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Revista Teias v. 13 • n. 30 • 71-93 • set./dez. 2012 71 A PRESENÇA DA CULTURA DIGITAL NO GT EDUCAÇÃO E COMUNICAÇÃO DA ANPED Maria Helena Silveira Bonilla (*) INTRODUÇÃO A discussão e os estudos sobre a relação entre educação e tecnologias digitais (à época, denominada “informática educativa”) tem início, no Bras il, na década de 1970, mas essas tecnologias só começam a ser inseridas nas escolas de educação básica no final da década de 1980, no escopo do Projeto Educom, e das políticas públicas que se seguiram a ele (EM ABERTO, 1993). Com o advento da internet (possibilitado pela junção da informática com as telecomunicações), tais tecnologias passam a ser denominadas tecnologias de informação e comunicação (TIC), hoje, tecnologias digitais, e sua popularização, no Brasil, se dá a partir de 1995, quando da abertura da internet comercial no país, deixando de ser restrita às universidades e aos centros de pesquisa. Ao longo desse período, e incrementando-se a partir de então, pesquisadores brasileiros, de diferentes áreas do conhecimento, organizam grupos e linhas de pesquisas voltados para o estudo das características, potencialidades e limites das tecnologias digitais, as implicações e relações sociais, políticas e econômicas que se estabelecem a partir delas, a cultura que emerge dessas relações, bem como sobre os processos formativos necessários para a sua utilização, compreensão e desenvolvimento. A produção acadêmica sobre a relação entre educação e tecnologias digitais faz parte desse movimento e, como consequência, a partir de meados da década de 1990, é acolhida e começa a ser socializada e discutida no Grupo de Trabalho Educação e Comunicação (GT-16) da Anped, originariamente voltado para o debate sobre a relação entre educação e comunicação, como o próprio nome do GT indica. Esse acolhimento dá um novo enfoque e consolida o GT, como analisa Nelson Pretto (2009), ao resgatar a história da constituição do mesmo. O primeiro trabalho a marcar essa integração foi o de Maria de Fátima Quintal de Freitas (1994), o qual tinha como objetivo identificar, descrever e caracterizar as representações de estudantes de psicologia sobre a tecnologia, a informática e as possíveis utilizações que poderiam ter para a futura atuação profissional. Tal objetivo sinaliza a emergência da área e a preocupação (*) Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia. Doutora em Educação. Mestre em Educação nas Ciências. Vice-líder do grupo de pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias GEC/Faced/UFBA.

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Resumo da obra Cultura Digital

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  • Revista Teias v. 13 n. 30 71-93 set./dez. 2012 71

    A PRESENA DA CULTURA DIGITAL NO GT

    EDUCAO E COMUNICAO DA ANPED

    Maria Helena Silveira Bonilla(*)

    INTRODUO

    A discusso e os estudos sobre a relao entre educao e tecnologias digitais ( poca,

    denominada informtica educativa) tem incio, no Brasil, na dcada de 1970, mas essas

    tecnologias s comeam a ser inseridas nas escolas de educao bsica no final da dcada de 1980,

    no escopo do Projeto Educom, e das polticas pblicas que se seguiram a ele (EM ABERTO, 1993).

    Com o advento da internet (possibilitado pela juno da informtica com as

    telecomunicaes), tais tecnologias passam a ser denominadas tecnologias de informao e

    comunicao (TIC), hoje, tecnologias digitais, e sua popularizao, no Brasil, se d a partir de 1995,

    quando da abertura da internet comercial no pas, deixando de ser restrita s universidades e aos

    centros de pesquisa.

    Ao longo desse perodo, e incrementando-se a partir de ento, pesquisadores brasileiros, de

    diferentes reas do conhecimento, organizam grupos e linhas de pesquisas voltados para o estudo

    das caractersticas, potencialidades e limites das tecnologias digitais, as implicaes e relaes

    sociais, polticas e econmicas que se estabelecem a partir delas, a cultura que emerge dessas

    relaes, bem como sobre os processos formativos necessrios para a sua utilizao, compreenso e

    desenvolvimento.

    A produo acadmica sobre a relao entre educao e tecnologias digitais faz parte desse

    movimento e, como consequncia, a partir de meados da dcada de 1990, acolhida e comea a ser

    socializada e discutida no Grupo de Trabalho Educao e Comunicao (GT-16) da Anped,

    originariamente voltado para o debate sobre a relao entre educao e comunicao, como o

    prprio nome do GT indica. Esse acolhimento d um novo enfoque e consolida o GT, como analisa

    Nelson Pretto (2009), ao resgatar a histria da constituio do mesmo.

    O primeiro trabalho a marcar essa integrao foi o de Maria de Ftima Quintal de Freitas

    (1994), o qual tinha como objetivo identificar, descrever e caracterizar as representaes de

    estudantes de psicologia sobre a tecnologia, a informtica e as possveis utilizaes que poderiam

    ter para a futura atuao profissional. Tal objetivo sinaliza a emergncia da rea e a preocupao

    (*)

    Professora da Faculdade de Educao da Universidade Federal da Bahia. Doutora em Educao. Mestre em

    Educao nas Cincias. Vice-lder do grupo de pesquisa Educao, Comunicao e Tecnologias GEC/Faced/UFBA.

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    dos pesquisadores em tentar entend-la, ao mesmo tempo que buscavam delimitar suas

    potencialidades para a educao.

    Este texto tem como objetivo mapear e resgatar os trabalhos apresentados desde ento no

    GT-16, que tenham como foco o debate e a anlise das questes relacionadas cultura digital e suas

    repercusses na educao1. Cultura digital entendida no apenas como o uso de equipamentos e

    produtos digitais, mas tambm, de acordo com Costa (2008), como processos, experincias,

    vivncias, escolhas que se do frente ao excesso de informaes, produtos e servios que circulam

    pelos bancos de dados, redes e dispositivos digitais. Portanto, a cultura digital entendida aqui

    como uma formao mais ampla que a cibercultura2, uma vez que esta se incrementa em rede,

    dependente portanto de conectividade, de tecnologias on-line, e aquela se constitui tambm em

    ambientes off-line, a exemplo dos laboratrios de informtica das escolas que no possuem conexo

    internet3.

    Entre 1994 e 2010, foi possvel identificar 47 trabalhos apresentados, voltados para essa

    temtica, sendo que a sua quantidade anual sofreu incremento a partir de 2004, o que evidencia a

    consolidao do debate sobre o tema no GT a partir dessa data. A anlise desses trabalhos permitiu

    o mapeamento dos principais focos das pesquisas apresentadas at o presente momento, bem como

    dos referenciais terico-metodolgicos que do sustentao s anlises.

    Para tanto, procedeu-se, primeiramente, a uma categorizao dos trabalhos apresentados em

    todas as reunies do GT4, a partir da anlise do ttulo, do resumo e das palavras-chave, para

    delimitar se enquadravam-se no escopo proposto. Aps a seleo dos 47 trabalhos, procedeu-se a

    leitura, na ntegra, de todos eles, e a realizao, em paralelo, de um fichamento onde era

    identificado o foco de anlise, as palavras-chave, o referencial terico e os caminhos metodolgicos

    adotados, bem como os principais enfoques e concluses do trabalho. Uma posterior anlise desse

    fichamento permitiu o agrupamento dos trabalhos, por categorias, e a consequente construo do

    1 No objetivo deste texto mapear os trabalhos que tenham como foco a Educao a Distncia e a Educao On-line,

    uma vez que estes so objeto de anlise em outro texto.

    2 A maior parte das discusses sobre cibercultura tomam como base o conceito de Pierre Lvy (1999, p. 17), o qual

    entende cibercultura como o conjunto de tcnicas (materiais e intelectuais), de prticas, de atitudes, de modos de

    pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespao, caracterizado pelo autor

    como o novo meio de comunicao que surge com a interconexo mundial de computadores. 3Aproximaes, diferenas e similaridades entre cultura digital e cibercultura so discutidas por diferentes autores. No

    cabe aqui aprofundar esse debate; deixamos apenas registrado no haver consenso sobre essas definies, ao mesmo

    tempo que explicitamos o entendimento que estamos construindo, a partir de algumas pesquisas que realizamos em

    nosso grupo, na Faced/UFBA.

    4Agradecimentos a Joseilda Sampaio de Souza, pala colaborao na seleo e organizao dos trabalhos.

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    mapa que a seguir passamos a descrever, e que integra um conjunto de outros textos que marcam os

    20 anos de existncia do GT-16 da Anped.

    OS ENFOQUES DAS PESQUISAS

    Os trabalhos apresentados no GT-16, e que tratam da relao das TIC, mais especificamente

    da cultura digital, com a educao, puderam ser agrupados em quatro grandes categorias - a

    formao dos professores, as TIC nas escolas, os jovens e as TIC, as linguagens , pela recorrncia

    com que apareceram, o que demarca a sua importncia nos debates e nas prticas educacionais.

    Esse agrupamento tambm permitiu evidenciar as reas, integrantes desse escopo, que, ou so

    carentes de anlise, no buscaram ou ainda no encontraram acolhimento no GT, apesar do

    destaque que vm tendo nas prticas e nas polticas pblicas que tratam sobre o tema.

    Vejamos como nosso GT se movimenta em torno dessas questes.

    A FORMAO DE PROFESSORES

    Desde 1994, as pesquisas apresentadas no GT-16 vm revelando o desconhecimento dos

    professores quanto s possibilidades de aplicao da tecnologia e da informtica para alm das

    funes estritas ao que um computador pode fazer (FREITAS, 1994), a busca pela delimitao de

    modelos que possam ser teis em cursos de formao de professores (CYSNEIROS, 1997), a busca

    pela compreenso das formas como os professores se relacionam com as TIC, os sentidos e

    significados que lhes atribuem (FERNANDES, 2005; FREITAS, 2005; KENSKI, 1998; PEREIRA,

    1996; VIEIRA, 2003), o carter tecnicista dos cursos de formao, inicial e continuada

    (ABRANCHES, 2004, GONALVES; NUNES, 2006; NUNES, 2005), a organizao de comuni-

    dades virtuais onde os professores trocam e refletem sobre suas prticas, constituindo-se elas em

    ambientes de formao (GUTIERREZ, 2005; HALMANN; BONILLA, 2009), at a dbil formao

    inicial dos professores para o uso das TIC que vem ocorrendo nas IES brasileiras, com a falta de

    incorporao do tema no currculo dos cursos (FERNANDES, 2005; FREITAS, 1994;

    GONALVES; NUNES, 2006; MARCOLLA, 2008; NUNES, 2005), a constatao de que as

    tecnologias chegam a esses cursos pela mo dos alunos, uma vez que a iniciativa pela busca de

    informaes nos ambientes virtuais e pela comunicao online parte dos professores em formao,

    ficando restrita a iniciativa dos professores universitrios exigncia de trabalhos realizados a partir

    das fontes digitais (FERNANDES, 2005; MARCOLLA, 2008), e a falta de infraestrutura em

    algumas universidades para o trabalho com essas tecnologias (FERNANDES, 2005; MARCOLLA,

    2008).

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    Considerando que os pesquisadores, autores dos trabalhos analisados, so oriundos de

    universidades das diferentes regies do pas, possvel dizer que essas debilidades esto postas em

    todo o cenrio brasileiro. Refora essa concluso o fato de a mesma vir sendo apontada por outras

    pesquisas, a exemplo do estudo sobre a formao inicial e continuada e a carreira dos professores

    no Brasil, realizado pelas pesquisadoras Bernardete Gatti e Elba de S Barreto, da Fundao Carlos

    Chagas , a convite da Unesco, em 2009. A maioria dos cursos de formao inicial no contempla o

    estudo e o uso das tecnologias digitais nos currculos, e, aqueles que contemplam, apresentam

    pouqussimas disciplinas que envolvam saberes relacionados s tecnologias Gesto de Mdias

    Educacionais, Informtica Aplicada Educao, Tecnologia Aplicada Educao, Recursos

    Tecnolgicos para o Ensino de..., Computao para o Ensino e outras: nos cursos de Pedagogia,

    apenas 0,7% das disciplinas obrigatrias, e 3,2% das disciplinas optativas; nos cursos de Letras,

    apenas 0,2% das disciplinas obrigatrias, nem aparecendo dentre as optativas; nos cursos de

    Matemtica, 1,6% das disciplinas obrigatrias, e 2,0% das optativas; e nos cursos de Cincias

    Biolgicas, 0,2% das disciplinas obrigatrias, e 1,5% das optativas. (GATTI; BARRETO, 2009, p.

    118-152).

    Portanto, a formao dos professores para o uso das tecnologias digitais, no Brasil, continua

    sendo, prioritariamente, ou realizada aps os professores sarem das universidades, quando em

    servio, atravs dos programas de insero das tecnologias nas escolas, que contemplem tambm a

    formao dos professores, a exemplo do Proinfo, ou por iniciativa prpria dos mesmos, que,

    individualmente ou em grupos, se mobilizam para se aproximar da cultura digital e integr-la a sua

    prtica docente, visto que tem faltado articulao das escolas para promover a formao continuada

    de seus professores (GONALVES; NUNES, 2006), da mesma forma que tem faltado formao

    inicial e polticas pblicas que invistam fortemente nessa formao.

    Sobre os processos de formao continuada dos professores para o uso das tecnologias

    digitais, alguns trabalhos (ABRANCHES, 2004; VIEIRA, 2003) voltam-se para essa temtica,

    discutindo os discursos e a prtica dos multiplicadores dos Ncleos de Tecnologia Educacional

    (NTE) do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (Proinfo), nos processos de formao dos

    professores das escolas. Segundo os autores, esse um processo permeado de tenses, pois ao

    mesmo tempo que os multiplicadores entendem e reconhecem seu trabalho como fundamental para

    os processos de incorporao das tecnologias digitais na educao, no conseguem ultrapassar

    prticas de formao que correspondem a um outro modelo de sociedade e de educao, ainda

    voltado para as prticas institudas historicamente na sala de aula, necessitando novas formas de

    compreenso e mesmo de elaborao, que contemplem a discusso sobre o significado e o papel

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    dessas tecnologias. Interferem nesse processo, segundo os autores, a falta de condies tcnicas e

    funcionais para a implantao de um modelo diferenciado de formao, bem como de um projeto

    poltico pedaggico especfico para os NTE, que oriente o processo de formao.

    Embora este no fosse o foco da pesquisa de Silvio Pereira (2008), este pesquisador

    apresenta um dado que refora as concluses de Srgio Abranches (2004) e Paula Vieira (2003):

    embora as professoras da escola contem com uma poltica de formao continuada, relatam

    dificuldades, pois os cursos so curtos e no so suficientes para lev-las do desconhecimento ao

    uso independente dos programas. Alm disso no h cursos sobre usos bsicos de computadores, o

    que elas aprendem com os filhos, sozinhas, ou s vezes pagando cursos do prprio bolso.

    (PEREIRA, 2008, p. 12). A mesma carncia na formao e no acompanhamento do trabalho dos

    professores das escolas, por parte dos multiplicadores dos NTE, constatada por Mirza Toschi

    (2003). Outra dificuldade apresentada pelos professores diz respeito familiarizao com os

    ambientes livres o Linux Educacional instalados nos laboratrios de todas as escolas pblicas do

    pas. Essa familiarizao depende, fundamentalmente, dos processos de formao continuada dos

    professores, mas estes no tm respondido s necessidades dos professores (PEREIRA, 2008).

    No me coube fazer uma anlise das pesquisas sobre os processos de formao de

    professores a distncia. Deixo apenas registrado o estudo realizado por Barreto e outras, sobre o

    Estado do Conhecimento na rea de Educao e Tecnologia, no Brasil, no perodo entre 1996 e

    2002, onde constatam que A maioria das T&D recortadas est voltada para a EAD, o que pode ser

    explicado pelo investimento macio nesta modalidade de ensino e pela recontextualizao redutora

    das TIC proposta pelo MEC, na criao da Secretaria de Educao a Distncia para dar conta deste

    movimento. (BARRETO et al., 2005, p. 8).

    O que possvel concluir, a partir da anlise dessas pesquisas, que a fragilidade

    apresentada pelos processos de formao dos professores no Brasil, seja formao inicial, seja

    formao continuada, para o uso das TIC nos processos pedaggicos, influem, impactam,

    reverberam diretamente na forma como as mesmas so (ou deixam de ser!) incorporadas nas

    escolas de educao bsica no pas, bem como na compreenso e sentidos a elas atribudos pela

    comunidade escolar.

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    AS TIC NAS ESCOLAS

    A insero das TIC nas escolas tambm foi analisada pelos pesquisadores do GT-16, desde

    1997, quando Leila Salles e Dbora Mazza j evidenciavam: Nas escolas o computador tem sido,

    muitas vezes, utilizado para ensinar sobre computao, atravs de aulas de informtica onde

    utilizado para que o aluno adquira conceitos computacionais, como noes de funcionamento do

    aparelho e de programao; outras vezes utilizado para o ensino de conceitos das diferentes

    disciplinas. (SALLES;e MAZZA, 1997, p. 2). Em 1998, Deise Francisco acrescenta uma outra

    prtica relacionada s tecnologias digitais: a brincadeira (categoria na qual incluem-se os jogos e os

    demais exerccios ldicos).

    Em geral, as salas de informtica das escolas so desvinculadas dos demais ambientes,

    funcionando como uma espcie de vitrine, para exposio dos equipamentos, os quais, pelo

    estranhamento dos professores, que no tm o domnio sobre eles, ou ficam ociosos (TOSTA;

    OLIVEIRA, 2001), ou so utilizados para as tradicionais pesquisas na internet, ou para a produo

    e apresentao de trabalhos, destacando-se a digitao e formatao de textos, s vezes incluindo

    neles imagens da internet ou fotografias, e para o desenvolvimento de projetos (PEREIRA, 2008;

    QUILES, 2010). Muitas vezes, de acordo com Eduardo Junqueira (2009), esses projetos

    distanciam-se das formas de compreenso dos alunos e das prticas especficas da vida cotidiana e

    escolar. Segundo o autor, na sala de aula, os alunos escrevem para demonstrar conhecimento,

    receber notas e cumprir as tarefas da escola (p. 15); nas lan houses, escrevem para inserir-se na

    troca de recados teis e na construo de amizades; j no laboratrio de informtica da escola essas

    finalidades, que dariam sentido s prticas com as tecnologias digitais, ficam ausentes. Conclui o

    pesquisador que as tecnologias e seu uso precisam tornar-se efetivas a partir das prticas

    significativas dos alunos, ou seja, a partir da compreenso que os alunos possuem ou desenvolvem a

    respeito das tecnologias digitais na experincia escolar deles (JUNQUEIRA, 2009, p. 16), de

    forma que o computador, na escola, se torne uma prtica social, e no uma mera ferramenta de

    trabalho.

    Afirmam ainda os pesquisadores que as tecnologias no chegam ao ambiente escolar via um

    projeto pedaggico mobilizador de conhecimentos e de competncias mltiplas. Como j era

    percebido em 2001, pelas pesquisadoras Sandra Tosta e Maria Auxiliadora Oliveira, difcil

    afirmar que a insero das TIC na escola provocam mudanas substantivas na organizao e na

    pedagogia das escolas, ou que seus processos de ensino-aprendizagem se tornaram mais interativos

    e abertos. Os tempos e espaos escolares permanecem como que inalterados e a tecnologia se

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    apresenta como um tipo de anexo onde professores e alunos pouco frequentam e, quando o

    fazem, como se estendessem o espao da sala de aula para a sala de informtica, sem as

    necessrias mediaes de um projeto pedaggico (TOSTA; OLIVEIRA, 2001, p. 15) que favorea

    o entendimento e a vivncia de uma outra lgica, de uma outra cultura e de diferentes linguagens,

    das quais as tecnologias digitais so portadoras. Em vista disso, as aulas de informtica, numa

    perspectiva instrumental, mantm-se, ao longo dos anos, nos currculos de algumas escolas,

    justificando-se essa prtica como atendimento s crianas de baixa renda, com tais aulas atuando

    como estratgia de incluso digital com vistas preparao para o trabalho (GUIMARES;

    MAGALHES; BARRETO, 2010; PEREIRA, 2008).

    Destacam-se nas prticas, tambm, as normas e as proibies. Dispostos pelas paredes dos

    laboratrios, cartazes com uma srie de normas informam aos alunos o que pode ou no pode ser

    realizado naqueles ambientes, destacando-se dentre as prticas proibidas o uso do MSN e do Orkut

    (PEREIRA, 2008; QUILES, 2010). Tambm os celulares so proibidos nas escolas (MONTEIRO,

    2006). Ou seja, os espaos de uso das tecnologias digitais nas escolas configuram-se como espaos

    fechados e ordenados, marcados pela normalizao (QUILES, 2010), ou trancafiados com grades

    de ao, com acesso restrito e vigiado (TOSTA; OLIVEIRA, 2001); tambm o tempo organizado

    de forma fragmentada e rgida, em cima de um quadro horrio, obedecendo a critrios que

    determinam horrios de entradas e sadas nesse espao (QUILES, 2010).

    Pode-se perceber uma tendncia em reproduzir, com o uso das tecnologias digitais, as

    mesmas prticas tradicionalmente desenvolvidas na sala de aula, bem como a manuteno da

    estrutura curricular instituda (as tecnologias so incorporadas como mais uma disciplina da grade!).

    Os pesquisadores afirmam no haver formao suficiente ou adequada das professoras que

    promova ou estimule usos crticos e criativos. (PEREIRA, 2008, p. 14). Com isso, apesar da

    presena das tecnologias digitais nas escolas, no h um fortalecimento da cultura digital, pois esta

    requer uma forte imerso no contexto, de forma que processos, vivncias e tomada de decises

    sejam amplamente experienciados e compreendidos, dando sentido s prticas, tanto sociais, quanto

    pedaggicas.

    Apesar dessa constatao, algumas pesquisas apontam usos criativos das tecnologias nas

    escolas, como o caso de experincias de produo de vdeo, de integrao de turmas de alunos em

    comunidades no Orkut, de produo de imagens para trabalhos ou projetos desenvolvidos,

    estimuladas pela aquisio de mquinas digitais pelas escolas, de organizao de rdios web nas

    escolas, com oficinas para gravao e edio de udio, e a produo de programas para as rdios,

    alm de oficinas de edio de vdeos, fotos e textos realizada na escola, produo de blogs, sites,

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    jornais, panfletos e livros (impressos ou virtuais), projetos envolvendo celulares em novas

    possibilidades de leitura e escrita dos alunos (MONTEIRO, 2006; PEREIRA, 2008).

    Estas prticas apontam para um dilogo entre a cultura digital, que entra na escola, quer pela

    mo dos alunos, quer pelas polticas pblicas, e a cultura escolar instituda, ainda de forma

    hegemnica, dando origem a novas regras, novas aes, novas alternativas metodolgicas, mesmo

    que de forma lenta e ainda se constituindo em um grande desafio para os professores (MONTEIRO,

    2006).

    Apesar de serem um grande desafio, diretores e professores apontam a incorporao das

    tecnologias digitais no cotidiano do trabalho escolar como meio de melhorar a qualidade do ensino

    eles acreditam que estes recursos modificam a aparncia ultrapassada da didtica escolar

    caricaturada no giz, na lousa e na retrica do professor, e facilitam os processos de aprendizagem

    dos educandos , enquanto os alunos apontam como complemento do trabalho docente,

    contribuindo tambm para otimizar o processo de ensino e aprendizagem (SALLES; MAZZA,

    1997). Ainda, o discurso docente sugere que o acesso s TIC corresponda sada para a

    empregabilidade dos alunos, considerando as deficincias da escolarizao e as poucas

    oportunidades extraescolares. As tecnologias so ditas salvadoras do processo ensino-

    aprendizagem. (GUIMARES; MAGALHES; BARRETO, 2010, p. 10). Segundo estas

    pesquisadoras, essa a percepo dos professores das escolas pblicas, as quais dispem de apenas

    um laboratrio com poucas mquinas, bastante diferente da percepo dos professores das escolas

    privadas, as quais dispem de uma gama de tecnologias em laboratrios e em salas de aula para fins

    especficos. Para os professores das escolas privadas, as tecnologias so consideradas como

    suportes na produo de sentidos e prticas sociais, como meio de veiculao de textos, leituras e

    sentidos (p. 10), o que evidencia uma percepo das TIC como suporte que pode conferir

    agilidade e inovao ao trabalho, atravs de modos de acesso que contribuam no processo ensino-

    aprendizagem, por estarem integradas tanto na vida escolar, quanto na vida pessoal e futuro

    profissional dos alunos, contemplando suas necessidades e interesses e sustentando possibilidades

    de trabalho autnomo e criativo. (GUIMARES; MAGALHES; BARRETO, 2010, p. 10).

    Portanto, a escola brasileira perpassada por diversas lgicas e prticas, de forma que os

    projetos ali implementados resultam de hibridizaes com vrios modos de comportamento, de

    relacionamento e de pensar (FRANCISCO, 1998, p. 1), destacando-se a insero das tecnologias

    na escola como uma imposio dos tempos, para acompanhamento do progresso; tambm como

    uma busca para a revitalizao do ensino; e ainda como uma forma de manter o controle sobre o

    comportamento dos alunos, pois em frente mquina eles tendem a ficar mais quietos. J Glaucia

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    Guimares, Ligia Magalhes e Raquel Barreto (2010) afirmam que os processos de incorporao

    das TIC na escola esto aprofundando a diviso entre a escola profissionalizante/tcnica, para as

    classes subalternas, atendendo ao mercado de trabalho, no cenrio da globalizao (p. 10) e a

    escola para as classes dominantes, cujos processos formativos so pensados para manter essa

    condio, com as TIC se constituindo como espaos de produo de sentidos, o que mantm a

    ordem social hegemnica e reduz as potencialidades dessas tecnologias.

    Tem ficado, portanto, a cargo dos jovens a tarefa de desencadear processos criativos e

    dinmicos com as tecnologias digitais, incrementando assim a cultura digital, por no estarem to

    presos s amarras da cultura escolar instituda e terem o desejo natural de experimentar, propor,

    trocar, numa perspectiva mais democrtica de apropriao dos novos meios.

    OS JOVENS E AS TIC

    O estudo sobre as formas de relacionamento dos jovens (crianas e adolescentes) com a

    cultura digital comea a vir para o GT-16 em 2004, quando Nilza Gomes e Maria Luiza Belloni

    procuram compreender os processos de apropriao das TIC pelas novas geraes, com foco em

    jovens em situao de risco. As pesquisadoras evidenciam a rapidez com que os jovens se

    familiarizam com as tecnologias, com destaque para aqueles j alfabetizados, e como essa interao

    vai revelando os bloqueios adquiridos em experincias frustrantes na escola; a fascinao que

    sentem por esses ambientes; o gosto pela explorao livre, pela experimentao, destacando-se o

    gosto pelo jogo e pelo desenho. O estudo tambm evidenciou a rejeio dos jovens com tudo que se

    relaciona com o ambiente escolar, mesmo quando a atividade realizada no computador. As

    pesquisadoras tambm destacam as potencialidades das TIC nos processos de aprendizagem desses

    jovens, especialmente no que se refere alfabetizao e ao letramento.

    A partir de ento seguem-se os estudos de Gilka Girardello (2005), procurando entender a

    relao das crianas de 4 a 6 anos com a internet. A pesquisa evidencia que para as crianas

    pequenas, e que tm acesso fcil ao computador, ele desde j primordialmente um brinquedo, ou

    um espao onde se brinca (p. 8), destacando-se a brincadeira narrativa, a verbalizao de um faz

    de conta diante da tela (p. 9) como potencializadores da multiplicidade narrativa, da diversidade

    das linguagens, da memria, da arte, das experincias do corpo. Conclui que o acesso

    pedagogicamente mediado internet pode ser uma alternativa para garantir s crianas o direito

    recepo de materiais culturais especificamente projetados para elas, especialmente em contextos

    sociais onde pouco chegam os livros e outros materiais pedaggicos atualizados (p. 15). Percebe

    tambm que a brincadeira imaginativa das crianas pequenas diante dos computadores segue

  • Revista Teias v. 13 n. 30 71-93 set./dez. 2012 80

    muitas das mesmas regras da interatividade e da fantasia que regem toda brincadeira infantil (p.

    15), desmistificando o medo que os adultos sentem da relao das crianas com esses ambientes.

    Os estudos de Robson Simes (2006) trazem para o debate as novas formas lingusticas

    utilizadas pelos jovens na internet, evidenciando que eles desenvolveram uma prtica de escrita

    codificada aliada a uma escrita normativa que juntas rompem com os padres normativos

    constituindo-se num mosaico lingustico, ou seja, num palco de elementos inconclusos (p. 12).

    Segundo o autor, os jovens, nesse palco de transgresses escritas, se articulam com desembarao,

    movidos por uma criatividade e desejo de comunicao, imbudos com o esprito narrativo da

    internet. Tambm, constroem seu prprio discurso, cujo sentido est carregado do lugar social em

    que se situam, articulando assim os domnios das linguagens com os da subjetividade.

    Nos ambientes digitais os jovens tambm constroem narrativas e subjetivao a partir dos

    jogos eletrnicos. Este o foco dos estudos de Cludio Mendes (2006), ao discutir a subjetivao

    dos jogadores como procedimentos construdos e apoiados nas histrias elaboradas para os jogos e

    nas narrativas construdas pelos prprios jogadores, que funcionam como entroncamentos entre os

    jogos e os jogadores, educando esses ltimos (p. 2). Segundo o autor, pelas diversas maneiras de

    serem relatadas, tanto por parte dos jogos (pelos softwares), como por parte dos sujeitos-jogadores

    (por intermdio das posies transformadas que passam a ocupar como sujeitos-jogadores-

    personagens), as histrias so interpretadas como o conjunto daqueles discursos que assumem

    formatos de tticas e tcnicas, propondo regras de conduta para a constituio de um sujeito-

    jogador. Dessa forma, os jogadores ressignificam cada jogo de maneira prpria e pessoal,

    mostrando que interpretam e desenvolvem cada game de forma nica e heterognea. Levados ao

    extremo, esses discursos nos fazem entender que existem tantos jogos sob um mesmo ttulo como o

    nmero de jogadores que os jogam. (MENDES, 2006, p. 16).

    Esse tambm o foco dos estudos de Helenice Ferreira e Maria Luiza Oswald (2009), que

    buscam compreender as novas narrativas e formas de leitura dos jovens, na sua relao com os

    jogos eletrnicos. Destaque na pesquisa para a compreenso do jogo como ambiente hbrido, que

    envolve a multissensorialidade ao utilizar as diferentes linguagens, o que implica a transformao

    das formas de ler e, portanto, de produzir conhecimento e cultura das geraes mais novas.

    Destaque tambm para a compreenso do jovem como leitor imersivo, que experimenta, explora,

    estabelece conexes atravs dos ns cognitivos formados medida que avana sua leitura. Um

    leitor que ao mesmo tempo em que l vai escrevendo uma outra histria a partir dos nexos que

    aciona. (FERREIRA; OSWALD, 2009, p. 4). Um jogador que elabora estratgias cognitivas, de

    leitura e de resoluo de problemas, lanando mo das potencialidades da simulao, do hipertexto,

  • Revista Teias v. 13 n. 30 71-93 set./dez. 2012 81

    do letramento e da cibercultura, transformando o jogo num ambiente para a metacognio (MOITA,

    2008).

    A relao dos jovens com as TIC tambm discutida por Antnio Zuin (2006) e por Leila

    Bergmann (2007), com enfoque, desta vez, s redes sociais, em especial o Orkut, a rede mais

    utilizada no Brasil poca. O Orkut e suas respectivas comunidades virtuais se constituem, para os

    jovens, como espao de sociabilidade, de objetivao dos sentimentos e das representaes que

    fazem de seus professores e da escola, de catarse, ou seja, um meio capaz de romper com o acordo

    silenciosamente estabelecido com o mestre na sala de aula. (ZUIN, 2006, p. 11).

    Mais um estudo que analisa as caractersticas dos jovens, desta vez os integrantes das tribos

    urbanas, e sua relao com as TIC o de Valdirene Silva e Edvaldo Couto (2010). Os

    pesquisadores evidenciaram que o perfil dos grupamentos juvenis, na contemporaneidade, a

    disposio autoria, a mutabilidade constante, a atrao pelas tecnologias digitais, o desejo de

    conhec-las e empreg-las, o que os torna vulnerveis a todos os tipos de consumo e

    descartabilidade de objetos, relacionamentos e sentimentos. Por isso, as tecnologias digitais esto

    cada vez mais oferecendo um padro comportamental aos jovens, pela intromisso de produtos

    culturais e de consumo e pelas ofertas de comercializao de sentidos. A cultura juvenil trafega em

    meandros digitais, que possibilitam a formao de valores e de saberes expressos na linguagem, nas

    sociabilidades e na esttica (p. 10). Os autores evidenciaram ainda que as juventudes conectadas

    reivindicam maior integrao da cultura digital com os processos pedaggicos, desejam participar

    ativamente dos processos de construo e difuso dos saberes, valorizando suas experincias e

    descobertas.

    So, portanto, os jovens os principais vetores da inovao, quer nas prticas, na linguagem e

    nos sentidos, quer na estruturao da nova cultura que nos cerca, a todos de forma mais intensa

    para alguns, menos intensa para outros, mas sempre presente na sociedade contempornea.

    AS LINGUAGENS

    Um outro tema que se destaca como foco das pesquisas, ou ento como tema transversal a

    muitas outras, o das linguagens. Enquanto para alguns, linguagem entendida como

    representao de mundo (GOMES, 2007), a maior parte dos pesquisadores do GT-16 entende que

    esta perspectiva est vinculada busca de ordem, caracterstica da modernidade, e traz para o

    debate a percepo de linguagem como construo de sentidos, sendo atravs dela que constitumos

    o mundo, descrevendo a ns mesmos e as nossas circunstncias (BONILLA, 2004; FRANCISCO,

  • Revista Teias v. 13 n. 30 71-93 set./dez. 2012 82

    1997; SARAIVA, 2004). Linguagem, como expresso e comunicao, como gesto aperfeioado,

    exclusivo da espcie humana, portador de emoes, ideias e imagens (BONILLA, 2004; BRUNO,

    2002), que possibilita a elaborao de discursos e enunciaes, todos em constante movimento.

    A emergncia das tecnologias digitais leva os pesquisadores a se debruarem sobre a

    articulao entre linguagens, tecnologias e racionalidades (BONILLA, 2004; BRUNO, 2002), bem

    como sobre as imbricaes entre diferentes linguagens e as transformaes que cada uma delas

    sofre na interface com as TIC (BONILLA, 2004; GUIMARES; MAGALHES; BARRETO,

    2010). Compreendem que uma das condies fundamentais para a produo de tendncias

    discursivas e da cultura contempornea a articulao de linguagens no processo de produo dos

    sentidos (GUIMARES MAGALHES; BARRETO, 2010, p. 4), de forma que a linguagem

    verbal, a sonora, a imagtica, por si s linguagens plurais, ao articularem-se nos textos

    contemporneos, produzem uma nova linguagem, sincopada (SARAIVA, 2004), hipertextual

    (BONILLA, 2004), codificada (SIMES, 2006), hbrida (PEREIRA, 2008), multimiditica

    (GUIMARES; MAGALHES; BARRETO, 2010), e criam um novo espao, atemporal, etreo,

    fluido, plstico (CATAPAN, 2001), de onde emergem espaos discursivos com caractersticas

    muito particulares e originais (SARAIVA, 2004).

    Destaque dado anlise do internets, linguagem tpica dos jovens e dos espaos de

    comunicao sncrona, caracterizado pela utilizao de smbolos e abreviaturas, pela perspectiva

    mais coloquial, pela comunicao livre e gil, marcada por regras prprias, por uma espcie de

    oralizao da escrita, potencializando a agilidade de pensamento e permitindo a expresso de ideias,

    emoes e fantasias (BONILLA, 2004; SARAIVA, 2004; SIMES, 2006).

    Tambm dado destaque anlise das caractersticas do hipertexto, como uma outra

    textualidade, no linear, sem hierarquias. Constitui-se como um texto plural, sem centro discursivo,

    sem margens, uma espcie de labirinto, multimiditico, um complexo processo semiolgico, em

    que palavras, imagens e sons se entrelaam uns aos outros ao simples toque de um elemento

    eletrnico, independentemente de uma porta de entrada principal ou de um ponto de chegada,

    sempre em transformao (DIAS, 2004; PEREIRA, 2008). Tais caractersticas fazem com que os

    hipertextos reconfigurem as narrativas, remetendo a outra forma de leitura a navegao , mais

    global, que permite, a partir de fragmentos, a construo de uma viso do todo, este composto por

    mltiplas vozes (BONILLA, 2004). Tambm remetem subverso do conceito de autor, como

    nica fonte geradora de sua obra, de forma que o significado da obra atribudo a uma cadeia

    interminvel de autores, navegadores e significaes (DIAS, 2004).

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    Como cones dessa outra textualidade, aparecem os jogos eletrnicos, como narrativas e

    como possibilidades de construo de narrativas, onde imagem e som ganham destaque pelo

    potencial de realismo e vivacidade que apresentam, ao se articularem com as tecnologias de

    inteligncia artificial, mediando dessa forma novas formas de ler e de produzir conhecimento

    (FERREIRA; OSWALD, 2009; MENDES, 2006; SARAIVA, 2004). Aparecem tambm os blogs,

    os quais, alm da hipertextualidade, possibilitam a reciprocidade dos dilogos, e o acesso a uma

    outra linguagem, a dos cdigos de programao (para modificar a estrutura do blog), remetendo

    incorporao de um vocabulrio novo (GUTIERREZ, 2005; HALMANN; BONILLA, 2009).

    Todas essas pesquisas tambm detm-se na anlise das implicaes dessa linguagem nos

    processos pedaggicos, destacando-se a percepo de que tal linguagem, ao adentrar a sala de aula,

    alia-se a uma escrita normativa, prpria desses espaos, e juntas rompem com os padres

    normativos, constituindo-se num mosaico lingustico (SIMES, 2006), em novos processos de

    produo de sentidos (GUIMARES; MAGALHES; BARRETO, 2010). Da a emergncia de

    outro tema de pesquisa: o letramento digital ou nas mdias (CORRA, 2005; FREITAS, 2005;

    PEREIRA, 2008; SARAIVA, 2004). De acordo com esses autores, o letramento digital est

    relacionado s prticas sociais e s solues de uso apresentadas pelas diferentes redes sociais que

    utilizam a linguagem digital. Embora se baseie em prticas e eventos de letramento j existentes , e

    ocorra no contexto de interfaces possveis e presentes na confluncia de diferentes redes sociais.

    (CORRA, 2005, p. 17), o letramento digital, ou letramento na cibercultura, conduz a um estado

    ou condio diferente daquele a que conduzem as prticas de leitura/escrita j existentes na cultura

    do papel. (FREITAS, 2005, p. 3).

    Linguagem e letramento digital, expresso dos imbricamentos prprios da nova cultura em

    emergncia, uma cultura que vem requerendo novas formas de lidar/regulamentar seus processos e

    produtos, o que tambm est sendo discutido e construdo socialmente e na academia, embora ainda

    de forma muito tmida e restrita.

    AS CARNCIAS...

    Dois temas de grande relevncia no contexto da cultura digital, na contemporaneidade, so a

    incluso digital e as licenas abertas software livre, recursos educacionais abertos (REA), direito

    autoral. No entanto, eles praticamente no aparecem nas pesquisas apresentadas no GT, o que j

    havia sido constatado por Nelson Pretto, quando realizou, em 2008, um resgate das pesquisas

    apresentadas nos primeiros 16 anos do GT-16.

  • Revista Teias v. 13 n. 30 71-93 set./dez. 2012 84

    Um tema que ainda no vimos ser tratado no GT diz respeito ao software livre e s

    tecnologias livres, mais particularmente a questo dos direitos autorais, Copyleft e

    Creative Commons, associado a uma maior discusso sobre as denominadas polticas

    de incluso digital. Tambm aqui, julgamos ser fundamental que se discutam e

    proponham aes mais indutivas para essas abordagens. (PRETTO, 2009, p. 30).

    O indicativo de Nelson Pretto, sobre a necessidade de aes mais indutivas sobre essas

    abordagens, passados 4 anos, no se efetivou. O nico trabalho apresentado nesse perodo o de

    Bianca Brito (2010), que aborda questes relativas propriedade intelectual e ao direito autoral,

    bem como as discusses relacionadas ao movimento da cultura livre, lei de direitos autorais

    brasileira, produo coletiva e ao compatilhamento de contedos educacionais.

    Outro trabalho que aponta para o conhecimento livre e aberto, a cultura hacker e o

    movimento software livre o de Suzana Gutierrez (2005), mas como esse no era o foco da

    pesquisa, no aprofunda a anlise e as implicaes desses temas para a educao. Gutierrez (2005)

    tambm se aproxima do tema da incluso digital, pelo vis da alfabetizao digital, constatando que

    estas iniciativas consistem de meros treinamentos ou cursos de informtica, puramente

    instrumentais, no apresentando vnculos com as prticas e os projetos dos professores e no

    permeando os cursos de formao. Outro trabalho que faz referncia s questes da incluso digital,

    relacionando-a com a excluso social, mas sem discutir ou aprofundar essa relao o de Solange

    Monteiro (2006). Nenhum outro trabalho traz para o GT o debate da incluso digital, quer

    relacionados s polticas pblicas e aqui temos vrios programas governamentais que apontam a

    necessidade de imbricao entre incluso digital, software livre e educao -, quer relacionados s

    prticas pedaggicas nas escolas e nos cursos de formao de professores. Continua, portanto, posto

    ao GT o indicativo deixado por Nelson Pretto na Reunio Anual de 2008.

    AS BASES TERICAS DAS PESQUISAS

    As bases tericas utilizadas pelos pesquisadores do GT-16 para analisar a relao da cultura

    digital com a educao so bastante diversas, sendo poucos os trabalhos que nomeadamente

    explicitam sua filiao. No entanto, pode-se perceber uma tendncia ps-moderna na construo

    do quadro terico dos trabalhos, justamente por no apresentarem uma metanarrativa (LYOTARD,

    1998) que se proponha ser atemporal e universalizante. Tambm por apresentarem uma conjugao

    de referncias tecida como uma atividade artesanal, como uma bricolagem (LAPASSADE,

    1998), de forma que a composio construda em cada trabalho nica, mas sempre sustentando o

    tema em anlise. Desta forma, o conhecimento produzido no se limita a uma mera repetio do j

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    dado; evidencia a criao, as novas percepes, a complexidade que vai envolvendo cada tema,

    medida que novamente ele revisitado e analisado, luz de novos referenciais.

    Nessa perspectiva, os tericos mais convidados ao debate sobre a cultura digital e a

    educao so: Pierre Lvy, Manuel Castells, Jess Martn-Barbero, Nstor Canclini, Zygmunt

    Bauman, Edgar Morin, Humberto Maturana, Michel De Certeau, Vygotsky, Bakhtin, Michel

    Foucault, Paulo Freire, Antnio Nvoa, Fritjof Capra, Stuart Hall, tambm estando presentes os

    pesquisadores brasileiros que mais vm se destacando na rea, a saber: Jos Armando Valente, Jos

    Manuel Moran, Vani Kenski, Nelson Pretto, Maria Teresa Freitas, Andr Lemos, Alex Primo, Rosa

    Fischer, dentre outros.

    Dentre os trabalhos que se filiam explicitamente a uma linha terica, pudemos destacar dois

    grupos. O primeiro, filiado perspectiva histrico-cultural, para o qual o conhecimento no

    adquirido, mas construdo na relao com o outro. Uma relao dialtica entre sujeito e objeto, isto

    , entre o sujeito e o meio histrico. uma questo de base social, de uma relao no s com

    objetos, mas principalmente uma relao entre pessoas, entre sujeitos. (FREITAS, 2009, p. 4). Os

    principais tericos que embasam essa perspectiva so Vygotsky e Bakhtin, e ela est presente,

    especialmente, nas pesquisas que tm como foco de anlise a temtica linguagem - enunciao

    interlocuo, interao, dialogismo, colaborao, mediao , mas tambm algumas que discutem

    aprendizagem e produo do conhecimento a partir das tecnologias digitais (FERNANDES, 2005;

    FREITAS, 2005; FREITAS, 2009; GUTIERREZ, 2005; VIEIRA, 2003).

    O segundo grupo que se destacou foi aquele filiado aos estudos culturais (BERGMANN,

    2007; DIAS, 2004; FERREIRA; OSWALD, 2009; GIRALDELLO, 2005; GUIMARES,

    MAGALHES; BARRETO, 2010). Os principais tericos que embasam esta perspectiva so

    Martn-Barbero e Canclini, e ela est presente, especialmente, nas pesquisas que tm como foco de

    anlise as culturas das novas geraes e os processos de mediao envolvendo as tecnologias

    digitais.

    AS BASES METODOLGICAS DAS PESQUISAS

    possvel afirmar que todas as pesquisas analisadas inserem-se na perspectiva da

    abordagem qualitativa, uma vez que todas elas, inclusive as poucas (trs) que utilizam instrumentos

    de coleta de dados quantitativos e se propem utilizar uma abordagem metodolgica mista

    quantitativa e qualitativa procedem a anlise dos dados de modo a explicitar a compreenso das

  • Revista Teias v. 13 n. 30 71-93 set./dez. 2012 86

    relaes e dos processos em foco, sejam estes de cunho terico ou prtico. Portanto, no cabe nesta

    anlise dicotomizar qualitativo e quantitativo.

    Dentre os trabalhos analisados, dez voltam-se para pesquisas tericas mais abrangentes

    sobre a emergncia do digital e das redes, e sua relao com a produo do conhecimento, as

    linguagens, as prticas e as relaes sociais e pedaggicas, ou seja, analisam as novas configuraes

    que esto se constituindo no campo da cultura, da educao e da comunicao, quando imbricados

    com o contexto digital (BONILLA, 2004; BRUNO, 2002; CATAPAN, 2001; CYSNEIROS, 1997;

    DIAS, 2004; FRANCISCO, 1997; FREITAS, 2009; GOMES, 2007; GUTIERREZ, 2009; RATTO,

    2006). Evidentemente, reflexes tericas envolvendo essas e outras reas perpassam todo o

    universo analisado. Como j havia detectado Nelson Pretto (2009), nas pesquisas que se voltam

    para anlise de um objeto ou campo mais especfico, o embasamento terico est vinculado aos

    referenciais tericos e metodolgicos escolhidos por seus autores e pelo coletivo de pesquisadores

    do GT.

    Por ser esta uma rea nova, at a Reunio Anual da Anped de 2005 aparecem alguns

    trabalhos que se caracterizam como pesquisas exploratrias, por estarem seus pesquisadores se

    aproximando do estudo a respeito, por exemplo, das repercusses das TIC na escola e na prtica

    docente (TOSTA; OLIVEIRA, 2001); das formas de apropriao das TIC pelos jovens (GOMES;

    BELLONI, 2004); da relao entre internet e autonomia, frente as prticas sustentadas pelo controle

    e pela padronizao vivenciadas nas escolas (RUIZ, 2004); da relao das crianas pequenas com a

    internet (GIRARDELLO, 2005). Depois disso, nenhuma pesquisa se caracterizou como

    exploratria, o que podemos analisar como uma consolidao das pesquisas na rea, bem como um

    adensamento no processo de produo do conhecimento e de compreenso do contexto digital como

    um todo.

    Quanto ao tipo, onze trabalhos utilizam a observao, participante e no participante, das

    prticas desenvolvidas nas escolas, nos ambientes virtuais e nos espaos de formao dos

    professores, trs trabalhos caracterizam-se como pesquisa-ao, construindo prticas pedaggicas

    que envolvam as TIC (PROJETO PACTO, 2001), desenvolvendo software educativo (SANTOS;

    SOUZA, 2001), investindo na construo de alternativas para a formao de professores

    (GUTIERREZ, 2005); 2 trabalhos caracterizam-se como estudo de caso de processos de insero

    das TIC na escola (GONALVES; NUNES, 2006; TOSTA; OLIVEIRA, 2001) e 4 trabalhos

    caracterizam-se como pesquisa etnogrfica (FERREIRA; OSWALD, 2009; GOMES; BELLONI,

    2004; JUNQUEIRA, 2009; QUILES, 2010). Apenas um trabalho discute teoricamente a perspectiva

    da netnografia ou etnografia virtual (GUTIERREZ, 2009), embora vrios outros utilizem esse

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    mtodo de pesquisa, plena ou parcialmente, embora no se denominem netnogrficos

    (BERGMANN, 2007; CORRA, 2005; GUTIERREZ, 2005; HALMANN; BONILLA, 2009;

    MARCOLLA, 2008; MENDES, 2006; MOITA, 2008; SARAIVA, 2004; ZUIN, 2006).

    De acordo com Gutierrez (2009), a pesquisa na e sobre a rede mundial de computadores

    to recente quanto a prpria rede e, por isso, metodologias, mtodos, tcnicas e instrumentos foram

    inicialmente adaptados da pesquisa off-line; no entanto, a cultura que emerge da rede tem

    caractersticas bem especficas, da a necessidade de rever tcnicas, mtodos, adaptar\criar

    instrumentos que considerassem estas diferenas e que pudessem alcanar fenmenos

    significativamente diversos, que abarcassem tanto os contextos on-line, quanto suas imbricaes

    com os contextos off-line, estabelecendo formas de identificar sua configurao, de mapear a teia de

    relaes que se criam e recriam no fluxo de informaes e nas interaes que movimentam as redes.

    Essa nova perspectiva metodolgica, denominada de etnografia virtual ou netnografia,

    modifica a relao espao temporal e apresenta um contexto que mediado pelas ferramentas,

    pelos ambientes, pelas prticas construdas no ciberespao (GUTIERREZ, 2009, p. 10), por isso,

    constitui-se como um processo que se desenvolve a partir da ao do pesquisador, de suas escolhas

    dentro do contexto pesquisado, no tendo uma estrutura rgida, pois depende dos fluxos que se

    estabelecem no campo de pesquisa.

    Quanto abordagem, as pesquisas apresentadas vinculam-se a diferentes linhas terico-

    metodolgicas perspectiva scio-histrica, perspectiva dialtica, perspectiva interpretativa,

    distncia transacional embora no haja explicitao clara de vnculo da maioria delas a alguma

    linha terico-metodolgica, nem a um mtodo de pesquisa nico, fazendo uso de instrumentos

    diversos, e caracterizando, assim, cruzamentos e imbricamentos entre vrios deles.

    Com isso, possvel concluir que existem poucas filiaes terico-metodolgicas nas

    pesquisas que tratam da relao da cultura digital com a educao, o que pode evidenciar estar o

    campo ainda em construo ou, ento, que essa uma tendncia da pesquisa em Cincias Sociais e

    Humanas, ou, ainda, que as prprias caractersticas do objeto em estudo hipertextualidade, no

    linearidade, interatividade, multivocalidade esto levando construo de mtodos de anlise

    hbridos, tambm eles multivocais, hipertextuais, sem perda do rigor cientfico requerido pelos

    problemas de pesquisa, e adequados ao referencial terico utilizado pelos pesquisadores.

  • Revista Teias v. 13 n. 30 71-93 set./dez. 2012 88

    CONSIDERAES FINAIS

    A anlise dos 47 trabalhos apresentados no GT-16 da Anped, entre 1994 e 2010, que tratam

    da cultura digital, nos permitiu perceber no haver grandes divergncias de interpretao entre os

    pesquisadores do GT que buscam compreender as caractersticas, implicaes, potencialidades e

    limites da relao entre as tecnologias digitais e a educao, apesar da diversidade dos enfoques

    terico-metodolgicos adotados. Ao contrrio, tal diversidade tem iluminado as questes em

    anlise sob diferentes perspectivas, todas contribuindo para a compreenso da complexidade dos

    processos, prticas e sentidos que vo se constituindo na rea, no pas.

    O conhecimento produzido pelos pesquisadores do GT-16 tambm aponta as fragilidades e

    os limites dos processos de insero das tecnologias digitais na educao, os desafios que esto

    postos para a constituio da cultura digital entre os jovens e os professores, nas instituies de

    ensino tanto escola bsica, quanto universidade para a formao desses sujeitos e para a

    proposio de prticas pedaggicas que incorporem as potencialidades dessas tecnologias, indo

    alm da sua perspectiva instrumental.

    Levando em considerao a densidade do conhecimento que vem sendo produzido por esse

    grupo, fundamental que as instncias formuladoras e executoras das polticas pblicas para a rea

    de educao e tecnologias comecem a dialogar com essa produo e com seus pesquisadores, de

    forma a superarmos os problemas, as fragilidades e os limites detectados nas atuais polticas,

    propondo outras, mais consistentes e significativas, respaldadas por um forte aporte terico e pelas

    anlises j realizadas das aes que esto em andamento, e que deem conta dos desafios que se

    apresentam no contexto brasileiro, tanto para os processos de formao dos professores, quanto para

    a insero das TIC nas escolas.

  • Revista Teias v. 13 n. 30 71-93 set./dez. 2012 89

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    RESUMO

    O artigo traz um mapeamento dos trabalhos apresentados entre 1994 e 2010, sobre cultura digital, no Grupo

    de Trabalho Educao e Comunicao da Anped. Na anlise dos 47 trabalhos apresentados emergiram quatro

    focos de pesquisa a formao dos professores, as TIC nas escolas, os jovens e as TIC, as linguagens ,

    sendo possvel caracterizar a produo como coesa e consistente, apesar da diversidade dos enfoques

    terico-metodolgicos adotados, e da ausncia de alguns temas ligados cultura digital, de significativa

    imbricao com a educao. As caractersticas, implicaes, potencialidades, sentidos e limites da relao

    entre tecnologias digitais e educao mapeadas podem se constituir indicadores para a proposio de polticas

    pblicas para formao dos professores e insero das tecnologias nas escolas.

    Palavras-chave: Cultura Digital. Educao e Comunicao. Anped.

    THE PRESENCE OF DIGITAL CULTURE IN GT EDUCATION AND COMMUNICATION OF ANPED

    ABSTRACT

    The article presents a mapping of the papers presented between 1994 and 2010, about digital culture, the

    Working Group Education and Communication of Anped. In the analysis of 47 papers presented emerging four

    focus of research teacher formation, ICT in schools, young people and ICT, languages. Can to characterize

    the production as cohesive and consistent, despite the diversity of theoretical and methodological approaches

    adopted, and the absence of some issues related to the digital culture and interwoven with education. The

    characteristics, implications, potential, meanings and boundaries of the relationship between digital

    technologies and education can be indicators to propose public policies for teacher formation and integration

    of technologies in schools.

    Keywords: Digital Culture. Education and Communication. Anped.