9
* O projeto desenvolvido para a empresa Olivetti sob a direção de Tomás Maldonado data de 1960-1961, quando o termo ‹interface› no sentido de ‹interface para usuário humano› ainda não existia. Hoje, após a consolidação desse novo campo de ação para os designers, o projeto de Maldonado pode ser considerado um precursor ou um dos primeiros exemplos do interface design. Dadas as características tecnológicas do computador, trata-se de uma interface para usuários altamente especializados, distante das soluções atuais para computadores pessoais, notepads e smartphones. Um sistema de símbolos para um computador de grande porte* Computador ELEA 9003 (Olivetti). Projeto: Ettore Sottsass. (Fonte: Associazione Archivio Storico Olivetti, Ivrea - Italy).

08716

Embed Size (px)

DESCRIPTION

bla

Citation preview

  • * O projeto desenvolvido para a empresa Olivetti sob a direo de Toms Maldonado data de 1960-1961, quando o termo interface no sentido de interface para usurio humano ainda no existia. Hoje, aps a consolidao desse novo campo de ao para os designers, o projeto de Maldonado pode ser considerado um precursor ou um dos primeiros exemplos do interface design. Dadas as caractersticas tecnolgicas do computador, trata-se de uma interface para usurios altamente especializados, distante das solues atuais para computadores pessoais, notepads e smartphones.

    Um sistema de smbolos para um computador de grande porte*

    Computador ELEA 9003 (Olivetti). Projeto: Ettore Sottsass. (Fonte: Associazione Archivio Storico Olivetti, Ivrea - Italy).

    Do material ao digital_PRINT_CS6_corrigido.indd 11 10/11/2014 15:04:50

  • 12

    O projeto aqui apresentado serve para ilustrar os enormes avanos do desen-volvimento dos meios de computao nas ltimas cinco dcadas. Ao mesmo tempo, tambm mostra a relevncia dos fatores de uso, ou do design de interfaces, que surgiram como temtica nova quando no especialistas em cincias exatas comearam a aprender a usar esses artefatos cognitivos. Dificilmente aquelas mquinas do perodo do processamento de dados de grande porte, nos anos 1960, seriam consideradas user-friendly. O projeto descrito contm, in nuce, um caso precursor do design de interfaces, hoje tecnologicamente superado, ainda que a temtica no tenha perdido vigncia.

    No comeo dos anos 1960, no existiam ainda os termos interface e interface design, que adquiriram seu significado atual a partir da introduo dos computado-res pessoais (personal computers) duas dcadas mais tarde, nos anos 1980. Naquele tempo, os computadores de grande porte (mainframe computers) eram desenvolvidos com o objetivo de processar uma enorme quantidade de dados para fins diversos: militares, financeiros (bancos) e administrativos (grandes empresas). Seus usurios eram especialistas, tais como matemticos, fsicos e engenheiros, com o know-how necessrio para lidar com um sistema de mquinas composto por perfuradores de fita (mquinas telex), fitas e tambores magnticos, armrios com componentes eltricos e eletrnicos, tudo isso conectado por uma complexa fiao de cabos.

    Esse sistema de mquinas era controlado por meio de um painel vertical com numerosos componentes luminosos (lmpadas) e um teclado inclinado sobre uma mesa de escritrio. No existiam nesse momento o mouse e, menos ainda, interfaces grficas. Conhecimentos de matemtica e programao eram requisi-

    Modelo do conjunto. Projeto: Ettore Sottsass. (Fonte: Associazione Archivio Storico Olivetti, Ivrea - Italy).

    Do material ao digital_PRINT_CS6_corrigido.indd 12 10/11/2014 15:04:50

  • 13

    tos bsicos para se poder operar essas mquinas complexas. O usurio, em geral um cientista com formao em cincias exatas, era informado por meio dos dispositivos visuais sobre o funcionamento processos, na maior parte auto-mticos do computador. Ele intervinha nesses processos inserindo comandos com o teclado a fim de controlar e corrigir processos/operaes. Alm do painel de controle, as diferentes unidades do sistema, tais como perfuradores de fita e tambores magnticos, eram equipadas com pequenos painis com lmpadas e teclas. Em todos os sistemas de processamento de dados disponveis no comeo dos anos 1960, uma mirade de lmpadas e teclas era rotulada com palavras e/ou abreviaes. Com relao aprendizagem e ao reconhecimento inequvoco, eliminando possveis interpretaes erradas, esse mtodo de simbolizao tem certas desvantagens, alm de no ser muito apropriado para o uso internacional.

    Partindo de uma sugesto de Ettore Sottsass, designer industrial do ELEA 9003, computador de grande porte da empresa Olivetti, foi considerado o redesign dos displays e painis de controle para essa mquina. A proposta inovadora de Sottsass para o sistema fsico consistia em transferir a fiao a canais acima das unidades, entre os diferentes componentes, em vez de coloc-la no cho. Com isso, ele conseguiu maior flexibilidade no arranjo dos componentes.

    O trabalho abarcou, por um lado, o desenvolvimento de um sistema de smbolos no fonogramticos; e, por outro lado, um sistema modular com lmpadas, teclas e uma estrutura fsica para o suporte desses componentes eltricos.

    Um sistema de smbolos para um computador de grande porte

    Painel de controle. (Fonte: Associazione Archivio Storico Olivetti, Ivrea - Italy).

    Do material ao digital_PRINT_CS6_corrigido.indd 13 10/11/2014 15:04:51

  • 14

    01 Unidade funcional02 Unidade central03 Unidade perifrica04 Memria05 Micromemria06 Contador07 Flip-Flop08 Comparador09 Dodo leitura-escrita10 Transformador11 Fita magntica12 Acumulador / Dispositivo para

    armazenagem de impulsos

    13 Multiplicador14 Dispositivo auxiliar de

    armazenagem de impulsos15 Unidade aritmtica16 Tambor magntico17 Unidade perfuradora de fita18 Unidade leitora de fita

    perfurada19 Programa20 Canal interno21 Canal externo22 Retorno23 Atrs

    24 Atrs25 Adiante / Passo livre 26 Overflow / Transbordamento27 Operao / Ativo28 Escrever / Gravar29 Ler30 Receber31 Buscar32 Encontrar33 Erro34 Negao / No35 Ligar36 Desligar

    37 Isolado / Absoluto38 Fim / Terminado39 Ocupado40 Salto

    01

    02

    03

    04

    05

    06

    07

    08

    09

    10

    11

    12

    13

    14

    15

    16

    17

    18

    19

    20

    21

    22

    23

    24

    25

    26

    27

    28

    29

    30

    31

    32

    33

    34

    35

    36

    37

    38

    39

    40

    Sistema de smbolos para computadora main frame ELEA 9003 (Olivetti) [1960-1961]. Projeto: Toms Maldonado com a colaborao de Gui Bonsiepe.

    Do material ao digital_PRINT_CS6_corrigido.indd 14 10/11/2014 15:04:51

  • 15

    01 Input02 Output 03 Par04 mpar / Signo / Bit 05 Complementado06 Mais07 Menos08 Endereo09 Palavra / Comprimento10 Track / Trilha lgica11 Sncrono12 Comparao13 Linha por linha

    14 Contnuo15 Bloco16 Sequncia17 Comeo de um bloco18 Condio externa19 Automtico20 Passo a passo21 Pronto22 Stop23 Manualmente / Teclado24 Selecionar25 Maior que26 Modificar

    27 Fase28 Unidade29 Unidade de dezena 1030 Unidade de centena 10031 Unidade de milhar 1.00032 Dezena de milhar 10.00033 Stop em caso de erro34 Stop em cada posio em

    caso de erro35 Stop em caso de erro

    causado por um salto36 Stop em caso de erro

    causado por um salto devido

    comparao37 Salto em caso de compara-

    o38 Comear operao / Caminho

    livre.39 Comear com leitura40 Comear com escrita

    (gravao)

    10

    11

    12

    13

    14

    15

    16

    17

    18

    19

    20

    21

    22

    23

    24

    25

    26

    27

    28

    29

    30

    31

    32

    33

    34

    35

    36

    37

    38

    39

    40

    01

    02

    03

    04

    05

    06

    07

    08

    09

    Do material ao digital_PRINT_CS6_corrigido.indd 15 10/11/2014 15:04:51

  • 16

    01 Contador para canal externo para trs

    02 Contador para canal interno regresssivo

    03 Contador para canal externo 04 Contador para canal interno05 Contador 1 da fita magntica06 Unidade funcional07 Unidade perifrica pronta08 Unidade central pronta09 Transformador pronto10 Perfuradora de fita ligada11 Gravar / Escrever perfuradora

    de fita12 Fase da perfuradora de fita

    13 Retorno da perfuradora de fita14 Perfuradora de fita pronta15 Perfuradora de fita isolada16 Dodo da perfuradora de fita

    ligada17 Perfuradora de fita lendo18 Stop da perfuradora de fita 19 Operao com endereos

    mpares20 Operao com endereos

    pares21 Canal externo opera com

    endereos mpares22 Canal externo opera com

    endereos pares

    23 Canal interno opera com endereos mpares

    24 Canal interno opera com endereos pares

    25 Endereos iguais26 Sincronismo na leitura 27 Sincronismo de memria

    (mu) 28 Gravar / Escrever uma

    comparao29 Comparao da memria X

    (qui)30 Smbolo se move da

    memria unidade

    aritmtica31 Conexo de duas fitas

    magnticas via unidade de endereamento

    32 Fim de uma operao33 Fim de uma operao

    aritmtica34 Fim do comparador35 Fim de uma fita magntica36 Fim da perfuradora de fita37 Fim do acumulador T38 Fim do multiplicador39 Fim da busca40 Fim da informao

    10

    11

    12

    13

    14

    15

    16

    17

    18

    19

    20

    21

    22

    23

    24

    25

    26

    27

    28

    29

    30

    31

    32

    33

    34

    35

    36

    37

    38

    39

    40

    01

    02

    03

    04

    05

    06

    07

    08

    09

    Do material ao digital_PRINT_CS6_corrigido.indd 16 10/11/2014 15:04:51

  • 17

    01 Fim da operao gravar na fita magntica

    02 Fim da operao ler a fita magntica

    03 Fim da operao gravar de um fragmento na fita magntica

    04 Comeo de uma sequncia05 Fim de uma sequncia06 Leitura do bit (teta)07 Leitura de um smbolo08 Seleo durante leitura09 Escrever na memria (mu)10 Acumulador operando

    11 Acumulador contm um smbolo

    12 Contedo do acumulador negativo

    13 Contedo do acumulador zero14 Overflow T15 O multiplicador contm um

    smbolo16 Bit a, b, c do multiplicador17 Registro H, J, M, N, O, P, Q, R, S

    para endereos18 Operao Stop19 Input manual (com teclado)

    20 Stop fita magntica21 Fita magntica ocupada22 Flip-flop (lambda mu) 23 O smbolo foi encontrado24 Fragmento por fragmento25 Dodo para escrever / ler

    ligado26 Tambor magntico ligado27 Programa 1, 2, 3 Stop28 Fase do segundo programa29 Fita magntica da memria

    (r) pronta30 Memria (mu qui) valor 1

    at 731 Input bit a, b, c, d, e, f, k na

    memria (mu)32 Output bit a, b, c, d, e, f, k da

    memria (mu)33 Canal interior, unidade, bit a,

    b, c, d, e, f.34 Canal exterior, unidade, bit a,

    b, c, d, e, f.35 Canal interior, output, bit a, b,

    c, d, e, f.36 Canal exterior, output, bit a, b,

    c, d, e, f

    10

    11

    12

    13

    14

    15

    16

    17

    18

    19

    20

    21

    22

    23

    24

    25

    26

    27

    28

    29

    30

    31

    32

    33

    34

    35

    36

    01

    02

    03

    04

    05

    06

    07

    08

    09

    Do material ao digital_PRINT_CS6_corrigido.indd 17 10/11/2014 15:04:52

  • 18

    01 Acumulador02 Condies vrias03 Fim04 Unidade leitora de fita perfurada / Unidade perfuradora de fita

    05 Funo06 Memria07 Comprimento memria08 Fita magntica09 Tambor magntico10 Temporizadores

    11 Unidade aritmtica 12 Unidade on-line13 Smbolos com significado geral14 Teclas gerais15 Erro (luz vermelha)

    Cores para diferenciar grupos funcionais nos paineis de controle.

    01

    02

    03

    04

    05

    06

    07

    08

    09

    10

    11

    12

    13

    14

    15

    MtodoPara excluir um crescimento artificial do novo sistema de smbolos, foram anali-sados aproximadamente vinte sistemas de smbolos existentes, provenientes de reas to diversas como cartografia, meteorologia, tipografia, circuitos eletrnicos, qumica e msica, colocando-os em um fichrio. Com isso, foram detectadas constantes semnticas derivadas de determinados referentes (no sentido semi-tico), ou objetos aos quais um signo se refere, pois, um referente entendido como a totalidade do que indicado por um signo pode aparecer em mais de um sistema de smbolos.

    Estrutura do sistema de smbolosInicialmente estabeleceu-se um inventrio ou alfabeto de elementos, cuja com-binao permitiu a apresentao dos diversos referentes. O alfabeto composto de duas classes de smbolos: os smbolos-base, comparveis aos substantivos na linguagem, e os smbolos determinativos (qualificativos), comparveis aos ad-jetivos e verbos. Os referentes dos smbolos-base so as unidades funcionais do computador, por exemplo, fita magntica, perfurador de fita e tambor magntico (disco rgido). Os referentes dos smbolos determinativos so predominantemente estados e funes do sistema, tais como Pronto, Comparar e Em processo. O

    Do material ao digital_PRINT_CS6_corrigido.indd 18 10/11/2014 15:04:52

  • 19

    quadrado foi a forma geomtrica escolhida para os smbolos-base que possuem um carter de plano, enquanto os determinativos tm carter linear. Existem relaes, tanto sintticas quanto semnticas, entre as duas classes. O smbolo para Escrever / Gravar composto pelo smbolo que indica Perfurador de fita. O smbolo para Ler o inverso do smbolo Escrever. Para no prejudicar a clareza do reconhecimento, sobre a superfcie quase circular, com 14 mm de dimetro, usam-se no mximo at trs smbolos de cada vez.

    Linguagem em trs nveisAs comunicaes entre o operador e a mquina processadora de dados se do mediante trs sistemas de smbolos ou linguagens:(1) no nvel da linguagem algortmica;(2) no nvel da linguagem de programao, a linguagem usada para descrever proble-mas especficos e mtodos para sua soluo em determinado sistema de computao;(3) no nvel da linguagem do operador, a linguagem usada para controlar e operar a mquina.Essas trs linguagens no so independentes entre si. O sistema de smbolos descrito aqui baseado na linguagem (3). Com essa finalidade, alguns smbolos estabelecidos e caracteres so transferidos da linguagem (2) para a linguagem (3). A influncia exercida pela linguagem do operador sobre as outras linguagens no pode ser determinada at que os matemticos tenham decidido o carter geral da linguagem multifuncional para mquinas eletrnicas de processamento de dados.

    Uma uniformizao, em nvel internacional, com a participao de todas as empresas produtoras de mquinas de processamento de dados, seria desejvel. Alm disso, seria recomendvel estabelecer conexes transversais com outros sistemas de smbolos, garantindo, assim, a criao de um sistema de smbolos internacional e uniforme para a comunicao tcnica.

    Um sistema de smbolos para um computador de grande porte

    Do material ao digital_PRINT_CS6_corrigido.indd 19 10/11/2014 15:04:52