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Introdução ao estudo d’Os Lusíadas Os Lusíadas de Luís de Camões Em Os Lusíadas, Luís de Camões conta a história gloriosa do povo português. Ambos, autor e obra, representam ao mais alto nível a literatura portuguesa e marcaram, decididamente, a literatura universal. Contextualização da época Os Lusíadas são uma obra do séc. XVI. Este século, caracterizado por uma grande viragem no pensamento humano, é marcado por três grandes movimentos culturais: o Humanismo, o Renascimento e o Classicismo. Humanismo No Humanismo, o homem encontra-se no centro das atenções, dando lugar ao antropocentrismo (antropos significa Homem) que se opõe ao teocentrismo (Deus no centro). Trata-se de um movimento intelectual europeu que procurou vigorosamente descobrir e reabilitar a literatura e o pensamento da Antiguidade Clássica e que tem como interesse central o Homem, no pleno desenvolvimento das suas virtualidades e empenhado na acção, havendo aqui a nítida oposição à concepção hierárquica e feudalista do Homem medieval. Renascimento

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Os Lusíadas de Luís de Camões é considerada a epopeia portuguesa por excelência. Foi publicada pela primeira vez em 1572. A obra é composta por dez cantos, 1102 estrofes, versos com dez sílabas (decassílabos), esquema rimático AB AB AB CC (rima cruzada e emparelhada) – oitava rima camoniana. A acção central é a descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama.

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Introdução ao estudo d’Os Lusíadas

Os Lusíadas de Luís de Camões

Em Os Lusíadas, Luís de Camões conta a história gloriosa do povo português.Ambos, autor e obra, representam ao mais alto nível a literatura portuguesa e

marcaram, decididamente, a literatura universal.

Contextualização da época

Os Lusíadas são uma obra do séc. XVI.Este século, caracterizado por uma grande viragem no pensamento humano, é

marcado por três grandes movimentos culturais: o Humanismo, o Renascimento e o Classicismo.

Humanismo

No Humanismo, o homem encontra-se no centro das atenções, dando lugar ao antropocentrismo (antropos significa Homem) que se opõe ao teocentrismo (Deus no centro).

Trata-se de um movimento intelectual europeu que procurou vigorosamente descobrir e reabilitar a literatura e o pensamento da Antiguidade Clássica e que tem como interesse central o Homem, no pleno desenvolvimento das suas virtualidades e empenhado na acção, havendo aqui a nítida oposição à concepção hierárquica e feudalista do Homem medieval.

Renascimento

O Renascimento desenvolveu-se em países da Europa Central e Ocidental, como a Itália (passando sucessivamente de Florença a Siena e depois a Roma, e alastrando posteriormente a toda a Península italiana), nos séculos XIV a XVI e veio a irradiar e a ter fundas repercussões na cultura de praticamente todos os países do

continente europeu. As figuras de proa do movimento gostavam de se apresentar como críticos do “obscurantismo” medieval, numa atitude de contestação à tradicional influência da religião na cultura, no pensamento e na vida quotidiana ocidental.

O movimento renascentista começa por ser uma contestação da

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ideologia dominante durante o milénio medieval: à civilização cristã contrapõe-se uma ideologia antropocêntrica, revelando um desejo de fazer renascer a Antiguidade greco-latina, que, na interpretação então prevalecente, se caracterizara precisamente por colocar o Homem no centro do Universo e representava um ideal de civilização natural.

Classicismo

O Classicismo consiste num sentimento de admiração pela antiguidade clássica e no desejo de imitação da cultura greco-romana e de retoma dos seus valores, reflectindo-se em todas as artes como a pintura, a escultura e a literatura.

Com base nos modelos clássicos greco-romanos, este movimento tem como principais valores a harmonia, a simplicidade, o equilíbrio, a precisão e o sentido das proporções. Refira-se, como exemplo, na pintura Leonardo da Vinci e Rafael. Os estudos das poéticas de Horácio e de Aristóteles disciplinam a desordem artística medieval.

O enriquecimento filosófico e estético que oferece o estudo de Platão, Homero, Sófocles, Ésquilo, Ovídio, Virgílio e Fídias dá aos valores ocidentais maior dignidade artística e intelectual. A Itália, detentora dos valores clássicos, latinos e gregos, é considerada o berço deste movimento, com Dante, Petrarca e Boccaccio.

Luís de Camões (1524? – 1580)

Foi durante o século XVI que viveu Luís de Camões. Concretamente, com base documental, sabe-se muito pouco da sua história. Pensa-se que terá nascido por volta de 1524. A sua formação académica foi realizada em Coimbra.

A sua vida foi especialmente marcada por duas actividades: as armas, serviu como soldado em Ceuta, por volta de 1549-1551, aí perdendo um olho, e as letras.

Terá sido na Índia que o poeta iniciou a escrita do primeiro canto d’Os Lusíadas.

Mais tarde, em Macau, terá composto mais seis cantos. Conta-se que durante uma viagem para Goa, o barco em que Camões seguia, naufragou e o poeta salvou o seu poema épico, nadando apenas com um braço e erguendo o outro fora da água.

Pensa-se que foi em Moçambique que terminou a epopeia, que veio a ser publicada em 1572 com o apoio do rei D. Sebastião. Esta obra é, hoje, mundialmente conhecida e Camões tornou-se o escritor português mais célebre.

Apesar da sua grandiosidade, Camões viveu sempre com muitas dificuldades e desilusões. A sociedade corrompida e decadente em que se inseria nunca o reconheceu. As pessoas do seu tempo não souberam valorizar nem a obra nem o poeta. Após vários

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anos amargurados pela doença e pela miséria, o poeta morreu em 1580, no dia 10 de Junho.

Luís Vaz de Camões é considerado o maior poeta de língua portuguesa e dos maiores da Humanidade. O seu génio é comparável ao de Virgílio, Dante, Cervantes ou Shakespeare. Das suas obras, a epopeia Os Lusíadas é a mais significativa.

A epopeia clássica

Camões escreveu Os Lusíadas sob a forma de narrativa épica ou epopeia, forma muito utilizada na Antiguidade Clássica e que Camões conhecia bem.

Para saberDefinição de epopeia

Uma epopeia, forma literária da Antiguidade Clássica, define-se como uma narrativa, estruturada em verso, que narra, através de uma linguagem cuidada, os feitos grandiosos, de um herói, com interesse para toda a humanidade.

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Aristóteles, filósofo grego que viveu durante o séc. III a. C., descreveu os requisitos necessários à composição de uma epopeia.

A epopeia de Luís de Camões

Ao analisarmos Os Lusíadas, e depois de conhecermos os elementos constituintes de uma epopeia, concluímos que Camões segue, em muitos aspectos, o modelo clássico apresentado.

Protagonista – O herói d’ Os Lusíadas é um herói colectivo e não individual, como nas antigas epopeias. O povo português é o protagonista desta epopeia, “o peito ilustre lusitano”, simbolicamente representado por Vasco da Gama, que, ao narrar a historia da pátria ao rei de Melinde, revela a heroicidade do seu povo.

Acção – A acção d’ Os Lusíadas é plena de heroísmo, pois narra a descoberta do caminho marítimo para a Índia, um acontecimento com interesse universal. A acção d’ Os Lusíadas apresenta quatro qualidades:

Inserção de

considerações do poeta no

texto

Estrutura interna:

- proposição- invocação- dedicatória- narração

Estrutura externa:

Narrativa em verso

Intervenção do

maravilhoso /

sobrenatural

Narração in medias

res

Acção -unidade

-variedade -verdade -integridade

Protagonista=

Herói

Epopeia

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- unidade: é um todo harmonioso, todos os factos estão intrinsecamente ligados;

- variedade: apresenta grande variedade de episódios: mitológicos, bélicos, líricos, naturalistas e simbólicos;

- verdade: o assunto é quase na totalidade real, com alguns momentos de verosimilhança;

- integridade: a narrativa pode ser dividida em três momentos determinantes – introdução ( Canto I, estrofes 1 a 18), desenvolvimento ( Canto I, estrofe 19, a Canto X, estrofe 144) e conclusão (Canto X, estrofes 145 a 156).

Narração – In medias res (a meio da acção)No inicio da narração (estrofe 19, Canto I), a acção apresenta-se numa fase

adiantada, in medias res –“Já no largo Oceano navegavam”; mais adiante, através de uma analepse, narram-se os preparativos da viagem, as despedidas em Belém, o discurso do Velho do Restelo e a partida para a Índia (Canto IV).

Maravilhoso – n’Os Lusíadas há intervenção de entidades sobrenaturais pagãs, os deuses venerados na civilização greco-latina, que favorecem os portugueses – adjuvantes, como Júpiter e Vénus – ou os que prejudicam – oponentes, como Baco, que se revela o principal opositor dos marinheiros. Trata-se do maravilhoso pagão.

Há também súplicas feitas a Deus, à “Divina Providência”. Trata-se do maravilhoso cristão.

Estrutura Interna – Os Lusíadas dividem-se em quatro partes:

Acção

unidade variedade verdade integridade

Estrutura interna

Proposição Invocação Dedicatória Narração

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- Proposição: o poeta expõe os seus objectivos (Canto I, estrofes 1 a 3);

- Invocação: Camões pede inspiração às Tágides (ninfas do Tejo) (Canto I, estrofes 4 e 5);

- Dedicatória: o poeta dedica a sua obra ao rei D. Sebastião (Canto I, estrofes 6 a 18);

- Narração: a acção é iniciada in medias res (Canto I, estrofe 19 até ao fim).

Estrutura Externa – Quanto à estrutura externa, o poema está dividido em dez cantos, com o total de 1102 estrofes. As estrofes são oitavas, os versos são decassilábicos. Predominando o verso heróico. A rima é cruzada nos seis primeiros versos e emparelhada nos dois últimos: abababcc.

Considerações do Poeta – Camões faz algumas intervenções na narrativa, sobretudo no início e no final dos Cantos, mas são reduzidas.

Gruta de Camões em Macau

Bom trabalho!

Maria Filomena Ruivo Ferreira Santos