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1 - Instituto Superior Técnico: Serviço de páginas pessoaisweb.ist.utl.pt/gdgp/PPI/pulsar_27.pdf · Interior. O objectivo foi o de juntar esforços para resolver problemas em torno

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APOIOS:

Artigos- Inversão do Campo Magnético Terrestre- O Campo de Higgs e a Origemda Massa- Boomerang

Cultural- Numa Ilha Diferente- As Cartas na Mesa

Circo da Física- Foguetão 12

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Pulsar Edição Novembro de 2006

Notícias- Editorial- Instantâneos

Local- CENTRA- FSR III

Astro- Plutão, o Planeta Anão- Scorpius

Biomédica- Jornadas Nacionais de Eng.ªBiomédica

Entrevista- Entrevista ao Prof.Alexei Kojevnikov

O campo Magnético da Terravai Inverter-se?

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Revista do:

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História da Física- Ano Internacional da Física:Entrevista ao Prof. Orfeu Bertolami

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Porque é que os Boomerangsvoltam para trás?

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Editorial

A Pulsar é uma publicação doNFIST de distribuição gratuita.

Edição de Novembro de 2006.

Direcção:Miguel PinhãoSara Rei

Gabinete de Imagem:Gonçalo Pereira - MontagemTiago Marques - MontagemPedro Cruz - Capa

Gabinete de Artigos:João Mendes LopesRaquel PintoJoão FortunatoRodrigo Horta

Secção Biomédica:Joana Coelho

Site:http://nfist.ist.utl.pt/

pulsar_index.html

Morada:Instituto Superior Técnico,

Edifício Ciência, piso 2 -Secretaria de Física, AvenidaRovisco Pais, 1096 Lisboacodex

Telefone:218419075

Fax:218419013

E-Mail:[email protected]

Tiragem: 1400 exemplares

Pulsar Uma nova Pulsar, uma nova direcção, uma nova aventura... É com grandeentusiasmo que aceitámos este magnífico projecto que é a Pulsar. Ainda maior é oesforço que nos comprometemos a fazer para continuar a levar a Pulsar aos quatrocantos de Portugal (e quem sabe mais além), sempre com o objectivo de divulgar aFísica. Esperamos que este seja um ano em grande e continuar o bom trabalho queas consecutivas direcções têm deixado. Pretendemos manter a actual estrutura daPulsar, recuperando apenas as secções de Astronomia e Cultural. Estaremossempre abertos a novas sugestões e à colaboração de todos aqueles que seinteressam pela Física.

Trajectórias de Partíulasem Campos Magnéticos

A Física será sempre uma ciênciaque só poderá ser construída se houverpessoas que questionemconstantemente o mundo em quevivemos e o que nos rodeia. Cada vezque parece que estamos no caminhocerto e que já tanta coisa foi descoberta,aparece um novo dado, uma novaquestão que pode deitar por terra aquiloque tomávamos como certo.

No final do século XIX, pensava-seque à parte de algumas questões, aFísica estava próxima do fim... Porém,foram precisamente estas questões quetrouxeram uma nova perspectiva domundo, que nos conduziu à Físicamoderna. Actualmente, a cada dia quepassa é descoberto algo novo e asquestões a explorar não param deaumentar.

Os campos da Física expandiram-sede tal forma que hoje existe umaenorme diversidade de áreas de estudo.

Uma das mais importantes é aFísica de Partículas, que esperaencontrar inúmeras respostas com as

várias experiências e esforços teóricosque estão a decorrer actualmente (Ocampo de Higgs e a Origem da Massa).

Outro campo, que nos ajuda aperceber melhor a constituição e ocomplexo funcionamento do nossoplaneta, é a Geofísica. Neste âmbitotêm-se realizado descobertasimportantes, nomeadamente emrelação ao campo magnético (Inversãoda Campo Magnético Terrestre).

A Física acompanhará sempre aevolução da Humanidade, pondosempre em dúvida a visão actual domundo, aberta a todos os novosdesafios; este deve ser o espírito docientista, sem medo de arriscar oufalhar, porque todas as novas ideias,mesmo que se mostrem incorrectas,poderão trazer algo de benéfico.

Iniciativas como as que ocorreramno Ano Internacional da Física devemser continuadas, para uma melhordivulgação e abertura da Física àpopulação. É isso que pretendemoscom cada edição da Pulsar.

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INSTANTÂNEOS

Nobel da Física 2006John C. Mather(esquerda) eGeorge F. Smoot (direita)

O Prémio Nobel da Físicade 2006 foi atribuído aosamericanos John C. Mather,astrofísico do Laboratório deCosmologia Observacionaldo Centro Goddard de VoosEspaciais da NASA, emMaryland, e a George F.Smoot, astrofísico ecosmólogo observacional noLaboratório Lawrence eprofessor de física daUniversidade da Califórnia,em Berkeley, pela sua"descoberta do espectro decorpo negro e anisotropia daradiação cósmica de fundo".

A radiação cósmica defundo é, como o nome indica,radiação que é medida nocéu a partir de todas asdirecções, sem ser originadaem nenhuma fontediscernível (estrelas,galáxias, ...). A suadescoberta acidental, em1964, valeu já um prémioNobel da Física.

De acordo com o modelodo Big Bang, esta radiaçãotem origem no Universo

primitivo, que seriaincrivelmente denso equente. À medida que oUniverso se expandiu,arrefeceu; quando atemperatura baixou osuficiente para se formaremátomos. A radiação queexistia nessa época temestado a viajar desde então(durante cerca de 14 milmilhões de anos). Na alturaera compostapredominantemente de luzvisível, mas a expansão doUniverso "esticou" o seucomprimento de onda até atornar em radiação demicroondas.

Mather e Smoottrabalharam juntos naconstrução do satélite COBEque foi lançado a 18 deNovembro de 1989, munidode três instrumentos: oDIRBE (the Diffuse InfraRedExperiment) para detectar emedir a radiação cósmica deinfra-vermelhos, o DMR(Differential MicrowaveRadiometers) para mapear

com precisão a radiaçãocósmica de fundo de micro-ondas, e o FIRAS (Far-InfaRed AbsoluteSpectrophotometer) paracomparar a radiaçãocósmica de fundo de micro-ondas com a radiação de umcorpo negro. John Matherdirigiu a equipa do FIRA eGeorge Smoot dirigiu aequipa ligada ao DMR.

O modelo do Big Bangprevia que a radiaçãocósmica de fundo devia estarem equilíbrio térmico, mastal não era claro dos dadosinicialmente disponíveis. Osatélite COBE veio confirmaristo mesmo.

Por outro lado, sabia-sejá que a radiação cósmica de

fundo é incrivelmenteisotrópica, isto é, igual emtodas as direcções. Istoconfirma o modelo do BigBang, que modela o Universoa largas escalas comosendo homogéneo eisotrópico. No entanto, oUniverso não écompletamente homogéneoe isotrópico: possuiirregularidades locais -estrelas, galáxias... Omodelo do Big Bang explicaa formação das galáxiascomo resultado de pequenasirregularidades no Universoprimitivo, que teriam sidoampliadas pela expansão doUniverso.

Físicos investigam efeitosdos raios cósmicos nasnuvens e no clima

Um feixe de partículas vaicontribuir pela primeira vezpara estudar o clima, aoinvestigar a influência dosraios cósmicos galácticos naformação das nuvens. Oestudo enquadra-se numanova experiência, chamadaCLOUD (Cosmic LeavingOutdoor Droplets) no CERN,destinada a explorar asinteracções microfísicasentre os raios cósmicos e asnuvens, e que está na fasede testes de um protótipo.

Segundo o CERN, osobjectivos desta fase são

testar a concepção técnicada experiência através dosprimeiros estudos, num feixede partículas, da influênciados raios cósmicos naformação das camadas denuvens a baixa altitude. Aexperiência será feita numacâmara de reacção de doismetros de diâmetro e numacâmara de nuvens de 50centímetros de diâmetro nasquais serão reproduzidascondições atmosféricasmuito precisas.

A CLOUD, que estará afuncionar em pleno em 2010,é uma experiênciamultidisciplinar que junta osmais importantes físicossolares, de aerossóis e denuvens da Europa e dosEstados Unidos, bem comoespecialistas do Sol, dosraios cósmicos e da física departículas.

Hubble examina PlanetaExtrasolar mais próximo

O Telescópio EspacialHubble da NASA, emcolaboração com

observatórios terrestres,providenciou evidênciasdefinitivas da existência doplaneta extrasolar maispróximo do nosso SistemaSolar.

O mundo com o tamanhode Júpiter orbita a estrelatipo-Sol Epsilon Eridani,situada a apenas 10.5 anos-luz de distância(9.93355483x1013 km). Oplaneta está tão próximo quepoderá ser observável peloHubble e por outros grandestelescópios na Terra no fimde 2007, quando o planetafizer a sua maioraproximação a EpsilonEridani durante a sua órbitade 6.9 anos.

As observações doHubble foram levadas a cabopor uma equipa liderada porG. Fritz Benedict e Barbara E.McArthur da Universidade doTexas em Austin. Asobservações revelam averdadeira massa doplaneta, que a equipacalculou ser 1.5 vezes amassa de Júpiter.

Buraco na camada deozono continua aaumentar

Entre 21 e 30 Setembro, oburaco de camada de ozonoatingiu níveis record. A áreamédia do buraco alcançou27.5 milhões de quilómetrosquadrados, de acordo comos cientistas quemonitorizam níveis do ozonosobre o pólo sul. Isto marcaum aumento deaproximadamente 3.9milhões de quilómetrosquadrados do ano passado.“A notícia boa é que aactividade humana não estáa piorar o buraco,” diz PaulNewman, cientistaatmosférico do CentroGoddard de Voos Espaciaisda NASA, “mas somosvulneráveis às mudanças notempo e esta é notíciamá para os povosque vivem nohemisfériodo sul.”

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LOCAL

CENTRA

O CENTRA, Centro Multidisciplinarde Astrofísica, nasceu em 1994 e desdeo seu nascimento contou com membrosdo IST, mas também com membros dasUniversidades do Algarve e da BeiraInterior. O objectivo foi o de juntaresforços para resolver problemas emtorno de questões relacionadas comastronomia, cosmologia, gravitação,matéria a altas densidades, buracosnegros, energia escura, raios cósmicos,etc,etc.

Uma das linhas de acção doCENTRA está orientada para acosmologia observacional. Membros doCENTRA têm integrado as equipas quedescobriram, nos últimos dez anos, apartir do estudo de supernovasdistantes, que o Universo está não sóem expansão, mas que essa expansão

é acelerada. O CENTRA estáactualmente na colaboração SupernovaLegacy Survey. No futuro, o CENTRA vaiintegrar um grande projecto emradioastronomia, que inclui aparticipação na rede europeia RadioNete no projecto de construção de umgrande telescópio distribuido comelevada capacidade de resolução, SKA(Square Kilometer Array).

O CENTRA vai igualmente participarno programa de apoio à construção dodetector espacial LISA, que utilizainterferometria de laser de forma apossibilitar a medição ondasgravitacionais e, assim, testar avalidade da Relatividade Geral.

O CENTRA também participa noacompanhamento teórico dasexperiências em física de altasenergias a realizar no LHC (LargeHadron Collider) no CERN e nodetector de raios cósmicos AUGER, naArgentina. No LHC há, por exemplo, apossibilidade de medir, se existirem,claro, dimensões adicionais, para além

das familiares 3+1, através da criação demini-buracos negros. Com LHC eAUGER, este detector funcionando comenergias muito mais elevadas, aspropriedades do plasma de altasdensidades de quarks e gluões poderãoser reveladas. Também a influência deraios cósmicos a altas energias nocampo magnético do Sol e nos ciclossolares poderá ser estudada. E muitomais se poderá fazer...

Os professores que integram oCENTRA/IST são: Amaro Rica da Silva,Alfredo Barbosa Henriques, Ana Mourão,Ilídio Lopes, Jorge Dias de Deus, JoséGuilherme Milhano, José Sande Lemose Mário Santos.

por ProfessorJorge Dias de Deus

FSR IIIpor Nuno Pereira eMarcelo Jordão, 4ºano LEFT

Para quem não sabe, completou-seem Março, dias 27 a 31 a trilogia FSR:FSR:"III RoadTrip". Tem corrido tão bemque já se pensa transforma-la numasequela, a exemplo da semana daFísica; e para quem não sabe, a FSR éuma espécie de Semana da Física emversão itinerante. Para pormos isto tudoem marcha foi preciso um camião que,para além de armazém servia comoplataforma de algumas bancadas doCirco e duas carrinhas para levar toda agente (éramos cerca de 14colaboradores) confortável.

A concentração foi no domingo àtarde, no IST. A primeira vez a arrumar astralhas no camião é a mais complicada,falta sempre espaço e há semprecoisas a mais para empacotar.

É escusado dizer que partimos comum atraso considerável, ainda levámosalgum tempo a conseguir sair deLisboa, já que à última da horaapareceu um personagem misterioso aprecisar duma boleia misteriosa até àestação do Oriente. Mais atraso menosatraso, estávamos feitos à estrada paracumprir a primeira etapa que eraCampo Maior. Com uma paragem paraverificar a pressão dos pneumáticos euma outra para o inevitável café,seguido duns inevitáveis toques nabola, foi sempre a abrir até CampoMaior, já bem no meio do Alentejo. O

cansaço ainda não fazia mossa, porisso não foi muito difícil acordar cedona manhã seguinte, mas foi chato nãohaver água quente para o duchematinal; não esquecer que estávamosno Alentejo e já fazia um certo calor.

O primeiro dia oficial da FSR foientão em Campo Maior. Montar o Circopela primeira vez não foi fácil, as tendassão um bicho-de-sete-cabeças, as

coisas não ficam nos sítios certos e,durante as primeiras explicações doCirco, ainda se dão alguns pontapés naFísica. As turmas não demoraram achegar e foi sempre a abrir até aoalmoço que foi oferecido pela escola. Atarde foi um pouco mais calma e tudocorreu bem. No fim do da tarde toca aarrumar as tralhas novamente. AdeusCampo Maior, olá Ponte-de-Sôr.

Colaboradores da FSR III

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CIRCO DA FÍSICA

Foguetão Uma nova revista, uma nova

experiência. Claro que se podia fazerum artigo sobre Bombas Atómicas,Bolas de Sabão Explosivas ou mesmoaté de Armas Laser, seria no mínimointeressante, mas infelizmente aquantidade de malucos (queira-se ler,pessoas capazes de realmenteexperimentar, sem qualquer cuidado,resultando portanto, em asneira) queexistem à solta são demasiadas peloque se ficará por coisas simples,bonitas e úteis (ou não...).

Este artigo será sobre: Foguetões, oseu esplendoroso lançamento!!!

Para a construção de um foguetãonecessitam de:

• Cola forte• Uma bomba de bicicleta• Fita adesiva• Uma rolha de borracha• Cartão grosso canelado• Uma garrafa de plástico• Uma válvula de ar

(Sim! É verdade, trata-se de umaimitação, uma brincadeira de crianças,mas a sério, não estariam realmente apensar que ensinávamos a fazer umverdadeiro, pois não??)

Agora basta seguires os passos(todos) e se conseguires acho que tevais safar sem grandes problemas:

1.Recorta os três pés da base, duasanilhas para a base e três peças para ocone do nariz, em cartão ondulado

2.Faz a base do foguetão com ospés e as duas rodelas. Cola as peçascom a fita adesiva ou cola forte, depoiscola a base à garrafa de plástico.

3.Faz o cone do nariz e fixa-o nolugar por cima do foguetão.

4.Faz um pequeno orifício na rolhade borracha com um alfinete ou umespeto, depois enfia a válvula de ar noorifício

5.Deita água na garrafa até cerca deum terço do seu volume total, coloca arolha firmemente na garrafa e pousa ofoguetão sobre a base. Fixa a bomba debicicleta à válvula de ar.

Se obtiveste algo semelhante àfigura começa a bombear, senão tentaoutra vez.

À medida que fores bombeando,verás na água bolhas de ar a subir, peloque a densidade no espaço por cima daágua aumenta , comprimindo o ar,criando pressão no interior da garrafa. Aenergia armazenada no ar comprimidoexerce força sobre a água empurrandoa rolha, projectando o foguetão elargando a água conforme vai subindo.

Como vês é simples e rápido,mas.... Porquê? Como? Quer dizer,existe gravidade, não é exactamentefácil “levantar voo”... Pois é! É Física e aresposta é bastante simples:CONSERVAÇÃO. Sim! É verdade! Esseé o “truque de mágica”, conservação domomento linear, mas para melhor secompreender aqui tens as explicações:

A propulsão de um foguetãodepende do sistema foguetão +combustível ejectado, quando a este seaplica a lei da conservação do momentolinear, sendo que, ao mover-se, parte dasua massa se perde na forma de gasesexpelidos pelo motor. Estes gasesadquirem um momento linear próprio,mas como o momento linear total dosistema tem de se conservar, ofoguetão é obrigado a acelerar nosentido contrário, com momento linearigual ao dos gases expelidos.

Instante t0: foguetão com massa M ecom velocidade inicial v0

Instante t1>t0: o foguetão “expulsou”a massa m de combustível comvelocidade – u relativamente aofoguetão.

Tudo o que precisas para construirum foguetão

O segundo dia foi preenchido. Demanhã já estava toda a gente maisdesenferrujada para montar o Circo,pelo que a parte de manhã correu semgrande sobressaltos; foi durante a tardeque apareceram ao mesmo tempoumas largas dezenas de alunos; foipreciso alguma ginástica de espaços,entre o Circo o Planetário e os Mini-Cursos, e de pessoas, para podermosmostrar o máximo possível a todos osinteressados.

A próxima paragem era Santarém. Opúblico alvo mudou completamentenesse dia, passámos de alunos dociclo e do secundário para miúdos daescola primária. Foi interessante tentarmostrar ciência aos miúdos sem muitosformalismos, mas o feedback e ointeresse deles é incomparável com odos mais velhos. Depois da missãocumprida em Santarém e já em plenaSerra da Estrela, prontos para a nossapenúltima etapa, Viseu.

Em Viseu tivemos um diasossegado: ficámos instalados naBiblioteca Municipal, mas devido aalguns mal-entendidos e falhas decomunicação com as escolas houvepouca afluência de público. É demencionar a aparição de uma estaçãoprivada de televisão nacional paraefectuar a cobertura do evento, mas foisó mesmo uma aparição: umaapreensão de estupefacientes nasproximidades desviou todas asatenções dos profissionais dacomunicação social... prioridades.

Continuámos a nossa viagem pelaBeira Interior, para uma última paragem,em Castelo Branco. Era o último dia deRoadTrip para nós, mas era também oúltimo dia de aulas na escola ondeestávamos, por isso eram poucas asturmas com número significativo dealunos que vinham assistir, mas aindarecebemos a atenção de algunsestudantes curiosos. A componentedesportiva (futebol) foi muito solicitadanesse dia.

Foi um bom ponto final na RoadTrip,mas ainda tínhamos uma viagem nãomuito breve de regresso à base, ondetivemos direito ao jantar deencerramento, no NFIST, à base decomida Italiana como manda a tradição.

Houve ainda um dia extra, Sábado,em que alguns de nós levaram aexposição até às imediações doPavilhão do Conhecimento. Ao Circo daFísica juntou-se a carrinha daBibliociência. Consta que foi um diacalmo, já que o público era, na suamaioria constituído por famílias empasseio domingueiro.

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CIRCO DA FÍSICA

(M-m) v1+m(v0 –u)= M v0v1= v0 – [m/(M-m)] x uA velocidade aumenta à custa da

perda de massa.

E é assim um foguetão na suaessência, pronto a funcionar com todosos seus dados, mas já agora, umconselho de especialistas, quandolançarem, lancem num grande espaçoaberto, mas GRANDE mesmo, algopode correr...mal e mesmo que subasem problemas, não te esqueças, restaainda a descida para causar estragos...

Curiosidade: Sabias que o primeiroFoguetão a ser lançado no espaço foilançado do cosmódromo soviéticoBaikonur. Era um potente e invulgarfoguetão para aquela época, cujamissão era vencer a gravidade, De seunome SPUTNIK. Foi lançado a 4 deOutubro às 22h 28min 34seg (hora deMoscovo). Funcionou apenas 3semanas mas esteve em orbita 92 dias(até 4 de Janeiro de 1958).

Bibliografia: Baker & Haslam, Experimenta! AsMáquinas, Ed. «Livros do Brasil» Lisboa

Bibliografia:

Conservação do Momento Linear nabase do funcionamento de um foguetão

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ASTRO

Numa noite de boa visibilidade enum local longe de poluição luminosa,é possível observar sem o auxílio dequalquer instrumento, miríades deobjectos celestes. Não há dúvida queos objectos que mais sobressaem sãoas estrelas.

No entanto, existem outros objectosque aparentam mover-se no céu emrelação ao "pano de fundo" de estrelas.Na antiguidade as pessoas observaramo "movimento" destes corpos eacabaram por atribuir a estes objectos adesignação de Planetas, expressãoproveniente da palavra grega "errantes".Na altura, este conceito de planeta foibaseado nas poucas informações quese obtinham destes objectos,observados a olho nu.

Com o desenvolvimento da Ciência,foram sendo descobertos cada vez maisobjectos celestes e a compreensão dosmesmos foi, e continua a sermelhorada, o que consequentemente,põe em causa alguns conceitoscentenários.

A descoberta de novos objectos, nasregiões exteriores do Sistema Solar,com dimensões comparáveis e mesmosuperiores às de Plutão, vieram colocarem causa o significado da palavra quetantas vezes usamos no quotidiano –planeta.

Na 26ª Assembleia Geral da UniãoInternacional de Astronomia, realizadaem Praga, na qual participaram mais de2500 astrónomos, foi votada umaresolução que visou a criação de umadefinição científica de planeta. Tendoesta resolução sido aprovada, a palavraplaneta passou a ter um novosignificado.

Todos os corpos no nosso SistemaSolar, com a excepção dos satélitesnaturais, foram integrados em trêscategorias: Planeta, Planeta Anão ePequenos Corpos do Sistema Solar.Para se enquadrarem em qualquer umadestas três categorias, os corposcelestes têm de obedecer aosseguintes requisitos:

1- Um Planeta é um objecto celesteque:

a)- se encontra em órbita em tornodo Sol;

b)- possui massa suficiente para semanter em equilíbrio hidrostático(possuindo assim uma formaaproximadamente esférica);

c)- tenha a vizinhança da sua órbita"livre" de outros objectos.

2- Um Planeta Anão é um objectoceleste que:

Plutão,O Planeta Anão

a)- se encontra em órbita em tornodo Sol;

b)- possui massa suficiente para semanter em equilíbrio; hidrostático(possuindo assim uma formaaproximadamente esférica);

c)- não tenha a vizinhança da suaórbita "livre" de outros objectos;

d)- não seja um satélite.3- Todos os outros objectos que não

se enquadram nas categorias acimadescritas, serão designadoscolectivamente como "PequenosCorpos do Sistema Solar".

Com esta resolução, Plutão passoude planeta para planeta anão, e comotal o nosso Sistema Solar passou a terapenas 8 planetas. A despromoção dePlutão deve-se ao facto de este corponão obedecer a um dos requisitos danova definição de planeta – a sua órbitareside numa zona, conhecida comoCintura de Kuiper, onde estãolocalizados muitos outros objectos.Assim, a vizinhança da sua órbita nãose encontra "livre".

Plutão não se encontra sozinho nacategoria de planeta anão. Um corpodescoberto em 2003 em órbita do Solna Cintura de Kuiper, com o nomeprovisório "2003 UB 313", também estáinserido nesta categoria. Ceres, o maiorasteróide da Cintura de Asteróidestambém passou a ser qualificado comoplaneta anão. Corpos como os cometase a maioria dos asteróides e objectosTrans-Neptunianos, passaram a serclassificados como "Pequenos Corposdo Sistema Solar".

http://www.iau2006.org/mirror/www.iau.org/iau0603/index.html

Bibliografia:

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ASTRO

Scorpius é uma das constelaçõesdo zoodíaco. É uma constelação doHemisfério Sul, vista ao longo daeclíptica entre a Libra e o Sagitário

A sua estrela mais brilhante chama-se Antares e o nome significa anti-Aresou anti-Marte, pois o planeta Marte erapor vezes confundido com esta estrela.É uma super gigante vermelha que estáa, aproximadamente, 500 anos-luz daTerra e é aproximadamente 230 vezesmais brilhante do que o Sol.

Devido a sua localização na ViaLáctea, esta constelação contémmuitos objectos de céu profundo, talcomo os enxames abertos M6 (Butterfly

De acordo com a mitologia Grega,esta constelação corresponde aoescorpião que Gaia enviou para matar ocaçador Orion. Após grandes batalhasentre os dois, o escorpião acabou porganhar a guerra ao espetar o seu ferrãoem Orion. Apesar do escorpião e deOrion apareceram juntos no mito, nuncaaparecem ao mesmo tempo no céu.Conta-se que este facto deve-se a umaprecaução divina para prevenir eternaslutas entre os dois, e assim reinar a pazcelestial.

Cluster) e M7 (Ptolemy Cluster), e osenxames globulares M4 e M80.

A melhor altura para observar estaconstelação é durante o mês de Julhopor volta das 21h.

ScorpiusEnxame Globular M80

Enxame Aberto M6 Scorpius e Constelações Vizinhas

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HISTÓRIA DA FÍSICA

por Miguel Pinhão, 2º Ano LEFT

Ano IntAno IntAno IntAno IntAno Intererererernacional da Física :nacional da Física :nacional da Física :nacional da Física :nacional da Física :entrentrentrentrentreeeeevisvisvisvisvisttttta ao Pra ao Pra ao Pra ao Pra ao Prof. Orof. Orof. Orof. Orof. Orfffffeu Bereu Bereu Bereu Bereu Bertttttolamiolamiolamiolamiolami

O ano que passou foi um ano degrande importância para o mundo daFísica. Foi o ano em que investigadores,professores e alunos se empenharamnum só objectivo: A divulgação da Físicapelo mundo.

O acontecimento foi escolhido comocelebração dos 100 anos do ano“Mirabilis” de Albert Einstein e teve comoobjectivo aumentar o interesse públicopela Física e a Ciência em geral.

Estamos a falar naturalmente do AnoInternacional da Física, que nospremiou com exposições, como “À luzde Einstein”, na Fundação CalousteGulbenkian, e diversas palestras,colóquios conferências e outro tipo deeventos espalhados por diversasUniversidades, e não só, por todo opaís.

A Pulsar foi à procura de descobrir oque mudou neste ano, e assim tentarfazer o rescaldo do Ano Internacional daFísica. Para isso fomos falar com oProfessor Orfeu Bertolami, professor noDepartamento de Física do InstitutoSuperior Técnico, envolvido em diversoseventos relacionados com o AnoInternacional da Física.

Pulsar – Qual a sua opinião sobre aciência e a Física em Portugal? Achaque o Ano Internacional da Física veiomelhorar de alguma forma a Ciência emPortugal?

Prof. Orfeu - É difícil fazer umaavaliação da situação de toda a Físicano país. Podemos dizer que a ciênciaque se faz no país é de boa qualidade,contudo, sabemos que é aindaincipiente, ou seja, falta maiscolaboração e diálogo entre os grupos eentre as Universidades. Relativamenteao Ano Internacional Física, foi ummomento privilegiado. Não fazia partedos objectivos do Ano Internacional daFísica, na sua versão portuguesa,discutir os problemas da Ciência e daFísica em Portugal, mas foi ummomento único para reflectir sobre aFísica, e para dar à sociedade aoportunidade de perceber, de um modomais aprofundado, a importância daFísica. Nunca na história dahumanidade fomos tão dependentes datecnologia. Esse tipo de tecnologia teminevitavelmente raízes na Física emuitos ainda não perceberam que é

preciso dezenas de anos para que umadescoberta em física fundamental sejatransformada num objecto tecnológico.Uma das coisas mais extraordináriasque eu ouvi no Ano Internacional daFísica foi a afirmação de umeconomista que dizia que cerca de umterço da economia americana é movidapela mecânica quântica; portanto issodestrói completamente o argumento deque a investigação fundamental nãotem aplicações, que é uma actividadepara o deleite de uns poucos.Inicialmente, de facto, não passa disso,mas as aplicações podem serextraordinárias, o que é preciso é terpaciência. Há hoje um sem número deactividades que devem ser explicados,temos que prestar contas aocontribuinte, pois é ele que financia aconstrução das Universidades,Institutos de Investigação, e financiam anossa investigação, e merecem onosso mais profundo respeito. São elesos nossos empregadores, e eu pensoque o Ano Internacional da Física foitambém importante para isso, prestarcontas àqueles que não conheciam onosso trabalho.

… eu penso que o AnoInternacional da Física foi tambémimportante para isso, prestarcontas àqueles que nãoconheciam o nosso trabalho.

Pulsar – Então acha que o AnoInternacional da Física vem alterar dealgum modo a nossa sociedade e o seumodo de olhar para a Física?

Prof. Orfeu – Eu penso que o AnoInternacional da Física só vai dar frutosem Portugal quando as pessoas comresponsabilidades institucionaisperceberem que é preciso mudarradicalmente o sistema educacional dopaís. Não vejo nenhuma outra solução,e todos sabemos que temos que termuita paciência porque isso só dáfrutos na geração seguinte. Eu estouoptimista porque como disse, é ummomento privilegiado. Pudemos fazeras pessoas perceber que de facto aFísica é importante. Temos que investirmais na Física e o AIF foi um pretexto,para passar a mensagem, ainda que

simbolicamente. O AIF organizou-semuito naturalmente na ênfase dosacontecimentos na Física da primeirametade do século XX. A Física no séculoXXI alterou-se, mas percebemos hojeque indivíduos preparados podem fazertoda a diferença.

Pulsar – Será que nos poderia dizerquais as palestras e eventos, que nasua opinião, tiveram maior impacto doAno Internacional da Física emPortugal?

Prof. Orfeu - Eu estivepessoalmente envolvido em váriasiniciativas e posso dizer qual foi a minhaimpressão. O que me tocou mais foi ointeresse que as pessoas têm emaprender Física. Obviamente, tentarapresentar a relatividade restrita écomplicado, não é qualquer pessoa quevai entender. O conceito de quantatambém não é elementar, por isso épreciso descodificar tudo, e o queusámos nas apresentações que fiz nãoforam equações, mas só ideias, figuras,diagramas, etc. É absolutamentenecessário transmitir a essência dascoisas, e naturalmente, as equaçõessão uma linguagem para iniciados. Masaquilo que achei mais interessante foi ocontacto com o público.Organizámonos, o meu ex-estudante dedoutoramento Jorge Páramos e eu, demodo a cobrir Escolas e Universidades.Houve centenas de pessoas nasescolas, muito interesse e muitasperguntas.

Pulsar – Podemos dizer que o AnoInternacional da Física foi bemestruturado e divulgado?

Prof. Orfeu – Se formos ver asgrandes actividades, em particular asque foram desenvolvidas durante o ano,pela Sociedade Portuguesa de Física eoutras organizações, vemos que

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HISTÓRIA DA FÍSICAcobriram praticamente todo o terreno.Para além destas podemos mencionar,que aqui no IST, o Centro de FísicaTeórica e de Partículas organizou a suahomenagem a Einstein com uma sériede seminários. O Centro de Física dasInteracções Fundamentais também ofez. Houve em Coimbra palestrasgeneralistas. Eu estive envolvido naselecção do material de uma exposiçãotambém muito interessante chamada“Einstein entre nós”, sobre o impactodas ideias de Einstein na vidaintelectual em Portugal. Nestaexposição em particular, havia artigosoriginais do Einstein que vinham de viasdiversas, comentários de intelectuaisportugueses sobre a obra do Einstein,as polémicas entre os intelectuaisportugueses, as revistas e jornaisportugueses que divulgaram a obra deEinstein, material de primeira edição,etc. Uma exposição interessantíssimaque deu também origem a umainteressante colectânea de textoseditados pelo Prof. Carlos Fiolhais.Enfim, a gama de actividades foibastante larga e acho que excitamos aimaginação, desde as crianças até aosintelectuais. Acho que todosencontraram aquele tipo de informaçãoque precisavam, e por isso, do meuponto de vista de físico e de pessoaenvolvida no processo, ainda que numapequena fracção deste, eu acho que otrabalho em todas as frentes foiexcepcional. Claro que estasactividades culminaram para mim, coma publicação de um artigo na Gazeta deFísica, vol.28-3 de 2005, “Einstein e aDescrição Unificada da Natureza” emcolaboração com o Jorge Páramos, aapresentação da palestra deencerramento oficial das celebraçõesdo AIF no Porto em Dezembro de 2005sobre a “Cosmologia do Século XXI”, enaturalmente com a publicação do meu“Livro das Escolhas Cósmicas” pelaGradiva em Fevereiro de 2006.

Pulsar – Na sua opinião houvealguma espécie de intercâmbio entre asdiversas universidades?

Prof. Orfeu – Eu penso que de modogeral as relações entre asuniversidades em Portugal não sãogrande coisa, e isto tem a ver cominúmeros factores. Todos nós estamosa ser esmagados com centenas decoisas, com uma quantidadeabsolutamente incrível de aulas, comtarefas absolutamente inacreditáveis,que vão de corrigir centenas de examesa fazer com que as facturas dos nossosprojectos sejam pagas. Há muito porfazer, sem falar que nos falta um espaçoonde as pessoas possam discutir,

reflectir e assistir a colóquios, trazendoe debatendo com pessoas de fora.Quando eu era um estudante naUniversidade de São Paulo, havia umcolóquio quinzenal que todosfrequentavam, professores e alunos. Namaior parte das vezes, nós alunos nãoentendíamos absolutamente nada, masfazia parte da cultura do nosso Institutoestar presente. Infelizmente, não temosisso aqui no Técnico. Neste momentotemos centros de investigação que têmseminários mais ou menos regulares, eeu acho isso óptimo, mas devia havertambém espaço para colóquios e paraseminários transversais. Falta tambémmuita abertura no mundo universitário, epenso que isso é uma coisa que vaimelhorar, quando formos mais“europeus”.

O diálogo inter-cultural começou naEuropa. Não é à toa que quando temosprogramas de intercâmbio lhes damoso nome de Sócrates ou de Erasmus,porque estes não foram pessoas dasua cidade, nem dos seus países,foram cidadãos do mundo. O seucontinente era a cultura, portantoErasmus estava perfeitamente bem nasua Roterdão natal como na Inglaterra.Eu gostava de ver no caso português,uma cultura universitária semelhante,por exemplo, à alemã. Um professoruniversitário tem um estatuto especial eé tratado como um atleta de altacompetição. O seu cérebro é tãoimportante como as pernas de umgrande jogador de futebol. Elerepresenta o país. Todo o país trabalhoupara criar aquela criatura, mesmoporque a sua educação foi financiadapelo estado. Posteriormente ele fez umaespecialização, que normalmente

também é financiada pelo estado.Todos contribuíram para formar aquelapessoa, portanto é importante que elaseja um instrumento da cultura. Eugostava de facto que chegássemos aesse nível. Muitos países, França, Grã-Bretanha, vêm de facto os intelectuaiscomo património nacional.

O seu cérebro é tão importantecomo as pernas de um grandejogador de futebol…

Pulsar – Tendo tudo isto em conta,qual é para si o saldo do AnoInternacional da Física?

Prof. Orfeu – - Tenho que serhonesto, eu não sei qual é o saldo.Como eu disse, só podemos fazer umaverdadeira avaliação daqui a algunsanos. Penso que as acções realizadasvão resultar, por exemplo, num maiornúmero de alunos interessados emFísica, na melhoria das notas de Física,na sofisticação das ideias a sedesenvolver e no aumento do númerode artigos científicos, mas isso só vaiacontecer à posteriori. Penso que o quepodemos dizer honestamente hoje, éque houve muito entusiasmo, que houvemuita participação, e no que me toca,pude notar que havia um interessegenuíno pela Física. Ninguém vai a umapalestra pública se não estiverinteressado. Pode não perceberabsolutamente nada, mas tinha alguminteresse em lá estar. Portanto, sobesse ponto de vista, acho que o AnoInternacional da Física foi umaexperiência memorável.

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Artigo de Capa|

Inversão do Campo Magnético Terrestre

ertserreT ociténgaM opmaC od oãsrevnI

por Ana Domingues, Sara Rei e Zita Marinho,2º ano LEFT

A origem do campo geomagnéticobaseia-se na Teoria do Dínamo auto-sustentável, na qual correntes deconvecção existentes no núcleo externolíquido geram correntes eléctricas, quepor sua vez, induzem um campomagnético. Para a formação de umcampo magnético planetário estãoassociados três factores essenciais:

• a existência de um grandevolume de fluído condutor eléctrico, (onúcleo externo líquido rico em ferro);

• suprimento de energia dogeodínamo para fazer deslocar o fluído.As altas temperaturas do núcleo,resultantes do calor aprisionado nocentro do planeta durante o seu períodode formação, criam forças de flutuaçãoque provocam a ascensão do materialmenos denso ao longo do núcleoexterno até ao seu topo. Aí o fluído perdeo seu calor para o manto, tornando-semais denso e afundando. Esteprocesso de transferência de calordenomina-se por convecção térmica, eé acentuado pela libertação de calorcomo subproduto da solidificação doscristais de ferro no topo do núcleointerno.

• Por último a rotação da terra,por meio do efeito de Coriolis desvia ofluído em ascensão no núcleo pararotas helicoidais.

O campo magnético estende-se noespaço por 60.000 km originando amagnetosfera, que nos protege da

penetração das partículas do ventosolar. A sua estrutura encontra-seintrinsecamente relacionada com osventos solares, é alongada do ladonocturno e achatada do lado oposto.

Erupções solares intensas emitemum fluxo corpuscular que, ao atingir aTerra, causam distúrbios magnéticos,as tempestades magnéticas, afectandosatélites, balões estratosféricos,telecomunicações, computadores debordo, entre outros. Nas regiõespolares, onde as linhas de campo sãoperpendiculares à superfície terrestre,as partículas penetram mais facilmente.Ao interagirem com os átomos da altaatmosfera terrestre dissipam energiasob a forma de luz originando asAuroras. As partículas energéticas nãoconduzidas pelas linhas de campo paraestas zonas polares são aprisionadas,e quando desaceleradas concentram-se em regiões anelares com mais de36000 km de raio ao redor da Terradesignadas por cinturões de Van AlIen.

Através do estudo das propriedadesdas rochas, descobriu-se que osminerais de ferro funcionavam comoímans (magnetos de ferro). Nomomento da sua cristalização, abaixodo ponto de Curie (temperatura em queos materiais ferromagnéticos perdem asuas propriedades magnéticas), osmagnetos de ferro adquirem umaorientação magnética paralela aocampo, fixando-o.

Com a ajuda deste estudo doscampos fixados em rochas, concluiu-seque o campo nem sempre era omesmo, existindo assim rochas em queo norte magnético era coincidente como norte geográfico e vice-versa(polaridade normal), que é a orientaçãodo campo de hoje em dia. Noutrasrochas o norte geográfico coincidia como sul magnético e o sul geográfico como norte magnético (polaridade inversa).

Estas inversões ocorrem ao longode 4,5 biliões de anos sendo que aúltima aconteceu há 780 mil anos, umpouco mais do que o período médio(250 mil anos).

Deformação da Magnetosfera

Detalhe do cinturão de Van Allen

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Variação da polarização do Campo Magnético Terrestre

Simulações de computador em 3-D do geodínamo, oferecem aos cientistas um modo de estudaras origens das inversões.Uma inversão típica simulada duraria 9000 anos, em que as cores

laranja mostram fluxo apontado para fora e em azul mostra fluxos apontados para dentro.

Estudos recentes comparammapas precisos do campo magnéticoseparados por 20 anos daí pode-seconcluir que a distribuição do campomagnético não é uniforme, existindotambém anomalias. Com todos estesdados foi possível chegar-se a 2Teorias:

• As variações sustentadas docampo provêm de locais da divisãonúcleo-manto em que a direcção do

fluxo é contrária à que seria normalnaquele hemisfério. Estas manchas, deacordo com os mapas, tendem aaumentar de tamanho e a moverem-separa os pólos, o que leva os cientistas apensarem que este crescimento,proliferação e migração causam ainversão.

• O geodínamo "desliga-se”espontaneamente ou devido a qualqueracção externa, como o impacto de umcometa, reiniciando-se com a mesmapolaridade, excursão geomagnética oucom a polaridade oposta, inversãomagnética.

Actualmente, vários estudosconfirmam que o campo magnético estáa modificar-se de ano para ano,

podendo estar iminente uma inversãoda polarização do campo nos próximosmilhares de anos.

A partir de mapas de satélites, quedesde 1980 nos mostram imagens docampo magnético terrestre ecomparando com mapas actuais,observa-se que a maior parte do fluxomagnético é direccionada para fora donúcleo no Hemisfério Sul e para dentrono hemisfério Norte. Em poucasregiões, o oposto é verdadeiro,originando manchas de fluxo invertidoque proliferaram e cresceram entre1980 e 2000.

Uma inversão no campo magnéticotrará consequências como a falha nascomunicações e a queda de satélites, a

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desorientação dos animais que seregem por este, modificaçõesambientais que podem conduzir aextinção de espécies e a diminuição dacamada de ozono que nos expõe aradiações solares e,consequentemente, a doenças crónicascomo o cancro.

Desde 1995 que se tentam fazersimulações das variações do campomagnético em super computadores,que fornecem aos pesquisadoresvislumbres rudimentares de como estastrocas se podem originar e progredir. Oproblema é que nenhum destesmodelos consegue simular o grandeespectro de turbulências que existemno interior do planeta, pois ainda nãosão suficientemente rápidos e têmbaixa resolução. Uma boa maneira demelhorar o entendimento do geodínamoseria comparar dínamos decomputador, que não têm turbulência,com dínamos de laboratório, que nãotêm convecção. Cientistasdemonstraram a possibilidade deconstruir dínamos de laboratórios nosanos 1960, mas o caminho até aosucesso foi longo.

Mapas de contorno do campo geomagnético da Terra extrapolado pela divisãomanto-núcleo, a partir de medições de satélite, mostrando que a maioria do fluxo

esta apontada para fora no hemisfério sul e apontando para o dentro no hemisférionorte, mas ocorrem manchas de fluxos invertidos distribuídos pelo globo

Modelo ilustra o campo magnético submerso dentro do núcleo (linhas entrelaçadas no centro) e o dipolo emergente (longaslinhas curvadas).a) período de tempo =0,b) ) período de tempo=3000-6000 anos e c) ) período de tempo =9000 anos.

Scientific American April 2005http://www.newscientist.com/

Bibliografia:

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O Campo de Higgs e a Origem da Massapor Ricardo Vaz, Gonçalo Oliveira e Pedro Ricardo, 2º Ano LEFT

O modelo-padrãoSe pensarmos no objectivo

fundamental da física, ou da ciência emgeral, não teremos grandes dúvidas deque esse objectivo passa por descrevera totalidade dos fenómenos queexistem da forma mais económicapossível. Não nos interessa arranjaruma explicação para cada situaçãoespecífica, interessa-nos um modeloque explique muitos fenómenos e que,acima disso, permita prever comprecisão fenómenos futuros. Na Física,o modelo mais completo de que sedispõe é o chamado Modelo-Padrão(Standard Model), que foi um modeloconstruído ao longo do século XX. Empoucas palavras, o que o Modelo-Padrão faz é catalogar e ordenar aspartículas conhecidas ecorrespondentes antipartículas e asinteracções a que estão sujeitas deforma a explicar os fenómenos demaneira simples e eficaz. Explicandobrevemente como funciona o Modelo-Padrão, este modelo descreve trêsinteracções:

• A interacção nuclear forte (ouapenas interacção forte), que éresponsável pela coesão dos núcleos

• A interacção nuclear fraca(interacção fraca), que explica aradioactividade e as reacções nucleares(fusão e fissão)

• A interacçãoelectromagnética, que nos é maisfamiliar, e explica a interacção entrepartículas carregadas, bem como oscampos eléctrico e magnético

Como salta à vista, falta aqui ainteracção gravítica, que foi obviamentea primeira a ser descoberta peloHomem. O que acontece é que oModelo-Padrão é incapaz de englobar ainteracção gravítica, mas não vamosaqui entrar em grandes pormenores.

Quanto às partículas, elas sãodivididas de duas maneiras diferentes.

Originalmente, as partículas tinhamsido divididas consoante a sua massa.Havia os bariões, os mesões e osleptões, sendo que os seus prefixosvêm do grego “pesado”, “médio” e“leve”. Depois, quando se soube maissobre a estrutura interna dos bariões emesões, com a descoberta dos quarks,por exemplo, avançou-se para umaclassificação mais rigorosa daspartículas. A primeira classificação, queabrange apenas as partículas damatéria, rege-se segundo asinteracções mais importantes para aspartículas, e nesta divisão temos oshadrões e os leptões. Os hadrões, cujainteracção determinante é a interacçãoforte, são constituídos por quarks epodem ser divididos em dois grupos: osbariões (como o protão, por exemplo)constituídos por três quarks (um quarkde cada cor, de acordo com acromodinâmica quântica, de forma anão violar o princípio de exclusão dePauli) e os mesões, constituídos pordois quarks (um quark e um antiquarkda mesma cor). Os leptões (caso doelectrão, por exemplo) são partículaselementares que interagem segundo aforça nuclear fraca e segundo a forçaelectromagnética. Os leptões sãodivididos em três famílias, a família doelectrão (com o seu neutrino e asrespectivas antipartículas), o mesmo se

passando para as famílias do muão edo tauão.

A segunda classificação é feita como critério do spin, uma propriedade daspartículas referente à sua rotação. Estaclassificação abrange só as partículaselementares. Nesta classificação,temos por um lado os fermiões, comspin fraccionário, e os bosões, comspin inteiro. Os fermiões obedecem aoprincípio de exclusão de Pauli, segundoo qual dois fermiões não podem ocuparsimultaneamente o mesmo estadoquântico, enquanto que os bosões nãolhe obedecem. Nestas condições,teríamos os fermiões divididos em trêscategorias, com a massa a aumentarprogressivamente. A primeira contem oelectrão, o neutrino electrónico e osquarks u e d (up e down), a segunda omuão, o neutrino muónico e os quarks se c (strange e charm) e a terceira otauão, o neutrino tauónico e os quarks be t (bottom e top). Os bosões são aspartículas de troca das diversasinteracções, partículas portadoras dainteracção, ou de forma mais técnica, aspartículas portadoras do campo, sendoelas o fotão (partícula de troca dainteracção electromagnética), aspartículas W+, W- e Z0 (partículas detroca da interacção fraca) e os gluões(partículas de troca da interacção forte).

Tabela de partículas elementares

Esquema das interacçõesfundamentais no Modelo-Padrão

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O Campo de HiggsComo referido no início, o objectivo

da ciência é explicar a maior quantidadede fenómenos da forma maiseconómica possível. No caso da física,o que se procura é uma “teoria final”que permita responder a todas asquestões que se coloquem, quer àescala subatómica quer à escalaastronómica. Neste contexto, temosconsciência que o Modelo-Padrão não éum candidato à “teoria final”, por razõesque abordaremos mais à frente. Assimsendo, já há algumas décadas que osfísicos pensam em Teorias deUnificação, tentando arranjar modelosmais gerais que evitem dificuldadesque o Modelo-Padrão encontra. Porém,o Modelo-Padrão continua a sermelhorado com novos avanços teóricos,entre os quais se encontra a teoria dosCampos de Higgs, na qual os físicostêm trabalhado muito nos últimos trintaanos. Esta teoria permite, entre outrascoisas, explicar a origem da massa daspartículas. Trata-se de uma construçãoteórica muito elegante mas a suacomprovação passa pela detecçãoexperimental de uma partícula portadorado Campo de Higgs, o chamado Bosãode Higgs.

Os campos são uma estrutura muitoimportante na física moderna. Oscampos mais familiares são oschamados “campos de forças” (forcefields) que estão associados àsinteracções fundamentais da natureza,ou se quisermos, às suas partículas deinteracção. Assim sendo, teremos ocampo electromagnético, cujosconstituintes são os fotões. No campogravítico supõe-se, por analogia, aexistência do chamado gravitão, queseria a partícula de interacção, mas queainda não foi descoberta. Porém, sendoa interacção gravítica muito mais fracado que qualquer uma das outras, écompreensível que ainda não se tenhadetectado a sua partícula de troca. Asrestantes duas interacções, asinteracções forte e fraca, tambémexercem a sua influência como campos,sendo estes os chamados campos deYang-Mills. O mecanismo dos campostambém se aplica à matéria. Sementrarmos em detalhes, podemospensar nas ondas de probabilidade da

mecânica quântica como campos quese estendem pelo espaço e que nosdão a probabilidade de encontrar apartícula numa determinada região doespaço. Para além dos campos deforças e de matéria, os físicos crêem naexistência de um terceiro tipo de campo,o chamado “Campo de Higgs”, emhonra do físico escocês Peter Higgs.

Os campos são bastante afectadospela temperatura. Em geral, quantomais alta a temperatura maiores são asoscilações nos valores do campo. Nosprimeiros instantes do Universo atemperatura era muito alta e, portanto,os valores médios dos campososcilavam muito. Porém, à medida queo Universo se foi expandindo earrefecendo, a densidade de matéria eradiação desceu drasticamente e, paraalém das oscilações dos valores doscampos terem decrescido, os valoresmédios dos mesmos fixaram-se pertode zero. Isto é para nós perfeitamentenatural, pois no vazio os campos não sefazem sentir. Aqui é que surge aparticularidade do campo de Higgs. Noprincípio do Universo, este campo tinhaum comportamento semelhante aosoutros campos, flutuandodramaticamente para cima e para baixo.A grande diferença é que, com oarrefecimento e a expansão os camposde forças condensaram num valormédio de zero, enquanto que o campode Higgs condensou num valor médiodiferente de zero. Isto é, no vácuo, ovalor médio esperado para o campo édiferente de zero. Podemos dizer que seformou um “Oceano de Higgs” que seespalhou pelo Universo. Em termos dospotenciais associados ao campo, oudas energias associadas, nos camposde forças teremos uma formaparabólica em que o valor médio docampo “desliza” para zero, enquantoque com o campo de Higgs tem aseguinte forma:

Para forçar o campo de Higgs a terum valor médio de zero, ele teria de termais energia e assim a região doespaço não seria tão vazia comopossível. Ao facto de o campo de Higgstomar um valor médio diferente de zerono vácuo os físicos chamam uma“quebra espontânea de simetria”,sendo esta uma das ideias maisimportantes da física do século XX.

Havendo um oceano de Higgs quenos rodeia, será natural perguntarmo-nos qual a influência que ele exerce emnós. Os físicos acreditam que o campode Higgs é a resposta à questão daorigem das massas das partículas. Poroutras palavras, a massa das partículasprovem da interacção das mesmas como campo de Higgs. Assim sendo, ofotão, que não tem massa, será umapartícula que não sofre com a acção docampo de Higgs (como se andasselivremente pelo oceano de Higgs),enquanto que o quark-t (top, que é omais maciço de todos os quarks) teráuma interacção muito forte com ooceano de Higgs.

Os estudos teóricos prevêem que ocampo de Higgs condense para umvalor diferente de zero a umatemperatura da ordem dos 1015 graus(100 milhões de vezes a temperatura nointerior do Sol), significando que é aesta temperatura que se dá a referidaquebra espontânea de simetria. Poroutras palavras, quando a temperaturado Universo era superior a 1015 grausas partículas todas tinham massa nula.Quando se baixou deste limiar,instantaneamente formou-se o oceanode Higgs e as partículas interagiramcom este de maneiras diferentes, umasadquirindo massas maiores, outrasmassas mais pequenas e outras, comoo fotão, não adquirindo qualquermassa. Aliás, percebe-se bem o uso dotermo “quebra de simetria”. Antes docampo de Higgs condensar, havia umasimetria entre as partículas, tinhamtodas massa nula, simetria que sequebrou após a formação do oceano deHiggs.

É importante repararmos que não sóas partículas elementares (fermiões)tinham massa nula antes da quebra desimetria, mas também as partículas deinteracção (bosões) tinham massanula. Esta simetria entre as partículasde interacção foi de encontro a umaoutra simetria muito elegante,descoberta por Glashow, Weinberg eSalam no final da década de 60 e quelhes valeu o prémio Nobel em 1979(imagem5). Os três cientistasdemonstraram nos seus trabalhos que,acima do limiar dos 1015 graus, aspartículas W, Z e o fotão não só tinham asimetria de ter massa nula como

Peter Higgs (1929), físico escocês quepropôs a teoria do campo de Higgs

Energia do Campo de Higgs.O campo “desliza” (condensa)

para um valor diferente de zero

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também tinham a chamada “simetria deinvariância de padrão” (“simetriagauge”). Esta simetria entre aspartículas significa que poderíamostrocar uma partícula W por um fotãosem que houvesse qualquer alteraçãonos processos físicos. Isto leva-nos auma unificação das interacções fraca eelectromagnética acima do referidolimiar de temperatura. Acima destatemperatura, as interacções fraca eelectromagnética eram indistintas,constituindo a chamada interacção“electrofraca”. Isto é um resultadointeressantíssimo pois mostra-nos queas diferenças entre a interacçãoelectromagnética e a interacção fracano Universo actual surgem porque ooceano de Higgs “esconde” a suasimetria.

Depois de conseguida a unificaçãodas interacções fraca eelectromagnética, seria legítimocomeçarmos a pensar numa unificaçãoainda maior. Seria de esperar tambémque acima de outro limiar detemperatura, muito maior que os 1015

graus, as interacções forte eelectrofraca fossem tambémindistinguíveis (e eventualmente que asquatro forças da natureza fossem amesma). Os físicos Georgi, Quinn eWeinberg trabalharam nesta chamada“grande unificação” e previram que astrês interacções descritas pelo Modelo-Padrão fossem a mesma acima dumatemperatura na ordem dos 1028 graus.Nestas condições, existiria outro campode Higgs, chamado “Higgs de grandeunificação” (grand unified Higgs; o outrocampo de Higgs já descrito passa a serchamado “Higgs electrofraco”,“electroweak Higgs”), que teriacondensado num valor diferente de zero

à referida temperatura. Portanto, àsemelhança do Higgs electrofraco,também aqui se daria uma quebra desimetria que separou os gluões daspartículas W, Z e dos fotões, formando-se outro oceano de Higgs. Não vamosaqui entrar em mais detalhes.

Os campos de Higgs constituemmodelos teóricos muito elegantes e queintroduzem de forma muito interessanteas quebras espontâneas de simetriaque justificam as diferenças entre asinteracções fundamentais no Universoactual, ou se quisermos, as diferençasentre as suas partículas de troca. Apossibilidade de no início do Universoas três (e possivelmente as quatro)interacções fundamentais serem umasó, que depois se vai dividindo, é umaperspectiva bastante simples eagradável para os físicos.

Porém, a confirmação da existênciados campos de Higgs, ou pelo menosdo Higgs electrofraco, que condensou auma temperatura mais baixa, passapela detecção de pelo menos uma daspartículas portadoras do campo, aspartículas de Higgs, ou usando o nomemais popular, o chamado Bosão deHiggs. Este é um dos grandesobjectivos da Física para o século XXI, adetecção do bosão de Higgs, que terá(de acordo com as previsões teóricas)spin nulo. A massa, por outro lado, émais difícil de prever, sabendo-seapenas que será acima dos 200 GeV(giga electrões-volt, energiacorrespondente ao limiar detemperatura dos 1015 graus), que é umaenergia que o LHC (acelerador do CERNque se prevê que esteja operacional em2007) será capaz de produzir. A detecçãoda partícula terá de ser feita por formasindirectas, isto é, sendo a partícula

instável, ela vai acoplar com outraspartículas e é a partir das trajectórias deoutras partículas que se pode detectarse eventualmente a partícula de Higgsesteve presente. Isto não é simplespois, pela Mecânica Quântica, osprocessos são todos probabilísticos, ouseja, determinadas trajectórias podemser produzidas por diferentesinteracções. Analisando asprobabilidades das interacçõesconhecidas, se eventualmente houveralgo diferente do que se espera, istopoderá apontar para a presença dobosão de Higgs.

Para além do Modelo PadrãoO Modelo-Padrão é um modelo cujo

sucesso é inquestionável. Para além dateoria condizer com as observaçõesexperimentais, conseguiu em muitoscasos algo ainda mais importante, queé a previsão de resultados que maistarde viriam a ser comprovadosexperimentalmente. O grande interessede uma teoria não é só explicar o que jáse sabe, é também prever aquilo que sepossa vir a descobrir.

Apesar disso, temos hojeconsciência que o Modelo-Padrão não éum modelo que consiga explicar atotalidade dos fenómenos da natureza,é um modelo limitado que deixa defuncionar a partir de certas fronteiras.Para além de não englobar a interacçãogravítica, o Modelo-Padrão falha naproximidade das chamadas“singularidades”, que são pontos ondea curvatura do espaço-tempo tende parainfinito, como é o caso do Big-Bang,muito por causa das incompatibilidadesentre a Relatividade Geral e a MecânicaQuântica.

Hoje em dia continua a trabalhar-senas “Teorias de Unificação”, que sãotentativas de se chegar a uma teoriafinal que explique a totalidade dosfenómenos da Natureza. Por um lado,há tentativas de modificar o Modelo-Padrão, introduzindo mecanismos quenão se sabe bem se têm significadofísico ou se são apenas artifíciosmatemáticos, como é o caso daSuperSimetria. Por outro, constroem-senovos modelos ainda mais elegantes,como é o caso da Teoria das Cordas,que tenta partir de um nível maisfundamental para eliminar algunsproblemas do Modelo-Padrão. Estasnovas teorias vêm em geralacompanhadas de uma grandecomplexidade matemática, facto esteque não irá impedir os físicos teóricosde investirem muito nesta área nospróximos tempos.

Fotografia aérea dos arredores de Genève. A circunferência maior representa o LHC

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BoomerangBoomerangBoomerangBoomerangBoomerangpor Sonat Duyar, 3º Ano LEFT

Nota denomenclatura:

o símbolo ,utilizado mais

adiante,representa a

direcçãoperpendicular ao plano

da página orientada nosentido “para longe do

leitor”. Por favor não tomeisto como uma

desconsideração da suapessoa.

É minha intenção, ao escrever esteartigo, que ele seja perceptível mesmopara quem não percebe quase nada defísica. Sacrificarei deste modo algumaprecisão formal em prol de uma melhorcompreensão. Para não deixar ninguémdescontente, na última parte do textofarei uma pequena “dedução” domovimento do boomerang com basenas leis de Newton, tentando no entantoser suficientemente acessível para quequalquer interessado a possacompreender minimamente.

Comecemos então. Observemos umboomerang de retorno, como o que estárepresentado na seguinte figura:

À primeira vista parece apenas umpedaço de pau.

O que no entanto sabemos é queeste pau quando é atirado de formacorrecta, tem a estranha propriedade dedescrever uma trajectória curva que otrará de volta ao lançador. Como é queisto é possível?

Para começarmos a perceber estemistério, é preciso olhar com maisatenção para a forma como este pau foitalhado. De facto, a geometria das asasdo boomerang encerra o segredo doseu movimento.

Estas asas são esculpidas comuma forma aerodinâmica, semelhante àda asa de um avião, possuindo, cadauma delas, um bordo arredondado deum dos lados, mais grosso, que depoisafunila até à extremidade oposta. Estebordo arredondado não está localizadono mesmo lado nas duas asas, comoestá explicitado no seguinte desenho:

No desenho, a asa de cima tem obordo arredondado do lado esquerdo,enquanto que na asa de baixo ele estáno lado direito. Na zona central o bordoestá arredondado dos dois lados. Paralançar correctamente um boomerang épreciso atirá-lo de forma a que rodesobre si próprio ao mesmo tempo quese desloca no ar. O boomerang dafigura deve ser lançado de tal forma que

gire no sentido contrário ao dosponteiros do relógio, de maneira a queseja sempre o bordo mais arredondadode cada asa a cortar o ar.

Mas afinal qual é a razão destageometria das asas e porque é quedeve ser sempre o bordo maisarredondado o que corta o ar? Oobjectivo é criar uma força que actuelateralmente sobre o boomerang. Oprincípio que está por trás éprecisamente o mesmo que faz comque as asas dos aviões sejamactuadas por uma força direccionadapara cima quando têm velocidaderelativamente ao ar (designada força desustentação, que é a que permite que oavião levante voo e se mantenha nocéu). A origem desta força énormalmente explicada pela Lei deBernoulli (ainda que esta não seja aúnica causa):

Consideremos uma asaaerodinâmica (representada a vermelhona figura) disposta numa posiçãoaproximadamente horizontal num túnelde vento. Devido à sua geometria e aoângulo de ataque (o ângulo deinclinação da asa relativamente àdirecção do movimento), o ar que lhepassa por cima adquire maisvelocidade do que o ar que passa porbaixo (a coluna de ar quebra-se, porquea metade de baixo atrasa-se em relaçãoà de cima).

Porque é que os boomerangs voltam para trás?

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Espero que o leitoracredite no que lhe digoporque infelizmente nãovou poder desenvolver mais

detalhadamente as causasdeste fenómeno para que o

artigo não fique demasiadoextenso. De qualquer forma, dizer que

não acredita nisto é dizer que nãoacredita em aviões, o que pode dar azoa uma interessante discussãofilosófica, mas que está fora do âmbitodeste texto.

Voltando à nossa asa, a Lei deBernoulli* diz-nos que quanto maior é avelocidade de um fluido (como é o casodo ar), menor é a sua pressão. Assim,vamos ter mais pressão na partedebaixo da asa do que na parte decima. A pressão exercida na asa podeser vista como os “empurrões” que aspartículas de ar vão dando em toda asua superfície. Se a quantidade deempurrões de um dos lados for maiordo que no outro, gera-se uma força que,neste exemplo, faz a asa subir.

No caso do boomerang, que élançado verticalmente, este mesmoefeito resulta numa força que o empurralateralmente. No entanto, a intensidadedesta força não é igual nas duas asas,porque elas não possuem a mesmavelocidade relativamente ao ar.

Para percebermos porquê,consideremos inicialmente que oboomerang tem apenas movimento derotação, ou seja, que não se está adeslocar no espaço:

O seu centro de massa (o ponto queé atravessado pelo eixo de rotação)encontra-se em repouso. O ponto A temuma velocidade tangencial v no sentidodireita-esquerda e o ponto B tem amesma velocidade v no sentidoesquerda-direita.

Sabemos, no entanto, que quandoum boomerang é lançado o seu centrode massa não se encontra em repouso,

está a deslocar-se no espaço.Consideremos que esse deslocamentose faz com velocidade v:

Nesta situação verificamos que avelocidade do ponto A se adiciona àvelocidade do centro de massa, ficandoo ponto A com uma velocidade v+v = 2vem relação ao ar. No caso do ponto B, avelocidade tem sentido contrário ao davelocidade do centro de massa, logo, oponto B está parado em relação ao ar.

Assim sendo, percebemos quea força que empurra lateralmente oboomerang (a que já identificámoscomo sendo devida à formaaerodinâmica das asas e ao princípiode Bernoulli) é muito mais intensa naasa que está em cima, em particular noponto A, do que na asa que está embaixo, em particular no ponto B (podeexistir força neste último se a suavelocidade for maior que a velocidadedo centro de massa). Deste factoresulta que o boomerang sofra umatorção, isto é, que rode sobre o eixo quecoincide com a direcção do movimento:

Para percebermos melhor o queacontece a seguir tomemos comoreferência os pontos A e B. Verificamosque, como resultado da torção, estesdois pontos vão ganhar umacomponente v’ na sua velocidade que éperpendicular à direcção do movimentodo boomerang:

Como vimos, na figura acima, oponto A está a afastar-se do leitor comvelocidade v e o ponto B a aproximar-sedo leitor com a mesma velocidade v.Desta forma, a velocidade resultantenestes pontos é dada pela somavectorial das suas componentes v e v’:

Para evitar confusões, lembro queestamos a fazer esta análise noreferencial (leia-se “ponto de vista”) dopróprio boomerang, pelo que asvelocidades relativamente ao ar não nosinteressam.

Generalizando a situação, pode-sedizer então que em qualquer instante,todas as partículas que estejam acimado centro de massa estão a afastar-sedo leitor ao mesmo tempo que são“puxadas” para a esquerda, enquantoque todas as partículas que seencontram abaixo do centro de massaestão a aproximar-se do leitor aomesmo tempo que são “puxadas” paraa direita. É fácil perceber que, comoconsequência disto, o boomerang vaicomeçar a virar para a esquerda, aomesmo tempo que se vai deitando. Se oconseguirmos atirar correctamente, eleeventualmente fechará a sua trajectória,voltando ao ponto de partida:

Esta curvatura da trajectória comoresultado da existência de uma “forçade torção” num corpo em rotação éaquilo que em física se chamaprecessão. Este movimento pode ser

20 | Pulsar | Novembro 2006

-TIPLER, P.A. – Física, 1º Volume. LTCEditora, 4a ed., 2000.-FISHER, L. – Como Ensopar Um Donut.Gradiva, 1a ed., 2005.-http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/brng.html-http://www.rangsboomerangs.com/topview.htm

Bibliografia:

biochips

De 6 a 16 de Março o CENTRApremiou-nos com um conjunto depalestras sobre a história da Física e asimplicações sociais e políticas que sepodem encontrar na história da Física.Estas palestras foram dadas peloProfessor Alexei Kojevnikov, Professorna University of Geórgia (Athens, EUA).

A Pulsar foi entrevistar o Prof.Kojevnikov após a concretização daspalestras, para que todos aqueles quenão tiveram oportunidade de assistir àspalestras possam ter uma ideia do quelá foi falado.

Pulsar – Gostaríamos de começarpor saber onde é que estudou, e onde eem que projectos está a trabalhar nomomento?

Prof. Kojevnikov – Eu comecei porestudar física, uma física intelectual,mas em termos gerais o segui opercurso normal no estudo de física.Estudei Física na Moscow StateUniversity de 1978 a 1984, onde saícom uma graduação equivalente aoMestrado. Depois tirei o doutoramentoem História da Ciência pelo Institute forHistory of science and technology. Apartir daí estudei, principalmente,história da ciência, e em particular, afísica do século XX. Também trabalheiem física quântica, mecânica quântica.Trabalhei em diferentes países daEuropa, principalmente na Rússia.Depois do meu Ph.D, foi possível viajarpara diferentes países e estava numasituação privilegiada porque tinhadiversos conhecidos, pelo que foipossível trabalhar na Alemanha,Estados Unidos da América, etc. Então,passados 7 anos de viagens, aterreipara um emprego nos Estados Unidosda América. Actualmente tenho doisempregos, um na Rússia e outro nosEstados Unidos da América, mas é nosEUA que me encontro a maior parte dotempo e é o meu emprego principal.

Quanto a projectos, normalmentetenho diversos ao mesmo tempo, masusualmente faço algo relacionado comciência Rússia e Soviética, e não é sófísica, isto inclui citações políticas.

Pulsar – O que é que o motivou aestudar física e a seguir o ramo dafísica no seu percurso académico?

Prof. Kojevnikov – Não sei se possodizer que foi uma escolha muitoponderada, eu tinha grandes facilidadesem matemática e física, e comoestudava numa escola especial em

deduzido das leis de Newton. Pelasegunda lei de Newton:

(1)

O que sumariamente significa quese houver uma variação no impulso( ) de um corpo (variação da suamassa ou da sua velocidade), obtemosuma força resultante ( ). Da mesmaforma, diz-nos que se existir uma forçaresultante a actuar num corpo, então oseu impulso vai variar. Esta variaçãopode ocorrer tanto em módulo como emdirecção.

Se uma força for aplicada a umadistância r do centro de massa de umcorpo (e considerando que o corpo nãoestá “preso” a nada), então essa forçapode provocar uma torção do mesmo,em torno do centro de massa. Essatorção será mais efectiva quanto maior

for a componente da forçaperpendicular ao vector

(com norma r, origemno centro de massa

e apontando parao ponto de

aplicação daforça).

Esta contribuiçãode numa torção édada pela operaçãoproduto vectorial(representada aqui por ):

(2)

é habitualmente designadopor momento da força ou torque ( ), e

por momento angular ( ):

(3)

A operação produto vectorial devolveum vector cuja direcção é sempreperpendicular à dos vectores operados(e sentido dado pela chamada “regra damão direita”). Desta forma, percebemosque no caso do boomerang o momentoangular tem a direcção do eixo derotação do boomerang. O momento deforça, por seu lado, sendo tanto a forçaaerodinâmica como o vectorperpendiculares à velocidade, vai ter adirecção desta última:

Como o momento de forçaresultante é perpendicular ao momentoangular, este último não sofrerávariação em módulo. No entanto, aequação (3) diz-nos que, na existênciade um momento de força, tem de havervariação de momento angular. A soluçãoé naturalmente que o momento angularsofra uma variação na sua direcção eno sentido do momento de força, daqual resulta uma curvatura natrajectória. É como se o vector Lestivesse a perseguir o vector M, semnunca o conseguir apanhar.

O facto espantoso acerca dosboomerangs de retorno é que ainda queseja preciso uma dose razoável deconhecimento sobre física para oscompreender, os aborígenes daAustrália já os fabricavam e lançavamcorrectamente, há mais de 10 000anos…

* Para testar oprincípio deBernoulli segureuma tira de papel àfrente da boca esopre por cimadela. Verifica-seque a folha sobe,

porque a pressão exercida pelo ar queestá debaixo da folha não é

compensada pela pressão do arque está em cima (uma vez

que este se está adeslocar mais

rápido).

A explicação paraesta diferença de pressão centra-se nofacto de na zona em que o ar tem maisvelocidade, há menos ar por unidade devolume – logo, menos choques entre aspartículas de ar e a folha de papel, ouseja, menos pressão.

ENTREVISTA

Novembro 2006 | Pulsar | 21

ENTREVISTA

matemática, foi uma espécie de cursonatural. Na universidade comecei aperceber que tinha um enormeinteresse em humanidade e entãocomecei à procura de como poderiacombinar as duas, física e o interesseque tinha em humanidade e foi assimque acabei onde acabei.

Pulsar – Qual é para si o ramo dafísica mais importante e o que maismudou as nossas opiniões econhecimentos?

Prof. Kojevnikov – Acho que o maiorsalto da física aconteceu no início doséc XX, em termos de ideias econceitos, tanto na relatividade masmais ainda na física quântica. Emcomparação com essa revolução, tudo oque aconteceu depois não foi de certomodo tão chocante como isso.

Pulsar – Até que ponto é que apolítica influencia, ou pode influenciar, afísica e o estudo da física?

Prof. Kojevnikov – Antes de tudo, emtermos de dinheiro e de recursosdisponíveis. Também no séc. XX houveum grande interesse político-militar emarmas e na bomba nuclear. Também hámuito interesse a diversos níveis, comoa nível filosófico, religioso ou político, eque podem surtir efeito nas nossasintuições no comportamento de umobjecto físico. Também nos ajudam aperceber os antigos físicos, comoNewton e a sua Mecânica do mundo.Numa das minhas palestras, porexemplo, falei de como é que ideiassocialistas influenciaram nodesenvolvimento de modelos decomportamento colectivo de electrões epartículas sub-atómicas.

Pulsar – Como é que a investigaçãono ramo da física tem vindo a evoluir aolongo dos anos, principalmente nosúltimos anos?

Prof. Kojevnikov – Não sei se sou apessoa mais qualificada para

responder a essa pergunta. Nós, noestudo da história, andamos para trásno tempo e por isso não estamos tantoa par dos eventos mais recentes.Quando eu ainda estudava física, estavano ramo da cosmologia, e ainda tenhoenorme interesse nessa área, adescoberta da energia negra foi umalgo espantoso. Hoje em dia já nãotemos essa grande quantidade decoisas não descobertas na ciência.

Pulsar – Como vê a mudança dasupremacia na investigação da Europapara a América, terá mais benefíciospara o mundo? Ou trará prejuízos?

Prof. Kojevnikov – Prejuízos nãotrará. Uma das coisas de que eu mequeixei numa das palestras é que o quese podia encontrar na Europa não erauma supremacia mas mais umarivalidade entre diversos países. Até 100anos atrás faziam-se diversos estilosde física, a física alemã, a física inglesa,a física francesa, que eram todasdiferentes. Esses anos foram marcadospelo nacionalismo, o nacionalismoeuropeu, e França teria o seu própriomodo de trabalhar a físicaprincipalmente porque não queria fazeras coisas como os alemães faziam.Esta rivalidade levou a diferentesmaneiras de se estudar o mesmoacontecimento físico. Isto foi fortementeperdido desde o final da segundaguerra mundial, quando o modo deestudar a ciência se tornou muito maisuniforme. É importante que se tentecriar diferenças no modo de fazerciência entre a Europa e a América.

Pulsar – Qual a sua opinião sobre omodo como a física e a ciência em geralpodem gerar guerra e paz no mundo?Neste momento acha que a ciência estáa ser utilizada como uma ferramenta deguerra?

Prof. Kojevnikov – Quanto ao estudohistórico, a ciência está fortementeligada a uma natureza militar. Até àsegunda metade do séc. XX todo odinheiro investido na física tinhapropósitos militares. Muitas dessasdescobertas foram depois aplicadas aobjectos comuns, mas tiveram origemna pesquisa militar. Podemos dizer queesta dualidade na ciência entre paz/guerra existe desde sempre.

Pulsar – Portanto na sua opinião vaicontinuar a haver sempre este objectivode utilizar a ciência para fins militares?

Prof. Kojevnikov – Isso é muitopolítico. Na minha opinião trata-se decomo o desenvolvimento justifica o seuorçamento, e grandes despesas sãonormalmente justificadas por finsmilitares, e se a política mudasse e sefosse possível justificar grandesorçamentos sem invocar os objectivosmilitares então haveria uma maneira defazer com que a pesquisa militar nãotivesse um papel chave na distribuiçãodinheiro.

Pulsar – Houve alguma alteração nafísica e na ciência que se pratica naRússia desde a queda da URSS?

Prof. Kojevnikov – Em termos geraisteve um declínio, mas por outro ladotambém expandiu, pois as pessoasforam para outros países. Mas o que euvejo entre os cientistas na Rússia é queeles ainda sofrem da perda deprestigio. O problema está na política daRússia que normalmente vai de umextremo para outro, e no tempo daURSS a ciência era tida em altaconsideração, e agora os cientistassentem um pouco a falta desse apoio eprestígio que lhes foi concedido pelosSovietes. Isso depois, de certa forma,reflecte-se no modo como é feita aciência neste momento na Rússia.

Professor Alexei Kojevnikov

Interesse militar no estudo da física

22 | Pulsar | Novembro 2006

BIOMÉDICA

Jornadas Nacionais de Eng.ª Biomédicapor Por Jorge Beira, 2º ano LEBM

A ideia de realizar um encontro deestudantes de engenharia biomédica équase tão antiga quanto a próprialicenciatura nas quatro faculdades. Anecessidade de criar uma oportunidadeprivilegiada de contacto com os nossoscolegas de todas as faculdades foicrescendo e o conceito amadurecendo.

Lançou-se o desafio e angariaram-se interessados em participar naorganização. Ao fim de algumassessões de brainstorming a ideia baseestava montada: 5, 6 e 7 de Maio, VilaNova de Milfontes, DunaParque, muitadiversão, troca de conhecimentos...Enfim um fim de semana inesquecível!

Assim às 14h do dia 5 lá estavam osautocarros à porta do IST, com osnossos colegas do Minho, prontos paranos levarem rumo a Milfontes, com umapequena paragem na Costa daCaparica, para apanhar as colegas daFCT.

Para a abertura estava preparadauma conferência que incluiu umaapresentação sobre o Trabalho Final deCurso de Filipe Fraga e João Almeida(alunos do IST), a apresentação de umprojecto de Fernando (aluno de FCT) eda empresa “Vector”, não esquecendoas boas-vindas aos participantes!

Depois de umas boas horas deviagem e do sempre chato check-in,nada melhor do que nos instalarmosnos maravilhosos apartamentos que oDuna Parque tinha reservado para nósou dar um mergulho na piscina antesdo jantar!!!

Ultrapassadas todas as barreirasgeográficas ou institucionais, apóstodos se conhecerem e depois demuitos brindes ao jantar, os biomédicospuderam contar com uma longa equente noite no Bubbles!

O sábado começou tarde, mas cheiode energia! Esperava-nos um óptimo diana praia cheio de actividades e muitaanimação!

Não faltaram as competições debarco-dragão, os torneios de futebol, osde volei e claro, os mergulhos, bikinis,óculos escuros e escaldões!

Gostas de Física? Gostarias dever um artigo teu publicado naPulsar?

A Pulsar está à procura de artigosrelacionados com qualquer área daFísica. Desde Astrofísica, Lasers ePlasmas, Partículas, Gravitação,GeoFísica a Computação Quântica,escreve sobre o que gostares mais.

Entra em contacto connosco por e-mail [email protected] com o teunome, idade, contacto e uma pequenadescrição do artigo.

Participa na Pulsar

Para mais informações:www.nfist.ist.utl.pt/pulsar_index.html

A actividade rainha foi sem dúvida otorneio de barco-dragão que pôs à provaa capacidade de coordenação, força debraços e espírito desportivo de todosaqueles que tiveram coragem departicipar e aqui foi uma equipa do IST alevar a melhor. No futebol e no voleidestacaram-se equipas da FCT, quedemonstraram como o espírito deequipa e alguma destreza sãosuficientes para tornar um jogo numespectáculo!

Um bom banho, de piscina ou duche,bastou para tirar o cansaço dos braços,brindar durante mais um jantar e reporenergias para a esperada pool-party!!!

Os “Joint us” entraram a matar e anoite prolongou-se com o DJ ManuelCalapez!

O último dia chegou por fim com umalmoço aquoso de despedida, depoisde diversos workshops relaxantes:hidroginástica, yôga e cocktails.

Voltámos para casa com muitashistórias para contar e um enormedesejo de repetir a experiência, destavez a cargo dos estudantes do Minho.

Novembro 2006 | Pulsar | 23

CULTURAL

Numa Ilha Diferente.

Numa ilha existem três tribos: os Verks que dizem semprefrases verdadeiras, os Falks que mentem sempre, e osAlterns que, ao longo da vida, dizem sempre frasesverdadeiras e falsas alternadas. Numas importantes reuniõesministeriais havia três mesas, cada uma com um membro decada tribo:

Fui há primeira mesa e perguntei-lhes de que tribo eram.Eis o que ouvi:

Alan: “Sou Verk.”Judite: “O Alan é Verk.”Paul: “Eu e o Alan somos Verks.”

Fiquei elucidado e passei à segunda mesa.Ann: “A Grace é Verk e o Joan é Altern.”Grace: “O Joan é Verk e a Ann é Falk.”Joan: “A Ann é Altern e a Grace é Falk.”

Fui então à terceira mesa:Mark: “O Ed é Altern e a Louise é Falk.”Ed: “A Louise é Altern e o Mark é Falk.”Louise: “O Mark é Verk.”

De que tribos são as nove pessoas?

Com a nova pulsar nasce uma nova secção. Secção essa destinada simplesmente ao entretenimento, à cultura e aodesenvolvimento lógico. Nesta secção o leitor vai encontrar diversos problemas, lógicos, numéricos ou geométricos, que poderáresolver sem qualquer conhecimento em física ou matemática em geral. É uma secção cujo o objectivo é fazer o leitordescomprimir depois de qualquer aula menos agradável.

Todas as resoluções serão dadas nos números seguintes.

As Cartas na Mesa:

O Filipe colocou quatro cartas ao lado umas das outras e todasviradas para baixo. Depois deu as seguintes informações:

“Há um Ás imediatamente à esquerda de uma Dama”.“Há uma Copa imediatamente à esquerda de uma Copa”.“Há uma Dama imediatamente à esquerda de um Ás”.“Há uma Espada imediatamente à esquerda de uma Espada”.“Há um Ás imediatamente à esquerda de um Ás”.“Há uma Copa imediatamente à esquerda de uma Espada”.

Que cartas estão na mesa?

24 | Pulsar | Novembro 2006

Agenda CientíficaUniversidade de Aveiro - FISUA

Até 12 de Dezembro - Curso Origens, Curso livre de formação em astronomia, Prof. José Matos

http://sweet.ua.pt/~fisua/

Observatório Astronómico de Lisboa

24 de Novembro de 2006 - "Historias de planetas", Doutor Nuno Santos

http://www.oal.ul.pt/palestras

Pavilhão do Conhecimento

Até 7 de Agosto - Uma questão de sexo(s)

http://www.pavconhecimento.pt/exposicoes

Universidade do Minho

24 de Novembro de 2006 - Jornadas do Centro de Física da UM

http://www.ecum.uminho.pt/fisica

http://nfist.ist.utl.pt/~pulsar - [email protected]