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1 PRIMEIRAS NOÇÕES PRIMEIRAS NOÇÕES A CRIANÇA E O ADOLESCENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL O Título VIII da Constituição Federal, denominado Da Ordem Social, possui um de seus capítulos (Capítulo VII) destinado a trazer prescrições específicas sobre a proteção da família, criança, adolescentes e idosos, sendo que, além dessa normatização específica há diversos outros pontos de nossa lei maior em que essas questões são tratadas de forma mais difusa. O art. 227 da CF estabelece um sistema protetivo para as crianças e adolescentes que prescreve a necessidade de interação da família, da sociedade e do Estado para lhes assegurar, com absoluta prioridade, uma série de direitos, em especial: yà vida, yà saúde, yà alimentação, yà educação, yao lazer, yà profissionalização, yà cultura, yà dignidade, yao respeito, yà liberdade e yà convivência familiar e comunitária. Também é papel desse sistema protetivo colocar as crianças e adolescentes a salvo de toda forma de negligência, discr iminação, exploração, violência, crueldade e opressão . 2 PRIMEIRAS NOÇÕES Dentre os diversos aspectos que a proteção integral implica, a Constituição Federal deu maior destaque para os seguintes: yadmissão ao trabalho: o proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre; o proibição de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de 14 anos; ygarantia de direitos previdenciários e trabalhistas; ygarantia de acesso do trabalhador adolescente à escola; ygarantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, igualdade na relação processual e defesa técnica por profissional habilitado; yobediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida privativa da liberdade; yestímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado; yprogramas de prevenção e atendimento especializado à  criança e ao adolescente dependente de entorpecentes e

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PRIMEIRAS NOÇÕESPRIMEIRAS NOÇÕES

A CRIANÇA E O ADOLESCENTE NA CONSTITUIÇÃO FEDERALO Título VIII da Constituição Federal, denominado Da Ordem Social,possui um de seus capítulos (Capítulo VII) destinado a trazer prescrições

específicas sobre a proteção da família, criança, adolescentes e idosos, sendoque, além dessa normatização específica há diversos outros pontos de nossalei maior em que essas questões são tratadas de forma mais difusa.O art. 227 da CF estabelece um sistema protetivo para as crianças eadolescentes que prescreve a necessidade de interação da família, dasociedade e do Estado para lhes assegurar, com absoluta prioridade, umasérie de direitos, em especial:yà vida,yà saúde,yà alimentação,yà educação,yao lazer,yà profissionalização,yà cultura,yà dignidade,yao respeito,yà liberdade eyà convivência familiar e comunitária.Também é papel desse sistema protetivo colocar as crianças eadolescentes a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,violência, crueldade e opressão .2 

PRIMEIRAS NOÇÕES

Dentre os diversos aspectos que a proteção integral implica, aConstituição Federal deu maior destaque para os seguintes:yadmissão ao trabalho:o proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre;o proibição de qualquer trabalho a menores de 16 anos,salvo na condição de aprendiz, a partir de 14 anos;ygarantia de direitos previdenciários e trabalhistas;ygarantia de acesso do trabalhador adolescente à escola;ygarantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de atoinfracional, igualdade na relação processual e defesa técnicapor profissional habilitado;yobediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade erespeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento,quando da aplicação de qualquer medida privativa daliberdade;yestímulo do Poder Público, através de assistência jurídica,incentivos fiscais e subsídios ao acolhimento, sob a forma deguarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado;yprogramas de prevenção e atendimento especializado à  criança e ao adolescente dependente de entorpecentes e

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drogas afins.Outros importantes pontos que a Constituição Federal deu grandeênfase em relação à proteção que deve ser dada às crianças e adolesc entesestão relacionados:yà necessidade de severas medidas visando coibir e prevenir oabuso, a violência e a exploração sexual de crianças e

adolescentes;3 

PRIMEIRAS NOÇÕES

yà necessidade do Poder Público assistir a adoção, ou seja,estimulá-la e supervisionar as condições em que ela devaocorrer, inclusive no que se refere ao estabelecimento decasos e condições em que ela poderá ocorrer por parte deestrangeiros;yà plena igualdade dos filhos, havidos ou não da relação docasamento, ou por adoção, os quais devem gozar dosmesmos direitos e qualificações, sendo proibida quaisquer designações discriminatórias relativas a essas situações.

Os constituintes deixaram expresso que caberá os pais o dever deassistir, criar e educar os filhos menores (art. 229), contudo, isso não elimina aparticipação do Poder Público e toda a sociedade no sistema protetivoestabelecido em nossa Carta Magna e nas norma infraconstitucionais.Uma importante questão, sempre muito discutida é ainimputabilidade penal dos menores de 18 anos. De tempos em temposobservamos debates acalorados que convergem para a proposta de se alterar a maioridade penal, sendo comuns sugestões para que ela seja rebaixada paraos 16 anos.Ocorre, porém, que essa questão não é meramente estabeleci dapelo Código Penal (art. 27), mas sim decorre de expressa previsãoconstitucional (art. 228), dessa forma, qualquer proposta nesse sentido,necessariamente, deve passar por uma alteração dessa última, sendo esse ocerne do debate.A grande divergência nesse tema está no fato de que existemdispositivos constitucionais, chamados pela doutrina de cláusulas pétreas, quenão admitem alterações que impliquem em redução da proteção por elesestabelecidos, sendo que, para vários autores, o art. 228 estaria entre eles, por força do disposto no art. 60, § 4º, inc. IV (§ 4º - Não será objeto de deliberaçãoa proposta de emenda tendente a abolir: [...] IV - os direitos e garantiasindividuais.).4 

PRIMEIRAS NOÇÕES

Proteção de Crianças e Adolescentes em Tratados eConvenções InternacionaisHá diversos instrumentos internacionais destinados à proteção decrianças e adolescentes, sendo que o Brasil é signatário de diversos deles.Devemos, contudo, destacar:yConvenção sobre os Direitos da Criança , Adotada pelaResolução n.º L. 44 (XLIV) da Assembléia Geral das NaçõesUnidas, em 20 de novembro de 1989: aprovada pelo DecretoLegislativo n° 28, de 14 de setembro de 1990, e promulgada

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pelo Decreto n.º 99.710/90;yConvenção de Haia , de 29 de maio de 1993, Relativa à  Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria deAdoção Internacional: aprovada pelo Decreto Legislativo no 1,de 14 de janeiro de 1999, e promulgada pelo Decreto nº3.087, de 21 de junho de 1999.

O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTEAnte a necessidade de se atualizar a legislação que tratava dediversos aspectos legais aplicados a crianças e adolescentes, em especial, oantigo Código de Menores (Lei n.º 6.697/79), bem como para que as diversasdeterminações estabelecidas pela Constituição Federal de 1988 pa ssassem aser efetivamente aplicadas, foi estabelecido o Estatuto da Criança e doAdolescente (ECA), por meio da Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990.Esse estatuto teve um vacatio legis de 90 dias (art. 266), bem comorevogou o Código de Menores e a Lei n.º 4.513/64, que estabelecia o FundoNacional do Bem-Estar do Menor.Desde a sua entrada em vigor é esse estatuto o principalinstrumento legal que estabelece os parâmetros para o tratamento jurídico das5 

PRIMEIRAS NOÇÕEScrianças e adolescentes em nosso país, tendo direta influência noestabelecimento de políticas sociais, assistenciais e educacionais que, diretaou indiretamente, sempre precisam observar o sistema protetivo determinadopela Constituição Federal.DISPOSIÇÕES PRELIMINARESLogo no seu início o ECA estabeleceu em seu art. 2º as definiçõeslegais de criança e adolescente, sendo que essa interpretação autêntica (ouseja, realizada pelo próprio legislador) deve ser sempre observada.Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, apessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente

aquela entre doze e dezoito anos de idade.Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica -seexcepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito evinte e um anos de idade.ECACRIANÇAADOLESCENTEEXCEPCIONAL APLICAÇÃO DOECA PARA MAIORES DE 18 ANOSDO NASCIMENTO COM VIDA ATÉOS 12 ANOS INCOMPLETOSAQUELES ENTRE 12 E 18 ANOS DEIDADE

Convém que destaquemos os seguintes aspectos:ymuito embora a Convenção dos Direitos da Criança não faça

distinção entre criança e adolescente (pois para ela todos osmenores de 18 anos são considerados criança), o ECApreferiu estabelecer um melhor parâmetro de tratamento entreas diversas fases da menoridade;ycom o nascimento com vida o ser humano adquirepersonalidade civil (conforme consta do art. 2º do CódigoCivil), ou seja, pode ser titular de direitos e obrigações,6 

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contudo, há todo um sistema legal (proteção integral)estabelecido especialmente pelo ECA, que visa proteger crianças e adolescentes dada à condição de pessoas edesenvolvimento;yesse sistema de proteção integral deve ser obrigatoriamenteobservado pela família, pela comunidade, pela sociedade e

pelo Poder Público, assegurando prioridade de tratamentodas necessidades próprias das crianças e adolescentes;ymuito embora em grande parte do ECA haja igualdade detratamento entre crianças e adolescentes, há situações emque essa distinção é relevante, pois nessas questões adisciplina legal é diferenciada;ymuito embora o ECA se destine a tratar da situação jurídicada criança e do adolescente, excepcionalmente, ele pode ser aplicado a pessoas entre 18 e 21 anos de idade. Atualmente,essa hipótese praticamente se restringe à possibilidade deaplicação da internação a quem, ainda adolescente, praticouum ato infracional (conduta considerada crime oucontravenção penal), sendo passível de ser internado (medidasocioeducativa) até, no máximo, os 21 anos.Outro ponto destacado pelo legislador é que a interpretação dosdispositivos do ECA deve sempre levar em conta os fins sociais a que ele sedirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais ecoletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas emdesenvolvimento (art. 6º).DOS DIREITOS FUNDAMENTAISAlém dos direitos e garantias previstos em nossa ConstituiçãoFederal para todos, o sistema de proteção integral estabelecido pelo ECAestabelece uma série de especificidades aplicáveis às crianças e adolescentes.7 

PRIMEIRAS NOÇÕES

DIREITO À VIDA E À SAÚDEComo não poderia deixar de ser, o legislador estabeleceu que odireito à vida e à saúde de crianças e adolescentes deve começar mesmoantes do nascimento, razão pela qual é assegurado à gestante, através doSistema Único de Saúde (SUS), o atendimento pré e perinatal.Além disso, deve haver uma especial preocupação com oaleitamento materno, devendo o poder público, as instituições e osempregadores propiciar condições adequadas para que ele ocorra, inclusivepara os filhos de mães submetidas à medida privativa de liberdade. Nesteúltimo caso, há expressa determinação constitucional que assegura às

presidiárias o direito de permanecer com seus filhos durante o período deamamentação (art. 5º, inc. L).Dentre essas medidas, também devem ser destacadas:ya necessidade de perfeita identificação do recém -nascidomediante o registro de sua impressão plantar e digital e daimpressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas quevenham a ser estabelecidas;ya necessidade de serem realizados exames visando aodiagnóstico e terapêutica de anormalidades no metabolismo

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do recém-nascido (³teste do pezinho´);yos hospitais devem fornecer declaração de nascimento(importante para a realização do registro civil do nascimento);yos hospitais devem proporcionar condições para apermanência em tempo integral de um dos pais ouresponsável, nos casos de internação de criança ou

adolescente;yé obrigatória a vacinação das crianças nos casosrecomendados pelas autoridades sanitárias.8 

PRIMEIRAS NOÇÕESAlém disso, todos os casos de suspeita ou confirmação de maustratoscontra criança ou adolescente devem ser comunicados ao ConselhoTutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais.DIREITO À LIBERDADE, AO RESPEITO E À DIGNIDADEA esses direitos o ECA destaca os seguintes aspectos:yir, vir e estar nos logradouros públicos e espaçoscomunitários, ressalvadas as restrições legais;yopinião e expressão;ycrença e culto religioso;ybrincar, praticar esportes e divertir -se;yparticipar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;yparticipar da vida política, na forma da lei, dessa forma nossaConstituição Federal estabelece a faculdade de adolescentesmaiores de 16 anos participarem como eleitores em votações,plebiscitos e referendos (art. 14, § 1º, II, alínea ³c´);ybuscar refúgio, auxílio e orientação;yinviolabilidade da integridade física, psíquica e moral dacriança e do adolescente, inclusive no que se refere à sua

imagem e identidade (observe que adolescente que praticamatos infracionais não são exibidos nos noticiários, bem comonão tem seus nomes revelados).DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIAAs principais regras legais sobre a convivência da criança e doadolescente com sua família natural ou substituta estão previstas no ECA,9 

PRIMEIRAS NOÇÕESsendo que aquela (a família natural) deve ter absoluta prioridade para lheproporcionar sua criação, sendo que esta (a família substituta) é estabelecidaexcepcionalmente.FAMÍLIA NATURALO ECA se preocupa em definir o que é a família natural, bem comoos seus variados tipos. Dessa forma, entende-se por família natural acomunidade formada pelos pais ou qualquer deles (nesse caso temos achamada família monoparental) e seus descendentes.Essa previsão legal está ajustada à definição apresentada em nossaConstituição Federal, inclusive no que se refere à família monoparental (art.226, § 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formadapor qualquer dos pais e seus descendentes.).

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Um conceito inserido pela Lei n.º 12.010/09, que alterou o ECA, é ode família extensa ou ampliada , sendo essa definida como ³aquela que seestende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formadapor parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive emantém vínculos de afinidade e afetividade´ ± parágrafo único do art. 25.Considerando a prioridade na formação da família natural, se torna

bastante relevante a questão do reconhecimento do estado de filiação, sendoesse um direito personalíssimo (que somente pode ser exercido pela pessoainteressada), indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra ospais ou seus herdeiros (ou seja, mesmo após a morte dos supostos paisnaturais), sem qualquer restrição. Considerando a natureza desse tipo deprocesso, ele sempre corre sob segredo de Justiça, ou seja, sua publicidade éextremamente restrita ± somente as partes e seus procuradores podem ter acesso aos autos.Além dessa possibilidade, os filhos, ainda que havidos fora do scasamento, podem ser reconhecidos por seus pais, conjunta ouseparadamente, no próprio termo de nascimento, por testamento, mediante10

PRIMEIRAS NOÇÕESescritura ou outro documento público, podendo esse reconhecimento ocorrer antes do nascimento ou preceder ao seu falecimento, porém, neste últimocaso, isso somente poderá ocorrer se o filho a ser reconhecido deixar descendentes (para que os pais que agora ³aparecem´ não seja os únicosbeneficiados por eventual herança do de cujus).Os pais exercem, em igualdade de condições, o chamado poder familiar, o qual podemos definir como sendo um complexo de direitos e deveresdecorrentes do estado da filiação que unem os pais (pai e mãe) a seus filhos.Eventuais divergências entre os pais devem ser resolvidas pelo Juiz da Vara daInfância e da Juventude.Como decorrência do poder familiar, os pais têm o dever de

sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, nointeresse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinaçõesjudiciais. O descumprimento desses deveres pode determinar, sempremediante decisão judicial, a suspensão ou perda do poder familiar.O ECA é claro em estabelecer que ³a falta ou a carência de recursosmateriais não constitui motivo suficiente para a perda ou a susp ensão do poder familiar´, sendo que nesse caso, se o juiz constatar a incapacidade dessesrecursos, deverá a criança ou o adolescente ser mantido em sua família deorigem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais deauxílio ± art. 23.Apenas como referência, o antigo Código Civil, chamava o poder familiar de pátrio poder, razão pela qual essa denominação pode ser encontrada em texto mais antigos que tratam do assunto.FAMÍLIA SUBSTITUTANão havendo a possibilidade de manutenção da c riança e doadolescente em sua família natural ela será, temporária ou definitivamente,inserida em uma família substituta, sempre em virtude de decisão judicial.Há 3 formas básicas de família substitutiva, as formadas em razão:11

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yda guarda;yda tutela;yda adoção.No estabelecimento dessas medidas, sempre que possível, acriança ou o adolescente será previamente ouvido por equipe interprofissional,respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão, sendo sua

opinião devidamente considerada.No caso de adolescente é necessário seu consentimento, colhidoem audiência.Além disso, na apreciação da colocação em família substituta, deveo juiz:ylevar em conta o grau de parentesco e a relação de afinidadeou de afetividade, a fim de evitar ou minorar asconsequências decorrentes da medida;ynão realizar (salvo razões excepcionais) a separação deirmãos;yem caso de crianças e adolescentes indígenas ou

provenientes de comunidades remanescentes de quilombos,devem ser tomados cuidados especiais para que se preservesua identidade cultural e social.A colocação da criança ou adolescente em família substituta deveser precedida de sua preparação gradativa e acompanhamento posterior,realizados pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e daJuventude.Não poderá o juiz deferir que pessoa que revele, por qualquer modo,incompatibilidade com a natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar adequado possa receber criança ou adolescente em família substitu ta.A colocação em família substituta estrangeira constitui medidaexcepcional, somente admissível na modalidade de adoção.

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DA GUARDAA guarda é a forma mais simples de estabelecimento da famíliasubstituta, podendo ocorrer:ypara a regularização de situação de fato ± por exemplo, depais que ³deixaram´ a criança com algum conhecido e nãomais retornaram ± nesse caso, enquanto se aguarda adestinação a ser dada ao caso, a criança pode ser colocadasob a guarda dessa pessoa, regulariza ndo a situação legal;yde forma liminar ou incidentalmente, nos processos de tutelae adoção (exceto por estrangeiros);yde forma excepcional, fora dos casos de tutela ou curatela,para atender a situações peculiares ou suprir a falta eventualdos pais ou responsável, podendo ser deferido o direito derepresentação para a prática de atos determinados (tal comoa matrícula da criança em escola).Aquele que recebe criança ou adolescente em razão da guarda temo dever de tê-lo consigo e de lhe prestar assistência material, moral eeducacional, sendo que ele se torna seu dependente, para todos os fins edireitos (tributários, previdenciários etc.).

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O guardião tem o direito de opor seus direitos contra terceiros,inclusive aos pais, contudo estes, salvo determinação expressa efundamentada do juiz ou quando a medida for aplicada em preparação paraadoção, podem ter deferido o exercício do direito de visitas pelos pais. Nessescasos, poderá o juiz estabelecer que os pais devam prestar alimentos.A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, mediante ato

judicial fundamentado, ouvido o Ministério Público.13 

PRIMEIRAS NOÇÕES

DA TUTELAA tutela é uma das formas de substituição do poder familiar aplicadasomente a crianças e adolescentes, razão pela qual a sua conce ssão implicaque previamente o juiz decrete a perda ou a suspensão desse poder, sendoque a sua instituição implica, igualmente, no dever de guarda.Não chega a se formar qualquer tipo de parentesco entre o tutor e opupilo, tendo aquele a incumbência de gerir a pessoa da criança ouadolescente e seus bens.Uma das hipóteses de seu estabelecimento se dá quando o tutor é

nomeado pelos pais por testamento ou qualquer documento autêntico. Nessecaso, esse tutor deve ingressar com pedido destinado ao controle judicialdesse ato, no prazo de 30 dias após a abertura da sucessão. É o que ocorre,por exemplo, se os pais de uma criança vierem por testamento a nomear determinada pessoa como tutor de seu filho, caso ocorra a morte ou a ausêncialegal de ambos.Se a nomeação ocorrer por disposição de última vontade(normalmente por testamento), o juiz somente irá homologar a vontade dospais se restar comprovado que a medida é vantajosa ao tutelando e que nãoexiste outra pessoa em melhores condições de assumir esse encargo.DA ADOÇÃOA adoção é uma medida excepcional e irrevogável, pois implica emprévio e definitivo rompimento do poder familiar a que criança ou adolescenteestava anteriormente submetido, devendo ser utilizada somente quandoesgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na famílianatural ou extensa.Por ela o adotado passa à condição de filho do adotante, com osmesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios. Em razão de sua natureza,14 

PRIMEIRAS NOÇÕESocorre um completo desligamento dos vínculos com os pais e parentesnaturais, exceto no que se refere aos impedimentos matrimoniais, dessa forma,alguém que foi adotado não pode se casar com sua irmã natural.

Formando-se novos vínculos de parentesco, se torna recíproco odireito sucessório entre o adotado, seus descendentes, o adotante, seusascendentes, descendentes e colaterais até o 4º grau, observada a ordem devocação hereditária.Dentre as prescrições para a adoção, devemos destacar asseguintes:yo adotante deve ser maior de 18 anos, independentemente doestado civil;ynão podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.

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ya adoção pode ocorrer por apenas uma pessoa ou por ambosos cônjuges (adoção conjunta);ypara adoção conjunta, é indispensável que os adotantessejam casados civilmente ou mantenham união estável,comprovada a estabilidade da família;yo adotante deve ser, pelo menos, 16 anos mais velho do que

o adotando;yos divorciados, os judicialmente separados e os excompanheirospodem adotar conjuntamente, contanto queacordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que oestágio de convivência tenha sido iniciado na constância doperíodo de convivência e que seja comprovada a existênciade vínculos de afinidade e afetividade com aquele nãodetentor da guarda, que justifiquem a excepcionalidade daconcessão ± nesse caso, a guarda poderá ser compartilhadapelos adotantes;ya adoção poderá ser deferida ao adotante que, apósinequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso15 

PRIMEIRAS NOÇÕESdo procedimento, antes de prolatada a sentença (adoçãopóstuma);ya adoção será deferida quando apresentar reais vantagenspara o adotando e fundar -se em motivos legítimos;ya adoção depende do consentimento dos pais ou dorepresentante legal do adotando, salvo se pais foremdesconhecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar;yna adoção de maior de 12 anos de idade é necessário o seuconsentimento.

Antes de efetivada a adoção deve ser realizado um estágio deconvivência, o qual durará o prazo fixado pelo juiz do processo, contudo, esseestágio poderá ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou guardalegal do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar aconveniência da constituição do vínculo.A guarda de fato (sem decisão judicial), por si só, não dispensa arealização do estágio de convivência.Se os adotantes forem residentes ou domiciliados fora do país(adoção internacional), o estágio de convivência será de, no mínimo, 30 dias eserá cumprido no território nacional.Esse estágio de convivência deverá ser acompanhado por equipeinterprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude.

A adoção se torna definitiva e, por conseqüência, fica estabelecidovínculo entre adotante e adotado com a sentença judici al transitada em julgado,a qual é inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerácertidão.Nessa inscrição:yconstará o nome dos adotantes como pais, bem como o nomede seus ascendentes;yo mandado judicial cancela o registro original do adotado;16 

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PRIMEIRAS NOÇÕES

yo novo registro poderá ser lavrado no Cartório do RegistroCivil do Município de sua residência do adotante;ynenhuma observação sobre a origem do ato poderá constar nas certidões do registro;ya sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a

pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificaçãodo prenome, contudo, neste caso, é obrigatória a oitiva doadotando.Os efeitos da adoção passam a existir a contar da data do trânsitoem julgado da sentença constitutiva, exceto na adoção póstuma, caso em queterá força retroativa à data do óbito.O adotado, em regra após os 18 anos, tem direito de conhecer suaorigem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual amedida foi aplicada.A morte dos adotantes não restabelece o poder familiar dos paisnaturais.A Vara da Infância e da Juventude, em cada comarca ou foro

regional, deverá manter um registro de crianças e adolescentes em condiçõesde serem adotados e outro de pessoas interessadas na adoção.DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AOLAZEREstabelece o ECA o direito da criança e do adolescente à educação,visando:yo pleno desenvolvimento de sua pessoa;ypreparo para o exercício da cidadania;yqualificação para o trabalho.17 

PRIMEIRAS NOÇÕES

Para que esses objetivos sejam atingidos, o Estado deve assegurar a crianças e adolescentes:yensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para osque a ele não tiveram acesso na idade própria;yprogressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade aoensino médio;yatendimento educacional especializado aos portadores dedeficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;yatendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 a 6anos de idade;yacesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e dacriação artística, segundo a capacidade de cada um;yoferta de ensino noturno regular, adequado às condições doadolescente trabalhador;yatendimento no ensino fundamental, através de programassuplementares de material didático-escolar, transporte,alimentação e assistência à saúde.O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo,ou seja, poder ser judicialmente exigido pelos interessados que não obtiveremvagas na rede pública.

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Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos oupupilos na rede regular de ensino.Como parte do sistema de proteção total destinado às crianças eadolescentes, o art. 56 do ECA estabelece uma série de medidas que devemser observadas pelos dirigentes de estabelecimento de ensino (público ouprivado).

Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensinofundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:I - maus-tratos envolvendo seus alunos;18 

PRIMEIRAS NOÇÕESII - reiteração de faltas injustificad as e de evasão escolar,esgotados os recursos escolares;III - elevados níveis de repetência.DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO E À PROTEÇÃO NOTRABALHOMuito embora o art. 60 do ECA estabeleça que é proibido qualquer trabalho a menores de 14 anos de idade, sal vo na condição de aprendiz, esse

dispositivo foi revogado pela Emenda Constitucional n.º 20/98, sendo que,conforme vimos anteriormente, a idade mínima é de 16 anos, exceto comoaprendiz a partir dos 14 anos.A aprendizagem se caracteriza por possuir o condão de estabelecer um processo de formação técnico-profissional, devendo atender aos preceitosfixados em legislação própria, além dos seguintes princípios:ygarantia de acesso e freqüência obrigatória ao ensino regular;yatividade compatível com o desenvolvimento do adolescente;yhorário especial para o exercício das atividades.Ao adolescente portador de deficiência é assegurado trabalhoprotegido.Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de

trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade governamental ounãogovernamental,é vedado trabalho:ynoturno, realizado entre as 22 horas de um dia e as 5 horasdo dia seguinte;yperigoso, insalubre ou penoso;yrealizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seudesenvolvimento físico, psíquico, moral e social;19 

PRIMEIRAS NOÇÕES

yrealizado em horários e locais que não permitam a freqüênciaà escola.DA PREVENÇÃOAlinhado com o objetivo de estabelecer um sistema de proteçãototal, estabelece o ECA que ³é dever de todos prevenir a ocorrência de ameaçaou violação dos direitos da criança e do adolescente´ ± art. 70.Essa prevenção é estabelecida por uma série de medidas a que elechamada de medidas de Prevenção Especial.PREVENÇÃO ESPECIALO poder público deve regular as diversões e espetáculos públicos,

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estabelecendo a forma como a sociedade deve ser informada sobre a naturezadeles, as faixas etárias a que não se recomendem, locais e horários em quesua apresentação se mostre inadequada.Estabelecidos esses critérios, os responsáveis por essas diversões eespetáculos públicos devem afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entradado local de exibição, informações sobre a natureza do espetáculo e a faixa

etária especificada recomendada.Toda criança ou adolescente terá acesso às diversões e espetáculospúblicos classificados como adequados à sua faixa etária, sendo que ascrianças menores de 10 anos somente poderão ingressar e permanecer noslocais de apresentação ou exibição quando acompanhadas dos pais ouresponsável.Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários de empresas queexplorem a venda ou aluguel de programação em vídeo (fitas VHS e DVD ±locadoras de vídeos, especialmente) devem cuidar para que não haja venda oulocação em desacordo com a classificação atribuída pelo órgão competente.20

PRIMEIRAS NOÇÕES

As revistas e publicações contendo material impróprio ouinadequado a crianças e adolescentes deverão ser comercializadas emembalagem lacrada, com a advertência de seu conteúdo.As revistas e publicações destinadas ao público infanto-juvenil nãopoderão conter ilustrações, fotografias, legendas, crônicas ou anúncios debebidas alcoólicas, tabaco, armas e munições, e deverão respeitar os valoreséticos e sociais da pessoa e da família.Os responsáveis por estabelecimentos que exploremcomercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por casas de jogos, assimentendidas as que realizem apostas, ainda que eventualmente, cuidarão paraque não seja permitida a entrada e a permanência de crianças e adolescentesno local, afixando aviso para orientação do público.

É proibida a venda para criança ou adolescente de:yarmas, munições e explosivos;ybebidas alcoólicas;yprodutos cujos componentes possam causar dependênciafísica ou psíquica ainda que por utilização ind evida;yfogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que peloseu reduzido potencial sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida;yrevistas e publicações não recomendadas à sua faixa etária;ybilhetes lotéricos e equivalentes.É proibida a hospedagem de criança ou adolescente em hotel,

motel, pensão ou estabelecimento congênere, salvo se autorizado ouacompanhado pelos pais ou responsável.Nenhuma criança pode viajar para fora da comarca onde reside,desacompanhada dos pais ou responsável, sem expressa autorização judicial,porém essa autorização não é exigida quando:21

PRIMEIRAS NOÇÕES

ytratar-se de comarca contígua à da residência da criança, sena mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma

8/7/2019 1 ECA APOSTILA PRIMEIRA

http://slidepdf.com/reader/full/1-eca-apostila-primeira 13/13

região metropolitana;ya criança estiver acompanhada:o de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau,comprovado documentalmente o parentesco;o de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai,mãe ou responsável.

O juiz da Infância e da Juventude, a pedido dos pais ou responsável,poderá conceder autorização para viagens válida por 2 anos.Em relação a viagens para o exterior, a lei estabeleceu anecessidade de autorização judicial, salvo se a criança ou adolescente:yestiver acompanhado de ambos os pais ou responsável;yviajar na companhia de um dos pais, autorizadoexpressamente pelo outro através de documento com firmareconhecida.Salvo se houver prévia e expressa autorização judicial, nenhuma criança ouadolescente nascido em território nacional poderá sair do país em companhiade estrangeiro residente ou domiciliado no exterior.