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    AULA 02: POLTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

    OBJETIVOS DESTA AULA: Nesta aula, voc ir:

    1. Reconhecer os conceitos legais envolvidos no contexto ambiental;

    2. Analisar a importncia da Lei 6.938/81.

    1. INTRODUO

    A poltica ambiental o conjunto de metas e instrumentos que visa reduzir

    os impactos negativos da ao antrpica aquelas resultantes da ao

    humana sobre o meio ambiente. Como toda poltica, possui justificativa

    para sua existncia, fundamentao terica, metas e instrumentos, e prev

    penalidades para aqueles que no cumprem as normas estabelecidas.

    Interfere nas atividades dos agentes econmicos e, portanto, a maneira

    pela qual estabelecida, influencia as demais polticas pblicas, inclusive as

    polticas industrial e do comrcio exterior. Por outro lado, as polticas

    econmicas favorecem um tipo de composio da produo e do consumo

    que tm impactos importantes dobre o meio ambiente (May, Lustosa e

    Vinha, 2003).

    Com isso, como podemos utilizar as leis ambientais em prol do benefcio do

    meio e no exclusivamente dos homens? Ser que conseguiremos isso um

    dia?

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    O poder pblico no Brasil comea a se preocupar com o meio ambiente

    na dcada de 1930. No que antes no houvesse nada a respeito, mas as

    poucas iniciativas que existiam at ento, alm de pouco significativas em

    termos prticos, se alcanavam algum efeito sobre o meio ambiente era

    pela via indireta, quase sempre subalterna a outros interesses. Por

    exemplo, as ordenaes portuguesas que proibiam o corte do pau-brasil

    no podem ser vistas como leis ambientais, pois seu objetivo era assegurar

    o monoplio das madeiras de tinturaria estabelecido pela Coroa Portuguesa

    em 1502, propsito que perdurou at depois da Independncia do Brasil,

    como mostra Simonsen (1969). Essas ordenaes diferiram em muito das

    medidas criadas na Europa nos sculos XVII para proteger os

    remanescentes de florestas nativas e promover o plantio, e que Castro

    (1998) considera o incio dos processos de gesto ambiental.

    Ainda conforme Castro (1998), a criao dos jardins botnicos a partir

    do sculo XVI decorre de uma preocupao dos bilogos viajantes com a

    pura proteo das espcies aclimatadas. O que ocorreu por aqui, no foi

    muito diferente; o objetivo inicial de D. Joo VI foi utilizar o Jardim Botnico

    para o cultivo de especiarias das ndias Orientais e da sia, para suprir o

    mercado portugus, segundo Acot (1990 apud Barbieri, 2010).

    At o incio do sculo XX, o campo poltico e institucional brasileiro no

    se sensibilizava com os problemas ambientais, embora no faltassem

    problemas e nem vozes que os apontassem. A abundncia de terras frteis

    e de outros recursos naturais, enaltecida desde a Carta de Caminha ao rei

    de Portugal, tornou-se uma espcie de dogma que impedia enxergar a

    destruio que vinha ocorrendo desde os primeiros anos da colonizao. A

    degradao de uma rea no era considerada um problema ambiental pela

    classe poltica, pois sempre havia outras a ocupar com o trabalho escravo.

    As denncias sobre o mau uso dos recursos naturais no encontravam ecos

    na esfera poltica dessa poca, embora muitos denunciantes fossem

    polticos ilustres, como Jos Bonifcio, Joaquim Nabuco e Andr Rebouas.

    Nenhuma legislao explicitamente ambiental teve origem nas muitas

    denncias desses polticos, que podem ser considerados os precursores dos

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    movimentos ambientalistas nacionais e que, j nas suas origens,

    apresentavam uma tnica socioambiental dada pela luta contra a

    escravatura, a monocultura e o latifndio. Somente quando o Brasil comea

    a dar passos firmes em direo industrializao, inicia-se o esboo de uma

    poltica ambiental. A adeso do Brasil aos acordos ambientais multilaterais

    das primeiras dcadas do sculo XX, praticamente no gerou nenhuma

    repercusso digna de nota na ordem interna do pas. Tomando como

    critrio a eficcia da ao pblica e no apenas a gerao de leis, pode-se

    apontar a dcada de 1930 como incio de uma poltica ambiental efetiva

    (Barbieri, 2010).

    Conforme Barbieri (2010), uma data de referncia o ano de 1934,

    quando foram promulgados os seguintes documentos relativos gesto de

    recursos naturais: Cdigo de Caa, Cdigo Florestal, Cdigo de Minas e

    Cdigo de guas. Outras iniciativas governamentais importantes desse

    perodo foram: criao do Parque Nacional de Itatiaia, o primeiro do Brasil e

    a organizao do patrimnio histrico e artstico nacional. As polticas

    pblicas dessa fase procuram alcanar efeitos obre os recursos naturais por

    meio de gestes setoriais (gua, florestas, minerao, etc), para as quais

    foram sendo criados rgos especficos, como o Departamento Nacional de

    Recursos Minerais, Departamento Nacional de gua e Energia Eltrica e

    outros. Os problemas relativos poluio s seriam sentidos em meados da

    dcada de 1960, quando o processo de industrializao j havia se

    consolidado. No incio dessa fase, na dcada de 1930, o rio Tiet, por

    exemplo, era usado para lazer de muitos paulistanos, que se tornaria

    invivel algumas dcadas depois. At meados da dcada de 1970, a

    poluio industrial ainda era vista como sinal de progresso e, por isso,

    muito bem-vinda para muitos polticos e cidados.

    Enquanto isso ocorria no Brasil, no mundo iniciava-se uma poltica de

    comando e controle (Command and Control Policy), que assumiu duas

    caractersticas muito definidas, segundo Lustosa, Cnepa e Young (2003):

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    - a imposio pela autoridade ambiental, de padres de emisso incidentes

    sobre a produo final (ou sobre o nvel de utilizao de um insumo bsico)

    do agente poluidor;

    - a determinao da melhor tecnologia disponvel para abatimento da

    poluio e cumprimento do padro de emisso.

    A razo de ser dessa poltica perfeitamente compreensvel. Dado o

    elevado crescimento das economias ocidentais no ps-guerra, com a sua

    tambm crescente poluio associada, necessria uma interveno macia

    por parte do Estado. Este no pode mais se apoiar simplesmente na disputa

    em tribunais, caso a caso (esfera do Direito Civil), sendo necessrio dispor

    de instrumentos vinculados ao Direito Administrativo, mais adequados a

    essa atuao macia. Entretanto, essa poltica pura de comando e

    controle apresenta uma srie de deficincias, como a morosidade de sua

    implementao, segundo os mesmos autores.

    Tentando solucionar os problemas, de certo modo acumulados e

    agravados ao longo do tempo, os pases desenvolvidos encontram-se hoje

    numa terceira etapa da poltica ambiental e que, falta de melhor nome,

    poderamos chamar de poltica mista de comando e controle. Nessa

    modalidade de poltica ambiental, os padres de emisso deixam de ser

    meio e fim da interveno estatal e passam a ser instrumentos, dentre

    outros, de uma poltica que usa diversas alternativas e possibilidades para a

    consecuo de metas acordadas socialmente. Temos assim, a adoo

    progressiva dos padres de qualidade dos corpos receptores como metas de

    poltica e a adoo de instrumentos econmicos em complementao aos

    padres de emisso no sentido de induzir os agentes a combaterem a

    poluio e a moderarem a utilizao dos recursos naturais, ainda conforme

    Lustosa, Cnepa e Young (2003).

    Voltando ao Brasil, aps a Conferncia de Estocolmo de 1972, quando

    as preocupaes ambientais se tornam mais intensas, embora nessa

    ocasio o governo militar brasileiro no reconheceu a gravidade dos

    problemas ambientais e defendeu sua ideia de desenvolvimento econmico,

    na verdade um mal desenvolvimento, em razo da ausncia de

    preocupaes com o meio ambiente e a distribuio de renda. Porm, os

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    estragos ambientais mais do que evidentes e a colocao dos problemas

    ambientais em dimenses planetrias exigiram do poder pblico uma nova

    postura. Em 1973, o Executivo federal cria a Secretaria Especial do Meio

    Ambiente e diversos estados criaram sua agncias ambientais

    especializadas, como a Cetesb no Estado de So Paulo e a Feema no Estado

    do Rio de Janeiro (Barbieri, 2010).

    O mesmo autor tambm mostra que, em matria ambiental, o Brasil

    tambm seguiu uma tendncia observada em outros pases. Onde os

    problemas ambientais so percebidos e tratados de modo isolado e

    localizado, repartindo o meio ambiente em solo, ar e gua, e mantendo a

    diviso dos recursos naturais: gua, florestas, recursos minerais e outros.

    S no incio da dcada de 1980 que passariam a ser considerados

    problemas generalizados e interdependentes, que deveriam ser tratados

    mediante polticas integradas. A legislao federal sobre matria ambiental

    nessa fase, procurava atender problemas especficos, dentro de uma

    abordagem segmentada do meio ambiente e percebe-se isso atravs dos

    textos legais abaixo:

    - Decreto-lei 1.413 de 14/8/1975 sobre medidas de preveno da poluio

    industrial;

    - Lei 6.453 de 17/10/1977 sobre responsabilidade civil e criminal

    relacionada com atividades nucleares;

    - Lei 6.567 de 24/9/1978 sobre regime especial para explorao e

    aproveitamento das substncias minerais;

    - Lei 6.766 de 19/12/1981 sobre o parcelamento do solo urbano;

    - Lei 6.902 de 27/4/1981 sobre a criao de estaes ecolgicas e reas de

    proteo ambiental.

    Foi com o advento da Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, que

    dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente, que conhecemos uma

    definio legal e passamos a ter uma viso global de proteo ao meio

    ambiente. Ela foi editada com o fito de estabelecer a poltica nacional do

    meio ambiente, seus fins, mecanismos de formulao, aplicao, conceitos,

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    princpios, objetivos e penalidades devendo ser entendida como um

    conjunto de instrumentos legais, tcnicos, cientficos, polticos e econmicos

    destinados promoo do desenvolvimento sustentado da sociedade e da

    economia brasileira. Embora tenha sido editada no incio da dcada de

    1980, continua sendo de fundamental importncia para o meio ambiente

    (Funiber, 2009).

    Princpios da PNMA (Poltica Nacional de Meio Ambiente)

    O artigo 2. Da referida lei, estabeleceu que a preservao, a

    melhoria e a recuperao da qualidade ambiental propiciem vida, visando

    assegurar no pas, condies ao desenvolvimento socioeconmico, aos

    interesses da segurana nacional e proteo da dignidade da vida

    humana, atendidos os seguintes princpios, segundo Funiber (2009):

    - I. Equilbrio ecolgico, considerando o meio ambiente como patrimnio

    pblico

    - II. Racionalizao do uso do solo, do subsolo, da gua e do ar;

    - III. Planejamento e fiscalizao do uso dos recursos naturais;

    - IV. Proteo dos ecossistemas;

    - V. Controle e zoneamento das atividades potencialmente ou efetivamente

    poluidoras;

    - VI. Incentivo ao estudo e pesquisa de tecnologias voltadas para o uso

    racional e a proteo dos recursos ambientais;

    - VII. Acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

    - VIII. Recuperao de reas degradadas;

    - IX. Proteo de reas ameaadas de degradao; e

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    - X. Educao ambiental em todos os nveis de ensino.

    A Lei da PNMA foi em quase todos os seus aspectos, recepcionada

    pela Constituio Federal de 1988, pois, valoriza a dignidade humana, a

    qualidade ambiental propcia vida e ao desenvolvimento socioeconmico e

    tem uma abrangncia grandiosa. A preservao referida na lei tem sentido

    de perenizar, de perpetuar, de salvaguardar, os recursos naturais. J a

    melhoria do meio ambiente significa dar-lhe condies mais adequadas do

    que aquelas que se apresentam. O art. 3. da lei em comento, considerou o

    meio ambiente como sendo o conjunto de condies, leis influncias e

    interaes de ordem fsica, qumica e biolgica, que permite, abriga e rege

    a vida em todas as suas formas (Funiber, 2009).

    Meio Ambiente a expresso incorporada lngua portuguesa para

    indicar, segundo o Aurlio, o conjunto de condies naturais e de influncias

    que atuam sobre os organismos vivos e os seres humanos.

    Jos Afonso da Silva (segundo Funiber, 2009), observou que a

    palavra ambiente indicando a esfera, o crculo, o mbito que nos cerca,

    em que vivemos, em certo aspecto, j contm o sentido da palavra meio.

    Justifica o uso, na lngua portuguesa, pela necessidade de reforar o sentido

    significante de determinados termos diante do enfraquecimento no sentido

    a destacar ou, porque sua expressividade mais ampla e mais difusa. E

    afirmou, o meio constitui uma unidade que abrange bens naturais, e

    culturais e que compreende a interao do conjunto de elementos naturais,

    artificiais e culturais que propiciam o desenvolvimento equilibrado da vida

    humana.

    Objetivos da PNMA

    Os objetivos da Poltica Nacional de Meio Ambiente esto dispostos no

    artigo 4. (Lei n. 6.938/81) e visar:

    - I. A compatibilizao do desenvolvimento econmico-social com a

    preservao da qualidade do meio ambiente e do equilbrio ecolgico;

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    - II. definio de reas prioritrias de ao governamental relativas

    qualidade e ao equilbrio ecolgico, atendendo aos interesses da Unio, dos

    Estados, do Distrito Federal e dos Municpios;

    - III. Ao estabelecimento de critrios e padres da qualidade ambiental e de

    normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais;

    - IV. Ao desenvolvimento de pesquisa e de tecnologias nacionais orientadas

    para o uso racional de recursos ambientais;

    - V. difuso de tecnologias de manejo do meio ambiente, divulgao de

    dados e informaes ambientais e formao de uma conscincia pblica

    sobre a necessidade de preservao da qualidade ambiental e do equilbrio

    ecolgico;

    - VI. preservao e restaurao dos recursos ambientais, com vistas

    sua utilizao racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a

    manuteno do equilbrio ecolgico propcio vida;

    - VII. imposio, ao poluidor e ao predador da obrigao de recuperar

    e/ou indenizar os danos causados, e ao usurio, da contribuio pela

    utilizao de recursos ambientais com fins econmicos.

    Quanto ao art. 5., este faz referncia s diretrizes da PNMA, que

    devero orientar a ao dos governos da Unio, dos Estados, do Distrito

    Federal e dos Municpios, determinando que esta ao seja reformulada em

    normas e planos, buscando a preservao da qualidade ambiental e

    manuteno do equilbrio ecolgico (Funiber, 2009).

    Importante tambm saber que, a Lei 6.938/81 instituiu o Sistema

    Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), responsvel pela proteo e

    melhoria do ambiente e constitudo por rgos e entidades da Unio, dos

    Estados, do Distrito Federal e dos Municpios. Espelhando-se no Sisnama, os

    estados criaram os seus Sistemas Estaduais do Meio Ambiente para integrar

    as aes ambientais de diferentes entidades pblicas nesse mbito. Outra

    inovao foi o conceito de responsabilidade objetiva do poluidor. O poluidor

    fica obrigado, independente da existncia de culpa, a indenizar ou reparar

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    os danos causados ao meio ambiente e a terceiros afetados por suas

    atividades (Barbieri, 2010).

    Observao: Embora aprovada em 1981, a implementao da Lei 6.938/81

    s deslanchou efetivamente ao final desta dcada de 1980, principalmente

    a partir da promulgao da Constituio Federal de 1988.

    Para concluir a aula

    A poltica ambiental necessria para induzir ou forar os agentes

    econmicos a adotarem posturas e procedimentos menos agressivos ao

    meio ambiente, ou seja, reduzi a quantidade de poluentes lanados no

    ambiente e minimizar a depleo dos recursos naturais (Lustosa, Cnepa e

    Young, 2003).

    Segundo os mesmos autores, no caso das indstrias, os recursos

    naturais so transformados em matrias-primas e energia, gerando

    impactos ambientais iniciais (desmatamento, emisses de gases poluentes,

    eroso de solos, entre outros). As matrias-primas e energia so insumos

    da produo, tendo como resultado o produto final e os rejeitos industriais -

    fumaa, resduos slidos e efluentes lquidos. Como os recursos naturais

    usados nos processos industriais so finitos e muitas vezes no renovveis,

    a utilizao deve ser racional a fim de que o mesmo recurso possa servir

    para a produo atual e tambm para as geraes futuras esse o

    princpio do desenvolvimento sustentvel.

    Com isso, vemos a necessidade urgente do cumprimento da Lei

    6.938/81 e de sua fiscalizao para que possamos ter esperana na

    sobrevivncia humana e das espcies no meio ambiente de forma

    harmnica e sustentvel.

    AULA 02:OBJETIVOS DESTA AULA:Nesta aula, voc ir:1. Reconhecer os conceitos legais envolvidos no contexto ambiental;2. Analisar a importncia da Lei 6.938/81.1. INTRODUO