século passado. Wundt, Weber e Fechner trabalharam juntos na Universidade de Leipzig. Surgiram para aquele país muitos estudiosos dessa nova ciência, como o inglês Edward B. Titcher e o americano William James.

Seu status de ciência é obtido na medida em que se “liberta” da Filosofia, que marcou sua história até aqui, e atrai novos estudiosos e pesquisadores, que, sob os novos padrões de produção de conhecimento, passam a:

Definir seu objeto de estudo (o comportamento, a vida psíquica, a consciência); Delimitar seu campo de estudo, diferenciando-o de outras áreas de

conhecimento, como a Filosofia e a Fisiologia;

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Formular métodos de estudo deste objeto; Formular teorias enquanto um corpo consistente de conhecimentos na área

Essas teorias devem obedecer aos critérios básicos da metodologia científica, isto é, deve-se buscar a neutralidade do conhecimento cientifico, os dados devem ser passíveis de comprovação, e o conhecimento deve ser cumulativo e servir de ponto de partida para outros experimentos e pesquisas na área.

2.4.1. O FUNCIONALISMOE considerado como a primeira sistematização genuinamente americana de

conhecimentos em Psicologia. Uma sociedade que exigia o pragmatismo para seu desenvolvimento econômico acaba por exigir dos cientistas americanos o mesmo espírito. Desse modo, para a escola funcionalista de W. James (1842 — 1919), importa responder “o que fazem os homens e “por que o fazem”. Para responder a isto, W. James elege a consciência como o centro de suas preocupações e busca a compreensão de seu funcionamento, na medida em que o homem a usa para adaptar-se ao meio.

2.4.2. O ESTRUTURACISMOEstá preocupado com a compreensão do mesmo fenômeno que o Funcionalismo: a

consciência. Mas, diferentemente de W. James, Titchner erá estudá-la em seus aspectos estruturais, isto é, os estados elementares da consciência como estruturas do sistema nervoso central. Esta escola foi inaugurada por Wilhelm Wundt (1832 — 1920), mas foi Titchner, seu seguidor, quem usou o termo Estruturalismo pela primeira vez, no sentido de diferenciá-la do Funcionalismo. O método de observação de Titchner, assim como o de Wundit, é o introspeccionismo, e os conhecimentos experimentais, isto é, produzidos a partir do laboratório.

2.4.3. O ASSOCIACIONISMOO principal representante do Associacionismo é Edward L. Thorndike, e sua

importância estão em Ter sido o formulador de uma primeira teoria de aprendizagem na Psicologia. Sua produção de conhecimentos pautava-se por uma visão de utilidade deste conhecimento, muito mais do que por questões filosóficas que perpassam a Psicologia.

O termo associacionismo originou-se da concepção de que a aprendizagem se dá por um processo de associação das idéias — das idéias mais simples às mais complexas. Assim, para aprender uma coisa complexa, a pessoa precisaria em primeiro, aprender as idéias mais simples, que a ela estriam associadas. Thorndike formulou a Lei do Efeito, que seria de grande utilidade para a Psicologia Comportamentalista. De acordo com essa lei, todo o comportamento de um organismo vivo (um homem, um pombo, um rato etc.) tende a se repetir, se nós o recompensarmos (efeito) assim que ele o emitir. Por outro lado, o comportamento tenderá a não acontecer, se o organismo for castigado (efeito) após sua ocorrência. E, pela Lei do Efeito, o organismo irá associar essas situações com outras semelhantes. Por exemplo, se, ao apertarmos um dos botões do rádio, formos “premiados” com música, em outras oportunidades apertaremos o mesmo botão, bem como generalizações essa aprendizagem para outros aparelhos, como toca-discos, gravadores etc.

3. A PSICOLOGIA EXPERIMENTALCom o método experimental, a psicologia obteve resultados mais concretos,

diminuindo a dependência observada até então das interpretações de cunho filosófico, como bem podemos constatar através dos estudiosos do século XVII: René Descartes e John Locke - defendendo o último, que todo o conhecimento advém a partir dos sentidos. O método mais eficiente finalmente descoberto foi o método experimental. No entanto, demorou muito tempo

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para chegar - tanto para a ciência em geral quanto para a psicologia em particular. Enquanto isso não ocorreu, a tarefa de coligir observações naturais e interpretá-las esteve nas mãos dos filósofos. Isto pode parecer surpreendente para estudantes que não pensam no filósofo contemporâneo como um cientista. Antigamente os filósofos eram os guardiões da ciência ou do que existia de ciência. Distinguiam três tipos de filosofia:

1) Filosofia natural que incluía o que denominamos física, química e as ciências naturais;

2) Filosofia mental, que abrangia o que hoje é a psicologia; 3) a Filosofia moral, que considerava muitos dos problemas sociais que hoje são

tratados pelas ciências sociais. Portanto, a filosofia foi a mãe de nossas ciências contemporâneas - um fato que ainda hoje se reflete na concessão do Doutor em Filosofia (Ph.D.), título dado a estudantes de campos muito diferentes, como química, psicologia e economia. Foi a descoberta do método científico que provocou a separação entre ciência e filosofia. O aspecto importante desse método é o fato de permitir que o cientista faça com que os acontecimentos ocorram quando precisam que ocorra, e de uma forma que lhe permite ver quais são os acontecimentos relacionados entre si e quais não o são. E um método mais produtivo do que a observação natural, pois o cientista pode trabalhar tão depressa quanto o permitam seu tempo e seus instrumentos, em que um método mais eficiente, pois seleciona apenas as coisas que deseja observar, e não aquelas que a natureza junta caoticamente.

Grosseiramente, pode-se dizer que o método experimental foi inicialmente empregado na física (século XVII) depois na química (século XVIII) e muito depois na psicologia (século XIX). Seu ingresso na psicologia foi anunciado por um livro de Gustav Fechner (1801-1897) intitulado Elemente der Psychophysik sensorial. Apresentava também uma lei, ainda hoje conhecida como lei de Fechner, que liga a intensidade do estímulo á intensidade da experiência. Vários outros livros e tratados que descreviam os resultados de experimentas foram publicados nos anos imediatamente seguintes. Depois, veio a fundação formal de um laboratório de psicologia experimental na Universidade de Leipzig. em 1879. Logo depois, o primeiro laboratório dos Estados Unidos foi formado na Universidade Johns Hopkins, em 1883. Por volta de 1900, vários laboratórios de psicologia estavam sendo desenvolvidos, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.

3.1. ESCOLAS E “ISMOS”O método experimental na psicologia será novamente discutido logo adiante neste

capitulo. Para continuar nossa história esquemática na psicologia como ciência, o período seguinte tem sido às vezes denominado a era das escolas e dos ismos’ foi marcado por opiniões nitidamente diferentes quanto ao que deveria ser a psicologia experimental. Fundamentalmente, distinguiam-se em três problemas:

1) mente versus comportamento; 2) teorias de campo versus ‘atomismo e 3) nativismo versus empirismo.Mente versus comportamento. Aqui. o problema era o seguinte: qual o campo de

estudo da psicologia? Wilhelrn Wundt (1832-1920), fundador do primeiro laboratório de psicologia (1879) liderou uma escola que passou a ser conhecida como estruturalismo. Sua resposta à pergunta era ‘mente’, provavelmente porque os estruturalistas, como foram os primeiros a realizar experimentais em vez de apenas observar, estavam ainda marcados pelo pensamento dualista ou espiritualista Foram também nitidamente influenciados pela nova química que há pouco tempo tinha descoberto que todas as substância químicas se reduzem a átomos. Fazendo um paralelo entre mente e química, esperavam analisar a mente em elementos denominados sensações. Pensam que. Em última análise, um acontecimento mental poderia ser dividido em sensações - vermelho, frio, doce ou pútrido.

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Na esperança de conseguir isso, usavam um método especial, denominado introspecção Um sujeito era treinado para descrever tão objetivamente quanto possível, sua experiência com determinado estímulo, deixando de lado os significados que passaram a associar-se a ele Poderia, por exemplo, receber uma luz colorida, um tom ou um odor e ser solicitado a descrevê-lo minuciosamente. Esperava-se que, desta forma, as experiências mentais complexas poderiam se: construídas a partir de sensações elementares. No inicio do Século XX. nos Estados Unidos surgiram dois grupos de psicólogos que começaram a discutira métodos estruturalista. O primeiro grupo. Liderado por William James (1842 1910), e John Dewey (1859-1952), se intitulava funcionalista, Era moderado em suas afirmações. Dizia que o objeto adequado da psicologia é formado por mente e comportamento Mais importante diziam eles, não é o conteúdo que deve ser estudado, mas a função: desejavam saber com funcionam a mente e o comportamento, e não como se formam. Além disso, desejavam saber como a mente e o comportamento funcionam para adaptar uma pessoa, de forma que possa viver eficientemente em seu ambiente.

“O acréscimo do ‘comportamento” ao objeto de estudo da psicologia levada mais longe pelos comportamentalistas, liderados por John B. Watson (1878-1958). Segundo Watson, ninguém poderia estudar a mente porque não pode vê-la, senti-la ou medi-Ia. A única coisa que pode observar o comportamento; portanto, o comportamento é o único objeto legitimo de estudo. Essa posição tinha um aspecto importante e isso persuadiu a maioria dos psicólogos. Embora hoje ninguém seja tão extremado quanto Watson, e todos admitam que os acontecimentos mentais existam quase todos os psicólogos pensam que o comportamento é em si mesmo importante e que a única via para estudar os acontecimentos mentais passa através do estudo do comportamento. Teoria de campo versus atomismo. Embora o estruturalismo e o comportamentalismo se opusessem quanto ao que estudar, as duas escolas supunham que a maneira de estudar os acontecimentos psicológicos exigia que fossem divididos em elementos ou unidades. Para os estruturalistas a unidade era a sensação. Para os comportamentalistas a unidade era o reflexo condicionado (Watson acreditava que o comportamento do homem é um conjunto complexo de hábitos, na realidade um feixe de reflexos” que podem ser analisados separadamente). A noção sustentada por estruturalistas e comportamentistas, segundo a qual os acontecimentos psicológicos podem ser reduzidos a unidades, era denominada elementarismo ou atomismo.

A essa noção se opunha uma outra escola de psicologia, conhecida como psicologia da gestalt. A escola floresceu na Alemanha, por volta de 1912, mas na década de 1920, principalmente por causa da tirania nazista, seus líderes emigraram para os Estados Unidos Neste país, teve considerável influência. Os que adotavam o ponto de vista básico da psicologia da gestalt, mas não aceitavam todas as suas suposições iniciais, se denominavam defensores de uma teoria de campo. A diferença entre a teoria de campo e o atomismo é a seguinte: quem defende a teoria de campo acredita que o todo é mais do que a soma de suas partes - uma casa é mais do que os materiais de construção que nela foram empregados. Por isso, o todo não pode ser dissecado em suas partes. A idéia básica é traduzida pela palavra alemã gestalt, que não tem uma tradução exata, mas que significa algo como forma, organização e configuração. Por isso, os gentaltistas ou teóricos de campo sustentam que nossas experiências são modelos ou organizações, um pouco análogas a um campo magnético, em que os acontecimentos numa parte do campo influem em acontecimentos de outra parte. Por exemplo, um pedaço de papel cinza só é cinza com relação ao seu fundo ou com algo a que é comparado. Num fundo negro, parece claro; contra um fundo claro, parece escuro. Uma série de pontos em organização ordenada é percebida como um desenho. Quando, por exemplo, a gente vê uma série de pontos dispostos num círculo, percebemos um círculo, não apenas alguns pontos isolados. Os pontos são de algum modo organizados na percepção. Isto é o que o teórico de campo entende por organização.

A afirmação é significativa. Seu argumento parece muito adequado no caso da percepção, principalmente da percepção visual. No entanto, quando a teoria é transferida para

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a aprendizagem de materiais verbais, as coisas não ficam tão claras. As vezes, a teoria de campo explica melhor os dados, mas às vezes quem o faz é a teoria atomista. Ainda estamos no processo de verificação dos casos em que cada uma das teorias é mais adequada. Natureza versus criação. Um terceiro problema com que convivemos há muito tempo é a questão da natureza aposta a criação. Há um século, os termos empregados eram nativismo e empirismo. De qualquer forma, o problema é este: até que ponto a hereditariedade e a aprendizagem contribuem para o comportamento e as capacidades humanas?

Os estruturalistas não deram muita atenção a esse problema, embora supusessem que as sensações básicas são inatas (isto é, são propriedades naturais do cérebro de uma pessoa) e que os acontecimentos mentais complexos se formam a partir delas, através da aprendizagem. Os funcionalistas não acentuam qyalquer dos lados do problema, mas certamente estavam mais interessados pelo que uma pes~’sáa pode aprender do que por aquilo que herda. No entanto, os teóricos de campo e os comportamentistas se opunham claramente na questão da natureza e criação. Os gestaltistas e os teóricos de campo pensavam que a organização da percepção, bem como as regras que a governam, são propriedades herdadas do cérebro. Além disso, acreditavam que pouco se pode fazer para alterá-las através de instrução. Os comportamentistas, ao contrário, praticamente nada deixaram à hereditariedade, com a exceção de alguns reflexos básicos que deveriam ser condicionados. Negavam a existência de instintos ou de tendências inatas. Para Watson, o comportamentalista extremado, quase tudo que um homem vem a ser é uma questão de condicionamento de seus reflexos. Uma das mais famosas afirmações de Watson dizia que seria capaz de pegar praticamente qualquer bebê e dele fazer, através de instrução, um mendigo, um advogado ou qualquer outro tipo de pessoa.

Os psicólogos norte-americanos foram muito atraídos pelo ponto de vista de Watson, Indiscutivelmente, foram influenciados pelo sonho americano de “maltrapilho a milionário “, a idéia de que qualquer um pode “vencer” se realmente fizer esforço. No entanto, hoje sabemos que a verdade científica está em algum ponto entre os extremos da natureza e criação. O problema não é perguntar se existem tendências inatas no comportamento, mas perguntar como é que as tendencias herdadas interagem com o comportamento aprendido. De forma semelhante, existe um limite para o que alguns indivíduos podem aprender, como se pode ver em qualquer caso de retardamento mental. Ainda aqui, o problema não é saber se existe um limite, mas saber o que é e o que, em cada caso, marca esse limite.

Psicanálise. Fora dessas controvérsias entre as escolas de psicologia havia um movimento que muitos leigos pensam como parte da psicologia. Esse movimento era a psicanálise. Não participava das disputas porque não participava da psicologia experimental, nem da psicologia. A psicanálise se desenvolveu na medicina e se baseava em dados clínicos, não em dados experimentais. Por essa razão, ficaram separadas por um abismo que só começou a desaparecer no fim da década de 30, depois de as controvérsias na psicologia terem praticamente desaparecido. A partir de então, a psicanálise exerceu grande influência na psicologia, sobretudo na psicologia clínica. Por isso, hoje participa de nossa descrição das escolas de psicologia.

A psicanálise foi criada e desenvolvida, entre 1885 e 1939, por Sigmund Freud (1856.1939). Antes disso, a psiquiatria, como especialização médica, tinha um sistema complexo de classificação, mas pouca coisa a oferecer como tratamento para os pacientes. Freud logo verificou ao começar e a prática psiquiátrica, que o tratamento existente usualmente não era eficiente. Por isso começou do nada para tentar compreender, não classificar os seus pacientes, e para descobrir um tratamento eficiente para seus problemas. Suas tentativas de compreensão, baseada em vários anos de observação de pacientes, deram origem a teoria de personalidade; seus esforços para conseguir tratamento se desenvolveram na técnica conhecida como psicanálise, ou, mais especificamente, associação livre. Hoje, as duas tentativas tiveram um grande impacto na psicologia. A teoria da personalidade de Freud era bem nativista: atribuía as motivações básicas de pessoas a tendências instintivas herdadas.

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Apenas ao compreender os impulsos instintivos da humanidade é que poderíamos começar a compreender a perturbação de um paciente. De outro lado, reconhecia o grande papel da aprendizagem social. Essa aprendizagem, segundo sua observação, muitas vezes reprime ou deforma os impulsos instintivos, produzindo frustração e conflitos íntimos na pessoa. Suas descrições de tais conflitos e dos hábitos que as pessoas aprendem para lidar com eles estão ainda hoje entre as melhores que se escreveram sobre o assunto. As técnicas de associação livre e análise dos sonhos, criadas por Freud, pretendiam descobrir os conflitos reprimidos como um passo para fazer com que a pessoa adotasse maneiras melhores para lidar com eles. Seus métodos tiveram grande influência sobre os psicólogos - a tal ponto que muitos psicólogos clínicos passam por uma “análise didática ao se prepararem para o exercício de sua profissão e muitos usam técnicas psicanalíticas na terapia. Desde a época de Freud se criaram outras técnicas de psicoterapia, algumas delas baseadas diretamente na psicologia experimental, outras não freudianas de personalidade. No entanto, como veremos depois, as teorias freudianas de personalidade e tratamento são ainda salientes neste campo.

3.2. A HERANÇA FILOSÓFICA DA PSICOLOGIAComo ciência natural, a Psicologia surgiu da fusão da nova Fisiologia experimental do

século XIX com certos movimentos filosóficos. As contribuições filosóficas datam, em grande parte, de Platão (4277-347 a.C.) e de Aristóteles (384-322 a.C.). Muito mais tarde, os conceitos psicológicos inventados por esses homens foram desenvolvidos mais plenamente por John Locke (1632-1704) e René Descartes (1596-1650). Antes do século XIX, a Psicologia era parte integrante da Filosofia, e a maioria das especulações sistemáticas relativas aos problemas psicológicos foi feita por filósofos. Os ensinamentos e escritos de Sócrates (4707-399 a.C.), Platão e Aristóteles, haviam transferido o foco do interesse da filosofia grega, da natureza do universo físico, para a natureza do homem. Essa transferência pôs em destaque inúmeros problemas psicológicos.

Entre outras observações, notou Platão dois princípios envolvidos na memória: a associação por contigüidade e a associação por similandade. Ele deu a entender que a propriedade pessoal de alguém, uma lira ou uma peça de roupa, “forma aos olhos da mente” uma imagem do dono, porque o objetivo e a pessoa foram repetidamente vistos juntos no passado. Platão também deu a entender que a vista de um objeto tende a evocar outro, porque as duas coisas são parecidas (Warren,192 1).

Num exame dos conhecimentos do seu tempo, Aristóteles investigou tanto os fenômenos “mentais” quanto os físicos, e notou que os pensamentos se seguem uns aos outros com certa regularidade. Enumerou a similaridade, o contraste e a contigüidade como os três tipos de relações que proporcionam elos de ligação numa cadeia de pensamentos. Disse Aristóteles que a mente recebe a impressão de uma experiência exatamente como a cera recebe a marca de um anel colocado sobre ela; a persistência de uma impressão dessa natureza constitui a memória. A memória afigurava-se a Aristóteles como a posse de uma experiência potencialmente revivescível. As suas concepções da aprendizagem e da memória constituem um grande passo na direção de uma explicação naturalistica da vida mental - ele indicou claramente que as seqüências de processos ideacionais (de pensamento) não são fortuitas, mas obedecem a princípios discerníveis. Também acreditava que os mesmos princípios definidos presidiam tanto ao pensamento intencional quanto ao fluxo espontâneo de pensamentos (Warren, 1921; Boring,1950). Quase mil e setecentos anos depois de Aristóteles foram dados os passas significativos seguintes, na direção de uma concepção naturalística da experiência humana. Na Inglaterra, a “escola da associação” voltou-se para o princípio da associação como chave da compreensão da vida mental. John Locke cunhou a expressão “associação de idéias” e é considerado, de um modo geral, como o mais representativo dos associacionistas.

De acordo com Locke, todo conhecimento vem através dos sentidos. Nada existe na “mente que não existisse primeiro na experiência sensorial. Todo o conhecimento e todas as

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idéias vêm da experiência, e as idéias, ligadas entre si,, são evocadas segundo os princípios da associação. Locke tomou emprestado o conceito da tabula rasa (tábua lisa) da mente, formulado por Aristóteles, e fez dele o ponto de partida de todas as suas teorias psicológicas. As contribuições de Locke e as dos outros associacionistas ingleses foram importantes por duas razões. Primeiro, eles fizeram o que foi, provavelmente, a primeira tentativa de oferecer uma explicação cabal, sistemática, naturalística, da atividade mental. Segundo, os seus princípios de associação ainda são relevantes para a Psicologia e estão incorporados em muitos princípios contemporâneos, ou “leis”, da aprendizagem. Por exemplo, o mecanismo pavloviano do condicionamento pode ser precisamente descrito como de associação por contigüidade. A escola inglesa do associacionismo continuou no século XIX e fundiu-se com a Fisiologia para engendrar a nova Psicologia.

Pouco antes de John LacRe se expusera outra idéia importante para a Psicologia. Na França, o filósofo Descartes desenvolvera uma concepção mecanística do comportamento dos animais inferiores. Sustentava Descartes que o corpo do animal - e o corpo do homem - são máquinas. Se bem acreditasse que o comportamento do homem fosse parcialmente governado por uma alma imaterial (que atuava sobre a glândula pineal, perto do centro da cabeça), afirmava que os animais inferiores eram puros autômatos, completamente sujeitos aos princípios da Física. Conquanto os escrúpulos religiosos de Descartes não lhe permitissem interpretar o comportamento humano de forma totalmente naturalística, a concepção mecanística do comportamento animal ajudou a cavar os alicerces da Psicologia fisiológica e da maneira objetiva e final de encarar o comportamento humano. Quando os homens já não se contentaram de explicar o comportamento em função de “poderes ocultos” e “maus espíritos”, principiaram a esquartejar criaturas mortas para ver o que as fazia funcionar. No século XX, assistimos a “união” entre a filosofia e a escola inglesa associacionista que levaria a nova psicologia.

3.3 AS RAÍZES FISIOLÓGÍCAS DA PSICOLOGIAOs progressos fisiológicos que acabariam, finalmente, fazendo parte da nova

Psicologia começaram na Grécia antiga, exatamente como haviam começado as contribuições filosóficas. I-fipócrates (460-370 a.C.) e Galena (129-199 a.C.) tentaram fugir ao misticismo e à magia que dominavam a Medicina do seu tempo e substitui-los por um enfoque mais naturalístico. Ao discutir a epilepsia, Hípócrates negou que se tratasse de uma “doença sagrada”, como queria a tradição. Afiançava ele que todas as moléstias provêm de causas naturais e não podem ser atribuidas a deuses nem a maus espíritos (Hipócrates, traduzido em 1869). Galeno, outro médico grego, deu um passo à frente no desenvolvimento de uma concepção naturalística das doenças, assim mentais como físicas, ao asseverar que a mente estava localizada no cérebro. Segundo Galena, a demência (enfermidade mental) e a imbecilidade (deficiência mental) resultam da “rarefação e da redução” da quantidade de “espíritos animais” e de mudanças ocorridas na temperatura e na umidade do cérebro. Galena, que distinguia entre os nervos sensoriais e os nervos motores, cortou transversalmente a medula espinhal e localizou algumas das suas funções mataras. Os seus escritos representam o ponto culminante do desenvolvimento da Medicina nos mil e trezentos anos que se seguiram (Boring,1950).

Séculos depois, durante a primeira metade do século XIX, registraram-se grandes progressos no campo da Fisiologia. Em 1811, trabalhando independentemente, Sr Charles Bell e François Magendie descobriram que as fibras sensoriais de um nervo raquiano misto entra na medula espinhal pela raiz posterior (dorsal), ao passo que as fibras mataras do mesmo nervo deixam a medula pela raiz anterior (ventral). Esse descobrimento separou o nervo em funções sensoriais e mataras. Em 1826, Johannes Müller desenvolveu o seu conceito da “energia especifica dos nervos”. Sustentou ele que a qualidade sensorial (frio, calor, doçura, amargor, o tom, a cor, etc.) é tão-somente uma função do mecanismo sensorial; refutou a crença tradicional de que os nervos sensoriais são meros condutores de propriedades

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absolutas de corpos estimulantes. MüIler afirmou que havia cinco espécies diferentes de nervos sensoriais, uma para cada um dos cincos sentidos, e que cada espécie de nervo sensorial tinha a sua própria energia específica (Boring,1950). Hoje se admite que a especificidade da experiência sensorial está na área de recepção cortical do cérebro e nos tipos de impulsos nervosos recebidos, muitó mais do que na natureza específica dos nervos sensoriais periféricos. Na realidade, Müller reconhecera essa possibilidade - pois dissera que não se sabia se a ‘energia” peculiar a cada espécie de nervo sensorial tinha por sede o próprio nervo ou a parte da medula espinhal ou do cérebro a que ele estava ligado (Boring,1950). No princípio do século XIX ficou também estabelecida a natureza elétrica do impulso nervoso. Por volta de 1850, Helmholtz medira a velocidade de transmissão do impulso nervoso e demonstrara dessa maneira, que um aspecto do pensamento não era instantâneo e estava franqueado à investigação experimental, bastando, para isso, que os homens inventassem os meios necessários.

Mais ou menos na mesma ocasião, fisiologistas alemães criaram o campo moderno da Psicofísíca. Ernst Weber notara que muitos estímulos visuais e auditivos precisavam sofrer uma mudança proporcional de quantidade para que a diferença fosse percebida pelo organismo humano. Assim, se dois tons com freqüência de 100 e 103 mal se podiam distinguir, dois tons de 500 e 515 mal se poderiam distinguir também. Essa relação proporcional veio a ser conhecida como Lei de Weber, ou fração de Weber. Gustav Fechner reparou que, segundo a Lei de Weber, a quantidade de mudança do estímulo era a menor diferença observável, e aplicou a sigla “jnd”, (em inglês: just noticeable difference). Tomando-a como a sua unidade de mensuração, admitiu que todos os jnds eram iguais. Dessarte, a intensidaø? de uma sensação poderia ser medida determinando-se o número de jnds existentes acima do limia~(a menor intensidade de estímulo que pode ser experimentada). Por convenção, a diferença que pode ser corretamente percebida 75% das vezes (a meia distância entre o acaso, ou 50%, e a discriminação perfeita, ou 100%), é tomada como um jnd. A contribuição importante de Fechner não foi a sua medida da “sensação”, nem as “leis” que concebeu. Foi, antes, o desenvolvimento que imprimiu a um novo enfoque da mensuração. Os seus chamados “métodos psicofísicos”, mormente o que emprega os jnds, resistiram à prova do tempo e revelaram-se aplicáveis a ampla variedade de problemas psicológicos.

4. PERÍODO CONTEMPORANEOObservamos que, pelo inicio dos anos da década de 40 do atual século, já havia

começado um processo de desaparecimento das escolas e dos “ismos” da psicologia, o que não significa que, não tenhamos sofrido influência deles na nossa forma de pensar.

Não estando “regida” por nenhuma “grande teoria” (Clifford T. Morgan), a psicologia conseguiu caminhar para uma relativa unificação; partindo mesmo de um conjunto de princípios com o qual a maioria dos psicólogos comungam.

Vale ainda ressaltar o aspecto inter-disciplinar alcançada pela psicologia moderna, propiciando uma valorosa integração desta ciência com diversos campos de estudos, como por exemplo:

psicologia industrial (com economia;...), psicolingüística (com Iingüistas, educadores, antropólogos,...), psicologia social (com ciência política; sociologia, ...).

Por volta de 1940, as escolas e os “ismos” da psicologia estavam começando a desaparecer, e hoje estão praticamente mortos. O comportamentalismo teve o maior impacto, pois a psicologia contemporânea é bem comportamentalista. Apesar disso, muitas das idéias da psicologia da gestalt e da psicanálise foram absorvidas pelo nosso modo de pensar. Por exemplo, hoje reconhecemos que os princípios gestaltistas de organização se aplicam a percepções complexas, bem como à memória para materiais “significativos”. Descobrimos também muitas formas de ajustar a teoria comportamentalista de aprendizagem a muitas das noções de personalidade e psicanálise freudiana (Dollard e Müller, 1950). Além disso, algumas técnicas modernas de psicoterapia estão misturando os métodos freudianos com princípios de

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modificação de comportamento, obtidos na psicologia experimental da aprendizagem (Bengin e Garfield, 1971).

Os três problemas acima discutidos - mente versus comportamento, teoria de campo versos atomismo, e natureza versus criação - já são problemas básicos, e talvez nem sejam problemas. Nosso pensamento comportamentalista nos faz admitir que o comportamento é o objetivo de estudo da psicologia. Ao mesmo tempo, reconhecemos que, ao estudar o comportamento, estamos lidando com fenômenos mentais. Quanto ao problema de teoria de campo e atomismo, concebemos as respostas condicionadas simples de maneira atomística, mas aplicamos princípios mais complexos de organização a muitos tipos de aprendizagem e percepção. Quanto à relação entre natureza e criação, os psicólogos geralmente se inclinam para a criação - isto é, tendem a explicar o comportamento, em grande parte, através de aprendizagem. No entanto, reconhecem que a aprendizagem interage com potenciais herdados. Por isso, vêem a percepção, a inteligência, a personalidade e as perturbações mentais como o resultado de uma interação entre aprendizagem e predisposições herdadas.

Em resumo, a psicologia se tornou mais ou menos unificada. Não tem uma grande teoria”, do tipo encontrado em física e química. Tem, no entanto, um conjunto de princípios com que os psicólogos em grande parte concordam. As discordância se dão, freqüentemente, ao nível de miniteoria, e não quanto aos problemas mais amplos, tão proeminentes no passado. Uma miniteoria é uma teoria destinada a explicar um conjunto muito limitado de fatos. Por exemplo, há diferentes teorias para explicar como as pessoas aprendem sílabas sem sentido ou como os ratos aprendem a andar por um labirinto. Tais diferenças sempre existem na ciência. Na realidade, muitas vezes ajudam os cientistas a criar experimentos através dos quais a ciência progride.

5. MÉTODOS DA PSICOLOGIAOs métodos empregados na psicologia, encontram-se divididos em 3 categorias: Para completar nossa introdução à psicologia, consideramos como os psicólogos

fazem o que fazem, tanto na realização de pesquisa quanto nas aplicações práticas de seu conhecimento. Os métodos usados na psicologia podem ser colocados em três categorias: descritivos, experimentais e estatísticos. Entre ele, os experimentais são usados principalmente pelo pesquisador cujo objetivo é geralmente descobrir novo conhecimento. (As vezes, no entanto, podem também ajudar para decisões práticas.) Os métodos estatísticos e de descrição são usados tanto pelo pesquisador quanto pelo aplicador.

5.1. METODOS DESCRITIVOSDescreve, como próprio termo sugere, e, no caso, descreve o comportamento de um

animal ou de uma pessoa que esteja sob investigação científica.Aqui podemos identificar as observações natural e sistemática.Os métodos descritivos, como sugere o termo, dão uma descrição da coisa que está

sendo estudada. No caso da psicologia, a e o comportamento de uma pessoa ou de um animal. A descrição pode ser grosseira, com poucas palavras que distinguem um trecho de comportamento de outro; ou pode ser numérica, por exemplo, quando atribuímos uma nota de Q.I. a uma pessoa; ou pode apresentar alguma combinação de palavras e números. A seguir apresentamos alguns exemplos disso.

5.1.1. OBSERVAÇÃO NATURALNão obedece a uma característica sistemática, constituindo-se, no entanto, numa

importante ferramenta - embora limitada - do trabalho científico desde a antigüidade.As pessoas sempre foram capazes de aprender muita coisa através de observação

natural. Como já vimos, os gregos antigos foram os primeiros a empregá-la e, ao fazê-lo, estabeleceram os fundamentos para as várias ciências. Embora métodos mais precisos

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tenham, em grande parte, superado o método de observação natural, este ainda tem usos na psicologia e em outras ciências.

Por exemplo, há alguns anos, um grupo de psicólogos de crianças desejava fazer um estudo intensivo do comportamento de um menino de sete anos de idade (Barker e Wright, 1951). Oito observadores, trabalhando por turnos, observaram e registraram tudo que o menino fez em um dia, desde o momento em que acordou, às 7 da manhã até o momento em que foi para a cama, às oito e meia da noite. Seu objetivo era conseguir: uma descrição minuciosa da maneira pela qual um menino se comporta nessa idade. A descrição foi realmente minuciosa; exigiu um livro de 435 páginas. Desta observação naturalista aparecem idéias para pesquisa mais ampla e mais sistemática. (Evidentemente, o menino sabia que estava sendo observado e esse conhecimento pode ter mudado um pouco seu comportamento, fazendo com que fosse menos “natural” do que o teria sido em outras circunstâncias.)

Outro exemplo, agora de psicologia social, é o estudo de um grupo de fanáticos religiosos que acreditavam que o mundo iria acabar em determinado dia (Festinger et ai., 1956). Dois psicólogos se juntaram ao grupo para ver como os seus membros iriam reagir quando descobrissem que o mundo não teria acabado. Suas observações permitem certa compreensão da maneira pela qual as pessoas alteram suas crenças a fim de que estas se ajustem aos fatos - uma intuição que mais tarde consideraremos mais minuciosamente.

5.1.2. OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICAConsidera a importância .da seletividade das informações através da observação,

não limitando-se ao mero registro dó observável; mas, pelo contrário, com a utilização de diversos recursos (testes, escalas, ...) caminha com a finalidade de medição do aspecto comportamental. O método de observação natural é não-sistemático, pois o observador apenas registra o que vê e ouve, sem conscientemente selecionar alguns acontecimentos e ignorar outros. Este tipo de observação exige muito tempo, como se pode ver pelas 435 páginas de registro de um dia de vida de um menino de 7 anos de idade. Muitas vezes, a observação natural não dá informação útil suficiente. Quase sempre o psicólogo está interessado na resposta a alguma pergunta específica, e pode responder a ele se enfrentá-la de modo sistemático. Este método é conhecido como observação sistemática. A seguir, apresentamos um exemplo (Benett e Cohen,1959).

Dois psicólogos desejam saber se homens e mulheres se vêem de maneira diferente e, se isso ocorre, qual é a diferença. Na terminologia psicológica, isso eqüivale a saber como diferem os auto-conceitos de homens e mulheres. Para responder a essa pergunta, deram uma longa lista de adjetivos a grandes grupos de homens e mulheres, de 15 a 64 anos de idade, e pediram que escolhessem as palavras que, segundo pensassem, apresentavam melhor descrição deles. (este é um tipo da chamada técnica de lista de adjetivos para auto - avaliação.) Depois, os experimentadores agruparam os adjetivos em feixes de características bem afins. Por exemplo, os adjetivos “amoroso “afetuoso” e “terno” formavam um feixe denominado “afeição social”. Depois, examinaram seus dados para ver quais os feixes que distinguem os homens das mulheres. Os resultados são apresentados na Tabela 1.2. Ai você encontrará muitas das maneiras pelas quais mulheres e homens se vêem de modo diferente.

O método de observação sistemática é aplicável a muitos problemas práticos: por exemplo, os problemas de estudo da opinião pública e dos fatores que a influenciam, a análise dos efeitos de anúncios nas compras dos consumidores, predição de bons resultados na universidade, e até a pesquisa de alguns problemas básicos - por exemplo, o papel da hereditariedade e do ambiente no desenvolvimento da inteligência. Criação de testes. A observação sistemática pode tornar-se ainda mais exata e até mais sistemática com teste e escalas. Essas duas palavras são usadas quase que como sinônimas pelos psicólogos. Alguns termos, como inventário, registro e questionário, são também usados. Qualquer que seja a palavra, estão falando a respeito de algum instrumento para medir algum aspecto do comportamento de uma pessoa: suas capacidades, suas aptidões, seus interesses, seus

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traços, suas opiniões ou atitudes. Criam um instrumento desse tipo - e milhares deles já foram criados - através de alguns passos relativamente bem padronizados. Uma vez que se tenha decidido quanto à forma final do teste, as normas seio obtidas através da aplicação do teste a um grupo grande e representativo do tipo de pessoas em que se deseja utilizar o teste. Por exemplo, o Teste de Aptidão Escolar, tem normas obtidas com alunos de colégios. Dessa forma, um psicólogo pode dizer qual a posição de uma nota, quando comparadas às de alunos de colégio em geral.

Mais característico de mulheres Mais característicos de homens

Empatia social (compreensão de identificação com outros) Grosseria socialAfeição social “Mau caráter’ socialAltruísmo social Agressividade manifestaMoralidade social Maturidade pessoalHonestidade social Sentimentos tecnológicosNegligênciaImprecisãoImpetuosidadeMedo pessoalFranqueza pessoalFelicidadeEuforiaHostilidade latente (oculta)Sentimentos democráticosSentimentos domésticos

Fonte:Baseada em dados de Benett e Cohen. 1969Tabela 1.2 Um exemplo do método de observação sistemática. Os resultados, neste estudo de auto - avaliação por homens e mulheres indicam que há diferenças marcantes entre os sexos quanto a auto conceitos.

MÉTODOS CLÍNICOS: Como já se viu na Tabela 1, a psicologia clínica é a especialização mais ampla na psicologia. É chamada psicologia clínica porque usa “Métodos clínicos. Estes combinam todos os métodos descritivos acima mencionados, usando-os para resolver o problema pessoal de alguém.

Por exemplo, uma menina pode estar indo mal na escola, e seus pais a levam a um psicólogo para exame. O Pedro está tendo “crises de raiva”, não está aceitando suas refeições, chora durante toda a noite, e geralmente toma seus pais muito infelizes. O Mário, um aluno de ginásio com boas notas, é apanhado ao roubar moedas na coleta realizada no catecismo dominical. João, um robusto jovem de 20 anos, está deprimido porque não consegue as mesmas notas que seu irmão, nem os mesmos amigos que este tem. O Sr. Rosado, casado há cinco anos, está preocupado porque ele e a mulher não conseguem viver bem. Os exemplos poderiam ser indefinidamente multiplicados. Em todos, há pessoas com problemas e que procuram o psicólogo para conseguir ajuda.

Nem todos os problemas clínicos exigem estudos minuciosos, mas, quando isso ocorre, o psicólogo faz várias coisas. Usualmente começa por conseguir uma descrição minuciosa da história da pessoa e de suas relações de família, geralmente através de entrevista com a pessoa e seus colegas - uma espécie de observação natural. As vezes faz com que um assistente social investigue o ambiente social da pessoa - o que é ainda observação natural. Além de tais observações, o psicólogo pode usar testes de vários tipos - um teste de inteligência, um de leitura, um de interesses, um de maturidade emocional, e assim por diante - que são métodos de observação sistemática. A partir desses testes de informação biográfica, tenta fazer um diagnóstico do problema - isto é, tenta decidir o que é que,

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especificamente, está errado - e depois dá passos para remediar a situação. Os testes, o diagnóstico, e tratamento podem variar com cada indivíduo.

Os métodos clínicos são mais valiosos no tratamento de casos individuais. No entanto, às vezes também contribuem indiretamente para nosso conhecimento básico, quando um clínico, que trabalha com casos individuais, observa algum fator que parece ser muito importante. Por exemplo, ao observar seus pacientes, Sigmund Freud descobriu alguns recursos que as pessoas usam para tentar enfrentar a angústia. Suas observações, em si mesmas, não provaram muito, mas lhe deram “palpites” ou hipóteses que outros pesquisadores depois puseram à prova. É desta forma que as observações clínicas dão sua maior contribuição à ciência. Embora nosso conhecimento progredisse muito pouco se só contássemos com elas, sem elas nunca teríamos a idéia de realizar determinados experimentos. Portanto, apoiadas pelo método experimental, as observações clínicas dão grande ajuda à ciência.

5.2. MÉTODOS EXPERIMENTAISUtiliza duas ou mais variáveis para a efetivação de um experimento.Aqui vale ressaltar a importância do estabelecimento dos controle e assim, através

dos controles de fatores (e da definição do que controlar), procura-se definir o que altera os efeitos da variável que esteja em questão.

Considera-se por fim, e de forma indissociável, a presença do experimentador dentro do processo de execução da experiência, posto que o nível e a tendência de sua interferência podem ou não deformar os resultados.

Como já se indicou, o método experimental permitiu que a ciência desse alguns passos de gigante. A essência do método é simples: o experimentador 1) muda ou varia alguma coisa, 2) conserva as outras condições tão constantes quanto for possível, e 3) procura os efeitos das mudanças ou variações naquilo que está procurando estudar. Examinemos mais minuciosamente tais aspectos.

VARIÁVEIS. O ponto crucial de um experimento é o uso de duas ou mais variáveis. Uma variável, como o diz o nome, é algo que varia. ldealmente, é algo que pode ser quantitativamente medido - isto é, podemos conseguir notas precisas para realização em cada variável. O gráfico da Figura 1.2, por exemplo, mostra duas variáveis. Uma é o número médio de erros feitos por um sujeito com venda nos olhos e que aprendia um labirinto de dedo. A outra variável é o número de tentativas. O leitor pode ver que o sujeito fazia um número cada vez menor de erros à medida que aumentava o número de tentativas - o que forma uma curva típica de aprendizagem.

Em outro tipo de experimento, o comportamento dos sujeitos foi examinado antes e depois de terem fumado maconha (Weil et ai., 1968). Foram empregados dois grupos de sujeitos: os fumantes ingênuos’ ou inexperientes e os fumantes experimentados. Os experimentadores compararam a diferença entre os sujeitos quanto ao seu comportamento antes” e “depois” de várias tarefas.

Uma das tarefas era um teste de substituição de dígito - símbolo, um processo simples de emparelhamento de números e símbolos, corno se vê na Figura 1.3. A Tabela 1.3 mostra as mudanças médias na realização dos vários grupos nesse teste 15 e 90 minutos depois de fumar maconha. Como se pode ver pela tabela, os sujeitos num terceiro grupo (chamado grupo de controle) não receberam maconha; fumavam cigarros que não tinham maconha. Esses sujeitos que não receberam maconha conseguiram resultados um pouco melhores no teste, depois de fumar, do que antes, provavelmente porque estavam melhorando com a prática.

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Tabela 1.3

Realização em um teste de substituição símbolo-dígito, depois de fumar maconha.

Sujeitos ingênuos, Fumantes crônicos,depois de fumar depois de fumar

Dose 15 min - 90 min 15 min - 90 minSem - droga +0.9 +04 -Dose pequena -1.2 -2,5 -Dose grande -5,1 - 39 + 025 + 2.8

Nota dos resultados são de aumento ou redução (médias com relação ao período anterior aos resultados do teste de maconha no problema digito – símbolo.Fonte Baseada em Weil et ai , 1968

A tabela mostra que os sujeitos ingênuos”, ao contrário, tiveram resultados um pouco piores depois de uma pequena dose de maconha, e muito pior depois de uma dose maior. Ao contrário deles, os fumantes crônicos (que não receberam uma dose pequena) tiveram resultados um pouco melhores depois de fumar do que antes.

Neste experimento, havia três variáveis. Uma, era a mensuração da realização no teste de dígito-símbolo, uma variável relativamente exata. A segunda era uma variável de drogas. que era relativamente grosseira, formada por três condições: sem drogas, dose pequena e dose grande terceira variável era também grosseira. era uma simples divisão de sujeitos em fumantes crônicos o fumantes “ingênuos’.

As variáveis podem ser colocadas em duas categorias: dependentes e independentes Um experimento precisa ter, pelo menos uma variável dependente e uma variável independente Uma variável independente é uma variável que o experimentador escolhe e manipula - por exemplo. um.~ droga (neste caso, maconha) que dá aos sujeitos. Uma variável dependente é o comportamento cl:

sujeito ou a descrição de suas reações - no experimento sobre maconha. seus resultados no testa de dígito-símbolo Um experimentador sempre escolhe as variáveis dependentes em que estão interessado, mas não estabelece seus valores (por exemplo, não estabelece os resultados no teste) E por isso que a mensuração do que o sujeito faz é denominada a variável dependente.

Um experimento pode empregar, e freqüentemente o faz, mais de uma variável independente e mais de uma variável dependente No experimento sobre maconha, uma segunda variável independente era a experiência do sujeito: o fato de ser ingênuo ou fumante crônico Nesse experimento, além disso, foram usados outros testes para medir a realização, além do teste de dígito-símbolo. Essas eram outras variáveis dependentes. Os pesquisadores freqüentemente empregam diversas variáveis a fim de conseguir a maior compreensão possível dos papéis desempenhados diferentes variáveis.

Quando colocamos os resultados de um experimento num gráfico, devemos’ seguir uma regra o eixo horizontal (a abcissa) apresenta a variável independente, enquanto que o eixo vertical (a ordenada) representa a variável dependente. Controles Portanto. um experimento só e um experimento, se tiver menos uma independente e uma variável dependente No entanto, não e um bom experimento se não tiver mas alguma coisa os controles. Na realidade o principal aspecto de um experimento em vez de um estudo descritivo, é controlar fatores que de outra forma fariam com que fosse difícil de dizer o que é que está ocorrendo. Para que possamos tirar conclusões válidas do experimento, não apenas

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podemos controlar tais fatores, mas devemos fazê-lo Ao decidir quanto ao que controlar, tentar qualquer coisa que posarmos desconfiar que altere os efeitos de nossa variável de um modo geral. três tipos de variáveis precisam ser controlados condições, grupos e efeitos do experimentador.

Para controlar as condições fazemos com que as circunstâncias de um experimento sejam iguais para todos os sujeitos considerem-se corno exemplo o experimento da maconha pesquisadores desejam medir es efeitos de uma droga sobre uma tarefa. Para controlar as condições perguntaram a si mesmos que fatores além da droga, poderiam influir na realização de uma pessoa. numa tarefa Evidentemente, logo nos ocorre uma grande lista, se uma pessoa está cansada ou descansada, se já teve experiência com a tarefa de quanto tempo dispõe para realiza-la. Se distraída por ruído ou se está num ambiente silencioso, e assim por diante. Para controlar tais condições, os experimentadores procuram ter a certeza de que as condições são iguais para todos os grupos de sujeitos.

Outro conjunto de variáveis que deve ser controlado é o conjunto dos grupos. A idade, por exemplo, é um fator que influi nos efeitos de droga. Tamanho e o peso de um sujeito também determinam a eficiência de uma droga, a inteligência influi muito na realização de uma tarefa de substituição digito – símbolo na realidade, um teste desse tipo é parte de um dos principais testes de inteligência. E assim por diante. Para controlar tais fatores, os experimentadores podem ter igualado cuidadosamente seus grupos quanto a todos os aspectos - idade, tamanho, peso, inteligência - que poderiam influir na realização na variável dependente, isto é, a amplitude da memória. Outra forma de controlar as diferenças nos grupos é usar o mesmo grupo para as duas condições. E foi isto que os experimentadores fizeram nesse caso, ao dar a cada grupo o teste de dígito-símbolo antes e depois de fumarem maconha.

Outro fator geral que precisa ser controlado refere-se à própria situação experimental. A atitude dos sujeitos com relação ao experimento pode influir nos resultados nele obtidos. Num famoso estudo, realizado na fábrica Hawthorne da Western Eletric, a companhia tentou avaliar os efeitos de diferentes condições de trabalho, principalmente a iluminação, sobre a produtividade de operárias (Roethlisberger e Dickson, 1939). inicialmente, parecia que a melhor iluminação aumentava a produtividade; no entanto, quando se piorou a iluminação, a produtividade continuava a aumentar. Algo mais devia estar interferindo, e foi verificado que o moral das operárias melhorara quando compreenderam que a companhia “se importava com elas”. Seu moral mais alto tinha, portanto, aumentado sua produção.

Outro aspecto da situação experimental é o próprio experimentador. A sua maneira de agir, a maneira pela qual é percebido pelo sujeito, bem como aquilo que espera que aconteça no experimento são fatores que podem deformar os resultados. Se um desses fatores influi, é denominado efeito do experimentador (Rosenthal, 1964). Se um experimentador sabe, por exemplo, que está examinando um sujeito drogado, e se espera medir os efeitos positivos da droga, pode influir nos resultados que consegue. Um experimentador honesto procurará fazer com que isso não ocorra e a honestidade na experimentação é uma necessidade na ciência -, mas pode, não intencionalmente, dar indicações ao sujeito. A expressão de sua face ou o tom de sua voz podem revelar sua decepção ou sua satisfação com a maneira pela qual o sujeito está realizando o experimento. Muitos sujeitos, que desejam agradar o experimentador, ou que se sentem premiados ou punidos pelas ações do experimentador, apresentarão uma realização de acordo com isso. Para controlar essas indicações do experimentador, geralmente fazemos com que outra pessoa, não o experimentador, distribua os sujeitos pelos grupos. Desta forma, o experimentador não sabe qual o grupo do sujeito - por exemplo, não sabe se o sujeito recebeu a droga ou não. Esses é o chamado processo cego. Se nem o sujeito nem o experimentador sabem em que grupo está o sujeito, o processo é denominado duplamente cego.

Planejamento experimental. Aqui já deve estar claro que realizar um experimento psicológico não é uma tarefa fácil. Deve ser planejado com grande cuidado para controlar os

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vários fatores que acabam de ser mencionados. Deve ser também planejado de tal forma que os resultados ou número obtidos no experimento possam ser estatisticamente analisados. Este tipo de planejamento é denominado Planejamento experimental. Em si mesmo, já é um assunto tão amplo e tão complexo que os estudantes de pós-graduação de psicologia a ele dedicam um curso completo.

5.3. MÉTODOS ESTATÍSTICOSAo tocarmos no assunto: Estatística, qualquer pessoa logicamente, associa o termo

e seu sentido a números. Tal fato é correto; no entanto, ao tratar-se sobre tudo do campo psicológico, precisamos compreender que tais números deverão ser analisados a luz de seu significado correspondente, ocorrendo assim o experimento, dentro de um prisma verdadeiramente científico. Morgan (Clifford T.), de forma didática, assim explicitou cada um dos 3 principais métodos da Psicologia:

Método da Observação Natural: que se torna tão sistemático quanto possível através do desenvolvimento de testes psicológicos.

Método experimental: permite o controle de variáveis dependentes e independentes.

Método Estatísticos: verifica a tendência central e a variabilidade de notas ou resultados de testes.”

A maior parte dos resultados que obtemos em pesquisa psicológica, qualquer que seja o método usado, aparece sob a forma de números. No entanto, o fato de apenas obter números não permite que se faça ciência. Precisamos saber o que é que tais números significam e como tirar conclusões válidas a partir deles. Para isso os psicólogos, freqüentemente, em trabalho conjunto com estatísticos, criaram certo número de métodos estatísticos. Tais métodos se classificam em duas categorias gerais: significação de diferenças e correlação. Significação de diferenças. No experimento sobre maconha, vimos que havia alguma diferenças entre cada um dos grupos e condições. Como se vê na Tabela 1.3, os fumantes crônicos de maconha diferiam, em sua realização, no teste de dígito-símbolo, dos sujeitos “ingênuos”. Havia também diferenças entre as condições de ausência de droga, pouca e muita droga. As diferenças perecem ter algum sentido e, assim, parecem críveis. No entanto, o fato de sentirmos diferenças não significa, necessariamente, que realmente existam diferenças. Para verificar se há ou não diferenças, precisamos fazer um teste sobre a significação das diferenças. A necessidade desse tipo de teste decorre do fato de haver diferenças nos resultados - o que se denomina erro de amostragem. Nossos testes nunca são completamente precisos; por isso, os resultados obtidos por uma mesma pessoa, no mesmo teste, podem variar de um momento para outro. Nossos controles nunca são perfeitos, de forma que dois grupos igualados nunca são tão igualados que se possa esperar que dêem exatamente os mesmos resultados. O resultado líquido disso é que podemos esperar variações casuais nos resultados e, portanto, diferenças casuais no resultados médios dos grupos empregados nos experimentos.

No entanto, em qualquer experimento considerado, o estatístico pode calcular a quantidade de diferenças entre grupos que se pode esperar pelo acaso. Em primeiro lugar, calcula a variabilidade dos resultados nos diferentes grupos e, depois, verifica a probabilidade de que as diferenças observadas tenham sido devidas ao acaso. Seu resultado é apresentado como uma probabilidade (p) de que a diferença observada seja uma diferença casual. Para uma comparação específica entre grupos, poderia calcular uma probabilidade (por exemplo, p=0,01) de que a diferença seja apenas casual. Isto significa que existe uma probabilidade em 100 de que a diferença seja casual. Esses são riscos muito bons, de forma que o experimentador conclui que a diferença é significativa. Na prática, valores de p de apenas 0,05 (isto é, 5 em cada 100) são usualmente aceitos como significativos. As diferenças com riscos acima disso são consideradas não significativas. Correlação: Outra medida específica freqüentemente calculada a partir de dados experimentais é um coeficiente de correlação. Para

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isso, precisamos ter dois conjuntos de resultados dos mesmos sujeitos (animais ou pessoas). Como se supões no termo correlação, refere-se a uma correlação entre dois conjuntos de resultados. Será que o Joãozinho, que tem um 0.1. elevado também obtém resultados elevados na capacidade para leitura? Será que o Zezinho, que não tem um 0.1. elevado, obtém resultado inferior, em capacidade para leitura? Se isso ocorrer, existe correlação (que efetivamente existe) entre 0.1. e capacidade para leitura. Para chegar a uma correlação, seguimos um processo estatístico que faz este tipo de comparação entre cada par de resultados. Vemos qual a posição de um resultado no seu conjunto de resultados, diante de seu par no outro conjunto. Se esta correlação for perfeita - isto é, se a posição num resultado é exatamente a mesma que em seu par, e se isso ocorre em todos os pares de resultados no dois conjuntos - a correlação é 1. Essa é a correlação mais alta que podemos obter. (Observe que uma correlação de -1 é também uma correlação perfeita, mas negativa. Numa correlação negativa, um resultado elevado num conjunto é acompanhado por um resultado baixo no outro conjunto, e vice-versa.)

Se, ao contrário, não existe correlação, diz-se que a correlação é zero. Neste caso, a posição de um resultado num conjunto de resultados nada nos diz a respeito da posição do outro membro do par. Pode estar em qualquer ponto do conjunto. Os diferentes graus de correlação se exprimem por números entre O e 1 (ver Figura 1.4). Por isso, uma correlação de 0,8 ou 0,9 é elevada, uma de 0,4 é relativa e uma correlação de 0,2 ou 0,3 é baixa. No entanto, exatamente o que se considera alto, relativo ou baixo do que estamos acostumados a encontrar em determinado tipo de experimentos.

As correlações, como diferenças em médias, podem ocorrer por acaso, pois variações casuais em resultados podem dar correlações casuais. No entanto, os estatísticos têm recursos para calcular o tamanho que uma correlação deve ter por acaso, num determinado conjunto de dados. A partir disso, podem calcular a significação da correlação (um valor p), mais ou menos da mesma forma que podem dizer qual a significação de uma diferença em médias.

Se uma correlação não é significativa, não importa que seja muito grande. Na realidade, se o número de resultados com que estamos trabalhando é pequeno, podemos ter uma correlação relativamente elevada, por exemplo, de 0,50, e que decorra de acaso. Por isso, não é significativa. E se o valor p é de apenas 0,05, temos alguma certeza de que a correlação é “real”, mas não sabemos qual o seu tamanho. Quando o nível de significação fica abaixo de 0,01, não apenas nossa certeza aumenta, mas podemos começar a dizer que uma correlação elevada significa que as duas variáveis estão muito relacionadas.

Precisão e Validade. Na psicologia, as correlações são ainda usadas de uma outra forma importante: para avaliar a utilidade de nossos instrumentos de mensuração. Essa avaliação exige, em primeiro lugar, que se verifique a precisão e, depois, a validade do instrumento. Usualmente o instrumento de que estamos falando é um teste, mas pode ser qualquer tipo de mensuração feito por psicólogos.

A precisão se refere, fundamentalmente, a “repetibilidade”. Deixando de lado o erro de amostragem, se aplicamos o mesmo teste duas vezes (ou duas formas dele), para o mesmo conjunto de individuos, será que vamos obter os mesmos resultados? Para conseguir uma resposta a essa pergunta, na realidade não aplicamos o teste duas vezes. Precisamos apenas dividir o teste em duas partes, conseguir um resultado para cada parte, e fazer uma correlação entre os dois conjuntos de resultados. O coeficiente de correlação que obtemos é conhecido como precisão de metades. Se a correlação é elevada, dizemos que o teste tem elevada precisão. Vale dizer, mede bem exatamente o que quer que esteja medindo. Por exemplo, em teste de inteligência, conseguimos precisão de aproximadamente 0,90, o que significa que, como testes psicológicos, são bem exatos.

A validade refere-se ao que o teste supostamente mede. Verificamos a validade ao correlacionar um teste com algum critério que representa o que desejaríamos que medisse. Por

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exemplo, o Teste de Aptidão Escolar mede, supostamente, a aptidão para estudo de nível superior. Por isso, para conseguir a validade desse teste, nós o correlacionamos com aproveitamento relativo dos estudantes na universidade. Aqui, o importante é que os testes não são necessariamente válidos apenas porque pensamos que o sejam, ou pensamos que deveriam ser. Precisamos provar a validade. E fazemos isso ao estabelecer um critério ou padrão com o qual correlacionamos o teste. Apenas quando se verifica que essa correlação é significativa e razoavelmente elevada dizemos que é válido.

5.3.1. A PSICOLOGIA COMO DISCIPLINA SEPARADAConsidera-se a data de 1879 - quando da fundação do primeiro laboratório de

Psicologia, como aquela de início da moderna Psicologia experimental.Idealizado e desenvolvido por Wilhelm Wundt, representou um verdadeiro marco na

História da Psicologia. O salto na moderna abordagem psicológica, ocorreu quando passou-se da observação da pessoa humana normal em geral para a observação do homem enquanto indivíduo único - incluindo aqui, tanto o homem normal como o anormal.

Chegamos ao século XX, com a clareza de que, praticamente todos os aspectos de nossa vida encontram-se influenciados pela Psicologia. A moderna Psicologia experimental data da fundação do primeiro laboratório psicológico, obra de Wilhelm Wundt, e, 1879, em Lípsia, na Alemanha. Wundt foi o primeiro homem que, sem reserva pode ser adequadamente chamado de psicólogo (Borind,1950). A psicologia de Wandt era quase inteiramente dedicada aos problemas da sensação e da percepção humana. Entretanto, antes do fim do século XIX, o domínio da Psicologia se expandira e passara a incluir os “processos mentais mais elevados” da memória e da aprendizagem. As contribuições de Sigmund Freud para a Psicologia, iniciadas no mesmo século e prolongadas em pleno século XX, focalizaram dramaticamente a atenção sobre os problemas da motivação - sobretudo a motivação inconsciente. Apresentados em meados do século XIX, os conceitos evolucíonistas de Charle Darwin dirigiram o - interesse da Psicologia para as funções da atividade mental e para a possibilidade de extrapolação do estudo de uma espécie para o estudo de outra. Como disciplina independente, tal e qual a formulou Wundt, a Psicologia se ocupa da pessoa humana em geral, normal e adulta. A partir da época de Wundt, os psicólogos passaram a interessar-se tanto pelo homem em geral quanto pelo indivíduo único; tanto pelo normal quanto pelo a normal por indivíduos de todas as idades, desde a concepção até a morte.

Os psicólogos também vieram a interessar-se pelo comportamento dos animais inferiores. Visto que inúmeros processos estudados por eles, como a aprendizagem, a motivação e a percepção, também podem ser observados nos animais inferiores, muitas vezes é preferível usar esses animais a usar o homem. A natureza básica de tais mecanismos, freqüentemente, é mais clara quando vista em suas formas mais simples. Se bem, a princípio, se encontrasse estreitamente na compreensão científica e acadêmica do homem, o interesse, com o tempo, se expandiu e passou a incluir problemas práticos de vida pessoal e social. Hoje em dia, as técnicas psicológicas se aplicam a problemas práticos, jurídicos, educativos médicos, políticos e industriais. Dificilmente se encontrará um aspecto da vida que não tenha experimentado o impacto da Psicologia do século XX.

6. A PSICOLOGIA E AS DEMAIS CIÊNCIASAs ciências, dividem-se em dois grupos: ciências naturais e ciências sociais.Quando tratamos de nos referir a ciência da Psicologia, estamos na verdade, nos

referindo a aspectos de ambos os grupamentos. Ao abordarmos a temática - ciências que estudam o comportamento, devemos considerar a complexidade e a dificuldade de definirmos seus respectivos limites.

A diversificação que encontramos nas ciências comportamentais (ex.: antropologia; história e sociologia), atinge evidentemente a Psicologia que neste quadro, sobressai como uma das mais diversificadas. Clifford T. Morgan, nos situa dentro deste contexto, ao enfatizar

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que a Psicologia “é um território de encontro das ciências naturais, como a física e a biologia, bem como das ciências sociais, como a sociologia, a economia e a ciência política”.

6.1. CIÊNCIAS DO COMPORTAMENTOComo é que a psicologia, esta ciência do comportamento humano e animal, se liga a

outras ciências do currículo? Geralmente, as ciências são divididas em dois grupos: ciências naturais e ciências sociais. A psicologia não se ajusta exatamente a nenhuma delas. Muitos aspectos da psicologia se ligam a comportamento social e, por isso, pertencem às ciências sociais; no entanto, grande parte do trabalho experimental feito por psicólogos com animais é essencialmente biológico e, portanto, uma parte da ciência natural. Outra forma de agrupar as ciências e que se tomou muito aceita nos últimos anos consiste em distinguir as ciências naturais das ciências do comportamento. Na segunda categoria estão todos os campos que lidam com comportamento humano e animal. Cada ciência do comportamento faz isso de modo um pouco diferente. Sociologia e antropologia estão interessadas no comportamento de grupos organizados de pessoas. Geralmente os sociólogos estudam culturas contemporâneas e que usam a escrita, enquanto os antropólogos culturais estudam mais as culturas primitivas. A história pode ser classificada como uma ciência do comportamento porque reconstrói o comportamento das pessoas que fazem a história. A economia e a ciência política são também incluídas como ciências do comportamento porque lidam com o comportamento econômico e político do homem.

Portanto, as ciências do comportamento incluem o que muitas vezes denominamos ciências sociais. Mas também invadem as ciências naturais. Por exemplo, os zoólogos de há muito se interessam pelo comportamento, bem como pela estrutura dos animais. Na realidade, a etologia - um ramo especializado da zoologia - se interessa exclusivamente pelas formas de comportamento que caracterizam diferentes espécies de animais. Muitos fisiologistas e físicos também participam do estudo do comportamento. Parte dos mais notáveis trabalhos de visão e audição, por exemplo, tem sido feita por físicos. De forma semelhante, os fisiologistas muitas vezes estudam os sentidos ou o cérebro, e o fazem de modo muito semelhante ao empregado pelos psicólogos. Portanto, é difícil estabelecer limites claros entre as ciências que estudam o comportamento. Cada uma das ciências contemporâneas do comportamento é bem diversificada, superpondo-se a uma ou a várias outras. Mas a psicologia é uma das mais diversificadas: é um território de encontro das ciências naturais, como a física e a biologia, bem como das ciências sociais, como a sociologia, a economia e a ciência política.

6.2. AS RELAÇÕES DA PSICOLOGIA COM AS OUTRAS CIÊNCIASOs biofisicistas, bioquímicos, citologistas, anatomistas, geneticistas, fisiologistas,

psicólogos, sociólogos, cientistas políticos, economistas e historiadores – todos estudam os seres humanos. Os físicos e químicos analisam os componentes eletrônicos, atômicos e moleculares das células do corpo. Os citologistas se ocupam de uma unidade pouco maior e pesquisam a estrutura das células individuais, que constituem o tecido do corpo; os histologistas, por sua vez, se interessam pelos agregados de células que formam os tecidos do corpo; os anatomistas investigam as estruturas volumosas do corpo humano. Todas essas pessoas estudam as mesmas estruturas, mas fazem-no de vários pontos de observação. O foco de seu interesse vai desde o elemento subatômico, passando pelo atômico, pelo molecular, pelo celular (visto através de grande ampliação microscópica), e pelo tecido (visto através de pequena ampliação microscópica), até o elemento mais volumoso (visível a olho nu). A unidade básica em Psicologia é o ser humano, ou organismo, que funciona como sistema integrado; a Ciência Social trata de grupos ou agregados de pessoas.

6.3 A PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA BIOSSOCIALTradicionalmente, as várias’ ciências têm sido consideradas como disciplinas

separadas e distintas. Cada qual era definida e delimitada para destacar as suas

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PSICANÁLISE

características distintivas. Entretanto, os campos se expandiram e encontraram a sobrepor-se a certas áreas dos campos adjacentes. Desenvolveram-se os campos de transição ou interdisciplinares. Temos hoje a Biofísica e a Bioquímica, transpondo o hiato outrora existente entre as ciências físicas e biológicas. De maneira um tanto semelhante, a Psicologia também é uma ponte entre a Biologia e as Ciências Sociais e pode ser considerada como ciência biossocial. Ao nascer, o homem é um organismo biológico mas, com o tempo, toma-se também um ser social. Em certos contextos, a Psicologia encara a pessoa como organismo biológico. Os campos especiais da Psicologia fisiológica e da Psicologia comparativa investigam o homem e os organismos inferiores utilizando inúmeras técnicas das ciências biológicas. O psicólogo serve-se muito, das disciplinas técnicas tradicionais e até das disciplinas híbridas da Biofísica e da Bioquímica, à cata de informações que possam ajudá-lo a compreender as atividades do ser humano total.

Visto que o homem cresce num meio social, para ele é tão impossível escapar aos efeitos da sociedade quanto seria, para o peixe, escapar aos efeitos do meio aquático em que nasceu. Por conseguinte, os psicólogos - psicólogos sociais - estudam as influências sociais que se fazem sentir no indivíduo. Empregam técnica de Ciência Social para analisar os efeitos, sobre uma pessoa, de forças sociais como família, a igreja, o Estado e os iguais. Como cientista biossocial, o psicólogo reúne informações das ciências biológicas e sociais assim como as de suas próprias investigações, no esforço por chegar à compreensão do comportamento total do homem.

6.4- A NATUREZA INTERDISCIPLINAR DA PSICOLOGIA MODERNAComo a maior parte dos outros campos de estudos, a Psicologia não se preocupa com

a extensão em que uma investigação permanece dentro dos limites formalmente definidos da disciplina. Quase todos os campos da Psicologia se sobrepõem a outros campos de estudos, servem-se deles e, por seu turno, contribuem para eles. A Psicologia fisiológica não só se serve da Fisiologia, da Endocrinologia, da Bioquímica, da Biofísica e da Biologia Geral, mas também contribui para o desenvolvimento dessas disciplinas. A Psicologia educacional se sobrepõe à Educação, à Sociologia e a outras áreas acadêmicas de menor amplitude. Em suas regiões limítrofes, a Psicologia social se confunde com a Sociologia, a Antropologia, a Ciência Política e a Economia. A psicologia industrial abrange o estudo do comércio e da indústria e colide com a Economia e a Sociologia. Novas áreas de interesse mútuo para diversas disciplinas surgem quase todos os anos, e assomam no horizonte acadêmico combinações de campos outrora separados. Um desses campos, de considerável interesse atual, é a Psicolingüística. Psicólogos, lingüistas, sociólogos, antropólogos, educadores e filósofos estão todos trabalhando cooperativamente nessa área, registrando-se entre as diversas matérias extraordinária fertilização recíproca.

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