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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL HABILITAÇÃO EM JORNALISMO EMILIAN FERREIRA DE AGUIAR TELEJORNALISMO ESPORTIVO: A MULHER NO MUNDO DO FUTEBOL. UMA ANÁLISE DO PROGRAMA GLOBO ESPORTE CEARÁ FORTALEZA 2012

1 CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE … · No entanto, como bem observa Soares (2009, p. 4), “o jornalismo esportivo ainda é uma especialização onde os homens são

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

EMILIAN FERREIRA DE AGUIAR

TELEJORNALISMO ESPORTIVO: A MULHER NO MUNDO DO FUTEBOL.

UMA ANÁLISE DO PROGRAMA GLOBO ESPORTE CEARÁ

FORTALEZA

2012

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EMILIAN FERREIRA DE AGUIAR

TELEJORNALISMO ESPORTIVO: A MULHER NO MUNDO DO FUTEBOL. UMA

ANÁLISE DO PROGRAMA GLOBO ESPORTE CEARÁ

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Comunicação

Social – habilitação em Jornalismo do Centro de Ensino Superior

do Ceará Faculdade Cearense, como exigência parcial para

obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social - habilitação

em Jornalismo, sob a orientação da professora Klycia Fontenele

Oliveira, especialista em Teorias da Comunicação e da Imagem

(UFC) e em Jornalismo Político (Posead-Gama Filho).

FORTALEZA

2012

3

EMILIAN FERREIRA DE AGUIAR

TELEJORNALISMO ESPORTIVO: A MULHER NO MUNDO DO FUTEBOL. UMA

ANÁLISE DO PROGRAMA GLOBO ESPORTE CEARÁ

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Comunicação

Social - habilitação em Jornalismo do Centro de Ensino Superior

do Ceará Faculdade Cearense como exigência parcial para

obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social - habilitação

em Jornalismo, outorgado pela Faculdade Cearense, tendo sido

aprovada pela banca examinadora composta pelos professores.

Data de aprovação: _____/_______/________

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Profa. Esp. Klycia Fontenele Oliveira - orientadora

________________________________________

Professor Ms __________________________ - membro

________________________________________

Professor Ms __________________________ - membro

4

Dedico esta monografia a todos os que dela fizeram parte, aos meus

familiares, que nunca deixaram de me apoiar, à minha orientadora,

que acreditou no meu trabalho desde o início, aos professores que

passaram por minha vida acadêmica e aos amigos que sempre estão

comigo.

5

AGRADECIMENTOS

Esta nova etapa da minha vida foi construída por cima de muitas dificuldades

transpostas diariamente; sempre pensando no dia em que finalmente eu poderia dizer:

venci. Mas, se esse dia finalmente chegou, não foi sozinha que o alcancei. Durante todo

esse tempo, muitas pessoas passaram por minha vida e cada uma delas me ensinou algo

que me trouxe até aqui e é a essas pessoas que venho agradecer.

Mas, meu primeiro agradecimento é para Deus, que sempre esteve ao meu lado

e que colocou pessoas maravilhosas em minha vida; sem ele nada disso teria acontecido.

Meu próximo agradecimento é para a minha família, que mesmo quando eu pensava que

não conseguiria, apoiava-me e me dava forças: minha mãe, Edna, pessoa querida que

nunca desistiu de mim; meu pai, Elpidio, que ao seu modo sempre fez o que pôde para

ajudar; e meus irmãos, Aldenicia e Erbeson, que mesmo brincando muito com as minhas

loucuras, estavam sempre ali. A eles, todos os meus agradecimentos e meu amor.

Aos amigos e amigas que conquistei durante essa jornada e àqueles que eu já

tinha, por todo o apoio que me deram. Entre eles, Wilker C. Lima, companheiro querido,

que mesmo sendo esquecido algumas vezes, sempre ficou ao meu lado.

Aos jornalistas Mariana Sasso, Paulo César Norões e Fábio Pizzato, por terem

dedicado um pouco do seu corrido tempo a esta pesquisadora.

E por fim, mas não menos importante, aos meus mestres, com carinho. Pois

foram eles que, ao longo de todo esse tempo, ensinaram-me o que é necessário para que o

meu futuro profissional seja brilhante. A eles, que quase sempre são esquecidos na

memória, toda a minha admiração. Entre todos, contudo, uma se destacou, pois foi ela

quem acreditou em uma simples ideia e me ajudou a transformar tudo aquilo em realidade.

Klycia Fontenele, a você todo o meu afeto e agradecimento.

Obrigada a todos por fazerem parte da minha vida!!!!

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RESUMO

O presente trabalho propôs-se a realizar um estudo sobre a participação das mulheres no

telejornalismo esportivo no Ceará, a partir da análise do programa regional “Globo Esporte

Ceará”, da emissora de TV Verdes Mares, afiliada cearense da TV Globo. Para a sua

concretização foram feitas pesquisas bibliográficas, documental e entrevistas. Analisaram-

se os programas veiculados no mês de junho de 2012 para a obtenção dos dados

necessários ao atingimento do objetivo proposto. Concluiu-se que a mulher está cada vez

mais presente nessa editoria e ocupando os mais variados postos. No entanto, muitos ainda

são os desafios a serem transpostos para a consolidação de sua participação nesse

segmento editorial.

Palavras-Chave: Telejornalismo. Mulher. Futebol. Globo Esporte Ceará.

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ABSTRACT

This paper proposed to conduct a study on the participation of women in sports journalism

in Ceará, from the analysis of the regional program “Globo Esporte Ceará”, of Verdes

Mares TV station, Ceará affiliated of TV Globo. For their implementation were made

bibliographic and documentary research and interviews. Analyzed the programs aired in

June 2012 to obtain the data necessary to the achievement of the objective proposed. It was

concluded that the woman is increasingly present in the editing and occupying various

posts, however, there are still many challenges to be overcome for the consolidation of

their participation in this editorial segment.

Keywords: Tv Journalism. Woman. Football. Globo Esporte Ceará.

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LISTA DAS TABELAS E GRÁFICOS

TABELA 1 – Referente ao panorama geral da análise .......................................................49

GRÁFICO 1 – Referente aos assuntos das matérias............................................................50

GRÁFICO 2 – Referente às ancoragens feitas no período...................................................51

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 10

2 MULHER E SOCIEDADE......................................................................................................... 12

2.1 Sistema de gêneros.................................................................................................................. 12

2.2 Divisão sexual do trabalho...................................................................................................... 16

2.3 A mulher esportista................................................................................................................. 19

3 FUTEBOL E O TELEJORNALISMO ESPORTIVO.............................................................. 24

3.1 A história do futebol................................................................................................................ 24

3.1.1 O futebol no Ceará............................................................................................................... 28

3.2 Telejornalismo esportivo......................................................................................................... 31

3.3 Telejornalismo esportivo e as jornalistas................................................................................ 35

4 ANÁLISE DO PROGRAMA “GLOBO ESPORTE CEARÁ”................................................ 39

4.1 Caminhos percorridos............................................................................................................. 39

4.2 O programa.............................................................................................................................. 42

4.2.1 Rotina de produção.............................................................................................................. 44

4.2.2 Mariana Sasso: a presença feminina no “Globo Esporte Ceará”...................................... 46

4.3 As edições analisadas.............................................................................................................. 48

4.4 Análise do conteúdo do programa “Globo Esporte Ceara”..................................................... 49

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................................... 53

6 REFERÊNCIAS........................................................................................................................... 55

APÊNDICE A – ENTREVISTA COM PAULO CÉSAR NORÕES - CHEFE DE ESPORTES.......... 60

APÊNDICE B – ENTREVISTA COM MARIANA SASSO - PRODUTORA E APRESENTADORA 62

APÊNDICE C – ENTREVISTA (FECHADA) COM FÁBIO PIZZATO - PRODUTOR........... 66

ANEXO 1 – PROGRAMAS GLOBO ESPORTE CEARÁ DOS DIAS 1º A 30/06/2012........................ 67

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1 INTRODUÇÃO

O tema principal deste trabalho consiste em entender de que modo funciona a

participação feminina no Telejornalismo Esportivo, com foco nos comentários feitos pelos

jornalistas homens e mulheres que fazem parte da equipe do programa “Globo Esporte

Ceará”. Esse tema foi escolhido com o intuito de favorecer a compreensão acerca da atuação

dessa editoria do jornalismo e do papel exercido pela mulher em seu âmbito.

A mulher ao longo dos anos vem lutando para conquistar seu espaço na sociedade

em que se insere. Primeiro, foram às ruas reivindicar melhores salários e condições de

trabalho na revolução industrial, viraram rainhas que lutaram pelo bem de seu povo. Com o

passar dos anos, foram assumindo cargos que até pouco tempo eram exclusivamente

masculinos, saindo da margem da história para começar a escrevê-la. Por ainda ter muito que

conquistar, essas mulheres lutam cada vez mais.

Essa atitude se explica porquanto todos os avanços ocorridos em sua história até

hoje não foram suficientes para impedir que ainda existam lugares e funções no âmbito dos

quais ser mulher não é bem aceito. Entre esses lugares encontra-se o futebol, cuja prática,

discussão e cobertura jornalística são consideradas, pela maioria, exclusividade dos homens.

No entanto, como bem observa Soares (2009, p. 4), “o jornalismo esportivo ainda

é uma especialização onde os homens são maioria, porém o número de mulheres que se

direcionam para a área vem crescendo.”. Mas, o caminho que as mulheres percorreram para

chegar ao jornalismo e, principalmente, ao jornalismo esportivo, é um dos questionamentos

abordados em todo o decorrer desta pesquisa.

Para se tentar chegar a uma resposta a essa indagação foram necessárias muitas

pesquisas e reflexões acerca da participação da mulher na sociedade ao longo do tempo e na

atualidade e um olhar, ainda que não muito extenso, para a história do Telejornalismo no

Brasil e no mundo, com ênfase no telejornalismo esportivo e no tema futebol.

O Globo Esporte Ceará foi o programa escolhido para oportunizar essa análise

por ter toda a sua produção realizada na cidade de Fortaleza, tornando-se, assim, mais viável

às incursões desta pesquisadora em seus domínios para aplicar as entrevistas e acompanhar as

rotinas de produção, observando, com maior profundidade, como funcionam a dinâmica do

programa e o trabalho de todos da equipe.

O programa tenta abordar todos os tipos de esportes, desde golfe até tênis, porém,

tem maior ênfase no futebol, dedicando-lhe uma grande parcela de toda a transmissão. O

Globo Esporte Ceará é veiculado de segunda a sábado, das 12h50 às 13h20, e conta com uma

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programação que mescla notícias locais, nacionais e internacionais. A equipe fixa de

jornalismo é formada pelos jornalistas Mariana Sasso, Antero Neto, Luiz Costa, Alysson

Oliveira e Paulo César Norões.

Para se poder analisar os pontos aqui expostos, o método utilizado foi a análise do

conteúdo, que, segundo Herscovitz (2007, p. 123), serve para “[...] descrever e classificar

produtos, gêneros e formatos jornalísticos, para avaliar características da produção de

indivíduos”. Através desse método é possível ter uma visão mais ampla de tudo aqui

estudado.

Para completar a obtenção dos dados também foram feitas entrevistas, tanto com a

jornalista do programa, como também com um jornalista e com o chefe de esportes, que

possibilitaram conhecer melhor como funciona o mundo do telejornalismo esportivo, o

programa e a participação da mulher jornalista nesse universo.

As discussões foram iniciadas no capítulo, que sucede esta introdução, com uma

breve contextualização da participação da mulher na sociedade como um todo; suas lutas e

vitórias, para que, assim, a pesquisa pudesse aos poucos se aprofundar em seu tema central,

que consiste em entender como acontece a participação de jornalistas mulheres no Globo

Esporte Ceará.

No capítulo seguinte, o estudo se voltou para o mundo da televisão, do

telejornalismo e do futebol. Já o quarto capítulo foi dedicado às análises sobre o programa e

sua rotina, bem como, sobre presença feminina nesse espaço. A pesquisa se encerra com a

apresentação de algumas conclusões a que se chegaram após a sistematização, análise e

interpretação dos dados coletados, no capítulo quinto, que trata das considerações finais.

Espera-se, com este trabalho, contribuir para futuras discussões sobre o

telejornalismo esportivo e a participação da mulher nessa editoria.

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2 MULHER E SOCIEDADE

Quando se pensa na sociedade como um todo, logo se percebe que esta é dividida,

basicamente, entre homens e mulheres e que estes apresentam diferenças entre si, sejam de

ordem biológica, social, psicológica, entre outras. Essa organização homem/mulher é

discutida há anos e, na maioria dos casos, o sexo feminino não foi devidamente representado.

Vários autores já discutiram essa questão: Scott (1989), Guedes (1995), entre outros, que

refletem sobre esse gênero de maneira muito mais abrangente do que simplesmente sob a

ótica do determinismo biológico.

Esta pesquisa a respeito dos estudos sobre gênero se faz necessária porque é, por

intermédio dessas reflexões, que se pode analisar de maneira mais ampla a sociedade, o modo

como funciona e o papel exercido pelas mulheres que nela se inserem. Além de perceber

como se concretizam as relações sociais de poder e o modo como tudo isso afeta as mulheres,

parte central da análise deste trabalho.

Também são tratados, neste capítulo, assuntos ligados à divisão sexual do

trabalho. Apresenta-se, ainda, breve análise sobre o desenvolvimento do mercado de trabalho

no Brasil e como este está reagindo à inserção da mulher. Por fim, outro ponto forte que esta

pesquisa tenta compreender diz respeito à participação da mulher no futebol, tomando-se

como base uma amostragem da história desse esporte para se perceber também como essa

inserção ocorreu.

Todos esses levantamentos têm como objetivo possibilitar que se venha a obter

uma visão mais ampla da situação feminina na sociedade, de modo a que se possa adentrar na

questão principal deste trabalho, que consiste em verificar como as jornalistas estão atuando

no telejornalismo esportivo no Ceará.

2.1 Sistema de gêneros

Antes de se fazer considerações quanto à participação da mulher na sociedade, há

que se compreender como a sociedade se organiza, funciona e como afeta os indivíduos que

nela se inserem. Inicialmente, reflete-se sobre o sistema de gêneros e o modo como trata a

divisão homem e mulher; masculino e feminino.

O estudo dos gêneros se iniciou, basicamente, com o movimento feminista norte-

americano que adotou o termo como uma maneira de se desviar do “determinismo biológico”

imposto pela sociedade (SCOTT, 1989). Tentava-se, assim, buscar muito mais do que simples

explicações acadêmicas e gramaticais para a condição de ser mulher, que significaria mais do

que ser do sexo feminino.

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Determinismo biológico pode ser compreendido como o “conjunto de teorias

segundo as quais a posição ocupada por diferentes grupos na sociedade, ou comportamentos e

variações das habilidades, capacidades, padrões cognitivos e sexualidade humana derivam de

limites ou privilégios inscritos na constituição biológica.” (MACÊDO, 2003, p. 35).

Acreditava-se, assim, que as capacidades de uma pessoa vinham em sua genética, em sua

estrutura anatômica e/ou fisiológica.

Mas, por trás disso, observa-se uma tentativa de se privilegiar o sexo masculino,

colocando-o como detentor dos privilégios biológicos, sem levar em conta as capacidades das

mulheres, pondo-as apenas como genitoras que deveriam ser tratadas com cuidado; pois, por

causa de sua biologia, não gozavam dos mesmos privilégios dos homens. Como resposta a

esse comportamento,

as feministas buscaram, então, demonstrar que a feminilidade e a masculinidade não

são constituídas propriamente pelas características biológicas, mas, sim, por tudo

que se diz ou representa a respeito dessas características (LOURO, 2001, apud

MAGALHÃES; RIBEIRO, 2009, p. 693).

Elas queriam mostrar que o ser humano, quer seja homem ou mulher, é muito

mais abrangente do que podem definir simples explicações biológicas, tirando as mulheres da

classificação simplista de apenas geradoras da vida e os homens de sua função de

mantenedores da casa e da família: o centro do mundo. As feministas acreditavam que as

pessoas são resultantes da junção de biologia, química e aprendizado diário, formadas e

diferenciadas pelo que são e não somente pelo sexo que apresentam.

Dessa maneira, o movimento feminista

[...] surge numa dimensão de radicalidade tanto no seu conteúdo como nas formas

com que deu seus primeiros passos. Da simbólica queima dos sutiãs à construção da

idéia de que as causas da opressão da mulher estavam no nível da estrutura social,

construiu-se uma ação e um pensamento essencialmente contestatório. Este era um

sentimento comum à maioria das correntes, mesmo com as diferentes interpretações

sobre o conceito de “estrutura” que “podia” ser postulada como patriarcado, como

um sistema econômico, explorador ou como uma relação estrutural entre o lar e o

local de trabalho (MORAES, 2000, p. 77).

O movimento acreditava que a mulher não mais deveria viver sob a custódia dos

pensamentos dos homens. A ideia era se contrapor à hierarquização entre as relações que se

encontravam estabelecidas. Mesmo quando alcançavam alguma vitória, as feministas não

deixavam de lutar e foram, assim, diversificando e ampliando cada vez mais seus campos de

atuação. Com o passar do tempo, “o feminismo se diversificou, tornou-se mais plural,

expressou-se em múltiplas estratégias e diferentes espaços de atuação.” (MORAES, 2000, p.

78).

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Para essas norte-americanas, o termo gênero poderia ser utilizado para definir uma

“organização social da relação entre os sexos” (SCOTT, 1989), abrangendo aspectos mais

sociais do que biológicos. Esse pensamento é também compartilhado por Macêdo (2003)

quando diz que “esta categoria de análise, ainda em construção, tem o propósito de

desnaturalizar as categorias homem e mulher, no sentido de indicar uma rejeição ao

determinismo biológico.” (p. 32).

Com isso, essas autoras vêm mostrar que uma sociedade pode ser muito mais

complexa do que se pensava no começo do século passado e que não é formada por um único

conjunto de organizações, mas por vários, não necessariamente organizados por causa da

biologia envolvida, mas por outros fatores que fogem às regras do determinismo biológico a

ela imposto. Portanto,

[...] o surgimento dos estudos de gênero está relacionado com a maior visibilidade

obtida pela mulher nos anos mais recentes e aos movimentos de mulheres e

feministas na sociedade ocidental, de tal forma que, atualmente, o olhar sobre o

movimento também nos remete a esta categoria de análise. Esta é uma afirmação

polêmica que se instaura por entendimentos diferenciados acerca da questão, no

campo dos estudos de gênero, mas acredita-se que a ciência é influenciada pelo

contexto ao mesmo tempo em que o influencia. Afinal, a produção científica está

inserida no contexto sócio-econômico-cultural onde surge e é utilizada (MACÊDO,

2003, p. 35).

Daí a escolha, no âmbito deste trabalho, por pesquisadoras que tratam os estudos

sobre o sistema de gênero dentro da perspectiva feminista. Entende-se, então, que “[...] o

gênero é um elemento constitutivo de relações sociais baseado nas diferenças percebidas entre

os sexos [...] e o gênero é uma forma primeira de significar as relações de poder [...]”.

(SCOTT, 1989, p. 21).

Assim, tomando como base o estudo do gênero e o campo do jornalismo, este

trabalho faz algumas indagações: será que dentro de um ambiente de trabalho como o de um

jornal, emissora de TV ou estúdio de rádio ainda há essa relação de poder em que o homem é

tido como superior à mulher? Quando esses veículos de comunicação tratam de futebol, como

essa relação se estabelece? Com ou sem preconceito? É por isso que se optou por refletir

sobre o sistema de gêneros cujos estudos abrem muitas indagações, impossíveis, talvez, de

serem construídas se ainda estivéssemos presos(as) ao determinismo biológico.

Além disso, “a categoria gênero pode ser compreendida como um processo de

mudança e conquista dos seres humanos, que tem lugar na trama das relações sociais entre

mulheres, entre homens e entre mulheres e homens.” (MACÊDO, 2003, p. 34). Percebe-se

que, para essas feministas, estudar o gênero é ir além das classes. É uma tentativa de se relatar

a história da mulher, mas não “como a maioria dos historiadores não feministas que

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reconheciam a história das mulheres para depois descartá-la ou colocá-la em um domínio

separado.” (SCOTT, 1989, p. 5).

Esse tipo de pensamento ocorre bastante nas histórias oficiais em que, apesar de a

mulher ter uma representação forte, esta é logo atrelada a uma imagem masculina. A título de

ilustração, pode-se mencionar a história de Anita Garibaldi, que teve grande importância na

Revolução Farroupilha1, mas que geralmente é lembrada por ser esposa de Giuseppe

Garibaldi, autor de grandes feitos. Trazendo-se para o Ceará, tem-se o exemplo de Bárbara de

Alencar2, entre tantas outras que a história simplesmente esqueceu.

Apesar da relevância, “as preocupações teóricas relativas ao gênero como

categoria de análise só apareceram no final do século XX.” (SCOTT, 1989, p. 19). No Brasil,

esses estudos só se iniciaram em meados de 1970, quando foi instalada aqui a Década da

Mulher, pela Organização das Nações Unidas (ONU)3. Com a chegada desse novo momento,

as brasileiras intensificaram as reflexões a respeito dos gêneros e do movimento feminista.

Vale ressaltar que, nesse período, o Brasil se encontrava em plena ditadura militar (1964-

1984), quando os direitos sociais e políticos de muitos foram cerceados para a satisfação de

uns poucos que naquele período se encontravam no poder.

Nessa época, além de terem que transpor barreiras sociais, biológicas e morais,

essas feministas também tiveram pela frente um dos períodos em que havia a maior repressão,

quer fosse de direitos humanos ou de expressão, quando qualquer ato era considerado

transgressão e afronta ao poder regente. Aqui no Brasil, essas discussões foram encetadas por

mulheres que vinham de outros países onde já haviam ocorrido processos parecidos de

opressão.

Com a vinda de militantes exiladas pelo regime ditatorial, a discussão sobre o

feminino/feminismo se acentuou ainda mais, já que em outros países a discussão

sobre a opressão feminina se encontrava em estágios bem avançados, enquanto no

Brasil ainda engatinhávamos no pós-abertura. Os encontros/desencontros de

militantes latino-americanas(os), com inglesas(es), francesas(es), alemãs(ães) com

essa reflexão/discussão de um certo pensar a mulher possibilitaram modificações

também no Brasil. Surge daí a afirmação primeira do movimento feminista

brasileiro, ou sua primeira fase: visibilizar o feminino enquanto elemento qualitativo

e constitutivo da população e das instituições brasileiras (GUEDES, 1995, s.p.).

Essas mulheres tentam mostrar à população feminina do Brasil o que vinha

acontecendo no resto do mundo, buscando fazer com que as brasileiras entendessem seu papel

1 Guerra civil, ocorrida no Rio Grande do Sul, na qual se lutava contra o Império de D. Pedro I.

2 Bárbara de Alencar foi uma revolucionária que participou ativamente da Revolução Pernambucana de 1817,

mãe de José Martiniano Pereira de Alencar, Tristão Gonçalves e Carlos José dos Santos.

3 A Organização das Nações Unidas (ONU) decretou de 1976 a 1985 a Década da Mulher. Nesse período, houve

várias manifestações pelo mundo em defesa da mulher e de seus direitos.

16

nesse processo de maneira clara e ampla, para que compreendessem verdadeiramente a causa

da qual deveriam fazer parte.

Observa-se, portanto, que a relação homem e mulher é muito mais abrangente do

que a sociedade revela, principalmente, a partir do estudo dos gêneros. No próximo tópico,

discute-se como se apresenta o mercado de trabalho após tantos estudos terem sido elaborados

e alguns avanços terem sido conquistados. Reflete-se sobre como as mulheres estão ocupando

o mercado e em que ramo são mais reconhecidas. A ideia é ter uma visão mais ampliada da

situação trabalhista da mulher no mercado brasileiro para, mais adiante, discutir a participação

das jornalistas no telejornalismo esportivo.

2.2 A divisão sexual do trabalho

Quando se começa a estudar a participação das mulheres no mercado de trabalho,

observa-se que a inserção delas começou a ocorrer na época em que o mercado fabril passou a

necessitar de mão de obra, mais especificamente, na época da revolução industrial. Essa

afirmação é exposta por Bravo (2009) quando diz que a entrada da mulher no mercado de

trabalho “teve início, na Inglaterra, durante a revolução industrial, entre 1770 a 1830.” (p. 16).

Portanto, a inclusão das mulheres no mercado de trabalho já ocorreu sob o jugo da

exploração, pois trabalhavam nas mesmas condições que os homens, mas com salários mais

baixos, além de enfrentarem jornada dupla: trabalhavam fora e cuidavam da casa. Assim,

pode-se perceber que, em um primeiro momento, a admissão das mulheres no mercado de

trabalho não decorreu, necessariamente, de uma questão emancipatória, mas de uma exigência

do mercado que, naquele momento, vinha crescendo e tinha que buscar novas fontes de mão

de obra.

No século XIX e no início do século XX, nos paises que se industrializavam, o

trabalho fabril era realizado por homens, mulheres e crianças em jornadas de 12, 14

horas, em semanas de seis dias inteiros e frequentemente incluindo as manhãs de

domingo. Os salários eram de fome, havia terríveis condições nos locais da

produção e os proprietários tratavam as reivindicações dos trabalhadores como

afronta, operárias e operários eram considerados as “classes perigosas”. Sucediam-se

as manifestações de trabalhadores por melhores salários, pela redução das jornadas

de trabalho e pela proibição do trabalho infantil (OLIVEIRA, 2011, p. 66).

Observa-se que o trabalhador, de maneira geral (homens e mulheres), não era

valorizado, o que levou a classe trabalhadora a iniciar vários processos de luta. Ocorre que até

mesmo nessas lutas as mulheres eram vistas de maneira diferenciada. Representavam somente

mais um número na luta e não tinham os mesmos direitos dos homens. A paridade entre os

sexos não era discutida nesse processo, mesmo com as mulheres participando e lutando.

17

A cada conquista, o movimento operário iniciava outra fase de reivindicações, mas

em nenhum momento, até por volta de 1960, a luta sindical teve o objetivo de que

homens e mulheres recebessem salários iguais, pelas mesmas tarefas. As

trabalhadoras participavam das lutas gerais, mas quando se tratava da igualdade

salarial, não eram consideradas. Alegava-se que as demandas das mulheres

afetariam a “luta geral”, prejudicariam o salário dos homens e, afinal, as mulheres

apenas “completavam” o salário masculino (OLIVEIRA, 2011, p. 66).

Contudo, as trabalhadoras não se deixaram subjugar e lutaram por seus direitos.

Surgiram assim nos movimentos mulheres como Clara Zetkin, Alexandra Kollontai, Clara

Lemlich, Emma Goldman e tantas outras que [...] “dedicaram suas vidas ao que

posteriormente se tornou o movimento feminista.” (OLIVEIRA, 2011, p. 66).

Além de lutarem por melhores salários e condições de trabalho, essas mulheres

também lutavam por um dos direitos mais básicos de uma sociedade: o direito ao voto, que só

lhes foi assegurado em 1893, primeiramente, na Nova Zelândia e depois, espalhando-se por

outros países e continentes. No Brasil, essa conquista só aconteceu plenamente em 1934.

(PEREIRA; DANIEL, 2009), um pouco depois da entrada da mulher no mercado de trabalho,

que só veio a acontecer, aqui, em 1910, seguindo os mesmos parâmetros de trabalho da

Inglaterra (BRAVO, 2009).

Acerca de outros fatores motivacionais que requereram e, consequentemente,

oportunizaram a inserção da mulher no mercado de trabalho, tem-se que

[...] o processo [inserção da mulher no mercado de trabalho] também aconteceu

devido às transformações econômicas, políticas e sociais do país. Ou seja, a

necessidade de mão-de-obra, da transição da atividade doméstica da mulher para o

mercado de trabalho, e a vontade adquirida pelo sexo feminino de trabalhar e ter

realização profissional, entre outros, foram alguns dos motivos que fizeram com que

a mulher brasileira ingressasse nesse meio (BRAVO, 2009, p. 16).

Nesse panorama, as mulheres eram consideradas integrantes da “classe inferior”.

Segundo Rocha (2004, apud BRAVO, 2009, p. 16); “na prática, a inclusão de mulheres de

classe média na força de trabalho mais beneficiou a economia do país do que as próprias

mulheres.”. Afinal,

[...] o acesso ao mercado de trabalho não se traduz em equidade entre homens e

mulheres, ao contrário, a tendência dominante e a segregação, em que o trabalho das

mulheres é marcado por algumas categorias, tais como: menores salários, maior

instabilidade, maior desemprego, piores condições de trabalho, tarefas mais

repetidas [...] (MACÊDO, 2003, p. 78).

A admissão das mulheres no mercado de trabalho brasileiro se intensificou

verdadeiramente em 1970, período de grandes modificações econômicas no Brasil (ABREU,

2006 e PEIXOTO; OSTERNE, 2012). Isso ocorreu não somente em uma área, mas em quase

18

todo o mercado brasileiro, incluindo a área do jornalismo e seus mais variados campos de

atuação: TV, rádio, jornal e revista.

Essas mudanças no mercado de trabalho brasileiro marcam também a “[...]

entrada de um grande número de mulheres nas redações.” (ABREU, 2006, p. 9). Mas, essa

introdução não foi somente na área jornalística. Abreu ressalta que a inserção aconteceu

também na “medicina, arquitetura, direito, pesquisas científicas”, áreas que “até 30 anos

atrás” também pertenciam “ao mundo masculino” (2006, p. 9).

Outro fator que ajudou no processo de introdução das mulheres na área do

jornalismo foi a aprovação da lei de regulamentação da profissão que obrigava a todos os

profissionais da área a terem o diploma ou o registro profissional.

Naquele momento havia um maior número de homens nas redações e muitos não

tinham curso de jornalismo. Essa situação deu uma certa vantagem às mulheres, que

hoje, comparativamente aos homens da mesma geração, apresentam maior

qualificação do ponto de vista da formação (ABREU, 2006, p. 10).

Nessa época, não só as mulheres entraram no mercado como também o nível de

escolaridade aumentou. Porém,

[...] a inserção das mulheres no mercado de trabalho tem ocorrido em condições

desiguais de tratamento, tempo, mobilidade e remuneração, em relação aos homens.

A segregação no mercado de trabalho destinou às mulheres os empregos mais

precários, geralmente informais ou em tempo parcial [...]. De um lado, um pequeno

contingente minoritário de mulheres encontra-se nos cargos executivos que exigem

um nível de escolaridade superior (PEIXOTO; OSTERNE, 2012, p. 53).

Segundo explica Heródoto Barbeiro (2005, p. 4), no prefácio do livro Jornalista:

profissão mulher, “hoje as redações são formadas por mulheres e homens [...]”, mas “[...] não

é fácil vencer em uma profissão ainda marcada pelo preconceito, machismo e rivalidades de

toda ordem [...]”. Assim, supõe-se que, mesmo trabalhando na área, a profissional jornalista

ainda enfrenta muitos percalços para poder cumprir suas atividades e conseguir galgar um

lugar de destaque.

Atualmente, as mulheres estão, cada vez mais, inseridas no mercado de trabalho.

Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2012) sobre a

mulher no mercado de trabalho, as mulheres formaram, em 2011, 46,1% da população

economicamente ativa (PEA), indicando um aumento de 1,8% quando comparado a 2003.

Essa pesquisa quantitativa faz parte da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) e tem como base

o ano de 2011 e cidades das mais variadas regiões do Brasil.

A pesquisa revelou, ainda, que cerca de 63,9% das mulheres ocupadas em 2011

tinham de 28 a 49 anos de idade; já entre o percentual masculino, a média foi de 61,0%. Os

estudos apontaram, também, que o percentual de mulheres ocupadas em prestação de serviços

19

a empresas, entre 2003 e 2011, foi de 3,2%. Já em outras categorias, também houve

crescimento em relação ao período pesquisado: de 15,1% para 16,2%. Ainda de acordo com o

IBGE, a maioria das mulheres está no funcionalismo público, militar (54,2%) e no trabalho

doméstico (94,9%). Esses dados mostram que as mulheres estão ocupando seu espaço, mas

que, para isso, o seu grau de escolaridade teve que crescer.

Segundo a pesquisa, as mulheres chegam a ter até 11 anos ou mais de estudos do

que os homens. Mesmo assim, elas ainda são a maioria nos trabalhos domésticos,

possivelmente, um reflexo da história da mulher na sociedade brasileira. Porém, essa situação

vem mudando. Um dos dados mais reveladores da pesquisa refere-se justamente a essa

mudança: a participação das mulheres em serviços domésticos encontra-se em declínio de

2,2% entre 2003 e 2011.

O IBGE revelou ainda que o rendimento médio do trabalho das mulheres em 2011

foi de R$ 1.343,81 e o dos homens, R$ 1.857,63. Apesar da diferença, segundo a pesquisa

houve um aumento de 24,9% em relação a 2003. Mesmo assim é questionável, afinal, se a

mulher exerce a mesma função do homem e tem a mesma produtividade, deve ganhar o

mesmo valor. Pode-se, então, perceber que o mercado está mudando, mas ainda se encontra

preso a velhos preconceitos.

Em 2011, o rendimento das mulheres continuou inferior ao dos homens. Em média

elas ganhavam 72,3% do rendimento recebido pelos homens. Em 2003, essa razão

foi de 70,8%. Com o intuito de evitar disparidade na comparação do rendimento

provocado por fatores que podem contribuir para diferenciação do rendimento,

foram estudados os grupos de pessoas com a mesma escolaridade e do mesmo

grupamento de atividade, observa-se que, tanto para as pessoas que possuíam 11

anos ou mais de estudo quanto para as que tinham curso superior completo, os

rendimentos da população masculina eram superiores aos da feminina; a exceção foi

na construção para os ocupados com 11 anos ou mais de idade (IBGE, 2012, p. 17).

Pode-se perceber que, com o passar do tempo, as mulheres estão crescendo no

mercado de trabalho e nos mais variados campos. Mas, observa-se que há muito que se

melhorar, como no âmbito da equiparação salarial.

Esta monografia trata da mulher no telejornalismo esportivo no Ceará, tendo

como base o programa “Globo Esporte Ceará”, razão pela qual, no próximo tópico, traça-se

um panorama da relação das mulheres com o esporte, especialmente, com o futebol.

2.3 A mulher esportista

Como se observou nos tópicos anteriores, as mulheres sempre enfrentaram muitas

lutas para serem reconhecidas na e pela sociedade, principalmente nos séculos passados,

quando eram retratadas e tratadas como seres frágeis e delicados que necessitavam da

20

proteção do sexo masculino. Essa realidade de exclusão e separação não foi diferente no

mundo dos esportes.

O esporte, até o século XIX, era tido como prática exclusivamente masculina.

Acreditava-se que o vigoroso esforço físico comprometia a saúde e sua capacidade

de procriação [...] Na Grécia, as mulheres lutavam por espaço nos eventos

desportivos, nos jogos era proibida a participação delas (MARTINS, 2009, p. 17).

Essas ideias se perpetuaram durante anos, fazendo das mulheres somente

expectadoras das atividades praticadas pelos homens. Para o Barão de Coubertin4, as

mulheres só serviam para coroar os campeões. Pois elas não teriam capacidade física ou

mental de praticarem os esportes. Também, acreditava-se que “a inserção das mulheres no

esporte competitivo, em especial nas Olimpíadas poderia vulgarizar esse ambiente recheado

de honras e conquistas.” (GOELLNER, 2005, p. 144).

Segundo Martins (2009), as mulheres só teriam começado a participar

verdadeiramente dos esportes em 1900. Mesmo assim, somente naqueles considerados

delicados e apropriados para elas e que não faziam parte do quadro Olímpico.

[...] fora do quadro olímpico: golfe, tênis e tiro com arco. A primeira participação

oficial ocorreu somente em 1908, vela e patinagem artística eram abertas à

participação feminina. Vinte anos depois, nas Olimpíadas de Amsterdã, as mulheres

começaram a ganhar espaço. Elas competem em três modalidades: 100, 400 e 800

metros com barreiras, salto em alturas e lançamento de disco (MARTIS, 2009, p.

18).

As mulheres não poderiam, então, praticar outros esportes. Para Lovisolo (2009),

isso teria uma explicação pautada nas vivências femininas e masculinas, segundo a qual as

mulheres eram criadas para a maternidade e os homens, para as lutas.

A prática das lutas regradas, a mimese da guerra, seria civilizadora para os homens,

formados em séculos de tradições de guerreiros e caçadores, amantes da festa das

espadas, e fortemente potenciados e excitados pela carne, álcool, drogas, morte e

sangue [...] Creio que, em relação às mulheres, a prática desses esportes era

considerada como uma espécie de retrocesso: processos (des)civilizadores e

corrosivos das doces virtudes do caráter feminino, associadas ao carinho, aos

cuidados, à fala e a essa imagem tão valorizada: a de mãe (LOVISOLO, 2009, p. 4).

Assim, percebe-se que eram utilizados os mais variados pretextos para se defender

a não participação das mulheres. Do determinismo biológico tão combatido pelas feministas

até as diferenciações culturais. Muitos acreditavam que o meio esportivo era destinado

somente para os homens e que a introdução feminina poderia “[...] desestabilizar a

estruturação de um espaço de sociabilidade criado e mantido sob domínio masculino, cuja

4 Considerado o pai dos Jogos Olímpicos modernos.

21

justificativa para sua consolidação, assentada na biologia do corpo e do sexo deveria atestar a

superioridade deles em relação a ela [...]” (GOELLNER, 2005, p. 144).

Assim, o esporte também trazia pensamentos e conceitos que pregavam a

superioridade de um gênero e a inferioridade de outro, utilizando-se de uma ideia que não

possuía qualquer caráter científico. Entretanto, as mulheres não se abateram e continuaram a

praticar esportes. Em 1917, criaram a Federação Internacional Desportiva Feminina e quatro

anos depois já se realizavam os Jogos Olímpicos das Mulheres, posteriormente chamados de

Jogos Mundiais das Mulheres (MARTINS, 2009).

Atualmente, as mulheres já participam das principais competições esportivas

mundiais e nos mais variados esportes. Na Olimpíada de 2000, as esportistas participaram de

25 das 28 modalidades da competição (MARTINS, 2009). Nos últimos Jogos Olímpicos,

realizados em Londres, em 2012, o Brasil levou 259 atletas dos quais 123 eram mulheres

(PORTAL BRASIL, 2012). Isso mostra que a cada nova Olimpíada as mulheres vêm

ampliando seu espaço.

Além das Olimpíadas, hoje também se tem a participação feminina na Copa do

Mundo de Futebol, que acontece desde 1971. Mas a participação das mulheres no futebol não

vem de agora. Remonta ao século XII quando o esporte ainda se encontrava em seus

primeiros momentos (MARTINS, 2009). Ainda segundo Martins, em 1894 teria sido fundado

o primeiro time de futebol feminino em Londres: as “Senhoras Britânicas”. Iniciativas como

essas incentivaram a criação de vários outros times pelo mundo.

As francesas, em 1910, criaram as equipes Rouge Esportive e Femina Esporte Paris.

No mesmo ano, 53 mil pessoas compareceram ao estádio Boston Park, para assistir a

um jogo feminino beneficente. Mais de mil pessoas ficaram de fora por falta de

espaço. O futebol feminino estava desabrochando (MARTINS, 2009, p. 18).

No Brasil, o futebol teria chegado na época da independência brasileira, trazido

por homens que vinham da Europa para trabalhar nos campos do país (GOELLNER, 2012).

Mesmo as mulheres jogando futebol ou praticando outros esportes, sua presença

[...] exercitando-se fisicamente se traduzia como uma novidade nesse tempo, pois

sob a égide do romantismo na literatura, as imagens associadas às mulheres

brasileiras eram imagens românticas. Mulheres lânguidas e gráceis, portadoras de

gestualidades comedidas e delicadas, cuja educação estava voltada,

prioritariamente, para o casamento e a maternidade. Essa imagem, mesmo que

fosse bastante divulgada na literatura e em outros espaços sociais, não perdurou por

muito tempo. Os médicos, em especial, os higienistas, iniciaram a proclamar os

benefícios que o exercício físico trazia para as mulheres proporcionando-lhes

melhores condições orgânicas não só para enfrentar a maternidade, mas, inclusive,

para embelezá-las (GOELLNER, 2012. s.p.).

Inicialmente, como aconteceu no restante do mundo, as mulheres brasileiras

praticavam esportes considerados femininos como ciclismo, turfe, remo, natação, tênis, e arco

22

e flecha. Esportes com mais contato – futebol, futebol de praia, futebol de salão, rugby,

halterofilismo, lutas, boxe, salto com vara, salto triplo, decatlo e pentatlo – não poderiam ser

praticados. Para reforçar essas interdições, foi criado, em 1941, o Conselho Nacional de

Desportos, que oficializou as proibições (GOELLNER, 2005).

Porém, mesmo com essas restrições, as mulheres não deixaram de realizar os seus

esportes, e, apesar de proibido, o futebol foi um deles. Em 1940, as mulheres, mesmo de

maneira tímida, formaram seus próprios times para competir. Verifica-se, aqui, que

mesmo que incipiente, a participação das mulheres no futebol representava uma

transgressão ao hegemonicamente aceito como constitutivo da identidade feminina

que tinha na imagem da mãe grande aceitabilidade. Lembramos que neste tempo o

corpo feminino é visto como um bem social a alojar a esperança de uma prole sadia.

(GOELLNER, 2005, p. 146).

Assim, além de ter que lutar dentro dos campos, as mulheres também precisavam

transpor as barreiras biológicas criadas pelos homens que olhavam, nas práticas esportivas,

um mal que poderia prejudicar as futuras gerações. Acreditava-se que os esportes poderiam

prejudicar a formação das crianças. Trata-se, novamente, da utilização do determinismo

biológico para impor limites às mulheres.

Contudo, não houve argumento que segurasse as mulheres e, em 1979, elas

conseguiram revogar as regras impostas pelo Conselho Nacional de Desportos, podendo dessa

feita, praticar livremente os esportes, entre eles, o futebol. Nos primeiros anos da década de

1980, já havia vários times e uma liga de Futebol Feminino de Praia no Rio de Janeiro. Em

1983, foi realizado o primeiro Campeonato Carioca de Futebol de Campo (GOELLNER,

2005).

Não demorou muito e, em abril de 1983, o Conselho Nacional de Desportos

reconheceu o futebol feminino como esporte oficial (GOELLNER, 2005). O futebol feminino

passou, então, de esporte praticado ilegalmente para esporte reconhecido e com competições

próprias, seguindo as mesmas regras do futebol masculino e com os mesmos benefícios.

Segundo a Fédération Internationale de Football Association (FIFA, 2012), “29

milhões de meninas e mulheres jogam futebol em todo o mundo”. No Brasil, destaca-se a

jogadora Marta Vieira da Silva, que já recebeu cinco vezes o prêmio de melhor jogadora do

mundo de futebol, concedido anualmente pela FIFA, maior instância do futebol em todo o

mundo. Neste ano, 2012, o Brasil tem concorrentes, tanto no feminino quanto no masculino.

Concorrem ao prêmio de melhor jogadora da FIFA as jogadoras: Camille Abily

(FRA), Miho Fukumoto (JPN), Carli Lloyd (USA), Marta da Silva (BRA), Aya Miyama

(JPN), Alex Morgan (USA), Megan Rapinoe (USA), Homare Sawa (JPN), Christine Sinclair

23

(CAN) e Abby Wambach (USA). Já no masculino concorrem 23 jogadores, entre eles, Lionel

Messi (ARG), Cristiano Ronaldo (POR) e Neymar (BRA), único brasileiro na lista.

Apesar de não ter sido fácil para as brasileiras praticarem esportes, em especial, o

futebol, atualmente, no Brasil, existe uma seleção brasileira de futebol feminino. Essa seleção

vem trilhando um caminho de bons resultados em Pan-Americanos e Copas do Mundo. Hoje,

há competições de futebol feminino, a exemplo da Copa do Brasil de Futebol Feminino que

neste ano foi vencida pelo São José (SP) e contou com 16 times inscritos5. Porém, muitas

brasileiras jogam em times profissionais em outros países onde a prática feminina do esporte é

mais desenvolvida, como Japão e Alemanha; é o caso da jogadora Marta.

No Ceará, as mulheres também estão presentes no futebol. Atualmente, existe no

estado a Liga Cearense de Futebol Feminino e a Federação Cearense de Futebol. No

Campeonato Cearense de 2012, participaram cinco times: Santa Cruz, Paracuru, América,

Caucaia e Pacatuba, segundo a Federação Cearense de Futebol.

Percebe-se que as mulheres desde muito cedo lutam para mostrar seu potencial e

que podem fazer as mesmas coisas que os homens. Foi assim na luta por melhores condições

de trabalho, na conquista de espaço no mercado de trabalho, na luta pelo voto e, finalmente,

na luta pelo direito de praticar esportes. Adiante, analisa-se a participação das mulheres no

telejornalismo esportivo, quando trata de assuntos ligados ao futebol. Antes, porém, discute-

se como este esporte está inserido na cultura brasileira. Tecem-se, ainda, algumas

considerações sobre o telejornalismo esportivo no Brasil.

5 Site oficial da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Disponível em:

<http://www.cbf.com.br/competicoes/copa-do-brasil-de-futebol-feminino/2012>. Acesso em: 22/10/2012.

24

3 FUTEBOL E O TELEJORNALISMO ESPORTIVO

Jornalismo é jornalismo, seja ele esportivo, político, econômico, social. Pode ser

propagado em televisão, rádio, jornal, revista ou internet. Não importa. A essência

não muda porque sua natureza é única e está intimamente ligada às regras da ética e

ao interesse público (BARBEIRO; RANGEL, 2012, p. 13).

Analisa-se, neste capítulo, como surgiu o futebol, quais as suas raízes, como

chegou a este continente e, principalmente, como se tornou tão conhecido e popular. Também

se relata como foi a sua chegada ao Brasil e Ceará. Essa retrospectiva se faz necessária para

que se possa mostrar como esse esporte faz parte da cultura nacional.

Após essas primeiras exposições sobre o futebol, traçam-se algumas reflexões

sobre o telejornalismo, seu desenvolvimento e suas origens, para, posteriormente, se fazer

uma análise do telejornalismo esportivo e da participação das jornalistas nessa área,

especialmente quando a cobertura se refere ao futebol.

3.1A história do futebol

Segundo pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística

(IBOPE) em 2011, o futebol é, juntamente com as telenovelas, a grande atração da televisão

aberta latino-americana.

Esse esporte, tão popular no país teria suas raízes em jogos praticados desde 206

a.C. na China (DAMASCENO, 2002), principalmente por militares; e tinha como regra se

jogar uma bola de couro com os pés. Para Damasceno (2002), essa prática existe desde o

império de Shih Huang-ti Che Houngti6 quando era utilizada como forma de interação. Já em

meados de 150 a.C. os romanos, ao invadir a Grécia, teriam gostado de um jogo chamado

episkuros, cujas regras eram muito parecidas com as do futebol atual. Esse jogo ficou muito

conhecido após a dominação da Grécia pelos romanos.

Dominadores do povo grego, os Romanos simpatizaram com o esporte e o levaram a

Roma, onde foi bastante difundido, alcançando outros povos dominados, e

difundido-o por grande parte do mundo conhecido da época, sob a denominação de

harpastum, que utilizava um campo retangular, com duas linhas de meta (ou de

fundo), com dada equipe se postando sobre uma destas linhas, e partindo no sentido

contrário, tentando alcançar primeiro a bola, que estava colocada na linha que

dividia o campo, e que era feita de couro de cabra ou ovelha, contendo em seu

interior (como a câmara de ar atual), uma bexiga, que era soprada até ganhar

condição de jogo (DAMASCENO, 2002, p. 13).

Como se pode observar, o jogo criado pelos chineses foi se aperfeiçoando e se

modificando até adquirir, em Roma (hoje, capital da Itália), um aspecto não só de jogo, mas

6 Imperador Chinês por volta de 2.500 anos a.C (antes de Cristo).

25

de regras muito parecidas com as do atual futebol. O jogo foi sendo transmitido entre os

povos e assim, incrementando cada vez mais o esporte, que foi se adequando à realidade e às

necessidades de seus praticantes.

Na Idade Média, também há indícios de um jogo parecido com o futebol. Este se

chamava cálcio e era praticado na região de Florença, na Itália. Tratava-se de um

esporte jogado em campo dividido ao meio, com equipes constituídas de 27

jogadores cada, com alguns jogadores, aqueles que atuavam mais próximo à linha de

meta, utilizando as mãos, e os demais, utilizando os pés, e também, os pontos, eram

contados cada vez que a meta, constituída por dois portes em cada uma das linhas de

fundo era ultrapassada. Também a bola de couro de cabra, com capim em seu

interior (DAMASCENO, 2002, p. 14).

Uma das partidas mais famosas de cálcio teria acontecido em 1529, em Florença,

quando esta estava sob o poder do príncipe de Orange. “Velhos rivais, as facções políticas

lideradas por Seglio Antinori e Dante Contiglione resolveram acertar suas diferenças em um

jogo de bola na Piazza Santa Croce.” (UNZELTE, 2009, p. 15). Até hoje os habitantes de

Florença reproduzem a partida.

Ao longo dos séculos, mais e mais jogos parecidos com o futebol foram surgindo

em todo o mundo. Um deles é o soule, criado e praticado nas regiões onde hoje se encontram

a França e a Inglaterra, cuja prática consiste em

[...] atletas que utilizavam as mãos ou os pés, dependendo de sua posição na equipe,

utilizando uma bola de couro recheada de farelo de milho, trigo ou feno, com regras

que permitiam a violência nas jogadas, como socos e pontapés, e permitindo em

alguns casos, que, até morte se verificasse como conseqüência dessa liberdade física.

(DAMASCENO, 2002, p. 14).

Contudo, devido a seu alto grau de violência, o então regente Rei Eduardo II

proibiu o soule de ser praticado. Porém, o esporte já se encontrava tão encaixado na cultura

inglesa que o decreto acabou por ser categoricamente descumprido por aqueles que

praticavam o esporte. Como o decreto de Eduardo II não fez efeito, seu sucessor, Eduardo III,

acrescentou na lei a pena de morte para aqueles que viessem a praticá-lo (DAMASCENO,

2002).

Mas o esporte encontrou seu jeito: mudou de nome e novamente se adaptou ao

momento, passando a se denominar burling over country, adotando novas regras que

refreassem as atitudes de violência de seus praticantes dentro das partidas. Com essas

medidas, o esporte foi ultrapassando a lei que impedia a prática do soule e não do burling

over country. Foi se difundindo, então, nas comunidades inglesas, principalmente, nas

universidades. Por volta de 1863, foi criada a Football Association para estruturar de maneira

mais organizada o esporte.

26

De acordo com Damasceno,

com a criação da Associação, e em acordo com a Universidade de Cambridge dando

integral apoio, o futebol nascia oficialmente com registro e tudo, em 26 de outubro

de 1863, e já sob controle da Football Association, começaram as disputas de

competições entre as cidades inglesas, e apareceram as primeiras variações táticas

do agora organizado esporte bretão (DAMASCENO, 2002, p. 16).

O primeiro grande torneio de futebol ocorreu em 1871, sob a denominação de

Copa da Inglaterra. “No ano seguinte, em 30 de novembro de 1872, Inglaterra e Escócia

empataram por 0 a 0 no que se considera a primeira partida internacional da história.”

(UNZELTE, 2009, p. 19).

Nesse período, as mulheres ainda não podiam participar de atividades esportivas,

pois, como já relatado nesta pesquisa, acreditava-se que o esforço físico poderia fazer mal às

mulheres, que eram tratadas como seres frágeis a ser mantidos em segurança para gerarem

filhos fortes e saudáveis. As mulheres só começaram a jogar futebol em meados de 1894,

quando foi criado, em Londres, o time “Senhoras Britânicas”.

No Brasil, os jogos de futebol feminino só foram liberados em 1979 e somente

após travarem uma grande batalha contra o Conselho Nacional de Desportos, que proibia a

sua prática por mulheres. Atualmente, o número de mulheres que praticam o esporte no Brasil

vem aumentando, contudo, ainda é pequeno se comparado ao de outros países.

[...] a presença feminina dentro das quatro linhas ainda busca a sua afirmação.

Segundo dados recentes da Confederação Brasileira de Futebol, o país tem cerca de

400 mil jogadoras, número irrisório se comparado ao de nossos jogadores

profissionais, ou então aos 12 milhões de atletas que pisam os gramados norte-

americanos [...] (FRANZINI, 2005. s.p.).

Já em meados de 1940, alguns times femininos podiam ser vistos, entre eles, o

Eva Futebol Clube e o Primavera F. C.. “Àquela altura, matéria do jornal paulistano Folha da

Manhã reconhecia a existência de dez equipes de senhoritas futebolistas „em franca e regular

atividade‟ na capital federal7”. (FRANZINI, 2005. s.p.).

Com toda essa estrutura e organização, o esporte foi se espalhando pelo mundo,

por meio dos estudantes e operários que, ao retornarem às suas casas, levavam consigo uma

bola e o livro de regras do novo esporte (DAMASCENO, 2002). Assim, de posse desses dois

objetos tão significativos para aqueles que fazem desse esporte seu divertimento ou profissão,

por volta de 1894, o esporte chegou ao Brasil.

Isso aconteceu quando um estudante brasileiro filho de ingleses, em retorno ao

Brasil após uma temporada na Inglaterra, iniciou aqui o esporte. Esse estudante era Chalés

7 Nessa época, a capital do Brasil era a cidade do Rio de Janeiro.

27

Miller, que, entusiasmado com o jogo aprendido em terras além-mar, convidou amigos,

vizinhos e colegas para participar do esporte.

Organizou treinos, mais tarde, jogos amistosos, e quando acreditou que a novidade

pegara, que passava a ser do agrado de todos, estimulou e conduziu o processo de

criação das entidades que iriam organizar os torneios, os campeonatos. É justo se

dizer que Chalés Miller era um fidalgo e o seu comportamento era um modelo para

os contemporâneos, além de ser em campo um dos maiores jogadores de futebol

(DAMASCENO, 2002, p. 21).

Essa afirmação também é feita por Pinto (2007, p. 37): “[...] começa com um

rapazote que, em regresso dos seus estudos na Europa, traz na bagagem um livro de regras,

uma bola de couro, e dois jogos de uniformes. Charles Miller [...]”.

No Brasil e no mundo, o futebol só tomou a forma que tem atualmente em 1904,

com a fundação da FIFA. Fundada pela Bélgica, Dinamarca, França, Países Baixos, Espanha,

Suécia e Suíça, essa organização detém o poder máximo sobre o esporte (DAMASCENO,

2002). No Brasil, quem representa essa autoridade é a Confederação Brasileira de Desportos

(CBF), criada em 1916, mas que já existia desde 1914, só que com a denominação de

Federação Brasileira de Sport. (DAMASCENO, 2002).

Atualmente, as regras do futebol consistem em um conjunto de 17 regras pré-

estabelecidas pela FIFA. São as mesmas para todo o mundo e em todas as competições

oficiais. Essas regras foram criadas em 1938 e de lá pra cá, são a base do jogo. Entre as

regras, encontram-se as medidas oficiais que devem ter os estádios onde os jogos são

executados. O campo de futebol deve ter no mínimo entre 45 a 90 metros de largura e 90 a

120 metros de comprimento, para jogos nacionais. Já para os jogos internacionais, o campo

deve ter de 100 a 110 metros de comprimento e de 90 a 75 metros de largura.

(DAMASCENO, 2002).

A FIFA também estabelece quantos jogadores podem jogar, quantas substituições

podem ser feitas em cada jogo. Conforme as regras atuais, em cada partida, cada time pode ter

em campo um total de onze jogadores, sendo que destes um deve ser o goleiro e pode, no

decorrer do jogo, fazer até três alterações. Nas partidas de amistosos, a quantidade de

jogadores é a mesma, mas podem ser feitas cinco alterações.

As regras tratam até mesmo do tamanho da bola que deve ser o mesmo em todas

as competições: de 68 a 70 centímetros. A bola deve ser esférica e pesar entre 410 e 450

gramas (DAMASCENO, 2002). Todas essas regras fazem do futebol um esporte não somente

de força física, mas também, de raciocínio e equilíbrio. As regras são as mesmas seja para os

jogos masculinos ou femininos. Isso demonstra que as diferenças biológicas não são

empecilhos para tal prática esportiva.

28

3.1.1 O futebol no Ceará

Do mesmo modo que chegou ao Brasil, esse esporte foi se expandindo pelo país.

Eram filhos de brasileiros que estudavam fora e, em suas estadias nas cidades natais,

apresentavam o novo jogo para os conhecidos; ou eram trabalhadores europeus que aqui se

estabeleciam para trabalhar nas fábricas e acabavam por disseminar o futebol.

(DAMASCENO, 2002).

Foi desse modo que o futebol se estabeleceu no Ceará, trazido primeiramente por

trabalhadores ingleses que, em seus momentos de folga, aproveitavam para jogar o já popular

futebol. Isso acontecia no ano de 1902, mesmo de maneira não oficial, já que não havia um

número de jogadores firmado ou um campo como mandam as regras. Mas, foi assim que os

fortalezenses conheceram o jogo inglês.

Oficialmente, ou de acordo com os registros, o primeiro jogo de futebol, com

respeito, às regras, com um referee (árbitro) em ação, aconteceu em 1903,

aproveitando a passagem de navio inglês por Fortaleza, em direção ao sul brasileiro.

Se nunca haviam convidado jovens para suas apresentações, desta vez, o pessoal

organizador da partida, tratou de chamar a população em geral, para ver aquela

exibição, apenas envolvendo estrangeiros, os do navio contra os que aqui

trabalhavam (DAMASCENO, 2002, p. 38).

“No Ceará, como em vários outros estados brasileiros, os primeiros jogos de

futebol foram disputados por marinheiros e empregados de companhias inglesas que

praticavam „rachas‟ pelas ruas da capital, sem ater-se muito às regras de jogo.” (FARIAS,

2005, p. 14). Percebe-se, pois, que o futebol chegou às terras brasileiras e cearenses cercado

pelo universo masculino dos trabalhadores das fábricas inglesas e dos estudantes que iam para

a Europa. No Ceará, um dos principais expoentes do futebol foi José Silveira, que trouxe

consigo uma bola e um livro de regras em 1904 (DAMASCENO, 2002).

Um ano após os ingleses jogarem a primeira partida em solo cearense aconteceu a

primeira partida entre brasileiros e ingleses. O jogo aconteceu em dezembro de 1904, entre o

time brasileiro Foot-Ball Club e o time inglês English Team, com o jogo tendo como

vencedor o time estrangeiro (DAMASCENO, 2002). Foi com essa mistura de trabalhadores

brasileiros e estrangeiros que o Brasil viu o esporte nascer.

No Brasil, é possível perceber que as primeiras partidas não foram tão elitistas

quanto se coloca; o caso cearense, portanto, não extrapola a realidade nacional. Com

o déficit de jogadores, a maior parte das primeiras partidas conglomerava

trabalhadores braçais e funcionários de empresas britânicas instaladas na República

(PINTO, 2007, p. 43).

Segundo Damasceno (2002), após esse primeiro jogo só se ouviu novamente falar

de um jogo em 1911, em uma partida entre o Ceará Futebol Clube e o América. Depois desse

29

momento, o esporte retornou com toda a sua força. O Fortaleza Sporting Clube foi criado um

ano depois, em 1912, por Alcides Santos, mas o nome seria mudado em 1915 para Stela, em

homenagem ao colégio em que a maioria dos jogadores estudou, só retornando à

denominação de Fortaleza em 1918 (DAMASCENO, 2002). Mais tarde, Alcides Santos

comprou um terreno para a construção de um campo para o Fortaleza

[...] onde construiu o Campo do Alagadiço para o seu Fortaleza, e ao mesmo tempo,

fundou e dirigiu interinamente a Liga Metropolitana Cearense de Futebol, em 1915,

e cinco anos depois, 1920, a transformaria na Associação Desportiva Cearense de

Futebol presidindo a sessão de mudança e a presidindo interinamente

(DAMASCENO, 2002, p. 46).

Em 1914, foi fundado o Rio Branco Foot-Ball Club, pelo estudante Luis Esteves

Jr, juntamente com um grupo de amigos. O Rio Branco se tornou no ano seguinte o Ceará

Sporting Clube, que, assim como o Fortaleza, existe até hoje. Foi também em 1914 que

ocorreu o primeiro grande campeonato de futebol, promovido pelos clubes.

Um campeonato como já estava existindo em vários estados do Brasil, que

enfrentava dificuldades iguais as nossas, mas as superavam e promoviam

competições [...] Naquele tempo, não havia cobrança de ingressos, o campo era

aberto, e ainda eram distribuídos licores no intervalo dos jogos [...] (DAMASCENO,

2002, p. 54).

Quando, em 1915, foi criada a Liga Metropolitana de Foot-Ball, o futebol

cearense já se organizava e realizava alguns jogos e até um campeonato. Além do Rio Branco

e do Fortaleza havia o Rio Negro, o Tabajara, entre outros times que ajudaram a difundir o

esporte não somente na capital cearense, mas também, no interior (DAMASCENO, 2002).

Mesmo com um campeonato realizado, uma liga montada, o futebol não recebia muita

atenção da mídia cearense.

“Embora fosse uma novidade que atraía muita gente aos jogos, o futebol não

tinha, entretanto, a merecida cobertura da imprensa, e no período de 1914 a 1920, eram

esporádicas as notícias publicadas pelos jornais da época.” (DAMASCENO, 2002, p. 56).

[...] por volta de 1914/15 [surgem] as primeiras notas de jornais noticiando partidas

de futebol. Quanto às anteriores, até o momento não foi possível recuperar e/ou

encontrar referências, nem aqueles que noticiem as primeiras partidas de 1903 e

1904 já citadas (PINTO, 2007, p. 51).

Observa-se que mesmo sendo praticado e assistido por muitos, o futebol ainda não

era tratado como notícia pelos jornais. Talvez, isso se desse pelo fato de o esporte ainda ser

amador nessa época, não atraindo investidores financeiros e nem o interesse daqueles que

faziam as notícias, fato que não acontece atualmente.

30

É comum, hoje em dia, um caderno especial destinado para esportes nos jornais

impressos, e um período (uma coluna) nos telejornais. Não estou afirmando que as

pessoas são “engolidas” pelo futebol. Entretanto, para não viverem ou não

perceberem notícias a respeito da prática do esporte, terão que driblar o que se

tornou comum – haja vista as exposições midiáticas durante o período de Copa do

Mundo de Futebol [...] (PINTO, 2007, p. 52).

Retornando à história do futebol cearense, chega-se ao ano de 1920, quando a

Liga se torna Associação Desportiva Cearense de Foot-ball (ADCF ou ADC). Porém, os

integrantes da nova associação não tiveram o cuidado de registrá-la devidamente, o que

acarretou, em 1936, um grande problema para o futebol cearense.

[...] inconformados com algumas decisões da Associação, o Ceará se manifestou

com críticas pesadas e como punição, foi afastado do campeonato, ganhando a

solidariedade do Maguary [...] Uma devassa completa constatou que a ADCF nunca

tinha se preocupado com a documentação, e que embora existindo de fato,

promovendo campeonatos desde 1920, ela de direito não existia. O grupo rebelado

buscou o apoio jurídico junto aos componentes de suas administrações que eram

expert em direito, reuniram os clubes interessados, aprovaram estatutos e

registraram a documentação [...] (DAMASCENO, 2002, p. 113).

Oficialmente, a Associação só começou a valer em 1936, porém, não durou muito.

Em 1941, cinco anos depois de oficializada, a ADCF passa a se chamar – por ordem de

decreto do então Presidente Getúlio Vargas – Federação Cearense de Desporto. Contudo, o

fato mais relevante do ano foi a inauguração do primeiro estádio de futebol do Ceará, o

estádio Presidente Getúlio Vargas (ou PV), que teve shows, partida de futebol, desfiles de

equipes esportivas, discursos e tudo mais que o evento merecia (DAMASCENO, 2007). A

criação do PV foi um grande acontecimento, pois até aquele momento não havia ainda um

“campo apropriado para a prática do futebol” no estado (DAMASCENO, 2002, p. 135).

Atualmente, o futebol cearense está mais organizado, com muito mais times

inscritos em seu campeonato estadual do que nos seus primeiros anos lá em 1914. Existem o

campeonato cearense principal e o de acesso. Há times do estado competindo na segunda

divisão (série B) do Campeonato Brasileiro, que é o campeonato nacional. Quanto à

infraestrutura, existem, hoje, dois grandes estádios: Presidente Vargas e Castelão (este último

irá receber alguns jogos da Copa das Confederações em 2013 e da Copa do Mundo em 2014),

além de outros espalhados por todo o interior do estado.

Como se percebe, o futebol evoluiu bastante no decorrer do tempo, passando de

amador para profissional, de jogo de trabalhadores para jogo de elite, mas a participação

feminina ainda continua tímida, bem como, são raras as coberturas do esporte quando

praticado por mulheres. Atualmente, há times e competições de futebol feminino, cujos feitos,

porém, são pouco noticiados. No Ceará, por exemplo, existe uma liga de Futebol Feminino e

competições, mas quase não se vê notícias sobre esse fato na mídia.

31

3.2 O telejornalismo esportivo

Atualmente, a televisão é o meio de comunicação mais utilizado pela população

brasileira. São 96,6% dos brasileiros assistindo à TV (SECOM, 2010). Mas, sua história é

recente no país, surgindo, a partir do desenvolvimento de outros meios de comunicação que

deram o suporte necessário para que a televisão pudesse engrenar seus primeiros passos.

(SQUIRRA, 1995).

O atual estado da arte da televisão não deve ser entendido isoladamente dos outros

meios de comunicação descobertos e desenvolvidos pelo homem. [...] A forma de

expressão, a linguagem e os recursos empregados pela televisão na produção dos

programas não apareceram com a sua descoberta. Mas, sim, a partir das conquistas e

aperfeiçoamentos de outros meios, como por exemplo: a literatura, o teatro, a

música e, sobretudo, o cinema e a fotografia (SQUIRRA, 1995, p. 19).

A TV foi evoluindo, aperfeiçoando-se e dominando o mundo. Em 1949,

Chateaubriand começou a fazer as primeiras instalações que dariam início, em 1950, à

primeira transmissão de televisão no Brasil (MATTOS, 2002).

Os equipamentos para as nossas primeiras emissoras chegaram no ano de 1949, com

Chateaubriand iniciando sua instalação sob muito mistério, quase às escondidas,

pois ele queria inaugurar a televisão no Brasil antes do México e de Cuba, países

que também instalaram a televisão no ano de 1950 (MATTOS, 2002, p. 171).

A primeira transmissão televisiva aconteceu em setembro de 1950, com a voz e o

rosto de Getúlio Vargas sendo propagados para todos que estivessem perto de um aparelho.

Depois desse primeiro momento, a TV foi se aperfeiçoando e novas emissoras surgiram e,

com isso, novos programas que tinham todo um modo diferenciado de serem elaborados,

sempre levando em consideração as características próprias do veículo.

Por ser a notícia na televisão uma mistura de som e imagem, ela não pode ser

muito descritiva e nem falar o óbvio, já que a imagem fala por si só, seguindo um processo

bem diferente dos utilizados para o jornal, revista e rádio. Nesses meios, utilizam-se mais os

aspectos descritivos, pois não se pode mostrar em sequência o que realmente está

acontecendo, fato que não acontece com a televisão, veículo em que texto e imagem tendem a

caminhar juntas, ofertando ao telespectador uma grande gama de possibilidades.

[...] a televisão é contemporânea ao fato. Pelas suas próprias características técnicas,

ela proporciona possibilidades de mostrá-lo logo depois de ele ter acontecido, quase

instantaneamente. Em vez de relatar o fato, ela o mostra em toda a sua dimensão.

Ela pode, assim, atingir quantidade muito maior de sentidos humanos, já que se

utiliza do movimento, da cor, do som, e de toda a dramaticidade do acontecimento

quase ao mesmo tempo em que ele se deu. Por isso pode se dizer que a televisão é

cômoda, já que ela não exige esforço por parte do telespectador. O mesmo não

acontece com o jornal impresso (SQUIRRA, 1995, p. 51).

32

O primeiro modelo de telejornalismo surgiu em 1939 nos Estados Unidos. “No

início eram apenas imagens paradas em preto e branco, ou seja, eram fotos ou mapas

ilustrando a notícia.” (BRAVO, 2009, p. 22). Assim, percebe-se que inicialmente a TV era

muito amadora. Não havia profissionais qualificados, por isso, a televisão passou a se utilizar

de profissionais do rádio e dos jornais (BRAVO, 2009).

Os telejornais dessa época tinham mais notadamente influência e características dos

programas de rádio. O apresentador ficava em frente à câmera e lia as notícias

escritas no script como um radiojornal. Assim sendo, as matérias e reportagens eram

longas e detalhadas. Nesse contexto, importantes programas de rádio foram

transferidos para a televisão [...]. (BRAVO, 2009, p. 22).

É nesse estilo engessado, sem movimento e de voz acentuada que surge, ainda na

década de 1950, o primeiro telejornal brasileiro, o “Imagens do dia”, da TV Tupi. Depois

dele, em 1952, outro grande jornal de sucesso foi o já conhecido no rádio, “Repórter Esso”,

que ficou no ar até a década de 1970. Esses programas tratavam de notícias variadas.

Como todos os meios de comunicação existentes no Brasil, a televisão também

passou por grandes problemas por causa da ditadura militar, pois alguns conteúdos eram

impedidos de serem veiculados. Porém, mesmo assim, esta se supera e cresce cada vez mais;

os telejornais também acompanham esse crescimento. Assim, apesar da censura e de outros

problemas, essa é uma das épocas em que as telecomunicações mais se desenvolveram no

país.

Na década de 70, o telejornalismo sofreu alguns problemas com a censura devido às

pressões do regime militar. No entanto, mesmo com dificuldade nas transmissões,

foi nessa época que ocorreram evoluções para o telejornalismo, como a chegada dos

equipamentos do videoteipe com fitas – ficando mais leves – o surgimento da

transmissão à cor e o início das transmissões ao vivo (BRAVO, 2009, p. 23).

Foi nessa época que o futebol viveu um de seus maiores momentos. Com todo o

crescimento tecnológico existente, pôde-se fazer a primeira transmissão em cores e o

momento escolhido foi justamente uma partida de futebol, sendo que, desde 1955, já se

transmitiam alguns jogos de futebol, só que, na época, em preto e branco.

A primeira transmissão da TV em cores foi a Copa do Mundo no México, 1970, na

qual o Brasil foi Tri-Campeão Mundial. Em 1983, com o fim da ditadura e a

abertura da imprensa, o telejornalismo voltou a ganhar força e reforço tecnológico.

Em 90 começavam os telejornais locais que tinham suas matérias reaproveitadas nos

telejornais nacionais (BRAVO, 2009, p. 23).

Com todo esse desenvolvimento, a TV se tornou uma grande fonte de informação

para a população. Em 1978, já existiam 14.825.000 aparelhos de TV no Brasil; em 1980,

havia 113 emissoras e o Brasil ocupava o sexto lugar no mundo em número de televisores.

(MATTOS, 2002).

33

Com o tempo, a televisão não parou mais de crescer e os aparelhos de TV foram

tomando conta do país, fazendo com que as emissoras fossem desenvolvendo cada vez mais

tecnologias e programas nas regiões onde estavam estabelecidas. Tanto que na década de

1990 já havia telejornais locais e nacionais, tornando as coberturas bem mais ampliadas.

Segundo pesquisa da Secretária de Comunicação da Presidência da República,

realizada em 2010, 68,8% da população assistem a até quatro horas de TV por dia. Entre os

principais programas visualizados estão os telejornais, com 64,6%, as novelas, com 16,4%, e

os programas esportivos, com 7,2%. Pode-se perceber, por essa pesquisa, que o esporte tem

um lugar especial na vida do brasileiro, tanto que aparece em 3° lugar em sua preferência.

Mas, antes de se fazer uma análise mais profunda sobre o tema, há primeiro que se entender o

que é o telejornalismo esportivo.

O jornalismo esportivo é uma especialização do próprio jornalismo. Com

linguagem e maneiras diferentes para abordar os assuntos, nessa área se tem certa liberdade

para trabalhar.

[...] a cobertura esportiva é realizada com ferramentas gerais, do próprio jornalismo,

e com ferramentas específicas do esporte. Isto é, as regras gerais (entrevistas com

fontes, formas de apreensão, construção do lead, apresentação do título, texto claro e

conciso, composição da página e outros valores exigidos pelos manuais de redação)

valem para todas as editorias (BORELLI, 2002, p. 10).

Isso significa que para ser um bom jornalista de esportes o necessário é ter

conhecimento e competência. Nesse caso, o sexo não deveria ser levado em consideração.

Ocorre que ainda existem poucas mulheres nessa editoria, questão que será analisada com

mais profundidade no terceiro capítulo desta pesquisa.

O jornalismo esportivo ainda

[...] acaba incorporando fatores característicos do esporte, como a descrição da ficha

técnica em jogos, o uso de expressões características do campo competitivo

(linguagem agonizante, de combate, mais despojada, em função do campo ser,

sobretudo, de entretenimento etc.) (BORELLI, 2002, p. 10).

Quando a TV brasileira ainda dava seus primeiros passos e tudo ainda era meio

amador, o esporte e, principalmente, o futebol já começavam a buscar o seu lugar no novo

veículo. Como já dito, em 1955 foi transmitida a primeira partida de futebol. O jogo era

Santos x Palmeiras; depois, veio Brasil x Inglaterra, com transmissão interestadual; os dois

veiculados pela TV Tupi (MATTOS, 2002).

Segundo Bravo (2009), essa preocupação com as transmissões esportivas tinha

um motivo: o alto interesse da população com a chegada da Copa de 1958, realizada na

Suécia e que teve o Brasil como campeão. Foi o futebol que também marcou um grande

34

avanço da TV no Brasil, pois foi durante a Copa de 1970, no México, que se teve a primeira

transmissão em cores no país. Vale mencionar que isso ocorreu em plena Ditadura Militar,

que, como dito anteriormente, foi uma época em que a televisão, do ponto de vista

tecnológico, mais se desenvolveu, apesar da censura.

Mas, para manter esse crescimento, as emissoras precisavam de anunciantes que

se baseiam na audiência para saber onde irão aplicar o seu dinheiro. Os meios de

comunicação, então, necessitavam elaborar estratégias para ampliar suas audiências. Essa

relação não vem de hoje; no início da TV no Brasil, um artifício muito utilizado foi produzir

programas cujos nomes eram de marcas famosas, a exemplo do “Repórter Esso”.

Com o futebol não poderia ser diferente. A TV e o futebol têm entre si uma

ligação quase de necessidade, pois os times precisam dela para mostrar seus shows ao mundo

e assim ganhar dinheiro, enquanto a TV precisa deles para trazer audiência à emissora.

[...] fator importante e inerente ao campo esportivo é o seu “poder” de mudar com

estruturas definidas dos jornais quando ocorrem os chamados “grandes

acontecimentos” gerando insumos para a mídia, como os Jogos Olímpicos, Copa do

Mundo, finais de campeonatos locais, regionais, nacionais, internacionais, mortes e

despedidas de ídolos esportivos etc (BORELLI, 2002, p. 8).

Atualmente, quase todas as emissoras têm, em sua grade de exibição, um

programa voltado para os esportes. “Na televisão, o esporte é uma das poucas práticas que

tem amplo espaço, com vários programas especializados.” (BORELLI, 2002, p. 9). Mas, se

analisarmos bem esses programas, podemos perceber que o conteúdo veiculado é basicamente

futebol. Isso quando ele já não é um programa exclusivo sobre futebol. As emissoras que não

possuem esse tipo de programação procuram mostrar pelo menos os resultados dos

campeonatos da semana ou do dia em seus telejornais locais ou nacionais.

O primeiro grande programa a ter o futebol como centro de seus debates foi o

“Mesa Redonda”, da TV Record, no qual os participantes ficavam em volta de uma mesa e

debatiam os assuntos ligados à rodada. Tinha como apresentadores Geraldo José de Almeida e

Raul Tabajara. Esse programa foi lançado em 1954 (BRAVO, 2009). Nesse período, as

mulheres ainda não tinham adentrado no mundo do jornalismo; como se verá mais adiante,

essa inserção só ocorrerá alguns anos mais tarde.

Do primeiro programa até hoje, muita coisa mudou. Para Coelho (2003),

atualmente o jornalismo esportivo se tornou quase um show no qual, por muitas vezes, a

notícia fica de lado, pois o que importa é a audiência obtida.

Segundo esse autor, todos os elementos para produzir uma matéria estão lá, mas

isso nem sempre acontece.

35

Tudo está lá. Assim como estão o mau estado do gramado, o erro do árbitro, a

atuação bizarra de um jogador. Todos os elementos para construir uma boa matéria

jornalística estão ali, à disposição das câmeras dos locutores, comentaristas e

repórteres. É só usar o microfone e salientar o que há de bom, mostrar o que há de

ruim. Nenhuma matéria está tão escancarada diante do jornalista quanto o evento

esportivo. E, no entanto, é a matéria jornalística o que menos aparece em

transmissão. Tudo o que importa, afinal, é o show dos locutores e repórteres.

(COELHO, 2003, p. 64).

Talvez isso aconteça porque, atualmente, o direito de se transmitir um jogo ou

campeonato é vendido com antecedência, tornando as partidas algo lucrativo e que “não

devem ser desvalorizadas” (COELHO, 2003, p. 65).

O futebol tornou-se um produto lucrativo tanto para quem joga como para quem

transmite, não somente no Brasil, mas também no resto do mundo. Com todo esse aparato de

divulgação, até mesmo quem não gosta de futebol acaba sabendo pelo menos o nome do

campeão brasileiro.

No próximo tópico, pretende-se aprofundar um pouco mais nesse grande campo

do jornalismo, voltando-se, no entanto, para a questão principal desta pesquisa, que consiste

em analisar como as jornalistas estão atuando nessa área específica do telejornalismo.

3.3 Telejornalismo esportivo e as jornalistas

Verificou-se, no âmbito deste trabalho, que as mulheres tiveram (e ainda têm) que

lutar bastante para receber o mesmo reconhecimento que seus colegas de trabalho recebem,

sem distinção, sem que seu trabalho seja qualificado como bom ou ruim apenas pelo fator

biológico; mas sim, pelo conteúdo apresentado.

Também foi constatado que, antes da década de 1970, poucas eram as mulheres

que trabalhavam nas redações e revistas. Realidade que se alterou quando o diploma de

jornalista passou a ser exigido para o exercício da profissão. Foi nesse momento em que a

mulher, na época com mais estudos que os homens, começou a adentrar no mercado

jornalístico. Contudo, essa inserção não abrangia todas as áreas do jornalismo.

[...] as mulheres entravam nas redações confirmando o seu papel feminino,

ocupando espaço nos cadernos ou revistas femininas, nas seções de moda, de

receitas culinárias, de conselhos sobre educação infantil e comportamento familiar,

ou escrevendo crônicas e contos voltados para o público feminino. Os assuntos

“sérios” eram reservados para os homens (ABREU, 2006, p. 11).

Vê-se que a entrada da mulher nas redações não representou uma emancipação

feminina e muito menos uma equidade entre os gêneros. Na verdade, nesse período, as

mulheres eram destinadas a trabalhar em algumas editorias não por sua experiência ou

competência no assunto, mas sim, por se acreditar que certos assuntos eram espaços

36

femininos. Era quase impossível ver mulheres em editorias de economia, política, polícia,

consideradas editorias de assuntos complexos e de difícil abordagem.

Entretanto, mesmo nessa época e nessas editorias, algumas mulheres conseguiram

mostrar que o profissionalismo é o que realmente importa, a citar Albeniza Garcia, que fazia

reportagens policiais para o jornal “O Globo” e Adalgisa Nery, que trabalhou na editoria de

política do jornal “Última Hora” (ABREU, 2006). Já na editoria de esporte,

[...] as mulheres, na maior parte, são encaminhadas para as editorias de esportes

amadores. É mais fácil demonstrar conhecimento sobre vôlei, basquete e tênis do

que sobre futebol e automobilismo. Território onde o machismo ainda impera [...].

(COELHO, 2003, p. 35).

Esse pensamento – de que há editorias mais apropriadas às mulheres e outras não

– é simplesmente baseado em senso comum, tendo em vista que não há nada que prove que

esses temas sejam mais fáceis de serem trabalhados por mulheres do que outros. Parece,

também, encontrar eco nas ideias fomentadas pelo determinismo biológico.

Assim, o que se percebe é que as mulheres até podiam atuar na editoria de esporte,

mas trabalhar com futebol já era outra coisa. É como se elas não tivessem capacidade para

adquirir o conhecimento necessário para tratar desse tema. Contudo, Barbeiro e Rangel (2012,

p. 20) afirmam que “em qualquer área do jornalismo, o repórter é o elemento mais importante

na cadeia de produção. E no esporte isso não é diferente [...]”. Assim, para trabalhar na

editoria de esporte não precisa ser homem; tem que ser, antes de tudo, um bom jornalista,

qualidade essa não inerente ao gênero, pois nada tem a ver com o sexo, mas com a formação

adquirida e a dedicação profissional.

A primeira mulher a enfrentar esse determinismo existente nas redações

esportivas foi Maria H. Rangel no jornal “Gazeta Esportiva” em 1947 (PRIZIBISCZKI,

2007).

[...] a redação do recém-lançado jornal Gazeta Esportiva recebeu a visita de uma

bela jovem, de cabelos escuros e curtos, voz macia e olhos doces. Nenhum dos

jornalistas que ali estavam poderia imaginar que a moça, chamada Maria Helena

Nogueira Rangel, era a mais nova contratada do veículo, a primeira mulher a cobrir

a área de esportes no Brasil [...] (PRIZIBISCZKI, 2007, s. p.).

Na redação esportiva de TV, tem-se a jornalista Isabela Scalabrini como a

primeira repórter a trabalhar na Rede Globo nesta editoria, tendo desenvolvido seus primeiros

trabalhos no “Globo Esporte”, do Rio de Janeiro.

Scalabrini entrou na emissora, no início da década de 80, pelo programa de estágios

e era a única mulher no departamento de esportes. [...] No começo teve dificuldades

para cobrir o futebol que ainda era destinado apenas para os homens na redação.

(BRAVO, 2009, p. 27).

37

Coelho (2003) ressalta também outras jornalistas que, para ele, são destaques em

superação e profissionalismo: Isabel Tanese, que ficou à frente do Jornal Estado de São Paulo

e, na TV, a jornalista, Kitty Balieiro, da ESPN Brasil8, comentarista de futebol. Atualmente, é

cada vez mais comum haver mulheres trabalhando nas editorias de esporte. Mas, segundo

Coelho (2003), apenas cerca de 10% das redações de esporte têm mulheres.

À medida que a presença das mulheres nas redações se tornou rotineira, a surpresa e

a desconfiança forçosamente diminuíram. Se a rotina acabou com o espanto, o que a

cada dia derruba o preconceito e a discriminação é a competência e a garra das

mulheres em seu trabalho [...]. (ABREU, 2006, p. 13).

Nos telejornais especializados em esporte, nota-se facilmente a presença de

mulheres nos mais diversos papéis, desde esportistas até jornalistas. Se se analisar somente os

telejornais esportivos do Ceará, logo se verá a presença feminina. Assim, alguém que assiste

ao Globo Esporte Ceará, programa estadual da Rede Globo, verá a jornalista Mariana Sasso

não só na apresentação como também fazendo reportagens.

Na TV Cidade, no programa Esporte Cidade, há a jornalista Ana Cláudia

Andrade e, na TV Jangadeiro, Fabiane Kaszan faz parte da equipe do programa Jangadeiro

Esporte Clube. Apesar disso, elas ainda são em menor número.

Com esses dados, pode-se perceber que mesmo com todo o preconceito existente,

as mulheres estão crescendo dentro dessa editoria, falando com autoridade sobre futebol, tema

considerado masculino. Percebe-se que o público começa a não considerar tão estranho uma

mulher em um programa sobre futebol. Contudo, mesmo as mulheres tendo mais espaço nessa

editoria, ainda se fala muito pouco ou quase nada do futebol feminino, ou seja, os

preconceitos e as dificuldades não desapareceram por completo.

Refletindo-se sobre a presença das jornalistas nas reportagens ligadas ao futebol,

no próximo capítulo fazemos um comparativo entre os comentários feitos pelos jornalistas

homens e mulheres, no Globo Esporte Ceará, coletadas durante o mês de junho, período em

que o Campeonato Brasileiro de Futebol de 2012 estava em andamento.

Esse campeonato é o mais importante do Brasil, pois inscreve times de todo o

país; é dividido em séries A, B, C, D, sendo a série A a mais importante, seguida (em ordem

alfabética) pelas demais. Atualmente, o estado do Ceará tem times nas séries B, C e D.

Os programas analisados são referentes ao mês de junho de 2012 e estão

disponíveis no sítio eletrônico do Globo Esporte Ceará9. Os vídeos disponibilizados não são

do programa na íntegra, mas das matérias principais, pois não foi possível conseguir o

8 Canal de televisão fechado dedicado somente ao mundo dos esportes. Atua no país desde 1989 e está presente

em 3,5 milhões de lares (ESPN, 2009).

9 Matérias disponíveis em: <globoesporte.globo.com/ce/vídeos>. Acesso em: 24/11/2012.

38

material na íntegra junto à TV Verdes Mares, emissora que veicula o programa. Assim sendo,

foi escolhido todo o mês de junho para se obter uma quantidade relevante de material a ser

analisado.

Contudo, como o material se encontra na internet, não se tem como garantir por

quanto tempo os vídeos permanecerão disponíveis.

39

4 ANÁLISE DO PROGRAMA “GLOBO ESPORTE CEARÁ”

Antes da análise propriamente dita, este capítulo pretende apresentar a estrutura

do programa Globo Esporte Ceará, objeto deste estudo; quem trabalha nele e suas rotinas.

Relata-se, também, um pouco de sua história e origem. Essas informações servem para

contextualizar o programa, além de dar apoio à análise.

Mostra-se também a metodologia, apresentando todo o caminho percorrido por

esta pesquisa para a sua concretização desde seu início, o modo como foram realizadas as

pesquisas, as entrevistas e a descrição dos programas utilizados, para melhor compreensão da

proposta deste trabalho. Esses relatos fazem-se necessários porque somente a partir de um

bom planejamento é que se pode desenvolver um bom trabalho de pesquisa.

4.1 Caminhos percorridos

Esta pesquisa se utilizou de alguns métodos específicos para seu

desenvolvimento, organizados de maneira que esta pudesse cumprir seu objetivo, que consiste

em analisar o telejornalismo esportivo no Ceará e a participação feminina em seu âmbito com

foco nos comentários feitos. Para que assim fosse, reuniu-se toda uma gama de matérias para

análise, já que esta pesquisa trabalha com o método da análise do conteúdo.

Para se compreender cada um dos passos encetados para o bom andamento da

pesquisa, primeiramente, deve-se entender o que vem a ser metodologia. Em uma explicação

superficial, metodologia é o “conjunto de métodos, regras e postulados utilizados em

determinada disciplina e sua aplicação.” (FERREIRA, 2001, p. 460). Porém, essa exposição

não mostra a realidade da metodologia, que é muito mais ampla.

Assim, pode-se compreender que a metodologia é aquela estrutura que irá

coordenar todo o trabalho a ser desenvolvido, guiando o pesquisador durante todo o seu

processo acadêmico. O pesquisador escolhe o que considera o melhor método para aplicar em

seu trabalho e a escolha certa faz com que consiga desenvolver um bom trabalho.

Pensando na melhor maneira de desenvolver esta pesquisa, trabalhou-se com

alguns métodos bem específicos: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, entrevista,

pesquisa de campo e análise de conteúdo qualitativa e quantitativa. Para se compreender as

razões pelas quais esses métodos foram escolhidos, faz-se necessária uma breve explanação

sobre eles.

A análise de conteúdo surgiu nos Estados Unidos e “seus primeiros experimentos

estavam voltados para a comunicação de massas” (GOMES, 2003, p. 74); servia para se fazer

40

uma análise quantitativa das mensagens veiculadas. Porém, ela ficou muito conhecida por ser

“[...] empregada na análise de temas como racismo, a violência e a discriminação contra

mulheres [...]” (MACNAMARA, 2003, apud HERSCOVITZ, 2008, p. 124).

Assim, pode-se entender que a análise do conteúdo serve para

[...] descrever e classificar produtos, gêneros e formatos jornalísticos, para avaliar

características da produção de indivíduos, grupos e organizações, para identificar

elementos típicos, exemplos representativos e discrepâncias e para comparar o

conteúdo jornalístico de diferentes mídias em diferentes culturas (HERSCOVITZ,

2008, p. 123).

Segundo Gomes (2003, p. 74), “os empregos da análise do conteúdo podem ser

variados.”, aplicando-se a

[...] obras de um romancista para identificar seu estilo e/ou para descrever a sua

personalidade; analisar depoimentos de telespectadores que assistem a uma

determinada emissora ou de leitores de um determinado jornal para determinar os

efeitos dos meios de comunicação de massa [...]. (GOMES, 2003, p. 74).

“Os pesquisadores que utilizam a análise do conteúdo são como detetives em

busca de pistas que desvendem os significados aparentes e/ou implícitos.” (HERSCOVITZ,

2008, p. 127). Foi justamente por esse motivo que essa metodologia foi escolhida, porque este

trabalho pretende mostrar, em dados, a participação da mulher no telejornalismo, mas tendo

como base o telejornal “Globo Esporte Ceará”.

No tocante às etapas empreendidas para o alcance dos objetivos propostos, a

primeira dentre elas consistiu em delimitar o espaço temporal do material a ser pesquisado. O

período definido foi o mês de junho, início do Campeonato Brasileiro de 2012, porque marca

a transição de um campeonato para outros, de um regional (Campeonato Cearense) para um

nacional (Campeonato Brasileiro).

A análise de conteúdo tem duas vertentes: as análises quantitativa e qualitativa;

neste trabalho, utilizaram-se as duas. A análise qualitativa busca a qualidade do que se está

pesquisando, permitindo uma pesquisa mais aprofundada; e a quantitativa coloca em números

os dados coletados.

Com relação às técnicas de coleta de dados, optou-se pela utilização da entrevista,

que, segundo Duarte (2008, p. 62), “tornou-se técnica clássica de obtenção de informações”.

Por essa razão, adotou-se esse método para se conseguir informações que não seriam obtidas

de outra maneira que não fosse por meio de entrevistas. Estas são divididas em abertas,

semiabertas e fechadas (DUARTE, 2008), sendo todos os tipos utilizados neste trabalho. A

entrevista aberta foi feita com o jornalista e chefe de esportes, Paulo César Norões, concedida

em 23 de agosto desse ano. Por ser aberta, ela é

41

[...] essencialmente exploratória e flexível, não havendo seqüência predeterminada

de questões ou parâmetros de respostas. Tem como ponto de partida um tema ou

questão ampla e flui livremente, sendo aprofundada em determinado rumo de acordo

com aspectos significativos identificados pelo entrevistador enquanto o entrevistado

define a resposta segundo seus próprios termos, utilizando como referência seu

conhecimento, percepção, linguagem, realidade, experiência (DUARTE, 2008, p.

65).

Outro tipo de entrevista usada foi a semiaberta: “modelo de entrevista que tem

origem em uma matriz, um roteiro de questões-guia que dão cobertura ao interesse de

pesquisa [...]. A lista de questões-guia pode ser adaptada e alterada no decorrer das

entrevistas.” (DUARTE, 2008, p. 66). Esse modelo de entrevista foi utilizado com Mariana

Sasso no dia 3 de outubro de 2012. Já com Fábio Pizzato, utilizou-se a entrevista fechada, que

acontece quando a esta é feita “[...] a partir de questionários estruturados [...].” (DUARTE,

2008, p. 67).

Todas essas entrevistas serviram para mostrar como funciona a redação, como

acontece a participação das jornalistas e se identificar como são as relações de trabalho entre

os homens e as mulheres no programa esportivo Globo Esporte Ceará, produzido e

transmitido pela TV Verdes Mares.

Contudo, para embasar ainda mais esta investigação, achou-se por bem realizar

uma pesquisa documental, com o intuito de conseguir as edições a serem analisadas, visto que

a emissora em questão não cedeu as edições solicitadas. Para tanto, trabalhou-se com fontes

secundárias de dados, recolhidas no sítio eletrônico da emissora em 24 de novembro de 2012.

As fontes da análise documental frequentemente são de origem secundária, ou seja,

constituem conhecimento, dados ou informação já reunidos ou organizados. São

fontes secundárias a mídia impressa (jornais, revistas, boletins, almanaques,

catálogos) e a eletrônica (gravações magnéticas de som e vídeo, gravações digitais

de áudio e imagem) e relatórios técnicos (MOREIRA, 2008, p. 270).

Assim, pode-se compreender a análise documental como um dos métodos de

pesquisa mais necessários, pois são os documentos que irão dar apoio básico de conhecimento

para o pesquisador, são os documentos que, sejam escritos ou gravados, ajudam a orientar o

trabalho.

Como já relatado, todos esses métodos aqui explicados foram utilizados por esta

pesquisadora. Contudo, o caminho percorrido para a obtenção dos materiais (entrevistas,

edições e documentos) foi trabalhoso, principalmente em relação aos vídeos dos programas

para se fazer a análise. É interessante observar que não são de fácil acesso os acervos de

programas televisivos por ser propriedade das emissoras.

As entrevistas trabalhadas nesta pesquisa foram obtidas pessoalmente, após

contato telefônico e por e-mail; os entrevistados não ofereceram dificuldade para o

42

agendamento e responderam às perguntas e aos tópicos propostos, de maneira espontânea e

dedicada. Todas as entrevistas realizaram-se em dias diferentes para que esta pesquisadora

pudesse dar total atenção aos dados que estavam sendo coletados.

Os entrevistados foram escolhidos primeiramente por fazerem parte da equipe do

programa. No caso da entrevista com Mariana Sasso, a escolha por esta jornalista se deu pelo

fato de ela ser a única mulher no Globo Esporte Ceará e por trabalhar há muito tempo na área.

No caso do Chefe de esportes, Paulo César Norões, sua escolha deveu-se ao fato de ele estar

na direção do programa, também, há muito tempo, de ser homem e de conhecer melhor a

história e a rotina do programa. Já com Fábio Pizzato, os motivos foram por ele ser colega de

trabalho de Sasso e estar trabalhando ao seu lado desde o seu ingresso no programa.

A entrevista com a jornalista Mariana Sasso foi aplicada na manhã do dia 3 de

outubro de 2012, na redação do programa, na sede da TV Verdes Mares. Já a com Paulo

César Norões foi feita no dia 23 de agosto de 2012, também na sede da emissora, no horário

da manhã. A última entrevista obtida foi com o produtor de esporte Fábio Pizzato, realizada

na sede da TV Verdes Mares, na manhã do dia 22 de novembro de 2012. Esta última foi um

pouco conturbada, pois o entrevistado encontrava-se fechando a edição do programa que seria

exibido naquele mesmo dia, mas, mesmo assim, respondeu a todos os questionamentos feitos.

Com relação à obtenção dos programas para a realização desta pesquisa, houve

grandes dificuldades já que a emissora, infelizmente, não disponibilizou o material necessário.

Por esse motivo, teve-se que modificar a proposta inicial, que era de trabalhar com o

Campeonato Cearense e procurar outras formas para que a pesquisa pudesse prosseguir sem

sofrer prejuízos.

A alternativa encontrada foi utilizar os vídeos disponibilizados pela emissora na

Internet, que, no entanto, não contemplam o programa na íntegra, como já dito. Por essa

razão, optou-se por avaliar um período maior para se obter uma amostragem significativa.

4.2 O programa

O Globo Esporte é o programa de esportes semanal da Rede Globo de Televisão,

veiculado no canal aberto desde 1978. Inicialmente exibido de segunda à sexta-feira às 12h50,

desde 1983 também é apresentado aos sábados; tem duração de 40 minutos.

O programa trata, principalmente, de assuntos ligados ao futebol. No entanto,

desde o início, tinha a proposta de tratar de outros assuntos ligados ao mundo dos esportes,

realizando reportagens sobre boxe, natação e surf. O primeiro grande evento acompanhado

pelo programa foram os Jogos Olímpicos de Moscou em 1983 (GLOBO, 2012).

43

No começo, o Globo Esporte era apresentado pelos jornalistas Fernando Vanucci

e Leo Batista. A participação feminina começou em 1980, com a jornalista Isabela Scalabrini,

primeira mulher a fazer parte da equipe de esportes da TV Globo. Alguns anos depois, em

1991, foi a vez da jornalista, Mylena Ciribelli, integrar a equipe do programa (BRAVO,

2009).

No Ceará, o Globo Esporte é transmitido desde 1991, sendo que na época dois

blocos eram apresentados e distribuídos pelo Globo Esporte nacional e somente um bloco era

destinado à apresentação e notícias regionais (NORÕES, 2012)10

. O Globo Esporte local já foi

apresentado pelos jornalistas Vitor Hannover, Fábio Pizzato, Carla Fernandes e, atualmente, é

apresentado por Mariana Sasso. Antes do Globo Esporte Ceará, a TV Verdes Mares já

transmitia um programa de esporte, o Esporte 10, de 1980 (NORÕES, 2012).

Atualmente, o Globo Esporte nacional está dividido por regiões em todo o país.

Cada afiliada11

produz seu programa com autonomia sobre sua transmissão. Trata-se do caso

do Ceará, cujo programa é produzido e transmitido pela afiliada da Globo no Estado, TV

Verdes Mares.

Ele [Globo Esporte Ceará] é completamente feito aqui. A Globo envia diariamente

uma lista com imagens e matérias que podemos usar, porém, nós é que decidimos o

que vamos colocar. [...] Como a apresentação é toda feita aqui, possibilita uma

melhor interação com o público, pois podemos trazer matérias que realmente são

importantes para o público. [...] Há cerca de 1 ano e 2 meses é que o programa está

sendo todo elaborado aqui (NORÕES, 2012).

No Ceará, o programa segue os mesmos padrões dos outros apresentados nas

demais regionais. Inicia às 12h50min (hora local). Com 40 minutos de duração, está dividido

em três blocos nos quais há uma mescla de notícias locais sobre esportes, mas com um foco

maior no futebol. “O programa tem três blocos e muitas vezes o Globo Esporte Ceará já está

no ar e ainda estamos verificando o espelho12

.” (NORÕES, 2012).

Atualmente, o programa é composto por duas equipes que se revezam para

produzir as matérias. O Globo Esporte Ceará (GECE) tem, atualmente, como

apresentadora/repórter e produtora a jornalista Mariana Sasso. Há também os

produtores/repórteres Alysson Oliveira e Luís Costa; o jornalista/apresentador Fábio Pizzato;

o repórter Antero Neto e o chefe de esportes Paulo César Norões. Além de outros repórteres

da casa que fazem matérias esporádicas.

10

Paulo César Norões é editor de esportes do Globo Esporte Ceará. Entrevista concedida em 23 de agosto de

2012 a esta pesquisadora. 11

Redes afiliadas são aquelas que “se vinculam a rede por contratos de compra e venda de serviços de

comunicação com a emissora- líder”; que, no caso da TV Verdes Mares, é a Rede Globo (SQUIRRA, 1995, p.

44). 12

O espelho "é a relação e a ordem de entrada das matérias no telejornal”. (GOLDSCHMIDT, 2012, p. 97).

44

Para se entender melhor o seu funcionamento, no próximo tópico abordam-se as

rotinas de produção, o modo como funciona o programa e sua hierarquia organizacional.

Esses dados servirão para que se possa observar como as matérias são divididas entre os

jornalistas.

4.2.1 Rotina de produção

Toda e qualquer empresa segue uma organização para funcionar, não importa o

seu tamanho, o que significa que as emissoras de TV e seus programas também seguem uma

estrutura organizacional para poder funcionar. Os programas de telejornalismo seguem uma

mesma estrutura de organograma, variando, em alguns casos, somente os nomes dados às

funções. Não importa o assunto tratado, se sua base é informar por meio de reportagens e

matérias jornalísticas, o organograma é basicamente o mesmo.

Uma redação de qualquer tamanho terá o mesmo conceito estrutural. O que varia é o

número de pessoas para as tarefas que são essencialmente as mesmas em qualquer

emissora. [...] O básico é que os papéis sejam distribuídos pelas chefias individual e

cuidadosamente. [...] Cada pessoa deve ter clara qual é a sua responsabilidade e

entender, sem dúvidas, qual é a sua atribuição (CURADO, 2002, p. 27).

A estrutura base de um telejornal é composta por “Chefe de Jornalismo, Chefia de

Redação, Chefe de Reportagem, Supervisor de Imagens, Apurador” (CURADO, 2002, p. 28).

No caso do GECE, essas funções ganham outras denominações e como o programa tem uma

supervisão da Rede Globo, algumas são de caráter nacional. Sua estrutura é formada por:

Diretor, Diretor executivo, Editor-chefe nacional, Editor no Ceará, Editores nacionais,

Produtores no Ceará, Produtor nacional, Chefes de reportagem, Editor-chefe de conteúdo,

Chefe de produção, Chefe de redação, Chefe de esportes13

e repórteres.

Cada uma dessas funções é importante para o bom funcionamento tanto da

emissora quanto do programa e tem uma delimitação e uma obrigação dentro da estrutura. O

editor-chefe “é o profissional que coordena a equipe, define o destaque e relevância das

matérias, orienta o enfoque, calcula gastos, escolhe os jogos a serem transmitidos.”

(BARBEIRO; RANGEL, 2012, p. 64). No GECE, o editor-chefe nacional é o jornalista

Afonso Garschagem.

Entende-se o Chefe de reportagem como “a base operacional do telejornalismo. A

chefia de reportagem tem o completo controle e conhecimento de todos os meios materiais à

disposição da reportagem: pessoal e equipamento.” (CURADO, 2002, p 30). Esse cargo é

ocupado pelas jornalistas Larissa Fernandes e Kélvia Ribeiro, que não fazem parte da equipe

fixa do programa, já que exercem o cargo de maneira ampla, ou seja, não somente no GECE,

13

Dados retirados do Globo Esporte Ceará, edição veiculada no dia 25 de setembro de 2012.

45

mas também em outros programas jornalísticos da emissora. É interessante observar que,

hoje, há mulheres em cargos de chefia, o que parece apontar para avanços nas redações no

que se refere às questões de gênero.

Os produtores/repórteres são: Mariana Sasso, Alysson Oliveira e Luís Costa. É

esse profissional que “dá o primeiro passo para a materialização da pauta.” (CURADO, 2002,

p. 44). São eles que marcam as entrevistas quando necessário; é função do produtor cuidar

para que a matéria saia corretamente.

O produtor no telejornalismo, no pior entendimento da função, é a “babá” do

repórter. Fica nas mãos da produção realizar as marcações – isto é, encontrar os

entrevistados, fazer o levantamento das imagens, visualizar a matéria antes que a

equipe vá para a rua (CURADO, 2002, p. 44).

Outro cargo existente no GECE é o de Chefe de esportes, cargo ocupado por

Paulo César Norões. O Chefe de esportes verifica e faz as cabeças14

, ajuda e coordena a

equipe; ele é o chefe responsável.

Atualmente, as duas equipes que formam o GECE trabalham em um espaço onde

também funciona o CETV (telejornal local) e o Globo Esporte CE on-line. As reuniões de

pauta, nas quais se definem todos os assuntos/matérias que serão abordados pelo programa,

acontecem todas as segundas-feiras no período da tarde, após o término da edição do dia. É

feito, sempre, um planejamento para a semana toda, o que, segundo Norões (2012), facilita o

trabalho no decorrer dos dias.

As matérias são gravadas ao longo dos dias, algumas são de um dia para outro,

principalmente na quinta-feira, quando se fala muito dos jogos ocorridos no dia anterior. A

equipe de reportagem é amparada por uma estrutura tecnológica avançada que facilita o

trabalho de todos os profissionais.

Hoje trabalhamos com a tecnologia HD o que facilita na hora de editar as matérias,

tanto as regionais quanto as nacionais, por exemplo, as matérias chegam vão para o

servidor e depois para um banco de dados, que pode ser acessado por todos sem

problemas (NORÕES, 2012).

Além de toda a tecnologia o programa tem à sua disposição duas salas de edição e

um estúdio próprio para as gravações do programa que acontece ao vivo. Quando o programa

está no ar, há todo um controle da equipe, que se divide entre o switch15

, o estúdio de

gravação e o acompanhamento do programa. Cada um dos envolvidos nesse processo utiliza

14

“É sempre lida pelo apresentador e dá o gancho da matéria”. (GOLDSCHMIDT, 2012, p. 93). 15

“Sala de controle onde ficam o diretor de TV, o sonoplasta e o editor-chefe do telejornal no momento em que

este está no ar.” (GOLDSCHMIDT, 2012, p. 100).

46

um ponto eletrônico que vai transmitindo informações para todos, a fim de evitar problemas

durante a exibição.

4.2.2 Mariana Sasso: a presença feminina no Globo Esporte Ceará

Verificou-se que as editorias de esportes, desde 1970, estão cada vez mais

incorporando as jornalistas. No GECE não é diferente. Já passaram, pelo programa,

profissionais do jornalismo cearense como: Carla Fernandes e Carla Soraya. Atualmente,

Mariana Sasso é quem comanda o programa.

[...] na minha época já tinham algumas mulheres que tinham tido passagens rápidas

pela profissão. A Carla Soraia já tinha apresentado por um tempo o Globo Esporte; a

Carla Fernandes... Todas elas foram apresentadoras interinas, mas nunca a

apresentadora oficial do programa (SASSO, 2012)16

.

Sasso, atualmente, é a única mulher na equipe do GECE e acumula funções de

produtora, jornalista e apresentadora, além de ser a produtora executiva do programa no

Ceará. Assim sendo, é ela quem comanda toda a produção de esportes na TV Verdes Mares.

Eu sou produtora executiva do jornal, então todas as pautas quem fecha sou eu [...]

eu tenho que fazer toda a programação da semana inteira, tenho que pautar todos os

meninos tanto aqui, como na TV Cariri e Sobral. Eu estou à frente de toda a

produção do esporte no Ceará (SASSO, 2012).

Segundo Sasso (2012), é muito difícil ela fazer matérias externas por estar à frente

de tantas outras funções. Mas algumas matérias ela gosta de fazer, de ir atrás da pauta, “olhar

olho no olho”. A jornalista está no comando do programa desde 2006, quando saiu da TV

Diário (pertencente ao mesmo grupo), onde trabalhava em programas de entretenimento.

Sasso foi convidada a trabalhar no GECE após gravar, produzir e pautar um projeto piloto

voltado para o mundo dos esportes. O programa não foi ao ar, mas ela foi convidada a fazer

parte da equipe do GECE e está na Verdes Mares desde então.

Porém, para chegar aonde está atualmente, à frente de um programa de esporte,

assumindo outras funções além de apresentadora, a jornalista diz que sofreu bastante.

(SASSO, 2012). Principalmente, porque mulher trabalhando como jornalista e no meio

esportivo é uma coisa recente na história do telejornalismo brasileiro. Sasso relata que uma

das maiores dificuldades referentes à apuração junto aos jogadores era que, em muitos casos,

eles ficavam falando brincadeiras, principalmente, quando ela fazia reportagem no vestiário.

“Tinha que ser como homem, porque eles faziam de propósito então você tinha que ser

homem.” (SASSO, 2012).

16

Mariana Sasso, entrevista concedida em 3 de outubro de 2012 a esta pesquisadora.

47

Ou seja, era preciso assumir uma posição masculinizada para poder se proteger e

continuar o trabalho sem perder a matérias e nem a fonte, que poderia ser utilizada em outras

situações. Esse tipo de atitude, na qual a mulher tem que assumir uma postura mais

masculina, acontece não somente no jornalismo, mas em outras profissões consideradas

redutos dos homens. Entretanto, para a jornalista, os maiores problemas enfrentados vieram

por parte dos colegas de profissão.

O problema, a complicação foi entre os colegas jornalistas, o julgamento veio deles,

o preconceito veio dos colegas que até hoje não admitem. Batem, Batem mesmo,

acham que a mulher entende menos. [...] Até hoje tem gente que só falta dizer que

eu sou burra. É muito difícil (SASSO, 2012).

Para Sasso, a mulher que trabalha com esporte tem que ser forte “porque, queira

ou não, o esporte é feito mais por homens. Hoje, há mulher no esporte, mas ainda é muito

masculino. Não só no futebol.”. Contudo, tudo isso vem mudando e as novas gerações de

mulheres já são mais respeitadas. A apresentadora ressalta ainda que, para trabalhar nessa

área, a jornalista tem que ter um diferencial, além de ser bem informada, principalmente no

futebol.

Observa-se, mais uma vez, que os níveis de formação das mulheres são exigidos

de forma mais contundente.

Primeiro de tudo ser bem informada, segundo ter um diferencial, porque os homens

geralmente que estão no jornalismo esportivo, eles são totalmente ligados ao futebol

então, as mulheres, nós mulheres, além de estarmos ligadas ao futebol, temos que ter

um diferencial, então quando os meninos querem tirar dúvidas sobre outros esportes

eles falam comigo porque eles me têm como referência (SASSO, 2012).

Sasso é árbitra, mas não exerce esse mister. Bicampeã de natação, já praticou jiu-

jitsu, futebol, handebol; sempre ligada aos esportes, continua se aperfeiçoando para estar

sempre preparada (SASSO, 2012). Porém, isso não significa que para ser uma boa jornalista

esportiva necessariamente se precise ser uma esportista. Contudo, algumas jornalistas do

esporte têm essa tendência, a exemplo de Glenda Kozlowski, que já foi atleta de bodyboard e

hoje apresenta o Esporte Espetacular, outro programa da TV Globo.

Além da qualificação profissinal, Fábio Pizzato, jornalista e colega de trabalho de

Sasso, relata que trabalhar com mulheres é ótimo, principalmente porque “atualmente elas

têm muito conhecimento e um olhar diferenciado, com mais sensibilidade.”17

. Apesar dessa

afirmação, objetivamos compreender como se dão essas relações de gênero, associadas às

relações profissionais na rotina do GECE. Para tanto, no próximo tópico descrevemos e

analisamos as edições trabalhadas nesta pesquisa.

17

Fábio Pizzato: entrevista concedida em 22 de novembro de 2012 a esta pesquisadora.

48

4.3 As edições analisadas

As edições analisadas no âmbito deste trabalho são referentes ao mês de junho de

2012, período em que acontecia o Campeonato Brasileiro de Futebol 2012. Foram 26

programas, ao todo, veiculados entre os dias 1º e 30 de junho de 2012, lembrando que o

GECE não é exibido aos domingos. Como já explicitado anteriormente, as matérias obtidas

não são referentes ao programa completo e sim às matérias principais que fizeram parte da

edição do programa naquele dia. Por esse motivo, há diferença na quantidade de matérias

analisadas em cada dia (edição).

Observou-se, primeiramente, que a maioria das reportagens disponibilizadas é

voltada para o tema futebol, havendo somente algumas abordando outros esportes: kart,

ginástica rítmica, tênis e outras modalidades. Diante disso, este trabalho focou, somente, nas

reportagens relacionadas ao futebol.

As matérias que tratam do futebol abrangem os jogos que irão acontecer; as

partidas realizadas; os treinos dos times, o dia a dia dos jogadores ou as histórias de

torcedores que “vivem” pelo time. Estas últimas são matérias mais diferenciadas e que tentam

fugir do previsível e costumeiro, que é a cobertura direta do campeonato. Grande parte das

matérias analisadas debruçou-se sobre os principais times do estado do Ceará: Fortaleza

Esporte Clube e Ceará Sporting Clube, tendo o Campeonato Brasileiro 2012 como base.

No caso do Ceará Sporting Clube, que competiu pela série B, as matérias eram

sobre jogos, treinos e a preparação dos jogadores. Em relação ao Fortaleza Esporte Clube, que

competiu no Campeonato Brasileiro pela série C, as reportagens eram sobre o fato de a

competição não estar em andamento, pois já aconteciam as das séries A e B, e como os

jogadores e o time estavam vivendo esse drama do não início de campeonato.

Em termos técnicos, um tipo de matéria bem recorrente foi a nota coberta.

Entende-se por nota coberta “o texto coberto por imagens que é exibido nos telejornais,

podendo ser gravado ou lido ao vivo por sobre a exibição das imagens pelo apresentador.”

(BISTANE e BACELLAR, 2005, apud DONATO, 2011, p. 9). Estas, geralmente, são feitas

pelo próprio apresentador do programa. Em alguns casos, tratam de treinos e viagens dos

jogadores e novas contratações. São notícias curtas que servem para cobrir um assunto onde o

jornalista não pôde estar presente.

Antes de iniciarmos a análise no próximo tópico, é interessante ressaltar que,

nestas notas cobertas, há sinalização de que são reportagens, feitas por Mariana Sasso.

Compreendemos que reportagem “é um gênero muito apreciado por ser um testemunho direto

encenado com arte” (LAGARDETTE, 1998, p. 51), ou seja, “falamos de reportagem cada vez

49

que um jornalista reporta o que viu, leu ou ouviu. Depois de ter estado no local, observado a

situação, escrito apontamentos, feito perguntas [...]” (ROY, 1992, apud RABOY, 2000, p.

175-189).

Assim, como não foi possível confirmar que a apuração tenha sido feita pela

jornalista em questão e por se saber que é corriqueira a prática de cinegrafistas captarem as

imagens para que no estúdio seja montada a matéria com o off. Além disso, como a própria

Mariana Sasso relatou que: “hoje em dia, é muito difícil eu fazer externa.”, optamos por

considerá-las notas cobertas.

Todos esses dados coletados serão mais bem avaliados no próximo tópico deste

capítulo, no qual será feita a análise que este trabalho se propôs a fazer, além de tecidas as

considerações acerca da participação da mulher.

4.4 Análise do conteúdo do programa Globo Esporte Ceará

Para se realizar a análise do conteúdo, separou-se um período específico, que

pudesse servir de base para a principal discussão deste trabalho, a de verificar se há diferença

entre os profissionais homens e mulheres nos comentários feitos sobre futebol. Contudo, no

caso específico do GECE, a única mulher na equipe, Mariana Sasso, é também apresentadora

e a produtora executiva.

Atualmente, ela não está mais fazendo matérias externas, somente apresentação e

notas cobertas. Por esse motivo, as comparações foram feitas entre os comentários de Sasso –

que é quando um jornalista faz considerações relevantes sobre determinado assunto pautado,

opinando sobre o fato – e os comentários dos demais integrantes do programa em uma espécie

de bate-bola. Construiu-se, então, a primeira tabela para montar um panorama sobre como

homens e mulheres jornalistas dividem a produção das matérias do GECE.

Tabela 1 – Referente ao panorama geral da análise

TOTAL DE PROGRAMAS

APRESENTAÇÃO

HOMEM 9

26

MULHER 16

NOTA COBERTA

HOMEM 4

MULHER 8

REPORTAGEM

HOMEM 52

MULHER 0

COMENTÁRIOS

HOMEM 6

MULHER 6

Fonte: Produzida por esta pesquisadora, junho de 2012.

50

Como mostra a Tabela 1, de todos os 26 programas assistidos por esta

pesquisadora, a jornalista Mariana Sasso aparece em 16 deles como apresentadora. Trata-se

de estar à frente das edições por mais da metade dos dias analisados. Fez oito notas cobertas,

uma das quais sobre corrida de kart. Já os jornalistas homens fizeram quatro notas cobertas,

apenas duas sobre futebol. Não se tem nenhuma matéria feita pela jornalista no período

analisado, mas ela participa de seis bate-bolas, momentos em que os jornalistas tecem

comentários e ocorre uma espécie de troca de informações e opiniões sobre futebol e outros

assuntos, sendo que no período analisado só tratou de futebol. Esses comentários são feitos

sempre em conjunto com o chefe de esportes, Paulo César Norões e a apresentadora.

Como se percebe, a maior diferença é referente à produção das matérias – no

período verificado, não há nenhuma com a participação feminina na função de repórter. Das

52 matérias, somente oito não tratavam de futebol. Observando-se esses dados, verificou-se,

também, que no âmbito das 44 matérias sobre futebol, em nenhum momento se fala do

futebol feminino. Isso leva a refletir sobre como o futebol feminino ainda não tem o devido

espaço na mídia e o quanto ainda falta para que essa realidade seja alterada. Ressalta-se que

não foram analisadas matérias de chamadas18

devido à falta de material.

A partir dos dados apresentados, podem-se perceber alguns pontos relevantes

sobre o programa. Um deles é que a maior parte do GECE é voltada para o mundo da bola,

com pouca inserção de outros esportes menos conhecidos ou considerados amadores. Como

se pode comprovar no gráfico abaixo.

Gráfico 1- Referente aos assuntos das matérias

Fonte: Produzido por esta pesquisadora, junho de 2012.

Outro dado importante é referente à participação feminina no programa estar mais

voltada para a apresentação, conforme aponta o Gráfico 2.

18

“Texto sobre os assuntos de destaque do telejornal, transmitidos dentro da programação normal da emissora.”

(GOLDSCHMIDT, 2012, p. 94).

0

10

20

30

40

50

60

Matérias

Sobre futebol

Outros temas

51

Gráfico 2 – Referente às ancoragens feitas no período

Fonte: Produzido por esta pesquisadora, junho de 2012.

Como não há matérias feitas por mulheres, mas sim somente notas cobertas, esta

pesquisa fez os comparativos necessários, a partir dos comentários feitos no decorrer dos

programas. Assim, pôde-se fazer uma análise qualitativa, comparando-se os comentários

feitos por mulheres e homens. Os comentários feitos pela jornalista Mariana Sasso nessas

edições são sobre futebol. Ela tem, sempre, a companhia do jornalista Paulo César Norões e

ambos fazem uma espécie de conversa. As opiniões são técnicas e com relevância sobre os

temas, dando apoio às matérias.

Sasso tem um jeito simpático, faz algumas observações, espécies de introdução

das discussões. No programa do dia 18 de junho, por exemplo, quando Sasso dá a deixa para

que Paulo César Norões fale sobre o jogo do Ceará contra o time de Joinville, ela diz: “Vamos

direto falar de Joinville e Ceará, um pontinho é melhor que nada!”. Por sua vez, Norões

responde: “É, principalmente depois de um péssimo primeiro tempo, só jogou o segundo

tempo mesmo.”.

Em outros casos ela faz algumas perguntas que posteriormente são respondidas

pelo outro jornalista, como por exemplo, em outra conversa ocorrida também no dia 18 de

junho quando ela pergunta: “Como uma conversa de 15 minutos muda tanto um time?”, sendo

esta logo respondida por Norões: “É bom ele ter essa conversa antes do jogo. E passar o jogo

bem no primeiro tempo.”.

Em outros poucos casos, há observações feitas por ela com dados técnicos, mas

que depois são confirmadas por Norões. Apesar de Sasso ser árbitra e jornalista esportiva, as

análises mais relevantes são feitas por Norões. Embora ele considere que “trabalhar com

mulheres é bom” e que a participação delas “no esporte está crescendo cada vez mais”

(NORÕES, 2012).

Percebe-se, então, a partir da análise dos programas que a participação feminina

no GECE existe, mas ainda é tímida quando se trata dos comentários. Falta um pouco mais de

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Homem

Mulher

52

consistência, caso que já deveria acontecer, afinal, Sasso está na área há bastante tempo e diz

gostar do tema.

Futebol... sempre fui apaixonada por futebol, porque eu fui a primeira neta, sobrinha

eu fui a primeira filha... eu fui a primeira tudo. Eu sou a mais velha da minha

geração, então, os homens da família me fizeram de homem, eu ia pra estádio com

todo mundo, jogava bola na rua. Eu joguei bola a vida inteira, fui da escolinha do

Fortaleza, do Ceará foi assim até nascer os homens, que só aconteceu muitos anos

depois... Ainda assim, eles não gostam de jogar futebol e eu continuei, eu amo

futebol. Quando eu entrei, eu já conhecia bastante da área [...] (SASSO, 2012).

A jornalista também é árbitra formada há um ano e meio. “Não exerço, mas eu

passei no teste pra fazer o curso e fiz o curso de arbitragem de futebol [...]”. Contudo, mesmo

com todo esse conhecimento ainda falta mais segurança em seus comentários aqui analisados.

No geral, porém, nota-se que, mesmo de forma acanhada quanto aos comentários, a mulher

não só apresenta como comenta, realidade diferente da existente até alguns anos atrás. Mas,

ressalta-se que essa percepção é referente ao período analisado, que vai de 1° até 30 de junho

de 2012 e se refere às matérias relacionadas ao Campeonato Brasileiro 2012, série B, C, D,

disponibilizadas pelo site da emissora.

Após se analisar todas as informações mostradas neste capítulo, percebe-se que a

mulher vem crescendo e mostrando que pode fazer muito mais. Apesar da maneira ainda

retraída, esse espaço no telejornalismo esportivo também pode ser (e vem sendo) ocupado por

uma profissional feminina. Analisando-se o programa como um todo, nota-se que a mulher é

reconhecida pelo seu trabalho a ponto de assumir funções que exigem conhecimento e

competência como os de cargo de chefia. Isso mostra que as mulheres estão cada vez mais

conquistando espaço no telejornalismo esportivo, seja na frente das câmeras, indo a campo,

fazendo as matérias. Embora, não se possa afirmar aqui que exista equidade salarial entre

homens e mulheres desempenhando as mesmas funções. Além disso, um aspecto a se

observar é que muitos desses avanços acontecem por atitudes individuais e pioneiras de

algumas jornalistas, como a própria Mariana Sasso e tantas outras.

53

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho emergiu da seguinte problemática: como se verifica a participação

feminina nas matérias cujo tema é futebol, tendo como base o programa Globo Esporte Ceará

(GECE), produzido e veiculado pela TV Verdes Mares, afiliada da Rede Globo de Televisão?

Contudo, devido a problemas de percurso durante a pesquisa documental, analisaram-se os

comentários feitos durante a transmissão do programa, mantendo-se, ainda, o mesmo intuito

de se verificar como funciona a relação homem, mulher, futebol e telejornalismo.

Quando se iniciou esta pesquisa, percebeu-se que as mulheres sofreram grandes

dificuldades para serem aceitas pela sociedade, que as tratava somente como genitoras e se

baseava no “determinismo biológico” (SCOTT, 1989), não considerando a mulher como parte

ativa na sociedade. Viu-se também que essa realidade só foi alterada muitos anos depois,

quando o que importava não era o sexo, mas a força para trabalhar, pois na época da

revolução industrial, o que passou a valer foi o lucro a ser obtido.

Contudo, trazendo-se para a realidade desta pesquisa, o telejornalismo esportivo,

verificou-se que as mulheres também sofreram preconceitos e discriminação, mas que foram

em frente e estão conquistando seu espaço. No decorrer deste trabalho, mostraram-se

mulheres que lutaram e que hoje assumem papéis no jornalismo esportivo que até pouco

tempo não lhes eram disponibilizados, espaços em que só os homens imperavam. Porém, isso

vem mudando.

As pesquisas também mostraram que o preconceito para com as mulheres no

esporte e, principalmente no que se refere ao futebol, não acontece só no jornalismo.

Acontece também na profissão de jogadora, em que os campeonatos são pouco divulgados e

os times e atletas recebem quase nenhum apoio.

Trazendo essas discussões para o objeto de análise deste estudo, o GECE,

percebeu-se que as mulheres há algum tempo já fazem parte da equipe, embora se tenha

também observado que, atualmente, a presença feminina é de apenas uma jornalista e que, no

período de análise (1º de junho a 30 de junho de 2012) esta não fez nenhuma matéria externa,

somente ancoragem, notas cobertas e comentários. É preciso, ainda, ressaltar, que a jornalista

em questão assume um papel importante na equipe do programa, atuando como ponte entre

essa afiliada e as demais. Além de dar apoio à rede nacional quando o assunto é esporte e

envolve o Ceará.

Em todos os programas analisados nos quais a participação feminina é

visualizada, verifica-se que a mulher não é somente um chamariz para atrair a audiência

54

masculina, pois a apresentadora poucas vezes utiliza roupas provocantes, fazendo com que o

personagem principal seja, de fato, o programa e as matérias por ela apresentadas.

No comparativo referente aos comentários feitos no período aqui verificado, viu-

se que ainda se tem muito que avançar no que se refere à equidade de gêneros, mas que a

mulher já deixa a sua marca e, aos poucos, vai conquistando seu espaço gradativamente.

Mudanças estão acontecendo, já que uma mulher falando e opinando sobre futebol – mesmo

que timidamente e amparada por um homem – não era visto e nem aceito até alguns anos

atrás. Agora, elas já o fazem.

Em relação à equipe do programa, percebe-se certa igualdade entre os

profissionais homens e mulheres, já que todos exercem praticamente os mesmos cargos e há,

inclusive, jornalistas mulheres ocupando cargos de chefia dentro da estrutura do GECE.

Por fim, conclui-se que a participação feminina no telejornalismo de esportes vem

crescendo de maneira lenta, porém, com responsabilidade e competência. E que ainda não é

fácil trabalhar nessa área, que exige esforço e força maior das jornalistas que assumem esse

desafio na profissão. Percebe-se, por fim, que a presença feminina vem crescendo em todas as

esferas sociais. Resultado da luta das mulheres por sua emancipação.

55

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60

APÊNDICE A – ENTREVISTA COM PAULO CÉSAR NORÕES - CHEFE DE

ESPORTES

Entrevista aberta, concedida no dia 23/08/2012 na sede da TV Verdes Mares, redação do

Globo Esporte Ceará.

Pesquisadora: Globo Esporte Ceará.

Paulo César Norões: Ele é completamente feito aqui. A Globo envia diariamente uma lista

com imagens e matérias que podemos usar, porém, nós é que decidimos o que vamos colocar,

a não ser aquelas que ao lado tem letra (E) porque essas são uma orientação da rede e passará

em todo os Globo Esporte.

Como a apresentação é toda feita aqui, possibilita uma melhor interação com o

público, pois podemos trazer matérias que realmente são importantes para o público. Há cerca

de 1 ano e 2 meses, o programa está sendo todo elaborado aqui. As reuniões de pauta

acontecem todas as segundas feiras quando são discutidas todas as pautas da semana, assim,

durante a semana não se tem um horário para possíveis reuniões.

Hoje, trabalhamos com a tecnologia HD o que facilita na hora de editar as

matérias, tanto as regionais quanto as nacionais, por exemplo, as matérias chegam vão para o

servidor e depois para um banco de dados, que pode ser acessado por todos sem problemas,

isso não ocorria antes. Às vezes uma imagem que seria usada no CETV e no jornal Hoje, por

exemplo, e tinha sido feita aqui era primeiro trabalhada para o jornal de caráter nacional e só

depois ia ser trabalhada para o CETV o que acabava complicando o trabalho da equipe. Hoje,

pode-se fazer isso ao mesmo tempo. Atualmente, estamos dividindo o espaço tanto com o

pessoal do CETV 1 e 2 e o Globo Esporte on-line. Na pagina da Globo, o G1, tem um espaço

onde você pode entrar tanto nas notícias locais quanto nas notícias de esportes nacionais o que

favorece a interação, além de propiciar os casos onde uma notícia é feita aqui e vai para a

página nacional.

Pesquisadora: A mulher no telejornalismo esportivo.

Paulo César Norões: A presença feminina está clara, basta dar uma olhada aqui mesmo, para

percebemos a quantidade de mulheres aqui na redação e no esporte está crescendo cada vez

mais. Antigamente, esse assunto era mais ligado aos homens porque estes vinham adquirindo

conhecimento desde criança o que muitas vezes não acontecia com as meninas. Isso

dificultava o trabalho delas, porém, isso vem mudando. Hoje, muitos encontram no

jornalismo porque querem trabalhar no editorial de esporte, elas entendem, gostam do assunto

61

e isso foi muito impulsionado pela entrada de grandes nomes de mulheres na rede nacional

como a Mylena Ciribelle e Glenda Koslovski.

Hoje, se observam as mulheres cada vez mais ligadas aos esportes. Trabalhar com

mulheres é bom, mas infelizmente exige da mulher certo cuidado, por ser um ambiente muito

masculino as mulheres têm que ter certo cuidado e isso é a diferença em se trabalhar com as

meninas não é o potencial delas ou a capacidade pois elas são muito capacitadas. Esse

cuidado acontece com os homens também mais em espaço menor. Infelizmente no momento

não temos mulheres cobrindo campo porque só estamos com a Mariana e ela, além de

apresentadora é também produtora, mas se for preciso ela vai.

62

APÊNDICE B – ENTREVISTA COM MARIANA SASSO - PRODUTORA E

APRESENTADORA

Entrevista semiaberta, concedida dia 03/10/2012 na sede da TV Verdes Mares, redação do

Globo Esporte Ceará.

Pesquisadora: O início da carreira.

Mariana Sasso: Bom, eu comecei a trabalhar com 14 anos, meu primeiro emprego era como

locutora em uma FM. Então eu sempre digo que foi a profissão quem me escolheu, era uma

rádio comunitária que tinha vizinho à minha casa. Tava sendo feito um teste para escolher

uma apresentadora para um programa infantil, pra fazer contação de história, eu não queria e

todas as minhas amigas foram fazer o teste. Fui a última a fazer o teste quando eu comecei a

falar o diretor da rádio falou é você e eu falei “mas eu não quero”, e ele “não, mas você vai

ficar”. Eu já fazia teatro há cinco anos e eu adorava interpretar voz de bichinho e então

comecei. Eu fique um tempo nesse programa infantil depois eu fui para uma FM e nela eu

apresentei tudo que você possa imaginar: radiojornal, programa romântico, que era de dez à

meia-noite. Sofria nesse programa porque eu ficava praticamente sozinha na rádio, mas eu

adorava.

Aí quando chegou na reta final pra escolher a profissão que eu queria, aos 17

anos, nessa época eu queria ser delegada de polícia, que eu sou bem mansinha, eu sou um

doce de pessoa pra não dizer o contrário... Nisso, eu fui fazer a minha inscrição, eu falei com

uma amiga e disse “mulher, vai me inscrever, tua letra é mais bonita, escreve aí pra Direito na

UFC”. Ela colocou jornalismo, eu passei na primeira fase, “bombei” na segunda. Então, eu

resolvi fazer a particular mesmo, pra não perder tempo. Eu não gostava de estudar, nunca

gostei, era uma aluna mediana, de sete, mas nunca fiquei de recuperação nunca repeti de ano,

mas odiava estudar só estudava pra passar... então, eu fui fazer uma faculdade e fiz

jornalismo.

Já entrei na faculdade trabalhando, já ganhava o meu dinheiro já era super

independente com 17 anos. Aí foi indo, foi indo... Eu era da TV Diário, trabalhava com

entretenimento e escrevi um projeto de um programa que se chamava Nitro Fight, era um

programa de artes marciais que eu gosto muito. São os esportes que eu mais gosto, os esporte

de luta, apesar de jogar handebol por cinco anos e ser bicampeã de natação, sou faixa branca

do jiu-jítsu; eu lutei jiu-jítsu por dois anos, Muay thai, mas dei uma paradinha... Então fui

sempre ligada ao esporte, por isso eu escrevi esse programa para TV Diário.

63

No dia que eu gravei o piloto desse programa, fui eu quem preparou o programa,

desde o cenário que eu idealizei até tudo que eu ia falar, os convidados, os blocos eu fui

diretora, produtora, apresentadora, eu fui tudo desse programa. Um dos diretores do grupo

Edson Queiroz foi assistir à gravação desse piloto e eu nunca, até hoje, tô esperando a

resposta desse piloto pra saber se eles querem ou não o programa na TV Diário, Nunca recebi

resposta desse programa.

Aí um dia, precisava de um apresentador aqui na Verdes Mares, eu não sabia, a

TV Diário já tinha me colocado pra fora porque não tinha vaga. Então, o diretor que assistiu,

que foi um dos Queiroz na época, gostou muito e me convidou. Ele disse “vamos fazer um

teste com essa menina, ela gosta, tá precisando de um apresentador pro Globo Esporte”. Aí eu

fiz e deu certo e foi quando eu comecei.

Futebol... sempre fui apaixonada por futebol, porque eu fui a primeira neta,

sobrinha eu fui a primeira filha... eu fui a primeira tudo. Eu sou a mais velha da minha

geração, então, os homens da família me fizeram de homem, eu ia pra estádio com todo

mundo, jogava bola na rua. Eu joguei bola a vida inteira, fui da escolinha do Fortaleza, do

Ceará foi assim até nascer os homens, que só aconteceu muitos anos depois... Ainda assim,

eles não gostam de jogar futebol e eu continuei, eu amo futebol. Quando eu entrei, eu já

conhecia bastante da área, então, eu não tive dificuldade... Dificuldades eu tive com os

colegas profissionais... na minha época, já tinham algumas mulheres que tinham tido

passagens rápidas pela profissão.

A Karla Soraia já tinha apresentado por um tempo o Globo Esporte; a Carla

Fernandes. Todas elas foram apresentadoras interinas, mas nunca a apresentadora oficial do

programa. Então, não tinha assim uma mulher que fizesse esporte aqui no Ceará, então foi

quando eu assumi e pra mim foi muito difícil, porque todo mundo achava que eu tava aqui

porque me deitei com alguém, que tinha feito o teste do sofá, aí quando eu comecei a cobrir

futebol, que eu cobri por muito tempo, na rua, no campo mesmo eu era namorada de todo

mundo, todo mundo me dava namorado... O coitado do meu namorado na época sofria. Eu fui

a primeira, logo em seguida veio a Claudinha, a Claudinha Andrade a Fabiana que são minhas

duas melhores amigas. Então, as meninas vieram em seguida, estudamos juntas no ensino

médio, fizemos faculdade juntas e estamos juntas na profissão, elas estão no Esporte Clube e

Esporte Cidade.

Pesquisadora: Você teve alguma dificuldade para cobrir jogos? Tipo, os jogadores não

quererem dar entrevistas...

Mariana Sasso: Com os jogadores de futebol, o único problema é que eles só queriam dar

entrevista pra mim... o único problema que eu tive com jogadores foram de eles darem em

64

cima mesmo, de eu estar no vestiário fazendo o pós-jogo. A gente tem que fazer entrevista pro

Sport TV no vestiário e eles soltavam a toalha mesmo. E você tinha que ser que nem homem,

porque eles faziam de propósito, então, você tinha que ser homem mesmo naquela hora. Pra

mim, tanto faz como tanto fez, eles davam muito em cima, eu recebi flores aqui na TV e por

dias seguidos... Foi muito difícil porque eu tinha namorado na época e todo mundo achava

que eu tava pegando, as esposas tinham ciúmes até me conhecerem de verdade. O problema, a

complicação foi entre os colegas jornalistas, o julgamento veio deles, o preconceito veio dos

colegas, que até hoje não admitem batem, batem mesmo, acham que a mulher entende menos

e pra provar o contrário eu hoje, pra calar a boca de muita gente, eu sou árbitra de futebol.

Pesquisadora: Há quanto tempo você é árbitra?

Mariana Sasso: Não exerço, mas eu passei no teste pra fazer o curso e fiz o curso de

arbitragem de futebol, acho que faz mais de um ano.

Pesquisadora: É um preconceito velado ou mais escancarado?

Mariana Sasso: Até hoje tem gente que só falta dizer que eu sou burra é muito difícil, tem

gente que diz assim “amiga, teu santo é forte”. As meninas que chegaram depois não

enfrentaram tanto preconceito porque eu já abri caminho, mas ainda sofrem. Hoje, jogadores

respeitam bem mais, porque eu fui muito dura. Uma vez um jogador famoso daqui disse

“você pode me dar seu telefone”, aí, eu fiquei: “e agora o que eu faço? Porque se eu

esculhambase eu ia perder o respeito e a minha fonte eterna, porque na época ele era o cara...

e se ele não me desse mais entrevista? E aqui, a gente gosta muito de exclusividade e aí como

ia ser?” Então, eu tirei onda peguei meu aparelho e dei pra ele e falei “ó, tá aqui, mas tu me

devolve rápido, porque já, já meu marido liga”. Aí, ele começou a rir e até hoje nós somos

amigos ele já deixou de ser jogador ele se aposentou da carreira. Hoje, ele e técnico da

categoria de base de um time que eu não posso falar e a gente se dá super bem; hoje, a esposa

dele se dá super bem comigo, todo mundo ri dessa historia, porque eu tive que ter jogo de

cintura pra isso.

Pesquisadora: Você acha que para a mulher trabalhar com esporte, exige mais desse jogo de

cintura do que quando é em outra área do jornalismo?

Mariana Sasso: Com certeza, porque, queira ou não, o esporte é feito mais de homens. Hoje,

a mulher tá no esporte, mas é muito masculino; não só no futebol. Você é cantada de todo

jeito... hoje não, depois de 7 anos à frente do jornal, eles têm um temor, tem mais respeito...

mas, era uma loucura, eu sofria bastante. Tem mulher que não consegue segurar isso.

Pesquisadora: Você já fez reportagem em dia de jogo, cobrindo a partida? E, se sim, você

teve algum problema?

65

Mariana Sasso: Já fiz sim, quando eu estava no Sport TV eu também fiz coberturas dos

times grandes de lá. Nas partidas, não se tem muitos problemas o complicado são os

torcedores, e sim, você sofre, mas os meninos também...

Pesquisadora: Você tem acesso a tudo, vestiário e a concentração, ou pelo fato de você ser

mulher não se pode entrar?

Mariana Sasso: A mesma coisa que os homens. É igual, os vestiários do mesmo jeito,

concentração ninguém pode entrar. São raras as vezes que os jogadores dão entrevistas, mas

os mesmos acessos que os homens têm nós temos, somos tratadas como homens, os meninos

hoje da equipe me tratam como homens...

Pesquisadora: Você vai fazer parte da equipe da Copa?

Mariana Sasso: Toda a equipe vai participar sim, cobrindo mais a parte local porque a Globo

manda toda a sua equipe...

Pesquisadora: Como funciona a sua rotina no GECE? Porque você também é editora?

Mariana Sasso: Hoje em dia, é muito difícil eu fazer externa, mas amanhã eu tenho uma

produção externa, vou falar com o técnico do Fortaleza e com jogadores... Eu vou atrás de

pauta, eu quero muito uma pauta e ele está me driblando, então, eu vou conversar com ele

pessoalmente, olho no olho, pra conseguir essa pauta. Assim, algumas reportagens especiais

eu que gosto de fazer. Eu sou produtora executiva do jornal, então todas as pautas quem fecha

sou eu, mas acompanho muito pouco a edição, porque não dá tempo. Eu tenho que fazer toda

a programação da semana inteira, tenho que pautar todos os meninos tanto aqui, como na TV

Cariri, Sobral. Eu estou à frente de toda a produção do esporte no Ceará, eu sou o contato da

Globo e do Sport TV aqui. A minha rotina é muito complicada porque eu tenho que atender as

praças das outras afiliadas e da Globo e fazer esse link com a Globo e Sport TV, além de

coordenar toda a equipe e as pautas do dia, quem tá de folga...

Pesquisadora: qual a principal dica que você dá pra mulher que quer trabalhar nessa área?

Mariana Sasso: Primeiro de tudo ser bem informada, segundo ter um diferencial, porque os

homens geralmente que estão no jornalismo esportivo, são totalmente ligados ao futebol,

então as mulheres, nós mulheres, além de estarmos ligadas ao futebol, temos que ter um

diferencial, então quando os meninos querem tirar dúvidas sobre outros esportes ele falam

comigo porque eles me têm como referência. Mulher sempre tem que ter um diferencial,

porque os homens por si só os homens já nascem com a bola no pé, então, a gente tem que

provar que somos iguais a eles e nada disso você aprende na faculdade...

66

APÊNDICE C – ENTREVISTA COM FÁBIO PIZZATO - PRODUTOR

Entrevista fechada, concedida dia 22 de novembro de 2012 na sede da TV Verdes Mares,

redação do Globo Esporte Ceará.

Pesquisadora: Você é formado em que e onde você estudou?

Fábio Pizzato: Sou formado em Comunicação Social com habilitação em jornalismo, estudei

na FIAM em São Paulo, sou formado desde 2000.

Pesquisadora: Como é trabalhar com esporte?

Fábio Pizzato: Eu sempre trabalhei com esporte, tanto aqui como também na Record.

Atualmente, o esporte é visto com outros olhos por causa da audiência que tem. Ele é um bom

produto para a emissora.

Pesquisadora: Como é formada a equipe do Globo Esporte Ceará?

Fábio Pizzato: A equipe é formada por nove pessoas no total, contando com os editores de

vídeo e o estagiário. Divididos em duas equipes.

Pesquisadora: Como são divididas as pautas?

Fábio Pizzato: As pautas são divididas igualmente entre os integrantes, sem distinção de

temas por pessoas.

Pesquisadora: Como é trabalhar com uma mulher na equipe?

Fábio Pizzato: Acho ótimo; já trabalhei com várias, elas são excelentes, porque atualmente

elas têm muito conhecimento e um olhar diferenciado, com mais sensibilidade.

67

ANEXO 1 – PROGRAMAS GLOBO ESPORTE CEARÁ DOS DIAS 1º A 30/06/201219

Programa do dia 01/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/campeao-e-vice-recebecem-trofeu-da-federacao-

cearense-de-futebol/1974039/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/osmar-baquit-ameca-cobrar-prejuizo-do-clube-

por-fortaleza-nao-jogar-na-serie-c/1974062/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/ceara-embarca-para-campinas-para-enfrentar-o-

guarani/1974059/>

Programa do dia 02/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/robston-e-apresentado-como-reforco-do-

ceara/1975582/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/fortaleza-segue-rotina-de-

treinamentos/1975372/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/dona-percila-de-98-anos-e-torcedora-do-

vovo/1975601/>

Programa do dia 03/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/com-a-derrota-para-guarani-ceara-comeca-a-se-

complicar-na-serie-b/1977439/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/osmar-baquit-iniciar-campanha-com-

presidentes-de-clubes-para-cbf-iniciar-serie-c/1977412/>

Programa do dia 05/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/igual-a-tempestade-que-dura-para-semprediz-

fernando-henrique-sobre-situacao-na-serie-b/1979050/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/enquanto-espera-inicio-da-serie-c-fortaleza-

soma-24-dias-sem-jogos-oficiais/1979005/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/olheiro-da-cbf-assiste-ao-classico-rei-dos-sub-

15-e-17/1979025/>

19

Todos os programas foram assistidos no dia 24 de novembro de 2012.

68

Programa do dia 06/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/ceara-segue-em-treino-de-portoes-fechados-

para-torcedores/1980789/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/torcedores-do-fortaleza-opinam-sobre-atraso-do-

inicio-da-serie-c/1980796/>

Programa do dia 07/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/pc-gusmao-mexe-no-time-do-ceara-para-

enfrentar-o-avai/1982535/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/presidente-do-fortaleza-comenta-sobre-atraso-

no-inicio-da-serie-c/1982489/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/conheca-a-atleta-cearense-hedla-de-

ferro/1982560/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/sexta-edicao-do-aerofortal-comeca-nesta-quinta-

no-ceara/1982541/>

Programa do dia 08/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/serie-c-segue-indefinida-enquanto-isso-

fortaleza-realiza-jogo-treino-com-jogadores/1984126/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/pc-gusmao-fala-do-momento-ruim-do-ceara-na-

serie-b-do-brasileirao/1984144/>

Programa do dia 09/09

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/fortaleza-continua-sem-jogar-mas-comemora-

aniversario-do-zagueiro/1985403/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/nedo-xavier-ainda-nao-definiu-time-titular-do-

fortaleza/1985676/>

Programa do dia 11/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/evento-de-aeromodelismo-agita-feriadao-na-

grande-fortaleza/1988841/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/ceara-vence-o-primeiro-jogo-na-serie-

b/1988808/>

69

Programa do dia 12/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/serie-sobre-a-copa-das-confederacoes-estreia-

nesta-quinta-feira-no-cetv/1988676/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/serie-a-cidade-em-campo-mostra-fortaleza-para-

copa-das-confederacoes/1989281/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/daniel-marques-espera-boa-sequencia-no-

vovo/1988958/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/clubes-cearenses-se-unem-pelas-series-c-e-

d/1989381/>

Programa do dia 13/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/jogadores-do-ceara-comentam-nova-fase-do-

time/1991155/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/sumov-aposta-no-talento-de-seus-

garotos/1991203/>

Programa do dia 14/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/fortaleza-segue-treinando-e-jogadores-nao-

comentam-serie-c/1993304/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/ceara-se-prepara-para-encarar-o-frio-em-

joinville/1993182/>

Programa do dia 15/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/tres-jogadores-disputam-a-lateral-esquerda-do-

fortaleza/1998971/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/iii-etapa-da-copa-ncct-de-tambor-e-baliza-sera-

realizado-no-eusebio/1998993/>

Programa do dia 16/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/jogadores-do-fortaleza-estao-

ansiosos/1999021/>

Programa do dia 18/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/ceara-treina-em-joinville-para-enfrentar-o-time-

da-casa/1998974/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/ceara-empata-com-o-joinville-pela-serie-

b/1999062/>

70

Programa do dia 19/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/com-desfalques-fortaleza-espera-por-serie-

c/2001818/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/fernando-henrique-fala-sobre-seu-momento-no-

ceara/2001847/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/o-que-as-mulheres-acham-de-fernando-

henrique/2001879/>

Programa do dia 20/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/materia-sobre-escolinha-do-corinthians-no-

ceara/2003554/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/materia-sobre-reacao-do-ceara/2003574/>

Programa do dia 21/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/fortaleza-vence-maranguape-em-jogo-

treino/2005339/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/magno-alves-perto-de-dizer-sim-ao-

ceara/2005363/>

Programa do dia 22/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/ceara-quer-superar-atletico-pr-no-

retrospecto/2007107/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/materia-especial-sobre-os-50-anos-do-alcides-

santos/2007134/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/cearense-disputa-panamericano-escolar-de-

natacao/2007167/>

Programa do dia 23/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/chiquerim-fala-sobre-a-final-do-tuf-

brasil/2008713/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/jefferson-mostra-sua-nova-funcao-no-

horizonte/2008731/>

Programa do dia 25/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/horizonte-vence-ypiranga-pe-fora-de-casa-na-

estreia-da-serie-d/2010914/>

71

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/ceara-vence-atletico-pr-em-ritmo-de-sao-

joao/2010924/>

Programa do dia 26/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/conheca-o-tenista-mais-velho-em-atividade-no-

ceara/2012618/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/campeonato-cearense-de-kart-movimenta-

eusebio/2012630/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/pc-gusmao-avalia-jogo-com-o-ipatinga-pela-

serie-b/2012639/>

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sobre-drama-pessoal/2012659/>

Programa do dia 27/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/vanessa-e-destaque-cearense-na-ginastica-

ritmica/2014437/>

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amistoso/2014463/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/ceara-vence-a-primeira-fora-de-casa/2014481/>

Programa do dia 28/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/homenagem-do-globo-esporte-ao-garoto-luan-

vitor/2015868/>

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c/2015970/>

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/ceara-desembarca-confiante-com-primeira-

vitoria-fora-de-casa/2015980/>

Programa do dia 29/06

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/romario-e-mota-formam-ataque-de-sucesso-do-

ceara-na-serie-b/2017692/>

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brasileiro/2017763/>

Programa do dia 30/06

72

<http://globoesporte.globo.com/ce/videos/t/edicoes/v/fortaleza-treina-antes-da-estreia-na-serie-

c/2019429/>

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revezamento-em-fortaleza/2019431/>

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semana/2019435/>